Tempo necessário para produção de mudas de alfavaca

Transcrição

Tempo necessário para produção de mudas de alfavaca
1
PPM
17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar
Características de mudas de alfavaca-cravo (Ocimum gratissimum L.)
propagadas por estaquia em dois tipos de substratos
1
2
2
Cristina Batista de Lima *, Tamiris Tonderys Villela , Ana Claudia Boaventura , Henrique Hiroshi Maeda
1
Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus Luiz Meneghel (UENP/CLM), Centro de Ciências
2
Agrárias, C.P. 261, CEP 86360-000, Bandeirantes (PR), Discentes do Programa de Mestrado em
3
Agronomia (UENP/CLM) Discente do curso de graduação (UENP/CLM)
1
2
3
[email protected] ; [email protected] ; [email protected] ; [email protected]
3,
4
RESUMO
O presente estudo teve por objetivo estabelecer as características de mudas de alfavaca-cravo,
propagadas por estaquia em dois tipos de substratos produzidos na fazenda escola da UENP/CLM com
vermicomposto, solo de barranco de textura argilosa (69,8% de argila, 21,9% de areia e 8,3% de silte), areia
e torta de filtro, sendo estes materiais de baixo custo e fácil acesso na região. As estacas foram
confeccionadas com a parte mediana dos ramos sem folhas com 25 cm de comprimento, 4 a 7 gemas e 3 a
6 g, com a porção inferior cortada em bisel. Aos 35, 50, 65, 80 e 95 dias após o estaqueamento foram
avaliadas as porcentagens de enraizamento e as massas seca da parte aérea e do sistema radicular. O
acúmulo de massa seca nas mudas de alfavaca-cravo foi influenciado pela adição de torta de filtro ao
substrato, proporcionando mudas com melhor qualidade morfológica e visual, aos 65 dias após a estaquia.
Palavras-chave: planta medicinal, propagação vegetativa, torta de filtro.
INTRODUÇÃO
A avaliação da qualidade morfológica de mudas é importante para o sucesso no
estabelecimento de plantios a campo. Uma muda de boa qualidade deve apresentar aspecto
visual vigoroso, ausência de estiolamento, amarelecimento, pragas, doenças e ervas daninhas,
parte aérea e sistema radicular desenvolvidos sem enovelamento nem crescimento de raízes fora
do recipiente.
Parâmetros morfológicos determinados visualmente ou por medições são importantes no
sucesso do desempenho das mudas, após o plantio definitivo no campo. A determinação das
massas das matérias secas da parte aérea e do sistema radicular são eficientes, porém, o padrão
mais utilizado é a altura da parte aérea, devido a facilidade de medição (sem necessidade de
destruir mudas), avaliado em conjunto com o aspecto visual e a sanidade da muda, no momento
da expedição para o campo (GOMES e PAIVA, 2011).
Diversos substratos são utilizados no enraizamento e produção de mudas de diferentes
plantas. Em função do tipo de substrato e manejo, as estacas podem apresentar raízes
adventícias desuniformes, refletindo no pegamento e desenvolvimento da planta, após o
transplante no campo (PAULUS e PAULUS, 2007).
A reprodução da alfavaca-cravo por sementes é demorada (PRADO et al., 2000), fazendo
com que a propagação vegetativa seja preferida na multiplicação dos genótipos de interesse, pois
17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar
2
é uma importante ferramenta para o melhoramento de espécies lenhosas e herbáceas,
preservando características varietais da planta-mãe, com rapidez e economia (EHLERT, et al
2004; MENDES et al, 2014).
As mudas devem estar em estado nutricional perfeito, para que não haja descontinuidade
no fornecimento de nutrientes, durante a fase de formação de novas raízes após o transplantio.
Uma muda nutricionalmente debilitada só vai receber nutrientes quando as novas raízes
começarem a funcionar. As mudas bem nutridas podem fornecer nutrientes acumulados, através
da redistribuição, naquele período de formação de novas raízes, ou seja, quase não há
interrupção no fornecimento de nutrientes. A sobrevivência e o crescimento das mudas após o
transplante dependem de uma rápida expansão do sistema radicular (MINAMI, 2010).
Pesquisas devem ser desenvolvidas com o intuito de diminuir o período de permanência e
uniformizar o desenvolvimento das mudas em viveiro. Para tanto, é imprescindível a realização de
trabalhos visando a adequação de substratos, nutrientes e recipientes. O presente estudo teve por
objetivo estabelecer as características de mudas de alfavaca-cravo, propagadas por estaquia em
