Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto
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Vol. 25, nº 1, Março 2016 Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto 1 25| AGENDA AGENDA ADEMI 2016 2015 Curso de Imunodeficiências Primárias IGM ICHP, 11 de Maio Destinatários: Um dia com o Síndrome de Marfan Pediatras, Internos Complementares de Pediatria Porto, 12 de Março Curso de Colposcopia – do diagnóstico à terapêutica CMIN I CHP, 29 e 30 de Maio Hipertensão Pulmonar na Criança: Destinatários: Obstetras e Ginecologistas, Internos Complementares de Obstetrícia e Ginecologia perspectivas actuais Coimbra, 9 de Abril III Curso de Atualização em Pediatria para MGF CHP, 5 e 6 de Junho Destinatários: II Curso Teórico-Prático Pediátrica Pediatras, Internos Complementaresde deCardiologia Pediatria e de MGF para Pediatras e Neonatologistas Da Enurese Primária à Bexiga Neurogénica Porto,19 e 20 de Maio IGM, 2 de Outubro Destinatários: Pediatras, Internos Complementares de Pediatria e de MGF Curso de Anemias Ferriprivas Porto, 17 de Junho de Diabetes na Criança e Adolescente Curso Teórico-Prático IGM, 8 e 9 de Outubro Destinatários: Anatomia Laparoscópica… Pediatras, InternosPélvica Complementares de Pediatria e de MGF do Anatomista ao Cirurgião I Jornadas de Enfermagem do CMIN-CHP 8 ede 9 de Julho Porto,Porto, 29 e 30 Outubro Destinatários: Enfermeiros da área da Saúde Materno Infantil e Pediátrica XXVIII Reunião Anual de Pediatria do CMIN: Aguda XXVIIPatologia Reunião Anual de Pediátrica Pediatria do CMIN-CHP CHP, 26 e 27 de Novembro Porto, 25 e 26 de Novembro Destinatários: Pediatras, MGF, Internos Complementares de Pediatria e MGF Informação disponível em www.ademi.pt Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto | Departamento de Ensino, Formação e Investigação Ano | 2016 Volume | XXV Número | 01 Diretora | Editor-in-Chief | Sílvia Alvares; Diretor Adjunto | Associated Editor | Rui Chorão; Diretora Executiva | Executive Editor | Luísa Lobato Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Porto | Director | Fernando Sollari Allegro Corpo Redatorial | Editorial Board Conselho Científico | Scientific Board Assessores Editoriais | Editorial Assistants Ana Rita Araújo, ULSAM Armando Pinto, IPOPFG Artur Alegria, CHP Braga da Cunha, CHTS Carmen Carvalho, CHP Cláudia Pedrosa, CHVNG/E Cláudia Tavares, CHAA Conceição Mota, CHP Cristina Rocha, CHEDV Fatima Carvalho, CHP Filipa Balona, HB Gustavo Rocha, CHSJ Helena Sá Couto, HPH/ULSM João Barreira, CHSJ José Manuel Pereira, CHP, ESTSP Laura Marques, CHP, ICBAS-UP Margarida Guedes, CHP, ICBAS-UP Maria Sameiro Faria, CHP Vasco Lavrador, H Privado de Alfena, Valongo Alberto Caldas Afonso, CHSJ, FMUP, Porto Almerinda Pereira, ECS-UM, HB, Braga Ana Ramos, CHP, Porto Antonio José Aguilar Fernández, HUMI, Las Palmas António Tomé, CHP, ICBAS-UP, Porto António Martins da Silva, CHP e ICBAS/UP, Porto Braga da Cunha, CHTS, Penafiel Cidade Rodrigues, CHP, ICBAS-UP, Porto Cleonice Mota, FM - UFMG, Belo Horizonte Conceição Casanova, CHPVVC, Póvoa de Varzim Eurico Gaspar, CHTMAD, Vila Real Fátima Praça, CHVNG/E, Vila Nova de Gaia Gonçalves Oliveira, CHMA, Famalicão Goreti Lobarinhas, HSSM Barcelos Helena Jardim, CHP, ICBAS-UP, Porto Hercília Guimarães, CHSJ, FMUP, Porto Herculano Rocha, CHP, Porto Ines Lopes, CHVNG/E, Vila Nova de Gaia Jorge Braga, CHP, ICBAS-UP, Porto José Carlos Areias, CHCJ, FMUP, Porto José Cidrais Rodrigues, HPN/ULSM, Matosinhos Lopes dos Santos, HPH/ULSM, Matosinhos Luís Almeida Santos, CHSJ, FMUP, Porto Manuel Salgado, HPCM/CHUC, Coimbra Manuela Selores, CHP, ICBAS-UP, Porto Marcelo Fonseca, ULSM, Matosinhos Margarida Lima, CHP, ICBAS/UP, Porto Maria Augusta Areias, HPBN, Porto Norberto Estevinho, HPP, Porto Óscar Vaz, ULSN, Mirandela Paula Cristina Ferreira, CHP, Porto Paula Soares, CHP, Porto Pedro Freitas, CHAA, Guimarães Rei Amorim, ULSAM, Viana do Castelo Ricardo Costa, CHCB, FCS-UBI, Covilhã Rosa Amorim, CHP, Porto Rui Carrapato, CHEDV, Santa Maria da Feira Teresa Temudo, CHP, ICBAS-UP, Porto Andrea Buschbeck Editores especializados | Section Editors Artigo Recomendado – Helena Mansilha, CHP; Maria do Carmo Santos, CHP Perspetivas Atuais em Bioética – Natália Teles, CGMJM, FMUP Pediatria Baseada na Evidência – Luís Filipe Azevedo, FMUP; Altamiro da Costa Pereira, FMUP A Cardiologia Pediátrica na Prática Clínica – António Marinho, CHUC; Fátima Pinto, HSM/CHLC; Maria Ana Sampaio, HCV; Maria João Baptista, CHSJ, ECS-UM; Paula Martins, HPCM/CHUC, Rui Anjos, HSC/CHLO; Sílvia Álvares, CHP Ciclo de Pediatria Inter-Hospitalar do Norte – António Fonseca, HSMM; Armando Pinto, IPOPFG; Carla Moreira, HB; Carmen Carvalho, CHP; Fátima Santos, CHVNG/E; Inês Azevedo, CHSJ, FMUP; Isolina Aguiar, CHAA; Joaquim Cunha, CHTS; Rosa Lima, CHP; Sandra Ramos, CHPVVC; Sofia Aroso, HPH/ULSM; Sónia Carvalho, CHMA; Susana Tavares, CHEDV Caso Dermatológico – Manuela Selores, CHP, ICBAS-UP; Susana Machado, CHP Caso Eletroencefalográfico – Rui Chorão, CHP Caso Estomatológico – José Amorim, CHP Caso Radiológico – Filipe Macedo, HCUF Genes, Crianças e Pediatras – Esmeralda Martins, CHP, ICBAS-UP; Gabriela Soares, CGMJM Educação Científica – Margarida Lima, CHP, ICBAS-UP Pequenas Histórias – Margarida Guedes, CHP, ICBAS-UP Consultora de Epidemiologia e de Bioestatistica | | Advisor of Epidemiology and Biostatistics Maria José Bento, IPOPF Publicação trimestral resumida e indexada por Catálogo LATINDEX EMBASE / Excerpta Médica Index das Revistas Médicas Portuguesas Scopus Artigos disponíveis no Repositório Científico do CHP http://repositorio.chporto.pt SciELO Design gráfico bmais comunicação Execução gráfica e paginação Papelmunde, SMG, Lda Vila Nova de Famalicão ISSN 0872-0754 Depósito legal 4346/91 Propriedade, Edição e Administração / Publisher Departamento de Ensino, Formação e Investigação Centro Hospitalar do Porto Largo do Prof. Abel Salazar – 4099-001 Porto Telefone: (+351) 222 077 500; fax: (+351) 222 082 166 Telemóvel: (+351) 915 676 516 [email protected] CGMJM, Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães; CHAA, Centro Hospitalar do Alto Ave; CHCB, Centro Hospitalar da Cova da Beira; CHEDV, Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga; CHMA, Centro Hospitalar do Médio Ave; CHP, Centro Hospitalar do Porto; CHPVVC, Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim - Vila do Conde; CHSJ, Centro Hospitalar de São João; CHTMAD, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro; CHTS, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa; CHUC, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; CHVNG/E, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho; DEFI, Departamento de Ensino, Formação e Investigação; ECS-UM, Escola de Ciências da Saúde, Universidade do Minho; FCS-UBI, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade da Beira Interior; FM-UFMG, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais; FMUP, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; HB, Hospital de Braga; HCUF, Hospital da CUF; HCV, Hospital Cruz Vermelha; HPBN, Hospital Privado da Boa Nova; HPCM/CHUC, Hospital Pediátrico Carmona da Mota; HPH/ULSM, Hospital Pedro Hispano/Unidade Local de Saúde Matosinhos; HPP, Hospitais Privados de Portugal; HSC/CHLO, Hospital de Santa Cruz/Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental; HSM/CHLC, Hospital de Santa Marta/Centro Hospitalar de Lisboa Central; HSMM, Hospital Santa Maria Maior; HUMI, Hospital Universitario Materno Infantil de Canarias, Las Palmas; ICBAS/UP, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto; IPOPFG, Instituto Português de Oncologia do Porto, Francisco Gentil; ULSAM, Unidade Local de Saúde do Alto Minho; ULSN, Unidade Local de Saúde do Nordeste. PRÉMIO NASCER E CRESCER MELHOR ARTIGO ORIGINAL A DIRECÇÃO DA REVISTA NASCER E CRESCER INSTITUIU O PRÉMIO ANUAL PARA O MELHOR ARTIGO ORIGINAL PUBLICADO NA REVISTA. ESTA INICIATIVA VISA PROMOVER E INCENTIVAR A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA NA ÁREA DA PEDIATRIA E PERINATOLOGIA. REGULAMENTO 1. O Prémio será destinado aos autores do melhor Artigo Original publicado na revista Nascer e Crescer no período entre Janeiro e Dezembro de cada ano. 2. Um mesmo autor pode concorrer com mais de um Artigo Original. 3. Na avaliação dos Artigos Originais, o Júri de seleção analisará os seguintes itens: a) Relevância e originalidade b) Clareza e pertinência dos objectivos; coerência com a metodologia; c) Descrição dos métodos/procedimentos e análise estatística adequada; d)Apresentação clara e sintética dos resultados; e) Discussão fundamentada; f ) Importância para o avanço do conhecimento. Potencial de aplicabilidade e impacto dos resultados. 4. Havendo mais de um autor, o Prémio será entregue ao primeiro autor do Artigo Original 5. Não será necessário qualquer tipo de inscrição para candidatura ao Prémio. 6. O processo de avaliação/classificação do Prémio será conduzido por um júri de seleção a ser escolhido oportunamente pelos editores da revista. 7. Não caberá recurso contra as decisões do júri. 8. A atribuição do Prémio será divulgada no número 4 da revista Nascer e Crescer. 9. Cabe à Direcção da revista Nascer e Crescer decidir sobre casos omissos neste regulamento. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 índice número1.vol.XXV 7 Editorial A música, a saúde e o bem estar José Carlos Areias 11 Artigos Originais Fatores de risco para cicatriz renal após a primeira infeção febril do trato urinário Ana Cristina Freitas, Joana Leite, Paula Matos, Liliana Rocha, Teresa Costa, Maria Sameiro Faria, Conceição Mota 15 Hipersensibilidade medicamentosa em crianças de idade pré-escolar Jorge da Costa Viana, Carmo Abreu, Eva Gomes 22 Artigos de Revisão Desidratação hipernatrémica no recém-nascido Vânia Sousa, Catarina Carrusca, Manuela Santos 27 Marcha em pontas idiopática em idade pediátrica Sara Domingues, Cláudia Melo, Catarina Magalhães, Sónia Figueiroa, Inês Carrilho, Teresa Temudo 35 Casos Clínicos Hiperfosfatasemia transitória benigna da infância e infeção a Campylobacter Jejuni Cláudia Aguiar, Juliana Oliveira, Alexandra Pinto, Andreia Eiras, Conceição Casanova, Maria José Dinis 38 Herpes zoster como primeira manifestação de infeção por vírus varicela-zoster numa criança saudável Catarina Carrusca, Raquel Machado, Carolina Albuquerque, Florbela Cunha 42 Malformação vascular linfática com localização incomum Ana Isabel Rodrigues, Gonçalo Inocêncio, Fan Yida, Madalena Moreira, Graça Rodrigues, Olímpia Carmo, Luísa Oliveira, Alberto Vieira, Maria do Céu Rodrigues NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 índice número1.vol.XXV 48 Qual o seu Diagnóstico? Caso dermatológico Sandrina Carvalho, Susana Machado, Yolanda Mahia, Manuela Selores 50 Caso cardiológico Alexandra Pires Pinto, Vânia Gonçalves, Georgina Monteiro, Teresa Machado 52 Normas de Publicação NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 summary number1.vol.XXV 7 Editorial Music, health and well being José Carlos Areias 11 Original Articles Risk factors for renal scarring after first febrile urinary tract infection Ana Cristina Freitas, Joana Leite, Paula Matos, Liliana Rocha, Teresa Costa, Maria Sameiro Faria, Conceição Mota 15 Drug hypersensitivity in pre-school children Jorge da Costa Viana, Carmo Abreu, Eva Gomes 22 Review Articles Hypernatremic dehydration in newborn infants Vânia Sousa, Catarina Carrusca, Manuela Santos 27 Idiopathic toe walking in children and adolescents Sara Domingues, Cláudia Melo, Catarina Magalhães, Sónia Figueiroa, Inês Carrilho, Teresa Temudo 35 Case Reports Benign transient hyperphosphatasemia of infancy and early childhood and Campylobacter Jejuni infection Cláudia Aguiar, Juliana Oliveira, Alexandra Pinto, Andreia Eiras, Conceição Casanova, Maria José Dinis 38 Herpes zoster as first manifestation of varicella-zoster virus infection in a healthy child Catarina Carrusca, Raquel Machado, Carolina Albuquerque, Florbela Cunha 42 Vascular lymphatic malformation with uncommon localization Ana Isabel Rodrigues, Gonçalo Inocêncio, Fan Yida, Madalena Moreira, Graça Rodrigues, Olímpia Carmo, Luísa Oliveira, Alberto Vieira, Maria do Céu Rodrigues NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 summary number1.vol.XXV 48 What is your Diagnosis Dermatology case Sandrina Carvalho, Susana Machado, Yolanda Mahia, Manuela Selores 50 Cardiology case Alexandra Pires Pinto, Vânia Gonçalves, Georgina Monteiro, Teresa Machado 52 Instructions for Authors NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 editorial A música, a saúde e o bem estar José Carlos AreiasI __________ Professor Catedrático de Pediatria FMUP Diretor S. Cardiologia Pediátrica, Hospital Pediátrico Integrado, Centro Hospitalar São João. 4202-139 Porto, Portugal. [email protected] I A música é uma forma de expressão inerente ao ser humano, suscetível de partilha de emoções ou afetos. A interação que promove fortalece as relações humanas, aumentando a empatia e o prazer nesse relacionamento. Favorece ainda a evocação de memórias emocionais, sendo, assim, um veículo para sentimentos inatingíveis de outro modo. O conhecimento de que a música afeta a saúde e o bem estar já existia no tempo de Aristóteles e Platão. No entanto, só em meados do século passado foi possível aos profissionais da saúde estabelecer uma relação entre a música e a recuperação dos doentes. Uma das maiores experiências teve lugar no final da segunda grande guerra, quando foi pedido a vários músicos que tocassem em hospitais, como forma de tratamento e acalmia dos feridos. Esta atitude teve resultados tão positivos que as autoridades americanas resolveram profissionalizar pessoas com o intuito de recorrer à música como forma de terapia. Foi então criado o primeiro curso de musicoterapia, em 1944, na Universidade Estadual de Michigan. As inovações recentes em tecnologia da saúde têm reflexo não só na duração da vida, como também na sua qualidade. Assim, procura-se que essas tecnologias possam dar oportunidade a todos os que procuram aumentar o prazer, as experiências sociais, ou qualquer outra expressão pessoal. Para isso, os executantes das novas tecnologias que pretendem melhorar a saúde e o bem estar poderão ser educadores, terapeutas, músicos ou profissionais de qualquer outra arte ou ciência. Os efeitos da música no ser humano são conhecidos há milhares de anos. Contudo, a recetividade é subjetiva, dependendo do estado emocional de cada um. Embora as bases fisiológicas da musicoterapia não sejam ainda bem conhecidas, sabe-se que a música melhora a qualidade de vida, tendo influência em certas variáveis da saúde, como podem ser as cardíacas e cerebrovasculares. A primeira impressão sensorial no ser humano parece começar na vigésima semana de gestação, sabendo-se que o feto reconhece todos os sons, iniciando uma aprendizagem musical nessa altura. Esta é uma bem reconhecida interação entre a mãe e o filho, antecipando, após o nascimento, a diminuição das cólicas do recém-nascido. Também as arritmias, comuns na grávida e no feto, podem ser potenciadas durante a gestação, devido a alterações fisiológicas como o aumento da frequência ou do débito cardíaco. A música, com ritmos suaves e lentos, é benéfica para a mãe e para o feto, sendo, ainda, preventiva na morte súbita do recém-nascido. No cérebro, dividido em dois hemisférios, o direito tem sido identificado como o lugar de apreciação musical. Contudo, não tendo ainda sido identificado um centro musical, parece provável que a identificação da música emerge da atividade conjunta dos dois hemisférios. Acresce que o córtex frontal, onde as memórias são arquivadas, tem também um papel activo na apreciação da melodia, sobretudo do ritmo. Interessante constatar que experiências feitas com música de Mozart mostraram uma ativação de ambos os hemisférios, com reflexo numa maior aprendizagem e retenção informativa. Outras experiências, efetuadas com monitorização da pressão arterial, frequência editorial 7 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 cardíaca, frequência respiratória e velocidade de fluxo sanguíneo na artéria cerebral média, mostraram que nos crescendos vocais ou orquestrais havia vasoconstrição, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, em contraste com a vasodilatação e diminuição da pressão sistémica constatadas na altura em que a música era mais uniforme ou suave. Muito se tem investigado em relação ao funcionamento do cérebro, sabendo-se que nenhum sistema funciona isolado de outros, pensando-se que em lugar de haver centros diferentes no hemisfério direito e esquerdo, haverá zonas superiores e inferiores em ambos os hemisférios, contribuindo todas para as diferentes execuções no ser humano. Assim, parece claro que a música é transformadora e capaz de criar estados psíquicos e físicos diferentes no ser humano. É uma forma de expressar emoções e sentimentos em campos tão diferentes como podem ser o social, económico, ambiental ou religioso. Distingue-se de outros sons pelo aproveitamento de frequências vibratórias harmónicas, com diferente tonalidade, dinâmica e duração. A terapia mediante a música utiliza uma linguagem artística no processo terapêutico, podendo, contudo, ser utilizada como experiência estética e saudável no ser humano, na procura, em sessões de relaxamento, de efeitos positivos. Como forma terapêutica, a música procura promover no paciente uma melhoria de ordem física, psicológica, cognitiva, espiritual, ou outra. Problemas como a ansiedade ou depressão criam uma baixa eficiência cerebral, com origem na diminuição de serotonina, um neurotransmissor envolvido na comunicação entre neurónios. O efeito da música consiste em estimular as células cerebrais, aumentando o nível de serotonina e dessa forma melhorar o humor ou a disposição. O efeito, tendo em comum o prazer, pode ser diferente, provocando excitação ou acalmia, conforme o tipo de música e o ambiente criado. A música é também conhecida como facilitadora do processo de aprendizagem, sobretudo nas crianças, utilizando a informação e a memória. Nos idosos, muitas canções estão ligadas a memórias alegres ou tristes, ajudando a uma melhor interação em situações de insónia, depressão, ou mesmo em doentes com demência ou Alzheimer. A música pode ainda melhorar a comunicação, estimulando a destreza da linguagem, sobretudo em crianças autistas ou com outras formas de difícil expressão. Um dos aspetos interessantes da musicoterapia consiste em avaliar a sua utilidade na diminuição da farmacoterapia. A dor é uma experiência independente da idade, sendo controverso o mecanismo pelo qual a música pode contribuir para o seu controlo. Sabe-se que os recetores da dor enviam sinais para o cérebro, sendo possível que a música bloqueie a perceção dolorosa ao atuar nos transmissores da dor. O tratamento da dor crónica ou recorrente tem sido um importante campo para o desenvolvimento da musicoterapia. Duas técnicas têm sido usadas: a interativa, na qual o paciente e o terapeuta tocam ou cantam conjuntamente, e a forma passiva, na qual o paciente ouve música previamente selecionada e gravada pelo terapeuta. Neste último caso, o efeito pretendido é essencialmente melhorar o humor do doente, alterando o limiar da dor, utilizando a distração e o relaxamento. A música pode ainda ser usada como uma forma de comunicação não verbal, melhorando, naqueles para quem o acesso verbal está dificultado, a possibilidade de interagir. A música diminui significativamente o nível de ansiedade nos doentes em cuidados pré-operatórios, por vezes com uma eficácia superior à utilização de certos fármacos, como o midazolam, uma benzodiazepina com efeitos na ansiedade e relaxamento muscular. Em experiências recentes, a música de Mozart revelou possuir maior efeito sedativo do que alguns fármacos normalmente usados. A música, estimulando a libertação de endorfinas, neurohormonas produzidas na hipófise, tem uma potente acção analgésica estimulando a sensação de bem estar, conforto e melhoria de humor. 8 editorial NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Estudos recentes mostram que a endorfina pode ter um efeito sobre áreas cerebrais responsáveis pela modulação da dor, do humor, depressão ou ansiedade, e, ainda, sobre o sistema nervoso simpático, responsável pela modulação de diversos órgãos, como o coração ou o intestino Assim, a elevada eficácia e aparente ausência de efeitos adversos, tornam a música uma alternativa credível ao midazolam, ou a outros fármacos habitualmente usados na pré-medicação. Também, após a cirurgia, há suficiente evidência prática da diminuição de stress pós-operatório com música adequada, tendo sido ainda comprovada a diminuição de níveis de cortisol no grupo de indivíduos submetidos a cirurgia de coração aberto, com música nos cuidados intensivos pós-operatórios , quando comparados com o grupo de indivíduos sujeitos à mesma cirurgia sem acompanhamento de música no seguimento pós-cirúrgico. Hans-Joachim Trappe, um cardiologista alemão, estudou o efeito da música numa unidade de cuidados intensivos, publicando em 2010 na revista Heart os seus surpreendentes resultados. Os maiores benefícios constatados nos doentes foram conseguidos com música clássica, sobretudo com Bach, Mozart e compositores italianos. O fluxo cerebral avaliado por ecografia na artéria cerebral média, diminuía significativamente nos doentes que ouviam o “Va pensiero” da ópera “Nabucco” de Verdi, quando comparado com outros tipos de música. A música dita de meditação mostrou efeitos sedativos, enquanto “Heavy Metal” e “Techno” mostraram ser perigosas numa unidade de cuidados intensivos, aumentando o stress e o comportamento agressivo. Curiosamente, o jazz aumentou a concentração nos doentes, sendo o “Hip Hop” e o “Rap” benéficos, não pela melodia, mas pelo ritmo e pelo efeito das palavras. Contudo, alguma dita música concreta, muito em voga em meados do século vinte, conhecida pela sua atonalidade, não acrescentou qualquer vantagem como experiência de sentidos, sabendo-se da agressão que provocava no bem estar e inteligência de cada um. É um exemplo John Cage que, em 1952, apresentou uma obra intitulada 4´ 33”, que constava da chegada do executante ao piano, da abertura deste e da permanência, em silêncio, do tempo correspondente ao título da obra, dando assim por concluída a sua atuação. Outras obras do mesmo compositor patrocinavam sons extraídos do piano, depois de atar papeis, borrachas ou nozes às cordas do instrumento. Como se compreende, nenhuma felicidade se podia extrair desta desinteressante arte. Em conclusão, a música é uma combinação de sons com diferentes frequências, tonalidades, intensidades e ritmos. Distingue-se do ruído pela harmonia na conjugação dessas propriedades Sendo o prazer da música muito subjetivo, para uma melhor saúde física e psíquica podemos escolhê-la, extraindo dela inquestionáveis benefícios. A eficácia da musicoterapia tem sido descrita, sobretudo quando se escolhe música clássica ou outra relaxante. Vários estudos sugerem que este tipo de música tem efeitos no sistema cardiovascular, influenciando a frequência cardíaca e a sua variabilidade, bem como a pressão arterial. Graças à plasticidade cerebral, a música é uma poderosa ferramenta terapêutica de baixo custo e risco, com inequívocos efeitos positivos na memória, atenção, funções motoras e emoção. Tem ainda um efeito muito positivo na diminuição da intensidade ou frequência da dor e na medicina intensivista, para além de prazer e bem estar que a todos nós pode proporcionar na diminuição do stress ou desgaste diário, contribuindo significativamente para uma eficaz regulação emocional. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 7-10 editorial 9 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Music, health, and well being: a review; Raymond AR Macdonald Int J Qualitativ Stud Health Well-being 2013, 8: 20635. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA José Carlos Areias: Serviço de Cardiologia Pediátrica, Hospital Pediátrico Integrado, Centro Hospitalar São João Alameda Professor Hernâni Monteiro, 4202-139 Porto Email: [email protected] 10 editorial NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Fatores de risco para cicatriz renal após a primeira infeção febril do trato urinário Ana Cristina FreitasI; Joana LeiteII; Paula MatosIII; Liliana RochaIII; Teresa CostaIII; Sameiro FariaIII; Conceição MotaIV RISK FACTORS FOR RENAL SCARRING AFTER FIRST FEBRILE URINARY TRACT INFECTION ABSTRACT Introduction: The urinary tract infection (UTI) is one of the most common paediatric infectious diseases and it increases the risk for hypertension and end-stage renal disease. Authors’ aim was to identify risk factors for permanent renal injury after a first febrile urinary tract infection. Methods: Retrospective analysis of clinical, laboratorial and imaging data of children aged 1 to 36 months hospitalized between January 2010 and December 2012 with the first febrile UTI, comparing with late renal scintigraphy results. Results: Seventy seven children were included - 53% female, median age of 5 months, Escherichia coli identified in 95%. Renal scintigraphy, performed after the acute episode, revealed renal scars in 19.5%. Cystourethrography was done in 21 patients and vesicoureteral reflux identified in 3. There was no statistically difference between children with and without renal scarring regarding gender, age, body temperature, C-reactive protein, plasmatic creatinine level, bacteriuria or urine nitrite test, urine bacteria identified, presence of vesicoureteral reflux or recurrence rate of UTI. Conclusions: The authors did not detect any clinical, laboratory or imaging data that may predict progression to renal scarring following a first episode of febrile UTI in children between 1 and 36 months. Keywords: urinary tract infection, renal scar, renal scintigraphy. RESUMO Introdução: A infeção do trato urinário (ITU) é uma das doenças infeciosas com maior incidência em Pediatria e apresenta risco de doença renal crónica e hipertensão arterial. O objetivo dos autores foi identificar os fatores de risco para lesão renal após o primeiro episódio de infeção do trato urinário febril. Métodos: Análise retrospetiva dos dados clínicos, laboratoriais e imagiológicos de crianças entre os 1 e 36 meses de idade, internados entre janeiro de 2010 e dezembro de 2012 por primeiro episódio de ITU febril, comparando os resultados finais da cintigrafia renal. Resultados: Foram incluídos 77 doentes, dos quais 53% eram do sexo feminino, com idade mediana de 5 meses e com identificação de Eschericia coli em 95%. A cintigrafia renal revelou cicatrizes renais em 19,5% da amostra. A cistouretrografia miccional seriada realizou-se em 21 crianças, tendo-se identificado refluxo vesicoureteral em 3 doentes. Comparando os casos com e sem cicatrizes renais, não se observaram diferenças estatisticamente significativas relativas a género, idade, temperatura corporal, doseamento sérico de proteína C reativa ou creatinina, bacteriúria ou nitritúria, tipo de bactéria identificada, presença de refluxo vesicoureteral ou taxa de recorrência das infeções do trato urinário. Conclusões: Os autores não detetaram nenhum fator de risco clínico, laboratorial ou imagiológico para progressão para lesão renal após um primeiro episódio de ITU febril em crianças entre 1 e 36 meses. Palavras-chave: infeção do trato urinário, cicatriz renal, cintigrafia renal. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 11-4 __________ S. de Pediatria Médica do Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; II S. de Pediatria do Hospital Pedro Hispano. 4464-513 Matosinhos, Portugal. [email protected]; III S. de Nefrologia Pediátrica do Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; IV Unidade de Transplantação do Serviço de Nefrologia do Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; I artigos originais original articles 11 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INTRODUCTION Urinary tract infection (UTI) is one of the most common infectious diseases in children. The renal parenchyma inflammation and immune reaction in acute pyelonephritis can cause permanent kidney damage with renal scarring.1 The renal scarring extension can subsequently lead to hypertension and end-stage renal disease. In an attempt to optimize follow-up after a febrile UTI, many authors have tried to identify risk factors for renal scarring in these children. The aim of our study was to establish the correlation between the clinical, laboratory and imaging features of the first febrile UTI and the renal scarring formation. METHODS This is a retrospective study of children 1 to 36 months of age hospitalized with their first febrile UTI at our paediatric department, between January 2010 and December 2012. Children with known nephrourological or immunological disease were excluded. Febrile UTI was defined as positive urine culture in children with fever and pyuria or positive urine nitrite test. Positive urine culture was defined as: colony-forming units (CFU) ≥ 1 in suprapubic aspiration, CFU ≥ 104 in urine from vesical catheterism or CFU ≥ 105 in urine colleted from middle-stream clean-catch method. At our department, all children from 1 to 36 months age with febrile UTI are submitted to renovesical ultrasound and, after 6 months, to a renal dimercaptosuccinic acid scintigraphy. Those with atypical UTI characteristics (nonresponse to antibiotics in 48 hours or non-Escherichia coli bacteria identified at urinary culture), recurrent UTI (more than two febrile UTI, three non-febrile UTI or more than one febrile and one non-febrile UTI) or abnormal renovesical ultrasound / renal scintigraphy are submitted to voiding cystourethrography. We analysed the epidemiological characteristics (gender, age, family history of kidney disease), the clinical and laboratory characteristics of febrile UTI (maximum temperature, reactive C protein assay and creatinine, presence of pyuria, nitrituria, bacteriuria and bacteria identified in urine culture), data from the imaging investigation (ultrasound, renal scintigraphy, voiding cystourethrography) and febrile UTI recurrence. These data were then related to the presence of renal scarring in scintigraphy, performed 6 months after the first febrile UTI. Data were analysed using the Statistical Package for Social Science® (SPSS) for Mac version 21 and Microsoft Excell®. There was done a descriptive analysis of patient characteristics and disease evolution and Chi-squared (χ2) test was used as appropriate. The p values of less than 0.05 were considered statistically significant. RESULTS Seventy-seven children were admitted with their first febrile UTI in a period of three years, mostly female (53%) and with a median age of 5 months (1.35-30.95 months). In 9.1% there was a family history of kidney disease, including recurrent UTI, kidney stones, arterial hypertension, polycystic kidney disease and asymmetric renal dimensions. Clinical, laboratory and renal imaging characteristics are described in Table 1. Escherichia coli was identified in 73 cases, 12 artigos originais original articles Klebsiella pneumoniae in 2 patients and Proteus mirabilis and Enterococcus faecalis in one case each. Renovesical ultrasound was performed in 76 patients (79% in acute phase), with alterations in 7 patients (9%): duplex kidney, renal asymmetry, nephrocalcinosis, renal malrotation, pyelocaliceal dilation (anteroposterior diameter 5 to 7 mm). Renal scintigraphy detected scarring lesions in 15 patients (19,5%). Voiding cystourethrography was performed in 21 patients, after detecting ultrasound or renal scintigraphy anomalies (12 patients with renal scarring) or identifying non-Eschericia coli in urine culture. Unilateral vesicoureteral reflux (VUR) was detected in 3 patients (grade I, grade III-IV and IV). The case with grade IV vesicoureteral reflux had focal renal lesion on scitigraphy. After 18.9 ± 11.5 months follow up, 23.4% of patients had UTI recurrence. Table 1. Epidemiological, clinical, laboratorial and renal imaging characteristics. Data description N 77 Age (median) 1,35-30,95 months (5 months) Gender (male:female) 37 (47%) : 41 (53%) Renal disease family history 7 (9,1%) 1 febrile UTI st Maximum temperature (mean) 38-40,5ºC (39,4ºC) Reactive C Protein (mean) 2-321,5 mg/L (75,8 mg/L) Creatinine (mean) 0,1-1,4 mg/dL (0,36 mg/dL) Nitrituria 24 (31,2%) Bacteriuria 9 (12,2%) Escherichia coli 73 (95%) Renal Imaging Renal ultrasound (N=76) Normal: 69 (91%) Renal scintigraphy (6 months after UTI) Renal scar: 15 (19,5%) Voiding cystourethrography (N=21) Vesicoureteral reflux: 3 (14,3%) UTI recurrence 18 (23,4%) Follow-up 18,9±11,5 months Comparing children with and without renal scarring, we did not found statistically significant difference in any clinical, laboratory or renal imaging data (Table 2). Children with renal scarring had higher recurrent UTI incidence, but the difference had no statistical significance (33% vs. 12%, p = 0.244). DISCUSSION Despite the high prevalence of UTI in children there still many doubts about what is the best protocol to use after the first episode. The ideal protocol would identify children who will develop renal scarring by their risk factors, lessening the exposure of non-risk children to the side effects related to its detection. There is a risk of progression to end-stage renal disease associated with the presence of renal scarring, but permanent kidney damage NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Table 2. Data according to renal scarring on renal scintigraphy. Age median Gender % (Male:Female) Maximum temperature mean Reactive C Protein mean Creatinine mean Renal scarring (N=15) No renal scarring (N=62) p 7,5 months 7,9 months 0,833 33:67 % 48:52 % 0,163 39,3ºC 39,6ºC 0,100 71,3 mg/L 92,6 mg/L 0,270 0,34 mg/dL 0,47 mg/dL 0,145 Nitrituria 3 patients (20,0%) 21 patients (33,9%) 0,237 Bacteriuria 2 patients (13,3%) 7 patients (11,3%) 0,542 Non-Escherichia coli 1 patient (6,7%) 3 patients (4,8%) 0,588 Vesicoureteral reflux 1 patient (6,7%) 2 patients (3,2%) 0,388 5 patients (33,3%) 7 patients (11,3%) 0,244 UTI recurrence is identified in less than half of children with febrile UTI.2-4 In our department, renal sctintigraphy is performed 6 months after febrile UTI in children between 1 and 36 months. This timing is related to the higher specificity in the detection of renal scarring after 5 months of acute injury to the renal parenchyma.5 In our study, this approach identified renal scarring in 19.5% of children. Clinical research to identify the risk factors for renal scarring is extensive, in an attempt to optimize the follow-up of these patients. Some authors have identified characteristics that may increase the risk of permanent renal damage, including age, serum inflammation parameters, etiological bacteria, vesicoureteral reflux and UTI recurrence.2, 3, 6-11 One of the most frequently identified risk factor associated with renal scarring is the vesicoureteral reflux. In Shaik et al meta-analysis, VUR had a 2.6 higher risk of renal scarring, which was proportional to the degree of VUR.2 This observation is justified by the presence of retrograde flow of urine carrying potentially infectious agents to the renal parenchyma. However, other authors do not reproduce these results and point that the association of VUR and renal scarring may be influenced by the presence previous renal dysplasia associated with highgrade VUR.4 For this reason we excluded children with known nephrourological disease, in attempt to limit this bias. Our study did not identify any risk factor for renal scarring in children 1 to 36 months with the first febrile UTI. Recently Coutlhard et al have also described the absence of UTI clinical signs that can predict the development of renal scarring.12 The inconsistency and non-reproducibility of the studies keeps the doubts about risk factors and mechanisms leading to persistent renal lesion after the first febrile UTI. This difficulty is due to the different protocols of diagnostic, treatment and follow-up. Our study has the limitations of its sample size and retrospective nature and the lack of a renal scintigraphy in the acute phase in typical UTI. Our results, although contradictory with some studies, are in agreement with our empirical clinical knowledge, which can not identify the children who will progress to renal scaring. In this way, we still maintain renal scintigraphy in the workup investigation of all febrile UTI in children between 1 and 36 months. It is also important to point out that several molecular and genetic factors and its application in clinical practice remain unclear, so that more research in this area is needed. CONCLUSION We found no clinical, laboratory or imaging finding predictive of progression to renal scarring after the first febrile UTI in children between 1 and 36 months. REFERENCES 1. Vachvanichsanong P. Urinary tract infection: one lingering effect of childhood kidney diseases – review of the literature. J Nephrol 2007; 20: 21-8. 2. Shaik N, Ewing A, Bhatnagar S, Hoberman A. Risk of renal scarring in children with a first urinary tract infection: a systematic review. Pediatrics 2010; 126: 1084-90. 3. Oh M, Cheon J, Kang S, Park H, Lee J, Moon D. Predictive factors for acute renal cortical scintigraphic lesion and ultimate scar formation in children with first febrile urinary tract infection. J Urol 2010; 183: 1146-50. 4. Pecile P, Miorin E, Romanello C, Vidal E, Contardo M, Valent F, Tenore A. Age-related renal parenchymal lesions in children with first febrile urinary tract infections. Pediatrics 2009; 124: 23-9. 5. Jakobsson B, Svensson L. Transient pyelonephritic changes on 99mtechnetium-dimercaptosuccinic acid scan for at least five months after infection. Acta Paediatr 1996; 86: 803-907. 6. Preda U, Jodal U, Sixt R, Stokland E, Hansson S. Imaging strategy for infants with urinary tract infection: a new algoritmo. J Urol 2011; 185: 1046-52. 7. Shaik N, Craig J, Rovers M, Da Dalt L, Gardikis S, Hoberman A, et al. Identification of children and adolescentes at risk for renal scarring after a first urinary tract infection: a metaanalysis with individual patient data. JAMA Pediatr 2014; 168: 893-900. artigos originais original articles 13 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 8. Ehsanipour F, Gharouni M, Rafati A, Ardalan M, Bodaghi N, Otoukesh H. Risk factos of renal scars in children with acute pyelonephritis. Braz J Infect Dis 2012; 16: 15-8. 9. Lee Y, Lee J, Park Y. Risk factors for renal scar formation in infants with first episode of acute pyelonephritis: a prospective clinical study. J Urol 2012; 187: 1032-6. 10.Keren R, Shaik N, Pohl H, Graevns-Mueller L, Ivanova A, Zaoutis L, et al. Risk factors for recurrent urinary tract infection and renal scarring. Pediatrics 2015; 136: 13-21. 11.Wennerstrom M, Hansson S, Jodal U, Stokland E. Primary and acquired renal scarring in boys and girls with urinary tract infection. J Pediatr 2000; 136: 30-4. 12.Coulthard M, Lambert H, Keir M. Do systemic symptoms predict the risk of kidney scarring after urinary tract infection? Arch Dis Child 2009; 94: 278-81. 14 artigos originais original articles ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Ana Cristina Freitas: Serviço de Pediatria Médica, Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar do Porto Largo Prof. Abel Salazar, 4099-001 Porto Email: [email protected] Recebido a 12.11.2015 | Aceite a 01.12.2015 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Hipersensibilidade medicamentosa em crianças de idade pré-escolar Jorge da Costa VianaI; Carmo AbreuII; Eva Rebelo GomesII DRUG HYPERSENSITIVITY IN PRE-SCHOOL CHILDREN ABSTRACT Introduction: Drug hypersensitivity reactions (DHRs) are reproducible adverse effects of drugs, taken at a normal therapeutic dose, which clinically resemble allergy. The reported prevalence in children is up to 10%. The investigation of these reactions may require skin testing, dosing of drug specific immunoglobulin E (IgE) and drug provocation tests. Objective: The aim of this study is to report the results of DHRs workup in pre-school children seen at the drug allergy clinic from January 2007 to December 2012. Material and Methods: This study included 189 children (61% male), which first suspected drug hypersensitivity reaction occurred before the age of six years that were evaluated for DH in the referred time period. Results: Culprit drugs were beta-lactams in 82% of the cases and NSAIDs in 10%. The clinical history was suggestive of an immediate-type reaction in 18% of the cases and the most prevalent manifestations were cutaneous (90%). The workup was completed in 118 patients (62%). Drug Hypersensitivity was confirmed in six patients (5%) and excluded in 95% of the patients who completed the workup, without any serious complications. Conclusion: These results show the applicability and value of this diagnostic approach in pre-school children. Keywords: Drug Allergy; Drug Allergy diagnosis; pediatrics; drug provocation tests. RESUMO Introdução: As reações de hipersensibilidade medicamentosa (RHM) são reacções adversas reprodutíveis que se caracterizam por sintomas típicos de alergia que surgem após administração de doses terapêuticas habituais. A sua prevalência em idade pediátrica atinge os 10%. A investigação das RHM inclui a realização de testes cutâneos, pesquisa de imunoglobulinas específicas para os alergénios implicados e provas de provocação. Objectivos: No presente trabalho pretendemos relatar os resultados da investigação de RHM em crianças em idade pré-escolar, observadas na Consulta de Alergia a Fármacos, entre janeiro de 2007 a dezembro de 2012. Material e Métodos: O estudo incluiu 189 crianças (61% do sexo masculino) cuja primeira RHM ocorreu antes dos seis anos de idade e que realizaram investigação diagnóstica no Serviço durante o período referido. Resultados: Os fármacos suspeitos foram os beta-lactâmicos em 82% casos e os AINEs em 11%. A reacção descrita tinha carácter imediato em 18% dos casos e a maioria das manifestações descritas eram cutâneas (90%). Completaram a investigação 118 doentes (62%) confirmando-se hipersensibilidade a medicamentos em seis doentes (5%). Excluiu-se o diagnóstico em 95% dos casos. Conclusão: Estes resultados demonstram a aplicabilidade e a importância destes procedimentos diagnósticos em crianças em idade pré-escolar. Palavras-chave: Alergia a fármacos; diagnóstico de alergia fármacos; idade pediátrica; provas de provocação. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 15-21 __________ S. de Imunoalergologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. 3000-075 Coimbra, Portugal. [email protected] II S. de Imunoalergologia do Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected] I artigos originais original articles 15 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INTRODUÇÃO Uma reação adversa a medicamentos (RAM) é qualquer resposta prejudicial, indesejável e não intencional à administração de um medicamento usado para fins de profilaxia, diagnóstico ou tratamento.1 A classificação farmacológica clássica distingue dois subtipos principais: as reações tipo A – dose dependentes e previsíveis e as reações tipo B – imprevisíveis e menos dependentes da dose administrada. As reações de hipersensibilidade medicamentosa (RHM) integram-se no tipo B e caracterizam-se por sintomas e sinais, típicos de uma reação alérgica, iniciados após exposição a um medicamento numa dose habitualmente tolerada. As RHM podem ser subdivididas em alérgicas e não alérgicas, sendo que as primeiras implicam a demonstração de resposta imune específica (mediada por imunoglobulinas ou linfócitos T específicos). 2 Aspetos epidemiológicos: As RAM são consideradas um problema de saúde pública e têm grande impacto na prática clínica; causam morbilidade e mortalidade significativa, limitam as opções terapêuticas futuras e acarretam custos socioeconómicos importantes. Em 2012 Smith et al, numa revisão sistemática sobre RAM nos grupos etários pediátricos, que incluiu 48 estudos, refere uma incidência de 0,6 a 16,8% em doentes internados e reporta as RAM como causa de 0,4 a 10,3% dos internamentos pediátricos.3 As crianças mais pequenas, sobretudo com idade inferior a 2 anos, têm um risco acrescido de RAM na exposição a fármacos.4 Relativamente às RHM, vários estudos transversais em populações pediátricas apontam para uma prevalência autodeclarada que varia entre os 3 e os 10%. 5-7 Em Portugal, uma publicação de 2009, refere uma prevalência autodeclarada de RAM de 9.7% e 6.4% de RHM entre 1849 crianças inquiridas em ambulatório.8 Mais recentemente, Martins et al, reporta uma prevalência autodeclarada de 4% de RHM entre 1169 crianças recrutadas em creches de Lisboa e Porto demonstrando a importância deste problema mesmo em idade pré-escolar.9 Casos suspeitos de RHM O esclarecimento dos casos suspeitos de RHM é importante de forma a reduzir os falsos diagnósticos de alergia medicamentosa. A utilização desnecessária de fármacos alternativos na suspeita de alergia medicamentosa implica muitas vezes não só custos acrescidos como a utilização de fármacos com perfil de segurança mais desfavorável.10-12 Além disso, as alternativas terapêuticas em idade pediátrica aos fármacos habitualmente implicados (beta-lactâmicos, ibuprofeno e paracetamol) são escassas por estarem contraindicadas, não existirem formulações adequadas ou não estarem disponíveis estudos de segurança em crianças. Apesar da elevada prevalência de alergia medicamentosa autodeclarada em idade pediátrica, vários estudos demonstraram que, após avaliação clínica exaustiva, apenas uma mino- 16 artigos originais original articles ria destas reações podem ser efetivamente classificadas como alérgicas. Num estudo recente realizado na Turquia numa população escolar, avaliaram-se em consulta de Alergologia os participantes que autodeclararam RHM em inquérito prévio. Os resultados revelaram que apenas 1,5% das suspeitas de RHM foram confirmadas, estimando-se uma prevalência de 0,12% de RHM imediata nesta população.13 Em Portugal, entre 1426 questionários recolhidos numa população pediátrica do ambulatório hospitalar, foram identificados 67 casos de RHM autodeclarada (4,7%). Das 60 crianças que responderam ao convite para avaliação em consulta de Alergia a Fármacos, apenas em 3 casos (5% dos estudados) se confirmou a suspeita de RHM estimando-se uma prevalência de 0,2% de RHM nesta população.14 Segundo revisão de casuística de uma base de dados europeia (Drug Allergy and Hypersensitivity Database) com 3275 doentes foi demonstrado também que a taxa de confirmação diagnóstica da suspeita de RHM é menor em idade pediátrica, observando-se a confirmação em 10,6% das crianças comparativamente a 16,5% dos adultos investigados.15 OBJECTIVO O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados do estudo diagnóstico de suspeita de RHM em crianças em idade pré-escolar observadas em Consulta de Alergia a Fármacos num Hospital Pediátrico. MATERIAIS E MÉTODOS Estudo retrospetivo abrangendo 6 anos da Consulta de Alergia a Fármacos do Hospital de Crianças Maria Pia – Centro Hospitalar do Porto (CHP) (2007 a 2012). Foram incluídos todos os doentes cuja primeira reação suspeita de hipersensibilidade (HS) ocorreu antes dos 6 anos de idade num total de 189 crianças. Estudo da suspeita de RHM A investigação diagnóstica das suspeitas de RHM iniciou-se pela colheita de uma história clínica detalhada da qual se partiu para a programação dos exames complementares de diagnóstico in vitro (pesquisa de imunoglobulinas E específicas) e in vivo (testes cutâneos e prova de provocação). O protocolo utilizado para a colheita da história clínica baseou-se na proposta do European Network for Drug Allergy – ENDA protocolo esse traduzido para português.16,17 Na anamnese foi dada particular importância ao número de reações prévias, aos fármacos envolvidos, ao motivo causal da toma do medicamento; aos sintomas e sinais referidos durante a RHM e à correlação temporal entre o seu aparecimento e a administração do fármaco/s suspeito/s; também foi contemplada a gravidade da reação, o tempo decorrido até à resolução e, ainda, quais os fármacos utilizados posteriormente e a respetiva tolerância. Considerou-se estar perante uma reação imediata quando a reação se observava até uma hora após a toma. Nos casos suspeitos de RHM grave em que testes de provocação são contraindicados e não há exames laboratoriais ou NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 testes cutâneos validados, optou-se pela manutenção da evicção do fármaco mesmo sem confirmação diagnóstica evitando estudos complementares duvidosos e contraproducentes. Na suspeita de reação a mais de um fármaco, houve a necessidade de realizar o esclarecimento diagnóstico para cada uma das classes de fármacos envolvidas. Nos casos de identificação de RHM a uma classe de fármacos com potenciais reações cruzadas, procedeu-se à identificação de alternativa terapêutica. Os doentes sem contraindicações para os procedimentos foram seletivamente submetidos à pesquisa de IgEs específicas de fármaco, a testes de picada, intradérmicos ou epicutâneos e a prova de provocação. A seleção dos exames complementares dependeu da clínica, ponderando-se o risco e o benefício associado a cada procedimento. Imunoglobulinas E específicas Para o estudo das RHM imediatas ou de “timing” mal definido envolvendo betalactâmicos realizou-se o doseamento dos níveis séricos de imunoglobulina E para benzilpenicilina, penicilina V, amoxicilina, ampicilina e cefaclor (cut-off de 0,35 KUA/L, Thermo Fisher Scientific, Uppsala, Suécia). Testes cutâneos Para os testes cutâneos por picada e intradérmicos foram utilizadas as formulações injetáveis dos fármacos a testar até às diluições máximas não irritativas descritas na literatura, utilizando soro fisiológico como controlo negativo e histamina a 10mg/ml como controlo positivo. No caso das reações a beta-lactâmicos recorreu-se também aos kits comerciais da Diater® (PPL, MDM).18 Os testes cutâneos de contacto foram usados no estudo de algumas reações cutâneas não imediatas segundo as recomendações internacionais.18 Prova de provocação A prova de provocação é proposta às crianças sem contraindicações em que os restantes estudos não se encontram validados, não são possíveis, ou são inconclusivos.19,20 Cada prova foi executada respeitando as orientações de segurança preconizadas internacionalmente e com consentimento informado de quem detinha a tutela da criança. As provas foram efetuadas em Hospital de Dia sob supervisão médica. 