história da Província Portuguesa

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história da Província Portuguesa
QUINTA PARTE
A PROVÍNCIA E AS SUAS OBRAS
723
Capítulo 78
Correntes de pensamento subjacentes
ao itinerário histórico da Província
A
Província espiritana e o liberalismo
A primeira fase da história da Província Espiritana foi marcada, por um lado
pelo clima de turbulência então vigente entre a Igreja e o Estado e por outro pela
tensão que acompanhou a política colonial do Estado português nessa época.
A situação política que se viveu em Portugal na segunda metade do século XIX
e na primeira década do século XX integrava-se num contexto mais vasto
marcado pela filosofia do iluminismo, pelas doutrinas da Revolução Francesa e
pelo liberalismo.
Em Portugal tudo começou com o anti-jesuitismo do Marquês de Pombal e a
publicação das leis de 3 de Setembro de 1759 e de 28 de Agosto de 1767. A
implantação do liberalismo em Portugal abriu uma grave questão religiosa que se
manifestou sobretudo na extinção e expropriação das ordens religiosas, no
conflito entre a Igreja e o Estado e no corte das relações com a Santa Sé.
Depois de alguns avanços e recuos da época liberal, a perseguição religiosa é
retomada por Joaquim Augusto de Aguiar que a 28 de Maio de 1834 decreta a
extinção das Ordens Religiosas, a expropriação dos seus bens e a sua
incorporação imediata nos bens da Fazenda nacional. Por obra deste decreto,
cerca de quatro centenas e meia de conventos, casas, mosteiros, hospícios e
colégios pertencentes às ordens religiosas foram anexados pelo Estado e
posteriormente vendidos pela Junta de Crédito Público. “Para além das razões
de ordem moral e religiosa (abuso e relaxação de costumes, inconvenientes
provenientes da emancipação e subterfúgio das ordens regulares à autoridade
eclesiástica), invocavam-se também razões de ordem política (intromissão e
ingerência das ordens religiosas nos negócios civis e políticos, fazendo muitos
dos seus membros oposição activa ao liberalismo e comprometendo-se com o
Miguelismo) e sobretudo motivos de ordem económica (o celibato impedia o
aumento da população, de proprietários e da riqueza; os bens de mão morta
impediam a sua transacção e que as terras fossem possuídas e cultivadas
afectando o desenvolvimento da indústria e do comércio).
Simultaneamente procedeu-se à desamortização dos bens eclesiásticos em
geral, submetendo ao direito comum os bens de mão morta legados à Igreja.
Com a abolição dos dízimos, a expropriação das ordens religiosas e a
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desamortização dos bens eclesiásticos, a Igreja foi sendo privada ao longo do
século XIX da maioria dos seus bens, em nome da defesa da propriedade e da
liberdade económica
A sociedade laiciza-se, o ensino é entregue à sociedade civil. Na França a lei
Combes de 1904 interditará o ensino aos membros das congregações religiosas e
muitos desses membros serão exilados.
Apesar disso, pouco a pouco começa a verificar-se a restauração das antigas
ordens religiosas, a começar pelos Jesuítas e assiste-se a um grande florescimento
de novas congregações religiosas de votos simples. Efectivamente, a maior parte
dos institutos religiosos modernos apareceram neste século.
Os motivos deste fenómeno encontra-os o professor Artur Villares446 num
conjunto de factores da religiosidade popular que os institutos religiosos
souberam canalizar: a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, acelerada com Pio
IX, o dogma da Imaculada Conceição, promulgado em 1854 e a devoção ao
Santíssimo Sacramento, protagonizada por Pio X, o papa da comunhão das
crianças e dos congressos eucarísticos internacionais. Efectivamente uma boa
parte destes institutos inspiram-se na espiritualidade do Coração de Jesus e na
devoção à Imaculada Conceição.
Por sua vez, em 1841 restabeleciam-se as relações diplomáticas com a Santa Sé
e em 1848 firmava-se a Concordata. Depois da Regeneração, como diz Hintze
Ribeiro, na introdução ao decreto de 18 de Abril de 1901, foram-se introduzindo
“comunidades e congregações religiosas, noviciados e profissões, apostolados e
catequeses, escolas e instituições de toda a ordem, sem autorização que as
legitime, sem fiscalização e até sem conhecimento do Estado, fora da jurisdição
ordinária da autoridade eclesiástica, fora dos preceitos que em Portugal regem
associações e indivíduos, nacionais e estrangeiros”.
Manda porém a verdade que se diga, que, apesar da proibição pela legislação em
vigor, muitos o iam fazendo com autorização do Governo. O poder político
acabou por tolerar a sua presença, sendo esta apoiada “por alguns membros da
família real, pela Nunciatura, alto clero e por certos extractos da aristocracia e da
burguesia”.447 Foi um movimento que, embora discreto e cauteloso, foi
aumentando ao longo do século XIX, com um impacto crescente no ensino e na
saúde. Desde 1848 a 1898 regressaram ou entraram em Portugal 24 institutos
religiosos, nomeadamente os Jesuítas (1848), os Lazaristas (1857) e os
Espiritanos (1867).
Por sua vez, a pressão anti congreganista foi-se alimentando na imprensa, no
Parlamento e nos comícios políticos até que em 1901 o caso “Calmon”
desencadeou uma onda de calúnias e insultos na imprensa contra o clero,
recolhimentos, colégios e instituições católicas.
Pressionado pelos acontecimentos, Hintze Ribeiro publicou a 11 de Março de
1901 um decreto em que pede aos governadores civis para investigarem da
446
447
As congregações religiosas em Portugal (1901-1920) p. 21
NETO, Vítor. O Estado, a Igreja e a Sociedade em Portugal (1832-1910)
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existência de instituições nos seus territórios que se destinem à vida monástica
ou estabelecimentos pertencentes a religiosos, os quais a existirem, deviam
apresentar os estatutos com que tivessem sido fundados; mais pedia para se
confirmar se nas casas religiosas se dava admissão a ordens sacras ou noviciados
monásticos, coisa que estava proibida pelo decreto de 5 de Agosto de 1833. Se
não apresentassem os estatutos dentro de uma semana, deveriam ser
imediatamente suprimidos. Deste inquérito resultou ficar a saber-se que
realmente existiam no país:
- estabelecimentos de ensino, caridade, beneficência, propaganda e associações
missionárias, dirigidas por congregações religiosas;
- casas onde emitiam votos de clausura, etc.
Diante desta informação, Hintze Ribeiro, por decreto de 18 de Abril de 1901
afirmava que estes estabelecimentos não deviam ser suprimidos mas
regularizados. E a regularização consistia na prévia autorização do Governo. Para
isso, estas associações deviam:
- apresentar os seus estatutos para serem aprovados e publicados no Diário do
Governo;
- limitar-se a actos de beneficência, caridade, educação, ensino, propaganda da
fé ou evangelização no Ultramar:
- a clausura, o noviciado, a profissão ou os votos continuavam interditos:
- as instituições deviam subordinar-se no campo espiritual às autoridades
eclesiásticas ordinárias portuguesas e no campo material às leis do país e
superintendência do estado;
- a direcção deveria ser portuguesa, excepto se o instituto fosse constituído
apenas por cidadãos estrangeiros;
- os institutos de educação e ensino deveriam estar em sintonia com a
legislação referente ao ensino público, os institutos missionários reger-se-iam,
por preceitos especiais tendentes a assegurar os benefícios da propagação da fé e
civilização nas possessões portuguesas.
Caso estas normas não fossem cumpridas, a comunidade devia ser dissolvida e
a obra encerrada.
Foi à sombra deste decreto que se vieram a registar 56 congregações entre 1901
e 1910, agora transformadas em “associações religiosas”, 47 femininas e 9
masculinas. Entre elas, a Associação dos Missionários do Espírito Santo, cujos
estatutos foram aprovados e publicados no Diário do Governo.
O período que se seguiu a este decreto continuou, no entanto, marcado por
tensões e por vezes conflitos, entre católicos e republicanos, entre congregações
religiosas que procuravam defender o seu espaço e militantes anti-clericais que
lhes não davam tréguas.
Foi neste contexto de instabilidade e turbulência que a Província Espiritana se
foi desenvolvendo e consolidando, mercê sobretudo dos seus colégios e da sua
obra missionária no Ultramar.
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Portugal e a hora da África
O século XIX é o século da “redescoberta”, conquista e colonização da África.
Durante este século a África será o pólo de convergência e a causa de todas as
divergências dos países europeus.
Nos meados do século, Portugal tinha efectivamente direitos reconhecidos no
continente africano. Mas à posse de direito não correspondia uma ocupação
efectiva. A ocupação efectiva limitava-se às zonas do litoral, onde estabelecia as
fortalezas militares. Tinha, é certo, alguns postos no interior, mas o território
não estava realmente ocupado. As suas relações com os povos do interior eram
raras e distantes. Havia povos que se consideravam quase independentes. As
próprias forças militares dos presídios, por vezes, eram constituídas só por
nativos e pouca garantia ofereciam à ocupação portuguesa.
A descoberta da costa africana foi seguida da descoberta da Índia e das suas
especiarias e do Brasil com as suas matérias primas e a maior rentabilidade
económica destes produtos levou Portugal a desinteressar-se pela África. Os
portos africanos tornaram-se sobretudo portos de escala para os barcos que
demandavam as Índias. O interesse pela África nos séculos seguintes foi ainda
concebido em função desta nova estratégia comercial: o comércio dos escravos
com que se alimentavam os engenhos e as mina de ouro da América.
Um outro factor que explica esta situação das colónias portuguesas resulta do
domínio da Espanha sobre Portugal a partir de 1580. Este domínio levou
Portugal para uma série de guerras com países com quem a Espanha estava
envolvida, como a Inglaterra, França e Países Baixos e as colónias portuguesas
passaram a ser alvo da cobiça desses países. O desastre da “Armada Invencível”
desmantelou por completo as nossas forças navais.
Outra causa há que procurá-la na instabilidade política de Portugal: as invasões
francesas, a ida da família real para o Brasil, as lutas liberais monopolizaram por
completo a atenção dos governantes e as colónias foram praticamente
esquecidas.
Aconteceu, porém, que por meados do século, a Europa se começou a
interessar a sério pela África. Começaram ainda no século XVIII a série de
viagens e explorações que visavam desvendar os mistérios desse continente até aí
esquecido e adormecido no esquecimento da Europa. Com as explorações
começou a corrida da Europa para a África. As viagens de exploração levaram à
criação de Sociedades de Geografia por toda a parte, as quais tinham por alvo
sobretudo o estudo da geografia, da fauna e da flora e das culturas africanas, criou
centros de estudo e investigação científica e originou a fundação de
estabelecimentos comerciais e feitorias por conta dos governos que subsidiaram
estas viagens. À corrida científica seguiu-se a corrida comercial e finalmente a
corrida militar.
Esta corrida à África criou naturalmente rivalidades, conflitos e competições
entre as diferentes potências europeias que fizeram deste período africano, um
período internacional particularmente agitado.
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Foi assim que portugueses, ingleses, alemães, belgas se lançaram pela África dentro
desventrando-a em todas as direcções. A Conferência de Berlim em 1885, culmina
toda esta competição, procurando dar cobertura legal a esta invasão. Este tratado feito
em nome da civilização da África, foi sem dúvida, o tratado da exploração desse
continente. Lembremos algumas das suas conclusões mais significativas:
- A ocupação efectiva do território para o direito à sua posse, em contraposição
com o direito histórico;
- A supressão da escravatura e do tráfico dos negros por parte das potências
que exerçam soberania sobre esses territórios;
- A liberdade de consciência e a tolerância religiosa para todos os cultos e das
estruturas necessárias ao exercício desses cultos;
- A protecção aos missionários, sábios e exploradores;
- A protecção a todas as instituições e empresas religiosas, científicas ou
humanitárias que procuram a promoção dos indígenas;
- A defesa das populações indígenas e o melhoramento das suas condições de
vida morais e materiais;
Este Tratado obrigou Portugal a voltar-se para a África, a preparar expedições
científicas, a promover o desenvolvimento das suas colónias e a tentar fazer a
ocupação do território por todos os meios ao seu alcance: estabelecimento de
colónias, missões religiosas e campanhas militares, etc.
Desta situação nasceram naturalmente susceptibilidades para com os
estrangeiros, inclusive missionários, que tiveram não pouco impacto na história
da missão espiritana, que ao princípio dependia quase completamente da França.
A ideologia do Movimento Republicano
O Partido Republicano Português foi fundado em 1871, elaborado à base das
ideias positivistas colhidas em Augusto Conte, cozinhadas na Conferência do
Casino e apresentava-se como vector alternativo não só à monarquia como
também à igreja. A proclamação da República em 1910 fez-se assim acompanhar
das maiores violências não só contra a monarquia como contra o clero e as
classes religiosas.
A primeira imagem de marca da ideologia do Partido republicano é o seu antijesuitismo. Implantada a República, a primeira iniciativa que o Governo tomou
foi deliberar contra as congregações religiosas. As ordens e congregações
religiosas são novamente extintas, a legislação do Marquês de Pombal, que
expulsava os Jesuítas é reposta e logo a seguir é reactivado o decreto de 28 de
Maio de 1834 que suprimia todos os “conventos, mosteiros, colégios, hospícios,
e quaisquer casas de religiosos de todas as ordens regulares, fosse qual fosse a sua
denominação, instituto ou regra”. Por outro lado, decretava nulo e contrário ao
espírito e à letra dos mencionados diplomas, o artigo 4º do Decreto de Hintz
Ribeiro de 18 de Abril de 1901, que autorizava as instituições ou congregações
religiosas no país, quando se dedicassem exclusivamente à instrução,
beneficência, propaganda da fé ou civilização no Ultramar.
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Na sequência destas decisões, não só os jesuítas como todos os membros das
congregações religiosas, conventos, colégios, associações, missões ou outras
casas pertencentes às ordens religiosas foram expulsos do país os que recusassem
a viver secularmente no país, outros espancados e vaiados, levados muitos deles
para as prisões, e aí sujeitos a interrogatórios e exames na pretensão de provar
uma propensão congénita para o crime.
A esta onda de desacatos seguiram-se medidas legislativas do Governo
Provisório, destinadas, na intenção confessa de Afonso Costa, ministro da
Justiça, a acabar com a religião no espaço de duas décadas. Os bens das ordens
religiosas deviam ser avaliados e arrolados; os dos jesuítas eram desde logo
pertença do Estado; os outros ficavam ou na posse ou na tutela do Estado, vindo
a ser na quase totalidade incorporados na Fazenda Nacional.
“Foi proibido o uso de vestes talares e várias medidas foram tomadas para
laicizar a vida pública; abolição de todos os juramentos de caracter religioso;
supressão do ensino da religião nas escolas primárias; abolição dos Estatutos da
Universidade de Coimbra de todas as obrigações religiosas e extinção da
Faculdade de Teologia com a anulação das matrículas; abolição dos dias
consagrados; dissolução das mesas administrativas das irmandades e confrarias e
sua substituição por novas comissões; introdução do divórcio; extinção da
cadeira de Direito Eclesiástico na Faculdade de direito de Coimbra; proibição na
participação de cerimónias religiosas aos membros das Forças Armadas;
determinação da exclusiva validade civil do contrato matrimonial; revogação dos
artigos do Código do Direito Penal que atribuíam pena de prisão a quem faltasse
ao respeito à religião e privava de direitos políticos os que apostatassem ou
renunciassem à religião; promulgação da lei do registo civil.
Para além desta onda legislativa o governo provisório lançou mão de várias
medidas administrativas: encerramento das sedes das várias organizações
católicas, depois de muitas delas terem sido assaltadas, encerramento de orgãos
de imprensa católica, prisão de padres (de Fevereiro a Julho 170 padres passaram
pelos calabouços); proibição da realização de cerimónias religiosas fora dos
recintos a isso expressamente destinados, sem autorização oficial.
Para com os bispos a actuação foi de forte repressão. Os bispos publicaram
uma pastoral colectiva sem prévia requisição do beneplácito, em que
manifestavam as suas preocupações; cautelosamente reconhecem o princípio dos
poderes constituídos e obediência dos católicos em tudo o que não for contrário
às leis de Deus e da Igreja.
Um mês depois da revolução os bispos enviam ao Governo uma “nota
colectiva” em que defendem a necessidade de qualquer nova lei sobre a matéria
religiosa garantir o livre exercício do culto e reconhecer a personalidade jurídica
da Igreja Católica quanto à posse e gestão dos seus bens e decidem publicar uma
pastoral colectiva, “a primeira na história do episcopado português,
considerando que não podem nem devem ficar silenciosos e impassíveis em tão
excepcional conjuntura”. O posicionamento dos bispos pode resumir-se nas
seguintes ideias-força:
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- acatamento das novas instituições, reafirmando a doutrina tradicional de
respeito à autoridade social e aos poderes constituídos, preconizando a
obediência dos católicos em tudo o que não for contrário à consciência e
apelando à sua participação em tudo o que seja em benefício da pátria;
- denúncia do que considera ser não apenas o carácter católico mas anti-católico
da nova legislação governamental, atendendo ao peso dominante dos católicos
em Portugal;
- desaprovação de todas as medidas que atingem a liberdade e autoridade da
Igreja Católica nos diversos campos da vida social, contrariando os próprios
princípios políticos proclamados pela República;
- apelo à unidade de todos os católicos, sob a direcção da hierarquia, lembrando
os seus deveres em relação à vida pública e política, na defesa dos interesses da
religião e da Igreja católica;
- recomendação aos padres para se concentrarem como padres nos seus deveres
essenciais de doutrinação cristã e como cidadãos se empenharem nas obras
sociais que beneficiem o povo, insuflando-lhes o espírito do cristianismo;
- reafirmação da identidade católica, em obediência directa ao Papa em contraponto
com qualquer projecto de igreja nacional ou sociedade religiosa particular.
Esta carta acabou por ser proibida, tendo o bispo do Porto D. António Barroso
sido destituído da sua diocese.
A lei da separação levantou uma série de problemas devido à sustentação do
clero mas acabou por unir o clero.
Entre 1911 e 1913 a hierarquia católica resistiu como pôde à aplicação do
decreto da separação da Igreja do Estado particularmente nos aspectos que
considerava mais graves, nomeadamente a obrigatoriedade de instalação de
associações cultuais. Como consequência desta atitude os bispos foram
desterrados para fora das suas circunscrições.
Afonso Costa proibiu a sua leitura nas igrejas e ameaçou destituir os
desobedientes. D. António Barroso foi, por isso, expulso da sua diocese e a sua
sede declarada vacante.
“A promulgação da Lei da Separação da Igreja e do Estado de 20 de Abril de
1911 veio completar este quadro e provocou a ruptura das relações diplomáticas
com o Vaticano e os protestos do Papa e dos bispos, que se insurgiram sobretudo
contra a espoliação dos bens da Igreja, contra o desrespeito da autonomia
eclesiástica em assuntos religiosos e da liberdade religiosa. Entre Novembro de
1911 e Junho de 1912 a quase totalidade dos bispos foi desterrada das suas
dioceses e muitos padres incriminados”.448 Fazia parte desta lei o artigo 189 que
concedia ao Governo autorização para reformar os serviços do Colégio das
Missões Ultramarinas, de modo que a propaganda civilizadora das colónias
portuguesas, que ainda tivesse de ser feita por ministros da religião, fosse
confiada exclusivamente ao clero secular português, especialmente preparado
para esse fim em institutos do Estado.
448
CRUZ, Manuel Braga da - in Dicionário da História Eclesiástica de Portugal vol II p. 405-406
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Para aplicação destas leis foram nomeadas duas comissões: a Comissão
Jurisdicional dos bens das Extintas Congregações Religiosas e a Comissão
Central da Lei da Separação.
Um dos instrumentos mais eficazes da República contra as congregações
religiosas, por parte do Estado, foi a recolha da documentação existente nas casas
encerradas. Livros de actas, catálogos de membros, cartas que comprovavam o
carácter de verdadeira congregação religiosa, tudo isso possibilitou ao Estado a
possibilidade de se defender das reclamações que vieram a fazer-se inclusive nos
tribunais internacionais. Desde Junho de 1911 eram enviados para o Quelhas
pela Comissão Jurisdicional, “caixotes, malas, cestos, carroças, etc. contendo
livros, papéis, estátuas, retábulos, quadros, móveis e outros objectos variados,
vindos de diversos conventos de todo o país”. Com este espólio veio a ser criado
em 1917 o Arquivo das Congregações, composto por 207 maços, além da
documentação espalhada totalmente desorganizada, bem como o Museu e a
Biblioteca das Congregações com 1235 livros.
A reconquista cristã da sociedade
“A experiência da Igreja Católica com um programa intencional de laicização das
principais instituições, que se vinha definindo desde a instauração da Monarquia
Constitucional e o clima de guerra religiosa que se desenvolveu na sociedade com a
instalação do novo regime, acabou por despertar o espírito militante dos católicos e
por determinar a progressiva recomposição interna do catolicismo português. Essa
mobilização verificou-se não apenas nas zonas rurais do Norte do país, em reacção
contra as perseguições e ataques ao sentimento religioso das populações, mas também
a nível dos sectores mais dinâmicos do movimento católico, envolvendo figuras de
prestígio social e cultural, empenhadas em encontrar novas respostas, enfrentando os
ataques de que a Igreja Católica era alvo”.449
De facto, desde finais do século XIX que se vinha desenvolvendo o chamado
catolicismo social, que procurava restaurar a ordem social cristã, com Círculos
Católicos Operários e outras iniciativas.
Por sua vez, os bispos, depois de várias interferências e protestos junto do
Governo, inclusive com a publicação pela primeira vez de uma pastoral colectiva
que não produziu o efeito desejado, e acabou até na expulsão das suas dioceses,
voltam-se para o povo português, publicando a 10 de Julho de 1913 um “Apelo
do episcopado aos católicos portugueses”, conhecido por “Apelo de Santarém”,
do nome da cidade onde foi assinado. Será este documento que vai abrir uma
nova fase na recomposição do catolicismo português e à reorganização do
movimento católico e que culminará com a realização do Concílio Plenário
Português em 1926 e com a fundação da Acção católica em 1933.
É um período que se caracteriza pela “união dos católicos e pela sua
mobilização em ordem a uma intervenção pública, na defesa dos interesses da
449
FONTES, Paulo de Oliveira - O catolicismo português no século XIX. In História religiosa de Portugal vol III p. 137
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religião e da Igreja contra as leis do divórcio, da proibição do ensino nas escolas,
das limitações a práticas e manifestações públicas do culto católico. A
organização da Acção Católica começava a apresentar-se como o grande pólo
catalizador da união e da mobilização dos cristãos. Unir os católicos, congregar
esforços e iniciativas já existentes mas dispersas, para reafirmar a dimensão
social, ao mesmo tempo progressiva e integradora do catolicismo, ou seja,
organizar a acção católica de que nenhum sector da sociedade fosse excluído, era
o objectivo. Nela se deviam integrar ambos os sexos, quaisquer idades, todas as
profissões. O objectivo último da Igreja Católica era restaurar a sociedade
portuguesa segundo o espírito de Jesus Cristo, restabelecer a civilização cristã
em união com o Vigário de Cristo na terra. A luta a travar era contra a laicização
da vida social e privatização da fé, recuperar o lugar social a que a Igreja tinha
direito e não a relegar para o foro da vida privada.
A “União Católica surge assim como uma organização geral dos católicos, com
âmbito paroquial, diocesano e nacional, procurando reunir todas as associações
e todas as agremiações católicas anteriores”. Daqui nascerá o Centro Católico
Português, que é o primeiro sinal da restauração da sociedade cristã. E depois, é
toda uma série de movimentos que emergem, como o CADC de Coimbra,
movimentos de juventude católica, Cruzada Eucarística, explosão da
religiosidade popular, como a devoção à Eucaristia, a construção de santuários
como o Sameiro, Senhora da Rocha e Bom Jesus do Monte e finalmente e
sobretudo as aparições de Fátima em 1917.
Tudo isto se transforma numa forma de resistência e mobilização do espírito
religioso das populações e simultaneamente em promessa de salvação nacional
que a República Nova de Sidónio Pais (1917-1918) procura encarnar.
O Concílio Plenário Português em 1926 será um ponto de chegada de toda esta
caminhada da união dos católicos na restauração religiosa da Pátria contra o “laicismo
oficial imposto, como se Portugal fosse exclusivamente constituído por ateus”.
Com o advento do Sidonismo, começam finalmente a surgir as primeiras
medidas por parte do Governo que anunciam uma mudança de rumo: anulação
das penas de desterro aplicadas aos bispos, das penas de interdição de residência
nas paróquias a muitos párocos, da proibição do culto em edifícios do Estado,
autorização de os estabelecimentos de assistência de receberem doações,
heranças e legados. Revê-se a Lei da Separação, abolindo a necessidade de licença
para o exercício do culto a certas horas, a fiscalização do Estado sobre os
seminários, o Beneplácito, a proibição de vestes talares, etc. Reabrem ao culto
muitas igrejas anteriormente encerradas. O próprio Sidónio Pais assiste a
cerimónias religiosas pelos mortos na guerra e pela vitória aliada. Reatam-se as
relações com o Vaticano em Julho de 1918. José de Almeida prossegue na sua
presidência a tentativa de aproximação com a Igreja.
É neste contexto que se insere o “Colégio – Jardim” da Rua de Santo Amaro
e se começa a preparar a restauração da Província Portuguesa. O colégio
“ponderada a situação actual da sociedade portuguesa pelos fundadores e
proprietários, destinava-se a ser um abrigo das classes conservadoras, um
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produto contra o espírito de desorganização e imoralidade que se nota no país
e que domina nos liceus e em quase todas as escolas da capital. O Colégio –
Jardim teria ainda em vista formar um elite nacional que fosse um traço de união
entre a geração que acaba vítima da força da desordem a que não soube resistir e
a geração que desponta, sem dúvida cheia de boa vontade e espírito patriótico”.
A formação do colégio assentava em dois pilares, em que se baseava a
restauração de um novo modelo de sociedade: Religião e Pátria. O amor e
devoção a Portugal, o espírito tradicional e conservador, o respeito pela nossa
história e pelos seus pergaminhos, o ensino da história pátria e da literatura
nacional eram valores a salvaguardar.
A mística da “dilatação da Fé e do Império”
A Lei da separação da Igreja e do Estado, promulgada a 20 de Abril de 1911,
estabelecia que a “propaganda civilizadora” que tivesse de ser realizada por
ministros da religião nas colónias, fosse feita apenas pelo clero secular português,
especialmente preparado para este fim em instituições do Estado. Previa-se no
mesmo diploma, a reorganização do Colégio das Missões Ultramarinas e a
extinção ou substituição das igrejas e das missões estrangeiras, sem prejuízo das
obrigações assumidas por Portugal em convenções internacionais quanto ao
ingresso de missionários em África.
A 22 de Novembro de 1913, Almeida Ribeiro, pelo decreto 233, aplicou os
princípios da Lei da Separação aos territórios portugueses de África e criou as
“missões civilizadoras”, formadas exclusivamente por leigos, em que se excluía a
dimensão religiosa.
No entanto, as missões religiosas de qualquer confissão, admitiam-se, desde
que fossem exclusivamente compostas por portugueses europeus e o número
dos seus membros não fosse superior a três. Estas missões podiam ter o apoio
oficial, mas deviam submeter à apreciação do Governador da Província o seu
programa de ensino e de acção civilizadora e conformar-se com as alterações que
a autoridade lhes introduzisse. As missões católicas já existentes, se não se
adequassem a estes princípios no prazo de seis meses, não teriam direito a
qualquer apoio do Estado. A 15 de Setembro de 1917 criou o Instituto das
Missões Coloniais, no antigo Colégio de Cernache do Bonjardim para a
formação dos missionários civilizadores leigos. O empobrecimento que estas
medidas causaram às missões levaram a uma progressiva mudança das
mentalidades. Primeiro foi o governador geral de Moçambique que em 1914
suspendeu as principais disposições do decreto de 1913, mandando dar às
missões os subsídios habituais, medida que em 1919 foi legitimada pelo ministro
das Colónias que autorizou os governos ultramarinos a concederem subsídios
aos institutos religiosos, embora com certas condições.
Em 1919, outro ministro das Colónias, João Soares, estabelece as doze
primeiras missões laicas, saídas de Cernache, mas autoriza a formação de missões
religiosas, devendo os seus superiores e a maioria do pessoal ser português.
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Neste ano de 1919, deram-se passos decisivos para a revisão da legislação
republicana a respeito das missões. Cinco padres seculares, vindos de
Moçambique, iniciaram uma vasta campanha a favor das missões, ajudaram a
criar um ambiente favorável às missões católicas no ultramar, a que foi sensível
o ministro das Colónias Rodrigues Gaspar. Este ministro dispôs-se a consultar
os missionários, nomeadamente o P. José Maria Antunes, que representava os
Missionários do Espírito Santo e o P. Rafael da Assunção, franciscano,
missionário em Moçambique. Como resultado destas conversações foram
publicados o decreto de 24 de Dezembro de 1919 e o de 26 de Agosto de 1922.
O primeiro assegura o recrutamento dos missionários em Portugal, concedendo
aos diversos grupos a faculdade de nomearem um procurador para abrir casas de
estudo e autorizando as missões a empregarem 20 por cento dos subsídios
recebidos na formação do pessoal português.
O segundo decreto equipara os missionários a funcionários do Estado que os
aceitava como seus agentes civilizadores, embora dependessem no seu ministério
da autoridade eclesiástica. Em cada colónia onde existissem estas missões
civilizadoras religiosas, deveria haver um director das missões, que seria o
superior hierárquico dos missionários, a quem competia a orientação geral das
missões. Com este decreto, as missões católicas ficavam inseridas no património
jurídico português, medida que acabou por ser aplaudida pelo parlamento e que
consagrou a superioridade das missões religiosas sobre as missões laicas.
Com o advento do Estado Novo consolidou-se e desenvolveu-se a dimensão
missionária. Logo em 1926, João Belo, com a colaboração dos principais
responsáveis das missões, promulgou o Estatuto Orgânico das Missões Católicas
Portuguesas de África e Timor em que reconhecia a personalidade jurídica das
missões e as isentava de quaisquer contribuições, concedendo-lhes gratuitamente
os terrenos necessários e prevendo a atribuição anual de um subsídio para as
casas de formação dos missionários. Os objectivos das missões ficaram
claramente delineados: sustentar os interesses do Império Colonial Português e
promover o seu progresso moral, intelectual e material, por meio da instrução e
educação, abandono das superstições, uso exclusivo da língua portuguesa e
nativa, ensino agrícola, pecuário e profissional, assistência sanitária, observações
meteorológicas e publicações geográficas, históricas e económicas. Foram
estabelecidos vencimentos para os prelados e missionários, pensão vitalícia
equivalente à dos funcionários públicos e isenção do serviço militar.
Em consequência deste diploma foram regressando as congregações religiosas
expulsas e criando-se condições para a normalização da actividade missionária.
Em 1930, o Acto Colonial, destinado a substituir a V Constituição de 1911,
integrava as missões na acção civilizadora do país: “As missões católicas
portuguesas no Ultramar, instrumentos de civilização e influência nacional e os
estabelecimentos de formação de pessoal para o serviço delas e do padroado
Português, terão personalidade jurídica e serão protegidos e auxiliados pelo
Estado como instituições de ensino”. Por outro lado, iniciam-se as negociações
que levaram a um acordo com a Santa Sé em 1928 sobre a situação do padroado,
734
Adélio TORRES NEIVA
esforço que culminaria com a Concordata e o Acordo Missionário entre
Portugal e a Santa Sé em 1940. Quase um ano depois de assinado o Acordo
Missionário, a 5 de Abril de 1941, com o fim de actualizar o estatuto Orgânico
de 1926, era publicado um extenso diploma chamado “Estatuto Missionário”.
O Acordo Missionário e o Estatuto Missionário fazem um todo e é à luz destes
dois documentos que se deve equacionar a situação jurídica das missões nas colónias
portuguesas a partir dessa data. Eis algumas das suas principais linhas de força:
- o reconhecimento por parte do Estado da personalidade jurídica às dioceses
e outras circunscrições missionárias, aos institutos religiosos do ultramar, assim
como aos institutos missionários estabelecidos na metrópole (art.8°);
- as missões católicas são consideradas instituições de utilidade imperial e
sentido eminentemente civilizador (Art.2°), podendo expandir-se livremente
para exercer as formas de actividade que lhe são próprias (Art.° 15);
- reconhece-se à Igreja o direito de propriedade, concedendo-lhe facilidade na
sua utilização; os bens e objectos eclesiásticos são isentos de impostos e direitos
alfandegários em larga medida (art. 53 e 65);
- a divisão eclesiástica das colónias portuguesas é feita por dioceses e
circunscrições missionárias (vicariatos e prefeituras apostólicas) umas e outras
criadas pela Santa Sé de acordo com o governo (art° 1°);
- em princípio todo o pessoal missionário deve ser de nacionalidade portuguesa
(Art.15°), não se excluindo, no entanto, os estrangeiros, se não houver
portugueses em número suficiente, sendo para isso necessário o assentimento do
governo;
- os bispos e vigários apostólicos devem ser todos de nacionalidade portuguesa
(Art. 3°), devendo a sua nomeação ser precedida de uma prenotificação oficiosa
do governo:
- a Igreja tem a faculdade de fundar e dirigir escolas para os indígenas e
europeus, colégios, institutos de ensino nos diversos graus, seminários, etc, (Art.
15°);
- o ensino da língua portuguesa é obrigatório nas escolas missionárias, ficando
plenamente livre, em harmonia com os princípios da Igreja o uso das línguas
indígenas no ensino da religião católica (Art. 16°).
Em conclusão, fica bem claro: 1° - o papel de utilidade nacional e civilizador
dos institutos missionários; 2° - a perspectiva nacional está também patente na
regulamentação da entrada dos missionários estrangeiros.
Este Acordo Missionário provocou um grande desenvolvimento dos
institutos missionários, que se vão estabelecendo cada vez mais tanto na
Metrópole como no Ultramar.
Como conclusão deste capítulo, relemos alguns aspectos da mentalidade
missionária, condensados por Nuno Gonçalves450: “No período que vai
praticamente até aos anos 60, o trabalho missionário está associado, quase
450
GONÇALVES, Nuno o-c. p. 388.
Correntes de pensamento subjacentes ao itinerário histórico da Província
735
unanimemente, à ideia de colonização, numa convergência entre portuguesismo
e cristandade que via a missão evangelizadora da Igreja como indissociável da
acção civilizadora de Portugal. A “dilatação da fé e do Império” é o lema que
sintetiza o discurso político e eclesial e que, ao mesmo tempo, expressa um ideal
em que o país facilmente se revê. À semelhança do que já tinha acontecido
durante as últimas décadas da monarquia, reconhece-se a importância das
missões católicas pela sua presença estável entre as populações, para além desse
interesse estratégico, a evangelização e a acção civilizadora são encaradas como
parte integrante das obrigações dos Portugueses para com Deus, para com a
humanidade considerada civilizada e para com os próprios antepassados”.
Era, portanto, uma mentalidade missionária sob o signo da portugalidade.
A nova imagem da missão: da portugalidade à eclesialidade
Nos anos 60 do século XX, um conjunto de factores de que salientamos o
Concílio Vaticano II, a Revolução do 25 de Abril, a democratização da sociedade
portuguesa e a independência das colónias, veio provocar uma viragem no
conceito de missão. Esta passa, como diz Nuno Gonçalves, do signo da
portugalidade para o signo da eclesialidade.
O Vaticano II veio situar a missão por um lado no coração da Igreja e por outro
como incarnação do evangelho na cultura de cada povo (inculturação). Nesta
perspectiva é evidente que a portugalidade deixava de ter sentido. Por sua vez,
em Portugal, as lutas dos territórios ultramarinos pela independência também
chamadas guerras coloniais, vieram levantar sérias objecções à colonização e à
presença de Portugal nas colónias. O direito à autodeterminação dos povos,
consagrado pelo 25 de Abril, veio evidentemente modificar radicalmente o
panorama da actividade missionária. As igrejas locais tornaram-se autónomas e
seriam elas a conduzir os destinos da própria caminhada eclesial e missionária. A
igreja local torna-se protagonista da missão e o missionário é colocado ao seu
serviço, na dependência dessas igrejas.
Foi uma conversão que levou o seu tempo a fazer e que não aconteceu sem tensões
e conflitos e sem a desistência de um bom número de missionários portugueses.
Mesmo entre os missionários houve rupturas e conflitos por vezes violentos.
“A transição democrática da sociedade portuguesa significou não só a passagem
de um regime autoritário para um regime democrático, mas também e porventura
sobretudo, a transição de uma solução ultramarina para uma integração
europeia”.451 A mentalidade anti-colonialista que ia ganhado terreno por toda a
Europa levara a Constituição Portuguesa a trocar o nome de “colónia” pelo de
“província ultramarina”. Como consequência a ideia de “império colonial” deu
lugar à concepção de “nação portuguesa multi-racial e pluri-continental”.
No entanto, a doutrina do magistério eclesiástico punha cada vez mais em
questão o conceito colonial de missão e uma nova mentalidade se foi formando
451
CRUZ, Manuel Braga . o-c-.
736
Adélio TORRES NEIVA
para cimentar cada vez mais a missão em bases teológicas e não políticas. A
obrigação missionária começou a ser cada vez menos fundada em razões
históricas, para se afirmar como exigência baptismal.
O Concílio Vaticano II veio consagrar definitivamente esta nova leitura da
missão. O 25 de Abril veio provocar uma certa crise na motivação missionária.
Para alguns, o encerramento do ciclo do império acarretava o termo do ciclo da
missão. Mas o grande esforço da Igreja e dos institutos missionários apostou
noutra direcção: ajudar a descobrir as exigências desta nova imagem da missão.
Multiplicaram-se os cursos e semanas de doutrinação para “relançar a missão
num serviço desinteressado aos povos africanos que festejavam a sua maioridade
política, afirmando a intenção de participar no seu entusiasmo, mas também nas
suas fraquezas e insegurança”.
O processo da descolonização, sobretudo em Angola e Moçambique, veio
porém, pôr a lume tensões tribais que levaram a um longo período de guerra e
insegurança, em que a missão ganhou em testemunho mas perdeu em actividade
e eficácia. Muitas estruturas missionárias foram destruídas, vários missionários
caíram vítimas da violência. No entanto, outros porém mantiveram uma missão
de presença e comunhão com o povo, profundamente evangélica, em que as
raízes da fé emergiram em toda a sua transparência.
Com o regresso da paz e a estabilidade política, a esperança reacendeu-se e
novos tempos se anunciam para a actividade missionária nesses países.
Particularmente significativo é o empenho de voluntários leigos, que cada vez
mais se abrem para experiências missionárias, o que deixa entrever um futuro
diferente para a dimensão missionária das comunidades cristãs.
737
Capítulo 79
A Espiritualidade da Província
A
espiritualidade de uma instituição é um somatório de várias
componentes: uma inspiração original, o itinerário histórico que a
instituição percorreu, os contextos condicionantes em que se situa, o
quadro eclesial, as correntes de pensamento, a cultura envolvente, etc. É por isso
que cada província espiritana tem uma espiritualidade própria, embora
evidentemente, todas se identifiquem nos valores de fundo, os referenciais onde
todas bebem a sua inspiração.
O nome que recebemos
Na linha da fé não é indiferente o nome que se recebe. Em geral na tradição bíblica,
o nome corresponde a uma missão que se recebe; pelo nome, a pessoa ficava unida
ao Senhor para uma determinada missão. Assim, na economia da salvação, a cada um
é dado o nome que corresponde à missão que lhe é confiada; é o nome que nos define
e identifica no mistério do reino; ele é o nosso bilhete de identidade: revela a missão,
o espírito, a maneira de ser igreja, a nossa inserção na história.
O nome que os Espiritanos receberam foi o de Congregação do Espírito Santo
sob a protecção do Imaculado Coração de Maria. O Espírito Santo e Maria não
são apenas duas entidades que os fundadores juntaram como pólos de devoção;
os dois estão unidos no mesmo mistério: o mistério da incarnação de Jesus
Cristo. “O Espírito Santo descerá sobre ti e o Altíssimo te cobrirá com a sua
sombra” – disse o anjo a Maria no momento da Anunciação. O coração de Maria
é o templo, onde pela força do Espírito, Cristo se faz história. A partir deste
momento o Espírito Santo e Maria não mais se podem separar. Assim, este nome
situa os Espiritanos na nascente do mistério da missão da Igreja. Não se trata,
portanto, de adoptar simplesmente duas devoções: o mistério do nome é muito
mais que uma devoção. Este nome significa que os Espiritanos foram
congregados para revelar ao mundo este consórcio do Espírito Santo com o
Coração Imaculado de Maria, onde nasce toda a missão do Filho.
Quais foram as circunstâncias que levaram os fundadores da Congregação a
colocar o Espírito Santo e o Coração de Maria como alma e centro dos seus
projectos apostólicos?
Uma espiritualidade não nasce a frio, a uma mesa de trabalho; ela emerge de
uma experiência que se tem de Deus onde a nossa vida mergulha; é a vida do
738
Adélio TORRES NEIVA
fundador mais que os seus escritos que revelam os caminhos por onde Deus
passa.
A Congregação do Espírito Santo
Os pais do primeiro fundador, Cláudio Poullart des Places, pediram a Deus um
filho e quando ele nasce consagram-no a Maria, fazendo-o usar durante sete anos
o hábito branco em sua honra.
A sua infância ficaria marcada pelos dois santuários marianos de Rennes, que
ele frequentava assiduamente: o de Nossa Senhora dos Milagres e o de Nossa
Senhora da Boa Nova.
No colégio dos Jesuítas, em Rennes, dois acontecimentos seriam decisivos para
a caminhada espiritual de Cláudio: o contacto com a espiritualidade jesuíta,
dominada nessa altura pelo P.Lallemand e a sua passagem pelo grupo de piedade
“Associação dos Amigos”. A intuição de base do P. Lallemand, o grande director
espiritual dos Jesuítas era a necessidade de uma total disponibilidade ao Espírito
Santo, para a renovação do apostolado. Claúdio fez dois anos de Direito em
Nantes, frequentando uma casa de retiros dos Jesuítas, onde bebeu esta
espiritualidade. O Espírito Santo seria o primeiro pilar da espiritualidade dos
seus filhos.
O segundo pilar desta espiritualidade – Maria como modelo desta fidelidade –
bebeu-a Poullart des Places num grupo de piedade de estudantes de teologia que
então existia na maior parte dos colégios dos Jesuítas, chamado “Associação dos
Amigos” (AA). Era um movimento que procurava renovar o clero de França:
criar um modelo de padre que se empenhasse decididamente na evangelização
dos pobres e dos mais abandonados. No coração desta espiritualidade estava o
Coração de Maria, a humilde serva do Senhor, cuja pobreza o Espírito Santo
tornou extraordinariamente fecunda. Estava encontrado o segundo pilar da
espiritualidade dos seus seminaristas.
Assim, as primeiras linhas dos regulamentos do Seminário de Poullart des
Places consagrarão esta espiritualidade: “Todos os estudantes adorarão
particularmente o Espírito Santo, ao qual estão particularmente consagrados. Terão
também uma devoção particular à Santíssima Virgem sob a protecção da qual, foram
oferecidos ao Espírito Santo. Escolherão as festas do Pentecostes e da Imaculada
Conceição como suas festas principais: Celebrarão a primeira para obter do Espírito
Santo o fogo e o amor divino e a segunda, da Santíssima Virgem, uma pureza
evangélica: duas virtudes que devem constituir o fundamento da sua piedade”452.
Esta dupla devoção informará toda a espiritualidade dos Espiritanos de
Poullart des Places. As suas orações serão as de uma comunidade que se move no
circuito do Espírito Santo e de Maria concebida sem pecado: “Antes de qualquer
estudo ou aula, pedirão ao Espírito Santo as luzes para trabalhar
proveitosamente: um “Veni Sancte Spiritus” para isso e uma Ave Maria em honra
452
Regulamentos n.º 1 e 2
A Espiritualidade da Província
739
da Santíssima Virgem para obter do seu Divino Esposo estas luzes. E no fim,
terminar com uma oração a Nossa Senhora: “Sub tuum praesidium”. O terço, o
hino mariano “Inviolata”, a Ladainha de Nossa Senhora, o Ofício Menor faziam
parte dos hábitos diários dos seminaristas de Poullart des Places.
Esta dupla devoção será a raiz e o fundamento da pobreza dos Espiritanos:
“Despojados de tudo, o amor ao Espírito Santo é o nosso tesouro. É preciso,
portanto, tudo depor aos pés de Maria, como os primeiros cristãos depunham os seus
bens aos pés dos apóstolos: noutro caso mentiríamos ao Espírito Santo”453.
Esta dupla devoção será também a fonte do zelo apostólico dos Espiritanos:
“Comprometemo-nos a honrar o Espírito Santo, primeiro dentro de nós, por um
espírito de docilidade perfeita. Filhos de Maria e do Espírito Santo, aplicar-nosemos pelas palavras e pelo exemplo a fazê-los amar e servir”.
Por isso, Poullart des Palces escolheu a festa do Pentecostes de 1703 para levar
a sua pequena comunidade de 12 estudantes à igreja de Saint-Etienne des Grés
para, aos pés da Virgem Negra de Paris, Nossa Senhora do Bom Sucesso, a
consagrar ao Espírito Santo.
A esta igreja vinha Poullart des Places muitas vezes, nas horas de maior dificuldade.
Todos os anos, a partir desta data, os Espiritanos ali voltavam para ratificar a
sua consagração, nas festas do Pentecostes e da Imaculada Conceição. A devoção
à Imaculada Conceição será assim uma das glórias da Congregação, 150 anos
antes da proclamação deste dogma.
O P. Bouic, terceiro superior geral da Congregação, prescreveu que as armas
da Congregação fossem formadas por um símbolo do Espírito Santo e de pelo
menos um monograma da Santíssima Virgem.
A imagem de Nossa Senhora devia ser colocada em lugar de honra, à entrada
principal da casa, com a inscrição “Tutela domus”.
O uso do escapulário de Nossa Senhora remonta já ao ano de 1770.
A igreja de Nossa Senhora das Vitórias, onde o P. Desgenettes fundou a
Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria viria a ter uma importância
decisiva na restauração da Congregação após a Revolução Francesa. Logo que a
Arquiconfraria foi fundada, o Superior do Espírito Santo pediu para nela se
inscrever toda a sociedade. É crença comum que os Espiritanos resistiram à
grande crise, graças à intercessão de Maria.
A Sociedade do Imaculado Coração de Maria
Quanto a Libermann, o fundador da Sociedade do Imaculado Coração de
Maria, diz o P. Lecuyer que todo o seu ensinamento espiritual se resume numa
escola de docilidade ao Espírito Santo. É possível que para isso ele tenha também
sido influenciado pelo P. Lallemend e S. João Eudes, dois lugares que ele
frequentou. Mas trata-se sobretudo de uma intuição pessoal, que foi emergindo
da sua experiência e do itinerário espiritual que ele viveu.
453
P.Warnet, superior geral, Pentecostes 1839
740
Adélio TORRES NEIVA
A experiência interior fundamental de Francisco Libermann foi a da força
gratuita da graça de Deus. Deixar-se invadir por este absoluto foi a grande aposta
da sua vida. “Entregar-se” é uma palavra que aparece constantemente nos seus
livros. A docilidade ao Espírito Santo, vivendo em nós, será a chave da sua
espiritualidade. Ele empregará toda uma série de imagens para exprimir esta
entrega ao Espírito: ser como uma criança que tudo espera de sua mãe, ser como
argila nas mãos do oleiro, como a estátua nas mãos do escultor, como o ferro nas
mãos do ferreiro, como leve pena nas asas do vento. É preciso esperar a hora de
Deus, aceitar deixar-se conduzir por Ele, ser paciente na provação, não ir mais
além do que a graça nos conduz, aceitar os ritmos e os tempos de Deus.
Desta atitude que ele mesmo viveu “à espera que o muro caia”, nascerá a Regra
Provisória da Sociedade do Coração de Maria. Foi com o olhar de fé sobre uma
doença que o arrancava a todos os seus sonhos, uma partida de Rennes que lhe
fazia perder todos os apoios e todas as seguranças, que ele ensina a descer até às
raízes da paz, da alegria, da disponibilidade e dos dons do Espírito Santo.
Foi no coração desta experiência que Libermann encontrou um rosto para os
Espiritanos.
Um outro factor que intervém neste processo é o Coração de Maria. Maria foi
talvez a primeira experiência decisiva de Libermann na linha da fé. Aconteceu
logo no momento do seu baptismo: “Quando a água baptismal correu sobre a
minha cabeça de judeu, nesse preciso momento, comecei a amar Maria, que
detestava”454. Foi uma graça que iluminou toda a sua vida. De Maria falará
constantemente nas suas cartas de S. Sulpício e Rennes.
O Coração de Maria aparece depois de maneira imprevista nos momentos
decisivos da Obra dos Negros. Foi directamente de Maria que ele recebeu a
inspiração para acolher a Obra dos Negros: primeiro por uma iluminação
interior, a “pequenina luzinha” de 28 de Outubro de 1839 e depois em Fourvière,
em Lião, onde todas as suas dúvidas se dissiparam.
Maria aparece ainda na origem da Regra Provisória: “Traçado o plano geral,
esforçava-me por escrever mas era impossível atinar com uma só ideia. Depois de
ter visitado algumas igrejas dedicadas a Nossa Senhora, decidi consagrar a Obra dos
Negros ao Coração Imaculado de Maria. E tudo se tornou imediatamente claro.
Entrei em casa e pus imediatamente mãos à obra para recomeçar o plano em
questão. Vi então tudo tão claro, que de um só relance abarquei todo o conjunto e
todos os pormenores. Isto foi para mim uma alegria e uma consolação
inexprimíveis”.455 Esta Regra começa com estas palavras: “Tudo para maior glória
do nosso Pai celeste, em Jesus Cristo Nosso Senhor, pelo seu Divino Espírito, em
união com o Imaculado Coração de Maria”.
A aprovação da Congregação e do projecto que ele entregou à Santa Sé aparece
como outra graça de Maria: foi de facto, depois da peregrinação a Nossa Senhora
do Loreto, quando Libermann regressa a Roma, já melhor de saúde, que encontra
454
455
Notes et Documents I p. 8
Lettres Spirituelles, III, p. 364
A Espiritualidade da Província
741
uma carta da Congregação da Propaganda que confirma o seu projecto da Obra
dos Negros e uma carta do bispo de Estrasburgo que se propõe ordená-lo
sacerdote.
A Maria se devem as primeiras vocações da Congregação. Libermann irá
celebrar a sua primeira missa na Comunidade de Nossa Senhora das Vitórias e é
ali que por acaso encontra o P. Bessieux que se junta imediatamente à
comunidade e que viria a ser o fundador da missão da África no Gabão, sendo
vigário apostólico das Duas Guinés durante 27 anos.
É de Nossa Senhora das Vitórias que parte para a Ilha Maurícia o primeiro
missionário do Coração de Maria, o P. Tiago Laval.
É junto do Imaculado Coração de Maria que o delegado Apostólico do Haiti
encontra o P. Tisserant que o põe em contacto com Libermann: a missão do
Haiti nasceu também ela junto do Coração Imaculado de Maria.
A Maria se deve também a escolha da primeira terra de missão dos Espiritanos.
Em 1842, Libermann com os cinco novos primeiros missionários preparados
para ir para as missões, vão a Nossa Senhora das Vitórias rezar e aconselhar-se
com o P. Desgenettes sobre a terra de missão a escolher. Ao outro dia, será
Mons. Barron que aí vai procurar missionários para as Duas Guinés e assim a
terra-mãe da missão espiritana estava encontrada.
É no coração da vida apostólica, ou seja a intuição que caracteriza a
espiritualidade espiritana, que Libermann coloca o Espírito Santo e Maria,
conforme ele o explica aos noviços de La Neuville.
Após a fusão da sua Sociedade do Coração de Maria com a Congregação do
Espírito Santo, os Regulamentos de 1849 que consagram essa fusão, dizem:
“A Congregação consagra os seus membros ao Espírito Santo, autor e consumador
de toda a santidade e inspirador do espírito apostólico e ao Imaculado Coração de
Maria, superabundantemente repleto, pelo Divino Espírito Santo, da plenitude da
santidade e do apostolado, considerando o Coração de Maria como o modelo
perfeito de fidelidade a todas as inspirações do Espírito Santo e da prática interior
das virtudes da vida religiosa e apostólica. Nele encontrarão um refúgio a que
recorrerão nos seus trabalhos e fadigas”.
É um texto-chave que está no coração da mística espiritana e que faz a ligação
entre as duas tradições de que somos herdeiros. A fusão da Congregação do
Espírito Santo com a do Imaculado Coração de Maria não foi apenas a junção de
duas congregações: ela veio pôr em evidência a união profunda que existe entre
o Espírito Santo e Maria na origem e na plenitude da missão.
Foi durante a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, a 8 de
Dezembro de 1854, que o P. Schwindenhammer conseguiu a mudança de
Sociedade Secular em Congregação Religiosa, com os votos religiosos. E a
primeira profissão de votos perpétuos foi precisamente na festa do Coração de
Maria, que substituía a da Imaculada Conceição, a 26 de Agosto de 1855, na
capela do noviciado de Paris: 18 padres, incluindo todo o Conselho Geral
emitiram os votos perpétuos e oito noviços os votos temporários. Foi a primeira
742
Adélio TORRES NEIVA
profissão pública e solene dos votos religiosos: até aí havia apenas uma
consagração. Os Irmãos fariam os votos no dia 9 de Setembro seguinte, festa do
Santíssimo Nome de Maria.
A primeira Tomada de Hábito na Congregação foi na festa da Imaculada
Conceição de 1855, primeiro aniversário da proclamação do dogma da Imaculada
Conceição. Até aí vestia-se o hábito eclesiástico ordinário, adaptando-o às
exigências da pobreza e simplicidade de que as Regras falavam.
A partir daí, Maria tornou-se a grande padroeira das comunidades espiritanas:
em 1825 cerca de 100 comunidades estavam consagradas a Maria.
Em 1908, Mons. Le Roy, superior geral, renova esta fidelidade a Maria, por um
novo gesto, já outrora prescrito pelo P. Bouic: colocando à entrada principal da
Casa Mãe uma imagem de Maria com a inscrição “Tutela Domus”, ordenava que
esta prática fosse adoptada em todas as casas de formação da Congregação,
noviciados, escolasticados, escolas apostólicas e comunidades importantes, com
a mesma inscrição. Esta cerimónia far-se-ia com uma pequena celebração, de
preferência numa festa Mariana.
Os grandes referenciais da espiritualidade da Província
A fundação do Seminário do Congo, em Santarém, primeiro embrião da
província espiritana portuguesa, foi decidida por decreto de 11 de Agosto de
1867, com o parecer unânime do Conselho Geral da Congregação e segundo a
proposta deste mesmo conselho, foi dedicada ao Espírito Santo, como o
Seminário Colonial de Paris, com o qual, à partida, revelava certas semelhanças.
A equipa fundadora entrou na nova casa ao cair da tarde do dia 3 de Novembro.
Desfeitas as malas, a primeira coisa que fizeram foi levantar um pequeno oratório
em cima da mesa, com um quadro de Nossa Senhora das Vitórias, a cruz do
missionário e um busto do Venerável Padre Libermann. Nessa mesma noite,
deram início a uma novena ao Coração de Maria, para colocar a obra nascente
sob a sua protecção. Assim, desde o primeiro momento, a Província assentava
nos dois pilares que herdara das origens e que marcariam o seu futuro: o Espírito
Santo como titular da sua primeira casa e o Coração de Maria como protectora.
Curioso que a primeira Tomada de Hábito no seminário do Congo, a do
primeiro espiritano português, o P. Policarpo dos Santos, seria a 8 de Dezembro
de 1869, festa da Imaculada Conceição.
Uma segunda pedra na construção deste edifício foi aquela que seria o
verdadeiro arranque da província espiritana portuguesa: o colégio do Espírito
Santo em Braga.
Um dos primeiros cuidados do P. Eigenmann foi mudar o nome do Colégio
que ele tinha conseguido para lançar a congregação – o Colégio de S. Geraldo –
em colégio do Espírito Santo. Este colégio seria a verdadeira Casa–Mãe da
Província Portuguesa: aí se lançaram as bases da formação da nova província: o
seminário apostólico das missões e a obra da formação dos Irmãos.
A Espiritualidade da Província
743
A segunda obra de vulto a ser fundada foi um outro colégio, este consagrado
já não ao Espírito Santo mas a Nossa Senhora: o colégio de Santa Maria no Porto,
fundado em 1876.
Estas duas obras, uma consagrada ao Espírito Santo e outra a Nossa Senhora,
que constituiriam a vice-província de Portugal, marcam assim as grandes linhas
da espiritualidade da província portuguesa. Curioso que a erecção canónica da
província, feita bastante mais tarde, em 1921, acontecerá também num dia de
festa de Nossa Senhora: 2 de Fevereiro.
A terceira grande obra da Congregação em Portugal, a casa de Sintra, que a
condessa de Camarido D. Isabel Freire de Andrade e Castro doou à
Congregação em 1887, seria também consagrada a Nossa Senhora: Nossa
Senhora do Bom Despacho ou da Boa Graça, a comunidade da Escola Agrícola
Colonial, segundo o orago da capela já ali levantada e a de Nossa Senhora da
Piedade ou da Compaixão, segundo também o nome da capela ali existente.
A quarta obra que a Congregação adquiriu, o seminário da Formiga, em
Ermezinde, no antigo convento dos Agostinhos, para onde se transferiu o
escolasticado de Braga em1894, foi também consagrada ao Coração de Maria. Do
lado do evangelho lá está ainda em lugar de relevo, a imagem do Coração de
Maria.
Outro elemento abonatório da espiritualidade da Província diz respeito à
Associação de Orações e Boas Obras para a conversão da Raça Negra. Esta
associação foi fundada em 1891, no colégio do Espírito Santo, em Braga, com o
fim de promover e despertar as vocações missionárias. A sua fundação teve lugar
precisamente na festa do Imaculado Coração de Maria, num altar especial que lhe
era consagrado. A Associação que a revolução de 1910 lançará para o
esquecimento e para a inactividade, reaparecerá em 1922, com o P. Moisés Alves
de Pinho e com o nome de Associação de Nossa Senhora de África. Continuou
a ser o órgão de promoção vocacional até à fundação da LIAM em 1937, também
esta nascida num local e numa data mariana: a 13 de Maio, em Fátima.
Outro instrumento de animação da espiritualidade da província espiritana foi a
Arquiconfraria do Espírito Santo. No dia do Pentecostes de 1940, com
autorização dos respectivos ordinários, foi fundada em cada uma das
comunidades espiritanas principais: Viana, Fraião, Godim, Silva, Guarda, Porto
e Lisboa um núcleo da arquiconfraria do Espírito Santo, agregado à
Arquiconfraria que tem a sua sede na Capela da Casa Mãe, em Paris.
Os objectivos desta Arquiconfraria eram: prestar ao Espírito Santo especial
reconhecimento e amor, tomando como modelo o Imaculado Coração de Maria;
obter para cada confrade a graça de agir sempre sob a inspiração do Espírito
Santo; atrair a efusão cada vez mais abundante dos dons do Espírito Santo sobre
a Igreja e sobre os missionários.
Na sede da arquiconfraria, todas as segundas-feiras era rezada uma missa por
todos os confrades e em todas as igrejas e capelas públicas confiadas aos
744
Adélio TORRES NEIVA
espiritanos se recomendava a fundação desta arquiconfraria, com exercícios
próprios nas segundas-feiras, principalmente na primeira segunda-feira de cada
mês.
Podíamos ainda seleccionar outros factos, elementos que revelam o espírito
que animava a Província. O primeiro noviciado dos clérigos em Portugal iniciouse na Quinta de Baixo, em Sintra, em 1896, tendo-se escolhido precisamente o
dia 2 de Fevereiro para o inaugurar. E após a restauração da Província, a abertura
do noviciado em 1934, na Quinta de Baixo do Fraião, foi na véspera da festa da
Natividade de Nossa Senhora, 7 de Setembro, ficando a profissão a ser feita no
dia da festividade, a 8 de Setembro.
O novo seminário da Silva, especialmente construído para albergar o
noviciado, seria solenemente inaugurado pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel
Gonçalves Cerejeira, a 8 de Setembro de 1962, festa da Natividade de Nossa
Senhora.
E o escolasticado maior da Torre da Aguilha, destinado a ser o grande alfobre
da cultura teológica espiritana, seria também ele dedicado a Nossa Senhora de
Fátima, sendo a sua primeira pedra lançada a 8 de Dezembro de 1950 e a
inauguração solene a 2 de Fevereiro de 1953, uma e outra, datas de festas
marianas.
O Espírito Santo e Maria não são apenas devoções para os Espiritanos: eles
fazem parte da sua identidade. Não havia efectivamente conferência, trabalho
ou qualquer iniciativa comunitária que não fosse precedida da invocação ao
Espírito Santo e não terminasse com a oração de Nossa Senhora “Sub tuum
praesidium”. À vossa protecção...
As devoções-chave da Província: Sagrado Coração de Jesus e S. José
A devoção a S. José
Ao longo da história da Província, S. José aparece como o mais prestigiado e
permanente “ecónomo provincial”.
Pode dizer-se que a devoção a S. José conheceu na história da Província dois
grandes momentos: o das construções da fundação e o tempo das construções da
restauração, ou seja, como dizia o P. Clemente Pereira da Silva, ele é o grande
ecónomo das “idades da pedra” da Província. Mas não só.
Logo em Santarém foi a S. José que a comunidade nascente confiou a obra das
vocações. Pelos fins de Janeiro de 1868 apresentou-se o primeiro candidato:
Policarpo dos Santos. Seminarista do seminário de Santarém, jovem de muitas
qualidades, há muito que aspirava a ser missionário. E foi mesmo um dos
directores do seminário que o veio trazer aos Espiritanos.
Depois, no 1º mês de Março, durante a novena de S. José, tiraram Nossa
Senhora das Vitórias do caixilho e puseram-na aos pés de S. José, iniciando uma
A Espiritualidade da Província
745
novena de oração pelas vocações a S. José e pelos fins de Março havia já 45
pedidos. Deles, foram escolhidos 12, pois o local e os recursos não davam para
mais. E foi, logo a partir desse primeiro ano, que se começou a celebrar o mês de
S. José.
Em Braga, quando a casa da Rua do Carvalhal se tornou insuficiente, depois de
várias tentativas sem resultado, resolveu-se confiar a S. José o caso e pouco
depois apareceu à venda a Quinta das Hortas.
Quando a Casa das Hortas se tornou por sua vez demasiado pequena, de novo
se recorreu a S. José e apareceu a quinta na Rua de S. Vicente.
A festa de S. José era sempre muito solenizada. No colégio do Espírito Santo
foi mesmo levantado um monumento a S. José no pátio do recreio.
Na Formiga, só conseguimos o convento de Nossa Senhora da Mão Poderosa,
depois de muitas orações a S. José, como de resto acontecia sempre que se
precisava de uma casa nova.
Nas crónicas da história da Província, muitas vezes S. José aparece como
intermediário da Divina Providência. Dele se fala muitas vezes como o “nosso
poderoso protector”.
Na segunda fase da história da Província – a fase da restauração – em 1935, diz
o P. Clemente Pereira da Silva que “quando havia que aumentar mais um andar
em Viana do Castelo, uma grande parte do noviciado dos clérigos no Fraião, a
capela da enfermaria, mais um andar em Godim, etc., para fazer face a estas
despesas extraordinárias, acrescidas à manutenção diária dos nossos aspirantes,
apelámos muitas vezes para a Divina Providência, por intermédio de S. José. Ela
decide o Governo e os nossos benfeitores a virem em nossa ajuda, ela abençoa o
trabalho dos nossos padres e dos nossos irmãos; ela aumenta de dia para dia o
número dos Associados de Nossa Senhora de África e dos assinantes das nossas
revistas”.456
A 18 de Novembro de 1928, quando se acabou a construção do primeiro
pavilhão no Fraião, as três comunidades de Braga levaram em procissão S. José
através da quinta e das novas construções. A sua devoção começou a ser
celebrada no Fraião, desde o primeiro momento.
E já mais recentemente, a construção do seminário da Silva foi desde o início
colocada sob o patrocínio de S. José, conforme relata o P. José da Fonseca Lopes,
a quem a direcção das obras foi particularmente confiada.
E a quando da compra da casa do Pinheiro Manso, foram as Irmãzinhas dos
Pobres que puseram toda a comunidade a rezar para que os Espiritanos
conseguissem uma casa perto do lar que têm naquela rua.
Na visita que se fazia à capela, depois do almoço, costumava-se rezar a oração
a S. José, que no dizer do provincial de 1963, P. Firmino Cardoso Pinto, tinha
quase o carácter de um voto para que S. José nos obtivesse os meios materiais
indispensáveis à vida da Província. Esta oração foi suprimida em 1963.
