sobre o ser superior
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SOBRE O SER SUPERIOR Diferentes Olhares de Religiões Monoteístas Acerca de Deus Djonatha Geremias da Silva Professora Sônia Trichêz Faculdade SATC Comunicação Social / Jornalismo (1ª Fase) – Metodologia Científica 10/11/2008 RESUMO Este artigo tem por objetivo descrever, sob as diversas perspectivas de religiões monoteístas, o verdadeiro conceito humano de Deus. Para isto, utilizou-se de referências teóricas e de entrevistas com praticantes de religiões monoteístas – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo –, com adeptos do Ateísmo (que não acreditam na existência de Deus) e com uma psicóloga. Neste, evidenciam-se os pontos em comum das diversas visões sobre Deus que têm estas religiões, bem como as diferenças. Analisam-se as histórias de vida dos praticantes entrevistados, desde a necessidade pessoal pela busca de uma realização espiritual até a influência social que estes exercem e a que também estão sujeitos, destacando os preconceitos sócio-religiosos. O presente artigo científico não objetivou comprovar ou não a existência de Deus, nem decidir qual religião é a mais correta. Nenhum estudo de caráter científico pode definir o que realmente seja Deus ou comprovar que exista um, mas sim identificar seu conceito de acordo com as religiões, suas respectivas "escrituras sagradas" e seus adeptos. Desse modo, não se pretende esgotar o assunto, porém analisar e cruzar olhares sobre um mesmo ponto em comum. Sobre o Ser Superior. Palavras-chaves: Deus; Religiões; Monoteísmo. 1 INTRODUÇÃO Opiniões divergentes que vão desde as céticas até as fanáticas. Há quem ignore o assunto, há quem defenda sua crença com unhas e dentes e há quem a imponha. Mas afinal de contas, existe mesmo um Deus? O que (ou quem) é Deus? Por milhares de anos, esse tema vem sendo discutido e ainda gera muita polêmica e controvérsias atualmente. A idéia de um único Ser Superior é a principal filosofia das religiões monoteístas, sendo ele o Deus Abraâmico1. Suas características divinas principais seriam a onipotência (que tudo pode), a onisciência (que tudo sabe), a espiritual onipresença (que está em todo lugar), a infinita misericórdia e a perfeição. Tal Deus não teria sido criado, pois existiria por si só (sempre existiu e sempre existirá) e ainda teria sido o responsável pela criação do universo, da raça humana e de toda forma de vida já conhecida. 1 O "Deus de Abraão", segundo as escrituras sagradas das religiões monoteístas; Religião Abraâmica – ou Monoteísmo do Deserto – é uma designação genérica para as religiões que derivam da tradição semítica que tem na figura do patriarca Abraão o seu marco referencial inicial. No entanto, essa existência não pode ser comprovada física e cientificamente, o que gera milhares de divergências sobre sua existência (ou inexistência) e até mesmo sobre o seu conceito. Sendo assim, surgiram alguns ideais filosóficos que buscam compreender essa questão existencial divina, tais como o Teísmo, o Ateísmo, o Agnosticismo, o Deísmo, entre outros, cada um com suas doutrinas, culturas e filosofias específicas. Dentre estes, o mais difundido no Ocidente e também o mais clássico é o Teísmo. A filosofia teísta não só admite a existência de um só Deus, como também a de que ele influencia diretamente sobre a racionalização e o comportamento humanos. Livros como a Bíblia, o Alcorão e a Torá, por exemplo, são ditos como sagrados pelo Teísmo, pois são “revelações divinas”, ou seja, conhecimentos transmitidos diretamente aos homens por Deus. A partir desta filosofia, surgiram as religiões monoteístas clássicas, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, que não só acreditam em um único Deus, mas cuja fé está alicerçada em seus respectivos "livros sagrados". Estes, por sua vez, embora tendo suas particularidades, originam-se das mesmas histórias, mesmas escrituras, mesmos profetas, etc. Isso significa que esses vários segmentos religiosos cultuam ao mesmo Deus, que recebe diferentes interpretações de sua existência e é tratado de modo diferente por cada uma dessas religiões. Descobrir o que difere estas religiões, estas interpretações e conceitos divinos é o propósito deste artigo. Primeiramente serão estudadas de forma breve as histórias dessas religiões, embasadas teoricamente por estudos teológicos sistemáticos; em seguida, serão analisadas as entrevistas realizadas com praticantes de cada uma dessas religiões. Nessas entrevistas, foram abordados assuntos de cunho pessoal (experiências próprias), religioso (visão das religiões) e social (reação da sociedade em relação àquela prática). Este último também foi considerado importante e essencial, pois o ser humano é ao mesmo tempo produto e criador de sua sociedade e cultura (BORDENAVE, 2005), sendo este o fator determinante da escolha da crença de cada entrevistado, conforme seus relatos de vida. Para que este artigo complete-se em caráter jornalístico e imparcial, foram entrevistados ateus – que defendem racionalmente a não existência de um Ser Superior. Indo mais além, este artigo contou com a participação de uma profissional em Psicologia, para que o presente artigo tenha também caráter científico. 2 O DEUS HISTÓRICO E A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES O teólogo, filósofo e frei Tommaso d’Aquino (Itália, 1225-1274) – também conhecido como Santo Tomás de Aquino – foi o responsável pela sistematização do conhecimento teológico, filosófico e aristotélico da época, sintetizando-os em fé e razão. Segundo ele, uma não contradiz a outra, podendo juntas explicar a existência de Deus e ainda descrevê-lo, sem basear-se em nenhuma doutrina ou dogma. Embora esse conceito divino tenha sido criado somente no século XIII, ela se adéqua a todas as descrições do Ser Superior (desde a Criação) que as religiões monoteístas sempre acreditaram. Em sua obra Suma Teológica, o frade demonstra essa existência em cinco vias: Primeiro motor imóvel – Tudo o que se move foi movido por alguém; é impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente. Logo, há que se ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido, e tal ser todos entendem: é Deus; Primeira causa eficiente – Relação “causa-efeito”. É necessário que haja uma causa primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa. Logo é necessário afirmar uma Causa Eficiente Primeira, que não tenha sido causada por ninguém: Deus. Assim se explica a causa da existência do Universo; Ser necessário – Existem seres que podem ser necessários ou não, mas nem todos os seres podem ser desnecessários, ou o mundo não existiria. Logo, é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser; Ser perfeito – Verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos que outros. Qualquer graduação pressupõe um parâmetro máximo. Assim, deve existir um ser que tenha tal padrão de perfeição e que seja a Causa da Perfeição dos demais seres; Inteligência ordenadora – Existe uma ordem admirável no Universo que é facilmente verificada. Ora toda ordem é fruto de uma inteligência ordenadora. Não se chega à ordem pelo acaso e nem pelo caos. Logo, há um ser inteligente que dispôs o universo na forma ordenada. 