19,20 As doses a administrar foram calculadas com base na idade/ peso de cada criança. As doses atingidas no final da provocação correspondiam à dose total de uma toma no caso de reações imediatas após uma única toma ou à dose total de um dia de terapêutica nas reações não imediatas, com relação temporal com a administração mal definida e naquelas que ocorreram após várias tomas RESULTADOS No período considerado foram observadas 189 crianças com idade inferior a seis anos no momento da primeira RAM. A idade média da amostra foi de dois anos e quatro meses e encontramos uma predominância do género masculino (61% dos casos). Os fármacos suspeitos mais vezes envolvidos nas RHM foram os beta-lactâmicos implicados em 82% do total das reações: 39% (60/155) dos casos amoxicilina, 44% (69/155) associação amoxicilina com ácido clavulânico, cefalosporinas em 11% (17/155) e a penicilina em 6% dos casos (9/155). Os AINEs foram suspeitos em 11% das reações: ibuprofeno em 76% (16/21) e paracetamol nos restantes casos. Em 13 dos doentes investigados encontramos outros fármacos suspeitos: sulfametoxazol+trimetoprim (2), gentamicina (1), vecurónio (1), mebendazol (1), dimetindeno (1), nitrofurantoína (2), azitromicina (2), claritromicina (2), e à associação pseudoefedrina com triprolidina (1). Os fármacos implicados foram utilizados, na maioria dos casos, em contexto infecioso: 48 casos por amigdalite aguda e 33 casos por otite média aguda. Menciona-se ainda prescrição em 20 crianças por febre sem foco, em sete por ITU, dois por gastroenterite, sete administrações de carácter profilático (quatro por cirurgia, três por procedimentos diagnósticos) e uma durante exame oftalmológico. Não se conseguiu apurar motivo de prescrição em 49 crianças. As reações foram imediatas em 34 (18%) casos incluindo sete reações anafiláticas. Os sintomas surgiram em média no terceiro dia de tratamento observando-se, no entanto, casos com início até ao décimo dia. Os sintomas cutâneos foram os mais referidos surgindo em 90% (170/189) das reações descritas; exantemas maculopapulares em 74%, e urticária/angioedema em 26%. As reações motivaram o recurso ao Serviço de Urgência em 57% dos casos; metade das crianças necessitou de tratamento, mas apenas em dois casos houve administração de adrenalina documentada. Estudo complementar Não se submeteram a estudos complementares três crianças cuja história clínica não era compatível com reação de hipersensibilidade a fármacos. Em sete crianças com suspeita de RHM manteve-se a evicção apesar de não ter havido confirmação ou exclusão diagnóstica cabal. Uma apresentava clínica sugestiva de doença soro-like associada a tratamento com amoxicilina. Nesta criança foi negativa a pesquisa de IgEs para beta-lactâmicos e a prova de provocação a cefixima, fármaco que foi proposto como alternativa possível tendo-se assumido o diagnóstico de presunção de doença soro-like por amoxicilina. Outras duas crianças apresentaram manifestações cutâneas consideradas graves, nomeadamente Stevens-Johnson e eritema multiforme sendo a amoxicilina o fármaco suspeito. Face à existência de alternativas terapêuticas já conhecidas, não se realizou estudo adicional. As restantes quatro crianças apresentaram suspeita de reação a fármacos não essenciais e com alternativas reconhecidamente toleradas e eficazes, pelo que também não se justificou a progressão do estudo (quatro reações não imediatas: ao mebendazol, dimetindeno, nitrofurantoína e à associação pseudoefedrina com triprolidina). Consideraram-se inconclusivos 61 casos, em que não foi possível confirmar ou excluir HSM por não se ter concluído a artigos originais original articles 17 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 investigação diagnóstica, ou por apenas terem sido realizados testes de provocação com fármacos alternativos. Dos 118 doentes (62% da amostra inicial) que completaram todo o estudo proposto foi possível excluir a suspeita inicial de HS em 112 crianças após realização de teste de provocação diagnóstico com resultado negativo e apenas se documentou a existência de hipersensibilidade em seis crianças (5% dos que completaram todos os procedimentos diagnósticos propostos). Os dados relativos a estes seis doentes apresentam-se na Tabela 1: Em resumo O estudo foi considerado conclusivo em 118 crianças. Confirmou-se hipersensibilidade medicamentosa em seis crianças correspondendo a 5% das que completaram o estudo. Em quatro casos, a responsabilidade foi atribuída a antibióticos beta-lactâmicos, em um caso à atropina e noutro caso ao paracetamol. Excluiu-se HS nas restantes 112 crianças (95%). Não se registaram intercorrências importantes durante o processo diagnóstico. DISCUSSÃO O presente trabalho apresenta dados relativos ao estudo de RHM em crianças de idade pré-escolar. Verificou-se um predomínio do género masculino, tal como habitualmente descrito em idade pediátrica e que contrasta com o que se observa em estudos de RHM em adultos.21 Os fármacos implicados refletem o padrão de prescrição e utilização de fármacos neste grupo etário, surgindo os antibióticos beta-lactâmicos e os AINEs como os grupos farmacológicos mais relevantes, tal como observado por outros autores.3,4,8 As reações cutâneas, sobretudo os exantemas maculopapulares, são aquelas que mais frequentemente levam à suspeita de RHM nestas idades e estavam presentes na maioria dos casos da presente série (90%). No presente trabalho, apenas 18% dos casos correspondiam a reações imediatas, percentagem similar à observada em trabalhos de outros autores.15,22,23 A investigação realizada permitiu confirmar o diagnóstico em seis doentes (5%) dos que completaram o protocolo. Quatro doentes foram diagnosticados por testes cutâneos e dois por prova de provocação positiva. Se considerarmos a totalidade dos doentes referenciados à consulta de alergia a fármacos, com os sete doentes cujo diagnóstico foi de presunção embora sem confirmação, teremos 13 doentes (7% do total de referenciados) diagnosticados com RHM. Os resultados finais da investigação alergológica são similares aos obtidos em outros estudos que referem taxas de confirmação diagnóstica entre os 5% e os 15%.15,22,23 Valores mais elevados são possíveis em populações mais selecionadas (só casos graves, reações imediatas, só beta-lactâmicos) em que as taxas de confirmação podem atingir os 58%.24 A maioria das crianças realizou terapêutica num contexto de infeção respiratória alta. A elevada incidência e ampla variabilidade de reações exantemáticas associadas a infeções, nomea- Tabela 1. Dados dos doentes com investigação conclusiva e positiva. Sexo Idade na R Tipo de Reação Fármacos IgE 5 Anafilaxia, RI Ceftriaxona EV Neg. 1 Exantema e prurido, RNI Ceftriaxona EV 5 Exantema maculopapular, RNI Cefixima® oral 4 Urticária e edema local, RI Atropina colírio oftálmico 2 Urticária generalizada e vómitos, RI Amoxicilina oral 3 Urticária generalizada, RI Cefatrizina® oral M 5 Urticária e edema articular, RNI Amoxicilina/ác.clav. oral Neg. PPO Amoxicilina® Neg PPO Amoxicilina-ácido clavulânico® Pos. (dose 40mg) M 5 Angioedema e sintomas nasais, RI Paracetamol oral ---- PPO paracetamol Pos. (RI com 500mg) PPO ibuprofeno Neg. PPO AAS Neg M F M F Tolerância Conclusão TC ID Pos. (ceftriaxona 2mg/ml) PPO Amoxicilina Neg. Amoxicilina HS Ceftriaxona Neg. TC Patch Pos. (ceftriaxona 5%) PPO Claritromicina Neg. Recusou PPO Amoxicilina Claritromicina HS Cefalosporinas ---- Prick positivo com atropina colírio (5%) Neg Estudos In vivo TC Prick Pos. (Amoxicilina/ác.clav.20mg/ml) HS Atropina Macrólidos HS B-Lactâmicos Amoxicilina HS Ác.Clavulânico TC ID PPL positivo (5x105mM) Ibuprofeno HS Paracetamol Aspirina legenda: Idade na R – Idade da criança aquando da reação; IgE – Imunoglobulina E específica; M – masculino; F – Feminino; RI – reação imediata; RNI – reação não imediata; EV – endovenosa; Neg. – Negativo; Pos. – Positivo; HS – hipersensibilidade; PPO – Prova de provocação oral; ID – intradérmicos; TC – Testes cutâneos; PPL - Penicilloyl-poly-L-lysine; PV – Penicilina V; AAS – Acido acetilsalicílico; Ac.clav. – ácido clavulânico. 18 artigos originais original articles NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 damente víricas, nesta faixa etária têm sido apontadas como possível explicação para a baixa taxa de confirmação de RHM nestas idades.25 Foi ainda observado que nas reações exantemáticas maculopapulares a confirmação da suspeita de RHM nas crianças é inferior à observada em adultos (3,1% versus 12,8%), o que reforça a hipótese da importância dos exantemas infeciosos como possível diagnóstico diferencial.15 A pesquisa de IgEs específicas isoladamente não contribuiu de forma significativa para o diagnóstico de HS. Foi possível a confirmação de HS em doentes com IgEs negativas, bem como a exclusão de HS por testes cutâneos e provocação oral em um doente com IgEs específicas positivas, o que está de acordo com os dados da literatura que apontam para uma especificidade de 90% e uma sensibilidade de 50% do referido teste.26,27 Os testes cutâneos permitiram diagnosticar quatro casos de RHM. Para os beta-lactâmicos está documentada uma maior sensibilidade destes testes face à pesquisa de IgE específicas, o que é apoiado também pelos nossos resultados.26, 28 A prova de provocação é o exame de referência no estudo da alergia a fármacos e permite esclarecer os casos em que o estudo in vitro e os testes cutâneos são inconclusivos.19,20 A sua realização é fundamental para confirmar ou excluir a suspeita de RHM na maioria dos casos, sobretudo quando os fármacos suspeitos são os AINEs. Adicionalmente permitem identificar alternativas terapêuticas seguras para doentes com RHM já diagnosticada.20,29-32 No presente trabalho a prova de provocação permitiu excluir a suspeita de RHM em 112 crianças e encontrar alternativas terapêuticas em duas crianças, uma com HS à ceftriaxona e numa outra com HS ao paracetamol. Nos casos que realizaram apenas estudo parcial, as provas de provocação também foram úteis para exclusão de algumas das suspeitas de hipersensibilidade medicamentosa e aconselhamento de alternativas terapêuticas A recusa de investigação da suspeita de RHM ainda é significativa (32% na presente série) e pode ser parcialmente explicada pela faixa etária avaliada no presente estudo, sendo este aspeto pouco mencionado na literatura. A caracterização do motivo não constou do objetivo do presente estudo, podendo dever-se a receio dos pais de que os procedimentos sejam dolorosos ou que ocorra alguma reação grave. Contudo, a ausência de intercorrências significativas registadas neste e noutros estudos demonstra que, cumprindo as medidas preconizadas internacionalmente, é possível realizar de forma segura e eficaz a investigação da HS medicamentosa neste grupo etário.33,34 A investigação realizada possibilitou excluir a suspeita de HS a fármacos em 95% das crianças que completaram o protocolo. Globalmente e incluindo os que não tinham clínica compatível, excluiu-se HS a fármacos em 61% das crianças referenciadas. A confirmação de RHM reserva apenas a estes doentes a necessidade de criteriosa seleção de alternativas terapêuticas. A exclusão diminui receios na utilização futura e limitações terapêuticas desnecessárias.34,35 A necessidade de esclarecimento etiológico neste grupo etário é importante, não só pela prevalência significativa de autode- claração de alergia medicamentosa que condiciona a prescrição médica, mas também pela maior incidência de infeções e menor disponibilidade de alternativas terapêuticas seguras. CONCLUSÃO Os fármacos mais vezes implicados nas suspeitas de RHM na infância são os beta-lactâmicos e o quadro clínico mais frequente é o de reação cutânea maculopapular não imediata. A suspeita surge muitas vezes no decurso de tratamento de intercorrência infeciosa do aparelho respiratório. Apesar da prevalência relativamente elevada de suspeitas de RHM em idades pediátricas, a taxa de confirmação das mesmas é baixa, o que pode ser parcialmente explicado pelas manifestações cutâneas que frequentemente acompanham as intercorrências infeciosas na infância. É possível realizar em segurança a investigação diagnóstica de casos suspeitos de RHM, mesmo em crianças em idade pré-escolar. Tal investigação permite excluir na maioria dos doentes a suspeita infundada de RHM e a consequente limitação terapêutica. Nos casos em que o diagnóstico de RHM se confirma é fundamental o aconselhamento sobre alternativas farmacológicas a usar no futuro. A referenciação à Consulta de Alergia a Fármacos possibilita reduzir os falsos diagnósticos de alergia medicamentosa e a correta orientação dos doentes com RHM confirmada. AGRADECIMENTOS Expressa-se o agradecimento, pelo apoio na elaboração da base de dados, à Dra. Patrícia Carvalho, Interna Complementar de Pediatria do Serviço de Pediatria do Hospital Santa Luzia – Unidade Local de Saúde do Alto Minho. EM DESTAQUE As reações de hipersensibilidade medicamentosa (RHM) são efeitos adversos reprodutíveis de fármacos que desencadeiam sintomas alérgicos, em doses toleradas por indivíduos normais, cuja autodeclaração em idade pediátrica ascende até 6,4%. O estudo metódico das suspeitas de RHM permite a exclusão da mesma na maioria das crianças (até 95%), permitindo limitar a evicção dos fármacos implicados aos casos confirmados. HIGHLIGHTS Drug hypersensitivity reactions (DHRs) are the adverse effects of drugs, taken at a dose tolerated by normal subjects, which clinically resemble allergy that can be self-declared in up to 6,4% of children. Its methodic study is able to exclude suspected DHRs in most children (up to 95%), restricting drug avoidance only to those with confirmed diagnosis. artigos originais original articles 19 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. World Health Organization. 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Other clinical manifestations, when present, are usually nonspecific, with prevalence of neurologic symptoms that reflect intracellular dehydration. Some complications, especially seizures, occur most frequently during treatment. Therefore, the management and treatment of this condition should be cautious and requires a thorough understanding of the underlying hydroelectrolytic disorder to prevent the brain cells´ overhydration. The practitioners should continue to recommend breastfeeding as the best method of nourishing healthy infants. There should be a high level of suspicion and early recognition of the underlying breastfeeding problems before the onset of serious and sometimes life-threatening dehydration. Keywords: hypernatremia, dehydration, neonates, risk factor, breastfeeding. RESUMO No passado, a hipernatrémia nos recém-nascidos saudáveis ocorria frequentemente por diluições incorretas do fórmula para lactantes (hiperconcentrado em sódio). Atualmente, a ingestão insuficiente de leite materno tem sido referida como a causa mais comum de desidratação hipernatrémica no recém-nascido de termo saudável. O diagnóstico é habitualmente feito de forma acidental durante a pesagem do recém-nascido e no caso de perda ponderal importante. As manifestações clínicas, quando presentes, são habitualmente inespecíficas e tardias, predominando a sintomatologia neurológica como resultado de uma desidratação intracelular. O tratamento deve ser cauteloso de forma a prevenir o aparecimento de complicações, sobretudo as convulsões, que podem surgir durante a correção rápida da hipernatrémia por sobrehidratação das células neuronais. Os profissionais de saúde devem continuar a recomendar o aleitamento materno exclusivo como o método de eleição para a nutrição de recém-nascidos saudáveis. Contudo, é fundamental um elevado nível de suspeição e um reconhecimento precoce das principais dificuldades subjacentes à amamentação, antes da instalação de uma desidratação grave e potencialmente fatal. Palavras-chave: hipernatrémia, desidratação, recém-nascido, factores de risco, aleitamento materno. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 22-6 __________ S. de Pediatria Médica do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central. 1169-045 Lisboa, Portugal. [email protected] II S. de Pediatria Médica do Hospital Vila Franca de Xira. 2600-009 Vila Franca de Xira, Portugal. [email protected] III S. de Pediatria da Maternidade Dr. Alfredo da Costa, Centro Hospitalar Lisboa Central. [email protected] I 22 artigos de revisão review articles NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INTRODUÇÃO As estratégias globalmente adotadas para promoção, apoio e incentivo à amamentação resultaram no aumento das taxas de aleitamento materno em muitos países. Com esta tendência crescente, é essencial saber reconhecer as dificuldades que podem condicionar a lactação.1 A desidratação hipernatrémica neonatal tem sido descrita em recém-nascidos (RN) saudáveis, com problemas na amamentação, sobretudo na primeira semana da vida.2-4 Nas últimas décadas, tem sido relatada uma incidência crescente desta condição nos RN em aleitamento materno exclusivo.2-5 A hipernatrémia neonatal é uma condição potencialmente grave, que pode determinar complicações neurológicas graves e permanentes, sobretudo na presença de alterações agudas e rápidas nos níveis séricos de sódio.5-7 A desidratação hipernatrémica associada ao aleitamento materno exclusivo surge fundamentalmente por défice de aporte de leite, maioritariamente como resultado de uma lactação insuficiente. A importância do teor de sódio no leite materno como fator predisponente para a hipernatrémia neonatal permanece incerta. Inicialmente a concentração de sódio no colostro é elevada e vai reduzindo progressivamente com a maturação do leite, estabilizando por volta da segunda semana de lactação. Alguns estudos têm demonstrado que a redução da frequência da amamentação se associa a um aumento importante na concentração de sódio do leite materno. Possivelmente, este alto teor de sódio no leite materno não é causa direta da hipernatrémia neonatal, mas pode contribuir para esta condição.3 São vários os fatores que podem determinar o insucesso do aleitamento materno, quer sejam maternos, neonatais ou psicosociais.2 Os principais problemas identificados na falência da amamentação são as dificuldades técnicas (mau posicionamento ou pega incorreta) fundamentalmente por desconhecimento ou inexperiência materna, bem como fatores psicológicos (cansaço, ansiedade, medo de falhar) e patologias mamárias (mastite, mamilos invertidos, cirurgias mamárias prévias). Condições neonatais, como a prematuridade, alterações anatómicas orofaciais e dificuldades de coordenação, podem resultar no esvaziamento inadequado da mama com consequente ingurgitamento e diminuição da estimulação da lactogénese.8 OBJECTIVO Os autores pretendem elaborar uma revisão bibliográfica sobre a desidratação hipernatrémica no recém-nascido com especial enfoque na fisiopatologia e abordagem terapêutica desta patologia. MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS A hipernatrémia corresponde a um distúrbio hidroelectrolítico onde se verifica um défice de água em relação ao sódio (Na+) corporal total.9 Em termos laboratoriais, a hipernatrémia é definida por um nível sérico de sódio superior a 145 mEq/L, embora alguns autores considerem acima de 150 mEq/L.10 Os RN são um grupo particularmente suscetível de desenvolver hipernatrémia, face à sua área corporal reduzida e à sua dependência para administração de fluídos.7 O sódio é o principal catião do espaço extracelular e o principal determinante da osmolaridade do fluido extracelular. A hipernatrémia desencadeia o fluxo de líquidos do espaço intracelular para o espaço extracelular na tentativa de manter o equilíbrio osmótico, aumentando a osmolaridade sérica. Por conseguinte, ocorre uma desidratação cerebral transitória. O cérebro pode reduzir o seu volume 10 a 15% na hipernatrémia de instalação aguda, podendo ocorrer a separação física entre o cérebro e as meninges, resultando na rotura de delicadas veias. Hemorragia cerebral, trombose do seio venoso e desmielinização podem ocorrer nos casos mais graves. Quando a hipernatrémia se instala de forma mais lenta, iniciam-se mecanismos de adaptação cerebral que visam o restabelecimento do volume intracelular. Como mecanismo de neuroproteção, as células neuronais produzem osmóis idiogénicos (aminoácidos e substâncias orgânicas não mensuráveis) que permitem manter a água no espaço intracelular. Na presença de uma correção rápida da hipernatrémia pode ocorrer um aumento excessivo do volume em água nas células neuronais, resultando em edema cerebral.11 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O RN com desidratação hipernatrémica pode apresentar-se surpreendentemente bem, sendo os sinais clássicos de desidratação (diminuição do turgor cutâneo, olhos encovados, fontanela deprimida) geralmente inexistentes.3,5 Com frequência, os pais não denotam numa fase inicial que a criança não ingere leite suficiente, sobretudo se é o primeiro filho e, se dorme muito ou chora pouco, pode ser incorretamente interpretado como um sinal de saciedade.12 Os sintomas decorrentes da hipernatrémia (hiperosmolaridade) são predominantemente neurológicos pois traduzem uma desidratação das células neuronais. Os achados mais precoces são muitas vezes subtis e inespecíficos, incluindo irritabilidade, agitação e letargia, que podem, posteriormente, progredir para convulsões, coma e mesmo morte nos casos mais severos.6 A mortalidade neonatal é superior a 10% quando os níveis séricos de sódio excedem 160 mmol/L. As convulsões estão descritas em cerca de 40% das situações agudas de hipernatrémia.5 A gravidade destes sintomas não está relacionada apenas com o grau de hiperosmolaridade, mas sobretudo com a velocidade de instalação. As complicações graves da desidratação hipernatrémica podem incluir hemorragia intracraniana (parenquimatosa, intraventricular ou subaracnoídea), trombose do seio venoso, trombose arterial, trombose da veia renal e, menos frequentemente, coagulação intravascular disseminada e insuficiência renal.5,6 O diagnóstico clínico é muitas vezes acidental e ocorre durante a pesagem do RN em situações de perda ponderal significativa. Uma perda ponderal superior a 7% do peso ao nascimento, na primeira semana de vida, deve ser valorizada e o RN devidamente avaliado.5 Boskabadi et al verificaram que 88,6% dos RN amamentados, com desidratação hipernatrémica, apresentaram perdas ponderais superiores a 10% do peso ao nascimento. Contudo, estão descritas situações de desidratação hipernatrémica neonatal mesmo com perdas ponderais inferiores a 10%.2 artigos de revisão review articles 23 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 A presença de febre no RN focaliza, muitas vezes, a atenção para patologia do foro infecioso, mas pode constituir uma manifestação inicial de desidratação.5 Os sinais de alarme que devem motivar a observação e avaliação do RN, por serem potenciais indicadores de uma amamentação ineficaz, são a diminuição do número de dejeções e micções (inferior a seis por dia), icterícia, sucção débil, sonolência excessiva e intervalos longos entre as mamadas.3,5 ABORDAGEM TERAPÊUTICA São escassos os estudos publicados que especificam a melhor abordagem terapêutica na desidratação hipernatrémica.1 A correção da hipernatrémia é complexa e deve ser cautelosa, pois podem surgir determinadas complicações no contexto de uma terapêutica inadequada. A rehidratação agressiva pode resultar numa rápida descida da osmolaridade do líquido extracelular (LEC), conduzindo a edema cerebral e morte, particularmente nas primeiras 24h de rehidratação.13,14 A correção lenta da hiperosmolaridade do LEC com a repleção de água conduz à dissipação dos electrólitos e osmólitos orgânicos acumulados, ocorrendo habitualmente em dois a três dias.14,15 Desta forma, a correcção da hipernatrémia deve ser efetuada em tempo igual ou superior a 48 horas sendo que, quanto maior a hipernatrémia, mais lenta deverá ser a correção.14,16 As recomendações sugerem uma velocidade máxima de descida dos níveis séricos de sódio de 15 mEq/L/24h ou 0,6 mEq/L/h, prevenindo o desenvolvimento de edema cerebral.16,17 A escolha das soluções intravenosas mais adequadas para a correção da desidratação hipernatrémica e o ritmo de perfusão são temas de grande controvérsia na literatura.13,17,18 Num estudo retrospetivo que envolveu 97 crianças com desidratação hipernatrémica e com um nível médio sérico de sódio de 165 mEq/L, verificou-se que a velocidade de rehidratação e a gravidade da hipernatrémia constituiram fatores de risco para o desenvolvimento de edema cerebral durante a correção da desidratação. Fang C et al verificaram ainda que a administração inicial de bólus de soro fisiológico, para expansão rápida do volume plasmático, pareceu constituir também um fator de risco para o desenvolvimento de edema cerebral14. Em casos de hipernatrémia grave com valores séricos superiores a 170 mEq/L, a infusão de grandes volumes de bólus de soro fisiológico pode determinar uma descida rápida da natrémia. Nestas situações, o soro fisiológico (conteúdo de sódio 154 mEq/L) revela-se, na verdade, relativamente hipotónico em relação à tonicidade elevada do soro do doente. Este conceito é partilhado por outros autores que recomendam a expansão plasmática com soluções preparadas sob medida, com conteúdo de sódio superior ao do soro fisiológico, no caso de hipernatrémia grave, para evitar a descida rápida dos níveis séricos de sódio.18 Legendas: (h) Se doente hemodinâmicamente instável; (i) Défice