produção literária: arcadismo

Transcrição

produção literária: arcadismo
PORTUGUÊS - 3o ANO
MÓDULO 48
PRODUÇÃO LITERÁRIA:
ARCADISMO
Como pode cair no enem
(ENEM)
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
(COSTA, Cláudio Manoel da. In: DOMÍCIO, Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.)
Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que
o poeta se dirige ao seu interlocutor.
a) “Torno a ver-vos, ó montes; o destino”.
b) “Aqui estou entre Almendro, entre Corino,”.
c) “Os meus fiéis, meus doces companheiros,”.
d) “Vendo correr os míseros vaqueiros”.
e) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”.
Fixação
1) (ENEM)
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
(COSTA, Cláudio Manoel da. In: DOMÍCIO, Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.)
Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale
a opção correta acerca da relação entre o poema e o momento histórico de sua produção.
a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar
onde o poeta se vestiu com traje “rico e fino”.
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta,
dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do
poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida nacional.
d) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a
condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema pela
referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.
Fixação
F
3
2) Leia o texto abaixo:
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Cidadezinha qualquer
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
(Carlos Drummond de Andrade)
Observe que o poema Cidadezinha qualquer traz a temática do campo, que era o principal
ideal de vida do poeta árcade.Como essa mesma temática é trabalhada no poema de Drummond? Transcreva o verso que melhor possa justificar esse tratamento dado ao tema.
a
g
v
b
e
c
s
d
v
Fixação
3) (UFU) Compare as seguintes estrofes:
-
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
Enlacemos as mãos.
(...)
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena
[cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos
[como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
(Ricardo Reis/Fernando Pessoa)
Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia natureza.
(Tomás Antônio Gonzaga)
Marque a afirmativa incorreta.
a) Ricardo Reis e Tomás Antônio Gonzaga são considerados neoclássicos porque resgatam elementos da tradição literária
greco-romana. Uma das características do neoclassicismo é tomar a natureza como modelo, procedimento observado nos
versos destes poetas.
b) Os poetas sentam-se e meditam à beira do rio e à sombra do cedro. Ricardo Reis e Tomás A. Gonzaga valem-se desses
elementos, “rio e cedro”, como imagens comparativas do fluir incessante da vida.
c) Ricardo Reis trabalha com a consciência da efemeridade da vida: tudo é breve. Dessa consciência, surge a necessidade de
se aproveitar o tempo presente (carpe diem), convite que o poeta faz à amada.
d) Aproveitar o tempo, para Ricardo Reis, é simplesmente viver, deixar a vida decorrer, sem nada desejar, como se percebe no
verso “Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.”
Fixação
F
5
4) (UFRS) Leia as afirmações a seguir sobre o Arcadismo brasileiro.
I) Os poetas árcades colocavam-se como pastores para realizarem, dessa forma, o ideal de
uma vida simples em contato com a natureza.
II) O Arcadismo brasileiro, embora tenha reproduzido muito dos modelos europeus, apresentou
características próprias, como a incorporação do elemento indígena e a sátira política.
III) O tema do Carpe diem, em que o poeta expressa o desejo de aproveitar intensamente o
momento presente, fugaz e passageiro, foi ignorado pelos árcades brasileiros, excessivamente
racionalistas.
Quais estão corretas?
a) Apenas I
d) Apenas II e III
b) Apenas III
e) I, II e III
c) Apenas I e II
I
s
I
d
I
D
a
b
c
Fixação
5) (UFRS) Leia os excertos abaixo, extraídos de Marília de Dirceu (Lira XIV), de Tomás Antônio Gonzaga.
u
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Ornemos nossas testas com as flores
E façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Ah, não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças,
E ao semblante a graça.
Considere as seguintes afirmações sobre esses excertos.
I) Os versos chamam a atenção para a passagem do tempo e expressam um convite aos prazeres de um amor
sadio.
II) Os versos 05 a 12 descrevem uma cena amorosa ambientada na paisagem mineira da cidade então chamada
de Vila Rica.