2.1 CRISTIANISMO O nome deriva da palavra Cristo, que vem do grego cristós e significa o mesmo que Messias em hebraico. Os profetas de Israel prediziam que Deus mandaria um salvador, um líder especial, para libertá-los de seus inimigos. Ao longo da história, o povo judeu esperou pela vinda de seu salvador, o Messias. Os judeus acreditam que o Messias ainda não veio ao mundo. Os cristãos acreditam que Jesus Cristo era o Messias prometido por Deus. Eles acreditam que Jesus não veio para substituir as crenças judaicas, mas para realizá-las. Segundo Watson (2001), "cristão" é aquele que acredita nos ensinamentos de Jesus Cristo e os segue. Jesus foi um judeu que nasceu há cerca de 2000 anos em Belém, na Palestina. Seus pais eram um casal judeu, Maria e José (descendente de Abraão). Ele viveu por 33 anos antes de morrer crucificado pelos romanos, que dominavam a região. Os cristãos acreditam que Jesus ressuscitou e apareceu a seus discípulos para mostrar que há outra vida com Deus. Desde essa época, o Cristianismo se espalhou por todo o mundo. Hoje há mais de um bilhão e meio de cristãos no mundo inteiro. O Cristianismo começou quando os seguidores de Jesus levaram adiante seus ensinamentos depois que ele morreu. Antes de deixá-los, Jesus disse que saíssem pelo mundo para contar a todos sobre o perdão. "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim", disse Jesus. Após obedecerem, milhares de pessoas também se tornaram discípulos. Jesus também disse a seus discípulos que Deus enviaria o Espírito Santo2 para lhes dar força e apoio em seu trabalho. Quarenta dias após a ressurreição, Jesus anunciou que iria se juntar a Deus: "Não se esqueçam de que, embora não possam me ver, estarei sempre com vocês". Depois, ergueu as mãos para abençoálos e, enquanto abençoava, subiu ao céu, desaparecendo entre as nuvens. Segundo os manuscritos dos apóstolos, enquanto eles olhavam para o céu, dois anjos apareceram dizendo: "Por que olhais para o céu? Jesus foi levado de sua presença, mas um dia ele voltará da mesma maneira que subiu". 2.1.1 Bíblia – A Escritura Sagrada Cristã O livro sagrado dos cristãos chama-se Bíblia. Eles acreditam que ela seja o ensinamento de Deus, escrito para guiar as pessoas. Ela inicia com a criação do mundo e termina com uma previsão 2 De acordo com a maioria dos cristãos, a Santíssima Trindade – que consiste na crença de três aspectos de uma mesma concepção divina: o Pai, o Filho (Jesus) e o Espírito Santo – não anula o conceito monoteísta da religião cristã. do fim dos tempos. Ela é formada por uma coleção de 66 livros, escritos por diversas pessoas em épocas diferentes. Os livros contêm dramas, poesias, cartas, mandamentos e histórias sobre as vidas das pessoas. A Bíblia está dividida em duas partes: o Velho Testamento e o Novo Testamento. O Velho Testamento é constituído por 39 livros que tratam da promessa de Deus a Abraão e seus descendentes, o povo judeu. A promessa era de que, se eles obedecessem e confiassem em Deus, Ele iria sempre amá-los e protegê-los. O Velho Testamento foi redigido em hebraico antigo em rolos de papiro, pelos escribas de Israel. O Novo Testamento é constituído pelos 27 livros finais da Bíblia, tratando da nova promessa de Deus. Conta como Ele enviou seu Filho, Jesus, ao mundo para oferecer o perdão e uma nova vida para aqueles que acreditassem e confiassem nele. O Novo Testamento narra a vida e os ensinamentos de Jesus, sua morte na cruz e a ressurreição. Conta também a história de como a Igreja cristã começou e cresceu e de como os cristãos acreditam que Jesus retornará ao mundo. Foi redigido em grego pelos seguidores de Jesus e pelos integrantes da recente Igreja. As histórias da Bíblia vêm sendo passadas de geração a geração pela tradição oral e pelos manuscritos de mais de 2000 anos de idade. Muitas delas narram a vida de pessoas, suas alegrias e medos, suas tragédias e lutas. Algumas são muito envolventes, dramáticas e maravilhosas. Os cristãos acreditam que as histórias da Bíblia mostram pessoas à semelhança de Deus. Para a maioria dos cristãos, a maior história bíblica é a vida de Jesus. Mas também há histórias que o próprio Jesus contou, chamadas "parábolas", isto é, uma história terrena com significado divino. Trata-se de uma história sobre coisas que acontecem na vida cotidiana, mas para aqueles que realmente ouvem e compreendem, há também outro significado mais profundo. Jesus usava essa espécie de narrativa para ajudar as pessoas comuns a compreender e se lembrar dos pontos mais importantes de seus ensinamentos. 2.1.2 O Povo Cristão Todos os cristãos seguem Jesus Cristo e a Bíblia, mas entre eles há algumas diferenças quanto à forma de organização, crenças e práticas. Os três principais ramos do Cristianismo são os Católicos Romanos, os Evangélicos (ambos originários do Ocidente) e os Ortodoxos (originários da Grécia e do Oriente). Essas divisões existem justamente porque os cristãos praticam seus cultos de maneiras diferentes (WATSON, 2001). Após, por muitos anos, os cristãos serem perseguidos pelos romanos, um dos imperadores romanos, Constantino, se tornou um cristão. Interrompeu a perseguição ao povo cristão e permitiu que exercessem livremente seus cultos. Criou então uma nova cidade, Constantinopla (atual Istambul), para ser a capital cristã do Oriente. A fé cristã espalhou-se por todo o Império Romano até a Europa, tornando-se a religião oficial. As diferentes regiões cristãs tinham líderes chamados patriarcas (bispos), que deveriam ter poderes iguais, mas os de Roma e de Constantinopla recebiam maior poder que os outros. Esses dois homens divergiam sobre aspectos do culto e da crença. O patriarca de Roma separou sua Igreja, que passou a se chamar Igreja Católica. A palavra "Católica" significa "Universal". A parte ocidental e de fala latina do Império Romano via-se como a continuação da Igreja verdadeira e adotou o nome de Igreja Católica. Sua sede fica em Roma e seu patriarca é o Papa. A parte oriental da Igreja, de língua grega, também se via como a fé verdadeira e denominou-se "Ortodoxa", que significa "crença ou prática verdadeira". Por muitos anos, o chefe dessa Igreja foi o patriarca de Constantinopla e os ofícios religiosos eram celebrados em grego. Os monges gregos ortodoxos difundiram a fé para a Rússia e países eslavos, de modo que passaram a existir também patriarcas russos, como o patriarca de Moscou Alexei II, por exemplo, chefe da Igreja Ortodoxa na Rússia. A Igreja cristã continuou a se espalhar e a mudar ao longo dos séculos. Aos poucos, pessoas com fortes crenças começaram a discordar da maneira como os padres católicos romanos se comportavam. O monge alemão Martinho Lutero considerou que a Igreja havia se afastado dos ensinamentos de Jesus Cristo e pediu mudanças3. Lutero e outros protestaram contra as maneiras de praticar os ensinamentos e os cultos e estabeleceram sua própria forma de Cristianismo. Esses rebeldes foram chamados de "Protestantes". Os ofícios religiosos protestantes não foram mais conduzidos em latim, mas na língua comum, de modo que todos pudessem entendê-los. Eles se concentraram na Bíblia como a base de seus ensinamentos. Posteriormente, os protestantes passam a se denominar "Evangélicos", pois já não tem mais por objetivo "protestar" e sim cultuar a Deus exatamente como Jesus ensinou e como está escrito nos evangelhos bíblicos. 3 Por exemplo, Católicos Romanos e Ortodoxos dão mais ênfase à Virgem Maria, pois acreditam que, por ser a mãe de Jesus, ela tem um acesso especial a Ele e pode interceder em favor daqueles que lhe dirigirem suas orações. Já os Protestantes e Evangélicos desaprovam tal crença, por prezarem as palavras de Jesus, quando ele disse: "Ninguém chega ao Pai senão por mim". 