sobre o ser superior

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sobre o ser superior
SOBRE O SER SUPERIOR
Diferentes Olhares de Religiões Monoteístas Acerca de Deus
Djonatha Geremias da Silva
Professora Sônia Trichêz
Faculdade SATC
Comunicação Social / Jornalismo (1ª Fase) – Metodologia Científica
10/11/2008
RESUMO
Este artigo tem por objetivo descrever, sob as diversas perspectivas de religiões monoteístas, o
verdadeiro conceito humano de Deus. Para isto, utilizou-se de referências teóricas e de entrevistas
com praticantes de religiões monoteístas – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo –, com adeptos do
Ateísmo (que não acreditam na existência de Deus) e com uma psicóloga. Neste, evidenciam-se os
pontos em comum das diversas visões sobre Deus que têm estas religiões, bem como as diferenças.
Analisam-se as histórias de vida dos praticantes entrevistados, desde a necessidade pessoal pela
busca de uma realização espiritual até a influência social que estes exercem e a que também estão
sujeitos, destacando os preconceitos sócio-religiosos. O presente artigo científico não objetivou
comprovar ou não a existência de Deus, nem decidir qual religião é a mais correta. Nenhum estudo
de caráter científico pode definir o que realmente seja Deus ou comprovar que exista um, mas sim
identificar seu conceito de acordo com as religiões, suas respectivas "escrituras sagradas" e seus
adeptos. Desse modo, não se pretende esgotar o assunto, porém analisar e cruzar olhares sobre um
mesmo ponto em comum. Sobre o Ser Superior.
Palavras-chaves: Deus; Religiões; Monoteísmo.
1 INTRODUÇÃO
Opiniões divergentes que vão desde as céticas até as fanáticas. Há quem ignore o assunto, há
quem defenda sua crença com unhas e dentes e há quem a imponha. Mas afinal de contas, existe
mesmo um Deus? O que (ou quem) é Deus? Por milhares de anos, esse tema vem sendo discutido e
ainda gera muita polêmica e controvérsias atualmente.
A idéia de um único Ser Superior é a principal filosofia das religiões monoteístas, sendo ele
o Deus Abraâmico1. Suas características divinas principais seriam a onipotência (que tudo pode), a
onisciência (que tudo sabe), a espiritual onipresença (que está em todo lugar), a infinita misericórdia
e a perfeição. Tal Deus não teria sido criado, pois existiria por si só (sempre existiu e sempre
existirá) e ainda teria sido o responsável pela criação do universo, da raça humana e de toda forma
de vida já conhecida.
1
O "Deus de Abraão", segundo as escrituras sagradas das religiões monoteístas; Religião Abraâmica – ou Monoteísmo
do Deserto – é uma designação genérica para as religiões que derivam da tradição semítica que tem na figura do
patriarca Abraão o seu marco referencial inicial.
No entanto, essa existência não pode ser comprovada física e cientificamente, o que gera
milhares de divergências sobre sua existência (ou inexistência) e até mesmo sobre o seu conceito.
Sendo assim, surgiram alguns ideais filosóficos que buscam compreender essa questão existencial
divina, tais como o Teísmo, o Ateísmo, o Agnosticismo, o Deísmo, entre outros, cada um com suas
doutrinas, culturas e filosofias específicas.
Dentre estes, o mais difundido no Ocidente e também o mais clássico é o Teísmo. A
filosofia teísta não só admite a existência de um só Deus, como também a de que ele influencia
diretamente sobre a racionalização e o comportamento humanos. Livros como a Bíblia, o Alcorão e
a Torá, por exemplo, são ditos como sagrados pelo Teísmo, pois são “revelações divinas”, ou seja,
conhecimentos transmitidos diretamente aos homens por Deus.
A partir desta filosofia, surgiram as religiões monoteístas clássicas, como o Judaísmo, o
Cristianismo e o Islamismo, que não só acreditam em um único Deus, mas cuja fé está alicerçada
em seus respectivos "livros sagrados". Estes, por sua vez, embora tendo suas particularidades,
originam-se das mesmas histórias, mesmas escrituras, mesmos profetas, etc. Isso significa que esses
vários segmentos religiosos cultuam ao mesmo Deus, que recebe diferentes interpretações de sua
existência e é tratado de modo diferente por cada uma dessas religiões.
Descobrir o que difere estas religiões, estas interpretações e conceitos divinos é o propósito
deste artigo. Primeiramente serão estudadas de forma breve as histórias dessas religiões, embasadas
teoricamente por estudos teológicos sistemáticos; em seguida, serão analisadas as entrevistas
realizadas com praticantes de cada uma dessas religiões. Nessas entrevistas, foram abordados
assuntos de cunho pessoal (experiências próprias), religioso (visão das religiões) e social (reação da
sociedade em relação àquela prática). Este último também foi considerado importante e essencial,
pois o ser humano é ao mesmo tempo produto e criador de sua sociedade e cultura (BORDENAVE,
2005), sendo este o fator determinante da escolha da crença de cada entrevistado, conforme seus
relatos de vida.
Para que este artigo complete-se em caráter jornalístico e imparcial, foram entrevistados
ateus – que defendem racionalmente a não existência de um Ser Superior. Indo mais além, este
artigo contou com a participação de uma profissional em Psicologia, para que o presente artigo
tenha também caráter científico.
2 O DEUS HISTÓRICO E A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES
O teólogo, filósofo e frei Tommaso d’Aquino (Itália, 1225-1274) – também conhecido como
Santo Tomás de Aquino – foi o responsável pela sistematização do conhecimento teológico,
filosófico e aristotélico da época, sintetizando-os em fé e razão. Segundo ele, uma não contradiz a
outra, podendo juntas explicar a existência de Deus e ainda descrevê-lo, sem basear-se em nenhuma
doutrina ou dogma. Embora esse conceito divino tenha sido criado somente no século XIII, ela se
adéqua a todas as descrições do Ser Superior (desde a Criação) que as religiões monoteístas sempre
acreditaram. Em sua obra Suma Teológica, o frade demonstra essa existência em cinco vias:

Primeiro motor imóvel – Tudo o que se move foi movido por alguém; é impossível
uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se
chegaria ao movimento presente. Logo, há que se ter um primeiro motor que deu início ao
movimento existente e que por ninguém foi movido, e tal ser todos entendem: é Deus;

Primeira causa eficiente – Relação “causa-efeito”. É necessário que haja uma causa
primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa. Logo é
necessário afirmar uma Causa Eficiente Primeira, que não tenha sido causada por ninguém: Deus.
Assim se explica a causa da existência do Universo;

Ser necessário – Existem seres que podem ser necessários ou não, mas nem todos os
seres podem ser desnecessários, ou o mundo não existiria. Logo, é preciso que haja um ser que
fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em
nenhum outro ser;

Ser perfeito – Verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos
que outros. Qualquer graduação pressupõe um parâmetro máximo. Assim, deve existir um ser que
tenha tal padrão de perfeição e que seja a Causa da Perfeição dos demais seres;

Inteligência ordenadora – Existe uma ordem admirável no Universo que é facilmente
verificada. Ora toda ordem é fruto de uma inteligência ordenadora. Não se chega à ordem pelo
acaso e nem pelo caos. Logo, há um ser inteligente que dispôs o universo na forma ordenada.
2.1 CRISTIANISMO
O nome deriva da palavra Cristo, que vem do grego cristós e significa o mesmo que Messias
em hebraico. Os profetas de Israel prediziam que Deus mandaria um salvador, um líder especial,
para libertá-los de seus inimigos. Ao longo da história, o povo judeu esperou pela vinda de seu
salvador, o Messias. Os judeus acreditam que o Messias ainda não veio ao mundo. Os cristãos
acreditam que Jesus Cristo era o Messias prometido por Deus. Eles acreditam que Jesus não veio
para substituir as crenças judaicas, mas para realizá-las.
