história da Província Portuguesa
Transcrição
história da Província Portuguesa
QUINTA PARTE A PROVÍNCIA E AS SUAS OBRAS 723 Capítulo 78 Correntes de pensamento subjacentes ao itinerário histórico da Província A Província espiritana e o liberalismo A primeira fase da história da Província Espiritana foi marcada, por um lado pelo clima de turbulência então vigente entre a Igreja e o Estado e por outro pela tensão que acompanhou a política colonial do Estado português nessa época. A situação política que se viveu em Portugal na segunda metade do século XIX e na primeira década do século XX integrava-se num contexto mais vasto marcado pela filosofia do iluminismo, pelas doutrinas da Revolução Francesa e pelo liberalismo. Em Portugal tudo começou com o anti-jesuitismo do Marquês de Pombal e a publicação das leis de 3 de Setembro de 1759 e de 28 de Agosto de 1767. A implantação do liberalismo em Portugal abriu uma grave questão religiosa que se manifestou sobretudo na extinção e expropriação das ordens religiosas, no conflito entre a Igreja e o Estado e no corte das relações com a Santa Sé. Depois de alguns avanços e recuos da época liberal, a perseguição religiosa é retomada por Joaquim Augusto de Aguiar que a 28 de Maio de 1834 decreta a extinção das Ordens Religiosas, a expropriação dos seus bens e a sua incorporação imediata nos bens da Fazenda nacional. Por obra deste decreto, cerca de quatro centenas e meia de conventos, casas, mosteiros, hospícios e colégios pertencentes às ordens religiosas foram anexados pelo Estado e posteriormente vendidos pela Junta de Crédito Público. “Para além das razões de ordem moral e religiosa (abuso e relaxação de costumes, inconvenientes provenientes da emancipação e subterfúgio das ordens regulares à autoridade eclesiástica), invocavam-se também razões de ordem política (intromissão e ingerência das ordens religiosas nos negócios civis e políticos, fazendo muitos dos seus membros oposição activa ao liberalismo e comprometendo-se com o Miguelismo) e sobretudo motivos de ordem económica (o celibato impedia o aumento da população, de proprietários e da riqueza; os bens de mão morta impediam a sua transacção e que as terras fossem possuídas e cultivadas afectando o desenvolvimento da indústria e do comércio). Simultaneamente procedeu-se à desamortização dos bens eclesiásticos em geral, submetendo ao direito comum os bens de mão morta legados à Igreja. Com a abolição dos dízimos, a expropriação das ordens religiosas e a 724 Adélio TORRES NEIVA desamortização dos bens eclesiásticos, a Igreja foi sendo privada ao longo do século XIX da maioria dos seus bens, em nome da defesa da propriedade e da liberdade económica A sociedade laiciza-se, o ensino é entregue à sociedade civil. Na França a lei Combes de 1904 interditará o ensino aos membros das congregações religiosas e muitos desses membros serão exilados. Apesar disso, pouco a pouco começa a verificar-se a restauração das antigas ordens religiosas, a começar pelos Jesuítas e assiste-se a um grande florescimento de novas congregações religiosas de votos simples. Efectivamente, a maior parte dos institutos religiosos modernos apareceram neste século. Os motivos deste fenómeno encontra-os o professor Artur Villares446 num conjunto de factores da religiosidade popular que os institutos religiosos souberam canalizar: a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, acelerada com Pio IX, o dogma da Imaculada Conceição, promulgado em 1854 e a devoção ao Santíssimo Sacramento, protagonizada por Pio X, o papa da comunhão das crianças e dos congressos eucarísticos internacionais. Efectivamente uma boa parte destes institutos inspiram-se na espiritualidade do Coração de Jesus e na devoção à Imaculada Conceição. Por sua vez, em 1841 restabeleciam-se as relações diplomáticas com a Santa Sé e em 1848 firmava-se a Concordata. Depois da Regeneração, como diz Hintze Ribeiro, na introdução ao decreto de 18 de Abril de 1901, foram-se introduzindo “comunidades e congregações religiosas, noviciados e profissões, apostolados e catequeses, escolas e instituições de toda a ordem, sem autorização que as legitime, sem fiscalização e até sem conhecimento do Estado, fora da jurisdição ordinária da autoridade eclesiástica, fora dos preceitos que em Portugal regem associações e indivíduos, nacionais e estrangeiros”. Manda porém a verdade que se diga, que, apesar da proibição pela legislação em vigor, muitos o iam fazendo com autorização do Governo. O poder político acabou por tolerar a sua presença, sendo esta apoiada “por alguns membros da família real, pela Nunciatura, alto clero e por certos extractos da aristocracia e da burguesia”.447 Foi um movimento que, embora discreto e cauteloso, foi aumentando ao longo do século XIX, com um impacto crescente no ensino e na saúde. Desde 1848 a 1898 regressaram ou entraram em Portugal 24 institutos religiosos, nomeadamente os Jesuítas (1848), os Lazaristas (1857) e os Espiritanos (1867). Por sua vez, a pressão anti congreganista foi-se alimentando na imprensa, no Parlamento e nos comícios políticos até que em 1901 o caso “Calmon” desencadeou uma onda de calúnias e insultos na imprensa contra o clero, recolhimentos, colégios e instituições católicas. Pressionado pelos acontecimentos, Hintze Ribeiro publicou a 11 de Março de 1901 um decreto em que pede aos governadores civis para investigarem da 446 447 As congregações religiosas em Portugal (1901-1920) p. 21 NETO, Vítor. O Estado, a Igreja e a Sociedade em Portugal (1832-1910) Correntes de pensamento subjacentes ao itinerário histórico da Província 725 existência de instituições nos seus territórios que se destinem à vida monástica ou estabelecimentos pertencentes a religiosos, os quais a existirem, deviam apresentar os estatutos com que tivessem sido fundados; mais pedia para se confirmar se nas casas religiosas se dava admissão a ordens sacras ou noviciados monásticos, coisa que estava proibida pelo decreto de 5 de Agosto de 1833. Se não apresentassem os estatutos dentro de uma semana, deveriam ser imediatamente suprimidos. Deste inquérito resultou ficar a saber-se que realmente existiam no país: - estabelecimentos de ensino, caridade, beneficência, propaganda e associações missionárias, dirigidas por congregações religiosas; - casas onde emitiam votos de clausura, etc. Diante desta informação, Hintze Ribeiro, por decreto de 18 de Abril de 1901 afirmava que estes estabelecimentos não deviam ser suprimidos mas regularizados. E a regularização consistia na prévia autorização do Governo. Para isso, estas associações deviam: - apresentar os seus estatutos para serem aprovados e publicados no Diário do Governo; - limitar-se a actos de beneficência, caridade, educação, ensino, propaganda da fé ou evangelização no Ultramar: - a clausura, o noviciado, a profissão ou os votos continuavam interditos: - as instituições deviam subordinar-se no campo espiritual às autoridades eclesiásticas ordinárias portuguesas e no campo material às leis do país e superintendência do estado; - a direcção deveria ser portuguesa, excepto se o instituto fosse constituído apenas por cidadãos estrangeiros; - os institutos de educação e ensino deveriam estar em sintonia com a legislação referente ao ensino público, os institutos missionários reger-se-iam, por preceitos especiais tendentes a assegurar os benefícios da propagação da fé e civilização nas possessões portuguesas. Caso estas normas não fossem cumpridas, a comunidade devia ser dissolvida e a obra encerrada. Foi à sombra deste decreto que se vieram a registar 56 congregações entre 1901 e 1910, agora transformadas em “associações religiosas”, 47 femininas e 9 masculinas. Entre elas, a Associação dos Missionários do Espírito Santo, cujos estatutos foram aprovados e publicados no Diário do Governo. O período que se seguiu a este decreto continuou, no entanto, marcado por tensões e por vezes conflitos, entre católicos e republicanos, entre congregações religiosas que procuravam defender o seu espaço e militantes anti-clericais que lhes não davam tréguas. Foi neste contexto de instabilidade e turbulência que a Província Espiritana se foi desenvolvendo e consolidando, mercê sobretudo dos seus colégios e da sua obra missionária no Ultramar. 726 Adélio TORRES NEIVA Portugal e a hora da África O século XIX é o século da “redescoberta”, conquista e colonização da África. Durante este século a África será o pólo de convergência e a causa de todas as divergências dos países europeus. Nos meados do século, Portugal tinha efectivamente direitos reconhecidos no continente africano. Mas à posse de direito não correspondia uma ocupação efectiva. A ocupação efectiva limitava-se às zonas do litoral, onde estabelecia as fortalezas militares. Tinha, é certo, alguns postos no interior, mas o território não estava realmente ocupado. As suas relações com os povos do interior eram raras e distantes. Havia povos que se consideravam quase independentes. As próprias forças militares dos presídios, por vezes, eram constituídas só por nativos e pouca garantia ofereciam à ocupação portuguesa. A descoberta da costa africana foi seguida da descoberta da Índia e das suas especiarias e do Brasil com as suas matérias primas e a maior rentabilidade económica destes produtos levou Portugal a desinteressar-se pela África. Os portos africanos tornaram-se sobretudo portos de escala para os barcos que demandavam as Índias. O interesse pela África nos séculos seguintes foi ainda concebido em função desta nova estratégia comercial: o comércio dos escravos com que se alimentavam os engenhos e as mina de ouro da América. Um outro factor que explica esta situação das colónias portuguesas resulta do domínio da Espanha sobre Portugal a partir de 1580. Este domínio levou Portugal para uma série de guerras com países com quem a Espanha estava envolvida, como a Inglaterra, França e Países Baixos e as colónias portuguesas passaram a ser alvo da cobiça desses países. O desastre da “Armada Invencível” desmantelou por completo as nossas forças navais. Outra causa há que procurá-la na instabilidade política de Portugal: as invasões francesas, a ida da família real para o Brasil, as lutas liberais monopolizaram por completo a atenção dos governantes e as colónias foram praticamente esquecidas. Aconteceu, porém, que por meados do século, a Europa se começou a interessar a sério pela África. Começaram ainda no século XVIII a série de viagens e explorações que visavam desvendar os mistérios desse continente até aí esquecido e adormecido no esquecimento da Europa. Com as explorações começou a corrida da Europa para a África. As viagens de exploração levaram à criação de Sociedades de Geografia por toda a parte, as quais tinham por alvo sobretudo o estudo da geografia, da fauna e da flora e das culturas africanas, criou centros de estudo e investigação científica e originou a fundação de estabelecimentos comerciais e feitorias por conta dos governos que subsidiaram estas viagens. À corrida científica seguiu-se a corrida comercial e finalmente a corrida militar. Esta corrida à África criou naturalmente rivalidades, conflitos e competições entre as diferentes potências europeias que fizeram deste período africano, um período internacional particularmente agitado. Correntes de pensamento subjacentes ao itinerário histórico da Província 727 Foi assim que portugueses, ingleses, alemães, belgas se lançaram pela África dentro desventrando-a em todas as direcções. A Conferência de Berlim em 1885, culmina toda esta competição, procurando dar cobertura legal a esta invasão. Este tratado feito em nome da civilização da África, foi sem dúvida, o tratado da exploração desse continente. Lembremos algumas das suas conclusões mais significativas: - A ocupação efectiva do território para o direito à sua posse, em contraposição com o direito histórico; - A supressão da escravatura e do tráfico dos negros por parte das potências que exerçam soberania sobre esses territórios; - A liberdade de consciência e a tolerância religiosa para todos os cultos e das estruturas necessárias ao exercício desses cultos; - A protecção aos missionários, sábios e exploradores; - A protecção a todas as instituições e empresas religiosas, científicas ou humanitárias que procuram a promoção dos indígenas; - A defesa das populações indígenas e o melhoramento das suas condições de vida morais e materiais; Este Tratado obrigou Portugal a voltar-se para a África, a preparar expedições científicas, a promover o desenvolvimento das suas colónias e a tentar fazer a ocupação do território por todos os meios ao seu alcance: estabelecimento de colónias, missões religiosas e campanhas militares, etc. Desta situação nasceram naturalmente susceptibilidades para com os estrangeiros, inclusive missionários, que tiveram não pouco impacto na história da missão espiritana, que ao princípio dependia quase completamente da França. A ideologia do Movimento Republicano O Partido Republicano Português foi fundado em 1871, elaborado à base das ideias positivistas colhidas em Augusto Conte, cozinhadas na Conferência do Casino e apresentava-se como vector alternativo não só à monarquia como também à igreja. A proclamação da República em 1910 fez-se assim acompanhar das maiores violências não só contra a monarquia como contra o clero e as classes religiosas. A primeira imagem de marca da ideologia do Partido republicano é o seu antijesuitismo. Implantada a República, a primeira iniciativa que o Governo tomou foi deliberar contra as congregações religiosas. As ordens e congregações religiosas são novamente extintas, a legislação do Marquês de Pombal, que expulsava os Jesuítas é reposta e logo a seguir é reactivado o decreto de 28 de Maio de 1834 que suprimia todos os “conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer casas de religiosos de todas as ordens regulares, fosse qual fosse a sua denominação, instituto ou regra”. Por outro lado, decretava nulo e contrário ao espírito e à letra dos mencionados diplomas, o artigo 4º do Decreto de Hintz Ribeiro de 18 de Abril de 1901, que autorizava as instituições ou congregações religiosas no país, quando se dedicassem exclusivamente à instrução, beneficência, propaganda da fé ou civilização no Ultramar. 728 Adélio TORRES NEIVA Na sequência destas decisões, não só os jesuítas como todos os membros das congregações religiosas, conventos, colégios, associações, missões ou outras casas pertencentes às ordens religiosas foram expulsos do país os que recusassem a viver secularmente no país, outros espancados e vaiados, levados muitos deles para as prisões, e aí sujeitos a interrogatórios e exames na pretensão de provar uma propensão congénita para o crime. A esta onda de desacatos seguiram-se medidas legislativas do Governo Provisório, destinadas, na intenção confessa de Afonso Costa, ministro da Justiça, a acabar com a religião no espaço de duas décadas. Os bens das ordens religiosas deviam ser avaliados e arrolados; os dos jesuítas eram desde logo pertença do Estado; os outros ficavam ou na posse ou na tutela do Estado, vindo a ser na quase totalidade incorporados na Fazenda Nacional. “Foi proibido o uso de vestes talares e várias medidas foram tomadas para laicizar a vida pública; abolição de todos os juramentos de caracter religioso; supressão do ensino da religião nas escolas primárias; abolição dos Estatutos da Universidade de Coimbra de todas as obrigações religiosas e extinção da Faculdade de Teologia com a anulação das matrículas; abolição dos dias consagrados; dissolução das mesas administrativas das irmandades e confrarias e sua substituição por novas comissões; introdução do divórcio; extinção da cadeira de Direito Eclesiástico na Faculdade de direito de Coimbra; proibição na participação de cerimónias religiosas aos membros das Forças Armadas; determinação da exclusiva validade civil do contrato matrimonial; revogação dos artigos do Código do Direito Penal que atribuíam pena de prisão a quem faltasse ao respeito à religião e privava de direitos políticos os que apostatassem ou renunciassem à religião; promulgação da lei do registo civil. Para além desta onda legislativa o governo provisório lançou mão de várias medidas administrativas: encerramento das sedes das várias organizações católicas, depois de muitas delas terem sido assaltadas, encerramento de orgãos de imprensa católica, prisão de padres (de Fevereiro a Julho 170 padres passaram pelos calabouços); proibição da realização de cerimónias religiosas fora dos recintos a isso expressamente destinados, sem autorização oficial. Para com os bispos a actuação foi de forte repressão. Os bispos publicaram uma pastoral colectiva sem prévia requisição do beneplácito, em que manifestavam as suas preocupações; cautelosamente reconhecem o princípio dos poderes constituídos e obediência dos católicos em tudo o que não for contrário às leis de Deus e da Igreja. Um mês depois da revolução os bispos enviam ao Governo uma “nota colectiva” em que defendem a necessidade de qualquer nova lei sobre a matéria religiosa garantir o livre exercício do culto e reconhecer a personalidade jurídica da Igreja Católica quanto à posse e gestão dos seus bens e decidem publicar uma pastoral colectiva, “a primeira na história do episcopado português, considerando que não podem nem devem ficar silenciosos e impassíveis em tão excepcional conjuntura”. O posicionamento dos bispos pode resumir-se nas seguintes ideias-força: Correntes de pensamento subjacentes ao itinerário histórico da Província 729 - acatamento das novas instituições, reafirmando a doutrina tradicional de respeito à autoridade social e aos poderes constituídos, preconizando a obediência dos católicos em tudo o que não for contrário à consciência e apelando à sua participação em tudo o que seja em benefício da pátria; - denúncia do que considera ser não apenas o carácter católico mas anti-católico da nova legislação governamental, atendendo ao peso dominante dos católicos em Portugal; - desaprovação de todas as medidas que atingem a liberdade e autoridade da Igreja Católica nos diversos campos da vida social, contrariando os próprios princípios políticos proclamados pela República; - apelo à unidade de todos os católicos, sob a direcção da hierarquia, lembrando os seus deveres em relação à vida pública e política, na defesa dos interesses da religião e da Igreja católica; - recomendação aos padres para se concentrarem como padres nos seus deveres essenciais de doutrinação cristã e como cidadãos se empenharem nas obras sociais que beneficiem o povo, insuflando-lhes o espírito do cristianismo; - reafirmação da identidade católica, em obediência directa ao Papa em contraponto com qualquer projecto de igreja nacional ou sociedade religiosa particular. Esta carta acabou por ser proibida, tendo o bispo do Porto D. António Barroso sido destituído da sua diocese. A lei da separação levantou uma série de problemas devido à sustentação do clero mas acabou por unir o clero. Entre 1911 e 1913 a hierarquia católica resistiu como pôde à aplicação do decreto da separação da Igreja do Estado particularmente nos aspectos que considerava mais graves, nomeadamente a obrigatoriedade de instalação de associações cultuais. Como consequência desta atitude os bispos foram desterrados para fora das suas circunscrições. Afonso Costa proibiu a sua leitura nas igrejas e ameaçou destituir os desobedientes. D. António Barroso foi, por isso, expulso da sua diocese e a sua sede declarada vacante. “A promulgação da Lei da Separação da Igreja e do Estado de 20 de Abril de 1911 veio completar este quadro e provocou a ruptura das relações diplomáticas com o Vaticano e os protestos do Papa e dos bispos, que se insurgiram sobretudo contra a espoliação dos bens da Igreja, contra o desrespeito da autonomia eclesiástica em assuntos religiosos e da liberdade religiosa. Entre Novembro de 1911 e Junho de 1912 a quase totalidade dos bispos foi desterrada das suas dioceses e muitos padres incriminados”.448 Fazia parte desta lei o artigo 189 que concedia ao Governo autorização para reformar os serviços do Colégio das Missões Ultramarinas, de modo que a propaganda civilizadora das colónias portuguesas, que ainda tivesse de ser feita por ministros da religião, fosse confiada exclusivamente ao clero secular português, especialmente preparado para esse fim em institutos do Estado. 448 CRUZ, Manuel Braga da - in Dicionário da História Eclesiástica de Portugal vol II p. 405-406 730 Adélio TORRES NEIVA Para aplicação destas leis foram nomeadas duas comissões: a Comissão Jurisdicional dos bens das Extintas Congregações Religiosas e a Comissão Central da Lei da Separação. Um dos instrumentos mais eficazes da República contra as congregações religiosas, por parte do Estado, foi a recolha da documentação existente nas casas encerradas. Livros de actas, catálogos de membros, cartas que comprovavam o carácter de verdadeira congregação religiosa, tudo isso possibilitou ao Estado a possibilidade de se defender das reclamações que vieram a fazer-se inclusive nos tribunais internacionais. Desde Junho de 1911 eram enviados para o Quelhas pela Comissão Jurisdicional, “caixotes, malas, cestos, carroças, etc. contendo livros, papéis, estátuas, retábulos, quadros, móveis e outros objectos variados, vindos de diversos conventos de todo o país”. Com este espólio veio a ser criado em 1917 o Arquivo das Congregações, composto por 207 maços, além da documentação espalhada totalmente desorganizada, bem como o Museu e a Biblioteca das Congregações com 1235 livros. A reconquista cristã da sociedade “A experiência da Igreja Católica com um programa intencional de laicização das principais instituições, que se vinha definindo desde a instauração da Monarquia Constitucional e o clima de guerra religiosa que se desenvolveu na sociedade com a instalação do novo regime, acabou por despertar o espírito militante dos católicos e por determinar a progressiva recomposição interna do catolicismo português. Essa mobilização verificou-se não apenas nas zonas rurais do Norte do país, em reacção contra as perseguições e ataques ao sentimento religioso das populações, mas também a nível dos sectores mais dinâmicos do movimento católico, envolvendo figuras de prestígio social e cultural, empenhadas em encontrar novas respostas, enfrentando os ataques de que a Igreja Católica era alvo”.449 De facto, desde finais do século XIX que se vinha desenvolvendo o chamado catolicismo social, que procurava restaurar a ordem social cristã, com Círculos Católicos Operários e outras iniciativas. Por sua vez, os bispos, depois de várias interferências e protestos junto do Governo, inclusive com a publicação pela primeira vez de uma pastoral colectiva que não produziu o efeito desejado, e acabou até na expulsão das suas dioceses, voltam-se para o povo português, publicando a 10 de Julho de 1913 um “Apelo do episcopado aos católicos portugueses”, conhecido por “Apelo de Santarém”, do nome da cidade onde foi assinado. Será este documento que vai abrir uma nova fase na recomposição do catolicismo português e à reorganização do movimento católico e que culminará com a realização do Concílio Plenário Português em 1926 e com a fundação da Acção católica em 1933. É um período que se caracteriza pela “união dos católicos e pela sua mobilização em ordem a uma intervenção pública, na defesa dos interesses da 449 FONTES, Paulo de Oliveira - O catolicismo português no século XIX. In História religiosa de Portugal vol III p. 137 Correntes de pensamento subjacentes ao itinerário histórico da Província 731 religião e da Igreja contra as leis do divórcio, da proibição do ensino nas escolas, das limitações a práticas e manifestações públicas do culto católico. A organização da Acção Católica começava a apresentar-se como o grande pólo catalizador da união e da mobilização dos cristãos. Unir os católicos, congregar esforços e iniciativas já existentes mas dispersas, para reafirmar a dimensão social, ao mesmo tempo progressiva e integradora do catolicismo, ou seja, organizar a acção católica de que nenhum sector da sociedade fosse excluído, era o objectivo. Nela se deviam integrar ambos os sexos, quaisquer idades, todas as profissões. O objectivo último da Igreja Católica era restaurar a sociedade portuguesa segundo o espírito de Jesus Cristo, restabelecer a civilização cristã em união com o Vigário de Cristo na terra. A luta a travar era contra a laicização da vida social e privatização da fé, recuperar o lugar social a que a Igreja tinha direito e não a relegar para o foro da vida privada. A “União Católica surge assim como uma organização geral dos católicos, com âmbito paroquial, diocesano e nacional, procurando reunir todas as associações e todas as agremiações católicas anteriores”. Daqui nascerá o Centro Católico Português, que é o primeiro sinal da restauração da sociedade cristã. E depois, é toda uma série de movimentos que emergem, como o CADC de Coimbra, movimentos de juventude católica, Cruzada Eucarística, explosão da religiosidade popular, como a devoção à Eucaristia, a construção de santuários como o Sameiro, Senhora da Rocha e Bom Jesus do Monte e finalmente e sobretudo as aparições de Fátima em 1917. Tudo isto se transforma numa forma de resistência e mobilização do espírito religioso das populações e simultaneamente em promessa de salvação nacional que a República Nova de Sidónio Pais (1917-1918) procura encarnar. O Concílio Plenário Português em 1926 será um ponto de chegada de toda esta caminhada da união dos católicos na restauração religiosa da Pátria contra o “laicismo oficial imposto, como se Portugal fosse exclusivamente constituído por ateus”. Com o advento do Sidonismo, começam finalmente a surgir as primeiras medidas por parte do Governo que anunciam uma mudança de rumo: anulação das penas de desterro aplicadas aos bispos, das penas de interdição de residência nas paróquias a muitos párocos, da proibição do culto em edifícios do Estado, autorização de os estabelecimentos de assistência de receberem doações, heranças e legados. Revê-se a Lei da Separação, abolindo a necessidade de licença para o exercício do culto a certas horas, a fiscalização do Estado sobre os seminários, o Beneplácito, a proibição de vestes talares, etc. Reabrem ao culto muitas igrejas anteriormente encerradas. O próprio Sidónio Pais assiste a cerimónias religiosas pelos mortos na guerra e pela vitória aliada. Reatam-se as relações com o Vaticano em Julho de 1918. José de Almeida prossegue na sua presidência a tentativa de aproximação com a Igreja. É neste contexto que se insere o “Colégio – Jardim” da Rua de Santo Amaro e se começa a preparar a restauração da Província Portuguesa. O colégio “ponderada a situação actual da sociedade portuguesa pelos fundadores e proprietários, destinava-se a ser um abrigo das classes conservadoras, um 732 Adélio TORRES NEIVA produto contra o espírito de desorganização e imoralidade que se nota no país e que domina nos liceus e em quase todas as escolas da capital. O Colégio – Jardim teria ainda em vista formar um elite nacional que fosse um traço de união entre a geração que acaba vítima da força da desordem a que não soube resistir e a geração que desponta, sem dúvida cheia de boa vontade e espírito patriótico”. A formação do colégio assentava em dois pilares, em que se baseava a restauração de um novo modelo de sociedade: Religião e Pátria. O amor e devoção a Portugal, o espírito tradicional e conservador, o respeito pela nossa história e pelos seus pergaminhos, o ensino da história pátria e da literatura nacional eram valores a salvaguardar. A mística da “dilatação da Fé e do Império” A Lei da separação da Igreja e do Estado, promulgada a 20 de Abril de 1911, estabelecia que a “propaganda civilizadora” que tivesse de ser realizada por ministros da religião nas colónias, fosse feita apenas pelo clero secular português, especialmente preparado para este fim em instituições do Estado. Previa-se no mesmo diploma, a reorganização do Colégio das Missões Ultramarinas e a extinção ou substituição das igrejas e das missões estrangeiras, sem prejuízo das obrigações assumidas por Portugal em convenções internacionais quanto ao ingresso de missionários em África. A 22 de Novembro de 1913, Almeida Ribeiro, pelo decreto 233, aplicou os princípios da Lei da Separação aos territórios portugueses de África e criou as “missões civilizadoras”, formadas exclusivamente por leigos, em que se excluía a dimensão religiosa. No entanto, as missões religiosas de qualquer confissão, admitiam-se, desde que fossem exclusivamente compostas por portugueses europeus e o número dos seus membros não fosse superior a três. Estas missões podiam ter o apoio oficial, mas deviam submeter à apreciação do Governador da Província o seu programa de ensino e de acção civilizadora e conformar-se com as alterações que a autoridade lhes introduzisse. As missões católicas já existentes, se não se adequassem a estes princípios no prazo de seis meses, não teriam direito a qualquer apoio do Estado. A 15 de Setembro de 1917 criou o Instituto das Missões Coloniais, no antigo Colégio de Cernache do Bonjardim para a formação dos missionários civilizadores leigos. O empobrecimento que estas medidas causaram às missões levaram a uma progressiva mudança das mentalidades. Primeiro foi o governador geral de Moçambique que em 1914 suspendeu as principais disposições do decreto de 1913, mandando dar às missões os subsídios habituais, medida que em 1919 foi legitimada pelo ministro das Colónias que autorizou os governos ultramarinos a concederem subsídios aos institutos religiosos, embora com certas condições. Em 1919, outro ministro das Colónias, João Soares, estabelece as doze primeiras missões laicas, saídas de Cernache, mas autoriza a formação de missões religiosas, devendo os seus superiores e a maioria do pessoal ser português. Correntes de pensamento subjacentes ao itinerário histórico da Província 733 Neste ano de 1919, deram-se passos decisivos para a revisão da legislação republicana a respeito das missões. Cinco padres seculares, vindos de Moçambique, iniciaram uma vasta campanha a favor das missões, ajudaram a criar um ambiente favorável às missões católicas no ultramar, a que foi sensível o ministro das Colónias Rodrigues Gaspar. Este ministro dispôs-se a consultar os missionários, nomeadamente o P. José Maria Antunes, que representava os Missionários do Espírito Santo e o P. Rafael da Assunção, franciscano, missionário em Moçambique. Como resultado destas conversações foram publicados o decreto de 24 de Dezembro de 1919 e o de 26 de Agosto de 1922. O primeiro assegura o recrutamento dos missionários em Portugal, concedendo aos diversos grupos a faculdade de nomearem um procurador para abrir casas de estudo e autorizando as missões a empregarem 20 por cento dos subsídios recebidos na formação do pessoal português. O segundo decreto equipara os missionários a funcionários do Estado que os aceitava como seus agentes civilizadores, embora dependessem no seu ministério da autoridade eclesiástica. Em cada colónia onde existissem estas missões civilizadoras religiosas, deveria haver um director das missões, que seria o superior hierárquico dos missionários, a quem competia a orientação geral das missões. Com este decreto, as missões católicas ficavam inseridas no património jurídico português, medida que acabou por ser aplaudida pelo parlamento e que consagrou a superioridade das missões religiosas sobre as missões laicas. Com o advento do Estado Novo consolidou-se e desenvolveu-se a dimensão missionária. Logo em 1926, João Belo, com a colaboração dos principais responsáveis das missões, promulgou o Estatuto Orgânico das Missões Católicas Portuguesas de África e Timor em que reconhecia a personalidade jurídica das missões e as isentava de quaisquer contribuições, concedendo-lhes gratuitamente os terrenos necessários e prevendo a atribuição anual de um subsídio para as casas de formação dos missionários. Os objectivos das missões ficaram claramente delineados: sustentar os interesses do Império Colonial Português e promover o seu progresso moral, intelectual e material, por meio da instrução e educação, abandono das superstições, uso exclusivo da língua portuguesa e nativa, ensino agrícola, pecuário e profissional, assistência sanitária, observações meteorológicas e publicações geográficas, históricas e económicas. Foram estabelecidos vencimentos para os prelados e missionários, pensão vitalícia equivalente à dos funcionários públicos e isenção do serviço militar. Em consequência deste diploma foram regressando as congregações religiosas expulsas e criando-se condições para a normalização da actividade missionária. Em 1930, o Acto Colonial, destinado a substituir a V Constituição de 1911, integrava as missões na acção civilizadora do país: “As missões católicas portuguesas no Ultramar, instrumentos de civilização e influência nacional e os estabelecimentos de formação de pessoal para o serviço delas e do padroado Português, terão personalidade jurídica e serão protegidos e auxiliados pelo Estado como instituições de ensino”. Por outro lado, iniciam-se as negociações que levaram a um acordo com a Santa Sé em 1928 sobre a situação do padroado, 734 Adélio TORRES NEIVA esforço que culminaria com a Concordata e o Acordo Missionário entre Portugal e a Santa Sé em 1940. Quase um ano depois de assinado o Acordo Missionário, a 5 de Abril de 1941, com o fim de actualizar o estatuto Orgânico de 1926, era publicado um extenso diploma chamado “Estatuto Missionário”. O Acordo Missionário e o Estatuto Missionário fazem um todo e é à luz destes dois documentos que se deve equacionar a situação jurídica das missões nas colónias portuguesas a partir dessa data. Eis algumas das suas principais linhas de força: - o reconhecimento por parte do Estado da personalidade jurídica às dioceses e outras circunscrições missionárias, aos institutos religiosos do ultramar, assim como aos institutos missionários estabelecidos na metrópole (art.8°); - as missões católicas são consideradas instituições de utilidade imperial e sentido eminentemente civilizador (Art.2°), podendo expandir-se livremente para exercer as formas de actividade que lhe são próprias (Art.