2.2 JUDAÍSMO Segundo Fine (2001), o Judaísmo começou quando Abraão, o pai da religião judaica, começou a venerar um Deus em vez de muitos, como fazia seu pai4. De acordo com as escrituras sagradas judaicas, Abraão nasceu em 1813 a.C. e casou-se com Sara5. Eles partiram seguindo uma rota indicada por Deus. Abraão prometeu ser fiel a Ele e ensinar suas leis para o mundo. Deus prometeu a Abraão e sua mulher que teriam um filho, que seus descendentes seriam numerosos tanto quanto as estrelas e que herdariam a terra de Israel. Para testar o caráter de Abraão, Deus ordenou-lhe que sacrificasse Isaac (o filho prometido por Deus) no monte Moriá. Ele, arduamente triste, resolveu obedecer, mas quando estava prestes a cumprir a ordem, Deus enviou um anjo para impedi-lo, pois viu que Abraão era fiel e confiava nele. Isaac e seu filho Jacó foram o segundo e o terceiro patriarcas do Judaísmo. Deus renovou a promessa feita a Abraão e prometeu cuidar de Jacó, onde ele estivesse. Jacó disse que seria fiel a Deus, e Ele então mudou o nome de Jacó para "Israel". O filho favorito de Jacó, José, foi vítima da inveja de seus onze irmãos: foi vendido por eles como escravo a uma caravana que passava. Tempos depois, com a ajuda de Deus, José deixou de ser escravo e conseguiu poder político no Egito, igualando-se ao Faraó. Chamou seus irmãos ao palácio e os perdoou. Os doze filhos de Jacó tornaram-se fundadores das doze tribos de Israel. Após a morte de José, um novo faraó escravizou os israelitas. Ele não permitia que venerassem seu Deus e afogou todos os bebês homens no rio Nilo. Deus então indicou um novo líder, Moisés (da tribo de Levi, uma das doze tribos de Israel), e enviou dez pragas para mostrar sua raiva. O Faraó deixou que os israelitas partissem, porém os perseguiu. Como punição, Deus afogou o exército do faraó no Mar Vermelho. 2.2.1 Tanach, Hagadá e Talmud – As Escrituras Sagradas Judaicas O Tanach é composto de três partes: a Torá, o Nev'im (os Livros dos Profetas) e o Ketuvim (todos os outros livros judaicos, incluindo Salmos, Provérbios e os cinco Megilot – histórias especiais ou poemas). 4 As pessoas de Canaã (onde Abraão nasceu) adoravam ídolos – estátuas de barro, pedra ou bronze. Acreditavam que, se agradasse aos ídolos, conseguiriam força, vitória na guerra e boas safras. Para ganhar a benevolência dos ídolos, faziam-lhes oferendas. Astarte e Baal eram os deuses mais conhecidos. 5 Primeiramente, Abraão e Sara se chamavam Abrão e Sarai, respectivamente. Porém, Deus mudou seus nomes em virtude dos significados, assim que eles passaram a servir unicamente a Ele. O livro judaico mais sagrado é o rolo da Torá, um pergaminho enrolado6 que contém os cinco Livros de Moisés manuscritos. Os judeus acreditam que, sete semanas depois que os israelitas deixaram o Egito, Deus escolheu-os para receber a Torá. Moisés subiu ao Monte Sinai, ouviu os 10 Mandamentos Sagrados7, escreveu-os em tábuas de pedra e repassou-os ao povo judeu. Eles acreditam que, percebendo os seus vários significados e vivendo de acordo com as suas leis, podem espalhar justiça por todo o mundo (FINE, 2001). O Judaísmo defende uma relação especial entre Deus e o povo judeu; manifesta através de uma revelação contínua de geração a geração. O Judaísmo crê que a Torá é a revelação eterna dada por Deus aos judeus, os quais também aceitam que homens através da história judaica foram inspirados pela profecia, sendo que muitas delas estão explícitas no Nev'im e no Ketuvim. A profecia dentro do Judaísmo não tem o caráter de adivinhação, mas manifesta-se na mensagem da divindade para com seu povo e o mundo, a qual poderia assumir um sentido de advertência, julgamento ou revelação quanto à vontade da divindade. A Hagadá contém orações, serviço e músicas para o Seder de Pessach (a Páscoa). É um dos livros mais antigos e ainda hoje restam cópias com mais de 500 anos. Cada Hagadá contém a mesma história básica, mas muitas trazem histórias e músicas extras e um pouco mais da história judaica. Em muitas famílias, cada pessoa tem a sua própria Hagadá. Os livros do Talmud, a enciclopédia das leis da Torá, ditados no Sinai, mas não escritos por muitos séculos, são outros livros judaicos sagrados. 2.2.2 O Povo Judeu Hoje, os judeus podem ser de qualquer nacionalidade ou cor e vivem em muitos países por todo o mundo. Mesmo sendo a religião dos judeus o Judaísmo, é possível ser um judeu e não seguir nenhum preceito ou prática religiosa. Os judeus ortodoxos acreditam que judeu é alguém cuja mãe for judia, ou pode se tornar judeu após muitos anos de longos estudos e muita prática. Alguns judeus progressistas acreditam que alguém é judeu, se um de seus pais for judeu, ou se aceitar as 6 O pergaminho da Torá é enrolado em duas peças de madeira e coberto com um tecido bordado com sinos de prata e coroas, ou montado em uma magnífica caixa de madeira, decorada por dentro e por fora. 7 Os 10 Mandamentos Sagrados (que também fazem parte da Bíblia, no Cristianismo) são: "Eu sou o Senhor seu Deus"; "Não terás nenhum outro Deus"; "Não farás falso testemunho em meu Nome"; "Lembra-te do dia do Shabat (sábado) e guarde-o sagrado"; "Honrarás teu pai e tua mãe"; "Não matarás"; "Não cobiçarás a mulher do próximo"; "Não roubarás"; "Não mentirás"; "Não invejarás". crenças judaicas e o correspondente modo de vida. Enfim, um judeu não precisa seguir o Judaísmo, ainda que o Judaísmo só possa ser praticado por judeus. Hoje o Judaísmo é praticado por cerca de quinze milhões de pessoas em todo o mundo. Da mesma forma, ele não é uma religião de conversão, efetivamente respeita a pluralidade religiosa desde que não venha a ferir os seus mandamentos. Há diversas tradições e doutrinas dentro do Judaísmo, criadas e desenvolvidas conforme o tempo e os eventos históricos sobre a comunidade judaica, os quais são seguidos em maior ou em menor grau pelas diversas ramificações judaicas, conforme sua interpretação do Judaísmo. Entre as mais conhecidas, encontram-se o uso de objetos religiosos (como as matracas, as ponteiras da Torá, o pião e a "Luz Eterna"), costumes alimentares e culturais (como as regras de alimentação casher e as festas da Peregrinação) e o uso do hebraico como língua litúrgica (idioma sagrado do Tanach). 