de água livre (ml) = [0,7 x peso (g) x ((Na+ sérico / Na+ desejado) – 1)]; (j) NaCl a 0,45% = (50 mL de SF + 50 mL de água destilada); NaCl a 0,9% = SF; (m) Preparar soro isotónico em relação ao plasma. Equação para calcular a quantidade de NaCl a 20% para completar 100 mL de soro (preparar com água destilada na fase de emergência, na fase de rehidratação com S. Glic 5%): (mL) = [(Na+ sérico - 15) / 3,4]; (n) Juntar gluconato de cálcio e, após iniciar diurese, cloreto de potássio; (o) Manter via entérica se boa sucção e tolerância alimentar; (p) Soro salino a 3% (85 mL de água destilada + 15 mL de NaCl a 20%). Cada 1 mL/Kg de NaCl a 3% faz subir 1 mEq/L no Na+ sérico. Figura 1. Algoritmo de tratamento da desidratação hipernatrémica no recém-nascido. Abreviaturas: SF – soro fisiológico; NaCl – cloreto de sódio; S. Glic – soro glicosado; [Na+] – concentração de sódio 24 artigos de revisão review articles NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 De uma forma prática, a abordagem da desidratação hipernatrémica deve ser realizada em duas fases: a fase de emergência (reposição do volume intravascular no caso de hipovolémia significativa), seguida da fase de rehidratação (figura 1). Na fase de expansão vascular está indicada a administração de bólus de 10 a 20 mL/Kg de soro, podendo ser repetido se necessário.17,19,20 No caso de hipernatrémia inferior a 170 mEq/L está recomendada a utilização de soro fisiológico. Se a desidratação hipernatrémica for igual ou superior a 170 mEq/L, deverá ser administrado bólus de soro preparado com uma concentração de sódio no máximo 15 mEq/L abaixo da natrémia do doente. Nesta situação, o soro fisiológico é relativamente hipotónico e contém água livre suficiente, que se for dado em volumes significativos, pode diminuir a natrémia de forma demasiado rápida. A preparação de um soro isotónico em relação ao plasma do doente pode ser calculada recorrendo à seguinte fórmula: (mL) = [(sódio sérico do doente - 15) / 3,4], que representa a quantidade de cloreto de sódio (NaCl) a 20% a adicionar para completar 100 mL de soro (feito com água destilada).17 Na fase seguinte de rehidratação, a correção deve ser efetuada em tempo igual ou superior a 48 horas (nº de dias para correção: [(sódio sérico – 145) / 15]. O volume total de líquidos a administrar nesta fase corresponde ao somatório das necessidades hídricas diárias (volume de manutenção) com o défice de água livre. Para o cálculo das necessidades diárias de manutenção está recomendado 100 mL/Kg/dia, pois parece estar associado a menor risco de desenvolvimento de edema cerebral19. Assumindo que 70% do peso corporal do RN é água, o défice de água livre será (mL) = [0,7 x peso (g) x ((Na+ sérico / Na+ desejado) – 1)].17 Em situações de hipernatrémia é frequente ocorrer hiperglicémia e hipocalcémia.21-23 Desta forma, o soro intravenoso a utilizar na fase de rehidratação deverá conter sódio, cálcio, glicose a 5% (fornece cerca de 20% das necessidades calóricas diárias) e, após normalização da função renal e diurese, deverá ser adicionado potássio. A monitorização clínica e laboratorial deve ser realizada a cada quatro horas, com o respetivo ajuste da solução intravenosa (osmolaridade e/ou velocidade de perfusão), de modo a assegurar a descida lenta da natrémia, a um ritmo inferior a 0,6 mEq/L/h.17 Durante o tratamento da desidratação hipernatrémica o surgimento de convulsões é a manifestação clínica mais comum de edema cerebral. Nesta situação está recomendada a administração de NaCl a 3% (85 mL de água destilada + 15 mL de NaCl a 20%), na dose de 4 a 6 mL/Kg, sendo que cada 1 mL/ Kg de NaCl a 3% aumenta 1 mEq/L na concentração sérica de sódio.17, 24 DISCUSSÃO A amamentação é universalmente considerada a melhor e mais segura forma de alimentação para os RN.3 O défice de aporte de leite é reconhecido como a causa mais importante de desidratação hipernatrémica no RN de termo, saudável, alimentado exclusivamente com leite materno.4 Pode estar na origem de complicações potencialmente graves, predominantemente neurológicas.7 A deteção precoce da desidratação hipernatrémica constitui um desafio clínico tendo em conta as manifestações iniciais frequentemente variáveis e inespecíficas.4 Uma perda ponderal superior a 10% do peso ao nascimento é o achado mais habitual, podendo estar associado a febre, icterícia e diminuição do número de dejeções e micções diárias.2 Estes sinais devem constituir indicação para avaliação clínica e, eventualmente, laboratorial do RN. O aleitamento materno deve ser apoiado e encorajado na maternidade e acompanhado após a alta. A pesagem do RN antes da alta e na primeira semana de vida constitui um método simples e de baixo custo, constituindo uma potencial forma de identificar dificuldades na amamentação e de reconhecer precocemente uma desidratação iminente.3,5 Esta medida vai de encontro com as recomendações da Academia Americana de Pediatria sobre o aleitamento materno, que preconiza a observação de todos os RN nas 48 a 72 horas após a alta hospitalar.25 Esta estratégia tem particular importância na presença de fatores de risco, quer sejam maternos ou neonatais, que possam interferir de forma negativa no êxito da amamentação. O apoio materno adequado, em simultâneo com a vigilância do RN será, certamente, determinante na redução da incidência de desidratação hipernatrémica associada ao aleitamento materno.4,7 A correcção da desidratação hipernatrémica deve ser prudente, com a devida mensuração do défice de água livre e do ritmo de hidratação, de forma a prevenir o surgimento de complicações como o edema cerebral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Pelleboer RA, Bontemps ST, Verkerk PH, Van Dommelen P, Pereira RR, Van Wouwe JP. A nationwide study on hospital admissions due to dehydration in exclusively breastfed infants in the Netherlands: its incidence, clinical characteristics, treatment and outcome. Acta Paediatr 2009; 98: 807-11. 2. Boskabadi H, Maamouri G, Ebrahimi M, Ghayour-Mobarhan M, Esmaeily H, Sahebkar A, et al. Neonatal hypernatremia and dehydration in infants receiving inadequate breastfeeding. Asia Pac J Clin Nutr 2010; 19; 301-7. 3. Krishnamurthy S, Debnath S, Gupta G. 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Pediatrics 2012; 129: 827-41. 26 artigos de revisão review articles ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Vânia Sousa: Largo Conde de Ottolini nº3, 3ºesq, 1500-101 Lisboa Email: [email protected] Recebido a 24.07.2015 | Aceite a 02.11.2015 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Marcha em pontas idiopática em idade pediátrica Sara DominguesI; Cláudia MeloII; Catarina MagalhãesIII; Sónia FigueiroaIII; Inês CarrilhoIII; Teresa TemudoIII IDIOPATHIC TOE WALKING IN CHILDREN AND ADOLESCENTS ABSTRACT Toe walking has an estimated incidence of 7-24% in the general pediatric population and is a frequent cause of referral to outpatient pediatric neurology. Idiopathic toe walking occurs in healthy children without spasticity and normal osteotendinous reflexes, is evident from the beginning of independent gait and always bilateral and not progressive. The etiology is unknown, so it is a diagnosis of exclusion. Thus, in evaluating these children is essential to be alert to sensory or motor signs because this gait pattern may be the first sign of pathologies such as cerebral palsy, congenital muscular dystrophy or autism spectrum disorder. Therapeutic options include more conservative treatments such as physiotherapy, use of orthopedic footwear, splints or orthotics; or more invasive treatments such as use of serial casts, botulinum toxin or surgery. The aim of this article is: to address epidemiological and pathophysiological aspects, review the clinical presentation and differential diagnosis and propose guidelines for the monitoring and treatment of idiopathic toe walking in pediatric age. Keywords: Achilles tendon, equinus deformity, gait disorders, pediatric age. RESUMO A marcha em pontas tem uma incidência de 7-24% na população pediátrica em geral e é uma causa relativamente frequente de referenciação à consulta de neurologia pediátrica. A marcha em pontas idiopática ocorre em crianças saudáveis, sem espasticidade e com reflexos osteotendinosos normais; é evidente desde o início da marcha autónoma, sempre bilateral e não progressiva. A sua etiologia é desconhecida, pelo que se trata de um diagnóstico de exclusão. Assim, na avaliação destas crianças é essencial estar alerta para sinais sensoriais ou motores, pois este padrão de marcha pode ser o primeiro sinal de patologia tal como paralisia cerebral, distrofia muscular congénita ou perturbação do espectro do autismo. As opções terapêuticas passam por tratamentos conservadores, como fisioterapia, utilização de calçado formativo, talas ou ortóteses, ou tratamentos mais invasivos, como uso de gessos seriados, aplicação de toxina botulínica ou cirurgia. Neste artigo de atualização pretende-se: abordar alguns aspetos epidemiológicos e fisiopatológicos, rever a apresentação clinica e diagnósticos diferenciais e propor orientações para o seguimento e tratamento em idade pediátrica. Palavras-chave: Idade pediátrica, marcha em pontas, pé equino, tendão de Aquiles. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 27-34 __________ S. de Pediatria - Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. 4565-007 Penafiel, Portugal. [email protected] II S. de Pediatria - Centro Hospitalar do Médio Ave. 4780-371 Santo Tirso, Portugal. [email protected] II S. de Neuropediatria - Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] I artigos de revisão review articles 27 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INTRODUÇÃO E OBJECTIVOS A marcha em pontas é caracterizada pela ausência de contato do calcanhar com o chão na fase do contato inicial da marcha.1-4 A marcha em pontas idiopática define-se como uma marcha em pontas persistente após os dois anos de idade, em criança com desenvolvimento psico-motor adequado e que é capaz de apoio plantar completo na posição de pé.5 A importância da revisão deste tema prende-se com o facto de ser uma causa relativamente frequente de referenciação à consulta de neurologia pediátrica ou de ortopedia e uma possível causa de dor nos membros inferiores, quedas ou tropeços frequentes, dificuldades na prática de desporto ou ainda ser motivo de “bullying”.6, 7 Apresenta-se uma revisão bibliográfica versando a fisiopatologia, epidemiologia, etiologia, anamnese e exame objetivo, diagnóstico, diagnósticos diferenciais, complicações e orientação. Com esta revisão procura-se estabelecer uma linha orientadora de atuação na marcha em pontas idiopática em idade pediátrica (Anexo I). DESENVOLVIMENTO Fisiologia da marcha A marcha imatura (em criança com idade inferior a três anos) tem características especiais que a distinguem do padrão da marcha maduro:8, 9 •Maior flexão da anca, joelho e tornozelo, com centro de gravidade mais baixo, o que facilita o equilíbrio; •Membros superiores em abdução, com cotovelos estendidos, para aumentar o tónus axial e permitir também maior equilíbrio; •Rotação externa do pé, com base de suporte mais alargada; •Menor percentagem de tempo num só apoio; •Maior cadência mas menor velocidade devido a menor comprimento da passada. Epidemiologia A incidência na população pediátrica em geral ronda os 7-24%.1,6,10 Engström P. e colegas, num estudo realizado com 1436 crianças com 5,5 anos de idade, demonstraram uma prevalência de marcha em pontas idiopática de 2%.7 Nas crianças com perturbação cognitiva ou neuropsiquiátrica, a prevalência foi bastante mais elevada (41%). Etiologia Embora atualmente se considere mais provável uma causa neurogénica, a etiologia da marcha em pontas idiopática permanece desconhecida. Ao longo dos anos têm sido colocadas várias hipóteses.1,10-13 •Tendão Aquiliano curto; •Anomalia do músculo solear; •Origem no sistema nervoso central; •Atraso da maturação do feixe cortico-espinal; •Disfunção vestibular; •Origem neurogénica; 28 artigos de revisão review articles •Hereditária: transmissão autossómica dominante, com penetrância variável; •Vírus; •Uso de “voadores”; •“Hábito”; •Fase de desenvolvimento normal e transitória e que desaparece três a seis meses meses após marcha autónoma ou pelos sete anos de idade. Apresentação clínica Marcha em pontas idiopática é um diagnóstico de exclusão, que só pode ser estabelecido na ausência de sinais de doença neurológica ou psiquiátrica, esquelética, reumatológica, metabólica ou do colagénio.12 A marcha em pontas idiopática surge desde o início da marcha autónoma, é bilateral e simétrica, ocorre em pelo menos 25% do tempo total de marcha e tem uma duração superior a três meses.1,3,9 É frequente estas crianças terem familiares em primeiro ou segundo grau que também tenham um padrão de marcha em pontas ou antecedentes desta perturbação em crianças (~ 30-40%).9,10 Williams C. e colegas encontraram uma associação entre marcha em pontas e a predominância da mão esquerda. Sendo já conhecida a associação da predominância da mão esquerda com dificuldade nas tarefas espaciais e com dislexia, os autores especulam que este achado possa estar correlacionado com alterações neurológicas complexas neste grupo de crianças4. Embora alguns autores refiram predominância do sexo masculino, a maioria defende que não existem diferenças entre géneros.2, 5 Para considerar este diagnóstico, é necessário excluir a presença de fraqueza muscular progressiva ou alterações relevantes ao exame objetivo. A dorsiflexão passiva da articulação tibio-társica com o joelho estendido deve ser de pelo menos 10º, embora a longo-termo se possa considerar este diagnóstico numa criança que apresente limitação da dorsiflexão (como uma consequência da contração muscular prolongada).5, 12 Crianças com marcha em pontas idiopática caracterizam-se por apresentarem uma marcha coordenada e eficiente, com bom equilíbrio e uma base normal; terem capacidade de corrida, marcha para a frente e para trás sem dificuldade e capacidade de marcha em calcanhares por períodos.10 CARACTERÍSTICAS DA MARCHA EM PONTAS IDIOPÁTICA Fisiológicas6 •Pico de dorsiflexão e flexão plantar prematuros; •Flexão plantar exacerbada na fase de balanço e de contacto; •Ausência do contacto inicial do calcanhar com o solo; •Ausência da flexão anterior da tíbia sobre o pé, após o contacto inicial com o solo; •Diminuição da elevação do calcanhar após flexão plantar; •Rotação externa adaptativa da anca e tíbia e pé abducto. Electrofisiológicas, histológicas e sensoriais Estudos de eletromiografia revelaram uma ativação precoce do gastrocnémio na fase de balanço.3, 6 Contudo, foram descritas alterações idênticas nas crianças com paralisia cerebral, pelo que a eletromiografia não é útil no diagnóstico diferencial destas enti- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 dades6. A biópsia muscular do gastrocnémio e do solear revelou anomalias dos capilares e das fibras musculares com predomínio de fibras tipo 1, sugestivas de fenómenos adaptativos induzidos por esforço prolongado.6 Foram ainda detetadas outras alterações como atrofia das fibras, espessamento da membrana basal e aumento do colagénio, que são sugestivas de neuropatia.5 Vários autores descrevem uma maior sensibilidade táctil e vibratória da planta do pé nas crianças com esta perturbação.2 História e exame objetivo Perante uma criança referenciada a uma consulta por marcha em pontas, é mandatório proceder a uma avaliação clínica cuidada e minuciosa e realizar um exame objetivo completo, com avaliação da marcha e particular atenção no exame músculo-esquelético e neurológico. A história deve incluir:10,14 •Antecedentes pré-natais Antecedentes familiares, história materna e obstétrica (idade materna, número de gestações e partos, abortamentos, peso ao nascer dos irmãos, consumo de drogas na gravidez, idade gestacional, movimentos fetais); •Antecedentes peri-parto Frequência cardíaca fetal, rotura de membranas, duração do trabalho de parto, medicação materna, complicações do parto; •Antecedentes pós-natais Hipoxia fetal, peso ao nascer, data de alta da maternidade, internamento em unidade de cuidados intensivos neonatais. É essencial avaliar o desenvolvimento psico-motor/ cognitivo da criança e o seu comportamento, incluindo a adaptação social, e a presença de comportamentos bizarros, estereotipias ou dependência de rotinas. A avaliação da marcha deve incluir a observação da marcha, corrida e salto com e sem sapatos e com membros inferiores expostos assim como a transição da posição de sentado para de pé.8, 10, 14 Ouvir a marcha pode dar pistas importantes, como por exemplo: cadência irregular numa marcha assimétrica; queda do pé (“foot drop”) e arrastar do pé no solo na criança com espasticidade.8 Uma técnica de fácil execução para registo da marcha é a de colocar pó de talco nos pés da criança e fazê-la caminhar sobre um rolo de um papel de cor escura. As pegadas ficam marcadas no papel e podem ser fixadas com laca. Esta técnica (denominada em Inglês de “tread mat”) pode revelar sinais de contacto do calcanhar com o solo que de uma outra forma podia ser impercetível.10 A filmagem da marcha é cada vez mais frequente e pode ser muito útil no seguimento destas crianças. No exame físico é obrigatório avaliar a dorsiflexão passiva do pé, com o joelho estendido e fletido. Quando ocorre limitação da dorsiflexão apenas com o joelho em extensão, esta deve-se ao encurtamento do gastrocnémio pois, ao contrário do solear, que se insere na face medial da tíbia, o gastrocnémio insere-se nos côndilos femorais, intersectando a articulação do joelho. Se por sua vez ocorre limitação em ambas as posições, tanto o músculo solear como o gastrocnémio podem estar envolvidos (Figura 1). Devem ser pesquisadas deformidades dos membros inferiores e dorso; as massas musculares e o alinhamento da perna e do pé. No exame neurológico, deve-se dar particular atenção aos reflexos osteotendinosos, sensibilidade táctil, postural, dolorosa, vibratória e de temperatura assim como a força muscular e sinais de espasticidade, híper ou hipotonia ou a presença de clónus. Foram já publicadas guidelines e ferramentas de abordagem diagnóstica para ajudar na avaliação de uma criança com marcha em pontas. Destacam-se as guidelines do Cincinnati Children´s Hospital Medical Center6 (ver secção “tratamento”) e a “Toe walking tool”15, uma ferramenta rápida, validada e confiável. O objetivo desta última é diferenciar marcha em pontas idiopática da marcha em pontas patológica, identificando crianças com fatores de risco importantes para serem avaliadas por especialista (Quadro I). Figura 1 – Avaliação da dorsiflexão passiva do pé A avaliação da dorsiflexão passiva do pé é dependente da posição do joelho: - Dorsiflexão do pé limitada com o joelho estendido mas não com o joelho fletido = músculo gastrocnémio curto; - Dorsiflexão do pé limitada com o joelho estendido e fletido = músculos gastrocnémio e/ou solear curtos. Adaptado de Baumbach et al. BMC Músculoskeletal Disorders 2014, 15:246 artigos de revisão review articles 29 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Quadro I. Ferramenta de abordagem da marcha em pontas idiopática, adaptado de “The Toe Walking Tool”15 Questão Tema Resposta que pode indicar patologia Nome Data de nascimento Género A criança apresenta marcha em pontas? A criança tem diagnóstico de patologia responsável pela marcha em pontas? A criança tem o diagnóstico de perturbação do espetro do autismo? A criança tem o diagnóstico de paralisia cerebral? A criança tem o diagnóstico de distrofia muscular? A criança tem antecedentes familiares de distrofia muscular? A criança tem o diagnóstico de atraso global do desenvolvimento? A criança nasceu com peso superior a 2500g? A criança nasceu após as 37 semanas de gestação? A criança tem antecedentes de internamento na unidade de cuidados intensivos neonatais? A criança adquiriu marcha autónoma antes dos 20 meses? A criança tem algum familiar com marcha em pontas, sem patologia identificada? A criança tem marcha em pontas unilateral? A criança marcha em pontas como resposta/defesa à dor? A criança já teve padrão de marcha normal anteriormente? A criança é capaz de marcha com os calcanhares quando pedido? A criança apresenta clónus dos membros inferiores? A criança apresenta Sinal de Gowers? A criança apresenta reflexos osteotendinosos dos membros inferiores normais? A criança apresenta um reflexo cutâneo-plantar normal? A criança apresenta atraso em mais do que 2 áreas de desenvolvimento? A criança tem contacto ocular limitado, comportamentos repetitivos ou rituais? Demográfico Demográfico Demográfico Demográfico Demográfico Neurogénico Neuromuscular Neuromuscular Neuromuscular Neurogénico Neuromuscular Neuromuscular Neuromuscular Neuromuscular/Neurogénico Demográfico Traumático Traumático Traumático/Neuromuscular Traumático/Neuromuscular Neuromuscular Neuromuscular Neuromuscular Neuromuscular Neurogénico Neurogénico Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Não Não se aplica Sim Sim Sim Não Sim Sim Não Não Sim Sim Quadro II. Diagnóstico Diferencial de Marcha em Pontas Idiopática Patologia do Sistema Nervoso Central Paralisia cerebral Lesão do trato cortico-espinal Doenças do movimento Distonia transitória (marcha em pontas unilateral) Patologia Medular Lesão espinal congénita ou adquirida Diastematomielia Tumor espinal Perturbação do processamento sensorial Patologia neuromuscular periférica Atrofia do músculo peroneal Distrofia muscular Neuropatia Patologia músculo-esquelética Contratura (congénita) do tendão de Aquiles Pé boto ou outras deformidades Dismetria dos membros inferiores (marcha em pontas unilateral) Artrogripose Patologias do desenvolvimento ou do comportamento Perturbação do espectro do autismo Atraso de linguagem, dificuldades de aprendizagem ou atraso do desenvolvimento 30 artigos de revisão review articles Diagnóstico diferencial Sendo o diagnóstico de marcha em pontas idiopática um diagnóstico de exclusão, é essencial na observação destas crianças excluir todas as causas possíveis para a criança apresentar este padrão de marcha (Quadro II).1 Crianças com paralisia cerebral podem ter antecedentes de prematuridade, atraso nas aquisições motoras, atraso de linguagem e convulsões, indicadores muito úteis na suspeição diagnóstica.14 Por definição, a paralisia cerebral é causada por uma lesão que é estática e não progressiva, mas chama-se a atenção para o facto das contraturas musculares poderem agravar ao longo do tempo. A marcha é lenta, laboriosa, abrupta e instável (podendo apresentar o típico padrão de marcha “em tesoura”). Estas crianças têm pouca coordenação e podem apresentar espasticidade, ataxia e distonia3. Ao exame objetivo, apresentam habitualmente flexão exagerada da anca e joelho, contratura da articulação tibio-társica em equino fixo, hipertonia, espasticidade e clónus, reflexos osteotendinosos vivos e reflexo cutâneo-plantar em extensão.3 A patologia medular, nomeadamente a diastematomielia, siringomielia ou a síndrome do filamento terminal habitualmente apresenta-se em crianças com alterações progressivas da marcha, que se desenvolvem apenas aos dois/três anos; pés cavos e varos ou valgos, com ulcerações; fraqueza muscular; dor lombar; escoliose progressiva e incontinência ou retenção urinárias e/ou intestinais. Os sinais de disrafismo espinal como hipertri- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 cose, fistulas, apêndices, lipomas ou malformações vasculares na região lombo-sagrada podem estar presentes e devem ser sempre pesquisados.14 A doença neuromuscular que mais frequentemente se associa a marcha em pontas é a Distrofia de Duchenne, embora sempre relacionada com outras manifestações prévias. Tipicamente apresenta-se-nos uma criança do sexo masculino, com fraqueza muscular progressiva, notada entre os dois a cinco anos, e que já teve uma marcha autónoma normal. Objetivamente, com pseudo-hipertrofia muscular (dos gastrocnémios, soleares e braquio-radiais), limitação da dorsiflexão passiva da articulação tibio-társica, marcha com balanço para os lados, dificuldade em subir escadas e em levantar-se do chão, usando as mãos para “escalar” o próprio corpo (Sinal de Gowers), hiperlordose lombar e reflexos osteotendinosos diminuídos ou ausentes.3 As enzimas musculares habitualmente estão elevadas: creatinofosfocinase (CK), desidrogenase láctica (DHL), transaminases, aldolase e enolase Na biópsia muscular podem visualizar-se alterações típicas.3 A Distrofia de Becker ocorre em ambos os sexos, habitualmente com uma apresentação mais tardia (pelos oito anos de idade).3 Nas várias formas de distrofia muscular progressiva é hoje possível, na maioria dos casos, fazer um diagnóstico molecular, com consequente prognóstico e diagnóstico pré-natal. O correto diagnóstico destas patologias é essencial; se houver um erro de diagnóstico e tratamento com imobilização ou cirúrgico, é muito difícil recuperar a função muscular. As perturbações do espectro do autismo associam-se frequentemente a marcha em pontas. Devemos sempre avaliar a possível presença de perturbações da comunicação e interação social, sensoriais ou cognitivas e de comportamentos, interesses ou atividades restritas e estereotipadas. O exame neurológico nestas crianças é normal.3 Exames complementares de diagnóstico A ressonância magnética medular e/ou cerebral