° 15); - reconhece-se à Igreja o direito de propriedade, concedendo-lhe facilidade na sua utilização; os bens e objectos eclesiásticos são isentos de impostos e direitos alfandegários em larga medida (art. 53 e 65); - a divisão eclesiástica das colónias portuguesas é feita por dioceses e circunscrições missionárias (vicariatos e prefeituras apostólicas) umas e outras criadas pela Santa Sé de acordo com o governo (art° 1°); - em princípio todo o pessoal missionário deve ser de nacionalidade portuguesa (Art.15°), não se excluindo, no entanto, os estrangeiros, se não houver portugueses em número suficiente, sendo para isso necessário o assentimento do governo; - os bispos e vigários apostólicos devem ser todos de nacionalidade portuguesa (Art. 3°), devendo a sua nomeação ser precedida de uma prenotificação oficiosa do governo: - a Igreja tem a faculdade de fundar e dirigir escolas para os indígenas e europeus, colégios, institutos de ensino nos diversos graus, seminários, etc, (Art. 15°); - o ensino da língua portuguesa é obrigatório nas escolas missionárias, ficando plenamente livre, em harmonia com os princípios da Igreja o uso das línguas indígenas no ensino da religião católica (Art. 16°). Em conclusão, fica bem claro: 1° - o papel de utilidade nacional e civilizador dos institutos missionários; 2° - a perspectiva nacional está também patente na regulamentação da entrada dos missionários estrangeiros. Este Acordo Missionário provocou um grande desenvolvimento dos institutos missionários, que se vão estabelecendo cada vez mais tanto na Metrópole como no Ultramar. Como conclusão deste capítulo, relemos alguns aspectos da mentalidade missionária, condensados por Nuno Gonçalves450: “No período que vai praticamente até aos anos 60, o trabalho missionário está associado, quase 450 GONÇALVES, Nuno o-c. p. 388. Correntes de pensamento subjacentes ao itinerário histórico da Província 735 unanimemente, à ideia de colonização, numa convergência entre portuguesismo e cristandade que via a missão evangelizadora da Igreja como indissociável da acção civilizadora de Portugal. A “dilatação da fé e do Império” é o lema que sintetiza o discurso político e eclesial e que, ao mesmo tempo, expressa um ideal em que o país facilmente se revê. À semelhança do que já tinha acontecido durante as últimas décadas da monarquia, reconhece-se a importância das missões católicas pela sua presença estável entre as populações, para além desse interesse estratégico, a evangelização e a acção civilizadora são encaradas como parte integrante das obrigações dos Portugueses para com Deus, para com a humanidade considerada civilizada e para com os próprios antepassados”. Era, portanto, uma mentalidade missionária sob o signo da portugalidade. A nova imagem da missão: da portugalidade à eclesialidade Nos anos 60 do século XX, um conjunto de factores de que salientamos o Concílio Vaticano II, a Revolução do 25 de Abril, a democratização da sociedade portuguesa e a independência das colónias, veio provocar uma viragem no conceito de missão. Esta passa, como diz Nuno Gonçalves, do signo da portugalidade para o signo da eclesialidade. O Vaticano II veio situar a missão por um lado no coração da Igreja e por outro como incarnação do evangelho na cultura de cada povo (inculturação). Nesta perspectiva é evidente que a portugalidade deixava de ter sentido. Por sua vez, em Portugal, as lutas dos territórios ultramarinos pela independência também chamadas guerras coloniais, vieram levantar sérias objecções à colonização e à presença de Portugal nas colónias. O direito à autodeterminação dos povos, consagrado pelo 25 de Abril, veio evidentemente modificar radicalmente o panorama da actividade missionária. As igrejas locais tornaram-se autónomas e seriam elas a conduzir os destinos da própria caminhada eclesial e missionária. A igreja local torna-se protagonista da missão e o missionário é colocado ao seu serviço, na dependência dessas igrejas. Foi uma conversão que levou o seu tempo a fazer e que não aconteceu sem tensões e conflitos e sem a desistência de um bom número de missionários portugueses. Mesmo entre os missionários houve rupturas e conflitos por vezes violentos. “A transição democrática da sociedade portuguesa significou não só a passagem de um regime autoritário para um regime democrático, mas também e porventura sobretudo, a transição de uma solução ultramarina para uma integração europeia”.451 A mentalidade anti-colonialista que ia ganhado terreno por toda a Europa levara a Constituição Portuguesa a trocar o nome de “colónia” pelo de “província ultramarina”. Como consequência a ideia de “império colonial” deu lugar à concepção de “nação portuguesa multi-racial e pluri-continental”. No entanto, a doutrina do magistério eclesiástico punha cada vez mais em questão o conceito colonial de missão e uma nova mentalidade se foi formando 451 CRUZ, Manuel Braga . o-c-. 736 Adélio TORRES NEIVA para cimentar cada vez mais a missão em bases teológicas e não políticas. A obrigação missionária começou a ser cada vez menos fundada em razões históricas, para se afirmar como exigência baptismal. O Concílio Vaticano II veio consagrar definitivamente esta nova leitura da missão. O 25 de Abril veio provocar uma certa crise na motivação missionária. Para alguns, o encerramento do ciclo do império acarretava o termo do ciclo da missão. Mas o grande esforço da Igreja e dos institutos missionários apostou noutra direcção: ajudar a descobrir as exigências desta nova imagem da missão. Multiplicaram-se os cursos e semanas de doutrinação para “relançar a missão num serviço desinteressado aos povos africanos que festejavam a sua maioridade política, afirmando a intenção de participar no seu entusiasmo, mas também nas suas fraquezas e insegurança”. O processo da descolonização, sobretudo em Angola e Moçambique, veio porém, pôr a lume tensões tribais que levaram a um longo período de guerra e insegurança, em que a missão ganhou em testemunho mas perdeu em actividade e eficácia. Muitas estruturas missionárias foram destruídas, vários missionários caíram vítimas da violência. No entanto, outros porém mantiveram uma missão de presença e comunhão com o povo, profundamente evangélica, em que as raízes da fé emergiram em toda a sua transparência. Com o regresso da paz e a estabilidade política, a esperança reacendeu-se e novos tempos se anunciam para a actividade missionária nesses países. Particularmente significativo é o empenho de voluntários leigos, que cada vez mais se abrem para experiências missionárias, o que deixa entrever um futuro diferente para a dimensão missionária das comunidades cristãs. 737 Capítulo 79 A Espiritualidade da Província A espiritualidade de uma instituição é um somatório de várias componentes: uma inspiração original, o itinerário histórico que a instituição percorreu, os contextos condicionantes em que se situa, o quadro eclesial, as correntes de pensamento, a cultura envolvente, etc. É por isso que cada província espiritana tem uma espiritualidade própria, embora evidentemente, todas se identifiquem nos valores de fundo, os referenciais onde todas bebem a sua inspiração. O nome que recebemos Na linha da fé não é indiferente o nome que se recebe. Em geral na tradição bíblica, o nome corresponde a uma missão que se recebe; pelo nome, a pessoa ficava unida ao Senhor para uma determinada missão. Assim, na economia da salvação, a cada um é dado o nome que corresponde à missão que lhe é confiada; é o nome que nos define e identifica no mistério do reino; ele é o nosso bilhete de identidade: revela a missão, o espírito, a maneira de ser igreja, a nossa inserção na história. O nome que os Espiritanos receberam foi o de Congregação do Espírito Santo sob a protecção do Imaculado Coração de Maria. O Espírito Santo e Maria não são apenas duas entidades que os fundadores juntaram como pólos de devoção; os dois estão unidos no mesmo mistério: o mistério da incarnação de Jesus Cristo. “O Espírito Santo descerá sobre ti e o Altíssimo te cobrirá com a sua sombra” – disse o anjo a Maria no momento da Anunciação. O coração de Maria é o templo, onde pela força do Espírito, Cristo se faz história. A partir deste momento o Espírito Santo e Maria não mais se podem separar. Assim, este nome situa os Espiritanos na nascente do mistério da missão da Igreja. Não se trata, portanto, de adoptar simplesmente duas devoções: o mistério do nome é muito mais que uma devoção. Este nome significa que os Espiritanos foram congregados para revelar ao mundo este consórcio do Espírito Santo com o Coração Imaculado de Maria, onde nasce toda a missão do Filho. Quais foram as circunstâncias que levaram os fundadores da Congregação a colocar o Espírito Santo e o Coração de Maria como alma e centro dos seus projectos apostólicos? Uma espiritualidade não nasce a frio, a uma mesa de trabalho; ela emerge de uma experiência que se tem de Deus onde a nossa vida mergulha; é a vida do 738 Adélio TORRES NEIVA fundador mais que os seus escritos que revelam os caminhos por onde Deus passa. A Congregação do Espírito Santo Os pais do primeiro fundador, Cláudio Poullart des Places, pediram a Deus um filho e quando ele nasce consagram-no a Maria, fazendo-o usar durante sete anos o hábito branco em sua honra. A sua infância ficaria marcada pelos dois santuários marianos de Rennes, que ele frequentava assiduamente: o de Nossa Senhora dos Milagres e o de Nossa Senhora da Boa Nova. No colégio dos Jesuítas, em Rennes, dois acontecimentos seriam decisivos para a caminhada espiritual de Cláudio: o contacto com a espiritualidade jesuíta, dominada nessa altura pelo P.Lallemand e a sua passagem pelo grupo de piedade “Associação dos Amigos”. A intuição de base do P. Lallemand, o grande director espiritual dos Jesuítas era a necessidade de uma total disponibilidade ao Espírito Santo, para a renovação do apostolado. Claúdio fez dois anos de Direito em Nantes, frequentando uma casa de retiros dos Jesuítas, onde bebeu esta espiritualidade. O Espírito Santo seria o primeiro pilar da espiritualidade dos seus filhos. O segundo pilar desta espiritualidade – Maria como modelo desta fidelidade – bebeu-a Poullart des Places num grupo de piedade de estudantes de teologia que então existia na maior parte dos colégios dos Jesuítas, chamado “Associação dos Amigos” (AA). Era um movimento que procurava renovar o clero de França: criar um modelo de padre que se empenhasse decididamente na evangelização dos pobres e dos mais abandonados. No coração desta espiritualidade estava o Coração de Maria, a humilde serva do Senhor, cuja pobreza o Espírito Santo tornou extraordinariamente fecunda. Estava encontrado o segundo pilar da espiritualidade dos seus seminaristas. Assim, as primeiras linhas dos regulamentos do Seminário de Poullart des Places consagrarão esta espiritualidade: “Todos os estudantes adorarão particularmente o Espírito Santo, ao qual estão particularmente consagrados. Terão também uma devoção particular à Santíssima Virgem sob a protecção da qual, foram oferecidos ao Espírito Santo. Escolherão as festas do Pentecostes e da Imaculada Conceição como suas festas principais: Celebrarão a primeira para obter do Espírito Santo o fogo e o amor divino e a segunda, da Santíssima Virgem, uma pureza evangélica: duas virtudes que devem constituir o fundamento da sua piedade”452. Esta dupla devoção informará toda a espiritualidade dos Espiritanos de Poullart des Places. As suas orações serão as de uma comunidade que se move no circuito do Espírito Santo e de Maria concebida sem pecado: “Antes de qualquer estudo ou aula, pedirão ao Espírito Santo as luzes para trabalhar proveitosamente: um “Veni Sancte Spiritus” para isso e uma Ave Maria em honra 452 Regulamentos n.º 1 e 2 A Espiritualidade da Província 739 da Santíssima Virgem para obter do seu Divino Esposo estas luzes. E no fim, terminar com uma oração a Nossa Senhora: “Sub tuum praesidium”. O terço, o hino mariano “Inviolata”, a Ladainha de Nossa Senhora, o Ofício Menor faziam parte dos hábitos diários dos seminaristas de Poullart des Places. Esta dupla devoção será a raiz e o fundamento da pobreza dos Espiritanos: “Despojados de tudo, o amor ao Espírito Santo é o nosso tesouro. É preciso, portanto, tudo depor aos pés de Maria, como os primeiros cristãos depunham os seus bens aos pés dos apóstolos: noutro caso mentiríamos ao Espírito Santo”453. Esta dupla devoção será também a fonte do zelo apostólico dos Espiritanos: “Comprometemo-nos a honrar o Espírito Santo, primeiro dentro de nós, por um espírito de docilidade perfeita. Filhos de Maria e do Espírito Santo, aplicar-nosemos pelas palavras e pelo exemplo a fazê-los amar e servir”. Por isso, Poullart des Palces escolheu a festa do Pentecostes de 1703 para levar a sua pequena comunidade de 12 estudantes à igreja de Saint-Etienne des Grés para, aos pés da Virgem Negra de Paris, Nossa Senhora do Bom Sucesso, a consagrar ao Espírito Santo. A esta igreja vinha Poullart des Places muitas vezes, nas horas de maior dificuldade. Todos os anos, a partir desta data, os Espiritanos ali voltavam para ratificar a sua consagração, nas festas do Pentecostes e da Imaculada Conceição. A devoção à Imaculada Conceição será assim uma das glórias da Congregação, 150 anos antes da proclamação deste dogma. O P. Bouic, terceiro superior geral da Congregação, prescreveu que as armas da Congregação fossem formadas por um símbolo do Espírito Santo e de pelo menos um monograma da Santíssima Virgem. A imagem de Nossa Senhora devia ser colocada em lugar de honra, à entrada principal da casa, com a inscrição “Tutela domus”. O uso do escapulário de Nossa Senhora remonta já ao ano de 1770. A igreja de Nossa Senhora das Vitórias, onde o P. Desgenettes fundou a Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria viria a ter uma importância decisiva na restauração da Congregação após a Revolução Francesa. Logo que a Arquiconfraria foi fundada, o Superior do Espírito Santo pediu para nela se inscrever toda a sociedade. É crença comum que os Espiritanos resistiram à grande crise, graças à intercessão de Maria. A Sociedade do Imaculado Coração de Maria Quanto a Libermann, o fundador da Sociedade do Imaculado Coração de Maria, diz o P. Lecuyer que todo o seu ensinamento espiritual se resume numa escola de docilidade ao Espírito Santo. É possível que para isso ele tenha também sido influenciado pelo P. Lallemend e S. João Eudes, dois lugares que ele frequentou. Mas trata-se sobretudo de uma intuição pessoal, que foi emergindo da sua experiência e do itinerário espiritual que ele viveu. 453 P.Warnet, superior geral, Pentecostes 1839 740 Adélio TORRES NEIVA A experiência interior fundamental de Francisco Libermann foi a da força gratuita da graça de Deus. Deixar-se invadir por este absoluto foi a grande aposta da sua vida. “Entregar-se” é uma palavra que aparece constantemente nos seus livros. A docilidade ao Espírito Santo, vivendo em nós, será a chave da sua espiritualidade. Ele empregará toda uma série de imagens para exprimir esta entrega ao Espírito: ser como uma criança que tudo espera de sua mãe, ser como argila nas mãos do oleiro, como a estátua nas mãos do escultor, como o ferro nas mãos do ferreiro, como leve pena nas asas do vento. É preciso esperar a hora de Deus, aceitar deixar-se conduzir por Ele, ser paciente na provação, não ir mais além do que a graça nos conduz, aceitar os ritmos e os tempos de Deus. Desta atitude que ele mesmo viveu “à espera que o muro caia”, nascerá a Regra Provisória da Sociedade do Coração de Maria. Foi com o olhar de fé sobre uma doença que o arrancava a todos os seus sonhos, uma partida de Rennes que lhe fazia perder todos os apoios e todas as seguranças, que ele ensina a descer até às raízes da paz, da alegria, da disponibilidade e dos dons do Espírito Santo. Foi no coração desta experiência que Libermann encontrou um rosto para os Espiritanos. Um outro factor que intervém neste processo é o Coração de Maria. Maria foi talvez a primeira experiência decisiva de Libermann na linha da fé. Aconteceu logo no momento do seu baptismo: “Quando a água baptismal correu sobre a minha cabeça de judeu, nesse preciso momento, comecei a amar Maria, que detestava”454. Foi uma graça que iluminou toda a sua vida. De Maria falará constantemente nas suas cartas de S. Sulpício e Rennes. O Coração de Maria aparece depois de maneira imprevista nos momentos decisivos da Obra dos Negros. Foi directamente de Maria que ele recebeu a inspiração para acolher a Obra dos Negros: primeiro por uma iluminação interior, a “pequenina luzinha” de 28 de Outubro de 1839 e depois em Fourvière, em Lião, onde todas as suas dúvidas se dissiparam. Maria aparece ainda na origem da Regra Provisória: “Traçado o plano geral, esforçava-me por escrever mas era impossível atinar com uma só ideia. Depois de ter visitado algumas igrejas dedicadas a Nossa Senhora, decidi consagrar a Obra dos Negros ao Coração Imaculado de Maria. E tudo se tornou imediatamente claro. Entrei em casa e pus imediatamente mãos à obra para recomeçar o plano em questão. Vi então tudo tão claro, que de um só relance abarquei todo o conjunto e todos os pormenores. Isto foi para mim uma alegria e uma consolação inexprimíveis”.455 Esta Regra começa com estas palavras: “Tudo para maior glória do nosso Pai celeste, em Jesus Cristo Nosso Senhor, pelo seu Divino Espírito, em união com o Imaculado Coração de Maria”. A aprovação da Congregação e do projecto que ele entregou à Santa Sé aparece como outra graça de Maria: foi de facto, depois da peregrinação a Nossa Senhora do Loreto, quando Libermann regressa a Roma, já melhor de saúde, que encontra 454 455 Notes et Documents I p. 8 Lettres Spirituelles, III, p. 364 A Espiritualidade da Província 741 uma carta da Congregação da Propaganda que confirma o seu projecto da Obra dos Negros e uma carta do bispo de Estrasburgo que se propõe ordená-lo sacerdote. A Maria se devem as primeiras vocações da Congregação. Libermann irá celebrar a sua primeira missa na Comunidade de Nossa Senhora das Vitórias e é ali que por acaso encontra o P. Bessieux que se junta imediatamente à comunidade e que viria a ser o fundador da missão da África no Gabão, sendo vigário apostólico das Duas Guinés durante 27 anos. É de Nossa Senhora das Vitórias que parte para a Ilha Maurícia o primeiro missionário do Coração de Maria, o P. Tiago Laval. É junto do Imaculado Coração de Maria que o delegado Apostólico do Haiti encontra o P. Tisserant que o põe em contacto com Libermann: a missão do Haiti nasceu também ela junto do Coração Imaculado de Maria. A Maria se deve também a escolha da primeira terra de missão dos Espiritanos. Em 1842, Libermann com os cinco novos primeiros missionários preparados para ir para as missões, vão a Nossa Senhora das Vitórias rezar e aconselhar-se com o P. Desgenettes sobre a terra de missão a escolher. Ao outro dia, será Mons. Barron que aí vai procurar missionários para as Duas Guinés e assim a terra-mãe da missão espiritana estava encontrada. É no coração da vida apostólica, ou seja a intuição que caracteriza a espiritualidade espiritana, que Libermann coloca o Espírito Santo e Maria, conforme ele o explica aos noviços de La Neuville. Após a fusão da sua Sociedade do Coração de Maria com a Congregação do Espírito Santo, os Regulamentos de 1849 que consagram essa fusão, dizem: “A Congregação consagra os seus membros ao Espírito Santo, autor e consumador de toda a santidade e inspirador do espírito apostólico e ao Imaculado Coração de Maria, superabundantemente repleto, pelo Divino Espírito Santo, da plenitude da santidade e do apostolado, considerando o Coração de Maria como o modelo perfeito de fidelidade a todas as inspirações do Espírito Santo e da prática interior das virtudes da vida religiosa e apostólica. Nele encontrarão um refúgio a que recorrerão nos seus trabalhos e fadigas”. É um texto-chave que está no coração da mística espiritana e que faz a ligação entre as duas tradições de que somos herdeiros. A fusão da Congregação do Espírito Santo com a do Imaculado Coração de Maria não foi apenas a junção de duas congregações: ela veio pôr em evidência a união profunda que existe entre o Espírito Santo e Maria na origem e na plenitude da missão. Foi durante a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, a 8 de Dezembro de 1854, que o P. Schwindenhammer conseguiu a mudança de Sociedade Secular em Congregação Religiosa, com os votos religiosos. E a primeira profissão de votos perpétuos foi precisamente na festa do Coração de Maria, que substituía a da Imaculada Conceição, a 26 de Agosto de 1855, na capela do noviciado de Paris: 18 padres, incluindo todo o Conselho Geral emitiram os votos perpétuos e oito noviços os votos temporários. Foi a primeira 742 Adélio TORRES NEIVA profissão pública e solene dos votos religiosos: até aí havia apenas uma consagração. Os Irmãos fariam os votos no dia 9 de Setembro seguinte, festa do Santíssimo Nome de Maria. A primeira Tomada de Hábito na Congregação foi na festa da Imaculada Conceição de 1855, primeiro aniversário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Até aí vestia-se o hábito eclesiástico ordinário, adaptando-o às exigências da pobreza e simplicidade de que as Regras falavam. A partir daí, Maria tornou-se a grande padroeira das comunidades espiritanas: em 1825 cerca de 100 comunidades estavam consagradas a Maria. Em 1908, Mons. Le Roy, superior geral, renova esta fidelidade a Maria, por um novo gesto, já outrora prescrito pelo P. Bouic: colocando à entrada principal da Casa Mãe uma imagem de Maria com a inscrição “Tutela Domus”, ordenava que esta prática fosse adoptada em todas as casas de formação da Congregação, noviciados, escolasticados, escolas apostólicas e comunidades importantes, com a mesma inscrição. Esta cerimónia far-se-ia com uma pequena celebração, de preferência numa festa Mariana. Os grandes referenciais da espiritualidade da Província A fundação do Seminário do Congo, em Santarém, primeiro embrião da província espiritana portuguesa, foi decidida por decreto de 11 de Agosto de 1867, com o parecer unânime do Conselho Geral da Congregação e segundo a proposta deste mesmo conselho, foi dedicada ao Espírito Santo, como o Seminário Colonial de Paris, com o qual, à partida, revelava certas semelhanças. A equipa fundadora entrou na nova casa ao cair da tarde do dia 3 de Novembro. Desfeitas as malas, a primeira coisa que fizeram foi levantar um pequeno oratório em cima da mesa, com um quadro de Nossa Senhora das Vitórias, a cruz do missionário e um busto do Venerável Padre Libermann. Nessa mesma noite, deram início a uma novena ao Coração de Maria, para colocar a obra nascente sob a sua protecção. Assim, desde o primeiro momento, a Província assentava nos dois pilares que herdara das origens e que marcariam o seu futuro: o Espírito Santo como titular da sua primeira casa e o Coração de Maria como protectora. Curioso que a primeira Tomada de Hábito no seminário do Congo, a do primeiro espiritano português, o P. Policarpo dos Santos, seria a 8 de Dezembro de 1869, festa da Imaculada Conceição. Uma segunda pedra na construção deste edifício foi aquela que seria o verdadeiro arranque da província espiritana portuguesa: o colégio do Espírito Santo em Braga. Um dos primeiros cuidados do P. Eigenmann foi mudar o nome do Colégio que ele tinha conseguido para lançar a congregação – o Colégio de S. Geraldo – em colégio do Espírito Santo. Este colégio seria a verdadeira Casa–Mãe da Província Portuguesa: aí se lançaram as bases da formação da nova província: o seminário apostólico das missões e a obra da formação dos Irmãos. A Espiritualidade da Província 743 A segunda obra de vulto a ser fundada foi um outro colégio, este consagrado já não ao Espírito Santo mas a Nossa Senhora: o colégio de Santa Maria no Porto, fundado em 1876. Estas duas obras, uma consagrada ao Espírito Santo e outra a Nossa Senhora, que constituiriam a vice-província de Portugal, marcam assim as grandes linhas da espiritualidade da província portuguesa. Curioso que a erecção canónica da província, feita bastante mais tarde, em 1921, acontecerá também num dia de festa de Nossa Senhora: 2 de Fevereiro. A terceira grande obra da Congregação em Portugal, a casa de Sintra, que a condessa de Camarido D. Isabel Freire de Andrade e Castro doou à Congregação em 1887, seria também consagrada a Nossa Senhora: Nossa Senhora do Bom Despacho ou da Boa Graça, a comunidade da Escola Agrícola Colonial, segundo o orago da capela já ali levantada e a de Nossa Senhora da Piedade ou da Compaixão, segundo também o nome da capela ali existente. A quarta obra que a Congregação adquiriu, o seminário da Formiga, em Ermezinde, no antigo convento dos Agostinhos, para onde se transferiu o escolasticado de Braga em1894, foi também consagrada ao Coração de Maria. Do lado do evangelho lá está ainda em lugar de relevo, a imagem do Coração de Maria. Outro elemento abonatório da espiritualidade da Província diz respeito à Associação de Orações e Boas Obras para a conversão da Raça Negra. Esta associação foi fundada em 1891, no colégio do Espírito Santo, em Braga, com o fim de promover e despertar as vocações missionárias. A sua fundação teve lugar precisamente na festa do Imaculado Coração de Maria, num altar especial que lhe era consagrado. A Associação que a revolução de 1910 lançará para o esquecimento e para a inactividade, reaparecerá em 1922, com o P. Moisés Alves de Pinho e com o nome de Associação de Nossa Senhora de África. Continuou a ser o órgão de promoção vocacional até à fundação da LIAM em 1937, também esta nascida num local e numa data mariana: a 13 de Maio, em Fátima. Outro instrumento de animação da espiritualidade da província espiritana foi a Arquiconfraria do Espírito Santo. No dia do Pentecostes de 1940, com autorização dos respectivos ordinários, foi fundada em cada uma das comunidades espiritanas principais: Viana, Fraião, Godim, Silva, Guarda, Porto e Lisboa um núcleo da arquiconfraria do Espírito Santo, agregado à Arquiconfraria que tem a sua sede na Capela da Casa Mãe, em Paris. Os objectivos desta Arquiconfraria eram: prestar ao Espírito Santo especial reconhecimento e amor, tomando como modelo o Imaculado Coração de Maria; obter para cada confrade a graça de agir sempre sob a inspiração do Espírito Santo; atrair a efusão cada vez mais abundante dos dons do Espírito Santo sobre a Igreja e sobre os missionários. Na sede da arquiconfraria, todas as segundas-feiras era rezada uma missa por todos os confrades e em todas as igrejas e capelas públicas confiadas aos 744 Adélio TORRES NEIVA espiritanos se recomendava a fundação desta arquiconfraria, com exercícios próprios nas segundas-feiras, principalmente na primeira segunda-feira de cada mês. Podíamos ainda seleccionar outros factos, elementos que revelam o espírito que animava a Província. O primeiro noviciado dos clérigos em Portugal iniciouse na Quinta de Baixo, em Sintra, em 1896, tendo-se escolhido precisamente o dia 2 de Fevereiro para o inaugurar. E após a restauração da Província, a abertura do noviciado em 1934, na Quinta de Baixo do Fraião, foi na véspera da festa da Natividade de Nossa Senhora, 7 de Setembro, ficando a profissão a ser feita no dia da festividade, a 8 de Setembro. O novo seminário da Silva, especialmente construído para albergar o noviciado, seria solenemente inaugurado pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, a 8 de Setembro de 1962, festa da Natividade de Nossa Senhora. E o escolasticado maior da Torre da Aguilha, destinado a ser o grande alfobre da cultura teológica espiritana, seria também ele dedicado a Nossa Senhora de Fátima, sendo a sua primeira pedra lançada a 8 de Dezembro de 1950 e a inauguração solene a 2 de Fevereiro de 1953, uma e outra, datas de festas marianas. O Espírito Santo e Maria não são apenas devoções para os Espiritanos: eles fazem parte da sua identidade. Não havia efectivamente conferência, trabalho ou qualquer iniciativa comunitária que não fosse precedida da invocação ao Espírito Santo e não terminasse com a oração de Nossa Senhora “Sub tuum praesidium”. À vossa protecção... As devoções-chave da Província: Sagrado Coração de Jesus e S. José A devoção a S. José Ao longo da história da Província, S. José aparece como o mais prestigiado e permanente “ecónomo provincial”. Pode dizer-se que a devoção a S. José conheceu na história da Província dois grandes momentos: o das construções da fundação e o tempo das construções da restauração, ou seja, como dizia o P. Clemente Pereira da Silva, ele é o grande ecónomo das “idades da pedra” da Província. Mas não só. Logo em Santarém foi a S. José que a comunidade nascente confiou a obra das vocações. Pelos fins de Janeiro de 1868 apresentou-se o primeiro candidato: Policarpo dos Santos. Seminarista do seminário de Santarém, jovem de muitas qualidades, há muito que aspirava a ser missionário. E foi mesmo um dos directores do seminário que o veio trazer aos Espiritanos. Depois, no 1º mês de Março, durante a novena de S. José, tiraram Nossa Senhora das Vitórias do caixilho e puseram-na aos pés de S. José, iniciando uma A Espiritualidade da Província 745 novena de oração pelas vocações a S. José e pelos fins de Março havia já 45 pedidos. Deles, foram escolhidos 12, pois o local e os recursos não davam para mais. E foi, logo a partir desse primeiro ano, que se começou a celebrar o mês de S. José. Em Braga, quando a casa da Rua do Carvalhal se tornou insuficiente, depois de várias tentativas sem resultado, resolveu-se confiar a S. José o caso e pouco depois apareceu à venda a Quinta das Hortas. Quando a Casa das Hortas se tornou por sua vez demasiado pequena, de novo se recorreu a S. José e apareceu a quinta na Rua de S. Vicente. A festa de S. José era sempre muito solenizada. No colégio do Espírito Santo foi mesmo levantado um monumento a S. José no pátio do recreio. Na Formiga, só conseguimos o convento de Nossa Senhora da Mão Poderosa, depois de muitas orações a S. José, como de resto acontecia sempre que se precisava de uma casa nova. Nas crónicas da história da Província, muitas vezes S. José aparece como intermediário da Divina Providência. Dele se fala muitas vezes como o “nosso poderoso protector”. Na segunda fase da história da Província – a fase da restauração – em 1935, diz o P. Clemente Pereira da Silva que “quando havia que aumentar mais um andar em Viana do Castelo, uma grande parte do noviciado dos clérigos no Fraião, a capela da enfermaria, mais um andar em Godim, etc., para fazer face a estas despesas extraordinárias, acrescidas à manutenção diária dos nossos aspirantes, apelámos muitas vezes para a Divina Providência, por intermédio de S. José. Ela decide o Governo e os nossos benfeitores a virem em nossa ajuda, ela abençoa o trabalho dos nossos padres e dos nossos irmãos; ela aumenta de dia para dia o número dos Associados de Nossa Senhora de África e dos assinantes das nossas revistas”.456 A 18 de Novembro de 1928, quando se acabou a construção do primeiro pavilhão no Fraião, as três comunidades de Braga levaram em procissão S. José através da quinta e das novas construções. A sua devoção começou a ser celebrada no Fraião, desde o primeiro momento. E já mais recentemente, a construção do seminário da Silva foi desde o início colocada sob o patrocínio de S. José, conforme relata o P. José da Fonseca Lopes, a quem a direcção das obras foi particularmente confiada. E a quando da compra da casa do Pinheiro Manso, foram as Irmãzinhas dos Pobres que puseram toda a comunidade a rezar para que os Espiritanos conseguissem uma casa perto do lar que têm naquela rua. Na visita que se fazia à capela, depois do almoço, costumava-se rezar a oração a S. José, que no dizer do provincial de 1963, P. Firmino Cardoso Pinto, tinha quase o carácter de um voto para que S. José nos obtivesse os meios materiais indispensáveis à vida da Província. Esta oração foi suprimida em 1963. Padroeiro especial da Obra dos Irmãos, era no seu dia que habitualmente se 456 BGCSSp. 