III) Marília é um nome literário adotado para referir à noiva do poeta inconfidente, cujo nome verdadeiro era Maria
Doroteia de Seixas Brandão.
Quais estão corretas?
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e III
e) I, II e III
Fixação
Texto I
Lira VIII
Marília, de que te queixas?
De que te roubou Dirceu
O sincero coração?
Não te deu também o seu?
E tu, Marília, primeiro
Não lhe lançaste o grilhão?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?
Em torno das castas pombas,
Não rulam ternos pombinhos?
E rulam, Marília, em vão?
Não se afagam c’os biquinhos?
E a prova de mais ternura
Não os arrasta a paixão?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?
Já viste, minha Marília,
Avezinhas, que não façam
Os seus ninhos no verão?
Aquelas, com quem se enlaçam,
Não vão cantar-lhes defronte
Do mole pouso, em que estão?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?
Se os peixes, Marília, geram
Nos bravos mares, e rios,
Tudo efeitos de Amor são.
Amam os brutos impios,
A serpente venenosa,
A onça, o tigre, o leão.
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?
As grandes Deusas do Céu
Sentem a seta tirana
Da amorosa inclinação.
Diana, com ser Diana,
Não se abrasa, não suspira
Pelo amor de Endimião?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?
Desiste, Marília bela,
De uma queixa sustentada
Só na altiva opinião.
Esta chama é inspirada
Pelo Céu; pois nela assenta
A nossa conservação.
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro: Ediouro,1997.)
Glossário:
• impio: aqueles que não têm piedade.
Texto II
Poemas da negra (1929)
Você é tão suave,
Vossos lábios suaves
Vagam no meu rosto,
Fecham meu olhar.
Sol-posto.
É a escureza suave
Que vem de você,
Que se dissolve em mim.
Que sono...
Eu imaginava
Duros vossos lábios,
Mas você me ensina
A volta ao bem.
(ANDRADE, Mário de. Poesias completas. São Paulo: Livraria Martins, 1980.)
6) (UERJ) Na interlocução com as mulheres amadas, os poetas utilizam
elementos da natureza de modos distintos.
a) Caracterize a presença da natureza em cada um dos poemas.
b) Indique dois traços da tradição clássica presentes no primeiro poema
e não utilizados no segundo.
Proposto
1) (UFRRJ)
Lira XI
Não toques, minha musa, não, não toques
Na sonorosa lira,
Que às almas, como a minha, namoradas
Doces canções inspira:
Assopra no clarim que apenas soa,
Enche de assombro a terra!
Naquele, a cujo som cantou Homero,
Cantou Virgílio a guerra.
(GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu. RJ: Anuário do Brasil, s/d. p. 30.)
Marília de Dirceu apresenta um dos principais traços do Arcadismo.
A opção que aponta esta característica temática, presente no texto, é:
a) o bucolismo.
b) a presença de valores ou elementos clássicos.
c) o pessimismo e negatividade.
d) a fixação do momento presente.
e) a descrição sensual da mulher amada.
Proposto
Texto para as questões 2 e 3.
Lira XXX
Junto a uma clara fonte
a mãe do amor se sentou;
encostou na mão o rosto,
no leve sono pegou.
Cupido, que a viu de longe
contente ao lugar correu;
cuidando que era Marília,
na face um beijo lhe deu.
Acorda Vênus irada:
Amor a conhece; e então,
da ousadia que teve
assim lhe pede perdão:
— Foi fácil, ó mãe formosa,
foi fácil o engano meu;
que o semblante de Marília
é todo o semblante teu.
(In: GONZAGA. Tomás Antônio. Marília de Dirceu.
RJ: Edições de Ouro, [s/d]. p. 86-87.)
2) A preocupação com a forma poética é evidente no texto. Isto pode ser comprovado porque:
a) há uma nítida utilização da métrica e da rima;
b) há frases escritas na ordem inversa;
c) algumas palavras são grafadas com letra maiúscula;
d) os personagens são envolvidos pela beleza e pelo amor;
e) a última estrofe é marcada pelo vocativo.
