Fontes - NIMA - PUC-Rio
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A-PDF Merger DEMO : Purchase from www.A-PDF.com to remove the watermark Isabella Rodrigues Loureiro PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA A importância e ocorrência de ftalatos em água potável e no ecossistema da Baía de Guanabara Tese de Doutorado Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Química do Departamento de Química da PUC-Rio, como parte dos requisitos parciais para obtenção do título de Doutor em Química Analítica. Orientadora: Isabel Maria Neto da Silva Moreira Co-orientadora: Inái Martins Ribeiro de Andrade Brüning Rio de Janeiro Setembro de 2002 Isabella Rodrigues Loureiro PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA A importância e ocorrência de ftalatos em água potável e no ecossistema da Baía de Guanabara Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador. Isabella Rodrigues Loureiro PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Graduou-se em Química Industrial em 1993 e Engenharia Química em 1994 na PUC-Rio. Desenvolveu trabalho de Iniciação Científica sobre poluição de metais pesados na Baía de Guanabara. Participou de congressos na área de poluição inorgânica e orgânica ambiental. É consultora em Meio Ambiente e Educação Ambiental na Cesbra S/A. Ficha Catalográfica Loureiro, Isabella Rodrigues A importância e ocorrência de ftalatos em água potável e no ecossistema da Baía de Guanabara / Isabella Rodrigues Loureiro; orientadora: Isabel Maria Neto da Silva Moreira e coorientadora: Inái Martins Ribeiro de Andrade Brüning – Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Química, 2002 v.1, 143 f.: il. ; 29,7cm 1. Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Química. Inclui referências bibliográficas. 1. Química – Teses. 2.Ftalatos. 3.Interferentes Endócrinos. 4. Águas potáveis 5.Baía de Guanabara I.Moreira, Isabel Ma. (Isabel Maria Moreira). II.Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Química. III.Título. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA - A Deus, a quem devo todo o sucesso obtido em minha vida. - À minha família, pelo carinho, apoio e compreensão em todas as minhas decisões. - À memória de meus avôs. Agradecimentos ♥ À minha orientadora, Profa Isabel Maria Neto da Silva Moreira, pela oportunidade de realizar este trabalho e, principalmente, pela amizade e confiança ao longo de nossa convivência, desde 1992. ♥ Ao CNPq e à PUC-Rio pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado. ♥ Ao Dr. Hugo Fortini e sua equipe do Laboratório Central da FEEMA, pela disponibilização do equipamento de cromatografia para a análise das amostras de águas potáveis, em especial, Marilza e Carlos Alberto. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA ♥ À Dra. Miriam e sua equipe da Divisão de Química Analítica do INT (DQAN), pela identificação dos compostos no espectrômetro de massas. ♥ À Dra. Irene e sua equipe da Divisão de Meio Ambiente do INT (DIMA), pela disponibilização do equipamento de cromatografia para a análise das amostras do ecossistema da Baía de Guanabara. ♥ À Dra. Angela e Dr. Scofield do Laboratório Ambiental da PUC-Rio, pela confirmação da identificação de algumas amostras, no espectrômetro de massas. ♥ Aos amigos Luiz Ricardo Renha e Carlos Valente, pelo voto de confiança na minha capacidade e ajuda financeira da Cesbra para diversos eventos necessários para completar este trabalho. ♥ Aos meus pais e irmãos pelo carinho, apoio e ajuda incondicional sempre. ♥ Ao meu namorado Evandro que, mesmo sem entender nada das “coisinhas de química” que faço, sempre me apoiou, ajudou no que pôde, suportou todo o meu mau-humor e me incentivou nas horas difíceis da tese, mesmo à distância. ♥ À Enga. Inái Martins Ribeiro de Andrade Brüning, pela orientação. ♥ À ALMARJ (Jurujuba) e ao Silvio (Urca) e suas equipes,pelas coletas da Baía. ♥ À Adriana, Ana Cristina, Ana Lima, Ana Paula, Bernardo, Cássia, Claudia, Fininho, Eleine, Zé, Julius, Lili, Lívia, Halley, Renato, Ricardo e Scofield, pelo agradável ambiente de trabalho, amizade e ajuda nas tarefas ao decorrer da tese. ♥ À D. Glória, que teve paciência para revisar este texto todo! ♥ A todos meus amigos, que durante estes anos estiveram ao meu lado, apoiando e fazendo a vida mais agradável, em especial Brunet, Cris, Japo e Waguinho. ♥ Aos demais professores, técnicos e colegas do Departamento de Química da PUC/RJ, que contribuíram para a realização deste trabalho. ♥ A todos os professores que participaram da Comissão examinadora. ♥ A todos que, direta ou indiretamente, contribuiram para a realização deste trabalho. Resumo Loureiro, Isabella Rodrigues; Moreira, Isabel Maria A importância e ocorrência de ftalatos em Água potável e no ecossistema da Baía de Guanabara Rio de Janeiro, 2002. 143p. Tese de Doutorado. Departamento de Química, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Ftalatos são os plastificantes mais utilizados industrialmente, estando disseminados em todos os ecossistemas do mundo. Como são compostos exclusivamente sintéticos, sua presença é indicativa da industrialização de uma região. Sua toxicidade é baixa, porém existem indícios de possíveis efeitos como PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA interferentes endócrinos, especialmente no sistema reprodutor masculino. No Brasil, existem poucos estudos sobre a ocorrência e comportamento dos ftalatos no meio ambiente. Nesta tese foi estudada sua ocorrência em amostras de águas potáveis de diversos bairros das cidades do Rio de Janeiro e Niterói e do ecossistema da Baía de Guanabara (águas, sedimentos e mexilhões), a qual recebe inúmeros aportes industriais. Todas as amostras foram coletadas, extraídas em fase sólida e analisadas por cromatografia em fase gasosa, utilizando detecção por captura de elétrons. As da Baía foram amostradas nas estações seca e chuvosa, em diferentes anos. As extrações de todas as amostras obtiveram excelente repetibilidade e recuperações superiores a 76%. As águas potáveis do Rio de Janeiro e Niterói apresentaram teores de ftalatos em concentrações muito menores do que as informadas para cidades da Europa e Estados Unidos. Tais teores puderam ser correlacionados com as extensões das redes dos sistemas de abastecimento de ambas as cidades. Todas as amostras da Baía mostraram contaminações qualiquantitativas muito inferiores, quando comparadas a outros ambientes costeiros. O estudo do biomonitoramento ativo evidenciou a eficiência e rapidez da depuração dos ftalatos nos mexilhões mais contaminados do ecossistema da Baía de Guanabara. Palavras-chave: Ftalatos; Interferentes Endócrinos; Águas Potáveis; Águas superficiais; Sedimentos; Mexilhões; Baía de Guanabara. Abstract Loureiro, Isabella Rodrigues; Moreira, Isabel Maria The importance and occurrence of Phthalates in potable waters and samples from the Guanabara Bay ecosystem. Rio de Janeiro, 2002. 143p. Doctorate Thesis - Departamento de Química, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Phthalates are the most used plasticizers in industrial products, worldwide distributed in environments. Their presence is often used to indicate a region industrialization degree. Although their reported toxicity is low, phthalates are indicated for possible endocrine disrupting effects, specially in male reproductive PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA system. In Brazil, there are few studies about the environmental occurrence and distribution of phthalates. This thesis studied the occurrence of those compounds in potable waters samples from residential areas of Rio de Janeiro and Niterói cities, and in samples from the ecosystem of Guanabara Bay (waters, sediments and mussels), which receives several industrial inputs. All the samples were collected, solid-phase extracted and the phthalate contents analyzed by gas chromatography with electron capture detection. The ones from the Bay were sampled during the dry and rainy seasons, in different years. All the extractions presented excellent repeatability and recoveries above 76%. The potable water samples from both cities presented phthalate values considerably lower than those reported for European and American cities. The results could be correlated with the water net distribution lengths for both cities. All results from the Bay ecosystem showed lower contamination when compared to other coastal environments. The controlled transplant proved quick and efficient phthalate depuration of contaminated organisms from Guanabara Bay. Keywords: Phthalates; Endocrine disruptors; Potable waters; Superficial waters; Sediment; Mussels; Guanabara Bay. Sumário 1 – Introdução 15 2 - Interferentes Endócrinos e Meio Ambiente 18 2.1- Sistema Hormonal e Ação dos Interferentes 20 2.2- Evidências dos Efeitos destes Compostos 23 2.3- Importância da Química Analítica no estudo dos interferentes 27 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 3 – Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos 29 3.1- Propriedades Químicas dos Principais Ftalatos 30 3.2- Usos Industriais de Ftalatos 32 3.2.1- Ftalatos como Plastificantes de PVC 33 3.2.2- Outras aplicações dos Ftalatos 36 3.3- Ftalatos e Derivados no Brasil 4- Toxicologia dos Ftalatos 37 39 4.1- Absorção e metabolismo de Ftalatos na biota 43 4.2- Ftalatos como Interferentes Endócrinos 45 5- Ftalatos no Meio Ambiente 50 5.1- Fontes de Ftalatos para o Meio Ambiente 51 5.2- Comportamento dos Ftalatos no Meio Marinho 53 5.3- Processos de Remoção no Ambiente Marinho 57 5.4- Efeitos dos Ftalatos Interferentes no Meio Marinho 61 6 - Área de Estudo 62 6.1- Sistema de Abastecimento de Águas do Guandu 63 6.1.1- Cedae – Abastecimento do Rio de Janeiro 64 6.2.2- Águas de Niterói – Abastecimento de Niterói 67 6.2- Baía de Guanabara 68 6.2.1- Água 70 6.2.2- Sedimentos 73 6.2.3- Biota 73 7 - Experimental 77 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 7.1- Amostragem e Tratamento das Amostras 82 7.1.1- Amostras de Águas 82 7.1.1.A) Águas potáveis 82 7.1.1.B) Águas superficiais da Baía de Guanabara 82 7.1.2- Amostras de Sedimentos 83 7.1.3- Amostras de Mexilhões Perna perna 84 7.1.3-A) Mexilhões coletados de 1997 à 2000 85 7.1.3-B) Mexilhões do Biomonitoramento 86 7.2- Descontaminação do Material Utilizado 89 7.3- Determinação dos Ftalatos 90 7.3.1- Extração das Amostras 90 7.3.1-A) Amostras de Águas 90 7.3.1-B) Amostras de Sedimentos e Mexilhões 91 7.3.2- Análise por Cromatografia em Fase Gasosa 91 7.4.2-A) Águas potáveis 92 7.4.2-B) Amostras do ecossistema da Baía de Guanabara 92 8 - Resultados e Discussão 94 8.1- Amostras de Águas potáveis 97 8.2- Amostras de Águas superficiais da Baía de Guanabara 101 8.3- Amostras de Sedimentos 106 8.4- Amostras dos Mexilhões: 1997 - 2000 109 8.5- Amostras dos Mexilhões do Biomonitoramento 118 9 - Conclusões 120 10- Referências bibliográficas 123 Apêndice I - Curvas de Calibração de resposta do detector versus concentração de ftalatos para análise quantitativa das amostras de Águas Potáveis Apêndice II - Curvas de Calibração de resposta do detector versus concentração de ftalatos para análise quantitativa para as amostras do ecossistema da Baía de Guanabara. Apêndice III – Espectro de massas típico de amostras de sedimento 137 Apêndice IV – Espectro de massas típico de amostras de mexilhão PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Apêndice V - Concentração de ftalatos nos mexilhões PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Lista de Figuras Figura.1 - O sistema endócrino humano 20 Figura.2 - Como agem os interferentes endócrinos 22 Figura.3 - Etapas de preparação dos ftalatos 23 Figura.4 - Dados do Uso de PVC no Brasil em 1995 35 Figura.5 - Avaliação de Níveis Fetotóxicos de DEHP 40 Figura.6 - Estrutura dos ftalatos interferentes endócrinos 46 Figura.7 - Efeitos do DEHP no sistema endócrino reprodutivo 47 Figura.8 - Foto da Poluição na maré vazante na Baía de Guanabara 53 Figura.9 - Mecanismos de biodegradação dos Ftalatos 54 Figura.10 - Ilustração de Sistema Marinho Costeiro para DEHP 58 Figura.11 - Biodegradação Aeróbica dos Ftalatos 59 Figura.12 - Biodegradação Anaeróbica dos Ftalatos 60 Figura.13 – Vista aérea da Estação de Tratamento de Água do Guandu 63 Figura.14 - Sistema de distribuição da ETAG 66 Figura.15 - Sistema de abastecimento de Água do Município de Niterói 67 Figura.16 - Bacia da Baía de Guanabara 68 Figura.17 - Principais atividades industriais na Baía de Guanabara 69 Figura.18 - Classificação da qualidade das águas da Baía de Guanabara 71 Figura.19 - Classificação da composição dos sedimentos da Baía de Guanabara Figura.20 - Morfologia interna do mexilhão Perna perna 72 74 Figura.21 - Pontos de Coleta das Águas Potáveis nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói 78 Figura.22- Localização das Estações de Amostragem na Baía de Guanabara 81 Figura.23 - Medição dos mexilhões triados para o estudo 84 Figura.24 – Abertura dos mexilhões triados para retirada dos tecidos 85 Figura.25- Fluxograma do transplante 86 Figura.26 - Foto das gaiolas utilizadas no monitoramento 87 Figura.27 - Foto da estrutura do transplante na Ilha d’Água 87 Figura.28 - Cromatograma típico para o branco do sistema de extração 94 Figura.29 – Espectro de massas que identificou os picos do padrão misto 95 de ftalatos 97 Figura.30 - Cromatograma típico para águas potáveis 101 Figura.31 - Cromatograma típico para águas superficiais -1 Figura.32 - Águas superficiais: concentração de DEP (ng.L ) 102 Figura.33 - Águas superficiais: concentração de DIBP (ng.L-1) 103 Figura.34 - Águas superficiais: concentração de DBP (ng.L-1) 103 Figura.35 - Águas superficiais: concentração de DEHP (ng.L-1) 104 Figura.36 - Concentração dos principais Ftalatos (ng.g-1) encontrados nas amostras de sedimentos superficiais, por ponto de coleta 107 -1 Figura.37 - Concentração dos Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação 110 seca de 1997 -1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Figura.38 - Concentração dos Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação 111 chuvosa de 1997 Figura.39 - Concentração dos Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação 111 seca de 1998 Figura.40 - Concentração dos Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação 112 chuvosa de 1998 -1 Figura.41 - Concentração dos Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação 113 seca de 1999 Figura.42 - Concentração dos Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação 113 chuvosa de 1997 Figura.43 - Concentração dos Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação 114 seca de 2000 -1 Figura.44 - Concentração dos Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação 114 chuvosa de 2000 -1 Figura.45 - Concentração de DHP nos mexilhões (ng.g ) nos pontos de coleta, ao longo dos anos. 115 Figura.46 - Concentração de BBP nos mexilhões (ng.g-1) nos pontos de coleta, ao longo dos anos. 116 Figura.47 - Concentração de DEHP nos mexilhões (ng.g-1) nos pontos de coleta, ao longo dos anos. Figura.48 - Variação da Concentração de DEHP durante monitoramento 117 119 Lista de Tabelas Tabela.1 - Classificação de Interferentes endócrinos 19 Tabela.2 - Efeitos associados a Interferentes Endócrinos 24 Tabela.3 - Analitos considerados no estudo piloto da EPA no Rio Neuse 28 Tabela.4 - Propriedades Fisico-Químicas dos principais Ftalatos em 31 Estudo Tabela.5 - Efeito dos aditivos nas propriedades finais do PVC 33 Tabela.6 - Conteúdo de Plastificante em alguns produtos 34 Tabela.7 - Plastificantes ftálicos fabricados no Brasil 37 Tabela.8 - Estimativa de Absorção Intestinal de Ftalatos em Ratos 43 Tabela.9 - Comparação entre fatores de Bioconcentração (BCF) previstos 44 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA e reais para vários Ftalatos Tabela.10 - Estimativa de consumo diário de ftalatos por adultos 44 Tabela.11 - Efeitos de Ftalatos no sistema reprodutivo masculino de ratos 48 Tabela.12 - Concentrações para as quais nenhum efeito foi verificado 50 (Predicted no effect concentration – PNEC) -1 Tabela.13 - Valores Médios de Concentração de Ftalatos (mg.kg ) nas 52 várias frações do lixo doméstico Tabela.14 - Comportamento de alguns Ftalatos em Sistemas Aquosos e 56 Sedimentos 57 Tabela.15 - Degradação microbiológica dos Ftalatos Tabela.16 - Localização e profundidade das estações de coleta de 83 sedimentos na Baía de Guanabara Tabela.17 - Limites de Detecção Instrumental dos ftalatos em estudo (ng.L-1) 95 Tabela.18 – Recuperação obtida com o método de extração por tipo de 96 amostra Tabela.19 - Concentração de DEHP nas amostras de água mineral(ng.L-1) 98 Tabela.20 - Concentração de DEHP nas amostras de águas potáveis dos bairros da cidade do Rio de Janeiro (ng.L-1) 98 Tabela.21 - Concentração de DEHP nas amostras de águas potáveis dos bairros da cidade de Niterói (ng.L-1) 99 -1 Tabela.22 - Concentração de DEHP em águas potáveis (ng.L ) na literatura 100 Tabela.23 - Resultados das amostras de águas superficiais 102 -1 Tabela.24 - Concentração de DEHP em águas costeiras (ng.L ) na PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA literatura 105 Tabela.25 - Resultados das amostras de sedimentos (ng.g-1) 106 Tabela.26 - Concentração de Ftalatos em sedimentos (ng.g-1) na literatura 108 Tabela.27 - Concentração do DEHP nos mexilhões do biomonitoramento 118 Tabela.28 - Resultados dos Mexilhões 1997 – 2001 (ng.g-1) 143 Na natureza, nada se perde, tudo se transforma… PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 1 Introdução O uso de plásticos é uma realidade no mundo moderno que tem transformado os ambientes domésticos e de trabalho. Além das moléculas poliméricas que formam a matriz dos plásticos, outras substâncias devem ser incorporadas aos produtos, de forma a obter melhorias em propriedades e/ou características específicas. É sabido que o destino final destas substâncias e produtos finais é sempre o meio ambiente marinho. Ftalatos são produtos químicos, líquidos, incolores e inodoros, geralmente PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA usados como plastificantes desde a década de 40 em diversos tipos de plásticos, especialmente em PVC. Sua produção aumenta proporcionalmente ao crescimento da indústria de plásticos. Pelo seu grande uso, têm sido muito pesquisados pelo seu impacto ambiental, já que se encontram disseminados em todos os ecossistemas do mundo (Api, 2001; Bauer, 1997; Bedding, 1982; Bell, 1982; Brown, 1996; Davey, 1990; Erhardt, 1980; Loureiro, 2001(b); Law, 1991; Peterson, 1982; Preston, 1989; Staples, 1997; Scholz, 1997; Tan, 1995; Thuren, 1986). Além disso, como são compostos de origem exclusivamente xenobiótica, sua presença no ambiente pode ser usada como indicador da industrialização de uma região. No Brasil, existem poucos estudos sobre a ocorrência e comportamento de ftalatos no meio ambiente (Nascimento, 2002; Stringer, 2000). A possibilidade de impactos adversos em seres humanos e outros seres vivos devido a produtos químicos, causando interferência no funcionamento normal do sistema endócrino, vem recebendo especial atenção nos últimos anos, de modo que o volume de trabalhos científicos aumentou significativamente (Alleva, 1995; Arnold, 1996; Calabrese, 1997; Colburn, 1993; Colburn, 1994; Harrison, 1997; Jimènez, 1997; Jobling, 1995; Keith, 1997; Malm, 1998; Warhurst, 1997; Wingspread Statement 1991 e 1993). A maior parte destes estudos, porém, foi realizada em ambientes temperados, onde a dinâmica envolvendo os interferentes endócrinos é bem diferente daquela em zonas tropicais. 1- Introdução 16 No caso do ftalatos, a toxicidade é considerada baixa e ainda há controvérsias sobre seus efeitos como interferentes endócrinos, especialmente no sistema reprodutor masculino (Api, 2001; Arcadi, 1998; Armstrong, 1997; Foster, 2000; Gangolli, 1982; Hill; 2001; Howarth, 2001; Kevy, 1982; Kluwe, 1982; Mayer, 1972; Mocchiutti, 1997; Moore, 2000; Pavan, 2001; Poon, 1997; Sharpe, 1995; Staples, 1997; Thomas, 1982; Tomita, 1982; Wezel, 2000). Neste estudo desejou-se avaliar a exposição de um ambiente costeiro aos ftalatos, com ênfase na possibilidade de contaminação dos habitantes dos principais centro urbanos da região. A área escolhida para o trabalho foi a Baía de Guanabara, situada no Estado do Rio de Janeiro, junto ao segundo maior centro industrial do Brasil. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Contendo cerca de 2x109m3 de água, esta baía é um exemplo de ambiente costeiro tropical que sofre severo impacto pela combinação de fatores naturais e antropogênicos. Nela foram realizados diversos estudos sobre contaminação de poluentes, porém os ftalatos praticamente não foram investigados (Azevedo, 1998; Brito, 1998; Costa, 1991; FEEMA, 1990 e 1998; Francioni, 2001; Hamacher, 1996; JICA, 1994; Lima, 1996; Lima, 2001; Rebello, 1987; Ribeiro, 1991; Stringer, 2000; Vieira, 2000). Com esta finalidade de determinar os níveis de ftalatos que atingem a população foram quantificados através da determinação destes compostos em águas potáveis de diferentes bairros das cidades do Rio de Janeiro e Niterói, que são interligadas pelo mesmo sistema de abastecimento. Para fins comparativos, foram analisadas amostras de uma água mineral comercial, coletada na fonte e após 15 dias de envase. O outro aspecto da avaliação da exposição aos interferentes endócrinos ftálicos envolveu o estudo do ecossistema da Baía de Guanabara, que visou, a partir dos resultados obtidos, verificar as principais fontes destes compostos para a área e a atual qualidade ambiental da baía em relação a este tipo de poluição. Diversas são as formas de avaliar o estado de um ecossistema. Dentre os compartimentos passíveis de estudos, foram escolhidos para o presente trabalho: a água, os sedimentos e a biota representada pelos mexilhões Perna perna. As diferentes amostras foram coletadas em diversos pontos no interior da Baía de Guanabara, nas estações seca e chuvosa, ao longo do período de 1997 a 2000. 