2.3 ISLAMISMO De acordo com Husain (2002), o Islamismo foi fundado em 610 d.C. pelo profeta Maomé. Ele nasceu em um importante clã coraixita que governava a cidade sagrada de Meca. Na época de seu nascimento, em 571 d.C., muitas pessoas iam a Meca para rezar em um santuário negro que lá existia, o qual hoje é conhecido como Caaba. Acreditava-se haver 360 ídolos pagãos na Caaba. Meca é importante porque o Profeta nasceu lá e porque abriga a Caaba, que tem sido o centro Islã por cerca de 1400 anos. Para os adeptos do Islamismo, Ibrahim (Abraão) construiu a Caaba sob as ordens de Alá: foi o primeiro santuário para adorar o Deus Único. A Caaba é hoje o centro físico da fé islâmica. Cinco vezes ao dia, muçulmanos de todo o mundo se voltam em direção à Caaba para orar. Além disso, todos os muçulmanos que tiverem meios devem visitar a Caaba pelo menos uma vez na vida. As grandes famílias de Meca eram muito ricas e tinham muitos escravos, que eram tratados impiedosamente. Tinham também costumes cruéis, como matar meninas recém-nascidas. Esses atos entristeciam Maomé, que pensava cada vez mais sobre a natureza humana. Aos 40 anos, Maomé recebeu uma mensagem de Deus através do anjo Gabriel, segundo os adeptos do Islamismo. Ele deveria dizer ao povo de Meca que parasse de adorar ídolos e aceitasse o Deus único e verdadeiro: Alá. Depois, Gabriel falou sobre os outros profetas, incluindo Abraão, Moisés e Jesus. As pessoas que o conheceram disseram que o profeta Maomé era gentil, pensativo, forte e de estatura média, tinha cabelos cacheados e sempre trabalhava muito. Gostava especialmente de crianças e animais, e pregava contra o assassinato daquelas. Também dizia que os escravos tinham o direito de serem bem tratados por seus donos. O povo de Meca odiava Maomé porque ele pregava contra seus deuses. Após dez anos de perseguições, o "Sagrado Profeta" e seus seguidores partiram para a cidade de Medina, onde Maomé se tornou um líder e estadista. Ele morava com sua família e alguns seguidores em uma casa simples de barro e pedra. Após sua morte, em 632 d.C., aumentaram e decoraram a casa. Hoje, é uma grande e linda mesquita, chamada Mesquita do Profeta, lugar que recebe a visita de milhares de peregrinos ao longo do ano. O Profeta iniciou guerras para conquistar outros países, pelas quais o Islã ficou famoso. Assim que ele morreu, os seus exércitos começaram a lutar fora da Arábia, tornando-se muito temidos. Em seu apogeu, por volta de 1500 d.C., o mundo islâmico se estendeu até o norte da África, leste da Europa, todo Oriente Médio e Índia. 2.3.1 Alcorão – A Escritura Sagrada Islâmica O Alcorão (também chamado Corão, do árabe "Quran") é o livro sagrado do Islã. Para os muçulmanos (todo aquele que segue o Islamismo), o Alcorão é a palavra de Deus revelada a Maomé, o Sagrado Profeta, quando estava em Meca e Medina. Quando um verso lhe era revelado, ele recitava as palavras exatas a seus seguidores, que as escreviam onde podiam: pergaminhos, pedras e cascas de árvores. O primeiro Alcorão foi compilado por volta de 650 d.C., depois de o secretário de Maomé ter passado muitos anos reunindo e comparando cuidadosamente os versos anotados por várias pessoas. Os muçulmanos acreditam que a Torá judaica também foi revelada por Deus. Na verdade, o Alcorão contém as histórias de muitos profetas que também aparecem na Torá e na Bíblia. Há versos sobre Abraão8, Moisés, Maria e Jesus. O "Cári" é a pessoa que lê o Alcorão em voz alta na mesquita ou quando os muçulmanos se encontram para ouvir as preces. Qirah, a arte de recitar o Alcorão, é muito respeitada, pois milhares de muçulmanos não falam árabe, a língua do Alcorão. Mesmo assim, eles procuram pronunciar as 8 O Alcorão conta como Ibrahim (Abraão) abandonou sua mulher, Hajra (Sara), e seu filho, Ismael (Isaac), no deserto, perto de Meca. Quando o bebê Ismael adoeceu, Hajra tentou encontrar água para ele, mas exausta, caiu entre as colinas Al-Safa e Al-Marwa. De repente, a fonte, chamada Zenzem, jorrou água sob seus dedos. palavras corretamente quando lêem ou rezam. Há competições de Qirah em países muçulmanos, para ver quem tem melhor pronúncia, estilo de leitura e controle de respiração. As leis do Alcorão dividem as ações humanas em vários grupos (HUSAIN, 2002): Fard – são as coisas que devem ser feitas; Deus recompensa aqueles que as fazem e pune quem não as faz; Mandub – são ações encorajadoras e recompensadas por Deus; Mubah – ações nem recompensadas por Deus nem punidas, pois o Alcorão nada fala sobre elas; Makruh – são atos desencorajados, mas que não são punidos; Haram – são as ações ilegítimas e puníveis por lei. Junto com o Alcorão, Maomé deixou a Sunna (quer dizer "caminho") para os muçulmanos. A Sunna está baseada no que o Profeta disse e fez e é observada segundo as leis de Deus. Abrange todos os assuntos sociais possíveis. As poucas áreas não mencionadas pela Sunna devem ser decididas por um grupo de estudiosos que pesquisam decisões anteriores e acordam sobre o que deve ser feito. Os estudiosos islâmicos estudam a Sharia, a lei islâmica. Ela vem do Alcorão e é discutida e explicada em várias coleções de livros, conhecidas como Fiqh, cujos livros esclarecem as leis sob as quais os muçulmanos devem viver. Nos países muçulmanos, existem centros especializados para se estudar a lei islâmica. 2.3.2 O Povo Muçulmano Para ser muçulmano, é preciso acreditar em um só Deus (Alá, em árabe) e aceitar a mensagem do profeta Maomé, o fundador do Islã. A palavra "muçulmano" significa "aquele que se submete a Deus". Todos os muçulmanos acreditam nessas idéias básicas, mas existem vários grupos muçulmanos cujas idéias diferem ligeiramente. Desses grupos, os maiores são o Sunita e o Xiita. Há mais de um bilhão de muçulmanos espalhados pelo mundo. A maioria deles vive no Oriente Médio, na África e na Ásia. Os muçulmanos vêm de diferentes culturas, cada uma com seu próprio estilo de vestir. Alguns se vestem com roupas ocidentais atuais, outros usam roupas tradicionais. Eles devem cobrir braços e pernas e usar algo na cabeça. Hoje, muitos jovens que moram em países do Ocidente decidem usar roupas tradicionais como parte de um estilo de vida rigorosamente muçulmano. Os muçulmanos acreditam no Arkan-il-Islam, os Cinco Pilares do Islã, que são os cinco deveres mais importantes, determinados por Alá através de Maomé. O primeiro e o mais importante é o Shahada (declaração de fé, testemunho), consiste em que todos os muçulmanos devem acreditar piamente que "só existe um Deus, e Maomé é seu Profeta". Pronunciada em árabe, é a primeira prece que o muçulmano aprende, parte desta prece está gravada na bandeira da Arábia Saudita. O segundo, Salat, diz que os muçulmanos devem rezar para Deus cinco vezes por dia. O terceiro é o Zakat, ou doação de esmolas. O quarto é o Sawn, o jejum durante o mês do Ramadã9. O quinto é Hajj, a peregrinação à Meca durante o 12º mês do ano islâmico. Esses deveres ensinam disciplina, pontualidade e devoção a Alá (HUSAIN, 2002). Acredita-se que o Islã não é apenas uma religião, mas um modo de vida, isso pode ser visto no jeito como algumas famílias muçulmanas vivem. A prática do Islamismo começa no nascimento e continua até a morte; influencia no jeito de uma pessoa se comportar, se vestir e comer. Segundo Maomé, "nenhum pai pode dar a seu filho nada melhor do que boas maneiras" e os muçulmanos sempre tentam ensiná-las a seus filhos. Os muçulmanos não devem jogar, falar dos outros pelas costas, ser preguiçosos ou intrometer-se nos negócios alheios, porém devem ajudar os necessitados. 3 SITUANDO O SER SUPERIOR – ANÁLISE DOS DADOS Deus foi, por muitos séculos, tido pela humanidade como o responsável pelo "sucesso da aventura humana sobre o planeta". No entanto, a ciência começou a questionar esse dogma, quando Charles Darwin, em 1860, criou a sua teoria da Evolução das Espécies. A partir daí e com o evoluir da ciência, muitos pesquisadores acreditavam que a tendência humana seria a de trocar a fé e a religião, em troca das explicações "objetivas" para os fenômenos naturais. Alguns pensadores renomados, como Nietzsche, Marx, Freud e Sartre, diziam que "Deus estava morto" e que se iniciava uma Era da Razão. Entretanto, a história não só mostrou que eles estavam equivocados, como a fé foi novamente muito valorizada, até os dias atuais. Segundo o professor de história da filosofia moderna e contemporânea da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Oswaldo Giacoia Júnior, quando a humanidade foi proibida de ter religião – como na época dos regimes socialistas – ela substituiu a fé por alguma ideologia. 