deve ser efetuada sempre que se suspeite de paralisia cerebral ou patologia medular. É assim aconselhada a realização deste exame em crianças com alterações ao exame neurológico ou sintomatologia vesico-intestinal. Nos casos em que há recorrência de marcha em pontas e em que a criança mantém marcha em pontas e contratura em equino significativa, apesar de tratamento conservador, também deve ser efetuada.16 O doseamento de CK deve ser efetuado em todos os doentes (alguns autores defendem a sua realização apenas se estiver presente o sinal de Gowers).16 Outros estudos, como genético, metabólico, eletromiografia ou biópsia muscular, podem ser necessários e devem ser ponderados caso a caso. Complicações As complicações decorrentes da marcha em pontas por um período de tempo prolongado devem-se habitualmente ao desenvolvimento de uma contratura da articulação tibio-társica em flexão anterior (pé equino) e podem incluir: fasciite plantar, dedos em martelo, metatarsalgia e sinovite das articulações metatarsofalângicas, tendinite tibial anterior ou posterior, aquiliana ou peroneal, exostose retrocalcânea e neuroma de Morton.9, 13 Associadamente, estas crianças podem apresentar hiperlordose lombar, flexão exacerbada da anca, joelho recurvatum e rotação externa da tíbia, como mecanismos compensatórios.6, 9 Orientação Todas as crianças devem ser orientadas para a especialidade de fisiatria e de neurologia pediátrica. Crianças com equino estrutural, patologia ortopédica congénita ou dorsiflexão do pé passiva com o joelho em extensão inferior a 10º, apesar de tratamento conservador, devem ser avaliadas por um ortopedista. Casos de crianças em que haja um atraso de linguagem ou do desenvolvimento devem ser orientados para um pediatra do desenvolvimento. Tratamento Não há evidência de que seja necessário qualquer tratamento para as crianças com esta perturbação.11,17 Vários autores especulam que a aparente melhoria com tratamento possa ser decorrente da própria evolução natural, sendo, no entanto, referido que o tratamento pode acelerar esta evolução. Por muitos, é considerado um problema estético e que deve ser tratado no caso de incomodar os pais ou a própria criança.17 A identificação e tratamento precoces poderão prevenir o encurtamento do gastrocnémio e anomalias na marcha e no equilíbrio persistentes, reduzindo a necessidade de tratamentos mais invasivos.6 Estão disponíveis vários tipos de tratamento para estas crianças, pelo que a escolha deve ser guiada pela percentagem de tempo de marcha em pontas, grau de dorsiflexão tibiotársica e idade da criança na avaliação inicial.6 As opções terapêuticas incluem desde tratamentos mais conservadores a tratamentos mais invasivos, que habitualmente estão associados a complicações mais frequentes.2 •Fisioterapia Inclui exercícios de alongamento, mobilização, fortalecimento, estimulação elétrica, treino de marcha, de equilíbrio e de coordenação e feedback auditivo (comando no calcanhar sensível a pressão que condiciona uma “aprendizagem muscular”).6 Os pais ou cuidadores devem ser ensinados para realizarem os exercícios no domicílio, sem a presença do profissional. As sessões têm frequência variável, e habitualmente mantêm-se por períodos prolongados (de um a três anos). O início precoce da fisioterapia pode prevenir a contratura do gastrocnémio. •Calçado formativo Deve ter uma base larga e rígida, de modo que impeça a flexão do pé na região central e um cano alto, que estabilize a articulação tibio-társica.10 Pode ser aconselhada também a utilização de palmilhas de silicone constituídas por uma porção posterior mais alta, para que esta se mantenha em contacto com o calcanhar.12 •Talas e Ortóteses Estes dispositivos permitem a manutenção do segmento na posição de máxima amplitude articular e devem-se utilizar por artigos de revisão review articles 31 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 um período entre quatro e seis meses. Existem várias formas e tamanhos, podem ser rígidas ou dinâmicas e a sua utilização pode ser diurna ou noturna. •Gesso seriado Trata-se de uma imobilização gessada curta (abaixo do joelho), intervalada para ajustamentos de amplitude semanais ou quinzenais. A duração do tratamento habitualmente varia entre quatro a seis semanas.6 As complicações associadas a este método são: irritação cutânea, úlceras de pressão, lesão tecidular permanente e fraqueza muscular, se uso prolongado. Segundo um estudo de Engström P. e colegas, a eficácia é muito variável (50 a 100%), com melhores resultados em idades mais precoces.9 •Toxina botulínica tipo A Induz uma fraqueza muscular temporária e é utilizada habitualmente em associação com fisioterapia, gessos seriados ou ortóteses. O primeiro estudo realizado em crianças com marcha em pontas idiopática é muito recente, não havendo ainda resultados conclusivos acerca da sua eficácia.9 Está contraindicada na presença de contraturas fixas e as complicações são raras, nomeadamente: dor no local de punção, fraqueza muscular local temporária e síndrome gripal.2, 13 •Cirurgia A cirurgia pode ser executada por via convencional ou percutânea, sendo a principal técnica utilizada o alongamento do tendão de Aquiles. Está indicada apenas nos casos em que a criança apresenta uma contratura fixa em flexão plantar ou que não responde a tratamento conservador.6, 13 Trata-se de um método rápido, mas com custos elevados. Embora seja habitualmente descrito como o tratamento mais eficaz nestas crianças, Hirsch G.10 e colegas, num estudo de seguimento a longo prazo, relatam uma eficácia de apenas 37%. Como método invasivo que é, está sujeito a riscos e complicações que não podem ser desprezados. O principal risco é o de alongamento excessivo do tendão; a infeção no pós-operatório, necrose do tendão, trombose venosa profunda e perda sensitiva são complicações também descritas.2, 9 Não existem estudos de controlo randomizados ou prospetivos a longo prazo que permitam concluir acerca do melhor método no tratamento da marcha em pontas idiopáticas. No caso de uma criança com contratura fixa em equino, de acordo com a evidência atual, o tratamento cirúrgico parece ser a melhor opção terapêutica disponivel.9 De acordo com as Guidelines do Cincinnati Children´s Hospital Medical Center6, as opções terapêuticas podem-se estratificar segundo o grau de dorsiflexão da articulação tibio-társica: •>10º: ensino de exercícios de alongamento e fortalecimento muscular para realizar no domicílio; ponderar prescrição de calçado formativo ou talas/ortóteses, caso a caso. •5-10º: fisioterapia quinzenal ou semanal durante quatro a seis meses, acompanhada da realização de exercícios no domicílio. Ponderar associar utilização de talas ou ortóteses. Como segunda linha, considerar associar toxina botulínica. 32 artigos de revisão review articles •0-5º: utilização de ortóteses durante a noite por um período variável entre quatro e seis meses, associado a fisioterapia semanal e realização de exercícios no domicílio. Como segunda linha, optar por gesso seriado. •<0º: gesso seriado durante quatro a seis semanas, associado (ou não) a toxina botulínica. A cirurgia deve ser realizada se não houver resolução com medidas conservadoras, como segunda linha de tratamento. A criança poderá ter alta da consulta quando o grau de dorsiflexão passiva da articulação tibiotársica com o joelho estendido for superior a 10º e a percentagem de tempo de marcha com calcanhar for superior a 75%. CONCLUSÃO A marcha em pontas idiopática ocorre em crianças saudáveis, sem espasticidade e com reflexos osteotendinosos normais; é evidente desde o início da marcha autónoma e sempre bilateral e não progressiva. Habitualmente é uma condição benigna, resolve espontaneamente na maioria dos casos, não causando grande preocupação na própria criança enquanto dura (mas não obrigatoriamente nos pais) e que raramente necessita de tratamento cirúrgico. Adultos com antecedentes de marcha em pontas podem ter uma marcha com menor tempo de contacto do calcanhar com o solo, mas desconhece-se se daí decorre alguma complicação. Quando esta alteração da marcha incomoda a criança ou os pais, deve ser tratada. O tratamento deve ter como objetivo a mínima intervenção eficaz. Se a marcha em pontas for persistente, apesar de tratamento conservador, pode complicar com contratura em equino, necessitando de tratamento cirúrgico. Perante uma criança que é referenciada à consulta por apresentar marcha em pontas é necessário realizar uma história e exame objetivo cuidado tendo sempre em mente que esta pode ser o primeiro sinal de patologia tal como paralisia cerebral, distrofia muscular congénita ou perturbação do espectro do autismo. Nestas crianças é essencial estar alerta para sinais sensoriais ou motores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Engelbert R, Gorter WJ, Uiterwaal C, Putte E, Helders P. Idiopathic toe-walking in children, adolescentes and young adults: a matter of local or generalised stiffness? BMC Músculoskeletal Disorders. 2011; 12: 61. 2. Williams C, Michalitsis J, Murphy A, Rawicki B, Haines T. Do external stimuli impact the gait of children with idiopathic toe walking? A study protocol for a within-subject randomised control trial. BMJ Open. 2013; 3: 0002389. 3. Zimbler S. Idiopathic Toe Walking: Current Evaluation and Management. Children´s Harvard Hospital. 2007; 98-100. 4. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Sara Domingues: Serviço de Pediatria, Unidade Padre Américo, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa Lugar do Tapadinho, Guilhufe, 4564-007 Penafiel Email: [email protected] Recebido a 29.06.2014 | Aceite a 07.12.2015 artigos de revisão review articles 33 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Anexo I – Marcha em pontas em idade pediátrica: algoritmo de abordagem História Clínica Pré-natal Peri-parto Desenvolvimento psico-motor/cognitivo Pós-natal Antecedentes familiares e história Frequência cardíaca fetal, rotura de materna e obstétrica (idade materna, membranas, duração do trabalho de gestas/paras, abortamentos, peso parto, medicação materna, complicaao nascer dos irmãos, consumo de ções do parto drogas na gravidez, idade gestacional, movimentos fetais) Hipoxia fetal, peso ao nascer, data de alta da maternidade Aquisições motoras e marcos de desenvolvimento Comportamento Adaptação social, comportamentos bizarros, estereotipias, dependência de rotinas Exame Objetivo Avaliação da marcha Observar Ouvir Exame Neurológico e Músculo-Esquelético Registar Marcha, corrida e salto Cadência, contacto do pé com e sem sapatos com o solo e membros inferiores expostos, transição da posição de sentado para de pé Deformidades Alinhamento perna e pé Massas musculares Testar dorsiflexão do pé com joelho estendido e fletido; Testar reflexos osteotendinosos, Testar sensibilidade táctil, postural, dolorosa, vibratória e temperatura Força muscular (espasticidade, hiper/hipotonia, clónus,…) “Tread Mat” ou vídeo Diagnóstico Diferencial Suspeita de Paralisia Cerebral se: Suspeita de Patologia Medular se: Complicações período Sintomatologia vesiconeonatal (prematurida-intestinal de, baixo peso ao nas Sinais de disrafismo cer, asfixia, internamenespinal (hipertricose, to unidade de Cuidados fistulas, apêndices, lipoIntensivos Neontais) mas ou malformações Atraso do desenvolvivasculares na região mento psico-motor lombo-sagrada) Exame neurológico alterado (reflexos osteotendinosos-ROTs vivos, Babinski, clónus) Suspeita de Miopatia ou Neuropatia se: História familiar de miopatia/ neuropatia Agravamento progressivo Fraqueza muscular/ sinal de Gowers Pseudo-hipertrofia músculos perna ROTs diminuídos ou ausentes Alterações sensitivas Suspeita de Patologia Traumática/ Ortopédica se: Suspeita de Perturbação do Espectro do Autismo se: Marcha em pontas unilateral Perturbações da comunicação e Marcha em pontas de novo em criança interação social, comportamentos que já teve marcha normal estereotipados, interesses restritos Equino fixo (incapacidade de andar em calcanhares) Marcha em Pontas idiopática: diagnóstico de exclusão! Exames Complementares de Diagnóstico e orientação Ressonância Magnética Cerebral e/ou CK (+/-DHL, transaminases, enolase e medular se: aldolase) se: Suspeita de paralisia cerebral ou Todos os doentes (ou apenas se Sinal patologia medular de Gowers?) Se doente mantém marcha em pontas e contratura em equino significativa, apesar de tratamento conservador Recorrência de marcha em pontas Biópsia muscular e/ou eletromiografia se: Suspeita de miopatia ou neuropatia Orientação Fisiatria Todos os doentes Ortopedia Se suspeita de patologia traumática/ ortopédica Tratamento Grau de dorsiflexão passiva da articulação tibiotársica com o joelho estendido: >10º Ensino de exercícios de alongamento e fortalecimento muscular para realizar no domicílio +/- calçado formativo ou talas/ortóteses 5-10º 0-5º Fisioterapia quinzenal ou semanal (4-6 meses) + exercícios no domicílio +/talas/ortóteses Utilização de talas durante a noite (4-6 meses) + fisioterapia semanal + exercícios no domicílio Considerar toxina botulínica (2ª linha) Considerar gesso seriado (2ª linha) Grau de dorsiflexão da articulação tibiotársica com o joelho estendido >10º + Marcha com calcanhar > 75% do tempo artigos de revisão review articles Gesso seriado +/- toxina botulínica (4-6 semanas) Considerar cirurgia (2ª linha) Alta 34 <0º Hipertensão pulmonar na criança Coimbra, 9 de Abril de 2016 O que é a hipertensão pulmonar Hipertensão pulmonar persistente do RN Displasia broncopulmonar Cardiopatias congénitas: dos shunts às lesões obstrutivas O que é a hipertensão pulmonar Avanços na genética Patobiologia e novas drogas Hipertensão pulmonar na criança Hipertensão pulmonar persistente do RN Como avaliar a (in)operabilidade Secretariado / Inscrições: As Guidelines: lacunas e desafios em Pediatria Coimbra, 9 de Abril de 2016 [email protected] Casos clínicos : sessão interactiva Displasia broncopulmonar www.ademi.pt Data limite de submissão de trabalhos: 9 de Março Organização pulmonar nade criança Cardiopatias congénitas: Hipertensão Coimbra, 9 de Abril 2016 CHLC,CHLO, H Cruz Vermelha Serviços de Cardiologia Pediátrica: CH Porto, CH SJoão, CHUCoimbra, dos shunts às lesões obstrutivas Avanços na genética Hipertensão pulmonar na criança Coimbra, 9 de Abril de 2016 Hipertensão pulmonar na cri Patobiologia drogas Coimbra,e9novas de Abril de 2016 O que éavaliar a hipertensão pulmonar Como a (in)operabilidade Hipertensão pulmonar persistente do RN Displasia broncopulmonar As Guidelines: lacunas e desafios em Pediatria Cardiopatias congénitas: dos shunts às lesões obstrutivas Avanços na genética O que é a hipertensão pulmonar Casos clínicos: sessão interactiva O que é a hipertensão pulmonar Patobiologia e novas drogas Hipertensão pulmonar persistente Hipertensão pulmonar persistente do RN Como avaliar a (in)operabilidade Displasia broncopulmonar O que é alacunas hipertensão pulmonar Displasia broncopulmonar nscrições: As Guidelines: e desafios em Pediatria Cardiopatias congénitas: dos pulmonar persistenteCardiopatias do RN congénitas: dos shunts àsshun lesõe emi.pt CasosHipertensão clínicos : sessão interactiva Avanços na genética Displasia broncopulmonar Avanços na genética Data Cardiopatias limite de submissão de trabalhos: 9 de Março congénitas: dos shunts às lesões obstrutivas Patobiologia novas drogas Patobiologia e novasedrogas Avanços na genética ComoComo avaliaravaliar a (in)operabilidade a (in)operabilidade CHLC,CHLO, H Cruz Vermelha logia Pediátrica: CH Porto, CH SJoão, CHUCoimbra, Patobiologia e novas drogas Secretariado / Inscrições: As Guidelines: lacunas e desafios em Pediatre Secretariado / Inscrições: As Guidelines: lacunas e desafios Como avaliar a (in)operabilidade Casos clínicos : sessão interactiva [email protected] [email protected] Casos clínicos : sessão interactiva o / Inscrições: As Guidelines: lacunas e desafios em Pediatria www.ademi.pt www.ademi.pt Data limite de submissão de trabalhos: 9 de @ademi.pt Casos clínicos : sessão interactiva Data limite de submissão de traba Organização pt Organização Data de submissão de trabalhos: MarçoCHUCoimbra, CHLC,CHLO, H Serviços delimite Cardiologia Pediátrica: CH Porto, 9 CHdeSJoão, Serviços de Cardiologia Pediátrica: CH Porto, CH SJoão, CHUCoimbra, CHLC ardiologia Pediátrica: CH Porto, CH SJoão, CHUCoimbra, CHLC,CHLO, H Cruz Vermelha ça RN lesões obstrutivas trutivas diatria o 9 de Março Vermelha O, H Cruz Vermelha NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Hiperfosfatasemia transitória benigna da infância e infeção a campylobacter jejuni Cláudia AguiarI, Juliana OliveiraI, Alexandra PintoII, Andreia EirasIII, Conceição CasanovaIV, Maria José DinisIV BENIGN TRANSIENT HYPERPHOSPHATASEMIA OF INFANCY AND CHILDHOOD AND CAMPYLOBACTER JEJUNI INFECTION ABSTRACT Introduction: Benign Transient Hyperphosphatasemia (BTH) is characterised by transient elevation of serum alkaline phosphatase (ALP) in the absence of liver or bone disease. It has been associated to several entities, namely infections. Case report: We describe the case of a healthy twoyear-old child with intermittent episodes of fever, abdominal pain, vomiting and soft stool since two months ago, with no relevant changes on physical examination. The exams revealed elevated ALP (2474 U/L), with normal liver function, calcium and phosphorus. The stool culture was positive for Campylobacter jejuni. Clinical condition was resolved after antibiotic therapy with azithromycin. Six months later serum ALP values were normal. Conclusion: The age of presentation, the absence of underlying disease and subsequent normalization of ALP allow the diagnosis of BTH. It isn´t possible, according to the available literature, to guarantee if the infection was the cause of BTH or if it was the reason to perform the analytical study. Keywords: Campylobacter jejuni; alkaline phosphatase; transient hyperphosphatasemia; infection. RESUMO Introdução: A Hiperfosfatasemia Transitória Benigna da Infância (HTBI) caracteriza-se pelo aumento transitório da fosfatase alcalina (FA) sérica, na ausência de doença hepática ou óssea. Tem sido associada a várias entidades, nomeadamente, infeções. Caso clínico: Criança de dois anos, saudável, com episódios intermitentes de febre, dor abdominal, vómitos e dejeções de fezes moles com dois meses de evolução, sem alterações relevantes ao exame físico. Apresentava elevação da FA (2474 U/L), com função hepática, cálcio e fósforo normais. O exame bacteriológico de fezes foi positivo para Campylobacter jejuni. Efetuou tratamento com azitromicina, com resolução dos sintomas. Seis meses depois verificou-se normalização da FA. Conclusão: A idade de apresentação, a ausência de doença subjacente e a normalização posterior da FA permitem o diagnóstico de HTBI. Fica por esclarecer, de acordo com os conceitos mais recentes, se a infeção pode ser considerada fator causal ou foi apenas o motivo para a realização do estudo analítico. Palavras-chave: Campylobacter jejuni; fosfatase alcalina; hiperfosfatasemia transitória; infeção. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 35-7 __________ S. de Pediatria, Centro Hospitalar de São João. 4200-139 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected] II S. de Pediatria, Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte. 1649-035 Lisboa, Portugal. [email protected] III Medicina Geral e Familiar da Unidade de Saúde Familiar Rainha D. Amélia. 4000-094 Porto, Portugal. [email protected] IV S. de Pediatria do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/ Vila do Conde. 4490-421 Póvoa de Varzim, Portugal. [email protected]; [email protected] I casos clínicos case reports 35 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INTRODUÇÃO A Hiperfosfatasemia Transitória Benigna da Infância (HTBI) caracteriza-se por aumento da fosfatase alcalina (FA) sérica, transitório e não recorrente, na ausência de doença hepática ou óssea.1,2 É relativamente comum, afetando igualmente ambos os sexos.1 A sua prevalência exata é desconhecida, mas foram encontradas prevalências variando entre 1.1% a 3.5%.1 Em 1985, Kraut et al 3 descreveram os seguintes critérios de diagnóstico: idade de apresentação inferior a cinco anos, ausência de evidência de doença hepática ou óssea no exame físico ou laboratorial, sintomas clínicos variáveis, elevação das isoenzimas hepática e óssea, normalização dos níveis de FA dentro de quatro meses. No entanto, nem todos os casos descritos na literatura correspondem a esta definição.2,4,5 A HTBI ocorre, também, em crianças maiores do que cinco anos e, raramente, em adultos.2,4 Relativamente ao período de tempo necessário para normalização da FA, existem casos descritos em que persistiu elevada durante 17 ou mais semanas.1 Apesar de a maioria dos casos de HTBI ocorrer em crianças sem qualquer doença ativa, foi também descrita associada a uma variedade de condições clínicas, como gastroenterite e infeção respiratória.2,5 CASO CLINICO Criança do sexo masculino, dois anos, sem antecedentes patológicos relevantes, com boa evolução estaturo-ponderal e sem antecedentes pessoais ou familiares importantes. Recorreu ao Serviço de Urgência com febre (39ºC), dor abdominal difusa, um episódio de vómito e dejeções de consistência mais mole do que o habitual. Nos últimos dois meses teve vários episódios com as mesmas características, com a duração de quatro a cinco dias. Aquando da recorrência ao serviço de urgência, foi referido contexto familiar de vómitos e diarreia (avó). Não tinha ingerido água imprópria para consumo, alimentos fora de prazo nem fármacos. Ao exame objetivo apresentava um razoável estado geral, palidez cutânea, sem outras alterações. Pela recorrência destas queixas, havia realizado cerca de uma semana antes estudo analítico que mostrou aumento da FA (2474 U/L), com restantes parâmetros analíticos sem alterações, incluindo TGO (28 U/L), TGP (12 U/L), gama-GT (7 U/L), bilirrubina total (0,12 mg/ dL) e direta (0,06 mg/dL), 5-nucleotidase (13.3 U/L) e o metabolismo cálcio-fósforo. O doseamento das isoenzimas da FA mostrou predominância das isoformas hepáticas (45,5% e 48,3%). Dado o quadro clínico e a constatação da persistência da hiperfosfatasemia (2134 U/L) no serviço de urgência, foi decidido internamento. Do estudo efetuado constatou-se anemia (10.8 g/dL) normocítica normocrómica, leucocitose (28,49x10^3/uL, com 73% neutrófilos e 20% linfócitos), trombocitose (492x10^3/ uL), PCR 0,3 mg/dL, VS 47 mm/1ªh, serologias EBV e CMV negativas, exame bacteriológico de sangue e urina negativos. O exame bacteriológico de fezes foi positivo para Campylobacter jejuni spp jejuni. A ecografia abdominal não mostrou alterações relevantes, nomeadamente do parênquima hepático ou vias biliares. Durante o internamento constatou-se boa evolução clínica, tendo tido alta ao terceiro dia medicado com azitromicina 36 casos clínicos case reports oral durante 5 dias (10 mg/kg/dia). Foi orientado para consulta, com os diagnósticos de gastroenterite aguda a Campylobacter jejuni e provável HTBI. Seis meses após o internamento constatou-se normalização dos valores séricos de FA, mantendo o restante estudo analítico também dentro dos valores de referência. Após cerca de um ano de seguimento mantém-se assintomático e sem alterações ao exame físico. Foi possível ter acesso aos valores de FA dos pais, realizados em contexto de “rotina”, que se mostraram normais. DISCUSSÃO A FA é uma glicoproteína que consiste em 4 isoenzimas: FA tecidular não específica (renal, óssea, hepática), FA intestinal, FA placentária, FA das células germinativas. 2,4,5 A maioria é produzida no fígado, osso e na placenta durante o terceiro trimestre de gravidez. Os valores de FA sérica variam com a idade, sendo geralmente mais elevados nas crianças e adolescentes, devido ao aumento fisiológico da atividade osteoblástica.1,4,5 Esta variação com a idade contribui para a dificuldade em interpretar os níveis das isoenzimas da FA. Os dados disponíveis mostram que em 50% dos casos de HTBI há uma prevalência da elevação da isoforma óssea, apesar dos marcadores bioquímicos de formação e reabsorção ósseas serem normais.1 A isoforma hepática por vezes é a isoforma predominante, tal como se constatou neste caso.1 O valor da FA na HTBI é habitualmente muito elevado (5 a 30 vezes o limite superior de referência), comparativamente a outras causas de elevação da FA.1 Alguns autores propuseram fatores de risco associados a HTBI. 2 Existe história de infeção recente, nomeadamente infeções das vias aéreas, superiores e inferiores, bem como gastroenterite, em mais de 60% dos casos com ou sem doença crónica subjacente, pelo que tem sido postulado que a HTBI é causada por uma infeção precedente, geralmente vírica.1,5,7,8 No entanto, os dados publicados não permitem afirmar a existência de uma relação causal. A aparente associação com uma infeção recente pode simplesmente refletir um viés resultante da maior tendência à realização de análises em crianças com estas infeções.1 A grandeza da elevação da FA e a sua duração é semelhante nos indivíduos com ou sem doença associada. 