1935 p. 228 746 Adélio TORRES NEIVA tomava o hábito religioso; por isso, lhe ficámos tão ligados e tão afeiçoados. A sua imagem figurou sempre nas capelas das comunidades espiritanas. Ele era o patrono especial da Obra dos Irmãos. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus Outra devoção particularmente querida à Província Portuguesa foi a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Também ela acompanha praticamente toda a história da Província. O Coração de Jesus foi uma devoção que se implementou muito a partir das revelações de Paray-Le-Monial. No século XIX 104 congregações de Direito Pontifício e 800 de Direito Diocesano se inspiraram no Coração de Jesus. Em 1865 toda a Congregação, a pedido do P. Barillec, então secretário geral, foi agregada ao Apostolado da Oração e em cada casa de formação devia ser fundado um centro de Apostolado da Oração. Esta devoção entrou na Província Espiritana de uma maneira um pouco extraordinária. Em Julho de 1897, o Colégio Espírito Santo foi abalado por uma epidemia de desinteria que levou à morte um jovem de 13 anos. O superior reuniu o conselho da comunidade e num quarto vizinho ao daquele em que uma segunda vítima agonizava se fez a promessa de celebrar a festa do Coração de Jesus a 17 de Junho e que num dia, a fixar ulteriormente, haveria comunhão geral e exposição do Santíssimo Sacramento, se o Coração de Jesus livrasse o colégio daquele flagelo. A partir dessa data ninguém mais morreu e a epidemia começou a declinar. E a partir daí todas as primeiras sextas-feiras de cada mês começaram a ser celebradas com exercícios especiais ao Sagrado Coração de Jesus. A imagem do Coração de Jesus do Colégio do Espírito Santo, após a revolução de 1910, esteve oculta em Braga, num armazém, sendo comprada por um pároco que depois a vendeu ao P. Moisés de Pinho que a colocou no altar-mor da igreja do seminário de Viana do Castelo, a 5 de Outubro de 1924, onde ainda hoje se encontra. A devoção ao Coração de Jesus passou depois para o seminário da Formiga, onde se fazia a Hora Santa todas as primeiras sextas-feiras de cada mês e as Quarenta Horas no Carnaval. Quando o P. Moisés Alves de Pinho veio para Portugal para restaurar a Província, em 1919, fez a promessa ao Sagrado Coração de Jesus de, caso conseguisse restaurar as obras da Província, solenizar com especial devoção em todas as casas de formação, que se viessem a fundar na Província, e mesmo nas residências, onde isso fosse possível, a primeira sexta-feira de cada mês, fomentando, ao mesmo tempo e por todos os modos, a confiança naquele Santíssimo Coração. Isto foi em Setembro de 1919 e logo a 15 de Outubro do mesmo ano se inaugurava, sem ruídos nem convidados, na comunidade da Rua Bento Miguel, o cumprimento dessa promessa. Ali se principiou uma devoção que permaneceu durante várias décadas em todas as casas de formação. Ao princípio, suprimia-se a aula das 10 horas para dar lugar à celebração da Missa A Espiritualidade da Província 747 Solene e à exposição do Santíssimo Sacramento que terminava com uma hora de adoração à noite, e que por vezes se prolongava durante toda a noite.457 O Capítulo Provincial de 1940 lembrou a todos os confrades este voto e incentivava todas as comunidades a serem fiéis a esta promessa. Nas missões espiritanas, as primeiras sextas-feiras tiveram grande impacto na vivência sacramental e isso deve-se certamente a esta devoção nascida nos bancos do seminário. O património espiritual local: os padroeiros das comunidades. Ao Espírito Santo e ao Coração de Maria foram consagradas as primeiras casas da Província, sobretudo na primeira fase da sua existência. Adquiridos esses valores como referenciais de base, começou-se a procurar dar às comunidades padroeiros em função do fim a que se destinavam. Santarém, como vimos, foi consagrada ao Espírito Santo, como o Seminário Colonial de Paris, com o qual mantinha algumas afinidades. Gibraltar manteve o nome do padroeiro do colégio, onde se instalou: S. Bernardo. Em Braga, o colégio começou com o nome de um santo local, muito venerado na cidade, S. Geraldo, passando depois, para o de Espírito Santo. O Colégio de Santa Maria em Gaia, depois, Porto, herdou e manteve o nome que já possuía. O colégio dos Açores foi confiado ao Beato Fisher, a cuja linhagem pertencia a família que legou o colégio à Congregação. Sintra herdou o nome da capela já ali existente, Nossa Senhora da Boa Graça. A comunidade da Procuradoria recebeu como padroeiro S. Francisco de Sales por ser este o padroeiro do superior geral, o P. Emonet, que aprovou e decidiu a criação de uma procuradoria das missões em Lisboa, numa visita que aqui fez expressamente para estudar essa possibilidade. O seminário da Formiga foi confiado aos cuidados do Coração Imaculado de Maria, cuja imagem ocupou o primeiro altar do lado do evangelho. Carnide seria entregue a Santo António, o santo de Lisboa. A comunidade da Rua Bento Miguel ou Charqueiro foi confiada à protecção da Sagrada Família, a pensar sobretudo na obra dos Irmãos. Com a transferência da Obra para o Fraião, com ela transitaria também o padroeiro. À comunidade da Rua Visconde de Pindela, destinada a acolher o escolasticado menor, com alunos, uns vindos da Rua Bento Miguel, outros de Zamora, foi dado como padroeiro um modelo de jovens, o Santíssimo Redentor, que depois transitaria para o escolasticado do Fraião. O Espadanido, obra para recuperação de sacerdotes, recebeu como padroeiro o Santo Cura d’Ars, modelo de vida sacerdotal. A comunidade de Godim seria entregue a S. José, o padroeiro da paróquia, pois que o seminário nasceu à sombra dessa comunidade paroquial. 457 BPPCSSp. Ov/Dez 1940 p. 265-267 748 Adélio TORRES NEIVA A casa da Rua Nova do Regado, destinada às vocações tardias, foi confiada aos cuidados de Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das missões. A casa da Guarda destinada às vocações das Beiras, foi posta sob a protecção de Santo António, pois que a casa foi aberta no ano centenário Antoniano. Viana do Castelo, nascida para casa de Teologia, recebeu como padroeiro S. João Evangelista, modelo de todos os sacerdotes. A casa da Silva foi confiada ao Menino Jesus de Praga. A devoção ao Menino Jesus de Praga era uma devoção muito antiga na Província, trazida da Huíla pelo P. José Maria Antunes, quando veio para provincial. Foi muito divulgada nas nossas comunidades e igrejas e propagada com zelo pelos espiritanos, sobretudo pelo P. Monte, na Formiga, e pelo P. Antunes, em Lisboa. Pio XI actualizou esta devoção com a chamada de atenção para o mistério da realeza de Cristo. A casa da Silva vivia momentos particularmente difíceis por causa da contestação da herança e foi com muita confiança que se entregou a Obra ao Menino Jesus de Praga, cuja imagem ficou a figurar no altar-mor da capela do seminário e que foi oferecida por uma associação de famílias do Porto, interessada em propagar a devoção ao Menino Jesus de Praga. Coimbra foi consagrada a Nossa Senhora de Fátima. O seminário da Torre d’Aguilha foi colocado sob a protecção de Nossa Senhora de Fátima, uma das devoções muito queridas ao fundador da LIAM e construtor da casa, D. Agostinho de Moura, já que fora em Fátima que a LIAM nasceu. A comunidade do Restelo foi entregue a S. Paulo, decerto por se tratar de um modelo de missionário, pioneiro de tempos novos e novas culturas. S. Miguel, padroeiro da Província Na reunião do Conselho Provincial de 18 de Junho de 1934, o provincial de então, P. Clemente Pereira da Silva, propôs que, atendendo a que todas as comunidades tinham um padroeiro e a Província não, se escolhesse um padroeiro para a Província, tendo ele indigitado particularmente o nome de S. Miguel, mas o caso seria posto à consideração de todos os membros da Província que dariam o seu voto sobre esta proposta. Na reunião seguinte, 20 de Novembro de 1934, todo o conselho deu o seu voto, que recaiu em S. Miguel. O provincial informou que tinha já os votos da maioria dos confrades e que portanto iria dar os passos necessários para a confirmação canónica. Na reunião de 14 de Maio de 1935, o conselho foi informado que Roma tinha concedido que se celebrasse a festa de S. Miguel, padroeiro da Província, a 29 de Setembro, devendo esta solenidade ser celebrada em toda a Província com pompa e solenidade. A festa de 8 de Maio seria também celebrada como festa secundária, sendo feriado nesse dia. A partir dessa data, a festa do padroeiro da Província foi sempre celebrada com Missa solene e feriado e recordada nos diários das comunidades, costume que perdurou durante um longo período, particularmente nas casas de formação. A Espiritualidade da Província 749 O Livro das Actas das Reuniões nada nos diz sobre as causas que levaram o P. Clemente a propor S. Miguel como padroeiro da Província. Talvez não tenha sido estranho o facto de S. Miguel ser uma devoção muito espalhada na sua terra natal, o que o levaria a ter uma devoção especial ao santo arcanjo. A sua imagem está na Capela do seminário do Fraião. O “Manual da Oração” A espiritualidade espiritana, nomeadamente a sua vida de piedade passou muito pelo chamado “Manual de Oração”, livro adoptado pela Província desde as suas origens e onde estavam codificadas as orações que articulavam a vida de piedade em toda a Congregação, nomeadamente a Oração da Manhã e a Oração da Noite, a Via Sacra, orações para os meses de Maria, do Coração de Jesus, de S. José, do Rosário e outras devoções vigentes na vida da comunidade cristã. Era um Manual de Orações e Cantos. O “Manual das Orações” tinha sido promulgado em 1880 pelo P. Schwindenhamer e no qual ele procurou recolher as orações em uso na Congregação desde as suas origens. Ao princípio era litografado, mas depressa se sentiu a necessidade de o imprimir e distribuir por todas as comunidades. Em Portugal, foi introduzido no Colégio do Espírito Santo, trazido de Cellule e depois adoptado em todas as casas da Província. Em 1936 foi decidido que o Manual de Orações fosse impresso separadamente do Cantai ao Senhor, havendo, a partir daí, um livro para as orações e outro para o canto. Em 1940 o Manual de Oração foi, efectivamente publicado em separado, a cargo do P. Joaquim Alves Correia. Em 1962, no Capítulo Geral, foi decidido que se revisse o Manual de Oração, em ordem a um emprego mais generalizado das orações litúrgicas, conforme era desejo de Roma. Foi sugerida a preparação de dois formulários de Manual de Oração, compreendendo o primeiro formulário Laudes e Completas com uma selecção das orações actualmente em vigor e o segundo uma fusão das orações actualmente usadas a fim de as tornar mais expressivas e mais adaptadas aos tempos actuais. Cada Província deveria nomear uma comissão para estudar in loco este esquema, que depois deveria enviar para a Comissão Geral. Em Portugal foi efectivamente nomeada uma comissão para isso, mas não se conhecem ecos desse trabalho. Entretanto, veio o Concílio com a sua insistência na oração litúrgica e o Capítulo Geral de 1968, em obediência às orientações do Concílio, decidiu adoptar as Laudes e as Vésperas como oração oficial da manhã e da tarde na Congregação (DC 138), norma que o Capítulo Provincial de 1970-1971 adoptou (nº 61). E foi assim que o Manual de Oração pouco a pouco foi caindo no esquecimento. A espiritualidade e as devoções A espiritualidade da Província é memória ou profecia? 750 Adélio TORRES NEIVA Penso que o primeiro desafio que hoje é lançado à Província Espiritana no domínio da espiritualidade é perguntar-se se essa espiritualidade é recordação ou inspiração? Trata-se de um depósito a salvaguardar nos arquivos ou de uma semente que passa de mão em mão sempre a semear e da qual depende a vitalidade do instituto? A semente só se torna fecunda não nas mãos do semeador, mas em contacto com a terra. É por isso que a espiritualidade da Província precisa de ser constantemente renovada e modelada pelas novas circunstâncias e os novos apelos de cada época. A passagem de uma espiritualidade devocional a uma espiritualidade teologal. À luz das fontes, a espiritualidade da Província é teologal. O Espírito Santo e Maria só se tornaram devoções porque faziam parte da identidade e da vocação espiritanas. Sabemos como nos séculos anteriores muitos valores constituintes passaram a devoções acessórias. O Vaticano II procurou reconduzir a espiritualidade aos seus valores essenciais. Daí a crise das devoções e a sua quase asfixia, inclusive na Província espiritana. Hoje há todo um movimento para recuperar o devocional: seitas, movimentos de piedade, etc., em geral são muito mais movimentos de devoção que de conversão. E este é o grande desafio que hoje é lançado aos institutos religiosos no campo da espiritualidade: o das relações entre o devocional e o teologal. O “tempo do Espírito” e a actualidade da espiritualidade espiritana. Há espiritualidades de tal maneira condicionadas e marcadas pelo tempo em que nasceram, que têm dificuldade em encontrar o seu espaço no mundo de hoje. Mas o Espírito Santo e Maria são valores de fundo da nossa fé e gozam hoje na Igreja de particular actualidade. O Espírito Santo é a grande redescoberta do Vaticano II e pode dizer-se que este concílio abriu na Igreja o ciclo do Espírito. Os Espiritanos são em Portugal o único instituto masculino particularmente vocacionado para dar um rosto a este Espírito. Por força do seu carisma, o Espírito Santo confiou-lhes a missão de serem sua parábola e sua cartilha. O tempo dos leigos: os novos espaços da espiritualidade espiritana. A Vida Consagrada está hoje a descobrir novos espaços para o seu carisma. Um carisma que até aqui era reservado aos religiosos, com a redescoberta da vocação laical, pelo Vaticino II, e o seu papel na missão e na santidade da Igreja, parece abrir-se agora a outras vocações. Os carismas, a espiritualidade, a missão tornamse cada vez mais apanágio de toda a Igreja. Isso vem abrir sem dúvida novos espaços e novos horizontes à missão e à espiritualidade espiritanas. 751 Capítulo 80 A actividade literária da Província A actividade literária da Província é bastante diversificada. Ela incide fundamentalmente sobre os fundadores, a actividade missionária e as ciências da missiologia, as figuras espritanas, a espiritualidade, a história e a formação dos leigos. Neste quadro sobressaem duas figuras de charneira: um pensador, o P. Joaquim Alves Correia e um historiador, o P. António Duarte Brásio. Merecem relevo especial também os estudos levados a cabo no domínio das ciências auxiliares da missiologia, nomeadamente a etnografia e a etnologia. Não incluimos neste elenco obras publicadas por missionários no campo da missão ad extra: estas serão apresentadas noutra obra vocacionada para isso. P. Joaquim Alves Correia A primeira figura que se impôs na Província no campo da actividade literária foi o P. Joaquim Alves Correia. Ele é sem dúvida o pensador mais cotado e mais conhecido na Bibliografia Espiritana. O P. Alves Correia foi uma figura carismática e profética, incómoda para o governo de Salazar que acabou por o exilar para os Estados Unidos em 1947. Para além das suas denúncias de carácter político e social, que o tornaram uma figura pública, o P. Alves Correia foi um verdadeiro precursor do Concílio Vaticano II: na sua imensa obra dispersa previu e anunciou a quase totalidade das reformas que o Vaticano II preconizou. Para além da homenagem que, a título póstumo, D. António Ferreira Gomes lhe quis prestar, como Bispo P. Alves Correia do Porto e seu antigo amigo, com uma sessão solene na Aula Magna da Faculdade de Letras do Porto e a inauguração do seu busto em Salto, Aguiar de Sousa, a 8 de Maio de 1978, fora ganhando corpo a ideia da atribuição da condecoração como Grande Oficial da Ordem da Liberdade, pela Presidência da República, o que veio a acontecer por Alvará de 24 de Abril de 1980, publicado no Diário da República.458 O P. Alves Correia, entre outras publicações, colaborou nas seguintes revistas 458 Diário da República . nº 148, 2ª série de 30/06/1980 nº 10 752 Adélio TORRES NEIVA e jornais: África, Acção Missionária, Anticorpos, Bulletin des Etudes Portugaises, Catholic Worker, Diário de Notícias, (de Nova Bedford, EUA), Era Nova (que se publicou em Braga), Estudos, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Jornal do Comércio (que se publicou em Lisboa), Lumen (1ª série), Missões de Angola e Congo (que fundou e dirigiu), Novidades, O Comércio do Porto, Reinado Social, Seara Nova, Portugal em África, República. Colaborou com Américo Lopes de Oliveira no livro “Missões e Missionários” (Lisboa 1946), na colectânea “Em louvor de S. Francisco” (1927), e prefaciou “A Realidade de Deus” de Augusto Reis Machado (1949). Publicou as seguintes obras: - A dilatação da fé no império português, 2 vol; colecção “Pelo Império”, da Agência Geral das Colónias, nº 21 e 22, Lisboa, 1936. - A Largueza do Reino de Deus, Lisboa 1931, com edições em 1934, 1943, etc. É a sua obra mais conhecida e que maior impacto teve na sociedade portuguesa. - Cantai ao Senhor, Braga, 1925, com edições em 1935, 1951, etc. - Civilizando Angola e Congo, Braga, 1922. - Consciência Cristã – cadernos grandes - páginas cristãs. Edições Metanoia. Vila Real, Outubro de 1949. - Contos da Nigéria, Lisboa, 1937. - De que Espírito Somos, Lisboa, 1933; 2ª edição em 1968. - Evangelizadores do Trabalho, Braga, 1924. - Les missionnaires Français en Angola, Lisboa 1940. - Espírito que nos move, Edições Metanoia. - Missa dos Pequeninos, Lisboa 1928. - Missões Católicas Portuguesas, 1936. - O Cristianismo e a Mensagem Evangélica, Lisboa, 1934. - Manual de Oração, Lisboa 1940. - O Ideal Cristão, 1949. - Vida Mais Alta, Lisboa 1941, com 3ª edição em 1947. Há uma antologia – Cristianismo e Revolução – publicada em 1977, pela Sá da Costa, com prefácio de D. António Ferreira Gomes, nota da apresentação e selecção de textos de Anselmo Borges, introdução de Frei Bento Domingues e uma dezena de testemunhos de pessoas que mais contactaram com o P. Alves Correia. Deixou inéditas as seguintes obras: - Memórias (diário) de um sacristão. - História de Angola. - The Lost Art of Christian Power. - Anotações para uma edição dos evangelhos. - Um estudo sobre Voltaire. - Um estudo sobre Tolstoi. - Um artigo sobre o Catholic Worker (para as edições Metanoia). O “Cantai ao Senhor”, que viria a ter sucessivas edições foi um instrumento pioneiro na animação litúrgica das comunidades cristãs, nomeadamente nos seminários e casas religiosas. A actividade literária da Província 753 O “Manual de Oração”, pequeno livro de piedade, também ele estava vocacionado para uma grande divulgação; é um compêndio de orações e devoções ao gosto da espiritualidade dessa época. Bibliografia sobre o P. Joaquim Alves Correia: Francisco Lopes, P. Joaquim Alves Correia, Editora Rei dos Livros, 1996. Obras pioneiras Uma outra iniciativa editorial da Província, foi a publicação do Almanaque de Nossa Senhora de África, que em 1940 passaria a chamar-se Almanaque das Missões. Em 1942 tinha já uma tiragem de 20.000 exemplares e a sua divulgação não cessou de aumentar, contando hoje 150.000. Em 1939, era editado o livro Um judeu, salvador da raça preta, uma biografia do P. Francisco Libermann, escrita pelos PP. Henrique Alves, António Brásio e Agostinho de Moura, edição do “Entre Nós”. O Livro “Estrela do Oriente” foi publicado em 1932, sendo sua autora Adriana Rodrigues, que animava a Página dos Pequeninos do jornal Acção Missionária. A mesma autora publicaria depois duas outras colecções do seus contos apresentados na Acção Missionária: “Horas Alegres” e “Vamos folgar”. Em Julho de 1946 dava-se início a um novo género de literatura missionária, as crónicas da vida missionária, com o livro Surpresas do Sertão, do P. Luís Cancela. O Calendário da Acção Missionária iniciou a sua longa caminhada em 1946, sendo hoje um dos calendários mais populares com uma tiragem de 150.000 exemplares. Nesse mesmo ano era lançada a Agenda da LIAM, tendo-se esgotado a sua primeira edição. 1948 foi marcado pelo lançamento de dois livros de grande impacto: um, Remorso da Caridade, de espiritualidade missionária, da autoria do director da LIAM P. Agostinho de Moura, primeiro livro de um autor português expressamente consagrado à espiritualidade missionária, e outro, No coração da África Negra, do P. Augusto Teixeira Maio, narrando episódios da vida missionária. P. António Brásio O P. António Brásio é sem dúvida o espiritano mais conhecido e mais conceituado no domínio da investigação histórica e ultramarina. Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, pertenceu à subcomissão oficial de História Eclesiástica (portaria de 1-VI-1954), ao Centro de Estudos Históricos Ultramarinos (de que foi fundador, portaria de 26-IV-1953), ao Centro de Estudos Históricos Eclesiásticos, à Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa (desde 24-II-1977). Foi co-fundador e director da revista Portugal em África, secretário de redacção da Studia do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, secretário de redacção da Acção Missionária (Lisboa), co-redactor da Lusitania Sacra. 754 Adélio TORRES NEIVA Os seus trabalhos de investigação e pesquisa histórica levaram-no a frequentar não só os arquivos portugueses, como os de Espanha, França, Itália nomeadamente nos arquivos do Vaticano, Simancas, Propaganda Fide, Cúria Geral da Companhia de Jesus. Os muitos e apreciados trabalhos que levou a cabo justificaram a chamada para a Academia Portuguesa de História, que o admitiu como académico correspondente em 19-VII-1957, de número em 26-III-1968 para a cadeira número 11. A eleição do seu nome para vogal do Conselho Académico verificouse em 21-II- 1973. Representou a Academia de História no Primeiro Simpósio do Encontro da História Luso-Brasileira em 12-VII-1972 e em 1979 fez parte do júri do Prémio de História Calouste Gulbenkian – Presença de Portugal no Mundo. Os artigos que publicou, em número superior a 500, encontram-se dispersos por mais de 39 publicações nomeadamente: Litoral, Lumen, Estudos (Coimbra), Boletim geral das Colónias, Arquivo Histórico de Portugal, Lusitania Sacra, Studia, Portugal em África, P. António Brásio Boletim da Universidade de Coimbra, Anais da Academia Portuguesa de História, Brotéria, Arquivo Histórico da Madeira, Estudos de Castelo Branco, Revista Portuguesa de História, Memórias da Academia de Ciências, Mundo Português, Resistência, Ultramar, Missões de Angola e Congo, Roteiro dos Arquivos Municipais Portugueses, várias enciclopédias e inúmeros jornais, sobretudo Novidades, Voz, Acção Missionária, Época, Letras e Artes, Apostolado, A Ordem, etc. Dos temas que tratou nos seus estudos, destacamos: Missões, Concílio de Trento, Ourique, Escravatura, Angola, Guiné, Cabo Verde, Congo, S. Tomé e Príncipe, China, Congregação do Espírito Santo; ocupou-se de personalidades como Santa Teresa do Menino Jesus, S. Martinho de Dume, Rainha Santa Isabel, D. Pedro I, D. João I, D. João II, D. João III, Frei Nuno de Santa Maria, João das Regras, Cardeal Rei, Infante D. Pedro, Condestável D. Pedro, Infanta Beata D. Maria Mafalda, Frei Amadeu Arrais, P. António Vieira, Francisco de Holanda, P. Manuel Álvares, D. António Barroso, João Afonso de Aveiro, P. José Maria Antunes, P. Carlos Estermann, etc. De toda a sua extensa obra sobressai a acção do investigador, do coordenador e do organizador de duas monumentais colectâneas: a Monumenta Missionaria Africana e a Spiritana Monumenta Historica. A Monumenta Missionaria Africana compreende duas séries: a primeira com 15 volumes e a segunda com 7 volumes. Os textos recolhidos na primeira, referemse à acção missionária portuguesa desde o Rio de Santo André (hoje Costa do Marfim) até ao Cabo da Boa Esperança, tendo o primeiro volume aparecido em 1952, editado pela Agência Geral das Colónias e pela Fundação Calouste Gulbenkian. Estes documentos vão desde 1570 a 1695. A actividade literária da Província 755 A 2ª série começou a aparecer em 1958, com textos entre 1342 e 1499, com documentos limitados aos territórios entre o Rio Senegal e o de Santo André, “limites extremos, norte e sul da diocese quinhentista de Santiago do Cabo Verde”. Os Spiritana Monumenta Historica são uma iniciativa da Universidade Duquesne de Pitsburgo (Pensilvânia, Estados Unidos), ligada à Editora E. Nouvelaerts de Lovaina e em cinco grossos volumes, reúne documentos importantes relacionados com o papel desempenhado pela Congregação do Espírito Santo na história da Igreja e das missões de Angola. Estes volumes apareceram respectivamente em 1966, 1968, 1969, 1970 e 1971. Estes cinco volumes abrangem 1257 textos, predominantemente do século XIX e XX. As obras do P. António Brásio: - A missão e seminário da Huíla, Colecção “Pelo Império”, nº 64, 1940. - Missões Portuguesas de Socotorá, Colecção “Pelo Império”, nº 91, 1943. - Os pretos em Portugal, Colecção “Pelo Império”, nº 101, 1944. - Monumenta Missionaria Africana: 1ª série: 16 volumes: I vol. 1471-1531, 1952, Lisboa; II vol. 1532-1569, 1953, Lisboa; III vol. 1570-1599, 1954, Lisboa; IV vol. 1469-1599, 1955, Lisboa; V vol. 1600-1610, 1955, Lisboa; VI vol. 1611-1621, 1956, Lisboa; VII vol. 1622-1630, 1950, Lisboa; VIII vol. 1631-1642, 1960, Lisboa; IX vol. 1643-1646, 1960, Lisboa; X vol. 1647-1560, 1965, Lisboa; XI vol. 1651-1655, 1971, Lisboa; XII vol. 1656-1665, 1981; XIII vol. 1666-1685, 1982, Lisboa; XIV vol. 1686-1696, 1985; XV vol. 1485-1685, 1989. - Monumenta Missionaria Africana, 2ª série: 6 volumes: I Vol. 1341-1499, 1958, Lisboa; II vol. 1600-1569, 1963, Lisboa; III vol. 1570-1600, 1964, Lisboa, IV vol. 1600-1622, 1968, Lisboa; V vol. 1623-1630, 1979, Lisboa, VI vol. 1651-1684, 1991, Lisboa; VII vol. publicado pelo Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2004, Liboa. - D. António Barroso Missionário, Cientista e Missiólogo, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, Lisboa 1961. - História e Missiologia / Inéditos e Esparsos. Luanda, 1973. Coleccão dos seus principais artigos. - A acção Missionária no período Henriquino, “Colecção Henriquina”, Lisboa, 1958. - Tratado Breve dos Rios da Guiné do Cabo Verde, por André Alavare de Almeida. Leitura, Introdução e Notas. Lisboa, 1964. - História do Reino do Congo, Prefácio e Notas. Lisboa, 1969. - Spiritana Monumenta Historica, Series Africana. 5 volumes: I vol. 1596-1867, 1966, II vol. 1868-1881, 1968; III vol. 1882-1889, 1969; IV vol. 1890-1903, 1970; V vol. 1934-1967. Bibliografia sobre o P. António Brásio: José Pedro Machado, Elogio do Padre António Brásio, Academia Portuguesa de História, Lisboa 1989. Eduardo António Sampaio Teófilo, P. António Brásio, o investigador. Tese de licenciatura. Porto 1993 (não publicado). 756 Adélio TORRES NEIVA Elenco temático das obras publicadas por outros espiritanos De todas as outras publicações, apresentaremos a sua classificação temática Sobre os fundadores: - O Venerável Libermann, Lisboa, 1952, P. Henrique Alves. - O Venerável Libermann, Lisboa, 1983 - P. Francisco Nogueira da Rocha. - Ao encontro dos pobres - Vida de Cláudio Poullart des Places - Lisboa, 1983, P. Francisco Lopes. - O Venerável Libermann, uma antologia sobre o sofrimento, Lisboa, 1986, P. Amadeu Gonçalves Martins. Ed. LIAM. - Libermann, uma mensagem para o nosso tempo, Lisboa, 1986, P.Amadeu Gonçalves Martins. Ed. LIAM. - Espiritualidade Missionária do P. Libermann, 2003, P. Amadeu Martins. Ed. LIAM. - Caminhos do Espírito, por P. Agostinho Tavares. AO Braga. 