Padroeiro especial da Obra dos Irmãos, era no seu dia que habitualmente se
456
BGCSSp. 1935 p. 228
746
Adélio TORRES NEIVA
tomava o hábito religioso; por isso, lhe ficámos tão ligados e tão afeiçoados. A
sua imagem figurou sempre nas capelas das comunidades espiritanas. Ele era o
patrono especial da Obra dos Irmãos.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus
Outra devoção particularmente querida à Província Portuguesa foi a devoção
ao Sagrado Coração de Jesus. Também ela acompanha praticamente toda a
história da Província. O Coração de Jesus foi uma devoção que se implementou
muito a partir das revelações de Paray-Le-Monial. No século XIX 104
congregações de Direito Pontifício e 800 de Direito Diocesano se inspiraram no
Coração de Jesus. Em 1865 toda a Congregação, a pedido do P. Barillec, então
secretário geral, foi agregada ao Apostolado da Oração e em cada casa de
formação devia ser fundado um centro de Apostolado da Oração.
Esta devoção entrou na Província Espiritana de uma maneira um pouco
extraordinária. Em Julho de 1897, o Colégio Espírito Santo foi abalado por uma
epidemia de desinteria que levou à morte um jovem de 13 anos. O superior
reuniu o conselho da comunidade e num quarto vizinho ao daquele em que uma
segunda vítima agonizava se fez a promessa de celebrar a festa do Coração de
Jesus a 17 de Junho e que num dia, a fixar ulteriormente, haveria comunhão geral
e exposição do Santíssimo Sacramento, se o Coração de Jesus livrasse o colégio
daquele flagelo. A partir dessa data ninguém mais morreu e a epidemia começou
a declinar. E a partir daí todas as primeiras sextas-feiras de cada mês começaram
a ser celebradas com exercícios especiais ao Sagrado Coração de Jesus.
A imagem do Coração de Jesus do Colégio do Espírito Santo, após a revolução
de 1910, esteve oculta em Braga, num armazém, sendo comprada por um pároco
que depois a vendeu ao P. Moisés de Pinho que a colocou no altar-mor da igreja
do seminário de Viana do Castelo, a 5 de Outubro de 1924, onde ainda hoje se
encontra.
A devoção ao Coração de Jesus passou depois para o seminário da Formiga,
onde se fazia a Hora Santa todas as primeiras sextas-feiras de cada mês e as
Quarenta Horas no Carnaval.
Quando o P. Moisés Alves de Pinho veio para Portugal para restaurar a
Província, em 1919, fez a promessa ao Sagrado Coração de Jesus de, caso
conseguisse restaurar as obras da Província, solenizar com especial devoção em
todas as casas de formação, que se viessem a fundar na Província, e mesmo nas
residências, onde isso fosse possível, a primeira sexta-feira de cada mês,
fomentando, ao mesmo tempo e por todos os modos, a confiança naquele
Santíssimo Coração. Isto foi em Setembro de 1919 e logo a 15 de Outubro do
mesmo ano se inaugurava, sem ruídos nem convidados, na comunidade da Rua
Bento Miguel, o cumprimento dessa promessa. Ali se principiou uma devoção
que permaneceu durante várias décadas em todas as casas de formação. Ao
princípio, suprimia-se a aula das 10 horas para dar lugar à celebração da Missa
A Espiritualidade da Província
747
Solene e à exposição do Santíssimo Sacramento que terminava com uma hora de
adoração à noite, e que por vezes se prolongava durante toda a noite.457
O Capítulo Provincial de 1940 lembrou a todos os confrades este voto e
incentivava todas as comunidades a serem fiéis a esta promessa.
Nas missões espiritanas, as primeiras sextas-feiras tiveram grande impacto na
vivência sacramental e isso deve-se certamente a esta devoção nascida nos bancos
do seminário.
O património espiritual local: os padroeiros das comunidades.
Ao Espírito Santo e ao Coração de Maria foram consagradas as primeiras casas
da Província, sobretudo na primeira fase da sua existência. Adquiridos esses
valores como referenciais de base, começou-se a procurar dar às comunidades
padroeiros em função do fim a que se destinavam.
Santarém, como vimos, foi consagrada ao Espírito Santo, como o Seminário
Colonial de Paris, com o qual mantinha algumas afinidades.
Gibraltar manteve o nome do padroeiro do colégio, onde se instalou: S. Bernardo.
Em Braga, o colégio começou com o nome de um santo local, muito venerado
na cidade, S. Geraldo, passando depois, para o de Espírito Santo.
O Colégio de Santa Maria em Gaia, depois, Porto, herdou e manteve o nome
que já possuía.
O colégio dos Açores foi confiado ao Beato Fisher, a cuja linhagem pertencia
a família que legou o colégio à Congregação.
Sintra herdou o nome da capela já ali existente, Nossa Senhora da Boa Graça.
A comunidade da Procuradoria recebeu como padroeiro S. Francisco de Sales
por ser este o padroeiro do superior geral, o P. Emonet, que aprovou e decidiu a
criação de uma procuradoria das missões em Lisboa, numa visita que aqui fez
expressamente para estudar essa possibilidade.
O seminário da Formiga foi confiado aos cuidados do Coração Imaculado de
Maria, cuja imagem ocupou o primeiro altar do lado do evangelho.
Carnide seria entregue a Santo António, o santo de Lisboa.
A comunidade da Rua Bento Miguel ou Charqueiro foi confiada à protecção
da Sagrada Família, a pensar sobretudo na obra dos Irmãos. Com a transferência
da Obra para o Fraião, com ela transitaria também o padroeiro.
À comunidade da Rua Visconde de Pindela, destinada a acolher o escolasticado
menor, com alunos, uns vindos da Rua Bento Miguel, outros de Zamora, foi
dado como padroeiro um modelo de jovens, o Santíssimo Redentor, que depois
transitaria para o escolasticado do Fraião.
O Espadanido, obra para recuperação de sacerdotes, recebeu como padroeiro
o Santo Cura d’Ars, modelo de vida sacerdotal.
A comunidade de Godim seria entregue a S. José, o padroeiro da paróquia, pois
que o seminário nasceu à sombra dessa comunidade paroquial.
457
BPPCSSp. Ov/Dez 1940 p. 265-267
748
Adélio TORRES NEIVA
A casa da Rua Nova do Regado, destinada às vocações tardias, foi confiada aos
cuidados de Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das missões.
A casa da Guarda destinada às vocações das Beiras, foi posta sob a protecção
de Santo António, pois que a casa foi aberta no ano centenário Antoniano.
Viana do Castelo, nascida para casa de Teologia, recebeu como padroeiro S.
João Evangelista, modelo de todos os sacerdotes.
A casa da Silva foi confiada ao Menino Jesus de Praga. A devoção ao Menino
Jesus de Praga era uma devoção muito antiga na Província, trazida da Huíla pelo P.
José Maria Antunes, quando veio para provincial. Foi muito divulgada nas nossas
comunidades e igrejas e propagada com zelo pelos espiritanos, sobretudo pelo P.
Monte, na Formiga, e pelo P. Antunes, em Lisboa. Pio XI actualizou esta devoção
com a chamada de atenção para o mistério da realeza de Cristo. A casa da Silva vivia
momentos particularmente difíceis por causa da contestação da herança e foi com
muita confiança que se entregou a Obra ao Menino Jesus de Praga, cuja imagem
ficou a figurar no altar-mor da capela do seminário e que foi oferecida por uma
associação de famílias do Porto, interessada em propagar a devoção ao Menino
Jesus de Praga.
Coimbra foi consagrada a Nossa Senhora de Fátima.
O seminário da Torre d’Aguilha foi colocado sob a protecção de Nossa Senhora
de Fátima, uma das devoções muito queridas ao fundador da LIAM e construtor da
casa, D. Agostinho de Moura, já que fora em Fátima que a LIAM nasceu.
A comunidade do Restelo foi entregue a S. Paulo, decerto por se tratar de um
modelo de missionário, pioneiro de tempos novos e novas culturas.
S. Miguel, padroeiro da Província
Na reunião do Conselho Provincial de 18 de Junho de 1934, o provincial de
então, P. Clemente Pereira da Silva, propôs que, atendendo a que todas as
comunidades tinham um padroeiro e a Província não, se escolhesse um padroeiro
para a Província, tendo ele indigitado particularmente o nome de S. Miguel, mas
o caso seria posto à consideração de todos os membros da Província que dariam
o seu voto sobre esta proposta.
Na reunião seguinte, 20 de Novembro de 1934, todo o conselho deu o seu
voto, que recaiu em S. Miguel. O provincial informou que tinha já os votos da
maioria dos confrades e que portanto iria dar os passos necessários para a
confirmação canónica.
Na reunião de 14 de Maio de 1935, o conselho foi informado que Roma tinha
concedido que se celebrasse a festa de S. Miguel, padroeiro da Província, a 29 de
Setembro, devendo esta solenidade ser celebrada em toda a Província com
pompa e solenidade. A festa de 8 de Maio seria também celebrada como festa
secundária, sendo feriado nesse dia.
A partir dessa data, a festa do padroeiro da Província foi sempre celebrada com
Missa solene e feriado e recordada nos diários das comunidades, costume que
perdurou durante um longo período, particularmente nas casas de formação.
A Espiritualidade da Província
749
O Livro das Actas das Reuniões nada nos diz sobre as causas que levaram o P.
Clemente a propor S. Miguel como padroeiro da Província. Talvez não tenha
sido estranho o facto de S. Miguel ser uma devoção muito espalhada na sua terra
natal, o que o levaria a ter uma devoção especial ao santo arcanjo. A sua imagem
está na Capela do seminário do Fraião.
O “Manual da Oração”
A espiritualidade espiritana, nomeadamente a sua vida de piedade passou muito
pelo chamado “Manual de Oração”, livro adoptado pela Província desde as suas
origens e onde estavam codificadas as orações que articulavam a vida de piedade
em toda a Congregação, nomeadamente a Oração da Manhã e a Oração da
Noite, a Via Sacra, orações para os meses de Maria, do Coração de Jesus, de S.
José, do Rosário e outras devoções vigentes na vida da comunidade cristã.
Era um Manual de Orações e Cantos. O “Manual das Orações” tinha sido
promulgado em 1880 pelo P. Schwindenhamer e no qual ele procurou recolher
as orações em uso na Congregação desde as suas origens. Ao princípio era
litografado, mas depressa se sentiu a necessidade de o imprimir e distribuir por
todas as comunidades.
Em Portugal, foi introduzido no Colégio do Espírito Santo, trazido de Cellule
e depois adoptado em todas as casas da Província.
Em 1936 foi decidido que o Manual de Orações fosse impresso separadamente
do Cantai ao Senhor, havendo, a partir daí, um livro para as orações e outro para
o canto. Em 1940 o Manual de Oração foi, efectivamente publicado em separado,
a cargo do P. Joaquim Alves Correia.
Em 1962, no Capítulo Geral, foi decidido que se revisse o Manual de Oração,
em ordem a um emprego mais generalizado das orações litúrgicas, conforme era
desejo de Roma. Foi sugerida a preparação de dois formulários de Manual de
Oração, compreendendo o primeiro formulário Laudes e Completas com uma
selecção das orações actualmente em vigor e o segundo uma fusão das orações
actualmente usadas a fim de as tornar mais expressivas e mais adaptadas aos
tempos actuais. Cada Província deveria nomear uma comissão para estudar in
loco este esquema, que depois deveria enviar para a Comissão Geral. Em Portugal
foi efectivamente nomeada uma comissão para isso, mas não se conhecem ecos
desse trabalho.
Entretanto, veio o Concílio com a sua insistência na oração litúrgica e o Capítulo
Geral de 1968, em obediência às orientações do Concílio, decidiu adoptar as
Laudes e as Vésperas como oração oficial da manhã e da tarde na Congregação
(DC 138), norma que o Capítulo Provincial de 1970-1971 adoptou (nº 61).
E foi assim que o Manual de Oração pouco a pouco foi caindo no esquecimento.
A espiritualidade e as devoções
A espiritualidade da Província é memória ou profecia?
750
Adélio TORRES NEIVA
Penso que o primeiro desafio que hoje é lançado à Província Espiritana no
domínio da espiritualidade é perguntar-se se essa espiritualidade é recordação ou
inspiração? Trata-se de um depósito a salvaguardar nos arquivos ou de uma
semente que passa de mão em mão sempre a semear e da qual depende a
vitalidade do instituto? A semente só se torna fecunda não nas mãos do
semeador, mas em contacto com a terra. É por isso que a espiritualidade da
Província precisa de ser constantemente renovada e modelada pelas novas
circunstâncias e os novos apelos de cada época.
A passagem de uma espiritualidade devocional a uma espiritualidade teologal.
À luz das fontes, a espiritualidade da Província é teologal. O Espírito Santo e
Maria só se tornaram devoções porque faziam parte da identidade e da vocação
espiritanas. Sabemos como nos séculos anteriores muitos valores constituintes
passaram a devoções acessórias. O Vaticano II procurou reconduzir a
espiritualidade aos seus valores essenciais. Daí a crise das devoções e a sua quase
asfixia, inclusive na Província espiritana.
Hoje há todo um movimento para recuperar o devocional: seitas, movimentos
de piedade, etc., em geral são muito mais movimentos de devoção que de
conversão. E este é o grande desafio que hoje é lançado aos institutos religiosos
no campo da espiritualidade: o das relações entre o devocional e o teologal.
O “tempo do Espírito” e a actualidade da espiritualidade espiritana.
Há espiritualidades de tal maneira condicionadas e marcadas pelo tempo em
que nasceram, que têm dificuldade em encontrar o seu espaço no mundo de hoje.
Mas o Espírito Santo e Maria são valores de fundo da nossa fé e gozam hoje na
Igreja de particular actualidade. O Espírito Santo é a grande redescoberta do
Vaticano II e pode dizer-se que este concílio abriu na Igreja o ciclo do Espírito.
Os Espiritanos são em Portugal o único instituto masculino particularmente
vocacionado para dar um rosto a este Espírito. Por força do seu carisma, o
Espírito Santo confiou-lhes a missão de serem sua parábola e sua cartilha.
O tempo dos leigos: os novos espaços da espiritualidade espiritana.
A Vida Consagrada está hoje a descobrir novos espaços para o seu carisma. Um
carisma que até aqui era reservado aos religiosos, com a redescoberta da vocação
laical, pelo Vaticino II, e o seu papel na missão e na santidade da Igreja, parece
abrir-se agora a outras vocações. Os carismas, a espiritualidade, a missão tornamse cada vez mais apanágio de toda a Igreja. Isso vem abrir sem dúvida novos
espaços e novos horizontes à missão e à espiritualidade espiritanas.
751
Capítulo 80
A actividade literária da Província
A
actividade literária da Província é bastante diversificada. Ela incide
fundamentalmente sobre os fundadores, a actividade missionária e as
ciências da missiologia, as figuras espritanas, a espiritualidade, a
história e a formação dos leigos. Neste quadro sobressaem duas figuras de
charneira: um pensador, o P. Joaquim Alves Correia e um historiador, o P.
António Duarte Brásio. Merecem relevo especial também os estudos levados a
cabo no domínio das ciências auxiliares da missiologia, nomeadamente a
etnografia e a etnologia. Não incluimos neste elenco obras publicadas por
missionários no campo da missão ad extra: estas serão apresentadas noutra obra
vocacionada para isso.
P. Joaquim Alves Correia
A primeira figura que se impôs na Província no campo da actividade literária
foi o P. Joaquim Alves Correia. Ele é sem dúvida o pensador mais cotado e mais
conhecido na Bibliografia Espiritana.
O P. Alves Correia foi uma figura carismática e
profética, incómoda para o governo de Salazar que
acabou por o exilar para os Estados Unidos em 1947.
Para além das suas denúncias de carácter político e social,
que o tornaram uma figura pública, o P. Alves Correia
foi um verdadeiro precursor do Concílio Vaticano II: na
sua imensa obra dispersa previu e anunciou a quase
totalidade das reformas que o Vaticano II preconizou.
Para além da homenagem que, a título póstumo, D.
António Ferreira Gomes lhe quis prestar, como Bispo
P. Alves Correia
do Porto e seu antigo amigo, com uma sessão solene na
Aula Magna da Faculdade de Letras do Porto e a inauguração do seu busto em
Salto, Aguiar de Sousa, a 8 de Maio de 1978, fora ganhando corpo a ideia da
atribuição da condecoração como Grande Oficial da Ordem da Liberdade, pela
Presidência da República, o que veio a acontecer por Alvará de 24 de Abril de
1980, publicado no Diário da República.458
O P. Alves Correia, entre outras publicações, colaborou nas seguintes revistas
458
Diário da República . nº 148, 2ª série de 30/06/1980 nº 10
752
Adélio TORRES NEIVA
e jornais: África, Acção Missionária, Anticorpos, Bulletin des Etudes
Portugaises, Catholic Worker, Diário de Notícias, (de Nova Bedford, EUA),
Era Nova (que se publicou em Braga), Estudos, Grande Enciclopédia Portuguesa
e Brasileira, Jornal do Comércio (que se publicou em Lisboa), Lumen (1ª série),
Missões de Angola e Congo (que fundou e dirigiu), Novidades, O Comércio do
Porto, Reinado Social, Seara Nova, Portugal em África, República. Colaborou
com Américo Lopes de Oliveira no livro “Missões e Missionários” (Lisboa
1946), na colectânea “Em louvor de S. Francisco” (1927), e prefaciou “A
Realidade de Deus” de Augusto Reis Machado (1949).
Publicou as seguintes obras:
- A dilatação da fé no império português, 2 vol; colecção “Pelo Império”, da
Agência Geral das Colónias, nº 21 e 22, Lisboa, 1936.
- A Largueza do Reino de Deus, Lisboa 1931, com edições em 1934, 1943, etc.
É a sua obra mais conhecida e que maior impacto teve na sociedade portuguesa.
- Cantai ao Senhor, Braga, 1925, com edições em 1935, 1951, etc.
- Civilizando Angola e Congo, Braga, 1922.
- Consciência Cristã – cadernos grandes - páginas cristãs. Edições Metanoia.
Vila Real, Outubro de 1949.
- Contos da Nigéria, Lisboa, 1937.
- De que Espírito Somos, Lisboa, 1933; 2ª edição em 1968.
- Evangelizadores do Trabalho, Braga, 1924.
- Les missionnaires Français en Angola, Lisboa 1940.
- Espírito que nos move, Edições Metanoia.
- Missa dos Pequeninos, Lisboa 1928.
- Missões Católicas Portuguesas, 1936.
- O Cristianismo e a Mensagem Evangélica, Lisboa, 1934.
- Manual de Oração, Lisboa 1940.
- O Ideal Cristão, 1949.
- Vida Mais Alta, Lisboa 1941, com 3ª edição em 1947.
Há uma antologia – Cristianismo e Revolução – publicada em 1977, pela Sá da
Costa, com prefácio de D. António Ferreira Gomes, nota da apresentação e
selecção de textos de Anselmo Borges, introdução de Frei Bento Domingues e uma
dezena de testemunhos de pessoas que mais contactaram com o P. Alves Correia.
Deixou inéditas as seguintes obras:
- Memórias (diário) de um sacristão.
- História de Angola.
- The Lost Art of Christian Power.
- Anotações para uma edição dos evangelhos.
- Um estudo sobre Voltaire.
- Um estudo sobre Tolstoi.
- Um artigo sobre o Catholic Worker (para as edições Metanoia).
O “Cantai ao Senhor”, que viria a ter sucessivas edições foi um instrumento
pioneiro na animação litúrgica das comunidades cristãs, nomeadamente nos
seminários e casas religiosas.
A actividade literária da Província
753
O “Manual de Oração”, pequeno livro de piedade, também ele estava
vocacionado para uma grande divulgação; é um compêndio de orações e
devoções ao gosto da espiritualidade dessa época.
Bibliografia sobre o P. Joaquim Alves Correia: Francisco Lopes, P. Joaquim
Alves Correia, Editora Rei dos Livros, 1996.
Obras pioneiras
Uma outra iniciativa editorial da Província, foi a publicação do Almanaque de
Nossa Senhora de África, que em 1940 passaria a chamar-se Almanaque das
Missões. Em 1942 tinha já uma tiragem de 20.000 exemplares e a sua divulgação
não cessou de aumentar, contando hoje 150.000.
Em 1939, era editado o livro Um judeu, salvador da raça preta, uma biografia
do P. Francisco Libermann, escrita pelos PP. Henrique Alves, António Brásio e
Agostinho de Moura, edição do “Entre Nós”.
O Livro “Estrela do Oriente” foi publicado em 1932, sendo sua autora Adriana
Rodrigues, que animava a Página dos Pequeninos do jornal Acção Missionária. A
mesma autora publicaria depois duas outras colecções do seus contos
apresentados na Acção Missionária: “Horas Alegres” e “Vamos folgar”.
Em Julho de 1946 dava-se início a um novo género de literatura missionária, as
crónicas da vida missionária, com o livro Surpresas do Sertão, do P. Luís Cancela.
O Calendário da Acção Missionária iniciou a sua longa caminhada em 1946,
sendo hoje um dos calendários mais populares com uma tiragem de 150.000
exemplares. Nesse mesmo ano era lançada a Agenda da LIAM, tendo-se esgotado
a sua primeira edição.
1948 foi marcado pelo lançamento de dois livros de grande impacto: um,
Remorso da Caridade, de espiritualidade missionária, da autoria do director da
LIAM P. Agostinho de Moura, primeiro livro de um autor português
expressamente consagrado à espiritualidade missionária, e outro, No coração da
África Negra, do P. Augusto Teixeira Maio, narrando episódios da vida
missionária.
P. António Brásio
O P. António Brásio é sem dúvida o espiritano mais conhecido e mais
conceituado no domínio da investigação histórica e ultramarina.
Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, pertenceu à subcomissão
oficial de História Eclesiástica (portaria de 1-VI-1954), ao Centro de Estudos
Históricos Ultramarinos (de que foi fundador, portaria de 26-IV-1953), ao
Centro de Estudos Históricos Eclesiásticos, à Classe de Letras da Academia das
Ciências de Lisboa (desde 24-II-1977). Foi co-fundador e director da revista
Portugal em África, secretário de redacção da Studia do Centro de Estudos
Históricos Ultramarinos, secretário de redacção da Acção Missionária (Lisboa),
co-redactor da Lusitania Sacra.
754
Adélio TORRES NEIVA
Os seus trabalhos de investigação e pesquisa histórica levaram-no a frequentar
não só os arquivos portugueses, como os de Espanha, França, Itália
nomeadamente nos arquivos do Vaticano, Simancas, Propaganda Fide, Cúria
Geral da Companhia de Jesus.
Os muitos e apreciados trabalhos que levou a cabo justificaram a chamada para
a Academia Portuguesa de História, que o admitiu como académico
correspondente em 19-VII-1957, de número em 26-III-1968 para a cadeira
número 11. A eleição do seu nome para vogal do Conselho Académico verificouse em 21-II- 1973.
Representou a Academia de História no Primeiro
Simpósio do Encontro da História Luso-Brasileira em
12-VII-1972 e em 1979 fez parte do júri do Prémio de
História Calouste Gulbenkian – Presença de Portugal no
Mundo.
Os artigos que publicou, em número superior a 500,
encontram-se dispersos por mais de 39 publicações
nomeadamente: Litoral, Lumen, Estudos (Coimbra),
Boletim geral das Colónias, Arquivo Histórico de
Portugal, Lusitania Sacra, Studia, Portugal em África,
P. António Brásio
Boletim da Universidade de Coimbra, Anais da Academia
Portuguesa de História, Brotéria, Arquivo Histórico da Madeira, Estudos de
Castelo Branco, Revista Portuguesa de História, Memórias da Academia de
Ciências, Mundo Português, Resistência, Ultramar, Missões de Angola e Congo,
Roteiro dos Arquivos Municipais Portugueses, várias enciclopédias e inúmeros
jornais, sobretudo Novidades, Voz, Acção Missionária, Época, Letras e Artes,
Apostolado, A Ordem, etc.
Dos temas que tratou nos seus estudos, destacamos: Missões, Concílio de
Trento, Ourique, Escravatura, Angola, Guiné, Cabo Verde, Congo, S. Tomé e
Príncipe, China, Congregação do Espírito Santo; ocupou-se de personalidades
como Santa Teresa do Menino Jesus, S. Martinho de Dume, Rainha Santa Isabel,
D. Pedro I, D. João I, D. João II, D. João III, Frei Nuno de Santa Maria, João
das Regras, Cardeal Rei, Infante D. Pedro, Condestável D. Pedro, Infanta Beata
D. Maria Mafalda, Frei Amadeu Arrais, P. António Vieira, Francisco de
Holanda, P. Manuel Álvares, D. António Barroso, João Afonso de Aveiro, P.
José Maria Antunes, P. Carlos Estermann, etc.
De toda a sua extensa obra sobressai a acção do investigador, do coordenador
e do organizador de duas monumentais colectâneas: a Monumenta Missionaria
Africana e a Spiritana Monumenta Historica.
A Monumenta Missionaria Africana compreende duas séries: a primeira com 15
volumes e a segunda com 7 volumes. Os textos recolhidos na primeira, referemse à acção missionária portuguesa desde o Rio de Santo André (hoje Costa do
Marfim) até ao Cabo da Boa Esperança, tendo o primeiro volume aparecido em
1952, editado pela Agência Geral das Colónias e pela Fundação Calouste
Gulbenkian. Estes documentos vão desde 1570 a 1695.
A actividade literária da Província
755
A 2ª série começou a aparecer em 1958, com textos entre 1342 e 1499, com
documentos limitados aos territórios entre o Rio Senegal e o de Santo André,
“limites extremos, norte e sul da diocese quinhentista de Santiago do Cabo Verde”.
Os Spiritana Monumenta Historica são uma iniciativa da Universidade
Duquesne de Pitsburgo (Pensilvânia, Estados Unidos), ligada à Editora E.
Nouvelaerts de Lovaina e em cinco grossos volumes, reúne documentos
importantes relacionados com o papel desempenhado pela Congregação do
Espírito Santo na história da Igreja e das missões de Angola. Estes volumes
apareceram respectivamente em 1966, 1968, 1969, 1970 e 1971. Estes cinco
volumes abrangem 1257 textos, predominantemente do século XIX e XX.
As obras do P. António Brásio:
- A missão e seminário da Huíla, Colecção “Pelo Império”, nº 64, 1940.
- Missões Portuguesas de Socotorá, Colecção “Pelo Império”, nº 91, 1943.
- Os pretos em Portugal, Colecção “Pelo Império”, nº 101, 1944.
- Monumenta Missionaria Africana: 1ª série: 16 volumes: I vol. 1471-1531, 1952,
Lisboa; II vol. 1532-1569, 1953, Lisboa; III vol. 1570-1599, 1954, Lisboa; IV vol.
1469-1599, 1955, Lisboa; V vol. 1600-1610, 1955, Lisboa; VI vol. 1611-1621,
1956, Lisboa; VII vol. 1622-1630, 1950, Lisboa; VIII vol. 1631-1642, 1960,
Lisboa; IX vol. 1643-1646, 1960, Lisboa; X vol. 1647-1560, 1965, Lisboa; XI vol.
1651-1655, 1971, Lisboa; XII vol. 1656-1665, 1981; XIII vol. 1666-1685, 1982,
Lisboa; XIV vol. 1686-1696, 1985; XV vol. 1485-1685, 1989.
- Monumenta Missionaria Africana, 2ª série: 6 volumes: I Vol. 1341-1499, 1958,
Lisboa; II vol. 1600-1569, 1963, Lisboa; III vol. 1570-1600, 1964, Lisboa, IV vol.
1600-1622, 1968, Lisboa; V vol. 1623-1630, 1979, Lisboa, VI vol. 1651-1684,
1991, Lisboa; VII vol. publicado pelo Centro de Estudos Africanos da Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, 2004, Liboa.
- D. António Barroso Missionário, Cientista e Missiólogo, Centro de Estudos
Históricos Ultramarinos, Lisboa 1961.
- História e Missiologia / Inéditos e Esparsos. Luanda, 1973. Coleccão dos seus
principais artigos.
- A acção Missionária no período Henriquino, “Colecção Henriquina”, Lisboa,
1958.
- Tratado Breve dos Rios da Guiné do Cabo Verde, por André Alavare de
Almeida. Leitura, Introdução e Notas. Lisboa, 1964.
- História do Reino do Congo, Prefácio e Notas. Lisboa, 1969.
- Spiritana Monumenta Historica, Series Africana. 5 volumes: I vol. 1596-1867,
1966, II vol. 1868-1881, 1968; III vol. 1882-1889, 1969; IV vol. 1890-1903, 1970;
V vol. 1934-1967.
Bibliografia sobre o P. António Brásio: José Pedro Machado, Elogio do Padre
António Brásio, Academia Portuguesa de História, Lisboa 1989.
Eduardo António Sampaio Teófilo, P. António Brásio, o investigador. Tese de
licenciatura. Porto 1993 (não publicado).
756
Adélio TORRES NEIVA
Elenco temático das obras publicadas por outros espiritanos
De todas as outras publicações, apresentaremos a sua classificação temática
Sobre os fundadores:
- O Venerável Libermann, Lisboa, 1952, P. Henrique Alves.
- O Venerável Libermann, Lisboa, 1983 - P. Francisco Nogueira da Rocha.
- Ao encontro dos pobres - Vida de Cláudio Poullart des Places - Lisboa, 1983,
P. Francisco Lopes.
- O Venerável Libermann, uma antologia sobre o sofrimento, Lisboa, 1986,
P. Amadeu Gonçalves Martins. Ed. LIAM.
- Libermann, uma mensagem para o nosso tempo, Lisboa, 1986, P.Amadeu
Gonçalves Martins. Ed. LIAM.
- Espiritualidade Missionária do P. Libermann, 2003, P. Amadeu Martins. Ed.
LIAM.
- Caminhos do Espírito, por P. Agostinho Tavares. AO Braga. 1997.
- Como leve pena – orar ao sopro do espírito, P. Agostinho Tavares, AO Braga
2001.
- Nas tuas mãos, Senhor, um caminho de santidade com Libermann, por Alphonse
Gilbert, Lisboa, 2003. Trd. de Domingos Neiva, José Pires e José Gaspar.
- Por causa do Evangelho, João Souto Coelho.
- Antologia Espiritana (em castelhano), 5 volumes, P. Joaquim Ramos Seixas.
Biografias Espiritanas
- A imolação de uma esperança, pelo P. Augusto Texeira Maio, Ed. Entre Nós,
1940.
- O P. Monte, missionário do Espírito Santo, 1948.
- O fogo de um ideal, 1966, P. Ismael Baptista.
- Este padre tinha duas almas, 1966, Christine Garnier.
- O P. José Maria Felgueiras, mártir da caridade, 1986, P. Francisco Nogueira
da Rocha. 1986.
- P. Brottier, Espiritano, P. Francisco Lopes, Lisboa, 1984.
- Hora de esperança – Perfil do P. José Felício, P. Jorge Veríssimo, 1996.
- P. Joaquim Alves Correia, (1886-1951) - Ao serviço do Evangelho e da
democracia pelo P. Francisco Lopes, Rei dos Livros, 1996.
- Memórias, por D. Moisés Alves de Pinho, Lisboa, 1979.
Livros de espiritualidade
- A vida de Cristo segundo os evangelhos e as revelações de Catarina Emerick –
P. JoséAlves Terças, 1940.
- A caminho da Terra Santa, P. José Alves Terça.
- Novíssima Verba e Pensamentos de Santa Teresa do Menino Jesus, trad. pelo P.
José Cosme, 1940.
A actividade literária da Província
757
- Manual de Oração, 1944.
- O Autor da vida, P. Soares Moutinho.
- O meu ideal, Jesus Filho de Maria, 1955.
- Cartas a seminaristas em férias, P. Libermann. trad. de Francisco Lopes, 1960.
- Pensamentos do nosso Venerável Padre. Ed. LIAM.1960.
- Santa Maria Goretti, P. Silva Amorim. Ed. LIAM. 1968.
- A grande lição do Concílio, Gaston Courtois, 1968. Trad. de Teixeira Maio.
- O Padre, sinal de Cristo sacerdote, por J. Esquerda Bifet, 1969, Trad. de F.
Mendes Pereira.
- Caminhos de Juventude, P. Manuel Martins Vaz. Ed. Sampedro, Lisboa 1970.
- Alienação do Cristianismo, P. Manuel Martins Vaz, Ed. Almedina, Coimbra.
1971.
- Palavra de vida, P. Francisco Nogueira da Rocha, Lisboa, 1985.
- O sentido da vida, P. José Coelho Amorim, Ed. LIAM, 1971.
- Dimensão social, reflexões antropológicas. P. José Coelho Amorim. Ed.
Paulistas. 2000.
- Maria e o Espírito Santo, coordenação de P. Manuel Durães Barbosa, Lisboa,
1988.
- Manual da Legião de Maria, F. Duff, tradução do P. Francisco Lopes.
- Teologia do Apostolado da Legião de Maria, tradução do P. Francisco Lopes.
- Pioneiro do apostolado laical: Frank Duff, tradução do P. Francisco Lopes.
- Com a força do Espírito. A missão espiritana, hoje, P. Adélio Torres Neiva, 2002.
- O leigo, vocação para a missão, P. Adélio Torres Neiva, 2004.
- Oração de cada dia, P. João Mónico.
- Tu e eu, um só para a vida, P. João Mónico.
Livros de ciência e formação missionária
- ABC indígena ou Método de leitura – P. Domingos Vieira Baião. Patrocinado
pelo Instituto de Alta Cultura.
- Elementos de Gramática ganguela - P. Domingos Vieira Baião.
- Dicionário Ganguela - Português - P. Domingos Vieira Baião.
- Primeiros Elementos de Português, P. Manuelino de Oliveira, AGU. 1960.
- Missão e Evangelho, 1975, P. Ernesto Neiva.
- Missão e História, 1968, P. Álvaro Miranda Santos.
- A mitificação da côr, 1966, P. Álvaro Miranda Santos.
- A aculturação, 1970 - P. Álvaro Miranda Santos e Jorge Alarcão.
- Diagonais da Aculturação. P. Álvaro Miranda Santos. Ed. Portugal em África
1960-61.
- Informática e Psicologia. P. Álvaro Miranda Santos. Ed. ISPA. 1971.
- Expressividade e Personalidade: um século de psicologia. Álvaro Miranda
Santos. Ed. Atlântida 1973.
A Congregação do Espírito Santo. Cem anos em Angola, P. Henrique Alves, 1965.
- Quo vadis, Angola, P. Fernando Santos Neves. Ed. Colóquios, Luanda, 1974
758
Adélio TORRES NEIVA
- O Ecumenismo em Angola, do ecumenismo cristão ao ecumenismo universal,
P. Fernando Santos Neves. Ed. Colóquios, Luanda, 1968.
Liturgia, cristianismo e sociedade em Angola, P. Fernando Santos Neves, Ed.
Colóqios, Luanda, 1968.
- Negritude e Revolução em Angola, P. Fernando Santos Neves, Paris, 1974.
- No mundo dos Cabindas (2 volumes), P. José Martins Vaz, 1970.
- Filosofia tradicional dos Cabindas (2 vols), P. José Martins Vaz. Ed. Agência
Geral do Ultramar 1970. Prémio Frei João dos Santos da A.G.U. 1971.
- Sabedoria Cabinda: Símbolos e Provérbios, P. Joaquim Martins, Ed. Junta de
Investigação do Ultramar.
- Cabindas, História, crenças, usos e costumes, P. Joaquim Martins, Comissão de
Turismo da Câmara Municipal de Cabinda, 1972.
- Etnografia de Angola: P. Estermann, (2 vol.) colg. pelo P. Manuel Geraldes. 1983.
- Sabedoria do povo cuanhama em provérbios e adivinhas, P. Carlos
Mittelberger, 1991.
- Poesia pastoril dos cuanhamas, P. Carlos Mitelberger, 1991.
- Selecção de Provérbios e Adivinhas em mbundu, P. Francisco Valente, Ed.
Instituto de Investigação Científica de Angola, 1964.
- A problemática do matrimónio tribal, P. Francisco Valente, Ed. Inst. Investigação Científica de Angola. 1985.
- Manussunguila, a ceres mbundu, P. Francisco Valente, Luanda, 1974.
- Dicionário Português-Nhaneca, P. António Silva, Ed. Inst. de Investigação
Científica de Angola. 1970.
- Paisagem Africana, P. Francisco Valente, Instituto de Investigação Científica
de Angola, 1973.
- Provérbios em nhaneca, P. António Silva, 1989.
- Hora di bai, P. José Maria de Sousa, 1973.
- Doutrina Social da Igreja, I, II, III - P. Tony Neves, Ed. Arquidiocese do
Huambo, 1994-95.
- A Igreja em Angola e os Meios de Comunicação Social (C.F.Kavate), P. Tony
Neves, Ed - Arquidiocese do Huambo, 1995.
- Arquidiocese do Huambo, 1993 (Coordenação), P. Tony Neves, Ed. Arq.
Huambo, 1995.
- Justiça, Paz e Direitos Humanos, P. Tony Neves, Arq. Huambo, 1996.
- Missão no Huambo (1989-90), P. Tony Neves, Ed. Arq. Huambo e Diocese
do Kwito-Bié, 1996; 2ª ed. 1997.
- Missão em Angola (1998-1994), P. Tony Neves, 1997.
- Angola: A Igreja Católica pela Paz, P. Tony Neves, 2001, Ed, Rei dos livros.
- A Procuradoria das Missões, P. Adélio Torres Neiva, Lisboa, 1992.
- Instituto Superior Missionário do Espírito Santo, P. Ernesto de Azevedo Neiva,
2003.
- Em tempo de evangelização, P. Medeiros Janeiro, Paulinas 2003.
- Os espiritanos no Sudoeste de Angola, P. Serafim Lourenço, Lisboa 2003.
- Para uma política da emigração, P. António Cabral.
A actividade literária da Província
759
- Deuxième Génération migrante en quête d’identité (tese de licenciatura, policopiada), P. Firmino Cachada.
- Chemins de libération en Angola. Esquisse d´une théologie pratique de
l´espérance, (tese universitária policopiada), P. José Manuel Sabença.
- A nossa família cristã, P. Manuel Gonçalves.
- Jovens e casamento, P. Manuel Gonçalves e B. Ducrot.
- Contigo rezo melhor, José Eurico de Azevedo.
- Regulation des naissances et croissance démographique (tese universitária policopiada), Pedro Alexandre Fernandes.
Livros sobre os Encontros dos Professores
- A criança na encruzilhada da vida
- Criança e Missão
- Escola, Família e Missão
- A Escola no magistério da Igreja
- A Escola Primária na dinâmica missionária da fé
- A Escola na perspectiva missionária do Vaticano II
Cadernos de animação missionária
São cadernos especialmente concebidos para a formação de núcleos da LIAM.
O seu objectivo foi, em primeiro lugar, dar maior unidade à animação
missionária da Província e ao mesmo tempo situar a animação missionária em
sintonia com a pastoral da Igreja em Portugal. Começados em forma muito
modesta em 1979, policopiados e para uso interno, foram ganhando corpo até se
tornarem um livro consistente, com material variado para a animação
missionária. Os temas publicados foram os seguintes:
- Domingo e missão – 1979-80
- Família e missão – 1980-82
- Consagrados para a missão – 1982-83
- Reconciliação e missão – 1983-84
- Juventude, esperança da missão – 1984-85
- Missão e leigos na Igreja e no mundo – 1985-86
- Leigos ao serviço da Boa Nova – 1986-87
- A estrela da Evangelização – 1987-88
- Uma missão para o ano 2000: a solicitude social da Igreja - 1988-89
- Cinco séculos de evangelização e Encontro de culturas I – 1989-90
- Cinco séculos de evangelização e encontro de culturas II – 1890-91
- A Missão de Cristo Redentor – 1991-92
- Ir? Para onde? - 1992-93
- Ser feliz: a família e a missão – 1993-94
- A nova evangelização – 1994-95
- A paróquia sem fronteiras – 1995-96
760
Adélio TORRES NEIVA
- Jesus Cristo, único Salvador – 1996-97
- O Espírito Santo e a missão – 1997-98
- Deus Pai, fonte da missão- 1998-99
- Jubileu e missão – 1999-2000
- Missão para um novo milénio – 2000-2001
- Com a força do Espírito – 2002
- Festa da missão - 2002
- Leigo, vocação para a missão – 2004-2005.
Livros de ficção, história e poesia
- Cartas de ternura, pilhéria e saudade, P. João Gomes Gonçalves (Joãozinho de
Lã Branca), 1971.
- O verde e o vermelho, P. João Gomes Gonçalves, 1972.
- Pingos de sangue no caminho, P. João Gomes Gonçalves.
- O P. Américo: educação e sentido de responsabilidade, P. Manuel Durães
Barbosa, 1987, 2º ed. 1988.
- Espiritanos Egitanienses na segunda evangelização de Angola, P. Amadeu
Martins. Guarda 1995.
- Hino à Vida, P. Manuelino de Oliveira, Lisboa 1982.
- A vida que Deus nos deu, P. Manuelino de Oliveira, 1986.
- Viver a vida, P. Manuelino de Oliveira, 1989.
- Trabalhai enquanto é dia, P. Manuelino de Oliveira, 1990.
- S.Paio de Antas, sua história, sua gente, P. Adélio Torres Neiva.
- Freguesia de S.Cristóvão da Caranguejeira, P. João Mónico, 2000.
- Recordar 900 anos de Paços de Brandão, P. Joaquim Correia da Rocha, Junta
de Freguesia de Paços de Brandão, 1995.
- Reconciliação e paz em Angola em perspectiva cristã, P. Manuel Gonçalves.
- St. Mary Church, P. Medeiros Janeiro.
- A força da vontade, P. Medeiros Janeiro.
- Natal no Algarve. Raízes medievais, P. José da Cunha Duarte, Ed. Colibri.
2002.
Liturgia
- Psalite Deo, P. Manuel de Jesus Raposo.
- Celebrando agora, Senhor (3 vol): Ano A, 1992; Ano B, 1993; Ano C, 1994 ,
P. José Martins Vaz. Ed. Paulinas, 1992.
- Celebração diária da Eucaristia, 7 volumes, P. José Martins Vaz 1998-2003,
Ed. Rei dos Livros.
761
Capítulo 81
Os Espiritanos em Angola
A
Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo foi fundada
por causa da evangelização de Angola. Daí que Angola tenha sido de
facto, o grande laboratório da missão espiritana. Efectivamente quase
todos os espiritanos portugueses estiveram como missionários em Angola. Mas
a missão espiritana em Angola não é exclusivamente obra dos espiritanos
portugueses. Nos primeiros tempos, foram sobretudo os estrangeiros que para
aí foram enviados e depois, ao longo dos anos, em geral as comunidades
espiritanas eram partilhadas por portugueses, franceses, holandeses, belgas,
alemães, suíços, espanhóis, de modo que é impossível falar dos portugueses
separados dos outros missionários. Dos 1028 missionários espiritanos que
passaram por Angola, 502 eram portugueses.
Por outro lado, a missão dos Espiritanos em Angola é tão vasta e englobante,
que é impossível apresentá-la aqui, mesmo esquematicamente. Vamos, portanto,
limitar-nos a apontar alguns momentos e algumas áreas mais significativas desta
presença. Esperamos que brevemente seja publicada a história das missões
espiritanas em Angola.
A ocupação espiritual de Angola
Os Missionários do Espírito Santo chegaram a Angola em 1866, mas a
penetração em Angola só atingiu toda a sua expressão com a fundação da missão
da Huíla em 1880, pelo P. José Maria Antunes.
Antes, em 1866 houvera tentativa de penetração pelo Ambriz no norte e de
Capangombe, no sul, mas tanto de uma como de outra pouco resultou. As
circunstâncias, nomeadamente o facto de os primeiros missionários serem
franceses, não lhes foram propícias. Mais bem sucedida foi a fundação da missão
de Lândana em 1873, e, pode dizer-se, foi ela que abriu os caminhos e dispôs os
ânimos a favor da missão da Huíla em 1880. As linhas de rumo desta fundação
que, afinal, seria o programa de toda a actividade missionária dos Espiritanos em
Angola, ficaram logo esboçados no contrato da fundação entre o Governo
português e o P. Duparquet. O estabelecimento de um seminário indígena; um
colégio para rapazes filhos de colonos, de boers e de indígenas; um colégio para
educação de meninas; uma granja e uma escola profissional de artes e ofícios eram pontos assentes para ambas as partes.
Das intenções depressa se passou aos factos, pois, em 1883, 74 alunos da
762
Adélio TORRES NEIVA
missão eram já submetidos a exame público; em 1888, 20 rapazes frequentavam
o seminário-colégio, trasladado de Luanda para a Huíla e a escola de artes e
ofícios, onde estavam instaladas as oficinas de carpinteiro, marceneiro, ferreiro,
funileiro, pedreiro, sapateiro, tijoleiro e telhador, contava 80 aprendizes. O
internato das Irmãs somava 80 meninas.
Foi a partir deste auspicioso começo que o P. José Maria Antunes, superior da
missão, foi levado a gizar um plano geral de ocupação espiritual de Angola que
apresentou à Junta Geral das Missões, a qual emitiu sobre ele um notabilíssimo
parecer.
No seu plano de 1 de Dezembro de 1894, o P. Antunes chamava a atenção do
Governo para a necessidade de “ocupação efectiva” do território angolano,
“desde o meridiano do Bié até ao Baroze, numa extensão de 34.000 léguas
quadradas”. Lembrava ao Governo que, após o Congresso de Berlim, haveria
“sérias dificuldades para encorporar esses territórios na Província de Angola se
não tivesse ali centros de ocupação” por meio de feitorias comerciais, postos
militares, colónias de emigração europeia, ou missões religiosas”. Para a
ocupação missionária, o P. Antunes tomava “como princípio que as missões não
se deviam fundar a mais de vinte léguas umas das outras, a fim de que cada uma
pudesse servir de escola para as outras”, já por causa dos transportes, já em
atenção às doenças ou na previsão de outras emergências. Ora, como nessa altura
havia já quatro centros de Missões solidamente estabelecidas, o P. Antunes
partindo desses centros previa em menos de dez anos a ocupação de Angola:
Lândana, Malanje, Caconda e Huíla.
Efectivamente, de Lândana, fundada em 1873, irradiaram as missões de
Cabinda para o sul (1891), Lucula, para nordeste (1893), Santo António do
Zaire, para o sul do rio (1930) e Ambrizete-Tamboco na mesma direcção (1935),
sem falar no Luali (1890), a nordeste também.
De Malanje, criada em 1890, são filiadas a missão dos Bângalas (1913), o
Mussuco (1900), o Minungo (1929), o Saurimo (1930), o Dundo (1940), o
Lombe (1946), Cacuso (1925), Dalatando (1937), Libolo (1893), Dembos
(1938), Cazanga (1941), Chiengue (1950) e Quibala (1951).
De Caconda, fundada em 1890, irradiou em círculo uma rede de missões, a
todos os títulos notável: pela quantidade e influência que exerceu na
evangelização efectiva das regiões angolanas de maior população. Aí temos
Bailundo (1894), Balombo (1933), Bimbe (1929) Ganda (1927), Caála (1935)
Cuamato (1940), Vila da Ponte (1894), Cuíma (1938), Galangue (1922),
Huambo (1910), Mupa (1923), Omupanda (1928), Quipeio (1933), Sambo
(1912), Andulo (1933), Cachingues (1892), Caiundo (1940), Cuche (1912),
Entre Rios (1935), Nova Sintra (1936), Vila Junqueiro (1940), Chinguar (1942),
Canhe (1942), Nova Lisboa (1935), Mungo (1948), Bela Vista (1946), Silva
Porto (1933) e Nhareia (1951).
Da Huíla, fundada em 1881, irradiaram o Munhino, Jau (1888), Chivinguiro
(1892), Chiúlo (1916), Gambos (1895, Sêndi (1927), Lubango (1935).
Mas além destas missões que fundaram e dirigiram, os Missionários do Espírito
Os Espiritanos em Angola
763
Santo tiveram ainda a seu cargo as velhas paróquias da Huíla (1858), Humpata
(1887), Lubango (1858), Chibia (1889), Benguela (1817), Moçâmedes (1849).
Outras missões ainda foram sendo fundadas, como a Chanhora em Silva Porto,
Nazaré em Benguela, Caponte, no Lobito, de tal modo que em 1966, após 100
anos de presença em Angola os Espiritanos tinham a seu cargo 10 paróquias e 61
missões, onde trabalhavam 202 padres e 50 Irmãos. Ao todo tinham fundado 88
missões.
Contribuição científica
Apesar de o campo científico não ser o objectivo específico dos missionários,
a necessidade de conhecer a terra ainda por explorar, os costumes e a cultura dos
seus habitantes, para melhor os poder evangelizar, fez com que um bom número
de missionários aliasse o estudo e a investigação científica ao labor missionário.
Isto aconteceu sobretudo nos inícios da missionação, numa fase em que o
levantamento científico de Angola era ainda muito incipiente. Destes estudos
levados a cabo pelos missionários, em grande parte tomados à guisa de
apontamentos, poucos viriam a ser publicados. Mas mesmo assim, o seu impacto
foi de grande ressonância, tendo tido eco nos meios científicos mais cotados
dessa época.
Podemos agrupar fundamentalmente em quatro capítulos, os estudos de maior
interesse, levados a cabo pelos missionários espiritanos: Linguística, Geografia
Descritiva, Botânica e Etnografia.
Linguística. São cerca de 110 os livros relacionados com a linguística,
publicados pelos missionários espiritanos de Angola: gramáticas, dicionários e
vocabulários, métodos linguísticos e manuais de conversação, livros de leitura,
educação cívica e moral, livros escolares, catecismos, manuais de oração e cantos,
evangelhos, e histórias sagradas, etc. Destes livros, cerca de dois terços são
escolares, os restantes são de caracter religioso.
As línguas mais estudadas são: fiote, quioco, quicongo, quimbundo, mbundo,
ganguela, cwanhama, cuangar, diírico e muíla.
Entre os nomes mais representativos sobressaem os PP. Dekindt, Bonnefoux,
Lang, Lecomte, Wieder, José Sutter, Le Guennec, Mons. Luís Keilling, Albino
Alves Manso, António Silva, Francisco Valente, Carlos Estermann. De entre
todos merecem ser destacados o P. Albino Alves Manso, com o seu Dicionário
Etimológico Bundo-Português; o Dicionário Português. - Nhaneca do P. António
Silva e a Gramática Mbundu do P. Francisco Valente.
Geografia Descritiva. As viagens pelo mato, em boi cavalo ou em carro boer,
proporcionavam aos missionários o estudo da geografia local, nessa altura pouco
conhecida. Na Geografia Descritiva merecem referência os PP. Carlos
Duparquet, com as suas “Viagens na Cimbebásia”, Bonnefoux, Lecomte, que
forneceram elementos preciosos para a cartografia angolana. As conferências que
764
Adélio TORRES NEIVA
vários missionários proferiram na Sociedade de Geografia de Lisboa, mostram
quanto o seu contributo era apreciado.
Botânica. O P. Duparquet foi um botânico distinto a quem se atribui a
delimitação das zonas flóricas e florestais do Sul de Angola. Outro companheiro
de Duparquet foi o P. José Maria Antunes, que fez importantes colecções no
distrito da Huíla, de que existem hoje 100 espécimens no herbário de Coimbra;
a restante parte das suas colecções está depositada em Montpellier e Berlim, onde
foi estudada por diversos botânicos. Este material forneceu diversos tipos
clássicos aos quais foi dado o seu nome em homenagem a este explorador. Entre
muitos podemos mencionar: Pterocarpus Antunessi, Acacia Antunessi, e Albizzia
Antunesiana. O Governo de Angola deu o seu nome a uma escola oficial e emitiu
uma série de selos com a sua efígie. Outros botânicos foram os PP. Benedito
Bonnefoux, Eugénio Dekindt, que têm também várias espécies depositadas nos
museus Botânicos de Berlim, Montpellier e Coimbra, como por exemplo as
Pierocarpus Dekinditi, Dalbergia Dekindiana, etc.
Etnografia. À semelhança da linguística, a etnografia e a etnologia são ciências
subsidiárias do apostolado, que nenhum missionário pode ignorar. Mas como
noutros ramos da ciência, há que distinguir entre os missionários que adquirem
conhecimentos etnográficos apenas para uso próprio e outros que comunicam os
resultados dos seus estudos ao grande público. Há bastante material etnográfico
publicado por missionários, que se encontra disperso por
várias revistas científicas, como Portugal em África, Les
Missions Catholiques, Annales Apostoliques, Missões de
Angola e Congo. Entre todos merece referência especial o
P. Carlos Estermann que se veio a tornar o maior vulto da
etnografia do sudoeste de Angola. Doutorado “Honoris
Causa” pela Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa publicou, entre outras obras a sua monumental
Etnografia do Sudoeste de Angola (3 volumes), Album de
Penteados
do Sudoeste de Angola, Cinquenta Contos bantos
P. Estermann
do Sudoeste de Angola, etc. O seu nome foi dado a uma
artéria e à Escola do Magistério Primário de Sá da Bandeira e ao Museu Etnográfico
do Lobito. Recebeu as seguintes distinções: Oficialato da Ordem do Império,
Comenda “Chevalier de Nichan-El Anouar”, Insígnia “Pro Ecclesia et Pontifice”,
Comenda da Ordem Militar de Santiago de Espada.
Outros se notabilizaram neste campo como os P. Francisco Valente, José
Martins Vaz e Joaquim Martins.
Promoção cultural e social
Entre as obras de maior destaque levadas a cabo pelos Espiritanos no campo da
promoção social e cultural, destacamos:
Os Espiritanos em Angola
765
- o Colégio do Espírito Santo - Começado em Sá da Bandeira com o nome de
Colégio Infante de Sagres, passou depois para Nova Lisboa, onde foi baptizado
primeiro com o nome de Alexandre Herculano e depois “Colégio do Espírito
Santo”, sendo uma das instituições mais credenciadas de toda Angola. Era o mais
imponente estabelecimento de ensino particular de Angola, com as suas 15 salas
e capacidade para 550 alunos e 33 quartos individuais. Desde a sua fundação em
1952, enviou o colégio para a universidade centenas de alunos que vieram a
ocupar lugar de destaque na sociedade angolana.
- Escola de Habilitação de Professores de Posto escolar Teófilo Duarte do Cuíma
– Nesta escola, de 1952 a 1966 foram diplomados 592 alunos pertencentes às
varias dioceses de Angola.
- Jornal “O Apostolado” – Foi fundado por D. Moisés Alves de Pinho em 1935,
tomando depois a direcção do jornal o P. José Maria Pereira que se manteve
neste cargo até assumir a direcção da Rádio Ecclesia, altura em que foi
substituído pelo P. Henrique Alves. Foi um jornal que depressa se impôs pela
doutrina que propalava e pela leitura crítica que fazia dos acontecimentos.
- Rádio Ecclesia – Na segunda metade de 1954, Ano Santo Mariano, “O
Apostolado” deu início à campanha para a fundação de uma Emissora Católica
em Angola. Ela nasceu do sonho do director do jornal P. José Maria Pereira. A
primeira emissão teve lugar a 8 de Dezembro de 1954, embora só iniciando as
suas emissões diárias a 19 de Março de 1955. Foi uma obra que se foi
desenvolvendo até se tornar a voz mais autorizada e mais ouvida em toda Angola.
- Casa dos Rapazes de Luanda - Fundada modestamente pelo P. Isalino Alves
Gomes, em 1942, para acolher os rapazes da rua, veio a atingir grande expressão
com edifícios modernos e todas as oficinas, na estrada do Catete, pelos PP.
Mário Silva e Francisco Freitas.
Até 1966 passaram por esta obra 850 rapazes, com as mais diversas
profissionalizações. A Câmara de Luanda em 1970 deu o nome do P. Mário Silva
a uma rua do Bairro Américo Tomaz, junto ao aeroporto de Luanda.
- Casa dos Rapazes de Nova Lisboa – Foi em 1955 que o P. António Ferreira da
Silva a fundou em Nova Lisboa. Começou com cinco rapazes, todos órfãos e
abandonados. Como a Casa dos Rapazes de Luanda, também esta obra atingiu
grande desenvolvimento, chegando a ter a população de 136 internos.
A formação do Clero angolano
É sem dúvida a “jóia da coroa” dos Missionários Espiritanos em Angola. Desde
o início, a sua preocupação principal foi formar o clero nativo para lançar a igreja
local. Era já o projecto inicial do P. José Maria Antunes, a quando da fundação
da missão da Huíla, que depois foi assumido por todos os superiores dos
diferentes distritos religiosos de Angola.
Assim, o primeiro seminário em que os Espiritanos colaboraram foi o Seminário
de Luanda, transferido para a Huíla. Na segunda fase da vida do seminário, já em
Luanda, em 1932, os Espiritanos continuaram a prestar a sua colaboração.
766
Adélio TORRES NEIVA
Desde 1936 a 1961 matricularam-se no Seminário de Luanda 559 alunos, dos
quais 34 foram ordenados sacerdotes.
A quando da fundação da missão de Lândana, uma das primeiras preocupações
do P. Duparquet foi fundar aí um seminário para a formação do clero nativo.
Este seminário esteve em Lândana, desde 1879 a 1936, passando depois para
Lucula até 1937 e para Cabinda, de 1947 a 1975.
Dos 791 alunos que frequentaram este seminário, foram ordenados 15.
Um terceiro seminário para a formação do clero nativo a ser pensado foi em
Malanje pelo P. Kraft, a quando da fundação da missão. Mas só em 1927 é que o
P.Cardona lançou os seus fundamentos. Este seminário foi transferido para a
missão dos Bângalas em 1935, regressando a Malanje em 1943.
Desde 1927 a 1965 passaram pelo seminário de Malanje 580 alunos, tendo sido
ordenados 24. Como nos outros, também ali trabalharam dezenas de espiritanos.
Outro seminário diocesano fundado pelos Espiritanos foi o da Caála em 1921.
Começou na missão do Sambo com um único aluno, no ano seguinte foi
transferido para a missão de Galangue, onde funcionou até 1940. Daqui passou
para o Nambi, perto do Bié e daqui para a Caála.
De 1921 a 1962 matricularam-se neste seminário 1.276 alunos, com uma
percentagem de 3 por cento de ordenações sacerdotais. Em 1966 o número dos
seus alunos era de 247.
Seminário de Cristo Rei, em Nova Lisboa. Nasceu para dar sequência ao
Seminário da Caála. Primeiro, passou pelo Quipeio, mas D. Daniel Junqueira,
logo que foi ordenado bispo mandou construir o seu Seminário Maior em Nova
Lisboa, que abriu em 1947.
De 1934 a 1967 foram ordenados neste seminário 88 sacerdotes, sendo 81
nativos e 7 vindos dos seminários de Portugal.
Seminário de Silva Porto (Bié). Também este seminário teve a sua origem na
missão de Galangue; daqui foi transferido para o Námbi em 1940. Em 1963 o
seminário foi definitivamente mudado para um novo edifício em Silva Porto,
mandado construir por D. Ildefonso que confiou a sua direcção aos espiritanos.
O Seminário do Jau teve a sua origem no antigo seminário da Huíla que serviu
Luanda de 1882 a 1907 e que recomeçou em 1932 e que em 1938 transitou para
o Jau. Esta transferência foi feita para salvar a lenta agonia por que a missão do
Jau então passava. Ali foram construídas instalações condignas.
Finalmente, o Seminário do Espírito Santo. Servidas todas as dioceses, a
Congregação julgou ter chegado o momento oportuno para propor à Igreja
Angolana o carisma espiritano, para o qual várias vocações começavam a surgir.
Até ao presente, a Congregação tinha apenas um padre nativo: o P. Luís Barros
da Silva, natural do Bié, que terminados os estudos nos seminários diocesanos,
professou no Noviciado Espiritano de Sintra a 19 de Março de 1897.
A ideia de fundar um seminário menor espiritano vinha de longe e coube ao P.
Armando Pinto, superior principal do Distrito de Nova Lisboa, corporizá-la, sob
as instâncias continuamente repetidas, do Superior Geral da Congregação,
Mons. Marcel Lefebvre.
Os Espiritanos em Angola
767
A 15 de Outubro de 1965, no edifício do antigo Colégio Alexandre Herculano,
inaugurava-se o Seminário menor da Congregação do Espírito Santo, com 33
alunos do 1º ano, vindos de todos os cantos de Angola e enviados pelos
superiores das missões.
Mais tarde, os alunos do 2.º Ciclo frequentaram as aulas no Colégio do
Espírito Santo. Durante o período marxizante do pós-independência, os
seminaristas mais adiantados ajudaram a ocupar a parte da comunidade do
Colégio do Espírito Santo, agora transformado em Escola de pioneiros,
frequentando os alunos as aulas no Seminário de Cristo Rei.
Três escolasticados menores vieram a funcionar: um em Nova Lisboa, outro
em Malanje e um terceiro em Lândana. O Noviciado, aberto em 1975, viria a ter
a sua sede na missão do Munhino.
A 29 de Junho de 1977 era criada em Angola uma província Espiritana. Esta
fundação é sobretudo devida à dedicação e trabalho de cerca de um milhar de
missionários espiritanos que pouco a pouco foi lançando os fundamentos desta
Província.
769
Capítulo 82
Os Missionários do Espírito Santo em
Cabo Verde
O
projecto de enviar Missionários do Espírito Santo para Cabo Verde,
remonta já a 1850. Nesse ano, com efeito, Mons. Bessieux, Prefeito
Apostólico do Gabão, escrevia a Mons. Kobès: “Talvez possa ceder
dois ou três missionários para as ilhas de Cabo Verde”. Talvez por falta de
pessoal, Mons. Bessieux não passou de boas intenções.
Alguns anos mais tarde, a 2 de Fevereiro de 1893, o P. António da Costa
Teixeira, cabo-verdeano, de Santo Antão, escrevia a um espiritano de Portugal,
pedindo-lhe o envio de missionários espiritanos para Cabo Verde:
“Tenha a bondade, rev. padre de me informar se haverá qualquer possibilidade de
me obter três ou quatro padres da sua congregação para dirigir o seminário – colégio
da nossa diocese e diga-me também em que condições a Congregação poderia aceitar
esta obra. A nossa pobre diocese está completamente desprovida de clero instruído e
formado segundo o espírito sacerdotal. As igrejas estão sujas, os templos silenciosos e
abandonados, as cerimónias mal feitas e (...), as vestes sagradas sujas e fora de uso,
de sermões, ensino religioso, confissões, práticas de devoção é melhor não falar, pois
de tudo isto há pouco.
Ninguém pratica a religião sinceramente nem o clero nem o povo: este, em virtude
da sua ignorância e dos maus exemplos que vê constantemente; aquele pela
ignorância, rotina, inconsciência, relaxamento, para não dizer o aviltamento em
que se encontra. O director espiritual e bons professores fazem muita falta no
seminário. Numa palavra, não há nada absolutamente nada que se aproveite.
Ajudar pelos seus trabalhos, virtudes, ciência e seu zelo a reforma do clero, seria da
parte dos Padres do Espírito Santo um acto de caridade e tal modo sublime que só
Deus os poderia recompensar dignamente.
Eu sou um simples padre mas o estado de coisas da nossa pobre diocese aflige-me
tanto que tomo a liberdade de lhe procurar um remédio. Por isso, faço tudo o que
posso para trazer a fé e a religião ao meio de nós.
Espero que me informe do que os superiores decidirão a este respeito. Espero
apenas uma resposta para acertar o assunto com os meus superiores a quem já falei e
que muito desejam saber se a Congregação aceita. Logo que tudo se assente, os meus
superiores tratarão de um acordo definitivo com a Congregação”.
Não sabemos qual foi a resposta da Congregação ao P. Teixeira, nem sequer se
terá chegado a haver contactos entre os superiores espiritanos da época e o bispo de
Cabo Verde D. Joaquim Augusto de Barros, que viria a falecer em Março de 1904.
770
Adélio TORRES NEIVA
Só muitos anos mais tarde, em 1941, se viria a efectuar o projecto de enviar
Missionários Espiritanos para Cabo Verde. Tal aconteceu com a nomeação do
espiritano D. Faustino Moreira dos Santos para substituir nas funções episcopais
em Cabo Verde D. Rafael Maria da Assunção, que resignou em Janeiro de 1941.
Quando D. Faustino se tornou bispo de Cabo Verde, a sua experiência
missionária em Angola era já muito vasta e fecunda, tendo sido nomeado
Prefeito Apostólico do Congo em 1919. Com a extinção desta Prefeitura em
1940, Mons. Faustino foi nomeado bispo da diocese de Cabo Verde, que
entretanto se via desligada da Guiné.
Assim, a 17 de Novembro de 1941, D. Faustino parte de Lisboa para Cabo
Verde, a bordo do navio “Guiné”. Com ele vão mais três
espiritanos: os PP. José Neiva Araújo, seu secretário,
Lúcio dos Anjos e Lindorfo Quintas. Seguiam ainda no
mesmo grupo de missionários dois padres seculares:
Félix Lopes e Abel Leite, bem como dois seminaristas,
Artur Barbosa e Cecílio Cardoso. Segundo uma crónica
do P. Lindorfo Quintas, a chegada ao arquipélago caboverdeano teve lugar no dia 23 de Novembro, na ilha de S.
Vicente. Como era domingo, o bispo e seus missionários
desceram em terra para celebrarem missa e visitarem a
D. Faustino M. dos Santos
cidade. No dia 25 seguiram para a ilha de S. Nicolau,
onde estava sediado o bispado; aqui chegaram a 30 de Novembro.