Segundo Watson (2001), "cristão" é aquele que acredita nos ensinamentos de Jesus Cristo e
os segue. Jesus foi um judeu que nasceu há cerca de 2000 anos em Belém, na Palestina. Seus pais
eram um casal judeu, Maria e José (descendente de Abraão). Ele viveu por 33 anos antes de morrer
crucificado pelos romanos, que dominavam a região. Os cristãos acreditam que Jesus ressuscitou e
apareceu a seus discípulos para mostrar que há outra vida com Deus. Desde essa época, o
Cristianismo se espalhou por todo o mundo. Hoje há mais de um bilhão e meio de cristãos no
mundo inteiro.
O Cristianismo começou quando os seguidores de Jesus levaram adiante seus ensinamentos
depois que ele morreu. Antes de deixá-los, Jesus disse que saíssem pelo mundo para contar a todos
sobre o perdão. "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim", disse
Jesus. Após obedecerem, milhares de pessoas também se tornaram discípulos. Jesus também disse a
seus discípulos que Deus enviaria o Espírito Santo2 para lhes dar força e apoio em seu trabalho.
Quarenta dias após a ressurreição, Jesus anunciou que iria se juntar a Deus: "Não se esqueçam de
que, embora não possam me ver, estarei sempre com vocês". Depois, ergueu as mãos para abençoálos e, enquanto abençoava, subiu ao céu, desaparecendo entre as nuvens. Segundo os manuscritos
dos apóstolos, enquanto eles olhavam para o céu, dois anjos apareceram dizendo: "Por que olhais
para o céu? Jesus foi levado de sua presença, mas um dia ele voltará da mesma maneira que subiu".
2.1.1 Bíblia – A Escritura Sagrada Cristã
O livro sagrado dos cristãos chama-se Bíblia. Eles acreditam que ela seja o ensinamento de
Deus, escrito para guiar as pessoas. Ela inicia com a criação do mundo e termina com uma previsão
2
De acordo com a maioria dos cristãos, a Santíssima Trindade – que consiste na crença de três aspectos de uma mesma
concepção divina: o Pai, o Filho (Jesus) e o Espírito Santo – não anula o conceito monoteísta da religião cristã.
do fim dos tempos. Ela é formada por uma coleção de 66 livros, escritos por diversas pessoas em
épocas diferentes. Os livros contêm dramas, poesias, cartas, mandamentos e histórias sobre as vidas
das pessoas. A Bíblia está dividida em duas partes: o Velho Testamento e o Novo Testamento.
O Velho Testamento é constituído por 39 livros que tratam da promessa de Deus a Abraão e
seus descendentes, o povo judeu. A promessa era de que, se eles obedecessem e confiassem em
Deus, Ele iria sempre amá-los e protegê-los. O Velho Testamento foi redigido em hebraico antigo
em rolos de papiro, pelos escribas de Israel. O Novo Testamento é constituído pelos 27 livros finais
da Bíblia, tratando da nova promessa de Deus. Conta como Ele enviou seu Filho, Jesus, ao mundo
para oferecer o perdão e uma nova vida para aqueles que acreditassem e confiassem nele. O Novo
Testamento narra a vida e os ensinamentos de Jesus, sua morte na cruz e a ressurreição. Conta
também a história de como a Igreja cristã começou e cresceu e de como os cristãos acreditam que
Jesus retornará ao mundo. Foi redigido em grego pelos seguidores de Jesus e pelos integrantes da
recente Igreja.
As histórias da Bíblia vêm sendo passadas de geração a geração pela tradição oral e pelos
manuscritos de mais de 2000 anos de idade. Muitas delas narram a vida de pessoas, suas alegrias e
medos, suas tragédias e lutas. Algumas são muito envolventes, dramáticas e maravilhosas. Os
cristãos acreditam que as histórias da Bíblia mostram pessoas à semelhança de Deus. Para a maioria
dos cristãos, a maior história bíblica é a vida de Jesus. Mas também há histórias que o próprio Jesus
contou, chamadas "parábolas", isto é, uma história terrena com significado divino. Trata-se de uma
história sobre coisas que acontecem na vida cotidiana, mas para aqueles que realmente ouvem e
compreendem, há também outro significado mais profundo. Jesus usava essa espécie de narrativa
para ajudar as pessoas comuns a compreender e se lembrar dos pontos mais importantes de seus
ensinamentos.
2.1.2 O Povo Cristão
Todos os cristãos seguem Jesus Cristo e a Bíblia, mas entre eles há algumas diferenças
quanto à forma de organização, crenças e práticas. Os três principais ramos do Cristianismo são os
Católicos Romanos, os Evangélicos (ambos originários do Ocidente) e os Ortodoxos (originários da
Grécia e do Oriente). Essas divisões existem justamente porque os cristãos praticam seus cultos de
maneiras diferentes (WATSON, 2001).
Após, por muitos anos, os cristãos serem perseguidos pelos romanos, um dos imperadores
romanos, Constantino, se tornou um cristão. Interrompeu a perseguição ao povo cristão e permitiu
que exercessem livremente seus cultos. Criou então uma nova cidade, Constantinopla (atual
Istambul), para ser a capital cristã do Oriente. A fé cristã espalhou-se por todo o Império Romano
até a Europa, tornando-se a religião oficial.
As diferentes regiões cristãs tinham líderes chamados patriarcas (bispos), que deveriam ter
poderes iguais, mas os de Roma e de Constantinopla recebiam maior poder que os outros. Esses
dois homens divergiam sobre aspectos do culto e da crença. O patriarca de Roma separou sua
Igreja, que passou a se chamar Igreja Católica. A palavra "Católica" significa "Universal". A parte
ocidental e de fala latina do Império Romano via-se como a continuação da Igreja verdadeira e
adotou o nome de Igreja Católica. Sua sede fica em Roma e seu patriarca é o Papa.
A parte oriental da Igreja, de língua grega, também se via como a fé verdadeira e
denominou-se "Ortodoxa", que significa "crença ou prática verdadeira". Por muitos anos, o chefe
dessa Igreja foi o patriarca de Constantinopla e os ofícios religiosos eram celebrados em grego. Os
monges gregos ortodoxos difundiram a fé para a Rússia e países eslavos, de modo que passaram a
existir também patriarcas russos, como o patriarca de Moscou Alexei II, por exemplo, chefe da
Igreja Ortodoxa na Rússia.
A Igreja cristã continuou a se espalhar e a mudar ao longo dos séculos. Aos poucos, pessoas
com fortes crenças começaram a discordar da maneira como os padres católicos romanos se
comportavam. O monge alemão Martinho Lutero considerou que a Igreja havia se afastado dos
ensinamentos de Jesus Cristo e pediu mudanças3. Lutero e outros protestaram contra as maneiras de
praticar os ensinamentos e os cultos e estabeleceram sua própria forma de Cristianismo. Esses
rebeldes foram chamados de "Protestantes". Os ofícios religiosos protestantes não foram mais
conduzidos em latim, mas na língua comum, de modo que todos pudessem entendê-los. Eles se
concentraram na Bíblia como a base de seus ensinamentos. Posteriormente, os protestantes passam
a se denominar "Evangélicos", pois já não tem mais por objetivo "protestar" e sim cultuar a Deus
exatamente como Jesus ensinou e como está escrito nos evangelhos bíblicos.
3
Por exemplo, Católicos Romanos e Ortodoxos dão mais ênfase à Virgem Maria, pois acreditam que, por ser a mãe de
Jesus, ela tem um acesso especial a Ele e pode interceder em favor daqueles que lhe dirigirem suas orações. Já os
Protestantes e Evangélicos desaprovam tal crença, por prezarem as palavras de Jesus, quando ele disse: "Ninguém
chega ao Pai senão por mim".
