Anfíbios e répteis

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Anfíbios e répteis
do Brasil: pelo menos 600 espécies. A conservação dos
grupos faunísticos em cada um dos seis setores amplos
propostos protegeria aproximadamente 30% das espécies
de peixe de água doce da América do Sul, assim como
uma porcentagem significativa da fauna de crustáceos.
Anfíbios e répteis
J. Celsa Señaris e Teresa Cristina de Avila Pires
Área de estudo
A área de estudo sobre anfíbios e répteis abrange o sul
da Venezuela (estados do Amazonas, Bolívar e Delta
Amacuro, delimitados no norte pelo rio Orinoco),
Guiana, Suriname, Guiana Francesa, norte do Brasil
(estados do Amapá e Roraima; Pará ao norte do rio
Amazonas; e o estado do Amazonas ao norte do rio
Amazonas e parte do baixo rio Negro, mas cruzando ao
sudoeste aproximadamente na altura do rio Marié em
direção ao rio Japurá/Caquetá) e o leste da Colômbia
(incluindo o departamento do Amazonas ao norte do
rio Caquetá; o departamento de Caquetá ao norte do
rio Yarí e oeste até a serra de Chiribiquete; uma pequena
área no departamento de Guaviare dentro da parte
setentrional da serra de Chiribiquete; os departamentos
de Vaupés e Guainía, delimitados pelo rio Guaviare; e a
parte oriental do departamento de Vichada, incluindo
os inselbergs e as savanas de areia branca que fazem
fronteira com o médio Orinoco).
Esforços científicos anteriores
A herpetofauna da região do Escudo das Guianas
ainda é pouco conhecida. Aproximadamente 45% dos
anfíbios e 20% dos répteis dessa área só foram descritos
nas últimas décadas, e a descoberta de novas espécies
certamente irá continuar. Atualmente, cerca de 272
espécies de anfíbios e 280 espécies de répteis foram
relatados na região das Guianas. Os endêmicos locais
incluem seis gêneros de anuros, dois de cecilídeos e três
de répteis. No nível das espécies, 127 anfíbios (46,7%)
e 76 répteis (27,1%) são conhecidos exclusivamente da
região das Guianas.
A herpetofauna de 15 localidades distribuídas por toda
região do Escudo das Guianas está bem pesquisada,
enquanto 23 outras localidades estão exemplificadas
medianamente (Tabela 4). Quando mapeados, esses
40 sítios aparecem como pequenas manchas dentro de
uma área grande e pouco pesquisada. A maioria das
Consenso 2002
localidades alta e medianamente amostradas se encontra
perto de cidades e municípios ou estão associadas a
estradas, pistas de pouso ou vias navegáveis importantes
na região.
O conhecimento da informação contida nas coletas
existentes é limitado. Nem todas as coletas possuem
bases de dados eletrônicas e as identificações
taxonômicas precisam ser verificadas antes de utilizar os
dados. Um levantamento completo de todas as coletas
no mundo todo, no melhor nível taxonômico possível,
seria útil para estabelecer um entendimento mais preciso
do esforço de coleta na região, e forneceria informação
sobre o material já disponível em coletas que precisa ser
estudado.
Definições de áreas prioritárias
As áreas prioritárias foram definidas de acordo com os
seguintes critérios complementares: (1) conhecimento
ou existência presumida de espécies endêmicas; (2)
conhecimento ou suposição de grande riqueza de
espécies; (3) hábitats com características especiais (por
exemplo, enclaves de savanas); (4) zonas especiais de
contato/transição; e (5) o papel das áreas costeiras
como locais de abrigo para tartarugas marinhas. Com
exceção das áreas consideradas importantes para abrigo
das tartarugas marinhas, somente dados taxonômicos
e zoogeográficos foram levados em conta. As áreas
foram definidas para incluir uma representação de
planaltos, regiões montanhosas e planícies. A variação
zoogeográfica, mesmo dentro de hábitats aparentemente
similares, também foi levada em conta.
Discussão
A região do Escudo das Guianas, conforme definida
acima, possui 15 áreas de significante importância
biológica com relação a répteis e anfíbios. Embora a
maioria das áreas tenha sido escolhida com base em
mais de um critério, seis áreas possuem um endemismo
notavelmente alto (Pantepui, Maciço da Neblina e
planícies adjacentes, bacia do alto e médio Caura,
Pakaraima-Kanuku-Rupununi setentrional, afluentes
do Essequibo–montanhas Marudi e Approuague), uma
rica área de planície possui pelo menos uma espécie
endêmica de lagarto (Amapari/Camaipi), três áreas
representam hábitats especiais (região de savana no
Suriname, inselbergs do médio Orinoco e TrombetasCuminá), duas áreas de planalto são pouco conhecidas,
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Tabela 4: Localidades no Escudo das Guianas com uma amostragem média e alta de herpetofauna.