1- Introdução 17 A água apresenta características transitórias em um ecossistema aberto, consequentemente, as concentrações e tipos de compostos encontrados na mesma representam um perfil instantâneo das condições da área. Como os sedimentos têm por característica representar as condições médias do ambiente durante o período de sua deposição e as suas mudanças históricas, coletaram-se testemunhos inicialmente destinados às análises de ftalatos e de datação, de modo a investigar a evolução da contaminação (Peterson, 1982). As análises dos sedimentos de cota superior a 20 anos não acusaram nenhuma contaminação de ftalatos, por conseguinte, a datação e o estudo da evolução não puderam ser executados. A biota é utilizada como importante indicador dos níveis de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA biodisponibilidade dos poluentes (Gledhill, 1980; Staples, 1997). Os mexilhões, organismos filtrantes e concentradores das substâncias existentes na água, constituíram o maior número de amostras coletadas durante os quatro anos, uma vez que são utilizados como fonte de alimentação para a população. Constatada a contaminação nos mexilhões, realizou-se um estudo de biomonitoramento ativo, onde se verificou a capacidade de acumulação e depuração destes organismos. 2 Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente Por definição, interferentes endócrinos são os compostos, sintéticos ou naturais, que influenciam a atividade hormonal de organismos vivos, em uma grande variedade de formas. Também podem ser definidos como substância exógena que causa efeitos adversos na saúde de um organismo intacto, devido a mudanças na função endócrina (Harrison,1997). Desta forma, considera-se como PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA interferente potencial qualquer substância que possua propriedades capazes de provocar alterações endócrinas em um organismo não afetado pela poluição. Apesar da possibilidade de perturbação do sistema endócrino por compostos sintéticos estar sendo discutida desde a década de 70, o recente interesse por este assunto, introduzindo, inclusive, vários conceitos sobre o assunto, foi despertado pela conferência em Wingspread em 1991 (Wingspread Statement 1991), que discutiu as observações de problemas reprodutivos e de desenvolvimento em animais diversos. Em 1992 e 1993, os primeiros artigos mostravam a possibilidade de ligação entre poluentes e cânceres de seio ou o declínio de concentração de esperma (Wingspread Statement II 1993). Atualmente, os interferentes endócrinos são oficialmente classificados segundo critérios de Jiménez (vide tabela 1) e a EPA (Environmental Protection Association) considera este assunto como uma das cinco principais áreas de pesquisa da organização, havendo ainda muito a ser conhecido sobre efeitos e formas de neutralizá-los. Muito trabalho já foi feito neste sentido e muito ainda está por ser feito: em 1997 foi formado um comitê de 48 membros da EPA, cujo objetivo é desenvolver testes e sistemas de seleção para processos relacionados com hormônios estrogênicos, antiestrogênicos e tireoidais. Este trabalho está na fase final de sua primeira etapa (Cooney, 1997). Apesar da definição incluir a possibilidade de compostos naturais serem interferentes endócrinos, não existem dados sobre eles ou sua ação, sendo todos os estudos concentrados nos sintéticos. 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 19 A hipótese básica que tem sido formulada é que a grande variedade de xenobióticos, e, particularmente, os que podem persistir e acumular-se no ambiente e tecidos adiposos de organismos vivos, interferem no funcionamento normal dos sistemas endócrinos, causando aumentos na incidência de certos tipos de câncer, deficiências imunológicas, de anormalidades do sistema reprodutivo e do comportamento e aprendizado. Como os hormônios influenciam em diversos aspectos do organismo, existem muitos fatores que ajudam a determinar se os compostos afetam o ser vivo, determinando-se como tais compostos penetram no corpo, como são distribuídos e quais processos, hormonais ou não, que interagem com eles. Tabela 1 - Classificação de Interferentes Endócrinos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Tipo Fonte Exemplos Estrogênios Sintéticos: • Terapia de reposição • Xenostrogênios farmacêutica industrial Dietilestibestrol (DES) Bifenilas policloradas (PCBs), hidrocarbonetos aromáticos(HPAs), Bisfenol A, Ftalatos Antiestrogênios Sintéticos: farmacêutica Taximoxifeno • Terapia câncer Fonte: Jimènez, B. (1997) Visto que os seres humanos e os animais estudados utilizam os mesmos mecanismos básicos para crescimento e desenvolvimento, um número crescente de cientistas se tornou preocupado com a possibilidade de seres humanos já terem sido afetados, sem que haja reconhecimento no diagnóstico. Tem sido investigado um grande número de substâncias que são indicadas como possíveis contribuintes para a perturbação do sistema endócrino. Algumas demonstraram ter efeitos endócrinos, de potência variada, em testes laboratoriais in vitro e in vivo, enquanto outras têm poucos dados confirmando tal atividade. Participam desta listagem os compostos orgânicos (clorados ou não) e os metais pesados, que são largamente utilizados em produtos industriais e de uso doméstico tais como tintas, detergentes, lubrificantes, cosméticos, têxteis, pesticidas, fármacos e plásticos. 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 20 2.1 Sistema Hormonal e Ação dos Interferentes A possibilidade de grande variedade de efeitos à saúde causados por perturbação endócrina não é surpreendente, já que o sistema endócrino, além de controlar as características sexuais e funções reprodutivas, basicamente é responsável por manter o equilíbrio entre as diversas funções do corpo face às perturbações internas e externas. O sistema endócrino consiste de um complexo emaranhado de sinaisresposta, envolvendo o cérebro e os órgãos endócrinos, que incluem as glândulas pituiária, tireóide e paratireóide, o pâncreas e os constituintes do sistema PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA reprodutivo masculino e feminino (Figura.1). Tal mecanismo funciona da mesma forma para seres humanos e para a maioria dos organismos vivos. Figura.1 - Sistema Endócrino Humano 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 21 Para realizar seu papel no metabolismo, essas glândulas secretam hormônios que ativam respostas do corpo, em células particulares, que contém receptores específicos para estes, através dos mecanismos receptor-mediador. O par hormônio-receptor inicia então reações químicas em cadeia, usualmente com maiores conseqüências em partes remotas do corpo. Após sua ação, o organismo incapacita os hormônios naturais, removendo-os da corrente sangüínea. Mudanças nos níveis internos dos hormônios produzidos podem contribuir para a cura de doenças. O conhecimento sobre a dose-resposta e a potencialidade tem sido usada para tratamentos terapêuticos, usando versões sintéticas de hormônios naturais para cura de certos tipos de câncer e para prevenção de osteoporose e doenças do coração. As substâncias interferentes endócrinas, na maioria das vezes, não agem PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA de forma benéfica, muito pelo contrário. Seus efeitos são potencialmente desastrosos para a saúde e bem-estar: como não são prontamente removidos como os hormônios naturais, tendem a permanecer no corpo por longos períodos, alterando de forma imprópria e/ou destrutiva a ação dos hormônios. Um interferente endócrino pode agir neste sistema de mensagens das seguintes formas (Warhurst, M. 1996): • imitando os hormônios endógenos: encaixando-se precisamente no receptor do hormônio (Figura.2), podendo gerar excesso de envio de mensagens ou mensagens enviadas no tempo errado (Soto,A. M. 1995); • simulando a formação de mais receptores: nesta situação os sinais hormonais são multiplicados e o efeito amplificado em hormônios naturais e “sintéticos”; • atuando como bloqueadores: por ocupação dos sítios receptores na célula, bloqueando o hormônio natural; como a ligação do bloqueador pode ser mais forte ou fraca do que com o hormônio natural, pode diminuir ou aumentar o efeito no gene; • atuando como desativadores de hormônios: acelerando a quebra e eliminação dos hormônios diretamente; • atuando como desativadores de enzimas: desativando as enzimas responsáveis pela eliminação de hormônios, causando aumento 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 22 desnecessário de hormônios ativos e enviando mais sinais que o normal e/ou sinais em tempos impróprios; • atuando como desestruturadores: por reação direta ou indireta com o hormônio alterando sua estrutura ou influenciando as sínteses hormonais. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA IMITA Interferente Hormônio Receptor Figura.2 - Como agem os Interferentes Endócrinos (Warhurst,M. 1996) As doses, tempo e duração da exposição em períodos críticos da vida são fatores importantes para se entender os efeitos adversos de um interferente endócrino. Os efeitos podem ser reversíveis ou irreversíveis, imediatos (agudos) ou latentes. 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 23 2.2 Evidência dos Efeitos destes Compostos Nos últimos anos, aumentou o número de observações de comportamento estranho e falhas reprodutivas em seres vivos (Colborn,T. 1993). Como os problemas reprodutivos hormonalmente induzidos não se manifestam rapidamente, tendiam a passar desapercebidos e, só agora, estes problemas são associados a poluentes. Em alguns casos, os efeitos nos seres vivos são dramáticos, como o caso das gaivotas macho do Lago Ontario que, expostas a DDT e a outros compostos organoclorados, desenvolveram órgãos sexuais femininos (Wingspread Statement II, 1991). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Pelos estudos de Colborn (1993) em estatísticas de seres humanos, alguns dados relevantes observados devem ser levados em consideração: • entre os anos de 1969-1986, ocorreu aumento significativo na incidência de câncer de mama e de próstata nos Estados Unidos; • entre os anos de 1970-1987, houve um acréscimo de 400 % na ocorrência de gravidez tubária no mesmo país e dobrou a incidência de criptorcidismo (testículos não descendentes) na Inglaterra; • nos últimos 50 anos, houve um decréscimo do número de espermatozóides na contagem de esperma. Em animais, os resultados de tais disfunções no sistema hormonal têm sido associados com função anormal de tiróide em aves e peixes; decréscimo de fertilidade de peixes, aves e mamíferos; emasculação e feminização de peixes, aves e gastrópodes e função alterada do sistema imunológico em aves e mamíferos (Colborn,T 1993). Em seres humanos, pode-se ter efeitos no sistema imunológico, cânceres, proliferação de células defeituosas, mudanças de comportamento e na ação de hormônios sexuais como a testosterona e estrogênios, que coordenam as funções e características sexuais masculinas e femininas, respectivamente. Entre as substâncias interferentes, as mais estudadas são as estrogênicas, que influenciam o desenvolvimento e manutenção das características sexuais femininas. Os compostos estrogênicos podem interromper o desenvolvimento do sistema reprodutivo, se consumidos durante o período crítico da gravidez. 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 24 Hormônios da tireóide também têm sido estudados por terem papel crítico no desenvolvimento da audição. Os PCBs podem interferir na ação destes hormônios, já que suas estruturas são muito semelhantes. Os efeitos associados à exposição de compostos interferentes endócrinos em animais são descritos na tabela abaixo. Tabela 2 - Efeitos Associados a Interferentes Endócrinos Efeito Organismo Referência * Carcinogênicos: Tumores no fígado peixe Meyers et al., 1994 •Desenvolvimento sexual anormal •reptéis, mamíferos •Leblanc,1995; Fry,1995 •Respostas feminizadas •peixes, aves •Jobling et al., 1995 •Pseudohermafroditismo •gastrópodos marinhos •Bryan et al, 1986 •Falhas reprodutivas •mamíferos •Wren, 1991 •Redução de fecundidade •peixes •Munkittinick, 1991 •Deformações embriônicas •aves •Giesy et al., 1994 aves, mamíferos Colburn et al., 1993 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Reprodutivos: Imunológicos: Alteração das funções Fonte: adaptado de Jimènez,B. (1997) * referências apud Jimènez, B Pouco é conhecido sobre os possíveis efeitos desses compostos em seres humanos, parcialmente pela recusa em fazer experimentos deliberados com os próprios. Nestes casos, as maiores evidências sobre toxicidade vêm de estudos in vivo ou in vitro, incluindo culturas de células humanas. Ainda não há evidência ligando exposição a poluentes nos níveis encontrados no ambiente, com o declínio de reprodução humana por este mecanismo. Conseqüências adversas, entretanto, na reprodução de machos e fêmeas produzidas pelo estrogênio farmacêutico sintético, o DES, administrado a mulheres grávidas para a prevenção de abortos espontâneos, evidenciam que esta hipótese é biologicamente possível. Como o desenvolvimento do feto é o estágio mais sensível no desenvolvimento dos órgãos humanos, as crianças são as que correm mais riscos. 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 25 As substâncias persistentes nas mães passam através da placenta para o feto (Nuttall, N., 1996; Sharpe, R. M. et al., 1995; Tomita, I. et al.,1982). Diversas substâncias também passam através do aleitamento materno: é estimado que uma criança que foi amamentada por um ano receberá 4-12% do total de exposição de sua vida a dioxinas. Em humanos do sexo masculino, os interferentes são indicados como responsáveis pela diminuição na quantidade e qualidade de esperma e pelo aumento na incidência de cânceres testicular, de próstata e de pênis (Toppari, J. et al 1996). Em mulheres, por uma atividade estrogênica maior que a normal, afetando a função ovariana e fertilidade, encorajando a proliferação de tecidos uterinos e do seio e levando ao câncer (Jobling, S. et al. 1995). Em ambos os sexos notou-se também aumento na incidência de cânceres, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA deficiências no sistema imunológico e até mesmo disfunções no cérebro, já que seu desenvolvimento está sob a influência dos hormônios (Alleva,E. et al 1995). Têm-se estudado muito os efeitos de tais compostos em aves como pelicanos, gaivotas, águias e falcões. A maioria das observações são sobre alterações no comportamento sexual reprodutivo das espécies que se alimentam de peixes contaminados, ou que habitam em locais contaminados. Em relação às populações de peixes, descobriu-se que os ftalatos produzem a proteína específica de cada espécie estudada que é responsável pela baixa produção das ovas (SEPA, 1996; Jobling, J.S. 1995). Em jacarés do Lago Apopka-Flórida, percebeu-se o subdesenvolvimento de seus órgãos sexuais, tornando-os reprodutivamente inaptos, provavelmente devido aos altos níveis de organoclorados encontrados (Winspread Statement II, 1993). Outras espécies, como as baleias beluga, os golfinhos e as tartarugas também, apresentaram disparidades reprodutivas ou diminuição da capacidade de combater doenças infecciosas (Wingspread Statement II 1993). Segundo Arnold (1996), compostos como os organoclorados apresentam toxicidade estrogênica mais potente (10-1600 vezes) quando combinados do que em separado, quando não são capazes de produzir efeitos adversos na saúde humana. Tal estudo pode explicar, pela ação sinergística destes interferentes, como níveis tão baixos aos quais somos expostos podem causar os efeitos que lhes são atribuídos. Arnold declarou depois que seu estudo poderia ter falhas, mas 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 26 Simons (1996) conseguiu indicações suficientes para não rejeitá-lo totalmente e propôs um mecanismo de ação sinergística. Não há contudo, estudos suficientes sobre esta ação combinada, ou seja, quando ocorrem em misturas no ambiente. No Brasil, profissionais no IOC e ENSP (Fiocruz)/RJ, UNESP/SP, Unicamp/SP, UFPR/PR, CESAT/BA já estão fazendo testes sobre interferentes endócrinos (organoclorados) e seus efeitos em sistemas reprodutivos, fertilidade e desenvolvimento pós-natal de ratos, enquanto na PUC/RJ verifica-se os efeitos de organoestanhos em organismos marinhos. Concluindo, pode se afirmar que ainda existe controvérsia dentro da comunidade científica sobre a responsabilidade de tais compostos sobre os efeitos adversos causados na saúde (EPA, 1997), mas os trabalhos até então efetuados PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA enfatizam a necessidade de maiores investigações. 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 27 2.3 Importância da Química Analítica no estudo dos Interferentes Endócrinos: A química analítica tem papel fundamental em todos os estudos do meio ambiente, e, particularmente nos de interferentes endócrinos, pois somente análises confiáveis podem embasar correlações entre níveis de toxicidade e efeitos causados. A evolução da química analítica está intimamente ligada ao desenvolvimento tecnológico e ao surgimento de novos instrumentos de análise. Os métodos instrumentais são mais rápidos que os tradicionais (gravimetria, titrimetria e volumetria) e possibilitam a avaliação de amostras complexas com PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA precisão e em menores níveis de detecção. Tais qualidades são imprescindíveis para análise de amostras ambientais, que atualmente emprega sofisticados equipamentos eletroanalíticos, de ressonância magnética nuclear, espectroscopia de massa e cromatografia. A cromatografia gasosa (GC) é a técnica mais utilizada em amostras ambientais, por ser capaz de separar misturas complexas e substâncias de um mesmo grupamento químico. Além disto, sua alta sensibilidade, também contribui para seu acentuado uso: dependendo do tipo de substância analisada e do detector empregado, consegue-se detectar cerca de 10-12g, sendo possível a obtenção de resultados quantitativos em concentrações que variam de picogramas a miligramas. Apesar do grande número de informações obtidas pela cromatografia gasosa, nem sempre consegue-se identificar por comparação com padrões, todos os compostos presentes na amostra. Por isso, associa-se esta técnica a um espectrômetro de massas (GC-MS), sendo tal acoplamento usado para a identificação dos picos desconhecidos. Além destas técnicas, são utilizados em campo, “kits” de imunoensaios que, baseados em reações antígeno-anticorpo, detectam a presença e a faixa de concentração de certos compostos. Ainda são poucos os analitos que podem ser avaliados por estes “kits”, que são altamente seletivos para cada composto. Um exemplo da importância da analítica instrumental é o estudo piloto do rio Neuse (Lepp,T.J 2000), onde 15 analitos estão sendo avaliados (início em 2 - Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente 28 2000 e término previsto para 2004), combinando-se diversas técnicas com interpretações biológicas e imunoensaios, a fim de se avaliar numerosos contaminantes, nas diferentes matrizes ambientais, como pode ser verificado na tabela 3. Tabela 3 - Analitos considerados no estudo piloto da EPA no rio Neuse Analito Categoria Razão para o estudo Técnica Analítica atrazina herbicida aumenta produção do estradiol. HPLC,imunoensaios clorifós inseticida anormalidades imunológicas. HPLC,GC-MS,GC lindano inseticida persistente e altamente tóxico. GC,GC-MS p,p’-DDT inseticida efeitos reprodutivos e GC,GC-MS PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA adenoidais. p,p’-DDE inseticida análogo ao DDT. PCBs coplanares fluido câncer de seio, baixos QIs, HPGPC,HRGC-MS, dielétrico problemas de memória. HRMS,GC clordano inseticida imunotoxicidade em ratos. GC,GC-MS pentaclorofenol protetor afeta madeira tiróide e pituitária. Organo-estanho biocida efeitos em ostras e cobras. nonilfenóis surfactante causa feminização e redução de CE,HPLC & SPE glândulas GC,GC-MS adenóides, GC,GC-MS LC-MS contagem de esperma. endolsulfan inseticida efeitos imunotóxicos, mutagêne- GC,GC-MS,HPLC se em bactérias e mamíferos. butilbenzil ftalato plastificante estrogênico, pode causar câncer GC,GC-MS de seio. antibióticos fármacos causa anormalidades celulares. HRGC-MS,HPLC benzo[a]pireno poliaromático carcinogênico e estrogênico. GC,GC-MS Mercúrio metal neurotoxinas. AA outros metais metais retardadores de crescimento. AA, ICP-MS Fonte: adaptado de Lepp,T.J. (2000) 3 Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos Ésteres de ácidos ftálicos, conhecidos como ftalatos, são substâncias orgânicas derivadas do ácido 1,2-benzeno dicarboxílico. Estruturalmente, consistem de um anel benzênico ligado a dois grupos éster. As configurações meta e para são conhecidas como isoftalato e tereftalato respectivamente, enquanto que a orto é conhecida pelo nome genérico de ftalato. Este trabalho tratará apenas desta última configuração, a qual denominaremos simplesmente PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA ftalatos (Kirk,R; Othmer,D. 1953). Ftalatos foram sintetizados pela primeira vez na década de 1850, mas só encontraram aplicação no mercado de materiais de alta polimerização em 1920. A produção aumentou rapidamente nos anos 50, quando um ftalato (di-etil hexil ftalato, DEHP) sintetizado em 1933, foi testado com grande sucesso para flexibilizar PVC. Atualmente são usados em diversas aplicações industriais e domésticas (Inchalik, E. J.; Rubin, G., 1996). Ftalatos são produzidos comercialmente a partir do anidrido ftálico (obtido por oxidação do naftaleno) e álcoois, por processos convencionais de esterificação (Figura 3). R R n a fta le n o a n id rid o fta lic o d ia lq u il fta la to Figura.3 - Etapas de Preparação dos Ftalatos (Kirk,R.; Othmer,D.1953 ) Existem alegações de ocorrências naturais de ftalatos como produtos de metabolismo bacterial, mas tais estudos não têm provas suficientes da ausência de poluição ambiental ou contaminação de laboratório, não sendo conclusivos (Ehrhardt,M. 1980 e Peterson,J.C. 1982); portanto, ftalatos são considerados como substâncias de ocorrência unicamente antropogênica. 