DO BRASIL. Carolina Rodrigues Araújo1 e Angélica Maria Penteado
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DO BRASIL. Carolina Rodrigues Araújo1 e Angélica Maria Penteado
87 NOVAS ESPÉCIES DE METOPIINAE (HYMENOPTERA, ICHNEUMONIDAE) DO BRASIL. Carolina Rodrigues Araújo1 e Angélica Maria Penteado-Dias2 1 2 Departamento de Fitossanidade, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) UNESP Jaboticabal, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, cep 14884-900, Jaboticabal-SP. Email: [email protected] Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, Rodovia Washington Luís, KM 235, C.P. 676, CEP 13565-905, São Carlos, SP, Brasil. Email: [email protected] RESUMO Duas novas espécies de Metopiinae, pertencentes aos gêneros Trieces e Metopius, são caracterizadas e ilustradas. Estas espécies foram encontradas em um estudo sobre a fauna neotropical de Metopiinae, com ênfase na fauna da Mata Atlântica brasileira. Informações sobre esse taxa são brevemente revisadas. ABSTRACT Two new species of Metopiinae genera Trieces and Metopius are characterized and illustrated. Those species had been found in a study of the neotropical fauna of Metopiinae with emphasis in the fauna of brazilian Atlantic forest. Informations for those taxa are briefly reviewed. INTRODUÇÃO Metopiinae constitui uma subfamília moderadamente grande de Ichneumonidae compreendendo aproximadamente 700 espécies descritas por todo o mundo, classificadas em 27 gêneros (YU & HORSTMANN, 1997). Muitos dos maiores gêneros, como Metopius e Exochus são cosmopolitas. Constitui um grupo monofilético, definido por ter a face inferior e o clípeo confluentes não separados por sulco transversal. Algumas das maiores espécies são aposemáticas e provavelmente mimetizam vespídeos agressivos. São endoparasitóides solitários de larvas (de diversos instares) e pupas de Lepidoptera que se alimentam sobre as plantas ou que se alimentam de forma oculta. Algumas espécies são parasitóides de lepidópteros pragas. Gauld et al. (2002) encontrou 14 gêneros e 130 espécies de Metopiinae na Costa Rica, com predominância (38%) para espécies de Exochus. Esta é uma situação similar do que ocorre em quase todas as outras regiões (América do Norte e Grã-Bretanha) (TOWNES & TOWNES, 1959). Colpotrochia, Hypsicera e Leurus são mais ricos em espécies na Costa Rica que na América do Norte, ao contrário de Metopius, Chorinaeus e Trieces. De Santis (1980) cita apenas sete espécies de Metopiinae para o Brasil, distribuídos em quatro gêneros. 88 Metopius Panzer, 1806 é um grande e muito distinto gênero cosmopolita, compreendendo cerca de 130 espécies descritas (YU & HORSTMANN, 1997). Todas as espécies são reconhecidas por apresentar a face inferior com carenas formando um “escudo”. Townes e Townes (1966) citam as espécies M. femoratus Cresson, 1874, Metopius bicarinatus Morley, 1912, Metopius scutatifrons Cresson, 1874 e Metopius variegatus Morley, 1912 para a região Neotropical. Todas as espécies americanas, exceto M. femoratus (pertencente ao subgênero “Metopius”), pertencem ao grupo tradicionalmente chamado subgênero “Peltales”, caracterizado por apresentar o primeiro e o segundo tergitos parcialmente fundidos. Gauld et al. (2002) encontrou oito novas espécies na fauna da Costa Rica. De Santis (1980) cita apenas duas espécies para a fauna brasileira, Metopius bicarinatus Morley, 1912 e M. variegatus Morley, 1912. Trieces Townes, 1946 é um gênero cosmopolita, grande e bastante distinto, compreendendo 50 espécies descritas, principalmente em habitats temperados (YU & HORSTMANN, 1997). É caracterizado por apresentar as seguintes características morfológicas: metassoma com laterotergitos pouco discerníveis nos seis segmentos anteriores; escutelo liso e com fortes carenas laterais; e metapleura lisa. Townes e Townes (1966) citam apenas uma espécie, T. platysoma Townes, 1946 para a Região Neotropical. Gauld et al. (2002) encontrou 11 novas espécies da Costa Rica, o que sugere o pouco conhecimento desse gênero na fauna Neotropical. MATERIAL E MÉTODOS Os espécimes foram coletados em áreas de Floresta Amazônica e Mata Atlântica, com o uso de armadilhas Malaise e de Moericke e varredura da vegetação. A terminologia segue Gauld et al. (2002). O material tipo está depositado na Coleção Entomológica do DCBU (Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil) e MZUSP (Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil). RESULTADOS Metopius spec. nov. a (Fig. 1) Material examinado. Holótipo ♂, (DCBU) BRASIL, Nova Iguaçu, RJ, Reserva Biológica do Tinguá, 22045’33’’S / 43027’04’’W, armadilha de Malaise, 8-11.III.2002, S.T.P. Amarante e equipe col. Parátipos: (DCBU) BRAZIL, 1 ♂, Amazonas 26 km NE Manaus, Reserva Ducke, armadilha de