Destinados à Ilha de Santiago, os PP. Lúcio e Quintas para lá seguiram, no dia
15 de Dezembro.
Chegados a Cabo Verde, D. Faustino depressa se apressou a tomar
providências para revitalizar a diocese com a vinda de missionários,
nomeadamente espiritanos. Estes deveriam inserir-se no regime paroquial que,
evidentemente, se mantinha em vigor, de acordo com as determinações do
Acordo Missionário (art.20). Nessa linha, era o P. Lúcio dos Anjos nomeado
pároco da freguesia de S. Nicolau Tolentino, tendo ainda a seu cargo as
freguesias de Nª Sª da Paz e de S. João Baptista; e o P. Lindorfo Quintas foi
nomeado pároco das paróquias de S. Lourenço dos Órgãos e de Santo Amaro,
Abade (Tarrafal), estendendo a sua acção pastoral a outras paróquias daquela
ilha. Será nesta ilha de Santiago, a maior e a mais populosa do arquipélago e
depois também nas ilhas do Maio, Bela Vista e Santo Antão que os espiritanos
vão exercer a sua actividade, dando assim início a uma nova fase da evangelização
das ilhas de Cabo Verde.
A 17 de Dezembro de 1942, o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal
Maglione, recomendou as missões de Santiago de Cabo Verde aos Missionários
do Espírito Santo, nas pessoas do Superior Geral Mons. Le Hunsec e do
provincial de Portugal P. Clemente Pereira da Silva.
A necessidade do P. Lúcio de voltar a Portugal, logo em 1942, colocou o P.
Quintas em notória dificuldade, pois ficaram a seu cargo as seis paróquias que
oficialmente estavam confiadas aos Missionários do Espírito Santo. Não durará
Os Missionários do Espírito Santo em Cabo Verde
771
muito o seu isolamento mas também não durará muito a sua vida. Uma
actividade tão intensa ocasionará o desgaste prematuro deste jovem missionário.
Em Junho de 1944 teve que regressar a Portugal, dominado por uma hipertrofia
cardíaca. Virá a falecer a 7 de Abril de 1945, no seminário do Fraião. Foi um
verdadeiro pioneiro que ainda hoje é recordado em Cabo Verde.
Para remediar a situação em que o P. Quintas se encontrava, a 24 de Outubro
de 1942 desembarcava em Cabo Verde uma segunda leva de espiritanos: os PP.
Henrique Alves e Frederico Duff: o primeiro, jovem missionário vindo da
docência nos seminários espiritanos de Portugal; o segundo, de ascendência
inglesa, tinha já uma longa experiência de Angola com 19 anos na Huíla.
Logo no início, o P. Henrique Alves foi nomeado pároco das seis freguesias
que estavam a cargo do P. Lindorfo Quintas: S. Nicolau Tolentino (S.
Domingos), S. Salvador do Mundo (Picos), S. Lourenço dos Órgãos, Sto.
Amaro Abade (Tarrafal), S. João Baptista (Cidade Velha) e Nª Senhora da Luz
(Milho Branco). Os PP. Quintas e Duff ficaram como vigários cooperadores das
mesmas paróquias. Assim, das 11 paróquias da Ilha de Santiago, seis eram
confiadas aos Espiritanos. Estes, peregrinando por cada uma das paróquias,
procuraram revitalizar as suas estruturas, organizar a catequese, administrar os
sacramentos, etc. Ao todo eram 119 pequenas povoações, com um total de
26.621 almas. Ao mesmo tempo o P. Henrique era nomeado superior religioso
do grupo espiritano de Cabo Verde e começou os preparativos para formar a
primeira comunidade-residência espiritana. O espiritano seguinte a chegar a
Cabo Verde foi o P. Augusto Nogueira de Sousa.
A 23 de Janeiro de 1943, o P. Henrique Alves é nomeado pároco da paróquia
de Nossa Senhora da Graça, na Praia e da ilha do Maio: a cidade da Praia passaria
a ser o centro de irradiação apostólica dos Espiritanos na diocese de Cabo Verde.
Em Abril desse ano, o P. Henrique Alves adquiriu nessa cidade uma residência,
que se tornou a sede da comunidade espiritana e que foi dedicada ao Sagrado
Coração de Jesus. Em breve se juntarão a estes pioneiros da evangelização de
Cabo Verde novos confrades espiritanos portugueses e suíços, bem como
capuchinhos italianos e salesianos portugueses.
A 27 de Maio de 1943, D. Faustino vem para a cidade da Praia e aqui estabelece
o seu bispado, que desde 1866 estivera na vila Ribeira Brava, na ilha de S. Nicolau.
O novo distrito de Cabo Verde
A 17 de Setembro de 1946 foi criado oficialmente o Distrito Espiritano de
Cabo Verde e nomeado seu superior principal o P. Francisco Alves do Rego. Em
Janeiro de 1947 era aprovado o primeiro Conselho do Distrito assim
constituído: P. Rego, superior principal e procurador provisório do distrito, PP.
Augusto Nogueira e Fernando Bussard, assistentes; Frederico Duff e Manuel
Rodrigues Ferreira, conselheiros.
A cargo do distrito ficava toda a ilha de Santiago e daí a três anos, também a
ilha do Maio. Contudo, restavam ainda as outras ilhas e que igualmente careciam
772
Adélio TORRES NEIVA
de padre. Por esse motivo, D. Faustino procurou o apoio de outros institutos
religiosos e clero secular de outras dioceses. Nesse sentido, conseguiu a
colaboração dos Salesianos (3 padres e 5 irmãos), Capuchinhos (3 padres e 1
Irmão) e de alguns padres diocesanos. Das Congregações Religiosas femininas
responderam ao apelo as Irmãs do Espírito Santo (12) e as Irmãs do Amor de
Deus (10).
A 19 de Dezembro de 1953 chegam os PP. Avelino Vieira Alves e João
Eduardo Moniz. E no ano seguinte, 1954 chegam os PP. Custódio Ferreira
Campos e António Sá Cachada, sendo o primeiro colocado no Tarrafal e o
segundo em Santa Catarina. De Santa Catarina, o P. Campos assistirá também a
Ilha do Maio, pastoralmente ligada ao Tarrafal.
A 30 de Julho de 1955, por morte de D. Faustino Moreira dos Santos, é
nomeado Administrador Apostólico “Sede Vacante” da diocese o P. Augusto
Nogueira. Nessa data, estavam ainda sem missionário três ilhas. D. José Colaço,
o bispo que sucedeu a D. Faustino, trouxe consigo alguns padres goeses que se
integraram no clero secular da diocese. Assim todas as ilhas acabaram por ser
assistidas pastoralmente. Em 1966, o número de sacerdotes era já de 46, em
contraste com os 13 que existiam em 1941 e as Religiosas 26.
Em 7 de Setembro de 1955, o P. José Pereira de Oliveira foi nomeado novo
superior do Distrito em substituição do P. Francisco Rego e chegou a Cabo
Verde, acompanhado do P. Jerónimo Ferreira, a 18 de Novembro do mesmo
ano.
Sucedeu-lhe como superior, em 1963, o P. José Maria de Sousa. O P. Pereira
de Oliveira tinha acumulado as funções de superior principal e pároco da Praia.
O P. José Maria propôs ao bispo o P. Figueira Pinto para pároco da Praia,
ficando ele mais disponível para o serviço do distrito e ajuda aos confrades. A sua
residência era a casa paroquial na Praia.
Durante o seu mandato, o P. José Maria de Sousa, com o dinheiro que recebia
das aulas no liceu, comprou a Praia Negra por 60.000$00. Depois, ainda com as
suas economias, comprou ao Sr. Serban por 200.000$00 o “Bar Benfica”, onde se
viria a construir a actual residência espiritana da Praia. O seu objectivo era ter uma
residência espiritana na Praia para poder acolher os confrades e fazer reuniões,
bem como acolher alguns estudantes com fim vocacional. Conseguiu do
Ministério do Ultramar a elaboração duma planta para um lar estudantil a edificar
pegado à residência, no espaço entre a casa e o hospital: o edifício tinha dois pisos
inferiores e três pisos superiores ao plateau. Tanto a Casa Mãe como o Ministério
do Ultramar prometeram ajuda. Com o advento da independência, todas estas
promessas caíram por terra. Mas, apesar de tudo, abriu-se caminho para a actual
Casa Espiritana, cuja última ampliação e remodelação veio a ser realizada sob a
orientação do P. José Fagundes Pires, superior principal do Distrito.
Em 1962 é ordenado o primeiro padre espiritano natural de Cabo Verde. O P.
Paulino Évora, que mais tarde viria a ser bispo dessa diocese, e professam dois
Irmãos espiritanos cabo-verdianos, os Irmãos Baltazar e Cecílio.
Em 30 de Novembro de 1966, com solene Te Deum e sessão comemorativa
Os Missionários do Espírito Santo em Cabo Verde
773
celebraram-se as Bodas de Prata da chegada dos Espiritanos a Cabo Verde e em
1991, entre Bodas de Ouro e outros momentos celebrativos, inaugura-se a actual
Residência Espiritana da Praia.
A 22 de Abril de 1975 foi nomeado Bispo de Cabo Verde D. Paulino do
Livramento Évora, espiritano, natural da Praia, sendo ordenado bispo na missão
católica do Cacuso, em Angola, onde missionava, em 1 de Junho de 1975; a sua
entrada na diocese deu-se a 22 de Junho desse mesmo ano.
Os superiores principais de Cabo Verde, foram: P.Henrique Alves (19421946), P. Francisco Alves do Rego (1946-1955), P. José Pereira de Oliveira
(1955-1964), P. José Maria de Sousa (1964-1970) o P. João Eduardo Moniz
(1970)-1972), P. Francisco Manuel Lopes (1972-1973), P. Manuel dos Santos
Neves (1973-1979), P. Gil Afonso Losa (1979-1982), P. José Fagundes Pires
(1982-1992), P. Adélio Cunha Fonte (1992-1999) e P. Manuel Martins Novais
Ferreira (1999).
Os Espiritanos chegaram a assumir a responsabilidade pastoral de todas as
paróquias de Santiago, bem como a do Maio; mas a paróquia de Santa Catarina
foi entregue ao clero secular em 1976 e a de Nossa Senhora da Graça, da Praia
em 1978. Na paróquia da Senhora da Graça trabalharam os PP. Figueira Pinto,
Henrique Alves, Francisco Rego, José Pereira de Oliveira, Avelino Vieira Alves,
João Eduardo Moniz. Da paróquia de Santa Catarina é justo recordar a figura
quase lendária do P. Luís Allaz, suíço, que aí trabalhou durante muitos anos e
cuja solicitude pastoral o povo nunca esquecerá. Ali deram também a sua
colaboração os PP. Eduardo Moniz, José Maria de Sousa, António Botelho e
Veríssimo Teles.
Também as duas paróquias da ilha da Boavista estiveram sob a
responsabilidade pastoral dos Espiritanos de 1975 a 1989, primeiro com um
pároco residente, o P. Custódio Campos, e mais tarde assistida a partir de
Santiago.
Actualmente, os confrades que compõem o distrito espiritano são 17 (mais o
bispo D. Paulino), dois dos quais são nigerianos, e trabalham em doze paróquias
nas três ilhas: Santiago, Maio e Santo Antão.
Na “Cidade Velha”, que foi a primeira paróquia de Cabo Verde, a antiga
Ribeira Grande, desembarcaram os primeiros missionários em 1462. Foi sede do
bispado e do governo até 1860. Em 1941 o bispado passou para a Praia. O pároco
actual da Cidade Velha é o P. Custódio Ferreira Campos. O P. Campos, depois
de vários anos no Tarrafal, esteve depois três anos na Boavista e desde 1978
pastoreia as duas paróquias mais descristianizadas e mais difíceis da ilha:
Santíssimo Nome de Jesus (Cidade Velha) e S. João Baptista. O P. Campos é
uma das figuras de missionário do povo, mais queridas e apreciadas, a ponto de
ser condecorado em 2003.
Aqui trabalharam, entre outros, os PP. Eduardo Moniz, Nogueira de Sousa,
Arthur Emery, António Figueira, Francisco Rego, António Ventura e Crettaz.
Na paróquia de S. Nicolau Tolentino (S. Domingos) está o outro veterano de
Cabo Verde: o P. António Cachada. Aí reside desde 1968, ano em que principiou
774
Adélio TORRES NEIVA
a seca e em que ele deixou Santa Catarina, paróquia a que dedicou os seus
primeiros 14 anos, desde que chegou a Cabo Verde em 1954. É uma paróquia
com grande movimento pastoral e donde saíram já várias vocações espiritanas
como os PP. João Baptista Frederico Barros e Manuel Alves Andrade Semedo.
Desde 1941 foram párocos os PP. Lúcio dos Anjos, Manuel Rodrigues Ferreira,
António Figueira Pinto (desde 1951 a 1966), Mendes Campos (substituído
1966/67), António Cachada. Ali colaboraram os PP. Arlindo Areia Amaro,
Firmino da Costa Sá Cachada, José Luís Souto Coelho, João David Souto
Coelho, Manuel Martins Novais Ferreira, Tarcísio Santos Moreira, Mário Faria
Silva.
Em S. Lourenço dos Órgãos encontra-se desde 1968 o P. Alberto Meireles.
Durante alguns anos foi companheiro do P. Arlindo Areia Amaro, que aí criou
a Família Agrária, uma espécie de comunidade de base, em moldes adaptados ao
meio social e cultural da terra. O P. Arlindo deixou os Órgãos, a quando das
perturbações do 25 de Abril de 1974, indo depois assistir os cabo-verdeanos em
Dacar. Foi ele que em 1973 iniciou a construção do imponente Centro Paroquial
dos Órgãos, que o P. Alberto Meireles concluiu. Em 1943, S. Lourenço dos
Órgãos foi um dos centros de irradiação dos Espiritanos para as paróquias da
ilha. Ali vigora, em estreita relação com a paróquia a “Associação de Animadoras
Missionárias”, uma associação de leigas que partilha a espiritualidade espiritana e
que foi fundada pelo P. Arlindo Areia Amaro.
Nos Picos, cuja igreja sobressai num cenário de majestade, pontifica o P.
Francisco Sanches Cardoso, que ali construiu uma igreja e uma residência.
Natural da vizinha paróquia de S. Miguel da Calheta, é o segundo espiritano
natural de Cabo Verde. Encontra-se como missionário na sua terra, desde 1978.
É uma paróquia que durante bastante tempo esteve anexa a S. Lourenço dos
Órgãos e por ali passaram vários espiritanos, entre os quais os PP. Joaquim Cruz,
Manuel Santos Neves, Alberto Meireles, etc.
Em Pedra Badejo, na paróquia de Santiago Maior, até 1977 anexa a S. Miguel,
por falta de padre, reside o P. Gil Losa. Com a sua presença a paróquia ganhou
outra vida, com a bela e ampla igreja que ele construiu. O P. Gil encontra-se em
Cabo Verde desde 1964. Ali trabalhou também o P. José Coelho Barbosa e
trabalha actualmente o P. António Cardoso Botelho. Os primeiros espiritanos
que ali trabalharam, irradiando dos Órgãos foram os PP. Luís Allaz, Arthur
Emery, e depois P. Crettaz, pároco de S. Miguel, Luís Mudry e Joaquim Barata.
Não se pode falar da Calheta, sem recordar os dois grandes missionários
daquela paróquia, P. Cretaz, suíço e P. João Eduardo Moniz, curiosamente ali
ambos falecidos em 1989, a poucos meses de distância e sepultados, por voto
expresso do povo agradecido, em mini-cemitério propositadamente construído
no adro da igreja. O P. Crettaz chegou à Calheta em 1947 e foi ele que tratou da
passagem da sede da igreja paroquial da antiga igreja da matriz, situada na Ribeira
de S. Miguel para a actual colina do porto da Calheta. Ali construiu a igreja
paroquial iniciada em 1960 e inaugurada em 1963 conjuntamente com a
residência paroquial. Coube ao P. José Carreira Júnior, como pároco e ao P.
Os Missionários do Espírito Santo em Cabo Verde
775
Francisco Mendes Pereira, como vigário cooperador, continuar a obra. Ali
trabalharam também os PP. António Botelho, João David Souto Coelho, José
Fagundes Pires e Gil Losa. Hoje, a paróquia está a cargo do P. António Marques
de Sousa com a colaboração dos P. Nuno Miguel da Silva Rodrigues,
especialmente encarregado do sector escolar, e o P. Crisógono, nigeriano. Ali
funciona a “Escola P. Moniz,” uma escola que ele mesmo fundou em 1977 e que
se foi desenvolvendo, a ponto de hoje contar cerca de 1.100 alunos no curso
secundário. Foi, 12 anos depois da sua morte, que a escola foi baptizada com o
nome do P. João Moniz. O P. Moniz foi agraciado, a título póstumo, pelo
Presidente da República de Portugal, com o grau de oficial da Ordem de Mérito,
condecoração que foi entregue pelo Embaixador de Portugal, a 10 de Junho de
1989.
Colaboram na paróquia as Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Maria, uma
fundação de origem cabo-verdiana.
O Tarrafal, antigamente terra mal afamada, para onde eram enviados os
degredados políticos mais famosos, é hoje com a sua belíssima praia, um dos
paraísos do turismo do arquipélago. Ali trabalham os PP. Manuel da Silva
Santana e Manuel Ferreira da Silva. Esta paróquia recebeu a primeira visita do P.
Lindorfo Quintas em Maio-Junho de 1942. De 1944 a 1946 esteve entregue aos
cuidados de um padre diocesano; em 1947 ali chegaram de novo os espiritanos
em cima de um camião da Câmara que fora rebocá-los e ao seu carro, cujo semieixo partira pelo caminho. O P. Santana ali trabalha desde 1979 e o P. Ferreira da
Silva desde 1989. Trabalharam nesta paróquia os PP. Augusto Nogueira de
Sousa, Custódio Campos, Manuel Ferreira, Crettaz, João Eduardo Moniz,
Francisco Cardoso, António Sá Cachada, Peixoto Lopes, José Carreira Júnior,
Veríssimo Teles.
A paróquia da Senhora da Luz esteve anexa a S. Domingos ou assistida pela
paróquia da Praia. Desde 1992 que é paróquia autónoma, tendo sido seu pároco
o P. José Fagundes Pires. Ali trabalharam os PP. António Figueira, Mudry,
Arlindo Amaro, António Cachada, Manuel Ferreira, Manuel Martins Novais,
Mário Silva, João David Souto e quase todos os que passaram por S.Domingos.
O primeiro espiritano a visitar a Ilha do Maio, na altura anexa à paróquia do
Tarrafal, foi o P. Augusto Nogueira de Sousa, em 1945. A partir daí, vários foram
os missionários do Maio, normalmente idos do Tarrafal ou da Praia. As viagens
por barco, tanto podiam demorar três horas como três dias, conforme os
caprichos do vento; hoje são 11 minutos de avião. O primeiro a fixar residência,
mais propriamente na vila do Maio, foi o P. Joaquim Martins Barata (1962-1972)
que ali ficou até a saúde o permitir, vindo a falecer em Portugal em 1979. Como
seu substituto, a partir de 1977, ficou o P. António Cardoso Botelho, que desde
1972 se encontrava em Santa Catarina, na ilha de Santiago. Foi ele que ali
construíu um moderno e funcional “Lar Paroquial”. Com ele ficou o Irmão
Queirós. O P. Botelho passou depois para colaborador do P. Gil Losa em Pedra
Badejo, sendo substituído no Maio em pelo P. José Carreira Júnior. Colaboram
na paróquia as Irmãs Escravas da Santíssima Eucaristia.
776
Adélio TORRES NEIVA
Em Novembro de 2001, respondendo a um apelo do bispo de Cabo Verde para
assistir a Ilha de Santo Antão, cujo pároco, ainda novo, acabava de falecer
repentinamente, o Distrito assumiu a assistência espiritual daquela ilha, para
onde foram enviados os PP. José Fagundes Pires e Isidoro, nigeriano, que
assumiram por três anos as duas paróquias da ilha: Santo Crucifixo e S. Pedro.
Ao fim dos 3 anos regressaram a Santiago.
O número dos espiritanos portugueses tem mudado conforme as
circunstâncias, mas a média é de 15 membros, por vezes com seminaristas
estagiários. De 1970 para cá estagiaram os seguintes seminaristas portugueses:
Luís Cabral (1970-1972), Armando Ferreira da Silva (1970-1972), José Luís
Souto Coelho (1978-1980), João David Souto Coelho (1980-1982), Alberto
Jerónimo Santos (1981), Raul Viana Barbosa (1998), Nuno Miguel da Silva
Rodrigues (1998-2000), Fernando Lacerda Ferros (1999-2001) e Vítor Manuel
Gonçalves Ferros (2000-2001).
Desde Junho do ano 2000 o grupo tornou-se internacional com a vinda de dois
nigerianos que actualmente trabalham, um em Santo Antão e outro na Paróquia
de S. Miguel.
A 14 de Julho de 2002, em S. Domingos, na sua paróquia de origem, foi
ordenado o P. Manuel Alves Andrade Semedo, com grande participação da
comunidade espiritana e a presença do Primeiro Ministro de Cabo Verde e
milhares de pessoas.
Na Residência Espiritana da Praia, onde mora o superior principal P. Manuel
Martins Novais Ferreira, que acolhe os confrades do interior para reuniões de
convívio e animação pastoral e religiosa, funciona também um Seminário
Espiritano para o 11º e 12º anos, prosseguindo estes seminaristas os seus estudos
em Portugal.
Os espiritanos Cabo-verdeanos são além do Bispo, os PP. Francisco Sanches
Oliveira Cardoso, Teodoro Mendes Tavares, João Baptista Frederico Barros e
Manuel Alves Andrade Semedo. Vários jovens de Cabo Verde continuam a sua
formação inicial em Portugal.
777
Capítulo 83
Os Espiritanos Portugueses no Brasil
Sudeste
(1975-2000)
P. Francisco Fernandes Correia
O
Brasil desde o tempo do Venerável Padre Libermann, havia sido
objecto das suas preocupações missionárias, vendo nesta terra um
vasto campo de trabalho, onde abundava a escravatura e grande
miséria moral e social, que infelizmente se prolongou até aos nossos dias,
sobretudo nas periferias das grandes cidades, nos Estados do Nordeste e nas
regiões ribeirinhas do Pará e do Amazonas.
Já em 1886 haviam chegado a Belém do Pará os primeiros missionários do
Espírito Santo a pedido do Bispo de Belém, para se encarregarem do seminário
diocesano.
Dois anos depois da sua chegada, saindo de Belém, sobem o rio Amazonas e
fixam-se em Manaus, situada na confluência do Solimões e do Rio Negro, centro
da floresta amazónica. De Manaus sobem o Solimões e vão iniciar a missionação
junto das populações espalhadas ao longo da infinidade de rios de que se compõe
a bacia do Amazonas. Do seu trabalho, nasceram as Prelazias de Tefé e Cruzeiro
do Sul e os Distritos Religiosos do Amazonas e Alto-Juruá.
Convencidos da necessidade de formar sacerdotes brasileiros para serem
enviados para o Norte, uma vez que nos Estados do Sul abundavam as vocações,
estabelecem-se em Minas Gerais, Rio de Janeiro, S. Paulo, Paraná e Santa
Catarina, dando mais tarde origem à actual Província Brasileira.
Assim, além dos Distritos Religiosos do Amazonas e Alto-Juruá, formaram-se
os distritos do Centro, abrangendo os Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro,
do Sul em S. Paulo, Paraná e Santa Catarina e do Sudoeste nos Estados de S.
Paulo e Rio de Janeiro. Cada Distrito era composto de membros originários das
Províncias da Europa (Holanda, Alemanha e Irlanda).
Causas e início do Distrito do Sudeste
Com os acontecimentos ocorridos nos territórios africanos, após o vinte e
cinco de Abril de 1974, muitos missionários impossibilitados de continuarem em
Angola, optaram por deixar o seu campo de trabalho nesta terra. Uns ficaram na
Europa enquanto que outros se voltaram para a outra banda do Atlântico.
Destes, um bom número se dirigiu para o Brasil, onde tinham os seus familiares
e amigos. O clima era bastante semelhante ao de África e a cor das populações
não era muito diferente da cor africana.
778
Adélio TORRES NEIVA
Fechadas as portas de Angola, nos primeiros anos após a independência, alguns
confrades de primeira nomeação foram também orientados para o Brasil.
Ninguém poderia imaginar o que iria acontecer, por isso não houve um plano
previamente preparado para colocar todos aqueles que, de Angola ou de Portugal
iam chegando ao Brasil.
Era necessário que alguém se encarregasse do acolhimento aos que iam
chegando. Como já existiam no Brasil cinco Distritos pareceria muito fácil dar
guarida e trabalho a todos, pois que todos eram membros da mesma
Congregação. Mas isso não aconteceu, porque naquela altura ainda tinha muita
importância a origem, a língua e as tradições de cada país. Além disso, o facto da
saída precipitada de Angola, causava uma certa estranheza.
Encarregado pela Província de Portugal e pelo Conselho Geral, o P. Francisco
Correia parte para o Brasil onde chega no dia 21 de Maio de l975, com a
obrigação de acolher os que fossem chegando para que não se desse a dispersão.
O grupo já bastante numeroso é reconhecido oficialmente, tendo sido
nomeado seu representante o P. Francisco Correia que viria a ser o primeiro
Superior Principal quando foi constituído o Distrito em 1979 com a designação
de Distrito do Brasil Sudeste, tendo como residência oficial a casa do Parque
Flora, na Diocese de Nova Iguaçú.
Após a sua chegada ao Rio de Janeiro, logo no dia 24 de Maio, o P. Francisco
Correia vai ao Hospital de Ipanema, zona nobre da cidade, visitar a Senhora D.
Alice Vidal de Oliveira, portuguesa, que viria a ser a grande benfeitora. Logo se
prontificou a oferecer aos padres casa e o necessário para a sua subsistência
enquanto fosse necessário.
Seria uma ingratidão não salientar o apoio dado pela CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil), oferecendo a ajuda necessária, alojamento e
cursos de adaptação às realidades do Brasil, segundo as linhas pastorais da
América Latina.
Vários Bispos põem à disposição as suas dioceses. Dentro do carisma da
Congregação, pareceu bem ao grupo aceitar as propostas dos Bispos de Jales e de
Nova Iguaçú que, em tempos se haviam dirigido à Província de Portugal pedindo
padres para as suas dioceses. Jales que era uma diocese nova, não tinha clero
suficiente e Nova Iguaçú, fazendo parte da Baixada Fluminense, carecia de tudo.
De comum acordo, resolveu-se ficar nos Estados de S. Paulo e do Rio de
Janeiro, onde se situavam as Dioceses de Jales e Nova Iguaçú, sendo de salientar
que nestes Estados já existiam três Distritos Espiritanos (Central, Sul e
Sudoeste).
No Estado do Rio de Janeiro tinham as Dioceses do Rio de Janeiro, Nova
Iguaçú, Niterói, e mais tarde Itaguaí e Duque de Caxias.
No Estado de S. Paulo eram as Dioceses de Jales, S. José de Rio Preto, Baurú
e Bragança Paulista.
Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000)
779
Casa Principal do Distrito e Obra do Parque Flora (Ambulatórios)
Desde o começo da presença dos espiritanos portugueses no Brasil, a casa do
Parque Flora, situada num dos bairros mais carentes de Nova Iguaçú, oferecida
pela insigne benfeitora D. Alice Vidal de Oliveira, tornou-se a casa principal do
grupo e depois do Distrito.
Em 19 de Abril de 1986, a título provisório, foi a casa emprestada, a pedido do
Senhor Bispo de Nova Iguaçú, às Irmãs Clarissas Portuguesas idas da Ilha da
Madeira, até que o seu convento fosse construído. A devolução e a ida para o
novo convento ocorreu no dia 12 de Maio de 1989. Durante a ocupação da casa
pelas Irmãs, o P. Francisco Correia passou a viver numa meia-água no quintal.
Na casa do Parque Flora funcionava uma associação filantrópica que D. Alice
Vidal de Oliveira havia iniciado ainda no tempo do seu marido, Comendador
Francisco Rodrigues de Oliveira, denominada ASAVO (Acção Social Alice
Vidal de Oliveira).
Os espiritanos se comprometeram a dar continuidade a essa obra de caridade e
de promoção social, tão necessária naqueles bairros carentes da periferia de Nova
Iguaçú.
O movimento de procura de médicos, de remédios e de alimentos tornou-se
diário. Como o Ambulatório funcionava na mesma casa dos padres, a vida de
comunidade tornava-se difícil e até incómoda. Surgiu então a ideia de construir
um edifício que serviria exclusivamente de Ambulatório, em terrenos também
oferecidos pela Senhora D. Alice, distante cerca de 100 metros. Constrói-se o
edifício com a ajuda dos benfeitores e para lá é transferido todo o serviço de
atendimento com médicos de clínica geral e de ginecologia.
As Irmãs do Espírito Santo que haviam sido solicitadas pelo Senhor Bispo da
Diocese de Nova Iguaçú para prestar serviço na paróquia de Miguel Couto
iniciada pelo P. F. Correia, colaboravam também no Ambulatório com a
presença diária de uma enfermeira.
O apoio a esta obra era dado pela benfeitora e fundadora Dona Alice e por um
grupo de amigos do Rio de Janeiro. Como a Irmã Enfermeira fosse transferida
para Portugal, viu-se a ASAVO privada do seu valioso serviço. Falecia também a
Senhora D. Alice Vidal de Oliveira no dia 26 de Fevereiro de 1985. Com a perda
destas duas almas generosas, as coisas foram-se tornando cada vez mais difíceis
a ponto de um grupo de leigos, pouco ou nada comprometidos com o trabalho
do Ambulatório, quererem exigir a prestação de contas e tomar conta da
direcção. Assim pouco a pouco a actividade assistencial foi diminuindo por falta
de recursos humanos e financeiros. Hoje restam as instalações e pouco mais.
Na Diocese de Nova Iguaçú
Além da Casa Principal e do Ambulatório, várias paróquias foram confiadas
aos espiritanos: em Miguel Couto a paróquia de S. Miguel Arcanjo e Nossa
Senhora de Fátima; em Olinda a paróquia da Santíssima Trindade; no Éden a
780
Adélio TORRES NEIVA
paróquia de Nossa Senhora das graças; em Belford-Roxo a paróquia de Nossa
Senhora da Conceição; em Queimados a paróquia de Nossa Senhora da
Conceição; em Mesquita a paróquia de Nossa Senhora das Graças. Ainda
durante algum tempo foi confiada ao P. António Laranjeira a direcção do
Seminário da Diocese, até se transferir para Porto Rico onde iria assumir funções
no Noviciado.
Não foi sem dificuldade que se iniciou a paróquia de Miguel Couto, pois nada
tinha e tudo era preciso fazer, desde a compra de terreno à construção da casa
paroquial e outras dependências necessárias ao bom funcionamento de uma
paróquia. O mesmo aconteceu com a paróquia de Queimados que tudo foi
necessário fazer. Em Miguel Couto o primeiro «fusca», oferecido pelos
benfeitores da Alemanha, foi roubado e até a sacristia da Igreja foi assaltada e
entregue às chamas todo o arquivo da novel paróquia.
O trabalho realizado pelos espiritanos portugueses na Diocese de Nova
Iguaçú, tanto no aspecto espiritual como no material e social, foi tão expressivo
que o Bispo, D. Adriano Hipólito, tão querido do povo quanto hostilizado pelos
homens do poder, em acto público concedeu o diploma de benfeitores aos
padres do Espírito Santo, como prova de estima e gratidão.
Na Diocese de Itaguaí
Desmembrada das Dioceses de Nova Iguaçú e de Volta Redonda, a Diocese de
Itaguaí, foi logo desde o início da chegada dos espiritanos portugueses ao Brasil,
campo do trabalho abnegado e humilde do P. Torres Palma na paróquia de Santa
Teresinha de Pirenema, depois coadjuvado pelos Padres Fonseca Lopes e Correia
de Andrade. Ao P. José Torres Palma se deve a preparação das estruturas para a
nova diocese de Itaguaí, de quem foi Vigário Geral até à sua morte ocorrida em
Lisboa no dia 13 de Abril de 1988, tendo sido levado a sepultar na sua terra natal,
Barrozelas. A este homem de Deus, simples e humilde chamado para a casa do
Pai aos 63 anos de idade, muito devem as missões de Angola e a diocese por
quem se sacrificou desde o seu começo.
Vale lembrar a presença nesta Diocese do P. Alberto Fonseca Lopes como
pároco da Sé e orientador da construção do Centro Paroquial e do P. António
Correia de Andrade que durante dois anos esteve na paróquia de S. José
Operário de Mambucaba, residindo numa casa pré-fabricada no bairro operário
da Central Nuclear de Angra dos Reis. Viu-se na necessidade de construir a casa
paroquial na qual pouco tempo morou por motivo de se ter transferido para
Iguaba Grande na Diocese de Niterói.
Quando uma noite o P. Fonseca Lopes estava dormindo na sua residência
paroquial, eis que se lhe depara à porta do seu quarto um assaltante que havia
entrado pela janela da casa de banho. Quando o Padre lhe perguntou o que estava
ali a fazer, ele simplesmente respondeu: «Venho avisá-lo que o Senhor Padre não
está seguro». A partir daquele dia P. Fonseca Lopes foi morar na casa onde estava
P. Torres Palma.
Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000)
781
Na Diocese do Rio de Janeiro
A acção dos espiritanos no Rio de Janeiro limitou-se a várias capelanias de
hospitais, educandários e das comunidades portuguesas.
O P. António de Oliveira Giroto, desde a sua chegada ao Rio no dia 22 de
Outubro de 1975, hospedado na casa espiritana de Santa Teresa, passou depois,
a expensas dos amigos a morar no Hotel Tefé, perto do Hospital dos Servidores
do Estado, onde exerceu o seu ministério sacerdotal de assistência aos doentes
até ao fim da sua vida.
Com a presença de todos os espiritanos residentes no Rio de Janeiro,
juntamente com alguns amigos, celebrou as suas Bodas de Prata Sacerdotais na
igreja do Bonfim, no Cajú, tendo à homilia usado a palavra o seu antigo professor
P. José Maria Pereira.
O seu valor e simpatia mereceu-lhe uma comenda da colónia portuguesa.
A sua acção, além do Hospital dos Servidores do Estado, exerceu-se sobretudo
nas casas regionais portuguesas e na Irmandade de Santo António dos Pobres, à
Rua dos Inválidos.
A notícia do seu falecimento, na tarde de 5 de Março de 1983, no Hospital dos
Servidores, onde era capelão, caiu como uma bomba na colónia portuguesa.
Levado para a Igreja de Santo António dos Pobres, aí foi velado até ao dia
seguinte, quando houve o funeral presidido pelo Senhor Bispo auxiliar do Rio de
Janeiro, D. João Ávila.
Acabada a Santa Missa, seguiu o féretro para o cemitério de S. João Baptista do
Botafogo, ficando a sua urna localizada ao lado da do P. José Maria Pereira, no
túmulo da Família Oliveira, por vontade da insigne benfeitora Dona Alice.
O P. Eduardo da Silva Leitão, dedica-se a assistir os leprosos no Hospital Frei
António da Irmandade da Candelária, ocupando também o seu tempo livre na
capelania do Senhor do Bonfim, sanando esta Igreja das práticas religiosas
duvidosas, trazidas pelos nordestinos de Salvador da Bahia.
Depois de vinte anos de tanta dedicação aos seus queridos leprosos e a
capelania do Bonfim, era preciso celebrar as suas Bodas de Ouro Sacerdotais.
Parte de férias para Portugal onde celebra as suas Bodas na terra natal, Manteigas,
de que ele tanto se orgulhava. Preparando-se para regressar ao Brasil onde
também desejava celebrar as suas Bodas Sacerdotais junto dos seus queridos
doentes, familiares e amigos, antes de partir, foi convidado pelo Pai do Céu a
celebrar as bodas do Cordeiro, no dia trinta de Agosto de 1995, na casa de
Teologia do Restelo. Foi a sepultar no cemitério de São Domingos de Rana.
As capelanias dos Educandários masculino e feminino da Candelária, foram
assistidas pelos Padres José Maria Pereira, Correia de Andrade e Manuel Nunes.
O P. José Maria Pereira, vindo de Angola onde foi fundador de O Apostolado
e da Rádio Ecclesia, chegou ao Brasil em 3 de Novembro de 1975. Em 26 de
Junho de 1976 toma conta das paróquias de S. Vicente de Paulo e de Iguaba
782
Adélio TORRES NEIVA
Grande na Arquidiocese de Niterói. Tendo dificuldade em se adaptar por causa
das condições de miséria em que encontrou essas paróquias, deixa estas
paróquias no dia 1 de Março de l978, indo prestar assistência religiosa aos
internatos da Candelária, situados no Bairro S. Cristóvão no Rio de Janeiro.
Neste ministério se conservou até ao seu falecimento, ocorrido inesperadamente,
motivado por enfarte do miocárdio, no dia 21 de Novembro de l982. Os seus
restos mortais foram colocados no túmulo da Família Oliveira, no Cemitério de
S. João Baptista de Botafogo.
A passagem pelo Rio de Janeiro do P. José Fernandes ficou marcada pela sua
acção humanitária na instalação de uma creche na favela Tavares de Basto,
enquanto exercia a função de vigário na paróquia de Nossa Senhora da Glória do
Largo do Machado.
Na Diocese de Niterói
Por falta de clero e o abandono em que se encontravam algumas paróquias da
Arquidiocese de Niterói, levaram o bispo D. José Gonçalves a pedir a
colaboração dos espiritanos portugueses ora chegados de Portugal e que não
tinham ainda compromissos com outras dioceses.
Aceite o convite depois de se verificar a real necessidade, para lá vão a seu
tempo os Padres José Maria Pereira, Joaquim Pereira Francisco, António
Rodrigues Ferreira, Fernando Henrique Ferreira Pinto, Alfredo da Purificação
Pereira, António Lima, Manuel Rodrigues da Cruz, António Correia de
Andrade. E depois de se ter deixado a diocese de Jales também para lá vão os
Padres Luís de Oliveira Martins, Manuel Durães Barbosa e Francisco Correia.
Cinco paróquias são confiadas aos padres: Boa Esperança com a capelania das
Irmãs Clarissas de Araruama, S. Vicente de Paulo, Iguaba Grande, Maricá e S.
Cristóvão em Cabo Frio.
Por causa da ausência prolongada de sacerdotes as paróquias estavam carentes
de todos os meios estritamente necessários para a sobrevivência dos padres e
para as actividades pastorais. Residências muito pobres e mal conservadas,
quando as havia e sem meios de transporte.
Em S. Vicente de Paulo, o isolamento inicial e a guerra aos morcegos e às
pulgas, iam levando o P. Lima ao desânimo, não fora um forasteiro que depois
de uma longa conversa o convenceu a ficar. Necessário foi arranjar a residência
paroquial e o salão paroquial apesar da oposição dos Franciscanos Conventuais.
Mas tudo foi ultrapassado, graças a Deus.
Em Iguaba Grande tudo foi necessário construir, desde a Igreja e residência
paroquial às capelas espalhadas pelas comunidades. A residência antiga, foi
demolida dando lugar a uma outra bem confortável e funcional.
O P. Alfredo Pereira residiu numa pobre casa, propriedade das Irmãs Clarissas
de Araruama. Viu-se obrigado a adquirir com os seus próprios meios uma casa
Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000)
783
para viver, além de construir na sua paróquia de Boa Esperança o salão paroquial
e a casa para o padre que nunca chegou a ser ocupada.
Acometido da doença que levaria à morte, deixa o Brasil e vem para Portugal
na esperança de recuperar a saúde e poder voltar para junto das suas tão
estimadas ovelhas, manifestando o desejo, de no caso de morrer ser sepultado
junto dos seus paroquianos, na esperança de ter alguém que se lembre dele
depois da sua morte. Faleceu em Lisboa no dia 7 de Julho de 1993, tendo sido
levado a sepultar na sua terra natal.
Em Maricá, não havendo residência, o padre morava no sobrado da sacristia.
Não havia cozinha nem cozinheira, eram os amigos que lhe garantiam o
sustento. Assim viveram os padres durante quase três anos até que chegou o P.
Manuel Rodrigues da Cruz. Foi necessário construir a residência paroquial, o
Centro de Pastoral e Acolhimento como também as capelas espalhadas por
numerosos bairros além de arranjar as que já existiam, graças à acção do P. Cruz,
merecedor de estima da Diocese. Vigário Episcopal da Região dos Lagos, ainda
que provisoriamente, foi nomeado Vigário Geral da Arquidiocese.
Por último vem a paróquia de S. Cristóvão de Cabo Frio, desmembrada da
paróquia da Assunção, que era a única na cidade.
Paróquia a começar, tudo era preciso fazer. Fracas instalações; igreja pequena,
insuficiente para o grande número de fiéis; muitas comunidades espalhadas pela
roça que era preciso atender.
Problemas de início não faltaram. Certo dia os Padres Luís e Francisco,
armados de vassoura e enxada, pois que outra arma de defesa não tinham,
conseguem empatar um assaltante que havia entrado na igreja e profanado o
sacrário, até à chegada da polícia que teve dificuldade em o deter. Tratava-se de
um pobre desgraçado egresso da cadeia.
Depois de 13 anos de intenso trabalho, a Igreja paroquial é aumentada, o
Centro Paroquial e a residência são construídos, as comunidades tornam-se
adultas, dando origem a duas novas paróquias e outra em vias de o ser também.
Esta região está a ser invadida por numerosas confissões religiosas, ditas
cristãs, que dificultam a acção da Igreja Católica. O número destas seitas é tão
grande e fazem tanto barulho que temos a impressão que os católicos são a
minoria. O sectarismo é de tal forma que chega a atrapalhar com os seus
altifalantes os actos de culto dos católicos.
Numa das comunidades da periferia de Cabo Frio onde os lugares de culto
católico são apenas três, das outras confissões existem cerca de 60.
Também na Região dos Lagos, o Distrito adquiriu uma casa de verão, que serve
para reuniões dos confrades, encontros, retiros e descanso. Ultimamente servia
também para residência permanente do superior principal.
Actualmente continuam ainda a ser servidas pelos espiritanos as paróquias de
S. Vicente de Paulo, S. Cristóvão de Cabo Frio e de Maricá.
784
Adélio TORRES NEIVA
Na Diocese de Jales
A pedido do Bispo da Diocese de Jales, D. Luiz Eugénio Perez e por opção do
grupo, logo em 1975, seguem para lá os Padres João Serra e Manuel Nunes,
seguindo-se depois a seu tempo, os Padres Agostinho Brígido, José de Sousa,
Domingos Vitorino, Hermenegildo, António Farias e Luís Oliveira Martins.
O começo é sempre cheio de problemas, apesar do apoio do Bispo da Diocese
que recebeu os padres com muito empenho, prometendo ajudar em tudo o que
fosse necessário.
A cidade de Jales que estava a crescer a olhos vistos, urgia ser dividida em duas
paróquias. Como havia muitos portugueses ou seus descendentes naquela região,
resolveram dar à nova paróquia, como padroeiro Santo António.
Aluga-se uma pobre casa, sem forro, com dois pequenos quartos, uma sala,
uma cozinha e quarto de banho. O depósito para a água era um tambor de 200
litros colocado no cimo de um tronco de madeira. A pequena sala serviu durante
anos para tudo, até para Igreja, enquanto não se construiu a nova Igreja
paroquial. Sobretudo os portugueses correm em socorro dos «patrícios».
Adquirido o terreno, logo se começa a construção da Igreja, seguindo-se a casa
paroquial, o salão e o recinto de festas. É dada assistência às comunidades
espalhadas pela roça, bem difíceis de servir, sobretudo no tempo das chuvas.
Além da paróquia de Santo António, outras foram confiadas aos espiritanos
portugueses, durante os treze anos que serviram a Diocese: Aparecida d’Oeste,
S. Francisco, Marinópolis, Palmeira d’Oeste, Urânia, Três Fronteiras, Santa Fé
do Sul, Rubineia, Santa Rita d’Oeste e Santana de Ponte Pensa.
Em 24 de Abril de 1982, opera-se uma mudança geral: os Padres João Serra
Araújo e Domingos MatosVitorino assumem as paróquias de Palmeira d’Oeste,
Aparecida d’Oeste e Marinópolis, enquanto que o P. Manuel Nunes vem para
Santo António de Jales, juntar-se ao P. José Lopes de Sousa que havia deixado
Urânia. O P. Luís Oliveira Martins vai para Santa Fé do Sul, ajudado pelo P.
Manuel Hermenegildo Teixeira Correia que regressou a Portugal dois anos
depois, em 6 de Agosto de 1986.
Com a ida dos Padres António Luís Farias Antunes e Domingos da Rocha
Ferreira para o Tefé, vão os Padres Serra e Vitorino para Santa Fé do Sul,
encarregando-se da paróquia de Três Fronteiras deixada pelo P. António Farias,
em Julho de 1986.
Em Julho de 1986, o P. João Serra é nomeado para Superior Principal do
Distrito e vai para o Rio de Janeiro. Esta nomeação torna impossível a
permanência dos espiritanos portugueses na Diocese de Jales. O P. Vitorino
regressa a Portugal, o P. Luís Martins vai também para o Rio e assim terminou a
actuação dos padres na Diocese de Jales que durou treze anos e alguns meses. As
obras realizadas tanto na ordem espiritual como material, ficarão para sempre a
atestar a presença da Congregação do Espírito Santo naquelas terras.
Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000)
785
Na Diocese de Bragança Paulista
Desde Julho de 1977, até à ida para Roma exercer as funções como Procurador
Geral da Congregação junto da Santa Sé, em 1989, o P. Manuel da Silva Martins
exerceu o seu apostolado missionário na paróquia do Sagrado Coração de Jesus
de Francisco Morato da Diocese de Bragança Paulista, cidade dormitório da
capital São Paulo.
O trabalho realizado pelo P. Martins junto daquelas populações tão carentes
foi verdadeiramente notável: construiu a casa paroquial, salas para catequese e
reuniões e ainda capelas nos numerosos bairros. Francisco Morato cresceu tanto
no aspecto populacional, que à saída do P. Martins para Roma já existiam duas
paróquias.
Na Diocese de S. José de Rio Preto
Nesta Diocese na paróquia de S. António de Catanduva, trabalhou durante
vinte e cinco anos, onde era muito estimado, o P. Vitorino Jorge da Silva
Amorim. Acometido de doença que o incapacitava de trabalhar, veio a falecer no
Rio de Janeiro, no dia 29 de Abril de 1999, quando descansava junto dos seus
familiares. Foi levado a sepultar em Catanduva junto dos seus paroquianos por
quem sacrificou boa parte da sua vida.
Na paróquia de Santa Teresinha de Catanduva trabalhou até Março de 1999, o
P. Fernando Henrique Ferreira Pinto, depois da sua saída de Iguaba Grande da
Diocese de Niterói.
Na Diocese de Baurú
Aqui esteve, durante alguns anos, o P. Cândido Ferreira da Costa. Sentindo que
ainda podia ser útil, apesar da sua idade, a favor dos doentes e idosos, enquanto as
forças lhe permitiram, hospedou-se e ao mesmo tempo deu assistência religiosa,
no Lar da Terceira Idade da Santa Casa de Misericórdia de Baurú.
Sentindo que as forças lhe estavam a faltar, não podendo mais cumprir a missão
a que se havia proposto, transfere-se para a Casa Principal em Nova Iguaçú.
Internado no Hospital da Obra Portuguesa de Assistência do Rio de Janeiro,
tendo-lhe sido amputada uma perna, depois de muito sofrer, aí veio a falecer no
dia 29 de Março de 1985. Foi sepultado no cemitério de São João Baptista de
Botafogo, junto do P. José Maria Pereira e do P. António Giroto.
Extinção do Distrito
Em 1988 o Distrito sofre uma certa alteração. Nomeado o P. João Serra
Superior Principal do Distrito e tendo sido cedidos ao Distrito do Amazonas os
Padres António Farias e Domingos Rocha, havia necessidade de se deixar a
Diocese de Jales.
786
Adélio TORRES NEIVA
P. João Serra Araújo vem para o Rio de Janeiro e os Padres Luís Oliveira
Martins e Francisco Correia vão para Cabo Frio iniciar uma nova paróquia com
a ajuda do P. Manuel Durães Barbosa. O P. António Ribeiro Laranjeira é
requisitado para a Província de Portugal; o P. João Serra toma conta da paróquia
de Mesquita deixada pelo P. António Laranjeira; os Padres Domingos Vitorino,
António Correia de Andrade e Eduardo Osório também vão para Portugal; e o
P. Manuel da Silva Martins vai para Roma.
Em 1994, de novo o P. Fernandes Correia é nomeado Superior Principal do
Distrito. Com a morte de sete confrades que faziam parte do Distrito e com
todas aquelas ausências, o número dos restantes ficou tão reduzido que já não se
justificava a permanência do Distrito.
Que fazer?
Acabando em 2000 o mandato como superior principal, o P. Francisco
Fernandes Correia decidiu colocar o problema ao Conselho Geral. Depois dos
contactos necessários, os confrades portugueses que restavam do Distrito,
aceitaram a decisão do Conselho Geral em que era extinto o Distrito, ficando
afectados à Província Espiritana do Brasil, segundo as normas da Regra de Vida,
e o P. Francisco Correia regressa definitivamente a Portugal depois de vinte e
cinco anos de permanência no Brasil.
Assim reza a decisão do Conselho Geral de 22 de Maio de 2002: “Após consulta
aos membros do Distrito do Brasil Sudeste e à Província do Brasil, o Superior
Geral, com o consentimento do seu Conselho, suprime canonicamente o Distrito do
Brasil Sudeste a partir de 05 de julho de 2002 e os confrades, que até essa data eram
membros do Distrito, são nomeados para a Província do Brasil”.
Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste
P. Agostinho Pereira Rodrigues Brígido; P. Alberto da Fonseca Lopes; P.
Alfredo da Purificação Pereira +; P. António Correia de Andrade; P. António
Lima; P. António de Oliveira Giroto +; P. António Ribeiro Laranjeira; P.
António Rodrigues Ferreira +; P. António Luís Farias Antunes; P. Cândido
Ferreira da Costa +; P. Domingos de Matos Vitorino; P. Domingos da Rocha
Ferreira; P. Eduardo Augusto Guedes Osório; P. Eduardo da Silva Leitão +; P.
Fernando Henrique Ferreira Pinto; P. Francisco Fernandes Correia; P. Manuel
Hermenegildo Teixeira Correia; P. João Serra de Araújo; P. Joaquim Pereira
Francisco; P. José Fernandes de Sá; P. José Lopes de Sousa; P. José Maria Pereira +;
P. José Torres Palma +; P. Laurindo de Jesus Marques; P. Luís de Oliveira
Martins; P. Manuel da Silva Martins; P. Manuel Durães Barbosa; P. Manuel
Nunes; P. Manuel Rodrigues da Cruz; P. Vitorino Jorge da Silva Amorim +.
787
Capítulo 84
Os Espiritanos Portugueses na Amazónia
P. Domingos da Rocha Ferreira
A
presença espiritana na Amazónia começou em 1885, quando os
espiritanos foram convidados a assumir a direcção do Seminário da
Diocese de Belém. Aí permaneceram até 1897, quando se
transferiram para Manaus e Tefé.
Os espiritanos portugueses chegam à Amazónia quando é criada a Prefeitura
Apostólica de Tefé, em 23 de Maio de 1910. Monsenhor Alfredo Barrat é
nomeado Prefeito Apostólico a 16 de Agosto do mesmo ano.
A 6 de Novembro, Mons. Barrat chega a Tefé com um grupo de padres e
irmãos. No grupo vão dois Irmãos Espiritanos Portugueses: Dionísio e
Agostinho. O Ir. Dionísio de Carvalho acaba por falecer no ano seguinte, a 3 de
Agosto, com apenas 24 anos. O Ir. Agostinho Caetano morre no dia seguinte (4
de Agosto), contando 31 anos. Visitando o Cemitério da Missão é
impressionante ver as campas de tantos missionários jovens que tombaram,
alguns, tal como estes dois, poucos meses após a sua chegada. Pagaram com a
vida a paixão pelo Reino de Deus! Pagaram com a vida, o desconhecimento total
daquela realidade!
O Ir. Boaventura Azevedo terá chegado à Boca de Tefé em 1911, onde
permaneceu até 1925. Então terá passado para a cidade de Tefé, onde veio a
falecer a 9 de Outubro de 1950, com a idade de 79 anos. Tal como os outros, na
Missão trabalhou nas diversas oficinas aí existentes.
O P. Manuel Dias da Silva chegou à Boca de Tefé em 1918, vindo a falecer a 10
de Julho de 1933, com 42 anos.
Esses quatro fazem parte de uma primeira geração de missionários que andaram
ligados aos Espiritanos Franceses. A partir da década de 70, virá uma outra
geração, esta ligada aos Espiritanos Holandeses. Vários destes missionários, antes
de chegarem à Amazónia, passaram pelo sul, sobretudo por S. Paulo e Rio de
Janeiro. Teoricamente, tiveram menos dificuldade de adaptação.
O P. Armindo Barbosa, português, mas pertencente à Província de Espanha,
chega a Tefé em 1976. É colocado na Paróquia de Alvarães, onde permanece até
1987. Acaba também dando assistência à Paróquia de Uarini. Tem uma passagem
curta pela Paróquia de Fonte Boa, mas a falta de saúde, sobretudo depois de uma
intervenção cirúrgica, obriga-o a ir para Tefé, onde permanece até 1994. Como a
saúde vai-se agravando volta para Espanha, onde vem a falecer em 1999.
A reunião dos Superiores Principais do Brasil, no ano de 1985, foi realizada em
788
Adélio TORRES NEIVA
Tefé. Nessa ocasião estiveram aí presentes os Superiores ou seus representantes
de todos os distritos existentes no Brasil. Durante a reunião o Bispo, D. Mário
Clemente Neto, fez um apelo veemente aos espiritanos do sul para que fossem
ajudar os espiritanos do distrito da Amazónia. Os missionários, quase todos
holandeses, estavam idosos e existiam áreas nas quais o Bispo queria investir.
Mas faltava gente para isso.
Acabada a reunião, os Superiores voltaram para as suas circunscrições e
repassaram o apelo angustiante do Bispo. Foi nesse contexto que o Distrito
Brasil Sudeste (constituído pelos portugueses) aceitou o desafio de enviar dois
dos seus membros. Mais ainda: decidiram que iriam trabalhar especificamente na
formação dos novos padres.
No início de Junho de 1986 chega a Tefé o P. Domingos da Rocha Ferreira,
depois de ter trabalhado em Nova Iguaçu e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro,
desde Janeiro de 1978. Em Fevereiro do ano seguinte volta ao Rio de Janeiro para
fazer o CETESP, curso promovido pela Conferência dos Religiosos do Brasil.
No final de Outubro volta para Tefé, juntamente com o P. António Luís Farias
Antunes, tendo este trabalhado no Estado de S. Paulo. É-lhes confiada a missão
de lançar a Pastoral Vocacional. Enquanto vão lançando as bases da mencionada
Pastoral, cuidam também da Paróquia de Santa Teresa. O P. Farias é nomeado
pároco, ficando o P. Domingos como seu colaborador.
O P. António Farias permanece aí até ao ano de 1992, quando então volta para
Portugal. Durante o tempo que ficou em Tefé, orientou a construção do Centro
e residência Paroquial. Colaborou directamente com o Bispo D. Mário Clemente
Neto, de quem foi seu Vigário Geral.
O P. Domingos da Rocha Ferreira, em Janeiro de 2000, é chamado para
Portugal. Enquanto permaneceu em Tefé trabalhou na Pastoral Vocacional e foi
o primeiro responsável do novo Centro Vocacional. Além disso foi também
Coordenador de Pastoral e Vigário Geral.
Em 1992 chega o P. Eduardo Miranda, tendo feito o seu “baptismo” na
Paróquia de Fonte Boa. Tinha chegado com a finalidade de, mais tarde, assumir
a direcção do Centro Vocacional, substituindo o P. Domingos. Em 1994
participa como delegado do grupo no Capítulo Provincial de Portugal. Acaba
por ser eleito Provincial, não voltando mais para Tefé.
O P. José Ferreira da Cunha trabalhou em Tefé por dois períodos,
interrompidos pelo serviço militar. Primeiramente esteve de 1991 até 1993;
depois, de 1994 até 1997. Trabalhou na Paróquia de Santa Teresa, em Tefé, como
colaborador do Pároco. Trabalhou sobretudo na área juvenil, revelando também
um certo gosto em tudo o que dizia respeito à ambientação.
Em 1995 chega a Tefé o P. Teodoro Mendes Tavares. Foi fazer o seu
“baptismo” na Paróquia de Carauari. Depois foi colocado nas Paróquias de
Alvarães e Uarini. Em 1998 vai para Tefé para assumir a direcção do Centro
Vocacional e acompanhar os seminaristas que estavam no Seminário Diocesano
de Manaus. Ao mesmo tempo colabora na Pastoral da cidade.
Em Julho de 2003 o P. Teodoro é eleito Superior Principal do grupo espiritano
Os Espiritanos Portugueses na Amazónia
789
de Tefé. Além dessa missão exerce outras, tais como Vigário Geral, membro do
Conselho de Pastoral e capelão militar.
P. Manuel Sebastião Martins trabalhou na Prelazia de Tefé de 1999 a 2002,
colaborando na Pastoral e organizando a Cúria Diocesana. O P. Manuel Martins
também é um daqueles que, anos atrás, já havia trabalhado no sul, concretamente
no Estado de S. Paulo.
O P. António Correia de Andrade encontra-se em Tefé desde o início de 2002,
trabalhando na Pastoral da cidade e, ao mesmo tempo, ajudando no Centro
Vocacional. Também ele é um missionário que já trabalhara no Rio de Janeiro,
na Diocese de Niterói. Regressou a Portugal em Agosto do ano 2004.
O P. Hugo Norberto Mendes Ventura chegou a Tefé como estagiário (2000 –
2001). Após fazer o ano pastoral e ser ordenado, voltou para Tefé (2002), sendo
então colocado na Paróquia de Fonte Boa, fazendo equipa com D. Mário e P.
Elmir. Esta equipa cuida das Paróquias de Fonte Boa, Jutaí e Juruá.
Na passagem de 2003 para 2004 chega a Tefé o P. Domingos de Matos
Vitorino. Em tempos passados havia trabalhado no sul, primeiro no Rio de
Janeiro, depois em S. Paulo.
A resposta ao apelo de D. Mário em 1985 não partiu da Província Portuguesa
mas dos confrades que trabalhavam no sul. Por um lado as Dioceses onde
trabalhavam começavam a ter um grupo razoável de padres, alguns deles
formados pelas próprias dioceses. Por outro lado, na resposta dada, vinha ao de
cima esta preocupação espiritana de ir para aquelas situações mais difíceis e para
as quais também era difícil arranjar missionários!
Mais tarde, já nos finais dos anos 80, a Província assumia ter nesta Igreja de
Tefé um grupo permanente de 3 ou 4 confrades. Esses confrades estariam mais
voltados para a formação do clero autóctone. E, de facto, a Província tem
honrado esse compromisso!
791
Capítulo 85
Os Espiritanos Portugueses na GuinéBissau
P. José Costa
O
projecto de fundar uma missão na Guiné-Bissau germinou em
Dacar onde um espiritano, o P. Gustave Bienvenu, se deu conta do
número significativo de Manjacos que naquela cidade procuravam
melhores condições de vida e se dedicavam sobretudo à tecelagem de panos
tradicionais.
A Guiné-Bissau vivia então os difíceis tempos da luta pela independência, que
veio a conseguir no dia 24 de Setembro de 1974. A nova situação do país facilitou
as deslocações e a criação da diocese de Bissau em 1977 veio dar um novo
impulso à evangelização sobretudo no interior do país onde, no tempo da guerra,
era quase impossível penetrar.
D. Settímio Arturo Ferrazzetta, (ofm) primeiro bispo da recém criada diocese,
fez apelo a diversas congregações missionárias para tomarem parte na
evangelização do país, onde a maioria da população vivia na religião tradicional
animista. Os espiritanos de Dacar, na pessoa do seu superior de então, o P. Pierre
Haas, receberam o convite e transmitiram-no a Roma, à Casa Generalícia.
Foi no Conselho Geral Ampliado de 1978, realizado em Kneschtsteden,
Alemanha, que a Congregação assumiu o projecto de evangelização dos
Manjacos do interior da Guiné-Bissau, como uma prioridade da Congregação.
Assumida pela Congregação esta nova implantação, formou-se a equipa que
deveria escolher o local para construir a primeira missão dos Espiritanos na
Guiné-Bissau, e levar por diante o projecto. O local escolhido foi Bajob, uma
pequena localidade do interior, a 115 quilómetros de Bissau, e dessa primeira
comunidade faziam parte os PP. René des Déserts e Pierre Buis, franceses, o P.
José Costa, recém ordenado, da Província de Portugal e o jovem estagiário
Albino Fernandes, em regime de cooperação e voluntariado.
A missão foi sendo construída pelos padres franciscanos de Canchungo. Os
PP. René e Pierre chegaram a Bajob no dia 1 de Novembro de 1979, e, passados
dois meses, no dia 20 de Janeiro de 1980 chegavam os outros elementos: o P. José
Martins da Costa e o jovem Albino, estando a casa em fase de acabamento. A
inauguração oficial aconteceu a 8 de Abril de 1980.
A região confiada aos espiritanos era de primeira evangelização, embora
houvesse alguns baptizados do tempo colonial espalhados pelas aldeias, mas que
em nada se distinguiam dos seus conterrâneos na maneira de viver. Foi notório
o esforço de inculturação desta primeira equipa que se esforçou por aprender a
792
Adélio TORRES NEIVA
língua, perceber os costumes, elaborar catecismos em manjaco e integrar alguns
símbolos e rituais próprios deles no novo contexto cristão. A adesão à fé cristã
parecia evidente e os grupos de catequese surgiram em todas as aldeias. No
espaço de dois anos cada aldeia tinha a sua capela, feita de adobes de terra batida
e coberta de zinco. Este fervor inicial induziu em erro os primeiros missionários
que rapidamente baptizaram imensas crianças e adolescentes. Aos poucos se
verificou que eles queriam, de facto o baptismo, mas estavam muito longe de
compreender o que é ser cristão. A mobilidade das pessoas, o abandono das
comunidades, o retorno aos costumes pagãos e à poligamia mostrou que era
preciso ir mais devagar e não confundir entusiasmo com conversão. Entretanto
o Jovem Albino terminou o seu tempo de cooperação e regressou a França, onde
vivia com a família, e o P. José Costa foi chamado pela Província de Portugal,
deixando a Guiné em Julho de 1982.
Com a chegada do P. Michel Gerlier em 1985 e a saída do P. René des Déserts,
começou a fazer-se uma profunda reflexão sobre o caminho realizado e o estilo
de evangelização.
Em Novembro de 1986 chegaram a Bajob os PP. José Costa e João David do
Souto Coelho, da Província de Portugal. O primeiro regressava depois de um
interregno de quatro anos e o P. João David recebia, para lá, a sua primeira
afectação. Com o aumento do número de confrades, começou a tornar-se
possível aquilo que desde o início era um sonho e uma esperança: fundar uma
nova missão em Caió a cerca de 60 Kms mas ainda em solo manjaco. A decisão
de fundar a nova missão foi tomada em 1987 e para construir o edifício e iniciar
a evangelização foram escolhidos os PP. José Costa e João David.
Foram contactadas as autoridades locais, que se mostraram muito abertas e
acolhedoras, foi escolhido o local, e pediu-se a uma família que cedesse um
quarto para que os missionários aí pudessem pernoitar. A missão foi nascendo
aos poucos, passando os dois padres, José Costa e João David, a viver uma parte
do tempo em Caió e outra parte em Bajob.
Em 28 de Novembro de 1987, a Província de Portugal enviou um novo
membro, o recém ordenado P. Manuel de Sá Paula para reforçar a comunidade
de Caió. O bom ritmo dos trabalhos permitiu que a Missão Católica de Caió
fosse oficialmente inaugurada a 22 de Maio de 1988, dia de Pentecostes, e foi
dedicada ao Espírito Santo. A primeira comunidade desta nova missão formada
pelos PP. José Martins da Costa, João David do Souto Coelho e Manuel de Sá
Paula, da Província de Portugal. Com a inauguração da missão criava-se a nova
paróquia do Espírito Santo, em Caió, responsável pela evangelização de 11
aldeias e 2 ilhas (Jeta e Pecixe). Numa das crónicas da época assim escrevia o P.
José Costa na Revista Encontro: “A missão de Caió nasceu, como a de Bajob, do
desejo de evangelizar este povo migrante. Ela é o sinal da coragem da Província
Portuguesa Espiritana que para aqui enviou três dos seus missionários mais jovens,
comprometendo-se definitivamente com o destino deste povo. Mas ela é também o
testemunho da generosidade e da fé de toda uma multidão de amigos que a ajudaram
a levantar. Ter uma casa para viver entre o povo, foi a primeira etapa deste projecto;
Os Espiritanos Portugueses na Guiné-Bissau
793
convertê-lo a Jesus Cristo é a segunda. Uma etapa a ser vivida na fé e na esperança;
uma etapa que vai levar dezenas, talvez centenas de anos. Demos o primeiro passo
de um longo caminho.”