3 - Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos 30 3.1 Propriedades Químicas dos Principais Ftalatos A tabela 4 apresenta comparativamente as principais propriedades químicas dos ftalatos, investigados neste estudo, que mais influenciam na disseminação no ambiente. A volatilidade nas condições normais de temperatura e pressão é geralmente baixa, principalmente para os compostos com grupos de cadeia longa como o DEHP. Isto pode ser averiguado pelos pontos de ebulição dos produtos. Ftalatos com pequenos grupos alquil (ex.: metil - DMP, butil - DBP) são razoavelmente solúveis em água (0,5g.100mL-1). Quando os grupos alquil são de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA cadeias maiores, diminuem a solubilidade no meio aquoso por causa de predominância da estrutura lipofílica. A solubilidade em água pode ser medida em –log Cwsat ou µg.mL-1. O primeiro parâmetro mede a saturação do produto na água sob a forma logarítmica, enquanto o segundo demonstra de forma mais direta esta solubilidade. A maioria dos ftalatos empregados na indústria possuem grupamentos alquil de cadeias longas. O coeficiente de partição octanol/água (Log Koct/água) mede a tendência do produto de permanecer na fase orgânica ou na aquosa, também refletindo o caráter lipofílico do produto. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Tabela 4 - Principais Propriedades Fisico- Químicas de alguns Ftalatos deste Estudo Substância Aspecto Pto de Solubilidade em Água Ebulição (°C) -logCwsat (#) µg.mL-1 Log Koct/água Dimetil ftalato (DMP) Líquido incolor viscoso 283,7°C 1,646 4,5x104 * 1,53 */ 1,83 # Dietil ftalato (DEP) Líquido incolor viscoso 298°C 2,364 1,2x103 * 2,35 */ 2,76 # Butil benzil ftalato (BBP) Líquido incolor viscoso 370°C 5,180 <100 4,91 */ 4,59 # Dibutil ftalato (DBP) Óleo incolor 340°C 4,402 1,01 * 4,57 */ 4,37 # Di etilhexil ftalato (DEHP) Óleo incolor 384°C 6,374 4,1x10-2 * 9,64 */ 7,06 # Di n-octil ftalato (DNOP) Óleo levemente colorido 220°C 6,137 < 100 6,99 # Di hexil ftalato (DHP) Líquido incolor viscoso 350°C 6,144 -- 6,30 # Di isobutil ftalato (DIBP) Líquido incolor viscoso 296°C -- 6,2 4,11 Di ciclohexil ftalato (DCHP) Sólido granular branco 220°C 2,630 -- 4,90 # Di Líquido incolor viscoso -- 1,860 -- 2,90 # Líquido incolor viscoso -- 3,090 -- 4,05 # Di pentil ftalato (DPP) Líquido incolor 342°C 5,839 -- 4,85 # Di propil ftalato (DPrP) Líquido incolor 304°C 3,401 -- 3,64 # metoxi etil ftalato (DMEP) Di etoxi etil ftalato (DEEP) Fonte: NTP(1991) * Leyder e Boulanger (1983) # Thomsen,M. (1999) 3 - Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos 32 3.2 Usos Industriais de Ftalatos Atualmente existem milhares de ftalatos sintetizados, porém menos de 1% deles têm uso conhecido e produção industrial. Estes últimos têm uma grande variedade de usos industriais, sendo provavelmente o grupo mais importante de plastificantes atualmente. Segundo Brown (1996), 88% dos plastificantes usados em PVC são da família dos ftalatos, contendo até 45% em peso, com valor típico de 35%. Concentrações mais altas de ftalatos foram encontradas em áreas de alta atividade industrial e densamente povoadas, como foi comprovado em estudos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA realizados em diversos países como: • Noruega (Thurén, A 1990): a distribuição de ftalatos no ar mostra um gradiente decrescente das áreas urbanas para as não influenciadas pelas atividades humanas; • Estados Unidos (Peterson, J. C. 1982): em estudos de sedimentos datados da Chesapeake Bay, comparando a idade dos sedimentos e níveis de DEHP, relacionou-se a taxa de acumulação deste composto com a sua produção (R2=0,96). • Itália (Guidotti, M. 2000): concentração de ftalatos de diversas zonas industriais em águas de chuva foram muito semelhantes entre si e sempre superiores às das áreas residenciais. Segundo Furtmann (1994), que compilou todos os dados relevantes disponíveis, a produção mundial de ftalatos atingiu 2,7 milhões ton.ano-1 , sendo ± 200 mil ton produzidos nos Estado Unidos e 350 mil no Japão e Alemanha. O maior volume de ftalato produzido é o DEHP que representa entre 50-90% da produção. Os mais comumente usados são: DEHP e DMP, que juntos representam mais de 80% do consumo. Outros ftalatos muito usados são o DIDP (di-iso decil ftalato) e o DINP( di-iso decil ftalato), porém não são indicados para avaliação em águas potáveis pela EPA, já que não são suspeitos de nenhum efeito adverso. 3 - Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos 33 3.2.1 Ftalatos como Plastificantes de PVC O DMP apesar de sua baixa pressão de vapor (<0,01mmHg à 20oC) é muito volátil para ser considerado um bom plastificante para PVC, encontrando usos na preparação de repelentes para insetos e como solvente. Já o DEHP, por sua excelente compatibilidade com resinas sintéticas, baixa volatilidade, boa eficiência, baixa extração por água e propriedades satisfatórias a baixas temperaturas, é reconhecido como padrão de referência para composições com plastificantes. Também tem uso como lubrificante ou fluido de trabalho de bombas de alto vácuo. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA PVC é o único dentre os plásticos que não pode ser usado sem grande variedade de aditivos, visto que não é estável. O material sempre conterá um ou mais establizantes ao calor, e outros aditivos empregados para designar as propriedades do material para propósitos específicos (Tabela 5). Tabela 5 - Efeito dos Aditivos nas Propriedades Finais do PVC Aditivo Propriedade Estabilizante resistência calor, luz e desgaste Corante cor e resistência ao desgaste Plastificante propriedades mecânicas e comportamento de queima Modificador de Impacto resistência ao impacto e propriedades mecânicas Lubrificantes reologia PVC fundido, acabamento superficial Cargas propriedades mecânicas Retardantes de Chama comportamento de queima Antiestáticos propriedades elétricas Agentes de Sopro processamento para produtos expandidos Fonte: DEPA (1996) Aproximadamente um terço do PVC é processado com a ajuda de plastificantes e as aplicações mais importantes são os compostos de fios e cabos, 3 - Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos 34 filmes flexíveis, pisos e plastissóis. Os plastificantes podem ser divididos em 3 grupos: ésteres de ácido dicarboxílico, fosfato triésteres e trimetilatos. O grupo mais consumido é o dos ésteres de ácidos dicarboxílicos, sendo mais de 90% destes ftalatos. Estes últimos podem ser usados sozinhos ou em combinações para gerar as propriedades requeridas, podendo ser classificados como: • de uso geral: atendem a maioria dos requisitos para a maior parte das aplicações vinílicas e geram bom balanço entre custo-performance. Por muitos anos, os plastificantes mais usados deste tipo têm sido: DEHP, DIDP e DINP. • os altamente solvatadores: fundem-se com os polímeros vinílicos em PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA temperaturas relativamente baixas e também dão boa resistência a mudanças de cor. Entre eles os principais são BBP, DNOP e DHP. A proporção de plastificante depende do tipo de produto final desejado, sendo que até 60% do peso total de alguns produtos pode ser de plastificante (Tabela 6). Tabela 6 - Conteúdo de Plastificantes em alguns Produtos Produto % Revestimento de fios e cabos 33-44 Filmes 17-23 Perfis extrudados 17-47 Couro Artificial 29-44 Cápsulas Moldagem por Injeção 38 38-58 Fonte: DEPA (1996) Plastificantes como o DBP, DEHP e BBP, reduzem o tempo de plastificação, facilitam a mistura, melhoram a resistência à tração, resiliência e resistência ao frio, além de aumentarem a flexibilidade do produto final. A tinta usada para impressão em plástico e adesivos usados em embalagens frequentemente contém ftalatos. 3 - Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos Agrícola 17% Calçados 11% 35 Fios e Cabos 6% Perfis 6% Frascos 4% Outros 9% Tubos e Conexões 47% PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Figura.4 - Dados do Uso de PVC no Brasil em 95 (Abiplast, 1997) Segundo Greenpeace International (1992), DEHP é despejado em quantidades significativas no ambiente em todas as partes de seu ciclo: 1% durante a produção (principalmente nos despejos), 0,05% durante sua distribuição, 1% durante sua adição aos plásticos e outras quantidades pelo uso e despejo de produtos de PVC. Já para o DEP, estima-se que 0,5% de toda a produção é perdida para o ambiente durante sua fabricação. Outros 0,67% são estimados como emissões no vapor e forma particulada durante a incineração de plásticos que o contenham. A volatilização e a erosão destes materiais são fontes potenciais de transporte no ar, água e solo. Como os plastificantes não estão quimicamente ligados ao polímero de PVC, permanecendo ao redor do polímero, é evidente que podem volatilizar ou migrar de produto com o tempo, porém, tais processos são lentos. Devido a crescente preocupação com a migração dos plastificantes ftálicos de embalagens, estudos e modelos matemáticos (Lau, O. W. et al. 1997) foram desenvolvidos para prever a extensão deste processo em alimentos (especialmente os leites infantis); brinquedos para criança (principalmente os mordedores para a fase de dentição) e bolsas de sangue usadas em transfusões e diálises. Verificou-se uma rápida migração inicial do plastificante, seguida por nivelamento com o tempo. Os 3 - Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos 36 coeficientes de difusão em alimentos são mais dependentes da temperatura de armazenamento do que do tipo de alimento. Os coeficientes de partição variam muito nos sistemas alimento/plastificantes, sendo maiores em alimentos com alto conteúdo de gordura, dado o caráter lipofílico dos ftalatos. 3.2.2 Outras aplicações dos Ftalatos: Ftalatos também são utilizados em produtos industriais como tinta de emulsão, pisos vinílicos, corantes, biocidas, tintas industriais, cosméticos, lubrificantes, retardantes de chama, modificadores de impacto, cargas e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA estabilizantes. DMP e DBP têm sido amplamente usados como repelentes de insetos, aplicados diretamente sobre a pele, sendo que o DBP é mais resistente à lavagem que o DMP. O DIBP é bastante usado no Brasil, principalmente em plastissóis (PVC), tintas e adesivos à base de PVA, basicamente buscando a propriedade de tixotropia. 3 - Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos 37 3.3 Ftalatos e Derivados no Brasil No Brasil, segundo dados da Abiplast (1997), apesar da capacidade de produção petroquímica nacional ser de 3,1 milhões de toneladas de plásticos, o consumo total é de somente 2,64 milhões de toneladas. Destas, 565 mil toneladas de produtos de PVC. Na segmentação de mercado de 1995, 63% dos produtos de PVC utilizam plastificantes. Dentre as 16 empresas que fornecem plastificantes no Brasil, apenas 7 são produtoras de ftalatos (tabela 7), todas localizadas no Estado de São Paulo, sendo a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Ciquine a maior delas, seguida pela Oxypar. As outras são apenas distribuidoras ou produtoras de outros tipos de plastificantes. Tabela 7 - Plastificantes ftálicos fabricados no Brasil Produtos Principais Fabricantes * Capacidade (ton.ano-1) ** BBP IQT 1.000 DBP Ciquine, Coral, Scandiflex, Coremal 66.380 DEP IQT, Rhodia 1.500 DIBP Ciquine, Coral, Scandiflex, Oxypar, Coremal 116.380 DIDP Ciquine, Elekeiroz, Scandiflex, Oxypar, Coremal 131.500 DMP IQT, Rhodia 1.500 DEHP Ciquine, Elekeiroz, Scandiflex, Oxypar, Coremal 158.500 outros diversos 116.200 Fonte: *Plástico Industrial (2002) e ** Pita,V.J. (1996) As transformadoras principais se encontram na região sul e sudeste. Destacam-se as produtoras de laminados de PVC e de compostos (produtos semiindustrializados) para injeção no estado de São Paulo, como: Solvay do Brasil, Polibrasil, Karina, Ramon, Multiplast, etc…. 3 - Origem, Propriedades e Usos dos Ftalatos 38 No Estado do Rio de Janeiro, existem diversas pequenas indústrias de plásticos. Em sua maioria, o processo de produção utiliza compostos (produtos semiindustrializados, usados em injetoras), não consumindo diretamente os plastificantes ftálicos. As empresas, localizadas no noroeste da Baía de Guanabara, próximas ao Rio São João de Meriti, consomem atualmente de 600 - 650 ton.mês-1 dos plastificantes ftálicos DIDP, DEHP e eventualmente DIBP. Por ordem decrescente de consumo são listadas abaixo: • Rionil (1600 ton.mês-1 de DEHP e DIBP) é a única indústria de compostos do estado, em plena expansão e com conceitos de produção mais limpa e com investimentos em meio ambiente e produtividade; PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA • Vulcan (250 ton.mês-1 de DEHP e DIDP), é a maior indústria do estado. Detém 50% das ações da Oxypar e adquiriu em 97 a Plavinil estando em plena expansão de sua linha de cortinas de banheiro, toalhas de mesa e jogos americanos ; • Idma (150-180 ton.mês-1 de DEHP); • Ficap (100-120 ton.mês-1 de DIDP e DIBP); • Kelson’s (100 ton.mês-1 DEHP). A empresa estava em fase de recuperação de um pedido de falência que abalou suas atividades em 1995. Com a atual situação econômica, encontra-se em grandes dificuldades econômicas. Além das indústrias de plásticos, existem outras fontes de contaminação por derivados ftálicos: o DIBP é a base de tintas industriais em formulações de empresas de grande porte, que no Rio são basicamente Glasurit (do Grupo Basf, localizada em Santa Cruz na baixada), Tintas Internacional (São Gonçalo em Niterói) e Tintas Ypiranga (São Cristóvão), que consomem em torno de 60 ton.mês-1 no total. Outras fontes, com menores quantidades, porém não desprezíveis, são de difícil contabilização, como lubrificantes de máquinas, fluido de trabalho de bombas, cosméticos, etc… 4 Toxicologia dos Ftalatos Apesar de serem considerados um problema para o ambiente, devido às grandes quantidades despejadas e sua moderada persistência, não existe legislação nacional ou estrangeira, que restrinja o uso especificamente dos ftalatos, porém alguns países já restringem o uso de produtos de PVC para algumas aplicações. Nas décadas de 40 e 50, os ftalatos foram avaliados por critérios toxicológicos clássicos, e considerados como tendo baixa toxicidade aguda e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA crônica. Após a década de 60, surgiram informes na literatura médica relatando a preocupação com a possibilidade de efeitos tóxicos causados por equipamentos médicos à base de PVC contendo ftalatos. Sua absorção pelo solo e potencial assimilação por plantas é de especial interesse, já que tem sido observados efeitos hepatóxicos, mutagênicos e carcinogênicos (Zurmühl,T 1990). A toxicidade aguda dos ftalatos é baixa, porém existem indícios de toxicidade crônica, especialmente carcinogenicidade. As rotas primárias potenciais de exposição humana são inalação, ingestão e contato dérmico. A toxicidade aguda dos ftalatos parece decrescer com o aumento do peso molecular. Os resultados de testes de ecotoxicologia variam em muitas ordens de grandeza, porém, testes crônicos, concluiram que efeitos adversos, diretos ou indiretos, a longo prazo no ambiente aquático podem ser causados por DEHP pode ser tóxico para organismos aquáticos. Podem constituir um problema à saúde por exposição durante sua produção e processamento: polineuropatia foi diagnosticada em trabalhadores da indústria de processamento de PVC. Entretanto, em estudos mais recentes, nenhuma concentração que pudesse ser relacionada com efeitos de saúde ocupacional foi detectada (DEPA 1996). No caso dos repelentes de insetos (DMP e DBP), estes causam pouca ou nenhuma irritação à pele, porém alta irritação para os olhos e mucosa. Quando 4 – Toxicologia dos Ftalatos 40 ingeridos em grandes doses, causam irritação gastrointestinal, depressão do sistema nervoso central, tendendo ao coma e hipotensão (Morgan, D. P. 1989). O envenenamento clínico por ftalatos é caracterizado por grande decréscimo nos impulsos subliminares, com evidências de paralisia. O mais grave efeito patológico é a interferência no sistema nervoso central e periférico (Randall, R. C. 1983). Os ftalatos podem ser introduzidos diretamente no sistema circulatório pelo uso de equipamentos médicos à base de PVC (seringas, bolsas de sangue). Porém acredita-se que a maior fonte humana de exposição aos ftalatos são os alimentos (90%), que teriam absorvidos tais compostos de suas embalagens ou durante o processo de produção (MAFF a, b 1996). DEHP é o principal PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA contaminante na área médica, ao passo que DBP e DEHP são os mais encontrados em alimentos embalados em plásticos (bolos, biscoitos, gordura vegetal, salsichas, queijos, etc...). Figura.5 - Avaliação dos Níveis Fetotóxicos de DEHP (Tomita,I. Nakamura,Y., Yagi,Y., Tutikawa,K. , 1982) 4 – Toxicologia dos Ftalatos 41 Na figura 5, verifica-se que os níveis máximos de exposição via ingestão de alimentos e por transfusão/hemodiálise se encontram muito abaixo dos níveis verificados como fetotóxicos para ratos. Portanto, a princípio, não há motivos para nos preocuparmos. Apesar das antigas suspeitas, o estudo dos efeitos danosos à saúde provenientes da contaminação alimentar começou apenas nos últimos anos, e indicaram o DEHP como carcinogênico para ratos de ambos os sexos (Lau, O. W. 1996). Felizmente os níveis encontrados nos alimentos situam-se muito abaixo dos valores de consumo diário tolerável para DEHP e DBP, respectivamente 25 e 50 µg.kg-1 de peso corporal (Holadová, K. 1995 e Maff 1995). Na Europa não há legislação definindo limites para ftalatos; a EPA PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA estabeleu 6 µg.L-1 (Peñalver, A 2000) como índice de concentração máxima admissível para o DEHP em águas potáveis; a OSHA (Organização Internacional de Saúde Ocupacional) define 850 µg.g-1 para o DBP e 5 mg.m-3 de DEHP, como níveis permissíveis de exposição para o ambiente de trabalho. Estimativas recentes mostram uma exposição diária média aceitável para DEHP de: 2,3-2,8 µg.kg-1 na Europa; 4 µg.kg-1 nos Estados Unidos e 6 µg.kg-1 no Canadá. Até 69 mg.kg peso corporal-1 por dia não foi observado efeitos danosos, de modo que existe uma margem de segurança de 14 mil vezes sobre a exposição crítica humana ou do meio ambiente (Scholz, N. J. 1998b). Os principais órgãos atingidos pela toxicidade dos ftalatos são os rins e testículos. Os efeitos renais (ganho de peso e mudanças em enzimas) foram observados após exposição subcrônica à DEHP, de 103 - 2x103 mg.kg peso-1 por dia (Poon, R. et al. 1997). Segundo Gangolli (1982), efeitos testiculares produzidos por DEHP em ratos são caracterizados por mudanças histológicas e decréscimo do peso relativo do órgão; e também decréscimo de zinco nas gônadas e aumento de sua excreção via urina também foram observados. Estes efeitos também podem ser produzidos por DBP, DPP, DHP e seus monoésteres correspondentes. Os efeitos de ftalatos no sistema enzimático de ratos, coelhos e porcos foi estudado por Bell (1982), que verificou efeitos bioquímicos diversos, após administração de níveis de 0,1-1,0% (g. peso corporal-1) de DEHP nas dietas dos animais. Os principais efeitos observados foram nos rins e cérebro e decréscimo 4 – Toxicologia dos Ftalatos 42 de níveis de colesterol. Poon (1997) relatou comportamento tireoidal similar para DNOP e DEHP nas condições estudadas por Bell, sendo verificadas diferenças nos efeitos hepáticos, hematológicos, bioquímicos e testiculares. Hellwig (1997) verificou que a toxicidade durante a gravidez, pelos ftalatos, é moderada, sendo as mudanças relativas ao peso atribuídas à diminuição PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA da alimentação e aumento na taxa de reabsorção fetal. 