1 Por definição a HTBI não esta associada a alteração dos níveis de cálcio, fosfato inorgânico ou deficiência de vitamina D. No entanto, tem sido especulado que a HTBI ocorra num período de crescimento catch-up após perda de peso ou como consequência de insuficiência subclínica de vitamina D. 1 A associação de atraso do crescimento com HTBI não foi confirmada num estudo prospetivo, tal como havia sido proposto em vários estudos retrospetivos, especulando-se que essa associação possa ser em parte explicada pelo facto dessas crianças estarem mais sujeitas a investigação laboratorial.2 Foram descritos casos em crianças com leucemia, linfoma e após transplante hepático, renal ou cardíaco. 9,10,11 O mecanismo pelo qual ocorre aumento da FA permanece incerto.1,2 A hipótese mais provável é tratar-se de uma redução da clearance hepática da FA, mais do que um aumento da sua produção. 1,2,4,12 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Dada a benignidade da condição, a avaliação da FA por rotina em crianças saudáveis não deve ser efetuada com o intuito de diagnosticar HTBI. No entanto, se uma hiperfosfatasemia for detetada e não houver uma causa óbvia, deve ser considerada a possibilidade de HTBI, sobretudo se se tratar de um criança com menos de 5 anos, sem sintomas ou sinais sugestivos de doença hepática ou óssea, e, mais ainda, se tiver ou tiver tido infeção recente. A avaliação clínica deve permitir o diagnóstico diferencial com outras condições que causam aumento da FA, nomeadamente doenças ósseas (raquitismo, osteomalácia, Doença de Paget juvenil, tumores ósseos), doenças hepáticas (colestase, tumores), doenças renais (insuficiência renal crónica, acidose tubular renal e outras tubulopatias), hiperparatiroidismo, imunodeficiência, linfoma, fármacos (co-trimoxazol, antiepilépticos como fenobarbital e valproato de sódio, quimioterapia) e menos frequentemente doença de Crohn, enfarte pulmonar ou renal.1,6,12 Para isso deve ser efetuada uma história clínica e exame físico cuidadosos, dando particular atenção aos sinais clínicos de doença óssea (atraso do encerramento das fontanelas, bossas frontais e parietais, alargamento da junção costo-crondral, sulco de Harrison, craniotabes, alargamento dos pulsos, sinal do duplo maléolo, encurvamento lateral progressivo do fémur e tíbia) ou de doença hepática (icterícia, prurido, spider naevi, equimoses, urina de cor escura, ascite, esteatorreia, hepatoesplenomegalia). Os exames complementares de diagnóstico devem incluir avaliação da função hepática, com repetição seriada da FA, função renal e metabolismo cálcio-fósforo. Dada a elevada prevalência de défice de vitamina D, este deve ser suspeitado no caso de lactentes em aleitamento materno exclusivo, sem a suplementação necessária, em crianças em dieta vegetariana, em crianças sob terapêutica com anticonvulsivantes ou antiretrovirais e nas doenças de má absorção.1 Deve também ser considerada a hipótese de hiperfosfatasemia benigna familiar, que no caso descrito foi excluída. O seguimento da criança e a constatação da normalização do valor da FA dentro do período de tempo previsto é fundamental para a confirmação do diagnóstico. Reconhecer a HTBI evita a realização de investigação adicional desnecessária. Em conclusão, os autores consideram que o caso descrito, apresenta as características de HTBI (idade inferior a cinco anos, aumento da FA sem evidência de doença hepática ou óssea, normalização dos valores séricos de FA dentro de 6 meses). Apesar de ter sido efetuado o estudo das isoenzimas, este não é necessário para o diagnóstico.1 Foi efetuado simultaneamente o diagnóstico de gastroenterite aguda a Campylobacter jejuni, ocorrência esta também reportada em outros casos.13 No entanto, não é ainda possível estabelecer uma relação causal entre a infeção por Campylobacter jejuni e a hiperfosfatasemia. EM DESTAQUE Perante uma hiperfosfatasemia sem causa óbvia, deve colocar-se a hipótese de se tratar de HTBI. Reconhecer esta entidade deverá evitar a realização de investigação adicional desnecessária. Tem sido descrita a associação com infeções, nomeadamente gastrointestinais. HIGHLIGHTS In case of a hyperphosphatasemia without obvious cause, the hypothesis of BTH shoud be placed. Recognizing this entity must avoid performing unnecessary additional investigation. Association with infection, particularly gastrointestinal, has been described. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Gualco MD et al. Transient benign hyperphosphatasemia. Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 2013;57:167-71. 2. Huh SY. et al. Prevalence of transient hyperphosphatasemia among healthy infants and toddlers. Pediatrics 2009;124:703-9. 3. Kraut J. Isoenzime studies in transient hyperphosphatasemia of infancy. AJDC 1985;139:736-40. 4. Tolaymat N, Melo MCN. Benign Transient hyperphosphatasemia of infancy and childhood. South Med J 2000;93. 5. Pace A, Osinde M. Hiperfosfatasemia transitoria benigna de la infancia. Una aproximación racional. Arch. Argent. Pediatr; 1999; 97: 383. 6. Alves C, Arruti R. “Hiperfosfatasemia Transitória Benigna da Infância”. Acta Ortopédica Brasileira; 2008; 17: 55-7. 7. Nuñez MA, Menendez A, Diez M.“Hiperfosfatasemia transitoria de la infancia. 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HZ’s incidence increases with age and although rarely, it can affect healthy children. We describe a previously healthy 29-months-old girl with herpes zoster ophtalmicus. She presented with fever and a painful vesicular skin rash covering the right forehead. She had no past history of clinical varicella or varicella vaccination, although she had household contact with varicella at two months-old. Serologic varicella zoster virus tests were initially negative, but seroconversion occurred 8 weeks later. Polymerase chain reaction assay of the vesicles fluid was positive for the virus. Intravenous acyclovir was started and the patient recovered without sequelae. HZ may occur in an otherwise healthy young child without previous noticed varicella and with negative acute phase serology. This can be explained by the immaturity of the immune system associated with transplacental transfer of maternal antibodies affecting immunologic response to early primary infection. Keywords: Herpes zoster ophtalmicus; serologic tests; asymptomatic infections; preschool child. __________ S. de Pediatria, Hospital Vila Franca de Xira. 2600-009 Vila Franca de Xira, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] I 38 casos clínicos case reports RESUMO O herpes zoster (HZ) resulta da reativação do vírus varicela-zoster (VVZ). A incidência aumenta com a idade, sendo raro em crianças saudáveis. Descrevemos um caso de HZ oftálmico numa menina de 29 meses, previamente saudável. Apresentava febre e erupção cutânea vesicular dolorosa no território oftálmico do nervo trigémio. Sem história de varicela ou vacinação anti-varicela prévias. Teve contacto intrafamiliar com varicela aos dois meses de idade. A pesquisa do vírus nas vesículas por polimerase chain reaction foi positiva. Os títulos de IgG e IgM anti-vírus varicela-zoster foram inicialmente negativos, tendo ocorrido seroconversão oito semanas depois. Medicada com aciclovir endovenoso, recuperou sem sequelas. O HZ pode ocorrer em crianças previamente saudáveis, sem evidência de varicela anterior e com serologia para VVZ negativa. Tal pode ser explicado pela imaturidade do sistema imunológico, assim como pela transferência transplacentária de anticorpos maternos, aquando da infeção primária precoce. Palavras-chave: Herpes zoster oftálmico, testes sorológicos, infeções assintomáticas, criança pré-escolar. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 38-41 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INTRODUÇÃO O herpes zoster (HZ) resulta de reativação do vírus varicela zoster (VVZ), que permanece latente em gânglios da raiz dorsal de nervos sensoriais ou de nervos cranianos após a infeção primária. Caracteriza-se por um exantema vesicular com distribuição no dermátomo sensorial afetado. A infeção primária é a varicela e quase sempre tem uma expressão clínica evidente.1,3 A incidência de HZ aumenta com a idade devido à perda de imunidade celular, que desempenha um papel importante na defesa do hospedeiro contra o vírus. Situações de imunossupressão como patologias oncológica e hematológica, determinados fármacos e infeção pelo vírus da imunodeficiência humana também predispõem à reativação.1,2 Raramente, HZ pode afetar crianças saudáveis, com uma incidência anual de 0,3 a 0,74 casos por 1000 abaixo dos dez anos de idade.3 É mais frequente quando adquirem varicela in útero ou durante o primeiro ano de vida1,2, o que se explica pela imaturidade da imunidade celular nesta população.2,4 Os quadros de HZ podem também surgir como resultado de uma diminuição transitória da imunidade celular ao VVZ, possivelmente em contexto de infeção subclínica por outros vírus.4,5 A infeção primária a VVZ leva à produção de imunoglobulinas (Ig) G, M e A com atividade neutralizante do vírus. Em regra, a IgG persiste por toda a vida. Em pequenos lactentes, os títulos de anticorpos específicos que se desenvolvem em resposta à infeção primária são geralmente inferiores comparativamente a crianças mais velhas.6 Herpes zoster oftálmico (HZO) ocorre quando o ramo oftálmico do nervo trigémeo é afetado e pode apresentar complicações que comprometam a acuidade visual.1 Apresentamos um caso de HZO numa menina de 29 meses de idade, sem varicela clínica anterior e com anticorpos IgM e IgG anti-VVZ negativos na fase aguda. CASO CLÍNICO Criança de 29 meses, sexo feminino, saudável, sem história prévia de varicela. Recebeu aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida. Apresentava as imunizações de acordo com o Programa Nacional de Vacinação sem vacina anti-varicela ou anti-pneumocócica. A mãe referia ter tido varicela na infância. Aos dois meses de idade, a criança esteve em contacto próximo com o irmão com varicela. Recorreu ao serviço de urgência por aparecimento de erupção vesicular dolorosa de base eritematosa e edematosa em placa, localizada na área frontal direita incluindo a pálpebra superior, com nítida demarcação na linha média (Figura 1), sem atingimento da extremidade nasal (sinal de Hutchinson negativo). Não se registava proptose, dor ou compromisso dos movimentos oculares. As queixas tinham surgido três dias antes, com agravamento progressivo e aparecimento de febre alta e prostração poucas horas antes da admissão hospitalar. A erupção vesicular unilateral com distribuição no dermátomo do ramo oftálmico do nervo trigémio era sugestiva de HZ, admitindo-se também sobreinfeção bacteriana pelas características dos sinais inflamatórios. Face à exuberância e localização das lesões, decidiu-se internamento para iniciar terapêutica endovenosa. Figura 1 - Exantema vesicular, com edema e eritema cutâneos subjacentes, no território do ramo oftálmico do nervo trigémio. A avaliação laboratorial revelou proteína C reativa sérica de 0,77 mg/dL (normal <0,50 mg/dL), com restantes parâmetros inflamatórios normais. A polimerase chain reaction (PCR) do fluido das vesículas foi positiva para VVZ e negativa para Vírus Herpes Simplex (VHS) 1 e 2 e outros vírus herpes. Os anticorpos IgG e IgM anti-VVZ (imunoensaio automatizado por quimiluminescência LIAISON®) na admissão foram negativos: IgG 14,8 mIU/mL (negativo <50,0; positivo >100,0 mIU/mL); IgM 0,1 mIU/mL (negativo <10,0; positivo >15,0 mIU/mL). As serologias IgG e IgM para Herpes Simplex (VHS) 1 e 2 foram negativas. No exame bacteriológico do exsudado das vesículas isolou-se Streptococcus pneumoniae sensível à penicilina. A hemocultura foi estéril. Instituiu-se terapêutica endovenosa com aciclovir (10 mg/ kg a cada 8 horas) e flucloxacilina (50 mg/kg a cada 8 horas), posteriormente substituída por amoxicilina (100 mg/kg/dia), face ao resultado da análise bacteriológica do fluido das vesículas. Realizou também terapêutica tópica com aciclovir e azitromicina. Após a alta, completou 10 dias de antibioticoterapia. A doente permaneceu apirética desde o terceiro dia de internamento e as lesões cutâneas evoluíram progressivamente para crostas. Uma semana após a admissão, os sinais inflamatórios encontravam-se francamente melhorados (Figura 2). Foram realizadas observações oftalmológicas seriadas que excluíram atingimento ocular. Foi encaminhada na consulta de infeciologia, tendo repetido a serologia para VVZ oito semanas depois, que revelou uma subida significativa dos títulos IgG anti-VVZ (>4000.0 mIU/L) mantendo-se a IgM anti-VVZ negativa. A eletroforese das imunoglobulinas foi normal. Aos 12 meses de seguimento a criança manteve-se sem quaisquer sequelas cutâneas, oculares ou neurológicas, sem outras infeções relevantes e com desenvolvimentos psico-motor e estaturo-ponderal adequados. casos clínicos case reports 39 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Figura 2 - Lesões em crosta de herpes zoster oftálmico após oito dias de tratamento. DISCUSSÃO Descreve-se um caso de HZ sem história de varicela prévia e com anticorpos anti-VVZ negativos na fase aguda. O diagnóstico foi baseado na clínica de erupção vesicular com a distribuição característica ao longo de um dermátomo e confirmado por PCR no fluido das vesículas, sendo este um método sensível e rápido.6,7 Admitiu-se que a doente provavelmente teria tido uma infeção subclínica pelo VVZ aos dois meses de idade, por contágio intrafamiliar. Cerca de dois anos e meio depois, apresentou um quadro de HZ exuberante. Aquando da infeção primária nesta criança, a imaturidade do sistema imune, associada à transferência passiva de anticorpos maternos, poderão explicar quer a ausência de manifestações clínicas, quer os baixos níveis de anticorpos anti-VVZ desenvolvidos, e mais tarde a exuberância da reativação do VVZ. Há poucos casos descritos de HZ com anticorpos anti-VVZ negativos na fase aguda.8 Sabe-se que os recém-nascidos cujas mães são imunes para VVZ têm maior probabilidade de desenvolver varicela subclínica nos seis primeiros meses de vida9. Os anticorpos anti-VVZ maternos, transferidos de forma passiva durante a gravidez e aleitamento, podem modificar a apresentação da doença.4 Tem sido descrita uma resposta imune humoral e celular de menor intensidade à infeção por VVZ em lactentes, comparativamente a crianças mais velhas, o que vai favorecer a sua reactivação.9 A infeção pelo VVZ no primeiro ano de vida, mesmo subclínica, é um fator de risco major para o desenvolvimento de HZ precoce em crianças saudáveis.1-4 O período de latência entre o aparecimento de varicela e de HZ parece ser tanto mais curto quanto mais precoce for a infeção primária1. Neste caso, foi inferior à média de 3,8 anos que está descrita na literatura.1 Numa criança previamente saudável com HZ, sem antecedentes de relevo e sem outras alterações no exame físico, não é necessário realizar uma investigação laboratorial para excluir imunodeficiência ou doença neoplásica.4,10 A subida significativa no título de IgG anti-VVZ confirma a eficácia da resposta imune humoral desta doente após a reativação da infeção a VVZ. 40 casos clínicos case reports Várias situações fazem diagnóstico diferencial com HZ. A infeção a VHS caracteriza-se igualmente por um exantema vesicular mas sem a distribuição ao longo de um dermátomo. No presente caso, esta infeção foi excluída pela negatividade da PCR nas vesículas e dos anticorpos séricos IgG e IgM anti-VHS 1 e 2. O aspecto cutâneo do HZ pode ser semelhante à dermatite de contacto, mas esta geralmente associa-se a prurido e não a dor intensa e febre. A sobreinfeção cutânea é a complicação mais frequente do HZ, geralmente sob a forma de impétigo causado por Streptococcus pyogenes ou Staphylococcus aureus. O Streptococcus pneumoniae é um agente pouco frequente de infeções cutâneas, nomeadamente celulite e erisipela.4 Atendendo ao edema, eritema e exsudação cutâneas, associados a febre alta, foi considerado o diagnóstico de celulite local com atingimento ocular pré-septal como complicação do HZ. A proximidade das cavidades nasal e oral, e a ausência de vacinação anti-pneumocócica podem explicar a sobreinfeção por este agente. Ocorrem frequentemente complicações oculares no HZO1, tais como conjuntivite, queratite, uveíte anterior, iridociclite, retinite ou mesmo perda de visão.1,5 O envolvimento ocular é menos comum na ausência de sinal de Hutchinson, tal como ocorreu no presente caso.1 A terapêutica anti-viral não é preconizada na maior parte das situações de HZ na criança, que consiste habitualmente numa infeção ligeira.11 Nos casos de infeção grave, em crianças imunodeprimidas ou se envolvimento de nervos cranianos, a terapêutica anti-viral reduz a formação de novas vesículas e acelera a cicatrização.1 O tratamento também é utilizado para prevenção de complicações de HZO, como queratite e uveíte anterior, devendo ser iniciado nas primeiras 72 horas após o início do exantema.9 O aciclovir constitui o fármaco de eleição em caso de HZ em idade pediátrica, sendo seguro mesmo em altas doses.3 Deve ser complementado com a aplicação tópica em caso de infeção ocular, por se atingirem concentrações mais elevadas no segmento anterior do olho por esta via.8 Nesta doente, a existência de lesões exuberantes de HZO motivaram o tratamento endovenoso e ocular tópico com aciclovir, de forma a prevenir complicações oculares. EM DESTAQUE A principal mensagem deste caso é que a infeção HZ pode ocorrer nos primeiros anos de vida, em crianças saudáveis, sem história prévia de varicela, e com serologias negativas para VVZ. O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado na distribuição do exantema no território de um dermátomo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. De Freitas D, Martins E N, Adan Alvarenga L, Pavan-Langston D. Herpes zoster ophtalmicus in otherwise healthy children. Am J Ophtalmol 2006;142:393-9. 2. Papadopoulos A, Birnkrant A, Schwartz R, Janniger CK. Childhood Herpes Zoster. Pediatr Dermatol 2001;68:21-3. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 3. Pinchinat S, Cebrián-Cuenca AM, Bricout H, Johnson RW. Similar herpes zoster incidence across Europe: results from a systematic literature review. BMC Infect Dis. 2013;13:170. 4. Gershon A. Varicella-Zoster Virus Infections. Pediatr Rev 2008;29:5-10. 5. Long S, Prickering L, Prober S. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Catarina Carrusca: Rua Professor João Barreira, n.º 10, 5.º D. 1600-637 Lisboa Email: [email protected] Recebido a 16.09.2015 | Aceite a 30.11.2015 casos clínicos case reports 41 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Malformação vascular linfática com localização incomum Ana Isabel RodriguesI; Gonçalo InocêncioI; Madalena MoreiraI; Maria do Céu RodriguesI; Fan YidaII; Graça RodriguesIII; Olímpia CarmoIII; Luísa OliveiraIV; Alberto VieiraV; VASCULAR LYMPHATIC MALFORMATION WITH UNCOMMON LOCALIZATION ABSTRACT Introduction: Vascular lymphatic malformations are rare entities that affect lymphatic vessels. The authors report a case of abdominopelvic lymphatic malformation. Case Report: 28 years-old, Gestation 2, Birth 1. Referred to Prenatal Diagnosis Center at the 20th week of gestation by ultrasound suggestive of abdominopelvic lymphatic malformation, confirmed by fetal magnetic resonance imaging. Fetal cytogenetic study was normal. Couple being aware of prognosis after discussion with Pediatric Surgery. Cesarean section at 38th week. Prenatal diagnosis was confirmed by newborn´s examination. At 18 months, the child underwent intralesional sclerotherapy. At 4 years, surgical excision of the lesion was performed because of symptomatic development. Always showed normal development and growth. Discussion/Conclusion: Prenatal diagnosis is sonographic; fetal magnetic resonance imaging confirms the diagnosis and defines more precisely the extent of the lesions. Clinical and sonographic vigilance should be maintained in order to detect decompensation or hydroptic signs and compression of adjacent structures. Keywords: Prenatal diagnosis, magnetic resonance imaging, ultrasonography, vascular lymphatic malformation. RESUMO Introdução: As malformações vasculares linfáticas são entidades raras que afetam os vasos linfáticos. Os autores relatam um caso clínico de uma malformação linfática abdomino-pélvica. Caso Clínico: 28 anos, Gesta 2, Para 1. Encaminhada à Unidade de Diagnóstico Pré-Natal, às 20 semanas, por imagem ecográfica sugestiva de malformação linfática abdomino-pélvica, confirmada por ressonância magnética fetal. Estudo citogenético fetal normal. Consulta de Cirurgia Pediátrica para informar o casal do prognóstico. Cesariana eletiva às 38 semanas. Observação do recém-nascido confirmou o diagnóstico pré-natal. A criança foi submetida, aos 18 meses, a escleroterapia intralesional. Aos 4 anos, foi efetuada exérese cirúrgica da lesão por desenvolvimento de sintomas. Apresentou sempre desenvolvimento e crescimento normais. Discussão/Conclusões: O diagnóstico pré-natal é ecográfico; a ressonância magnética fetal permite confirmar o diagnóstico e define com maior rigor a extensão das lesões. Deve manter-se vigilância clínica e ecográfica, para deteção de sinais de descompensação ou hidrópsia e de compressão das estruturas adjacentes. Palavras-chave: Diagnóstico pré-natal, ecografia, malformação vascular linfática, ressonância magnética fetal. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 42-7 __________ S. Obstetrícia, Unidade de Diagnóstico Pré-Natal do Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] II S. Obstetrícia, Unidade de Vila Real, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro. 5000-508 Vila Real, Portugal. [email protected] III S. Obstetrícia, Unidade Diagnóstico Pré-Natal, Unidade Hospital Padre Américo, Centro Hospitalar Tâmega e Sousa.4564-007 Penafiel, Portugal. [email protected]; [email protected] IV S. Cirurgia Pediátrica, Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal. [email protected] V Centro de Imagiologia Médica Dr. Campos Costa. 