dois tipos de substratos.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado com estacas de alfavaca-cravo preparadas a partir de ramos
retirados de plantas matrizes, existentes na coleção de plantas medicinais do Campus Luiz
Meneghel da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP/CLM), Bandeirantes/PR. A
identificação botânica das plantas matrizes foi efetuada pelos técnicos do Museu Botânico de
Curitiba/PR, com base em material herborizado, que após a identificação foi incorporado à
coleção do Centro de Educação e Pesquisa Ambiental da UENP/CLM, sob o número de registro
434. Os ramos foram coletados pela manhã e as estacas padronizadas com a parte mediana sem
folhas, 25 cm de comprimento (EHLERT et al., 2004), 4 a 7 gemas, 3 a 6 gramas, com a porção
inferior cortada em bisel.
As estacas foram plantadas em recipientes constituídos por vasos transparentes de
polietileno (500 mL de capacidade), previamente preenchidos com os substratos descritos na
Tabela 1.
O vermicomposto foi produzido na fazenda escola da UENP/CLM. O solo de barranco
(subsolo no mínimo 60 cm de profundidade) apresentou textura argilosa: 69,8% de argila, 21,9%
de areia e 8,3% de silte. A areia é a comercialmente conhecida como ‘areia média’. A torta de filtro
de cana-de-açúcar (subproduto da indústria canavieira resultante da purificação do caldo sulfitado)
foi adquirida na empresa USIBAN. A determinação da textura do solo foi efetuada no Laboratório
de Análise de Solos da UENP/CLM. A classificação do solo predominante no município de
Bandeirantes é Latossolo Vermelho Eutroférrico típico (EMBRAPA, 2006).
3
17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar
Tabela 1. Materiais, proporções volumétricas e características químicas dos dois substratos
preparados para estaquia de alfavaca-cravo. UENP/CLM, Bandeirantes, 2015.
Substrato
1
2
Vermicomposto
2
2
pH
CaCl2
6,5
6,2
1
2
MO
g.kg-1
24,2
24,2
Solo de barranco
Areia
Torta de Filtro
4
2
0
4
2
8
Características químicas
P
K Ca
Mg
H+Al
SB
CTC
V
mg.dm ³
----------------------cmolc dm ³ ------------%
89,8
1,6 9,4
4,2
2,8
15,2 18,0
84,7
153,2
1,4 7,4
2,4
3,6
11,2 14,8
75,7
Os recipientes foram mantidos em casa de vegetação modelo arco e irrigados
diariamente pela manhã e à tarde. As médias de temperatura e umidade durante o período dos
experimentos estão apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2. Médias de temperatura (ºC) e umidade relativa (%), internas no local de produção das
mudas de alfavaca-cravo, no período de outubro de 2013 a abril de 2014. UENP/CLM,
Bandeirantes, 2015.
Médias
Temperatura
Umidade
Outubro
23,1
45,0
2013
Novembro
24,2
46,9
Dezembro
24,2
46,9
Janeiro
25,7
49,8
2014
Fevereiro Março
26,0
24,0
48,0
55,0
Abril
22,0
54,0
Aos 35, 50, 65, 80 e 95 dias após o início da propagação por estaquia foram
avaliadas as porcentagens de enraizamento e as massas das matérias seca (g) da parte aérea
(MMSPA) e do sistema radicular (MMSSR). Para determinação das massas da matéria seca o
material vegetal fresco foi acondicionado em saco de papel, separado individualmente por estaca
e levados a estufa com circulação forçada de ar a 60 °C, até atingir peso constante. As médias
das massas da matéria seca da parte aérea e do sistema radicular foram utilizadas para calcular a
relação SR/PA nos intervalos de avaliação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No substrato 1 a taxa de enraizamento variou entre 87,5 a 100% e no substrato 2, foi de
93,8 a 100%. Em ambos os substratos as mudas de alfavaca-cravo apresentaram acúmulo de
massa seca na parte aérea e no sistema radicular com variação significativa ao longo dos
períodos avaliados (Figura 1). No substrato 1, a partir dos 50 dias não houve variação significativa
na MMSPA, porém, na MMSSR o incremento de maior proporção ocorreu aos noventa e cinco
dias. Para o substrato 2, a MMSPA teve incremento aos sessenta e cinco e o segundo aos
17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar
4
noventa e cinco dias após a estaquia, enquanto que, no sistema radicular os acúmulos foram
constantes, e diferiram somente na última avaliação.
O maior valor de relação entre essas duas características (SR/PA) ocorreu aos 95 dias
para o substrato 2, não diferindo desde a terceira avaliação no substrato 1 (Figura 2). Entretanto,
nas quartas e quintas avaliações, as mudas apresentavam amarelecimento de folhas (Figura 1).
Aos sessenta e cinco dias após a estaquia, as mudas apresentavam-se vigorosas, sem o sinal de