Proposto
3) No poema, está presente a tranquilidade da paisagem bucólica associada à simplicidade
da linguagem, evitando o rebuscamento que traduzia o conflito espiritual do homem. Esta
característica demonstra a oposição entre:
a) Arcadismo e Romantismo;
b) Arcadismo e Barroco;
c) Barroco e Romantismo;
d) Parnasianismo e Arcadismo;
e) Simbolismo e Arcadismo.
Proposto
4) (PUC) Pode-se afirmar que Marília de Dirceu e Cartas Chilenas são, respectivamente:
a) altas expressões do lirismo amoroso e da sátira política, na literatura do século XVIII;
b) exemplos da poesia biográfica e da literatura epistolar cultivadas no século XVII;
c) exemplos do lirismo amoroso e da poesia de combate, cultivados sobretudo, pelos poetas
românticos da chamada “terceira geração”;
d) altas expressões do lirismo e da sátira da nossa poesia barroca;
e) expressões menores da prosa e da poesia de nosso Arcadismo, cultivadas no interior das
Academias.
Proposto
5) (PUC) Assinale a expressão comum ao Barroco e ao Arcadismo:
a) Inutilia truncat (= corta o que é inútil);
b) Carpe diem (= aproveita o dia);
c) Fugere urbem (= fuga da cidade);
d) Aurea mediocritas (= mediocridade de ouro);
e) Le bom sauvage (= o bom selvagem).
s
Proposto
6) Assinale a alternativa correta a respeito do Arcadismo brasileiro:
a) estilo de época que coincidiu com o ciclo do açúcar na Bahia, da mesma forma que o Barroco coincidiu com o ciclo do ouro, em Minas Gerais;
b) sob a influência da Contrarreforma, o Arcadismo brasileiro não conseguiu libertar-se do estilo
barroco, só produzindo obras de inspiração religiosa;
c) o estilo árcade é amaneirado à moda dos cultistas, antítese do estilo natural dos escritores
clássicos;
d) entre as características árcades, destacam-se o bucolismo, a simplicidade formal e a busca
do equilíbrio;
e) tentando fugir à forte influência barroca, o Arcadismo brasileiro confundiu-se com o Romantismo, sobrepondo à racionalidade o sentimentalismo.
Proposto
7)
-
o
Ornemos nossas testas com as flores
E façamos de feno um brando leito
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que passa,
Também, Marília, morre.
- A estrofe anterior, constitui um exemplo da época:
a) barroca, pela posição entre os apelos da vida material e os aspectos espirituais do sentimento humano;
b) arcádica, pelo ideal de vida simples e consciência da transitoriedade da vida, valorizando
o momento presente;
c) romântica, pela extrema subjetividade, com a valorização do sentimento amoroso por meio
da idealização da mulher;
d) simbolista, pela fuga à realidade e tentativa de construção de um mundo próprio, de paixão
e sonho;
e) realista, pela visão objetiva dos problemas cotidianos, como o envelhecimento e a morte,
que destroem o relacionamento humano.
Proposto
8) Que traços do texto abaixo nos permitem reconhecer nele a existência de elementos de permanência do Arcadismo?
Bucólica
Vaca
Vaca mansamente pesada
Vaca
lacteamente morna
Vaca
densamente materna
inocente grandeza: vaca
vaca no pasto (ai, vida, simples vaca).
(FONTELLA, Orides. Trevo)
Proposto
9) (PUC) A poesia pastoral não terá grande encanto se for tão grosseira quanto o natural ou limitar-se, minuciosamente, às
-coisas rurais. Falar de cabras e carneiros e dos cuidados que requerem nada tem de agradável em si; o que agrada é a ideia
de tranquilidade, ligada à vida dos que cuidam das cabras e dos carneiros.