1997. - Como leve pena – orar ao sopro do espírito, P. Agostinho Tavares, AO Braga 2001. - Nas tuas mãos, Senhor, um caminho de santidade com Libermann, por Alphonse Gilbert, Lisboa, 2003. Trd. de Domingos Neiva, José Pires e José Gaspar. - Por causa do Evangelho, João Souto Coelho. - Antologia Espiritana (em castelhano), 5 volumes, P. Joaquim Ramos Seixas. Biografias Espiritanas - A imolação de uma esperança, pelo P. Augusto Texeira Maio, Ed. Entre Nós, 1940. - O P. Monte, missionário do Espírito Santo, 1948. - O fogo de um ideal, 1966, P. Ismael Baptista. - Este padre tinha duas almas, 1966, Christine Garnier. - O P. José Maria Felgueiras, mártir da caridade, 1986, P. Francisco Nogueira da Rocha. 1986. - P. Brottier, Espiritano, P. Francisco Lopes, Lisboa, 1984. - Hora de esperança – Perfil do P. José Felício, P. Jorge Veríssimo, 1996. - P. Joaquim Alves Correia, (1886-1951) - Ao serviço do Evangelho e da democracia pelo P. Francisco Lopes, Rei dos Livros, 1996. - Memórias, por D. Moisés Alves de Pinho, Lisboa, 1979. Livros de espiritualidade - A vida de Cristo segundo os evangelhos e as revelações de Catarina Emerick – P. JoséAlves Terças, 1940. - A caminho da Terra Santa, P. José Alves Terça. - Novíssima Verba e Pensamentos de Santa Teresa do Menino Jesus, trad. pelo P. José Cosme, 1940. A actividade literária da Província 757 - Manual de Oração, 1944. - O Autor da vida, P. Soares Moutinho. - O meu ideal, Jesus Filho de Maria, 1955. - Cartas a seminaristas em férias, P. Libermann. trad. de Francisco Lopes, 1960. - Pensamentos do nosso Venerável Padre. Ed. LIAM.1960. - Santa Maria Goretti, P. Silva Amorim. Ed. LIAM. 1968. - A grande lição do Concílio, Gaston Courtois, 1968. Trad. de Teixeira Maio. - O Padre, sinal de Cristo sacerdote, por J. Esquerda Bifet, 1969, Trad. de F. Mendes Pereira. - Caminhos de Juventude, P. Manuel Martins Vaz. Ed. Sampedro, Lisboa 1970. - Alienação do Cristianismo, P. Manuel Martins Vaz, Ed. Almedina, Coimbra. 1971. - Palavra de vida, P. Francisco Nogueira da Rocha, Lisboa, 1985. - O sentido da vida, P. José Coelho Amorim, Ed. LIAM, 1971. - Dimensão social, reflexões antropológicas. P. José Coelho Amorim. Ed. Paulistas. 2000. - Maria e o Espírito Santo, coordenação de P. Manuel Durães Barbosa, Lisboa, 1988. - Manual da Legião de Maria, F. Duff, tradução do P. Francisco Lopes. - Teologia do Apostolado da Legião de Maria, tradução do P. Francisco Lopes. - Pioneiro do apostolado laical: Frank Duff, tradução do P. Francisco Lopes. - Com a força do Espírito. A missão espiritana, hoje, P. Adélio Torres Neiva, 2002. - O leigo, vocação para a missão, P. Adélio Torres Neiva, 2004. - Oração de cada dia, P. João Mónico. - Tu e eu, um só para a vida, P. João Mónico. Livros de ciência e formação missionária - ABC indígena ou Método de leitura – P. Domingos Vieira Baião. Patrocinado pelo Instituto de Alta Cultura. - Elementos de Gramática ganguela - P. Domingos Vieira Baião. - Dicionário Ganguela - Português - P. Domingos Vieira Baião. - Primeiros Elementos de Português, P. Manuelino de Oliveira, AGU. 1960. - Missão e Evangelho, 1975, P. Ernesto Neiva. - Missão e História, 1968, P. Álvaro Miranda Santos. - A mitificação da côr, 1966, P. Álvaro Miranda Santos. - A aculturação, 1970 - P. Álvaro Miranda Santos e Jorge Alarcão. - Diagonais da Aculturação. P. Álvaro Miranda Santos. Ed. Portugal em África 1960-61. - Informática e Psicologia. P. Álvaro Miranda Santos. Ed. ISPA. 1971. - Expressividade e Personalidade: um século de psicologia. Álvaro Miranda Santos. Ed. Atlântida 1973. A Congregação do Espírito Santo. Cem anos em Angola, P. Henrique Alves, 1965. - Quo vadis, Angola, P. Fernando Santos Neves. Ed. Colóquios, Luanda, 1974 758 Adélio TORRES NEIVA - O Ecumenismo em Angola, do ecumenismo cristão ao ecumenismo universal, P. Fernando Santos Neves. Ed. Colóquios, Luanda, 1968. Liturgia, cristianismo e sociedade em Angola, P. Fernando Santos Neves, Ed. Colóqios, Luanda, 1968. - Negritude e Revolução em Angola, P. Fernando Santos Neves, Paris, 1974. - No mundo dos Cabindas (2 volumes), P. José Martins Vaz, 1970. - Filosofia tradicional dos Cabindas (2 vols), P. José Martins Vaz. Ed. Agência Geral do Ultramar 1970. Prémio Frei João dos Santos da A.G.U. 1971. - Sabedoria Cabinda: Símbolos e Provérbios, P. Joaquim Martins, Ed. Junta de Investigação do Ultramar. - Cabindas, História, crenças, usos e costumes, P. Joaquim Martins, Comissão de Turismo da Câmara Municipal de Cabinda, 1972. - Etnografia de Angola: P. Estermann, (2 vol.) colg. pelo P. Manuel Geraldes. 1983. - Sabedoria do povo cuanhama em provérbios e adivinhas, P. Carlos Mittelberger, 1991. - Poesia pastoril dos cuanhamas, P. Carlos Mitelberger, 1991. - Selecção de Provérbios e Adivinhas em mbundu, P. Francisco Valente, Ed. Instituto de Investigação Científica de Angola, 1964. - A problemática do matrimónio tribal, P. Francisco Valente, Ed. Inst. Investigação Científica de Angola. 1985. - Manussunguila, a ceres mbundu, P. Francisco Valente, Luanda, 1974. - Dicionário Português-Nhaneca, P. António Silva, Ed. Inst. de Investigação Científica de Angola. 1970. - Paisagem Africana, P. Francisco Valente, Instituto de Investigação Científica de Angola, 1973. - Provérbios em nhaneca, P. António Silva, 1989. - Hora di bai, P. José Maria de Sousa, 1973. - Doutrina Social da Igreja, I, II, III - P. Tony Neves, Ed. Arquidiocese do Huambo, 1994-95. - A Igreja em Angola e os Meios de Comunicação Social (C.F.Kavate), P. Tony Neves, Ed - Arquidiocese do Huambo, 1995. - Arquidiocese do Huambo, 1993 (Coordenação), P. Tony Neves, Ed. Arq. Huambo, 1995. - Justiça, Paz e Direitos Humanos, P. Tony Neves, Arq. Huambo, 1996. - Missão no Huambo (1989-90), P. Tony Neves, Ed. Arq. Huambo e Diocese do Kwito-Bié, 1996; 2ª ed. 1997. - Missão em Angola (1998-1994), P. Tony Neves, 1997. - Angola: A Igreja Católica pela Paz, P. Tony Neves, 2001, Ed, Rei dos livros. - A Procuradoria das Missões, P. Adélio Torres Neiva, Lisboa, 1992. - Instituto Superior Missionário do Espírito Santo, P. Ernesto de Azevedo Neiva, 2003. - Em tempo de evangelização, P. Medeiros Janeiro, Paulinas 2003. - Os espiritanos no Sudoeste de Angola, P. Serafim Lourenço, Lisboa 2003. - Para uma política da emigração, P. António Cabral. A actividade literária da Província 759 - Deuxième Génération migrante en quête d’identité (tese de licenciatura, policopiada), P. Firmino Cachada. - Chemins de libération en Angola. Esquisse d´une théologie pratique de l´espérance, (tese universitária policopiada), P. José Manuel Sabença. - A nossa família cristã, P. Manuel Gonçalves. - Jovens e casamento, P. Manuel Gonçalves e B. Ducrot. - Contigo rezo melhor, José Eurico de Azevedo. - Regulation des naissances et croissance démographique (tese universitária policopiada), Pedro Alexandre Fernandes. Livros sobre os Encontros dos Professores - A criança na encruzilhada da vida - Criança e Missão - Escola, Família e Missão - A Escola no magistério da Igreja - A Escola Primária na dinâmica missionária da fé - A Escola na perspectiva missionária do Vaticano II Cadernos de animação missionária São cadernos especialmente concebidos para a formação de núcleos da LIAM. O seu objectivo foi, em primeiro lugar, dar maior unidade à animação missionária da Província e ao mesmo tempo situar a animação missionária em sintonia com a pastoral da Igreja em Portugal. Começados em forma muito modesta em 1979, policopiados e para uso interno, foram ganhando corpo até se tornarem um livro consistente, com material variado para a animação missionária. Os temas publicados foram os seguintes: - Domingo e missão – 1979-80 - Família e missão – 1980-82 - Consagrados para a missão – 1982-83 - Reconciliação e missão – 1983-84 - Juventude, esperança da missão – 1984-85 - Missão e leigos na Igreja e no mundo – 1985-86 - Leigos ao serviço da Boa Nova – 1986-87 - A estrela da Evangelização – 1987-88 - Uma missão para o ano 2000: a solicitude social da Igreja - 1988-89 - Cinco séculos de evangelização e Encontro de culturas I – 1989-90 - Cinco séculos de evangelização e encontro de culturas II – 1890-91 - A Missão de Cristo Redentor – 1991-92 - Ir? Para onde? - 1992-93 - Ser feliz: a família e a missão – 1993-94 - A nova evangelização – 1994-95 - A paróquia sem fronteiras – 1995-96 760 Adélio TORRES NEIVA - Jesus Cristo, único Salvador – 1996-97 - O Espírito Santo e a missão – 1997-98 - Deus Pai, fonte da missão- 1998-99 - Jubileu e missão – 1999-2000 - Missão para um novo milénio – 2000-2001 - Com a força do Espírito – 2002 - Festa da missão - 2002 - Leigo, vocação para a missão – 2004-2005. Livros de ficção, história e poesia - Cartas de ternura, pilhéria e saudade, P. João Gomes Gonçalves (Joãozinho de Lã Branca), 1971. - O verde e o vermelho, P. João Gomes Gonçalves, 1972. - Pingos de sangue no caminho, P. João Gomes Gonçalves. - O P. Américo: educação e sentido de responsabilidade, P. Manuel Durães Barbosa, 1987, 2º ed. 1988. - Espiritanos Egitanienses na segunda evangelização de Angola, P. Amadeu Martins. Guarda 1995. - Hino à Vida, P. Manuelino de Oliveira, Lisboa 1982. - A vida que Deus nos deu, P. Manuelino de Oliveira, 1986. - Viver a vida, P. Manuelino de Oliveira, 1989. - Trabalhai enquanto é dia, P. Manuelino de Oliveira, 1990. - S.Paio de Antas, sua história, sua gente, P. Adélio Torres Neiva. - Freguesia de S.Cristóvão da Caranguejeira, P. João Mónico, 2000. - Recordar 900 anos de Paços de Brandão, P. Joaquim Correia da Rocha, Junta de Freguesia de Paços de Brandão, 1995. - Reconciliação e paz em Angola em perspectiva cristã, P. Manuel Gonçalves. - St. Mary Church, P. Medeiros Janeiro. - A força da vontade, P. Medeiros Janeiro. - Natal no Algarve. Raízes medievais, P. José da Cunha Duarte, Ed. Colibri. 2002. Liturgia - Psalite Deo, P. Manuel de Jesus Raposo. - Celebrando agora, Senhor (3 vol): Ano A, 1992; Ano B, 1993; Ano C, 1994 , P. José Martins Vaz. Ed. Paulinas, 1992. - Celebração diária da Eucaristia, 7 volumes, P. José Martins Vaz 1998-2003, Ed. Rei dos Livros. 761 Capítulo 81 Os Espiritanos em Angola A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo foi fundada por causa da evangelização de Angola. Daí que Angola tenha sido de facto, o grande laboratório da missão espiritana. Efectivamente quase todos os espiritanos portugueses estiveram como missionários em Angola. Mas a missão espiritana em Angola não é exclusivamente obra dos espiritanos portugueses. Nos primeiros tempos, foram sobretudo os estrangeiros que para aí foram enviados e depois, ao longo dos anos, em geral as comunidades espiritanas eram partilhadas por portugueses, franceses, holandeses, belgas, alemães, suíços, espanhóis, de modo que é impossível falar dos portugueses separados dos outros missionários. Dos 1028 missionários espiritanos que passaram por Angola, 502 eram portugueses. Por outro lado, a missão dos Espiritanos em Angola é tão vasta e englobante, que é impossível apresentá-la aqui, mesmo esquematicamente. Vamos, portanto, limitar-nos a apontar alguns momentos e algumas áreas mais significativas desta presença. Esperamos que brevemente seja publicada a história das missões espiritanas em Angola. A ocupação espiritual de Angola Os Missionários do Espírito Santo chegaram a Angola em 1866, mas a penetração em Angola só atingiu toda a sua expressão com a fundação da missão da Huíla em 1880, pelo P. José Maria Antunes. Antes, em 1866 houvera tentativa de penetração pelo Ambriz no norte e de Capangombe, no sul, mas tanto de uma como de outra pouco resultou. As circunstâncias, nomeadamente o facto de os primeiros missionários serem franceses, não lhes foram propícias. Mais bem sucedida foi a fundação da missão de Lândana em 1873, e, pode dizer-se, foi ela que abriu os caminhos e dispôs os ânimos a favor da missão da Huíla em 1880. As linhas de rumo desta fundação que, afinal, seria o programa de toda a actividade missionária dos Espiritanos em Angola, ficaram logo esboçados no contrato da fundação entre o Governo português e o P. Duparquet. O estabelecimento de um seminário indígena; um colégio para rapazes filhos de colonos, de boers e de indígenas; um colégio para educação de meninas; uma granja e uma escola profissional de artes e ofícios eram pontos assentes para ambas as partes. Das intenções depressa se passou aos factos, pois, em 1883, 74 alunos da 762 Adélio TORRES NEIVA missão eram já submetidos a exame público; em 1888, 20 rapazes frequentavam o seminário-colégio, trasladado de Luanda para a Huíla e a escola de artes e ofícios, onde estavam instaladas as oficinas de carpinteiro, marceneiro, ferreiro, funileiro, pedreiro, sapateiro, tijoleiro e telhador, contava 80 aprendizes. O internato das Irmãs somava 80 meninas. Foi a partir deste auspicioso começo que o P. José Maria Antunes, superior da missão, foi levado a gizar um plano geral de ocupação espiritual de Angola que apresentou à Junta Geral das Missões, a qual emitiu sobre ele um notabilíssimo parecer. No seu plano de 1 de Dezembro de 1894, o P. Antunes chamava a atenção do Governo para a necessidade de “ocupação efectiva” do território angolano, “desde o meridiano do Bié até ao Baroze, numa extensão de 34.000 léguas quadradas”. Lembrava ao Governo que, após o Congresso de Berlim, haveria “sérias dificuldades para encorporar esses territórios na Província de Angola se não tivesse ali centros de ocupação” por meio de feitorias comerciais, postos militares, colónias de emigração europeia, ou missões religiosas”. Para a ocupação missionária, o P. Antunes tomava “como princípio que as missões não se deviam fundar a mais de vinte léguas umas das outras, a fim de que cada uma pudesse servir de escola para as outras”, já por causa dos transportes, já em atenção às doenças ou na previsão de outras emergências. Ora, como nessa altura havia já quatro centros de Missões solidamente estabelecidas, o P. Antunes partindo desses centros previa em menos de dez anos a ocupação de Angola: Lândana, Malanje, Caconda e Huíla. Efectivamente, de Lândana, fundada em 1873, irradiaram as missões de Cabinda para o sul (1891), Lucula, para nordeste (1893), Santo António do Zaire, para o sul do rio (1930) e Ambrizete-Tamboco na mesma direcção (1935), sem falar no Luali (1890), a nordeste também. De Malanje, criada em 1890, são filiadas a missão dos Bângalas (1913), o Mussuco (1900), o Minungo (1929), o Saurimo (1930), o Dundo (1940), o Lombe (1946), Cacuso (1925), Dalatando (1937), Libolo (1893), Dembos (1938), Cazanga (1941), Chiengue (1950) e Quibala (1951). De Caconda, fundada em 1890, irradiou em círculo uma rede de missões, a todos os títulos notável: pela quantidade e influência que exerceu na evangelização efectiva das regiões angolanas de maior população. Aí temos Bailundo (1894), Balombo (1933), Bimbe (1929) Ganda (1927), Caála (1935) Cuamato (1940), Vila da Ponte (1894), Cuíma (1938), Galangue (1922), Huambo (1910), Mupa (1923), Omupanda (1928), Quipeio (1933), Sambo (1912), Andulo (1933), Cachingues (1892), Caiundo (1940), Cuche (1912), Entre Rios (1935), Nova Sintra (1936), Vila Junqueiro (1940), Chinguar (1942), Canhe (1942), Nova Lisboa (1935), Mungo (1948), Bela Vista (1946), Silva Porto (1933) e Nhareia (1951). Da Huíla, fundada em 1881, irradiaram o Munhino, Jau (1888), Chivinguiro (1892), Chiúlo (1916), Gambos (1895, Sêndi (1927), Lubango (1935). Mas além destas missões que fundaram e dirigiram, os Missionários do Espírito Os Espiritanos em Angola 763 Santo tiveram ainda a seu cargo as velhas paróquias da Huíla (1858), Humpata (1887), Lubango (1858), Chibia (1889), Benguela (1817), Moçâmedes (1849). Outras missões ainda foram sendo fundadas, como a Chanhora em Silva Porto, Nazaré em Benguela, Caponte, no Lobito, de tal modo que em 1966, após 100 anos de presença em Angola os Espiritanos tinham a seu cargo 10 paróquias e 61 missões, onde trabalhavam 202 padres e 50 Irmãos. Ao todo tinham fundado 88 missões. Contribuição científica Apesar de o campo científico não ser o objectivo específico dos missionários, a necessidade de conhecer a terra ainda por explorar, os costumes e a cultura dos seus habitantes, para melhor os poder evangelizar, fez com que um bom número de missionários aliasse o estudo e a investigação científica ao labor missionário. Isto aconteceu sobretudo nos inícios da missionação, numa fase em que o levantamento científico de Angola era ainda muito incipiente. Destes estudos levados a cabo pelos missionários, em grande parte tomados à guisa de apontamentos, poucos viriam a ser publicados. Mas mesmo assim, o seu impacto foi de grande ressonância, tendo tido eco nos meios científicos mais cotados dessa época. Podemos agrupar fundamentalmente em quatro capítulos, os estudos de maior interesse, levados a cabo pelos missionários espiritanos: Linguística, Geografia Descritiva, Botânica e Etnografia. Linguística. São cerca de 110 os livros relacionados com a linguística, publicados pelos missionários espiritanos de Angola: gramáticas, dicionários e vocabulários, métodos linguísticos e manuais de conversação, livros de leitura, educação cívica e moral, livros escolares, catecismos, manuais de oração e cantos, evangelhos, e histórias sagradas, etc. Destes livros, cerca de dois terços são escolares, os restantes são de caracter religioso. As línguas mais estudadas são: fiote, quioco, quicongo, quimbundo, mbundo, ganguela, cwanhama, cuangar, diírico e muíla. Entre os nomes mais representativos sobressaem os PP. Dekindt, Bonnefoux, Lang, Lecomte, Wieder, José Sutter, Le Guennec, Mons. Luís Keilling, Albino Alves Manso, António Silva, Francisco Valente, Carlos Estermann. De entre todos merecem ser destacados o P. Albino Alves Manso, com o seu Dicionário Etimológico Bundo-Português; o Dicionário Português. - Nhaneca do P. António Silva e a Gramática Mbundu do P. Francisco Valente. Geografia Descritiva. As viagens pelo mato, em boi cavalo ou em carro boer, proporcionavam aos missionários o estudo da geografia local, nessa altura pouco conhecida. Na Geografia Descritiva merecem referência os PP. Carlos Duparquet, com as suas “Viagens na Cimbebásia”, Bonnefoux, Lecomte, que forneceram elementos preciosos para a cartografia angolana. As conferências que 764 Adélio TORRES NEIVA vários missionários proferiram na Sociedade de Geografia de Lisboa, mostram quanto o seu contributo era apreciado. Botânica. O P. Duparquet foi um botânico distinto a quem se atribui a delimitação das zonas flóricas e florestais do Sul de Angola. Outro companheiro de Duparquet foi o P. José Maria Antunes, que fez importantes colecções no distrito da Huíla, de que existem hoje 100 espécimens no herbário de Coimbra; a restante parte das suas colecções está depositada em Montpellier e Berlim, onde foi estudada por diversos botânicos. Este material forneceu diversos tipos clássicos aos quais foi dado o seu nome em homenagem a este explorador. Entre muitos podemos mencionar: Pterocarpus Antunessi, Acacia Antunessi, e Albizzia Antunesiana. O Governo de Angola deu o seu nome a uma escola oficial e emitiu uma série de selos com a sua efígie. Outros botânicos foram os PP. Benedito Bonnefoux, Eugénio Dekindt, que têm também várias espécies depositadas nos museus Botânicos de Berlim, Montpellier e Coimbra, como por exemplo as Pierocarpus Dekinditi, Dalbergia Dekindiana, etc. Etnografia. À semelhança da linguística, a etnografia e a etnologia são ciências subsidiárias do apostolado, que nenhum missionário pode ignorar. Mas como noutros ramos da ciência, há que distinguir entre os missionários que adquirem conhecimentos etnográficos apenas para uso próprio e outros que comunicam os resultados dos seus estudos ao grande público. Há bastante material etnográfico publicado por missionários, que se encontra disperso por várias revistas científicas, como Portugal em África, Les Missions Catholiques, Annales Apostoliques, Missões de Angola e Congo. Entre todos merece referência especial o P. Carlos Estermann que se veio a tornar o maior vulto da etnografia do sudoeste de Angola. Doutorado “Honoris Causa” pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa publicou, entre outras obras a sua monumental Etnografia do Sudoeste de Angola (3 volumes), Album de Penteados do Sudoeste de Angola, Cinquenta Contos bantos P. Estermann do Sudoeste de Angola, etc. O seu nome foi dado a uma artéria e à Escola do Magistério Primário de Sá da Bandeira e ao Museu Etnográfico do Lobito. Recebeu as seguintes distinções: Oficialato da Ordem do Império, Comenda “Chevalier de Nichan-El Anouar”, Insígnia “Pro Ecclesia et Pontifice”, Comenda da Ordem Militar de Santiago de Espada. Outros se notabilizaram neste campo como os P. Francisco Valente, José Martins Vaz e Joaquim Martins. Promoção cultural e social Entre as obras de maior destaque levadas a cabo pelos Espiritanos no campo da promoção social e cultural, destacamos: Os Espiritanos em Angola 765 - o Colégio do Espírito Santo - Começado em Sá da Bandeira com o nome de Colégio Infante de Sagres, passou depois para Nova Lisboa, onde foi baptizado primeiro com o nome de Alexandre Herculano e depois “Colégio do Espírito Santo”, sendo uma das instituições mais credenciadas de toda Angola. Era o mais imponente estabelecimento de ensino particular de Angola, com as suas 15 salas e capacidade para 550 alunos e 33 quartos individuais. Desde a sua fundação em 1952, enviou o colégio para a universidade centenas de alunos que vieram a ocupar lugar de destaque na sociedade angolana. - Escola de Habilitação de Professores de Posto escolar Teófilo Duarte do Cuíma – Nesta escola, de 1952 a 1966 foram diplomados 592 alunos pertencentes às varias dioceses de Angola. - Jornal “O Apostolado” – Foi fundado por D. Moisés Alves de Pinho em 1935, tomando depois a direcção do jornal o P. José Maria Pereira que se manteve neste cargo até assumir a direcção da Rádio Ecclesia, altura em que foi substituído pelo P. Henrique Alves. Foi um jornal que depressa se impôs pela doutrina que propalava e pela leitura crítica que fazia dos acontecimentos. - Rádio Ecclesia – Na segunda metade de 1954, Ano Santo Mariano, “O Apostolado” deu início à campanha para a fundação de uma Emissora Católica em Angola. Ela nasceu do sonho do director do jornal P. José Maria Pereira. A primeira emissão teve lugar a 8 de Dezembro de 1954, embora só iniciando as suas emissões diárias a 19 de Março de 1955. Foi uma obra que se foi desenvolvendo até se tornar a voz mais autorizada e mais ouvida em toda Angola. - Casa dos Rapazes de Luanda - Fundada modestamente pelo P. Isalino Alves Gomes, em 1942, para acolher os rapazes da rua, veio a atingir grande expressão com edifícios modernos e todas as oficinas, na estrada do Catete, pelos PP. Mário Silva e Francisco Freitas. Até 1966 passaram por esta obra 850 rapazes, com as mais diversas profissionalizações. A Câmara de Luanda em 1970 deu o nome do P. Mário Silva a uma rua do Bairro Américo Tomaz, junto ao aeroporto de Luanda. - Casa dos Rapazes de Nova Lisboa – Foi em 1955 que o P. António Ferreira da Silva a fundou em Nova Lisboa. Começou com cinco rapazes, todos órfãos e abandonados. Como a Casa dos Rapazes de Luanda, também esta obra atingiu grande desenvolvimento, chegando a ter a população de 136 internos. A formação do Clero angolano É sem dúvida a “jóia da coroa” dos Missionários Espiritanos em Angola. Desde o início, a sua preocupação principal foi formar o clero nativo para lançar a igreja local. Era já o projecto inicial do P. José Maria Antunes, a quando da fundação da missão da Huíla, que depois foi assumido por todos os superiores dos diferentes distritos religiosos de Angola. Assim, o primeiro seminário em que os Espiritanos colaboraram foi o Seminário de Luanda, transferido para a Huíla. Na segunda fase da vida do seminário, já em Luanda, em 1932, os Espiritanos continuaram a prestar a sua colaboração. 766 Adélio TORRES NEIVA Desde 1936 a 1961 matricularam-se no Seminário de Luanda 559 alunos, dos quais 34 foram ordenados sacerdotes. A quando da fundação da missão de Lândana, uma das primeiras preocupações do P. Duparquet foi fundar aí um seminário para a formação do clero nativo. Este seminário esteve em Lândana, desde 1879 a 1936, passando depois para Lucula até 1937 e para Cabinda, de 1947 a 1975. Dos 791 alunos que frequentaram este seminário, foram ordenados 15. Um terceiro seminário para a formação do clero nativo a ser pensado foi em Malanje pelo P. Kraft, a quando da fundação da missão. Mas só em 1927 é que o P.Cardona lançou os seus fundamentos. Este seminário foi transferido para a missão dos Bângalas em 1935, regressando a Malanje em 1943. Desde 1927 a 1965 passaram pelo seminário de Malanje 580 alunos, tendo sido ordenados 24. Como nos outros, também ali trabalharam dezenas de espiritanos. Outro seminário diocesano fundado pelos Espiritanos foi o da Caála em 1921. Começou na missão do Sambo com um único aluno, no ano seguinte foi transferido para a missão de Galangue, onde funcionou até 1940. Daqui passou para o Nambi, perto do Bié e daqui para a Caála. De 1921 a 1962 matricularam-se neste seminário 1.276 alunos, com uma percentagem de 3 por cento de ordenações sacerdotais. Em 1966 o número dos seus alunos era de 247. Seminário de Cristo Rei, em Nova Lisboa. Nasceu para dar sequência ao Seminário da Caála. Primeiro, passou pelo Quipeio, mas D. Daniel Junqueira, logo que foi ordenado bispo mandou construir o seu Seminário Maior em Nova Lisboa, que abriu em 1947. De 1934 a 1967 foram ordenados neste seminário 88 sacerdotes, sendo 81 nativos e 7 vindos dos seminários de Portugal. Seminário de Silva Porto (Bié). Também este seminário teve a sua origem na missão de Galangue; daqui foi transferido para o Námbi em 1940. Em 1963 o seminário foi definitivamente mudado para um novo edifício em Silva Porto, mandado construir por D. Ildefonso que confiou a sua direcção aos espiritanos. O Seminário do Jau teve a sua origem no antigo seminário da Huíla que serviu Luanda de 1882 a 1907 e que recomeçou em 1932 e que em 1938 transitou para o Jau. Esta transferência foi feita para salvar a lenta agonia por que a missão do Jau então passava. Ali foram construídas instalações condignas. Finalmente, o Seminário do Espírito Santo. Servidas todas as dioceses, a Congregação julgou ter chegado o momento oportuno para propor à Igreja Angolana o carisma espiritano, para o qual várias vocações começavam a surgir. Até ao presente, a Congregação tinha apenas um padre nativo: o P. Luís Barros da Silva, natural do Bié, que terminados os estudos nos seminários diocesanos, professou no Noviciado Espiritano de Sintra a 19 de Março de 1897. A ideia de fundar um seminário menor espiritano vinha de longe e coube ao P. Armando Pinto, superior principal do Distrito de Nova Lisboa, corporizá-la, sob as instâncias continuamente repetidas, do Superior Geral da Congregação, Mons. Marcel Lefebvre. Os Espiritanos em Angola 767 A 15 de Outubro de 1965, no edifício do antigo Colégio Alexandre Herculano, inaugurava-se o Seminário menor da Congregação do Espírito Santo, com 33 alunos do 1º ano, vindos de todos os cantos de Angola e enviados pelos superiores das missões. Mais tarde, os alunos do 2.º Ciclo frequentaram as aulas no Colégio do Espírito Santo. Durante o período marxizante do pós-independência, os seminaristas mais adiantados ajudaram a ocupar a parte da comunidade do Colégio do Espírito Santo, agora transformado em Escola de pioneiros, frequentando os alunos as aulas no Seminário de Cristo Rei. Três escolasticados menores vieram a funcionar: um em Nova Lisboa, outro em Malanje e um terceiro em Lândana. O Noviciado, aberto em 1975, viria a ter a sua sede na missão do Munhino. A 29 de Junho de 1977 era criada em Angola uma província Espiritana. Esta fundação é sobretudo devida à dedicação e trabalho de cerca de um milhar de missionários espiritanos que pouco a pouco foi lançando os fundamentos desta Província. 769 Capítulo 82 Os Missionários do Espírito Santo em Cabo Verde O projecto de enviar Missionários do Espírito Santo para Cabo Verde, remonta já a 1850. Nesse ano, com efeito, Mons. Bessieux, Prefeito Apostólico do Gabão, escrevia a Mons. Kobès: “Talvez possa ceder dois ou três missionários para as ilhas de Cabo Verde”. Talvez por falta de pessoal, Mons. Bessieux não passou de boas intenções. Alguns anos mais tarde, a 2 de Fevereiro de 1893, o P. António da Costa Teixeira, cabo-verdeano, de Santo Antão, escrevia a um espiritano de Portugal, pedindo-lhe o envio de missionários espiritanos para Cabo Verde: “Tenha a bondade, rev. padre de me informar se haverá qualquer possibilidade de me obter três ou quatro padres da sua congregação para dirigir o seminário – colégio da nossa diocese e diga-me também em que condições a Congregação poderia aceitar esta obra. A nossa pobre diocese está completamente desprovida de clero instruído e formado segundo o espírito sacerdotal. As igrejas estão sujas, os templos silenciosos e abandonados, as cerimónias mal feitas e (...), as vestes sagradas sujas e fora de uso, de sermões, ensino religioso, confissões, práticas de devoção é melhor não falar, pois de tudo isto há pouco. Ninguém pratica a religião sinceramente nem o clero nem o povo: este, em virtude da sua ignorância e dos maus exemplos que vê constantemente; aquele pela ignorância, rotina, inconsciência, relaxamento, para não dizer o aviltamento em que se encontra. O director espiritual e bons professores fazem muita falta no seminário. Numa palavra, não há nada absolutamente nada que se aproveite. Ajudar pelos seus trabalhos, virtudes, ciência e seu zelo a reforma do clero, seria da parte dos Padres do Espírito Santo um acto de caridade e tal modo sublime que só Deus os poderia recompensar dignamente. Eu sou um simples padre mas o estado de coisas da nossa pobre diocese aflige-me tanto que tomo a liberdade de lhe procurar um remédio. Por isso, faço tudo o que posso para trazer a fé e a religião ao meio de nós. Espero que me informe do que os superiores decidirão a este respeito. Espero apenas uma resposta para acertar o assunto com os meus superiores a quem já falei e que muito desejam saber se a Congregação aceita. Logo que tudo se assente, os meus superiores tratarão de um acordo definitivo com a Congregação”. Não sabemos qual foi a resposta da Congregação ao P. Teixeira, nem sequer se terá chegado a haver contactos entre os superiores espiritanos da época e o bispo de Cabo Verde D. Joaquim Augusto de Barros, que viria a falecer em Março de 1904. 