4 – Toxicologia dos Ftalatos 43 4.1 Absorção e metabolismo de Ftalatos na biota Devido à natureza lipofílica dos ftalatos, os tecidos dérmicos e pulmonares não constituem barreiras para a absorção destas substâncias pela pele ou pulmões, entretanto dados quantitativos nestas rotas não estão disponíveis. Após administração oral, ftalatos são geralmente absorvidos pelo trato gastrointestinal, sendo a extensão desta absorção passível de estudo pela monitoração das concentrações na urina. Tabela 8 - Estimativa de Absorção Intestinal de Ftalatos em Ratos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Composto Dibutil ftalato Mono (2 etil hexil) ftalato Di-(2etil hexil) ftalato Dose Tempo % Excretado 60 mg.kg-1 48 hrs 90 50 mg.kg -1 24 hrs 70 03 mg.kg -1 4 dias 40 Fonte: adaptado de Kluwe,W.M. (1982) Estudos sobre a distribuição de ftalatos em organismos são dificultados pela baixa solubilidade destes compostos em água. Atualmente, sabe-se que os compostos mais estudados, DEHP e DBP, são rapidamente eliminados do corpo (24 hrs a 3 dias). Em alguns casos observou-se presença de resíduos no fígado, rins e trato intestinal, de onde seriam excretados. Ftalatos são metabolizados em seu monoéster correspondente e álcool, por enzimas nos organismos, sendo que a toxicidade aparentemente se deve à disponibilidade do monoéster livre (Scholz, 1998 a, b). São prontamente metabolizados em mamíferos e demonstram baixa toxicidade em estudos de toxicidade aguda, subaguda e crônica (Gledhill, W. E. et al, 1980). Resultados recentes demonstram que os ftalatos são prontamente biodegradados e que bioacumulam em taxas bem menores que as previstas (Scholz, 1998a). 4 – Toxicologia dos Ftalatos 44 Tabela 9 – Comparação entre Fatores de Bioconcentração (BCF) Previstos e Reais para alguns Ftalatos Ftalato Log Koct/água BCF Previsto BCF Medido DBP 4,45 1419 1,9 BBP 7,50 > 10.000 30,0 DEHP 4,59 1813 9,4 Fonte: adaptado de Scholz (a 1998) Segundo Kluwe (1982), ambas as ligações éster dos ftalatos podem ser hidrolisadas, obtendo o ácido ftálico com produto final. A hidrólise do primeiro grupo éster ocorre muito mais rápido que a do segundo. Porém só as enzimas dos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA rins são capazes de hidrolisar o DEHP completamente a ácido ftálico. Os ftalatos de pequenos grupos alquil (ex.: DMP, DBP) podem ser excretados sem a metabolização, mas os de cadeia maior devem sofrer modificações após a hidrólise para o monoéster ter polaridade suficiente para a excreção renal. Tabela 10 - Estimativa de Consumo Diário de Ftalatos por Adultos Ftalato Consumo Médio (mg/pessoa/dia) Consumo Máximo (mg/pessoa/dia) DPrP 0,004 0,009 DIBP 0,008 0,018 DBP 0,13 0,031 DEHP 0,15 0,30 Fonte: MAFF (a 1996) Como mostrado na tabela 10, as estimativas de consumo de ftalatos são bem menores que os consumos máximos. Para Api (2000), DEP não pode ser considerado tóxico: além de não causar irritação dérmica em humanos (25 voluntários testados), não causa atividade estrogênica em vertebrados in vivo e suas doses letais são muito altas para ratos, porcos e coelhos ( via oral 1-31 g.kg-1 e via intraperitoneal 1-5 g.kg-1). A absorção de ftalatos durante transfusões foi testada em trabalhos com macacos. Estes receberam doses de DEHP de 10 a 20 vezes menores que as recebidas por pacientes realizando hemodiálise regular e verificou-se anormalidades hepáticas persistentes até por 26 meses após o tratamento. 4 – Toxicologia dos Ftalatos 45 4.2 Ftalatos como Interferentes Endócrinos Para efeitos interferentes endócrinos, apenas três ftalatos - DEHP; BBP e DBP – foram totalmente reconhecidos como sendo estrogênicos (Mayer, F. L. et al. 1972) e outros seis (DMP, DEP, DPrP, DPP, DHP, DNOP) indicados como suspeitos (Figura 6). Em 1974, a EPA incluiu os ftalatos em sua lista de poluentes prioritários. Em 1997, porém, retirou-os todos, exceto o DBP. Em 1999, foram divulgadas conclusões controversas do “American Council on Science and Health” e do “Health Care Without Harm”: o primeiro concluiu que o DEHP não é nocivo aos pacientes, enquanto o segundo chegou à conclusão oposta (ASCH, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 1999). Em 23/setembro/2002, a EPA retirou definitivamente os ftalatos da lista de poluentes prioritários (Stanley, M.K, 2002). As fontes primárias de exposição potencial humana para os ftalatos são a inalação, ingestão e o contato dérmico. Segundo ARC (1996), em pesquisa de exposição ocupacional, 147.848 trabalhadores, incluindo 50.694 mulheres, são potencialmente expostos ao DEHP nos Estados Unidos. Alguns ftalatos podem ser degradados no corpo e as taxas de degradação e excreção diferem entre adultos e crianças. Além disso, ftalatos são adsorvidos fortemente pelo solo, onde se biodegradam lentamente, tornando-se uma fonte potencial para exposição constante. Como já é conhecido desde a década de 70, o DEHP diminui o tamanho de ratos (PACIA 1997) e verificou-se sua carcinogenicidade (ARC 1996) em animais experimentais: quando administrado na dieta, aumentou a incidência de carcinomas hepatocelulares em ratos de ambos os sexos e nódulos neoplásticos nos rins. Stahlschmidt-Allner (1997) sugeriu o provável mecanismo de seus efeitos no sistema endócrino masculino, apresentado na figura 7. 4 – Toxicologia dos Ftalatos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA DMP dimetil ftalato CAS: 131-11-3 C10H10O4 PM=194,19 DPP di (n-pentil) ftalato CAS: 131-18-0 C18H26O4 PM=306,40 DEHP di (2-etil hexil) ftalato CAS: 117-81-7 C24H38O4 PM=390,56 46 DprP di (n-propil) ftalato CAS: 131-16-8 C14H18O4 PM=250,29 DEP dietil ftalato CAS: 84-66-2 C12H14O4 PM=222,24 DBP DCHP dibutil ftalato di-ciclohexil ftalato CAS: 84-74-2 CAS: 84-61-7 C20H26O4 PM=330,42 C16H22O4 PM=278,35 DNOP di (n-octil) ftalato CAS: 117-84-0 C24H38O4 PM=390,56 BBP butil benzil ftalato CAS: 85-68-7 C19H20O4 PM=312,36 Figura.6- Estrutura dos Ftalatos Interferentes Endócrinos (NTP,1991) 4 – Toxicologia dos Ftalatos 47 Estímulo externo Gonadotropinas DEHP Gônodas Estradiol PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Testosterona Pituitária Inibição Liberação de hormônios Estradiol Sistema nervoso central, hipotalamo Testosterona Orgãos sexuais acessórios Figura.7 - Efeitos do DEHP no Sistema Endócrino Reprodutivo (adaptado de Stahlschmidt-Allner, P. 1997) Ftalatos foram indicados como redutores de contagem de esperma em ratos (ENDS 1995; Sharpe 1995) e até responsabilizados pela mídia inglesa pelo declínio observado na contagem de esperma humano (Armstrong, J. 1997). Os diversos ftalatos, em particular DEHP, são tóxicos para testículos. Parte desta toxicidade é atribuída à capacidade de morte e desintegração das células germinais testiculares. Segundo Bell (1982) os ftalatos migram através das membrana das organelas e perturbam a composição e estado físico do microambiente lipídico ao redor de certas enzimas. Como a resposta da ligação específica membrana-enzima está sujeita a mudanças devido à fluidez da membrana, estes compostos se tornam tóxicos para nível organelar em baixas concentrações. O DBP é conhecido por induzir efeitos em testículos de roedores há mais de 20 anos, em estudos que mostraram doses agudas e subagudas provocando lesões testiculares rápidas e uniformes em poucos dias. Quando a lesão é aparente, é idêntica por todos os tipos de ftalatos. A toxicidade aparentemente é mediada 4 – Toxicologia dos Ftalatos 48 pelo metabólito monoéster e os efeitos são mais pronunciados em animais na puberdade que em adultos (Foster, 1997). Tabela 11 - Efeitos de Ftalatos no Sistema Reprodutivo Masculino de Ratos Composto DEHP Efeitos degeneração e atrofia testicular, morte fetal precoce e semiesterilidade, danos histológicos do testículo, decréscimo do peso dos testículos, aumento da testosterona e decréscimo no teor de zinco. DNOP decréscimo do peso dos testículos. DMP decréscimo do peso dos testículos e aumento das excreções de zinco. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Fonte: Thomas,J.A. et al. (1982) Estudos em organismos aquáticos (Ratte, H. 1996a) permitiram concluir que o DEHP tem efeitos sobre o crescimento, provavelmente devido a semelhança estrutural entre o plastificante e os hormônios envolvidos. Em relação à saúde humana, pesquisas laboratoriais identificaram uma grande variedade de efeitos crônicos dos ftalatos (Greenpeace International 1997): lesões de rim e fígado; anormalidades reprodutivas, incluindo atrofia testicular; desenvolvimento alterado de tecidos reprodutivos e efeitos na produção de esperma; transformações de células e cânceres variados. Em testes in vitro, Harris (1997) verificou efeito mitogênico muito fraco com BBP, DBP, DIBP, DEP e DINP nas células responsáveis pela resposta estrogênica em câncer de seio em seres humanos. Além disso, os ftalatos são conhecidos como sendo tóxicos para desenvolvimento de embriões, causando má formação e morte. A morte de fetos causada por BBP parece estar ligada à redução dos níveis de progesterona. UriuAdams (2001) comprovou que o BBP afeta adversamente a gravidez de ratos, quando as doses são claramente tóxicas à mãe. Exposição ocupacional a altos índices de ftalatos tem sido informada como sendo responsável por abortos espontâneos e outras complicações durante a gravidez. Segundo Øie (1997), a absorção de DEHP por inalação pode ser significativa, devido à sua extensiva penetração na região pulmonar, podendo 4 – Toxicologia dos Ftalatos 49 causar inflamação nas vias aéreas, que é característica da asma, via processo de imitação de hormônios nos pulmões. Em estudos mais recentes (Moore,A.P. 2000) verificou-se que a estrogenicidade de ftalatos in vivo e in vitro não são relevantes para seres humanos e meio ambiente. Como os ftalatos são facilmente liberados para os fluidos circunvizinhos (soluções, sangue, etc..). Algumas drogas clinicamente importantes efetivamente aumentam a liberação do DEHP. O laboratório Bristol Myers Squib adverte que o Taxol, usado no tratamento do sarcoma, nunca deve ser usado em embalagens e catéteres de PVC, porque os níveis de DEHP aumentam em função do tempo e concentração (Macedo,J. 2002). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Hill (2001) concluiu após estudos que não se têm evidências suficientes de efeitos danosos à saúde para não se utilizar DEHP e outros plastificantes em tubos de oxigênio de uso hospitalar. Baseados nas diferentes interpretações de cientistas sobre o tema, associações de empresas que utilizam os ftalatos como plastificantes (PACIA 1997; VCC 1997) clamam pela inocuidade destes aditivos. Entretanto, movimentos contra o uso de produtos à base de PVC ou que contenham ftalatos ganham força na Europa: alguns hospitais na Dinamarca, Alemanha e Áustria já baniram produtos à base de PVC (Greenpeace International 1992), e cobram-se substitutos das empresas fabricantes de embalagens para leites infantis (Armstrong,J 1997; MAFF(b) 1996; Nuttall,N 1996). Áustria, Alemanha, Dinamarca, França, Noruega, Finlândia e Suécia baniram ftalatos de brinquedos infantis para menores de 3 anos (Greenpeace International 1997), enquanto que a Grécia baniu todos os brinquedos de PVC macios. Em Bangladesh, o uso de sacolas plásticas está sendo proibido porque ameaçam o sistema de drenagem do país (Macedo,J 2002). Apesar dessas medidas, todos os estudiosos concordam em um ponto: que a interferência endócrina dos ftalatos requer maiores estudos. 5 Ftalatos no Meio Ambiente A maior importância dos ftalatos para os estudos ambientais é a sua grande produção mundial, já que sua toxicidade é baixa e a persistência moderada. Segundo Ritsema (1989), as faixas de concentrações encontradas na literatura são: Solo – sedimento: 10-105 µg.kg-1 Água: 10-2 - 102 µg.L-1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Biota: 10-4 - 10 µg.kg-1 Ar: 10-3 – 1 µg.m-3 Wezel (2000) estudou os riscos ambientais limites (Environmental Risk Limit – ERL) do DBP e DEHP e ambos se encontram dentro das faixas de concentrações descritas por Ritsema. Staples (2000) também comprovou que, uma vez que as concentrações para as quais nenhum efeito foi verificado (Predicted No Effect Concentration – PNEC, vide tabela 12) são 10-100 vezes maiores que as das citadas faixas, nenhum dos ftalatos traz risco à vida aquática. Tabela 12 – Concentrações para as quais nenhum efeito foi verificado (Predicted no effect concentration – PNEC) Composto PNEC (µg.L-1) DMP 4780 DEP 1173 DBP 62 BBP 60 Fonte: Staples,C.A. (2000) 51 5 - Ftalatos no Meio Ambiente 5.1 Fontes de Ftalatos para o Meio Ambiente Pelos diversos aportes antropogênicos, ftalatos são comumente encontrados em ambientes aquáticos costeiros. Durante análises de rotina para resíduos de inseticida, foram encontrados por Mayer (1972) traços de DBP e DEHP em extratos de peixes capturados em diversas partes da América de Norte. As fontes de contaminação de ftalatos para o ambiente são as emissões atmosféricas, efluentes aquosos e despejos sólidos de plantas industriais. O processamento, distribuição e uso de produtos que os contenham também são fontes potenciais de poluição. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Os compostos são despejados no sistema de efluentes de indústrias, alcançando as águas superficiais via esgoto ou descargas diretas na água. São comumente encontrados em rios e fontes d’água (Jobling et al. 1995). DEHP pode ser encontrado em qualquer lugar no mar, lagos e rios, bem como na chuva, no solo e sedimentos por toda parte do globo. Estima-se que 91 % das emissões são diretamente para a atmosfera e <7 % são emitidas diretamente para o ambiente aquático (DEPA 1996), sendo o restante emitido para o solo. Ftalatos também podem entrar no ambiente como vapor e em forma de particulado durante a incineração de plásticos que os contenham. A volatilização, seguida de transporte aéreo, e a deposição seca ou úmida são consideradas como as principais rotas para os compartimentos ambientais. Como seus coeficientes de partição octanol-água são altos (vide Tabela 4), o equilíbrio dos ftalatos é em favor das partículas. A maioria do seu transporte no ambiente terrestre e aquático será determinado pelo transporte particulado e coloidal do material. Portanto, concentrações relativamente maiores de ftalatos serão encontradas em sedimento e solo do que nas águas poluídas por tais produtos. Tagatz (1986), reportou concentrações de DBP variando de 89 ppb à 15,5 ppm em amostras de sedimento da Baía de Chesapeake (Estados Unidos) e do Rio Reno (Alemanha) respectivamente. No meio atmosférico, os ftalatos existem na forma de vapor e adsorvidos no particulado. Os vapores reagem fotoquimicamente gerando radicais hidroxila 52 5 - Ftalatos no Meio Ambiente com meia-vida de poucas horas. O material adsorvido no particulado é carreado pela chuva, indo para as águas e os solos. A degradação por fotólise direta não é significante. Segundo Thurén (1990) as taxas de deposição e níveis de ftalatos no ar são dependentes da temperatura, sendo os maiores níveis de ftalatos no ar coincidentes com a estação de crescimento das plantas (verão), ficando disponíveis para assimilação em tais organismos. Despejos domésticos também constituem uma fonte de ftalatos para o ambiente, já que cada vez mais fazem parte de materiais e equipamentos, como se pode ver na Tabela 13. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Tabela 13 - Valores Médios de Concentração de Ftalatos (mg.kg-1) nas Várias Frações do Lixo Doméstico Frações DMP DEP DBP BBP DEHP Alimentos 0,8 0,9 5,6 1,4 64,3 Papel Reciclável 0,4 1,5 15,2 0,9 29,7 Papel Não Reciclável 0,3 0,7 11,6 0,6 71,1 Filmes Plásticos 0,3 1,2 36,2 7,8 444,9 Outros Plásticos 0,5 3,7 181,2 26,8 1027,6 Fonte: adaptado Bauer,M.J. e Herrmann, R. (1997) Existem indícios de que a composição do material do despejo tem efeito na concentração do ftalato, por aumento do COD (carbono orgânico dissolvido) por lixiviação. A correlação entre COD e ftalatos tem sido observada em lixiviação de depósitos municipais (Bauer e Herrmann, 1997). Ambientalmente, os ftalatos têm baixas taxas de fotólise, oxidação e hidrólise, mas a sorção aos sólidos suspensos e sedimentos, bioacumulação e biotransformação/biodegradação (Randall,R.C. 1983). são processos de grande importância 5 - Ftalatos no Meio Ambiente 53 5.2 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Comportamento dos Ftalatos no Meio Marinho Figura.8 Foto da poluição na maré vazante na Baía de Guanabara Como os ftalatos se comportam diferentemente, têm sido monitoradas concentrações médias anuais para cada ftalato. Segundo SEPA (1996) limites de segurança variam de 4 à 400 µg.L-1. Geralmente a solubilidade destes compostos em água é baixa, mas dispersões coloidais ou adsorção a partículas e sedimento podem ocorrer, gerando solubilidades aparentes maiores. Os ftalatos estão presentes nas águas em concentrações variando de nano a miligramas por litro (Jobling,S. 1995). Em soluções aquosas, podem hidrolisar formando mono alquil ésteres e depois os ácidos correspondentes e álcoois (Schwarzenbach, 1998). Porém, os dados das constantes destas reações indicam que a hidrólise química destes compostos será irrelevante se comparada a outros processos: segundo Staples (1997) o tempo de meia-vida da hidrólise química é de 3 anos para DMP; 8,8 anos para o DEP e 2000 anos para o DEHP. 5 - Ftalatos no Meio Ambiente 54 Os dois mecanismos de transporte em meios aquáticos, aparentemente mais importantes para os ftalatos, são a adsorção em sólidos suspensos e matéria particulada e a complexação com substâncias orgânicas, como o ácido fúlvico, para formar complexos ou emulsões solúveis em água. Fotólise, oxidação e hidrólise são muito lentas para serem significativas para o ambiente. Volatilização não é considerada como um processo de transporte competitivo. O transporte de ftalatos dependerá das condições hidrogeológicas do sistema aquático e da estrutura de cada ftalato. Para os ftalatos com pequenas cadeias alquil, transformações bioquímicas competirão com exportação em ecosistemas de longos períodos de retenção (por exemplo: lagos). Para os compostos com maiores grupos alquil, como o DEHP, os PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA processos de transformação são lentos. Para ftalatos despejados em rios, verificou-se que a exportação será o processo dominante. Figura.9 – Mecanismos de biodegradação dos ftalatos (Staples, 1997) 5 - Ftalatos no Meio Ambiente 55 Os ftalatos também podem sofrer biodegradação em taxas variáveis: em ambientes aeróbicos é muito rápida e em ambientes anaeróbicos é lenta, de modo que ocorre acumulação em áreas pouco oxigenadas. Na tabela 14, a seguir, têm-se dados sobre o comportamento dos ftalatos mais estudados em sistemas aquáticos e sedimentos (Spectrum Laboratories, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 1996). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Tabela 14 - Comportamento de alguns Ftalatos em Sistemas Aquáticos e Sedimentos Substância DMP DEP BBP DBP DEHP DNOP Comportamento Tende a manter-se na coluna d’água, já que é fracamente sorvido pelos sedimentos. Biodegradação é o principal processo de remoção em águas doces, com meia-vida <11 dias. No mar esta taxa é muito maior. Em situações onde a biodegradação é menos importante, os processos de remoção são: volatilização (em baías de água salgada), hidrólise (em corpos d’água alcalinos) e fotólise (em águas superficiais límpidas). Sua volatilização não é um processo de remoção importante na maioria dos sistemas aquáticos. Sua biodegradação aeróbica, tem meia-vida de ± 2 dias a 2 semanas. A biodegradação anaeróbica ou ocorre muito lentamente ou não ocorre. Remoção por oxidação, hidrólise química, fotólise direta ou indireta e bioacumulação em organismos aquáticos não são processos significativos. A maioria dos despejos deste material acumula-se preferencialmente no solo e água e não no ar. Adsorve-se aos sedimentos e biota, não se volatilizando significativamente, exceto sob vento. A biodegradação parece ser o mecanismo primário para eliminação (mais de 95% em 7 dias, em lodo ativado, lodo semi-ativado, água salgada, água doce e sob condições anaeróbicas). Fotodegradação e hidrólise não são significativas, já que a meia-vida de tais processos é alta. Tende a adsorver-se moderadamente aos sedimentos e particulados; e a formar complexos com material húmico na coluna d’água. As taxas de biodegradação em águas doces são rápidas, mostrando 90-100% de degradação em 3-5 dias em águas moderadamente poluídas e em 3 semanas em sistemas aquáticos mais limpos. Já no mar, observa-se 33% de degradação em 14 dias em águas limpas e 100% em 5 dias em águas poluídas.Fotoxidação e hidrólise não tem contribuição significativa, com exceção de águas oligotróficas alcalinas, onde a hidrólise pode ser significativa (meia-vida de 76 dias à pH 9). Seus despejos biodegradam-se rapidamente (meia-vida de 2-3 semanas). Também é fortemente adsorvido aos sedimentos e bioconcentrado em organismos aquáticos. Evaporação e hidrólise (meia-vida 2000 anos em pH=7) não são processos significativas. Tende a adsorver fortemente aos sedimentos e matéria particulada, tendo baixa biodegradação. A meia-vida para remoção da fase aquosa foi informada como sendo de 5 dias. Ele bioconcentra-se em algas e outros organismos aquáticos e é bastante resistente à biodegradação anaeróbica. Fonte: Spectrum Laboratories (1996) 57 5 - Ftalatos no Meio Ambiente 5.3 Processos de Remoção no Ambiente Marinho Os principais processos fisico-químicos que afetam a distribuição de compostos antropogênicos em sistemas marinhos costeiros são: • solubilidade e densidade; • hidrólise e fotólise; • turbulência da água sub-superficial e transporte advectivo de água; • vento (direta ou indiretamente, via ondas); • volatilização; • aerolização. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Já os principais processos de remoção biológica são a biodegradação e sorção e/ou consumo por organismos. Tabela 15 – Degradação microbiológica dos Ftalatos Composto % & Tempo Tempo1/2 anaeróbico Tempo1/2 aeróbico DMP 100% em 5dias 21,0 horas 23,9 horas DBP 90% em 7dias 45,6 horas 32,1 horas DNOP Difícil degradar 498,6 horas 513,4 horas DEHP* 2-4%,5 semanas > 100 anos Fonte: Jianlong,W. (1996) * Wam, T.J. (1987) Ftalatos têm sido indicados em estudos de laboratórios e de campo que podem ser ingeridos, absorvidos e acumulados por grande variedade de organismos. São degradados pela microbiota e eliminados por metabolização por peixes e animais. As maiores concentrações são esperadas nos níveis intermediários da cadeia alimentar, já que a habilidade de degradar os ftalatos aumenta do produtor primário para os organismos consumidores (Thurén,A 1986). Na figura 10 visualiza-se os processos ambientais atuantes em um sistema marinho costeiro para o DEHP. 58 5 - Ftalatos no Meio Ambiente Os processos de adsorção e desorção de compostos em solução são mecanismos que também influenciam significativamente o transporte e distribuição no ambiente marinho. Estudos realizados com DBP e DEHP em águas salgadas, mostraram que eles tendem a adsorver e dessorver rapidamente de sedimentos e tubos de vidro (Sullivan,K.F. 1982). Ar 1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA VENTO SML 8 9 DEHP SP CO2 6 2 MARES 1 6 4 Transporte da SML 3 7 DEHP SP CO2 H2O TRANSPORTE FASE GASOSA 6 5 6 TRANSPORTE ADVECTIVO Sedimento Fig.10 – Processos atuantes em Sistema Marinho Costeiro para DEHP (Davey,E et al. 1990) 1) Volatilização e aerolização 2) Partição Coluna de água - Microcamada Superficial 3) Transporte do DEHP da Microcamada Superficial (SML) para fundo 4) Resuspensão bêntica 5) Partição coluna de água - sedimento 6) Biodegradação (na coluna d’água) 7) Transporte dos subprodutos (SP) da Microcamada Superficial para o fundo 8) Fluxo de CO2 da Microcamada Superficial 9) Fluxo de CO2 da coluna d’água 59 5 - Ftalatos no Meio Ambiente A adsorção dos ftalatos é inversamente proporcional à solubilidade em água, sendo que o aumento da característica lipofílica do adsorvente ou salinidade da solução aumentam a quantidade de ftalato ligado. Os mecanismos prováveis de ligação incluem forças de Van der Waals e interações hidrofóbicas (Sullivan et al, 1982). Segundo Vitali (1997) os fatores de acumulação nos sedimentos são de 10100 comparados com as águas. Inúmeros estudos demonstram a biodegradabilidade de vários ftalatos sob condições aeróbicas em solos, águas naturais e esgotos, sendo o processo descrito como na figura 11. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA R R R dialquil ftálico monoalquil ftálico acido ftálico ac. protocateúico Figura.11 - Biodegradação Aeróbica dos Ftalatos (Scholz,N. 1997 e Jianlong,W. 1997) Segundo estudos de Niazi (2001), os microorganismos capazes de metabolizar estes poluentes, convertendo os ftalatos em ácido protecateúico são: Bacillus, Pseudomonas, Micrococcus, Moraxella e Comamonas sp. A comunidade da microcamada superficial rapidamente degrada DEHP de tal forma que sob certas condições de tratamento, a biodegradação é o processo de remoção predominante comparado ao transporte físico. Os fatores que influenciam na capacidade de biodegradação da microcamada superficial, em ordem de importância são: Estação do ano > Condições do mar > Forma de entrada no ambiente A solubilidade em água influencia na biodisponibilidade. Um vez iniciado o processo de biodegradação, a velocidade deste é igual para os ftalatos de maior peso molecular. Segundo Davey (1990), a biodegradação do DEHP pela biota está estimada em pelo menos 30% do total. Portanto, no verão, este microcosmos influencia quantitativamente na remoção do DEHP. Wang (1995) demonstrou um 60 5 - Ftalatos no Meio Ambiente outro processo de biodegradação para o iso-ftalato, que seria válido para todos os tipos de ésteres ftálicos. A susceptibilidade à degradação anaeróbica está aparentemente relacionada com o tamanho da cadeia alquil, sendo os grupos maiores que C8 mais resistentes, como comprovou Shelton (1984): DMP,DEP,DBP e BBP foram mineralizados em lodo anaeróbico em 1 semana, restando DEHP e DNOP intactos. O modelo proposto naquele estudo (Figura 12) indica que as etapas iniciais do processo de metabolização dos ftalatos são idênticas sob condições aeróbicas e anaeróbicas. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA R R R dialquil ftálico monoalquil ftálico acido ftálico CH4 + CO2 Figura.12 - Biodegradação Anaeróbica dos Ftalatos (Shelton, 1984 e Jianlong, W. 1997) 5 - Ftalatos no Meio Ambiente 61 5.4 Efeitos dos Ftalatos suspeitos de ação interferente endócrina no Meio Marinho Nos últimos anos, aumentou-se o número de observações de comportamento estranho e falhas reprodutivas em organismos marinhos (Colborn et al. 1993; Ratte 1996 a,b). A baixa solubilidade em água destes compostos dificulta a interpretação dos resultados de testes de toxicidade aquática por exposição de organismos. A formação de micelas, filmes superficiais e adsorção impedem a manutenção de concentrações constantes e/ou causam interferência física direta. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Em estudos de toxicidade de BBP em algas, invertebrados e peixes, apresentaram as algas como as espécies mais sensíveis (Gledhill,1980). Segundo Thurèn (1986), DBP é bioacumulado por organismos de água salgada após 24 hrs de exposição. Ele informou que tal composto é acumulado por ostra e camarão 41,6 e 30,6 vezes, respectivamente, mais que a concentração da água. Outros dados (Schouten,M.J. 1979; Brown,D. 1996) informam que organismos aquáticos e vários tipos de peixes podem acumular DEHP até 4000 vezes, sugerindo uma maior susceptibilidade à bioacumulação, em relação aos mamíferos. Segundo Staples (1997), a biotransformação ocorre na seguinte escala: MOLUSCOS < CRUSTÁCEOS < PEIXES Tagatz (1986), ao estudar a toxicidade de sedimentos contaminados por DBP a organismos marinhos, verificou que a maior contaminação resultava de condições anaeróbicas. Quando expostos à DBP, em níveis de contaminação ambiental, os níveis de monoéster (o mais tóxico) em humanos é muito baixo e portanto qualquer toxicidade reprodutiva ou de desenvolvimento por contato via oral é remota (Foster, P.M.D. 2000). Estudos em organismos aquáticos (Ratte a, b 1996) permitiram concluir que o DEHP tem efeitos sobre o crescimento, provavelmente devido à relação estrutural entre o plastificante e os hormônios envolvidos. Segundo este mesmo autor, 1mg DEHP/10ml ETOH/l tem um toxidade subaguda de 21 dias em culturas de gammarius. 6 Área de Estudo O Estado do Rio de Janeiro, integra a região Sudeste brasileira, sendo limitado ao norte pelos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo; a leste e sul pelo Oceano Atlântico e a oeste pelo Estado de São Paulo. Apresenta 44.268 km2 de área total e sua forma é alongada, com largura média entre 100 e 12 km. O clima predominante é quente e úmido, que nas planícies litorâneas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA apresenta um regime pluviométrico assinalado pela existência de um período de chuvas de verão e estiagem no inverno, não se apresenta pronunciado. A cobertura vegetal, atualmente grandemente removida e degradada, apresenta-se bastante variada, em função da diversidade climática e topográfica observadas. O relevo do Estado pode ser dividido em três porções básicas que correspondem à baixada, à Serra do Mar e ao Vale do Planalto do Rio Paraíba do Sul e apresenta grande variedade de solos com 3 predominantes: arenosos, solos mesclados e de origem em rocha matriz de gnaisses e granitos (CEEESRJ, 1986). Possui um litoral muito diverso, onde se destacam as feições como praias arenosas de grande extensão, ambientes lagunares e estuários. Dentre os estuários, os de maior importância são a Baía de Guanabara, escolhida para este estudo, e a de Sepetiba. As principais cidades do entorno da Baía de Guanabara são Rio de Janeiro e Niterói. Ambas são abastecidas de águas potáveis por sistemas de distribuição interligados de águas tratadas pelo sistema do Guandu. O ecossistema da Baía de Guanabara recebe influência principalmente destas duas cidades, que juntas formam o segundo polo industrial do país. 6 - Área de Estudo 63 6.1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Sistema de Abastecimento de Águas do Guandu: Figura.13– Vista aérea da Estação de Tratamento de Água do Guandu (ETAG,2002) A Estação de Tratamento de Água do Guandu (ETAG), localizada no Km 19,5 da Rodovia BR 465, (Antiga Estrada Rio - São Paulo), em Nova Iguaçu, utiliza as águas do rio Guandu, que é formado pela junção das águas do rio Ribeirão das Lajes e dos rios Piraí e Paraíba do Sul, após elas serem utilizadas pela Light para a geração de energia elétrica. Inaugurada em 1955, a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guandu produz hoje cerca de 40 mil L.s-1, aproximadamente o triplo da capacidade inicial, aproveitando os desníveis naturais do rio, que facilitam a ação da gravidade.. O atendimento à população, que era limitado ainda em 1981 a cerca de 70% para a Região Metropolitana (83 % para o Rio de Janeiro, 46 % para os 6 - Área de Estudo 64 municípios da Baixada Fluminense, 70 % para Niterói e São Gonçalo) aumentou para pelo menos 90 % desta população urbana em 2000. Aproximadamente 3,4 bilhões de litros saem diariamente da ETA para abastecer o Município do Rio de Janeiro, Baixada Fluminense, Município de Niterói e parte do Município de Itaguaí. Sempre obedecendo o padrão estabelecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), controlado através de uma série de exames rigorosos e constantes (CEEESRJ, 1986). A água chega à ETA do Guandu barrenta e turva, saindo pura e cristalina, podendo ser consumida pela população, depois de tratada com uma média diária de 100 ton. de sulfato de alumínio ou cloreto férrico, 20 ton. de cal virgem, 15 ton. de cloro e 200 kg de polieletrólito. Ainda recebe 7 ton. de ácido fluorossilícico por PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA dia para fluoretação de prevenção da cárie dentária. Além disso, a ETAG gasta cerca de 25 mil MWh por mês, o que representa o consumo de energia de uma cidade de 600.000 habitantes (ETAG, 2002). A Estação de Tratamento dispõe também de um laboratório de controle de qualidade que realiza análises físico-químicas e bacteriológicas periodicamente controlando cada fase do processo e garantindo assim os padrões de potabilidade exigidos pelas Organizações de Saúde. 6.1.1 Cedae – Abastecimento da cidade do Rio de Janeiro: Após o tratamento a água segue para o sistema de adução através de dois subsistemas: 1. Sub-sistema Marapicu - através de 3 elevatórias com grupos moto-bombas de até 4.500 Hp e 2.500 L.s-1. Aproximadamente 50 % da água é bombeada da ETA para o Reservatório do Marapicu (110 m de altura). Do reservatório a água é distribuída através de 6 adutoras com diâmetros variando de 800 a 2000 mm. 2. Sub-sistema Lameirão - o restante da água (50 %) é aduzido para a elevatória do Lameirão através de um túnel subterrâneo com 11 km de extensão. Daí a água é bombeada a cerca de 110 m de altura para alcançar um outro nível com aproximadamente 34 km. Ao longo do trajeto deste nível, várias adutoras estão conectadas para fazer a distribuição para os diversos bairros do Rio de Janeiro. 6 - Área de Estudo 65 Na figura 14 é mostrado o sistema de distribuição do ETA Guandu PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA (ETAG) sob a responsabilidade da CEDAE. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 6 - Área de Estudo Figura.14 – Sistema de Distribuição da ETAG (CEDAE, 2001) 66 6 - Área de Estudo 67 6.1.2 Águas de Niterói – Abastecimento da cidade de Niterói Localizada a 13 km do Rio de Janeiro, às margens da Baía de Guanabara, Niterói é o segundo parque industrial do Estado do Rio de Janeiro, de características muito semelhantes à cidade do Rio de Janeiro. O Município é abastecido com águas provenientes do Sistema de Tratamento do Guandu. Do reservatório Centenário (Figura 14) segue uma adutora com tubulações de concreto e ferro fundido até ao Reservatório Cavalão (Figura 15), que abastece os Municípios de Niterói e parte de Itaguaí, porém esta distribuição fica a cargo da empresa Águas de Niterói, privatizada desde 1994. A nova responsável pela distribuição investiu recentemente em melhorias PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA no sistema, de modo que a partir do reservatório Cavalão, as águas são distribuídas para os diferentes bairros em tubulações de PVC resistente. Figura.15 – Sistema de Abastecimento de Água do Município de Niterói (Águas de Niterói, 2001) 6 - Área de Estudo 68 6.2 Baía de Guanabara A Baía de Guanabara pode ser descrita como um estuário tropical, totalmente compreendido entre as longitudes 43o00’00” e 43o20’00” W e latitudes 22o40’00” e 23o05’00” S, no Estado do Rio de Janeiro. Sua bacia engloba quinze municípios, sendo nove integralmente – Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis, São Gonçalo, Magé, Guapimirim, Itaboraí e Tanguá – e seis parcialmente – Rio de Janeiro, Niterói, Nova Iguaçu, Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito e Petrópolis (este último município tem área muito pequena dentro da bacia drenante à Baía de Guanabara PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA e é totalmente coberta por florestas). Constitui-se num estuário com uma área total de 346 km2, incluindo 59 km2 de ilhas, densamente populado, onde desembocam 45 rios de pequeno e médio porte, sendo os principais o Guapimirim, na porção leste, e o Iguaçu na oeste (Figura 16). Estes rios carreiam, por ano, cerca de 2x105 ton de sedimentos para a baía. Desta forma, existem diferentes tipos de águas e sedimentos na Baía, conforme mostram as Figuras 18 e 19. Figura.16 – Bacia da Baía de Guanabara (FEEMA, 1997) 6 - Área de Estudo 69 A região de estudo é utilizada para diversos fins: contato primário, navegação, pesca, água para captação industrial e para diluição de efluentes domésticos e industriais. Na sua bacia de drenagem está situado o segundo parque industrial do Brasil (Figura 17), composto por 16 terminais de óleo e derivados, 2 portos comerciais, 12 estaleiros, 2 aeroportos, 2 refinarias de petróleo, 2.000 postos de serviço e aproximadamente 10.000 indústrias de pequeno, médio e grande porte PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA (FEEMA 1998). Figura.17 - Principais atividades industriais na Baía de Guanabara (modificado de JICA,1994) 70 6 - Área de Estudo Os efluentes destas indústrias representam uma carga diária de 100 ton de matéria orgânica e 0,3 ton de metais pesados para a baía (Rebello et al. 1987). Segundo levantamentos periódicos realizados pela FEEMA (1998) os produtos marinhos provenientes da Baía de Guanabara possuem concentrações de metais pesados e compostos organoclorados dentro dos limites permissíveis pela legislação vigente no país para consumo alimentar. Entretanto são necessários mais estudos detalhando a ocorrência de outros poluentes orgânicos ligados com a atividade industrial, como é o caso dos ftalatos. A maior parte dos despejos industriais ocorre na região próxima ao Rio Meriti. Como o quadro de degradação ambiental da baía se agravou, mais ainda, nos anos 90, o Governo do Estado do Rio de Janeiro decidiu dar início ao PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Programa de Despoluição da Baía de Guanabara – PDBG, cujo principal objetivo é atender às necessidades prioritárias nas áreas de saneamento básico, abastecimento de água, coleta e destino final de resíduos sólidos, drenagem, controle industrial e monitoramento ambiental (FEEMA,1997). 6.2.1 Água A poluição das águas por despejos sanitários, em diversas regiões do Grande Rio já atingiu os índices característicos de áreas críticas onde a poluição industrial representa parcela significativamente menor que a de origem doméstica. Em relação à poluição industrial, a Baía de Guanabara, pode considerada como uma área ser como relativamente pouco contaminada, como ocorreu com Hamacher (1996) com relação aos hidrocarbonetos aromáticos. Costa (1991) constatou que as variações das condições de luminosidade e transparência das águas são fatores importantes para o ciclo de espécies como o Mn, cuja especiação é fotoquimicamente influenciada. A figura 18 demonstra a classificação da qualidade das águas na Baía de Guanabara. 71 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 6 - Área de Estudo Figura 18 - Classificação da qualidade das águas da Baía de Guanabara (modificado de Mayr et al.,1989) 72 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 6 - Área de Estudo Figura.19 - Classificação da composição dos sedimentos da Baía de Guanabara (modificado de JICA,1994) 6 - Área de Estudo 73 6.2.2 Sedimentos Amostras de sedimentos, que integram no tempo os processos que ocorrem na coluna d’água, refletem melhor o estado da região estudada. São diversos os tipos de sedimentos presentes na Baía de Guanabara, como pode ser observado na figura 19. Devido aos aterros clandestinos e oficiais (que já avançaram sobre um terço de sua superfície original), de assoreamento devido aos sedimentos arrastados por mais de 35 rios que deságuam na baía e de lançamento nas águas desses rios e seus afluentes, de esgotos sem tratamento, lixo doméstico e resíduos industriais, a taxa média de assoreamento atinge atualmente cerca de 81 cm.100 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA anos-1 (FEEMA 1991). Segundo Bragança (1992) a velocidade de sedimentação da Baía é de 1,0-1,3 cm.ano-1. Estudos mostram que os sedimentos da Baía estão contaminados por hidrocarbonetos de origem petrogênica e pirogênica, em adiantado estado de biodegradação (Hamacher, 1996). Segundo Lima (1996) as concentrações de HPAs vêm aumentando de forma contínua, ao contrário de outras partes do mundo onde os picos de concentração são encontrados nos sedimentos depositados na década de 50-60. 6.2.3 Biota O mexilhão da espécie Perna perna, atualmente, é um dos poucos organismos bentônicos sésseis que ainda é encontrado em densidades expressivas, e que é explorado comercialmente na Baía de Guanabara. Sua distribuição é restrita à região mais próxima da entrada da baía, onde estão os seus habitats de costão rochoso. Os moluscos bivalves Perna perna (Linné, 1758) pertencem à família Mytilidae e são vulgarmente conhecidos como mexilhões. Considerado como o maior mitilídeo brasileiro, esta espécie pode alcançar até 17 cm de comprimento. A concha apresenta formato variável, desde alargada até triangular. A coloração varia entre amarelo, verde e marrom. A morfologia interna deste mexilhão está apresentada na Figura 20. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 6 - Área de Estudo 74 Figura.20 – Morfologia interna do mexilhão Perna perna (Lima, 2001) São organismos filtradores que, para obterem alimentos, dependem do batimento dos cílios branquiais, criando correntes de água do mar no interior do animal. Após a seleção por tamanho no estilete cristalino, as partículas são encaminhadas ao tubo digestivo. Estes organismos também são encontrados em grande quantidade nos pilares da Ponte Rio-Niterói, embora curiosamente os estudos da JICA (1994) não tenham constatado a presença deste banco de mexilhões. Esta situação pode ter sido causada por variações sazonais, ou ser uma resposta temporária à exploração intensiva deste recurso natural nesta área. Apesar de importante do ponto de vista econômico, a extração de mexilhões para consumo humano deve ser vista com cautela, uma vez que devido ao grau de poluição da baía, é possível a contaminação destes organismos por diferentes substâncias. Com relação à distribuição deste molusco na baía, foram determinadas (JICA,1994; Azevedo,1998 e Lima 2001) suas áreas de ocorrência e também sua abundância relativa em cada local. Na região próxima à entrada da barra foram 6 - Área de Estudo 75 observadas as densidades mais elevadas, tanto nos costões de Niterói quanto do Rio de Janeiro, havendo uma clara redução na densidade das populações quando se penetra em direção ao interior da baía. Nas áreas mais internas da baía, em ambos os lados, não foi detectada a presença de nenhum indivíduo. Esta queda está associada às condições desfavoráveis ao seu desenvolvimento observadas nas regiões mais internas da baía. A ocorrência mais interior do mexilhão Perna perna ocorreu em algumas pedras nas proximidades da Ilha de Jurujuba, onde aparecem isoladamente numa densidade extremamente baixa. Nas ilhas e pedras localizadas nas proximidades do canal central, em frente à Ilha do Governador, foi registrado um incremento da população. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Neste estudo, os pilares da Ponte Rio-Niterói merecem destaque como ponto de grande importância, pois sobre eles fixa-se uma densa população de mexilhões de tamanho grande que são intensamente explorados pela população de marisqueiros. Segundo Azevedo (1998) e Lima (2001) as concentrações de hidrocarbonetos encontradas nos organismos amostrados pode ser considerada característica de ambientes sob efeito de urbanização de suas margens: os alifáticos apresentaram concentrações entre as mais baixas reportadas na literatura para ambientes costeiros, enquanto que os aromáticos apresentaram concentrações intermediárias entre os estudos analisados. A sazonalidade (em todos os pontos de coleta as concentrações da estação seca foram maiores que na estação chuvosa) e a distribuição geográfica (por área de coleta) desempenham papel determinante na acumulação destes compostos pelos mexilhões. O mexilhão Perna perna foi escolhido neste trabalho por apresentar todos os atributos necessários a um organismo monitor de poluição, considerando-se que: • suas populações são bem abundantes na Baía de Guanabara; • são explorados comercialmente e também utilizados para consumo humano • são animais sésseis e com pouco deslocamento durante seu ciclo de vida; • são filtradores e, portanto, refletem melhor as condições da coluna d´água; 6 - Área de Estudo • 76 são capazes de acumular poluentes nos tecidos, havendo relação entre a concentração dos xenobióticos no organismo e na água circundante (Heizen e Wagener, 1980; Bellotto, 2000 apud Lima 2001); • sua biologia e ecologia são bem conhecidas; • apresentam tamanhos razoáveis, o que facilita na obtenção de massa para determinação analítica; • sua superioridade como bioindicador para poluentes orgânicos e inorgânicos foi constatada por diversos autores em estudos realizados no Brasil (Heizen e Wagener, 1980; Rezende e Lacerda, 1986; Lima, 1997; PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Azevedo, 1998; Brito, 1998; Bellotto, 2000 apud Lima,2001); • são relativamente resistentes à poluição (Rezende e Lacerda, 1986); • é o gênero correspondente ao Mytilus das zonas temperadas, o que permite comparações dos resultados deste trabalho. 7 Experimental Em decorrência da importância dos ftalatos como interferentes endócrinos foram analisadas águas potáveis coletadas domesticamente, de forma a avaliar a qualidade das águas, quanto ao teor de ftalatos, as quais são disponibilizadas para o consumo humano. Também foi estudada uma amostra de água mineral comercial industrializada e outra PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA coletada na sua fonte, com finalidade comparativa. Para a amostragem das águas potáveis, escolheram-se as cidades do Rio de Janeiro e Niterói por, em conjunto, formarem o segundo centro industrial do país. Definiu-se como água potável aquela que chega à população através da rede de abastecimento da cidade, antes de passar por qualquer recurso de depuração (filtração, ozonização,etc...) . Assim, a escolha das áreas para a coleta das amostras nos bairros do Rio de Janeiro e Niterói se deu em função da densidade demográfica, sendo escolhidos apenas bairros residenciais. Desta forma, tentou-se avaliar a exposição diária da população carioca e niteroiense. Os bairros cujas águas foram amostradas, encontram-se na figura 21. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 7 - Experimental Figura.21 - Pontos de Coleta das águas potáveis nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói 78 7 - Experimental 79 A parte experimental referente ao ecossistema da Baía de Guanabara consistiu em coletar amostras de águas, sedimentos e mexilhões Perna perna, acondicioná-las apropriadamente segundo o tipo de amostra, para evitar perdas e/ou contaminações, concentrar os extratos e analisar os ftalatos qualitativa e quantitativamente por cromatografia em fase gasosa, utilizando detecção for captura de elétrons. No caso de identificações duvidosas ou problemáticas, utilizaram-se as técnicas de cromatografia gasosa e espectrometria de massas associadas. Para nenhuma das amostras do ecossistema da Baía (água, sedimento e mexilhões) existe material de referência para comparar os resultados, portanto utilizou-se os padrões auxiliares de extração (“surrogate”) DPIP (di fenil iso ftalato) e DPP (di fenil PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA ftalato) para avaliar as extrações de cada amostra. Os ftalatos escolhidos para o estudo foram os 16 indicados como de interesse para avaliação de águas potáveis pela EPA: DMP, DEP, DIBP, DBP, DMPP, DMEP, DAP, DEEP, HEHP, DHP, BBP, DBEP, DEHP, DCHP, DNOP E DNP. Não se avaliaram os monoésteres, nem o anidrido ftálico (principais produtos formados pelas rotas de degradação), por terem outras fontes de emissão para o ecossistema da Baía, o que inviabilizaria a correlação direta com a degradação dos compostos em estudo. A escolha dos pontos de amostragem foi realizada com o objetivo de melhor representar as características das diferentes subáreas dentro da baía, proximidade das principais fontes de ftalatos para a Baía de Guanabara indústrias de plásticos, etc e dos recursos disponíveis para a realização do estudo. O posicionamento dos pontos foi feito por triangulação a partir das referências visíveis (para águas e mexilhões) e por localização com GPS (no caso dos sedimentos), e foram designados da seguinte forma: • 6 (seis) pontos para coleta de águas superficiais (A1-A6), • 4 (quatro) pontos para coleta de amostras de sedimentos (S1-S4) e • 4 (quatro) pontos para coleta de amostras de mexilhões (M1-M4). 7 - Experimental 80 Tendo em vista estes condicionantes, as seguintes estações de coleta, são descritas a seguir e podem ser localizadas na figura 22: Santos Dumont (A1 e M1): na entrada do canal de acesso à Marina da Glória e o Aeroporto Santos Dumont. Baía de Botafogo (S1): na entrada da Baía de Botafogo, em frente ao monumento a Estácio de Sá Ponte Rio-Niterói, próximo ao Rio (A2 e M2): 2° maior pilar da Ponte Rio-Niterói no sentido Rio-Niterói (mais próximo ao Porto do Rio de Janeiro). Rio Meriti (A3 e S2): área navegável mais próxima ao ponto de deságue do Rio Meriti, por trás da Ilha do Governador. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Fundo da Baía (A4 e S3): área de proteção ambiental, situada no fundo da baía. São Gonçalo (S4): área interna da baía, próxima ao município de São Gonçalo. Ponte Rio-Niterói, próximo a Niterói (A5 e M3): 2° maior pilar da Ponte RioNiterói no sentido Niterói-Rio (mais próximo ao canal central de circulação da baía e à base naval de Mocanguê). Praia de Boa Viagem (A6 e M4): Ilha de Boa Viagem, em Niterói, na face voltada para a entrada da baía. Como consequência dos resultados das análises de ftalatos encontrados para os mexilhões, realizou-se um estudo de biomonitoramento ativo destes espécimes, em dois pontos da Baía de Guanabara, descritos abaixo e localizados na figura 22: Ilha d’Água (B1): ilha particular, pertencente a PETROBRÁS, situada na parte área interna da baía, próxima ao canal central da baía e de outros locais onde foram encontrados mexilhões, sujeita a constantes impactos ambientais. Itaipu (B2): área de controle, situada em uma região abrigada próxima à Fortaleza de Santa Cruz. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 7 - Experimental Figura.22 – Localização das estações de amostragem na Baía de Guanabara 81 7 - Experimental 82 7.1 Amostragem e Tratamento das Amostras 7.1.1 Amostras de Águas A armazenagem é um ponto muito importante para se assegurar que os ftalatos não degradaram durante o processo de tratamento e extração das amostras. Segundo Jara (2000), BBP, DBP e DEHP prontamente extraídos de amostras de água são estáveis quando acondicionados por mais de 9 meses a 4 oC, porém em amostras de água armazenadas a 4 oC por mais de 30 dias antes da extração, para os mesmos compostos, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA obtêm-se baixa recuperação e com pequena degradação. 7.1.1-A) Águas potáveis A coleta das amostras de água potável para análise de ftalatos dissolvidos e dispersos foi realizada na primeira semana de janeiro/2001. Para a obtenção das amostras foi utilizada garrafa de vidro com capacidade de 1 L, previamente descontaminada, sendo recolhida a água da torneira após 1 min. de fluxo contínuo. As amostras foram armazenadas sob refrigeração por um período máximo de 12 hrs, sendo em seguida extraídas. 7.1.1-B) Águas superficiais da Baía de Guanabara A coleta de água para análise de ftalatos foi realizada nos dias 15/dezembro/2000 e 13/agosto/2001, durante as marés vazante, de forma a se verificar a maior influência dos poluentes do interior da baía. Para a obtenção das amostras foi utilizado um amostrador de teflon, com capacidade de 1L de água. A profundidade escolhida para a coleta foi de 1,0 m abaixo da superfície. O coletor era descido fechado e, por meio de um sistema de cordas, era aberto à profundidade escolhida, sendo içado ao barco novamente fechado. Foram obtidos mais 10 mL de água de cada estação para a análise do teor de material em suspensão, sendo este volume excedente acondicionado em garrafas de polietileno. 7 - Experimental 83 7.1.2 Amostras de Sedimentos Para este tipo de amostra, como se desejava verificar a contaminação ao longo dos anos, foram coletados 4 testemunhos por ponto de coleta. Os testemunhos foram coletados, no dia 13 de agosto de 2001 utilizando um amostrador acionado por gravidade, onde são acoplados tubos de aço-inox de 100 cm de comprimento e 5 cm de diâmetro interno. O amostrador penetra no sedimento por gravidade, com o auxílio de um peso de 20 kg. Ao serem trazidos para o barco, os testemunhos são identificados e fechados em ambas as pontas com rolhas de borracha revestidas com papel alumínio, para evitar contaminação. Os testemunhos são PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA transportados dentro destes tubos, sendo mantidos na posição vertical, para o laboratório, na posição vertical, de modo que não haja perturbação dos sedimentos e envoltos em papel alumínio de modo a limitar a atividade biológica e a fotoxidação. Tabela 16 – Localização e Profundidade das Estações de Coleta de Sedimentos na Baía de Guanabara Ponto de Coleta Latitude o Longitude o Profundidade (m) Santos Dumont 22 56’385” S 43 10’051” W 5,0 Rio Meriti 22o46’165” S 43o11’279” W 5,0 Fundo da Baía 22o46’405” S 43o05’883” W 7,0 São Gonçalo 22o51’000” S 43o07’333” W 4,5 No laboratório, cada testemunho obtido, foi fatiado de 3 em 3 cm, procedimento padrão para posterior datação das amostras. Só a parte central de cada fatia (que não teve contato com o aço-inox) foi aproveitada para a análise dos ftalatos, de forma a certificarse que não havia contaminação da amostra pelo tubo. O restante da amostra foi destinado à datação dos sedimentos. O material assim obtido foi secado em liofilizador e armazenado em frascos de vidro previamente limpos, para análise posterior dos ftalatos. 7 - Experimental 84 7.1.3 Amostras de Mexilhões Perna perna Para este tipo de amostra, utilizou-se a ajuda de pescadores da Colônia de Pescadores de Jurujuba, que, por conhecerem bem a região, sabem exatamente os locais onde há ocorrência de mexilhões nas especificações necessárias para este estudo. Os mexilhões foram coletados manualmente, sendo recolhidos apenas os indivíduos adultos (aproximadamente com 4 a 6 cm de comprimento). Em seguida, foi retirada toda a flora e fauna presente, com o auxílio de uma faca de aço inoxidável. Finalmente, foram acondicionados em embalagens de alumínio previamente descontaminadas e armazenados em recipientes térmicos contendo gelo, até a chegada ao PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA laboratório, onde foram finalmente guardados no congelador a 0 °C. Para cada estação, selecionaram-se dois grupos de 10 indivíduos, com tamanhos semelhantes, variando de 4 a 6 cm (figura 23). Cada um destes grupos compôs as subamostras das estações estudadas. As subamostras devem ser compostas de mexilhões com tamanhos de concha semelhantes para que o teor de tecido e, consequentemente, de lipídios, seja aproximadamente o mesmo. Figura.23 – Medição dos Mexilhões triados para o estudo 7 - Experimental 85 O tecido dos mexilhões foi separado das valvas e o bisso retirado. Em seguida, as amostras de tecidos congelados foram conduzidas a um liofilizador, onde permaneceram por 24 horas. As amostras foram liofilizadas a frio por que esta técnica permite a drenagem completa da água sem perdas dos compostos mais voláteis. O material liofilizado foi então triturado e homogeneizado em gral de porcelana previamente descontaminado, acondicionado em pequenos frascos de vidro com tampa, e congelado a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA temperaturas inferiores a -10 °C. Figura.24 – Abertura dos Mexilhões triados para retirada dos tecidos. 7.1.3-A) Mexilhões coletados de 1997 a 2000 As amostras de mexilhões Perna perna, foram coletadas nos mesmos pontos, nas estações chuvosa e seca, por quatro anos consecutivos (97 a 00), de forma a obter-se um comportamento em relação ao tempo. As datas de coleta foram: • 1997: 19/ago e 23/dez; • 1998: 24/ago e 14/dez; • 1999: 30/ago e 18/dez e • 2000: 13/set e 15/dez. 7 - Experimental 86 7.1.3-B) Mexilhões do Biomonitoramento O biomonitoramento ativo foi realizado com animais presos em gaiolas, em uma área contaminada cronicamente (Ilha d’Água) e em uma área de controle (Itaipu), em colaboração com os experimentos da tese de doutorado de Lima (2001). O início do transplante ocorreu em 15/outubro/99 e durante os três meses subsequentes foram coletadas amostras mensais (15/outubro/99, 22/novembro/99 e 07/janeiro/00) de mexilhões nas redes para monitorar a bioacumulação de xenobióticos (hidrocarbonetos poliaromáticos no estudo de Lima, 2001 e ftalatos neste estudo). O PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA fluxograma do biomonitoramento ativo é apresentado na figura 25. Figura.25 – Fluxograma do Transplante (Lima, 2001) Os mexilhões transplantados foram fixados em 3 gaiolas de redes de nylon, presas por cordas a um cabo de madeira e suspensas por uma bóia. A estrutura foi fixada no fundo do mar por garatéias de ferro. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 7 - Experimental 87 Figura.26 – Foto das gaiolas utilizadas no monitoramento (Lima, 2001) Em Itaipu (área de controle) foram coletados 300 mexilhões dos costões, sendo 50 animais separados para os testes do tempo inicial e 250 transplantados para as gaiolas (cerca de 80 mexilhões por gaiola com comprimento de concha 4,5-6,0 cm) colocadas na Ilha d’Agua. Figura.27 – Foto da estrutura do transplante na Ilha d’Água (Lima, 2001) 7 - Experimental 88 Do mesmo modo, foram transferidos animais provenientes da Ponte Rio-Niterói (área contaminada) para Itaipu (área de controle). As gaiolas eram periodicamente verificadas (a cada 15 dias), por 3 motivos: 1. fazer uma manutenção preventiva do sistema de fixação ao sedimento; 2. para retirada de vegetação acumulada nas redes das gaiolas. O excesso de vegetação poderia causar a morte dos organismos por asfixia. 3. verificar se nenhuma gaiola foi retirada por peixes de maior porte ou pelos catadores de mexilhão atuantes na região. Apesar de todo este cuidado, uma gaiola de cada estação foi “perdida” pelas grandes correntes em novembro nos locais escolhidos para o biomonitoramento. Como a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA literatura cita 3 meses como tempo ideal para este tipo de estudo (Lima, 2001), optou-se por não coletar em dezembro (2 meses) e encerrar o experimento em janeiro (3 meses). Em todas as coletas de amostras de organismos dos transplantes foram registrados pH, a salinidade e temperatura (in situ) e realizada a determinação de ftalatos, medidos no laboratório segundo método descrito para os mexilhões coletados de 1997 a 2000. 7 - Experimental 89 7.2 Descontaminação do Material Utilizado Como os ftalatos encontram-se largamente disseminados no ambiente dos laboratórios, pois quase a totalidade dos plásticos os contém, a descontaminação das amostras durante os trabalhos e análises é de importância crucial. O procedimento de limpeza de todo o material em contato com as amostras foi sempre feito imediatamente antes do uso, de forma a evitar contaminação durante armazenamento, o que pode ocorrer mesmo quando o material é embalado em papel alumínio previamente descontaminado. Este procedimento, bem como os demais relacionados à metodologia de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA determinação de ftalatos, foi baseado em extensa literatura de referência (Giam, C.S. 1975; Ehrhardt, M. 1980; IOC, 1984; Sporstøel, S. 1985; OSHA 104, 1994; Furtmann, K. 1994; EPA 606, 1995). A descontaminação consistiu em sucessivas lavagens com detergente, água destilada livre de compostos orgânicos, acetona p.a., etanol p.a. e hexano normal grau cromatográfico, seguida por secagem em mufla a 450 °C por 2-4 horas, e, finalmente, selagem e armazenamento em ambiente limpo, de forma a evitar contaminação por poeira e outras substâncias orgânicas. A água Milli-Q utilizada durante o procedimento analítico foi purificada em funil de separação com hexano normal de grau cromatográfico para a retirada de qualquer traço de compostos orgânicos presentes. Todos os solventes, adsorventes e outros compostos usados no procedimento analítico foram testados para valores de branco em ftalatos, sendo os resultados reportados no capítulo de resultados. 7 - Experimental 90 7.3 Determinação dos Ftalatos 7.3.1 Extracão das Amostras: As condições de extração utilizadas foram baseadas nas de trabalhos semelhantes. Como descrito por Giam (1975) e outros (Thurén, A. 1986; Zurmühl, T 1990; Chee, K.K. 1996a) a presença de hidrocarbonetos clorados e PCBs em amostras marinhas, interfere na análise cromatográfica dos ftalatos, portanto devem ser eliminados durante a extração (redução da contaminação de fundo). Tal dado foi observado nas amostras de sedimentos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA e mexilhões, onde os picos com identificação duvidosa, quando verificados via espectrometria de massas demonstraram ser parafinas ou organoclorados. 7.3.1-A) Amostras de Águas: A técnica tradicionalmente utilizada para a extração de ftalatos em amostras líquidas é a extração líquido-líquido. Esta técnica, além de consumir grandes quantidades de solventes orgânicos, requer procedimentos com muitas etapas de limpeza para remover os compostos co-extraídos antes da análise cromatográfica, o que poderia causar contaminação das amostras. Para evitar contaminação das amostras por ftalatos, a técnica de extração deve ter o menor número de etapas possível. Uma alternativa eficiente e rápida para estes problemas é a técnica de extração em fase sólida (EFS), empregando discos especificamente condicionados para reter os ftalatos (ALLTECH, 1997; EMPORE, 1992). Neste estudo, utilizou-se discos de C18 (3M Empore High Performance Extraction Disks). O método de extração empregado foi o EPA 8061A para determinação de ftalatos em amostras ambientais, no qual o disco de C18 é condicionado com 5 mL de metanol. Passa-se 1L de amostra pelo disco, a seguir 5 mL de acetonitrila usada para lavar o frasco e, finalmente, 2 porções sucessivas de 5 mL de diclorometano para extrair os ftalatos retidos no disco. Os extratos são combinados, evaporados à secura e rediluídos até 1,0 mL em acetona. 7 - Experimental 91 Com a finalidade de verificar a eficácia da extração e calcular as concentrações de ftalatos das análises foram empregados padrões puros recomendados pelo método. Para a eficiência da extração, utilizaram-se padrões internos do tipo 2: acrescentou-se à amostra antes da extração 0,5 mL da mistura dos padrões difenil ftalato (DPP, Accustandard, concentração=56 µg.mL-1) e difenil isoftalato (DPIP, Accustandard, concentração=69 µg.mL-1 ), respectivamente. Para avaliar os teores de ftalatos adicionaram-se 5 µL do padrão interno tipo 1 benzoato de benzila (Accustandard, concentração=5,0 mg.mL-1) ao extrato final em acetona. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 7.3.1-B) Amostras de Sedimentos e de Mexilhões O método de extração empregado foi o de Giam para determinação de ftalatos em amostras de biota marinha. A amostra (0,5g) + 1µL de padrão auxiliar difenil ftalato (DPP, Accustandard, concentração=56µg.mL-1) foi extraída com 5mL de acetonitrila em homogenizador de alta velocidade (Ultra-Turrax T25 Basic, IKA Labortechnik, Wilmington, NC, USA), à velocidade 4 (19000 rpm) por 2 min. Repetiu-se este procedimento com duas novas porções de acetonitrila e os extratos combinados foram passados por discos de C18 de forma a extrair os ftalatos e simultaneamente eliminar interferentes. 