2.2 JUDAÍSMO
Segundo Fine (2001), o Judaísmo começou quando Abraão, o pai da religião judaica,
começou a venerar um Deus em vez de muitos, como fazia seu pai4. De acordo com as escrituras
sagradas judaicas, Abraão nasceu em 1813 a.C. e casou-se com Sara5. Eles partiram seguindo uma
rota indicada por Deus. Abraão prometeu ser fiel a Ele e ensinar suas leis para o mundo. Deus
prometeu a Abraão e sua mulher que teriam um filho, que seus descendentes seriam numerosos
tanto quanto as estrelas e que herdariam a terra de Israel. Para testar o caráter de Abraão, Deus
ordenou-lhe que sacrificasse Isaac (o filho prometido por Deus) no monte Moriá. Ele, arduamente
triste, resolveu obedecer, mas quando estava prestes a cumprir a ordem, Deus enviou um anjo para
impedi-lo, pois viu que Abraão era fiel e confiava nele.
Isaac e seu filho Jacó foram o segundo e o terceiro patriarcas do Judaísmo. Deus renovou a
promessa feita a Abraão e prometeu cuidar de Jacó, onde ele estivesse. Jacó disse que seria fiel a
Deus, e Ele então mudou o nome de Jacó para "Israel". O filho favorito de Jacó, José, foi vítima da
inveja de seus onze irmãos: foi vendido por eles como escravo a uma caravana que passava.
Tempos depois, com a ajuda de Deus, José deixou de ser escravo e conseguiu poder político no
Egito, igualando-se ao Faraó. Chamou seus irmãos ao palácio e os perdoou. Os doze filhos de Jacó
tornaram-se fundadores das doze tribos de Israel. Após a morte de José, um novo faraó escravizou
os israelitas. Ele não permitia que venerassem seu Deus e afogou todos os bebês homens no rio
Nilo. Deus então indicou um novo líder, Moisés (da tribo de Levi, uma das doze tribos de Israel), e
enviou dez pragas para mostrar sua raiva. O Faraó deixou que os israelitas partissem, porém os
perseguiu. Como punição, Deus afogou o exército do faraó no Mar Vermelho.
2.2.1 Tanach, Hagadá e Talmud – As Escrituras Sagradas Judaicas
O Tanach é composto de três partes: a Torá, o Nev'im (os Livros dos Profetas) e o Ketuvim
(todos os outros livros judaicos, incluindo Salmos, Provérbios e os cinco Megilot – histórias
especiais ou poemas).
4
As pessoas de Canaã (onde Abraão nasceu) adoravam ídolos – estátuas de barro, pedra ou bronze. Acreditavam que,
se agradasse aos ídolos, conseguiriam força, vitória na guerra e boas safras. Para ganhar a benevolência dos ídolos,
faziam-lhes oferendas. Astarte e Baal eram os deuses mais conhecidos.
5
Primeiramente, Abraão e Sara se chamavam Abrão e Sarai, respectivamente. Porém, Deus mudou seus nomes em
virtude dos significados, assim que eles passaram a servir unicamente a Ele.
O livro judaico mais sagrado é o rolo da Torá, um pergaminho enrolado6 que contém os
cinco Livros de Moisés manuscritos. Os judeus acreditam que, sete semanas depois que os israelitas
deixaram o Egito, Deus escolheu-os para receber a Torá. Moisés subiu ao Monte Sinai, ouviu os 10
Mandamentos Sagrados7, escreveu-os em tábuas de pedra e repassou-os ao povo judeu. Eles
acreditam que, percebendo os seus vários significados e vivendo de acordo com as suas leis, podem
espalhar justiça por todo o mundo (FINE, 2001).
O Judaísmo defende uma relação especial entre Deus e o povo judeu; manifesta através de
uma revelação contínua de geração a geração. O Judaísmo crê que a Torá é a revelação eterna dada
por Deus aos judeus, os quais também aceitam que homens através da história judaica foram
inspirados pela profecia, sendo que muitas delas estão explícitas no Nev'im e no Ketuvim. A
profecia dentro do Judaísmo não tem o caráter de adivinhação, mas manifesta-se na mensagem da
divindade para com seu povo e o mundo, a qual poderia assumir um sentido de advertência,
julgamento ou revelação quanto à vontade da divindade.
A Hagadá contém orações, serviço e músicas para o Seder de Pessach (a Páscoa). É um dos
livros mais antigos e ainda hoje restam cópias com mais de 500 anos. Cada Hagadá contém a
mesma história básica, mas muitas trazem histórias e músicas extras e um pouco mais da história
judaica. Em muitas famílias, cada pessoa tem a sua própria Hagadá. Os livros do Talmud, a
enciclopédia das leis da Torá, ditados no Sinai, mas não escritos por muitos séculos, são outros
livros judaicos sagrados.
2.2.2 O Povo Judeu
Hoje, os judeus podem ser de qualquer nacionalidade ou cor e vivem em muitos países por
todo o mundo. Mesmo sendo a religião dos judeus o Judaísmo, é possível ser um judeu e não seguir
nenhum preceito ou prática religiosa. Os judeus ortodoxos acreditam que judeu é alguém cuja mãe
for judia, ou pode se tornar judeu após muitos anos de longos estudos e muita prática. Alguns
judeus progressistas acreditam que alguém é judeu, se um de seus pais for judeu, ou se aceitar as
6
O pergaminho da Torá é enrolado em duas peças de madeira e coberto com um tecido bordado com sinos de prata e
coroas, ou montado em uma magnífica caixa de madeira, decorada por dentro e por fora.
7
Os 10 Mandamentos Sagrados (que também fazem parte da Bíblia, no Cristianismo) são: "Eu sou o Senhor seu Deus";
"Não terás nenhum outro Deus"; "Não farás falso testemunho em meu Nome"; "Lembra-te do dia do Shabat (sábado) e
guarde-o sagrado"; "Honrarás teu pai e tua mãe"; "Não matarás"; "Não cobiçarás a mulher do próximo"; "Não
roubarás"; "Não mentirás"; "Não invejarás".
crenças judaicas e o correspondente modo de vida. Enfim, um judeu não precisa seguir o Judaísmo,
ainda que o Judaísmo só possa ser praticado por judeus. Hoje o Judaísmo é praticado por cerca de
quinze milhões de pessoas em todo o mundo. Da mesma forma, ele não é uma religião de
conversão, efetivamente respeita a pluralidade religiosa desde que não venha a ferir os seus
mandamentos.
Há diversas tradições e doutrinas dentro do Judaísmo, criadas e desenvolvidas conforme o
tempo e os eventos históricos sobre a comunidade judaica, os quais são seguidos em maior ou em
menor grau pelas diversas ramificações judaicas, conforme sua interpretação do Judaísmo. Entre as
mais conhecidas, encontram-se o uso de objetos religiosos (como as matracas, as ponteiras da Torá,
o pião e a "Luz Eterna"), costumes alimentares e culturais (como as regras de alimentação casher e
as festas da Peregrinação) e o uso do hebraico como língua litúrgica (idioma sagrado do Tanach).
2.3 ISLAMISMO
De acordo com Husain (2002), o Islamismo foi fundado em 610 d.C. pelo profeta Maomé.
Ele nasceu em um importante clã coraixita que governava a cidade sagrada de Meca. Na época de
seu nascimento, em 571 d.C., muitas pessoas iam a Meca para rezar em um santuário negro que lá
existia, o qual hoje é conhecido como Caaba. Acreditava-se haver 360 ídolos pagãos na Caaba.
Meca é importante porque o Profeta nasceu lá e porque abriga a Caaba, que tem sido o
centro Islã por cerca de 1400 anos. Para os adeptos do Islamismo, Ibrahim (Abraão) construiu a
Caaba sob as ordens de Alá: foi o primeiro santuário para adorar o Deus Único. A Caaba é hoje o
centro físico da fé islâmica. Cinco vezes ao dia, muçulmanos de todo o mundo se voltam em
direção à Caaba para orar. Além disso, todos os muçulmanos que tiverem meios devem visitar a
Caaba pelo menos uma vez na vida.