A busca do “encanto” acima referido, num momento em que a arte busca uma linguagem racional e simples, e o poeta tenta
dissolver qualquer notação subjetiva, encontra-se nos versos:
a) Se tu viesses, donzela,
Verias que a vida é bela
No deserto do sertão!
Lá têm mais aromas as flores
E mais amor os amores
Que falam no coração!
b) E sonho-me eu também no meio dos pastores.
Menalcas é o meu nome, ou Jano, ou Tirses. Canto
E cajado e surrão às plantas te deponho.
Enastrado por ti o meu rabel de flores
Em contendas me travo a celebrar-te o encanto.
Oh! Tempos que lá vão! oh! vida antiga...
Oh! Sonho!
c) Longe, a tarde se estorce, em violácea agonia.
Essas horas de susto e de melancolia,
como é triste ao pastor transviado compreendê-las!
d) Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas Campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
e) Esta a imagem da vaca, a mais pura e singela
que do fundo do sonho eu, às vezes, esposo
e confunde-se à noite a outra imagem daquela
que ama me amamentou e jaz no último pouso.
Proposto
A questão 10 refere-se ao seguinte fragmento do
poema satírico Cartas Chilenas, atribuído ao poeta
neoclássico Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).
Cartas Chilenas
A lei do teu contrato não faculta
que possas aplicar aos teus negócios
os públicos dinheiros. Tu, com eles,
pagaste aos teus credores grandes somas!
Ordena a sábia junta que dês logo
da tua comissão estreita conta;
o chefe não assina a portaria,
não quer que se descubra a ladroeira,
porque te favorece, ainda à custa
dos régios interesses, quando finge
que os zela muito mais que as próprias rendas.
Por que, meu Silverino? Porque largas,
porque mandas presentes, mais dinheiro.
................................................
Agora, Fanfarrão, agora falo
contigo, e só contigo. Por que causa
ordenas que se faça uma cobrança
tão rápida e tão forte contra aqueles
que ao Erário só devem tênues somas?
Não tens contratadores, que ao rei devem
de mil cruzados centos e mais centos?
Uma só quinta parte que estes dessem,
não matava do Erário o grande empenho?
O pobre, porque é pobre, pague tudo,
e o rico, porque é rico, vai pagando
sem soldados à porta, com sossego!
Não era menos torpe, e mais prudente,
que os devedores todos se igualassem?
Que, sem haver respeito ao pobre ou rico,
metessem no Erário um tanto certo,
à proporção das somas que devessem?
Indigno, indigno chefe! Tu não buscas
o público interesse. Tu só queres
mostrar ao sábio augusto um falso zelo,
poupando, ao mesmo tempo, os devedores,
os grossos devedores, que repartem
contigo os cabedais, que são de reino.
(Tomás Antônio Gonzaga)
10) O texto focaliza com ironia e humor, o problema da
corrupção administrativa e econômica em sua época.
Satiriza os desmandos do governador de Minas Gerais
entre 1783 e 1788, Luís da Cunha Meneses, que aparece no texto sob o pseudônimo de Fanfarrão Minésio.
Releia-o com atenção e, em seguida:
a) Cite uma passagem do trecho de Cartas Chilenas em
que se caracteriza malversação de recursos públicos
pela personagem;
b) Interprete a passagem compreendida entre os
versos de números 26 e 30, relacionando-se com o
tema da “justiça fiscal”, defendida por muitos políticos
e economistas atuais.
Proposto
11) Leia o soneto abaixo:
s
.
Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.
Que bem é ver nos campos transladado
No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
Ali respira amor, sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade.
Ali não há fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!
(Cláudio Manuel da Costa)
O poema acima relaciona, por meio de antíteses, dois lugares. Dê duas características
opositivas desses lugares.
Proposto
As questões 12 e 13 têm como base este poema de Cláudio Manuel da Costa.
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado.