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Localidade
País
Amostragem
Approuague
Guiana Francesa
Alta
Cayenne
Guiana Francesa
Alta
Saül
Guiana Francesa
Alta
Petit Saut
Guiana Francesa
Média
Savanas costeiras
Guiana Francesa
Média
Ulemarie
Suriname
Média
Pista de pouso de Sipaliwini ao Monte Vier Gebroeders
Suriname
Alta
Brownsberg
Suriname
Alta
Wane Hills
Suriname
Alta
Paramaribo
Suriname
Alta
Gros Rosebel
Suriname
Alta
Estrada de conexão leste-oeste
Suriname
Média
Estrada para Amatopo-Kabalebo
Suriname
Média
Raleigh Falls
Guiana
Alta
Kabalebo
Guiana
Alta
Iwokrama
Guiana
Alta
Bartica
Guiana
Média
Ilha de Maracá
Brasil
Alta
Manaus-Balbina
Brasil
Alta
Reserva Biológica de Trombetas
Brasil
Alta
Boa Vista
Brasil
Média
Baixo Amazonas e Negro (margem esquerda)
Brasil
Média
La Escalera
Venezuela
Alta
Ciudad Bolívar-Ciudad Guayana
Venezuela
Alta
Delta Sur
Venezuela
Média
R. F. Imataca
Venezuela
Média
El Manteco-Guri
Venezuela
Média
Gran Sabana
Venezuela
Média
Roraima-Kukenán-Yuruaní
Venezuela
Média
Auyán-tepui
Venezuela
Média
Maciço Chimantá
Venezuela
Média
Cerro Guaiquinima
Venezuela
Média
Puerto Ayacucho
Venezuela
Média
La Esmeralda
Venezuela
Média
Complexo Duida-Marahuaca (picos)
Venezuela
Média
Colina La Neblina
Venezuela
Média
La Ceiba
Colômbia
Alta
Caparú
Colômbia
Média
Araracuara
Colômbia
Média
Alto Mesai
Colômbia
Média
Prioridades de Conservação para o Escudo das Guianas
mas acredita-se que sejam ricas em espécies (Serras
Aracá e Tumucumaque), duas áreas representam zonas
de contato (sul do Delta do Orinoco-Waini e a área de
solos arenosos nos Vaupés) e uma é uma área costeira
com três centros locais (praias de abrigo de tartarugas
marinhas na Guiana, Suriname e Guiana Francesa).
uma generalização poderosa no contexto das prioridades
de conservação. Por isso, os critérios das prioridades de
conservação podem ser aplicados em toda a região, mais
ou menos independentemente de esforços de pesquisa
anteriores, exceto onde algumas características biológicas
indiquem que uma área particularmente pouco estudada
possa abrigar espécies endêmicas ainda não descobertas.
Aves
Tabela 5. Espécies ameaçadas de aves (com base em
estimativas de distribuições) no Escudo das Guianas (total=7).
Mario Cohn-Haft
Área de estudo
A área de estudo das aves inclui toda a área norte dos
rios Amazonas e Japurá/Caquetá até o Oceano Atlântico
e o rio Orinoco e noroeste até a floresta úmida/ecótono
dos “llanos”. Outras fronteiras incluem um segmento do
rio Vichada e, a oeste, as montanhas cobertas de florestas
nas cercanias da Serra Chiribiquete. Essa delineação
da região é mais extensa do que todas as delineações
anteriores, especialmente na fronteira sudoeste, porque
a maioria das espécies de aves existentes no hábitat
da floresta de terra firme da planície da região (a
grande maioria das espécies de aves encontradas no
Escudo das Guianas) é delimitada geograficamente
por rios importantes. Definir a área de outra maneira
seria truncar artificialmente áreas de endemismo
(especialmente o interflúvio do Negro-Japurá) com
afinidades predominantemente guianenses.
Esforços científicos anteriores
As aves estão entre os organismos mais bem amostrados
na região. A bibliografia que documenta as distribuições
de aves no Escudo das Guianas é extensa, e a tarefa
de reunir e sintetizar toda ela é enorme e não foi
concluída por nenhum grupo de estudo ornitológico.
Por outro lado, o número de sítios dentro do Escudo das
Guianas que podem ser considerados minuciosamente
amostrados é minúsculo. Na parte brasileira da região,
por exemplo, há somente um sítio (norte de Manaus)
cuja avifauna foi caracterizada minuciosamente. Por
isso, toda a região poderia se beneficiar de uma maior
amostragem.
Apesar dessa falta geral de amostragem detalhada, os
amplos padrões de distribuição de aves e associações
ecológicas são bem compreendidos e muito mais
conhecidos do que os de praticamente qualquer outro
grupo de organismos. (As espécies ameaçadas de aves
das Guianas estão listadas na Tabela 5.) Isso permite
Consenso 2002
Nome comum
Nome científico
Situação*
Guaruba
Guarouba guarouba
EN
Pterodroma hasitata
EN
Synallaxis kollari
EN
Chororó-do-rio-branco Cercomacra carbonaria
VU
Mutum-fava
Crax globulosa
VU
Maria-corruíra
Euscarthmus
rufomarginatus
VU
Thripophaga cherriei
VU
* EN=Ameaçada, VU=Vulnerável
Fonte: BirdLife International. 2000. Threatened Birds of the World.
Cambridge, UK: Lynx.
Definições de áreas prioritárias
O principal critério orientador para estabelecer as
prioridades na região foi o endemismo. Com o objetivo
de garantir “perda zero de espécies”, todo o Escudo
das Guianas foi subdividido em áreas de endemismo
igualmente importantes. Assim, se for assegurada a
preservação de uma sub-região de extensão razoável
dentro de cada uma das áreas de aves, todas as espécies
de aves do Escudo das Guianas conhecidas serão
protegidas. O produto dessa análise pode então ser
rapidamente sobreposto em mapas de prioridades e
critérios estabelecidos por outros grupos de trabalho.
Desde que todas as áreas de aves sejam ao menos
parcialmente representadas em qualquer seleção final
com base nos critérios compostos, a avifauna será
protegida adequadamente.
Embora as áreas de endemismo dos aves sulamericanos tenham sido estudadas anteriormente com
detalhes consideráveis e tenham sido incluídas em
outras iniciativas de prioridades de conservação, essa
abordagem representa um passo à frente inovador em
vários aspectos. Dá-se importância igual a todos os
elementos da fauna avícola e prioriza-se a preservação de
toda a fauna. Essas áreas prioritárias levam em conta a
seleção do hábitat, assim como regiões geográficas. Essa
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