As grandes famílias de Meca eram muito ricas e tinham muitos escravos, que eram tratados
impiedosamente. Tinham também costumes cruéis, como matar meninas recém-nascidas. Esses atos
entristeciam Maomé, que pensava cada vez mais sobre a natureza humana.
Aos 40 anos, Maomé recebeu uma mensagem de Deus através do anjo Gabriel, segundo os
adeptos do Islamismo. Ele deveria dizer ao povo de Meca que parasse de adorar ídolos e aceitasse o
Deus único e verdadeiro: Alá. Depois, Gabriel falou sobre os outros profetas, incluindo Abraão,
Moisés e Jesus. As pessoas que o conheceram disseram que o profeta Maomé era gentil, pensativo,
forte e de estatura média, tinha cabelos cacheados e sempre trabalhava muito. Gostava
especialmente de crianças e animais, e pregava contra o assassinato daquelas. Também dizia que os
escravos tinham o direito de serem bem tratados por seus donos.
O povo de Meca odiava Maomé porque ele pregava contra seus deuses. Após dez anos de
perseguições, o "Sagrado Profeta" e seus seguidores partiram para a cidade de Medina, onde
Maomé se tornou um líder e estadista. Ele morava com sua família e alguns seguidores em uma
casa simples de barro e pedra. Após sua morte, em 632 d.C., aumentaram e decoraram a casa. Hoje,
é uma grande e linda mesquita, chamada Mesquita do Profeta, lugar que recebe a visita de milhares
de peregrinos ao longo do ano.
O Profeta iniciou guerras para conquistar outros países, pelas quais o Islã ficou famoso.
Assim que ele morreu, os seus exércitos começaram a lutar fora da Arábia, tornando-se muito
temidos. Em seu apogeu, por volta de 1500 d.C., o mundo islâmico se estendeu até o norte da
África, leste da Europa, todo Oriente Médio e Índia.
2.3.1 Alcorão – A Escritura Sagrada Islâmica
O Alcorão (também chamado Corão, do árabe "Quran") é o livro sagrado do Islã. Para os
muçulmanos (todo aquele que segue o Islamismo), o Alcorão é a palavra de Deus revelada a
Maomé, o Sagrado Profeta, quando estava em Meca e Medina. Quando um verso lhe era revelado,
ele recitava as palavras exatas a seus seguidores, que as escreviam onde podiam: pergaminhos,
pedras e cascas de árvores. O primeiro Alcorão foi compilado por volta de 650 d.C., depois de o
secretário de Maomé ter passado muitos anos reunindo e comparando cuidadosamente os versos
anotados por várias pessoas. Os muçulmanos acreditam que a Torá judaica também foi revelada por
Deus. Na verdade, o Alcorão contém as histórias de muitos profetas que também aparecem na Torá
e na Bíblia. Há versos sobre Abraão8, Moisés, Maria e Jesus.
O "Cári" é a pessoa que lê o Alcorão em voz alta na mesquita ou quando os muçulmanos se
encontram para ouvir as preces. Qirah, a arte de recitar o Alcorão, é muito respeitada, pois milhares
de muçulmanos não falam árabe, a língua do Alcorão. Mesmo assim, eles procuram pronunciar as
8
O Alcorão conta como Ibrahim (Abraão) abandonou sua mulher, Hajra (Sara), e seu filho, Ismael (Isaac), no deserto,
perto de Meca. Quando o bebê Ismael adoeceu, Hajra tentou encontrar água para ele, mas exausta, caiu entre as colinas
Al-Safa e Al-Marwa. De repente, a fonte, chamada Zenzem, jorrou água sob seus dedos.
palavras corretamente quando lêem ou rezam. Há competições de Qirah em países muçulmanos,
para ver quem tem melhor pronúncia, estilo de leitura e controle de respiração.
As leis do Alcorão dividem as ações humanas em vários grupos (HUSAIN, 2002): Fard –
são as coisas que devem ser feitas; Deus recompensa aqueles que as fazem e pune quem não as faz;
Mandub – são ações encorajadoras e recompensadas por Deus; Mubah – ações nem recompensadas
por Deus nem punidas, pois o Alcorão nada fala sobre elas; Makruh – são atos desencorajados, mas
que não são punidos; Haram – são as ações ilegítimas e puníveis por lei.
Junto com o Alcorão, Maomé deixou a Sunna (quer dizer "caminho") para os muçulmanos.
A Sunna está baseada no que o Profeta disse e fez e é observada segundo as leis de Deus. Abrange
todos os assuntos sociais possíveis. As poucas áreas não mencionadas pela Sunna devem ser
decididas por um grupo de estudiosos que pesquisam decisões anteriores e acordam sobre o que
deve ser feito.
Os estudiosos islâmicos estudam a Sharia, a lei islâmica. Ela vem do Alcorão e é discutida e
explicada em várias coleções de livros, conhecidas como Fiqh, cujos livros esclarecem as leis sob
as quais os muçulmanos devem viver. Nos países muçulmanos, existem centros especializados para
se estudar a lei islâmica.
2.3.2 O Povo Muçulmano
Para ser muçulmano, é preciso acreditar em um só Deus (Alá, em árabe) e aceitar a
mensagem do profeta Maomé, o fundador do Islã. A palavra "muçulmano" significa "aquele que se
submete a Deus". Todos os muçulmanos acreditam nessas idéias básicas, mas existem vários grupos
muçulmanos cujas idéias diferem ligeiramente. Desses grupos, os maiores são o Sunita e o Xiita. Há
mais de um bilhão de muçulmanos espalhados pelo mundo. A maioria deles vive no Oriente Médio,
na África e na Ásia.
Os muçulmanos vêm de diferentes culturas, cada uma com seu próprio estilo de vestir.
Alguns se vestem com roupas ocidentais atuais, outros usam roupas tradicionais. Eles devem cobrir
braços e pernas e usar algo na cabeça. Hoje, muitos jovens que moram em países do Ocidente
decidem usar roupas tradicionais como parte de um estilo de vida rigorosamente muçulmano.
Os muçulmanos acreditam no Arkan-il-Islam, os Cinco Pilares do Islã, que são os cinco
deveres mais importantes, determinados por Alá através de Maomé. O primeiro e o mais importante
é o Shahada (declaração de fé, testemunho), consiste em que todos os muçulmanos devem acreditar
piamente que "só existe um Deus, e Maomé é seu Profeta". Pronunciada em árabe, é a primeira
prece que o muçulmano aprende, parte desta prece está gravada na bandeira da Arábia Saudita. O
segundo, Salat, diz que os muçulmanos devem rezar para Deus cinco vezes por dia. O terceiro é o
Zakat, ou doação de esmolas. O quarto é o Sawn, o jejum durante o mês do Ramadã9. O quinto é
Hajj, a peregrinação à Meca durante o 12º mês do ano islâmico. Esses deveres ensinam disciplina,
pontualidade e devoção a Alá (HUSAIN, 2002).
Acredita-se que o Islã não é apenas uma religião, mas um modo de vida, isso pode ser visto
no jeito como algumas famílias muçulmanas vivem. A prática do Islamismo começa no nascimento
e continua até a morte; influencia no jeito de uma pessoa se comportar, se vestir e comer. Segundo
Maomé, "nenhum pai pode dar a seu filho nada melhor do que boas maneiras" e os muçulmanos
sempre tentam ensiná-las a seus filhos. Os muçulmanos não devem jogar, falar dos outros pelas
costas, ser preguiçosos ou intrometer-se nos negócios alheios, porém devem ajudar os necessitados.
