Alcione – Acesa

Transcrição

Alcione – Acesa
Alcione
Acesa
Alcione lança novo CD Acesa, com bons sambas temáticos e fartas doses
de romantismo despudorado
Teatral, divertida, suingada, romântica, eclética... São muitos os adjetivos que
podemos usar para reverenciar essa artista excepcional que é Alcione. Sem
preconceitos estéticos, equilibrando-se entre o sofisticado e o popular, ela é cada
vez mais querida por jovens e velhos, gente simples, moderninhos, morro e
asfalto, subúrbio e zona sul. E tome carisma e talento para conseguir tal façanha! É
esta cantora que volta mais ACESA do que nunca em seu 34º disco de carreira,
agora numa parceria da Indie Records com a Sony Music.
Para quem gosta da Alcione sambista, temos aqui neste disco alguns bons
exemplares do gênero como o delicioso “Chutando o balde”, de Nei Lopes –
compositor que foi lançado pela Marrom em seu primeiro compacto, de 1972, com
Figa de guiné, numa parceria com Reginaldo Bessa, e de lá pra cá, já teve quase
30 músicas gravadas por ela. Nesta faixa quem participa (e assina o arranjo) é
Wilson Simoninha com seu suíngue peculiar, herdado do pai, Simonal. Os dois
cantam versos deliciosos como: “Como dizia Seu Aldir da (rua) Garibaldi/ Quem
não agüenta batidão/ Vai de Vivaldi/ Ou faz um samba igual ao meu/ Que o povo
aplaude”.
Provando seu ecletismo, quem a Marrom também convidou para participar de seu
disco é o popularíssimo Grupo Revelação num outro samba muito agradável, “O
samba me chamou”, de Sombrinha e Marquinho PQD, numa levada de gafieira,
com letra autobiográfica. “Foi o samba quem me deu valor/ Hoje em dia tenho o
meu lugar/ Quantas vezes ele me chamar eu vou”, diz a letra de embalo, que terá
lugar certo nas rodas de samba & pagode.
Neste clima carioquíssimo é “Eu vou pra Lapa” (Serginho Meriti/
Guimarães), outro samba que enumera as ruas, personagens, tribos,
tudo mais que renovou a boemia do bairro, cujo auge foi nos anos 30
nesta década seu ressurgimento glorioso. A faixa, inclusive, já pode ser
trilha da novela Caminho das índias, da TV Globo.
Claudinho
botecos e
e 40 e vê
ouvida na
Outro samba que se destaca é o divertido “(O melhor lugar do mundo é) A casa da
mãe da gente”, dos amazonenses Junior Rodrigues e Gilson Nogueira. Bem a cara
da Marrom, foi descoberto pelo produtor Jorge Cardoso durante um pagode em
Manaus. É um partido alto de primeira falando sobre os mimos maternos típicos
das relações de mãe e filho no Brasil: “Ela diz: „Que menino folgado‟/ Mas briga um
bocado se alguém concordar”.
Original também é o samba-homenagem “Nair Grande – A Bambambã do Fuzuê”
(Telma Tavares/ Paulo César Feital), baseado na história real desta personagem
originária do Bloco dos Arengueiros que anos mais tarde se transformaria na
Estação Primeira de Mangueira, da qual ela se tornaria uma das grandes
matriarcas, uma mulher muito à frente de seu tempo.
Também da carioca Telma Tavares (com o baiano Roque Ferreira) é a música que
une os dois climas básicos do disco – o sambístico e o romântico – e não por acaso
é a faixa-título e também a primeira de trabalho para as rádios, “Acesa”. “Só come
gostoso se for no meu prato/ Só sonha bonito no meu cobertor”, dizem versos que
ganham outro sabor na interpretação muito irreverente, quente e sincera da
Marrom. Aliás, este é um dos trunfos da cantora. Por isso, a cada novo disco,
muitos compositores procuram assimilar novas gírias e ditos populares para criar
canções especialmente para ela. E Alcione de fato representa à perfeição essa voz
da mulher brasileira do povo. Uma mulher passional, sentimental, porém de fibra e
um tanto fogosa.
É justamente na seara mais romântica que esses compositores se esbaldam na
hora de criar músicas para a sua voz. Versos que até poderiam soar vulgares na
voz de outros intérpretes parecem perfeitos ditos por ela. Na faixa de abertura, “Eu
não domino essa paixão” (de Nenéo, com um de seus mais fiéis fornecedores,
Paulinho Rezende) ela manda: “E vamos combinar na madrugada/ Ele tem uma
pegada que é impossível resistir”.
Mais adiante, descreve suas fantasias: “Eu me preparei inteira pra você (...) Hoje
eu acordei na tua intenção/ Pra satisfazer a imaginação/ E fazer de tudo que você
quiser/ Te mostrar porque é que Deus me fez mulher/ Eu te vejo me amar sem
pudor bem em frente ao espelho/ Enquanto desenho meus lábios com aquele meu
batom vermelho”. Esta é “Dama da paixão”, parceria de Umberto Tavares com seu
sobrinho Jefferson Junior, que já apareceu deitado em suas costas, na contracapa
do LP Fruto e raiz, de 1986, e hoje se tornou também artista, tendo participado
como autor ou intérprete de dois discos recentes da Marrom.
Ainda nesse clima de músicas românticas de atmosfera de cabaré é “Não me peça
pra ficar” (dos paulistas Valtinho Jota e Andréa Amadeus), na qual desabafa: “Eu
não suporto mais ter que fingir/ Que não senti o cheiro de outra mulher/ Perdi a
conta dos recados que ouvi/ E do telefone mudo que não diz quem é”. E se
descontrola mais ainda em “Quem dera fosse eu” (Reinaldo Arias/ Paulo Sérgio
Valle): “Que fez você de mim/ Pra te amar assim/ Sem saber chegar, sem saber
partir?”. Os fãs daqueles baladões dos anos 80 vão gostar.
Como de hábito, a cozinha instrumental do CD Acesa fica por conta de sua
numerosa Banda do Sol e, desta vez, com os arranjos a cargo de seis mestres do
gênero: Jota Moraes, Zé Américo, Alexandre Menezes, Julinho Teixeira, Ivan Paulo
e do produtor Jorge Cardoso, além do já referido Wilson Simoninha.
Fecham o repertório mais três músicas românticas made in Rio de Janeiro, em
compasso de samba, “O sono dos justos” (Marcus Lima/ Márcio Proença/ Rodrigo
Sestrem), “Eternas madrugadas” (Fred Camacho/ Cassiano Andrade) e “Sinuca de
bico” (Claudemir/ Elcio do Pagode/ Serginho Meriti), além de uma singela toada do
maranhense Carlinhos Veloz, “Imperador Tocantins”, em que a Marrom deita e
rola, com belas nuances de interpretação, mostrando a grande cantora que é.
Que sua chama continue ACESA por muitos anos!
Rodrigo Faour
Julho/2009
Departamento de Imprensa
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