7.3.2 Análise por Cromatografia em Fase Gasosa Neste estudo utilizou-se o detector de captura de elétrons (ECD) devido aos baixíssimos níveis de detecção requeridos para as análises das águas potáveis (Giam, 1975). Este detector consiste em um eletrodo coletor em cujo centro se encontra uma fonte de 63Ni. Esta produz constantemente elétrons que migram para o anodo, produzindo corrente. O efluente da coluna passa através do eletrodo e reduz a corrente de forma proporcional à quantidade das substâncias presentes que forem capazes de capturar elétrons. Este tipo de detector é extremamente sensível para tais compostos de grande afinidade eletrônica (sensibilidade reportada de até 10-12g.L-1). Sua grande desvantagem é 7 - Experimental 92 a resposta quantitativa diferente para cada componente de uma mesma função química, demandando curvas de calibração individuais nas faixas de trabalho. A identificação dos ftalatos foi realizada com base nos tempos de retenção dos picos dos componentes das amostras, comparando-os aos tempos de retenção dos padrões. Para confirmação e eliminação de dúvidas na identificação de picos desconhecidos, foi usada a técnica de cromatografia associada à espectrometria de massa (GC-MS) avaliando uma amostra de cada tipo (água potável, água superficial da baía, sedimento e mexilhão). Estas análises foram realizadas no laboratório ambiental da PUC, no equipamento CG/MS ThermoFinnigan modelo Polaris Q, com cromatógrafo Trace PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 2000, nas seguintes condições: • m/z= 149 (característico de ftalatos) • temperatura da fonte de íons e interface: 250°C e 300°C respectivamente • corrente de emissão e energia do feixe de elétrons: 250V e 70eV • aquisição: Full Scan 50 a 450 daltons, 0,45 segundos por scan • coluna cromatográfica : J & W DB5-MS 30m x 0,25mm x 0,25µm • gás de arraste: He em vazão de 1,2mL.min-1 • temperatura de injeção: 265°C • volume injetado: 1,6µL em sistema “splitless” (sem divisão de fluxo) • programa de temperatura da coluna : 100°C isotérmica durante 0,6min, programada a 5°C.min-1 até 220°C, então programada a 3°C.min-1 até 275°C, permanecendo isotérmica durante 10min. A análise quantitativa foi realizada através de curvas de calibração das áreas dos padrões de ftalatos divididos pela área do padrão interno versus a concentração dos padrões de ftalatos divididos pela concentração do padrão interno. Variou-se a concentração do padrão de ftalatos em duas faixas (1, 10, 50, 100 ng.L-1 e 100, 500, 1000 ng.L-1), mantendo-se a concentração do padrão interno em 10 ng.L-1; assim, obteve-se para cada ftalato uma curva de área versus concentração, com as respectivas regressões. Cada ponto da curva é a média de cinco replicatas. As curvas de calibração quantitativas encontram-se no Apêndice I e II. 7 - Experimental 93 O cálculo das recuperações das extrações foram obtidos diretamente através das curvas de calibração dos padrões difenil ftalato (DPP) e difenil isoftalato (DPIP) versus o padrão interno tipo 1. 7.3.2-A) Aguas potáveis As análises foram realizadas no Laboratório da FEEMA, em cromatógrafo HP5890, equipado com detector de captura de elétrons com fonte de Ni63, e uma coluna capilar de sílica fundida DB-5 (J&W) de 30 m x 0,25mm x 0,25µm. As condições de operação foram: • temperaturas do injetor e do detector: 250 °C e 300 °C respectivamente PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA • programa de temperatura da coluna: 190 °C isotérmica por 40 min., programada a 20 °C.min-1 até 210 °C, aí permanecendo por 12 min. • volume de amostra injetado: 1 µL em sistema “splitless” (sem divisão de fluxo) • gás carreador: N2 à vazão de 4 mL.min-1. • gás complementar: N2 à vazão de 26 mL.min-1. 7.3.2-B) Amostras do ecossistema da Baía de Guanabara As análises foram realizadas no Laboratório do INT, em cromatógrafo Shimadzu GC 17A, equipado com detector de captura de elétrons com fonte de Ni63, amostrador automático Autosampler AOC-17 e uma coluna capilar de sílica fundida DB-5 (HP) de 30 m x 0,25mm x 0,25µm. As condições de operação foram: • temperaturas do injetor e detector: 250 °C e 300 °C respectivamente • programa de temperatura da coluna: 100 °C isotérmica por 0,5 min. , programada a 5 °C.min-1 até 220 °C, então programada a 3 °C.min-1 até 275 °C aí permanecendo por 5min. • volume de amostra injetado: 1 µL em sistema “splitless” (sem divisão de fluxo) • gás carreador: N2 à vazão de 2 mL.min-1. • gás complementar: N2 à vazão de 48 mL.min-1. 8 Resultados e Discussão O sistema de extração foi testado após sua descontaminação (branco) e nenhum pico foi detectado (seis replicatas). Logo, o limite detecção não pode ser PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA determinado como sendo a média do branco mais três vezes o valor do desvio-padrão. Figura. 28 – Cromatograma típico para o branco do sistema de extração. Portanto, definiu-se o limite de detecção como sendo igual ao limite de detecção instrumental, ou seja, a menor concentração de cada componente capaz de produzir sinal no cromatógrafo, determinado através de diluições sucessivas da solução padrão contendo os 16 ftalatos em estudo. Estes limites de detecção encontram-se na tabela 17. Tabela 17- Limites de Detecção Instrumental para os ftalatos em estudo (ng.L-1) 8 – Resultados e Discussão Ftalato DEHP.................................................................. 95 LD instrumental (n=10) 0,5 ± 0,01 ng.L-1 DMP, DEP, DIBP, DBP, DHP, DMPP, DAP, DMEP, DBEP, BBP, DCHP, DNOP, DNP, DPP, DPIP……………………………………… 1,0 ± 0,02 ng.L-1 DEEP,HEHP……………………………………. 5,0 ± 0,05 ng.L-1 A solução com os 16 padrões de ftalatos foi analisada no espectrômetro de massas do DQAN do INT de forma a identificar os picos com seus respectivos tempos de retenção. Utilizou-se a mesma coluna, programação de temperatura para PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA análise das amostras da Baía e condições do equipamento de Massas da PUC (vide item 7.3.2). Figura. 29 – Espectro de massas que identificou os picos do padrão misto de ftalatos. Ao se realizarem os brancos do sistema descontaminado com os padrões internos tipo 2 (solução contendo DPP e DPIP), verificou-se que esses padrões introduziram um pico de DEHP como impureza. A concentração média (n=6) desta contaminação foi calculada, encontrando-se o valor de 4,38 ± 0,38 ng.L-1, o qual foi subtraído de todos os resultados deste ftalato encontrado nas amostras de águas potáveis. 8 – Resultados e Discussão 96 Para evitar esta contaminação nas amostras do ecossistema da Baía de Guanabara foram comprados novamente estes padrões internos tipo 2, cada um teor de pureza maior 99,5%. Estes novos padrões foram testados no branco sistema e não apresentaram a contaminação anteriormente verificada. Como o DPIP apresentou a resposta do detector muito inferior à do DPP para uma mesma concentração, não se adicionou este padrão tipo 2 nas amostras da Baía de Guanabara (águas, sedimentos e mexilhões), pois o ruído da linha de base era suficiente para encobrir parcial ou totalmente o pico, o que acarretaria grandes erros na sua quantificação. Como não existem amostras de referência para ftalatos (água, sedimento ou PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA mexilhão/peixe), a validação do método de extração foi feita através de sua repetibilidade (dez replicatas), para cada tipo de amostra e comparada aos valores obtidos no método utilizado (EPA 8061A). Assim, adicionou-se à uma amostra de cada tipo uma quantidade conhecida do padrão DPP e a amostra foi extraída e analisada de acordo com o procedimento adotado. Os resultados obtidos se encontram na tabela 18. Tabela 18- Recuperação obtida com o método de extração por tipo de amostra Tipo de Valores obtidos no Amostra Método EPA 8061A Média (n=10) Máximo Mínimo Água 71,2 – 98,9 88,46 ± 1,89 97,59 79,15 Sedimento 62,0 – 84,7 86,56 ± 1,39 94,60 80,36 Mexilhão -- 88,84 ± 2,37 98,21 78,57 8.1 Amostras de Águas Potáveis Recuperação (%) 8 – Resultados e Discussão 97 Obteve-se para as amostras uma recuperação de 76,3 - 99,3% para o DPP e 79,7-98,7% para o DPIP. Apesar do método estar apto para determinar 16 diferentes ftalatos nas amostras, somente o DEHP foi encontrado (além dos padrões internos benzil benzoato, DPP e DPIP). Sua ocorrência foi confirmada por análise em espectrometria de massa (GC-MS), segundo condições descritas na seção PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA experimental (m/z= 149). Figura. 30 – Cromatograma típico para águas potáveis. As curvas de calibração encontram-se no Apêndice I. Como as concentrações esperadas eram baixas, utilizou-se apenas a menor faixa de concentração para elaborar estas curvas (1, 10, 50, 100 ng.L-1 de ftalatos e 10 ng.L-1 de padrão interno). Os resultados obtidos nas amostras encontram-se nas tabelas 19 a 21. Tabela 19- Concentração de DEHP nas amostras de água mineral Amostras de Água Mineral Mineral comercial (extraída 15 dias após o envasamento) DEHP (ng.L-1) 1,26 ± 0,23 8 – Resultados e Discussão 98 1,21 ± 0,25 Mineral coletada na fonte Não há diferença entre as concentrações de DEHP na água mineral, indicando que a operação de envase e o material plástico da garrafa não contribuem para a ocorrência do ftalato. A presença do DEHP na água da fonte pode ser explicada pela sua grande utilização e conseqüente extrema disseminação no meio ambiente. No entanto, se comparada aos valores encontrados na literatura (vide tabela 22), esta concentração pode ser considerada muito baixa. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Tabela 20- Concentração de DEHP nas amostras de águas potáveis dos bairros da cidade do Rio de Janeiro Amostras de Água de Bairros do Rio de Janeiro DEHP (ng.L-1) Madureira 2,94 ± 0,25 Recreio dos Bandeirantes 3,13 ± 0,31 Barra da Tijuca 3,14 ± 0,29 Méier 3,16 ± 0,30 Ilha do Governador 3,40 ± 0,27 Tijuca 3,65 ± 0,28 Flamengo 6,18 ± 0,32 Laranjeiras 6,19 ± 0,30 Botafogo 6,20 ± 0,29 Gávea 9,63 ± 0,29 Copacabana 9,65 ± 0,31 Leblon 9,66 ± 0,28 Ipanema 9,67 ± 0,27 No Rio de Janeiro, para os bairros localizados na região sul (Leblon, Ipanema, Gávea e Copacabana) obtiveram-se maiores concentrações e valores praticamente iguais. Pelo sistema de distribuição de água da CEDAE (figura 14), observa-se que estas regiões se situam muito próximas e no final da linha de abastecimento. 8 – Resultados e Discussão 99 Comparando o esquema da CEDAE com as concentrações do DEHP nos outros bairros estudados, zona norte (Madureira e Méier), zona oeste (Recreio e Barra da Tijuca) terminando na zona sul (Botafogo, Laranjeiras, Flamengo, Copacabana, Leblon, Ipanema e Gávea), verificou-se que quanto mais longe fica o bairro da ETAG, maior a contaminação. A Ilha do Governador é abastecida por outra linha de distribuição e seus valores são semelhantes aos da Tijuca. O aumento da concentração de DEHP com a distância da estação de tratamento do Guandu é explicado pelo uso de material, à base de DEHP na união das juntas das tubulações. Segundo o responsável pelo desenvolvimento de compostos da Tigre (Stollmeier, A. 2002), as tubulações de ferro fundido utilizam uma pasta PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA lubrificante para auxiliar na vedação entre trechos de tubulação de água e saneamento. Tabela 21- Concentração de DEHP nas amostras de águas potáveis dos bairros da cidade de Niterói Amostras de Água de Bairros em Niterói DEHP (ng.L-1) Icaraí 2,98 ± 0,21 Santa Rosa 5,70 ± 0,19 Centro (junto às barcas) 6,05 ± 0,20 São Francisco 6,25 ± 0,22 Jurujuba 6,85 ± 0,19 Em Niterói, obtivemos resultados muito diferentes para bairros próximos (Icaraí, Santa Rosa e Centro). Ao se considerar o sistema de abastecimento da cidade (figura 15) constata-se que toda a água que abastece Niterói vem pelo mesmo duto de ferro fundido que liga a Ilha do Governador a Icaraí, que tem a menor concentração de DEHP. Daí é distribuída em tubulações de PVC para os bairros de Santa Rosa, Centro e elevatória de São Francisco. Esta última abastece os bairros de São Francisco até Jurujuba, também com tubulação de PVC. Observa-se então o aumento 8 – Resultados e Discussão 100 das concentrações dos ftalatos com a distância, que atinge o máximo em Jurujuba, local mais remoto da rede de distribuição. Em ambas cidades, os resultados permitem correlação entre a rede de distribuição e as concentrações encontradas. Na cidade de Niterói, o uso de tubulações de PVC em parte da rede de abastecimento, aumenta as concentrações de DEHP entre bairros vizinhos. Comparando os resultados deste estudo com valores encontrados na literatura (tabela 22) para concentrações de ftalatos em águas potáveis de outros países , observa-se que todas as amostras deste estudo apresentaram valores menores do que os descritos para cidades da Europa e Estados Unidos, obtidos por métodos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA semelhantes. Tabela 22- Concentração de DEHP em águas potáveis na literatura DEHP (ng.L-1) Referência 50 – 103 Clark, L. B. , 1991 Canadá (mineral) 6 – 10 Page, B. D., 1995 Itália (da chuva) 3,2 – 11,4 Guidotti, M., 2000 Polônia (potável) 60 Betlej, K. L, 2001 Alemanha (potável) 50 Betlej, K.L. 2001 Holadová, K., 1995 Amostra New Jersey (potável) República Checa: • Potável 2000 • mineral 2900 – 7000 Os resultados indicam que o pouco uso de tubulações de PVC nas redes de distribuição de águas de ambas as cidades contribui para os baixo níveis encontrados em relação aos dados da literatura. 8.2 Amostras de Águas da Baía de Guanabara 8 – Resultados e Discussão 101 Obteve-se para as amostras uma recuperação de 78,8 - 92,7% para o DPP. A programação de temperatura utilizada está descrita no item 7.3.2-B e as curvas de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA calibração se encontram no Apêndice II. Figura. 31 – Cromatograma típico para águas superficiais. Nas coletas, foram registrados o pH, salinidade e temperatura. O pH manteve o valor constante de 8,2 para todas as amostras, em ambas coletas. A salinidade, a temperatura e as concentrações dos ftalatos são apresentadas na tabela abaixo. Tabela 23 – Resultados das amostras de águas superficiais Estação chuvosa (Dez/00) DEP (ng.L-1) Estação seca (Ago/01) A1 A2 A3 A4 A5 A6 A1 A2 A3 A4 A5 A6 3,49 <1 6,76 3,46 <1 8,52 13,2 <1 14,2 15,4 <1 16,8 8 – Resultados e Discussão 102 DIBP(ng.L-1) 6,46 1,65 9,09 4,12 1,55 3,92 12,6 16,4 15,6 13,4 17,2 14,2 DBP(ng.L-1) 1,66 3,26 6,86 2,95 7,32 4,84 28,3 32,9 33,1 30,1 37,9 29,2 DEHP(ng.L-1) 1,80 4,06 3,35 2,02 5,91 3,95 12,7 15,8 16,3 13,3 16,5 12,8 Salinidade 28 Temp. (oC) 20 29 29 23 28 27 35 20,5 19,5 20,9 19,5 20,5 18 32 32 32 32 35 18,5 19,5 19,5 18,5 20,5 Pelos resultados obtidos não há correlação entre os parâmetros de temperatura e salinidade com as concentrações de ftalatos. Águas Superficiais: concentração de DEP (ng.L-1) 18 Estação chuvosa PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 16 Estação seca 14 12 10 8 6 4 2 0 Stos Dumont Ponte RJ Ilha do Governador Fundo da Baía Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura. 32 – Águas superficiais: concentração de DEP (ng.L ). -1 Nas estações de coleta Ponte RJ e Nit, os valores se encontram < 1ng.L . 8 – Resultados e Discussão 18 103 Águas superficiais: concentração de DIBP (ng.L-1) Estação chuvosa Estação seca 16 14 12 10 8 6 4 2 0 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Stos Dumont Ponte RJ Ilha do Governador Fundo da Baía Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura. 33 – Águas superficiais: concentração de DIBP (ng.L ) . 40 Águas Superficiais: concentração de DBP (ng.L-1) Estação chuvosa Estação seca 35 30 25 20 15 10 5 0 Stos Dumont Ponte RJ Ilha do Governador Fundo da Baía -1 Figura. 34 – Águas superficiais: concentração de DBP (ng.L ) . Ponte Nit Boa Viagem 8 – Resultados e Discussão 104 Águas superficiais: concentração de DEHP (ng.L-1) 18 Estação chuvosa Estação seca 16 14 12 10 8 6 4 2 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 0 Stos Dumont Ponte RJ Ilha do Governador Fundo da Baía Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura. 35 – Águas superficiais: concentração de DEHP (ng.L ) . Verifica-se que as amostras da estação seca são mais poluídas, evidenciando influência da distribuição pluviométrica, maior durante o verão, diluindo as concentrações de poluentes na Baía, conforme observado em estudos anteriores (Azevedo, L. A 1998; Brito, A. P. X. 1998; Hamacher, C. 1996). De modo geral, as amostras apresentaram concentrações semelhantes para todos os ftalatos, não sendo verificada influência direta do ponto de coleta. Isto pode ser explicado pela dinâmica das correntes na Baía, que contribuiriam para a distribuição homogênea em todo o local de estudo. Nota-se, contudo, acentuado decréscimo das contaminações, nos pilares da ponte Rio-Niterói, durante a estação chuvosa, para o DIBP e DBP. Para o DEHP esta tendência não foi observada. O DEP foi encontrado abaixo dos limites de detecção em ambos pilares da Ponte, em ambas estações. Como nestes pontos de coleta se encontram as maiores correntes (DHN, 1999) e se encontram afastados das prováveis fontes deste composto, este fato pode ter tido alguma influência neste resultado. 8 – Resultados e Discussão 105 O DBP apresentou valores pouco superiores ao DEHP nas amostras da estação seca, o que surpreende pois o DEHP é geralmente indicado como o maior contaminante em outros ambientes aquáticos. Tal fato provavelmente pode estar relacionado à utilização eventual de produtos que o contenham. Tabela 24- Concentração de Ftalatos em águas costeiras (ng.L-1) na literatura Local estudado DBP DIBP DEHP DEP Referência Kiel (Alemanha) 9,6– 203,4 2,4 – 47,9 -- 0,3 – 2,2 Erhardt,1980 99-4800 54-1100 190-2200 <1-430 Law,1991 -porto pesqueiro -- -- 2100 1400 Peñalver, A -porto industrial - -- 3200 1800 2001 300-43300 200-5700 300-31200 100-3200 Vitalli,1997 Liverpool (UK) -- 30,5-1100 125-693 68-243 Preston,1989 Plymouth (UK) -- -- 99-280 -- Baía Tees(USA) -- -- 980-2200 -- Turner, A. Golfo do México -- -- 130 -- 2000 Alemanha -- -- 25-35 -- Irlanda PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Tarragona (ES) Itália Todas as amostras de água superficiais da Baía de Guanabara podem ser consideradas pouco contaminadas em comparação com outros ambientes costeiros da Europa, aproximando-se aos valores encontrados em Kiel Bight (Erhardt, 1980). 8 – Resultados e Discussão 106 8.3 Amostras de Sedimentos Obtiveram-se para as amostras recuperações de 75,41 - 98,21 % (DPP). As condições analíticas estão descritas no item 7.3.2-B, as curvas de calibração e os resultados na tabela 25. Tabela 25 – Resultados das Amostras de Sedimentos (ng.g-1) Amostra (profundidade) % Recuperação DMP DBP DHP DEHP 29,16 23,39 50,76 Ponto S1 (Santos Dumont) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 00 – 03 cm 91,07 Ponto S2 (Rio Meriti) 00 – 03 cm 92,86 68,33 03 – 06 cm 78,13 60,49 Ponto S3 (Fundo da Baía) 00 – 03 cm 96,43 8,76 03 – 06 cm 85,99 5,41 06 – 09 cm 92,13 4,48 09 – 12 cm 81,64 2,90 12 – 15 cm 96,43 <1 26,24 Ponto S4 (São Gonçalo) 00 – 03 cm 94,60 37,09 59,37 36,59 Os testemunhos de sedimentos foram coletados em quatro pontos da Baía de Guanabara, segundo descrito no capítulo 7. Foram analisadas todas as vinte amostras obtidas dos testemunhos de cada ponto, sendo que cada amostra representa uma faixa de 3 cm de profundidade, na intenção de verificar a contaminação por ftalatos ao longo dos anos. Porém, após a análise de todas as amostras de cada testemunho, verificou-se que os ftalatos encontravam-se somente nas camadas superficiais. No ponto de coleta Capítulo VII – Resultados e Discussão 107 S3, o DBP foi detectado em profundidades de até 12 cm. Como a maioria dos estudos em ambientes costeiros considera a faixa de sedimento superficial de 0-20 cm, podese dizer que todas as contaminações por ftalatos encontradas nas amostras deste estudo foram em sedimentos superficiais, descartando-se a avaliação dos ftalatos ao longo dos anos. Isto provavelmente ocorre porque a concentração dos ftalatos na água está abaixo de seus pontos de solubilidade, diminuindo portanto a taxa de acumulação nos sedimentos. Além disto, a rápida biodegradabilidade (2 dias – 3 semanas) dos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA compostos detectados, também contribui para as pequenas concentrações observadas. 80 Concentração de Ftalatos nos Sedimentos (ng.g-1) DBP 70 DEHP DHP 60 50 40 30 20 10 0 Stos Dumont (S1) Rio Meriti (S2) Fundo da Baía (S3) São Gonçalo (S4) -1 Figura.36 - Concentração dos principais Ftalatos (ng.g ) encontrados nas amostras de sedimentos superficiais, por ponto de coleta. No ponto S1 foram detectados três ftalatos (DBP, DHP e DEHP), predominando o DEHP. Este ponto está localizado na entrada da Baía de Botafogo, cuja praia é constantemente considerada imprópria para banho devido a alta poluição por esgotos domésticos, agravados pelos despejos das embarcações fundeadas em frente ao Iate Clube. Os maiores valores foram verificados para o DEHP no ponto S2, onde foi o único ftalato detectado. Seus altos teores podem ser explicados pela proximidade à Capítulo VII – Resultados e Discussão 108 foz do Rio Meriti, curso d’água receptor dos efluentes da maioria das indústrias plásticas da região, que utilizam basicamente o DEHP em suas linhas de produção. O local menos poluído situa-se no fundo da Baía de Guanabara, próximo à área de preservação ambiental (ponto S3). Lá foram detectados somente dois ftalatos (DBP e DEHP), predominando o DEHP. No ponto S4, foram detectados três ftalatos (DMP, DBP e DEHP), estando o DBP na maior concentração. Este ponto, próximo à praia de São Gonçalo, recebe poluentes de diversas pequenas indústrias, esgotos domésticos de populações de baixa renda, instalações de manutenção de barcos e colônias de pesca. É difícil PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA portanto relacionar esse ftalato com a fonte de poluição. Tabela 26- Concentração de Ftalatos em sedimentos (ng.g-1) na literatura Local estudado DMP DBP DHP DEHP Referência Chesapeake (EUA) -- 16-93 3-5,6 <2,6-180 Peterson, 1982 Rio Klang (UK) 0-10,1 67-637 -- 493-15015 Tan, 1995 Rios da Itália -- 3,0–28,3 -- 3,2-487,3 Vitali, 1997 Rio Mersey (UK) 92-214 92-289 -- 487-2774 Preston, 1989 Pelos dados apresentados acima, todas as amostras de sedimentos superficiais da Baía de Guanabara deste estudo podem ser consideradas pouco contaminadas, quando comparadas a outros ambientes costeiros da Europa e Estados Unidos. 