3 SITUANDO O SER SUPERIOR – ANÁLISE DOS DADOS
Deus foi, por muitos séculos, tido pela humanidade como o responsável pelo "sucesso da
aventura humana sobre o planeta". No entanto, a ciência começou a questionar esse dogma, quando
Charles Darwin, em 1860, criou a sua teoria da Evolução das Espécies. A partir daí e com o evoluir
da ciência, muitos pesquisadores acreditavam que a tendência humana seria a de trocar a fé e a
religião, em troca das explicações "objetivas" para os fenômenos naturais. Alguns pensadores
renomados, como Nietzsche, Marx, Freud e Sartre, diziam que "Deus estava morto" e que se
iniciava uma Era da Razão. Entretanto, a história não só mostrou que eles estavam equivocados,
como a fé foi novamente muito valorizada, até os dias atuais. Segundo o professor de história da
filosofia moderna e contemporânea da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Oswaldo
Giacoia Júnior, quando a humanidade foi proibida de ter religião – como na época dos regimes
socialistas – ela substituiu a fé por alguma ideologia.
9
Ramadã: Nono mês do calendário muçulmano, durante o qual o Alcorão foi revelado pela primeira vez ao profeta
Maomé pelo anjo Gabriel.
3.1 Subvertendo Fé e Ciência
De acordo com a matéria de capa "Deus existe? Será que a ciência tem a resposta?", de
Rodrigo Cavalcante, da revista Super Interessante (dez./2005), o paleontólogo americano, Stephan
Jay Gould, acredita que nenhuma teoria (nem mesmo a da evolução, de Darwin) pode ser vista
como uma ameaça às crenças religiosas, "porque essas duas grandes ferramentas da compreensão
humana trabalham de forma complementar, e não oposta: a ciência pode explicar os fenômenos
naturais e a religião como pilar dos valores éticos e da busca por um sentido espiritual para a vida".
A partir desse pressuposto, o único modo de unir a religião com a ciência era identificar em
ambas pelo menos um ponto em comum: a crença em uma ordem, propósito ou sentido no universo.
Nenhuma religião crê que o acaso rege a vida humana, assim como a ciência (desde a filosofia,
passando pela física, até a medicina moderna) foi impulsionada pela busca dessa ordem. As grandes
perguntas cruciais do início da filosofia e que são a base da busca do conhecimento até hoje são:
"De onde viemos?", "Quem somos?" e "Para onde vamos?".
Partindo da Mecânica Clássica, de Newton, até as Teorias da Relatividade (tempo-espaço
relativos), de Einstein, criou-se a Teoria do Big-Bang, que consiste, resumindo grosseiramente, na
idéia de que o universo originou-se de uma explosão macro cósmica a partir de um ponto
subatômico, há milhões de anos. Isso primeiramente poderia destituir a idéia de que Deus criou o
mundo em sete dias. Curiosamente, o Big-Bang passou a ser considerado por muitos fiéis como a
evidência científica de que as Escrituras Sagradas estavam certas ao descrever o Gênese, o "início
de tudo"; assim como Tomás de Aquino descreveu em sua Suma Teológica, descrita no início do
Capítulo 2 deste artigo. Mas tudo ainda permanece no campo das especulações.
E se a ciência conseguisse achar essa tal ordem no Universo, será que isso seria a prova da
existência de Deus? Ou será que a busca pelo divino não passa de uma necessidade
inventada pelo homem para colocar um sentido em tudo (afinal, até onde se sabe, somos os
únicos animais que tentam entender por que existe a morte)? Nas últimas décadas, o que se
tem visto é um acirramento das diferenças entre aqueles que acreditam que a complexidade
da vida só pode ser explicada por uma inteligência superior e aqueles que defendem que a
inclinação para acreditar em Deus é apenas um traço biológico da nossa espécie, ou seja,
somos programados para ter fé. (Cavalcante, 2005, p. 61)
3.2 Teísmo, Deísmo e Ateísmo – Cruzamento de Perspectivas
Renata Claro, 28 anos, é professora de Língua Portuguesa e hoje é evangélica, embora tenha
sido primeiramente criada no âmbito católico, em escola de freiras. Sua fé é baseada no teísmo
cristão (Cristianismo), doutrina regida através da Bíblia pelos ensinamentos de Jesus Cristo, quem
ela acredita piamente ser o Filho de Deus (ou o próprio Deus em forma humana). Ao ser
entrevistada sobre suas razões para acreditar em Deus, ela disse ser adepta da idéia de biogênese e
explicou:
“A partir de apenas um óvulo e um espermatozóide, Deus faz surgir um novo ser humano,
todos os membros surgindo a partir do ‘quase nada’. Acredito que a vida humana, bem como todo
tipo de vida, veio de outra forma de vida pré-existente: Deus. Tudo surgiu através do poder Dele.”
Além disso, Renata argumentou acerca dos “milagres” da natureza, enfatizando as belezas e
as variedades contidas nela. Também demonstrou seu encantamento com a precisão dos horários do
dia e da noite, as posições exatas do Sol e da Lua; os ciclos naturais, como as chuvas e as secas que
permitem que o homem plante e colha alimentos, garantindo a sobrevivência ao longo dos séculos.
Mas com todo cuidado, ela ressaltou que tudo isso é controlado por Deus e que é Ele quem dá à
humanidade força e saúde. Ainda afirmou que todos deveriam agradecer diariamente a Ele,
adorando-o e reconhecendo-o. Para justificar sua fé, Renata citou diversas passagens bíblicas que
reforçam seus argumentos.
Em contrapartida, existem outras religiões que, apesar de acreditarem no mesmo Deus da
professora Renata, não acreditam em Jesus Cristo como o Filho de Deus, como a religião islâmica.
O Islã é regido pelo Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos que, segundo eles, foi revelado por
Deus ao profeta Maomé, o mais recente profeta, precedido ultimamente por Jesus, a quem o islã
considera apenas como um profeta e não um ser divino.
A estudante Monique Nunes Gomes é uma baiana de 18 anos, muçulmana. Em entrevista,
ela nos conta que foi criada dentro do Cristianismo católico e que, a partir dos 13 anos de idade,
surgiram perguntas sobre sua religião, cujas respostas ela não encontrava. Certa vez, após uma
longa e franca conversa com um padre, Monique decidiu abandonar o catolicismo e procurar seu
novo caminho. Depois de estudar diversas religiões, decidiu-se pelo Islã:
“O Alcorão nos ensina que os indivíduos não devem ser julgados de acordo com seu sexo,
beleza, riqueza ou privilégio. A única coisa que faz uma pessoa melhor que a outra é o seu caráter.
O Islã é importante justamente por abranger todos os aspectos culturais da vida (moral, espiritual,
social, político, econômico, intelectual, entre outros).”
Já dentro do Judaísmo, a doutrina do Messias é um assunto que pode variar de ramificação
para ramificação. Historicamente, diversos personagens foram chamados de Messias, do hebraico
“ungido”, que não assume o mesmo sentido habitual do Cristianismo como um "ser salvador e
digno de adoração". Até mesmo o conceito do Messias não aparece na Torá e, por isto mesmo,
recebe interpretações diferentes, de acordo com cada ramificação.
De acordo com a enciclopédia livre on-line, Wikipédia, que é construída moderadamente
pelo público internauta, a maior parte dos judeus crê no Messias como um homem judeu, filho de
um homem e de uma mulher. Em algumas ramificações, ele é considerado uma herança do
sentimento nacionalista que regulou a vida judaica pós-exílio. Ele reinará sobre Israel, reconstruirá
a nação, fazendo com que todos os judeus retornem à Terra Santa e unirá os povos em uma era de
paz e prosperidade, sob o domínio de Deus.