Entretanto o P. João David despede-se de Caió em Junho, pois é chamado para
fazer o curso de capelães, no serviço militar, e acaba por ser nomeado para a
Província.
No mês de Agosto de 1988, a missão acolhe um grupo de Jovens Sem
Fronteiras que ali se desloca com o P. Firmino Cachada para iniciar a construção
de uma escola. Foi o início de uma longa e boa cooperação entre a escola de Caió
- Tubebe e os Jovens Sem Fronteiras, com frutos benéficos para ambos os lados.
Em Dezembro de 1988, precisamente no dia 17, chegou à Guiné-Bissau um
novo membro: o P. Manuel João Magalhães Fernandes. Depois de algum tempo
em Caió, o P. Magalhães Fernandes, vai para a missão de Bajob, onde o P. Gerlier
estava sozinho, depois da partida do P. Pierre Buis para o Gabão.
A Província Portuguesa acarinhava esta missão jovem, tão bela como difícil.
Acreditando que aquela inserção era um dos mais belos exemplares da missão de
primeira evangelização entre os pobres, a Província enviou para lá um novo
membro, o P. Mário Pires que lá chegou em Outubro de 1990.
Com este novo membro e a promessa de dois confrades angolanos o grupo da
Guiné começou a reflectir sobre a hipótese de aceitar uma das paróquias de
Bissau. Além de diversificar o trabalho missionário, permitiria que os confrades
do interior nas suas deslocações à cidade tivessem uma casa para os acolher e se
sentissem em comunidade espiritana. A decisão foi tomada e foi nomeado o P.
Manuel Paula para assumir essa responsabilidade, juntamente com o P.
Felisberto Sakulukussu, espiritano angolano afectado à Guiné-Bissau. Os
Espiritanos assumiram essa paróquia em 1990 e foi o P. Manuel Paula nomeado
pároco de Nª Srª da Ajuda de Bissau.
Vítima de sucessivos paludismos, com achaques de vária ordem devido ao
pesado clima, o P. Magalhães Fernandes acabou por regressar a Portugal em
1992.
Com a escola de Tubebe a funcionar, com muita a gente a pedir ajuda no
campo da saúde, os espiritanos de Caió pediram às espiritanas para fundarem
também uma missão na Guiné. A decisão foi favorável e os espiritanos de Caió
começaram a construção da missão das irmãs que chegariam em 16 de Março de
1991. A acção social ganhou imenso com a chegada delas, pois se ocuparam de
imediato da promoção feminina e da saúde, colaborando de maneira muito eficaz
na pastoral.
Em 1992 o P. José Costa é nomeado responsável da catequese a nível diocesano
ficando o P. Mário Pires a ser o pároco em exercício em Caió, já que a
responsabilidade assumida obrigava a frequentes e longas ausências da missão.
Em 1993 o P. José Costa é chamado pela Província de Portugal ficando o P.
Mário Pires a ser o pároco, tendo como confrade o Ir. Tito, da Província de
Angola.
A 9 de Junho de 1995 o P. Manuel Paula, regressou à Província e o P. Mário
794
Adélio TORRES NEIVA
Pires, vítima da doença de Alzheimer era também forçado a deixar Caió, em
1998.
Em 2000 chegou o P. João Baptista e em 2002 o P. Manuel Semedo.
A missão na Guiné proporcionou a vários jovens professos espiritanos o seu
estágio missionário: o Pedro Fernandes foi o primeiro que esteve em Caió de
1994 a 1996; o João Cláudio esteve de 1999 a 2001; o Manuel Semedo esteve em
Bissau de 1999 a 2001. Em Caió, os estagiários dedicavam grande parte do seu
tempo ao ensino na Escola Sem Fronteiras de Tubebe.
O carinho com que a Província olhava esta missão permitiu que por duas vezes
lá se realizasse a Ponte, dos Jovens Sem Fronteiras, levando àquelas paragens
grupos de jovens sedentos de conhecer a missão por dentro e de dar as mãos aos
pobres que ficam do outro lado do mar.
Também o MOMIP quis levar lá os seus professores. O 32º Encontro de
Professores teve na Guiné o seu ponto alto. Uma viagem pelo país, com a
oportunidade de encontrar uma cultura tão diferente, foi uma autêntica aula
prática sobre a missão.
Integrada na FANO (Fundação da África Noroeste) a Guiné-Bissau mereceu
sempre um olhar atento e uma solidariedade prática, sobretudo nos momentos
mais difíceis como o da guerra civil de 98-99. O apoio dado foi a expressão do
quanto a Guiné nos merece em atenção e dedicação.
Os Espiritanos na Guiné-Conakry
Na Guiné Conakry, trabalha o Ir. Manuel do Carmo Figueiredo Gomes. De
2001 a 2002 trabalhou na missão de Dalaba e a partir de 2002 na missão de
Kataco, onde dirige uma escola primária.
795
Capítulo 86
Os Espiritanos Portugueses na África do
Sul
e em S. Tomé
A
pedido do Superior Principal da África do Sul, que pedia um
espiritano português para aquela circunscrição, em 1983, o P.
Alberto dos Anjos Coelho depois de uma experiência de três meses,
foi desligado da Província de Espanha e enviado, conjuntamente com a Província
de Portugal e a Província de Espanha para a África do Sul, integrado numa equipa
internacional. Solicitado pelo bispo de Bethlehem para assistir os emigrantes
portugueses, procedentes de Angola, trabalhou em Bethlehem até 1984, ano em
que passou para o Lesotho, sendo depois responsável da formação espiritana em
Bethlehem. Deixou a África do Sul em 1995.
Hostels Project
A sensibilização por parte do Conselho Geral da Congregação à problemática
dos hostels (aglomerados enormes de trabalhadores vindos do interior sem a
família), começou em 1985-87. Foi seu protagonista o P. De Fleuriot, padre
diocesano de Durban, mas de origem mauriciana, o qual conhecia a acção da
Congregação.
Em 1987 foram nomeados pelo Conselho Geral dois confrades franceses. Foilhes, porém, negado o visto de entrada.
Em Janeiro de 1992 foram nomeados outros dois espiritanos: o P. José Manuel
Sabença, português e Peter Lafferty, inglês. O P. Eamon Nolan, inglês, chegou
só em Novembro. Em Outubro de 1992, dá-se a mudança de bispo da diocese de
Durban: D. Denis Hurley é substituído por D. Wilfrid Napier.
Para o P. José Manuel Sabença os primeiros meses (Janeiro a Agosto de 1992)
foram para aprendizagem do zulu. Os seus dois colegas já conheciam a língua por
terem feito o seu estágio naquele país.
Desde Setembro de 1992 a Junho de 1993 pode-se dizer que foi a fase de
aventura, arranque, escuta, primeiros passos, discernimento. A comunidade vivia
na paróquia portuguesa de São José e, a partir daí, visitavam 5 Hostels: KWA
MSHU, KWA DABEKA, WEMA, GLEBE e THOKOZA.
Em Junho de 1993, dá-se a abertura da casa de Lamontville. P. Eamon e P. José
Manuel viviam totalmente para o trabalho nos hostels, embora o José Manuel dê
assistência à comunidade portuguesa de S. José, em Durban. Peter era o pároco
de Lamontville, uma paróquia totalmente negra. Os Espiritanos foram os
primeiros brancos a viver na área negra.
796
Adélio TORRES NEIVA
Em Julho de 1994, deu-se a visita dos Conselheiros Gerais: PP. Odigbo e
Franz Winen. Priorizava-se a concentração do trabalho nos hostels KWAMashu e KWA-Dabeka em Clermont.
A orgânica geral dos trabalhos nos hostels era: visitas aos quartos/casas,
criação de grupos donde pudessem surgir comunidades cristãs, tentar levar a
paróquia aos hostels e os cristãos dos hostels à paróquia.
Em Outubro de 94, o Bispo pediu para assumir a paróquia de Clermont na qual
estava o maior Hostel KWA-Dadeka. Clermont era uma “township” de 250 mil
habitantes e onde existiam vastíssimos bairros de lata.
A partir dessa data, o P. José Manuel e o P. Eamon passavam parte da semana
em Clermont para a assistência à paróquia, mas sempre dando prioridade aos
hostels. No Capítulo de Distrito, realizado em Fevereiro de 1995, ficou bem
claro que o trabalho dos hostels e townships era mesmo uma prioridade.
Conferindo a história do Projecto dos Hostels é evidente que desde o início os
confrades fizeram opções claras pela vida comunitária nas suas componentes
fundamentais: oração comunitária, planificação, partilha, atitude constante de
discernimento, etc.
O esforço de inserção concreta na vida do povo negro, fez com que se
considerasse normal antes de mais nada aprender o zulu, língua que todos falam.
Mas foram os confrades mais longe na sua identificação com os pobres no meio
dos quais viviam: preparavam as suas próprias refeições, não possuíam TV,
mantinham a porta da casa permanentemente aberta.
Não obstante os avisos dos vizinhos, optaram por não colocar grades na casa.
Os riscos têm preço. Já tiveram que entregar as chaves de um carro aos
assaltantes e outro carro foi forçado para roubo da bateria.
Embora a insegurança seja constante, os confrades deixavam-se permanecer
nos hostels até perto da noite. Eram os únicos brancos na área, e por isso, são já
conhecidos. O povo começava a vê-los como alguém que ia falar de Deus e se
empenhava na resolução dos seus problemas: alfabetização, desemprego, etc.
O assumir compromissos paroquiais e até a assistência à comunidade
portuguesa de Durban, de modo nenhum secundarizava a sua presença nos
hostels.
A paróquia de Clermont parecia proporcionar uma boa estratégia de inserção
no sentido de levar a paróquia até aos hostels e estes à paróquia.
Em Novembro de 1995 chegou o Damasceno José Fernandes Reis, que aqui
veio fazer um estágio pastoral. Depois de aprender o zulu ficou a fazer parte da
comunidade de Clermont, integrando-se no seu projecto pastoral,
acompanhando o P. José Manuel na visita aos hostels, particularmente no hostel
KWA-BADEKA e KWA-MASHU. Embora já se trabalhasse na paróquia de
Clermont desde Outubro de 1994, a partir da comunidade de Lamontville, a
comunidade de Clermont só foi oficialmente aberta com três membros a seguir
à Páscoa de 1996. Os três membros da comunidades ficaram a ser: P. Michael
Sibeko, sul africano, o P. José Manuel e o Damasceno. Em Outubro de 1996
juntou-se mais um confrade, nigeriano, P. Joseph Nnadi.
Os Espiritanos Portugueses na África do Sul e em S. Tomé
797
Em Fevereiro de 1996 o P. José Manuel visitou, em nome do superior do
distrito P. Jim Devine, as duas dioceses de Moçambique, onde os espiritanos
tinham iniciado a sua presença, para acertar pormenores do contrato com os
respectivos bispos.
A 4 de Maio desse ano abriu-se na paróquia uma comunidade de Irmãs de uma
congregação local, para ajudar na pastoral da paróquia e no trabalho da secção
feminina nos hostels.
A 15 de Junho, com a presença do Arcebispo da diocese e do Cônsul de
Portugal em Durban, inaugurou-se um Centro Juvenil, que a Embaixada
Portuguesa tinha financiado. O grande dinamizador deste projecto seria o
Damasceno.
Em 1997 o P. José Manuel foi chamado para a Província e o Damasceno
terminado o seu estágio, regressou também a Portugal, partindo depois de
concluídos os estudos para Moçambique.
Em Dezembro de 1999 partiu para a África do Sul o Victor Silva, também para
fazer o estágio, tendo sido colocado na comunidade de Lamontville, tomando
contacto com os Hostels e participando na animação da comunidade portuguesa
de S. José.
Os Espiritanos em S. Tomé e Príncipe
Primeiro Projecto:
Em 1848 o espiritano Monsenhor Bessieux, em navio francês que o levava com
destino à África Central, atracou na Ilha do Príncipe onde ficou 10 dias. Várias
coisas espantaram Sua Excelência: a profunda religiosidade popular, a maneira
irregular da vida do abundante clero secular,459 a degradação de Igrejas e capelas,
a exuberante riqueza da terra e a abertura do Governador local.
Foram dias de intenso trabalho apostólico, procurando moralizar o clero,
exigindo limpeza e arrumo nos locais de culto, catequizando o povo e estudando
a maneira de remediar de forma estável à triste situação religiosa da Ilha.
Em carta para a Propaganda Fide, propunha o Prelado: 1º, que aí fossem
enviados dois sacerdotes espiritanos, suficientes, cria ele, para remodelar tão
triste situação; 2º, que aí fosse criado um Seminário Diocesano onde se formaria
o clero para S. Tomé e Príncipe e para toda a África Central. A produtividade da
terra e a generosa doação de uma roça por parte do Governador local,
garantiriam a alimentação dos aspirantes.
Sobre tal projecto não houve, ou não se conhece, a resposta da Propaganda.
Certo é, porém, que nunca ele se realizou. Assim se gorou, pois, a primeira
intenção de colocar espiritanos nas Ilhas do Equador. Foi pena.
Bispo Espiritano:
Volvidos 145 anos sobre o projecto falhado, a Santa Sé envia aí, como Bispo, o
459
Segundo Mons. Bessieux haveria na Ilha 9 sacerdotes seculares vivendo todos em amancebia.
798
Adélio TORRES NEIVA
espiritano D. Abílio Ribas460. Crê o Prelado que a Santa Sé teria, com tal
nomeação, a intenção de diversificar e aumentar o clero das Ilhas, totalmente
entregues aos zelosos Filhos do Coração de Maria desde há cerca de 65 anos.
Não o conseguiu Sua Excelência. Os espiritanos não assumiram cargos
evangelizadores nas “Ilhas Verdes”. Nem por isso, porém, deixaram de ajudar o
Prelado, fornecendo-lhe durante quase todo o tempo a ajuda de algum confrade.
Assim, de Novembro de 1985 a Junho de 1989, secretariou a Diocese o P.
António dos Santos Moreira; em 1987 chegou o Ir. Agostinho Manuel Lopes (Ir.
Benjamim), regressando muito doente em 1996; em 1990 chegou o P. José
Martins Salgueiro, que partiu em 1993; em 1997 chegou o P. Fernandino Ilídio
Cardoso Pereira que saiu em Julho de 2001; em 2002 chegou o P. Ricardo dos
Santos Meira.
Em 1995 chegou também a S. Tomé o agregado José Flora da Cruz, que ali
completou um contrato de três anos.
460
D. Abílio Ribas recebeu nomeação para S.Tomé em 4 de Dezembro de 1984, foi esta tornada pública em 21 do mesmo mês
e foi ordenado em S. Tomé a 24 de Fevereiro do ano imediato.
799
Capítulo 87
Os Espiritanos Portugueses no Paraguay,
México
Porto Rico e Taiwan
N
as vésperas do Pentecostes de 1976, o Conselho Geral Ampliado,
reunido em Roma, decidiu, por unanimidade, adoptar três projectos,
como sendo prioridades missionárias da Congregação: o Paraguay,
Angola e o Paquistão. Estes projectos foram assumidos, em responsabilidade
colectiva, por todos os Superiores Maiores.
A primeira fundação da Congregação na América do Sul, foi no Perú em 1891.
No mesmo ano, os Espiritanos estabeleceram-se no Brasil, na Amazónia.
Bastante mais tarde (1945-60) começaram a trabalhar igualmente no sul do Brasil
e, em 1976, eram já cerca de 200 a trabalhar naquele país.
Em 1967, foi aberta no Paraguay uma missão, confiada à Província da Trindade.
Durante vários anos, cinco trindadianos lá iam trabalhando, mas em 1976, só
restavam dois e a Província da Trindade pedia ajuda em pessoal para a missão do
Paraguay. O Conselho Geral Ampliado decidiu, pois, confiar esta missão a uma
equipa internacional.
A equipa era composta por sete padres: dois da Trindade, dois de Portugal e um
respectivamente da França, Suíça, e Canadá e um Irmão espanhol. Duas
enfermeiras e uma catequista espanhola e um cooperante francês foram ajudá-los.
Os missionários repartiram-se em dois grupos: um, na cidade, em Assunção,
ocupado do ministério pastoral e das responsabilidades do apostolado com os
jovens da arquidiocese, o outro em Lima, na diocese de Conceição a trabalhar na
zona rural, onde se encontram também muitos jovens.
O índice de mortalidade infantil era muito elevado no Paraguay (36 por cento)
e a média de vida dos camponeses era a mais baixa de toda a América do Sul. A
desigualdade social era gritante: quinhentas famílias e algumas companhias
estrangeiras possuíam 98% das terras, ficando apenas 2 % delas para as outras
250.000 famílias.
Os portugueses que fizeram parte desta primeira equipa foram os PP. Albino
Vítor Martins de Oliveira e João Souto e as três jovens espanholas: Angela Serra
Montejano (Gela), Amparo Urios Grande, enfermeiras de Valência e Maria
Dolores Aguado (Lola) de Madrid.
O P. Victor, com o suíço Conrad e as duas enfermeiras Gela e Amparo
estabeleceram-se na diocese de Lima, em Choré, entre os campesinos,
evangelizando de aldeia em aldeia.
O P. João Souto Coelho regressou um ano depois, tendo-se secularizado em
1983.
800
Adélio TORRES NEIVA
A 25 de Janeiro de 1998, por decreto da Congregação para a Evangelização dos
Povos, o P. Víctor foi nomeado Director Nacional das Obras Missionárias
Pontifícias no Paraguay. A 15 de Dezembro de 2002 foi escolhido para superior
do Grupo Internacional do Paraguay.
Em 1997 o Luís Pedro Cardoso Adeganha fez um estágio no Paraguay,
regressando a Portugal em 1999.
A presença portuguesa no Paraguay condensa-se essencialmente no P. Albino
Víctor. Ao longo destes quase 25 anos, o P. Víctor realizou um trabalho notável.
Quando chegou a Choré encontrou 10 comunidades; quando partiu deixou 100.
No Guarany, língua local, está perfeitamente à vontade e esse, tem sido, sem
dúvida, um dos segredos do êxito da sua acção pastoral junto dos camponeses.
Sobretudo na organização de comunidades e preparação dos seus líderes.
Impressiona positivamente a clareza de opções feitas pelo grupo internacional
do Paraguay. São de destacar: a opção pelo trabalho com os camponeses no
interior e consequente problemática da terra, a opção pela formação espiritana, a
opção pela pastoral com os índios, a opção pela vida comunitária, a opção pela
animação missionária e pela pastoral da juventude
No ano de 2001 esteve em Portugal, a fazer estágio no CEPAC o estudante
paraguaiano Celso Sotelo Blanco.
NO MÉXICO
Em 1995, o P. António Ribeiro Laranjeira foi afectado ao Grupo Espiritano do
México, como coordenador da Formação. No mês de Setembro desse ano, fez
uma experiência de inserção entre os índios Tenec, na Huasteca Potosina, onde
estão a trabalhar os Espiritanos. Depois de conhecer a realidade da “Zona
Huasteca”, nas montanhas, no mês de Dezembro do mesmo ano de 1996,
assumiu a direcção dos estudantes de Filosofia e Teologia da Congregação, em
Altamira, estado de Tamaulipas. No ano de 2001, o P. Laranjeira regressa ao
Brasil.
Em 2002 foi nomeado para o México o P. Tiago Aparício Simões Barbosa.
Partiu para lá no ano de 2003 juntamente com o jovem espiritano Filipe Cruz em
estágio missionário de dois anos.
Em 1997, também no México, fez o seu estágio missionário o Manuel do
Carmo Figueiredo Gomes, tendo-o concluído em 1999. E em Portugal fez os
estudos de Teologia o estudante mexicano Guillermo Gil-Torres.
EM PORTO RICO
Em 1982, o P. António Ribeiro Laranjeira, que então trabalhava como primeiro
director do seminário diocesano de Nova Iguaçu, no Brasil, parte para Porto
Rico, acompanhado de dois estudantes espiritanos que ali iam fazer o seu
noviciado. Pouco tempo depois, devido ao inesperado falecimento do Mestre de
Noviços, P. Juan Sacovich, é nomeado para este cargo, que exerceu até Agosto
Os Espiritanos Portugueses no Paraguay, México Porto Rico e Taiwan
801
de 1988, período interrompido entre Julho de 1984 e Julho de 1985 para um ano
de estudos sobre Espiritualidade na universidade de Comillas, em Espanha.
TAIWAN
No ano 2002 o P. Vítor Silva recebeu como primeira nomeação o Grupo
Internacional das Filipinas - Taiwan, onde se encontra actualmente, sendo assim
o primeiro espiritano português a ser enviado para a Ásia.
803
Capítulo 88
A Missão Espiritana em Moçambique
N
o Conselho Geral Alargado de Dakar, de 7 a 20 de Maio 1995, após
longa reflexão, decidiu-se dar uma resposta positiva aos apelos que
nos foram feitos pelos Bispos de algumas dioceses de Moçambique.
Com efeito, por ocasião da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a
África, a Congregação foi interpelada a fazer uma abertura missionária a
Moçambique. Os bispos de Nacala e Chimoio pediram a colaboração espiritana
para as suas dioceses.
Em 20 de Agosto de 1993, o bispo de Nacala escreveu uma Carta ao Superior
Geral, dando a conhecer a situação precária da sua diocese. Alguns meses mais
tarde, em 1994, a Casa Generalícia recebeu a visita de D. Germano Grachane,
bispo de Nacala. Ainda por ocasião da Assembleia do Sínodo para a África, D.
Francisco Silota, bispo de Chimoio, veio também bater à nossa porta.
Anteriormente já tinha contactado a Província de Angola.
As Províncias de Angola e Portugal, durante os seus Capítulos de circunscrição,
reflectiram sobre o apelo dos bispos moçambicanos e deram um parecer positivo.
No documento do Capítulo de Portugal de 1994 se aceitou como projecto
“viabilizar a participação numa eventual equipa internacional em Moçambique”.
Em ordem a um possível compromisso da Congregação nessas dioceses, em
Maio de 1995, a pedido do Conselho Geral, o P. Jerónimo Cahinga, Provincial
de Angola, fez uma visita a Moçambique e escreveu no seu relatório:
“Visitei as dioceses de Nacala e Chimoio, cujos bispos pediram a colaboração dos
espiritanos. Ambas as dioceses têm uma grande necessidade de missionários. Tal
como aconteceu em Angola, também os moçambicanos estão sofrendo as amargas
consequências da guerra do pós-independência. A maior parte das missões e
paróquias continuam privadas dos seus missionários, obrigados a abandonar o país
por causa da guerra ou pela impossibilidade de exercer qualquer actividade
missionária em algumas regiões. Presentemente, a maioria das missões e paróquias
continua esperando a presença do missionário”.461
Durante o Conselho Geral Ampliado de Dakar, foi formada uma Comissão
“ad hoc” para definir as modalidades de um possível compromisso. Esta
comissão fez as seguintes propostas:
1. Que os espiritanos iniciem a sua actividade missionária em Moçambique
durante o ano de 1996.
461
Relatório da visita do P. Cahinga a Moçambique. APPCSSp. Pasta de Moçambique
804
Adélio TORRES NEIVA
2. Que sejam formadas, desde o início, duas equipas internacionais.
3. Que sejam contactadas as Circunscrições da Nigéria, EAP, SCAF, Angola e
Portugal (sem excluir outras) em vista da formação de tais equipas.
Assim, dando sequência aos pedidos de Moçambique e à consulta feita aos
Superiores das circunscrições de Angola, Portugal, Nigéria, EAP e SCAF, o
Superior Geral e o seu Conselho decidiram a 14 de Junho de 1995, estabelecer
um Grupo Internacional nas Dioceses de Chimoio e de Nacala. O referido grupo
deverá exercer as suas actividades em duas comunidades e ficará integrado na
Região da África Centro-Sul (SCAF).
Após esta decisão, o Conselho Geral apresentou as seguintes orientações:
1. Dar a conhecer aos bispos de Nacala e Chimoio, respectivamente D.
Germano Grachane e D. Francisco João Silota, as decisões tomadas.462
2. Entrar em contacto com as circunscrições de Angola, EAP, Nigéria,
Portugal e SCAF e, eventualmente outras. Nesse sentido foi enviada uma
comunicação a todos os espiritanos.
3. Prever uma visita “in loco” dos Superiores das duas equipas que irão
trabalhar naquelas dioceses para estudarem as melhores condições do
estabelecimento dos confrades. Ao mesmo tempo, pedimos a todos que aceitem
confiar a Deus este nosso projecto, que necessita de um forte apoio espiritual e
de ajuda material.
4. A equipa internacional deverá dispor de um tempo razoável para o
conhecimento mútuo dos confrades que a integrarão e para planificação das
actividades.463
Dando sequência a este projecto foram nomeadas duas equipas, de três
membros cada uma: Para Chimoio: PP. Anthony Ahamba (Nigeriano),
Benedito Cangueno (Angolano) e Domingos Matos Vitorino (Português). Para
Nacala: Diácono Alberto Tchindemba (Angolano), P. Lawrence Nwaneri
(Nigeriano) e P. Pedro Fernandes (Português). O critério era a internacionalidade, em obediência às actuais exigências da missão e à maneira espiritana
de fazer missão neste tempo.
Para localização mais precisa dos espaços a ocupar, foram enviados dois
visitadores: o P. James Devine, Superior da SCAF e Benedito Cangueno, que
fizeram as suas visitas nos meses de Janeiro-Fevereiro de 1966. Os locais
escolhidos foram: a missão de Inhazónia no Chimoio e a missão de Netia, em
Nacala, onde Irmãs Combonianas trabalhavam já. A diocese de Chimoio, criada
em 1991, tem 800 mil habitantes e apenas 5 padres; a de Nacala, criada na mesma
altura, um milhão e 500 mil habitantes e também cinco padres.
Os bispos de Nacala e Chimoio firmaram com a Congregação um contrato
sobre esta presença.
Para acertar pormenores sobre esta presença houve em Clivo di Cinna (Roma),
a 19 de Setembro de 1995, um encontro com o Superior Geral, os assistentes
462
463
18 de Junho de 1995
AGCSSp. 15 de Junho de 1993
Os Espiritanos Portugueses no Paraguay, México, Porto Rico e Taiwan
805
Bernardo Bongo, delegado do Conselho Geral para Moçambique e Godfrey
Odgibo, correspondente da SCAF, e os PP. Eduardo Miranda, provincial de
Portugal, Gabriel Mbilingue, provincial de Angola, e James Devine, Superior da
SCAF.
O grupo antes de partir teve, durante uma semana, um encontro em Portugal,
no Restelo, em Setembro de 1996, a fim de se conhecerem melhor e de se
identificarem no projecto que juntos assumiam. Esta reunião, prevista para
quinze dias, durou apenas uma semana.
Como coordenador da equipa foi escolhido o P. Benedito Cangueno.
A equipa chegou a Moçambique em Novembro de 1996, mas cinco meses
depois, a 3 de Maio de 1997, o P. Domingos Vitorino regressaria a Portugal por
motivos de saúde, sendo depois, em Outubro de 1997, desligado de Moçambique
e reintegrado na Província de Portugal.
O grupo teve a primeira visita do Superior Geral em 25/27 de Agosto de 1997
em Inhazónia.
Um segunda visita da Casa Generalícia foi efectuada pelo P. Gabriel Mbilingue
de 20 de Janeiro a 5 de Fevereiro de 1999. Nesta data havia já problemas de vida
comunitária, pelo que as equipas foram re-estruturadas. O P. Benedito Cangueno
regressava a Angola em Janeiro de 1999 e em Inhazónia ficavam o P. Lawrence e
Anthony. A equipa de Netia ficava formada, pelos PP. Pedro Fernandes, Alberto
e Damasceno Reis, acabado de ser afectado ao Grupo de Moçambique.
Entretanto, provisoriamente, ficava como coordenador do grupo o P. James
Devine.
Em 2001 foi enviado para Inhazónia, e como coordenador do grupo o P. John
Kingston, irlandês. Nas duas comunidades ficavam a superiores, em Netia, o P.
Pedro Fernandes e em Inhazonia o P. John Kingston.
Em 1999 deixava também Moçambique o P. Lawrence.
Em 2001, Netia recebeu o Tiago Barbosa, da Província de Portugal, como
estagiário, bem como um estagiário angolano, Matias.
Neste mesmo ano chegou um leigo francês, Christophe Heveline, que ficou
integrado na equipa de Netia.
Nos fins do ano 2000 deixou Moçambique o P. Anthony, ficando o P. John
Kingston sozinho em Inhazónia. Algum tempo depois veio fazer-lhe companhia
o P. Yves, francês e o P. Frans, irlandês.
Também em 2003 chegou a Netia como estagiário o Saturnino, da Província de
Portugal.
Todas estas mudanças falam-nos da dificuldade de iniciar e lançar uma nova
fundação, com confrades de tão diversa proveniência e sensibilidades diferentes.
De qualquer maneira, o trabalho que as equipas desenvolveram foi um trabalho
muito interessante, animando comunidades locais, criando escolinhas para
educação das crianças, e formando líderes, a par de uma vivência comunitária
exigente e testemunhante. A primeira missão espiritana de Moçambique, se por
um lado criou não poucos problemas, por outro soube criar um modelo de
missão testemunhante e evangélica, que é de toda a justiça relevar.
806
Adélio TORRES NEIVA
A transferência para Itoculo
Netia contava uma dezena de comunidades cristãs pujantes, com cristãos da 3ª
e 4ª geração e com estruturas paroquiais relativamente bem estruturadas. É
considerada uma das mais amadurecidas paróquias da diocese e foi por essa razão
que bastantes missionários manifestaram ao bispo a sua estranheza por irem
espiritanos para Netia e não ser essa paróquia reservada aos padres diocesanos.
Quando os espiritanos chegaram, havia um único padre diocesano e esse a
estudar em Roma. Actualmente, sete anos depois, a diocese conta já com oito
padres e outros mais se prevê sejam ordenados nos próximos anos.
Ao mesmo tempo, os espiritanos assistem já dois terços das 79 comunidades
cristãs da área pastoral de Itoculo. Itoculo não tem nem nunca teve, uma missão
ou qualquer estrutura que permita a presença permanente de uma equipa
missionária. É uma extensa área pastoral, com comunidades cristãs incipientes e
um imenso trabalho de primeira evangelização por fazer. Corresponde a uma
área das mais carenciadas da diocese, sem estradas dignas desse nome, quase sem
postos de saúde e com um reduzidíssimo número de escolas. Por tudo isto, após
um longo tempo de avaliação da situação e de discernimento, pareceu aos
espiritanos que a sua opção mais normal seria disponibilizar a missão de Netia e
procurar condições para passar a residir em Itoculo, dedicando-se assim a tempo
pleno à evangelização desta região.
A proposta foi apresentada ao bispo D. Germano Grachane, numa reunião
conduzida por John Kingston, superior do Grupo de Moçambique. O Bispo
aceitou a proposta e com ele se acordou um período de três anos, a contar dessa
data, para a transferência. Os padres diocesanos ficarão assim com Netia a partir
de Fevereiro de 2004, mas passariam a residir com os Espiritanos desde
Novembro de 2003, para um período de transição.
Desde logo se começou a procurar terreno para a construção e foi escolhido
no único lugar onde é possível o acesso ao longo de todo o ano. Fez-se uma
pesquisa geológica para encontrar água e adquiriu-se o terreno escolhido, que era
de mato a desbravar. Foi elaborado um projecto detalhado e apresentado a vários
organismos católicos de solidariedade como Missio, Kirch in nott, arquidiocese
de Colónia, OMP de Roma. À Província de Portugal pediu-se um empréstimo
de dinheiro para completar o que faltava para a construção. A Província de
Portugal a 1 de Janeiro de 2002 fez o empréstimo de 40 mil euros.
Com a diocese foi firmado um contrato em que todas as condições deste
projecto são acordadas.464
Uma terceira comunidade
Desde 1996, ainda no encontro preparatório em Lisboa, que se falava numa
terceira comunidade. Em 1997, aquando da visita do Superior Geral, a cidade da
464
APPCSSp. 15 de Novembro de 2001
Os Espiritanos Portugueses no Paraguay, México, Porto Rico e Taiwan
807
Beira funcionou como localização previsível dessa terceira comunidade. Em
1999, aquando da reunião com o P. Mbilingue, o grupo de Moçambique era
unânime no parecer de que a terceira comunidade deveria ser aberta numa cidade
também para diversificar o tipo de missão que os espiritanos pretendiam
desenvolver em Moçambique. Netia estava muito isolada como comunidade
espiritana, pois a comunidade de Inhazónia ficava a 1120 quilómetros, pelo
caminho mais curto que é intransitável no tempo das chuvas e muito
desconfortável e moroso no resto do ano. Continuamente os espiritanos
precisavam de recorrer aos préstimos de outras congregações, sobretudo na
cidade de Nampula, a capital da província e a cidade mais próxima. Também em
Maputo tinham que recorrer continuamente à Procuradoria dos Combonianos.
Daí a necessidade de fundar uma nova missão, que possa servir de intermediária
às duas já existentes. Decidiu-se já escolher Nampula para sede dessa missão.
Com a eleição do P. John Kingston para Conselheiro Geral foi nomeado para o
substituir o P. Alberto Tchindemba, angolano.
809
Capítulo 89
Ministério Paroquial
N
a história da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo,
há duas paróquias, que a Província assumiu e que estão ligadas aos
seminários construídos na sua área: a paróquia de S. José de Godim e
a paróquia de S. Domingos de Rana. As outras paróquias foram assumidas, com
carácter transitório, sem compromisso que garantisse a presença espiritana de
modo permanente. Este movimento deu-se sobretudo, depois do regresso de
muitos missionários de Angola, por 1975. Assim, daremos relevo às duas
primeiras e apontaremos mais ao de leve todas as outras.
A Paróquia Espiritana
O Capítulo Provincial de 1990 decidiu que se “elaborasse um Directório das
paróquias que concretize as formas de comunhão com a Província, que ajude um
espiritano a paroquiar com particular sensibilidade ao nosso carisma e que aponte
os critérios de discernimento para permanecer, abandonar ou assumir uma
paróquia” (nº 545).
O assunto foi reflectido no Conselho Ampliado de 1997 e nele se apontaram
alguns critérios para a identidade da paróquia espiritana:
- Que possibilite à Província inserir-se na vida da Igreja local a partir das
estruturas pastorais que lhe são próprias;
- Que essas paróquias sejam um projecto do Instituto e não um projecto
pessoal;
- Que sejam paróquias-sinal, situando-se em zonas desfavorecidas ou pouco
evangelizadas e para as quais a Igreja local tem dificuldade em encontrar pastores;
- Que sejam sempre uma comunidade espiritana que está ao serviço da
paróquia;
- Que ajudem na implantação da Igreja na periferia das grandes cidades e em
grupos que estão à margem da sociedade;
- Que eventualmente criem um espaço de actuação pastoral para os nossos
estudantes, sobretudo os que estão no período pós-noviciado;
- Que a sua aceitação ou manutenção passe pela elaboração de um contrato
com o Bispo diocesano, por tempo determinado;
- Que, sempre em diálogo com a Igreja local, estejamos dispostos a partir para
outra situação, logo que nossa presença na paróquia já não corresponda aos
critérios aqui enumerados.
810
Adélio TORRES NEIVA
Assim, o perfil da paróquia espiritana apresentará as seguintes características:
- Preocupação, sem impor, às comunidades paroquiais, o nosso carisma;
- Apreço pela dimensão evangelizadora, apostando sobretudo na evangelização
dos pobres e das situações de Justiça e Paz;
- Cultivo da dimensão missionária, que passa pela criação de grupos a nós
ligados;
- Grande sensibilidade à Pastoral Vocacional;
- Vida em comunidade;
- Prática da solidariedade económica com a Congregação (1.2.3.).
No Capítulo Provincial do ano 2000, o Capítulo relembrava as orientações do
CPA 97 e chamava a atenção para o seu cumprimento (nº 682).
Paróquia de S. José de Godim
Um pouco de história da freguesia
A origem da freguesia de S. José de Godim perde-se na bruma dos tempos. O
que sabemos é que é povoação muito antiga, pois que temos documentos que a
ela se referem já nos primeiros anos da nacionalidade.
O nome Godim, na opinião de Joaquim Martins de Macedo465 deve provir do
nome do seu primeiro senhor de nome Godim, nome que aparece muitas vezes
na toponímia daquele tempo. A povoação é por vezes designada por Jugueiros.
Jugueiro era aquele que estava sujeito ao direito de Jugada ou direito de cada jugo
de bois para lavrar um moio de trigo ou milho. O direito de jugada era muito
comum em Portugal. Este imposto deu origem a vários topónimos, entre os
quais o de Jugueiros. Os casais que pagavam este imposto chamavam-se
Jugueiros. Jugueiros se chama também a ribeira que corre nos limites da freguesia
e desagua no Douro.
O primeiro documento que conhecemos de Godim é uma Carta de D. Sancho,
do ano 1205, aos homens de Godim; é também o primeiro documento que se
refere às vinhas da região. Nessa carta D. Sancho dá foro aos homens de Godim
para que “sempre tenhais o próprio regalengo, vós, vossos filhos e vossos netos
com seus termos”. “E mandamos que das terras rotas deis como sempre destes.
E daquelas que romperdes deis a quinta parte. E das vinhas que estão feitas agora
deis a terça parte”.
O segundo documento é o seu foral de 1210, em que o mesmo rei confirma
aqueles privilégios da carta anterior e concede outros novos. O foral é concedido
aos homens de Godim Rodrigo Mendes, e Pelaio, monge, Egas Moniz,
Rodrigues Peres e Pedro Filho, como vizinhos de Godim. Nesta carta de foral se
encontram também traçados os limites da freguesia, que devia ser toda aforada
com a condição de darem ao Rei a oitava parte de todos os frutos nela colhidos.
Os seus limites eram desde aquele monte Argemundanes, assim como extrema
com Lobrigos e com Vila Maior. E daí com Remostias e com o Peso e daí pela
465
Elementos para a história de Godim, 1961
Ministério Paroquial
811
veia do Corgo.
Um outro documento remonta ao ano de 1341, firmado por D. Afonso IV e
dirigido a D. Vasco Martins, bispo do Porto, que diz que os Julgados de Pena
Guiam e Godim pertenciam a essa diocese.
Depois, D. Manuel, a 15 de Dezembro de 1519, na altura da reforma dos forais
do Reino, concedeu foral novo a Godim.
Não sabemos qual a população de Godim até ao século XVI. Em 1530, ano em
que se faz o primeiro recenseamento da Província de Trás os Montes, o concelho
de Godim apresenta 61 moradores. Em 1758, o Dicionário Geográfico do Padre
Cardoso dá a Godim 409 fogos, o que equivalia a 1.380 habitantes. Depois a
população foi subindo e em 1960 o número de habitantes rondava os 2.747.
O concelho de Godim absorvia a actual sede do concelho da Régua,
aparecendo muitas vezes anexo ao concelho de Penaguião. Foi por decreto de 6
de Novembro de 1836 em que Vila Real ficava com 24 concelhos, que Godim
deixou de ser concelho.
Não sabemos a data da criação da freguesia de Godim; o primeiro presidente
da Junta de Freguesia que conhecemos é o Padre Francisco Gomes Carneiro; foi
presidente desde 1856 a 1862.
Hoje o lugar mais importante da freguesia é o lugar do Salgueiral, o mais
extenso e o maior núcleo populacional; além destes Godim tem ainda mais 24
lugares, 32 quintas e 14 casas com Pedras de Armas.
A paróquia de S. José de Godim
A paróquia de S. José de Godim foi desanexada da de S. Faustino do Peso da
Régua, no ano de 1753. Deve datar de pouco antes da sua desanexação a
construção da actual igreja. Seria talvez, na opinião de Joaquim Martins Macedo,
a construção desse templo, a meia encosta e no meio da freguesia que levaria os
moradores a pugnar pela sua autonomia eclesiástica, para não terem de se
deslocar ao Peso da Régua, para a celebração dos actos de culto. A igreja terá
portanto mais de dois séculos. Antes da sua restauração em 1906 teria cinco
altares contando com a capela do Santíssimo Sacramento.
A lista dos párocos de S. José de Godim tanto quanto foi possível elaborá-la,
desde a sua fundação em 1753 é a seguinte: P. António Correia Álvares (1753...);
P. Francisco Caetano Leite (1789-1802); P. António Pinto de Araújo (18021843); P. António Francisco Pereira (1843-1844), encomendado; P. Francisco
Gomes Carneiro (1844-1876); P. Henrique Pires de Lima (1876-1877),
encomendado; P. António Ribeiro da Silva (1877-1883); P. Alberto Teixeira de
Carvalho (1883-1884) encomendado; P. Alberto Teixeira de Carvalho (18841927).
O pároco tinha o título de Reitor ou “Reitor colado”, mas em 1864 o P.
Francisco Gomes Carneiro começa a assinar como “Pároco” e assina mesmo
“Abade”.
A freguesia foi da diocese do Porto até Setembro de 1882, passando nesta data
812
Adélio TORRES NEIVA
para a diocese de Lamego, quando se remodelaram as dioceses do reino, em
virtude da bula Gravissimi Christi de Leão XIII, de 30 de Setembro de 1881.
Com a criação da diocese de Vila Real a 20 de Abril de 1922, Godim passou
para esta diocese, como de resto as dez paróquias do concelho da Régua.
A paróquia de Godim é confiada aos Espiritanos
Os Espiritanos tinham-se instalado na Casa das Vitórias, no Salgueiral, lugar
de Godim, numa pequena casa onde alojaram os quatro primeiros estudantes de
Teologia que tinham terminado o seu curso preparatório em Braga. Como ao fim
de um ano, o número dos seminaristas aumentasse e a Casa das Vitórias não
tivesse possibilidade de os acolher, foi necessário comprar outra casa, que
apareceu à venda em Viana do Castelo e para lá foram os estudantes.
Mas como a presença dos padres era muito apreciada e o pároco de Godim P.
Alberto Teixeira de Carvalho precisava de quem o ajudasse, logo surgiu a ideia
de uma fixação dos espiritanos em Godim, com uma obra própria e que poderia
também servir inclusive de apoio à paróquia.
O P. Alberto Teixeira de Carvalho, que vivia numa casa que ele mesmo
mandou construir, em terreno seu, junto do adro da igreja, pois a paróquia não
tinha residência, no seu desejo de garantir o futuro daquela paróquia vendeu por
sua morte o que ali possuía, a pessoa de sua inteira confiança, (D. José de
Lencastre) de modo a garantir residência para quem lhe viesse a suceder.
Concordaram os Espiritanos em construir um seminário no quintal da
residência paroquial, sendo a primeira pedra benzida em 1924. É evidente que a
intenção do P. Alberto era que os seus bens fossem para a Congregação do
Espírito Santo, mas nessa altura vigorava a lei da Separação do Estado das Igrejas,
de 20 de Abril de 1911, pela qual “todas as catedrais, igrejas e capelas, bens
imobiliários e mobiliários – incluindo as residências paroquiais – que tinham sido
ou que se destinavam a ser aplicados ao culto público da religião católica e à
sustentação dos seus ministros e outros funcionários dessa religião, tinham sido
declarados pertença e propriedade do Estado e dos corpos administrativos e,
como consequência disso, foram arrolados e inventariados, sendo em
circunstâncias muito específicas e gravosas para a Igreja Católica, concedida a
utilização desses bens”.
Em face deste condicionalismo legal e apesar do risco que resultava da
cominação prescrita, no art.º 29 de Lei da Separação do Estado das Igrejas, o P.
Alberto Teixeira de Carvalho, não hesitou em aproveitar a amizade que o ligava
ao D. José de Lencastre para procurar assegurar que a residência paroquial de
Godim, que lhe pertencia como propriedade pessoal e exclusiva, ficasse para os
Missionários do Espírito Santo como párocos de Godim. E nessa base de
confiança, ainda em vida, em 11 de Julho de 1922, declarou vender ao referido D.
José a sua residência paroquial e quintal que junto dela possuía.
Alguns anos depois, a 22 de Março de 1927, o P. Alberto falecia com 77 anos
e os Espiritanos assumiram a paróquia.
Ministério Paroquial
813
A paróquia foi aceite pelos Espiritanos, primeiro porque estavam interessados
em ali estabelecer uma obra sua e depois porque a diocese não tinha padre para
ali colocar e se a Congregação não aceitasse a paróquia, ela seria anexada à vila
vizinha, continuando ao fim e ao cabo o trabalho a cargo dos padres da
Congregação que ali estavam, até porque os padres aí gozavam de muita
simpatia. Efectivamente, o Conselho Municipal, que era formado por pessoas
vindas de fora, tinham cometido a imprudência de apresentar ao bispo um pobre
padre, a pretexto de que os Espiritanos estavam já muito ocupados com as aulas.
Então, o P. Moisés Alves de Pinho pediu ao bispo para ligar proforma a
paróquia à vila. Mas o bispo queria que os Espiritanos continuassem em Godim
na paróquia.466
As condições do contrato entre a diocese e a Congregação ficaram expressas
na Provisão emanada da Cúria diocesana:
“Vila Real, 4 de Julho de 1927.
Tendo falecido o Rev. P. Alberto Teixeira de Carvalho... e sendo necessário
proceder de uma maneira constante e definitiva às necessidades religiosas da referida
paróquia, Havemos por bem, de acordo com o Rev. P. Provincial da Congregação
do Espírito Santo:
1º. Confiar à mesma Congregação a paroquialidade da referida paróquia de S.
José de Godim, ficando a seu cargo a indicação do respectivo pároco, cujo nome será
oportunamente notificado a esta Cúria, com a liberdade de o substituir sempre que
a mesma Congregação assim o julgar oportuno e podendo os sacerdotes da residência
seguir o seu próprio calendário mesmo na igreja paroquial, embora acrescentando as
festas próprias da diocese.
2º. Tomamos o compromisso de não retirar a jurisdição paroquial da mesma
freguesia à referida Congregação do Espírito Santo, sem pelo menos três meses de
antecedência na respectiva comunicação; e manifestamos o desejo que este
compromisso seja recíproco.
3º. Para a nomeação do sacerdote indicado para o desempenho deste ministério
paroquial seguir-se-ão as normas do Direito Canónico (Cans. 454 e 456).
Igualmente, no que diz respeito aos deveres e direitos do pároco, todos serão aceites
e compreendidos segundo as normas do mesmo código; procedendo-se de comum
acordo nos casos imprevistos ou não mencionados. E para constar mandamos lavrar
esta Provisão que será por nós assinada e pelo delegado do Revdo Provincial da
Congregação do Espírito Santo, Revdo P. Clemente Pereira da Silva - Vila Real 4
de Julho de 1927. J. Arcebispo Bispo de Vila Real. P. Clemente Pereira da Silva”.467
O Conselho Geral, a 7 de Junho de 1927, aprovou a decisão, que pôs como
condição que o padre encarregado da paróquia não ficasse exclusivamente para
este serviço mas que tivesse também outra ocupação na obra da congregação.468
A 26 de Julho de 1928, D. José de Lencastre doava à Corporação dos
Missionários do Espírito Santo, na pessoa do seu representante, P. Moisés Alves
466
467
468
Carta do P. Pinho de 28/12/1928
AGPPCSSp. B 482 CH V
Ibid. Carta de 7 de Julho de 1927
814
Adélio TORRES NEIVA
de Pinho, a casa da residência e seus anexos, que tinha recebido do P. Alberto
Teixeira de Carvalho: um prédio (casa de andar e loja, Casa de lagar e vinha, tudo
pegado) “com todos os seus anexos e pertenças, serventias e servidões activas”.
A doação foi feita com o desejo de “servir a causa das Missões portuguesas no
Ultramar a fim de auxiliar a instrução e preparação dos Missionários a enviar às
Possessões Ultramarinas”.
O facto explica-se pelo seguinte: Depois do 28 de Maio, a 6 de Junho de
1926 é publicado o decreto de Rodrigues Gaspar que visou tornar efectivo o
reconhecimento da personalidade jurídica das Igrejas e a regularizar a
situação dos bens afectados ao culto, incluindo as residências dos ministros
da religião.
Posteriormente, a 13 de Outubro de 1926, é aprovado e publicado o Decreto
nº 12.485 que consagra o Estatuto Orgânico das Missões Católicas Portuguesas
da África e de Timor. O artigo 6 deste diploma dispõe que “ficam sendo
propriedade das referidas missões e isentas de quaisquer contribuições gerais ou
locais, os templos, as escolas, as oficinas, as residências episcopais, eclesiásticas e
missionárias ou paroquiais, todos os bens imobiliários e mobiliários eclesiásticos
ou missionários, arrolados ou não pelo Estado, e outros que lhes venham a
pertencer, assim como os terrenos que o Governo ou qualquer corporação
administrativa ou entidade particular lhes tenham concedido ou vierem a
conceder, e o mais que tenham adquirido ou venham a adquirir por meios
legítimos”. É neste contexto, que já depois da morte do P. Alberto Teixeira de
Carvalho, D. José de Lencastre e a esposa fazem doação da residência paroquial
de Godim à Congregação dos Missionários do Espírito Santo de Angola, para
cumprimento da vontade do P. Teixeira de Carvalho.
Os párocos Espiritanos de Godim foram os seguintes: P. António Ribeiro
Teles (1927-1928); P. António Rodrigues Pintassilgo (1928); P. Daniel Gomes
Junqueira (1929-1938); P.Cândido Ferreira da Costa (1938-1944); P. Joaquim
Correia de Castro (1944-1946); P. José da Fonseca Lopes (1946-1948); P.
Joaquim Correia de Castro (1948-1961); P. João Pinto da Silva (1961- 1965); P.
Vitorino da Silva Amorim (1965-1967); P. António Pereira Rodrigues (19671972); P. Joaquim Martins (1972-1974); P. Àlvaro da Costa Campos (19741980); P. Agostinho Pereira Rodrigues Brígido (1980-1982); P. António dos
Santos Moreira (1982-1984); P. António Alves de Oliveira (1984-1986); P. José
Pinto de Carvalho (1986-1994); P. Àlvaro da Costa Campos (1994-1995); P.
Ricardo dos Santos Meira (1985-2001) P. Agostinho Pereira Rodrigues Brígido
(2001...).
Entre as instituições da paróquia destacamos: o Orfeão Godinense, fundado a
11 de Maio de 1933, pelo P. Mário Silva, professor no seminário e musicólogo
distinto. O Orfeão estreou-se a 15 de Agosto desse ano, nas festas de Nossa
Senhora do Socorro da Régua, cantando na Alameda principal um brilhante sarau
juntamente com o Orfeão do Porto e o Orfeão Reguense. Com a partida do P.
Mário, o Orfeão morreu.
Outra instituição marcante da paróquia é o Patronato, fundado pelo P. Alberto
Ministério Paroquial
815
Teixeira de Carvalho. Além da verba que ele deixou para esse efeito, colaboraram
o engenheiro Joaquim Gaudêncio Pacheco e sua esposa D. Carlota
Champallimaud e a Srª D. Antónia Adelaide Ferreira de Lima, viúva do
Conselheiro Venceslau de Lima. A obra teve início em Janeiro de 1938, sendo
pároco o P. Daniel Junqueira. Posteriormente junto do Patronato foi
estabelecida uma creche em cumprimento de uma disposição testamentária de D.
Antónia Adelaide Ferreira de Lima. O Patronato destina-se à formação moral e
intelectual das crianças. A direcção do Patronato está a cargo das religiosas
“Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus”. O Patronato é
subsidiado pelo Estado, Câmara Municipal e vários benfeitores.469
No dia 8 de Dezembro de 1990 um incêndio atingiu a residência paroquial,
queimando uma boa parte do edifício e todo o espólio que nela estava guardado.
Salvaram-se com custo os livros de registo paroquial. Este incêndio veio levantar
um diferendo já antigo sobre os direitos de propriedade da residência paroquial:
a paróquia ou a Congregação do Espírito Santo? Daqui resultou um longo
contencioso entre as duas partes, que depois de muita discussão e diálogo, levou
à celebração do seguinte acordão entre as duas partes:
“A fim de serem dissipadas as dúvidas ultimamente surgidas sobre direitos de
propriedade na chamada “Residência Paroquial” de S. José de Godim, e sendo
urgente responder à situação causada pelo incêndio que, em Novembro de 1990,
devorou a parte superior da mesma, a Paróquia de S. José de Godim-Régua e a
Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo trocaram opiniões,
consultaram documentos oficiais, ouviram pessoas de várias idades e pediram
pareceres jurídicos sobre o assunto.
1º. A Paróquia de S. José de Godim-Régua reconhece que a Província Portuguesa
da Congregação do Espírito Santo é a única e legítima proprietária do edifício onde
se encontra a chamada “Residência Paroquial” e do terreno que lhe serve de
logradouro, comprometendo-se consequentemente a não mais invocar quaisquer
pretensos direitos de qualquer natureza que tenham por objecto os mencionados
prédio e terreno;
2º. Por sua vez, a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo cede à
paróquia de S. José de Godim-Régua uma faixa de terreno (130 m2) que possui a
sudeste do seminário, contígua a outra já pertença da referida Paróquia, faixa essa
que será delimitada, a norte, por uma linha recta, que, partindo da ala norte do
Adro paroquial, se prolonga por uma extensão de 14 m.
3º. Além disso, para arranque das obras de construção da nova residência
paroquial, a mesma Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo
contribui com a quantia de dois milhões de escudos (2.000.000$00) a entregar no
acto da assinatura do presente acordo.
O presente acórdão foi lido e aceite pelas duas partes e é assinado pelos seus
legítimos representantes para valer como documento de propriedade futura.
Godim, 08.06.93
469
Elementos recolhidos de “Elementos para a história de S.José de Godim”
816
Adélio TORRES NEIVA
P. José de Castro Oliveira (Provincial)
P. José Pinto de Carvalho (Pároco de S. José de Godim)
Três membros da Fabriqueira – ilegível”.470
A 19 de Março de 1995, foi feito um acordo entre a Congregação e o bispo de
Vila Real, em que os Espiritanos se comprometiam a continuar com a
responsabilidade da paróquia por mais seis anos, a contar de 1 de Setembro de
1995.
Paróquias de S. Domingos de Rana, Tires e Abóboda
O povoamento da área hoje compreendida na Freguesia de S.Domingos de
Rana é muito antigo, tendo já sido encontrados vestígios dos períodos
Paleolítico, Neolítico/Calcolítico, Bronze/Ferro, Romano, Visigótico e
Medieval.
As primeiras referências históricas aparecem na Idade Média, consistindo em
dois documentos, um que atesta a existência de Trajouce no princípio da
Nacionalidade e outro que refere um casal em Freiria em 1385.
O primeiro censo a que temos acesso, de 1527, refere já todas as principais
localidades da Freguesia que, nessa altura já existia como Paróquia, estendendose até Albarraque. A aldeia de Rana com os casais de Parede e Rebelva contava
13 fogos. A paróquia foi criada devido ao aumento da população da Vila de
Cascais, que transbordou para fora das suas muralhas.
Em 1610, no “Livro das Grandezas de Lisboa” de Frei Nicolau de Oliveira, S.
Domingos de Rana tinha 150 fogos e 500 pessoas.
Segundo as Memórias Paroquiais de 1758471 a freguesia alargava-se até S.Pedro
do Estoril. O texto referente a S. Domingos de Rana, reza assim: “Pertence ao
Patriarcado de Lisboa, nos termos da Vila de Cascais, Comarca da Vila de Torres
Vedras. É seu donatário decorrente o Ex.mo Senhor Marquês de Cascais. A
Paróquia está situada no lugar de S. Domingos de Rana, cujo santo é seu orago. É
anexa à igreja de S. Pedro de Penaferrim de Sintra. É curato apresentado pelos
fregueses, a Côngrua que lhe fazem é: de cada oficina duzentos e quarenta e seis réis;
de cada trabalhador cento e vinte reis; de cada lavrador um alqueire de trigo, de
cada moleiro também um alqueire de trigo, que tudo importará por ano, mais ou
menos, oitenta e tanto mil réis. Relato com esta incerteza por não ter ainda cobrado
ano algum mas parece-me que assim era pouco mais ou menos.
Tem quatro Irmandades, a saber: do Santíssimo Sacramento, de S. Domingos, de
Nossa Senhora do Rosário e das Almas.
Tem esta Freguesia vinte e quatro lugares, a saber: de S. Domingos de Rana tem
esta trinta fogos; Rebelva, trinta e quatro; Tires setenta e seis; Rana treze; Parede
quarenta e dois; Folia (?) quatro; Catágua dois; Murtal trinta e seis; Penedo cinco;
Caparide vinte e cinco; Xatinhos dois; Zambujal vinte e sete; Trajouce vinte e nove;
470
471
BPPCSSp. 1993. p. 28-29
ANTT nº 10 p. 41-42
Ministério Paroquial
817
Abóboda vinte e dois; Sassoeiros quarenta e três; Arneiro, quatorze; Outeiro de
Polima doze; Polima vinte e quatro; Conceição cinco; Montijo oito; Ribeira de
Quenena vinte e quatro; Quenena vinte e um; Torre d´Aguilha quatro.
As duas capelas principais da Freguesia eram a da Nossa Senhora da Conceição
da Abóboda e a de Nossa Senhora da Graça de Tires.
A capela de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda foi fundada por Frei
Gonçalo de Azevedo (Cavaleiro de Malta) antes de 1579. Esta é a data da sua
sepultura (10 de Abril de 1579). A capela portanto foi construída antes.
Em 1673 a capela foi aumentada e remodelada para aí viverem os Frades
Agostinhos Descalços, que aqui estiveram três anos, indo depois para Coimbra.
Depois, já no século XVIII vieram os frades polacos da Congregação da
Imaculada Conceição que daqui seguiram para Trás-os-Montes. Em 1754/55 aí
viveu um Frei Casimiro Wishinskey que seguiu depois para o convento de
Balsemão, Macedo de Cavaleiros, onde morreu com fama de santidade e lá se
encontra sepultado na igreja do convento.
Na capela da Imaculada Conceição esteve instalada, no século XVIII, uma
irmandade de homens do mar que se encarregava de organizar as festas, a 8 de
Dezembro, em honra da Padroeira. Aqui foi encontrada uma espada medieval de
lâmina de prata e punho de ouro, que hoje figura no escudo de S. Domingos de
Rana.
A Capela de Nossa Senhora da Graça, de Tires, que se encontra no actual Largo
Fernando Lopes Graça, junto da nova igreja, não se sabe quando foi fundada.
Sabe-se, porém de certeza, que é também muito antiga, erigida provavelmente
nos princípios do século XVIII, se não no século XVII ou finais do século XVI.
Ao que consta a capela tinha ao princípio o nome de Nossa Senhora da Graça por
força das graças que a Virgem concedeu aos pescadores de Cascais quando, no
ano de 1362, no reinado de D. Pedro I, ao recolherem as redes repletas de peixe,
veio no remalhado e da parte de fora, a imagem da Virgem Mãe de Deus. O nome
teria sido naturalmente simplificado pela oralidade do povo para Nossa Senhora
da Graça. A imagem de Nossa Senhora da Graça, padroeira de Tires, está hoje
guardada na igreja paroquial de Tires, templo que foi construído em 1982. A
capela é um precioso monumento barroco e está fundamentalmente na origem
da paróquia de Tires, desanexada da de S. Domingos.
O lugar de Freiria (ou terra de freires) que aparece pela primeira vez num
antigo registo do antigo Mosteiro de Santos-o-Novo, em que se diz que as freiras
do Mosteiro de Santos tinham a meias com Martim Migerez, da Abóboda, um
casal em Frerya, termo de Cascais.
Arqueologicamente em Freiria têm-se encontrado muitos vestígios que vão
desde o neolítico até à Idade Média. Foi no período romano que Freiria adquiriu
maior importância, graças a uma importante “vila” de campo, de que se
encontraram vestígios. A cantaria romana encontrada nas escavações, dirigidas
pelo Prof. José d’ Encarnação e por Guilherme Cardoso, atestam a existência de
bons canteiros nessa época e que aí extraíram o célebre mármore de S. Domingos
de Rana. Das pedras talhadas há que destacar a ara dedicada a Triborunis, o
quadrante solar, o capitel em estilo coríntio e uma carranca.
818
Adélio TORRES NEIVA
A igreja paroquial
De alguns documentos existentes na Torre do Tombo, parece deduzir-se que
o mais tardar, na segunda metade do século XV, foi construída uma igreja no
termo da Vila de Cascais, pois encontram-se registos paroquiais de nascimentos,
sacramentos e óbitos, relativos ao ano de 1589 e estes registos só se tornaram
obrigatórios a partir do Concílio de Trento (1545-1563), podendo por isso a
igreja já existir antes daquele ano de 1589. O referido livro de registos paroquiais
que se julga ser o primeiro, tem o termo de abertura lavrado e assinado pelo cura
Thomé Estevam e diz o seguinte: “Livro de bautismos e Cazamentos de Defuntos
na igreija de S. Domingos de Rana, quando se começô este D. Joam de 89 annos”.
A primeira igreja era dedicada a S. Domingos de Gusmão, que, segundo uma
lenda popular, aparecia por vezes na zona de Rana, designadamente nos
chamados “Altos de Rana” ou “Barreira de Rana”, este último mais próximo do
lugar de Rana. A notícia da aparição do santo espalhou-se e começou a dizer-se
que, se o santo aparece é porque queria que lhe construíssem uma capela.
Estabeleceu-se assim o despique entre os que queriam que a capela fosse
construída no Alto de Rana e os que preferiam na Barreira de Rana. Finalmente
chegaram a um acordo: o templo seria construído no local onde santo demorasse
mais tempo, sendo esse tempo controlado pelas partes interessadas durante o
tempo combinado. Nada se sabe por escrito deste desfecho do que foi acordado,
mas ao que parece, o santo preferiu o Alto de Rana.
Uma vez construído o templo, como se disse já, muito provavelmente no
século XV, com o tempo foi-se degradando ao mesmo tempo que o
desenvolvimento das zonas periférica vai fazendo aumentar o número dos fiéis.
Assim acabou por se sentir a necessidade ou de aumentar o templo já existente
ou construir outro de raiz.
Não sabemos ao certo qual a opção tomada, mas o que parece ser mais provável
é que a construção da nova igreja terá tido lugar ainda com a primitiva igreja a
servir ao culto.
Frei Luiz de Sousa, na sua História de S. Domingos, publicada em 1662, diz o
seguinte: O Arcebispado de Lisboa se adiantou com o santo em muitas freguesias;
sãos seis as que pudemos saber os nomes...É a última São Domingos de Rana termo
de Cascais. Esta igreja de Rana é sagrada de tempo imemorial, fazem os fregueses a
festa principal ao Santo na primeira Dominga de Maio e chamam-lhe Sagra: deve
ser porque em tal mês sagrou a Igreja. Outra celebram por dia de Corpus com toda
a pompa que o lugar pode, a que acodem muitas cruzes e bandeiras das freguesias
dos termos de Cascais e Sintra e algumas de Lisboa”
O terramoto de 1 de Novembro de 1755 causou grandes estragos na igreja
antiga ainda não demolida, conforme se depreende de uma informação prestada
em 1758 pelo cura Joaquim Coelho da Silva, aos seus superiores. A informação
diz o seguinte: “Pertence ao Patriarcado de Lisboa, termo da vila de Cascais,
Comarca da Vila de Torres Vedras, é seu donatário de presente o Ex-mo snr.
Marquês de Cascais, está a paróquia situada dentro do lugar de S. Domingos de
Ministério Paroquial
819
Rana, cujo santo é seu orago e no presente se acha com dois altares por ficarem todos
os demais destruidos com o terramoto de 1755, é anexa à igreja de S. Pedro de
Penafirme”.
Podemos assim admitir que a antiga igreja, teria talvez, além da capela mor,
mais duas capelas, uma das quais terá sido destruída pelo terramoto. Uma das
capelas será a de S. Sebastião e outra a de Nossa Senhora do Rosário, sendo a
primeira a que ficou destruída.
Numa outra fonte (8) pode ler-se que em Maio de 1710 havia já sido iniciada a
construção do novo templo – a igreja actual. Efectivamente o visitador Félix
Barbosa, prior na Patriarcal Colegiada da Matriz de Santo Antão do Tojal, em 1760
afirma o seguinte: “ ...o material da Igreja demolida pelo terramoto e consertando-se
a capela mor dela se servem para a paróquia, como também uma capela extensa
dedicada a Nº Sª do Rosário. E anos antes do dito terramoto se começou a fazer uma
nova igreja de excelente arquitectura, e que se vai continuando...”.
Por um registo de 1833 da Câmara Municipal de Cascais sabemos que foram
concedidos dois reis em cada arratel de carne para a construção da nova igreja (13
de Fevereiro de 1833 CMC).
Em conclusão, podemos dizer que quando se verificou o terramoto de 1755, a
primitiva igreja dedicada a S. Domingos de Gusmão e que fora construída muito
provavelmente em meados do século XV, sofreu grandes danos mas continuou a
prestar assistência religiosa às populações locais, certamente depois de ter
recebido algumas reparações e entretanto estava já em construção um novo
templo, nada se sabendo se ele sofreu ou não alguns danos com o terramoto.