770 Adélio TORRES NEIVA Só muitos anos mais tarde, em 1941, se viria a efectuar o projecto de enviar Missionários Espiritanos para Cabo Verde. Tal aconteceu com a nomeação do espiritano D. Faustino Moreira dos Santos para substituir nas funções episcopais em Cabo Verde D. Rafael Maria da Assunção, que resignou em Janeiro de 1941. Quando D. Faustino se tornou bispo de Cabo Verde, a sua experiência missionária em Angola era já muito vasta e fecunda, tendo sido nomeado Prefeito Apostólico do Congo em 1919. Com a extinção desta Prefeitura em 1940, Mons. Faustino foi nomeado bispo da diocese de Cabo Verde, que entretanto se via desligada da Guiné. Assim, a 17 de Novembro de 1941, D. Faustino parte de Lisboa para Cabo Verde, a bordo do navio “Guiné”. Com ele vão mais três espiritanos: os PP. José Neiva Araújo, seu secretário, Lúcio dos Anjos e Lindorfo Quintas. Seguiam ainda no mesmo grupo de missionários dois padres seculares: Félix Lopes e Abel Leite, bem como dois seminaristas, Artur Barbosa e Cecílio Cardoso. Segundo uma crónica do P. Lindorfo Quintas, a chegada ao arquipélago caboverdeano teve lugar no dia 23 de Novembro, na ilha de S. Vicente. Como era domingo, o bispo e seus missionários desceram em terra para celebrarem missa e visitarem a D. Faustino M. dos Santos cidade. No dia 25 seguiram para a ilha de S. Nicolau, onde estava sediado o bispado; aqui chegaram a 30 de Novembro. Destinados à Ilha de Santiago, os PP. Lúcio e Quintas para lá seguiram, no dia 15 de Dezembro. Chegados a Cabo Verde, D. Faustino depressa se apressou a tomar providências para revitalizar a diocese com a vinda de missionários, nomeadamente espiritanos. Estes deveriam inserir-se no regime paroquial que, evidentemente, se mantinha em vigor, de acordo com as determinações do Acordo Missionário (art.20). Nessa linha, era o P. Lúcio dos Anjos nomeado pároco da freguesia de S. Nicolau Tolentino, tendo ainda a seu cargo as freguesias de Nª Sª da Paz e de S. João Baptista; e o P. Lindorfo Quintas foi nomeado pároco das paróquias de S. Lourenço dos Órgãos e de Santo Amaro, Abade (Tarrafal), estendendo a sua acção pastoral a outras paróquias daquela ilha. Será nesta ilha de Santiago, a maior e a mais populosa do arquipélago e depois também nas ilhas do Maio, Bela Vista e Santo Antão que os espiritanos vão exercer a sua actividade, dando assim início a uma nova fase da evangelização das ilhas de Cabo Verde. A 17 de Dezembro de 1942, o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Maglione, recomendou as missões de Santiago de Cabo Verde aos Missionários do Espírito Santo, nas pessoas do Superior Geral Mons. Le Hunsec e do provincial de Portugal P. Clemente Pereira da Silva. A necessidade do P. Lúcio de voltar a Portugal, logo em 1942, colocou o P. Quintas em notória dificuldade, pois ficaram a seu cargo as seis paróquias que oficialmente estavam confiadas aos Missionários do Espírito Santo. Não durará Os Missionários do Espírito Santo em Cabo Verde 771 muito o seu isolamento mas também não durará muito a sua vida. Uma actividade tão intensa ocasionará o desgaste prematuro deste jovem missionário. Em Junho de 1944 teve que regressar a Portugal, dominado por uma hipertrofia cardíaca. Virá a falecer a 7 de Abril de 1945, no seminário do Fraião. Foi um verdadeiro pioneiro que ainda hoje é recordado em Cabo Verde. Para remediar a situação em que o P. Quintas se encontrava, a 24 de Outubro de 1942 desembarcava em Cabo Verde uma segunda leva de espiritanos: os PP. Henrique Alves e Frederico Duff: o primeiro, jovem missionário vindo da docência nos seminários espiritanos de Portugal; o segundo, de ascendência inglesa, tinha já uma longa experiência de Angola com 19 anos na Huíla. Logo no início, o P. Henrique Alves foi nomeado pároco das seis freguesias que estavam a cargo do P. Lindorfo Quintas: S. Nicolau Tolentino (S. Domingos), S. Salvador do Mundo (Picos), S. Lourenço dos Órgãos, Sto. Amaro Abade (Tarrafal), S. João Baptista (Cidade Velha) e Nª Senhora da Luz (Milho Branco). Os PP. Quintas e Duff ficaram como vigários cooperadores das mesmas paróquias. Assim, das 11 paróquias da Ilha de Santiago, seis eram confiadas aos Espiritanos. Estes, peregrinando por cada uma das paróquias, procuraram revitalizar as suas estruturas, organizar a catequese, administrar os sacramentos, etc. Ao todo eram 119 pequenas povoações, com um total de 26.621 almas. Ao mesmo tempo o P. Henrique era nomeado superior religioso do grupo espiritano de Cabo Verde e começou os preparativos para formar a primeira comunidade-residência espiritana. O espiritano seguinte a chegar a Cabo Verde foi o P. Augusto Nogueira de Sousa. A 23 de Janeiro de 1943, o P. Henrique Alves é nomeado pároco da paróquia de Nossa Senhora da Graça, na Praia e da ilha do Maio: a cidade da Praia passaria a ser o centro de irradiação apostólica dos Espiritanos na diocese de Cabo Verde. Em Abril desse ano, o P. Henrique Alves adquiriu nessa cidade uma residência, que se tornou a sede da comunidade espiritana e que foi dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Em breve se juntarão a estes pioneiros da evangelização de Cabo Verde novos confrades espiritanos portugueses e suíços, bem como capuchinhos italianos e salesianos portugueses. A 27 de Maio de 1943, D. Faustino vem para a cidade da Praia e aqui estabelece o seu bispado, que desde 1866 estivera na vila Ribeira Brava, na ilha de S. Nicolau. O novo distrito de Cabo Verde A 17 de Setembro de 1946 foi criado oficialmente o Distrito Espiritano de Cabo Verde e nomeado seu superior principal o P. Francisco Alves do Rego. Em Janeiro de 1947 era aprovado o primeiro Conselho do Distrito assim constituído: P. Rego, superior principal e procurador provisório do distrito, PP. Augusto Nogueira e Fernando Bussard, assistentes; Frederico Duff e Manuel Rodrigues Ferreira, conselheiros. A cargo do distrito ficava toda a ilha de Santiago e daí a três anos, também a ilha do Maio. Contudo, restavam ainda as outras ilhas e que igualmente careciam 772 Adélio TORRES NEIVA de padre. Por esse motivo, D. Faustino procurou o apoio de outros institutos religiosos e clero secular de outras dioceses. Nesse sentido, conseguiu a colaboração dos Salesianos (3 padres e 5 irmãos), Capuchinhos (3 padres e 1 Irmão) e de alguns padres diocesanos. Das Congregações Religiosas femininas responderam ao apelo as Irmãs do Espírito Santo (12) e as Irmãs do Amor de Deus (10). A 19 de Dezembro de 1953 chegam os PP. Avelino Vieira Alves e João Eduardo Moniz. E no ano seguinte, 1954 chegam os PP. Custódio Ferreira Campos e António Sá Cachada, sendo o primeiro colocado no Tarrafal e o segundo em Santa Catarina. De Santa Catarina, o P. Campos assistirá também a Ilha do Maio, pastoralmente ligada ao Tarrafal. A 30 de Julho de 1955, por morte de D. Faustino Moreira dos Santos, é nomeado Administrador Apostólico “Sede Vacante” da diocese o P. Augusto Nogueira. Nessa data, estavam ainda sem missionário três ilhas. D. José Colaço, o bispo que sucedeu a D. Faustino, trouxe consigo alguns padres goeses que se integraram no clero secular da diocese. Assim todas as ilhas acabaram por ser assistidas pastoralmente. Em 1966, o número de sacerdotes era já de 46, em contraste com os 13 que existiam em 1941 e as Religiosas 26. Em 7 de Setembro de 1955, o P. José Pereira de Oliveira foi nomeado novo superior do Distrito em substituição do P. Francisco Rego e chegou a Cabo Verde, acompanhado do P. Jerónimo Ferreira, a 18 de Novembro do mesmo ano. Sucedeu-lhe como superior, em 1963, o P. José Maria de Sousa. O P. Pereira de Oliveira tinha acumulado as funções de superior principal e pároco da Praia. O P. José Maria propôs ao bispo o P. Figueira Pinto para pároco da Praia, ficando ele mais disponível para o serviço do distrito e ajuda aos confrades. A sua residência era a casa paroquial na Praia. Durante o seu mandato, o P. José Maria de Sousa, com o dinheiro que recebia das aulas no liceu, comprou a Praia Negra por 60.000$00. Depois, ainda com as suas economias, comprou ao Sr. Serban por 200.000$00 o “Bar Benfica”, onde se viria a construir a actual residência espiritana da Praia. O seu objectivo era ter uma residência espiritana na Praia para poder acolher os confrades e fazer reuniões, bem como acolher alguns estudantes com fim vocacional. Conseguiu do Ministério do Ultramar a elaboração duma planta para um lar estudantil a edificar pegado à residência, no espaço entre a casa e o hospital: o edifício tinha dois pisos inferiores e três pisos superiores ao plateau. Tanto a Casa Mãe como o Ministério do Ultramar prometeram ajuda. Com o advento da independência, todas estas promessas caíram por terra. Mas, apesar de tudo, abriu-se caminho para a actual Casa Espiritana, cuja última ampliação e remodelação veio a ser realizada sob a orientação do P. José Fagundes Pires, superior principal do Distrito. Em 1962 é ordenado o primeiro padre espiritano natural de Cabo Verde. O P. Paulino Évora, que mais tarde viria a ser bispo dessa diocese, e professam dois Irmãos espiritanos cabo-verdianos, os Irmãos Baltazar e Cecílio. Em 30 de Novembro de 1966, com solene Te Deum e sessão comemorativa Os Missionários do Espírito Santo em Cabo Verde 773 celebraram-se as Bodas de Prata da chegada dos Espiritanos a Cabo Verde e em 1991, entre Bodas de Ouro e outros momentos celebrativos, inaugura-se a actual Residência Espiritana da Praia. A 22 de Abril de 1975 foi nomeado Bispo de Cabo Verde D. Paulino do Livramento Évora, espiritano, natural da Praia, sendo ordenado bispo na missão católica do Cacuso, em Angola, onde missionava, em 1 de Junho de 1975; a sua entrada na diocese deu-se a 22 de Junho desse mesmo ano. Os superiores principais de Cabo Verde, foram: P.Henrique Alves (19421946), P. Francisco Alves do Rego (1946-1955), P. José Pereira de Oliveira (1955-1964), P. José Maria de Sousa (1964-1970) o P. João Eduardo Moniz (1970)-1972), P. Francisco Manuel Lopes (1972-1973), P. Manuel dos Santos Neves (1973-1979), P. Gil Afonso Losa (1979-1982), P. José Fagundes Pires (1982-1992), P. Adélio Cunha Fonte (1992-1999) e P. Manuel Martins Novais Ferreira (1999). Os Espiritanos chegaram a assumir a responsabilidade pastoral de todas as paróquias de Santiago, bem como a do Maio; mas a paróquia de Santa Catarina foi entregue ao clero secular em 1976 e a de Nossa Senhora da Graça, da Praia em 1978. Na paróquia da Senhora da Graça trabalharam os PP. Figueira Pinto, Henrique Alves, Francisco Rego, José Pereira de Oliveira, Avelino Vieira Alves, João Eduardo Moniz. Da paróquia de Santa Catarina é justo recordar a figura quase lendária do P. Luís Allaz, suíço, que aí trabalhou durante muitos anos e cuja solicitude pastoral o povo nunca esquecerá. Ali deram também a sua colaboração os PP. Eduardo Moniz, José Maria de Sousa, António Botelho e Veríssimo Teles. Também as duas paróquias da ilha da Boavista estiveram sob a responsabilidade pastoral dos Espiritanos de 1975 a 1989, primeiro com um pároco residente, o P. Custódio Campos, e mais tarde assistida a partir de Santiago. Actualmente, os confrades que compõem o distrito espiritano são 17 (mais o bispo D. Paulino), dois dos quais são nigerianos, e trabalham em doze paróquias nas três ilhas: Santiago, Maio e Santo Antão. Na “Cidade Velha”, que foi a primeira paróquia de Cabo Verde, a antiga Ribeira Grande, desembarcaram os primeiros missionários em 1462. Foi sede do bispado e do governo até 1860. Em 1941 o bispado passou para a Praia. O pároco actual da Cidade Velha é o P. Custódio Ferreira Campos. O P. Campos, depois de vários anos no Tarrafal, esteve depois três anos na Boavista e desde 1978 pastoreia as duas paróquias mais descristianizadas e mais difíceis da ilha: Santíssimo Nome de Jesus (Cidade Velha) e S. João Baptista. O P. Campos é uma das figuras de missionário do povo, mais queridas e apreciadas, a ponto de ser condecorado em 2003. Aqui trabalharam, entre outros, os PP. Eduardo Moniz, Nogueira de Sousa, Arthur Emery, António Figueira, Francisco Rego, António Ventura e Crettaz. Na paróquia de S. Nicolau Tolentino (S. Domingos) está o outro veterano de Cabo Verde: o P. António Cachada. Aí reside desde 1968, ano em que principiou 774 Adélio TORRES NEIVA a seca e em que ele deixou Santa Catarina, paróquia a que dedicou os seus primeiros 14 anos, desde que chegou a Cabo Verde em 1954. É uma paróquia com grande movimento pastoral e donde saíram já várias vocações espiritanas como os PP. João Baptista Frederico Barros e Manuel Alves Andrade Semedo. Desde 1941 foram párocos os PP. Lúcio dos Anjos, Manuel Rodrigues Ferreira, António Figueira Pinto (desde 1951 a 1966), Mendes Campos (substituído 1966/67), António Cachada. Ali colaboraram os PP. Arlindo Areia Amaro, Firmino da Costa Sá Cachada, José Luís Souto Coelho, João David Souto Coelho, Manuel Martins Novais Ferreira, Tarcísio Santos Moreira, Mário Faria Silva. Em S. Lourenço dos Órgãos encontra-se desde 1968 o P. Alberto Meireles. Durante alguns anos foi companheiro do P. Arlindo Areia Amaro, que aí criou a Família Agrária, uma espécie de comunidade de base, em moldes adaptados ao meio social e cultural da terra. O P. Arlindo deixou os Órgãos, a quando das perturbações do 25 de Abril de 1974, indo depois assistir os cabo-verdeanos em Dacar. Foi ele que em 1973 iniciou a construção do imponente Centro Paroquial dos Órgãos, que o P. Alberto Meireles concluiu. Em 1943, S. Lourenço dos Órgãos foi um dos centros de irradiação dos Espiritanos para as paróquias da ilha. Ali vigora, em estreita relação com a paróquia a “Associação de Animadoras Missionárias”, uma associação de leigas que partilha a espiritualidade espiritana e que foi fundada pelo P. Arlindo Areia Amaro. Nos Picos, cuja igreja sobressai num cenário de majestade, pontifica o P. Francisco Sanches Cardoso, que ali construiu uma igreja e uma residência. Natural da vizinha paróquia de S. Miguel da Calheta, é o segundo espiritano natural de Cabo Verde. Encontra-se como missionário na sua terra, desde 1978. É uma paróquia que durante bastante tempo esteve anexa a S. Lourenço dos Órgãos e por ali passaram vários espiritanos, entre os quais os PP. Joaquim Cruz, Manuel Santos Neves, Alberto Meireles, etc. Em Pedra Badejo, na paróquia de Santiago Maior, até 1977 anexa a S. Miguel, por falta de padre, reside o P. Gil Losa. Com a sua presença a paróquia ganhou outra vida, com a bela e ampla igreja que ele construiu. O P. Gil encontra-se em Cabo Verde desde 1964. Ali trabalhou também o P. José Coelho Barbosa e trabalha actualmente o P. António Cardoso Botelho. Os primeiros espiritanos que ali trabalharam, irradiando dos Órgãos foram os PP. Luís Allaz, Arthur Emery, e depois P. Crettaz, pároco de S. Miguel, Luís Mudry e Joaquim Barata. Não se pode falar da Calheta, sem recordar os dois grandes missionários daquela paróquia, P. Cretaz, suíço e P. João Eduardo Moniz, curiosamente ali ambos falecidos em 1989, a poucos meses de distância e sepultados, por voto expresso do povo agradecido, em mini-cemitério propositadamente construído no adro da igreja. O P. Crettaz chegou à Calheta em 1947 e foi ele que tratou da passagem da sede da igreja paroquial da antiga igreja da matriz, situada na Ribeira de S. Miguel para a actual colina do porto da Calheta. Ali construiu a igreja paroquial iniciada em 1960 e inaugurada em 1963 conjuntamente com a residência paroquial. Coube ao P. José Carreira Júnior, como pároco e ao P. Os Missionários do Espírito Santo em Cabo Verde 775 Francisco Mendes Pereira, como vigário cooperador, continuar a obra. Ali trabalharam também os PP. António Botelho, João David Souto Coelho, José Fagundes Pires e Gil Losa. Hoje, a paróquia está a cargo do P. António Marques de Sousa com a colaboração dos P. Nuno Miguel da Silva Rodrigues, especialmente encarregado do sector escolar, e o P. Crisógono, nigeriano. Ali funciona a “Escola P. Moniz,” uma escola que ele mesmo fundou em 1977 e que se foi desenvolvendo, a ponto de hoje contar cerca de 1.100 alunos no curso secundário. Foi, 12 anos depois da sua morte, que a escola foi baptizada com o nome do P. João Moniz. O P. Moniz foi agraciado, a título póstumo, pelo Presidente da República de Portugal, com o grau de oficial da Ordem de Mérito, condecoração que foi entregue pelo Embaixador de Portugal, a 10 de Junho de 1989. Colaboram na paróquia as Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Maria, uma fundação de origem cabo-verdiana. O Tarrafal, antigamente terra mal afamada, para onde eram enviados os degredados políticos mais famosos, é hoje com a sua belíssima praia, um dos paraísos do turismo do arquipélago. Ali trabalham os PP. Manuel da Silva Santana e Manuel Ferreira da Silva. Esta paróquia recebeu a primeira visita do P. Lindorfo Quintas em Maio-Junho de 1942. De 1944 a 1946 esteve entregue aos cuidados de um padre diocesano; em 1947 ali chegaram de novo os espiritanos em cima de um camião da Câmara que fora rebocá-los e ao seu carro, cujo semieixo partira pelo caminho. O P. Santana ali trabalha desde 1979 e o P. Ferreira da Silva desde 1989. Trabalharam nesta paróquia os PP. Augusto Nogueira de Sousa, Custódio Campos, Manuel Ferreira, Crettaz, João Eduardo Moniz, Francisco Cardoso, António Sá Cachada, Peixoto Lopes, José Carreira Júnior, Veríssimo Teles. A paróquia da Senhora da Luz esteve anexa a S. Domingos ou assistida pela paróquia da Praia. Desde 1992 que é paróquia autónoma, tendo sido seu pároco o P. José Fagundes Pires. Ali trabalharam os PP. António Figueira, Mudry, Arlindo Amaro, António Cachada, Manuel Ferreira, Manuel Martins Novais, Mário Silva, João David Souto e quase todos os que passaram por S.Domingos. O primeiro espiritano a visitar a Ilha do Maio, na altura anexa à paróquia do Tarrafal, foi o P. Augusto Nogueira de Sousa, em 1945. A partir daí, vários foram os missionários do Maio, normalmente idos do Tarrafal ou da Praia. As viagens por barco, tanto podiam demorar três horas como três dias, conforme os caprichos do vento; hoje são 11 minutos de avião. O primeiro a fixar residência, mais propriamente na vila do Maio, foi o P. Joaquim Martins Barata (1962-1972) que ali ficou até a saúde o permitir, vindo a falecer em Portugal em 1979. Como seu substituto, a partir de 1977, ficou o P. António Cardoso Botelho, que desde 1972 se encontrava em Santa Catarina, na ilha de Santiago. Foi ele que ali construíu um moderno e funcional “Lar Paroquial”. Com ele ficou o Irmão Queirós. O P. Botelho passou depois para colaborador do P. Gil Losa em Pedra Badejo, sendo substituído no Maio em pelo P. José Carreira Júnior. Colaboram na paróquia as Irmãs Escravas da Santíssima Eucaristia. 776 Adélio TORRES NEIVA Em Novembro de 2001, respondendo a um apelo do bispo de Cabo Verde para assistir a Ilha de Santo Antão, cujo pároco, ainda novo, acabava de falecer repentinamente, o Distrito assumiu a assistência espiritual daquela ilha, para onde foram enviados os PP. José Fagundes Pires e Isidoro, nigeriano, que assumiram por três anos as duas paróquias da ilha: Santo Crucifixo e S. Pedro. Ao fim dos 3 anos regressaram a Santiago. O número dos espiritanos portugueses tem mudado conforme as circunstâncias, mas a média é de 15 membros, por vezes com seminaristas estagiários. De 1970 para cá estagiaram os seguintes seminaristas portugueses: Luís Cabral (1970-1972), Armando Ferreira da Silva (1970-1972), José Luís Souto Coelho (1978-1980), João David Souto Coelho (1980-1982), Alberto Jerónimo Santos (1981), Raul Viana Barbosa (1998), Nuno Miguel da Silva Rodrigues (1998-2000), Fernando Lacerda Ferros (1999-2001) e Vítor Manuel Gonçalves Ferros (2000-2001). Desde Junho do ano 2000 o grupo tornou-se internacional com a vinda de dois nigerianos que actualmente trabalham, um em Santo Antão e outro na Paróquia de S. Miguel. A 14 de Julho de 2002, em S. Domingos, na sua paróquia de origem, foi ordenado o P. Manuel Alves Andrade Semedo, com grande participação da comunidade espiritana e a presença do Primeiro Ministro de Cabo Verde e milhares de pessoas. Na Residência Espiritana da Praia, onde mora o superior principal P. Manuel Martins Novais Ferreira, que acolhe os confrades do interior para reuniões de convívio e animação pastoral e religiosa, funciona também um Seminário Espiritano para o 11º e 12º anos, prosseguindo estes seminaristas os seus estudos em Portugal. Os espiritanos Cabo-verdeanos são além do Bispo, os PP. Francisco Sanches Oliveira Cardoso, Teodoro Mendes Tavares, João Baptista Frederico Barros e Manuel Alves Andrade Semedo. Vários jovens de Cabo Verde continuam a sua formação inicial em Portugal. 777 Capítulo 83 Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000) P. Francisco Fernandes Correia O Brasil desde o tempo do Venerável Padre Libermann, havia sido objecto das suas preocupações missionárias, vendo nesta terra um vasto campo de trabalho, onde abundava a escravatura e grande miséria moral e social, que infelizmente se prolongou até aos nossos dias, sobretudo nas periferias das grandes cidades, nos Estados do Nordeste e nas regiões ribeirinhas do Pará e do Amazonas. Já em 1886 haviam chegado a Belém do Pará os primeiros missionários do Espírito Santo a pedido do Bispo de Belém, para se encarregarem do seminário diocesano. Dois anos depois da sua chegada, saindo de Belém, sobem o rio Amazonas e fixam-se em Manaus, situada na confluência do Solimões e do Rio Negro, centro da floresta amazónica. De Manaus sobem o Solimões e vão iniciar a missionação junto das populações espalhadas ao longo da infinidade de rios de que se compõe a bacia do Amazonas. Do seu trabalho, nasceram as Prelazias de Tefé e Cruzeiro do Sul e os Distritos Religiosos do Amazonas e Alto-Juruá. Convencidos da necessidade de formar sacerdotes brasileiros para serem enviados para o Norte, uma vez que nos Estados do Sul abundavam as vocações, estabelecem-se em Minas Gerais, Rio de Janeiro, S. Paulo, Paraná e Santa Catarina, dando mais tarde origem à actual Província Brasileira. Assim, além dos Distritos Religiosos do Amazonas e Alto-Juruá, formaram-se os distritos do Centro, abrangendo os Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, do Sul em S. Paulo, Paraná e Santa Catarina e do Sudoeste nos Estados de S. Paulo e Rio de Janeiro. Cada Distrito era composto de membros originários das Províncias da Europa (Holanda, Alemanha e Irlanda). Causas e início do Distrito do Sudeste Com os acontecimentos ocorridos nos territórios africanos, após o vinte e cinco de Abril de 1974, muitos missionários impossibilitados de continuarem em Angola, optaram por deixar o seu campo de trabalho nesta terra. Uns ficaram na Europa enquanto que outros se voltaram para a outra banda do Atlântico. Destes, um bom número se dirigiu para o Brasil, onde tinham os seus familiares e amigos. O clima era bastante semelhante ao de África e a cor das populações não era muito diferente da cor africana. 778 Adélio TORRES NEIVA Fechadas as portas de Angola, nos primeiros anos após a independência, alguns confrades de primeira nomeação foram também orientados para o Brasil. Ninguém poderia imaginar o que iria acontecer, por isso não houve um plano previamente preparado para colocar todos aqueles que, de Angola ou de Portugal iam chegando ao Brasil. Era necessário que alguém se encarregasse do acolhimento aos que iam chegando. Como já existiam no Brasil cinco Distritos pareceria muito fácil dar guarida e trabalho a todos, pois que todos eram membros da mesma Congregação. Mas isso não aconteceu, porque naquela altura ainda tinha muita importância a origem, a língua e as tradições de cada país. Além disso, o facto da saída precipitada de Angola, causava uma certa estranheza. Encarregado pela Província de Portugal e pelo Conselho Geral, o P. Francisco Correia parte para o Brasil onde chega no dia 21 de Maio de l975, com a obrigação de acolher os que fossem chegando para que não se desse a dispersão. O grupo já bastante numeroso é reconhecido oficialmente, tendo sido nomeado seu representante o P. Francisco Correia que viria a ser o primeiro Superior Principal quando foi constituído o Distrito em 1979 com a designação de Distrito do Brasil Sudeste, tendo como residência oficial a casa do Parque Flora, na Diocese de Nova Iguaçú. Após a sua chegada ao Rio de Janeiro, logo no dia 24 de Maio, o P. Francisco Correia vai ao Hospital de Ipanema, zona nobre da cidade, visitar a Senhora D. Alice Vidal de Oliveira, portuguesa, que viria a ser a grande benfeitora. Logo se prontificou a oferecer aos padres casa e o necessário para a sua subsistência enquanto fosse necessário. Seria uma ingratidão não salientar o apoio dado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), oferecendo a ajuda necessária, alojamento e cursos de adaptação às realidades do Brasil, segundo as linhas pastorais da América Latina. Vários Bispos põem à disposição as suas dioceses. Dentro do carisma da Congregação, pareceu bem ao grupo aceitar as propostas dos Bispos de Jales e de Nova Iguaçú que, em tempos se haviam dirigido à Província de Portugal pedindo padres para as suas dioceses. Jales que era uma diocese nova, não tinha clero suficiente e Nova Iguaçú, fazendo parte da Baixada Fluminense, carecia de tudo. De comum acordo, resolveu-se ficar nos Estados de S. Paulo e do Rio de Janeiro, onde se situavam as Dioceses de Jales e Nova Iguaçú, sendo de salientar que nestes Estados já existiam três Distritos Espiritanos (Central, Sul e Sudoeste). No Estado do Rio de Janeiro tinham as Dioceses do Rio de Janeiro, Nova Iguaçú, Niterói, e mais tarde Itaguaí e Duque de Caxias. No Estado de S. Paulo eram as Dioceses de Jales, S. José de Rio Preto, Baurú e Bragança Paulista. Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000) 779 Casa Principal do Distrito e Obra do Parque Flora (Ambulatórios) Desde o começo da presença dos espiritanos portugueses no Brasil, a casa do Parque Flora, situada num dos bairros mais carentes de Nova Iguaçú, oferecida pela insigne benfeitora D. Alice Vidal de Oliveira, tornou-se a casa principal do grupo e depois do Distrito. Em 19 de Abril de 1986, a título provisório, foi a casa emprestada, a pedido do Senhor Bispo de Nova Iguaçú, às Irmãs Clarissas Portuguesas idas da Ilha da Madeira, até que o seu convento fosse construído. A devolução e a ida para o novo convento ocorreu no dia 12 de Maio de 1989. Durante a ocupação da casa pelas Irmãs, o P. Francisco Correia passou a viver numa meia-água no quintal. Na casa do Parque Flora funcionava uma associação filantrópica que D. Alice Vidal de Oliveira havia iniciado ainda no tempo do seu marido, Comendador Francisco Rodrigues de Oliveira, denominada ASAVO (Acção Social Alice Vidal de Oliveira). Os espiritanos se comprometeram a dar continuidade a essa obra de caridade e de promoção social, tão necessária naqueles bairros carentes da periferia de Nova Iguaçú. O movimento de procura de médicos, de remédios e de alimentos tornou-se diário. Como o Ambulatório funcionava na mesma casa dos padres, a vida de comunidade tornava-se difícil e até incómoda. Surgiu então a ideia de construir um edifício que serviria exclusivamente de Ambulatório, em terrenos também oferecidos pela Senhora D. Alice, distante cerca de 100 metros. Constrói-se o edifício com a ajuda dos benfeitores e para lá é transferido todo o serviço de atendimento com médicos de clínica geral e de ginecologia. As Irmãs do Espírito Santo que haviam sido solicitadas pelo Senhor Bispo da Diocese de Nova Iguaçú para prestar serviço na paróquia de Miguel Couto iniciada pelo P. F. Correia, colaboravam também no Ambulatório com a presença diária de uma enfermeira. O apoio a esta obra era dado pela benfeitora e fundadora Dona Alice e por um grupo de amigos do Rio de Janeiro. Como a Irmã Enfermeira fosse transferida para Portugal, viu-se a ASAVO privada do seu valioso serviço. Falecia também a Senhora D. Alice Vidal de Oliveira no dia 26 de Fevereiro de 1985. Com a perda destas duas almas generosas, as coisas foram-se tornando cada vez mais difíceis a ponto de um grupo de leigos, pouco ou nada comprometidos com o trabalho do Ambulatório, quererem exigir a prestação de contas e tomar conta da direcção. Assim pouco a pouco a actividade assistencial foi diminuindo por falta de recursos humanos e financeiros. Hoje restam as instalações e pouco mais. Na Diocese de Nova Iguaçú Além da Casa Principal e do Ambulatório, várias paróquias foram confiadas aos espiritanos: em Miguel Couto a paróquia de S. Miguel Arcanjo e Nossa Senhora de Fátima; em Olinda a paróquia da Santíssima Trindade; no Éden a 780 Adélio TORRES NEIVA paróquia de Nossa Senhora das graças; em Belford-Roxo a paróquia de Nossa Senhora da Conceição; em Queimados a paróquia de Nossa Senhora da Conceição; em Mesquita a paróquia de Nossa Senhora das Graças. Ainda durante algum tempo foi confiada ao P. António Laranjeira a direcção do Seminário da Diocese, até se transferir para Porto Rico onde iria assumir funções no Noviciado. Não foi sem dificuldade que se iniciou a paróquia de Miguel Couto, pois nada tinha e tudo era preciso fazer, desde a compra de terreno à construção da casa paroquial e outras dependências necessárias ao bom funcionamento de uma paróquia. O mesmo aconteceu com a paróquia de Queimados que tudo foi necessário fazer. Em Miguel Couto o primeiro «fusca», oferecido pelos benfeitores da Alemanha, foi roubado e até a sacristia da Igreja foi assaltada e entregue às chamas todo o arquivo da novel paróquia. O trabalho realizado pelos espiritanos portugueses na Diocese de Nova Iguaçú, tanto no aspecto espiritual como no material e social, foi tão expressivo que o Bispo, D. Adriano Hipólito, tão querido do povo quanto hostilizado pelos homens do poder, em acto público concedeu o diploma de benfeitores aos padres do Espírito Santo, como prova de estima e gratidão. Na Diocese de Itaguaí Desmembrada das Dioceses de Nova Iguaçú e de Volta Redonda, a Diocese de Itaguaí, foi logo desde o início da chegada dos espiritanos portugueses ao Brasil, campo do trabalho abnegado e humilde do P. Torres Palma na paróquia de Santa Teresinha de Pirenema, depois coadjuvado pelos Padres Fonseca Lopes e Correia de Andrade. Ao P. José Torres Palma se deve a preparação das estruturas para a nova diocese de Itaguaí, de quem foi Vigário Geral até à sua morte ocorrida em Lisboa no dia 13 de Abril de 1988, tendo sido levado a sepultar na sua terra natal, Barrozelas. A este homem de Deus, simples e humilde chamado para a casa do Pai aos 63 anos de idade, muito devem as missões de Angola e a diocese por quem se sacrificou desde o seu começo. Vale lembrar a presença nesta Diocese do P. Alberto Fonseca Lopes como pároco da Sé e orientador da construção do Centro Paroquial e do P. António Correia de Andrade que durante dois anos esteve na paróquia de S. José Operário de Mambucaba, residindo numa casa pré-fabricada no bairro operário da Central Nuclear de Angra dos Reis. Viu-se na necessidade de construir a casa paroquial na qual pouco tempo morou por motivo de se ter transferido para Iguaba Grande na Diocese de Niterói. Quando uma noite o P. Fonseca Lopes estava dormindo na sua residência paroquial, eis que se lhe depara à porta do seu quarto um assaltante que havia entrado pela janela da casa de banho. Quando o Padre lhe perguntou o que estava ali a fazer, ele simplesmente respondeu: «Venho avisá-lo que o Senhor Padre não está seguro». A partir daquele dia P. Fonseca Lopes foi morar na casa onde estava P. Torres Palma. Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000) 781 Na Diocese do Rio de Janeiro A acção dos espiritanos no Rio de Janeiro limitou-se a várias capelanias de hospitais, educandários e das comunidades portuguesas. O P. António de Oliveira Giroto, desde a sua chegada ao Rio no dia 22 de Outubro de 1975, hospedado na casa espiritana de Santa Teresa, passou depois, a expensas dos amigos a morar no Hotel Tefé, perto do Hospital dos Servidores do Estado, onde exerceu o seu ministério sacerdotal de assistência aos doentes até ao fim da sua vida. Com a presença de todos os espiritanos residentes no Rio de Janeiro, juntamente com alguns amigos, celebrou as suas Bodas de Prata Sacerdotais na igreja do Bonfim, no Cajú, tendo à homilia usado a palavra o seu antigo professor P. José Maria Pereira. O seu valor e simpatia mereceu-lhe uma comenda da colónia portuguesa. A sua acção, além do Hospital dos Servidores do Estado, exerceu-se sobretudo nas casas regionais portuguesas e na Irmandade de Santo António dos Pobres, à Rua dos Inválidos. A notícia do seu falecimento, na tarde de 5 de Março de 1983, no Hospital dos Servidores, onde era capelão, caiu como uma bomba na colónia portuguesa. Levado para a Igreja de Santo António dos Pobres, aí foi velado até ao dia seguinte, quando houve o funeral presidido pelo Senhor Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, D. João Ávila. Acabada a Santa Missa, seguiu o féretro para o cemitério de S. João Baptista do Botafogo, ficando a sua urna localizada ao lado da do P. José Maria Pereira, no túmulo da Família Oliveira, por vontade da insigne benfeitora Dona Alice. O P. Eduardo da Silva Leitão, dedica-se a assistir os leprosos no Hospital Frei António da Irmandade da Candelária, ocupando também o seu tempo livre na capelania do Senhor do Bonfim, sanando esta Igreja das práticas religiosas duvidosas, trazidas pelos nordestinos de Salvador da Bahia. Depois de vinte anos de tanta dedicação aos seus queridos leprosos e a capelania do Bonfim, era preciso celebrar as suas Bodas de Ouro Sacerdotais. Parte de férias para Portugal onde celebra as suas Bodas na terra natal, Manteigas, de que ele tanto se orgulhava. Preparando-se para regressar ao Brasil onde também desejava celebrar as suas Bodas Sacerdotais junto dos seus queridos doentes, familiares e amigos, antes de partir, foi convidado pelo Pai do Céu a celebrar as bodas do Cordeiro, no dia trinta de Agosto de 1995, na casa de Teologia do Restelo. Foi a sepultar no cemitério de São Domingos de Rana. As capelanias dos Educandários masculino e feminino da Candelária, foram assistidas pelos Padres José Maria Pereira, Correia de Andrade e Manuel Nunes. O P. José Maria Pereira, vindo de Angola onde foi fundador de O Apostolado e da Rádio Ecclesia, chegou ao Brasil em 3 de Novembro de 1975. Em 26 de Junho de 1976 toma conta das paróquias de S. Vicente de Paulo e de Iguaba 782 Adélio TORRES NEIVA Grande na Arquidiocese de Niterói. Tendo dificuldade em se adaptar por causa das condições de miséria em que encontrou essas paróquias, deixa estas paróquias no dia 1 de Março de l978, indo prestar assistência religiosa aos internatos da Candelária, situados no Bairro S. Cristóvão no Rio de Janeiro. Neste ministério se conservou até ao seu falecimento, ocorrido inesperadamente, motivado por enfarte do miocárdio, no dia 21 de Novembro de l982. Os seus restos mortais foram colocados no túmulo da Família Oliveira, no Cemitério de S. João Baptista de Botafogo. A passagem pelo Rio de Janeiro do P. José Fernandes ficou marcada pela sua acção humanitária na instalação de uma creche na favela Tavares de Basto, enquanto exercia a função de vigário na paróquia de Nossa Senhora da Glória do Largo do Machado. Na Diocese de Niterói Por falta de clero e o abandono em que se encontravam algumas paróquias da Arquidiocese de Niterói, levaram o bispo D. José Gonçalves a pedir a colaboração dos espiritanos portugueses ora chegados de Portugal e que não tinham ainda compromissos com outras dioceses. Aceite o convite depois de se verificar a real necessidade, para lá vão a seu tempo os Padres José Maria Pereira, Joaquim Pereira Francisco, António Rodrigues Ferreira, Fernando Henrique Ferreira Pinto, Alfredo da Purificação Pereira, António Lima, Manuel Rodrigues da Cruz, António Correia de Andrade. E depois de se ter deixado a diocese de Jales também para lá vão os Padres Luís de Oliveira Martins, Manuel Durães Barbosa e Francisco Correia. Cinco paróquias são confiadas aos padres: Boa Esperança com a capelania das Irmãs Clarissas de Araruama, S. Vicente de Paulo, Iguaba Grande, Maricá e S. Cristóvão em Cabo Frio. Por causa da ausência prolongada de sacerdotes as paróquias estavam carentes de todos os meios estritamente necessários para a sobrevivência dos padres e para as actividades pastorais. Residências muito pobres e mal conservadas, quando as havia e sem meios de transporte. Em S. Vicente de Paulo, o isolamento inicial e a guerra aos morcegos e às pulgas, iam levando o P. Lima ao desânimo, não fora um forasteiro que depois de uma longa conversa o convenceu a ficar. Necessário foi arranjar a residência paroquial e o salão paroquial apesar da oposição dos Franciscanos Conventuais. Mas tudo foi ultrapassado, graças a Deus. Em Iguaba Grande tudo foi necessário construir, desde a Igreja e residência paroquial às capelas espalhadas pelas comunidades. A residência antiga, foi demolida dando lugar a uma outra bem confortável e funcional. O P. Alfredo Pereira residiu numa pobre casa, propriedade das Irmãs Clarissas de Araruama. Viu-se obrigado a adquirir com os seus próprios meios uma casa Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000) 783 para viver, além de construir na sua paróquia de Boa Esperança o salão paroquial e a casa para o padre que nunca chegou a ser ocupada. Acometido da doença que levaria à morte, deixa o Brasil e vem para Portugal na esperança de recuperar a saúde e poder voltar para junto das suas tão estimadas ovelhas, manifestando o desejo, de no caso de morrer ser sepultado junto dos seus paroquianos, na esperança de ter alguém que se lembre dele depois da sua morte. Faleceu em Lisboa no dia 7 de Julho de 1993, tendo sido levado a sepultar na sua terra natal. Em Maricá, não havendo residência, o padre morava no sobrado da sacristia. Não havia cozinha nem cozinheira, eram os amigos que lhe garantiam o sustento. Assim viveram os padres durante quase três anos até que chegou o P. Manuel Rodrigues da Cruz. Foi necessário construir a residência paroquial, o Centro de Pastoral e Acolhimento como também as capelas espalhadas por numerosos bairros além de arranjar as que já existiam, graças à acção do P. Cruz, merecedor de estima da Diocese. Vigário Episcopal da Região dos Lagos, ainda que provisoriamente, foi nomeado Vigário Geral da Arquidiocese. Por último vem a paróquia de S. Cristóvão de Cabo Frio, desmembrada da paróquia da Assunção, que era a única na cidade. Paróquia a começar, tudo era preciso fazer. Fracas instalações; igreja pequena, insuficiente para o grande número de fiéis; muitas comunidades espalhadas pela roça que era preciso atender. Problemas de início não faltaram. Certo dia os Padres Luís e Francisco, armados de vassoura e enxada, pois que outra arma de defesa não tinham, conseguem empatar um assaltante que havia entrado na igreja e profanado o sacrário, até à chegada da polícia que teve dificuldade em o deter. Tratava-se de um pobre desgraçado egresso da cadeia. Depois de 13 anos de intenso trabalho, a Igreja paroquial é aumentada, o Centro Paroquial e a residência são construídos, as comunidades tornam-se adultas, dando origem a duas novas paróquias e outra em vias de o ser também. Esta região está a ser invadida por numerosas confissões religiosas, ditas cristãs, que dificultam a acção da Igreja Católica. O número destas seitas é tão grande e fazem tanto barulho que temos a impressão que os católicos são a minoria. O sectarismo é de tal forma que chega a atrapalhar com os seus altifalantes os actos de culto dos católicos. Numa das comunidades da periferia de Cabo Frio onde os lugares de culto católico são apenas três, das outras confissões existem cerca de 60. Também na Região dos Lagos, o Distrito adquiriu uma casa de verão, que serve para reuniões dos confrades, encontros, retiros e descanso. Ultimamente servia também para residência permanente do superior principal. Actualmente continuam ainda a ser servidas pelos espiritanos as paróquias de S. Vicente de Paulo, S. Cristóvão de Cabo Frio e de Maricá. 784 Adélio TORRES NEIVA Na Diocese de Jales A pedido do Bispo da Diocese de Jales, D. Luiz Eugénio Perez e por opção do grupo, logo em 1975, seguem para lá os Padres João Serra e Manuel Nunes, seguindo-se depois a seu tempo, os Padres Agostinho Brígido, José de Sousa, Domingos Vitorino, Hermenegildo, António Farias e Luís Oliveira Martins. O começo é sempre cheio de problemas, apesar do apoio do Bispo da Diocese que recebeu os padres com muito empenho, prometendo ajudar em tudo o que fosse necessário. A cidade de Jales que estava a crescer a olhos vistos, urgia ser dividida em duas paróquias. Como havia muitos portugueses ou seus descendentes naquela região, resolveram dar à nova paróquia, como padroeiro Santo António. Aluga-se uma pobre casa, sem forro, com dois pequenos quartos, uma sala, uma cozinha e quarto de banho. O depósito para a água era um tambor de 200 litros colocado no cimo de um tronco de madeira. A pequena sala serviu durante anos para tudo, até para Igreja, enquanto não se construiu a nova Igreja paroquial. Sobretudo os portugueses correm em socorro dos «patrícios». Adquirido o terreno, logo se começa a construção da Igreja, seguindo-se a casa paroquial, o salão e o recinto de festas. É dada assistência às comunidades espalhadas pela roça, bem difíceis de servir, sobretudo no tempo das chuvas. Além da paróquia de Santo António, outras foram confiadas aos espiritanos portugueses, durante os treze anos que serviram a Diocese: Aparecida d’Oeste, S. Francisco, Marinópolis, Palmeira d’Oeste, Urânia, Três Fronteiras, Santa Fé do Sul, Rubineia, Santa Rita d’Oeste e Santana de Ponte Pensa. Em 24 de Abril de 1982, opera-se uma mudança geral: os Padres João Serra Araújo e Domingos MatosVitorino assumem as paróquias de Palmeira d’Oeste, Aparecida d’Oeste e Marinópolis, enquanto que o P. Manuel Nunes vem para Santo António de Jales, juntar-se ao P. José Lopes de Sousa que havia deixado Urânia. O P. Luís Oliveira Martins vai para Santa Fé do Sul, ajudado pelo P. Manuel Hermenegildo Teixeira Correia que regressou a Portugal dois anos depois, em 6 de Agosto de 1986. Com a ida dos Padres António Luís Farias Antunes e Domingos da Rocha Ferreira para o Tefé, vão os Padres Serra e Vitorino para Santa Fé do Sul, encarregando-se da paróquia de Três Fronteiras deixada pelo P. António Farias, em Julho de 1986. Em Julho de 1986, o P. João Serra é nomeado para Superior Principal do Distrito e vai para o Rio de Janeiro. Esta nomeação torna impossível a permanência dos espiritanos portugueses na Diocese de Jales. O P. Vitorino regressa a Portugal, o P. Luís Martins vai também para o Rio e assim terminou a actuação dos padres na Diocese de Jales que durou treze anos e alguns meses. As obras realizadas tanto na ordem espiritual como material, ficarão para sempre a atestar a presença da Congregação do Espírito Santo naquelas terras. Os Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste (1975-2000) 785 Na Diocese de Bragança Paulista Desde Julho de 1977, até à ida para Roma exercer as funções como Procurador Geral da Congregação junto da Santa Sé, em 1989, o P. Manuel da Silva Martins exerceu o seu apostolado missionário na paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Francisco Morato da Diocese de Bragança Paulista, cidade dormitório da capital São Paulo. O trabalho realizado pelo P. Martins junto daquelas populações tão carentes foi verdadeiramente notável: construiu a casa paroquial, salas para catequese e reuniões e ainda capelas nos numerosos bairros. Francisco Morato cresceu tanto no aspecto populacional, que à saída do P. Martins para Roma já existiam duas paróquias. Na Diocese de S. José de Rio Preto Nesta Diocese na paróquia de S. António de Catanduva, trabalhou durante vinte e cinco anos, onde era muito estimado, o P. Vitorino Jorge da Silva Amorim. Acometido de doença que o incapacitava de trabalhar, veio a falecer no Rio de Janeiro, no dia 29 de Abril de 1999, quando descansava junto dos seus familiares. Foi levado a sepultar em Catanduva junto dos seus paroquianos por quem sacrificou boa parte da sua vida. Na paróquia de Santa Teresinha de Catanduva trabalhou até Março de 1999, o P. Fernando Henrique Ferreira Pinto, depois da sua saída de Iguaba Grande da Diocese de Niterói. Na Diocese de Baurú Aqui esteve, durante alguns anos, o P. Cândido Ferreira da Costa. Sentindo que ainda podia ser útil, apesar da sua idade, a favor dos doentes e idosos, enquanto as forças lhe permitiram, hospedou-se e ao mesmo tempo deu assistência religiosa, no Lar da Terceira Idade da Santa Casa de Misericórdia de Baurú. Sentindo que as forças lhe estavam a faltar, não podendo mais cumprir a missão a que se havia proposto, transfere-se para a Casa Principal em Nova Iguaçú. Internado no Hospital da Obra Portuguesa de Assistência do Rio de Janeiro, tendo-lhe sido amputada uma perna, depois de muito sofrer, aí veio a falecer no dia 29 de Março de 1985. Foi sepultado no cemitério de São João Baptista de Botafogo, junto do P. José Maria Pereira e do P. António Giroto. Extinção do Distrito Em 1988 o Distrito sofre uma certa alteração. Nomeado o P. João Serra Superior Principal do Distrito e tendo sido cedidos ao Distrito do Amazonas os Padres António Farias e Domingos Rocha, havia necessidade de se deixar a Diocese de Jales. 786 Adélio TORRES NEIVA P. João Serra Araújo vem para o Rio de Janeiro e os Padres Luís Oliveira Martins e Francisco Correia vão para Cabo Frio iniciar uma nova paróquia com a ajuda do P. Manuel Durães Barbosa. O P. António Ribeiro Laranjeira é requisitado para a Província de Portugal; o P. João Serra toma conta da paróquia de Mesquita deixada pelo P. António Laranjeira; os Padres Domingos Vitorino, António Correia de Andrade e Eduardo Osório também vão para Portugal; e o P. Manuel da Silva Martins vai para Roma. Em 1994, de novo o P. Fernandes Correia é nomeado Superior Principal do Distrito. Com a morte de sete confrades que faziam parte do Distrito e com todas aquelas ausências, o número dos restantes ficou tão reduzido que já não se justificava a permanência do Distrito. Que fazer? Acabando em 2000 o mandato como superior principal, o P. Francisco Fernandes Correia decidiu colocar o problema ao Conselho Geral. Depois dos contactos necessários, os confrades portugueses que restavam do Distrito, aceitaram a decisão do Conselho Geral em que era extinto o Distrito, ficando afectados à Província Espiritana do Brasil, segundo as normas da Regra de Vida, e o P. Francisco Correia regressa definitivamente a Portugal depois de vinte e cinco anos de permanência no Brasil. Assim reza a decisão do Conselho Geral de 22 de Maio de 2002: “Após consulta aos membros do Distrito do Brasil Sudeste e à Província do Brasil, o Superior Geral, com o consentimento do seu Conselho, suprime canonicamente o Distrito do Brasil Sudeste a partir de 05 de julho de 2002 e os confrades, que até essa data eram membros do Distrito, são nomeados para a Província do Brasil”. Espiritanos Portugueses no Brasil Sudeste P. Agostinho Pereira Rodrigues Brígido; P. Alberto da Fonseca Lopes; P. Alfredo da Purificação Pereira +; P. António Correia de Andrade; P. António Lima; P. António de Oliveira Giroto +; P. António Ribeiro Laranjeira; P. António Rodrigues Ferreira +; P. António Luís Farias Antunes; P. Cândido Ferreira da Costa +; P. Domingos de Matos Vitorino; P. Domingos da Rocha Ferreira; P. Eduardo Augusto Guedes Osório; P. Eduardo da Silva Leitão +; P. Fernando Henrique Ferreira Pinto; P. Francisco Fernandes Correia; P. Manuel Hermenegildo Teixeira Correia; P. João Serra de Araújo; P. Joaquim Pereira Francisco; P. José Fernandes de Sá; P. José Lopes de Sousa; P. José Maria Pereira +; P. José Torres Palma +; P. Laurindo de Jesus Marques; P. Luís de Oliveira Martins; P. Manuel da Silva Martins; P. Manuel Durães Barbosa; P. Manuel Nunes; P. Manuel Rodrigues da Cruz; P. Vitorino Jorge da Silva Amorim +. 787 Capítulo 84 Os Espiritanos Portugueses na Amazónia P. Domingos da Rocha Ferreira A presença espiritana na Amazónia começou em 1885, quando os espiritanos foram convidados a assumir a direcção do Seminário da Diocese de Belém. Aí permaneceram até 1897, quando se transferiram para Manaus e Tefé. Os espiritanos portugueses chegam à Amazónia quando é criada a Prefeitura Apostólica de Tefé, em 23 de Maio de 1910. Monsenhor Alfredo Barrat é nomeado Prefeito Apostólico a 16 de Agosto do mesmo ano. A 6 de Novembro, Mons. Barrat chega a Tefé com um grupo de padres e irmãos. No grupo vão dois Irmãos Espiritanos Portugueses: Dionísio e Agostinho. O Ir. Dionísio de Carvalho acaba por falecer no ano seguinte, a 3 de Agosto, com apenas 24 anos. O Ir. Agostinho Caetano morre no dia seguinte (4 de Agosto), contando 31 anos. Visitando o Cemitério da Missão é impressionante ver as campas de tantos missionários jovens que tombaram, alguns, tal como estes dois, poucos meses após a sua chegada. Pagaram com a vida a paixão pelo Reino de Deus! Pagaram com a vida, o desconhecimento total daquela realidade! O Ir. Boaventura Azevedo terá chegado à Boca de Tefé em 1911, onde permaneceu até 1925. Então terá passado para a cidade de Tefé, onde veio a falecer a 9 de Outubro de 1950, com a idade de 79 anos. Tal como os outros, na Missão trabalhou nas diversas oficinas aí existentes. O P. Manuel Dias da Silva chegou à Boca de Tefé em 1918, vindo a falecer a 10 de Julho de 1933, com 42 anos. Esses quatro fazem parte de uma primeira geração de missionários que andaram ligados aos Espiritanos Franceses. A partir da década de 70, virá uma outra geração, esta ligada aos Espiritanos Holandeses. Vários destes missionários, antes de chegarem à Amazónia, passaram pelo sul, sobretudo por S. Paulo e Rio de Janeiro. Teoricamente, tiveram menos dificuldade de adaptação. O P. Armindo Barbosa, português, mas pertencente à Província de Espanha, chega a Tefé em 1976. É colocado na Paróquia de Alvarães, onde permanece até 1987. Acaba também dando assistência à Paróquia de Uarini. Tem uma passagem curta pela Paróquia de Fonte Boa, mas a falta de saúde, sobretudo depois de uma intervenção cirúrgica, obriga-o a ir para Tefé, onde permanece até 1994. Como a saúde vai-se agravando volta para Espanha, onde vem a falecer em 1999. A reunião dos Superiores Principais do Brasil, no ano de 1985, foi realizada em 788 Adélio TORRES NEIVA Tefé. Nessa ocasião estiveram aí presentes os Superiores ou seus representantes de todos os distritos existentes no Brasil. Durante a reunião o Bispo, D. Mário Clemente Neto, fez um apelo veemente aos espiritanos do sul para que fossem ajudar os espiritanos do distrito da Amazónia. Os missionários, quase todos holandeses, estavam idosos e existiam áreas nas quais o Bispo queria investir. Mas faltava gente para isso. Acabada a reunião, os Superiores voltaram para as suas circunscrições e repassaram o apelo angustiante do Bispo. Foi nesse contexto que o Distrito Brasil Sudeste (constituído pelos portugueses) aceitou o desafio de enviar dois dos seus membros. Mais ainda: decidiram que iriam trabalhar especificamente na formação dos novos padres. No início de Junho de 1986 chega a Tefé o P. Domingos da Rocha Ferreira, depois de ter trabalhado em Nova Iguaçu e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, desde Janeiro de 1978. Em Fevereiro do ano seguinte volta ao Rio de Janeiro para fazer o CETESP, curso promovido pela Conferência dos Religiosos do Brasil. No final de Outubro volta para Tefé, juntamente com o P. António Luís Farias Antunes, tendo este trabalhado no Estado de S. Paulo. É-lhes confiada a missão de lançar a Pastoral Vocacional. Enquanto vão lançando as bases da mencionada Pastoral, cuidam também da Paróquia de Santa Teresa. O P. Farias é nomeado pároco, ficando o P. Domingos como seu colaborador. O P. António Farias permanece aí até ao ano de 1992, quando então volta para Portugal. Durante o tempo que ficou em Tefé, orientou a construção do Centro e residência Paroquial. Colaborou directamente com o Bispo D. Mário Clemente Neto, de quem foi seu Vigário Geral. O P. Domingos da Rocha Ferreira, em Janeiro de 2000, é chamado para Portugal. Enquanto permaneceu em Tefé trabalhou na Pastoral Vocacional e foi o primeiro responsável do novo Centro Vocacional. Além disso foi também Coordenador de Pastoral e Vigário Geral. Em 1992 chega o P. Eduardo Miranda, tendo feito o seu “baptismo” na Paróquia de Fonte Boa. Tinha chegado com a finalidade de, mais tarde, assumir a direcção do Centro Vocacional, substituindo o P. Domingos. Em 1994 participa como delegado do grupo no Capítulo Provincial de Portugal. Acaba por ser eleito Provincial, não voltando mais para Tefé. O P. José Ferreira da Cunha trabalhou em Tefé por dois períodos, interrompidos pelo serviço militar. Primeiramente esteve de 1991 até 1993; depois, de 1994 até 1997. Trabalhou na Paróquia de Santa Teresa, em Tefé, como colaborador do Pároco. Trabalhou sobretudo na área juvenil, revelando também um certo gosto em tudo o que dizia respeito à ambientação. Em 1995 chega a Tefé o P. Teodoro Mendes Tavares. Foi fazer o seu “baptismo” na Paróquia de Carauari. Depois foi colocado nas Paróquias de Alvarães e Uarini. Em 1998 vai para Tefé para assumir a direcção do Centro Vocacional e acompanhar os seminaristas que estavam no Seminário Diocesano de Manaus. Ao mesmo tempo colabora na Pastoral da cidade. Em Julho de 2003 o P. Teodoro é eleito Superior Principal do grupo espiritano Os Espiritanos Portugueses na Amazónia 789 de Tefé. Além dessa missão exerce outras, tais como Vigário Geral, membro do Conselho de Pastoral e capelão militar. P. Manuel Sebastião Martins trabalhou na Prelazia de Tefé de 1999 a 2002, colaborando na Pastoral e organizando a Cúria Diocesana. O P. Manuel Martins também é um daqueles que, anos atrás, já havia trabalhado no sul, concretamente no Estado de S. Paulo. O P. António Correia de Andrade encontra-se em Tefé desde o início de 2002, trabalhando na Pastoral da cidade e, ao mesmo tempo, ajudando no Centro Vocacional. Também ele é um missionário que já trabalhara no Rio de Janeiro, na Diocese de Niterói. Regressou a Portugal em Agosto do ano 2004. O P. Hugo Norberto Mendes Ventura chegou a Tefé como estagiário (2000 – 2001). Após fazer o ano pastoral e ser ordenado, voltou para Tefé (2002), sendo então colocado na Paróquia de Fonte Boa, fazendo equipa com D. Mário e P. Elmir. Esta equipa cuida das Paróquias de Fonte Boa, Jutaí e Juruá. Na passagem de 2003 para 2004 chega a Tefé o P. Domingos de Matos Vitorino. Em tempos passados havia trabalhado no sul, primeiro no Rio de Janeiro, depois em S. Paulo. A resposta ao apelo de D. Mário em 1985 não partiu da Província Portuguesa mas dos confrades que trabalhavam no sul. Por um lado as Dioceses onde trabalhavam começavam a ter um grupo razoável de padres, alguns deles formados pelas próprias dioceses. Por outro lado, na resposta dada, vinha ao de cima esta preocupação espiritana de ir para aquelas situações mais difíceis e para as quais também era difícil arranjar missionários! Mais tarde, já nos finais dos anos 80, a Província assumia ter nesta Igreja de Tefé um grupo permanente de 3 ou 4 confrades. Esses confrades estariam mais voltados para a formação do clero autóctone. E, de facto, a Província tem honrado esse compromisso! 791 Capítulo 85 Os Espiritanos Portugueses na GuinéBissau P. José Costa O projecto de fundar uma missão na Guiné-Bissau germinou em Dacar onde um espiritano, o P. Gustave Bienvenu, se deu conta do número significativo de Manjacos que naquela cidade procuravam melhores condições de vida e se dedicavam sobretudo à tecelagem de panos tradicionais. A Guiné-Bissau vivia então os difíceis tempos da luta pela independência, que veio a conseguir no dia 24 de Setembro de 1974. A nova situação do país facilitou as deslocações e a criação da diocese de Bissau em 1977 veio dar um novo impulso à evangelização sobretudo no interior do país onde, no tempo da guerra, era quase impossível penetrar. D. Settímio Arturo Ferrazzetta, (ofm) primeiro bispo da recém criada diocese, fez apelo a diversas congregações missionárias para tomarem parte na evangelização do país, onde a maioria da população vivia na religião tradicional animista. Os espiritanos de Dacar, na pessoa do seu superior de então, o P. Pierre Haas, receberam o convite e transmitiram-no a Roma, à Casa Generalícia. Foi no Conselho Geral Ampliado de 1978, realizado em Kneschtsteden, Alemanha, que a Congregação assumiu o projecto de evangelização dos Manjacos do interior da Guiné-Bissau, como uma prioridade da Congregação. Assumida pela Congregação esta nova implantação, formou-se a equipa que deveria escolher o local para construir a primeira missão dos Espiritanos na Guiné-Bissau, e levar por diante o projecto. O local escolhido foi Bajob, uma pequena localidade do interior, a 115 quilómetros de Bissau, e dessa primeira comunidade faziam parte os PP. René des Déserts e Pierre Buis, franceses, o P. José Costa, recém ordenado, da Província de Portugal e o jovem estagiário Albino Fernandes, em regime de cooperação e voluntariado. A missão foi sendo construída pelos padres franciscanos de Canchungo. Os PP. René e Pierre chegaram a Bajob no dia 1 de Novembro de 1979, e, passados dois meses, no dia 20 de Janeiro de 1980 chegavam os outros elementos: o P. José Martins da Costa e o jovem Albino, estando a casa em fase de acabamento. A inauguração oficial aconteceu a 8 de Abril de 1980. A região confiada aos espiritanos era de primeira evangelização, embora houvesse alguns baptizados do tempo colonial espalhados pelas aldeias, mas que em nada se distinguiam dos seus conterrâneos na maneira de viver. Foi notório o esforço de inculturação desta primeira equipa que se esforçou por aprender a 792 Adélio TORRES NEIVA língua, perceber os costumes, elaborar catecismos em manjaco e integrar alguns símbolos e rituais próprios deles no novo contexto cristão. A adesão à fé cristã parecia evidente e os grupos de catequese surgiram em todas as aldeias. No espaço de dois anos cada aldeia tinha a sua capela, feita de adobes de terra batida e coberta de zinco. Este fervor inicial induziu em erro os primeiros missionários que rapidamente baptizaram imensas crianças e adolescentes. Aos poucos se verificou que eles queriam, de facto o baptismo, mas estavam muito longe de compreender o que é ser cristão. A mobilidade das pessoas, o abandono das comunidades, o retorno aos costumes pagãos e à poligamia mostrou que era preciso ir mais devagar e não confundir entusiasmo com conversão. Entretanto o Jovem Albino terminou o seu tempo de cooperação e regressou a França, onde vivia com a família, e o P. José Costa foi chamado pela Província de Portugal, deixando a Guiné em Julho de 1982. Com a chegada do P. Michel Gerlier em 1985 e a saída do P. René des Déserts, começou a fazer-se uma profunda reflexão sobre o caminho realizado e o estilo de evangelização. Em Novembro de 1986 chegaram a Bajob os PP. José Costa e João David do Souto Coelho, da Província de Portugal. O primeiro regressava depois de um interregno de quatro anos e o P. João David recebia, para lá, a sua primeira afectação. Com o aumento do número de confrades, começou a tornar-se possível aquilo que desde o início era um sonho e uma esperança: fundar uma nova missão em Caió a cerca de 60 Kms mas ainda em solo manjaco. A decisão de fundar a nova missão foi tomada em 1987 e para construir o edifício e iniciar a evangelização foram escolhidos os PP. José Costa e João David. Foram contactadas as autoridades locais, que se mostraram muito abertas e acolhedoras, foi escolhido o local, e pediu-se a uma família que cedesse um quarto para que os missionários aí pudessem pernoitar. A missão foi nascendo aos poucos, passando os dois padres, José Costa e João David, a viver uma parte do tempo em Caió e outra parte em Bajob. Em 28 de Novembro de 1987, a Província de Portugal enviou um novo membro, o recém ordenado P. Manuel de Sá Paula para reforçar a comunidade de Caió. O bom ritmo dos trabalhos permitiu que a Missão Católica de Caió fosse oficialmente inaugurada a 22 de Maio de 1988, dia de Pentecostes, e foi dedicada ao Espírito Santo. A primeira comunidade desta nova missão formada pelos PP. José Martins da Costa, João David do Souto Coelho e Manuel de Sá Paula, da Província de Portugal. Com a inauguração da missão criava-se a nova paróquia do Espírito Santo, em Caió, responsável pela evangelização de 11 aldeias e 2 ilhas (Jeta e Pecixe). Numa das crónicas da época assim escrevia o P. José Costa na Revista Encontro: “A missão de Caió nasceu, como a de Bajob, do desejo de evangelizar este povo migrante. Ela é o sinal da coragem da Província Portuguesa Espiritana que para aqui enviou três dos seus missionários mais jovens, comprometendo-se definitivamente com o destino deste povo. Mas ela é também o testemunho da generosidade e da fé de toda uma multidão de amigos que a ajudaram a levantar. Ter uma casa para viver entre o povo, foi a primeira etapa deste projecto; Os Espiritanos Portugueses na Guiné-Bissau 793 convertê-lo a Jesus Cristo é a segunda. Uma etapa a ser vivida na fé e na esperança; uma etapa que vai levar dezenas, talvez centenas de anos. Demos o primeiro passo de um longo caminho.” Entretanto o P. João David despede-se de Caió em Junho, pois é chamado para fazer o curso de capelães, no serviço militar, e acaba por ser nomeado para a Província. No mês de Agosto de 1988, a missão acolhe um grupo de Jovens Sem Fronteiras que ali se desloca com o P. Firmino Cachada para iniciar a construção de uma escola. Foi o início de uma longa e boa cooperação entre a escola de Caió - Tubebe e os Jovens Sem Fronteiras, com frutos benéficos para ambos os lados. Em Dezembro de 1988, precisamente no dia 17, chegou à Guiné-Bissau um novo membro: o P. Manuel João Magalhães Fernandes. Depois de algum tempo em Caió, o P. Magalhães Fernandes, vai para a missão de Bajob, onde o P. Gerlier estava sozinho, depois da partida do P. Pierre Buis para o Gabão. A Província Portuguesa acarinhava esta missão jovem, tão bela como difícil. Acreditando que aquela inserção era um dos mais belos exemplares da missão de primeira evangelização entre os pobres, a Província enviou para lá um novo membro, o P. Mário Pires que lá chegou em Outubro de 1990. Com este novo membro e a promessa de dois confrades angolanos o grupo da Guiné começou a reflectir sobre a hipótese de aceitar uma das paróquias de Bissau. Além de diversificar o trabalho missionário, permitiria que os confrades do interior nas suas deslocações à cidade tivessem uma casa para os acolher e se sentissem em comunidade espiritana. A decisão foi tomada e foi nomeado o P. Manuel Paula para assumir essa responsabilidade, juntamente com o P. Felisberto Sakulukussu, espiritano angolano afectado à Guiné-Bissau. Os Espiritanos assumiram essa paróquia em 1990 e foi o P. Manuel Paula nomeado pároco de Nª Srª da Ajuda de Bissau. Vítima de sucessivos paludismos, com achaques de vária ordem devido ao pesado clima, o P. Magalhães Fernandes acabou por regressar a Portugal em 1992. Com a escola de Tubebe a funcionar, com muita a gente a pedir ajuda no campo da saúde, os espiritanos de Caió pediram às espiritanas para fundarem também uma missão na Guiné. A decisão foi favorável e os espiritanos de Caió começaram a construção da missão das irmãs que chegariam em 16 de Março de 1991. A acção social ganhou imenso com a chegada delas, pois se ocuparam de imediato da promoção feminina e da saúde, colaborando de maneira muito eficaz na pastoral. Em 1992 o P. José Costa é nomeado responsável da catequese a nível diocesano ficando o P. Mário Pires a ser o pároco em exercício em Caió, já que a responsabilidade assumida obrigava a frequentes e longas ausências da missão. Em 1993 o P. José Costa é chamado pela Província de Portugal ficando o P. Mário Pires a ser o pároco, tendo como confrade o Ir. Tito, da Província de Angola. A 9 de Junho de 1995 o P. Manuel Paula, regressou à Província e o P. Mário 794 Adélio TORRES NEIVA Pires, vítima da doença de Alzheimer era também forçado a deixar Caió, em 1998. Em 2000 chegou o P. João Baptista e em 2002 o P. Manuel Semedo. A missão na Guiné proporcionou a vários jovens professos espiritanos o seu estágio missionário: o Pedro Fernandes foi o primeiro que esteve em Caió de 1994 a 1996; o João Cláudio esteve de 1999 a 2001; o Manuel Semedo esteve em Bissau de 1999 a 2001. Em Caió, os estagiários dedicavam grande parte do seu tempo ao ensino na Escola Sem Fronteiras de Tubebe. O carinho com que a Província olhava esta missão permitiu que por duas vezes lá se realizasse a Ponte, dos Jovens Sem Fronteiras, levando àquelas paragens grupos de jovens sedentos de conhecer a missão por dentro e de dar as mãos aos pobres que ficam do outro lado do mar. Também o MOMIP quis levar lá os seus professores. O 32º Encontro de Professores teve na Guiné o seu ponto alto. Uma viagem pelo país, com a oportunidade de encontrar uma cultura tão diferente, foi uma autêntica aula prática sobre a missão. Integrada na FANO (Fundação da África Noroeste) a Guiné-Bissau mereceu sempre um olhar atento e uma solidariedade prática, sobretudo nos momentos mais difíceis como o da guerra civil de 98-99. O apoio dado foi a expressão do quanto a Guiné nos merece em atenção e dedicação. Os Espiritanos na Guiné-Conakry Na Guiné Conakry, trabalha o Ir. Manuel do Carmo Figueiredo Gomes. De 2001 a 2002 trabalhou na missão de Dalaba e a partir de 2002 na missão de Kataco, onde dirige uma escola primária. 