Malaise, VIII.1988, J.A. Rafael col. Diagnose. Face com parte central da área em “forma de escudo” inteiramente amarela; propódeo com carenas lateromediana longitudinal subparalela anteriormente 89 Figura 1. Metopius spec. nov. a Figura 2. Trieces spec. nov. b 90 estas convergindo abruptamente em sua metade posterior; face inferior carena mediana vertical incompleta entre o ápice do clípeo e a área em “forma de escudo”; metapleura lisa com poucas e esparsas setas tricógenas dorsalmente; fronte centralmente convexa, sem tubérculo; lamela interantenal longa, alcançando a parte superior da inserção das antenas; fronte centralmente preta, sendo que as marcas orbitais amarelas não se encontram na linha média; propódeo com a área externa mais ou menos inteiramente lisa; tergito II do metassoma com uma nítida carena lateral, que se estende por todo seu comprimento; flagelo marrom-amarelado. Metopius spec. nov. a é diferente de M. quambus (Gauld et al., 2002) por apresentar: escutelo muito fortemente transverso, com o final posterior da carena lateral longitudinal se extendendo até 0,5 do comprimento do metanoto; mesossoma preto com a parte superior / posterior do pronoto, par de lateromedianas longitudinais marcas amarelas centralmente se estendendo da margem anterior até a margem posterior, escutelo e dorselo (com marcas), proeminência subalar e marca circular na parte superior da mesopleura amarelo forte, metassoma marrom, com tergito I branco; tergito II-IV marrom, com 0,3 do seu comprimento branco; dois pares de pernas anteriores amarelas, com coxa, trocânter e base do fêmur brancos; pernas posteriores amarelo-amarronzadas, com base da coxa e fêmur fracamente brancos; tarsos posteriores amarelos. Esta nova espécie pertence ao grupo tradicionalmente denominado “Peltales”, o qual Gauld et al. (2002) preferiu chamar “grupo de espécies Metopius errantius”, reconhecido por apresentar os tergitos I e II mais ou menos fundidos. Trieces spec. nov. b (Fig. 2) Material examinado. Holótipo ♂, (DCBU) BRASIL, Ribeirão Grande, SP, Parque Estadual de Intervales, Base Barra Grande, Trilha da Anta, 24018’18’’S / 48021’55’’W, armadilha Moericke, 11-14.XII.2000, M.T. Tavares e equipe col. Parátipos: (DCBU, MZUSP) BRASIL, 1♀, Quebrângulo, AL, Reserva Biológica Pedra Talhada, 09019’S / 36028’W, armadilha Malaise, 8-11.XI.2002, Penteado-Dias e equipe col.; 1♀, Morretes, PR, Parque Estadual do Pau Oco, 25028’37’’S / 48050’04’’W, armadilha Malaise, 10-13.IV.2002, M.T. Tavares e equipe col.; 1 ♂, Serra Norte, PA, 3.VII.1984, Marcelo Zanuto col.; 1 ♂, Salesópolis, SP, Estação Biológica de Boracéia, Trilha dos Pilões, 23031’56’’S/ 45050’47’’W, armadilha Moericke, 1-3.IV.2001, S.T.P. Amarante e equipe col.; 2 ♂ e 3 ♀, Ribeirão Grande, SP, Parque Estadual de Intervales, Base Barra Grande, Trilha da Anta, 24018’18’’S / 48021’55’’W, armadilha Moericke, 14-17.XII.2000, M.T. Tavares e equipe col.; 1 ♀, Ribeirão Grande, SP, Base Barra Grande, Trilha da Anta, 24018’18’’S / 48021’55’’W, armadilha Moericke, 11-14.XII.200, M.T.Tavares e equipe col. Diagnose. Cabeça, em vista frontal, com mandíbulas não alongadas, com dentes superiores muito próximos da margem clipeal; face inferior não protuberante; antena amarelada; tíbia posterior bicolor, com distinta faixa basal branca; carena epicnemial bastante desenvolvida, alcançando o pronoto; fêmeas com palpômeros alongados. Trieces spec. nov. b se diferencia de T. riodinis (Gauld et al., 2002) por apresentar: olhos sem densa pubescência; espaço malar mede cerca de 0,9 ou mais do comprimento basal da mandíbula; propódeo com carena lateromediana fracamente divergente; área peciolar com apenas uma carena longitudinal após a carena tranversal posterior; esporão externo da tíbia posterior longo, maior que o interno cerca de 0,7 de seu comprimento; perna posterior marrom-amarelado, com tíbia basalmente branca. 91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DE SANTIS, L. (1980) Catalogo de los himenopteros brasileños de la serie Parasitica, incluyendo Bethyloidea. Edit. Universiadade Federal do Paraná. Curitiba. 395pp GAULD, I.; SITHOLE, R.; GOMES, J.U.& GODOY, C., 2002. The Ichneumonidae of Costa Rica, 2. Memoirs of the American Entomological Institute. vol 66. 768. TOWNES, H. & TOWNES, M., (1966) A catalogue and reclassification of Neotropic Ichneumonidae. Memoirs of the American Entomological Institute 8: 1-367. TOWNES, H. & TOWNES, M. (1959) Ichneumon-flies of America North of Mexico. Subfamily Metopiinae. U.S. National Museum Bulletin. 216 (1). 1-318. YU, D.S. & HORSTMANN (1997) A catalogue of Ichneumonidae (Hymenoptera). Memoirs of the American Entomological Institute 58. 1558pp. Proceedings of the Academy of Natural Science of Philadelphia, 1873:374-413.