Da relação dos trabalhos a efectuar para a conclusão da igreja, constava o
acabamento das torres. Ora na torre onde se encontra um relógio de sol, está
inscrita a data de 1838, que por ser a única data que se encontra em toda a
construção, pode ser aceite como sendo a data da conclusão da igreja. Se
aceitarmos como correcto o ano de 1710 como início da construção do novo
templo de S. Domingos de Rana e como a da conclusão o ano de 1838,
verificamos que a construção da igreja demorou 128 anos.
Após a proclamação da República, mais concretamente a partir de 1911 até
Agosto de 1918, a igreja esteve encerrada ao público e talvez por isso mesmo foi
alvo de actos de vandalismo. Foi graças aos insistentes e veementes protestos do
Cardeal Mendes Belo, que por várias vezes esteve exilado, que em 1918 foram
revogadas determinadas leis e determinações que proibiam a liberdade religiosa.
A igreja foi-se degradando até que em 1964 o telhado e o tecto do corpo central
da igreja ruíram, sendo depois reparado. Mas o tecto de forma semi-cilíndrica,
com uma pintura de Pedro Alexandrino perdeu-se. Várias outras reparações e
melhoramentos foram introduzidos pouco a pouco.
Uma nova restauração de toda a igreja, obra de grande envergadura seria levada
a cabo pelo P. José Ribeiro Mendes e que estaria concluída em 1987.
A igreja contém uma pintura da “Anunciação” do último quartel do século
XVI, atribuída à oficina maneirista do pintor Francisco Venegas. Quinhentista é
também a tábua anónima do “Pentecostes”. Do século XVI é uma tela “Cristo
820
Adélio TORRES NEIVA
com a cruz às costas”. O conjunto setecentista é constituído ainda pela tela do
retábulo-mor “Última Ceia” de Pedro Alexandrino de Carvalho e o quadro “S.
João de Brito” e uma “Imaculada Conceição” atribuída a mesmo pintor, bem
como a pintura do tecto “Nossa Senhora entregando o rosário a S. Domingos”.
Setecentistas são ainda o “S. Sebastião”, “S. Francisco Xavier” “Santa Rita de
Cássia”, “S. Miguel e as almas do Purgatorio” e uma “ Nossa Senhora do
Carmo”. (Classificação de Vìtor Serrão, Director da Biblioteca Municipal de
Sintra).
No museu Nacional de Arte Antiga, entre outras peças pertencentes à igreja de
S. Domingos de Rana, encontram-se uma naveta do século XVIII, uma coroa
fechada do século XVII, uma custódia, uma concha de baptismo do século XIX,
uma colher do século XVII e o lavatório da sacristia do século XVIII.
O cemitério situava-se nas traseiras da igreja e aí foi estabelecido em 1824. Mais
tarde foi transferido para o local onde está hoje.
O Centro Paroquial
A 4 de Agosto de 1961 o pároco P. Joaquim Correia fundou uma creche que
ficou a funcionar num edifício construído encostado á parede traseira norte da
igreja paroquial. Quando o P. Joaquim Correia foi substituído pelo P. Agostinho
Pereira da Silva em 1965, construiu-se e ampliou-se toda a parte a nascente do
altar mor que veio a ficar com três pisos. Com estas obras passou-se a dispor de
salas para reuniões, independentes do cartório e da sacristia.
Mais tarde, ainda sob o priorado do P. Agostinho, em 1970 realizaram-se
também obras de conservação e ampliação de toda parte poente do altar-mor,
com a finalidade de se conseguirem duas salas mortuárias no primeiro piso e por
cima delas, no segundo piso uma nova sala para a creche.
No exterior fez-se a pavimentação e ajardinamento de todo o logradouro a sul
do edifício da igreja, onde se encontra o cruzeiro.
E pouco a pouco, a fim de se construir uma verdadeira comunidade paroquial
foi surgindo a ideia de construir um centro paroquial, polivalente, para:
infantário, jardim infantil, centro de convívio e actividades de tempos livres. A
obra começou a ser levada a cabo pelo pároco P. José Ribeiro Mendes em 1984 e
foi inaugurada em 1991. O custo total da obra rondou os cem mil contos. Em
1998, o Centro Paroquial contava na creche 74 bebés, no Jardim de infância 117
crianças, em cinco salas, o Centro de Dia 29 utentes. O pessoal de serviço era
formado por 67 funcionários: 14 educadoras de infância, uma técnica de serviço
social, 24 ajudantes de Acção Educativa, 12 Auxiliares, 3 cozinheiras e 6
ajudantes de cozinha, 3 ajudantes de terceira idade e o motorista.
O Centro tem dois pólos dependentes dele: um em Talaíde com uma creche de 75
crianças, um Jardim de Infância com 50 crianças e um Centro de convívio com 39
utentes. O outro pólo é na Madorna, com um Centro de convívio com 70 utentes.
Construiu-se também uma igreja na Madorna e outra em Sassoeiros.
Ministério Paroquial
821
Os párocos
Os párocos de S. Domingos de Rana, desde 1920 foram: P. Álvaro Augusto dos
Santos (1919-1923), P. Manuel Mendes Boga ((1923), P. José Aguiar Machado
Leal (1924-1931), P. J. dos Reis (1931-1934), P. António Francisco Avelar (19341938), P. Fidelino Otelo Cardoso, pároco interino em 1938-1939), P. Adriano da
Silva Pereira (1939-1940), P. António Pereira de Almeida (1940-1951).
A paróquia foi confiada aos Espiritanos, a quando da sua vinda para a Torre da
Aguilha em 1949. Nessa altura S. Domingos de Rana e Carcavelos tinham um só
pároco. A Parede não existia ainda como paróquia. Foi seu primeiro pároco
espiritano, P. António Pereira Rodrigues, até Setembro de 1951.
P. Manuel António Meira, de Setembro de 1951 a Maio de 1952
P. Querubim da Cunha Meireles, de Maio de 1952 a Outubro de 1953
P. José da Fonseca Lopes, de Outubro de 1953 a Outubro de 1958
P. José Joaquim Correia, de Outubro de 1958 a Outubro de 1965. Em 1965 o
P. Joaquim Correia foi nomeado pároco só de Carcavelos, paroquiando essa
freguesia até 1970.
P. Agostinho Pereira da Silva de 1965 a 1983.
P. José Ribeiro Mendes de 1983 a 1998.
P. Agostinho Pereira Rodrigues Brígido de 1998 a 2000.
P. Domingos da Rocha Ferreira desde 2000 até 2004.
Como coadjutores estiveram os PP. José da Fonseca Lopes, José da Cunha
Duarte, Altino Cepeda Coelho.
A 31 de Agosto do ano 2000 foi celebrado um contrato entre a Congregação e
a Diocese em que o Patriarcado confiava à Congregação a Paróquia por mais um
período de cinco anos.
No ano 2001, foi criada uma Unidade Pastoral S. Domingos de Rana - Tires
confiada a 15 de Agosto aos párocos “in solidum” os PP. Domingos da Rocha
Ferreira, José de Castro Oliveira e Manuel da Costa Andrade, sendo vigários
paroquiais os PP. Joaquim Macedo Lima, Sabino Livela e Ernesto de Azevedo Neiva.
Em 2004, a Paróquia foi confiada aos padres Agostinhos, ficando os Espiritanos
com a Paróquia da Abóboda que então foi criada.
A igreja e a paróquia de Tires
A paróquia de Tires é fruto do zelo missionário de alguns padres do Seminário
da Torre da Aguilha. Tires era uma zona abandonada da paróquia de S.
Domingos de Rana, muito anti-clerical, dominada por forte influência comunista
e ateia.
O P. António Pereira Rodrigues, quando professor no Seminário da Torre da
Aguilha, foi o primeiro missionário de Tires. Baptizou muitos adultos e
congregou a primeira comunidade cristã. Deixou muita simpatia e os antigos
ainda o recordam com amizade.
Seguiu-se-lhe o P. José Eurico de Azevedo, mais voltado para os problemas
822
Adélio TORRES NEIVA
sociais e depois o P. António Fernando dos Santos Neves, que deixou o nome
ligado ao campo de futebol de que foi grande impulsionador.
A partir de 1966, Tires foi entregue ao zelo apostólico dos neo-sacerdotes do
IV Ano de Pastoral da Torre da Aguilha.
Foi a partir de 1972/73, quando o P. José da Fonseca Lopes veio para S.
Domingos de Rana como coadjutor do P. Agostinho Pereira da Silva, que este
começou a acompanhar um pouco mais de perto a comunidade cristã de Tires.
Havia já ali a capela de Nossa Senhora da Graça, que aparece já descrita nas
Memórias paroquiais, construída em estilo barroco, as suas linhas são simples e
harmónicas. A cantaria da porta tem aduelas de verga com motivos geométricos
trabalhados manualmente a escopro ou cinzel. Por cima, tem uma cornija
saliente e sobre esta está implantada uma janela com moldura da mesma época
adornada na parte inferior com volutas. Possui torre sineira a condizer, com
motivos também em espiral, tendo aos lados da construção dois corpos de uma
só água, ligeiramente recolhidos em relação à frontaria principal. No topo da
fachada principal tem uma cruz de ferro trabalhada. No interior é de destacar um
pequeno púlpito colocado do lado esquerdo e um coro sobre a entrada, com
varandim de madeira.
Quando o P. Agostinho, depois de 1972/73 começou a frequentar esta
comunidade, a capela era demasiado pequena, mesmo com duas missas
dominicais. Tornava-se imperativo construir uma igreja nova.
Desde 1971/72 que havia sido conseguido um terreno pelo P. José Eurico de
Azevedo, projecto e maquete, verba e comissão para um Centro Social que, além
da igreja e do salão paroquial, incluía uma creche e um jardim de infância. O
terreno para este projecto foi retirado pela Comissão de moradores em 1974,
depois do 25 de Abril, numa célebre assembleia, realizada na sede da Sociedade
do Primeiro de Maio, que o reclamaram para um Centro Cívico. Foi-lhes
confiado o projecto mas nunca chegou a ser concretizado.
A 8 de Novembro de 1971 tinha sido nomeado pelo Patriarcado, pároco o P.
Joaquim Frazão dos Santos, com o encargo de ir preparando a criação de um
futuro Vicariato Paroquial. Comprou-se o terreno onde se encontra hoje a actual
igreja. O primeiro projecto não foi aprovado pela Câmara Municipal de Cascais.
Fizeram-se novos contactos até o projecto elaborado pelo arquitecto Flores das
“Novas Igrejas do Patriarcado” ser aprovado. O Patriarcado escolheu esta igreja
para beneficiar do apoio estatal da ordem dos 60 mil escudos.
Em 1982, a igreja estava concluída. No dia 28 de Março desse ano, D. António
dos Reis Rodrigues, bispo auxiliar do Patriarcado, benzia a nova igreja. Era um
passo importante para a criação da paróquia de Tires.
A 17 de Julho de 1983, o Patriarcado nomeou o diácono permanente José
Ângelo da Silva Serrano, para ajudar nas actividades da comunidade.
No dia 31 de Maio de 1985, sendo a comunidade reconhecida com a designação
de “quase paróquia”, os cristãos de Tires viram legitimadas as aspirações que
vinham nutrindo desde 1983, ano em que o P. José Ribeiro Mendes foi nomeado
pároco de S. Domingos e o P. Agostinho Pereira da Silva nomeado coadjutor,
Ministério Paroquial
823
com responsabilidade mais directa sobre a comunidade de Tires.
No dia 8 de Dezembro de 1986, D. António Ribeiro, patriarca de Lisboa, criou
em Tires numa cerimónia festiva, a Paróquia de Nossa Senhora da Graça,
desmembrada da paróquia de S. Domingos de Rana, nomeando seu primeiro
pároco o P. Agostinho Pereira da Silva. O decreto da nomeação é de 31 de Maio
de 1985.
O P. Agostinho Pereira da Silva faleceu em 1997. A 19 de Setembro desse ano
é nomeado Administrador Paroquial (pároco interino) o P. José Ferreira da
Cunha.
A 14 de Setembro de 1998 o P. José Cunha foi substituído no mesmo cargo
pelo P. Manuel da Silva Martins Sebastião.
A 23 de Agosto de 1999, o P. Martins Sebastião era por sua vez substituído
pelo P. José de Castro Oliveira.
E a 18 de Janeiro do ano 2000 é nomeado pároco o P. Domingos da Rocha
Ferreira.
A 30 de Agosto do ano 2000 foi celebrado um contrato entre a Congregação e
a Diocese em que o Patriarcado de Lisboa confiava à Congregação a Paróquia de
Tires por um período de cinco anos. A 15 de Agosto de 2001 o Cardeal Patriraca
de Lisboa nomeava pároco de Tires o P. Domingos da Rocha Ferreira “in
solidum” com P. José de Castro Oliveira e P. Manuel da Costa Andrade.
O Centro Comunitário de Tires foi concebido em 1983 e inaugurado a 26 de
Fevereiro de 1984 com o apoio do Estado, Caritas e outras entidades.
Actualmente está em construção uma nova igreja em Caparide.
A paróquia compreende 13 bairros e uma população estimada em 20 mil
habitantes
O P. Agostinho, o padre que em Tires deixou uma indelével recordação,
faleceu em S. Domingos de Rana a 8 de Março de 1997. A 14 de Março de 1999
inaugurava-se com a presença do bispo auxiliar do Patriarcado D. José Alves, o
presidente da Câmara de Cascais José Luís Judas e o P. Eduardo Miranda,
Provincial dos Espiritanos, a Avenida P. Agostinho Pereira da Silva, artéria que
liga as paróquias de S. Domingos de Rana e Tires, onde o P. Agostinho trabalhou
desde 1965 até à sua morte em 1997. O nome do P. Agostinho foi também dado
à Escola.
Em Agosto de 2004 a Congregação entregou ao Patriarcado a paróquia de S.
Domingos de Rana, para, de acordo com o seu carisma, assumir a recém criada
paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda, dela desmembrada e
cobrindo as áreas de Abóboda, Trajouce, Talaíde e Polima. Como seus primeiros
pastores foram nomeados os PP. Veríssimo Manuel Teles e Manuel da Costa
Andrade.
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Adélio TORRES NEIVA
Paróquia de Monforte (Évora)
O P. José Pereira de Oliveira esteve nas missões de Angola até 1941. Neste ano,
foi nomeado para a paróquia de Monforte, em Évora, onde esteve apenas um ano
e meio, pois em 1943 foi nomeado Provincial, tendo então deixado a paróquia.
Paróquia de Vila Nova de Cerveira
Em documento de 24 de Julho de 1980,472 o P. João Alves Terças, primeiro
pároco espiritano de Vila Nova de Cerveira faz-nos o historial da presença
espiritana naquela paróquia e nas paróquias vizinhas.
“Esta residência começou a germinar à minha chegada a Lisboa, depois da grande
retirada de Angola; o então Provincial P. José Gonçalves de Araújo perguntou-me
se eu queria passar seis meses em Cerveira, em substituição do pároco, P. Adelino,
que queria ir por esse tempo a Roma a praticar vida comunitária.
Respondi-lhe que, tendo chegado de Angola, gostava primeiro de ir passar algum
tempo à família; mas, se era preciso, para lá iria. Ele disse-me que não sabia quando
é que o pároco queria partir; que seguisse para a família e ele iria telefonar-lhe e
dizer que se entendesse comigo; se me servisse, que aceitasse, se não que teria de
procurar outro.
Uns dias depois de chegar a Merufe, no princípio da semana, lá aparece o P.
Adelino a pedir que me fosse pôr a par dos serviços para ele partir dois dias depois;
poderia voltar a Merufe contanto que estivesse em Cerveira no Domingo a tempo de
assegurar as missas nas três freguesias: Cerveira, Lovelha e Reboreda. Na residência
ficava uma irmã dele e os pais. Deixou-me também o carro para as deslocações. Na
altura, ele já contava com uma transferência ao regressar de Roma; desejava
dedicar-se a trabalhar com a juventude.
Alguns meses depois, o Sr. Arcebispo de Braga, D. Francisco, presidiu em
Caminha a uma reunião do clero da zona com o de Cerveira e creio que também
com o de Valença; perguntou-me então se eu não gostava de ser nomeado pároco de
Cerveira. Respondi-lhe que eu era soldado e faria o que o meu comandante me
mandasse. – Se assim é, eu falo com ele, disse-me. – Lá por isso, eu também lhe posso
falar; daqui a uns dias devo encontrar-me com ele em Braga por ocasião do Retiro.
– Então fale-lhe e diga-me alguma coisa.
Nessa altura, havia dois provinciais: um a entregar a pasta e outro a recebê-la. Já
foi o Sr. P. Casimiro Pinto de Oliveira, de entendimento com o P. José Gonçalves
de Araújo, a dizer-me que podia aceitar, mas sem compromisso para a Congregação.
Por isso, se resolvesse voltar para Angola, a Congregação não ficava obrigada a
substituir-me. Comuniquei-o ao Sr. D. Francisco que se mostrou satisfeito; só me
disse que, regressando a Angola, o avisasse com uns dois meses de antecedência para
me substituir. Fui empossado pelo Sr. Vigário Geral.
472
Missionários Espiritanos, nº7 1980
Ministério Paroquial
825
Na altura já tinha sido anexada a Cerveira a Paróquia de Loivo em troca de
Reboreda, que fora desanexada.
Não tardou muito que o P. Manuel Domingues Vaz fosse também nomeado para
lá. Encarregou-se dos serviços de mais perto enquanto eu ia fazendo os de mais longe
com o carro.
Depois da retirada da irmã do P. Adelino, ele encarregou-se também da cozinha
e fê-lo com muita competência; mas é certo que isso lhe tirava muito tempo.
O Sr. P. Casimiro ainda concordou em nos procurar um Irmão que se
encarregasse da cozinha, canto e de alguma aula de catecismo. Foi assim que
apareceu o Ir. Hilário, que não sendo cozinheiro nem propriamente mestre de
música, mostrou boa vontade, ensaiou-se e conseguiu bons resultados e muitas
simpatias. Por infelicidade, na festa de S. Pedro de Rates de 1977, estando a dirigir
o canto com animação, sobreveio-lhe uma trombose, tendo de ser levado de
ambulância da capela para o hospital.
Passados alguns meses, ao grupo que tinha ficado sem o Ir. Hilário, veio juntar-se
o P. Joaquim Carvalho da Cunha, também regressado de Angola. Já nessa altura
tínhamos a freguesia de Reboreda que tinha ficado sem pároco e acharam que era o
nosso grupo, mesmo só com dois, que estava em melhores condições para a assistir.
Mas não tardou muito que o Sr. Arcebispo-Bispo de Viana do Castelo achasse que
ainda podíamos tomar mais outra freguesia e entregou-nos a freguesia de Campos,
sendo nomeado pároco o P. Cunha. Assim, ficamos com cinco paróquias. O P. Vaz
encarrega-se especialmente de Cerveira e Lovelhe; o P. Cunha de Campos e
Reboreda; e eu de Loivo, da missa vespertina de Cerveira e da assistência ao
hospital.
As relações com o clero têm sido boas; eles convidam-nos para vários serviços de
ministério e nós fazemos outro tanto, especialmente por ocasião das festas e
confissões”. Braga, 24 de Julho de 80.
Com a morte do P. Terças no ano de 1981, ficaram os PP. Vaz e Cunha. Em
1996 como o P. Vaz tivesse adoecido gravemente, a Congregação devolveu
Cerveira ao bispo da diocese, ficando o P. Cunha com as paróquias de Reboreda,
Campos e Lovelhe.
Paróquias do Algarve e Alentejo
Em 1975, o Sr. Bispo do Algarve D. Ernesto Costa, escreveu ao Provincial dos
Espiritanos a pedir-lhe alguns missionários, regressados de Angola, para
trabalhar na sua diocese. Na sua reunião de 14 de Novembro de 1975, o
Conselho Provincial mostrou-se receptivo ao pedido, pondo como condição a
garantia de uma vida de comunidade o que implicava uma equipa de pelo menos
dois confrades.
Na sequência deste diálogo o Sr. Bispo, começou por sugerir a paróquia de
Olhão, mas depois dos PP. Belarmino Galhano e Albino Costa o terem
contactado, a opção foi por S. Brás de Alportel, paróquia que assumiram em
1975, continuando o antigo pároco a viver na cave da mesma casa ainda durante
826
Adélio TORRES NEIVA
algum tempo. S. Brás era uma paróquia de 8.000 habitantes, distribuídos por mais
de 30 “sítios” (lugares). A vila, sítio maior, contaria uns 2500 habitantes. A região
outrora muito cristã, vivia agora num grande abandono da prática religiosa.
Em 1981 a equipa foi substituída pelos PP. José da Cunha Duarte e Peixoto
Lopes, assumindo o P. José Cunha o cargo de pároco. Ao P. Cunha sucedeu em
1992 como pároco o P. António dos Santos Moreira, e em 1997 o P. Domingos
Matos Vitorino; no ano seguinte, o cargo foi reassumido pelo P. José Cunha.
Vários confrades passaram pela paróquia como colaboradores do Pároco, uns
mais, outros menos tempo: P. Álvaro Costa Campos, desde 1984 com alguns
interregnos, Ir. Luís Augusto de Oliveira,(Ir. Amaro), P. Norberto Cristóvão, P.
António Rodrigues Ferreira, P. Fernandino Cardoso Pereira, P. Ricardo Meira,
P. Domingos Matos Vitorino, P. Afonso Cunha.
A partir de 1984, S. Brás assumiu também a assistência à Paróquia de Santa
Catarina da Fonte do Bispo.
O P. Cunha apostou muito na evangelização pela música, fundando para esse
efeito uma “Escola de Música” que tem tido muito impacto sobretudo entre a
juventude e os adolescentes.
Hoje a paróquia é assistida por três confrades PP. José Cunha, Afonso Cunha
e Álvaro da Costa Campos, que assistem também a paróquia de Santa Catarina
da Fonte do Bispo, a 15 quilómetros de distância. S. Brás tem mais de 80 lugares
de culto ou comunidades. Além do trabalho pastoral normal numa paróquia, o
P. Cunha está também muito inserido no meio cultural (Museu e Misericórdia)
e o P. Afonso Cunha é professor numa escola secundária. Na paróquia trabalha
também uma comunidade de Irmãs.
Em 1976 o Conselho Provincial decidiu que os PP. Joaquim Cunha e Francisco
Valente assumissem as paróquias de Alcoutim, Martim Longo, Giões e Pereiro
também na diocese de Faro. O P. Valente deixou a paróquia ainda nesse ano de
1976 e para o substituir foi enviado o P. Tarcísio Santos Moreira, que partiu
também logo no ano seguinte. Então o P. Joaquim Cunha ficou sozinho,
fazendo comunidade com os confrades de S. Brás de Alportel, mas em 1978 a
paróquia de Alcoutim era de novo devolvida ao bispo da diocese e o P. Cunha irá
paroquiar para Vila Nova de Cerveira, no Alto Minho.
Também ainda em 1976 a Congregação assumiu a paróquia de Alte e Benafim,
para onde foram colocados os PP. Francisco Valente, vindo de Alcoutim e o P.
Guilherme Ribeiro. No ano seguinte, o P. Guilherme deixava Alte, sendo
substituído pelo P. Henrique Alves. A saúde do P. Henrique não lhe permitiu ficar
lá por muito tempo, pelo que em 1978 teve que abandonar a paróquia. Foi então
ali colocado o P. Avantino de Sousa e o Irmão Amaro. O P. Valente e o Ir. Amaro
deixaram Alte em 1981, data em que a paróquia foi de novo entregue à diocese.
Outra paróquia que a Congregação assumiu no Algarve foi Santa Catarina da
Fonte do Bispo. Assumimos a paróquia em 1981, sendo ali colocados o P.
Francisco Valente e Ir. Amaro de Oliveira. Em 1984 a Congregação entregou a
Ministério Paroquial
827
paróquia ao Bispo, passando então a ser assistida pelos padres de S. Brás de
Alportel. O Ir. Amaro foi para S. Brás, onde se intensificou a presença da
Congregação, sobretudo no campo da animação missionária do Algarve, e o P.
Valente foi para o Fundão.
Durante um breve período de tempo, o P. José Cunha, a pedido do bispo,
assumiu também em 1991 a paróquia de Olhão. A paróquia tinha apenas um
centro de culto e uma sala de reuniões e esteve sem pároco durante dois anos. O
P. Cunha começou por acumular a paróquia de Olhão com a de S. Brás de
Alportel. Depois, para dar uma assistência maior, radicou-se ali, para o que foi
necessário adquirir um pequeno apartamento. S. Brás ficou confiada aos PP.
António Santos Moreira e António Rodrigues Ferreira, tendo o P. Afonso
Cunha acompanhado o P. José Cunha para Olhão. Em Olhão, o P. Cunha teve
que relançar e restaurar praticamente todas as estruturas para que a comunidade
pudesse funcionar. Mas em 1998 regressaram a S. Brás de Alportel, sendo Olhão
de novo entregue ao Bispo da diocese.
O Conselho Provincial de 26 de Fevereiro de 1976 decidiu também assumir
duas paróquias no Alentejo: Ermidas do Sado e Alvalade, na diocese de Beja.
Ali foram colocados os PP. José Martins Salgueiro e António Correia Andrade.
Mais tarde para ali foram enviados também o P. Carlos Ferreira e o Ir. Porfírio.
Em 1981 era pároco o P. Carlos Ferreira que acumulava o cargo de professor na
Escola Preparatória sita nas instalações da Torre da Aguilha. Em 1982, o P.
Carlos Ferreira é dispensado da sua actividade paroquial e assume o múnus de
pároco o P. Joaquim Pereira Francisco. O cargo de pároco passou depois para o
P. José Martins Salgueiro, coadjuvado pelo Irmão João Vieira da Cruz. Depois
de um intenso labor apostólico e cultural ali levado a cabo por esta equipa, em
1985 a paróquia foi entregue de novo ao Bispo de Beja473
Outras Paróquias
Em 1976 a paróquia de Vilarouco, Valongo dos Azeites e Pereiro, na diocese
de Lamego, foi confiada aos PP. Carlos Ferreira e Norberto Cristóvão.
Deixaram as paróquias no ano seguinte, em 1977, por incompatibildade de
aceitação de determinadas condições vindas da parte da diocese. Os PP. António
Moreira e António Martinho tomaram posse da paróquia de Freixo de Espada à
Cinta em 1976; deixando-a no ano seguinte, 1977.
Em 1976, o P. Altino Cepeda Coelho assumiu as paróquias de Fontelas e
Oliveira, na diocese de Vila Real, ficando a viver ligado à comunidade de Godim,
cargo que exerceu até 1986, ano em que a paróquia foi de novo entregue ao Bispo
da diocese.474
Em 1982 o P. Guilherme Ribeiro assumiu a paróquia de Santa Marinha de
Portela, em Famalicão, ficando ligado à comunidade do Fraião. Ali permaneceu
até ao seu falecimento.
473
474
Conselho Provincial de 14/15 de Jan de 1985
Ibid. Reunião de 25/05/1986
828
Adélio TORRES NEIVA
Em 1978 o P. Joaquim Martins assumiu as paróquias de Seixezelo e Sermonde,
Gaia, a pedido do Bispo do Porto, duas das paróquias mais pequenas do concelho
de Gaia. A primeira conta 1720 pessoas e a segunda 1054. Hoje o P. Joaquim
Martins tem a seu cargo apenas a paróquia de Seixezelo.
O P. Manuel Sequeira Teles, por proposta do Bispo de Vila Real, assumiu em
1985 as paróquias de Pensalvos e Parada de Monteiros, na diocese de Vila Real,
ficando a residir na “Casa Rústica”, da Congregação, em Pedras Salgadas.
O P. António Sobral assumiu as paróquias de Touça e Sebadelhe, na diocese
de Lamego, em 1976, deixando mais tarde Sebadelhe.
O P. Delfim da Silva Pedro assumiu a paróquia de Alhais e outras nas suas
redondezas, que deixou em 1981.
O P. Teixeira assumiu em 1976 as paróquias de Santa Maria de Émeres e Àgua
Revés, no concelho de Valpaços, paróquias em que esteve até à sua morte.
O P. Álvaro Soares em 1970 assumiu o ministério paroquial na Vergada, no
concelho de Santa Maria da Feira, que foi criada paróquia em 7 de Agosto de
1972. O P. Antero Reis sucedeu ao P. Álvaro Soares na mesma paróquia, a 30 de
Novembro de 1984 até à data do seu falecimento em 19 de Julho de 2003.
829
Capítulo 90
A Missão espiritana entre os imigrantes
O
ministério dos espiritanos portugueses junto dos emigrantes de
expressão portuguesa ganhou expressão sobretudo depois da
revolução de 25 de Abril de 1974. Nesta altura um grande número
de missionários regressou de Angola e foi necessário encontrar trabalho para
eles, pelo menos até que pudessem regressar ao seu campo de missão. Nesse
sentido a Província manifestou a sua disponibilidade para, segundo as
capacidades e disposições dos confrades, alargar o seu campo de acção. Um
grupo optou pelo Brasil, outro por paróquias em Portugal e outro mostrou-se
disponível a trabalhar entre os emigrantes de expressão portuguesa. Para os mais
novos sobretudo abrir-se-iam novos campos de missão de primeira
evangelização.
As regiões de emigração que os espiritanos privilegiaram foram: os Estados
Unidos, o Canadá e a Europa.
OS ESPIRITANOS PORTUGUESES NOS ESTADOS UNIDOS
Os primeiros contactos
Toda a Nova Inglaterra tem uma população de acentuada descendência
portuguesa. Nas cidades de Fall River e New Bedford (Mass.), ainda hoje, entre
50 e 75 % da população é bilingue. A imigração cresceu no fim do século XIX e
tornou-se maciça nas primeiras décadas do século XX. Os imigrantes
portugueses são açoreanos e continentais e da ex-colónia de Cabo Verde.
Em 1908, D. Mateus Harkins, bispo de Providence, R.I. pediu aos Espiritanos
americanos para lhes enviarem espiritanos portugueses. Os espiritanos idos
foram irlandeses que tinham estado em Portugal. Chegou a haver 12 paróquias
espiritanas. O único espiritano português a ir para a América, foi o P. Manuel
Joaquim Barros, um transmontano de Vila Flor, em 1910. Foi-lhe confiada a
missão de Santa Catarina em Little Compton. O P. Barros acabaria por se tornar
sacerdote diocesano de Providence e em 1922, é encarregado de fundar a
paróquia de Santo António em Pawtucket (1926), após ter fundado a de Sto.
António em Portsmouth.
Por sua vez, a emigração cabo-verdeana para a América teve o seu início com
os pescadores, sobretudo os originários da Ilha Brava, que para lá começaram a
emigrar por volta de 1895 nos “barcos de pesca à baleia” que costumavam rondar
as ilhas de Cabo Verde. Desde então para cá o fluxo nunca mais estancou. Na
830
Adélio TORRES NEIVA
cidade de Providence, a capital do Estado Rhode Island, e sede da diocese, a
Igreja fundou a Obra dos Negros, sediada no Centro Social de S. Martinho de
Porres, em que quiseram incluir também a etnia Cabo-verdeana. Cada etnia
procura conservar as tradições a que se habituou e não abdica da sua identidade,
pretendendo também ter a sua igreja nacional, os seus clubes e centros de
recreio, como acontece com os irlandeses, italianos, polacos, portugueses,
hispânicos, etc. A respeito de Cabo Verde, este fenómeno acentuou-se ainda
mais após a independência em 1975.
Foi pelos fins de 1969 que os PP. José Maria de Sousa e António Figueira
Pinto visitaram os Estados Unidos com o objectivo de angariar fundos para os
seus projectos pastorais em Cabo Verde: o P. José Maria pensava num pequeno
colégio-seminário na cidade da Praia e o P. Figueira num Centro Social para a
paróquia da Praia, onde os dois residiam. O P. José Maria voltou aos Estados
Unidos em 1970, 1972 e 1974 com a mesma finalidade. Efectivamente, com a
ajuda dos recursos conseguidos, refez-se completamente como residência
espiritana o antigo Bar Benfica, anteriormente comprado, e o P. Figueira criou o
Centro Social da Paróquia da Praia, ao tempo, um dos edifícios mais valiosos da
cidade.
Em 1974, o P. José Maria aproveitou a sua viagem aos Estados Unidos para
estudar Arte, Música e Antropologia na Brown University e Sociologia e
Psicologia na Rhode Island University.
Com estes contactos ia germinando a ideia de fundar uma obra de assistência
apostólica aos cabo-verdeanos dos Estados Unidos. De resto, havia já um pedido do
Bispo de Providence para se assumir esse trabalho. Com a revolução de 25 de Abril
de 1974, foram os espiritanos de Cabo Verde a insistir com o P. José Maria para
aceitar esse ministério, pois com as mudanças que a revolução provocaria era difícil
prever o futuro.
Foi neste ano de 1974 que o bispo de Providence (Estado de Rhode Island)
dirigiu um pedido aos superiores espiritanos de Roma, Portugal e Cabo Verde,
no sentido de o P. José Maria ficar a trabalhar na pastoral da Comunidade caboverdeana.
Em 1975 o P. José Maria é nomeado para assistente na paróquia portuguesa de
Santa Isabel, em Bristol, diocese de Providence, com o fim pastoral de visitar os
hospitais e contactar com os cabo-verdeanos. O contrato era feito por um
período de três anos renováveis. Mas como aqui poucos cabo-verdeanos havia,
pelos fins de 1975, após um breve destacamento para Narragansett, o P. José
Maria conseguiu ir morar para o bispado, onde se sentiu mais livre para a pastoral
dos emigrantes de Cabo Verde, que viviam na cidade de Providence e arredores.
O projecto de uma paróquia cabo-verdeana
Foi a partir de Fevereiro de 1977 que o P. José Maria, agora com residência na
paróquia portuguesa de Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Providence,
pôde começar um trabalho mais intenso com os cabo-verdeanos, procurando
A missão espiritana entre os imigrantes
831
com efeito organizar uma comunidade eclesial. A diocese apoiou-o. O P. José
Maria começou então a celebrar a Eucaristia no salão da Paróquia portuguesa de
Santo António, em Pawtucket, fundada pelo P. Barros em 1926, celebração que
contou com grande afluência de cabo-verdeanos.
Em 1977, por decisão do Conselho Provincial de Portugal de 26 de Fevereiro
de 1976, o P. António Figueira Pinto era nomeado para a diocese de Fall River,
para trabalho pastoral numa paróquia portuguesa de New Bedford.
Na sua reunião de 9 de Dezembro de 1977, o Conselho Provincial autoriza os
PP. Arlindo Areia Amaro, que acabava de deixar Dacar, e o P. Joaquim Pereira
Francisco a partirem para os Estados Unidos.
Os PP. Figueira Pinto e Arlindo Amaro foram acolhidos na paróquia de Monte
Carmelo, uma paróquia de 15.000 portugueses em New Bedford, cujo pároco era
Mons. Luís Mendonça. Na diocese de Fall River não foi possível obter uma
paróquia para cabo-verdeanos. Os esforços vão voltar-se então para Providence,
onde se estimava viverem mais de 9 mil cabo-verdeanos muito dispersos.
Durante o tempo em que estiveram na paróquia do Monte Carmelo, os dois
colaboraram na missa dominical, que era transmitida via TV e rádio, a partir
daquela igreja portuguesa. O P. Arlindo deu início a um programa semanal num
canal português de televisão por cabo, que estava a ensaiar os primeiros passos.
Levou ainda a efeito vários programas como. “Aí vem o Natal”, “ Caminhos de
Deus, caminhos dos homens”, “Ao fechar o dia”, etc. O P. Arlindo lançou ainda
um movimento de jovens (“Geração Nova”), organizou alguns grupos de casais
e deu o curso “Deus fala aos homens”.
As 542 famílias da comunidade cabo-verdeana começam a sentir a necessidade
de instalações próprias. Providencialmente, é posta à venda, uma sinagoga com
espaço para 800 pessoas sentadas e uma cripta com a mesma área. O templo
judaico “Shalom” é comprado em 13 de Junho de 1979 com dinheiro adiantado
pela diocese. A 12 de Outubro de 1979 foram entregues as chaves da sinagoga.
O Capítulo Provincial de 1978 considerou Cabo Verde como uma prioridade
da Província sendo o trabalho com os imigrantes cabo-verdeanos considerado
como uma extensão do trabalho da Congregação em Cabo Verde.
Efectivamente, com o regresso a Portugal de muitos espiritanos que trabalhavam
em Angola, depois da revolução de Abril de 1974, o Provincial mostrava-se
aberto a apelos que vinham de outras áreas de missão, tais como a dos emigrantes
de Portugal no estrangeiro e a dos emigrantes que saíam dos países onde os
espiritanos trabalhavam, deslocando-se para a América do Norte e Europa.
Após três anos de trabalho experimental com os cabo-verdeanos, sem lugar
próprio, foi criada a 12 de Agosto de 1979, pelo Bispo de providence, D. Luís
Gelineau, a nova paróquia do Imaculado Coração de Maria, sendo o seu pároco
o P. José Maria de Sousa. A antiga sinagoga foi abençoada pelo Bispo e dedicada
ao Imaculado Coração de Maria em atenção à devoção dos cabo-verdeanos a
Nossa Senhora da Graça e ao facto de ser uma iniciativa da Congregação do
Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria. A comunidade cabo-verdeana
832
Adélio TORRES NEIVA
estava espalhada geograficamente por três zonas: Pawtucket, Providence e East
Providence, por onde o P. José Maria tinha andado em visita às famílias e
percorrendo as casas com uma imagem do Imaculado Coração de Maria.
Casa dos Espiritanos e reitoria
Os três padres espiritanos encontravam-se regularmente todas as terças-feiras.
A necessidade de obter uma casa própria, onde pudessem conviver tornava-se
cada vez mais evidente. De resto esta casa poderia servir para acolher estagiários
e confrades que desejassem frequentar cursos nas universidades da área. Seria
impossível aos cabo-verdeanos comprar, ao mesmo tempo, uma igreja e uma
reitoria. E assim começaram a procurar uma casa que servisse de reitoria. As
“poupanças” até aí feitas seriam uma boa base para a compra.
Depois de muito procurar apareceu no mês de Abril de 1979 uma casa que
oferecia condições muito superiores às daquelas que antes tinham encontrado. E
foi assim que o P. Figueira comprou a casa em nome da Província, cujo
“Promissory Note” foi assinado pelos PP. Figueira e Arlindo a 18 de Maio de
1979, que ficou a servir de residência paroquial
O P. José Maria de Sousa foi convidado pelos bispos de Angola a fazer apelos
missionários em favor da CEAST. Tendo ido residir para Bóston, foi nomeado
para o substituir na paróquia, em 1981, o P. António Figueira Pinto, coadjuvado
pelo P. Joaquim Pereira Francisco. O P. Arlindo Areia Amaro, depois de um
tempo em New Bedford, foi convidado em 1981 pelo bispo auxiliar da diocese
de Nova York para ser o responsável pelos movimentos laicais dos emigrantes,
tendo-se dedicado aos emigrantes mais abandonados, primeiro em Nova York e
depois também em New Jersey a convite do Arcebispo de Newark.
Como havia deixado em Massachussetts alguns grupos de jovens e casais, o P.
Arlindo continuou a assisti-los, visitando-os uma vez por mês. O grupo de
Ossining, em New York, garantiu sobretudo através da família Carvalho, o
sustento e o alojamento do P. Arlindo. O Arcebispo de Newark, mais tarde,
concedeu-lhe uma compensação e pôs à sua disposição um convento. Foi neste
convento que se realizou a 2ª Páscoa Missionária. A primeira tinha sido realizada
no convento das Irmãs do Bom Pastor, em Ossining. Nas duas Páscoas
participaram leigos dos diferentes grupos de Massachussetts, New York e New
Jersey.
Após dois anos de actividade missionária e de formação intensiva de leigos, em
paróquias e grupos da zona de New York, o P. Arlindo veio para Portugal, por
insistência do Provincial.
Em 1988 o P. Francisco vem de Ludlow para Central Falls, como assistente do
P. Figueira e ficando a substituí-lo na sua ausência. Algum tempo depois, em
1991, o P. Figueira, com a saúde muito abalada, regressa a Portugal.
Em 1997 o P. Arlindo Amaro regressa aos Estados Unidos, assumindo a
paróquia do Imaculado Coração de Maria em Central Falls, onde ainda trabalha.
O P. Francisco ficou a seu assistente mas seis meses depois, regressou a Portugal.
A missão espiritana entre os imigrantes
833
OS ESPIRITANOS PORTUGUESES NO CANADÁ
O Contexto do compromisso da Província Portuguesa com os emigrantes
do Canadá
Na sequência dos acontecimentos decorrentes da revolução de 25 de Abril de
1974, muitos confrades portugueses que trabalhavam em Angola, regressaram a
Portugal.
O Conselho Geral, consciente das dificuldades que necessariamente se iriam
colocar com este regresso maciço dos confrades de Angola, pediu a solidariedade
de toda a Congregação em ordem ao acolhimento e colocação destes confrades.
Foi então que a Província do Trans-Canadá, em carta datada de 13 de
Novembro de 1975, do então provincial Fr. Michael Doyle, manifestou total
disponibilidade para receber alguns confrades, vindos de Angola,
comprometendo-se a acolher os mais idosos e encontrar trabalho, junto dos
emigrantes portugueses para os ainda capazes. Algumas condições foram desde
logo estabelecidas: disposição de fazer parte da Província do Trans-Canadá,
disponibilidade para receber nomeação do superior provincial desta
circunscrição e do seu conselho; abertura para aprender o inglês e absorver os
hábitos e a cultura do país e da Igreja do Canadá, estar preparados para observar
as normas locais no tocante a finanças, inclusive a contribuição normal a esta
Província e suas obras.
Em Julho de 1976, o Provincial do Trans-Canadá, em carta ao Provincial de
Portugal, P. Casimiro Pinto de Oliveira, fala do encontro que tiveram no
Conselho Alargado e manifesta o seu contentamento por ver que será possível a
vinda de confrades portugueses para o Canadá. Concretamente, refere que o nome
do P. Amadeu Venâncio Pereira foi proposto à diocese de Toronto, para poder
trabalhar numa das várias paróquias portuguesas de Toronto. Conforme
testemunho do P. Amadeu, isto terá sido já também influência da passagem na casa
provincial da Estrela, do bispo D. Aloisius Ambrosic mais tarde cardeal de
Toronto, a solicitar o envio de espiritanos para o trabalho com os emigrantes
portugueses. Na verdade, o P. Amadeu foi abordado directamente pelo Provincial,
em Lisboa, após circular que este escreveu aos confrades, colocando o Canadá
como hipótese de trabalho para alguns deles. Depois foi tratar da burocracia em
ordem a poder entrar no Canadá, o que aconteceu em meados de Maio de 1977.
Comunidade portuguesa de S. Pedro
O primeiro trabalho pastoral do P. Amadeu foi na igreja de S. Pedro (Bathurstt
e Bloor), na cidade e diocese de Toronto, que então tinha comunidades inglesa,
italiana, portuguesa e espanhola.
Na igreja de S. Pedro, as preocupações pastorais do P. Amadeu Pereira foram
em várias direcções. A prioridade foi a organização da catequese e a assistência
ao “movimento familiar cristão” e ao “renovamento carismático”. Responsável
834
Adélio TORRES NEIVA
embora da comunidade portuguesa, colaborava com as outras quatro
comunidades. Motivou a comunidade portuguesa para a compra de uma imagem
de Nossa Senhora de Fátima, o que deu origem à procissão em honra da mesma.
Começou uma irmandade do Divino Espírito Santo, o que implicou a realização
do cortejo do mesmo.
A comunidade dos PP. Paulistas, a quem estava entregue a paróquia, nunca
oferecera um quarto para descansar. O alojamento fazia-o o P. Amadeu na casa
espiritana, a Laval House, em Victoria Park, a uma hora de caminho. Só no fim
de seis meses, a Província que o acolheu lhe deu um carro em segunda mão.
O compromisso com S. Pedro durou seis anos e meio. Nos últimos seis meses,
passou o P. Amadeu a dormir no Carabean Centre-Our Lady of Good Counsel
– comunidade entusiasta e com pujança e entregue a um confrade espiritano.
Santa Maria dos Anjos
Em 28 de Setembro de 1983, o P. Amadeu foi nomeado para Santa Maria dos
Anjos como “associate pastor” e “missionary chaplain for the portuguese people”.
Estava previsto que fosse uma paróquia portuguesa e foi combinado que seria
entregue aos Missionários do Espírito Santo. Tal só aconteceu três anos e meio
mais tarde quando de lá saíu o P. Amadeu. Entretanto, a ele se havia juntado o
P. Francisco Medeiros Janeiro, em Setembro de 1983 e o P. João Crisóstomo em
Setembro de 1985, vivendo todos em Santa Maria dos Anjos. O P. Janeiro ficou
desde o primeiro momento com o encargo pastoral de S. Pedro, em substituição
do P. Amadeu.
Em carta de 2 de Fevereiro de 1984, o Provincial de Portugal, P. Manuel Durães
Barbosa, na sequência da ida do P. Janeiro para Toronto, escreve a fixar as orientações
que havia acordado com o P. Bernard Kelly, Provincial do Trans-Canadá. Eis alguns
dos pontos então referidos: os confrades portugueses ficam afectos à província do
Trans-Canadá, tal como os confrades portugueses em Espanha, entendendo-se com
o Provincial local para tudo; mantêm a ligação com a província de origem com seus
direitos e deveres; será aberta uma conta no economato provincial do Trans-Canadá,
donde um montante a combinar com o provincial local, será versado na Casa
Generalícia, como ajuda à Província Portuguesa.475
Durante este tempo de permanência em Santa Maria dos Anjos, foi o P.
Amadeu nomeado cumulativamente administrador paroquial de S. Sebastião por
uns oito meses, quando faleceu o pároco P. António Arruda. Muitas vezes foi o
P. João Nogueira que se deslocou a São Sebastião para realizar o trabalho
paroquial em substituição do P. Amadeu.
Paróquia de Santa Inês
Em 27 de Junho de 1986 foi a mudança para a paróquia de Santa Inês. Os três
475
Carta de 2 de Fevereiro de 1984
A missão espiritana entre os imigrantes
835
espiritanos viviam em comunidade. No dizer do P. Amadeu, em Santa Inês,
encontrou “terra queimada”. Todas as estruturas da paróquia ruíram com a saída
do P. Antero Melo, pároco anterior. Na residência nem um prato para comer,
nem um lençol para colocar na cama.
Em termos de pastoral, foi necessário recomeçar tudo de novo: Coral,
Leitores, Vicentinos, Colectores, Cruzada, Filhas de Maria, Associados do
Coração de Jesus e Maria, Irmandade do Espírito Santo, comissão de festas do
Senhor da Pedra. Hoje, à sombra da igreja há também a banda de música “Lira de
Nossa Senhora de Fátima”, “grupo folclórico de cantares e bailares de S. Miguel”
e ainda o grupo musical “Searas de Portugal”.
Entretanto, novas iniciativas e novos movimentos apostólicos foram surgindo
na paróquia: cursos de formação para pais e padrinhos, duas vezes por mês;
cursos de noivos, duas vezes por ano; grupo familiar cristão; cursos bíblicos de
formação cristã...Nesta paróquia, fruto do trabalho criativo do P. João Mónico
foram editados alguns subsídios de apoio: “oração de cada dia na comunidade e
na família”, um livro de Vésperas e Laudes que o povo reza antes das missas da
manhã e da tarde, um Manual de Baptismo para pais e padrinhos e um Manual de
preparação para o matrimónio, para noivos.
A catequese paroquial era assegurada por cerca de trinta catequistas e a
assistência pastoral a duas escolas católicas. No ano de 1999, realizaram-se três
turnos de primeiras comunhões, com um total de 130 crianças e três turnos de
crismas, o que faz um total de 150 crismandos. Outros números do movimento
paroquial anual: 160 baptismos, 70 casamentos e 90 funerais. Dominicalmente há
cinco missas: uma em inglês e quatro em português. Os espiritanos participam
nas reuniões do Conselho Pastoral Português e em encontros sectoriais
promovidos pelo mesmo e em reuniões de âmbito diocesano.
A 19 de Setembro de 1988, o P. Alberto da Fonseca Lopes é nomeado
“associate pastor” de Santa Inês, após a sua vinda do distrito do Brasil SE. O P.
Alberto deixou, por vontade expressa Santa Inês para ir para Portugal em 1995.
Regressando a Portugal para trabalhar na formação a partir de Setembro de
1989, o P. João Nogueira é substituído pelo P. João Mónico que chegou a Santa
Inês a 11 de Janeiro de 1990.
Paróquia de Santa Maria em Hamilton
Em carta de 1 de Junho de 1988, o provincial do Trans-Canadá, P. Bernard
Kelly dá conta de uma reunião, realizada a 20 de Abril de 1988 em Santa Inês com
a presença dos três espiritanos portugueses: PP. Amadeu Pereira, Francisco
Janeiro e João Nogueira. Houve acordo com a mudança de residência do P.
Janeiro para Caribbean Center, continuando com o encargo pastoral da igreja de
S. Pedro. Tal aconteceu a 18 de Maio de 1988.
Entretanto, por essa altura, o mesmo P. Francisco Janeiro comunicou ao
Provincial que gostaria de assumir uma paróquia portuguesa em Hamilton. O
Provincial e o arcebispo de Toronto D. Ambrozic, ambos eram de opinião de
836
Adélio TORRES NEIVA
que seria imprevisível quando é que o P. Janeiro poderia ser nomeado pároco
responsável pastor em Toronto e por isso, não havia hipótese de impedir a ida
daquele confrade para Hamilton, em resposta ao pedido do bispo daquela
diocese.
Entretanto, em Abril de 1999, tomava posse da paróquia de Oskville, diocese
de Hamilton, o P. Fernando Henrique Ferreira Pinto, ali chegado directamente
do Brasil, de entendimento com o bispo de Hamilton e com o superior do
Distrito do Brasil SE.
Avaliação da presença espiritana
A 13 de Maio de 1999 o provincial de Portugal P. Eduardo Miranda teve um
encontro com o P. John Geray (provincial do Trans-Canadá em exercício) e P.
Joe Fitzpatrick (provincial nomeado), em que foi feita uma avaliação da presença
dos espiritanos portugueses no Canadá.
Foi manifestado apreço pela integração dos espiritanos portugueses na vida da
Província do Trans-Canadá, onde estão na condição de afectados àquela
Província. Isto passa pela participação em momentos fortes como assembleias,
retiros, jubileus dos confrades, etc. Do salário que os espiritanos portugueses
recebem contribuem com um tanto para o funcionamento normal da Província
e fundo da terceira idade da Província. Sem valores fixos, é versado na casa
Generalícia em Roma um montante, com destino à Província portuguesa. Foi
igualmente referido o trabalho pastoral e a proximidade das pessoas.
Na comunidade de Santa Inês vivem e trabalham os PP. Amadeu Pereira e João
Mónico e uma leiga associada Maria Cândida da Silva Igreja, que governa a casa
e colabora na pastoral.
Na paróquia de Santa Maria em Hamilton, está o P. Francisco Janeiro e na
paróquia de Oakville está o P. Ferreira Pinto.
Quanto à continuidade da presença portuguesa naquele campo de apostolado,
segundo o ciclo normal da migração por estas terras, a segunda e a terceira
gerações não se fixam onde viveram e vivem os pais. Buscam para habitação as
periferias mais arejadas. A consequência é o envelhecimento das comunidades.
Isto é muito nítido no caso de Santa Inês. Daí que o investimento de confrades
neste projecto mereça um sério discernimento, no qual entram as pessoas
envolvidas e a Igreja local.
OS ESPIRITANOS PORTUGUESES NA ALEMANHA E NA FRANÇA
Foi no quarto trimestre de 1965 que apareceu pela primeira vez, em Hamburgo,
um sacerdote para colaborar com a igreja local na pastoral dos fiéis de expressão
portuguesa. Era o P. Vicente Miranda, natural de Goa. A ele couberam os
primeiros contactos com os portugueses espalhados pela Alemanha do Norte,
desde a Holanda a Berlim, desde a Dinamarca a Gotingen. Chamava-se “Missão
Católica Portuguesa da Alemanha do Norte”, com sede em Hamburgo.
A missão espiritana entre os imigrantes
837
O P. Vicente Miranda trabalhava arduamente com dificuldades de toda a
espécie, até aos fins de 1970: celebrava no primeiro domingo do mês em
Hamburgo, no segundo em Billstedt, no terceiro em Reinbek e em Harburg,
ficando com o quarto domingo livre para girar por outras terras.
Estruturas paroquias não havia e a colaboração com a Assistência Social da
Caritas tinha sido tentada, mas sem resultado.
No dia 8 de Fevereiro de 1971, a Conferência Episcopal Portuguesa mandou
para a Alemanha o P. José Eurico de Azevedo, que chegou a 16 do mesmo mês
e foi aceite pelo bispo de Hildesheim a 1 de Abril. Mas a Missão para os católicos
de expressão portuguesa de Hamburgo e do Schlewig-Holstein só a 8 de Março
de 1974 foi oficialmente criada pelo bispo de Osnabrucke; um pouco mais tarde,
o bispo de Hildesheim estendeu a sua jurisdição ao norte da sua diocese.
A primeira iniciativa do P. Eurico Azevedo que, pela primeira vez, celebrou em
Hamburgo para os portugueses no primeiro domingo de Março de 1971, foi criar
um núcleo com todas as estruturas paroquiais possíveis, em S.ta Maria de
Hamburgo, passando a haver ali, missa todos os domingos. Aos poucos, foi-se
organizando a catequese e a assistência social na mais íntima e eficaz colaboração
com Caritas.
A sua acção estendeu-se depois ao campo cultural, dando-se cursos de
iniciação de língua alemã e de alfabetização. Ainda em 1971, o pároco escolheu
entre os leigos mais dedicados à pastoral o seu Conselho, que havia de tornar-se
o embrião do futuro Conselho Paroquial, eleito por toda a comunidade, pela
primeira vez em 1975.
A vida paroquial foi-se desenvolvendo e na Sexta-Feira Santa de 1972, já a
catedral foi pequena para comportar toda a gente que acorreu à celebração
penitencial, presidida pelo pároco P. Lourenço de Munster, assistido pelos PP
Prata de Drtmund e Carlos Ebner.
Aos poucos, esta estrutura paroquial estendeu-se a Harburg e a Glinde, onde
passou a haver também todas as estruturas paroquiais, a começar pela Santa
Missa todos os domingos e pela eleição de um Conselho Paroquial autónomo.
Foi a partir daí que se organizaram cursos de formação e cultura religiosa,
fundou-se uma Escola Complementar de Português e de Cultura Portuguesa,
para fomentar o reagrupamento familiar, a visita aos doentes aos hospitais, os
conselhos paroquiais e os animadores dos grupos de jovens.
A missa ao domingo passou a ser celebrada em Hamburgo-Harburg, e à vez em
Glinde, Wahlsted e Lubeck. O P. Eurico assistia além dos 8000 portugueses de
Hamburgo, os 1200 de Hannover, os 1350 de Bremen e os 2000 no SchleswuigHlstein, até os P. José Simões ter ido para Bremen e o P. Assis Sousa Pinho para
Hannover.
A Escola Complementar de Português e de Cultura Portuguesa começou a
funcionar a 22 de Janeiro de 1973 e é frequentada por perto de 500 alunos,
divididos por 23 grupos e ensinados por seis professores.
Além desta escola, a missão promove ainda cursos de profissionalização,
cultura, folclore, etc..
838
Adélio TORRES NEIVA
Além de Hamburgo, houve ainda capelães em Mainz, onde esteve o P. Salavdor
Cabral, em Hannover, onde esteve o P. Assis Gomes de Sousa Pinho e em
Bremen, onde esteve o P. José dos Santos Simões. O P. Salvador Cabral esteve
em Mainz desde 1973 a 1994, O P. José dos Santos Simões esteve em Bremen
desde 1975 a 1979; o P. Assis Gomes de Sousa Pinho missionou em Hannover,
na Baixa Saxónia, desde 1976 até ao dia da sua morte a 29 de Março de 2003.
O Provincial de Portugal chegou a propor a criação de uma comunidade
regional que reunisse estes quatro confrades, mas esta comunidade não chegou a
ser verdadeiramente activada.
Na sua reunião de 3 de Julho de 1976, o Conselho Provincial aprovou o pedido
do P. José Martins Vaz para ser enviado para Metz, na França, a fim de assistir
por um ano, os emigrantes de língua portuguesa, naquela região. Depois, a
licença foi renovada e o P. Martins Vaz lá esteve até que regressou à Província no
ano 2001.
839
Capítulo 91
A Animação Missionária: L. I. A. M.
U
ma das finalidades dos Institutos Missionários é despertar o povo
cristão para a dimensão missionária da sua fé. Esta preocupação esteve
presente na vida da Província desde o início, procurando a colaboração
do povo de Deus para a actividade missionária por meio da oração e do sacrifício,
da promoção vocacional e do auxílio material.
Como órgão desta preocupação, o primeiro provincial, depois da restauração
da Província lançou a revista Missões de Angola e Congo bem como a Associação
de Nossa Senhora de África para a conversão dos infiéis.
Em 1937 foi lançado um novo movimento que daí para a frente iria
acompanhar e canalizar todas as iniciativas da Província, referentes à animação
missionária: a Liga Intensificadora
da Acção Missionária (LIAM).
Nascida a 13 de Maio de 1937,
em Fátima, a partir do pequeno
jornal “Entre Nós”, foram seus
fundadores o P. Agostinho Lopes
de Moura, José Felício e Augusto
Teixeira Maio.
Tinha como objectivo “despertar
a consciência missionária colectiva,
mobilizar a múltipla generosidade
Fundadores de LIAM
cristã nacional a favor da mais
importante e mais santa de todas as obras católicas, a obra missionaria”. Só pouco
a pouco é que se foram descobrindo e clarificando os caminhos a seguir e os
meios a empregar.
A evolução do nome da LIAM — começou por ser LAMES (Liga de Auxílio
às Missões do Espírito Santo), passou depois para LIMES (Liga Intensificadora
das Missões do Espírito Santo) até se fixar em LIAM (Liga Intensificadora da
Acção Missionária) — mostra também as opções e a consolidação das linhas de
força que viriam a ser consagradas nos seus estatutos. Esta evolução vai no
sentido de alargar a colaboração material à cooperação espiritual e de passar das
missões do Espírito Santo para toda a actividade missionária da Igreja.
As suas linhas de força, mais tarde, assumidas pelos Estatutos eram:
- apostolado missionário pela oração
- apostolado missionário pela acção
840
Adélio TORRES NEIVA
- compromisso na promoção vocacional, nomeadamente nas vocações
missionárias
- propaganda missionária através da imprensa missionária, sobretudo do jornal
“Acção Missionária”, campanhas e iniciativas, sessões de estudo, festas, vigílias
de oração.
Começando pela Liga Missionária dos estudantes de Coimbra, o movimento
depressa irradiou por colégios, seminários, estabelecimentos de ensino, escolas,
paróquias. Em 1964 eram já 270 os núcleos da LIAM, espalhados por todo o
Portugal, 3.900 os propagandistas, 57.000 os assinantes do jornal “Acção
Missionária” e 3.152 os zeladores da Associação de Nossa Senhora de África, e
21 mil os seus associados. O método consistia em criar um núcleo de animação
missionária, inserido na igreja local, no colégio ou no seminário, que irradiava
para todo o ambiente. O movimento alastrou para os Açores, Angola, Cabo
Verde e Moçambique.
Os estatutos foram aprovados individualmente pelos bispos portugueses, a
partir de 1948.
Os números actuais da LIAM apontam cerca de 300 núcleos, 25 mil assinantes
da Acção Missionária, 7.500 do Encontro, Almanaque das Missões (tiragem de
150 mil), Calendário da Acção Missionária (150 mil) e Agenda da LIAM (60
mil), Livro das Reuniões (10 mil).
Ultimamente, por ocasião do Ano Jubilar espiritano, a 1 de Julho de 2003, os
novos Estatutos foram aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa.
De mão em mão
O P. Agostinho de Moura foi colocado em Lisboa em 1941 para se dedicar a
tempo inteiro à animação missionária; nesse mesmo ano era transferido também
para Lisboa o jornal “Acção Missionária”. Em 1943 era estabelecida também em
Lisboa a chamada “Obra da Propaganda” dos Missionários do Espírito Santo que
se viria a identificar com a LIAM.
Dela ficavam a fazer parte, conforme dissemos já, os padres Agostinho de
Moura, como seu director, José Felício para a animação exterior, Francisco
Nogueira da Rocha para secretaria e António Brásio para a revista que iria ser
relançada “Portugal em África”.
Em Janeiro de 1945 era integrado na obra o Sr. Manuel Rodrigues Teixeira, que
viria a assumir o cargo de chefe da administração.
Nesse mesmo ano de 1945, o P. José Felício, que era quem mais se movia na
animação exterior, era nomeado subdirector da LIAM.
Em 1947 são incorporados na obra os PP. Henrique Alves e Augusto Teixeira
Maio, um dos liamistas da primeira hora e cuja presença seria muito marcante na
LIAM. O P. Henrique Alves, nomeado redactor permaneceria na LIAM até
1953, ano em que partiu para Angola para recolher documentação para a História
dos Espiritanos naquela Província.
Em 1949, é nomeado administrador da LIAM o P. José da Fonseca Lopes, e no
A Animação Missionária: L. I. A. M.
841
ano seguinte, em 1950, chegam os PP. António de Sousa Rodas e Ismael
Baptista. Enquanto o P. Ismael passaria depois para outras tarefas da Província,
o P. Rodas permaneceria na LIAM até ao ano em que faleceu, vítima de um
acidente de comboio na Silva em 1970. Em 1951 o P. António Rodas assumia as
funções de administrador da LIAM. Foi uma figura amável e acolhedora cuja
imagem, grata e simpática, perduraria na LIAM muito para além da sua morte.
A 29 de Dezembro de 1952, o P. Agostinho de Moura, director da LIAM e
desde 1949 também provincial da Congregação, foi nomeado bispo de Portalegre
e logo a seguir era escolhido para
lhe suceder como director da
LIAM o P. José Felício. D.
Agostinho de Moura trabalhou na
LIAM durante 17 anos, desde 1935
a 1952, tendo-lhe imprimido um
dinamismo e uma criatividade que
deram ao movimento uma difusão
e uma implantação a todos os
títulos surpreendente.
O P. José Felício que lhe sucedeu
P. José Felício, com algumas liamistas
seria outro líder carismático que
implantaria a LIAM nos mais diversos sectores da sociedade e da igreja
portuguesa. Seria ele o homem providencial que lançaria a LIAM nas ondas do
Vaticano II.
Em 1953 entra para a LIAM, embora por pouco tempo, o P. Domingos
Rodrigues que assumiu o cargo de redactor do jornal Acção Missionária.
Em 1954 é chamado para a LIAM, o P. José da Lapa, recentemente ordenado
e que tomará a seu cargo a redacção do jornal bem como a animação missionária
da região de Lisboa.
Em 1959 começa o movimento de penetração da LIAM nas Escolas do
Magistério Primário e dão os primeiros passos os Lares Missionários.
Nesse mesmo ano de 1959 o P. António Pereira Rodrigues é chamado para
assumir o cargo de promotor vocacional e, no ano seguinte, o P. Álvaro Miranda
Santos tomava a seu cargo a redacção da revista Portugal em África.
1962, ano das Bodas de Prata da LIAM, seria um ano particularmente fecundo
em iniciativas renovadoras: lançou-se o primeiro curso liamista de formação
missionária, organizou-se o primeiro encontro de professores e alunos-mestres
das Escolas do Magistério Primário e, no ano seguinte, fundou-se a revista
Encontro-Selecções Missionárias. A redacção da revista fica confiada ao P.
Adélio Torres Neiva, chegado no ano anterior precisamente para lançar a revista.
Em 1963 a expansão da LIAM prossegue o seu ritmo sempre crescente, tendo
sido então criado um novo centro no Porto, na Rua Nova do Regado, 250,
ficando esse centro confiado ao P. António Rodas, P. José Martins Vaz,
especialmente incumbido da animação missionária nos colégios e liceus e P. José
Maria de Sousa, capelão do Monte Pedral.
842
Adélio TORRES NEIVA
Para substituir o P. António Rodas no cargo de administrador da LIAM, em
Lisboa, é nomeado o P. José Fernandes. Entretanto, o P. José da Lapa passara a
redacção do jornal ao P. Adélio Torres Neiva, ficando ele mais livre para a
animação missionária no exterior. O P. Francisco Vaz ficava também integrado
na LIAM como auxiliar da administração.
Em 1965 o P. José Martins Vaz era transferido para Lisboa e o P. António
Pereira Rodrigues estabelecia sua residência no Porto. Também neste mesmo
ano, o Irmão Amândio Braz passava da Procuradoria das Missões para a LIAM,
colaborando no sector da redacção e o irmão Nuno era integrado na administração.
Em 1966 chega o P. António Cardoso Botelho que foi chamado para assumir
o cargo de administrador, tendo ao P. José Fernandes sido confiada a animação
do Patriarcado. Por sua vez, o P. José da Lapa passava para o centro do Porto,
assumindo a responsabilidade do sector vocacional e a animação missionária da
juventude.