795 Capítulo 86 Os Espiritanos Portugueses na África do Sul e em S. Tomé A pedido do Superior Principal da África do Sul, que pedia um espiritano português para aquela circunscrição, em 1983, o P. Alberto dos Anjos Coelho depois de uma experiência de três meses, foi desligado da Província de Espanha e enviado, conjuntamente com a Província de Portugal e a Província de Espanha para a África do Sul, integrado numa equipa internacional. Solicitado pelo bispo de Bethlehem para assistir os emigrantes portugueses, procedentes de Angola, trabalhou em Bethlehem até 1984, ano em que passou para o Lesotho, sendo depois responsável da formação espiritana em Bethlehem. Deixou a África do Sul em 1995. Hostels Project A sensibilização por parte do Conselho Geral da Congregação à problemática dos hostels (aglomerados enormes de trabalhadores vindos do interior sem a família), começou em 1985-87. Foi seu protagonista o P. De Fleuriot, padre diocesano de Durban, mas de origem mauriciana, o qual conhecia a acção da Congregação. Em 1987 foram nomeados pelo Conselho Geral dois confrades franceses. Foilhes, porém, negado o visto de entrada. Em Janeiro de 1992 foram nomeados outros dois espiritanos: o P. José Manuel Sabença, português e Peter Lafferty, inglês. O P. Eamon Nolan, inglês, chegou só em Novembro. Em Outubro de 1992, dá-se a mudança de bispo da diocese de Durban: D. Denis Hurley é substituído por D. Wilfrid Napier. Para o P. José Manuel Sabença os primeiros meses (Janeiro a Agosto de 1992) foram para aprendizagem do zulu. Os seus dois colegas já conheciam a língua por terem feito o seu estágio naquele país. Desde Setembro de 1992 a Junho de 1993 pode-se dizer que foi a fase de aventura, arranque, escuta, primeiros passos, discernimento. A comunidade vivia na paróquia portuguesa de São José e, a partir daí, visitavam 5 Hostels: KWA MSHU, KWA DABEKA, WEMA, GLEBE e THOKOZA. Em Junho de 1993, dá-se a abertura da casa de Lamontville. P. Eamon e P. José Manuel viviam totalmente para o trabalho nos hostels, embora o José Manuel dê assistência à comunidade portuguesa de S. José, em Durban. Peter era o pároco de Lamontville, uma paróquia totalmente negra. Os Espiritanos foram os primeiros brancos a viver na área negra. 796 Adélio TORRES NEIVA Em Julho de 1994, deu-se a visita dos Conselheiros Gerais: PP. Odigbo e Franz Winen. Priorizava-se a concentração do trabalho nos hostels KWAMashu e KWA-Dabeka em Clermont. A orgânica geral dos trabalhos nos hostels era: visitas aos quartos/casas, criação de grupos donde pudessem surgir comunidades cristãs, tentar levar a paróquia aos hostels e os cristãos dos hostels à paróquia. Em Outubro de 94, o Bispo pediu para assumir a paróquia de Clermont na qual estava o maior Hostel KWA-Dadeka. Clermont era uma “township” de 250 mil habitantes e onde existiam vastíssimos bairros de lata. A partir dessa data, o P. José Manuel e o P. Eamon passavam parte da semana em Clermont para a assistência à paróquia, mas sempre dando prioridade aos hostels. No Capítulo de Distrito, realizado em Fevereiro de 1995, ficou bem claro que o trabalho dos hostels e townships era mesmo uma prioridade. Conferindo a história do Projecto dos Hostels é evidente que desde o início os confrades fizeram opções claras pela vida comunitária nas suas componentes fundamentais: oração comunitária, planificação, partilha, atitude constante de discernimento, etc. O esforço de inserção concreta na vida do povo negro, fez com que se considerasse normal antes de mais nada aprender o zulu, língua que todos falam. Mas foram os confrades mais longe na sua identificação com os pobres no meio dos quais viviam: preparavam as suas próprias refeições, não possuíam TV, mantinham a porta da casa permanentemente aberta. Não obstante os avisos dos vizinhos, optaram por não colocar grades na casa. Os riscos têm preço. Já tiveram que entregar as chaves de um carro aos assaltantes e outro carro foi forçado para roubo da bateria. Embora a insegurança seja constante, os confrades deixavam-se permanecer nos hostels até perto da noite. Eram os únicos brancos na área, e por isso, são já conhecidos. O povo começava a vê-los como alguém que ia falar de Deus e se empenhava na resolução dos seus problemas: alfabetização, desemprego, etc. O assumir compromissos paroquiais e até a assistência à comunidade portuguesa de Durban, de modo nenhum secundarizava a sua presença nos hostels. A paróquia de Clermont parecia proporcionar uma boa estratégia de inserção no sentido de levar a paróquia até aos hostels e estes à paróquia. Em Novembro de 1995 chegou o Damasceno José Fernandes Reis, que aqui veio fazer um estágio pastoral. Depois de aprender o zulu ficou a fazer parte da comunidade de Clermont, integrando-se no seu projecto pastoral, acompanhando o P. José Manuel na visita aos hostels, particularmente no hostel KWA-BADEKA e KWA-MASHU. Embora já se trabalhasse na paróquia de Clermont desde Outubro de 1994, a partir da comunidade de Lamontville, a comunidade de Clermont só foi oficialmente aberta com três membros a seguir à Páscoa de 1996. Os três membros da comunidades ficaram a ser: P. Michael Sibeko, sul africano, o P. José Manuel e o Damasceno. Em Outubro de 1996 juntou-se mais um confrade, nigeriano, P. Joseph Nnadi. Os Espiritanos Portugueses na África do Sul e em S. Tomé 797 Em Fevereiro de 1996 o P. José Manuel visitou, em nome do superior do distrito P. Jim Devine, as duas dioceses de Moçambique, onde os espiritanos tinham iniciado a sua presença, para acertar pormenores do contrato com os respectivos bispos. A 4 de Maio desse ano abriu-se na paróquia uma comunidade de Irmãs de uma congregação local, para ajudar na pastoral da paróquia e no trabalho da secção feminina nos hostels. A 15 de Junho, com a presença do Arcebispo da diocese e do Cônsul de Portugal em Durban, inaugurou-se um Centro Juvenil, que a Embaixada Portuguesa tinha financiado. O grande dinamizador deste projecto seria o Damasceno. Em 1997 o P. José Manuel foi chamado para a Província e o Damasceno terminado o seu estágio, regressou também a Portugal, partindo depois de concluídos os estudos para Moçambique. Em Dezembro de 1999 partiu para a África do Sul o Victor Silva, também para fazer o estágio, tendo sido colocado na comunidade de Lamontville, tomando contacto com os Hostels e participando na animação da comunidade portuguesa de S. José. Os Espiritanos em S. Tomé e Príncipe Primeiro Projecto: Em 1848 o espiritano Monsenhor Bessieux, em navio francês que o levava com destino à África Central, atracou na Ilha do Príncipe onde ficou 10 dias. Várias coisas espantaram Sua Excelência: a profunda religiosidade popular, a maneira irregular da vida do abundante clero secular,459 a degradação de Igrejas e capelas, a exuberante riqueza da terra e a abertura do Governador local. Foram dias de intenso trabalho apostólico, procurando moralizar o clero, exigindo limpeza e arrumo nos locais de culto, catequizando o povo e estudando a maneira de remediar de forma estável à triste situação religiosa da Ilha. Em carta para a Propaganda Fide, propunha o Prelado: 1º, que aí fossem enviados dois sacerdotes espiritanos, suficientes, cria ele, para remodelar tão triste situação; 2º, que aí fosse criado um Seminário Diocesano onde se formaria o clero para S. Tomé e Príncipe e para toda a África Central. A produtividade da terra e a generosa doação de uma roça por parte do Governador local, garantiriam a alimentação dos aspirantes. Sobre tal projecto não houve, ou não se conhece, a resposta da Propaganda. Certo é, porém, que nunca ele se realizou. Assim se gorou, pois, a primeira intenção de colocar espiritanos nas Ilhas do Equador. Foi pena. Bispo Espiritano: Volvidos 145 anos sobre o projecto falhado, a Santa Sé envia aí, como Bispo, o 459 Segundo Mons. Bessieux haveria na Ilha 9 sacerdotes seculares vivendo todos em amancebia. 798 Adélio TORRES NEIVA espiritano D. Abílio Ribas460. Crê o Prelado que a Santa Sé teria, com tal nomeação, a intenção de diversificar e aumentar o clero das Ilhas, totalmente entregues aos zelosos Filhos do Coração de Maria desde há cerca de 65 anos. Não o conseguiu Sua Excelência. Os espiritanos não assumiram cargos evangelizadores nas “Ilhas Verdes”. Nem por isso, porém, deixaram de ajudar o Prelado, fornecendo-lhe durante quase todo o tempo a ajuda de algum confrade. Assim, de Novembro de 1985 a Junho de 1989, secretariou a Diocese o P. António dos Santos Moreira; em 1987 chegou o Ir. Agostinho Manuel Lopes (Ir. Benjamim), regressando muito doente em 1996; em 1990 chegou o P. José Martins Salgueiro, que partiu em 1993; em 1997 chegou o P. Fernandino Ilídio Cardoso Pereira que saiu em Julho de 2001; em 2002 chegou o P. Ricardo dos Santos Meira. Em 1995 chegou também a S. Tomé o agregado José Flora da Cruz, que ali completou um contrato de três anos. 460 D. Abílio Ribas recebeu nomeação para S.Tomé em 4 de Dezembro de 1984, foi esta tornada pública em 21 do mesmo mês e foi ordenado em S. Tomé a 24 de Fevereiro do ano imediato. 799 Capítulo 87 Os Espiritanos Portugueses no Paraguay, México Porto Rico e Taiwan N as vésperas do Pentecostes de 1976, o Conselho Geral Ampliado, reunido em Roma, decidiu, por unanimidade, adoptar três projectos, como sendo prioridades missionárias da Congregação: o Paraguay, Angola e o Paquistão. Estes projectos foram assumidos, em responsabilidade colectiva, por todos os Superiores Maiores. A primeira fundação da Congregação na América do Sul, foi no Perú em 1891. No mesmo ano, os Espiritanos estabeleceram-se no Brasil, na Amazónia. Bastante mais tarde (1945-60) começaram a trabalhar igualmente no sul do Brasil e, em 1976, eram já cerca de 200 a trabalhar naquele país. Em 1967, foi aberta no Paraguay uma missão, confiada à Província da Trindade. Durante vários anos, cinco trindadianos lá iam trabalhando, mas em 1976, só restavam dois e a Província da Trindade pedia ajuda em pessoal para a missão do Paraguay. O Conselho Geral Ampliado decidiu, pois, confiar esta missão a uma equipa internacional. A equipa era composta por sete padres: dois da Trindade, dois de Portugal e um respectivamente da França, Suíça, e Canadá e um Irmão espanhol. Duas enfermeiras e uma catequista espanhola e um cooperante francês foram ajudá-los. Os missionários repartiram-se em dois grupos: um, na cidade, em Assunção, ocupado do ministério pastoral e das responsabilidades do apostolado com os jovens da arquidiocese, o outro em Lima, na diocese de Conceição a trabalhar na zona rural, onde se encontram também muitos jovens. O índice de mortalidade infantil era muito elevado no Paraguay (36 por cento) e a média de vida dos camponeses era a mais baixa de toda a América do Sul. A desigualdade social era gritante: quinhentas famílias e algumas companhias estrangeiras possuíam 98% das terras, ficando apenas 2 % delas para as outras 250.000 famílias. Os portugueses que fizeram parte desta primeira equipa foram os PP. Albino Vítor Martins de Oliveira e João Souto e as três jovens espanholas: Angela Serra Montejano (Gela), Amparo Urios Grande, enfermeiras de Valência e Maria Dolores Aguado (Lola) de Madrid. O P. Victor, com o suíço Conrad e as duas enfermeiras Gela e Amparo estabeleceram-se na diocese de Lima, em Choré, entre os campesinos, evangelizando de aldeia em aldeia. O P. João Souto Coelho regressou um ano depois, tendo-se secularizado em 1983. 800 Adélio TORRES NEIVA A 25 de Janeiro de 1998, por decreto da Congregação para a Evangelização dos Povos, o P. Víctor foi nomeado Director Nacional das Obras Missionárias Pontifícias no Paraguay. A 15 de Dezembro de 2002 foi escolhido para superior do Grupo Internacional do Paraguay. Em 1997 o Luís Pedro Cardoso Adeganha fez um estágio no Paraguay, regressando a Portugal em 1999. A presença portuguesa no Paraguay condensa-se essencialmente no P. Albino Víctor. Ao longo destes quase 25 anos, o P. Víctor realizou um trabalho notável. Quando chegou a Choré encontrou 10 comunidades; quando partiu deixou 100. No Guarany, língua local, está perfeitamente à vontade e esse, tem sido, sem dúvida, um dos segredos do êxito da sua acção pastoral junto dos camponeses. Sobretudo na organização de comunidades e preparação dos seus líderes. Impressiona positivamente a clareza de opções feitas pelo grupo internacional do Paraguay. São de destacar: a opção pelo trabalho com os camponeses no interior e consequente problemática da terra, a opção pela formação espiritana, a opção pela pastoral com os índios, a opção pela vida comunitária, a opção pela animação missionária e pela pastoral da juventude No ano de 2001 esteve em Portugal, a fazer estágio no CEPAC o estudante paraguaiano Celso Sotelo Blanco. NO MÉXICO Em 1995, o P. António Ribeiro Laranjeira foi afectado ao Grupo Espiritano do México, como coordenador da Formação. No mês de Setembro desse ano, fez uma experiência de inserção entre os índios Tenec, na Huasteca Potosina, onde estão a trabalhar os Espiritanos. Depois de conhecer a realidade da “Zona Huasteca”, nas montanhas, no mês de Dezembro do mesmo ano de 1996, assumiu a direcção dos estudantes de Filosofia e Teologia da Congregação, em Altamira, estado de Tamaulipas. No ano de 2001, o P. Laranjeira regressa ao Brasil. Em 2002 foi nomeado para o México o P. Tiago Aparício Simões Barbosa. Partiu para lá no ano de 2003 juntamente com o jovem espiritano Filipe Cruz em estágio missionário de dois anos. Em 1997, também no México, fez o seu estágio missionário o Manuel do Carmo Figueiredo Gomes, tendo-o concluído em 1999. E em Portugal fez os estudos de Teologia o estudante mexicano Guillermo Gil-Torres. EM PORTO RICO Em 1982, o P. António Ribeiro Laranjeira, que então trabalhava como primeiro director do seminário diocesano de Nova Iguaçu, no Brasil, parte para Porto Rico, acompanhado de dois estudantes espiritanos que ali iam fazer o seu noviciado. Pouco tempo depois, devido ao inesperado falecimento do Mestre de Noviços, P. Juan Sacovich, é nomeado para este cargo, que exerceu até Agosto Os Espiritanos Portugueses no Paraguay, México Porto Rico e Taiwan 801 de 1988, período interrompido entre Julho de 1984 e Julho de 1985 para um ano de estudos sobre Espiritualidade na universidade de Comillas, em Espanha. TAIWAN No ano 2002 o P. Vítor Silva recebeu como primeira nomeação o Grupo Internacional das Filipinas - Taiwan, onde se encontra actualmente, sendo assim o primeiro espiritano português a ser enviado para a Ásia. 803 Capítulo 88 A Missão Espiritana em Moçambique N o Conselho Geral Alargado de Dakar, de 7 a 20 de Maio 1995, após longa reflexão, decidiu-se dar uma resposta positiva aos apelos que nos foram feitos pelos Bispos de algumas dioceses de Moçambique. Com efeito, por ocasião da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África, a Congregação foi interpelada a fazer uma abertura missionária a Moçambique. Os bispos de Nacala e Chimoio pediram a colaboração espiritana para as suas dioceses. Em 20 de Agosto de 1993, o bispo de Nacala escreveu uma Carta ao Superior Geral, dando a conhecer a situação precária da sua diocese. Alguns meses mais tarde, em 1994, a Casa Generalícia recebeu a visita de D. Germano Grachane, bispo de Nacala. Ainda por ocasião da Assembleia do Sínodo para a África, D. Francisco Silota, bispo de Chimoio, veio também bater à nossa porta. Anteriormente já tinha contactado a Província de Angola. As Províncias de Angola e Portugal, durante os seus Capítulos de circunscrição, reflectiram sobre o apelo dos bispos moçambicanos e deram um parecer positivo. No documento do Capítulo de Portugal de 1994 se aceitou como projecto “viabilizar a participação numa eventual equipa internacional em Moçambique”. Em ordem a um possível compromisso da Congregação nessas dioceses, em Maio de 1995, a pedido do Conselho Geral, o P. Jerónimo Cahinga, Provincial de Angola, fez uma visita a Moçambique e escreveu no seu relatório: “Visitei as dioceses de Nacala e Chimoio, cujos bispos pediram a colaboração dos espiritanos. Ambas as dioceses têm uma grande necessidade de missionários. Tal como aconteceu em Angola, também os moçambicanos estão sofrendo as amargas consequências da guerra do pós-independência. A maior parte das missões e paróquias continuam privadas dos seus missionários, obrigados a abandonar o país por causa da guerra ou pela impossibilidade de exercer qualquer actividade missionária em algumas regiões. Presentemente, a maioria das missões e paróquias continua esperando a presença do missionário”.461 Durante o Conselho Geral Ampliado de Dakar, foi formada uma Comissão “ad hoc” para definir as modalidades de um possível compromisso. Esta comissão fez as seguintes propostas: 1. Que os espiritanos iniciem a sua actividade missionária em Moçambique durante o ano de 1996. 461 Relatório da visita do P. Cahinga a Moçambique. APPCSSp. Pasta de Moçambique 804 Adélio TORRES NEIVA 2. Que sejam formadas, desde o início, duas equipas internacionais. 3. Que sejam contactadas as Circunscrições da Nigéria, EAP, SCAF, Angola e Portugal (sem excluir outras) em vista da formação de tais equipas. Assim, dando sequência aos pedidos de Moçambique e à consulta feita aos Superiores das circunscrições de Angola, Portugal, Nigéria, EAP e SCAF, o Superior Geral e o seu Conselho decidiram a 14 de Junho de 1995, estabelecer um Grupo Internacional nas Dioceses de Chimoio e de Nacala. O referido grupo deverá exercer as suas actividades em duas comunidades e ficará integrado na Região da África Centro-Sul (SCAF). Após esta decisão, o Conselho Geral apresentou as seguintes orientações: 1. Dar a conhecer aos bispos de Nacala e Chimoio, respectivamente D. Germano Grachane e D. Francisco João Silota, as decisões tomadas.462 2. Entrar em contacto com as circunscrições de Angola, EAP, Nigéria, Portugal e SCAF e, eventualmente outras. Nesse sentido foi enviada uma comunicação a todos os espiritanos. 3. Prever uma visita “in loco” dos Superiores das duas equipas que irão trabalhar naquelas dioceses para estudarem as melhores condições do estabelecimento dos confrades. Ao mesmo tempo, pedimos a todos que aceitem confiar a Deus este nosso projecto, que necessita de um forte apoio espiritual e de ajuda material. 4. A equipa internacional deverá dispor de um tempo razoável para o conhecimento mútuo dos confrades que a integrarão e para planificação das actividades.463 Dando sequência a este projecto foram nomeadas duas equipas, de três membros cada uma: Para Chimoio: PP. Anthony Ahamba (Nigeriano), Benedito Cangueno (Angolano) e Domingos Matos Vitorino (Português). Para Nacala: Diácono Alberto Tchindemba (Angolano), P. Lawrence Nwaneri (Nigeriano) e P. Pedro Fernandes (Português). O critério era a internacionalidade, em obediência às actuais exigências da missão e à maneira espiritana de fazer missão neste tempo. Para localização mais precisa dos espaços a ocupar, foram enviados dois visitadores: o P. James Devine, Superior da SCAF e Benedito Cangueno, que fizeram as suas visitas nos meses de Janeiro-Fevereiro de 1966. Os locais escolhidos foram: a missão de Inhazónia no Chimoio e a missão de Netia, em Nacala, onde Irmãs Combonianas trabalhavam já. A diocese de Chimoio, criada em 1991, tem 800 mil habitantes e apenas 5 padres; a de Nacala, criada na mesma altura, um milhão e 500 mil habitantes e também cinco padres. Os bispos de Nacala e Chimoio firmaram com a Congregação um contrato sobre esta presença. Para acertar pormenores sobre esta presença houve em Clivo di Cinna (Roma), a 19 de Setembro de 1995, um encontro com o Superior Geral, os assistentes 462 463 18 de Junho de 1995 AGCSSp. 15 de Junho de 1993 Os Espiritanos Portugueses no Paraguay, México, Porto Rico e Taiwan 805 Bernardo Bongo, delegado do Conselho Geral para Moçambique e Godfrey Odgibo, correspondente da SCAF, e os PP. Eduardo Miranda, provincial de Portugal, Gabriel Mbilingue, provincial de Angola, e James Devine, Superior da SCAF. O grupo antes de partir teve, durante uma semana, um encontro em Portugal, no Restelo, em Setembro de 1996, a fim de se conhecerem melhor e de se identificarem no projecto que juntos assumiam. Esta reunião, prevista para quinze dias, durou apenas uma semana. Como coordenador da equipa foi escolhido o P. Benedito Cangueno. A equipa chegou a Moçambique em Novembro de 1996, mas cinco meses depois, a 3 de Maio de 1997, o P. Domingos Vitorino regressaria a Portugal por motivos de saúde, sendo depois, em Outubro de 1997, desligado de Moçambique e reintegrado na Província de Portugal. O grupo teve a primeira visita do Superior Geral em 25/27 de Agosto de 1997 em Inhazónia. Um segunda visita da Casa Generalícia foi efectuada pelo P. Gabriel Mbilingue de 20 de Janeiro a 5 de Fevereiro de 1999. Nesta data havia já problemas de vida comunitária, pelo que as equipas foram re-estruturadas. O P. Benedito Cangueno regressava a Angola em Janeiro de 1999 e em Inhazónia ficavam o P. Lawrence e Anthony. A equipa de Netia ficava formada, pelos PP. Pedro Fernandes, Alberto e Damasceno Reis, acabado de ser afectado ao Grupo de Moçambique. Entretanto, provisoriamente, ficava como coordenador do grupo o P. James Devine. Em 2001 foi enviado para Inhazónia, e como coordenador do grupo o P. John Kingston, irlandês. Nas duas comunidades ficavam a superiores, em Netia, o P. Pedro Fernandes e em Inhazonia o P. John Kingston. Em 1999 deixava também Moçambique o P. Lawrence. Em 2001, Netia recebeu o Tiago Barbosa, da Província de Portugal, como estagiário, bem como um estagiário angolano, Matias. Neste mesmo ano chegou um leigo francês, Christophe Heveline, que ficou integrado na equipa de Netia. Nos fins do ano 2000 deixou Moçambique o P. Anthony, ficando o P. John Kingston sozinho em Inhazónia. Algum tempo depois veio fazer-lhe companhia o P. Yves, francês e o P. Frans, irlandês. Também em 2003 chegou a Netia como estagiário o Saturnino, da Província de Portugal. Todas estas mudanças falam-nos da dificuldade de iniciar e lançar uma nova fundação, com confrades de tão diversa proveniência e sensibilidades diferentes. De qualquer maneira, o trabalho que as equipas desenvolveram foi um trabalho muito interessante, animando comunidades locais, criando escolinhas para educação das crianças, e formando líderes, a par de uma vivência comunitária exigente e testemunhante. A primeira missão espiritana de Moçambique, se por um lado criou não poucos problemas, por outro soube criar um modelo de missão testemunhante e evangélica, que é de toda a justiça relevar. 806 Adélio TORRES NEIVA A transferência para Itoculo Netia contava uma dezena de comunidades cristãs pujantes, com cristãos da 3ª e 4ª geração e com estruturas paroquiais relativamente bem estruturadas. É considerada uma das mais amadurecidas paróquias da diocese e foi por essa razão que bastantes missionários manifestaram ao bispo a sua estranheza por irem espiritanos para Netia e não ser essa paróquia reservada aos padres diocesanos. Quando os espiritanos chegaram, havia um único padre diocesano e esse a estudar em Roma. Actualmente, sete anos depois, a diocese conta já com oito padres e outros mais se prevê sejam ordenados nos próximos anos. Ao mesmo tempo, os espiritanos assistem já dois terços das 79 comunidades cristãs da área pastoral de Itoculo. Itoculo não tem nem nunca teve, uma missão ou qualquer estrutura que permita a presença permanente de uma equipa missionária. É uma extensa área pastoral, com comunidades cristãs incipientes e um imenso trabalho de primeira evangelização por fazer. Corresponde a uma área das mais carenciadas da diocese, sem estradas dignas desse nome, quase sem postos de saúde e com um reduzidíssimo número de escolas. Por tudo isto, após um longo tempo de avaliação da situação e de discernimento, pareceu aos espiritanos que a sua opção mais normal seria disponibilizar a missão de Netia e procurar condições para passar a residir em Itoculo, dedicando-se assim a tempo pleno à evangelização desta região. A proposta foi apresentada ao bispo D. Germano Grachane, numa reunião conduzida por John Kingston, superior do Grupo de Moçambique. O Bispo aceitou a proposta e com ele se acordou um período de três anos, a contar dessa data, para a transferência. Os padres diocesanos ficarão assim com Netia a partir de Fevereiro de 2004, mas passariam a residir com os Espiritanos desde Novembro de 2003, para um período de transição. Desde logo se começou a procurar terreno para a construção e foi escolhido no único lugar onde é possível o acesso ao longo de todo o ano. Fez-se uma pesquisa geológica para encontrar água e adquiriu-se o terreno escolhido, que era de mato a desbravar. Foi elaborado um projecto detalhado e apresentado a vários organismos católicos de solidariedade como Missio, Kirch in nott, arquidiocese de Colónia, OMP de Roma. À Província de Portugal pediu-se um empréstimo de dinheiro para completar o que faltava para a construção. A Província de Portugal a 1 de Janeiro de 2002 fez o empréstimo de 40 mil euros. Com a diocese foi firmado um contrato em que todas as condições deste projecto são acordadas.464 Uma terceira comunidade Desde 1996, ainda no encontro preparatório em Lisboa, que se falava numa terceira comunidade. Em 1997, aquando da visita do Superior Geral, a cidade da 464 APPCSSp. 15 de Novembro de 2001 Os Espiritanos Portugueses no Paraguay, México, Porto Rico e Taiwan 807 Beira funcionou como localização previsível dessa terceira comunidade. Em 1999, aquando da reunião com o P. Mbilingue, o grupo de Moçambique era unânime no parecer de que a terceira comunidade deveria ser aberta numa cidade também para diversificar o tipo de missão que os espiritanos pretendiam desenvolver em Moçambique. Netia estava muito isolada como comunidade espiritana, pois a comunidade de Inhazónia ficava a 1120 quilómetros, pelo caminho mais curto que é intransitável no tempo das chuvas e muito desconfortável e moroso no resto do ano. Continuamente os espiritanos precisavam de recorrer aos préstimos de outras congregações, sobretudo na cidade de Nampula, a capital da província e a cidade mais próxima. Também em Maputo tinham que recorrer continuamente à Procuradoria dos Combonianos. Daí a necessidade de fundar uma nova missão, que possa servir de intermediária às duas já existentes. Decidiu-se já escolher Nampula para sede dessa missão. Com a eleição do P. John Kingston para Conselheiro Geral foi nomeado para o substituir o P. Alberto Tchindemba, angolano. 809 Capítulo 89 Ministério Paroquial N a história da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, há duas paróquias, que a Província assumiu e que estão ligadas aos seminários construídos na sua área: a paróquia de S. José de Godim e a paróquia de S. Domingos de Rana. As outras paróquias foram assumidas, com carácter transitório, sem compromisso que garantisse a presença espiritana de modo permanente. Este movimento deu-se sobretudo, depois do regresso de muitos missionários de Angola, por 1975. Assim, daremos relevo às duas primeiras e apontaremos mais ao de leve todas as outras. A Paróquia Espiritana O Capítulo Provincial de 1990 decidiu que se “elaborasse um Directório das paróquias que concretize as formas de comunhão com a Província, que ajude um espiritano a paroquiar com particular sensibilidade ao nosso carisma e que aponte os critérios de discernimento para permanecer, abandonar ou assumir uma paróquia” (nº 545). O assunto foi reflectido no Conselho Ampliado de 1997 e nele se apontaram alguns critérios para a identidade da paróquia espiritana: - Que possibilite à Província inserir-se na vida da Igreja local a partir das estruturas pastorais que lhe são próprias; - Que essas paróquias sejam um projecto do Instituto e não um projecto pessoal; - Que sejam paróquias-sinal, situando-se em zonas desfavorecidas ou pouco evangelizadas e para as quais a Igreja local tem dificuldade em encontrar pastores; - Que sejam sempre uma comunidade espiritana que está ao serviço da paróquia; - Que ajudem na implantação da Igreja na periferia das grandes cidades e em grupos que estão à margem da sociedade; - Que eventualmente criem um espaço de actuação pastoral para os nossos estudantes, sobretudo os que estão no período pós-noviciado; - Que a sua aceitação ou manutenção passe pela elaboração de um contrato com o Bispo diocesano, por tempo determinado; - Que, sempre em diálogo com a Igreja local, estejamos dispostos a partir para outra situação, logo que nossa presença na paróquia já não corresponda aos critérios aqui enumerados. 