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
12) O estilo neoclássico, fundamento do Arcadismo brasileiro, de que fez parte Cláudio Manuel da Costa,
caracteriza-se pela utilização das formas clássicas convencionais, pelo enquadramento temático em paisagem
bucólica pintada como lugar aprazível, pela delegação da fala poética a um pastor culto e artista, pelo gosto das
circunstâncias comuns, pelo vocabulário de fácil entendimento e por vários outros elementos que buscam adequar
a sensibilidade, a razão, a natureza e a beleza.
Dadas estas informações:
a) Indique qual a forma convencional clássica em que se enquadra o poema.
b) Transcreva a estrofe do poema em que a expressão da natureza aprazível, situada no passado, domina sobre
a expressão do sentimento da personagem poemática.
Proposto
13) A crítica literária brasileira tem ressaltado que o terceiro verso do poema é aquele que
concentra o tema central. Essa mesma crítica, por outro lado, anotou com propriedade a
importância do décimo segundo verso: este verso exprime uma mudança de atitude, que se
corrige nos versos finais graças à descoberta, feita pelo eu poemático, da verdadeira causa
do fenômeno descrito em todo o poema.
Responda:
a) Qual o tema que o terceiro verso concentra? Transcreva outros dois versos que o repercutem.
b) A que causas o eu poemático atribui o fenômeno observado na natureza?
,
Proposto
14) (ENEM) Compare os textos I e II a seguir, que tratam de aspectos ligados a variedades da língua portuguesa no mundo e
no Brasil.
Texto I
Acompanhando os navegadores, colonizadores e comerciantes portugueses em todas as suas incríveis viagens, a partir do
século XV, o português se transformou na língua de um império. Nesse processo, entrou em contato — forçado, o mais das vezes;
amigável, em alguns casos — com as mais diversas línguas, passando por processos de variação e de mudança linguística.
Assim, contar a história do português do Brasil é mergulhar na sua história colonial e de país independente, já que as línguas
não são mecanismos desgarrados dos povos que as utilizam. Nesse cenário, são muitos os aspectos da estrutura linguística
que não só expressam a diferença entre Portugal e Brasil como também definem, no Brasil, diferenças regionais e sociais.
(PAGOTTO, E. P. Línguas do Brasil. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br. Acesso em: 5 jul. 2009 [adaptado].)
Texto II
Barbarismo é vício que se comete na escritura de cada uma das partes da construção ou na pronunciação. E em nenhuma
parte da Terra se comete mais essa figura da pronunciação que nestes reinos, por causa das muitas nações que trouxemos ao
jugo do nosso serviço. Porque bem como os gregos e romanos haviam por bárbaras todas as outras nações estranhas a eles,
por não poderem formar sua linguagem, assim nós podemos dizer que as nações de África, Guiné, Ásia, Brasil barbarizam
quando querem imitar a nossa.
(BARROS, J. Gramática da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 1957 [adaptado].)
Os textos abordam o contato da língua portuguesa com outras línguas e processos de variação e de mudança decorridos desse
contato.
Da comparação entre os textos, conclui-se que a posição de João de Barros (Texto II), em relação aos usos sociais da linguagem revela:
a) atitude crítica do autor quanto à gramática que as nações a serviço de Portugal possuíam e, ao mesmo tempo, de benevolência
quanto ao conhecimento que os povos tinham de suas línguas.
b) atitude preconceituosa relativa a vícios culturais das nações sob domínio português, dado o interesse dos falantes dessa
línguas em copiar a língua do império, o que implicou a falência do idioma falado em Portugal.
c) o desejo de conservar, em Portugal, as estruturas da variante padrão da língua grega — em oposição às consideradas bárbaras
—, em vista da necessidade de preservação do padrão de correção dessa língua à época.
d) adesão à concepção de língua como entidade homogênea e invariável, e negação da ideia de que a língua portuguesa pertence a outros povos.
e) atitude crítica, que se estende à própria língua portuguesa, por se tratar de sistema que não disporia de elementos necessários
para a plena inserção sociocultural de falantes não nativos do português.

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