9 Ramadã: Nono mês do calendário muçulmano, durante o qual o Alcorão foi revelado pela primeira vez ao profeta Maomé pelo anjo Gabriel. 3.1 Subvertendo Fé e Ciência De acordo com a matéria de capa "Deus existe? Será que a ciência tem a resposta?", de Rodrigo Cavalcante, da revista Super Interessante (dez./2005), o paleontólogo americano, Stephan Jay Gould, acredita que nenhuma teoria (nem mesmo a da evolução, de Darwin) pode ser vista como uma ameaça às crenças religiosas, "porque essas duas grandes ferramentas da compreensão humana trabalham de forma complementar, e não oposta: a ciência pode explicar os fenômenos naturais e a religião como pilar dos valores éticos e da busca por um sentido espiritual para a vida". A partir desse pressuposto, o único modo de unir a religião com a ciência era identificar em ambas pelo menos um ponto em comum: a crença em uma ordem, propósito ou sentido no universo. Nenhuma religião crê que o acaso rege a vida humana, assim como a ciência (desde a filosofia, passando pela física, até a medicina moderna) foi impulsionada pela busca dessa ordem. As grandes perguntas cruciais do início da filosofia e que são a base da busca do conhecimento até hoje são: "De onde viemos?", "Quem somos?" e "Para onde vamos?". Partindo da Mecânica Clássica, de Newton, até as Teorias da Relatividade (tempo-espaço relativos), de Einstein, criou-se a Teoria do Big-Bang, que consiste, resumindo grosseiramente, na idéia de que o universo originou-se de uma explosão macro cósmica a partir de um ponto subatômico, há milhões de anos. Isso primeiramente poderia destituir a idéia de que Deus criou o mundo em sete dias. Curiosamente, o Big-Bang passou a ser considerado por muitos fiéis como a evidência científica de que as Escrituras Sagradas estavam certas ao descrever o Gênese, o "início de tudo"; assim como Tomás de Aquino descreveu em sua Suma Teológica, descrita no início do Capítulo 2 deste artigo. Mas tudo ainda permanece no campo das especulações. E se a ciência conseguisse achar essa tal ordem no Universo, será que isso seria a prova da existência de Deus? Ou será que a busca pelo divino não passa de uma necessidade inventada pelo homem para colocar um sentido em tudo (afinal, até onde se sabe, somos os únicos animais que tentam entender por que existe a morte)? Nas últimas décadas, o que se tem visto é um acirramento das diferenças entre aqueles que acreditam que a complexidade da vida só pode ser explicada por uma inteligência superior e aqueles que defendem que a inclinação para acreditar em Deus é apenas um traço biológico da nossa espécie, ou seja, somos programados para ter fé. (Cavalcante, 2005, p. 61) 3.2 Teísmo, Deísmo e Ateísmo – Cruzamento de Perspectivas Renata Claro, 28 anos, é professora de Língua Portuguesa e hoje é evangélica, embora tenha sido primeiramente criada no âmbito católico, em escola de freiras. Sua fé é baseada no teísmo cristão (Cristianismo), doutrina regida através da Bíblia pelos ensinamentos de Jesus Cristo, quem ela acredita piamente ser o Filho de Deus (ou o próprio Deus em forma humana). Ao ser entrevistada sobre suas razões para acreditar em Deus, ela disse ser adepta da idéia de biogênese e explicou: “A partir de apenas um óvulo e um espermatozóide, Deus faz surgir um novo ser humano, todos os membros surgindo a partir do ‘quase nada’. Acredito que a vida humana, bem como todo tipo de vida, veio de outra forma de vida pré-existente: Deus. Tudo surgiu através do poder Dele.” Além disso, Renata argumentou acerca dos “milagres” da natureza, enfatizando as belezas e as variedades contidas nela. Também demonstrou seu encantamento com a precisão dos horários do dia e da noite, as posições exatas do Sol e da Lua; os ciclos naturais, como as chuvas e as secas que permitem que o homem plante e colha alimentos, garantindo a sobrevivência ao longo dos séculos. Mas com todo cuidado, ela ressaltou que tudo isso é controlado por Deus e que é Ele quem dá à humanidade força e saúde. Ainda afirmou que todos deveriam agradecer diariamente a Ele, adorando-o e reconhecendo-o. Para justificar sua fé, Renata citou diversas passagens bíblicas que reforçam seus argumentos. Em contrapartida, existem outras religiões que, apesar de acreditarem no mesmo Deus da professora Renata, não acreditam em Jesus Cristo como o Filho de Deus, como a religião islâmica. O Islã é regido pelo Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos que, segundo eles, foi revelado por Deus ao profeta Maomé, o mais recente profeta, precedido ultimamente por Jesus, a quem o islã considera apenas como um profeta e não um ser divino. A estudante Monique Nunes Gomes é uma baiana de 18 anos, muçulmana. Em entrevista, ela nos conta que foi criada dentro do Cristianismo católico e que, a partir dos 13 anos de idade, surgiram perguntas sobre sua religião, cujas respostas ela não encontrava. Certa vez, após uma longa e franca conversa com um padre, Monique decidiu abandonar o catolicismo e procurar seu novo caminho. Depois de estudar diversas religiões, decidiu-se pelo Islã: “O Alcorão nos ensina que os indivíduos não devem ser julgados de acordo com seu sexo, beleza, riqueza ou privilégio. A única coisa que faz uma pessoa melhor que a outra é o seu caráter. O Islã é importante justamente por abranger todos os aspectos culturais da vida (moral, espiritual, social, político, econômico, intelectual, entre outros).” Já dentro do Judaísmo, a doutrina do Messias é um assunto que pode variar de ramificação para ramificação. Historicamente, diversos personagens foram chamados de Messias, do hebraico “ungido”, que não assume o mesmo sentido habitual do Cristianismo como um "ser salvador e digno de adoração". Até mesmo o conceito do Messias não aparece na Torá e, por isto mesmo, recebe interpretações diferentes, de acordo com cada ramificação. De acordo com a enciclopédia livre on-line, Wikipédia, que é construída moderadamente pelo público internauta, a maior parte dos judeus crê no Messias como um homem judeu, filho de um homem e de uma mulher. Em algumas ramificações, ele é considerado uma herança do sentimento nacionalista que regulou a vida judaica pós-exílio. Ele reinará sobre Israel, reconstruirá a nação, fazendo com que todos os judeus retornem à Terra Santa e unirá os povos em uma era de paz e prosperidade, sob o domínio de Deus. Algumas ramificações judaicas (reformistas) crêem, no entanto, que a era messiânica não envolva necessariamente uma pessoa, mas sim que se trate de um período de paz, prosperidade e justiça na humanidade. Por isso, dão particular importância ao conceito de "reparar o mundo", isto é, a prática de uma série de atos que conduzam a um mundo socialmente mais justo. O estudante Tobias Porto, 17 anos, é judeu e exemplifica: “Eu nunca fui cristão, sempre tive uma base judaica. O Judaísmo não é apenas uma crença e sim uma cultura, uma tradição, um modo de vida, uma filosofia, etc. Tudo isso em conjunto forma um judeu. O Judaísmo não priva as pessoas. É uma religião bem complexa, onde os pequenos detalhes é que fazem a diferença. Por exemplo, apenas 0,0001 grama de carne de porco pode alterar o rumo de sua vida! Se 'O Eterno' (Deus) disse: ‘Não coma’, por que o desafiaremos e comeremos? As conseqüências serão inevitáveis.” As instruções