O ano de 1967 merece ser assinalado pelo lançamento do filme “Uma vontade
Maior” e o de 1968 pela iniciativa “Caminhada Heróica da Juventude
Missionária” a Fátima, organizada pelo centro do Porto, bem como o
lançamento dos cursos “Juventude Missionária”.
Em 1969 entram para a LIAM os PP. Augusto Teixeira Maio e Joaquim
Macedo Lima, que se encarregam da animação missionária no exterior.
Em 1972 o P. António Botelho é transferido para Cabo Verde tendo sido
nomeado para o substituir na administração da LIAM o P. António Figueira
Pinto e por sua vez o P. António Pereira Rodrigues deixa a LIAM para partir
para as missões de Angola. Como reforço novo, são nomeados para o Centro do
Porto os PP. Abel Moreira Dias e José Pinto de Carvalho, que darão à LIAM do
norte um novo impulso e um novo dinamismo, tendo o P. Lapa regressado a
Lisboa, depois de um ano de reciclagem em Roma.
Em 1973, o abade da Loureira oferece à Congregação uma casa na Rua da
Boavista no Porto, tendo então o centro da Rua Nova do Regado passado para
esta nova residência que então fica a cargo dos PP. Abel Moreira Dias, José Pinto
de Carvalho e Joaquim Pereira Pinto.
Em 1974, tendo o P. Torres Neiva partido para Roma, para o substituir na
redacção do Encontro é nomeado o P. Francisco Lopes e, no ano seguinte, vêm
para Lisboa o P. Adélio Cunha Fonte e o Irmão Inocêncio, como acessor da
administração. Em 1976 será a vez do Irmão Daniel ser também adstrito à
administração.
Em 1976 é criado mais um centro da LIAM, em Coimbra, na Travessa do
Espírito Santo, confiado aos Padres Veríssimo Manuel Teles e Adélio Cunha
Fonte. Para Lisboa é nomeado o P. José Ribeiro Mendes e como administrador
o P. Marcelino Duarte Lopes.
A LIAM passava assim a ter três centros: Lisboa, Porto e Coimbra, assumindo
cada um a animação missionária das dioceses da sua área. Todas as actividades de
âmbito nacional, bem como as dioceses do Sul, ficavam a cargo do director, o P.
José Felício coadjuvado pelo P. José da Lapa.
A Animação Missionária: L. I. A. M.
843
Em 1977, o P. Carlos Gouveia Leitão, é nomeado para o Centro da Boavista e
no ano seguinte é criado um novo Centro da LIAM, no Fundão, na Rua José
Germano da Cunha, 39, tendo sido escalonados para este centro os PP. Carlos
Gouveia Leitão, António Lourenço Braz e o Irmão João Vieira. O P. José
Ribeiro Mendes passava de Lisboa para o Porto e para Lisboa é nomeado o P.
Francisco Medeiros Janeiro, que assumirá as funções de redactor do jornal Acção
Missionária até 1982 .
A VIRAGEM DOS ANOS 80
O Capítulo Provincial dos Espiritanos de 1978 procurou dar novo impulso e
abrir novos horizontes à animação missionária dos Espiritanos; a LIAM viria
naturalmente a ser afectada por esta nova leitura da animação missionária.
Antes de mais, o Capítulo procurou estender os espaços da animação
missionária a todos os membros e a todas as comunidades, fazendo da animação
missionária uma das suas vertentes essenciais. Assim, todas as comunidades
espiritanas, em princípio, seriam centros de animação missionária. Pretendia-se
deste modo dar uma unidade mais articulada à animação missionária dos
Espiritanos. A LIAM, que até aí tinha de alguma maneira uma certa autonomia
na sua caminhada, passa a ser expressamente integrada no projecto da Província.
Em segundo lugar, esta animação missionária é integrada nos quadros do
governo da Província, assumindo a sua responsabilidade directa um dos
membros da equipa provincial, então designados por vice-provinciais. Em
virtude desta orientação, o director da LIAM passaria a ser um dos membros da
equipa provincial. De resto, já o Capítulo Provincial anterior, o de 1970 atribuía
a um dos membros da equipa provincial a responsabilidade da animação
missionária exterior.
A LIAM continuaria, no entanto a ser o modo específico da animação
missionária da Província, embora não exclusivo. Os Centros da LIAM seriam as
comunidades espiritanas prevalentemente orientadas para a animação
missionária em todas as suas dimensões, em conformidade com os Estatutos da
LIAM, à luz da teologia missionária actual.
O Capítulo procurou ainda que esta animação missionária se integrasse cada
vez mais nas orientações do Concílio, em comunhão com as igrejas locais e seus
projectos pastorais. O Capítulo Provincial de 1984 daria novo ênfase a estas
orientações. Lembremos apenas duas directivas desse Capítulo:
“A LIAM não poderá considerar-se como todo o sector da animação missionária
da Província, ainda que historicamente o pudesse ter sido. Todavia, o Capítulo vê
na LIAM uma forma concreta para formar e animar uma valiosa rectaguarda
missionária de colaboração e ajuda, em comunhão com a Província e com o seu
projecto de animação missionária” (nº470).
“No trabalho da LIAM atender-se-á de preferência:
- à formação de líderes nos núcleos, para que promovam a consciência missionária
no ambiente em que vivem;
844
Adélio TORRES NEIVA
- à inserção gradual dos núcleos na comunidade paroquial;
- ao relacionamento dos núcleos com as Missões “ad extra”;
- e à evangelização e promoção dos pobres no seu ambiente” (nº482).
Em conformidade com estas orientações vão ser tomadas algumas iniciativas
que marcam efectivamente uma nova etapa na história da LIAM.
- Como director da LIAM é nomeado o P. Veríssimo Manuel Teles, o membro
da equipa provincial designado para o sector da animação missionária da
Província. A LIAM fica assim integrada nos quadros do governo da Província.
De alguma maneira podemos dizer que a fase dos directores carismáticos se
conclui para abrir um novo ciclo.
- Uma das primeiras medidas a ser tomada foi a da criação de um Conselho da
Animação Missionária e a Assembleia Geral da Animação Missionária,
organismos reservados aos espiritanos.
- Como instrumento de comunhão e integração da animação missionária no
projecto pastoral da igreja local são lançados em 1979-80 os Cadernos de
Estudos, o primeiro dos quais foi consagrado ao “Domingo e Missão”
precisamente porque o tema desse ano pastoral era o Domingo.
- Outra iniciativa para consolidar esta comunhão e unidade da família espiritana,
foi a Peregrinação Missionária a Fátima da Província e seus amigos a 4 e 5 de Julho
de 1982, organizada pela LIAM. Nela participaram cerca de 5000 pessoas e 38
espiritanos. Esta peregrinação passaria a repetir-se todos os anos, constituindo um
momento alto de comunhão e convívio de toda a família espiritana.
Em 1979 é nomeado para o Centro da Boavista como secretário da promoção
vocacional o P. João Mónico, que no ano seguinte apresenta um projecto de
reestruturação do secretariado das vocações. A equipa deste secretariado seria
constituída pelo Secretário das Vocações, os directores dos seminários
espiritanos, um representante de cada centro da LIAM e um Irmão Auxiliar.
Neste ano de 1979, são nomeados para a LIAM, o P. João Tavares para Lisboa,
e os padres Manuel Magalhães Fernandes, Joaquim Correia da Rocha e Irmão
António Gonçalves para Coimbra.
A 15 de Março de 1980 o Conselho da Animação Missionária apresenta ao
Conselho Provincial a proposta de modificar o formato da revista “Encontro” e
torná-la mensal, proposta que foi aceite.
Em 1982 é enviado como apoio à equipa da Boavista, o P. José Coelho
Amorim. Nesse mesmo ano o P. Firmino Cachada assume a redacção da Acção
Missionária, em substituição do P. Francisco Janeiro, dedicando-se ao mesmo
tempo à animação missionária da juventude. Virá a fundar os Jovens Sem
Fronteiras.
Foi também neste ano que o P. Arlindo Areia Amaro é colocado no
Espadanido, em Braga, abrindo assim um novo centro que virá a ter grande
impacto na arquidiocese de Braga e o P. José Fernandes é enviado para o Fundão.
No ano seguinte, 1983, é criado um novo Centro em Lisboa: o centro de
Benfica, na Rua do Parque, 11, ficando nele integrados os Padres José Lapa,
Firmino Cachada e o Irmão Joaquim dos Santos Custódio. No ano seguinte o
A Animação Missionária: L. I. A. M.
845
Irmão Custódio é nomeado para a Torre da Aguilha. Será substituído pelo Irmão
António Gonçalves.
Em 1984 o P. Domingos da Cruz Neiva é nomeado administrador da LIAM
em substituição do P. Marcelino Lopes e o P. Francisco Valente vai para o
Fundão.
Nesse mesmo ano, o P. José de Castro Oliveira, na sua qualidade de assistente
da equipa provincial encarregado da animação missionária, é nomeado director
da LIAM, tendo o P. Veríssimo Teles, no ano seguinte seguido para Coimbra,
onde continuará como redactor do Encontro.
Em 1986, o P. José Martins Salgueiro é colocado na Boavista em substituição
do P. José Pinto de Carvalho, então nomeado pároco de Godim, sendo também
para aí destacado o P. António Luís Gonçalves. Para Lisboa, como redactor do
Encontro, regressa o P. Adélio Torres Neiva e para o Fundão é enviado o P. João
Baptista Pinheiro.
O ano de 1987, cinquentenário da LIAM, ficou marcado por algumas
iniciativas de vulto, entre as quais sobressaem a elaboração de um Directório da
Animação Missionária e uma imponente peregrinação a Fátima, tendo nela
participado o Superior Geral da Congregação.
No ano seguinte, em 1988, tendo o P. José de Castro sido eleito provincial,
assume a direcção da LIAM o P. Firmino Cachada. Para a Silva, trabalhando na
formação e acumulando o Secretariado das Vocações segue o P. Veríssimo Teles
e para a Boavista são nomeados os padres Serafim Marques da Silva e Norberto
da Conceição Cristóvão.
A equipa vocacional passa a ser constituída pelos PP. Veríssimo Teles, António
Marques de Sousa e Ir. António Braz.
Em 1989 o P. José Manuel Matias Sabença é colocado no centro de Benfica,
colaborando com o P. Firmino Cachada na redacção da Acção Missionária e na
animação dos Jovens Sem Fronteiras. Neste mesmo ano é nomeado
administrador da LIAM o P. Manuel dos Santos Neves que substitui no cargo o
P. Domingos da Cruz Neiva. E para substituir o P. José da Lapa, nomeado para
Secretário da CNIR, é nomeado para Benfica o P. Manuel Marinho Lemos
Couto, recém chegado das missões de Angola.
Em 1990 o Centro do Porto passa para a rua do Pinheiro Manso, nº62, sendo
aí colocado o P. António Marques de Sousa.
Devido à dificuldade em dinamizar o centro do Fundão, este centro é fechado,
continuando, no entanto a residir aí uma pequena comunidade espiritana. O P.
Carlos Gouveia Leitão passa para Viana do Castelo, para aí abrir um novo centro
de animação missionária e de acolhimento a grupos.
A equipa vocacional, sempre em evolução à procura das melhores soluções, fica
agora constituída pelos padres Veríssimo Teles (Silva), António Marques de
Sousa(Porto), Ir. António Braz (Fraião) e Ir. Pedro Falcão (Espadanido), vindo
do Brasil.
Entretanto o Directório da Animação Missionária é discutido em Assembleia
Provincial no Fraião, vindo depois a ser aprovado pelo Conselho Provincial.
846
Adélio TORRES NEIVA
Ainda nesse ano de 1990 para o novo Centro de Viana do Castelo são
destacados os Padres Domingos Matos Vitorino, em substituição do P. Carlos
Gouveia, e o Irmão João Vieira. Para o Centro do Pinheiro Manso são
destacados os Padres António Luís Farias Antunes, juntamente com o P.
António Marques de Sousa, que já aí estava. O P. António Farias substitui o P.
Norberto Cristóvão que passa a integrar a comunidade do Fundão.
Em 1991 a equipa do Espadanido passa a ser constituída pelos PP. Arlindo
Amaro e Matos Vitorino, o P. António Marques de Sousa vai para Coimbra e o
P. José Gaspar para o centro de Viana do Castelo em substituição do P. Vitorino.
Durante este período em que o P. Firmino Cachada foi director da LIAM
merecem relevo especial alguns passos de grande fôlego dados no sentido de uma
melhor formação a dirigentes e de uma corresponsabilização cada vez maior dos
leigos na direcção da LIAM: a formação do Conselho Nacional da LIAM e o
Encontro dos Responsáveis de Núcleo, duas iniciativas que, começadas
timidamente, têm hoje grande impacto no dinamismo da LIAM.
Em 1991 é nomeado director da LIAM, em substituição do P. Firmino
Cachada, o P. Manuel Marinho Lemos Couto, recém-eleito assistente da
animação missionária na equipa provincial. Durante o seu governo, o P. Lemos
prosseguirá o seu trabalho persistente e confiante junto dos núcleos,
revitalizando e fundando novos grupos, imprimindo assim à LIAM um novo
dinamismo e uma nova alegria em servir a causa missionária. Sob a sua direcção,
a LIAM adquiriu nova vitalidade.
Nesse mesmo ano a administração da LIAM
passava para o P. Agostinho Brígido e a equipa
vocacional ficava a ser constituída pelos PP.
Veríssimo Teles (coordenador), Eduardo
Osório, Manuel Magalhães Fernandes e Ir.
António Braz.
É também neste ano que é lançado o Projecto
do Voluntariado Missionário Espiritano,
assumido pelo Conselho Provincial e confiado
ao P. Arlindo Areia Amaro.
Em 1994 o P. José Costa é nomeado Secretário
das Vocações, em substituição do P. Verísimo
Manuel Teles, ficando a nova equipa vocacional a
ser formada pelos PP. José Costa, José Carlos
Coutinho, José Gaspar, Tarcísio Moreira,
Veríssimo Teles e Ir. António Braz.
Em Fátima, confraternização liamista
Em 1995 é colocado na animação missionária
em Lisboa, o P. António Manuel Neves, (Tony Neves), e na equipa do Pinheiro
Manso o P. Eduardo Osório. Nesse mesmo ano o P. Arlindo Areia Amaro parte
para os Estados Unidos, passando o centro de Braga, do Espadanido para o
Fraião. Desse Centro se ocupará o P. José de Castro Oliveira ao mesmo tempo
que se incumbirá de dinamizar o voluntariado. O Centro do Espadanido ficará
A Animação Missionária: L. I. A. M.
847
marcado pela actividade incansável do P. Arlindo Amaro que não se poupou a
esforços para despertar os leigos, lançar o Voluntariado e formar os Jovens Sem
Fronteiras.
Em 1996 era nomeado para o Centro de Viana do Castelo o P. António
Correia Andrade, ano em que o P. Vitorino deixa este centro para preparar a sua
ida para Moçambique.
Neste mesmo ano, duas leigas, após um tempo de preparação fizeram um
compromisso com a Província, partindo depois como voluntárias missionárias
para o Lubango, Angola.
A 1 de Janeiro de 1997 assume a redacção da Acção Missionária o P. António
Manuel Neves (Tony Neves), tendo o P. Firmino Cachada que foi redactor do
jornal desde 1983, partido para Bruxelas.
Ainda em 1997 o P. António Farias é nomeado director da LIAM, em
substituição do P. Marinho Lemos, cargo que só exercerá pouco mais de um ano,
pois no Capítulo Geral de 1998 foi eleito Assistente Geral da Congregação.
Substituiu-o o P. José de Sousa, como assistente da equipa provincial para a
animação missionária e o P. Tony Neves como director nacional da LIAM.
De notar ainda a criação neste mesmo ano do Conselho de Redacção, que o
Conselho Ampliado da Província havia decidido em 1997. Desse Conselho
ficaram a fazer parte os PP. Tony Neves (presidente), António Farias, Adélio
Torres Neiva, Irmã Ascensão, Dr.ª Sandra Simões e Paulo Vaz (JSF) e Vítor
Silva, jovem espiritano em formação.
849
Capítulo 92
Os Jovens Sem Fronteiras
Tony Neves
Coordenador Nacional dos JSF
O
s jovens sempre estiveram no centro das preocupações da animação
missionária espiritana. Quando a Liga Intensificadora da Acção
Missionária (LIAM) nasceu, em 1937, apostou muito forte na
pastoral juvenil, dando-lhe um cunho missionário. No início dos anos 70,
tiveram lugar as então chamadas ‘caminhadas heróicas’, a ‘Juventude Missionária’
e os ‘Cursos Ad Gentes’. Foi este protagonismo dos jovens, em muitas das
iniciativas da LIAM, que conduziu à fundação dos Jovens Sem Fronteiras em
1983 pelo P. Firmino Cachada, a quem o Provincial dos Espiritanos confiara a
animação missionária dos jovens, a partir de Lisboa. Entretanto, o Conselho
Provincial de então – de acordo com as actas – deu a orientação no sentido de
todos os responsáveis dos diversos Centros de Animação Missionária (Braga,
Porto, Coimbra...) apostarem nesta linha. O P. Arlindo Amaro lançou o
movimento em Braga, o P. António Farias no Porto e o P. José Manuel Sabença
em Clamart, periferia de Paris. Ao longo do tempo, foram surgindo grupos JSFs
em Colmar (França), Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Angola, pelo P. Firmino
Cachada. Estes Grupos JSFs fora de Portugal estão ligados aos Espiritanos que
ali trabalham.
Em 1998, os JSF celebraram 15 anos de vida no X Encontro Nacional, realizado
na Praia das Maçãs, em Sintra. Foi tempo de recordar o passado, olhar o presente
e projectar caminhos de um futuro que está nas raízes. Em pleno Jubileu dos 300
anos dos Espiritanos, os JSFs celebraram 20 anos de Missão. O carisma, a
espiritualidade e a história são marcos decisivos, pontos de referência obrigatórios.
Encontros Nacionais e Regionais
A Praia das Maçãs (Sintra) acolheu o X Encontro Nacional em 1998. Numa
exposição fotográfica, intitulada ‘Expo87-98 – Mares navegados de Barcelos a
Sintra’, mostraram-se imagens dos Encontros de Barcelos (87), Ilha da
Azambuja (88, 89, 91 e 95), Penha-Guimarães (90), Foz do Neiva – Viana do
Castelo (92), Colégio do Sardão – V.N. Gaia (96) e Ribeira do Fárrio – Ourém
(97). O Seminário do Fraião acolheu o Nacional 99 e o Seminário da Torre
d’Aguilha (Cascais) o de 2000. O norte recebeu os JSFs para os Nacionais de
2001 (Paróquia de Fiães – Santa Maria da Feira) e de 2002 (Paróquia de Carvalhal
850
Adélio TORRES NEIVA
– Barcelos). Em contexto de Jubileu, pelos 20 anos do Movimento, o Encontro
Nacional de 2003 foi realizado no Seminário da Torre d’Aguilha. Com um tema
e um lema alusivos ao que de mais importante a Igreja está a viver, estes
Nacionais JSF são o único momento do ano em que todos, de norte a sul, se
encontram para celebrar, rezar, partilhar, aprofundar conhecimentos e
experiências, avaliar, programar, confraternizar.
O Encontro Nacional de 2004 foi no Mosteiro de Singeverga, em S. Tirso, com
a participação de cerca de 350 JSF.
Os Encontros Regionais apostam mais na formação e, ao longo dos primeiros
20 anos de vida do Movimento, tiveram um papel muito importante para as
regiões de Braga, Porto e Lisboa.
Os JSFs começaram a participar no Encontro de Coordenadores da Animação
Missionária Espiritana (CAME) desde a sua 2ª edição, em 1997 e no Conselho
da Animação Missionária (CAM), desde 2004.
Retiros
O crescimento interior, a dimensão da Fé... nunca poderão ser descurados ou
atirados para um segundo lugar. Por isso, as reuniões começam-se e terminamse a rezar, os grupos organizam vigílias e, nos tempos litúrgicos fortes, criam
espaços de oração. A Missão está sempre presente na Palavra de Deus que se lê,
nos testemunhos que se chamam ou recordam, nas petições que se fazem, nos
compromissos que os membros do grupo têm.
O Retiro deve, contudo, ter lugar cativo na agenda de cada JSF, uma vez por
ano. Em geral, é na Quaresma que escuta o convite de Cristo para se ir até ao
deserto, até à Fonte, beber espiritualidade, carregar baterias, fazer a experiência
de Deus na oração. Nos primeiros 20 anos da história dos JSF, os Retiros, de
norte a sul, têm sido dos pratos fortes para enfrentar a caminhada do dia-a-dia.
O Centro Espírito Santo e Missão (CESM), criado em 1997, integrou no
calendário anual, todos os Retiros dos JSFs (Braga, Porto e Lisboa).
Encontros de Animadores
O I Encontro Nacional de Animadores teve lugar em 1990. Nasceu da
convicção de que todos(as) quantos são eleitos para coordenar os grupos
paroquiais JSF precisam de uma formação especial, numa perspectiva de
liderança e dinâmicas de grupos. Eles e elas, mais que os outros, necessitam de
conhecer a espiritualidade e o carisma espiritano. Estes Encontros (também
estendidos aos Vice-Animadores) têm jogado um papel vital no bom
funcionamento dos grupos, durante o ano de pastoral. Aqui se apresentam os
programas anuais, se partilham listas, actividades e preocupações. A injecção de
confiança e de coragem para enfrentar as dificuldades a surgir durante o ano
também tem lugar neste Encontro.
Os Jovens Sem Fronteiras
851
Sintonia com a Igreja local
Os grupos de JSF são paroquiais. A inserção na Igreja local é um ponto de
honra, faz parte da essência e do carisma do Movimento. Por isso, todos os
jovens se integram e se empenham nas suas comunidades paroquiais. O pároco é
sempre o animador espiritual nº1 do Grupo. Ele deve aprovar o programa de
actividades e deve acompanhar a sua realização.
A sintonia com a Igreja local está bem patente nos cargos que muitos JSFs
desempenham a nível da Pastoral da paróquia, do arciprestado/vigararia e da
Diocese. No âmbito nacional, os JSFs deram uma colaboração muito grande na
execução dos Fátima Jovem desde 1994, que tiveram lugar em Fátima. O mesmo
compromisso esteve bem patente nos ‘Fórum Ecuménico Jovem’, realizados em
Leiria (1999) e Lisboa (2000) e Vila Nova de Gaia (2001), Coimbra (2002) e
Aveiro (2003).
Reuniões / Aposta Formativa
A formação integral (humana e cristã) é uma prioridade de todas as vertentes
de uma pastoral juvenil. Os JSFs não fogem à regra. Nas reuniões semanais, a
formação deve ocupar, pelo menos, dois terços do tempo. Trata-se de educar
para os valores humanos, educar para a Fé e, dentro desta, para a dimensão
missionária da Igreja. Têm sido orientados muitos cursos ou sessões sobre os
mais variados temas, no âmbito dos valores e numa linha de Fé. Nesta mesma
linha se pode situar o Seminário sobre Direitos Humanos que teve lugar na
Universidade Católica (Lisboa) por ocasião do 10º Aniversário JSF. E muitos
Colóquios têm sido organizados por diversos grupos, nas várias regiões do país.
Foi no Encontro Nacional de Animadores, realizado na Torre d’Aguilha, em
2002, que se lançou a Primeira parte do Caderno de Temas para as Reuniões dos
Grupos JSFs, da autoria da Fátima Monteiro. A Segunda parte foi lançada no
Encontro Nacional de Animadores de 2003, em Fátima.
Férias Missionárias
Em 1988, um grupo de JSF foi até Caió (Guiné-Bissau) para ajudar a construir
a Escola Sem Fronteiras. A esta
experiência se deu o nome de
Ponte 88. Cabo Verde foi o campo
escolhido para a Ponte 92. S. Tomé
e Príncipe acolheria a Ponte 94,
enquanto os JSF da região Braga
foram trabalhar para a GuinéBissau. No ano seguinte, houve,
em simultâneo, duas experiências:
S. Tomé e Cabo Verde (Ponte 95).
Ponte 2004 na Missão dos Dembos
852
Adélio TORRES NEIVA
Os JSF da Região Braga fizeram uma nova experiência de Verão, desta feita em
S. Lourenço dos Orgãos (Cabo Verde) para ajudar a construir a Padaria da
Solidariedade. A Ponte 96 foi em Malanje (Angola), a de 97 foi no Huambo, a
de 99 em Caió-Tubebe (Guiné-Bissau), a de 2000 em Netia (Moçambique), a de
2001 em S. Tomé e a de 2002 na Calheta de S. Miguel (Cabo Verde). Em plena
celebração dos 20 anos, a Ponte 2003 foi ‘construída’ em Kalandula, Malanje,
(Angola) e a de 2004 relizou-se na Missão dos Dembos, (Angola).
A estas experiências missionárias ‘lá fora’, juntaram-se muitas outras ‘cá
dentro’. As Semanas Missionárias’ e as ‘Semanas Comunitárias’ congregaram
JSFs em actividades organizadas em diversas dioceses. Foi tempo de testemunho,
de partilha, de oração, de vida comunitária, em situações tão diversas como são
paróquias de Bragança, Viana, Lamego, Leiria-Fátima, Aveiro ou Beja. O número
de JSFs que participam nas Semanas Missionárias no Alentejo vai aumentando de
ano para ano. A título de exemplo, em 2002, foram organizadas quatro Semanas
no mês de Agosto e em 2004, foram cinco as paróquias escolhidas do Minho ao
Baixo Alentejo.
A partir de 2001, os JSFs iniciaram a sua participação nos Campos de Trabalho
de Aranda de Duero (Espanha), na casa de recuperação de toxico-dependentes e
integraram-se em todas as iniciativas promovidas pela Equipa Ecuménica Jovem
(fóruns, Campo de Trabalho no Telhal, Peregrinação a Taizé).
No Ano Internacional da Juventude (1985), os JSFs realizaram a I
Peregrinação Missionária, a pé, a Fátima. A II teve lugar em 1987, a III em 1990
e a IV em 1993.
A celebração das Jornadas Mundiais da Juventude, com o Papa João Paulo II,
levou a Santiago de Compostela, em 1989, dezenas de JSFs que foram
convidados a trabalhar nas equipas de acolhimento. Foi igualmente forte a
participação de JSFs de todas as regiões nas Jornadas Mundiais da Juventude que
tiveram lugar em Paris (1997) e em Roma (2000). A 2ª Visita que o Papa fez a
Portugal também foi muito participada pelos JSFs, sobretudo a celebração no
Estádio do Restelo (Lisboa), o mesmo se diga da 3ª, a Fátima, para beatificar os
Pastorinhos, a 13 de Maio de 2000.
Cultura e Missão
A Aula Magna da Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa acolheu os
quatro Festivais da Canção Missionária (1986, 87, 88 e 91). São um marco
histórico de que ficaram discos e cassetes para comprovar a qualidade do evento.
Em colaboração com a Comissão dos Cinco Séculos de Evangelização e
Encontro de Culturas, os JSFs empenharam-se na realização do Festival
Cultura e Missão (Junho 1990) que teve lugar junto à Torre de Belém (Lisboa).
Como balanço foi escrito: ‘Mais de cinco mil jovens e adolescentes; três concertos
de música; entrevistas com missionários; um programa ‘Despertar ao Vivo’ (RR);
Os Jovens Sem Fronteiras
853
uma marcha luminosa; passeios de convívio no Tejo; um festival de folclore e
culturas de expressão portuguesa; uma Eucaristia solene junto da Torre de Belém’.
Durante a celebração do jubileu dos 20 anos, realizou-se em S. Domingos de
Rana (Cascais) o I Festival da Canção Sem Fronteiras.
Campanhas de Solidariedade
A formação é prioritária para a caminhada de um grupo juvenil. Mas não se
pode ficar por aqui, é preciso lançar mãos à obra e fazer o que estiver ao alcance
para que a Missão possa ir para a frente. Os apelos que os missionários lançam de
situações de fronteiras são um desafio a exigir resposta adequada. Assim, os JSF,
em Lisboa, lançaram logo no início o Fundo de Apoio às Igrejas do Terceiro
Mundo (FAITM) que aderiram ao Serviço Espiritano de Solidariedade. Em
Braga, os JSFs também apoiaram diversos projectos missionários, sobretudo na
Guiné-Bissau e em Cabo Verde (Padaria da Solidariedade). Para tal, os grupos
organizaram festas, quermesses, rifas, feiras de artesanato.... Iniciativas como
‘jantar africano’, ‘concerto sem fronteiras’, ‘chá missionário’, ‘bacalhau pela
missão’, ‘janeiras solidárias’, ‘sarau cultural’, ‘sopa missionária’, ‘teatro pela
missão’... já fazem parte do imaginário sem fronteiras. Uma Missão criativa e
solidária.
Sol Sem Fronteiras
Como a sociedade avança e não se pode ficar para trás, era urgente fundar uma
Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) para
ajudar os JSFs a ir mais longe no domínio da solidariedade e da cooperação com
a Igreja missionária. A Associação Sol Sem Fronteiras (Solsef) nasceu, a 1 de
Novembro de 1993, para dar aos trabalhos do Movimento (e de outras pessoas
que se quisessem associar ) uma cobertura jurídica apropriada. Nos princípios de
Solsef, sublinha-se a sua inspiração cristã e prioridade que se dá à Igreja
missionária, na escolha de projectos de apoio ao desenvolvimento. Pode dizer-se
que esta organização é um
complemento dos JSFs, permitindo-lhes permanecer como Movimento Missionário mas, ao
mesmo tempo, partilhar com a
sociedade civil e, sobretudo, com
outros jovens, os seus ideais de
fraternidade, traduzidos na solidariedade e na cooperação.
Solsef aposta na realização de
Projecto Solsef em S. Tomé e Príncipe
várias campanhas públicas com o
objectivo de arranjar meios financeiros para apoiar diversos projectos na área da
educação, da saúde e da ajuda humanitária: a Escola Sem Fronteiras de Caió
854
Adélio TORRES NEIVA
(Guiné-Bissau), Ajuda de Emergência à Guiné-Bissau após a guerra de 1998,
Escola Arquidiocesana do Lubango (Angola), o Centro de Apoio à Infância de
Ribeira Afonso (S. Tomé e Príncipe). A Campanha Jubilar da Família Espiritana
foi a construção e funcionamento de Escolinhas no norte de Moçambique e foi
coordenada por Solsef. Na Guiné-Bissau, a Escola de S. José, em Bajob, foi
inaugurada em 2002 e a construção do Liceu de Calequisse concluiu em 2004.
Ponto alto da celebração do 5º aniversário de Sol Sem Fronteiras foi a
realização de um Colóquio na Universidade Católica (Lisboa) sobre
‘Solidariedade e Direitos Humanos’. A 8 de Novembro de 2003, Sol Sem
Fronteiras celebrou 10 anos, no Colégio Marista de Lisboa.
Voluntariado Missionário
O Voluntariado Missionário Espiritano implica uma missão de, pelo menos,
um ano. O Nélson Ramalhoto (JSF – Braga), foi o primeiro JSF a partir em
Missão. Trabalhou dois anos no Lubango, sul de Angola. Depois dele, a
Margarida Querido e a Sandra Colaço (JSF – Portela) partiram para Malanje, no
planalto do norte de Angola. O Victor Barros (JSF – Tires) partiu para Caió, na
Guiné Bissau, a Paula Vicente (JSF
– Benfica) para Ribeira Afonso, em
S. Tomé e o Miguel Ribeiro (JSF –
Monte Abraão – Queluz) para
Malanje. Os médicos Ivone
Gonçalves e Nélson Gaspar e a
analista Isabela Ribeiro estiveram
dois meses em Ribeira Afonso, S.
Tomé. O António Silva (JSF –
Tires) esteve na Calheta de S.
Voluntárias Missionárias Espiritanas em Malange
Miguel (Cabo Verde) por um ano.
Com os Leigos Para o Desenvolvimento, a Ana Sofia Nunes (JSF – Portela)
trabalhou dois anos em Timor, a Rita Monteiro (JSF – Portela) esteve com os
Verbitas em Monapo, norte de Moçambique e a Sílvia Ribeiro (JSF – Tires)
trabalhou na Guiné com a Fundação Evangelização e Culturas.
O Voluntariado também se faz aqui em Portugal, numa linha de opção pelos
mais pobres. Assim, a título de exemplo, recordo a Visita mensal dos JSF de
Tires ao estabelecimento Prisional de Tires (Cascais) e o trabalho de apoio
escolar e catequético dos JSF da Portela no Bairro do Prior Velho, um dos mais
pobres das periferias de Lisboa.
Nos Encontros Nacionais realizados em paróquias (Fiães da Feira e Carvalhal
de Barcelos), os participantes foram ao encontro de instituições que apostam no
apoio aos excluídos da nossa sociedade ou participaram em ‘workshops’ sobre
situações de exclusão e marginalização social.
Os Jovens Sem Fronteiras
855
Navegando na Net
Os JSFs não passam ao lado das novas tecnologias da comunicação. Depois de
terem ganho direito de cidadania no jornal ‘Acção Missionária’ e na revista
‘Encontro’, foram conquistando intervenções nas Rádios e Televisões, bem
como na Agência Ecclesia e muitos títulos da imprensa escrita, sobretudo de
inspiração cristã. A ‘Ponte 2001’, em S. Tomé, teve direito a acompanhamento
televisivo, o mesmo se diga dos Encontros Nacionais e de Animadores.
Mas uma das apostas de futuro tem a ver com a internet. Assim, pode-se saber
mais sobre o carisma, as iniciativas e os projectos dos Jovens Sem Fronteiras,
consultando os sites dos Espiritanos (www.espiritanos.org) e de Sol Sem
Fronteiras (www.solsef.pt). A partir de 2002, foram criados dois grupos de
partilha de informações na net, o ‘[email protected]’ e o
[email protected]. Com estas ‘mailing lists’, os Jovens Sem
Fronteiras estão mais perto uns dos outros e mais informados, via e-mail.
A celebração dos 20 anos
A Foz do Arelho (Caldas da Rainha) deu à luz, em 1983, o primeiro grupo
paroquial de Jovens Sem Fronteiras. Foi o começo de um sonho que, vinte anos
depois, se tornou já realidade do Minho ao Algarve, de Angola a Cabo Verde, de
França a S. Tomé e Príncipe. Foi na Foz do Arelho que as ‘jovens sem fronteiras’
de há 20 anos contaram aos actuais
a Missão que lhes corre ainda nas
veias. Foi na manhã do dia 5 de
Setembro, durante a Eucaristia de
Acção de Graças que encheu de
festa a Igreja Paroquial. Este
momento celebrativo foi apenas
um de muitos que se realizaram ao
longo de 2003, com relevo
particular para o ‘Especial JSF – 20
anos’ que decorreu de 31 de
O bolo dos 20 anos.
Agosto a 7 de Setembro.
O testemunho dos ‘anciãos’
O dia 31 de Agosto, no Seminário da Torre d’Aguilha (Cascais) foi ponto de
encontro para seis dezenas de ‘antigos’ Jovens Sem Fronteiras. A presença do
fundador, o P. Firmino Cachada, actualmente a trabalhar em Bruxelas, foi um
bom pretexto para um encontro com a história, um regresso às raízes, uma sã
confraternização. A partilha feita pelo Paulo Vaz, primeiro Presidente Nacional,
avaliou o caminho feito e lançou um debate sobre caminhos a abrir e a palmilhar,
rasgando novos compromissos de Missão sem fronteiras.
Em Braga, o Encontro com os mais antigos foi na noite do dia 4 de Setembro,
no Seminário do Fraião. O Porto escolheria o 28 de Setembro.
856
Adélio TORRES NEIVA
Missão nas fronteiras
‘Estar perto dos que estão longe sem estar longe dos que estão perto’ é uma
frase que tem norteado os JSF. Para dar corpo a este ideal, um grupo esteve em
Kalandula (Angola) e dois outros estiveram em Alvalade do Sado e Baleizão
(Beja) durante o mês de Agosto.
Durante o ‘Especial JSF 20 anos’, Braga apostou na casa de S. João de Deus
(Barcelos) e nas Paróquias de Gominhães (Guimarães) e Carvalhal (Barcelos). O
Porto apostou nos idosos das Irmãzinhas dos Pobres, nas crianças da Obra do P.
Gil (Feira) e numa Vigília na Paróquia de Ramalde. Lisboa foi até Ermidas do
Sado (Beja) ao encontro dos idosos e das crianças.
Na quinta-feira, dia 5, todos os caminhos foram dar à Ribeira do Fárrio
(Ourém) onde tivera lugar o I Encontro Nacional em contexto paroquial.
Depois da celebração da Eucaristia, o grupo rumou até ao Caneiro (Ourém)
onde a comunidade local os esperava. Ali almoçaram e dali foram enviados em
peregrinação a pé até Fátima.
A presidência do Terço das 21h30 marcou este dia.
De Fátima, os JSF partiram para o Seminário da Torre d’Aguilha, em Cascais,
passando pela Foz do Arelho.
201 JSF no Nacional 2003
Foi um record, ultrapassou-se a barreira dos 200! O Seminário da Torre
d’Aguilha conseguiu ‘acantonar’ esta multidão que partilhou experiências, rezou,
reflectiu, escutou e divertiu-se muito.
Os JSF foram confrontados com onze workshops sobre a Missão (no
masculino e no feminino), a imigração, a solidariedade e o desenvolvimento, o
voluntariado, a pastoral prisional, a ajuda humanitária e os direitos humanos, a
animação missionária da Igreja em Portugal, o trabalho com deficientes de foro
psiquiátrico. Momento alto foi a partilha da jornalista Laurinda Alves, directora
da Revista XIS e comentadora na Rádio Renascença. Apelou à confiança em
Deus e em si próprios. Referiu o ‘mais e melhor’ como objectivo de conversão,
apostando nos propósitos de vida: poucos, pequenos e possíveis’ contra os
grandes pecados: desânimo, desalento e desespero’. Elogiou o papel das
minorias, dos remadores contra a maré porque as massas são sempre acríticas.
Na manhã de domingo, o P. José Manuel Sabença, Superior Provincial dos
Espiritanos, apontou alguns caminhos de futuro aos JSF. Ligado ao Movimento
desde a primeira hora, o P. José Manuel apresentou 20 razões (todas com
esquema de email!)... para olhar com confiança o futuro.
Festival da Canção Sem Fronteiras
O momento com mais vibração foi o I Festival da Canção Sem Fronteiras
realizado no salão Paroquial de S. Domingos de Rana (Cascais). Foram nove as
Os Jovens Sem Fronteiras
857
canções concorrentes. A apresentação, sempre muito animada, esteve a cargo da
Marta Ventura e do Carlos Duarte Bastos, da Rádio Renascença, e o júri foi
presidido pelo P. Manuel Durães Barbosa, director da Obras Missionárias
Pontifícias.
A Canção vencedora foi ‘Servir é viver’ dos JSF de Braga que também
ganharam o prémio da melhor interpretação. O 2º lugar e o prémio da melhor
letra foi para os JSF de Benfica com a canção ‘Sol na Missão’ e o 3º coube aos
JSF de Tires que cantaram: ‘Brilha o Sol...’. No intervalo, houve um espaço de
dança que galvanizou a sala cheia, proporcionado pelos JSF que fizeram a Ponte
em Angola e as Semanas Missionárias no Alentejo.
O envio em Missão
A Eucaristia de encerramento foi uma Festa da Missão. Ali se juntaram aos 200
JSF muitos dos ‘antigos’ que participaram no encontro do domingo 31 de
Agosto. No ofertório, cada grupo de campo entregou um símbolo de
compromisso. Na acção de graças, coube aos mais velhos agradecer estes vinte
anos de Missão sem fronteiras.
Na hora de partir, lia-se nos rostos a alegria de regressar às suas terras de
origem onde a Missão continua como urgência. Como dizia o P. José Manuel
Sabença: ‘Por mil e uma razões, creio poder dizer que JSF não é nem nunca será
Jovens Sem Futuro, mas sim Jovem Sempre Forte, porque animado e fortalecido
pela luz de Cristo’.
Jovens Sem Fronteiras...uma história ainda no começo....
De 1983 até hoje, apenas se deu um pequeno passo. A história deste
Movimento Missionário ainda está no começo, as primeiras páginas só agora
estão a ser escritas. Os Estatutos foram aprovados pela Coordenação Nacional a
6 de Fevereiro de 2000 e pela Conferência Episcopal Portuguesa a 24 de Junho
de 2003.
É um projecto de fé, de caminhada em grupo, de missão, de solidariedade... um
ramo que entronca numa velha
árvore de 300 anos: a Congregação
do Espírito Santo, fundada em
1703. Os JSFs têm consciência de
que o futuro está nas raízes e, por
isso, vão continuar a beber da
espiritualidade espiritana.
JSF em Encontro Nacional
859
Capítulo 93
Movimento Missionário de Professores
(MOMIP)
O
MOMIP teve as suas raízes em 1962 com os Encontros Nacionais de
Professores e Alunos Mestres, organizados pela LIAM. Foi através
destes encontros que a motivação missionária se foi infiltrando nos
seus participantes, dando origem a uma mística que acabou por sentir a
necessidade de se organizar em movimento.
Assim, depois de muita reflexão e partilha de
ideias, em 1992, no Encontro de Cabo Verde, foi
constituída uma Comissão instaladora e em 1998
tornou-se um movimento com âmbito nacional
e duração indeterminada.
Em 1999 os seus Estatutos foram aprovados,
adquirindo o movimento o estatuto legal de
associação privada sem fins lucrativos, de índole
cristã e missionária.
A sua sede ficou estabelecida na sede nacional
da LIAM, na rua de Santo Amaro, à Estrela.
Segundo estes Estatutos, os objectivos do
movimento são os seguintes:
a) dedicar-se à animação missionária de
professores e alunos nas escolas e seu meio
Encontro do MOMIP no Porto em 2001
envolvente;
b) desenvolver o voluntariado missionário em ordem a despertar professores e
outros para serem cooperantes em países desfavorecidos, sobretudo de expressão
e língua portuguesas;
c) apoiar a formação de missionários;
d) promover o intercâmbio solidário entre culturas, línguas e etnias através do
ambiente escolar e se possível a geminação entre escolas;
e) promover e apoiar projectos de alfabetização e outras iniciativas que visam
a educação de base;
f) proporcionar aos seus membros a formação cultural, social e profissional.
O MOMIP exercerá as suas actividades orientando-se pelos princípios definidos
na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Doutrina Social e Moral
Cristãs, segundo a espiritualidade e apoio dos Missionários do Espírito Santo.
O MOMIP tem três categorias de membros, correspondendo ao nível de
empenhamento e dedicação às suas actividades:
860
Adélio TORRES NEIVA
a) membros colaboradores;
b) membros efectivos, que têm de ser, ou ter sido, educadores ou professores;
c) membros honorários.
Os membros colaboradores são aqueles que aceitam participar no todo ou em
parte, nos objectivos do MOMIP.
São membros honorários aqueles que pelo seu saber e dedicação colaboram
com os objectivos do MOMIP, mas cuja actividade não lhes permite uma
participação total.
Como todas as associações o MOMIP tem os seus órgãos sociais que são: a
Assembleia Geral, a Direcção e o Conselho Fiscal.
A direcção é constituída por um Presidente, um Vice-Presidente, um
Secretário, um Tesoureiro, um Vogal, tendo a presença, sem direito de voto, do
Conselheiro Espiritual.
O MOMIP está ligado à Congregação do Espírito Santo, sendo o seu
Conselheiro Espiritual nomeado pelo Provincial dos Missionários do Espírito
Santo que aconselha, orienta e apoia o Movimento.
O MOMIP procurará estabelecer delegações regionais. O seu regulamento
interno, aprovado em Assembleia Geral, regulará o funcionamento dos serviços
nacionais e das delegações regionais.
Todos ao anos o MOMIP organiza um Grande Encontro a nível nacional, um
ano dentro do país e outro ano fora e, ao longo do ano, promove vários
encontros regionais.
A Conferência Episcopal Portuguesa aprovou os seus estatutos a 1 de Julho de
2003.
861
Capítulo 94
Os Antigos Alunos
J
á em 1894, quando começou a haver alunos do Colégio do Espírito Santo,
já formados por escolas posteriores, se começou a pensar em criar uma
Associação dos Antigos Alunos do Colégio. Na reunião do Conselho
Provincial de 30 de Setembro de 1894 foi ventilada a questão de uma Associação
dos Antigos Alunos dos Colégios, como já existia em alguns colégios da França.
Nessa altura foi decidido estudar melhor a questão, pois seria uma boa altura
para essa fundação, a data das Bodas de Prata do Colégio que se iriam celebrar
em 1897.
Em Março de 1898, no mesmo Conselho Provincial, foi decidido fundar esta
associação: dever-se-ia procurar entre os antigos alunos uma pessoa de influência
marcante, para presidir a ela; criaria um gabinete e organizaria uma reunião todos
os anos.
De facto, durante a vigência do Colégio realizaram-se as duas primeiras
reuniões destes alunos. A ideia tinha surgido antes, mas só agora se concretizou.
Foi a 20 de Junho de 1909 que se realizou no Colégio do Espírito Santo, a
primeira Reunião dos Antigos Alunos deste Colégio. A Eucaristia comemorativa
foi celebrada pelo cónego Luís da Cunha Brandão, antigo aluno do Colégio,
acolitado pelo Barão de S. Lázaro, Fernando Raio de Carvalho, também antigo
aluno. À bênção do Santíssimo Sacramento, que era sempre um dos momentos
mais emotivos da festa, acolitaram os antigos alunos PP. António Ribeiro Teles
e José Terças
Nesse dia ficou decidido criar uma Associação dos Antigos Alunos, tendo o
antigo aluno Dr. Alberto Pinheiro Torres explicado os fins desta Associação. Era
seu objectivo estreitar a união entre os antigos alunos do Colégio, criar uma
receita para um prémio anual para os actuais alunos e subsidiar a formação de um
dos filhos dos antigos alunos que carecessem dessa ajuda. Esse prémio, por
sugestão deles, teria o nome do fundador do colégio “P. Eigenmann”.
A comissão para elaborar os estatutos desta Associação ficou constituída pelo
director do Colégio, pelo Dr. Carlos de Almeida Braga, o Dr. Alberto Pinheiro
Torres e o Visconde de Paço de Nespereira, que viria a ser governador civil de Braga.
A comissão para angariar meios seria formada pelo Barão de S. Lázaro, o Dr.
Alberto Carlos Meneses, D. José de Lencastre e Inácio de Augusto Cerqueira.
Os antigos alunos que estiveram presentes neste primeiro encontro foram 250.
A segunda reunião, desta vez menos numerosa, até porque se deu num dia de
muita invernia, foi a 5 de Junho de 1910 e reuniu 140 ex-alunos. Presidiu à
862
Adélio TORRES NEIVA
Eucaristia o antigo aluno P. António Ribeiro Teles, professor no Seminário
Apostólico da Formiga.
Foi entregue pela primeira vez, o prémio “Eigenmann” a quatro alunos do
Colégio, ficando, por proposta da comissão, as medalhas em exposição no
Colégio. Foi também decidido dar um subsídio aos alunos menos remediados
com o nome de “Prémio Hossenlopp”.
A terceira reunião, no tempo da existência do Colégio, que deveria ser no ano
seguinte, já se não realizou por o Colégio ter sido suprimido pelo Governo da
República em 1910.
O P. Pinho e os Antigos Alunos
Quando o P. Pinho chegou a Portugal em 1919 teve a grande consolação de
verificar que os colégios continuavam a viver no coração de muitas gerações de
antigos alunos.
A esperança de os poder restaurar tinha desaparecido pois não havia a
indispensável liberdade nem se podia dispor de pessoal para os orientar. Mas
entre os antigos alunos, a Congregação não tinha morrido por completo.
Quando se começou a espalhar a notícia de que havia espiritanos em Braga, a
Quinta do Charqueiro começou a ser visitada e alguns, nomeadamente D. José
de Lencastre, Dr. Pinheiro Torres e vários médicos e padres, antigos alunos, por
ali passaram várias vezes.
Por fim, surgiu a ideia de se reunirem para restabelecer contactos e reviver
tempos passados. A primeira reunião, organizada pelo P. Miguel Fonseca, teve
lugar a 19 de Agosto de 1923, presidindo à Eucaristia o bispo de Leiria, D. José
Correia da Silva, antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, sendo o almoço de
confraternização num hotel do Bom Jesus.
A partir daí, essa reunião passou a fazer-se anualmente. Essas reuniões eram
um momento forte de alegria, cordialidade, entusiasmo e saudade. Os que não
podiam comparecer enviavam expressivas mensagens e telegramas que bem
denotavam a comunhão de sentimentos. Alunos houve que desde a primeira hora
se puseram à disposição da Congregação, como o D. José de Lencastre, outros
que ofereceram, enquanto tiveram forças para o fazer, o contributo gratuito das
aulas de sua especialidades, como o Capitão Monteiro Pinto, e outros com a sua
assistência médica permanente ao seminário, como os Drs. Jerónimo Louro e
Ramalho. Os seminários da Congregação para vários deles, tornaram-se casas de
visita obrigatória e frequente. Estes antigos alunos tiveram um papel de muita
importância no relançamento da Congregação, pois foram uma frente de apoio
decisiva em não poucas conjunturas.
Nessa altura em 1923 fundou-se a “União dos Antigos Alunos dos Colégios
do Espírito Santo”, ficando a seu director o P. Fonseca. Em 1937 a União
passaria para a Província.
Em 1924, a 25 de Maio, a reunião foi no mosteiro de Tibães, tendo presidido à
Eucaristia o antigo aluno D. José Correia da Silva, bispo de Leiria e sendo o
Os Antigos Alunos
863
almoço servido na Sala do Capítulo do mosteiro. Receberam-se mensagens,
entre outros dos PP. Blériot, Kempf e Girollet.
Na reunião de 1939 foram homenageados D. Moisés Alves de Pinho, o P.
Fonseca e o P. Blériot, recentemente falecido.
As reuniões faziam-se todos os anos, no Seminário do Fraião, em geral na festa
da Santíssima Trindade. Era um dia intensamente festivo onde não faltavam os
discursos, a reunião de confraternização, a fotografia da praxe, e a renovação do
apoio material que davam à Congregação. O número, ao princípio com cerca de
duas centenas, foi diminuindo à medida que o número dos falecidos ia crescendo.
Em 1968 a reunião era já feita em conjunto com os Antigos da Formiga.
Depois da morte do P. Miguel Fonseca, a relíquia sempre festejada e venerada
do Colégio, assumiu a direcção da União o P. António Teles e depois da morte
deste o Superior do Fraião, primeiro o P. Manuel Meira e depois os superiores
sucessivos.
Os “Antigos da Formiga”
Em 1925, no dia 5 de Outubro, precisamente 15 anos após a proclamação da
República, reuniram-se pela primeira vez, na Formiga, os antigos escolásticos do
Seminário Apostólico da Formiga; compareceram 25.
A segunda reunião realizou-se no mesmo Colégio, no ano seguinte, também
no dia 5 de Outubro e a ela compareceram 20 formicenses.
Quando tudo fazia prever que estas reuniões se tornassem anuais, para maior
incremento das relações entre os antigos alunos da Formiga, ficou a terceira
reunião marcada para 1931 e nela compareceram apenas 17 pessoas.
No ano de 1945, 14 anos depois, é que teve lugar a quarta reunião, sempre na
Formiga e no dia 5 de Outubro, estando presentes 16 formicenses e dois
espiritanos: o provincial de então P. José Pereira de Oliveira e o P. Aníbal
Rebelo.
Andavam as coisas neste pé, quando no verão de 1952, o dr. Joaquim Caetano
Pinto, ausente do país durante muitos anos, encontrando-se com o Sr. Antómio
Martins Correia lhe perguntou pelas reuniões. Da conversa ficou resolvido
nomear-se uma comissão para organizar estas reuniões e promover uma reunião
imediata “que servisse de base a uma nova era de ressurgimento nas relações
entre os antigos formicenses”, com reuniões se não anuais, pelo menos muito
frequentes.
A reunião efectuou-se a 1 de Dezembro de 1952, na Formiga, tendo
comparecido a ela 16 antigos. E a partir daí as reuniões tornaram-se anuais.
Em 1953 houve já 29 presenças, incluindo três espiritanos não formicenses: o
P. Olavo Teixeira, provincial, o P. João Pinto da Silva, superior do Seminário do
Fraião e o P. José Felício, director da Acção Missionária. Nesta reunião foi
lançada a ideia da fundação de uma Bolsa de Estudos, cujos estatutos foram
aprovados na reunião do ano seguinte.
Em 1954 compareceram 27, tendo a data passado de 5 de Outubro para o 10 de
864
Adélio TORRES NEIVA
Junho. Nesta reunião foi decidido publicar um pequeno boletim “Antigos da
Formiga”, de que chegaram a sair 10 números. Houve a sugestão de associar aos
Antigos da Formiga os antigos alunos dos seminários do Espírito Santo,
posteriores à restauração de 1919.
Em 1955, compareceram 33 e em 1956, excepcionalmente a reunião realizou-se
no Seminário do Fraião, por serem as Bodas de Oiro sacerdotais de três Antigos
da Formiga: PP. José Maria Figueiredo, José Finck e Lúcio Casimiro dos Anjos.
Em 1958 realizou-se no Seminário da Torre da Aguilha a primeira reunião dos
ASES (Antigos Alunos dos Semanários do Espírito Santo), onde esteve uma
representação dos Antigos da Formiga. A segunda reunião, no ano seguinte,
seria já no Fraião.
Na reunião de 1959, estiveram nove espiritanos, todos eles Antigos da
Formiga, excepção feita ao P. António Meira: PP. José Maria Figueiredo,
Jerónimo Ferreira, José Rodrigues Cosme, Joaquim Correia de Castro, Isalino
José Alves Gomes, e Clemente Pereira da Silva.
Em 1951 começaram a participar na reunião também as senhoras, pelo que ficou
instituída a Família dos Antigos da Formiga, tendo comparecido 30 pessoas.
Em1955 foi nomeado para secretário dos Antigos da Formiga o P. Joaquim
Correia de Castro.
Os A . S . E. S
Foi no ano de 1938 que o P. Fernando Moreira, depois de ter despedido um
dos seus seminaristas, preocupado com o futuro daquele jovem e de muitos
outros que frequentavam o seminário mas que eram despedidos por neles se não
vislumbrar vocação para o sacerdócio, chamou o Dr. Manuel Teixeira e deu-lhe
conta dessa preocupação. Desta confidência, os dois logo pensaram em fazer
uma “União dos Antigos Seminaristas”. Existia já a “União dos Antigos
Seminaristas da Formiga”, restrita ao Seminário da Formiga. O P. Fernando
Moreira pretendia abarcar todos os antigos seminaristas da Congregação em
Portugal.
Foi assim que, o P. Fernando Moreira fundou e dirigiu o jornal “União” onde
difundia o convite dirigido a todos os antigos seminaristas para se unirem e
tornarem cooperadores dos Missionários do Espírito Santo nas obras que lhe são
próprias e características. Mais tarde, em 1985, criariam uma Associação com
Estatutos e quadro jurídico.
União dos Antigos Alunos dos Seminários do Espírito Santo
Desde que os Antigos Alunos da Formiga, em 1952 começaram a ter as suas
reuniões anuais, foi objecto de constante estudo e consulta o plano de aproximar
os “antigos” dos modernos seminários do Espírito Santo, isto é, todos os que
frequentaram seminários do Espírito Santo após a restauração da Província em
1919. A ideia esteve a ponto de se concretizar em 1954, graças ao entusiasmo do
Os Antigos Alunos
865
“antigo” do Fraião, António Fernando Correia Pinto, coadjuvado pelo seu
primo Joaquim Caetano Pinto, da Comissão da “União dos Antigos da
Formiga”. A ida desse fraionense para Angola transtornou por então o plano de
uma reunião mista dos antigos dos modernos seminários com os antigos da
Formiga, mas não a ideia, que
continuou sempre de pé.
A junção de todos os antigos de
todos os seminários do Espírito
Santo era aliás uma questão vital
para ao “Antigos da Formiga”.
Este fechou com o 5 de Outubro,
estancando-se assim a fonte de
perpetuidade para os formicenses,
que de ano para ano viam rarear as
suas fileiras. E se eles até agora não
Reunião de Antigos Alunos, com o Superior Geral.
tinham levado a cabo a sua
aproximação entre os representantes dos dois ciclos históricos – monarquia e
república – isso ficou-se a dever apenas à extraordinária vitalidade e espírito de
união dos “Antigos da Formiga”, que à distância de meio século e apenas com
algumas dezenas de sobreviventes, têm apresentado reuniões com frequência que
rondam pela casa dos 30.
Coube ao ano de 1958, registar, finalmente, na Torre da Aguilha, no dia 27 de
Julho, a primeira Reunião dos Antigos dos Seminários do Espírito Santo, graças
principalmente à acção do Dr. Manuel Teixeira. Nesta primeira reunião ficou
resolvido entre outras coisas, o seguinte:
a) O agrupamento toma o nome de “União dos Antigos Alunos dos
Seminários do Espírito Santo”
b) A próxima reunião efectuar-se-á no Fraião, no dia 16 de Agosto de 1959.
c) Foi indigitado o P. Fernando Moreira para delegado da Congregação junto
da União.
d) Foi nomeada uma Comissão para elaborar os Estatutos da União.
e) Foram nomeadas duas Comissões executivas, uma para o Norte outra para o Sul.
f) Ficou resolvido haver anualmente uma reunião, em local a designar de
reunião para reunião.
g) A “Acção Missionária” será o órgão oficial da União.
A União ficou a ser denominada “Uni-Ases”, com o seu jornal, encontros e
reuniões periódicas nos diversos centros regionais e magna assembleia anual no
Seminário do Fraião, na Festa da Santíssima Trindade.
No Boletim de 1962 aparecem os princípios orientadores da Associação que se
resumem no seguinte:
Natureza: Uma Associação de carácter moral que congrega todos os alunos dos
seminários do Espírito Santo que não completaram a carreira eclesiástica e os que
a completaram ou ficaram fora da Congregação.
Fins e Meios:
866
Adélio TORRES NEIVA
1. Reavivar o espírito de camaradagem criado no tempo do seminário;
2. Manter e desenvolver o espírito missionário, segundo o ideal da
Congregação.
3. Promover em todos os membros da União o sentido do reconhecimento
devido à Congregação do Espírito Santo, tornando-o efectivo, cada um no seu
campo de acção e possibilidades.
4. Prestar assistência moral e material, esta quando necessária e possível, aos
colegas que dela careçam.
A 28 de Outubro de 1985 os “ASES” Manuel Ribeiro Soares, Timóteo Jorge
Moreira, Diamantino dos Santos Oliveira, José Maria de Seabra Marques,
Manuel Alves Moreira da Costa, Manuel Francisco de Sousa e António
Monteiro constituíram no Cartório Notarial de Paredes, perante o notário João
Enes Gonçalves, a associação denominada “União dos Antigos Alunos do
Espírito Santo”, que se regerá pelos Estatutos que então foram aprovados e
depois corrigidos pela Assembleia dos Ases.
Junto da União há um sacerdote, delegado da Congregação.
De 1960 a 1965 figura o P. Fernando Moreira como assistente da Congregação
junto dos antigos seminaristas. Depois, a maioria dos antigos, contra a opinião
do P. Moreira, decidiu dar um quadro jurídico à União, criando uma Associação,
com os respectivos estatutos.
Foi nomeado assistente da Associação o director das Vocações, P. José Lapa
desde 1965 a 1973. O P. Abel Moreira Dias foi o assistente seguinte até 1984.
Seguidamente veio o P. João Carreira Mónico e o P. António Farias Antunes.
Seguiu-se depois o P. Jorge Veríssimo até 1998, data em que foi nomeado o P.
José Reis Gaspar. Em 2002, foi nomeado como segundo assistente,
especialmente para a zona norte, o P. Mário Silva. Todos estes assistentes
procuraram dinamizar e manter viva a preocupação missionária nos antigos
escolásticos e acarinhar a sua presença e a sua memória na Família Espiritana.
A colaboração dos ASES tem sido sobretudo de apoio à Congregação, seja
pela fundação de Bolsas de estudo, seja por apoio profissional, seja sobretudo
pela amizade e dedicação que continuam a consagrar à Congregação. Tanto o
grande encontro anual do Fraião como as reuniões regionais são sempre um
momento forte de comunhão, amizade e saudade.
O órgão que os une começou por se chamar “União dos ASES” aparecido em
forma de Boletim em 1961; depois em 1974 passou a chamar-se só UNIÃO.
Finalmente o seu último nome, que ainda vigora, é “Uniases”.
867
Capítulo 95
Serviço de Solidariedade Espiritana com
Angola (SES)
P. Casimiro Pinto de Oliveira
D
urante a realização do V Capítulo Provincial, na Torre da Aguilha, de
15 a 29 de Julho de 1990, quando se examinava a difícil situação em que
viviam os confrades em Angola, em estado de guerra, um dos seus
delegados, o Padre Joaquim Maria Mendes, lançou o apelo para uma maior ajuda
aos Espiritanos em Angola, mormente carenciados de alimentos, salientando
também a miséria do povo e pedindo, especialmente, vestuário para os que mais
colaboravam com os missionários, concretamente os catequistas.
Até então a Província não dispunha de um serviço organizado de apoio
alimentar aos missionários; algo se ia enviando tanto pela Procuradoria das
Missões como pelo novo movimento Jovens Sem Fronteiras: em alimentos,
vestuário, material escolar, artigos de enfermagem, etc.
Os Espiritanos portugueses sentiam profundamente os problemas de Angola,
até porque muitos deles lá haviam trabalhado; e os amigos e colaboradores dos
Espiritanos, principalmente os liamistas, iam-se consciencializando para ajudar
os missionários numa Angola em guerra.
Pareceu assim oportuno e mesmo necessário dotar a Província de um
instrumento de serviço aos missionários, para além do que já fazia a
Procuradoria.
Após maduro exame, o Capítulo fez as seguintes propostas:
“Crie-se um SERVIÇO DE SOLIDARIEDADE que intensifique e coordene as
acções promovidas neste âmbito, ao nível das Comunidades, da Animação
Missionária e da Procuradoria.”
“O Conselho Provincial dê os passos necessários para criar este serviço de
coordenação, conseguindo, na medida do possível, pessoas e meios indispensáveis
para esse fim. A Procuradoria fica responsável pelo envio.”
“Como gesto de solidariedade efectiva, apoie-se a geminação entre grupos de
animação missionária ou paróquias com obras, projectos ou comunidades nas
circunscrições missionárias.”
“Que toda a Província assuma como uma das suas prioridades a procura de uma
resposta concreta e efectiva às situações mais urgentes, como a que Angola está a
viver.”
“Que cada comunidade, no seu projecto comunitário, tenha em atenção esta
868
Adélio TORRES NEIVA
preocupação de comunhão e solidariedade com os confrades em situações mais
difíceis, estabelecendo inclusivamente gestos concretos de partilha.”
“Que se encorajem e intensifiquem as iniciativas tomadas ao nível da Animação
Missionária e da nossa imprensa, para fazer participar as nossas comunidades cristãs
e particularmente os leigos que connosco colaboram, nesta prática da solidariedade
missionária.”476
Estavam dados os passos necessários para o nascimento da Solidariedade
Espiritana com Angola.
Nos primeiros anos, a ajuda, enviada em contentores, era constituída mais por
roupas, tecidos, calçado e material escolar do que por alimentação e outros
artigos. Com o passar dos anos, foram-se fazendo alterações, de acordo com as
necessidades e os apelos dos missionários; a primazia passou para os produtos
alimentares, em especial o leite, tendo em atenção a fome tanto dos missionários
como das populações e, principalmente, das crianças.
Ao longo de treze anos sentiu-se bem o empenho dos espiritanos; por seu lado
a administração provincial, na fase inicial, concedeu avultadas verbas; mas é de
justiça salientar que de longe a maior contribuição se deve ao generoso
contributo, em géneros e em dinheiro, de uma grande rede de liamistas,
benfeitores e amigos. Por seu lado a imprensa espiritana tem sido grande
dinamizadora de uma cadeia de solidariedade.
De l de Novembro de 1990 até 31 de Dezembro de 2003, foi enviado o
seguinte:
Leite, arroz, açúcar, feijão, massas, farinha de trigo
(421.891,00) Kgs;
Sal de cozinha
(1.500,00) Kgs;
Chouriço e Salsichas
(71.382,50) Kgs;
Óleo alimentar
(33.861,00) Lit.;
Sabão em barra.
(68.855,00) Kgs;
Artigos de enfermagem e remédios, incluindo um aparelho de Raio X, uma
mesa de operações e um aparelho de radioscopia
(9.085,00) Kgs;
Bicicletes, incluindo algumas motorizadas, para Catequistas
(239) Unid.;
Roupas novas e usadas, tecidos e cobertores (constata-se um envio crescente
de roupas novas)
(669.230,00) Kgs;
Calçado novo e usado
(21.935,00) Kgs;
Máquinas de costura e de tricotar
(26) Unid.;
Material escolar, livros, um duplicador e Bíblias
(23.265,00) Kgs;
Móveis: camas, colchões, secretárias, cadeiras, armários,
portas, estantes, etc
(15.490,00) Kgs;
Diversos materiais de construção
(1.590,00) Kgs;
Gerador eléctrico
(1) Unid.;
Brinquedos para crianças.