má nutrição que foi o amarelecimento das folhas.
Figura 1. Mudas de alfavaca-cravo nas avaliações dos 35 aos 95 dias após a estaquia
(D.A.E.), em dois substratos preparados na UENP/CLM. Bandeirantes, 2015. MMSPA
(g): massa da matéria seca da parte aérea; MMSSR (g): massa da matéria seca do
sistema radicular. *Médias seguidas por mesma letra na coluna não diferem entre si a 5%, pelo teste
Scott-Knott; CV= coeficiente de variação.
5
17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar
0,25
Substrato 1
Substrato 2
0,2207 a
0,2
0,1536 b
0,15
0,1271 b
CV (%): 13,18
0,1
0,1313 a
0,1125 a
0,0799 c
0,0936 a
0,0547 b
CV (%): 3,03
0,05
0,0200 d
0,0158 c
0
35
50
65
80
95
Dias após estaquia
Figura 2. Relação entre as massas secaS do sistema radicular e da parte aérea (g), de
mudas de alfavaca-cravo nas avaliações dos 35 aos 95 dias após a estaquia, em dois
substratos preparados na UENP/CLM. Bandeirantes, 2015. *Médias seguidas por mesma letra
não diferem entre si a 5%, pelo teste Scott-Knott; CV= coeficiente de variação.
Segundo Minami (2010) períodos prolongados na formação das mudas favorecem maior
desenvolvimento da parte aérea e das raízes, proporcionando “mudas velhas”. MAFIA et al.
(2005) apontam como indicativo da idade a antecipação do florescimento, enovelamento do
sistema radicular e altura excessiva das plantas tornando-as suscetíveis ao tombamento, falhas
de pegamento e redução do crescimento inicial em campo.
Quanto maior ou mais velha a muda, maior é o choque com o transplantio, cuja facilidade
decresce com a idade. Mudas menores têm menor custo, são mais vigorosas e ficam menos
estressadas durante o transporte e transplantio (MINAMI, 2010).
O substrato 2 apresentou maior quantidade de fósforo (P), o que pode ter influenciado na
melhor qualidade das mudas. Segundo Minami (2010), todas as mudas respondem bem ao P,
principalmente o sistema radicular que se desenvolve de forma compacta e fibrosa, elevando o
peso da massa seca da parte aérea. Gomes e Paiva (2011), relataram que o fósforo promove
acréscimos na altura, no diâmetro do coleto e no peso de matéria seca das mudas de espécie
florestais. A deficiência desse nutriente nos substratos, provoca crescimento irregular, tanto na
parte aérea quanto no sistema radicular, prejudicando a qualidade e necessitando de uma
classificação e seleção mais rigorosa.
No presente estudo, o acúmulo de massa seca nas mudas de alfavaca-cravo foi
significativamente influenciado pela adição de torta de filtro ao substrato, proporcionando mudas
com melhor padrão de qualidade, aos sessenta e cinco dias após a estaquia.
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à
Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná,
pela concessão das bolsas aos discentes.
17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar
6
REFERÊNCIAS
EHLERT, P. A. D.; LUZ, J. M. Q.; INNECCO, R. Propagação vegetativa da alfavaca-cravo
utilizando diferentes tipos de estacas e substratos. Horticultura Brasileira, v.22, n.1,
p.10-13, 2004.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação
de solos. 2. ed. Rio de Janeiro. 2006.306p.
GOMES J. M; PAIVA H. N. Viveiros florestais: Propagação sexuada. Viçosa: UFV.
2011.116p.
MAFIA R. G; ALFENAS A. C; SIQUEIRA L; FERREIRA E. M; LEITE H. G; CAVALLAZZI
J.R.P. Critério técnico para determinação da idade ótima de mudas de eucalipto para
plantio. Revista Árvore, v.29, p.947-953. 2005.
MENDES, A.D.R.; LACERDA, T.H.S.; ROCHA, S.M.G. and MARTINS, E.R..Reguladores
vegetais e substratos no enraizamento de estacas de erva-baleeira (Varronia curassavica
Jacq.). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.16, n.2, p. 262-270, 2014.
MINAMI, K. Produção de mudas de alta qualidade. Piracicaba: Degaspari. 2010. 440p.
PAULUS, D.; PAULUS, E. Efeito de substratos agrícolas na produção de mudas de
hortelã propagadas por estaquia. Horticultura Brasileira, v.25, p.594-597, 2007.
PRADO, M.A.O.; FREITAS, S.P.; SUDRÉ, C.P. Efeitos de concentração de AIB e
substratos na propagação de alecrim. Horticultura Brasileira. 40º Congresso Brasileiro
de Olericultura. v.18, 2000, 1041p

Documentos relacionados

Influência da Adubação de Silicato de Cálcio e Magnésio

Influência da Adubação de Silicato de Cálcio e Magnésio As médias das alturas das plantas obtiveram diferenças significativas quando relacionadas os diferentes substratos utilizados, com destaque para o substrato 1 seguido pelo substrato 4 com médias 17...

Leia mais