dos livros sagrados são os alicerces das religiões monoteístas. Os muçulmanos acreditam que Deus usa os profetas para revelar seu conhecimento: a Moisés revelou a Torá e a Jesus, o Evangelho. Assim sendo, é essa característica que difere o Teísmo do Deísmo. O Deísmo concebe a idéia de que não é possível provar a existência de Deus senão pela razão, ou seja, pelo bom-senso humano, levando em consideração toda a “obra” natural, o universo. No entanto, ele nega completamente a idéia de que Deus transmite conhecimento diretamente aos homens. Isso porque não se acredita que o pensamento puro de Deus não se perca entre a interpretação falha do homem e a influência que este exerce. Em outras palavras, nenhum livro “sagrado” é aceito dentro da filosofia deísta. Os adeptos ao Deísmo não seguem regras pré-determinadas, não têm religião e rejeitam qualquer dogma. Acreditam que Deus criou o universo, mas que não mais influencia os acontecimentos deste, desde a criação das leis físicas da natureza. Os deístas baseiam suas vidas em ideais éticos provenientes da reflexão crítica-racional da própria consciência e não em ditaduras dos livros sagrados repassados por autoridades religiosas hipócritas. Tanto no Deísmo quanto no Teísmo, não há como comprovar a existência de Deus de forma científica, apenas de forma racional e/ou através da fé nos livros sagrados. Isso dá margem para outro ideal filosófico importante que agrega milhares de pessoas em todo o mundo, o Agnosticismo. Esta visão acerca de Deus não acredita que se pode provar a existência Dele de forma racional ou científica, nem a Sua inexistência. Logo, dependendo da convicção de cada um, o Ser Supremo pode existir ou não. Quando essa percepção agnóstica tem tendências teístas (ou mesmo deístas), tem-se o chamado Agnóstico Teísta, que embora não tenha certeza da existência de Deus, segue sua vida de acordo com as doutrinas apresentadas pelas religiões teístas, mas não em sua totalidade. Os religiosos “não-praticantes” são um exemplo. Quando o agnosticismo é influenciado pela idéia de que pode não haver um Deus ou qualquer tipo de divindade, cria-se uma classe denominada Ateísmo Agnóstico (ou Ateísmo Fraco). Essa classe consiste em colocar em debate a existência ou não de Deus. Acredita-se que, para afirmar que Deus existe ou não, são necessárias provas reais de sua existência, o que até então é impossível. Natasha Sezemina é uma atéia agnóstica russa de 32 anos, ela justifica sua crença em tal filosofia com argumentos simples: “Eu não creio em Deus – ou não confio – porque acredito que o universo e os seres humanos surgiram sem uma ‘ajuda de fora’. Minha crença é baseada na literatura científica. Além do mais, não sinto a existência Dele na minha vida.” Indo ao outro extremo, há o Ateísmo Cético (ou Ateísmo Forte), cujos adeptos se opõem completamente à idéia da existência de Deus ou qualquer outra divindade em hipótese alguma. O motivo que leva a esses ateus terem esta certeza varia de indivíduo para indivíduo, mas o principal argumento é o de que não se pode acreditar no que não se pode ver. O estudante do oitavo período de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (MG), Gabriel Gomes Miranda, tem 25 anos e é ateu. Segundo ele, o entendimento sobre religião no Ocidente é reduzido ao Monoteísmo Abraâmico, sistema que ele julga ser meramente doutrinário. Além disso, ele disse não agüentar uma suposta arrogância proveniente das grandes religiões monoteístas (Cristianismo, Islamismo e Judaísmo) que, segundo ele, se portam como detentoras da verdade absoluta. Foi pensando criticamente sobre isso que Gabriel aderiu ao Ateísmo. Como o prefixo a sugere, ateísmo é a negação ao teísmo. Para ele, o ateísmo só é válido quando deriva do hábito da racionalidade e da busca pessoal pela verdade, mesmo que não a encontre. O ateísmo deve estar dentro de um contexto mais amplo da aplicação da razão a um campo estrito, especificamente o da crença religiosa. Desta forma, o ateísmo surge em oposição à onda de misticismo e de sobrenatural vigentes. Entretanto, ele afirma que ataques frontais à religião não levarão ateus a lugar algum. Em entrevista, ele explica sua visão acerca das muitas pessoas que acreditam em Deus e seguem religiões: “Entendo que a religião trouxe, ao longo do tempo, benefícios para o homem. As divindades estão entre as primeiras formas que o homem primitivo, cercado por uma desconhecida natureza selvagem, encontrou para tentar racionalizar cada fenômeno do Universo. Esses poderes sobrenaturais causavam medo à consciência primitiva. A grandeza do poder divino resultava da comparação que o homem fazia de sua fragilidade ante o poder da natureza. Assim, a religião surgiu como alternativa para aplacar medos e anseios humanos.” A psicóloga Rosa de Lima Dutra, graduada em Psicologia pela UNISUL em 2004 e pósgraduada em Psicopedagogia Institucional pela UCB do Rio de Janeiro em 2006, é cristã evangélica, mas concorda com Gabriel nesse aspecto. Ela afirma que, no momento em que o ser humano tem a consciência de que é um ser frágil em um mundo cruel e absurdo, onde o real é apenas a morte, acreditar em Deus se torna ter a quem recorrer em momentos de aflição, pois o sagrado apazigua sua angústia: “A existência de Deus para o homem significa participar da mesma substância humanodivina; todos sermos um. É de tamanha força sua crença que se estende a todas as dependências de sua atividade humana. Assim, o homem necessita de força divina e do sobrenatural para descrever a realidade, que é coerente à maneira ‘mágica’ pela qual o homem age sobre o mundo.” 4 ANÁLISE SOCIAL DOS ENTREVISTADOS Até que ponto o meio sócio-cultural em que um indivíduo nasce, cresce e vive interfere no seu modo de pensar em relação a Deus? Seria apenas uma questão de educação da família? É definitivo? 4.1 A Influência Social Sobre os Ideais Religiosos O universitário Gabriel Miranda nasceu em uma família de devotos católicos, da qual ele se diz orgulhoso por fazer parte. Freqüentou a Catequese (aulas católicas para crianças) onde fez grandes amigos e aprendeu ensinamentos que carrega consigo até hoje. Lá, fez a primeira Eucaristia e a Crisma (rituais cerimoniais católicos), além de ir à missa todos os domingos. Teve tudo para ser um católico praticante, assim como sua família e seus amigos, mas algo o impediu: o hábito de pensar criticamente sobre todas as coisas, inclusive sobre religião. O mesmo motivo foi o responsável pela conversão da jovem muçulmana Monique Gomes, que também nasceu em uma família cristã e, como tal, foi criada desde pequena nessa religião. Os pais dela sempre foram engajados na igreja católica, sua mãe era professora de Catequese. Aos onze anos, Monique foi catequizada. Recebeu instruções sobre a existência de Deus e que Jesus era o caminho para Ele, dentre tantas outras coisas. Quando criança, ela se sentia satisfeita em apenas ir à missa, cantar ao lado dos pais e ler alguma parte do Domingo (folheto que contém o roteiro da missa) para os fiéis. Após a Catequese e a inevitável chegada da adolescência, as dúvidas quanto à religião também não paravam de crescer. Além de ter algumas decepções em relação à conduta de alguns jovens que estudavam para serem padres e até mesmo em relação à conduta dos próprios padres. Aos 13 anos, Monique teve uma conversa franca com o padre da Paróquia que freqüentava. Ele a falou sobre vários problemas estruturais