4050-075 Porto, Portugal. [email protected] I 42 casos clínicos case reports NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INTRODUÇÃO As malformações vasculares linfáticas são malformações dos vasos linfáticos raras (1/6000 nados vivos).1-3 Foram descritas pela primeira vez em 1843, por Wernher.4 Outrora denominadas incorretamente de linfangiomas ou higromas císticos, por estes termos poderem sugerir existência de tumor, o seu nome foi substituído por malformações vascular linfáticas de baixo fluxo de acordo com a nova classificação da “International Society for the Study of Vascular Anomalies Classification”, com o objetivo de estabelecer uma linguagem científica correta e global.5-8 Assim sendo, estas malformações representam um grupo de lesões congénitas caracterizadas pelo desenvolvimento vascular linfático anormal, mas sem proliferação celular.6 Embora a sua patofisiologia seja ainda uma incógnita, pensa-se que estas se formem a partir da ausência de comunicação dos vasos linfáticos com o sistema venoso.1-4,9 A acumulação de fluido nos vasos linfáticos dilatados e tecido conjuntivo origina linfedema progressivo dos tecidos subcutâneos, acompanhado do aumento da pele circundante, podendo ocorrer hidrópsia fetal.2,8 Por manterem o seu potencial de crescimento embrionário, podem penetrar nas estruturas adjacentes ou desenvolverem-se ao longo destas, formando quistos, onde se acumulam as secreções, por ausência da drenagem para o sistema venoso.1-3 Tipicamente, desenvolvem-se no final do primeiro e início do segundo trimestre da gravidez, tornando-se menos frequentes à medida que a idade gestacional aumenta.10 Envolvem a pele e o tecido celular subcutâneo, com localização mais frequente no pescoço (75%) e região axilar (20%).1,11 Afetam a região abdominal e pélvica somente em 2% dos casos.11 A maioria das malformações vasculares linfáticas são percetíveis ao nascimento (50-65%).1 O seu diagnóstico pré-natal é ecográfico, como documentado na literatura.9,12 A ressonância magnética fetal pode ser realizada para determinar a extensão das lesões.12 Perante a identificação de uma malformação vascular linfática durante a gravidez, deve ser oferecida à grávida a possibilidade de realizar amniocentese, uma vez que esta patologia se pode associar a algumas cromossomopatias.1,12 A morbilidade destas lesões é dependente da sua localização e ocorre em 2-6% dos casos.12 O tratamento de eleição é dependente do tamanho, características e afetação da qualidade de vida do doente, sendo sempre que possível conservador.1,3,6,7. CASO CLÍNICO Mulher de 28 anos, raça caucasiana, Gesta 2 Para 1, com antecedentes pessoais e familiares irrelevantes. Submetida a ecografia do 1º trimestre, às 13 semanas de gestação, que mostrou espessamento dos planos cutâneos/subcutâneos da cintura pélvica, à direita (fig.1). Esta imagem, sugestiva de malformação linfática localizada na região abdomino-pélvica, foi também encontrada na ecografia morfológica, às 20 semanas. Por este motivo, foi encaminhada para a Unidade de Diagnóstico Pré-Natal do Centro Hospitalar do Porto. Para confirmação do diagnóstico efetuou ressonância magnética fetal às 21 semanas, cujo resultado foi concordante com a suspeita ecográfica (fig.2). No sentido de excluir possíveis alterações cromossómicas, realizou amniocentese às 22 semanas, tendo sido o resultado do doseamento da alfa-fetoproteína e do estudo citogenético fetal normal (46,XY). Figura 1 – Ecografia às 13 semanas: lesão de natureza cística, na dependência dos planos cutâneos/subcutâneos da região pelvica, à direita. Figura 2 – RMN fetal (Sequência single shot coronal): formação quística heterogénea com septos e conteúdo hídrico heterogéneo refletindo conteúdo com diferentes concentrações proteicas, em topografia para-abdominal direita. casos clínicos case reports 43 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 A reavaliação ecográfica, às 24 e 26 semanas mostrou aumento do tamanho da formação quística multisseptada, que se estendia até região nadegueira e parecia invadir as estruturas da cavidade pélvica. (fig.3). Com o objetivo de definir os limites da tumefação intra-abdominal e confirmar a integridade intestinal, repetiu ressonância magnética fetal às 29 semanas, que revelou volumosa tumefação, na vertente lateral direita da pelve, com duas formações quísticas heterogéneas polisseptadas, reflectindo dois componentes intra-abdominal - perirrenal - e extra-abdominal, desde a região do hemitórax até à região nadegueira. Fig. 4: RMN pós-natal ao 3º dia de vida (Sequência single shot coronal): volumosa malformação linfática extraperitoneal (11,7 x 5,2 x 4,2 cm), infiltrando os planos da parede do flanco e região lombo-sagrada direitas, de aspeto multilocular, com componente retroperitoneal, com efeito compressivo no polo inferior do rim ipsilateral, mas sem o infiltrar. Figura 3 – Ecografia às 26 semanas: formação cística cutânea/subcutânea, estendendo-se ao longo do flanco direito e região nadegueira. Em consulta de Cirurgia Pediátrica, o casal foi informado do provável plano terapêutico pós-natal e do prognóstico. Foi mantida vigilância ecográfica até ao parto, não tendo sido esclarecida a existência de continuidade entre as lesões intra e extra abdominais. Nunca desenvolveu hidrópsia fetal. Na última ecografia pré-natal, às 36 semanas, as dimensões da lesão eram de aproximadamente, 11 x 9 x 2 cm. A grávida foi submetida a cesariana programada às 38 semanas, por decisão conjunta do grupo de trabalho da Obstetrícia e da Cirurgia Pediátrica, tendo sido extraído um recém-nascido, vivo, do sexo masculino, com peso ao nascimento de 3280g e Índice de Apgar de 9/10 ao 1ºe 5ºminutos, respetivamente. A avaliação inicial neonatal confirmou o diagnóstico pré-natal. A ressonância magnética, ao 3ºdia de vida, mostrou volumo- 44 casos clínicos case reports sa malformação linfática extraperitoneal (11,7 x 5,2 x 4,2 cm), infiltrando os planos da parede do flanco e região lombo-sagrada direitas, de aspeto multilocular, com componente retroperitoneal, com efeito compressivo no polo inferior do rim ipsilateral, mas sem o infiltrar (fig.4). Foi programada reavaliação clínica e ecográfica em consulta de Cirurgia Pediátrica aos 2 meses de idade, para decisão de eventual escleroterapia intralesional. A ecografia abdominal mostrou manutenção de volumosa lesão com múltiplas áreas quísticas, medindo cerca de 9,3 x 6 cm, admitindo-se possível extensão ao retroperitoneu. Por o doente se encontrar assintomático, pela possibilidade de regressão espontânea da lesão e a mesma naquele momento apresentar dimensões estáveis, foi decidido adiar o tratamento e reavaliar trimestralmente. Aos 12 meses, optou-se por tratamento conservador da malformação linfática por manutenção do tamanho da mesma, apesar da ausência de sintomas, mas devido à ocorrência de infeção respiratória no período pré-operatório, a cirurgia foi adiada, mantendo o doente vigilância trimestral em consulta. Aos 18 meses, por aumento das dimensões da malformação linfática, foi submetido a tratamento conservador – escleroterapia intralesional com bleomicina e soro fisiológico (dose 7 + 7 ml), após aspiração de 14 ml de conteúdo intraquístico da loca superior. O tratamento não teve o resultado pretendido, uma vez que só foi possível tratar uma das locas com sucesso, por consistência endurecida da outra. O pós-operatório decorreu sem complicações, parecendo ter havido diminuição do tamanho da lesão. Cerca de um ano após a cirurgia, apresentou quadro clínico compatível com linfangite, tendo sido internado para tratamento com antibiótico endovenoso (Amoxicilina 1000 mg + Ác. Clavulânico 200 mg) e anti-inflamatório. A ecografia de reavaliação mostrou coleção de conteúdo espesso com 4 cm, correspondendo a complicação inflamatória / hemorrágica de uma das locas da malformação linfática. Repetiu ecografia dois meses após o internamento, NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 que mostrou imagem hiperecogénica com dimensões de 7,3 x 2,4 cm. Manteve avaliação anual em consulta não apresentando complicações até aos quatro anos, altura em que referiu queixas de dor e prurido no local da lesão que afetavam a sua qualidade de vida. Foi requisitada ressonância magnética para planear exérese cirúrgica da lesão, por o doente se encontrar sintomático. O exame mostrou aumento das dimensões da lesão, em relação ao exame anterior, apresentando esta aspeto cístico e ocupando a parede lateral direita do abdómen com extensão posterior para a região lombo-sagrada e componente profundo que se estende ao retroperitoneu, infiltrando o espaço pararrenal posterior homolateral, com dimensões de 15,1 x 7,4 x 10,9 cm e alterações do padrão imagiológico, no qual as lesões císticas apresentam menores dimensões (microquistos) e um aspeto complexo, com conteúdo denso, modificações que poderão estar relacionadas com o tratamento prévio (fig.5). Fig.5: RMN aos 4 anos (Sequência single shot coronal): tumefação volumosa com aspeto cístico que ocupa a parede lateral direita do abdómen com extensão posterior para a região lombo-sagrada e componente profundo que se estende ao retroperitoneu, infiltrando o espaço pararrenal posterior homolateral, com dimensões de 15,1 x 7,4 x 10,9 cm e alterações do padrão imagiológico, no qual as lesões císticas apresentam menores dimensões (microquistos) e um aspeto complexo, com conteúdo denso. Perante as queixas do doente e os dados fornecidos pelo exame, a Cirurgia Pediátrica optou por remoção cirúrgica da lesão. Intraoperatoriamente, constatou-se lesão extensa, com dimensões de 20 x 10 cm, que invadia o plano muscular e o retroperitoneu. Foi realizada exérese parcial de retalho cutâneo e tecido celular subcutâneo da região lombar e flanco direitos. O exame histológico da peça operatória confirmou tratar-se de uma malformação linfática, encontrando-se as margens cirúrgicas intercetadas pela lesão. O período pós-operatório imediato, decorreu sem intercorrências, tendo tido alta hospitalar ao 4ºdia pós-operatório, com indicação de compressão elástica da cicatriz e anti-inflamatórios. Um mês após a cirurgia, desenvolveu quadro clínico de linfangite, caracterizado pelo aparecimento de dor e rubor da cicatriz operatória associados a febre, com ne- cessidade de internamento durante 8 dias, para antibioterapia endovenosa. Aos 5 anos e 2 meses, a criança apresenta crescimento e desenvolvimento normais, sem sinais de recorrência da lesão, encontrando-se a efetuar vigilância clínica na Consulta de Cirurgia Pediátrica. DISCUSSÃO As malformações vasculares linfáticas são anomalias congénitas raras que resultam do desenvolvimento anormal dos vasos linfáticos.6 Podem ser classificadas de acordo com os achados anatomopatológicos e imagiológicos, em três tipos: capilares, cavernosas e císticas. As malformações linfáticas císticas são caracterizadas por apresentarem múltiplos quistos, de tamanho variável, cuja parede é formada por uma camada única de células endoteliais.3,12 De acordo com o tamanho dos quistos são divididas em dois grupos: microquistos (< 1 cm) e macroquistos (> 1 cm).8 Na maioria dos casos, surgem ao nível da cabeça e pescoço. Somente 2% dos casos ocorrem na região abdominal e pélvica, como se verificou no caso clínico apresentado.11 Apesar da sua natureza benigna podem infiltrar os diferentes planos dos tecidos adjacentes atingindo mesmo estruturas vasculo-nervosas. Dependendo da sua localização e dimensões, podem causar distorção cosmética e anatómica/funcional podendo gerar efeito compressivo sobre as estruturas que lhe estão adjacentes perturbando o funcionamento normal de órgãos vitais, originando dispneia, disfagia, disfonia, estase urinária, obstrução intestinal, perturbações do crescimento, entre outras.13 As malformações linfáticas abdomino-pélvicas e retroperitoneais podem apresentar-se com obstrução intestinal e hidronefrose, por compressão intestinal e das vias urinárias, respetivamente.12 Estas lesões facilitam ainda a ocorrência de infeções de repetição, quer pela estase dos fluidos intravasculares, quer pelo quadro de linfocitopenia que muitas vezes está associado.6 Está bem documentado na literatura que o diagnóstico pré-natal destas lesões é ecográfico, sendo a imagem típica caracterizada por uma massa uni ou multiloculada com conteúdo líquido no seu interior, rodeada por uma parede fina.3,6,8,13 Por vezes, no interior dos quistos pode estar presente material ecogénico associado à ocorrência de hemorragia ou infeção. A ressonância magnética fetal, constitui o melhor método de avaliação destas lesões, pois, para além de confirmar o diagnóstico ecográfico, permite uma melhor definição dos limites da lesão e da sua extensão, nomeadamente da existência de invasão/ compressão das estruturas adjacentes, possibilitando planear o parto e o tratamento pós-natal.6,8,12 Está recomendado, em todos os casos, realização de estudo citogenético fetal por possibilidade de associação a determinados síndromes genéticos (Síndrome de Noonan e Kippel-Trenaunay, Síndrome Proteus, entre outros).6,8,12 Em alguns casos, os valores da alfa-fetoproteína podem apresentar-se elevados.1 O padrão de crescimento pré-natal é variável e imprevisível, podendo as lesões permanecer assintomáticas ou apresentarem crescimento com tendência a invadir as estruturas adjacentes.3,13 A sua apresentação clínica, eventuais complicações e casos clínicos case reports 45 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 prognóstico são dependentes da idade gestacional e da localização e tamanho das lesões.3 As complicações mais frequentes incluem: hemorragia intralesional, rotura dos quistos, infeção e compressão das estruturas adjacentes.8,14 Deve manter-se vigilância clínica e ecográfica, durante toda a gravidez, no sentido de detetar sinais de descompensação e hidrópsia ou de compressão das estruturas adjacentes.8,15 O diagnóstico pré-natal do linfangioma permite programar o parto, decidir a via do parto e proporcionar todos os cuidados intraparto e pós-parto necessários, em cada caso, diminuindo a morbimortalidade materna e fetal.8 A abordagem deve ser multidisciplinar, com participação da Cirurgia Pediátrica. O tratamento destas lesões é individualizado, tendo em consideração as características da lesão e está indicado quando as lesões são muito extensas e sintomáticas com o objetivo de controlar os sintomas, permitir o normal funcionamento das estruturas adjacentes e preservação estética.8 Embora, tradicionalmente considerada como tratamento de eleição neste tipo de lesões, com o desenvolvimento das terapêuticas conservadoras, a cirurgia tem sido relegada para segundo plano, exceto em situações de compromisso da via aérea.6,8 Na ausência de indicação para tratamento imediato, podem ser considerados dois tipos de abordagem: expectante, já que se sabe que cerca de 45% destas lesões podem apresentar regressão espontânea nos primeiros meses/anos de vida, não necessitando de qualquer tipo de tratamento, ou terapêutica (conservadora, cirúrgica ou mista).1,8,13 Estudos recentes demonstraram não haver qualquer diferença na eficácia no tratamento da lesão com a escleroterapia intralesional e a sua excisão cirúrgica, pelo que o primeiro deve ser preferido enquanto se aguarda eventual regressão espontânea e desenvolvimento de sistema imunitário do doente.6,8 No que concerne à terapêutica conservadora, a escleroterapia intralesional com agentes esclerosantes é o tratamento mais utilizado. Esta consiste na punção direta da cavidade cística da lesão seguida da aspiração do seu conteúdo e injeção do agente esclerosante.8 Os agentes esclerosantes mais usados incluem a bleomicina, doxiciclina, etanol, picibanil (OK-432) e ácido acético.8 Está, sobretudo, indicada nas malformações linfáticas macrocísticas, onde é mais eficaz. Comparativamente com a cirurgia, este tratamento apresenta como principais vantagens um menor tempo operatório e de internamento, menor interferência cosmética e de menor dano de estruturas adjacentes.7 O edema dos tecidos moles, a necrose da pele circundante e a neuropatia são as complicações mais frequentes deste procedimento.8 Outros tratamentos conservadores disponíveis, mais recentes, incluem: aspiração, ablação por radiofrequência ou excisão com laser, em pacientes seleccionados.6,7,12 Atualmente, o tratamento cirúrgico está indicado em casos de interferência nas vias respiratórias, lesões extensas e sintomáticas que afetam a qualidade de vida do doente e situações de insucesso do tratamento conservador, onde se incluem as malformações linfáticas microcísticas. A complicação mais frequente é a lesão das estruturas adjacentes com compromisso da sua função e desfiguração estética. A exérese incompleta da lesão também pode ocorrer quando as lesões são muito gran- 46 casos clínicos case reports des, infiltrativas e com múltiplas locas, podendo conduzir à sua recorrência.7 Contudo, a taxa de recorrência da lesão é maior para o tratamento médico, uma vez que não há remoção completa da lesão.13 Relativamente ao tratamento no presente caso clínico, optou-se por uma abordagem inicial expectante, uma vez que o doente se encontrava assintomático e porque uma grande parte destas lesões apresenta regressão espontânea. Aos 18 meses, por manutenção de volumosa tumefação com deformação corporal, foi efetuada escleroterapia intralesional, mas somente ao nível da loca superior. Apesar do tratamento incompleto, a lesão manteve-se estável até aos 4 anos de idade, altura em que ocorreu aumento das suas dimensões, com aparecimento de sintomas que causavam interferência na qualidade de vida do doente, fatores estes que motivaram a exérese da lesão restante. CONCLUSÃO As malformações linfáticas abdomino-pélvicas são raras. O seu diagnóstico pré-natal é ecográfico. A ressonância magnética permite confirmar o diagnóstico e define com maior rigor a extensão das lesões. O estudo citogenético fetal deve ser efetuado em todos os casos. A vigilância clínica e ecográfica para deteção de sinais de descompensação ou hidrópsia e de compressão das estruturas adjacentes é imperativa durante toda a gestação. A abordagem deve ser multidisciplinar, com participação da Cirurgia Pediátrica. O seu papel é fundamental para avaliação do prognóstico e planeamento do parto, dos cuidados periparto e do tratamento expectante, médico ou cirúrgico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Rasidaki M, Sifakis S, Vardaki E, Koumantakis E. Prenatal Diagnosis Of a fetal Chest Wall Cystic Lymphangioma Using Ultrasonography and MRI: A case report with literature review. Fetal Diagn Ther. 2005; 20: 504-7. 2. Ozdemir H, Kocakoc E, Bozgeyik Z, Cobanoglu B. Recurrent Retroperitoneal Cystic Lymphangioma. Yonsei Med J. 2005; 5: 715-8. 3. Dominguez EF, Sabaté JD, Burgos AD, Romo JR. Prenatal diagnosis of abdominal cystic lymphangioma. European Journal of radiology Extra. 2003; 45: 97-100. 4. Acevedo JL. Cystic Hygroma. www.emedicine.medscape. com. February,2013. 5. Niu ZB. The “Lymphangioma” An incorrect and Outdated Term. Pediatric emergency Care. 2011; 27: 788. 6. Manning SC, Perkins J. Lymphatic Malformations. Current Opinion Otolaryngology Head and Neck Surgery. 2013; 21: 571-5. 7. Peters D, Courtemanche D, et al. Treatment of Cystic Lymphatic Malformations with OK-432 Sclerotherapy. Plastic and Reconstructive Surgery.2006; 118: 1441-6. 8. Bagrodia N, Defnet A, Kandel J. Management of lymphatic malformations in children. Current Opinion Pediatrics.2015; 27: 356-63. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 9. Mirza BIjaz L, Saleem M, Sharif M, Sheikh A. Cystic Hygroma: an overview. Journal of Cutaneous and Aesthetic Surgery.2010; 3: 139-44. 10.Gallgher PG, Mahoney MJ, Gosche JR. Cystic hygroma in fetus and Newborn. Seminars in Perinatology.1999; 23: 34155. 11.Lee SH, Cho JY, Song MJ. Prenatal diagnosis of abdominal lymphangioma. Ultrasound in Obstetrics and Gynecology.2002; 20: 205-6. 12.Kaminopetros P, Jauniaux E, Kane P, Weston M, Nicolaids KH, Campbell DJ. Prenatal diagnosis of an extensive fetal lymphangioma using ultrasonography, magnetic resonance imaging and cytology. The British Journal of Radiology. 1997; 70: 750-3. 13.Mendéz- Gallart R, Solar-Boga A, Goméz-Tellado M, Somoza-Argibay I. Giant mesenteric cystic lymphangioma in na infant presenting with acute bowel obstruction. Can J Surg.2009; 3: 42-3. 14.Richmond B, Kister N. Adult presentation of giant retroperitoneal cystic lymphangioma: Case report. International Journal of Surgery.2009; 7: 559-60. 15.Costa C, Rocha G, Grilo M, Bianchi R, Sotto-Mayor R, Monteiro J, et al. Tumores no periodo neonatal. Acta Medica Portuguesa. 2010; 23: 405-12. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Ana Isabel Rodrigues: Serviço de Obstetrícia, Unidade de Diagnóstico Pré-Natal, Centro Materno-Infantil do Norte, Centro Hospitalar do Porto Largo da Maternidade, 4050-371 Porto Email: [email protected] Recebido a 10.11.2015 | Aceite a 14.12.2015 casos clínicos case reports 47 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Caso dermatológico Sandrina CarvalhoI, Susana MachadoI,II,III, Yolanda MahiaIV, Manuela SeloresI,II,III Menina de 9 anos, sem antecedentes médicos pessoais ou familiares de relevo, é avaliada por tumefações cutâneas assintomáticas com 12 meses de evolução. Ao exame objetivo observavam-se nódulos violáceos móveis com cerca de 0.5 a 1cm, consistência dura e limites bem definidos ao nível da hemiface esquerda, região cervical lateral esquerda, braço direito e face anterior da perna direita (Figura 1). Foi efetuada uma ecografia de uma das lesões que evidenciou uma estrutura hipoecogénica subcutânea com cerca de 8mm. Qual o seu diagnóstico? Figura 1 – Nódulos violáceos com cerca de 0.5-1cm, consistência dura e limites bem definidos ao nível da hemiface esquerda (A) e braço direito (B). Tumor nodular com áreas calcificadas ao nível da derme e do tecido subcutâneo (H&E 2.5x) (C). __________ S. de Dermatologia, Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal. [email protected] II S. de Dermatologia e Unidade de Investigação em Dermatologia, Centro Hospitalar do Porto. 4099-001 Porto, Portugal [email protected]; [email protected] III Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto. 4050-313 Porto, Portugal. IV S. de Anatomia Patológica. Laborátorios Macedo Dias. 4200 Porto, Portugal [email protected] I 48 caso dermatológico dermatology case NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 DIAGNÓSTICO Pilomatricomas múltiplos COMENTÁRIOS O pilomatricoma ou tumor calcificante de Malherbe é uma neoplasia benigna dos anexos cutâneos. Foi inicialmente descrito em 1880 por Malherbe como um tumor de diferenciação sebácea, etiologia posteriormente afastada por Forbis et al após comprovação histológica da sua origem folicular. O pilomatricoma é mais frequentemente encontrado em crianças e adolescentes do sexo feminino. Caracteriza-se por um nódulo duro, não aderente aos planos profundos, com pele suprajacente normal ou eritemato-violácea, predominantemente localizado ao nível da cabeça, pescoço ou membros superiores. O estiramento da pele poderá evidenciar a superfície calcificada multifacetada do pilomatricoma (sinal de Tent). O seu crescimento é geralmente lento e assintomático. Os pilomatricomas múltiplos são raros e podem estar associados a múltiplas patologias (distrofia miotónica, síndrome de Turner, síndrome de Gardner, gliomatose cerebral, sarcoidose e doença celíaca). A maior frequência de pilomatricomas nos doentes com distrofia miotónica ou doença de Steinert tem sido associada à uma desregulação do metabolismo fosfocálcico induzido pela mutação do gene DMPK. A regressão espontânea dos pilomatricomas é pouco frequente e o risco de transformação maligna é baixo. A exérese cirúrgica é geralmente necessária para confirmação diagnóstica. O caso clínico descrito pretende salientar a importância de um seguimento prolongado em crianças com pilomatricomas múltiplos para exclusão de recidivas e/ou desenvolvimento de patologias associadas. RESUMO O pilomatricoma é um tumor benigno dos anexos cutâneos de diferenciação folicular, mais frequentemente encontrado em crianças e adolescentes, com predomínio do sexo feminino. Clinicamente, caracteriza-se por um nódulo eritemato-violáceo, móvel, de consistência dura ao nível da cabeça ou pescoço. Embora raros, pilomatricomas múltiplos podem estar associados a outras patologias, particularmente a distrofia miotónica ou doença de Steinert. Nestes casos sugere-se um seguimento mais prolongado para exclusão de recidivas e/ou desenvolvimento de outras doenças. Descrevemos o caso clínico de uma menina com 9 anos de idade e pilomatricomas múltiplos Palavras-chave: pilomatricomas, tumor de Malherbe, infância. particularly myotonic dystrophy or Steinert’s disease. In these cases, a prolonged follow-up should be maintained to rule out relapses and/or development of other diseases. We describe the case of a 9-year-old girl with multiple pilomatrixomas. Key-words: pilomatrixoma, tumor of Malherbe, childhood. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 48-9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Li Chan JJ, Tey HL. Multiple pilomatricomas: Case presentation and review of the literature. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Sandrina Carvalho: Serviço de Dermatologia, Centro Hospitalar do Porto Largo Professor Abel Salazar, 4099-001 Porto, Portugal Email: [email protected] Recebido a 17.05.2015 | Aceite a 15.10.2015 ABSTRACT Pilomatrixoma is a benign tumor of skin appendages with follicular differentiation most frequently found in children and adolescents, predominantly female. Clinically it is characterized by an erythematous-violaceous mobile nodule of hard consistency located on the head or neck. Although rare, multiple pilomatrixomas can be associated with other pathologies, caso dermatológico dermatology case 49 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 Caso cardiológico Alexandra Pires PintoI, Vânia GonçalvesII, Georgina MonteiroIII, Teresa MachadoIV Criança, sexo masculino, 5 anos de idade, saudável, sem internamentos prévios, referenciado à consulta de Cardiologia Pediátrica por sopro cardíaco. Não referia sintomas cardiovasculares e ao exame físico detectava-se a presença de sopro proto-mesossistólico, vibratório grau II/VI, máximo no bordo esternal esquerdo baixo (sopro de Still). Restante exame físico normal. Realizou eletrocardiograma que foi normal. Fez ecocardiograma transtorácico cujas imagens se apresentam de seguida (figuras 1 e 2). Qual o seu diagnóstico? Figura 1. Ecocardiograma transtorácico plano apical 4 câmaras. Figura 2. Ecocardiograma Doppler-cor plano apical 4 camaras. __________ S. de Pediatria do Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte. 1649-035 Porto, Portugal. [email protected] II S. de Pediatria do Hospital Pediátrico Integrado, Centro Hospitalar de São João. 4200-319 Porto, Portugal. [email protected] III S. de Pediatria do Hospital de São Teotónio. 3504-509 Viseu, Portugal. [email protected] IV S. de Cardiologia Pediátrica do Centro Hospitalar de São João. 4200-319 Porto, Portugal. [email protected] I 50 caso cardiológico cardiology case NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 DIAGNÓSTICO Cor triatriatum sinistrum COMENTÁRIOS O cor triatriatum é uma anomalia congénita rara, representando 0,4% das cardiopatias congénitas, na qual uma membrana fibromuscular divide a aurícula em duas câmaras. Pode estar associada a outras lesões cardíacas congénitas em até 80% dos casos da população pediátrica.2 A fisiologia do cor triatriatum sinistrum é similar à da estenose mitral bem como a outras formas obstrutivas à entrada do fluxo no ventrículo esquerdo (1). Assim, os sintomas clínicos relacionam-se diretamente com o grau de obstrução à drenagem venosa pulmonar. Em recém-nascidos e crianças as manifestações são secundárias a um orifício estreito com aumento da pressão na aurícula esquerda e congestão pulmonar.2 As crianças podem apresentar taquipneia e taquicardia em repouso, infecções respiratórias frequentes, insuficiência cardíaca congestiva e atraso de crescimento. Na forma isolada as manifestações clínicas podem ser inespecíficas e não haver sopros audíveis (no caso presente o sopro cardíaco tinha características de sopro inocente), ou detectar-se um aumento do componente pulmonar do segundo som se existe hipertensão pulmonar. Para o diagnóstico é essencial a ecocardiografia. Na figura 1 visualiza-se a aurícula esquerda dividida em duas câmaras, uma superior que recebe as veias pulmonares e contem o apêndice auricular e outra inferior conectada com a válvula mitral, separadas por uma membrana fibrosa, fenestrada. A membrana insere-se no septo interauricular, no rebordo superior da fossa oval e prolonga-se até à parede lateral da aurícula esquerda, imediatamente abaixo do apêndice auricular. O orifício de 6 mm encontra-se adjacente ao septo inter-auricular na sua porção postero-inferior com fluxo acelerado a esse nível (figura 2), com gradiente pico de 10mmHg e médio de 4mmHg. Não se detectaram sinais ecocardiográficos de hipertensão pulmonar. No caso presente, muito embora a criança estivesse assintomática, dada a evidência de obstrução a nível do orifício da membrana, foi submetida a cirurgia cardíaca electiva com remoção da membrana e evolução favorável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Lima R., Fonseca C., Sampaio F., Ribeiro J., Ribeiro V. Cor triatriatum sinistrum – Descrição e revisão de quatro casos clínicos. Rev Port Cardiol. 