Algumas ramificações judaicas (reformistas) crêem, no entanto, que a era messiânica não
envolva necessariamente uma pessoa, mas sim que se trate de um período de paz, prosperidade e
justiça na humanidade. Por isso, dão particular importância ao conceito de "reparar o mundo", isto
é, a prática de uma série de atos que conduzam a um mundo socialmente mais justo. O estudante
Tobias Porto, 17 anos, é judeu e exemplifica:
“Eu nunca fui cristão, sempre tive uma base judaica. O Judaísmo não é apenas uma crença
e sim uma cultura, uma tradição, um modo de vida, uma filosofia, etc. Tudo isso em conjunto forma
um judeu. O Judaísmo não priva as pessoas. É uma religião bem complexa, onde os pequenos
detalhes é que fazem a diferença. Por exemplo, apenas 0,0001 grama de carne de porco pode
alterar o rumo de sua vida! Se 'O Eterno' (Deus) disse: ‘Não coma’, por que o desafiaremos e
comeremos? As conseqüências serão inevitáveis.”
As instruções dos livros sagrados são os alicerces das religiões monoteístas. Os muçulmanos
acreditam que Deus usa os profetas para revelar seu conhecimento: a Moisés revelou a Torá e a
Jesus, o Evangelho. Assim sendo, é essa característica que difere o Teísmo do Deísmo.
O Deísmo concebe a idéia de que não é possível provar a existência de Deus senão pela
razão, ou seja, pelo bom-senso humano, levando em consideração toda a “obra” natural, o universo.
No entanto, ele nega completamente a idéia de que Deus transmite conhecimento diretamente aos
homens. Isso porque não se acredita que o pensamento puro de Deus não se perca entre a
interpretação falha do homem e a influência que este exerce. Em outras palavras, nenhum livro
“sagrado” é aceito dentro da filosofia deísta.
Os adeptos ao Deísmo não seguem regras pré-determinadas, não têm religião e rejeitam
qualquer dogma. Acreditam que Deus criou o universo, mas que não mais influencia os
acontecimentos deste, desde a criação das leis físicas da natureza. Os deístas baseiam suas vidas em
ideais éticos provenientes da reflexão crítica-racional da própria consciência e não em ditaduras dos
livros sagrados repassados por autoridades religiosas hipócritas.
Tanto no Deísmo quanto no Teísmo, não há como comprovar a existência de Deus de forma
científica, apenas de forma racional e/ou através da fé nos livros sagrados. Isso dá margem para
outro ideal filosófico importante que agrega milhares de pessoas em todo o mundo, o Agnosticismo.
Esta visão acerca de Deus não acredita que se pode provar a existência Dele de forma racional ou
científica, nem a Sua inexistência. Logo, dependendo da convicção de cada um, o Ser Supremo
pode existir ou não.
Quando essa percepção agnóstica tem tendências teístas (ou mesmo deístas), tem-se o
chamado Agnóstico Teísta, que embora não tenha certeza da existência de Deus, segue sua vida de
acordo com as doutrinas apresentadas pelas religiões teístas, mas não em sua totalidade. Os
religiosos “não-praticantes” são um exemplo.
Quando o agnosticismo é influenciado pela idéia de que pode não haver um Deus ou
qualquer tipo de divindade, cria-se uma classe denominada Ateísmo Agnóstico (ou Ateísmo Fraco).
Essa classe consiste em colocar em debate a existência ou não de Deus. Acredita-se que, para
afirmar que Deus existe ou não, são necessárias provas reais de sua existência, o que até então é
impossível. Natasha Sezemina é uma atéia agnóstica russa de 32 anos, ela justifica sua crença em tal
filosofia com argumentos simples:
“Eu não creio em Deus – ou não confio – porque acredito que o universo e os seres
humanos surgiram sem uma ‘ajuda de fora’. Minha crença é baseada na literatura científica. Além
do mais, não sinto a existência Dele na minha vida.”
Indo ao outro extremo, há o Ateísmo Cético (ou Ateísmo Forte), cujos adeptos se opõem
completamente à idéia da existência de Deus ou qualquer outra divindade em hipótese alguma. O
motivo que leva a esses ateus terem esta certeza varia de indivíduo para indivíduo, mas o principal
argumento é o de que não se pode acreditar no que não se pode ver.
O estudante do oitavo período de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (MG),
Gabriel Gomes Miranda, tem 25 anos e é ateu. Segundo ele, o entendimento sobre religião no
Ocidente é reduzido ao Monoteísmo Abraâmico, sistema que ele julga ser meramente doutrinário.
Além disso, ele disse não agüentar uma suposta arrogância proveniente das grandes religiões
monoteístas (Cristianismo, Islamismo e Judaísmo) que, segundo ele, se portam como detentoras da
verdade absoluta.
Foi pensando criticamente sobre isso que Gabriel aderiu ao Ateísmo. Como o prefixo a
sugere, ateísmo é a negação ao teísmo. Para ele, o ateísmo só é válido quando deriva do hábito da
racionalidade e da busca pessoal pela verdade, mesmo que não a encontre. O ateísmo deve estar
dentro de um contexto mais amplo da aplicação da razão a um campo estrito, especificamente o da
crença religiosa. Desta forma, o ateísmo surge em oposição à onda de misticismo e de sobrenatural
vigentes. Entretanto, ele afirma que ataques frontais à religião não levarão ateus a lugar algum.
Em entrevista, ele explica sua visão acerca das muitas pessoas que acreditam em Deus e
seguem religiões:
“Entendo que a religião trouxe, ao longo do tempo, benefícios para o homem. As divindades
estão entre as primeiras formas que o homem primitivo, cercado por uma desconhecida natureza
selvagem, encontrou para tentar racionalizar cada fenômeno do Universo. Esses poderes
sobrenaturais causavam medo à consciência primitiva. A grandeza do poder divino resultava da
comparação que o homem fazia de sua fragilidade ante o poder da natureza. Assim, a religião
surgiu como alternativa para aplacar medos e anseios humanos.”
A psicóloga Rosa de Lima Dutra, graduada em Psicologia pela UNISUL em 2004 e pósgraduada em Psicopedagogia Institucional pela UCB do Rio de Janeiro em 2006, é cristã
evangélica, mas concorda com Gabriel nesse aspecto. Ela afirma que, no momento em que o ser
humano tem a consciência de que é um ser frágil em um mundo cruel e absurdo, onde o real é
apenas a morte, acreditar em Deus se torna ter a quem recorrer em momentos de aflição, pois o
sagrado apazigua sua angústia:
“A existência de Deus para o homem significa participar da mesma substância humanodivina; todos sermos um. É de tamanha força sua crença que se estende a todas as dependências de
sua atividade humana. Assim, o homem necessita de força divina e do sobrenatural para descrever
a realidade, que é coerente à maneira ‘mágica’ pela qual o homem age sobre o mundo.”
4 ANÁLISE SOCIAL DOS ENTREVISTADOS
Até que ponto o meio sócio-cultural em que um indivíduo nasce, cresce e vive interfere no
seu modo de pensar em relação a Deus? Seria apenas uma questão de educação da família? É
definitivo?
4.1 A Influência Social Sobre os Ideais Religiosos
O universitário Gabriel Miranda nasceu em uma família de devotos católicos, da qual ele se
diz orgulhoso por fazer parte. Freqüentou a Catequese (aulas católicas para crianças) onde fez
grandes amigos e aprendeu ensinamentos que carrega consigo até hoje. Lá, fez a primeira
Eucaristia e a Crisma (rituais cerimoniais católicos), além de ir à missa todos os domingos. Teve
tudo para ser um católico praticante, assim como sua família e seus amigos, mas algo o impediu: o
hábito de pensar criticamente sobre todas as coisas, inclusive sobre religião. O mesmo motivo foi o
responsável pela conversão da jovem muçulmana Monique Gomes, que também nasceu em uma
família cristã e, como tal, foi criada desde pequena nessa religião.
Os pais dela sempre foram engajados na igreja católica, sua mãe era professora de
Catequese. Aos onze anos, Monique foi catequizada. Recebeu instruções sobre a existência de Deus
e que Jesus era o caminho para Ele, dentre tantas outras coisas. Quando criança, ela se sentia
satisfeita em apenas ir à missa, cantar ao lado dos pais e ler alguma parte do Domingo (folheto que
contém o roteiro da missa) para os fiéis. Após a Catequese e a inevitável chegada da adolescência,
as dúvidas quanto à religião também não paravam de crescer. Além de ter algumas decepções em
relação à conduta de alguns jovens que estudavam para serem padres e até mesmo em relação à
conduta dos próprios padres.