(917,00) Kgs;
Artigos de desporto
(230,00) Kgs;
476
Documentos Capitulares. II Vol. Nºs 772-577
Serviço de Solidariedade Espiritana com Angola (SES)
Diversos artigos religiosos
Pneus com jantes
Artigos variados
869
(242,00) Kgs;
(9) Unid.
(1.241,00) Kgs;
Este movimento de solidariedade espiritana com Angola, num total de 67.416
volumes, 4.309,35 metros cúbicos e 1.346.953,50 kg de peso, insere-se numa
estrutura mais vasta que se constituiu e se tem afirmado nos últimos anos como
o Serviço Espiritano de Solidariedade (SES).
A Província Portuguesa disponibiliza anualmente grandes contributos
monetários para, através de instâncias espiritanas internacionais, colaborar na
Solidariedade de toda a Congregação no mundo. Aos seus membros em
actividade missionária e para seus trabalhos vai concedendo valiosas ajudas. Por
outro lado empenha-se em fomentar, mormente através da sua imprensa
missionária, a colaboração do povo cristão e dos amigos para com os
missionários e seus projectos; e, felizmente, tem havido uma grande
correspondência. Existem muitos donativos vindos para missionários
individualizados.
Nestes últimos anos foram lançadas campanhas de fundos para o
financiamento de projectos, sempre bem sucedidas; pela sua importância e
significado salientam-se: ajuda aos missionários da Guiné-Bissau em fase aguda
de guerra e desorganização do país; constituição de uma reserva para futura
construção de uma Igreja em Caió, na Guiné-Bissau; a construção de numerosas
escolas em Netia, Moçambique; apoio à construção da nova missão espiritana de
Itoculo em Moçambique; a maternidade de Kalandula em Angola; o Centro
Pastoral da Calheta de S. Miguel na ilha de Santiago em Cabo Verde.
Desde 1999 a Província Portuguesa concede uma ajuda muito especial para o
funcionamento dos seminários espiritanos em Angola.
Apoio material aos seminários espiritanos de Angola
Nos terríveis anos de crise e profundas carências durante a guerra em Angola,
a alimentação dos seminaristas constituiu um dificílimo problema.
Dos alimentos enviados pela Província Portuguesa, no âmbito da Solidariedade
espiritana, a Procuradoria de Luanda retirava uma parte para os Seminários; mas
não era uma ajuda programada. Numa das suas passagens por Lisboa, no verão
de 1999, o Ecónomo provincial espiritano de Angola, Padre Manuel Teixeira
José, formulou o pedido de a Província Portuguesa fornecer uma parte
substancial da alimentação necessária.
Com o Procurador das Missões, Padre Casimiro Pinto de Oliveira, fez-se um
estudo das necessidades para o ano escolar de 1999-2000, a partir do número de
alunos, professores e pessoal em serviço nos Seminários.
O pedido referia-se apenas a esse ano; mas a continuação das dificuldades em
Angola levou a que a ajuda se tenha efectuado até à presente data. Os envios têm
870
Adélio TORRES NEIVA
sido realizados para os portos de Luanda e Lobito, em contentores, de acordo
com a indicação de Luanda e a localização dos Seminários; e sempre com a
marcação do que se destina a cada um deles.
871
Capítulo 96
Voluntariado Missionário Espiritano
P. José Costa
F
oi no Capítulo Provincial de 1984 que os espiritanos começaram a falar
do laicado missionário, entendido no seu aspecto de voluntariado. “O
Provincial e seu conselho julgarão da possibilidade e oportunidade, em
pessoas e meios, de efectivar o lançamento do Laicado Missionário. Esta iniciativa
será proposta a outros Institutos Missionários”477. No Capítulo Provincial de 1990
retoma-se o tema mas como decisão assumida: “Confie-se a um confrade o
lançamento do Voluntariado Missionário quanto possível em colaboração com os
IMAG e o desenvolvimento da cooperação dos associados”478.
A fim de organizar este novo sector da nossa Animação Missionária, o
Conselho Provincial incumbiu o P. Arlindo Areia Amaro de elaborar um plano
de acção ou projecto para lhe ser apresentado em Fevereiro de 1992, após ter
recebido algumas sugestões, num Conselho de Animação Missionária. Na
assembleia da Páscoa daquele ano, o projecto do Voluntariado foi estudado pelos
confrades que nela participaram, recebendo retoques e achegas. Nesta altura foi
nomeada uma comissão para dar forma definitiva ao texto do projecto, tendo em
conta todas as sugestões apresentadas. O texto foi finalmente aprovado no
Conselho Provincial de Outubro de 1992. A fim de colaborar com o P. Arlindo,
e principalmente para acolher os candidatos ao voluntariado, vindos do Sul do
país, foi nomeado o P. Manuel Durães Barbosa.
No intuito de tornar o projecto extensivo a todos os Institutos Missionários, o
Provincial Espiritano, P. José de Castro Oliveira, na reunião dos IMAG (Institutos
Missionários Ad Gentes) em 6 de Maio de 1991, fez a proposta a todos os
superiores maiores como se lê na acta dessa reunião: “...O P. Castro informa que a
Congregação do Espírito Santo nomeou um padre e disponibilizou uma casa em Braga
para a formação de um laicado missionário. Não se trata de uma iniciativa dos
Espiritanos, mas de todos os Institutos Missionários. Para realizar este projecto que tem
de dar passos e alargar horizontes, é preciso constituir uma equipe ligada à animação
missionária. Foi avançada a ideia de criar um centro de formação para leigos e sua
colocação. Foi pedido ao P. Castro para enviar uma circular aos Institutos
Missionários explicitando o projecto, visto não estar ainda claro para todos”479.
477
478
479
Documentos Capitulares n.º 478.
Documentos Capitulares n.º 601.
JMAG, Acta n.º 14.
872
Adélio TORRES NEIVA
Como se tornava indispensável uma consulta aos respectivos Conselhos
Provinciais, a decisão ficou adiada para a próxima reunião de 1992. O que então
ficou decidido foi exarado em acta do seguinte modo: “P. Castro comunica que o
projecto que têm para a formação dos leigos missionários, pensado inicialmente para ser
um projecto comum, é levado à frente, por enquanto, pelos Espiritanos. Fizeram já os
estatutos onde vem contemplado o acolhimento, a preparação e o envio”480.
Os Institutos Missionários estavam de acordo em lançar tal movimento a nível
nacional e de forma conjunta, e todos aceitaram comprometer-se com este
projecto, mas mais nenhum tinha as condições necessárias, em pessoas e
instalações, para o levar por diante. Ficaram então os Espiritanos encarregados
de organizar e dinamizar o projecto, sendo para eles encaminhados todos os
candidatos que se fossem apresentando.
Os ESTATUTOS, depois de apresentarem a fundamentação teológica do
laicado missionário, tinham no seu capítulo II, os objectivos, as condições
exigidas, a proposta do caminho de formação. Assim se definia: “O
VOLUNTARIADO MISSIONÁRIO ESPIRITANO é um sector da Animação
Missionária da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo,
constituído por homens e mulheres que desejam solidarizar-se com os mais pobres e
desfavorecidos, aceitando colaborar gratuitamente num projecto missionário, por
um tempo determinado”. Este projecto seria coordenado por um responsável
provincial do sector. Tinha como objectivos:
A) – Por parte da Província: “formar leigos conscientes e responsáveis para a
missão ‘Ad Gentes’; prepará-los para a missão e acompanhá-los durante a sua
prestação de serviço missionário; integrá-los, como animadores missionários na
Igreja de origem”.
B) – Por parte dos voluntários: “Ser uma presença testemunhante de fé;
solidarizar-se com os mais pobres; oferecer um serviço a uma Igreja em terras de
Missão; enriquecer-se com os valores de outras culturas e o dinamismo de outras
Igrejas; colaborar com os missionários Espiritanos, partilhando também a sua
espiritualidade”.
As condições exigidas aos candidatos eram as seguintes:
“Ter 20 anos como idade mínima; ter saúde física e psíquica para suportar o clima
e as circunstâncias adversas; ser católico de fé amadurecida; ter motivação
evangélica; ter aptidão julgada necessária para a tarefa profissional ou de
evangelização que vai realizar; se for casado, que o seu cônjugue o acompanhe e
comungue do mesmo ideal; não ter pessoas a seu encargo, no caso de trabalho
missionário fora do seu país”.
Ao voluntário exigia-se ainda: “ter dado provas de leigo comprometido numa
comunidade eclesial; aceitar o programa de formação que for julgado necessário, antes
de partir; assumir um compromisso por tempo determinado, nunca inferior a um ano;
capacidade de escuta e diálogo com outras culturas; disposição de colaborar com os
missionários e de se integrar na comunidade eclesial do lugar onde vai residir; não
480
Acta n.º 17.
Voluntariado Missionário Espiritano
873
casar, no período de compromisso, a não ser que o missionário coordenador não veja
nisso qualquer obstáculo”.
Sobre a formação a ministrar ao candidato, os Estatutos são também bastante
precisos. Depois de aconselharem uma formação a longo prazo, em que o
candidato deveria frequentar cursos de formação Bíblica e Catequética e de
dinâmicas de grupo, os Estatutos prevêem uma preparação próxima. Como
propostas de cursos mais voltados para a missão:
“Introdução à Eclesiologia e Teologia da Missão; Introdução à História do país
em que vai trabalhar; conhecimento da história, situação e necessidades da Igreja
local que vai servir”.
Os Estatutos definem as relações do Voluntário com a Igreja de acolhimento
do seguinte modo:
“- A partida do voluntário só poderá efectuar-se para zonas onde esteja organizada
uma estrutura de acolhimento:
Uma comunidade missionária onde o voluntário se insira, que lhe dê apoio
espiritual e lhe ofereça um convívio fraterno;
Um coordenador nomeado pela circunscrição onde ele vai trabalhar,
disponível para o apoiar e orientar de modo permanente.
- O serviço do voluntário pode ser pedido quer pelos missionários quer pelos
agentes de pastoral da Igreja local, mas sempre com conhecimento e anuência do
Bispo da Diocese.
- A oferta ou pedido de trabalho missionário deve estar de acordo com o desejo
ou proposta do voluntário e do responsável espiritano que o envia.
- O responsável espiritano do voluntariado estabelecerá diálogo com o bispo e a
comunidade de acolhimento, dando-lhe a conhecer as características e possibilidades
do voluntário; a sua relação com a Congregação; o apoio de que necessita.
- Os compromissos assumidos pelas diferentes partes devem ficar escritos.
- O responsável provincial manter-se-á em contacto com o Bispo da Diocese, a
comunidade de acolhimento, o Coordenador nas Missões e o Voluntário.
- A comunidade de acolhimento deve velar para que os compromissos assumidos
sejam cumpridos por ambas as partes.
As relações entre o voluntário e a Província eram definidas por um contrato no
qual constava a duração do serviço missionário e outros elementos importantes
tais como: “Quem paga as viagens de ida e de volta; qual o trabalho profissional ou
apostólico que vai realizar; quais os meios financeiros que asseguram o seu sustento,
a sua saúde e o exercício do seu trabalho apostólico; onde vai viver e trabalhar; que
seguro o apoiará em caso de invalidez; que apoio receberá a quando do regresso, caso
não encontre trabalho nos primeiros seis meses”.
Com a finalidade de pôr em acção o projecto do voluntariado, a Província
Portuguesa nomeou uma equipa com um responsável a tempo pleno. Foi-lhe
confiada a seguinte tarefa:
“Despertar e cultivar a vocação laical missionária; organizar programas de
preparação para os candidatos voluntários; procurar e preparar locais de vida e
trabalho para os leigos que desejem integrar-se no voluntariado, através de contactos
874
Adélio TORRES NEIVA
com os Bispos e Superiores dos Distritos e Províncias e de visitas aos países de
missão; combinar com cada candidato o seu programa de preparação: manter
contacto com os leigos que são enviados e suas famílias e com os coordenadores nas
missões; ter os contactos necessários com a Igreja local e a comunidade espiritana das
zonas onde os voluntários prestam serviço; estabelecer e manter contactos com
outras Províncias espiritanas que fazem idênticas experiências; desenvolver
contactos com outros Institutos Missionários que estejam empenhados num projecto
do mesmo género, no sentido de dar e receber informações e ajudarem-se
mutuamente”.
A Província apoiou financeiramente o projecto sugerindo que se buscassem as
ajudas financeiras necessárias nos organismos nacionais e internacionais para
que, à medida que se fosse expandindo, ele caminhasse para a sua autonomia
financeira.
O P. Arlindo Areia Amaro, confrade escolhido pelo Conselho Provincial para
o lançamento e organização do Voluntariado, procurou, como lhe foi pedido,
trabalhar em conjunto com os outros Institutos Missionários. Começou por
divulgar o projecto com um atraente desdobrável, apresentando-o como uma
nova forma de viver a missão, pôs as condições para dele se fazer parte, iniciou a
formação do primeiro grupo, pôs-se em contacto com os Bispos de Angola e
com vários missionários espiritanos espalhados pelo mundo a quem poderia
interessar este projecto. Em 1993 eram vinte os que participavam nas etapas de
formação e doze candidatos eram dados como aptos a partir. A situação de
guerra que de novo se reacendera em Angola, país onde os voluntários seriam
mais úteis, não favorecia o envio. As comunicações eram lentas, os contactos
difíceis, e o envio poderia ser um risco. Até 1994 nenhum candidato tinha
partido.
Em 1994 o P. José de Castro Oliveira, assumiu a responsabilidade do
Voluntariado e mudou a sua sede para o Fraião. Dada a impaciência de alguns e
depois de uma viagem a Angola para verificar “in loco” as reais necessidades e
possibilidades, começou a preparar-se a primeira equipe para partir, já com um
destino definido. Em 1996, partiram as primeiras voluntárias Maria Celeste Pina
dos Reis e Laura Maria Marques Rodrigues Casimiro, por dois anos, para a diocese
do Lubango para trabalharem na escola do ICRA; no ano seguinte, seguiu-se o
Nelson Ramalhoto para a mesma escola e o Asdrúbal Carvalho para o Sêndi; em
Julho de 1999 partiu o Dr. João Nascimento para a diocese de Menongue.
Por seu lado, a Associação Sol Sem Fronteiras também preparava e enviava alguns
Jovens Sem Fronteiras. Malange (Angola), Caió (Guiné), Ribeira Afonso (S.
Tomé), Calheta (Cabo Verde) foram alguns dos destinos de trabalho destes jovens.
O dispêndio de muitas energias e a sensação de um trabalho paralelo fez nascer
a necessidade de uma colaboração maior com a ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’ com
a qual se formalizou um protocolo de colaboração nos seguintes termos:
“Atendendo a que a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo,
através do Voluntariado Missionário Espiritano (VME), acolhe e garante a
preparação, envio e acompanhamento de Leigos(as) que querem partir em missão
Voluntariado Missionário Espiritano
875
por dois ou mais anos, segundo o carisma espiritano;
atendendo a que a ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’ nascida do sector juvenil da
Animação Missionária Espiritana, os Jovens Sem Fronteiras, tem como objectivo
principal apoiar o desenvolvimento dos povos, através de projectos de solidariedade;
atendendo a que os Leigos(as) Missionários(as) Espiritanos(as) para além da
pastoral, se comprometem em projectos nas áreas da saúde, do ensino e de outros
pólos de desenvolvimento dos povos;
A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo e a ONGD ‘Sol Sem
Fronteiras’ celebram este protocolo:
A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo coordena a inscrição,
acolhimento inicial, formação, a escolha de projectos e lugares de envio, bem como
o acompanhamento dos Voluntários(as) Missionários(as).
A ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’ coordena o dossier de documentação, as
implicações burocráticas, os contactos com entidades financeiras (oficiais ou
privadas) e faz o acompanhamento específico se os(as) Voluntários(as)
Missionários(as) integram projectos em que a ONGD está envolvida.
O(a) Voluntário(a) Missionário(a), após o seu regresso, decidirá, em diálogo
com a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo e a ONGD ‘Sol
Sem Fronteiras’ que tipo de vínculo gostaria de manter com estas instituições depois
da sua experiência de voluntariado missionário”.
Este protocolo com a validade de três anos foi assinado por ambas as partes em
21 de Maio do ano 2000. Assinaram pela Província os PP. Eduardo Francisco
Miranda Ferreira, provincial e José de Castro Oliveira, responsável do
Voluntariado Espiritano e pela ONGD Sandra Isabel Dias Simões, presidente da
direcção e Manuel Pereira Bento, Director Executivo.
Em Setembro de 2000 o P. José Martins da Costa assumiu a responsabilidade
do Voluntariado. Apoiando-se em todo o trabalho que a FEC (Fundação
Evangelização e Culturas) estava a realizar no sentido de coordenar a formação
para os voluntários para aí envia os leigos que se apresentavam, fazendo a
selecção segundo os critérios definidos nos Estatutos. Aos que não queriam
partir ou que só estavam disponíveis por um mês, eram apontados outros
caminhos. A Internet com o sítio Espiritano passou a ser a porta para o primeiro
contacto. Dezenas de pessoas se mostram curiosas querendo saber mais, mas
permanecem apenas aquelas que, respondendo a uma ficha de inscrição em que
estão as condições exigidas, se identificam mesmo com o projecto espiritano.
Em 2003 partiu um leigo para a Calheta de S. Miguel (Cabo Verde), e outra
para Moçambique; em Fevereiro de 2004 partiu outra para o Lubango e mais
duas partiram ao longo do ano de 2004.
Sem a estrutura de outros organismos de maior dimensão, o Voluntariado tem
dado resposta de maneira consistente aos casos que se identificam
verdadeiramente com a missão espiritana e os resultados surpreendem-nos pela
positiva. A proximidade com a comunidade religiosa no campo da missão, com
uma profunda partilha de vida, tem sido o caminho utilizado e que tem dado
frutos consoladores.
877
Capítulo 97
CEPAC - Centro Padre Alves Correia
P. Veríssimo Teles
A
década de 90 foi a maior em entradas de imigrantes em Portugal.
Portugal não soube – nem está a saber ainda – regular o fluxo
migratório. Como na Europa, a regularização do fluxo migratório é
feita pela óptica do lucro e pela restrição da lei, executada pela polícia. O valor da
pessoa humana é ignorado como que conscientemente e as causas da imigração
não acauteladas nos países de origem e o país de
acolhimento olha o imigrante como máquina de
produção.
Os Missionários do Espírito Santo, numa visão
humanista e cristã, manifestam o seu desacordo com tais
políticas de imigração e colocam no “terreno” este
centro como sinal e grito do respeito pela pessoa
humana por ser pessoa e por ser filha de Deus.
Como complemento indispensável à Capelania dos
Africanos, que é a Palavra que anuncia a Caridade, e que
os Missionários do Espírito Santo têm assistido desde os
Padre Alves Correia
começos da imigração, nasce o Centro Padre Alves
Correia como que a “caridade” incarnada para o imigrante.
O nome
O Centro tomou o nome do P. Joaquim Alves Correia, missionário espiritano,
por ele ter sido durante décadas uma voz que se fez ouvir na defesa dos direitos
humanos e dos valores da liberdade e da democracia. É conhecido pelo seu zelo
apostólico e os seus escritos fazem-no presente e actual. O Prof. Manuel Braga
da Cruz, diz: ”O P. Joaquim Alves Correia é justamente, e sem exagero, um dos
pais fundadores da democracia portuguesa em que vivemos.”481.
O P. Joaquim Alves Correia nasceu a 5 de Maio de 1886 e veio a falecer, exilado
político, nos USA, a 1 de Junho de 1951.
O CEPAC tem procurado viver na esteira do seu “patrono”. Visitar o Centro
é constatar diariamente uma luta pelos direitos humanos e pela dignidade da
481
cf. Prefácio do Livro “P. Joaquim Alves Correia” de Francisco Lopes
878
Adélio TORRES NEIVA
pessoa, não de forma académica, mas concretizada no imigrante sem
documentos, que não têm direito a casa, a cuidados de saúde e viver com a
família, e muitas vezes vítima e explorado por empregadores.
Objectivos do Centro Padre Alves Correia
O Centro aparece com o objectivo fundamental de ajudar os imigrantes a uma
integração total que lhes respeite a identidade e os faça sentir pessoas numa
sociedade que, à partida, reconhece os direitos humanos e subscreve os acordos
e leis internacionais.
Concretamente, esta ajuda de integração leva o Centro a prestar todo o apoio
documental e administrativo possível: documentação para permanência no País,
para inserção no trabalho, aquisição de alojamento, direito à saúde e educação.
Como muitos imigrantes chegam sem conhecer os seus direitos e deveres, cabe ao
Centro também esta missão. O Centro encaminha os seus utentes para as diversas
instituições civis e do Estado, onde podem resolver os seus problemas e defende-lhes os direitos. Quis também o Centro comprometer-se no apoio jurídico e de
saúde dos seus utentes. Por isso, ao longo da história do CEPAC são centenas os
“litígios” que se procuraram sanar entre imigrantes e patrões; centenas ainda as
cartas dirigidas aos departamentos a alertar para a justiça devida aos imigrantes. A
denúncia pública das injustiças, cautelosa mas afoita, tem também sido caminho
corrente na intervenção escrita, radiofónica e até televisiva; recorde-se o “caso
Vuvu” (que agitou o País) e o “Caso STL. Lda. Barrosa” de Leiria.
No concreto da vida do imigrante, o Centro está com ele, tanto quanto
possível, quando não tem papéis, quando não tem trabalho, alojamento, saúde ou
é injustiçado; quando não tem alimento ou precisa de vestuário ou de um
medicamento. O Centro, pelos seus funcionários dedicados, sabe ouvir a
“história dramática” de muitos imigrantes e requerentes de asilo.
A organização do Centro
Na sua organização, o Centro conta com dois corpos gerentes: a direcção e o
conselho fiscal. O Conselho Provincial da Congregação do Espírito Santo, não
pelos estatutos, mas pela prática, faz para o CEPAC de “Mesa da Assembleia
Geral”. A Direcção é indicada pela Província Portuguesa da Congregação do
Espírito Santo e homologada pelo Cardeal Patriarca de Lisboa. A Direcção é
constituída por um director, um tesoureiro, um secretário e dois vogais.
É da sua competência a administração dos bens e serviços do Centro, zelando
pelo seu bom funcionamento e promoção das acções necessárias à consecução
dos seus objectivos. É também da sua competência a elaboração anual de
relatórios, orçamentos e contas.
O Conselho fiscal é constituído por um presidente, um secretário e um relator,
sendo da sua competência auxiliar a direcção no desempenho das suas funções.
Em 1992, a direcção do Centro era constituída pelo P. António Ribeiro
CEPAC - Centro Padre Alves Correia
879
Laranjeira, presidente; P. Afonso Cunha Duarte, tesoureiro; Ir. Purificação
Cachada, secretária; e os Vogais P. Firmino de Sá Cachada e Sr. José Vaz
Moreira. O Conselho fiscal era composto pelos padres Marcelino Duarte Lopes,
presidente; P. Casimiro Pinto de Oliveira, secretário; e o P. Adélio Torres Neiva,
relator.
Com a data de 19 de Abril de 1995, a direcção era remodelada ficando assim
constituída: P. Veríssimo Manuel Teles; director, P. Norberto da Conceição
Cristóvão, tesoureiro; Ir. Maria da Purificação de Sá Cachada, secretária; P.
Firmino de Sá Cachada, vogal; José Vaz Moreira, vogal. Em 21 de Outubro de
1996, havia nova remodelação na direcção: o P. Veríssimo Teles continuava a
director, sendo tesoureiro o P. António Luís Farias Antunes e secretário o P.
António Manuel Santos de Sousa Neves; os vogais ficaram os senhores José Vaz
Moreira e José Maria Pérez. Em 1998, o P. Lourenço Ndjimbu ocuparia o cargo
de secretário. Nova remodelação foi feita com a data de 16 de Novembro de
2000: P. José dos Reis Gaspar, director; P. Veríssimo Teles, tesoureiro; P.
Lourenço Ndjimbu, secretário; como vogais ficaram os Srs. José Vaz Moreira e
António Leandro (entretanto falecera o Sr. José Maria Pérez). Nesta data foi
também reorganizado o conselho fiscal: P. Casimiro Pinto de Oliveira,
presidente; P. Adélio Torres Neiva, secretário; e relator P. Carlos Salgado
Ribeiro. Em Setembro de 2004, constituiu-se uma nova direcção, com o P. Mário
Faria Silva, director; P. José dos Reis Gaspar, tesoureiro; P. Gaudêncio
Sangando, secretário; mantendo-se os mesmos vogais Srs. José Vaz Moreira e
António Leandro.
No difícil trabalho de atendimento dos utentes no Centro, ficou, desde o
início da actividade do Centro, a Ir. Maria da Purificação. O atendimento era
feito diariamente de 2ª a 6ª feira, das 15 às 19 horas; ao sábado, das 09 às 12 horas;
Ao domingo, das 15 às 19 horas, o Centro estava aberto para convívio e sessões
de cultura.
Em finais de Julho de 1996, a Ir. Maria da Purificação de Sá Cachada deixa de
prestar o seu valioso serviço no CEPAC – Centro Padre Alves Correia. Há que
reestruturar o trabalho no Centro. Contratou-se uma técnica superior de serviço
social e contratou-se uma jovem angolana – Juliana Temo – como recepcionista,
que já trabalhava no Centro como voluntária.
Desde 1996 trabalharam no Centro como técnicas de serviço social as Dras.
Hélia Augusta de Magalhães Correia, Fernanda Magalhães, Paula Frango, Sandra
Gomes, Raimunda Paula Correia. Desde Novembro de 2003 fizeram-se
contratos com Ana Rosalina Aires da Mata e Elau Kieveni Ferreira dos Santos,
respectivamente como técnica de serviço social e recepcionista.
Sempre ao longo dos anos, o CEPAC – Centro Padre Alves Correia foi
servido por voluntários, a quem por vezes deu gratificações. Lembrem-se os
jovens universitários que sob a direcção dos sociólogos P. Firmino Cachada e
Manuel Antunes forneceram o material que possibilitou os livros de pesquisa
“Imigração e Associações” e “Números da Imigração Africana”. No ano
académico 1996-97, esteve como voluntário no Centro o jovem Alberto
880
Adélio TORRES NEIVA
Machado Ramos. Outros voluntários têm servido o Centro como os jovens
Miguel Frada e Libânio Brito Fernandes, sempre prontos para qualquer serviço.
Os Missionários do Espírito Santo subsidiam o Centro numa terça parte do
orçamento anual; uma outra terça parte tem sido subsidiada pela Sta. Casa da
Misericórdia, com quem se fez um protocolo, que neste momento transitou para
a Segurança Social; a última terça parte do orçamento é realizada pelos amigos do
CEPAC - Centro Padre Alves Correia e indústria pessoal da direcção do Centro.
Também financeiramente o CEPAC vive da ajuda exterior.
Datas mais significativas da história do Centro Padre Alves Correia
- 26 de Março de 1992, o Conselho Provincial dos Missionários do Espírito
Santo aprova os Estatutos e proposta da 1ª Direcção: P. António Ribeiro
Laranjeira, P. Afonso Cunha, Ir. Purificação Cachada, P. Firmino Cachada, Sr.
José Vaz Moreia.
- 28 de Março de 1992 – Começo das Actividades no nº 43 R/C da Rua de Sto.
Amaro, à Estrela, Lisboa
- 9 de Outubro de 1992 aprovação dos Estatutos pelo Cardeal Patriarca de
Lisboa
- 13 Outubro de 1992 participação à Segurança Social, pelo Patriarcado, da
existência do CEPAC - Centro Padre Alves Correia como pessoa jurídica.
- 18 de Janeiro de 1993, devolução, pela Segurança Social ao Patriarcado do
duplicado da participação de existência de pessoa jurídica.
- 6 de Novembro de 1992, registo no livro 5 das Fundações de solidariedade
social
- 30 de Junho de 1993 declaração de registo do CEPAC pela Direcção Geral da
Acção Social;
- 17 de Julho de 1993 sai a Declaração no Diário da República, nº 166, 13-033,
série III.
- 1994, primeiro denunciante de corrupção no Sef do Algarve em que foram
constituídos arguidos um inspector e nove funcionários (“Público, 20 – 7 – 1994
pág. 25)
- 8 de Julho de 1993 data inicial do “Projecto Terra Longe”
- 20 de Junho de 1995, “Imigração e Associações” - Livro
- 31 de Janeiro de 1995, “Números da Imigração Africana” - Livro
- Dezembro de 1992 a Janeiro 1993, “Acolher Imigrante” – apoio à legalização
(existe relatório)
Caso “VUVU”
- 9 Fevereiro de 1994 - Grace Vuvu e sua filha são “detidas” à chegada ao
aeroporto da Portela
- 9-10-11-12 de Fevereiro o CEPAC - Centro Padre Alves Correia movimenta
a opinião pública; deputados, advogados e pessoas públicas comprometem-se
com o caso “VUVU”.
CEPAC - Centro Padre Alves Correia
881
- 12 de Fevereiro: D. Manuel Martins vai ao aeroporto, bem como o P. Manuel
Soares, da Obra Católica, e o P. Jorge Fernandes, da CNIR.
12 de Fevereiro: P. Firmino Cachada e o marido de Vuvu começam greve da
fome, a que se juntam António Cerdeira, dos J.S.F., e Francisco Raposo, do
SOS-Racismo
- 12 de Fevereiro D. Januário da CEP e Pierre Shouver, superior geral dos
Espiritanos, manifestam apoio.
- 15 de Fevereiro: Graça Araújo, juíza do TIC, liberta judicialmente Grace
Vuvu e sua filha, aceitando o “Habeas Corpus” solicitado pelos advogados Vera
Jardim e Oliveira Martins.
- 15 de Fevereiro: Festa com Grace, filha e marido e a população na Igreja da Portela.
- 22 de Março 1994 : Grace Vuvu e a filha regressam a Luanda para tratar de
visto de entrada em Portugal.
- 1996 – Participação activa no 2º período de legalização.
- 24 de Setembro de 1998, protocolo tipo A com Banco Alimentar Contra a
Fome de Lisboa.
- 1 de Setembro protocolo com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
- 2001 – Participação na legalização por “autorização de permanência”.
- 15 de Janeiro 2001 protocolo tipo A/B com Banco Alimentar Contra a Fome
de Lisboa.
- 2002 – Fundação do CORCIM com Obra Católica Portuguesa das
Migrações, Cáritas, LOC/MTC, Capelania dos Africanos, Capelania dos
Imigrantes de Leste, SJR, Comissão de J&P dos Religiosos, Fundação Ajuda à
Igreja que Sofre.
- 21 de Novembro de 2000, denúncia de “escravatura com cabo-verdianas” por
uma empresa de limpeza, em Leiria: – STL. Lda. Barrosa – Leiria. A imprensa
diária deu relevo.
Desafios actuais
Actualmente, os desafios são colocados pelos milhares de indocumentados que
existem no País (100 a 150 mil?), pelo desemprego crescente, pela desarmonia do
governo no fazer e no aplicar a lei. Nos três períodos vulgarmente chamados de
legalização nenhum teve resultado satisfatório, não atingiram de modo eficaz a
finalidade; em nossa opinião, pelos obstáculos burocráticos e maus funcionários.
Desafio é também procurar criar opinião pública que desemprego, insegurança
social, violência e criminalidade não são forçosamente frutos maus da imigração.
Desafios são também os milhares de jovens universitários sem bolsas, ou pagas a
desoras, sem alojamento digno, sem alimentação apropriada. Poderíamos ainda
lembrar os “doentes”…
No dia a dia, são desafios para o Centro os problemas dos imigrantes, que
poderíamos apresentar sob diversos eixos: trabalho precário, desemprego de
longa duração, más condições habitacionais, problemas familiares, elevado preço
882
Adélio TORRES NEIVA
das rendas de casa, dificuldades na escolaridade dos filhos.
Outros problemas frequentes, na população imigrante, que se tornam desafios
para o CEPAC :
Doentes que vêm sob junta médica dos respectivos países, principalmente,
Angola, Guiné-Bissau e de Cabo Verde, e que ficam anos à espera de uma
intervenção cirúrgica, sem dinheiro para se alimentarem e em alojamentos
precários, e sem possibilidade de trabalhar por falta de saúde e de visto que o
permita. Doentes que as embaixadas, sem dinheiro (?) e “sem coração”, pura e
simplesmente abandonam!...
Mulheres que não trabalham por não terem onde deixar os filhos, e não
conseguem suportar o encargo de uma ama ou infantário, principalmente
quando são mães solteiras.
Mulheres abandonadas pelos companheiros e com filhos menores a seu cargo.
Jovens mães-solteiras.
Pessoas idosas que moram sozinhas e sem direito a reforma.
Pessoas que têm mais de 50 anos e que não conseguem arranjar trabalho por
terem essa idade. Pessoas que chegaram a Portugal depois de Dezembro de 2001,
e já não estão abrangidos pela Autorização de Permanência.
Agregados familiares com rendas de casa muito elevadas.
Super lotação das habitações e más condições de habitabilidade.
Exploração e discriminação no trabalho.
Alcoolismo, e sem-abrigo. Dificuldade de acesso ao Serviço Nacional de Saúde.
Acentuado insucesso e abandono escolar precoce. Agregados familiares
numerosos e sem condições dignas de subsistência.
Imigrantes que trabalham desde que chegaram a Portugal e que, de um
momento para o outro, se veêm desempregados, e sem possibilidade de renovar
o visto e outros sem dinheiro para o renovar.
Imigrantes que a qualquer momento podem ficar sem tecto porque se
instalaram em bairros degradados, que têm já data para ser derrubados, e até já
receberam a ordem de despejo.
A nossa resposta
A nossa resposta passa pela fidelidade aos objectivos do Centro e pelas
dificuldades dos utentes; passa também pelas possibilidades dos nossos recursos
humanos e materiais: apoio administrativo e documental, esclarecimento e
defesa dos direitos dos imigrantes e suas famílias, apoio às famílias com carências
económicas, apoio jurídico em processos litigiosos, promoção cultural e social,
apoio a jovens estudantes africanos, informação e sensibilização da opinião
pública sobre os problemas específicos da imigração.
Boa parte da nossa resposta passa pelo apoio e trabalho social. O apoio social
e o serviço social têm um significado existencial na vida dos imigrantes. São
várias as nossas modalidades de apoio.
Apoio Emocional: empatia, sentimentos positivos, confiança, aceitação,
CEPAC - Centro Padre Alves Correia
883
reconhecimento por parte das outras pessoas; os utentes saem do CEPAC com
a sensação que são ouvidos, aliás, mais do que ouvir, no CEPAC “escutam-se” as
pessoas.
Apoio para encontrar soluções aos problemas: possibilidades de falar com
alguém acerca dos problemas, encorajamento, procura de informações para
possível solução.
Integração Social: conhecimento e abertura aos valores e princípios de vida
numa sociedade diferente daquela em que o imigrante nasceu.
Apoio prático e material: acompanhando alguém, se necessário, a um
qualquer serviço; fazer-lhe um documento; fazer uma carta de apresentação
numa repartição, marcar uma consulta, encontrar um centro de saúde que receba
um utente; tentar encontrar um emprego pelo jornal… Pagar uma renda ou
receita; pagar um título de transporte ou um passe… São comuns e pequenas
respostas do dia a dia.
Outra resposta passa pelo fornecimento de géneros alimentícios e de vestuário,
a cerca de 100 famílias por mês. Em números foram atendidas no Centro as
seguintes pessoas: 2362 em 1997; 2845 em 1998; 2962 em 1999; 1960 em 2001;
1673 em seis meses de 2002; 1253 em 2003, ano de mudança de instalações.
Instalações em Lagares D’el Rei
A remodelação da Casa da Rua de Sto. Amaro, à Estrela – Lisboa, dos
Missionários do Espírito Santo, obrigou o CEPAC desde finais de Julho de 2002
a procurar alternativa para poder funcionar. Após as férias de 2002, o Centro
esteve fechado até Fevereiro de 2003. Depois de muito se procurar, a Igreja de
Sta. Joana Princesa, Alvalade, dispensou ao Centro umas instalações vagas,
compostas de três módulos independentes, situados num recinto ajardinado,
com árvores e cercado com rede de ferro, tendo a sul e a ocidente a escola 101.
A direcção é a seguinte: Rua dos Lagares d’ El Rei, 27 – 1700-268 LISBOA.
Foi no dia de consoada de 2003 que nos foi entregue a chave. Todo o mês de
Janeiro de 2003 foi para fazer a mudança. O Centro reabriu dia 2 de Fevereiro,
festa de Libermann. O espaço do CEPAC está dividido em três bungalows: o
primeiro serve de gabinete para o Director e a administração do Centro, onde há
algum espaço para reuniões; o segundo bungalow, é o de acolhimento, composto
por duas divisões: a sala de espera e o gabinete de serviço social, onde estão
respectivamente a recepcionista e a Técnica de Serviço Social; há ainda neste
bungalow, duas casas de banho, para utentes e funcionários respectivamente, e
uma copa onde é possível aquecer refeições; o terceiro bungalow, o maior,
também com duas divisões, é onde se situa o banco de roupa, com peças para
homem, mulher e criança (mais de 1500) e o banco de alimentos, com duas arcas
frigoríficas, dois frigoríficos e diversos armários.
A mudança para a Rua dos Lagares D’el Rei, foi desestabilizadora para a
prossecução do acompanhamento dos imigrantes. Apesar de avisados por carta,
a maioria não soube localizar a nova morada, ou não chegou, mesmo, a receber a
884
Adélio TORRES NEIVA
informação da mudança de domicílio; no entanto, foram começando a aparecer
aos poucos os imigrantes e de “boca em boca” trocaram a informação, levando
um folheto informativo com a morada e com o telefone que se tornou muito útil,
pois só com a morada por vezes é difícil chegar ao Centro por se encontrar numa
rua bastante isolada, que facilmente passa despercebida. A mudança foi, também,
desestabilizadora para as instituições com quem tínhamos parcerias em
encaminhar os imigrantes, pois também desconheciam o espaço. No último
trimestre de 2003, o número de utentes duplicou, o que foi muito positivo, e
quase todos os dias chegam mais pessoas pela primeira vez, quer encaminhados
por outras instituições quer por decisão e conhecimento próprios.
A Paróquia de Sta. Joana Princesa, não só não nos cobra aluguer, mas paga à
Câmara de Lisboa a renda do referido espaço. A luz e a água têm sido também
pagas pela Paróquia de Sta. Joana Princesa. Os Missionários do Espírito Santo,
disponibilizaram uma carrinha para os trabalhos do Centro, ficando a
manutenção da mesma a cargo do Centro. É uma grande ajuda, evitando o
aluguer semanal de transporte, principalmente quando se trata de ir buscar
géneros alimentícios ao Banco Alimentar Contra a Fome.
Protocolos
Devido à especialização e burocratização dos serviços sociais o utente tem
grandes dificuldades em conhecer e descobrir o Serviço certo para o seu
problema, principalmente se estão indocumentados ou irregulares em Portugal.
Ao mesmo tempo, muitos serviços sociais estão a trabalhar separadamente ou
em paralelo. Por isso é necessário uma coordenação. Esta colocação em rede
significa três abordagens diferentes: 1. Recolha de informações disponíveis de
todos os serviços sociais; 2. Coordenação de actividades de forma a evitar o
trabalho a dobrar; 3. Cooperação entre os serviços sociais de forma a que ajudem
verdadeiramente o utente.
Hoje qualquer instituição necessita de trabalhar coordenadamente com outras
instituições e de estabelecer com elas protocolos e parcerias. A qualidade com
que há que responder às situações, a globalidade que as mesmas têm e a
fragilidade de meios que cada organização tem, a isso obrigam.
O CEPAC tem dois protocolos: um com o Banco Alimentar Contra a Fome
de Lisboa e um com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Com o SCAL e a
Obra Católica das Migrações tem também colaborado em vários projectos.
Havendo no entanto uma estreita colaboração com a Capelania dos Africanos do
Patriarcado de Lisboa, bem como com o ACIME – Alto Comissariado para a
Imigração e as Minorias Étnicas. O Director do CEPAC faz parte do Conselho
Consultivo para os Assuntos da Imigração (COCAI) representando a União das
IPSS.
Com diversas outras instituições existe também bom relacionamento.
Algumas reúnem-se com o CEPAC, uma vez por mês, em reunião do “Grupo de
Coordenação Social”: CPR – Conselho Português para os Refugiados, AMI –
CEPAC - Centro Padre Alves Correia
885
Assistência Médica Internacional, - Serviço de Emergência Social da Santa Casa
da Misericórdia, SJR – Serviço Jesuíta para os Refugiados -, Agir XXI, Centro
Regional de Segurança Social de Lisboa, Organização Internacional de
Imigrações, SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras…
Relacionamo-nos, ainda, com outras instituições afins e muitas vezes
resolvemos os problemas concretos encaminhando os utentes para essas
instituições ou recebendo-os delas.
Participamos sempre que possível em encontros onde se debate a problemática
da imigração e dos imigrantes, como por exemplo – as “Jornadas de Reflexão
contra a Exclusão Social”, promovidas pela Ajuda à Igreja que Sofre, “Jornadas
Pastorais dos Secretariados Diocesanos de Migrantes” , “Jornada de Reflexão e
Debate: Todo o Imigrante é meu Irmão”, promovida pela Ajuda à Igreja que
Sofre. Participamos também no 1.º Congresso sobre a Imigração, promovido
pelo ACIME nos dias 18 e 19 de Dezembro de 2003.
O CEPAC - Centro Padre Alves Correia -, trabalha também em conjunto com
a Capelania dos Africanos, organizando diversos eventos: Celebração de
festividades religiosas (Natal e Páscoa), com uma vertente cultural e segundo os
seus costumes e tradições; encontros temáticos e culturais (Festa de Juventude,
Festa Crioula, Festa dos Povos).
887
Capítulo 98
Capelania dos Africanos e outras
capelanias
P. Veríssimo Teles
O
s começos da imigração
Ente 1965 e 1970, não choveu em Cabo Verde suficientemente para que os
campos produzissem o necessário alimento. É pois a seca que leva a uma
imigração maciça. Estes factores eram ajudados pela falta de mão de obra em
Portugal provocada pelos milhares de jovens no serviço militar nas “colónias”,
bem como pela “fuga” dos trabalhadores portugueses para toda a Europa e
Estados Unidos e Canadá…
O P. José Vaz
Os caboverdianos da ilha de Santiago, por intermédio dos missionários do
Espírito Santo, no tempo os únicos missionários na Ilha vinham para Portugal;
os habitantes de Fogo e Brava e das ilhas de Barlavento emigravam sobretudo
para Itália, pois aquelas eram ilhas missionadas pelos capuchinhos italianos.
Desde meados da década de 60, os caboverdianos começaram a chegar a Lisboa,
em grande número. Urgia que em Portugal, alguém cuidasse minimamente do
acolhimento dessas dezenas de imigrantes vindos em cada avião. Os
Missionários do Espírito Santo que estavam na sua terra, estiveram também no
acolhimento aos imigrantes começa em Portugal com uma figura que se tornou
lendária entre os imigrantes caboverdianos em Portugal: - o P. José Martins Vaz.
O P. José Martins Vaz, missionário espiritano, acompanhará durante cinco
longos anos os imigrantes cabo-verdianos: irá esperá-los ao aeroporto, procurarlhes-á o primeiro abrigo para dormida, o primeiro trabalho, encarregar-se-á de
enviar o primeiro dinheiro deles para a família distante; enfim, encarregar-se-á da
“cura pastoral”. A Igreja da Lapa e a Basílica da Estrela guardam a recordação dos
milhares de africanos que ali participaram na liturgia dominical. Outras Igrejas
como a de S. João de Brito, a do Campo Grande, a de Benfica (Amparo) ficaram
também ligadas ao acolhimento dos caboverdianos na década de 70.
Do tempo do P. José Martins Vaz não se conhece nenhum relatório. Mas há
documentos nos jornais diários da época. O Jornal “O Século” trouxe uma
888
Adélio TORRES NEIVA
grande reportagem feita pelo P. José M. Vaz, de que mais tarde “Acção
Missionária” fez uma separata.
O tempo do P. Afonso Cunha
O P. Afonso da Cunha Duarte trabalhou mais de uma década com os
imigrantes africanos, antes de o Patriarcado criar a Capelania. Do seu tempo
existem relatórios anuais desde 1977. Neles se manifesta não só o seu interesse
pelo acolhimento e integração dos africanos, mas também de muitas religiosas.
Os centros de culto eram também, ao tempo, centros de promoção social. O P.
Afonso Cunha percorreu as dezenas de bairros dos caboverdianos onde, com
muitas religiosas, na precaridade das condições foi sinal de presença da Igreja e
apoio social: Fim do Mundo, Marianas, Pedreira dos Húngaros, Lém Ferreira,
Alto de Sta. Catarina, Damaia, Campolide, Alto da Cova da Moura, Sta. Iria da
Azóia, Quinta do Mocho… Em diversos destes bairros houve apoio social com
A.T.L., cursos de alfabetização, de culinária, costura.
1987 – A Capelania dos Africanos
A Capelania dos Africanos foi criada pelo saudoso D. António Ribeiro, em 26
de Fevereiro de 1987.
O primeiro Capelão foi o P. Afonso Cunha Duarte, missionário do Espírito
Santo, desde a criação da Capelania até ser substituído, em 20 de Janeiro de 1995,
pelo actual capelão, P. Veríssimo Teles.
Desde 1997, dois missionários espiritanos dinamizam a Capelania: os padres
Lourenço Ndjimbu e Veríssimo Teles. Em finais de 2003 o P. Lourenço foi
substituído pelo P. Gaudêncio Sangando.
O tempo actual
O último relatório da Capelania dos Africanos disponível é de 1998. Todavia
isso não significa que a Capelania tenha diminuído a sua actividade, pelo
contrário. Dois factores tomam significado nestes últimos cinco anos na
actividade da Capelania: o aumento do fluxo migratório até 2002 e a coordenação
feita pelo Departamento da Mobilidade recém-criado no Patriarcado. Também,
em 1997 o P. Lourenço Ndjimbu, missionário espiritano angolano, integra a
Capelania o que permitiu um trabalho pastoral de maior alcance junto dos
imigrantes angolanos.
Actualmente, haverá no País uns 600 a 650 mil imigrantes. Os documentados
são 500.000. Mais de metade dos imigrantes são africanos. Geograficamente, os
africanos vivem sobretudo na grande Lisboa; isto é Lisboa cidade, e concelhos
limítrofes de Vila Franca de Xira, Loures, Amadora, Oeiras, Lisboa.
Capelania dos Africanos e outras capelanias
889
A inserção dos imigrantes
A Capelania esforça-se para que os imigrantes africanos participem na vida
paroquial, começando a assumir os ministérios laicais, (v.g. catequistas e acólitos,
leitores, movimentos de apostolado, obras sociais, retiros, cursos...).
A Capelania tem-se proposto como objectivos fundamentais: ajudar a
formação e integração religiosa dos imigrantes africanos nas comunidades locais
e diocesanas; proporcionar formação cristã e humana a crianças, adolescentes e
jovens e suas famílias; promover o desenvolvimento da fé pelas acções litúrgicas
dos sacramentos e outros encontros de oração; promover encontros com cada
cultura em que a fé se possa dizer e viver; promover o encontro de culturas pelo
estímulo e apelo a cada cultura, de modo que a cultura portuguesa seja cada vez
mais multicultural e nela a fé se possa viver na diversidade dos acentos culturais.
As mensagens da paz e dos refugiados anualmente fazem parte da catequese
junto dos imigrantes, bem como as mensagens de Advento e Quaresma.
Anualmente tem sido elaborado um programa de actividades que integra
celebrações dominicais em várias paróquias e comunidades onde há um número
significativo
de
imigrantes;
celebrações circunstanciais por
ocasião de festas em honra de
santos “populares” entre os
imigrantes; peregrinação anual a
Fátima; passeios; semanas de
evangelização intensiva; festa de
coros cristãos africanos; retiros e
recolecções para jovens e adultos;
visita a doentes, nas famílias e nos
Participação da Capelania na Festa dos Povos
hospitais, e a reclusos na prisão de
caxias; acompanhamento de
famílias enlutadas e visitas regulares aos bairros. O programa anual de actividades
integra ainda as acções programadas pelo departamento diocesano da Mobilidade
Humana.
OUTRAS CAPELANIAS
Além da Capelania dos Africanos, a Congregação assumiu ainda outras
capelanias, algumas com carácter provisório, outras nem tanto. Destes
compromissos destacamos:
Capelania do Hospital Ortopédico de Santana, na Parede
Foi nomeado para esta capelania em 1982 o P. Firmino Cardoso Pinto. Ali
esteve até 1997, ano em que faleceu nesse mesmo hospital.
890
Adélio TORRES NEIVA
Para o substituir foi nomeado o P. Manuel Nunes que ali esteve até 1998, ano
em que passou o cargo ao P. Francisco Mendes Pereira.
O P. Mendes Pereira deixou a capelania em Janeiro de 2004, sendo então
substituído interinamente pelo P. António Santos Moreira. Em Junho desse ano
assumiu a capelania o P. Francisco Fernandes Correia.
Centro Hospitalar do Alto Minho, Viana do Castelo
Esta capelania foi assumida pelo Superior do Seminário de Viana do Castelo,
tendo o P. António Luís Gonçalves sido oficialmente encarregado da capelania
em 1984.
Em 1986, o P. Gonçalves deixou Viana do Castelo e para o substituir na
capelania foi nomeado o P. António Cardoso Cristóvão.
Em 1989 era nomeado o P. Manuel Augusto Ferreira como capelão
A 21 de Janeiro de 1997 saiu no “Diário da República” a nomeação do P.
Norberto da Conceição Cristóvão, como capelão do hospital, pois o P.Augusto
tinha terminado a idade legal para esse serviço.
Por sua vez, o P. Norberto atingia também o limite de idade em 2003, sendo
então reconduzido por mais um ano naquele ministério. No ano 2004 foi
nomeado capelão o P. José de Castro Oliveira.
Hospital Cova da Beira, Covilhã
Em 1997 foi nomeado capelão do Hospital Cova da Beira, na Covilhã, o P.
António Cardoso Cristóvão. Actividade que exerceu até ao limite de idade
permitido por lei, em Março de 2004.
Estabelecimento Prisional de Tires
A assistência a este estabelecimento prisional começou com o P. Agostinho
Pereira da Silva. Em 1993, o P. José Martins Salgueiro substituiu o P. Agostinho,
tendo sido oficialmente contratado a 13 de Dezembro de 1994. Por ter atingido
o limite de idade previsto pela lei, deixou o cargo a 1 de Outubro de 2003.
891
Capítulo 99
Movimento dos Apóstolos do
Coração Imaculado de Maria
P. Olavo Teixeira Martins
O
Movimento dos Apóstolos do Imaculado Coração de Maria foi
fundado pelo P. Olavo Teixeira Martins, que foi provincial da
Congregação. Ele próprio nos conta a génese, a finalidade e a
expansão do movimento, cuja sede se encontra na Casa de Nazaré em Carapeços
- Barcelos.
“O Movimento Cor Unum é um entre muitos outros movimentos apostólicos,
com autonomia própria, existentes em Portugal.
Nascido na arquidiocese de Braga, no Noviciado da Congregação do Espírito
Santo, na Silva, Barcelos, logo foi acolhido, aceite, aprovado e abençoado por
todos os Bispos de Portugal, como “sendo um dos mais poderosos e eficazes
auxiliares da Acção católica” e “a resposta mais adequada e actual à Mensagem de
Nossa Senhora de Fátima”, sendo tido como “uma das formas mais decididas de
realizar eficazmente a campanha de decência e pureza de costumes, tão pedida e
recomendada pela Santa Sé Apostólica.”
Deu-nos a mão – é a sua mão bem amiga e paternal – o Sr. D. António Bento
Martins Júnior, Arcebispo Primaz de Braga, que desta forma nos admitiu e
introduziu, no seio da Igreja como “obra apostólica” e, por isso mesmo, dentro
do “mandato” da Missão da mesma Igreja. Os Estatutos por ele aprovados a 5 de
Fevereiro de 1950 (Ano do dogma da Assunção de Nossa Senhora) foram
sucessivamente aprovados e abençoados com palavras muito cativantes e em
documentos oficiais rubricados, por cada um, pelo Núncio Apostólico, pelo
Cardeal Patriarca de Lisboa, pelos Bispos do Porto, Aveiro, Coimbra, Beja,
Lamego, Leiria, Bragança, Vila Real, Évora, Guarda, Portalegre, Funchal, Viseu,
Algarve, Luanda, Nova Lisboa, e Cabo Verde.
A bênção e aprovação do Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, foi-nos dada num
autógrafo de 415 palavras, de que aqui damos o começo: “Tenho por
verdadeiramente providencial o Movimento dos Apóstolos do Coração
Imaculado de Maria: surgiu em Portugal quase ao mesmo tempo que lá fora
outros similares. A coincidência significa que resulta de uma necessidade
comum. E esta necessidade é o Espírito Santo “o qual renova a face da terra”, que
a faz sentir nas almas e inspira a sua resposta.”
892
Adélio TORRES NEIVA
Em que situação está hoje o “Cor Unum”:
Com a necessidade de “regressar às fontes” e pôr tudo em dia com o Concílio
Vaticano II, também o Movimento, ao chegar aos seus 30 anos de existência,
sentiu necessidade de ter a “sua identidade” mais definida, como obra de Leigos
e com personalidade jurídica, quer civil quer religiosa.
Assinados e rubricados por S.Ex.a Rev.ma o Senhor D. Eurico Dias Nogueira,
foram-nos concedidos, por graça da Mãe da Divina Providência, três
documentos que nos “garantem a identidade”:
1. Uma nova aprovação do Movimento, reconhecendo-o como “Movimento
de espiritualidade Marial”;
2. Um decreto de erecção da Associação Cor Unum dos Apóstolos do
Imaculado Coração de Maria, da qual resulta a sua personalidade canónica e civil;
3. Um outro decreto de erecção de “Pia União das Servas da Mãe de Cristo
Sacerdote”, preparatória para a erecção em Instituto secular (sic). Cada uma
destas palavras tem sua direcção própria.
Resta dizer que os seus membros se espalham por todas as dioceses
colaborando em trabalhos apostólicos, particularmente Obra de Retiros, Cursos
de Liturgia e Bíblia, Catequese e obras missionárias, de modo particular a LIAM.
Ligação do “Cor Unum” com a Congregação do Espírito Santo
- O fundador é da Congregação do Espírito Santo e vários outros Espiritanos
têm dado, alegre e convictamente, a melhor colaboração.
- No Cor Unum vive-se e difunde-se a espiritualidade dos Espiritanos:
devoção ao Espírito Santo e ao Coração Imaculado de Maria;
- A doutrina Libermaniana é larga e abundantemente difundida quer na revista
“Ao Serviço da Rainha do Mundo” quer nos Retiros, Cursos e outras actividades
organizadas pelo Cor Unum.
A posição de “Cor Unum” perante a Congregação do Espírito Santo
- Nasceu no Noviciado da Silva, como fruto da espiritualidade apostólica,
eucarística e marial que a Comunidade em pleno então vivia e respirava, a ponto
de atrair as multidões ao Evangelho. Com a plena aprovação, inteira alegria e
acção de graças, toda a Comunidade viu, no desabrochar desta obra, uma santa e
digna resposta dada á pergunta das gentes “tocadas pelo Espírito”, que aqui
acorriam: “Que faremos, irmãos?“ (Actos 2, 37). A capelinha de S. Bento aí está
como testemunho histórico das inúmeras conversões e das dezenas e dezenas de
vidas que ali “ouviram o chamamento do Senhor para a vida consagrada” como
religiosas missionárias.
Desde então, foi o Movimento sempre acarinhado e assistido pelos Sacerdotes
da Silva, com rara excepção. O mesmo se diga de todos os Provinciais. De
muitos, há documentos escritos muito comoventes e animadores... E não vá sem
Movimento dos Apóstolos do Coração Imaculado de Maria
893
dizer-se que o Cor Unum mereceu particular interesse e carinho dos Superiores
gerais: Griffin, Lefebvre e de modo particular de Timmermans, o qual na sua
primeira visita a Portugal, quis vir pessoalmente à Casa de Nazaré e informar-se
da obra, terminando por dizer: “obra digna da Congregação e dentro dos seus
fins”.
A salientar que o Director do “Cor Unum” , que durante 15 anos esteve
ausente em Espanha, de lá foi chamado por decisão de um Provincial e seu
Conselho, para se incumbir de levar por diante o Movimento, que “ em boa hora
criara” e que a ele se desse a tempo inteiro, sendo para tal dispensado de qualquer
outro cargo. O que afinal tem sido feito no espírito de serviço e obediência à
Congregação e ao apostolado da igreja, tal como os outros membros da
Congregação que se dedicam a outro qualquer género de actividades, sob a
dependência dos Superiores.
E deixamos para o fim outro
ponto a pôr em relevo: a 16 de
Julho de 1971, Festa de Nossa
Senhora do Carmo, na segunda
sessão do capítulo Provincial
1970/1971 na Torre da Aguilha, o
Capítulo decidiu que o Cor Unum
tivesse existência reconhecida
independente
da
Província,
P. Olavo Teixeira e membros do “Cor Unum”.
embora a Província assumisse a
responsabilidade de lhe garantir assistência espiritual, enquanto não houvesse
outros sacerdotes que o pudessem fazer.
Como particular achega, foi um dia publicado no Boletim da Província que um
outro sacerdote espiritano ficaria em Lisboa para coadjuvar o Director de Cor
Unum
O Cor Unum tem dois centros operacionais: um, na Casa de Nazaré, pertença
sua e outro, na Rua João de Deus, à Estrela, casa alugada e pertença do
Patriarcado, o qual a alugou ao Cor Unum por ser movimento apostólico.
895
Capítulo 100
Contributo dos Espiritanos para o
Renovamento Carismático em Portugal
P. José da Lapa
O Renovamento Carismático foi introduzido em Portugal pelo P. José da
Lapa, missionário do Espírito Santo. Ele próprio nos conta como o movimento
começou.
Em 1973-1974 foi o P. Lapa fazer um ano de reciclagem teológico-pastoral em
Roma, na universidade Gregoriana, ficando instalado no Seminário Francês. Foi
aí que, pela primeira vez, a 13 de Dezembro de 1973, ouviu falar a um sacerdote
e dois seminaristas que frequentavam o mesmo seminário, do Renovamento
Carismático. Tratava-se de um “Movimento Pentecostal” que, em 1967, depois
do Vaticano II, tinha irrompido na Universidade Espiritana de Duquesne,
Pitsburg, nos Estados Unidos e que começava a alastrar por todo o mundo.
Tendo sido convidado, o P. Lapa
participou pela primeira vez a 8 de
Janeiro de 1974 numa reunião de
um grupo carismático chamado
Hossana, que tinha lugar na Casa
Generalícia das Irmãs Franciscanas
Missionárias de Maria. Num
ambiente de alegria e de
descontracção foram dados vários
e belos testemunhos de vida Nova
no Espírito Santo que calaram
P. Lapa em Fátima
fundo no meu coração e me
entusiasmaram a inscrever-me para os “Seminários de vida nova no Espírito”.
Querendo levar esta experiência até às últimas consequências, iniciei no dia 24 de
Fevereiro de 1974, com mais 50 neófitos, esta caminhada de 7 semanas. A meio
desta caminhada teve lugar a 24 de Março de 1974 a celebração para a “Efusão
(Baptismo) do Espírito”.
Depois da oração inicial e do ensinamento sobre a “Efusão do Espírito”, em
consonância com a Bíblia, a Teologia e a prática na Igreja dos primeiros tempos,
houve uma hora de oração pessoal. Cada um, com a liberdade que o Espírito dá,
era livre de dar o passo em frente, renunciando a todo o pecado e aceitando Jesus
como Salvador e Senhor de sua vida. Fez-se a renovação das promessas do
Baptismo, já que a “Efusão” é uma graça que, pela fé dos crentes e pela oração da
896
Adélio TORRES NEIVA
comunidade, renova, reanima e dinamiza a vida baptismal, abrindo caminho para
libertar e deixar actuar livremente o Espírito Santo.
Duante a oração algo aconteceu de profundo, de belo, de maravilhoso que não
sei descrever, mas que me penetrou até ao mais fundo do meu ser. Naquele
momento, eu poderia dizer que o Espírito Santo veio sobre mim e me deu uma
consciência viva de que Deus me habitava. A experiência da “Efusão” que gera a
vida nova no Espírito é muito mais vasta e profunda e não há palavras no
dicionário para explicar o “inexprimível” em linguagem humana...
A semente foi lançada e acolhida em Roma, cabeça e coração da Igreja de
Cristo, essencialmente hierárquica e essencialmente carismática. Esta semente de
fogo esteve em gestação, em tempo de deserto e de peregrinação, desde 28 de
Maio, em Roma, passando por Milão, Suiça e Paris, até 6 de Novembro do
mesmo ano 1974, em Fátima.
No dia 28 de Maio, na última reunião em que participei no Grupo Hossana, em
Roma, alguém “profetizou” que a faúlha que eu levava de Roma, se iria propagar
em Portugal. Depois da minha confidência à Irmã Maria Gonçalves, das Servas
de Nossa Senhora de Fátima, no dia 15 de Outubro, aceitei o convite que ela me
fez para uma recolecção, no dia 6 de Novembro, à tarde e à noite, na Casa de
Nossa Senhora do Carmo, do Santuário de Fátima. Participaram neste encontro
as seguintes pessoas: Irmã Maria Gonçalves, Cónego Perdigão, P. Manuel
Couto, P. Manuel Antunes, P. Francisco Vermelho, P. José Morais, P. Pedrosa,
Rosa Maria Nogueira, Irmã Maria Laíde, Irmã Maria do Céu Farinha, Irmão
Jorge; com as quais o Senhor Bispo de Leiria, D. Alberto Cosme do Amaral
pretendia criar o núcleo central do CORIMA (Coração Imaculado de Maria)
para a difusão da mensagem de Fátima.
Naquela noite de 6 de Novembro de 1974, durante aquele tempo de Cenáculo,
vigília que se prolongou das 21.00h às 24.00h, aconteceu um pentecostes pessoal
e comunitário, naquela pequena Sala de Visitas, junto da Capela da Casa de
Retiros de Nossa Senhora do Carmo, naquele lugar, onde agora passa, subindo e
descendo, um grande elevador… Em espírito, voámos até ao Cenáculo de
Jerusalém e, em união com Maria, com os Apóstolos, as Santas Mulheres e os
Discípulos, rezando uns pelos outros, vivemos a experiência de Pentecostes, que
iniciou a Igreja de Jesus Salvador e Senhor, que veio trazer fogo à Terra e que só
deseja que ele alastre... Na pobreza, na simplicidade e na disponibilidade destes
irmãos eu vi e atesto que, naquele pequeno Cenáculo, Jesus se manifestou e que
“todos ficaram cheios do Espírito Santo”: aconteceu, inesperadamente uma
verdadeira “efusão do Espírito Santo”, renovação actualizada da graça baptismal...
Sem planos a longo prazo, comprometemo-nos a viver e a reviver em oração
esta experiência de Vida Nova no Espírito e marcámos um próximo encontro já
mais aberto, para o 2º Domingo de Dezembro, dia 8, Festa da Imaculada
Conceição, na casa de Nossa Senhora do Carmo. Participaram mais de cem
pessoas que os elementos do grupo tinham convidado.
Contributo dos Espiritanos para o renovamento Carismático em Portugal
897
O pequeno grupo de Fátima, que depois se baptizou com o nome “Coração
Imaculado de Maria” (CORIMA), coordenado pela Irmã Maria Gonçalves, pela
Rosa Maria Nogueira, primeira jovem do Renovamento em Portugal, pelo
Cónego Perdigão, pelo Irmão Jorge, dos Maristas, pediu-me para, durante algum
tempo, ir mensalmente a Fátima para orientar estas Assembleias. Ficou assente
que aos terceiros Domingos, da parte da tarde, se realizassem Assembleias
abertas. Foi assim que a 19 de Janeiro de 1975 se realizou a segunda assembleia
em Fátima, agora com mais de 200 pessoas. As reuniões em Fátima, continuaram
sob a orientação da Irmã Maria Gonçalves, que mais tarde viria a fundar, a partir
do Renovamento e como seu fruto, a Comunidade para os Sem-Abrigo “Vida e
Paz”, da Maria Rosa Nogueira, do Cónego Perdigão e do Irmão Jorge, em
profunda união e colaboração com o primeiro grupo de Lisboa que, depois, se
viria a chamar PNEUMAVITA.
Do grupo de oração CORIMA começaram a saltar faúlhas deste fogo novo
para a Marinha Grande, Leiria e outros pontos da região.
A partir do mês de Maio de 1975, depois do Congresso Internacional de Roma,
no qual participámos 17 portugueses, as actividades do Renovamento
Carismático em Fátima, com a colaboração do grupo CORIMA, começaram a
ter uma projecção nacional, sempre acompanhadas e abençoadas pelo Senhor D.
Maurílio de Gouveia, na qualidade de Presidente da Comissão Episcopal para o
Apostolado dos Leigos.
