Acadêmico Aquiles Mamfrim AVC - Um Enfoque
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Acadêmico Aquiles Mamfrim AVC - Um Enfoque
Acadêmico Aquiles Mamfrim Titular da cadeira nº 71 da Academia de Medicina do Rio de Janeiro AVC - Um Enfoque Hipócrates, foi o primeiro a reconhecer o AVC, há aproximadamente 2400 anos. Naquela época era chamado de apoplexia, que em Grego quer dizer atingido, derrubado violentamente, devido ao fato da pessoa desenvolver subitamente uma paralisia e mudar sua condição de “bem estar”. Os médicos da época tinham pouco conhecimento da anatomia, da fisiologia cerebral ou como tratar o AVC (History of Stroke, 2004). Por volta da metade do século XVII, Jacob Wepfer descobriu que pacientes mortos por apoplexia, poderiam ter sofrido um sangramento ou oclusão em um vaso sanguíneo cerebral (History of Stroke, 2004). A ciência médica continuou a estudar as causas, sintomas e tratamento da apoplexia, até que em 1928 foi dividida em categorias baseadas na fisiopatologia vascular que a originou (History of Stroke, 2004). Segundo Kothari et al. (1998), os AVCs podem ser classificados em duas grandes categorias: Acidentes Vasculares Cerebrais Isquêmicos (AVCI), causados pela oclusão de vasos sanguíneos que suprem o cérebro (em torno de 75% dos casos) e Acidentes Vasculares Cerebrais Hemorrágicos (AVCH), que ocorrem devido a rupturas de artérias cerebrais. Os AVCIs podem ser de origem trombótica, quando os coágulos desenvolvem-se dentro da própria artéria acometida e embólica quando tais coágulos são originários de um outro local do organismo e migram até o encéfalo (embolia artéria-artéria, cardioembolismo, trombofilias) (Kothari et al., 1998). A prevalência de AVC em indivíduos acima de 65 anos é de 46 a 72 por 1000 habitantes e a mortalidade um mês após o acidente é de 23%, podendo chegar a 42% em casos de AVCH. A mortalidade do AVCI é de 16% e da hemorragia subaracnóidea (HSA) de 32% (Kaiser, 2004). A partir da liberação do uso de substâncias fibrinolíticas para o tratamento do AVC isquêmico agudo por parte do Food and Drug Administration (FDA) em junho de 1996, nos Estados Unidos e da Secretaria de Vigilância Sanitária em setembro de 2001, no nosso país, foi exaltada a necessidade de tratamento emergencial do AVC (Carmignani et al., 1999). Acrescidos dos cuidados em Unidades de Terapia Intensiva Neurológica, terapia endovascular para o tratamento de malformações vasculares, monitorização da pressão intracraniana, saturação de bulbo jugular, microdiálise, cirurgias descompressivas precoces e principalmente uma sistematização no atendimento, melhoraram de forma significativa o prognóstico aos pacientes. Uma das dificuldades para a realização da Terapia Trombolítica era o curto espaço de tempo entre o surgimento dos sintomas e o início protocolar do medicamento (até 3 horas), contudo em 2008 foi publicado resultado do European Cooperative Acute Stroke Study III (ECASS III) que mostrou benefício do uso do ativador do plasminogênio tecidual recombinante (recombinant tissue plasminogen activator - rt-PA, alteplase) entre 3 e 4,5 horas, alargando a janela terapêutica (Werner et al., 2008). Durante longo tempo, a neuroimagem exercia papel secundário no diagnóstico das isquemias. Depois de demonstrada a eficácia dos tratamentos com fibrinolíticos, ela ganhou papel de destaque (Beauchamp et al., 1999). A rapidez do diagnóstico do AVC permanece um desafio nos setores de emergência dos hospitais que se dedicam a tal tratamento, pois a segurança e efetividade das novas terapias dependem da agilidade e acurácea do diagnóstico, dentro da janela terapêutica destes atuais recursos médicos (Mullins et al., 2002). A Tomografia Computadorizada Cerebral (TC) tem sido, atualmente, a técnica de neuroimagem mais utilizada devido a sua disponibilidade, rapidez, características não invasivas, custo relativamente baixo, confiabilidade no diagnóstico de hemorragias, principalmente as intracerebrais agudas e diagnóstico diferencial com outras patologias que possam mimetizar o AVC como tumores, abscessos, hematomas subdurais, etc. Seu valor foi demonstrado em vários estudos prospectivos, segundo Carmignani et al., 1999. Também muito usada, a Ressonância Magnética Cerebral (RM) mostra seu potencial na avaliação da viabilidade tissular. Isquemias agudas são mais bem visualizadas na RM, com positividade em torno de 80% no primeiro dia, comparada com 60% da TC. RM é particularmente superior para diagnosticar isquemias agudas de fossa posterior, onde a TC é limitada pela formação de artefatos de imagem gerados pelos ossos da base do crânio (Beauchamp et al., 1999). No período “hiperagudo” das isquemias (6 a 8h do íctus), TC e RM convencional mostraram sensibilidade inferior a 50%, já as sequências de difusão mostraram sensibilidade de 88 a 100% e especificidade de 86 a 100% (Mullins et al, 2002). Os Acidentes Vasculares Cerebrais Hemorrágicos, por sua epidemiologia e alta mortalidade, exigem um diagnóstico e resposta terapêutica rápida, para que os doentes recebam o melhor tratamento possível (Siler at al., 1984). Parte desta estratégia passa pelo diagnóstico radiológico e a correta decisão do tratamento, seja este clínico ou cirúrgico, com drenagens de hematomas, tratamento de aneurismas e angiomas a céu aberto ou endovascular, alem dos cuidados pós-operatórios e de reabilitação. Referências Bibliográficas: BEAUCHAMP, N.J. et al. State of art: imaging of acute cerebral ischemia. Radiology, n. 212, p. 307-324, 1999. CARMIGNANI, M.; HANDFAS, B.W; RADVANY, J. Novos métodos neurorradiológicos para o diagnóstico de Acidente Vascular Cerebral Agudo. Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, v. 9, n. 4, p. 562-569, 1999. HACKE, W.; KASTE, M.; BLUHMKI, E.; et al., Thrombolysis with Alteplase 3 to 4.5 Hours after Acute Ischemic Stroke. The New England Journal of Medicine, v. 359, n. 13, p. 1317-1329, 2008. HISTORY OF STROKE. The Methodist Hospital. Disponível em <www.methodisthealth.com> . Acesso em 09/08/2009. KAISER, S.E., Aspectos epidemiológicos nas doenças coronariana e cerebrovascular. Revista da Sociedade de Cardiologia de Estado do Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 1118, 2004. KOTHARI, R. (ed) Acute Stroke. American Heart Association, p.1-20, 1998. MULLINS, M.E. et al. CT and conventional diffusion-weighted MR imaging in acute stroke: study in 691 patients at presentation to the emergency department. Radiology, n. 222, p. 353-360, 2002 . SAPOSNIK, G.; DEL BRUTTO, O.H. Stroke in South America: A systematic review of incidence, prevalence, and stroke subtypes. Stroke, n. 34, p. 2103-2108, 2003.