2010;29:827-36. 2. Nassar P., Hamdan R. Cor Triatrium Sinistrum: Classification and imaging modalities. Eur J Cardiovascular Med 2011; 1: 84-7. 3. Humpl T, Reineker K, Manlhiot C, Dipchand AI, Coles JG, McCrindle BW. Cor triatriatum sinistrum in childhood. A single institution’s experience Can J Cardiol. 2010 ; 26: 371-6. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Alexandra Pires Pinto: Serviço de Pediatria, Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte Av. Prof. Egas Moniz, 1649-035 Lisboa Email: [email protected] Recebido a 06.05.2015 | Aceite a 11.12.2015 ABSTRACT The authors present the case of an asymptomatic 5 year-old boy referred to Pediatric Cardiology Clinic for a cardiac murmur. Echocardiography revealed cor triatriatum sinister with a restrictive fenestration, and no signs of pulmonary hypertension. Due to the presence of intra atrial obstruction, the child was submitted to elective surgery, with a favourable outcome. Key-words: Cor triatriatum, childhood, obstructive membrane. Nascer e Crescer 2016; 25(1): 50-1 caso cardiológico cardiology case 51 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INSTRUÇÕES AOS AUTORES A Revista NASCER E CRESCER dirige‑se a todos os profissionais de saúde com interesse na área da Saúde Materno Fetal e Neonatal e publica artigos científicos relacionados com a Pediatria, Pediatria Baseada na Evidência, Saúde Mental da Infância e Adolescência, Bioética e Gestão Hospitalar. Poderão ser publicados artigos provenientes de todos os países de língua oficial portuguesa, bem como de outros países se redigidos em português e Inglês, sendo esta última preferencial. Os Editoriais, os artigos de Home nagem e artigos de âmbito cultural são publicados a pedido da Direcção da Revista. A revista publica artigos originais de investigação, artigos de revisão, casos clínicos, qual o seu diagnóstico e artigos de opinião. Os artigos propostos não podem ter sido objecto de qualquer outro tipo de publicação. As opiniões expressas são da inteira responsabilidade dos autores. Os artigos publicados ficarão de inteira propriedade da Re vista e não poderão ser reproduzidos, no todo ou em parte, sem prévia autorização dos editores, exceto em repositórios institucionais ou públicos. MANUSCRITO Os trabalhos devem ser endereçados ao Diretor da revista para o seguinte endereço eletrónico [email protected]‑saude.pt como documento anexo em qualquer versão actual de Microsoft Word, acompanhados da declaração de autoria. Os artigos estão sujeitos a um processo de revisão e cabe ao Editor a responsabilidade de os: a) aceitar sem modificações, b) aceitar após alterações propostas, ou c) rejeitar, com base no parecer de pelo menos dois revisores que os analisarão de forma anónima. Os pareceres serão sempre comunicados aos autores. CONSENTIMENTO INFORMADO E APROVAÇÃO PELA COMISSÃO DE ÉTICA É da responsabilidade dos autores garantir que são respeitados os princípios éticos e deontológicos, bem como, a legislação e as normas aplicáveis, conforme recomendado na Declaração de Helsínquia. Nos estudos experimentais, é obrigatório que os autores mencionem a existência e aplicação de consentimento informado dos participantes, assim como a aprovação do protocolo pela Comissão de Ética. É obrigatória declaração de conflito de interesses ou financiamento. NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista Nascer e Crescer subscreve os requisitos para apresentação de manuscritos a revistas biomédicas elaboradas pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (Uniform Requirements for Manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje. org. Updated July 2011). O trabalho deve ser apresentado na seguinte ordem: 1 – Título em português e em inglês; 2 – Autores; 3 – Resumo em português e inglês. Palavras‑chave e Keywords; 4 – Corpo do artigo; 5 – Referências Bibliográficas; 6 – Figuras; 7 – Quadros; 8 – Legendas; 9 – Agradecimentos e esclarecimentos. As páginas devem ser numeradas segundo a sequência referida atrás. 52 normas de publicação instructions for authors TÍTULOS E AUTORES – O título deve ser o mais conciso e explícito possível, escrito na pri meira página, em português e em inglês, não mencionando a identificação da instituição onde decorreu o estudo. – A indicação dos autores deve ser feita pelo nome clínico ou com a(s) inicial(ais) do(s) primeiro(s) nome(s), seguida do apelido e devem constar as afiliações profissionais. – Os contactos de todos os autores devem incluir endereço postal, endereço eletrónico e telefone. RESUMO E PALAVRAS‑CHAVE – O resumo deverá ser redigido na língua utilizada no texto e sempre em inglês, devendo evitar‑se abreviaturas. – Nos artigos originais deverá compreender no máximo 250 palavras e ser elaborado segundo o seguinte formato: Introdução, Objectivos, Material e Métodos, Resultados e Conclusões. – Nos artigos de revisão deverá compreender no máximo 250 palavras e ser estruturado da seguinte forma: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. – Nos casos clínicos, não deve exceder 150 palavras e deve ser estruturado em Introdução, Caso Clínico e Discussão/Conclusões. – Nos casos Qual o seu diagnóstico? Deverá compreender no máximo 150 palavras e deve ser estruturado da seguinte forma: Caso, Diagnóstico, Comentários/Discussão e Conclusões. – Abaixo do resumo deverá constar uma lista de três a dez palavras‑-chave, em Português e Inglês, por ordem alfabética, que servirão de base à indexação do artigo. Os termos devem estar em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH). TEXTO – O texto poderá ser apresentado em português e Inglês. – Os artigos originais de investigação devem ser elaborados com a seguinte organização: Introdução; Material e Métodos; Resultados; Discussão e Conclusões. – Os artigos de revisão devem obedecer à seguinte estrutura: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. – Os casos clínicos devem ser exemplares, devidamente estudados e discutidos e conter uma breve introdução, a descrição do(s) caso(s) e uma discussão sucinta que incluirá uma conclusão sumária. – Os casos Qual o seu Diagnóstico? é dedicada a casos clínicos curtos em que a imagem seja fundamental para o diagnóstico. As imagens (duas ou três) podem ser relativas à observação clinica do doente ou a meios complementares de diagnóstico. Deve incluir uma descrição do caso, que finaliza com a pergunta: Qual o seu Diagnóstico? Deve seguir-se o diagnóstico, a orientação do doente e discussão breve. – As abreviaturas utilizadas devem ser objecto de especificação. Quando necessária a sua utilização, devem ser definidas na primeira vez que são mencionadas no texto. Quando usadas mais do que seis, recomenda‑se a inclusão de um quadro onde todas serão especificadas. Não se aceitam abreviaturas nos títulos dos trabalhos. – Os parâmetros ou valores medidos devem ser expressos em unida‑ des internacionais (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), utilizando para tal as respectivas abreviaturas adoptadas em Portugal. – Os números de 1 a 10 devem ser escritos por extenso, excepto quan‑ do têm decimais ou se usam para unidades de medida. Números superiores a 10 são escritos em algarismos árabes, excepto se no início da frase. – Relativamente aos resultados, a informação não deverá ser referida em duplicado no texto e nos quadros / tabelas, bastando salientar no texto os principais citados na figura. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – As referências devem ser classificadas e numeradas por ordem de entrada no texto, com algarismos árabes, formatados sobrescritos. – Referências sequenciais devem ser feitas indicando apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: 4‑7). Serão no máximo 40 para artigos originais, 15 para casos clínicos, 6 para Qual o seu diagnóstico? e 80 para artigos de revisão. – Os autores devem verificar se todas as referências estão conformes aos Uniform Requirements for Manuscript submitted to biomedical journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html) e se utilizam os nomes abreviados das publicações adoptadas pelo Índex Medi‑ cus. Os autores devem consultar a página NLM’s Citing Medicine relativamente às recomendações de formato para os vários tipos de referência. Seguem‑se alguns exemplos: a)Revista médica: listar os primeiros seis autores, seguidos de et al (em itálico) se ultrapassar 6, título do artigo, nome da revista, ano, volume e páginas. Ex.: Haque KN, Zaidi MH, Haque SK, Bahakim H, el‑Hazmi M, el‑Swailam M, et al. Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5: 622‑65. b)Capítulo em livro: autor(es), título do capítulo, nome(s) do(s) Editor(es), título do livro, número da edição, cidade e nome da casa editora, ano de publicação, primeira e última páginas do capítulo. Ex.: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465‑78. c)Livro: autor(es), título do livro, número da edição, cidade e nome da casa editora, ano de publicação e número de página. Ex.: Jenkins PF. Making sense of the chest x‑ray: a hands‑on guide. 2nd. London: Taylor & Francis; 2013. p. 120. d)Referência electrónica: artigo de revista em formato electrónico. Ex.: Jeha G, Kirkland J. Etiology of hypocalcemia in infants and children. Janeiro, 2010. (Acedido em 8 de Maio de 2013). Disponível em: http://www.uptodate.com. FIGURAS E QUADROS – Apresentadas em formato digital de boa qualidade. – Cada quadro e figura deverá ser numerado sequencialmente, em numeração árabe, por ordem de referência no texto, ser apresentado em página individual e acompanhado de título e legenda explicativa quando necessário. – Todas as abreviaturas ou símbolos necessitam de legenda. – Se a figura ou quadro é cópia de uma publicação ou modificada, deve ser mencionada a sua origem e autorização para a sua utilização quando necessário. – Fotografias ou exames complementares de doentes deverão impedir a sua identificação devendo ser acompanhadas pela autorização para a sua publicação dada pelo doente ou seu responsável legal. – O total de figuras e quadros não deve ultrapassar os oito para os artigos originais e cinco para os casos clínicos. As figuras ou quadros coloridos, ou os que ultrapassam os números atrás referidos, serão publicados a expensas dos autores. AGRADECIMENTOS E ESCLARECIMENTOS Os agradecimentos e indicação de conflito de interesses de algum dos autores ou financiamento do estudo devem figurar na última página. MODIFICAÇÕES E REVISÕES No caso do artigo ser aceite mas sujeito a modificações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo de quinze dias. As provas tipográficas serão enviadas aos autores em formato electrónico, contendo a indicação do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da Revista. O não respeito do prazo desobriga a aceitação da revisão dos autores, sendo a mesma efectuada exclusivamente pelos serviços da Revista. CARTAS AO EDITOR As Cartas ao Editor deverão constituir um comentário a um artigo da revista ou uma breve nota sobre uma importante nova prática clínica. Não devem exceder as 500 palavras e ter um máximo de 5 referências bibliográficas. ESTRUTURA DOS ARTIGOS – NORMAS DE PUBLICAÇÃO Resumo Tipo de artigo Número máximo de palavras Estrutura Figuras e Quadros Bibliografia Número total máximo Número máximo de referências 5000 . Introdução/Objectivo . Material e Métodos . Resultados . Discussão . Conclusões 8 40 . Introdução (breve) . Caso(s) Clínico(s) . Discussão (com conclusão) 5 15 8 80 2/3 15 _ 5 Palavras‑chave (Português e Número máximo de palavras Inglês) (excluindo Referências e Ilustrações) Artigos originais de investigação 250 . Introdução/Objectivo . Material e Métodos . Resultados . Conclusões Casos Clínicos 150 . Introdução . Caso(s) clínico(s) . Discussão/Conclusões 3 a 10 2500 Artigos de revisão 250 . Introdução . Objectivos . Desenvolvimento . Conclusões 3 a 10 5000 Qual o seu Diagnóstico? 150 . Apresentação 3 a 10 2500 Carta ao Editor _ _ 500 _ 3 a 10 Texto Estrutura . Introdução . Métodos . Desenvolvimento . Discussão (com conclusões) . Caso / Historial . Diagnóstico . Comentários / Discussão (conclusões) _ normas de publicação instructions for authors 53 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 INSTRUCTIONS FOR AUTHORS The Journal NASCER E CRESCER is addressed to all professionals of health with interest in the area of Maternal, Fetal and Child/Adolescent Health and publishes scientific articles related with Paediatrics, Evidence Based Paediatrics , Mental Health, Bioethics and Health Care Management. The journal accepts manuscripts from all countries of Portuguese language, as well as other countries written in Portuguese and English, with preferential of English. The Editorials, the articles of Homage and articles of cultural scope are published under request of the Direction of the journal. The Journal publishes original articles, review articles, case reports and opinion articles. The articles submitted must not have been published previously in any form. The opinions therein are the full responsibility of the authors. Published articles will remain the property of the Journal and may not be reproduced, in full or in part, without the prior consent of the editors, with exception to institutional and public repositories. MANUSCRIPT Manuscripts for publication should be addressed to the editor of the journal: NASCER E CRESCER, Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto to [email protected] Manuscripts should be saved in Word and must be accompanied by the declaration of authorship by all authors. Submitted articles should follow the instructions below, and are subject to an editorial screening process based on the opinion of at least two anonymous reviewers. Articles may be: a) accepted with no modifications, accepted with corrections or modifications, c) or rejected. This is based opinion of at least two reviewers who review anonymously. Authors will always be informed of the reasons for rejection and of the comments of the experts. INFORMED CONSENT AND APPROVAL BY THE ETHICS COMMITTEE It is responsibility of the authors to guarantee the respect of the ethical and deontological principles, as well as legislation and norms applicable, as recommended by the Helsinki Declaration. In research studies it is mandatory to have the written consent of the patient and the approval of the Ethics Committee, statement of conflict of interest and financial support. MANUSCRIPT PREPARATION Nascer e Crescer complies with the recommendations of the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) (Uniform require‑ ments for manuscripts submitted to biomedical journals. http://www. icmje.org. Updated July 2011). All the components of the paper, including images must be submitted in electronic form. The papers must be presented as following: 1 ‑ Title in Portuguese and English; 2 ‑ Authors; 3 ‑ Abstract in Portuguese and English and keywords; 4 ‑ Text; 5 ‑ References; 6 ‑ Figures; 7 ‑ Tables; 8 ‑ Legends; 9 – Acknowledgements and clarifications. Pages should be numbered according the above sequence. If a second version of the paper is submitted, this should also be sent in electronic format. TITLE AND AUTHORS - The title should be concise and revealing, written on the first page, in Portuguese and English, not mentioning the identification of the institution where the study was held. 54 normas de publicação instructions for authors - The indication of the authors should be made by the clinical name (s) or with initial (s) (s) first (s) name (s), followed by the surname and should include professional affiliations. - At the end of the page must include: organizations, departments or hospital services of the author(s); the name of the Institutions where the study was performed; the contact details of all authors (postal address, electronic address and telephone). ABSTRACT AND KEYWORDS - The abstract should be written in the same language of the text and always in Portuguese and English. Do not use abbreviations. - Original articles should contain no more than 250 words and the abstract should consist of labelled Background, Material and Methods, Results and Conclusions. - Review articles should contain no more than 250 words and must be structured: Introduction, Objectives, Development and Conclusions. - Case Reports should contain no more than 150 words and the abstract should consist of labelled Introduction, Case report and Discussion/Conclusions. - In What is your Diagnosis? Should contain no more than 150 words and must be structured: Case, Diagnosis, Comments/Discussion and Conclusions. - Each abstract should be followed by the proposed keywords in Portuguese and English in alphabetical order, minimum of three and maximum of ten, as a basis for indexing Article. Use terms from the Medical Subject Headings from Index Medicus (MeSH). TEXT - The text may be written in Portuguese or English. - The original articles should contain the following sections: Introduction; Material and Methods; Results; Discussion and Conclusions. - The structure of review articles should include: Introduction; Objectives, Development and Conclusions. - The case reports should be unique cases duly studied and discussed. They should contain: a brief Introduction, Case description and a succinct discussion including a summary conclusion. - The section of What is your Diagnosis? Is indicated to small case reports where the image is fundamental to the diagnosis. The images (two or three) should be relatived to the clinical observation of the patient or a supplementary diagnosis. Should contain a discription of the case that ended with a question: What is your Diagnosis? Must be follewed by the diagnosis, the orientation of the patient and a brief discussion. - Any abbreviation used should be spelled out the first time they are used. When used more than six, it is recommended to include a table where all be specified. Abbreviations are not accepted in the titles of papers. - Parameters or values measured should be expressed in international (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), using the corresponding abbreviations adopted in Portugal. - Numbers 1 to 10 should be written in full, except in the case of decimals or units of measurements. Numbers above 10 are written as figures except at the beginning of a sentence. - With regard to the results, the information should not be referred to in duplicate in the text and tables / charts, being enough emphasize the text cited in the main figure. REFERENCES - References should be noted in the text with subscript Arabic numbers, in order from the first citation. - Sequencial references must be made indicating only the first and last joined by hyphen (ex.: 4‑7). They should be limited to 40 for original papers, 15 to case reports, 6 to What is your Diagnosis? and 80 to review articles. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2016, vol XXV, n.º 1 - The journal complies with the reference style in the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). Abbreviate journal titles according to the List of Journals Indexed in Index Medicus. Authors should consult NLM’s Citing Medicine for information on its recommended formats for a variety of reference types. Examples: a)Journal: list the first six authors followed by et al to surpass 6, title of the article, name of the journal, year, volume, pages. Ex: Haque KN, Zaidi MH, Haque SK, Bahakim H, el‑Hazmi M, el‑Swailam M, et al. Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5: 622‑65. b)Chapters of books: author(s), title of the chapter or contribution, name and initials of the editors, title of book preceded by ‘In:’, number of edition, city and name of publisher, year of publication, first and last page of the chapter. Ex: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465‑78. c)Book: author(s), title of book, number of edition, city and name of publisher, year of publication, page. Ex: Jenkins PF. Making sense of the chest x‑ray: a hands‑on guide. 2nd. London: Taylor & Francis; 2013. p. 120. d)Online reference: Journal article on the Internet: Ex.: Jeha G, Kirkland J. Etiology of hypocalcemia in infants and children. January, 2010. (Accessed 8 May 2013). Available at: http://www.uptodate.com. TABLES AND FIGURES - All illustrations should be in digital format of high quality. - Each table and figure should be numbered in sequence, by Arabic numerals, in the order in which they are referenced in the text. They should each have their own page and bear an explanatory title and caption when necessary. - All abbreviations and symbols need a caption. - If the illustration has appeared in or has been adapted from copyrighted material, include full credit to the original source in the legend and provide an authorization if necessary. - Any patient photograph or complementary exam should have patients’ identities obscured and publication should have been authorized by the patient or legal guardian. - The total number of figures or tables must not exceed eight for original articles and five for case reports. Figures or tables in colour, or those in excess of the specified numbers, will be published at the authors’ expense in the paper version. ACKNOWLEDGMENTS AND CLARIFICATIONS The acknowledgments and the conflict of interests must be published at the last page. All authors are required to disclose all potential conflicts of interest. All financial and material support for the research and the work should be clearly and completely identified in an Acknowledgment section of the manuscript. MODIFICATIONS AND REVISIONS If the paper is accepted subject to modifications, these must be submitted within fifteen days of notification. Proof copies will be sent to the authors in electronic form together with an indication of the time limit for revisions, which will depend on the Journal’s publishing schedule. Failure to comply with this deadline will mean that the authors’ revisions may not be accepted, any further revisions being carried out by the Journal’s stafff. LETTERS TO THE EDITOR Letters to the Editor should be a comment to scientific manuscript or a small note about an important new clinical practice. A letter should not exceed 500 words and have a maximum of 5 references. ESTRUTURA DOS ARTIGOS – NORMAS DE PUBLICAÇÃO Abstract Article Maximum words Sections Keywords (Portuguese and English) Maximum words (excluding References and Tables) Máximum Máximum 5000 . Introduction/Aim . Methods . Results . Discussion . Conclusions 8 40 . Introduction (short) . Clinical Case . Discussion (including conclusions) 5 15 8 80 2/3 15 _ 5 Original articles 250 . Background . Methods . Results . Conclusions Case Reports 150 . Introduction . Case report . Discussion/Conclusions 3 a 10 2500 Review articles 250 . Introduction . Aim . Results . Conclusions 3 a 10 5000 What is your diagnosis? 150 . Introduction 3 a 10 2500 Letters to the Edito _ _ 500 _ 3 a 10 Tables and Bibliografia Figures Text Sections . Introduction . Methods . Main text . Discussion (including conclusions) . Case /Historical . Diagnosis . Comments/Discussion (Conclusions) _ normas de publicação instructions for authors 55 I I C U R S O T E Ó R I C O - P R ÁT I C O D E C A R D I O L O G Í A P E D I Á T R I C A P A R A P E D I A T R A S E N E O N AT O L O G I S T A S I I C U R S O T E Ó R I C O - P R ÁT IPrograma C O D E C A R D I O L O G Í A P E D I ÁT R I C A P A R A P E D I A T R A S E N E O N AT O L O G I S T A S CH Porto, 19 e 20 de Maio 2016 Programa ECG normal na criança Arritmias mais frequentes CH Porto, 19 e 20 de Maio 2016 ECG normalde naprécriança Síndromes excitação: diagnóstico e orientaçãoArritmias mais frequentes Desporto e coração Síndromes de pré- excitação: diagnóstico e orientaçãoMorte súbita na criança Desporto e coração Sessão Interactiva I .Casos práticos ECG Morte súbita na criança Sessão teórico-prática: Sopro cardíaco na criança : funcional ou orgânico? Sessão Interactiva I .Casos práticos ECG Ecocardiografia: princípios básicos e abordagem diagnóstica das cardiopatias Sessão teórico-prática: Sopro cardíaco na criança : funcional ou orgânico? Ecocardiografia funcional em neonatologia Ecocardiografia: princípios básicos e abordagem diagnóstica das cardiopatias Cardiopatias no RN : diagnóstico e e terapêutica Ecocardiografia funcional em neonatologia Oximetria de pulso e biomarcadores cardíacos Cardiopatias no RN : diagnóstico e e terapêutica Aulas práticas de ecocardiografia Oximetria de pulso e biomarcadores cardíacos Sessão interactiva II Casos práticos ECO Aulas práticas de ecocardiografia Sessão interactiva II Casos práticos ECO Secretariado / Inscrições: [email protected] Secretariado / Inscrições: www.ademi.pt [email protected] (inscrições limitadas) www.ademi.pt (inscrições limitadas) Organização Serviços de Cardiologia Pediátrica do CH Porto e CH S João Organização Serviços de Cardiologia Pediátrica do CH Porto e CH S João