Aos 13 anos, Monique teve uma conversa franca com o padre da Paróquia que freqüentava.
Ele a falou sobre vários problemas estruturais que via na forma como a religião era passada, que ele
não poderia mudar. A partir daquele momento, a jovem Monique conversou com seus pais e
declarou-se não mais cristã, pois jamais conseguiria ser hipócrita a ponto de se intitular “católica
não-praticante”.
Aos 14 anos, ela se mudou com o meu irmão para Salvador, onde mora até então. Apesar de
ficar tranqüila por saber que não era católica, ficava muito confusa por não saber o que de fato era.
Afinal ela não podia ser atéia, pois acreditava em Deus, mas não da forma como até então Ele a
havia sido apresentada. Decidiu então estudar todas as religiões. Pesquisou, visitou e conversou
com pessoas não só de outras vertentes cristãs, mas também de diversas outras religiões e filosofias.
Aprendeu e gostou da forma como a filosofia budista leva a pessoa à paz, à serenidade e à sabedoria
de maneira tão humanista. Por último, conheceu o Islã através de um amigo.
“Quanto mais estudava o Islã, mais gostava e mais me sentia muçulmana. Jamais pensei
encontrar uma religião que não briga com a ciência, que diz que a busca pelo conhecimento é
obrigação de cada homem e mulher e tem respostas lógicas para todas as minhas perguntas. Aos
15 anos, me converti ao Islã com toda a segurança de que estava fazendo a escolha certa. Graças a
Deus, minha família entende que religião é algo que não pode ser imposto, que é preciso acreditar,
confiar, sentir. Hoje posso dizer que encontrei a melhor religião para mim.”
A professora Renata Claro também nasceu em berço católico. Foi batizada lá quando criança
como qualquer outro católico. Entrou para a Catequese, mas permaneceu só por duas semanas,
segundo sua mãe. Renata só consegue se lembrar que a professora a entregou uma oração, intitulada
Ato de Contrição, embora não recorde o conteúdo. Porém, ela lembra que a professora, naquelas
duas semanas de aula, nunca havia aberto a Bíblia para os alunos. Renata se sentia entediada e
resolveu por conta própria abandonar as aulas católicas. Ela tem três irmãos que concluíram a
Catequese, fizeram Crisma e tomaram a Comunhão, embora nenhum deles hoje seja católico
praticante.
Em 1990, quando estava na quinta série primária, Renata entrou para uma Escola de Freiras.
Em 1994, ao entrar para o Ensino Médio, foi convidada por uma colega a ir a uma igreja
evangélica. Por não ter amigos, ela aceitou (mesmo sua mãe não tendo gostado da idéia). Lá, ela
estranhou a falta de imagens de santos, como nas igrejas católicas, mas, por gostar das pessoas,
resolveu permanecer. Em novembro de 1995, ela se batizou nesta igreja simplesmente para deixar
de ser católica.
“Foi nesta ocasião de batismo que senti a presença de Deus em meu interior pela primeira
vez. Chorei, não entendendo direito o que se passava comigo. Entretanto, eu ainda não havia
conhecido Jesus Cristo profundamente como deveria. Eu já havia comprado minha Bíblia, mas nós
não conhecemos a Deus através da Bíblia simplesmente, mas principalmente através da revelação.
Temos que abrir o coração para Deus, a fim de que Ele revele Seu amor, Sua misericórdia, Sua
justiça, etc. E, por falta de entendimento e discernimento espirituais (que só Deus dá quando Lhe
pedimos), decidi largar a igreja. Só em 2002, fui batizada pelo Espírito Santo e falei em línguas
espirituais (dos anjos) com tanta fluência e desimpedimento que parecia que eu falava nessa língua
desde que nasci.”
O jornalista ateu Gabriel ainda defende a importância da escolha da crença salientando a
causa desta escolha acima da mudança propriamente dita:
“Um menino que nasce no Brasil e se torna católico só porque os pais quiseram não é
necessariamente mais irracional do que aquele que nascia na antiga União Soviética e se tornava
ateu só porque o Estado impunha. Mesmo a criança soviética estando na posição correta, neste
particular (o ateísmo), é irrelevante. O fato de alguém aderir ao ateísmo não garante que esta
pessoa seja necessariamente racional, pois o importante não é no que ela acredita, mas porque
acredita.”
A psicóloga Rosa de Lima explica que, ao nascer, o indivíduo é herdeiro de certa cultura, a
qual geralmente influencia em suas crenças, mas, ao crescer, também percebe que tem o poder para
escolher um ato ou não, independentemente das forças que o constrangem e o inibem. É livre para
decidir e agir como quer, sem qualquer determinação, apenas por sua vontade. Sente-se livre, mas
sua crença o faz compreender que é feito à imagem de Deus e isso muitas vezes reduz ou
interrompe suas vontades tosando sua real liberdade. Pois a experiência de união com Deus não se
dá de modo irracional, baseia-se em seu conhecimento das limitações fundamentais do que é
possível conhecer a respeito de Deus.
4.2 Preconceitos Sócio-Religiosos
Em uma sociedade cuja religião predominante é o catolicismo, nada menos incomum do que
praticantes de outras culturas filosóficas e religiosas se depararem com o preconceito da massa.
A estudante muçulmana Monique declara conhecer o preconceito que sua religião tem
sofrido pelo mundo afora e atribui isso à Imprensa sensacionalista, pela visão negativa do Islã que
ela passa, sempre expondo os maus muçulmanos, os quais definitivamente não demonstram através
de suas ações o que o Islã prega. Segundo ela, o terrorismo não justifica a violência e a morte de
pessoas inocentes e isto é completamente proibido no Islã. De acordo com o Alcorão, matar uma
pessoa sem justa causa é um grande pecado, como se o assassino matasse toda a humanidade, assim
como salvar a vida de uma pessoa é uma boa ação que corresponde a salvar toda a humanidade. Ou
seja, o Islã de forma nenhuma incita a violência contra pessoas inocentes, até porque Islã significa
“paz através da submissão a Deus”.
Em relação à aparência característica das muçulmanas, tratando-se de roupas e
principalmente do véu, Monique explica que as pessoas fora do islã não compreendem o significado
do véu e insistem em dizer que é uma forma de opressão. Ela justifica:
“Quando você olha o hijab (véu) de fora é impossível ver o que ele esconde. A diferença
entre estar olhando de dentro para fora do véu e estar olhando de fora para dentro explica todo o
vazio sobre a compreensão do Islã. Estando fora, é possível ver o Islã como uma restrição para os
muçulmanos. Mas, estando dentro, há paz, liberdade e felicidade, as quais podem ser apenas
sentidas por aquelas que usam o hijab, não apenas por aquelas que nasceram em famílias
muçulmanas, mas também por aquelas que se converteram ao Islã e o escolheram, ao invés da
ilusória liberdade da vida secular. Se o véu oprimisse as mulheres, então por que tantas mulheres
deixam esta chamada liberdade e independência (da vida secular) para vir para o Islã? Usar o
hijab tem me libertado de uma constante atenção ao meu físico, porque minha aparência não é
objeto de escrutínio público, minha beleza (ou talvez a falta dela) foi removida do campo que
legitimamente pode ser discutido.”