Como nos Estados Unidos, também em Portugal o Espírito Santo escolheu
uma Casa Espiritana – a comunidade da Estrela - para o nascimento e difusão do
Renovamento carismático.
Foi na pequena sala de visitas desta comunidade que de Outubro de 1974 a
Janeiro de 1975, me reuni frequentemente com um pequeno “grupo de oração”.
Foi a 5 de Janeiro, no Domingo da Epifania, festa eminentemente missionária,
que o Senhor nos impeliu a abrir as portas deste pequeno Cenáculo e a realizar
uma Reunião/Assembleia na Sala de Cima desta Casa Espiritana, verdadeiro
ninho do Renovamento Carismático em Portugal. Na tarde daquele dia 5 foram
abertas as portas do grande Salão de conferências, recolecções e actividades para
a LIAM e Juventude Missionária. Vieram cerca de 120 pessoas: Liamistas,
Religiosas/os, Seminaristas, Leigos de vários movimentos e um pequeno grupo
de Sacerdotes. O clima que se vivia era de profunda alegria e comunhão fraterna.
A Epifania (manifestação do Alto) que atraiu os Magos ao encontro de Jesus na
Judeia foi também para todos nós uma manifestação da glória do Senhor. Toda a
Assembleia teve consciência profunda da presença viva de Cristo em nós e entre
nós derramando sobre a Comunidade, de modo imprevisível, uma grande efusão
do Seu Espírito. Como os Reis Magos, em sintonia com a Eucaristia, naquela
Casa Missionária, à sombra da Basílica da Estrela, também as pessoas cantavam e
rezavam: “Vimos a Sua Estrela no Oriente e viemos com presentes adorar o
Senhor...” (Mt 2,2). A Assembleia pediu para que se continuassem a realizar
estas reuniões. Alguns até pediam todos os Domingos. De comum acordo,
898
Adélio TORRES NEIVA
salvaguardando a reunião semanal do pequeno núcleo que já reunia desde
Outubro do ano anterior, e sobre o qual pesava a responsabilidade de preparar
em oração, jejum e discernimento, futuros encontros, em união com Fátima,
ficou assente que a próxima Assembleia se realizaria no primeiro Domingo de
Fevereiro, dia 2, por coincidência festa da Apresentação e do Venerável Padre
Francisco Libermann, um dos fundadores da Congregação do Espírito Santo.
Congregaram-se desta vez mais de 200 pessoas e a Irmã Maria Gonçalves,
S.N.S.F. veio de Fátima com um pequeno grupo para participar, colaborar e
testemunhar. As reuniões na Casa Espiritana da Estrela, com Assembleias
mensais nos primeiros domingos, cada vez mais concorridas e animadas,
continuaram a realizar-se até às férias de Verão. Este Cenáculo, reunido na
comunidade espiritana, viria a tornar-se o ninho do Renovamento Carismático
Católico em Portugal que quer o Cardeal Patriarca D. António Ribeiro quer o
superior provincial dos Missionários Espiritanos P. José Gonçalves de Araújo
aprovaram e incentivaram.
A expansão do Renovamento Carismático em Portugal foi, a todos os títulos,
vertiginosa e imprevisível. Os pólos de Fátima e de Lisboa, em perfeita sintonia
de espírito e de acção tornaram-se,
pela acção do Espírito Santo, os
instrumentos propulsores para que
esta graça de renovação pentecostal lançasse raízes, crescesse e
frutificasse em todos os pontos do
país e nas mais variadas latitudes e
povos de expressão portuguesa.
Assembleia Carismática em Lisboa
Os planos e os mistérios de Deus
são insondáveis e o Seu Espírito, que enche o universo, sopra, como um novo
pentecostes, onde quer, como quer e com quem quer...
899
Capítulo 101
A Província Espiritana de Espanha
482
A
fundação da Obra de Espanha
Por várias vezes, a Congregação do Espírito Santo teve contactos com a
Espanha. Primeiro, por intermédio da Província da França e, depois, com a
Província de Portugal. Em 1903, Mons. Le Roy , Superior geral, esteve dez dias
nos arredores de Saragoça, tentando fundar a Congregação em Nossa Senhora da
Cogullada, antigo mosteiro capuchinho. Para lá foi enviado o P. Leportier com
alguns Irmãos, pois pensava-se fundar aí uma Obra de Irmãos. A ideia foi
abandonada devido a um projecto de lei sobre a Concordata, que deixava o
futuro da obra muito incerto. A Província de Portugal estivera já em Espanha
por duas vezes: a primeira, em Gibraltar, no Colégio de S. Bernardo, em 1870,
com o P. Eigenmann e os escolásticos Alexandre Rulhe, Policarpo dos Santos,
José Maria Antunes e os aspirantes irmãos Mendes, Pereira e Silva, que
abandonaram em 1872. A segunda vez foi em Zamora, na Academia de Linguas
de San Atilano, onde estabeleceram um pequeno escolasticado, desde Outubro
de 1913 a 1920, ano em que em Braga recomeçou o escolasticado menor.
A fundação de uma Província em Espanha foi decidida no Capítulo Geral de
1950, e confiada à Província Portuguesa. As razões apontadas para confiar esta
fundação a Portugal foram: a vizinhança geográfica, a semelhança de relações
mútuas (língua, costumes, clima político) e a notável prosperidade e vitalidade da
Província de Portugal, então dirigida por um homem activo e empreendedor, o
P. Agostinho de Moura.
Desde o verão de 1951 que o P. Moura começou as suas pesquisas para
encontrar uma casa, em Espanha. Encontrou-a em Madrid, na Rua Joaquim
Garcia Morato, nº 117 (Santa Engrácia), rés do chão, esquerdo, uma construção
toda nova, na paróquia de Santa Teresa e Santa Isabel, num dos bairros mais
importantes da capital espanhola. Em Setembro o contrato foi assinado e
imediatamente se começou a mobilar a casa. A 22 de Outubro chegou o primeiro
inquilino, o Ir. Francisco da Santíssima Trindade (Irmão Trindade) para dar a
última mão ao arranjo da casa. Hospedou-se em casa do Sr. Américo Martins
Molarinho, um português, casado em Madrid, que, com a sua mulher e filha,
desde a primeira hora foi um bom amigo e precioso cireneu.
482
Elementos fornecidos por P. Joaquim Ramos Seixas.
900
Adélio TORRES NEIVA
A inauguração foi a 28 de Outubro desse ano de 1951, com a presença do P.
Clemente Pereira da Silva, assistente geral da Congregação, do P. Agostinho de
Moura, provincial de Portugal, Representante do Arcebispo de Madrid e
Director as OMP, D. Angel Sagarmiga, de D. Daniel Gomes Junqueira, bispo de
Nova Lisboa (Huambo), de alguns membros e benfeitores da Província
Portuguesa. A nova comunidade ficou constituída pelos PP. Isalino Alves
Gomes (director), Augusto Teixeira Maio (Propaganda) e Irmão Trindade
(administração e serviços da comunidade). O seu objectivo imediato era dar a
conhecer a Congregação e abrir caminhos para a implantação da Congregação
em Espanha.
Logo no ano seguinte, em 1952, graças à generosidade do Dr. Veiga Pinto e
outros amigos portugueses de Madrid, se começou na Rádio Intercontinental de
Madrid, a emissão radiofónica espiritana semanal, com o título Madrid-Africa –
30 minutos, preparada pelo P. Augusto Maio, com a colaboração desinteressada
e amiga de D. Leopoldo de la Peña e uma equipa de especialistas da emissora.
Durante cerca de 25 anos este programa, que depois tomou o título de Quinze
minutos missionários, foi um verdadeiro instrumento para tornar a Congregação
conhecida em toda a Espanha. Foi um programa que depois foi repetido pela
Radio Valladolid, Radio Puertolano, Radio Cazalla de la Sierra.
Desenvolvimento da Fundação
A 30 de Março de 1953, a comunidade foi transferida para a Calle de los Olivos,
12, (Bairro Metropolitano) de Madrid, recentemente comprada para sede
definitiva da Congregação, por escritura de 26 de Março deste ano. Foi aqui que
teve lugar a primeira visita do Superior Geral, P. Francis Griffin, por ocasião da
ordenação episcopal de D. Agostinho de Moura, a 26 de Abril de 1953, o
verdadeiro fundador desta Província. Sucedeu-lhe o P. Olavo Teixeira, que
depois continuou o processo desta fundação.
Neste mesmo ano chegou o P. José Maria Felgueiras, que foi nomeado
superior da Obra de Espanha e que muito trabalharia na promoção vocacional e
na fundação do Seminário Menor.
Em 1954 começou-se a publicação da revista MIES (Missões do Espírito Santo
com o P. Teixeira Maio como director e redactor.
A 31 de Outubro de 1955, abriu oficialmente , com 12 alunos, em Paredes de
Nava (Palência) o Seminário Menor Espiritano, tendo como director o P.
Francisco Mendes Pereira e a colaboração do P. Alberto Camboa e os Irmãos
Trindade e Antonino, substituídos depois pelos Irmãos Cassiano, Paulo e
Estêvão.
A 9 de Setembro de 1956 fez a sua profissão no Fraião, o primeiro irmão
espiritano espanhol, o Ir. Xavier (Jesus Blanco Martinez), destinado depois à
comunidade de Madrid.
Ainda neste ano, a 26 de Novembro, depois de 54 dias de doloroso sofrimento,
com as pernas amputadas em consequência de um grave acidente de comboio (4
A Província Espiritana de Espanha
901
de Outubro) sofrido quando tentava salvar um dos estudantes do seminário de
Paredes de Nava, faleceu no hospital de Palência o P. José Maria Felgueiras,
sempre recordado com saudade por quantos o haviam conhecido.
A 27 de Dezembro de 1957 o Ayuntamento de Jodar (Jaén) deu a uma das ruas
da terra donde era originário o seminarista Lino Diaz, salvo pelo P. Felgueiras, o
nome do P. José Maria Felgueiras. A 15 de Janeiro de 1959 o Ministério do
Governo, conceder-lhe-ia, a título póstumo, a Ordem Civil da Beneficência de
Espanha.
A 2 de Abril de 1959, acompanhado do novo provincial de Portugal, P.
Firmino Cardoso, chegou a Espanha, onde ficou colocado, o P. Olavo Teixeira.
A 5 de Julho deste ano foi ordenado em Roma o primeiro sacerdote espiritano
espanhol P. Buenaventura Mur. A 15 de Outubro deste ano D. Alejandra de
Diego oferece à Congregação, em Castrillo de la Veja (Burgos), os terrenos onde
viria a ser construído o Noviciado.
Em Outubro de 1960, por desdobramento do Seminário de Paredes de Nava,
por falta de espaço foi criada provisoriamente em Valladolid a residência de
Huerta del Rey, com 10 alunos, a cargo dos PP. Avelino Barreto (director da
residência) e José dos Santos Simões (director dos escolásticos), substituído no
ano seguinte pelo P. José Coelho Barbosa. Como auxiliares estavam os Irmãos
Cassiano e Paulo.
A 6 de Outubro de 1961 faleceu em Madrid o P. Celestino Belo, que se
encontrava em Madrid em convalescença, para ser colocado nesta Província.
A 19 de Novembro de 1961, como fruto de uma campanha para conseguir uma
casa ou terrenos para construção de um seminário (Paredes de Nava não tinha
condições suficientes) os PP. Olavo Teixeira e José Maria Couto abrem a
comunidade de Tortoreos (Pontevedra), depois de a Congregação ter aceite por
oferta do bispo de Tuy-Vigo, a direcção da Fundação das Escolas de Artes e
ofícios da marquesa do Pazo de las Mercedes. A casa , a quinta e as condições do
Patronato permitiam a instalação do seminário. Ao mesmo tempo, o P. Olavo
Teixeira assumia as funções de pároco de las Nieves, funções que depois exercerá
o P. José Maria Couto.
Em Outubro de 1962, o Seminário Menor de Paredes de Nava é transferido
para Tortoreos juntamente com os alunos da residência de Valladolid. A direcção
dos escolásticos ficou confiada aos PP. Francisco Mendes Pereira (seminaristas
maiores) e Alberto Camboa (seminaristas menores) e P. José Coelho Barbosa
(responsável dos alunos externos). Ao todo eram 56 estudantes.
Em 1963, a revista MIES passa a chamar-se Pentecostes Misionero, muito
melhorada e com tiragem mensal.
Uma nova fase na vida da Província
Depois de madura reflexão, o Conselho Provincial de Portugal e a Casa
Generalícia decidem lançar uma nova estratégia para a Animação vocacional em
Espanha, insistindo em vocações mais avançadas em estudos, que permitissem, a
902
Adélio TORRES NEIVA
médio prazo ter membros espanhóis preparados para assumir a responsabilidade
da Província. Para isso foram chamados das missões de Angola, para abrir novos
centros de irradiação, os PP. José Gonçalves Araújo, Joaquim Ramos Seixas,
Manuel David Sousa (1964), Alberto dos Anjos Coelho (1964), José Martins
Salgueiro (1965), António Vassalo (1966), José Veiga, José Coelho Barbosa
(1966), Carlos Salgado (1976) e os angolanos PP. Pedro Candjimbo (1967),
Bernardo Bongo (1972) e Sabino Livela (1974).
Criado por decreto de 27 de Maio de 1964 inaugurou-se em Tortoreos, com a
presença dos conselheiros gerais PP. Higgins e Avelino Costa e do P. Firmino
Cardoso, provincial de Portugal, o noviciado espiritano de Espanha com a
tomada de hábito de 10 noviços espanhóis, 9 clérigos e um Irmãos sob a direcção
do P. Olavo Teixeira Martins, como mestre, P. Mendes Pereira, submestre e
António Cardoso Cristóvão. Como pároco ficou o P. José Maria Couto. Dos
escolásticos menores, um grupo (10) foi para Portugal, e outro (21) continuou
os estudos no Seminário menor de La Bañeza (Léon), da diocese de Astorga.
A 5 de Fevereiro de 1965, na Calle Muntaner, nº 102, 1º na cidade de
Barcelona, abre o novo Centro de Animação Missionaria, sendo a comunidade
formada pelos PP. Joaquim Ramos Seixas (Director), Manuel David Sousa
(Propaganda exterior) e Ir. Xavier Blanco Martinez (adminsitrção e serviços da
comunidade). Com a abertura deste centro divide-se o país em duas zonas de
propaganda espiritana: uma que abrangia as Províncias da Catalunha, Aragão,
Valência e Ilhas Baleares e outra, com o resto do país.
A 17 de Agosto de 1965, o P. José Gonçalves de Araújo foi nomeado pelo
Conselho Geral membro do Conselho Provincial de Portugal, em representação
da Obra de Espanha, cargo já exercido pelo P. Felgeueiras até à data da sua
morte, em 1954. Esta nomeação abre caminho para que esta Obra avance para
uma maior autonomia, com a posterior nomeação de um Conselho de Obra para
a organização local, sob a da supervisão do Conselho Provincial de Portugal.
Como director da Propaganda foi nomeado o P. José Araújo em substituição do
P. Simões, que foi destacado para Angola.
Em 1966 o P. Manuel David Sousa é nomeado para Tortoreos, como
responsável de um novo Centro de Animação Missionária para as regiões da
Galiza, Astúrias, Vascongadas e Navarra.
A 5 de Abril de 1966, depois da visita do Superior Geral Mons. Marcel
Lefebvre, o Conselho Geral decide aceitar os terrenos que lhe oferecia D.
Alejandra de Diego em Castrillo de la Veja, para a fundação de uma comunidade,
e decide também procurar em Barcelona lugar para a construção de um futuro
Escolasticado Maior.
A 2 de Novembro de 1966, depois de analisadas devidamente as condições pelo
Superior Geral, Provincial, Director da Obra e Ecónomo Geral, o Conselho
Geral autorizou a compra de uma quinta, chalet e edifício em construção, do
Paseo Canovas del Castillo, nº 64, em San Cugat del Vallés (Barcelona). Logo se
começou a sua adaptação para escolasticado maior.
Em Novembro de 1966, o P. Olavo Teixeira regressava a Portugal, deixando
A Província Espiritana de Espanha
903
definitivamente a Espanha, onde muito trabalhou pela consolidação desta
Província. Para o substituir como mestre de noviços foi nomeado o P. José
Veiga, até então responsável da revista.
A 18 de Maio de 1967, inaugurou-se em Madrid o andar recentemente
comprado, por escritura de 12 de Abril de 1967, na Calle Santa Engracia (então
chamada Joaquim Garcia Morato), nº 149, 1º B, pois cada vez se fazia sentir mais
a necessidade de sediar a Animação Missionaria numa zona mais central da
cidade e de mais fácil comunicação, assim como com mais espaço para
acolhimento dos missionários.
A 8 de Dezembro de 1967, Mons Lefebvre inaugura solenemente o
Escolasticado Maior de Espanha em San Cugat del Vallés (Barcelona), com a
presença do Provincial de Portugal P. Amadeu Martins, sob a direcção do P.
Manuel David Sousa. O escolasticado abriu com 7 alunos de Teologia e 3 de
Filosofia, que frequentavam a s aulas na faculdade “San Francisco de Borja” dos
Jesuitas.
Em Março de 1968, com o P. António Perez Bernardez como director, ajudado
pelo Ir. Hermenegildo Veiga, o Centro de Animação Missionária da Galiza
passou do escolasticado de Tortoreos para a cidade de Vigo, funcionando na casa
da mãe do P. António Perez, que vivia só.
A 30 de Maio de 1968 teve lugar a primeira reunião do Conselho de Obra,
assim constituído: PP. José Araújo (director e representante do Conselho
Provincial), Martins Salgueiro (administrador da Propaganda), B. Mur
(Secretário), Francisco Alves do Rego (Superior de Madrid), Joaquim Ramos
Seixas (Superior de Barcelona), José Veiga (mestre de noviços), M. David Sousa
(Director do escolasticado de San Cugat), António Perez (Director do Centro
da Galiza) e Ir. Xavier Blanco (representante dos Irmãos).
A 31 de Maio de 1968, festa de Nossa Senhora Rainha do Mundo, foi o
lançamento da primeira pedra do edifício definitivo do Noviciado espiritano de
Espanha, no terreno doado por D. Alejandra de Diego, em Castrillo de la Veja
(Burgos).
A fundação da Província de Espanha
Em 1969, o P. Bussard, visitador geral, visitou as comunidades de Espanha,
sondando a opinião de todos em ordem à elevação da Obra de Espanha a
Província. Era opinião geral que a Obra de Espanha tinha já condições e
estruturas para caminhar por seu próprio pé.
Assim por decreto da Sagrada Congregação dos Religiosos de 21 de Fevereiro
de 1969, depois da decisão do Conselho Geral de 11 deste mesmo mês, foi criada
a Província de Espanha, separando-se da Província de Portugal. Como seu
primeiro provincial foi nomeado o P. Joaquim Ramos Seixas, a 12 de Maio desse
ano. Como Casa Provincial foi escolhida Olivos 12, Madrid.
O Conselho Provincial ficou assim formado: PP. José Gonçalves Araújo, 1º
assistente, Waldo Garcia Romero, 2º assistente, Manuel David Sousa (Director
904
Adélio TORRES NEIVA
do escolasticado maior), Antonio Perez Bernardez (Animação Missionária),
Fernando Corazón Torres (Esolasticado Menor), Ir. Javier Blanco (Ecónomo
Provincial) e Victor Cabezas (Secretário e representante dos Escolásticos).
A 19 de Janeiro de 1970, a Província adere à constituição da Associação de
Institutos exclusivamente missionários (ASIEM) e ao movimento do Serviço
Conjunto de Animação Missionária (SECAM), iniciado em 1968.
Em 8 de Junho desse mesmo ano, de acordo com a Província de Portugal e
depois de consulta aos membros interessados, integram-se na Província de
Espanha todos os membros espanhóis que, até à data, tinham professado na
Província de Portugal, assim como o Ir. Antonino (Armindo Fernandes
Barbosa), português que optou pela sua integração na nova Província. Os PP.
Francisco Alves do Rego e António Cardoso Cristóvão regressam a Portugal.
Os PP. José Gonçalves de Araújo, Manuel David Sousa, José Maria Couto
Pereira, António Vassalo, Alberto dos Anjos Coelho, José Barbosa e Joaquim
Ramos Seixas, continuam vinculados à Província de Portugal, mas afectados à
Província de Espanha. O P. José Gonçalves Araújo, nomeado provincial de
Portugal, deixaria a Espanha a 5 de Julho de 1970.
A Província continuou depois o seu rumo, mas agora independentemente de
Portugal. Lembremos apenas, que o contributo dos espiritanos portugueses,
agora mais reduzidos, continuou a ser decisivo para o futuro da Província de
Espanha, nomeadamente através da dedicação do veterano daquela província P.
Ramos Seixas que, em 1981, depois dos provincialatos dos PP. Waldo Garcia
Romero e Heliodoro Machado, foi novamente escolhido para provincial num
momento particularmente crítico da vida daquela província, e do P. José Maria
Couto Pereira, que foi escolhido para ecónomo provincial, cargo que exerceu
durante largos anos.
Momento particularmente significativo da história da Província de Espanha foi
o Encontro Internacional dos Jovens espiritanos que em 1974 reuniu em Aranda
de Duero 140 jovens de toda a congregação. Nessa altura, a Província de Espanha
era um ponto de referência obrigatório para o dinamismo e criatividade de toda
a Congregação.
A Província de Espanha seria ainda particularmente interpelativa pelas equipas
de leigos e associados que formou e enviou para diversas fronteiras da missão,
nomeadamente para o Paraguay, Amazónia, Angola e Tanzánia, e pela
diversidade de compromissos assumidos em terras de missão pelos membros
desta província, mau grado a escassez do seu número. A crise de 1968 também
na Espanha deixou marcas difíceis de ultrapassar, numa Província ainda em
estado nascente.
De salientar ainda a iniciativa da publicação de uma colecção de “Antologia
Espiritana”, em 5 grossos volumes levada a cabo pelo P. Joaquim Ramos Seixas
e destinada a tornar acessíveis aos espiritanos de língua castelhana os escritos dos
fundadores e os momentos mais decisivos da história espiritana.
905
Capítulo 102
Memorial Espiritano
Espiritanos falecidos pertencentes à Província de Portugal
Nome
Sr. Pedro Martins de Carvalho
Sr. Bernardo Ribeiro
Sr. Álvaro Coutinho
Ir. Carlos Podão
Ir. Ângelo - Daniel Vaz
Sr. António Mendes Palmeira
Sr. Emílio Pereira
Sr. António Neves
Ir. Arnaldo Baltazar
Ir. Egídio Moita
Ir. Gonçalo Gouveia
Ir. Silvino Pinto
Sr. Francisco Delgado
Sr. José Rocha
P. José Matias
P. António Marques
Ir. Tomé de Guadalupe
Sr. José Gonçalves Rebordão
Ir. Calisto Colaço
Ir. Ilídio Jorge
Ir. Silvério de Oliveira
Sr. Luís Cardenas
Ir. Guilherme Oliveira
Ir. António Martins
Ir. Ildefonso Pires
Ir.Baltazar Gonçalves
Ir.Lázaro Viegas
Ir. Avelino da Silva
Ir. Dionísio Duarte
D.N.
18601856186818631873187318701870187218331866187218761873186718601871187518331872186218751871186318651873186718741874-
D.F.
1886
1887
1889
1892
1892
1893
1893
1893
1894
1894
1895
1895
1895
1895
1896
1896
1897
1897
1900
1900
1900
1900
1901
1901
1902
1902
1902
1903
1903
Local
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
PERU
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
906
Ir. Zacarias Ferrão
Ir. Marcolino Ferreira
Ir. Teódulo Martins
Ir. Cláudio Gomes
Ir. Custódio Fernandes
Ir. Vidal Brito
Sr. António Ramoa
Ir. Isidro Pinheiro
Sr. António Cardoso
Ir. Rodrigo Araújo
Ir. Silvino Moreira
Ir. Raimundo Alves
Ir. Amaro - Manuel Antunes
Ir. Maurício Marques
Ir. Tomás Pereira
Ir. Dâmaso Bacelo
Ir. Dionísio de Carvalho
Ir. Samuel Correia
Ir.Urbano Pinto
Ir. Agostinho - Manuel Caetano
Ir. Caetano Fernandes
Ir. Ernesto Alves Bicho
Ir. Joaquim Silva Campos
Ir. Adão - António Ferreira
Sr. Manuel Dias Lopes
Sr. Lourenço Mendes de Andrade
Ir. Martinho Brás
P. Augusto Lopes de Azevedo
P. Filipe Misseno Grilo
Ir. Lino Soares
Sr. Manuel Oliveira
Ir. Damasceno Maçurano
Ir. Estêvão Esteves
P. José Magalhães
Ir .Vicente dos Santos
Ir. Afonso - Geraldo Nunes
Ir. António Marques da Silva
Ir. Germano Teixeira
Ir. Gonzaga Cabral
Adélio TORRES NEIVA
187618681879187818781861188118771889185218901871187518601871187518671846187618821853189018631886189218901882188518911881188618641860186518641886189318721854-
1904
1905
1905
1906
1906
1906
1906
1907
1908
1909
1909
1910
1910
1910
1910
1911
1911
1911
1911
1911
1913
1913
1913
1913
1913
1914
1915
1915
1915
1916
1916
1917
1917
1917
1918
1918
1919
1919
1919
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
BRASIL
PORTUGAL
ANGOLA
BRASIL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
Galeria Espiritana
Ir. Sebastião Fernandes
Sr. José Oliveira
Sr. Manuel Moutinho Ascensão
Ir. Francisco de Faria
Ir. Justino - Miguel da Silva
Ir. Manuel Moutinho da Ascensão
P. Manuel Alves
Sr. Avelino Dourado
Ir. Fernando Fernandes
Ir. Geraldo Martins
Ir. Abel - Joaquim Martins Carneiro
Sr. Augusto Ferreira
Ir. Carlos de Sousa
Ir. Álvares da Silva
Ir. Júlio Lopes Gouveia
P. António Ramos
P. Manuel Alencar
Sr. Álvaro Misseno
Ir. José Lopes de Sousa
P. João José Alves
Ir. Miguel da Silva
P. Aquilino Câmara
P. Luís Cancela
P. Manuel Sousa
Ir. Alípio - Francisco da Moita
P. José Maria Antunes
Ir. Camilo Jorge
Ir. Estanislau Carrilho
Ir. Ricardo Pereira
P. Luciano de Sá
Ir. Gregório Gomes
Ir. José Maria Marques
P. José Seveno
P. Lourenço André
Ir. Mateus - Eleutério Tomé
P. Luís Barros da Silva
Ir. Augusto Soares Queirós
Ir. Nuno Marques
Ir. Estêvão Dias Vieira
907
186118971897186218611898187918921851187218641897187518541867188418861900185518831865190018661866184118561867187018751881187419051902186818561869185118931903-
1919
1919
1919
1920
1920
1920
1920
1920
1921
1921
1921
1922
1922
1923
1923
1924
1924
1924
1925
1926
1927
1927
1927
1927
1928
1928
1929
1929
1929
1929
1930
1930
1930
1930
1931
1931
1932
1932
1933
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
BRASIL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
FRANÇA
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
ZANZIBAR
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
908
Ir. Lucas - Lucas Ferreira
P. Manuel Dias
Ir. Inácio Alves
Ir. Alberto Silva
Ir. Lourenço Naval
Ir. Teotónio Gomes
P. José A. Terças
Ir. Brás Gomes
Ir. Celestino Oliveira
Ir. João Bento Borges
P. Manuel Vieira
Sr. Francisco Sarmento
Ir. Domingos Martins
Ir. Jorge Carvalho
P. Manuel Brás
Ir. João de Brito da Silva
P. Joaquim Rocha
Sr. José Baptista
Ir. Bento dos Santos
Ir. Frutuoso da Silva
Ir. Silvano Gomes
P. António Pereira
Ir. António Pereira
Ir. Germano Baptista
Ir. Adélio - António Cangueiro
Ir. Duarte Vaz
P. Abílio Teixeira
Sr. Custódio Pereira
Ir. Fortunato Pereira
Ir. Ambrósio - António Lourenço
Ir. Luís Gonzaga Silva
P. João Cardona
Ir. João Baptista Ferreira
Ir. João de Deus Oliveira
P. José Alves Terças
P. José Pacheco Monte
P. Vicente Soares
Ir. Paulo Pinheiro Ribeiro
P. Lindorfo Quintas
Adélio TORRES NEIVA
1846- 1933 PORTUGAL
1891- 1933
BRASIL
1857- 1934 PORTUGAL
1875- 1935
ANGOLA
1850- 1935
ANGOLA
1856- 1935
ANGOLA
1904- 1935
ANGOLA
1911- 1936 PORTUGAL
1867- 1936
ANGOLA
1894- 1936
ANGOLA
1898- 1936 PORTUGAL
1913- 1937 PORTUGAL
1856- 1938
ANGOLA
1915- 1938 PORTUGAL
1875- 1938 PORTUGAL
1864- 1939
ANGOLA
1884- 1939
HAITI
1919- 1939 PORTUGAL
1855- 1940 PORTUGAL
1864- 1940 PORTUGAL
1863- 1940
ANGOLA
1872- 1940
ANGOLA
1873- 1941
ANGOLA
1909- 1941 PORTUGAL
1851- 1942 PORTUGAL
1871- 1942
ANGOLA
1914- 1942
ANGOLA
1916- 1942 PORTUGAL
1877- 1943
ANGOLA
1877- 1943
ANGOLA
1868- 1943
ANGOLA
1877- 1943
ANGOLA
1864- 1944 PORTUGAL
1865- 1944 PORTUGAL
1880- 1944 PORTUGAL
1876- 1944 PORTUGAL
1907- 1944 ZANZIBAR
1880- 1945 PORTUGAL
1912- 1945 CABO VERDE
Galeria Espiritana
Ir. António Pereira
P. António Gomes
P. Manuel Junqueira
P. Miguel da Fonseca
Ir. Ângelo - Joaquim Alves Bicho
Ir. Xavier Moreira
P. António Nunes da Costa
Ir. Agostinho Soares Patrício
Ir. António Ferreira
Ir. Cristiano - Cristiano Pacheco Nunes
Ir. Gervásio Dantas
Ir. Marcos Rodrigues
Sr. Acácio Silva
Ir. Anselmo - Manuel Rodrigues
Ir. Boaventura Alves Azevedo
Ir. Serafim Rodrigues
Ir. Antero da Silva
P. Joaquim Alves Correia
Sr. Joaquim Vale
P. José Domingues Sampaio
P. Domingos Vieira Baião
Ir. Narciso - Manuel Costa
P. António Ribeiro Teles
Ir. João Baptista - Adriano Lopes
Ir. Luís - Luís Ribeiro Novo
P. Arnaldo Baptista
D. Faustino Moreira dos Santos
Ir. Valfredo - Valfredo Pinheiro
Ir. Amândio - José de Oliveira Claro
P. João Albino Alves Manso
P. José Maria V. B. Felgueiras
Ir. Gualberto - Ildefonso Lourenço Antunes
Ir. Celerino Cordeiro
Ir. Gonçalo - Alfredo Alves de Magalhães
P. António Brojo Almeida Direito
Ir. Lourenço - João Matias
P. Agostinho Rodrigues Pintassilgo
P. António Rodrigues Pintassilgo
P. Manuel António de Sousa
909
188019081910186618781868189919191883187818681885191818671871187718611889192219241886186818811924189218911885188118791908191118761893188919211899188418881906-
1946
ANGOLA
1947 PORTUGAL
1947
ANGOLA
1947 PORTUGAL
1948
ANGOLA
1948 PORTUGAL
1948 PORTUGAL
1949 PORTUGAL
1949
ANGOLA
1949
ANGOLA
1949
ANGOLA
1949
ANGOLA
1949 PORTUGAL
1950
ANGOLA
1950
BRASIL
1950 PORTUGAL
1951 PORTUGAL
1951
E. U. A.
1951 PORTUGAL
1952
ANGOLA
1952 PORTUGAL
1953 PORTUGAL
1953 PORTUGAL
1954 PORTUGAL
1954 PORTUGAL
1954 PORTUGAL
1955 CABO VERDE
1955 PORTUGAL
1956
ANGOLA
1956
ANGOLA
1956
ESPANHA
1957
ANGOLA
1958
ANGOLA
1958 PORTUGAL
1958 PORTUGAL
1959
ANGOLA
1959
ANGOLA
1959
ANGOLA
1959
ANGOLA
910
Ir. Marcelino - Manuel Joaquim António Martins
Ir. Silvestre - Carlos Augusto da Silva
P. Bernardo Vieira Melo
P. Joaquim Pereira da Silva
P. António Pintassilgo
P. Celestino Oliveira Belo
Ir. Protásio - José Gomes Ferreira
P. Agostinho Esteves Pinheiro
P. João José da Cruz
Ir. Miguel - Miguel José de Sousa
P. Manuel Dias Matos Lage
P. Querubim Cunha Meireles
P. Manuel Misseno
Ir. Luciano - Luciano Ferreira
Ir. Pedro - Cipriano Pinto de Almeida
P. Aníbal Pompeu Oliveira Rebelo
Ir. Bernardino Sena - José Ascensão Lázaro Salcedas
Ir. Francisco Assis - Narciso Martins Vaz
P. Álvaro Óscar da Cruz Melo
P. Clemente Pereira Silva
P. José Gonçalves da Silva
P. José Pereira Marante
P. Mário Alves da Silva
P. António Ferreira da Silva
D. Daniel Gomes Junqueira
Ir. Manuel Martins Campos - Evaristo
P. António Rodas de Sousa
P. José Finck
P. José Rodrigues Cosme
P. José Santos Fonseca
P. Manuel Ribeiro
P. António Martins Fernandes
Sr. Manuel Costa Mendes
Ir. Arnaldo - Francisco Xavier Fonseca
Ir. Augusto - Domingos Abreu Marques
Ir. Bernardo - Joaquim Nogueira
Ir. Casimiro - José Esgalhado
Ir. Celestino - José Lourenço Leitão
Ir. José - Joaquim Esteves Pinheiro
Adélio TORRES NEIVA
1877- 1960
1907- 1960
1909- 1960
1875- 1960
1891- 1961
1922- 1961
1878- 1962
1907- 1962
1883- 1962
1895- 1963
1879- 1963
1918- 1963
1891- 1964
1881- 1965
1892- 1965
1886- 1966
1908- 1967
1876- 1967
1910- 1967
1886- 1967
1918- 1967
1929- 1967
1902- 1967
1919- 1969
1894- 1970
1872- 1970
1918- 1970
1881- 1970
1896- 1970
1923- 1970
1900- 1970
1941- 1970
1948- 1970
1875- 1971
1915- 1971
1884- 1971
1902- 1971
1924- 1971
1926- 1971
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ESPANHA
PORTUGAL
ANGOLA
SUÍÇA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
Galeria Espiritana
P. Manuel Alves Laranjeira
Ir. Bonifácio - Manuel Pinto da Silva
D. Pompeu Sá Leão Seabra
Ir. Elias - Aprízio Ribeiro
Ir. Teodoro - António Machado
Ir. Cláver - Alexandre Fernandes
Ir. Evangelista - Manuel José Ramos
Ir. Lucas - José Anacleto Pereira Ascensão
P. Francisco Joaquim Vaz
P. Augusto Teixeira Maio
P. José Maria Figueiredo
Ir. Afonso Rodrigues - Gaudêncio Gonç. Henriques
Ir. Martinho Carlos M. Gomes
P. Adélio Ribeiro Lopes
P. Domingos Alves Salgueiro
P. Joaquim Gomes
Ir. David Armando Costa Pinto
Ir. Justino - António Santos Barroca Gil
Ir. Messias - Francisco Marques Paulino
P. Angelino Oliveira Guimarães
P. Jerónimo Ferreira
Ir. Teófano - António Joaquim Messias
Ir. Veríssimo - Eugénio Maria Alves Rafael
Ir. Vital - Joaquim Fernandes
P. Daniel Rosa Junqueira
P. José Silva Pereira
Ir. Berkmans - António Martins Cunha
P. António Lourenço Brás
P. Joaquim Resende Barata Freire Lima
P. José Marques Gonçalves de Araújo
P. José Rodrigues Neiva de Araújo
D. Moisés Alves de Pinho
Ir. Porfírio - Francisco Pinto da Silva
P. Alfredo Mendes
P. Jacinto Ngole
P. Manuel Jesus Raposo
Ir. Fiel - Luís Rosa
Ir. Abílio - António Lopes de Sousa
Ir. Eugénio - Avelino Afonso Rocha
911
1928- 1971
1924- 1972
1908- 1973
1903- 1973
1910- 1973
1881- 1974
1909- 1974
1909- 1974
1916- 1974
1912- 1975
1883- 1975
1914- 1976
1909- 1976
1930- 1976
1911- 1976
1920- 1976
1914- 1977
1902- 1977
1913- 1977
1903- 1977
1890- 1977
1892- 1978
1902- 1978
1914- 1978
1937- 1978
1907- 1978
1905- 1979
1912- 1979
1901- 1979
1932- 1979
1899- 1979
1883- 1980
1904- 1980
1911- 1980
1935- 1980
1893- 1980
1922- 1981
1895- 1981
1921- 1981
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
QUENIA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
912
P. João Domingues Terças
P. Joaquim Pereira Pinto
P. Porfírio Duarte Lourenço
Ir. Pedro Quitumba
P. Francisco Alves do Rego
P. José Maria Pereira
Ir. Agostinho - Agostinho Alves Trindade
P. António Cardoso
P. António de Oliveira Giroto
P. Manuel Rodrigues Ferreira
Ir. Lázaro - Serafim Dias
P. Abel Pinto de Sousa
P. Guilherme Carlos Ribeiro
P. Ismael Baptista
Ir. Assis - José Vieira
P. António Brásio
P. Armando Alves Pinto
P. Cândido Ferreira da Costa
P. João Pinto da Silva
P. José Oliveira Andrino
Ir. Filipe - Clemente Ribeiro Pereira Vilela
Ir. Hilário - José Oliveira Martins
Ir. Joaquim - José Afonso da Cunha
P. Adriano Rocha
P. Isalino Alves Gomes
P. Joaquim Correia de Castro
P. José Pereira de Oliveira
P. Manuel Geraldes Pereira
P. Henrique Alves
P. Augusto Nogueira de Sousa
P. Francisco Nogueira da Rocha
P. Manuel Soares Moutinho
Ir. Cipriano - Avelino Nogueira Cunha
Ir. Domingos - Rogério Anjos Meireles
Ir. Jerónimo - António Silva Gomes
P. Alfredo dos Santos
P. Avelino Alves Barreto
P. José Gonçalves Torres Palma
D. Agostinho Joaquim Lopes de Moura
Adélio TORRES NEIVA
1908- 1981
1916- 1981
1926- 1981
1907- 1982
1904- 1982
1913- 1982
1895- 1983
1916- 1983
1926- 1983
1919- 1983
1904- 1984
1912- 1984
1915- 1984
1915- 1984
1924- 1985
1906- 1985
1909- 1985
1904- 1985
1909- 1985
1917- 1985
1916- 1986
1922- 1986
1921- 1986
1907- 1986
1895- 1986
1898- 1986
1909- 1986
1911- 1986
1910- 1986
1925- 1987
1912- 1987
1910- 1987
1910- 1988
1921- 1988
1908- 1988
1918- 1988
1916- 1988
1925- 1988
1910- 1989
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
BRASIL
ANGOLA
PORTUGAL
BRASIL
FRANÇA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
BRASIL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
ANGOLA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
Galeria Espiritana
P. José Fonseca Lopes
P. João Eduardo Moniz
Ir. Inocêncio - José Domingues
P. António Belarmino Galhano
Ir. Estanislau - Francisco Sousa Moreira
Ir. Nicolau - João Machado
P. Manuel Perfeito Martins Ferreira
P. Avelino Pereira da Costa
P. José Felício
Ir. Inácio - José Tomás Cavalheiro
P. Abílio Fonseca Guerra
P. António Amâncio Ventura
Ir. Damião - Joaquim Gomes de Oliveira
Ir. Estêvão - Manuel Joaquim Duarte
Ir. Mateus - João António Fernandes
Ir. Torcato - Manuel Barreto Coelho
P. Alfredo Purificação Pereira
P. Avantino de Sousa
P. Henrique Sá Couto
P. José Francisco Valente
Ir. Amaro - Luís Augusto Oliveira
Ir. Moisés - Joaquim Costa Correia
P. Álvaro Soares da Silva
P. José Pinto de Carvalho
P. Eduardo da Silva Leitão
P. José Alves
P. António Joaquim da Silva
Ir. Francisco Rodrigues Morais
P. António Luís Gonçalves
P. Manuelino Pinto de Oliveira
P. Cidalino Ferreira de Melo
P. Firmino Cardoso Pinto
P. José António Teixeira
P. Manuel António Meira
P. Agostinho Pereira da Silva
Ir. Paulo - José Francisco Coelho
Ir Vítor - Manuel Gonçalves Valente
P. Manuel Marinho Lemos do Couto
P. António Pereira Rodrigues
913
191419281920191219111910192719131911191219211921191019271903190519331912191619121917190619111936192019221909192419091918191719151923190219201922191419381924-
1989 PORTUGAL
1989 CABO VERDE
1990 PORTUGAL
1990 PORTUGAL
1991 PORTUGAL
1991 PORTUGAL
1991 PORTUGAL
1991 PORTUGAL
1991 PORTUGAL
1992 PORTUGAL
1992
ANGOLA
1992 PORTUGAL
1993 PORTUGAL
1993 PORTUGAL
1993 PORTUGAL
1993 PORTUGAL
1993 PORTUGAL
1993 PORTUGAL
1993 PORTUGAL
1993 PORTUGAL
1994 PORTUGAL
1994 PORTUGAL
1994 PORTUGAL
1994 PORTUGAL
1995 PORTUGAL
1995 PORTUGAL
1995
ANGOLA
1996 PORTUGAL
1996 PORTUGAL
1996 PORTUGAL
1997 PORTUGAL
1997 PORTUGAL
1997 PORTUGAL
1997
ANGOLA
1997 PORTUGAL
1998 PORTUGAL
1999 PORTUGAL
1999 PORTUGAL
1999
ANGOLA
914
P. Armindo Fernandes Barbosa
P. José Sequeira Ribeiro
P. Manuel David de Sousa
P. Vitorino Jorge da Silva Amorim
P. António Moreira
P. Manuel Domingues Vaz
Ir. Valentim - Adelino Sousa Carvalho
P. António Rodrigues Ferreira
Ir. Francisco - Filipe Duarte
P. Fernando Moreira da Silva
P. Francisco Manuel Lopes
Ir. Joaquim Costa Manso
P. Antero Alves dos Reis
P. Assis Gomes de Sousa Pinho
P. Manuel Augusto Ferreira
P. Sabino Livela
Ir. Sílvio - José Morais de Freitas
Ir. Tiago - Francisco de Oliveira
Ir. Ireneu - Francisco da Mata
P. Manuel Nunes
Adélio TORRES NEIVA
19271915193319271912192019241926191819111917193019271930192119341921191819151925-
1999
1999
1999
1999
2000
2000
2001
2001
2002
2002
2002
2003
2003
2003
2003
2004
2004
2004
2004
2005
ESPANHA
PORTUGAL
PORTUGAL
BRASIL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
ALEMANHA
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
PORTUGAL
915
Capítulo 103
A memória que faz futuro: Os “Santuários
Espiritanos”
CEMITÉRIOS
1. BRAGA
a) Cemitério da cidade – Jazigo-sepultura nº25 com a inscrição: “ Jazigo
perpétuo dos Padres do Espírito Santo”, com cinco sepulturas de mármore:
P. Tomás Hossenlopp
falecido a 15.03.1910 64 anos
Ir. Francisco Faria
“
15.04.1919 58 “
P. Álvaro Misseno
“
22.12.1924 24 “
P. Aquilino Câmara
“
1926 27 “
P. Luis Cancela
“
27.11.1927 61 “
P. Henrique Blériot
“
27.05.1939 78 “
P. José Pacheco Monte
“
09.06.1944 68 “
P. Miguel dos Anjos Fonseca
“
26.06.1947 81 “
P. Cosme (não espiritano)
b) Antigo Cemitério do Fraião
José Neiva Araújo (seminarista)
P. Agostinho Labrousse
Ir. Lucas Ferreira
Álvaro Martins (seminarista)
Ir. Inácio Alves
P. Manuel Vieira
José Baptista (seminarista)
Ir. Bento dos Santos
Ir. Antonino Pereira
Arnaldo Rocha Ferreira (seminarista)
Ir. Adélio Cangueiro
P. José Alves Terças
Ir. João de Deus Oliveira
Ir. Paulo Pinheiro
P. Lindorfo Quintas
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
29.06.1930
26.03.1933
08.10.1933
14.11.1933
08.12.1934
21.04.1935
03.04.1939
20.03.1940
15.10.1940
17.11.1941
18.09.1942
14.01.1944
28.12.1944
12.01.1945
07.04.1945
c) Cemitério Novo do Fraião
P. João Hervé
“
29.10.1945
72
87
“
“
77
38
“
“
85
68
17
91
64
79
65
33
“
“
“
“
“
“
“
“
43
“
916
Ir. Xavier Moreira
Ir. Emílio de Oliveira
Acácio Silva (noviço clérigo)
Ir. Patrício de Sousa
Ir. Antero da Silva
Joaquim Vale (diácono)
Ir. Narciso Costa
Ir. Gonçalo Magalhães
Ir. Marcelino Martins
José Jorge Valente (postulante)
Ir. Protásio Ferreira
P. Manuel Dias Matos Lage
James Machin (agregado)
Ir. Pedro Pinto de Almeida
Ir. Bernardino Salcedas
Ir. Lucas Ferreira
P. José Pereira Marante
Ir. Bernardo Nogueira
Ir. Vital Fernandes
Ir. Veríssimo Alves
P. João Domingues Terças
Ir. Lázaro Dias
P. Avelino Alves Barreto
Ir. Cipriano Nogueira da Cunha
Ir. José Tomás Cavalheiro
Ir. Filipe Duarte (Francisco)
P. Francisco Manuel Lopes
Ir. Joaquim da Costa Manso
Ir. José Morais de Freitas (Silvio)
Ir. Francisco de Oliveira (Tiago)
Adélio TORRES NEIVA
falecido a 15.04.1947
“
23.12.1947
“
02.02.1949
“
19.10.1949
“
01.01.1951
“
06.04.1951
“
08.12.1953
“
17.01.1958
“
27.05.1960
“
13.10.1960
“
04.12.1962
“
02.03.1963
“
10.08.1963
“
23.08.1965
“
06.01.1967
“
05.11.1974
“
05.09.1967
“
29.01.1971
“
13.11.1978
“
13.12.1978
“
11.02.1981
“
01.03.1984
“
20.08.1988
“
24.08.1988
“
25.12.1992
“
03.02 2002
“
25.06.2002
“
25.03.2003
“
15.09.2004
“
12.12.2004
80 anos
67 “
31 “
31 “
90 “
29 “
85 “
68 “
83 “
22 “
83 “
83 “
72
59
65
38
86
64
72
72
90
72
78
81
82
85
73
81
86
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
“
Nota: O cemitério antigo do Fraião, mesmo ao lado da igreja paroquial,
desapareceu, por ocasião da construção do novo. Neste, temos 21 sepulturas em
mármore, uma das quais contém as ossadas dos confrades sepultados no antigo.
Arranjo feito em 1987. Umas 4 ou 5 foram cedidas às Irmãs do Espírito Santo.
2. Coimbra
P. Joaquim Barata Freire de Lima
Jaz.33, leirão 20
P. Isalino José Alves Gomes483
Sep.39, série D, leirão 27
483
Trasladado para a sua terra natal.
falecido a 30.07.1979
“
02.01.1987
78 anos
90
“
A memória que faz futuro: Os “Santuários Espiritanos”
917
3. Godim
Um jazigo sepultura, com três espaços, rodeado de um lancil de granito e leve
corrente suspensa de pequenos pilares e cruz saliente ao meio de um dos lados.
Situa-se no leirão mais baixo
Ir. Augusto César Rodrigues (Serafim)
falecido a 15.12.1950
Ir. António Lopes de Sousa (Abílio)
“
25.11.1981
P. Joaquim Correia de Castro
“
03.03.1986
Ir. Francisco Moreira de Sousa (Estanislau) “
02.07.1991
Ir. Francisco Rodrigues Morais
“
26.06.1996
73 anos
85 “
88 “
79 “
71 “
4. Lisboa (Prazeres)
Sepultura em pedra calcárea. S.P.871; Secção 32. Rua 1, lado direito
P. António Nunes Costa
P. Augusto Teixeira Maio
P. Ismael Baptista
P. José Felício
P. Cidalino Ferreira de Melo
falecido a 10.06.1948
“
31.07.1975
“
15.11.1984.
“
20.08.1991
“
04.12.1997
49 anos
63 “
69 “
80 “
79 “
5. Porto (Agramonte)
Duas sepulturas em pedra mármore, juntas, com a indicação “Congregação do
Espírito Santo”. Numa delas, uma lápide “preito de saudade dos Tarcísios do
Porto” ao P. Rebelo, 4ª secção, nº 318-319.
P. António Gomes da Silva
P. Aníbal Pompeu de Oliveira Rebelo
P. José Alves
falecido a 15.06.1946
“
12.10.1966
“
17.04.1995
39 anos
79 “
72 “
6. Silva (Barcelos)
Capela –Jazigo da Casa da Silva
D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado falecida a 16.12.1935
Ir. Frutuoso
“
05.11.1940
P. António Ribeiro Teles
“
19.10.1953
Ir. Valfredo Pinheiro
“
09.08.1955
Ir. Justino Barroca
“
02.02.1977
D. Isabel (mãe do P. Mendes Pereira)
“
P. Abel Pinto de Sousa
“
25.10.1984
P. José Pereira de Oliveira
“
24.02.1966
P. Manuel Soares Moutinho
“
01.09.1987
Ir. José Vieira (Assis)
“
23.07.1985
92 anos
74
74
74
“
“
“
72
76
77
61
“
“
“
“
918
Adélio TORRES NEIVA
7. S. Domingos de Rana (Torre da Aguilha)
Quatro sepulturas juntas com a indicação “Missionários do Espírito Santo” e
os números 59, 60, 62, 89.
P. Arnaldo Baptista
falecido a 23.03.1954
Ir. Luís Ribeiro Novo
“
25.05.1954
Ir. Adriano Lopes (João Baptista)
“
11.11.1954
P. José Finck
“
25.12.1970
Ir. José Lourenço Leitão (Celestino)
“
23.04.1971
Ir. Augusto Domingos Alves Marques
“
28.05.1971
Ir. Xavier da Fonseca (Arnaldo)
“
21.04.1974
P. José Maria Figueiredo
“
01.08.1975
Ir. Carlos Gomes (Martinho)
“
02.04.1976
P. Joaquim Gomes
“
15.10.1976
Ir. Armando Pinto (David)
“
06.02.1977
Ir. Francisco Marques Paulino (Messias)
“
20.02.1977
Ir. António Martinho da Cunha (Berchmans) “
27.05.1979
P. Manuel de Jesus Raposo
“
25.04.1980
Ir. Luís Rosa (Fiel)
“
18.01.1981
Ir. Avelino Afonso da Rocha (Eugénio
“
01.12.1981
P. António Duarte Brásio
“
13.08.1985
P. José de Oliveira Andrino
“
29.08.1985
P. Manuel Geraldes Pereira
“
09.01.1986
Ir. Clemente Pereira Vilela (Filipe)
“
10.04.1986
P. Henrique Alves
“
22.04.1986
Ir. José Martins de Oliveira (Hilário)
“
28.08.1986
Ir. António da Silva Gomes (Jerónimo)
“
24.06.1988
José Dias
“
1959
P. José da Fonseca Lopes
“
29.07.1989
Ir. José Domingues (Inocêncio)
“
11.04.1990
Ir. João Machado (Nicolau)
“
24.08.1991
Ir. Pedro Quitumba (Angola)
“
18.08.1992
Ir. Joaquim Gomes de Oliveira (Damião)
“
06.02.1993
Ir. João António Fernandes (Mateus)
“
08.05.1993
Ir. Joaquim Duarte (Estêvão)
“
13.06.1993
P. José Francisco Valente
“
12.11.1993
Ir. Luis Augusto de Oliveira (Amaro)
“
15.08.1994
P. Eduardo da Silva Leitão
“
30.08.1995
Ir. José Francisco Coelho (Paulo)
“
16.02.1998
Ir. Manuel Gonçalves Valente (Vítor)
“
20.02.1999
No cemitério de Trajouce:
Ir. Joaquim da Costa Correia (Moisés)
“
27.03.1994
P. Sabino Livela
“
05.07.2004
62 anos
62 “
30 “
89 “
47 “
56 “
96 “
92 “
66 “
56 “
62 “
63 “
74 “
86 “
76 “
60 “
79 “
68 “
74 “
78 “
76 “
64 “
79 “
82 “
74 “
70 “
80 “
75 “
82 “
89 “
65 “
81 “
71 “
75 “
75 “
84 “
91
70
“
“
A memória que faz futuro: Os “Santuários Espiritanos”
919
8. Viana do Castelo
Três sepulturas em terra, com gradeamento à volta e uma placa com a inscrição
“Congregação do Espírito Santo”, na Secção nº 4 C.
P. Desidério Rosé
Ir. Augusto Soares Queirós
Francisco A. Sarmento (escolástico)
Manuel V. de Matos (escolástico)
Ir. João Baptista Ferreira
Ir. Clemente Rafael
P. Jerónimo Ferreira
Ir. Elias Ribeiro
P. António Belarmino Galhano
P. Manuel Nunes
falecido a
-1929
“
20.07.1931
“
28.02.1937
“
1921-1938
“
30.05.1942
“
1876-1945
“
06.08.1977
“
13.09.1973
“
13.03.1990.
“
11.02.2005.
35 anos
81 “
24 “
80
“
87
70
77
79
“
“
“
“
CONFRADES SEPULTADOS NA SUA TERRA NATAL
Arquidiocese de Braga
P. António Martins Fernandes
(S. Salvador do Campo)
P. Daniel Rosa Junqueira.
(Aguçadoira - P. Varzim)
P. Domingos Alves Salgeueiro
( Sta. Maria de Galegos - Barcelos)
P. Guilherme Carlos Ribeiro
falecido a 24.03.1970
28 anos
“
13.10.1978
41
“
“
10.04.1976
65
“
“
20.04.1971
85
“
“
20.04.1971
43
“
“
02.01.1986
81
“
“
29.11.1989
78
“
“
10.10.1991
88
“
“
09.10.1993
88
“
“
21.12.1990
60
“
Ir. Adelino de Sousa Carvalho (Valentim) “
26.03.2001
77
“
28.11.2003
82
“
(Portela - Famalicão)
P. Manuel Alves Laranjeira
(Antas - Esposende)
P. Isalino Alves Gomes
(Vila Cova - Barcelos)
D. Agostinho Lopes de Moura
(Vila das Aves - Santo Tirso)
P. Avelino Pereira da Costa
(Rivães - Famalicão)
Ir. Manuel Barreto Coelho (Torcato)
(Gamil - Barcelos)
P. Manuel Marinho Lemos do Couto
(Marinhas - Esposende)
(Terroso - P.Varzim)
P. Manuel Augusto Ferreira
(Antas - Esposende)
“
920
Adélio TORRES NEIVA
Diocese de Coimbra
P. Joaquim Francisco Vaz
(Penela)
P. José Sequeira Ribeiro
falecido a 01.01.1974
“
17.01.1999
57 anos
84
“
(Abrunhosa - Mangualde)
Diocese da Guarda
P. António Brojo de Almeida Direito
(Aldeias - Gouveia)
P. António Lourenço Brás
(Enxabarda - Fundão)
P. Carlos Rodrigues Pinto
falecido a 21.01.1958
46 anos
“
12.08.1979
61
“
“
02.08.1985
72
“
“
04.08.1980
77
“
“
22.10.1957
81
“
“
23.11.1992
71
“
“
01.09.1996
87
“
(Bandada - Sabugal)
Ir. Cristiano Pacheco
(Aldeia de S.Francisco de Assis - Covilhã)
Ir. Profírio da Silva
(Sta Maria da Covilhã)
Ir. Gualberto
(Vila do Touro - Sabugal)
P. António Amâncio Ventura
(Melo - Gouveia)
P. António Luís Gonçalves
(Vilar Formoso)
Diocese de Lamego
P. António Cardoso
(Queimadela - Armamar)
P. José dos Santos Fonseca
(S.Cosmado - Armamar)
Ir. Jorge de Carvalho
(Cimbres - Armamar)
Ir. Bonifácio da Silva
(Penude - Lamego)
P. José Pinto de Carvalho
(Alamofala - Castro Daire)
P. Firmino Cardoso Pinto
(Armamar - Lamego)
falecido a 09.05.1982
67 anos
“
23.03.1970
47
“
“
1938
23
“
“
11.10.1972
48
“
“
01.10.1994
59
“
“
28.01.1997
81
“
A memória que faz futuro: Os “Santuários Espiritanos”
921
Diocese de Leiria
Ir. Teófano Messias
(Vilar dos Prazeres - Ourém)
P. Alfredo da Purificação Pereira
(Freixianda - Ourém)
P. António Rodrigues Ferreira
(Santa Eufémia - Leiria).
falecido a 07.05.1978
61 anos
“
07.07.1993
60
“
“
09.10.2001
75
“
Diocese do Porto
P. Domingos Vieira Baião
(Rio Tinto - Baguim)
P. Querubim da Cunha Meireles
(Crestuma)
P. Manuel Ribeiro
(Argoncilhe)
D. Moisés Alves de Pinho
falecido a 29.11.1952
“
29.03.1963
42 anos
“
26.05.1970
50
“
“
17.06.1980
96
“
“
20.05.1985
75
“
“
06.10.1961
39
“
“
06.02.1977
74
“
“
26.12.1979
46
“
“
10.12.1962
78
“
“
09.06.1987
75
“
“
24.04.1986
79
“
“
11.11.1954
30
“
“
15.03.1987
67
“
“
26.07.1955
70
“
“
14.02.1981
55
“
“
06.09.1991
64
“
(Fiães - Feira) - Trasladado para Luanda em 20.10.1999
P. Armando Alves Pinto
(Fiães - Feira)
P. Celestino de Oliveira Belo
(Anta - Espinho)
P. Angelino de Oliveira Guimarães
(Anta - Espinho)
P. José Marques Gonçalves de Araújo
(Avintes - Gaia)
P. Francisco Alves do Rego
(Sobreira - Paredes)
P. Francisco Nogueira da Rocha
(Recarei - Paredes)
P. Adriano da Rocha
(Recarei - Paredes)
Ir. João Baptista Lopes
(Paranhos - Porto)
P. Augusto Nogueira de Sousa
(Gandra - Paredes)
D. Faustino Moreira dos Santos
(Gandra - Paredes)
P. Joaquim Pereira Pinto
(S.Paio de Oleiros)
P. Manuel Prefeito Martins Ferreira
(Gens - Foz do Sousa)
922
P. Henrique de Sá Couto
(S.Paio de Oleiros - Feira)
P. Álvaro Soares da Silva
(Argoncilhe Vergada)
P. Manuelino Pinto de Oliveira
(Lobão - Feira)
P. Agostinho Pereira da Silva
(Guizande - Feira)
P. António Moreira
(Tabuado - Marco de Canaveses)
P. Fernando Moreira da Silva
(S.Paio de Oleiros)
P. Assis Gomes de Sousa Pinho
(Caldas de S.Jorge - Feira)
P. Antero Reis
Adélio TORRES NEIVA
falecido a 02.11.1993
81 anos
“
21.05.1994
83
“
“
17.06.1996
77
“
“
08.03.1997
76
“
“
20.02.2000
87 “
“
03.01.2002
91
“
“
29.03.2003
73
“
“
19.07.2003
77
“
(Argoncilhe - Vergada)
Diocese de Vila Real
Ir. Joaquim da Cunha
(Chã - Alijó)
P. José António Teixeira
(Jou – Murça)
P. Manuel David Sousa
falecido a 25.02.1986
64 anos
“
15.02.1997
73
“
“
20.04.1999
66
“
(Fradizela - Mirandela)
Diocese de Viana do Castelo
P. José Gonçalves Torres Palma
(Mujães)
P. Manuel Domingues Vaz
falecido a 13.04.1988
“
25.01.2000
62 anos
79
“
(Adegão. - Ponte do Lima)
Diocese de Viseu
P. Avantino de Sousa
(Vila Cova à Coelheira - V.N Paiva)
falecido a 14.05.1993
80 anos
A História de Provincia Portuguesa
923
MONUMENTOS A ESPIRITANOS
Fiães (Feira) – Busto de D. Moisés Alves de Pinho
Senhora do Salto (Aguiar de Sousa) – Busto do P. Joaquim Alves Correia
Avintes- Efígie do P. José Gonçalves Araújo; conjunto “Ao Espírito Missionário”
Vergada (Argoncilhe) – Busto do P. Álvaro Soares da Silva
Recarei (Paredes) - Busto do P. Adriano Rocha
RUAS COM NOMES ESPIRITANOS
Viana do Castelo: Rua D. Moisés Alves de Pinho, junto ao Seminário
Nogueira (Braga): Rua P. Eigenmann, no lugar do Cruzeiro
Porto: Rua P. Pacheco Monte, junto da capela do Monte Pedral
Coimbra: Travessa do Espírito Santo, em frente da residência espiritana
Godim: Rua das Missões do Espírito Santo, junto do Seminário
Lisboa (Moscavide): Rua P. Joaquim Alves Correia (na Quinta das Laranjeiras)
Gandra (Paredes): Rua D. Faustino Moreira dos Santos
Tires (Cascais): Avenida P. Agostinho Pereira da Silva
Bragança: Rua P. José Maria Pereira
Sassoeiros (S. Domingos de Rana): Rua dos Missionários do Espírito Santo
Jodar (Jaen- Espanha): – Calle P. José Maria Felgueiras
HONRAS ESPECIAIS CONCEDIDAS A ESPIRITANOS
P. José Maria Antunes, Comendador da ordem da Imaculada Conceição
P. José Maria Felgueiras, Ordem Civil de Beneficiência de Espanha (15 /01/ 1959)
P. António Brásio, Comendador da ordem do Infante D. Henrique
(12.04.1962)
P. Joaquim Alves Correia, Grande Oficial da Ordem da Liberdade, a título
póstumo, (24.04.1980)
P. António de Oliveira Giroto, comendador da “Ordem de Camões”
(10.02.1981)
P. Custódio Campos, Ordem de Mérito, pelo Governo de Cabo Verde (em
1981 e 2003)
P. António Cachada, Ordem de Mérito, pelo Governo de Cabo Verde (em
2003)
P. Laurindo de Jesus Marques, Medalha Professor Darcy Ribeiro, pela
Câmara de Queimados (2004).
D. Abílio Rodas de Sousa Ribas, condecorado por várias ordens e entidades,
nomeadamente pelo presidente da República Portuguesa com o grau da Cruz
da Ordem de Benemerência.
924
Adélio TORRES NEIVA
925
Capítulo 104
Títulos da Província Portuguesa
da Congregação do Espírito Santo
A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, reconhecida pelo
Estado, usou no decorrer dos tempos os seguintes títulos:
Congregação do Espírito Santo
Congregação dos Padres do Espírito Santo
Instituto Missionário do Espírito Santo
Instituto dos Padres do Espírito Santo
Instituto do Espírito Santo
Corporação dos Padres do Espírito Santo
Corporação dos Missionários do Espírito Santo de Angola
Missionários do Espírito Santo
Padres do Espírito Santo
Missionários do Espírito Santo em Angola e Congo
Missões do Espírito Santo
Missões Ultramarinas do Espírito Santo
Missões Ultramarinas do Espírito Santo de Angola e Congo
Missões do Espírito Santo em Angola
Missões do Espírito Santo em Angola e Congo
Associação dos Missionários do Espírito Santo
Instituto Missionário do Espírito Santo em Angola
Congregação do Espírito Santo, Província de Angola
Província de Portugal da Congregação do Espírito Santo
Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo
Ordem dos Missionários do Espírito Santo
Congregação dos Missionários do Espírito Santo de Angola
Congregação dos Missionários do Espírito Santo e Angola
(Decreto de 3 de Agosto de 1949)
A Congregação usou ainda os títulos, mas estes não reconhecidos oficialmente:
Corporação dos Missionários de Angola
Missões de Angola e Congo
926
Adélio TORRES NEIVA
Devemos ao Procurador das Missões P. João Pinto da Silva (1947-1950), o
conhecimento oficial e definitivo dos vários nomes que à Congregação eram
dados (excepção feita aos últimos três) e que tanta confusão provocavam:
A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo é uma entidade
canonicamente erecta, com personalidade jurídica também no foro civil, por ter sido
feita a participação da sua existência ao Governo Civil de Lisboa em 6 de Março de
1963, nos termos dos artigos III e IV da Concordata entre a Santa Sé e a República
Portuguesa, tendo sido reconhecida como Corporação Missionária nos termos do
artigo 38º do Decreto Lei 31207 de 5 de Abril de 1941( Estatuto Missionário), por
despacho publicado no Diário do Governo nº 112, IIª Série de 16 de Maio de 1941.