que via na forma como a religião era passada, que ele não poderia mudar. A partir daquele momento, a jovem Monique conversou com seus pais e declarou-se não mais cristã, pois jamais conseguiria ser hipócrita a ponto de se intitular “católica não-praticante”. Aos 14 anos, ela se mudou com o meu irmão para Salvador, onde mora até então. Apesar de ficar tranqüila por saber que não era católica, ficava muito confusa por não saber o que de fato era. Afinal ela não podia ser atéia, pois acreditava em Deus, mas não da forma como até então Ele a havia sido apresentada. Decidiu então estudar todas as religiões. Pesquisou, visitou e conversou com pessoas não só de outras vertentes cristãs, mas também de diversas outras religiões e filosofias. Aprendeu e gostou da forma como a filosofia budista leva a pessoa à paz, à serenidade e à sabedoria de maneira tão humanista. Por último, conheceu o Islã através de um amigo. “Quanto mais estudava o Islã, mais gostava e mais me sentia muçulmana. Jamais pensei encontrar uma religião que não briga com a ciência, que diz que a busca pelo conhecimento é obrigação de cada homem e mulher e tem respostas lógicas para todas as minhas perguntas. Aos 15 anos, me converti ao Islã com toda a segurança de que estava fazendo a escolha certa. Graças a Deus, minha família entende que religião é algo que não pode ser imposto, que é preciso acreditar, confiar, sentir. Hoje posso dizer que encontrei a melhor religião para mim.” A professora Renata Claro também nasceu em berço católico. Foi batizada lá quando criança como qualquer outro católico. Entrou para a Catequese, mas permaneceu só por duas semanas, segundo sua mãe. Renata só consegue se lembrar que a professora a entregou uma oração, intitulada Ato de Contrição, embora não recorde o conteúdo. Porém, ela lembra que a professora, naquelas duas semanas de aula, nunca havia aberto a Bíblia para os alunos. Renata se sentia entediada e resolveu por conta própria abandonar as aulas católicas. Ela tem três irmãos que concluíram a Catequese, fizeram Crisma e tomaram a Comunhão, embora nenhum deles hoje seja católico praticante. Em 1990, quando estava na quinta série primária, Renata entrou para uma Escola de Freiras. Em 1994, ao entrar para o Ensino Médio, foi convidada por uma colega a ir a uma igreja evangélica. Por não ter amigos, ela aceitou (mesmo sua mãe não tendo gostado da idéia). Lá, ela estranhou a falta de imagens de santos, como nas igrejas católicas, mas, por gostar das pessoas, resolveu permanecer. Em novembro de 1995, ela se batizou nesta igreja simplesmente para deixar de ser católica. “Foi nesta ocasião de batismo que senti a presença de Deus em meu interior pela primeira vez. Chorei, não entendendo direito o que se passava comigo. Entretanto, eu ainda não havia conhecido Jesus Cristo profundamente como deveria. Eu já havia comprado minha Bíblia, mas nós não conhecemos a Deus através da Bíblia simplesmente, mas principalmente através da revelação. Temos que abrir o coração para Deus, a fim de que Ele revele Seu amor, Sua misericórdia, Sua justiça, etc. E, por falta de entendimento e discernimento espirituais (que só Deus dá quando Lhe pedimos), decidi largar a igreja. Só em 2002, fui batizada pelo Espírito Santo e falei em línguas espirituais (dos anjos) com tanta fluência e desimpedimento que parecia que eu falava nessa língua desde que nasci.” O jornalista ateu Gabriel ainda defende a importância da escolha da crença salientando a causa desta escolha acima da mudança propriamente dita: “Um menino que nasce no Brasil e se torna católico só porque os pais quiseram não é necessariamente mais irracional do que aquele que nascia na antiga União Soviética e se tornava ateu só porque o Estado impunha. Mesmo a criança soviética estando na posição correta, neste particular (o ateísmo), é irrelevante. O fato de alguém aderir ao ateísmo não garante que esta pessoa seja necessariamente racional, pois o importante não é no que ela acredita, mas porque acredita.” A psicóloga Rosa de Lima explica que, ao nascer, o indivíduo é herdeiro de certa cultura, a qual geralmente influencia em suas crenças, mas, ao crescer, também percebe que tem o poder para escolher um ato ou não, independentemente das forças que o constrangem e o inibem. É livre para decidir e agir como quer, sem qualquer determinação, apenas por sua vontade. Sente-se livre, mas sua crença o faz compreender que é feito à imagem de Deus e isso muitas vezes reduz ou interrompe suas vontades tosando sua real liberdade. Pois a experiência de união com Deus não se dá de modo irracional, baseia-se em seu conhecimento das limitações fundamentais do que é possível conhecer a respeito de Deus. 4.2 Preconceitos Sócio-Religiosos Em uma sociedade cuja religião predominante é o catolicismo, nada menos incomum do que praticantes de outras culturas filosóficas e religiosas se depararem com o preconceito da massa. A estudante muçulmana Monique declara conhecer o preconceito que sua religião tem sofrido pelo mundo afora e atribui isso à Imprensa sensacionalista, pela visão negativa do Islã que ela passa, sempre expondo os maus muçulmanos, os quais definitivamente não demonstram através de suas ações o que o Islã prega. Segundo ela, o terrorismo não justifica a violência e a morte de pessoas inocentes e isto é completamente proibido no Islã. De acordo com o Alcorão, matar uma pessoa sem justa causa é um grande pecado, como se o assassino matasse toda a humanidade, assim como salvar a vida de uma pessoa é uma boa ação que corresponde a salvar toda a humanidade. Ou seja, o Islã de forma nenhuma incita a violência contra pessoas inocentes, até porque Islã significa “paz através da submissão a Deus”. Em relação à aparência característica das muçulmanas, tratando-se de roupas e principalmente do véu, Monique explica que as pessoas fora do islã não compreendem o significado do véu e insistem em dizer que é uma forma de opressão. Ela justifica: “Quando você olha o hijab (véu) de fora é impossível ver o que ele esconde. A diferença entre estar olhando de dentro para fora do véu e estar olhando de fora para dentro explica todo o vazio sobre a compreensão do Islã. Estando fora, é possível ver o Islã como uma restrição para os muçulmanos. Mas, estando dentro, há paz, liberdade e felicidade, as quais podem ser apenas sentidas por aquelas que usam o hijab, não apenas por aquelas que nasceram em famílias muçulmanas, mas também por aquelas que se converteram ao Islã e o escolheram, ao invés da ilusória liberdade da vida secular. Se o véu oprimisse as mulheres, então por que tantas mulheres deixam esta chamada liberdade e independência (da vida secular) para vir para o Islã? Usar o hijab tem me libertado de uma constante atenção ao meu físico, porque minha aparência não é objeto de escrutínio público, minha beleza (ou talvez a falta dela) foi removida do campo que legitimamente pode ser discutido.” Outro motivo de confusões é a idéia de que a mulher muçulmana é oprimida e submissa ao marido. Primeiramente, é bom entender que o significado da palavra “muçulmano” é toda pessoa que se submete à vontade de Deus, ou seja, a mulher muçulmana se submete a Deus e não ao marido. Há um dito do profeta Maomé: “O melhor muçulmano é aquele que é o melhor para a sua esposa”. Segundo Monique, o melhor para a esposa não é aquele que a subjuga. O casamento no Islã é baseado no amor e respeito mútuo, é