Outro motivo de confusões é a idéia de que a mulher muçulmana é oprimida e submissa ao
marido. Primeiramente, é bom entender que o significado da palavra “muçulmano” é toda pessoa
que se submete à vontade de Deus, ou seja, a mulher muçulmana se submete a Deus e não ao
marido. Há um dito do profeta Maomé: “O melhor muçulmano é aquele que é o melhor para a sua
esposa”. Segundo Monique, o melhor para a esposa não é aquele que a subjuga. O casamento no
Islã é baseado no amor e respeito mútuo, é um contrato de união entre a mulher e o homem, não
pode haver coerção e ambas as partes podem incluir seus próprios termos. Maridos e esposas
protegem um ao outro, são melhores amigos e juntos se completam na religião. O homem é
responsável por prover a família, o que não significa que a mulher não possa trabalhar, mas não tem
obrigações quanto à economia do lar e dos filhos. Ela não é obrigada a compartilhar seus ganhos ou
heranças a menos que queria ajudar o marido. Ambos cuidam do lar e da criação dos filhos. Porém,
se o convívio se tornar impossível, o divorcio é permitido e as mães têm prioridade na custódia dos
filhos.
“Aqui no Brasil, particularmente na Bahia (onde moro), posso dizer que não sofro tanto
preconceito em relação à religião. Volta e meia ouço alguma piadinha na rua por causa das
minhas roupas, mas não é nada que me deixe realmente triste. Claro que já aconteceram várias
situações inusitadas como acharem que eu não falo português, que eu não tenho cabelo, e certa vez
um ladrão roubou todos do ônibus exceto eu. Apesar de tudo, posso dizer que o baiano é um povo
curioso, a maioria mesmo faz perguntas sobre minhas vestimentas, minha religião e vários
perguntam se eu sou árabe ou descendente de árabe. Isso não me incomoda porque gosto muito
que as pessoas perguntem, assim posso tirar concepções errôneas que elas adquiriram. Então, eu
explico a eles que a religião é universal, há mais de 1,5 bilhões de muçulmanos no mundo todo, só
20% deles é árabe e que o país mais muçulmano do mundo é a Indonésia. As pessoas ficam
realmente surpresas ao saberem disso, porque elas sempre vêem só muçulmanos árabes na TV.”
A professora Renata Claro diz que sua família não gostou muito da idéia de ter se convertido
evangélica, mas como ela estava sempre sozinha, não tinha amigos, eles não falaram nada.
Simplesmente a deixaram continuar freqüentando os cultos normalmente. Vez ou outra ela sofre
algum preconceito, pois diz ser tachada de “crente fanática”, mas que não dá importância:
“Eles não entendem as coisas de Deus. Sou muito perseguida na Internet também, pois sou
muito ousada para desmascarar heresias, distorções bíblicas, interpretações completamente
erradas que fazem de Deus lá. Mas a nossa parte é orar por todos os que nos perseguem,
abençoando-os, em nome de Jesus, e nunca os amaldiçoando.”
O estudante judeu Tobias Porto não se atém ao assunto Preconceito, relembrando o nazismo,
a política da ditadura que governou a Alemanha de 1933 a 1945 e que por todos esses anos torturou,
condenou e assassinou milhares de judeus:
“Há algumas piadas aqui, outras ali, mas onde eu moro não tem muito preconceito, não...
Às vezes, você ouve alguém falando do seu kipá (roupa), mas é só não dar ouvidos. E também não
querer se deparar com um neonazista, claro!”
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O ponto crucial em comum nas religiões monoteístas era, a princípio, o fato de seus deuses
serem o mesmo Deus de Abraão, segundo a história. No entanto, percebeu-se que, apesar das
diferenças doutrinárias e sociais, o Deus em comum apresentava diversas outras características de
Sua personalidade que condiziam com cada uma das religiões estudadas. Além das definições do
próprio conceito primário de Deus (onipotência, onisciência, onipresença, perfeição), pôde-se
identificar o amor incondicional pela humanidade, a necessidade do amor entre ela mesma, a
sabedoria com o propósito do bem mundial, as revelações sobrenaturais sobre o passado, o presente
e o futuro, como exemplos.
No entanto, o que difere consideravelmente são as interpretações dos povos. A vontade de
Deus, o Messias, o povo escolhido, as práticas sagradas, enfim, quase tudo foi adaptado (ou
distorcido) de acordo com cada civilização, com cada interesse. O mesmo Deus (de Abraão) acabou
se tornando três (um em cada religião). Se esse Deus Abraâmico tinha algum propósito inicial em
relação à humanidade, muito provavelmente em muitas culturas esse Plano Divino se perdeu ou foi
muito adaptado ao jogo de poder e domínio que a civilização humana vem jogando ao longo de sua
existência sobre a Terra.
É importante destacar os objetivos iniciais que impulsionaram a realização deste artigo: não
provar a existência de Deus, nem de definir qual religião é correta, mas buscar um conceito humano
do Deus em comum das religiões monoteístas. Ao término deste, pôde-se observar diversos
"pseudo-conceitos" divinos, isto é, várias interpretações de Deus personificadas de acordo com as
várias culturas, épocas e aspectos sociais dos povos, facilmente perceptíveis ao longo dos relatos de
vida dos entrevistados.
Apesar de o Cristianismo defender uma origem judaica, o Judaísmo considera o
Cristianismo uma religião pagã. Apesar da existência de judeus convertidos ao Cristianismo e
outras religiões, não existe nenhuma forma de Judaísmo que aceite as doutrinas do Cristianismo,
como a divindade de Jesus ou a crença em seu caráter messiânico. Algumas ramificações tentaram
ver Jesus como um profeta ou um rabino famoso, mas hoje esta visão também é descartada.
O Islamismo tomou diversas de suas doutrinas do Judaísmo, sendo que as duas religiões
mantêm seu intercâmbio religioso desde a época de Maomé, com períodos de tolerância e
intolerância de ambas as partes. Também deve enfatizar-se o atual conflito entre parte da população
muçulmana e os judeus devido à questão do controle de Jerusalém e outros pontos políticos,
históricos e culturais.
O Islã reconhece os judeus como um dos povos citados pelas escrituras sagradas, apesar de
acreditarem que os judeus sigam uma Torá corrompida, porém reconhece elementos de verdade no
Judaísmo e no Cristianismo. Já o Judaísmo não crê em Maomé como profeta e não aceita diversos
mandamentos do Islã. Porém, se o Islã reconhece o papel preparatório do Judaísmo e do
Cristianismo, considera igualmente que os seguidores destas religiões acabaram seguindo caminhos
errados (os judeus por serem idólatras e os cristãos por verem Jesus como o Filho de Deus).
A prova da existência de Deus (física ou espiritual) não cabe à ciência humana desvendar.
Porém, esta deve continuar evoluindo paralelamente à fé humana no divino. Este divino Ser
Superior pode, de acordo com as religiões ou outras crenças, ser um Ser à semelhança do homem,
uma ordem física universal, uma equação matemática, uma ideologia, entre outros. O importante,
como disse o jornalista ateu Gabriel Miranda, não é no que se acredita, mas porque se acredita.
6 REFERÊNCIAS
AQUINO, Tommaso de. Suma Teológica. Itália: Permanência, 1273. Disponível em:
<http://sumateologica.permanencia.org.br> Acesso em: 03 nov. 2008.
BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é comunicação? São Paulo: Brasiliense, 2005.
CAVALCANTE, Rodrigo. Deus existe? Será que a ciência tem a resposta? Super Interessante©,
São Paulo, ano 19, n. 3, edição 220, 07 de dezembro de 2005.
DEUS. Wikipédia: a enciclopédia livre on-line. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/deus> Acesso em: 07 nov. 2008.
FINE, Doreen. O que sabemos sobre o judaísmo? São Paulo. 2ed: Callis, 2001.
HUSAIN, Shahrukh. O que sabemos sobre o islamismo? São Paulo. 2ed: Callis, 2002.
RELIGIÕES Monoteístas. Wikipédia: a enciclopédia livre on-line. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/monote%C3%ADsmo> Acesso em: 07 nov. 2008.
WATSON, Carol. O que sabemos sobre o cristianismo? São Paulo. 2ed: Callis, 2001.

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