8 – Resultados e Discussão 109 8.4 Amostras dos Mexilhões: 1997 - 2000 Obteve-se para estas amostras recuperações de 76,58 - 97,59% (DPP). A programação de temperatura utilizada está descrita no item 7.3.2-B, as curvas de calibração e a tabela dos resultados se encontram no Apêndice II e III respectivamente. Nas 30 amostras coletadas durante 4 anos, em 4 pontos de coleta, nas estações seca e chuvosa, foram detectados cinco ftalatos no total: DMP, DEP, DHP, BBP e DEHP. Destes, apenas três ( DHP, BBP e DEHP) ocorreram em todos os anos, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA motivo pelo qual foram escolhidos para ser os principais alvos desta discussão. As faixas de concentração encontradas nos mexilhões são 10-100 vezes maiores que as encontradas nas águas, verificando-se a mesma tendência de maiores concentrações na estação seca em relação à estação chuvosa, confirmando estudos anteriores com outros poluentes orgânicos na Baía de Guanabara (Azevedo, 1998; Brito, 1998; Lima, 2001) e evidenciando a característica concentradora e filtrante dos organismos. Em todos os anos, percebe-se claramente maiores concentrações nos dois pontos situados nos pilares da Ponte Rio-Niterói, seguidos pelo Santos Dumont e como estação menos poluída a Praia de Boa Viagem. Os altos teores presentes nos espécimes coletados nos pilares da ponte são explicados devido à alta circulação das águas da Baía nos períodos de marés, expondo os organismos filtrantes às concentrações dos poluentes. Os ftalatos encontrados nos mexilhões, em sua maioria, haviam sido detectados nas amostras de águas e sedimentos superficiais. As exceções foram: • DBP encontrado nas águas e sedimentos, não aparece nos organismos pois é excretado muito rapidamente (vide tabela 13). • DIBP foi detectado apenas nas amostras de águas, o que pode indicar que este é seu compartimento ambiental preferencial nas concentrações avaliadas. 8 – Resultados e Discussão • 110 BBP só foi encontrado nas amostras de mexilhões, provavelmente por maior afinidade com os organismos. Este composto tende a se bioacumular muito mais que o DEHP (vide tabela 9). As figuras 37 a 44 expõem cronologicamente as concentrações dos ftalatos nos mexilhões durante as estações seca e chuvosa. Ftalatos nos mexilhões (1997 - Estação seca) 3000 DMP DEP DHP BBP DEHP 2500 ng.g-1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 2000 1500 1000 500 0 Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura.37 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação seca de 1997. O ano de 1997 foi o único em que se detectou a presença de DMP e DEP, na estação chuvosa, quando os poluentes estão mais diluídos. São compostos muito usados em repelentes dérmicos, cujo uso aumenta no verão (estação chuvosa) com a proliferação de insetos, proporcionando maior possibilidade de contaminações nos efluentes hídricos. Além disso, nesse ano houve uma epidemia de dengue no Rio de Janeiro e seus arredores, incrementando o uso de repelentes. 8 – Resultados e Discussão 111 Ftalatos nos mexilhões (1997 - Estação chuvosa) 3000 DMP DEP DHP BBP DEHP 2500 ng.g-1 2000 1500 1000 0 Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura.38 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação chuvosa de 1997. Ftalatos nos mexilhões (1998- Estação seca) 3300 DHP 3000 BBP DEHP 2700 2400 ng.g-1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 500 2100 1800 1500 1200 900 600 300 0 Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit -1 Boa Viagem Figura.39 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação seca de 1998. 8 – Resultados e Discussão 112 Ftalatos nos mexilhões (1998 - Estação chuvosa) 3300 DHP 3000 BBP DEHP 2700 ng.g-1 2400 2100 1800 1500 1200 900 600 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 300 0 Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura.40 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação chuvosa de 1998. Em 1998, apenas DHP, BBP e DEHP foram detectados, em todos os pontos de coleta, em ambas as estações. Os três ftalatos encontrados têm aplicações em produtos plásticos. Neste ano se verificou a maior concentração de DEHP em todos os anos, na estação seca, provavelmente pelo aumento da produção de plásticos previsto para este ano (Abiplast, 1997). No ano de 1999, em ambas coletas, não foi encontrado nenhum organismo no ponto M2 (Ponte RJ), provavelmente colhidos anteriormente pelos pescadores da região. No outro pilar da ponte foram coletados mexilhões cujas contaminações foram semelhantes às dos outros períodos. 8 – Resultados e Discussão 113 Ftalatos nos mexilhões (1999-Estação seca) 1500 1350 DHP BBP DEHP 1200 ng.g-1 1050 900 750 600 450 300 150 Stos Dumont Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura.41 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação seca de 1999. Ftalatos nos mexilhões (1999-Estação chuvosa) 1500 1350 DHP BBP DEHP 1200 1050 ng.g-1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 0 900 750 600 450 300 150 0 Stos Dumont Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura.42 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação chuvosa de 1999. 8 – Resultados e Discussão 114 Ftalatos nos mexilhões (2000-Estação seca) 1200 DHP BBP DEHP ng.g-1 900 600 0 Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem -1 Figura.43 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação seca de 2000. Ftalatos nos mexilhões (2000-Estação chuvosa) 1200 DHP BBP DEHP 1000 ng.g-1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 300 800 600 400 200 0 Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit -1 Boa Viagem Figura.44 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g ) na estação chuvosa de 2000. 8 – Resultados e Discussão 115 No ano de 2000 os níveis de ftalatos tiveram queda acentuada, ainda predominando o DEHP. Neste ano as indústrias enfrentaram problemas econômicos, que se refletiram na manufatura de plásticos do Rio de Janeiro, acarretando redução de produção de algumas das principais empresas do Estado. Como as faixas de concentração encontradas para o DEHP foram muito maiores que dos outros ftalatos, a visualização dos outros compostos fica prejudicada. Consequentemente são apresentados distribuições ao longo dos anos por ponto de coleta e tipo de composto, nas figuras 45 a 47. DHP nos mexilhões ao longo dos anos (ng.g-1) 40 M1 seca M3 seca PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 35 M1 chuvosa M3 chuvosa M2 seca M4 seca M2 chuvosa M4 chuvosa 30 25 20 15 10 5 0 1997 1998 1999 2000 -1 Figura.45 – Concentração de DHP nos mexilhões (ng.g ) nos pontos de coleta, ao longo dos anos. O DHP não apresentou nenhum padrão com relação ao ponto ou estação de coleta. Nota-se tendência de menores concentrações na estação chuvosa e aumento da contaminação ao longo dos anos, que pode ser correlacionada com a produção do setor de plásticos (Fornari, 2002). 8 – Resultados e Discussão 140 116 BBP nos mexilhões ao longo dos anos (ng.g-1) M1 seca M1 chuvosa 120 M2 seca M2 chuvosa 100 M3 seca M3 chuvosa M4 seca M4 chuvosa 80 60 40 20 0 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 1997 1998 1999 2000 -1 Figura.46 – Concentração de BBP nos mexilhões (ng.g ) nos pontos de coleta, ao longo dos anos. Para o BBP, tivemos uma tendência de presença do composto na estação seca e ausência total ou diminuição da concentração na estação chuvosa. A exceção ocorreu para o ano de 1997, onde não se detectou BBP durante a estação seca, em nenhum dos pontos de coleta. Quanto aos pontos de coleta, o BBP teve maiores concentrações nos mexilhões do pilar da ponte mais próximo a Niterói (M3), próximo ao canal de circulação da Baía. O ano de maior ocorrência desse ftalato foi o de 1998. Como esperado pela sua maior utilização industrial, as maiores concentrações encontradas nos mexilhões da Baía de Guanabara, em todos os pontos de coleta, foram do DEHP. Percebe-se as seguintes tendências: • decréscimo de utilização com o passar dos anos, após 1998, o que é correlacionado com dados produtivos do setor de plásticos (Reto, 2002); • menores concentrações na estação chuvosa quando comparada com a seca; e • concentrações decrescentes por ponto de coleta: Ponte RJ > Ponte Niterói > Santos Dumont > Boa Viagem, ou seja, da zona mais poluída para a menos. 8 – Resultados e Discussão 3500 117 DEHP nos mexilhões ao longo dos anos (ng.g-1) M1 seca M1 chuvosa 3000 M2 seca M2 chuvosa 2500 M3 seca M3 chuvosa M4 seca M4 chuvosa 1999 2000 2000 1500 1000 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 500 0 1997 1998 -1 Figura.47– Concentração de DEHP nos mexilhões (ng.g ) nos pontos de coleta, ao longo dos anos Não há dados sobre faixas de concentração de ftalatos em espécies de mexilhões na literatura, apenas sobre moluscos é citado algo sobre fator de bioacumulação (Staples, 1997). Portanto, os resultados obtidos são inéditos. Este fator (BCF = razão entre concentração do organismo e a da água) médio de DEHP em moluscos é de 1469± 949. Neste estudo, para dez/2000, única coleta em que foram avaliadas amostras de água e mexilhões nos mesmos pontos de coleta, foi encontrado um BCF variando de 570 a 3,51, muito inferiores à média de Staples. Os baixos valores refletem os baixos teores presentes nas águas, comparados aos valores encontrados internacionalmente. No ponto de coleta mais contaminado (Ponte RJ) , o BCF cai dentro da faixa média encontrada na literatura. 8 – Resultados e Discussão 118 8.5 Amostras do Biomonitoramento: Obteve-se para as amostras uma recuperação de 75,57 - 99,54% (DPP). A programação de temperatura utilizada está descrita no item 7.3.2-B, as curvas de calibração e tabela dos resultados se encontram no Apêndice II e tabela 27 respectivamente. Tabela 27– Concentração do DEHP (ng.g-1) nos Mexilhões do Biomonitoramento Data Organismos coletados % Recuperação DEHP (ng.g-1) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Estação contaminada (Ilha d’Água) Out. /99 na Ponte (inicial, t=0) 81,59 4185 ± 1,2 Nov. /99 em Itaipu em outubro 75,57 380 ± 0,89 Jan. /00 em Itaipu em outubro 78,56 1292,6 ± 1,5 Estação de controle (Itaipu) Out. /99 em Itaipu (inicial, t=0) 83,19 205,5 ± 0,91 Nov. /99 na Ponte em outubro 76,58 886,3 ± 1,3 Jan. /00 na Ponte em outubro 99,54 644,7± 0,85 Os parâmetros fisico-químicos (pH, temperatura, salinidade e carbono orgânico dissolvido - COD) e biológicos (vermelho neutro e índice de condição) se encontram detalhados em Lima (2001). Durante os três meses de duração do experimento, praticamente todos os organismos transplantados sobreviveram em ambas estações de monitoramento. O biomonitoramento pode ser avaliado somente pelas ocorrência do DEHP, único ftalato detectado em todos as amostras. Variação da concentração de DEHP durante monitoramento 4500 4000 3500 Orgs. da Ilha d’água Itaipu Ilha d'Agua PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 8 – Resultados e Discussão 119 Figura.48 – Variação da Concentração de DEHP durante monitoramento ativo Out/99 (data inicial do experimento): Itaipu representa os resultados dos mexilhões coletados no pilar da ponte e Ilha d’Água os mexilhões coletados em Itaipu. Verifica-se uma tendência de maiores valores na Ilha d’Água (B1) em relação à Itaipu (B2). Em um mês de transferência (novembro/99), a concentração do DEHP nos animais transferidos para a B1 aumentou abruptamente, mantendo esta tendência até o fim do monitoramento ativo, demonstrando uma situação de estresse para os organismos e acumulação de contaminantes. A situação inversa é verificada para o mexilhões transferidos para B2, que rapidamente se recuperaram, depurando o DEHP acumulados. Esta mesma tendência de depuração na área de controle e acumulação na área contaminada foi verificada por Lima (2001) com os HPAs. Não foi verificado trabalho de biomonitoramento ativo semelhante na literatura, para comparar as faixas de acumulação e depuração de DEHP em mexilhões. Portanto este trabalho é inédito e serve como referência para os próximos estudos deste tipo. 9 Conclusões A investigação dos ftalatos no meio ambiente da Baía de Guanabara demonstrou que tal contaminação é sempre inferior, quando comparada aos dados relatados na literatura. Mesmo com a opinião científica dividida sobre o papel dos ftalatos como interferentes endócrinos, este trabalho reveste-se de especial importância como o primeiro a realizar uma análise qualiquantitativa e abrangente do ecossistema desta Baía. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA As metodologias de extração e de análise provaram ser compatíveis com as exigências de recuperação, sensibilidade e repetibilidade que a pesquisa requeria. Em função dos dados obtidos, em todas as amostras deste estudo, comparados à literatura, ftalatos não são um problema ambiental para a população do entorno do ecossistema da Baía de Guanabara. As amostras de águas potáveis do Rio de Janeiro e de Niterói apresentaram valores consideravelmente inferiores àqueles informados para cidades européias e dos Estados Unidos, logo as populações carioca e niteroiense encontram-se pouco expostas a esses poluentes. A água mineral estudada também estava com contaminação muitas vezes inferior a todas as relatadas na literatura e a operação de envase não aumentou o resultado. Os teores de ftalatos nas águas potáveis cresceram com as distâncias percorridas nas tubulações, uma vez que as colas usadas para vedação das emendas das tubulações contém ftalatos. Quanto mais próximos os bairros amostrados da estação de tratamento, menor a contaminação por ftalatos. Na cidade de Niterói, o uso de tubulações de PVC em parte da rede de abastecimento, aumentou as concentrações de DEHP. Sugere-se estudos nas águas dos rios que abastecem a estação de tratamento do Guandu, para verificar sua contaminação. Desta forma, poder-se-á concluir se o tratamento da estação remove os ftalatos ou se as baixas 121 9- Conclusões concentrações decorrem da localização da estação, longe de fontes de poluição industrial. Todas as amostras da Baía (águas, sedimentos e mexilhões) mostraram contaminações muito inferiores, quando comparadas a outros ambientes costeiros do exterior. Para as águas superficiais da Baía de Guanabara, verificou-se que as amostras da estação chuvosa são menos poluídas, provando a influência da distribuição pluviométrica, maior durante o verão, nas concentrações de poluentes na Baía. Não foi verificada influência direta do ponto de coleta na concentração e no tipo de ftalato. Como a água apresenta características transitórias de um ecossistema PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA aberto e somente foi amostrado um ano, sugere-se para outros estudos a avaliação de maior número de amostras de águas superficiais, com maior quantidade de pontos de coleta, cobrindo também períodos mais extensos, de forma a obter-se uma melhor compreensão do comportamento dos ftalatos neste compartimento ambiental. Nos sedimentos, o DEHP esteve sempre mais concentrado do que nas amostras de água, tendência já esperada pois a baixa solubilidade do ftalato na água indica concentração no particulado. As baixas concentrações para todos os ftalatos são justificadas pela baixa contaminação das águas e a rápida biodegradabilidade destes compostos. A ocorrência dos ftalatos somente nos sedimentos superficiais impossibilitou o estudo da sua distribuição cronológica e, conseqüentemente, inutilizou a realização dos ensaios de datação. Pode-se concluir que a contaminação dos ftalatos, diferentemente do que foi detectado em ambientes de países industrializados, é recente. Conforme esperado, a maior contaminação foi encontrada próxima á foz do Rio Meriti, curso d´água receptor dos efluentes da maioria das indústrias de plásticos da região. O local menos poluído situa-se no fundo da Baía de Guanabara, adjacente à área de preservação ambiental. Na entrada da Baía de Botafogo e próximo à praia de São Gonçalo obtiveram-se teores intermediários. Ambos pontos recebem poluentes de diversas fontes (esgotos domésticos, instalações de manutenção de barcos e indústrias). 9- Conclusões 122 Os ftalatos encontrados nos mexilhões, em sua maioria, foram os mesmos detectados nas amostras de águas e sedimentos superficiais. As faixas de concentração encontradas nos mexilhões são 10-100 vezes maiores que as águas. A mesma tendência de maiores concentrações na estação seca comparadas ás da estação chuvosa confirma estudos anteriores com outros poluentes orgânicos na Baía de Guanabara (Azevedo, 1998; Brito, 1998; Lima,2001) e evidencia a característica concentradora e filtrante do organismos. Em todos os anos, as maiores concentrações situam-se nos dois pontos dos pilares da Ponte Rio-Niterói, seguidas pelos mexilhões do Santos Dumont e, finalmente, como estação menos poluída, a Praia de Boa Viagem. Os altos teores presentes nos espécimes coletados nos pilares da ponte são explicados pela alta PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA circulação das águas da Baía nos períodos de marés, expondo os organismos constantemente ás concentrações dos poluentes. Como esperado pela sua maior utilização industrial, o DEHP foi encontrado com as maiores concentrações nos mexilhões de todos os pontos da Baía de Guanabara. Observou-se, em todas as estações, a diminuição da contaminação com o passar dos anos, refletindo maior eficiência da indústria de plásticos, que otimiza os seus processos, economizando a adição de plastificantes. Foi avaliado o fator de bioacumulação do DEHP (dezembro/2000), encontrando-se valores de 570 a 3,51, muito inferiores à média de Staples, 1469 ± 949 para DEHP em moluscos. Tais valores refletem a baixa contaminação das águas a Baía. Seu ponto de coleta mais contaminado foi o pilar da ponte mais próximo da cidade do Rio de Janeiro, cujo fator de 570 situa-se dentro da faixa média encontrada na literatura. No biomonitoramento ativo ficou evidenciada a eficiência e rapidez da depuração do DEHP nos mexilhões. No mesmo período de um mês, a acumulação ocorreu em taxas bem menores. Sugerem-se outros testes de biomonitoramento ativo, realizados em períodos mais característicos, como as estações chuvosa e seca. 137 Apêndice I - Curvas de Calibração de resposta do detector versus concentração de ftalatos para análise quantitativa das amostras de Águas Potáveis Calibração DPP (faixa 1 – 100 ng.L-1) 3 y = 4,5806x conc i / con c PI 2,5 0,8627 2 R = 0,9977 2 1,5 1 0,5 0 0,2 0,4 0,6 area i / area P I Calibração DPIP (faixa 1 – 100 ng.L-1) 1,4 con c i / conc PI 1,2 y = 1,8819x 0,5698 2 R = 0,9998 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 0,2 0,4 0,6 area i / area P I Calibração DEHP (faixa 1 – 100 ng.L-1) 2,5 2 conc i / conc PI PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 0 y = 2,0393x 0,6273 2 R = 0,9907 1,5 1 0,5 0 0 0,5 1 area i / area PI 1,5 138 Apêndice II - Curvas de Calibração de resposta do detector versus concentração de ftalatos para análise quantitativa PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA para as amostras do ecossistema da Baía de Guanabara PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 139 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 140 141 Apêndice III - Espectro de massas típico de amostras de sedimento RT: 9.19 - 52.99 NL: 1.43E6 30.71 DPP 100 m /z= 148.50149.50 MS SGoncalo1 2 01 95 90 85 17.98 DBP 80 75 Relative Abundance PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 70 65 21.90 DEHP 60 55 50 45 40 35 30 25 20 19.85 15 12.24 10 5 9.67 DMP 23.39 16.56 24.67 29.87 0 10 15 20 25 32.67 35.51 38.28 38.91 42.49 46.63 47.18 30 Tim e (m in) 35 40 45 50 142 Apêndice IV - Espectro de massas típico de amostras de mexilhão RT: 9.00 - 50.00 17.95 21.88 DHP NL: 2.90E7 30.88 DPP DEHP 1.5 m /z= 148.50149.50 MS SDum ont1 1 01 1.4 1.3 1.2 Relative Abundance PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA 1.1 19.82 BBP 1.0 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 22.57 0.3 0.2 12.22 9.64 13.25 29.69 25.22 16.52 27.15 32.65 35.47 38.22 40.91 0.1 0.0 9.94 10 43.50 15.78 15 20 25 30 Tim e (m in) 35 40 45 46.57 47.07 50 143 Apêndice V - Concentração de Ftalatos nos mexilhões PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9824924/CA Tabela 28 – Resultados dos Mexilhões 1997 - 2001(ng.g-1) % Recuperação Amostra 1997 Agosto (estação seca) Stos Dumont 78,56 Ponte- RJ 85,08 Ponte- Nit 76,58 Boa Viagem 76,58 Dezembro (estação chuvosa) Stos Dumont 87,81 Ponte- RJ 97,59 Ponte- Nit 97,59 Boa Viagem 78,56 1998 Agosto (estação seca) Stos Dumont 78,56 Ponte- RJ 87,81 Ponte- Nit 87,81 Boa Viagem 85,08 Dezembro (estação chuvosa) Stos Dumont 91,21 Ponte- RJ 87,81 Ponte- Nit 81,59 Boa Viagem 97,59 1999 Agosto (estação seca) Stos Dumont 76,58 Ponte – Nit 92,86 Boa Viagem 97,59 Dezembro (estação chuvosa) Stos Dumont 78,56 Ponte – Nit 78,56 Boa Viagem 85,08 2000 Agosto (estação seca) Stos Dumont 91,21 Ponte- RJ 81,59 Ponte- Nit 78,17 Boa Viagem 83,19 Dezembro (estação chuvosa) Stos Dumont 78,17 Ponte- RJ 78,17 Ponte- Nit 76,58 Boa Viagem 85,08 DMP DEP DHP BBP DEHP 624,45 2540 1893,4 556,6 47,75 197,4 263,5 54,09 <1 5,86 9,50 11,96 6,06 20,13 13,18 6,76 24,35 45,82 31,06 348,0 1579,3 645,1 281,5 35,16 42,31 125,9 66,59 570,3 3410,5 1568,6 401,32 15,80 16,31 <1 12,43 145,2 632,5 625,4 125,8 17,49 27,58 14,78 225,1 1469 183,3 34,42 33,63 6,69 24,69 4,43 31,88 80,88 603,2 70,69 1,75 27,02 5,93 34,71 20,74 25,41 36,80 32,05 671,5 1171 685,8 489,6 4,97 26,41 19,57 7,92 201,1 1152 207,8 133,1