um contrato de união entre a mulher e o homem, não pode haver coerção e ambas as partes podem incluir seus próprios termos. Maridos e esposas protegem um ao outro, são melhores amigos e juntos se completam na religião. O homem é responsável por prover a família, o que não significa que a mulher não possa trabalhar, mas não tem obrigações quanto à economia do lar e dos filhos. Ela não é obrigada a compartilhar seus ganhos ou heranças a menos que queria ajudar o marido. Ambos cuidam do lar e da criação dos filhos. Porém, se o convívio se tornar impossível, o divorcio é permitido e as mães têm prioridade na custódia dos filhos. “Aqui no Brasil, particularmente na Bahia (onde moro), posso dizer que não sofro tanto preconceito em relação à religião. Volta e meia ouço alguma piadinha na rua por causa das minhas roupas, mas não é nada que me deixe realmente triste. Claro que já aconteceram várias situações inusitadas como acharem que eu não falo português, que eu não tenho cabelo, e certa vez um ladrão roubou todos do ônibus exceto eu. Apesar de tudo, posso dizer que o baiano é um povo curioso, a maioria mesmo faz perguntas sobre minhas vestimentas, minha religião e vários perguntam se eu sou árabe ou descendente de árabe. Isso não me incomoda porque gosto muito que as pessoas perguntem, assim posso tirar concepções errôneas que elas adquiriram. Então, eu explico a eles que a religião é universal, há mais de 1,5 bilhões de muçulmanos no mundo todo, só 20% deles é árabe e que o país mais muçulmano do mundo é a Indonésia. As pessoas ficam realmente surpresas ao saberem disso, porque elas sempre vêem só muçulmanos árabes na TV.” A professora Renata Claro diz que sua família não gostou muito da idéia de ter se convertido evangélica, mas como ela estava sempre sozinha, não tinha amigos, eles não falaram nada. Simplesmente a deixaram continuar freqüentando os cultos normalmente. Vez ou outra ela sofre algum preconceito, pois diz ser tachada de “crente fanática”, mas que não dá importância: “Eles não entendem as coisas de Deus. Sou muito perseguida na Internet também, pois sou muito ousada para desmascarar heresias, distorções bíblicas, interpretações completamente erradas que fazem de Deus lá. Mas a nossa parte é orar por todos os que nos perseguem, abençoando-os, em nome de Jesus, e nunca os amaldiçoando.” O estudante judeu Tobias Porto não se atém ao assunto Preconceito, relembrando o nazismo, a política da ditadura que governou a Alemanha de 1933 a 1945 e que por todos esses anos torturou, condenou e assassinou milhares de judeus: “Há algumas piadas aqui, outras ali, mas onde eu moro não tem muito preconceito, não... Às vezes, você ouve alguém falando do seu kipá (roupa), mas é só não dar ouvidos. E também não querer se deparar com um neonazista, claro!” 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O ponto crucial em comum nas religiões monoteístas era, a princípio, o fato de seus deuses serem o mesmo Deus de Abraão, segundo a história. No entanto, percebeu-se que, apesar das diferenças doutrinárias e sociais, o Deus em comum apresentava diversas outras características de Sua personalidade que condiziam com cada uma das religiões estudadas. Além das definições do próprio conceito primário de Deus (onipotência, onisciência, onipresença, perfeição), pôde-se identificar o amor incondicional pela humanidade, a necessidade do amor entre ela mesma, a sabedoria com o propósito do bem mundial, as revelações sobrenaturais sobre o passado, o presente e o futuro, como exemplos. No entanto, o que difere consideravelmente são as interpretações dos povos. A vontade de Deus, o Messias, o povo escolhido, as práticas sagradas, enfim, quase tudo foi adaptado (ou distorcido) de acordo com cada civilização, com cada interesse. O mesmo Deus (de Abraão) acabou se tornando três (um em cada religião). Se esse Deus Abraâmico tinha algum propósito inicial em relação à humanidade, muito provavelmente em muitas culturas esse Plano Divino se perdeu ou foi muito adaptado ao jogo de poder e domínio que a civilização humana vem jogando ao longo de sua existência sobre a Terra. É importante destacar os objetivos iniciais que impulsionaram a realização deste artigo: não provar a existência de Deus, nem de definir qual religião é correta, mas buscar um conceito humano do Deus em comum das religiões monoteístas. Ao término deste, pôde-se observar diversos "pseudo-conceitos" divinos, isto é, várias interpretações de Deus personificadas de acordo com as várias culturas, épocas e aspectos sociais dos povos, facilmente perceptíveis ao longo dos relatos de vida dos entrevistados. Apesar de o Cristianismo defender uma origem judaica, o Judaísmo considera o Cristianismo uma religião pagã. Apesar da existência de judeus convertidos ao Cristianismo e outras religiões, não existe nenhuma forma de Judaísmo que aceite as doutrinas do Cristianismo, como a divindade de Jesus ou a crença em seu caráter messiânico. Algumas ramificações tentaram ver Jesus como um profeta ou um rabino famoso, mas hoje esta visão também é descartada. O Islamismo tomou diversas de suas doutrinas do Judaísmo, sendo que as duas religiões mantêm seu intercâmbio religioso desde a época de Maomé, com períodos de tolerância e intolerância de ambas as partes. Também deve enfatizar-se o atual conflito entre parte da população muçulmana e os judeus devido à questão do controle de Jerusalém e outros pontos políticos, históricos e culturais. O Islã reconhece os judeus como um dos povos citados pelas escrituras sagradas, apesar de acreditarem que os judeus sigam uma Torá corrompida, porém reconhece elementos de verdade no Judaísmo e no Cristianismo. Já o Judaísmo não crê em Maomé como profeta e não aceita diversos mandamentos do Islã. Porém, se o Islã reconhece o papel preparatório do Judaísmo e do Cristianismo, considera igualmente que os seguidores destas religiões acabaram seguindo caminhos errados (os judeus por serem idólatras e os cristãos por verem Jesus como o Filho de Deus). A prova da existência de Deus (física ou espiritual) não cabe à ciência humana desvendar. Porém, esta deve continuar evoluindo paralelamente à fé humana no divino. Este divino Ser Superior pode, de acordo com as religiões ou outras crenças, ser um Ser à semelhança do homem, uma ordem física universal, uma equação matemática, uma ideologia, entre outros. O importante, como disse o jornalista ateu Gabriel Miranda, não é no que se acredita, mas porque se acredita. 6 REFERÊNCIAS AQUINO, Tommaso de. Suma Teológica. Itália: Permanência, 1273. Disponível em: <http://sumateologica.permanencia.org.br> Acesso em: 03 nov. 2008. BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é comunicação? São Paulo: Brasiliense, 2005. CAVALCANTE, Rodrigo. Deus existe? Será que a ciência tem a resposta? Super Interessante©, São Paulo, ano 19, n. 3, edição 220, 07 de dezembro de 2005. DEUS. Wikipédia: a enciclopédia livre on-line. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/deus> Acesso em: 07 nov. 2008. FINE, Doreen. O que sabemos sobre o judaísmo? São Paulo. 2ed: Callis, 2001. HUSAIN, Shahrukh. O que sabemos sobre o islamismo? São Paulo. 2ed: Callis, 2002. RELIGIÕES Monoteístas. Wikipédia: a enciclopédia livre on-line. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/monote%C3%ADsmo> Acesso em: 07 nov. 2008. WATSON, Carol. O que sabemos sobre o cristianismo? São Paulo. 2ed: Callis, 2001.