810 Adélio TORRES NEIVA Assim, o perfil da paróquia espiritana apresentará as seguintes características: - Preocupação, sem impor, às comunidades paroquiais, o nosso carisma; - Apreço pela dimensão evangelizadora, apostando sobretudo na evangelização dos pobres e das situações de Justiça e Paz; - Cultivo da dimensão missionária, que passa pela criação de grupos a nós ligados; - Grande sensibilidade à Pastoral Vocacional; - Vida em comunidade; - Prática da solidariedade económica com a Congregação (1.2.3.). No Capítulo Provincial do ano 2000, o Capítulo relembrava as orientações do CPA 97 e chamava a atenção para o seu cumprimento (nº 682). Paróquia de S. José de Godim Um pouco de história da freguesia A origem da freguesia de S. José de Godim perde-se na bruma dos tempos. O que sabemos é que é povoação muito antiga, pois que temos documentos que a ela se referem já nos primeiros anos da nacionalidade. O nome Godim, na opinião de Joaquim Martins de Macedo465 deve provir do nome do seu primeiro senhor de nome Godim, nome que aparece muitas vezes na toponímia daquele tempo. A povoação é por vezes designada por Jugueiros. Jugueiro era aquele que estava sujeito ao direito de Jugada ou direito de cada jugo de bois para lavrar um moio de trigo ou milho. O direito de jugada era muito comum em Portugal. Este imposto deu origem a vários topónimos, entre os quais o de Jugueiros. Os casais que pagavam este imposto chamavam-se Jugueiros. Jugueiros se chama também a ribeira que corre nos limites da freguesia e desagua no Douro. O primeiro documento que conhecemos de Godim é uma Carta de D. Sancho, do ano 1205, aos homens de Godim; é também o primeiro documento que se refere às vinhas da região. Nessa carta D. Sancho dá foro aos homens de Godim para que “sempre tenhais o próprio regalengo, vós, vossos filhos e vossos netos com seus termos”. “E mandamos que das terras rotas deis como sempre destes. E daquelas que romperdes deis a quinta parte. E das vinhas que estão feitas agora deis a terça parte”. O segundo documento é o seu foral de 1210, em que o mesmo rei confirma aqueles privilégios da carta anterior e concede outros novos. O foral é concedido aos homens de Godim Rodrigo Mendes, e Pelaio, monge, Egas Moniz, Rodrigues Peres e Pedro Filho, como vizinhos de Godim. Nesta carta de foral se encontram também traçados os limites da freguesia, que devia ser toda aforada com a condição de darem ao Rei a oitava parte de todos os frutos nela colhidos. Os seus limites eram desde aquele monte Argemundanes, assim como extrema com Lobrigos e com Vila Maior. E daí com Remostias e com o Peso e daí pela 465 Elementos para a história de Godim, 1961 Ministério Paroquial 811 veia do Corgo. Um outro documento remonta ao ano de 1341, firmado por D. Afonso IV e dirigido a D. Vasco Martins, bispo do Porto, que diz que os Julgados de Pena Guiam e Godim pertenciam a essa diocese. Depois, D. Manuel, a 15 de Dezembro de 1519, na altura da reforma dos forais do Reino, concedeu foral novo a Godim. Não sabemos qual a população de Godim até ao século XVI. Em 1530, ano em que se faz o primeiro recenseamento da Província de Trás os Montes, o concelho de Godim apresenta 61 moradores. Em 1758, o Dicionário Geográfico do Padre Cardoso dá a Godim 409 fogos, o que equivalia a 1.380 habitantes. Depois a população foi subindo e em 1960 o número de habitantes rondava os 2.747. O concelho de Godim absorvia a actual sede do concelho da Régua, aparecendo muitas vezes anexo ao concelho de Penaguião. Foi por decreto de 6 de Novembro de 1836 em que Vila Real ficava com 24 concelhos, que Godim deixou de ser concelho. Não sabemos a data da criação da freguesia de Godim; o primeiro presidente da Junta de Freguesia que conhecemos é o Padre Francisco Gomes Carneiro; foi presidente desde 1856 a 1862. Hoje o lugar mais importante da freguesia é o lugar do Salgueiral, o mais extenso e o maior núcleo populacional; além destes Godim tem ainda mais 24 lugares, 32 quintas e 14 casas com Pedras de Armas. A paróquia de S. José de Godim A paróquia de S. José de Godim foi desanexada da de S. Faustino do Peso da Régua, no ano de 1753. Deve datar de pouco antes da sua desanexação a construção da actual igreja. Seria talvez, na opinião de Joaquim Martins Macedo, a construção desse templo, a meia encosta e no meio da freguesia que levaria os moradores a pugnar pela sua autonomia eclesiástica, para não terem de se deslocar ao Peso da Régua, para a celebração dos actos de culto. A igreja terá portanto mais de dois séculos. Antes da sua restauração em 1906 teria cinco altares contando com a capela do Santíssimo Sacramento. A lista dos párocos de S. José de Godim tanto quanto foi possível elaborá-la, desde a sua fundação em 1753 é a seguinte: P. António Correia Álvares (1753...); P. Francisco Caetano Leite (1789-1802); P. António Pinto de Araújo (18021843); P. António Francisco Pereira (1843-1844), encomendado; P. Francisco Gomes Carneiro (1844-1876); P. Henrique Pires de Lima (1876-1877), encomendado; P. António Ribeiro da Silva (1877-1883); P. Alberto Teixeira de Carvalho (1883-1884) encomendado; P. Alberto Teixeira de Carvalho (18841927). O pároco tinha o título de Reitor ou “Reitor colado”, mas em 1864 o P. Francisco Gomes Carneiro começa a assinar como “Pároco” e assina mesmo “Abade”. A freguesia foi da diocese do Porto até Setembro de 1882, passando nesta data 812 Adélio TORRES NEIVA para a diocese de Lamego, quando se remodelaram as dioceses do reino, em virtude da bula Gravissimi Christi de Leão XIII, de 30 de Setembro de 1881. Com a criação da diocese de Vila Real a 20 de Abril de 1922, Godim passou para esta diocese, como de resto as dez paróquias do concelho da Régua. A paróquia de Godim é confiada aos Espiritanos Os Espiritanos tinham-se instalado na Casa das Vitórias, no Salgueiral, lugar de Godim, numa pequena casa onde alojaram os quatro primeiros estudantes de Teologia que tinham terminado o seu curso preparatório em Braga. Como ao fim de um ano, o número dos seminaristas aumentasse e a Casa das Vitórias não tivesse possibilidade de os acolher, foi necessário comprar outra casa, que apareceu à venda em Viana do Castelo e para lá foram os estudantes. Mas como a presença dos padres era muito apreciada e o pároco de Godim P. Alberto Teixeira de Carvalho precisava de quem o ajudasse, logo surgiu a ideia de uma fixação dos espiritanos em Godim, com uma obra própria e que poderia também servir inclusive de apoio à paróquia. O P. Alberto Teixeira de Carvalho, que vivia numa casa que ele mesmo mandou construir, em terreno seu, junto do adro da igreja, pois a paróquia não tinha residência, no seu desejo de garantir o futuro daquela paróquia vendeu por sua morte o que ali possuía, a pessoa de sua inteira confiança, (D. José de Lencastre) de modo a garantir residência para quem lhe viesse a suceder. Concordaram os Espiritanos em construir um seminário no quintal da residência paroquial, sendo a primeira pedra benzida em 1924. É evidente que a intenção do P. Alberto era que os seus bens fossem para a Congregação do Espírito Santo, mas nessa altura vigorava a lei da Separação do Estado das Igrejas, de 20 de Abril de 1911, pela qual “todas as catedrais, igrejas e capelas, bens imobiliários e mobiliários – incluindo as residências paroquiais – que tinham sido ou que se destinavam a ser aplicados ao culto público da religião católica e à sustentação dos seus ministros e outros funcionários dessa religião, tinham sido declarados pertença e propriedade do Estado e dos corpos administrativos e, como consequência disso, foram arrolados e inventariados, sendo em circunstâncias muito específicas e gravosas para a Igreja Católica, concedida a utilização desses bens”. Em face deste condicionalismo legal e apesar do risco que resultava da cominação prescrita, no art.º 29 de Lei da Separação do Estado das Igrejas, o P. Alberto Teixeira de Carvalho, não hesitou em aproveitar a amizade que o ligava ao D. José de Lencastre para procurar assegurar que a residência paroquial de Godim, que lhe pertencia como propriedade pessoal e exclusiva, ficasse para os Missionários do Espírito Santo como párocos de Godim. E nessa base de confiança, ainda em vida, em 11 de Julho de 1922, declarou vender ao referido D. José a sua residência paroquial e quintal que junto dela possuía. Alguns anos depois, a 22 de Março de 1927, o P. Alberto falecia com 77 anos e os Espiritanos assumiram a paróquia. Ministério Paroquial 813 A paróquia foi aceite pelos Espiritanos, primeiro porque estavam interessados em ali estabelecer uma obra sua e depois porque a diocese não tinha padre para ali colocar e se a Congregação não aceitasse a paróquia, ela seria anexada à vila vizinha, continuando ao fim e ao cabo o trabalho a cargo dos padres da Congregação que ali estavam, até porque os padres aí gozavam de muita simpatia. Efectivamente, o Conselho Municipal, que era formado por pessoas vindas de fora, tinham cometido a imprudência de apresentar ao bispo um pobre padre, a pretexto de que os Espiritanos estavam já muito ocupados com as aulas. Então, o P. Moisés Alves de Pinho pediu ao bispo para ligar proforma a paróquia à vila. Mas o bispo queria que os Espiritanos continuassem em Godim na paróquia.466 As condições do contrato entre a diocese e a Congregação ficaram expressas na Provisão emanada da Cúria diocesana: “Vila Real, 4 de Julho de 1927. Tendo falecido o Rev. P. Alberto Teixeira de Carvalho... e sendo necessário proceder de uma maneira constante e definitiva às necessidades religiosas da referida paróquia, Havemos por bem, de acordo com o Rev. P. Provincial da Congregação do Espírito Santo: 1º. Confiar à mesma Congregação a paroquialidade da referida paróquia de S. José de Godim, ficando a seu cargo a indicação do respectivo pároco, cujo nome será oportunamente notificado a esta Cúria, com a liberdade de o substituir sempre que a mesma Congregação assim o julgar oportuno e podendo os sacerdotes da residência seguir o seu próprio calendário mesmo na igreja paroquial, embora acrescentando as festas próprias da diocese. 2º. Tomamos o compromisso de não retirar a jurisdição paroquial da mesma freguesia à referida Congregação do Espírito Santo, sem pelo menos três meses de antecedência na respectiva comunicação; e manifestamos o desejo que este compromisso seja recíproco. 3º. Para a nomeação do sacerdote indicado para o desempenho deste ministério paroquial seguir-se-ão as normas do Direito Canónico (Cans. 454 e 456). Igualmente, no que diz respeito aos deveres e direitos do pároco, todos serão aceites e compreendidos segundo as normas do mesmo código; procedendo-se de comum acordo nos casos imprevistos ou não mencionados. E para constar mandamos lavrar esta Provisão que será por nós assinada e pelo delegado do Revdo Provincial da Congregação do Espírito Santo, Revdo P. Clemente Pereira da Silva - Vila Real 4 de Julho de 1927. J. Arcebispo Bispo de Vila Real. P. Clemente Pereira da Silva”.467 O Conselho Geral, a 7 de Junho de 1927, aprovou a decisão, que pôs como condição que o padre encarregado da paróquia não ficasse exclusivamente para este serviço mas que tivesse também outra ocupação na obra da congregação.468 A 26 de Julho de 1928, D. José de Lencastre doava à Corporação dos Missionários do Espírito Santo, na pessoa do seu representante, P. Moisés Alves 466 467 468 Carta do P. Pinho de 28/12/1928 AGPPCSSp. B 482 CH V Ibid. Carta de 7 de Julho de 1927 814 Adélio TORRES NEIVA de Pinho, a casa da residência e seus anexos, que tinha recebido do P. Alberto Teixeira de Carvalho: um prédio (casa de andar e loja, Casa de lagar e vinha, tudo pegado) “com todos os seus anexos e pertenças, serventias e servidões activas”. A doação foi feita com o desejo de “servir a causa das Missões portuguesas no Ultramar a fim de auxiliar a instrução e preparação dos Missionários a enviar às Possessões Ultramarinas”. O facto explica-se pelo seguinte: Depois do 28 de Maio, a 6 de Junho de 1926 é publicado o decreto de Rodrigues Gaspar que visou tornar efectivo o reconhecimento da personalidade jurídica das Igrejas e a regularizar a situação dos bens afectados ao culto, incluindo as residências dos ministros da religião. Posteriormente, a 13 de Outubro de 1926, é aprovado e publicado o Decreto nº 12.485 que consagra o Estatuto Orgânico das Missões Católicas Portuguesas da África e de Timor. O artigo 6 deste diploma dispõe que “ficam sendo propriedade das referidas missões e isentas de quaisquer contribuições gerais ou locais, os templos, as escolas, as oficinas, as residências episcopais, eclesiásticas e missionárias ou paroquiais, todos os bens imobiliários e mobiliários eclesiásticos ou missionários, arrolados ou não pelo Estado, e outros que lhes venham a pertencer, assim como os terrenos que o Governo ou qualquer corporação administrativa ou entidade particular lhes tenham concedido ou vierem a conceder, e o mais que tenham adquirido ou venham a adquirir por meios legítimos”. É neste contexto, que já depois da morte do P. Alberto Teixeira de Carvalho, D. José de Lencastre e a esposa fazem doação da residência paroquial de Godim à Congregação dos Missionários do Espírito Santo de Angola, para cumprimento da vontade do P. Teixeira de Carvalho. Os párocos Espiritanos de Godim foram os seguintes: P. António Ribeiro Teles (1927-1928); P. António Rodrigues Pintassilgo (1928); P. Daniel Gomes Junqueira (1929-1938); P.Cândido Ferreira da Costa (1938-1944); P. Joaquim Correia de Castro (1944-1946); P. José da Fonseca Lopes (1946-1948); P. Joaquim Correia de Castro (1948-1961); P. João Pinto da Silva (1961- 1965); P. Vitorino da Silva Amorim (1965-1967); P. António Pereira Rodrigues (19671972); P. Joaquim Martins (1972-1974); P. Àlvaro da Costa Campos (19741980); P. Agostinho Pereira Rodrigues Brígido (1980-1982); P. António dos Santos Moreira (1982-1984); P. António Alves de Oliveira (1984-1986); P. José Pinto de Carvalho (1986-1994); P. Àlvaro da Costa Campos (1994-1995); P. Ricardo dos Santos Meira (1985-2001) P. Agostinho Pereira Rodrigues Brígido (2001...). Entre as instituições da paróquia destacamos: o Orfeão Godinense, fundado a 11 de Maio de 1933, pelo P. Mário Silva, professor no seminário e musicólogo distinto. O Orfeão estreou-se a 15 de Agosto desse ano, nas festas de Nossa Senhora do Socorro da Régua, cantando na Alameda principal um brilhante sarau juntamente com o Orfeão do Porto e o Orfeão Reguense. Com a partida do P. Mário, o Orfeão morreu. Outra instituição marcante da paróquia é o Patronato, fundado pelo P. Alberto Ministério Paroquial 815 Teixeira de Carvalho. Além da verba que ele deixou para esse efeito, colaboraram o engenheiro Joaquim Gaudêncio Pacheco e sua esposa D. Carlota Champallimaud e a Srª D. Antónia Adelaide Ferreira de Lima, viúva do Conselheiro Venceslau de Lima. A obra teve início em Janeiro de 1938, sendo pároco o P. Daniel Junqueira. Posteriormente junto do Patronato foi estabelecida uma creche em cumprimento de uma disposição testamentária de D. Antónia Adelaide Ferreira de Lima. O Patronato destina-se à formação moral e intelectual das crianças. A direcção do Patronato está a cargo das religiosas “Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus”. O Patronato é subsidiado pelo Estado, Câmara Municipal e vários benfeitores.469 No dia 8 de Dezembro de 1990 um incêndio atingiu a residência paroquial, queimando uma boa parte do edifício e todo o espólio que nela estava guardado. Salvaram-se com custo os livros de registo paroquial. Este incêndio veio levantar um diferendo já antigo sobre os direitos de propriedade da residência paroquial: a paróquia ou a Congregação do Espírito Santo? Daqui resultou um longo contencioso entre as duas partes, que depois de muita discussão e diálogo, levou à celebração do seguinte acordão entre as duas partes: “A fim de serem dissipadas as dúvidas ultimamente surgidas sobre direitos de propriedade na chamada “Residência Paroquial” de S. José de Godim, e sendo urgente responder à situação causada pelo incêndio que, em Novembro de 1990, devorou a parte superior da mesma, a Paróquia de S. José de Godim-Régua e a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo trocaram opiniões, consultaram documentos oficiais, ouviram pessoas de várias idades e pediram pareceres jurídicos sobre o assunto. 1º. A Paróquia de S. José de Godim-Régua reconhece que a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo é a única e legítima proprietária do edifício onde se encontra a chamada “Residência Paroquial” e do terreno que lhe serve de logradouro, comprometendo-se consequentemente a não mais invocar quaisquer pretensos direitos de qualquer natureza que tenham por objecto os mencionados prédio e terreno; 2º. Por sua vez, a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo cede à paróquia de S. José de Godim-Régua uma faixa de terreno (130 m2) que possui a sudeste do seminário, contígua a outra já pertença da referida Paróquia, faixa essa que será delimitada, a norte, por uma linha recta, que, partindo da ala norte do Adro paroquial, se prolonga por uma extensão de 14 m. 3º. Além disso, para arranque das obras de construção da nova residência paroquial, a mesma Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo contribui com a quantia de dois milhões de escudos (2.000.000$00) a entregar no acto da assinatura do presente acordo. O presente acórdão foi lido e aceite pelas duas partes e é assinado pelos seus legítimos representantes para valer como documento de propriedade futura. Godim, 08.06.93 469 Elementos recolhidos de “Elementos para a história de S.José de Godim” 816 Adélio TORRES NEIVA P. José de Castro Oliveira (Provincial) P. José Pinto de Carvalho (Pároco de S. José de Godim) Três membros da Fabriqueira – ilegível”.470 A 19 de Março de 1995, foi feito um acordo entre a Congregação e o bispo de Vila Real, em que os Espiritanos se comprometiam a continuar com a responsabilidade da paróquia por mais seis anos, a contar de 1 de Setembro de 1995. Paróquias de S. Domingos de Rana, Tires e Abóboda O povoamento da área hoje compreendida na Freguesia de S.Domingos de Rana é muito antigo, tendo já sido encontrados vestígios dos períodos Paleolítico, Neolítico/Calcolítico, Bronze/Ferro, Romano, Visigótico e Medieval. As primeiras referências históricas aparecem na Idade Média, consistindo em dois documentos, um que atesta a existência de Trajouce no princípio da Nacionalidade e outro que refere um casal em Freiria em 1385. O primeiro censo a que temos acesso, de 1527, refere já todas as principais localidades da Freguesia que, nessa altura já existia como Paróquia, estendendose até Albarraque. A aldeia de Rana com os casais de Parede e Rebelva contava 13 fogos. A paróquia foi criada devido ao aumento da população da Vila de Cascais, que transbordou para fora das suas muralhas. Em 1610, no “Livro das Grandezas de Lisboa” de Frei Nicolau de Oliveira, S. Domingos de Rana tinha 150 fogos e 500 pessoas. Segundo as Memórias Paroquiais de 1758471 a freguesia alargava-se até S.Pedro do Estoril. O texto referente a S. Domingos de Rana, reza assim: “Pertence ao Patriarcado de Lisboa, nos termos da Vila de Cascais, Comarca da Vila de Torres Vedras. É seu donatário decorrente o Ex.mo Senhor Marquês de Cascais. A Paróquia está situada no lugar de S. Domingos de Rana, cujo santo é seu orago. É anexa à igreja de S. Pedro de Penaferrim de Sintra. É curato apresentado pelos fregueses, a Côngrua que lhe fazem é: de cada oficina duzentos e quarenta e seis réis; de cada trabalhador cento e vinte reis; de cada lavrador um alqueire de trigo, de cada moleiro também um alqueire de trigo, que tudo importará por ano, mais ou menos, oitenta e tanto mil réis. Relato com esta incerteza por não ter ainda cobrado ano algum mas parece-me que assim era pouco mais ou menos. Tem quatro Irmandades, a saber: do Santíssimo Sacramento, de S. Domingos, de Nossa Senhora do Rosário e das Almas. Tem esta Freguesia vinte e quatro lugares, a saber: de S. Domingos de Rana tem esta trinta fogos; Rebelva, trinta e quatro; Tires setenta e seis; Rana treze; Parede quarenta e dois; Folia (?) quatro; Catágua dois; Murtal trinta e seis; Penedo cinco; Caparide vinte e cinco; Xatinhos dois; Zambujal vinte e sete; Trajouce vinte e nove; 470 471 BPPCSSp. 1993. p. 28-29 ANTT nº 10 p. 41-42 Ministério Paroquial 817 Abóboda vinte e dois; Sassoeiros quarenta e três; Arneiro, quatorze; Outeiro de Polima doze; Polima vinte e quatro; Conceição cinco; Montijo oito; Ribeira de Quenena vinte e quatro; Quenena vinte e um; Torre d´Aguilha quatro. As duas capelas principais da Freguesia eram a da Nossa Senhora da Conceição da Abóboda e a de Nossa Senhora da Graça de Tires. A capela de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda foi fundada por Frei Gonçalo de Azevedo (Cavaleiro de Malta) antes de 1579. Esta é a data da sua sepultura (10 de Abril de 1579). A capela portanto foi construída antes. Em 1673 a capela foi aumentada e remodelada para aí viverem os Frades Agostinhos Descalços, que aqui estiveram três anos, indo depois para Coimbra. Depois, já no século XVIII vieram os frades polacos da Congregação da Imaculada Conceição que daqui seguiram para Trás-os-Montes. Em 1754/55 aí viveu um Frei Casimiro Wishinskey que seguiu depois para o convento de Balsemão, Macedo de Cavaleiros, onde morreu com fama de santidade e lá se encontra sepultado na igreja do convento. Na capela da Imaculada Conceição esteve instalada, no século XVIII, uma irmandade de homens do mar que se encarregava de organizar as festas, a 8 de Dezembro, em honra da Padroeira. Aqui foi encontrada uma espada medieval de lâmina de prata e punho de ouro, que hoje figura no escudo de S. Domingos de Rana. A Capela de Nossa Senhora da Graça, de Tires, que se encontra no actual Largo Fernando Lopes Graça, junto da nova igreja, não se sabe quando foi fundada. Sabe-se, porém de certeza, que é também muito antiga, erigida provavelmente nos princípios do século XVIII, se não no século XVII ou finais do século XVI. Ao que consta a capela tinha ao princípio o nome de Nossa Senhora da Graça por força das graças que a Virgem concedeu aos pescadores de Cascais quando, no ano de 1362, no reinado de D. Pedro I, ao recolherem as redes repletas de peixe, veio no remalhado e da parte de fora, a imagem da Virgem Mãe de Deus. O nome teria sido naturalmente simplificado pela oralidade do povo para Nossa Senhora da Graça. A imagem de Nossa Senhora da Graça, padroeira de Tires, está hoje guardada na igreja paroquial de Tires, templo que foi construído em 1982. A capela é um precioso monumento barroco e está fundamentalmente na origem da paróquia de Tires, desanexada da de S. Domingos. O lugar de Freiria (ou terra de freires) que aparece pela primeira vez num antigo registo do antigo Mosteiro de Santos-o-Novo, em que se diz que as freiras do Mosteiro de Santos tinham a meias com Martim Migerez, da Abóboda, um casal em Frerya, termo de Cascais. Arqueologicamente em Freiria têm-se encontrado muitos vestígios que vão desde o neolítico até à Idade Média. Foi no período romano que Freiria adquiriu maior importância, graças a uma importante “vila” de campo, de que se encontraram vestígios. A cantaria romana encontrada nas escavações, dirigidas pelo Prof. José d’ Encarnação e por Guilherme Cardoso, atestam a existência de bons canteiros nessa época e que aí extraíram o célebre mármore de S. Domingos de Rana. Das pedras talhadas há que destacar a ara dedicada a Triborunis, o quadrante solar, o capitel em estilo coríntio e uma carranca. 818 Adélio TORRES NEIVA A igreja paroquial De alguns documentos existentes na Torre do Tombo, parece deduzir-se que o mais tardar, na segunda metade do século XV, foi construída uma igreja no termo da Vila de Cascais, pois encontram-se registos paroquiais de nascimentos, sacramentos e óbitos, relativos ao ano de 1589 e estes registos só se tornaram obrigatórios a partir do Concílio de Trento (1545-1563), podendo por isso a igreja já existir antes daquele ano de 1589. O referido livro de registos paroquiais que se julga ser o primeiro, tem o termo de abertura lavrado e assinado pelo cura Thomé Estevam e diz o seguinte: “Livro de bautismos e Cazamentos de Defuntos na igreija de S. Domingos de Rana, quando se começô este D. Joam de 89 annos”. A primeira igreja era dedicada a S. Domingos de Gusmão, que, segundo uma lenda popular, aparecia por vezes na zona de Rana, designadamente nos chamados “Altos de Rana” ou “Barreira de Rana”, este último mais próximo do lugar de Rana. A notícia da aparição do santo espalhou-se e começou a dizer-se que, se o santo aparece é porque queria que lhe construíssem uma capela. Estabeleceu-se assim o despique entre os que queriam que a capela fosse construída no Alto de Rana e os que preferiam na Barreira de Rana. Finalmente chegaram a um acordo: o templo seria construído no local onde santo demorasse mais tempo, sendo esse tempo controlado pelas partes interessadas durante o tempo combinado. Nada se sabe por escrito deste desfecho do que foi acordado, mas ao que parece, o santo preferiu o Alto de Rana. Uma vez construído o templo, como se disse já, muito provavelmente no século XV, com o tempo foi-se degradando ao mesmo tempo que o desenvolvimento das zonas periférica vai fazendo aumentar o número dos fiéis. Assim acabou por se sentir a necessidade ou de aumentar o templo já existente ou construir outro de raiz. Não sabemos ao certo qual a opção tomada, mas o que parece ser mais provável é que a construção da nova igreja terá tido lugar ainda com a primitiva igreja a servir ao culto. Frei Luiz de Sousa, na sua História de S. Domingos, publicada em 1662, diz o seguinte: O Arcebispado de Lisboa se adiantou com o santo em muitas freguesias; sãos seis as que pudemos saber os nomes...É a última São Domingos de Rana termo de Cascais. Esta igreja de Rana é sagrada de tempo imemorial, fazem os fregueses a festa principal ao Santo na primeira Dominga de Maio e chamam-lhe Sagra: deve ser porque em tal mês sagrou a Igreja. Outra celebram por dia de Corpus com toda a pompa que o lugar pode, a que acodem muitas cruzes e bandeiras das freguesias dos termos de Cascais e Sintra e algumas de Lisboa” O terramoto de 1 de Novembro de 1755 causou grandes estragos na igreja antiga ainda não demolida, conforme se depreende de uma informação prestada em 1758 pelo cura Joaquim Coelho da Silva, aos seus superiores. A informação diz o seguinte: “Pertence ao Patriarcado de Lisboa, termo da vila de Cascais, Comarca da Vila de Torres Vedras, é seu donatário de presente o Ex-mo snr. Marquês de Cascais, está a paróquia situada dentro do lugar de S. Domingos de Ministério Paroquial 819 Rana, cujo santo é seu orago e no presente se acha com dois altares por ficarem todos os demais destruidos com o terramoto de 1755, é anexa à igreja de S. Pedro de Penafirme”. Podemos assim admitir que a antiga igreja, teria talvez, além da capela mor, mais duas capelas, uma das quais terá sido destruída pelo terramoto. Uma das capelas será a de S. Sebastião e outra a de Nossa Senhora do Rosário, sendo a primeira a que ficou destruída. Numa outra fonte (8) pode ler-se que em Maio de 1710 havia já sido iniciada a construção do novo templo – a igreja actual. Efectivamente o visitador Félix Barbosa, prior na Patriarcal Colegiada da Matriz de Santo Antão do Tojal, em 1760 afirma o seguinte: “ ...o material da Igreja demolida pelo terramoto e consertando-se a capela mor dela se servem para a paróquia, como também uma capela extensa dedicada a Nº Sª do Rosário. E anos antes do dito terramoto se começou a fazer uma nova igreja de excelente arquitectura, e que se vai continuando...”. Por um registo de 1833 da Câmara Municipal de Cascais sabemos que foram concedidos dois reis em cada arratel de carne para a construção da nova igreja (13 de Fevereiro de 1833 CMC). Em conclusão, podemos dizer que quando se verificou o terramoto de 1755, a primitiva igreja dedicada a S. Domingos de Gusmão e que fora construída muito provavelmente em meados do século XV, sofreu grandes danos mas continuou a prestar assistência religiosa às populações locais, certamente depois de ter recebido algumas reparações e entretanto estava já em construção um novo templo, nada se sabendo se ele sofreu ou não alguns danos com o terramoto. Da relação dos trabalhos a efectuar para a conclusão da igreja, constava o acabamento das torres. Ora na torre onde se encontra um relógio de sol, está inscrita a data de 1838, que por ser a única data que se encontra em toda a construção, pode ser aceite como sendo a data da conclusão da igreja. Se aceitarmos como correcto o ano de 1710 como início da construção do novo templo de S. Domingos de Rana e como a da conclusão o ano de 1838, verificamos que a construção da igreja demorou 128 anos. Após a proclamação da República, mais concretamente a partir de 1911 até Agosto de 1918, a igreja esteve encerrada ao público e talvez por isso mesmo foi alvo de actos de vandalismo. Foi graças aos insistentes e veementes protestos do Cardeal Mendes Belo, que por várias vezes esteve exilado, que em 1918 foram revogadas determinadas leis e determinações que proibiam a liberdade religiosa. A igreja foi-se degradando até que em 1964 o telhado e o tecto do corpo central da igreja ruíram, sendo depois reparado. Mas o tecto de forma semi-cilíndrica, com uma pintura de Pedro Alexandrino perdeu-se. Várias outras reparações e melhoramentos foram introduzidos pouco a pouco. Uma nova restauração de toda a igreja, obra de grande envergadura seria levada a cabo pelo P. José Ribeiro Mendes e que estaria concluída em 1987. A igreja contém uma pintura da “Anunciação” do último quartel do século XVI, atribuída à oficina maneirista do pintor Francisco Venegas. Quinhentista é também a tábua anónima do “Pentecostes”. Do século XVI é uma tela “Cristo 820 Adélio TORRES NEIVA com a cruz às costas”. O conjunto setecentista é constituído ainda pela tela do retábulo-mor “Última Ceia” de Pedro Alexandrino de Carvalho e o quadro “S. João de Brito” e uma “Imaculada Conceição” atribuída a mesmo pintor, bem como a pintura do tecto “Nossa Senhora entregando o rosário a S. Domingos”. Setecentistas são ainda o “S. Sebastião”, “S. Francisco Xavier” “Santa Rita de Cássia”, “S. Miguel e as almas do Purgatorio” e uma “ Nossa Senhora do Carmo”. (Classificação de Vìtor Serrão, Director da Biblioteca Municipal de Sintra). No museu Nacional de Arte Antiga, entre outras peças pertencentes à igreja de S. Domingos de Rana, encontram-se uma naveta do século XVIII, uma coroa fechada do século XVII, uma custódia, uma concha de baptismo do século XIX, uma colher do século XVII e o lavatório da sacristia do século XVIII. O cemitério situava-se nas traseiras da igreja e aí foi estabelecido em 1824. Mais tarde foi transferido para o local onde está hoje. O Centro Paroquial A 4 de Agosto de 1961 o pároco P. Joaquim Correia fundou uma creche que ficou a funcionar num edifício construído encostado á parede traseira norte da igreja paroquial. Quando o P. Joaquim Correia foi substituído pelo P. Agostinho Pereira da Silva em 1965, construiu-se e ampliou-se toda a parte a nascente do altar mor que veio a ficar com três pisos. Com estas obras passou-se a dispor de salas para reuniões, independentes do cartório e da sacristia. Mais tarde, ainda sob o priorado do P. Agostinho, em 1970 realizaram-se também obras de conservação e ampliação de toda parte poente do altar-mor, com a finalidade de se conseguirem duas salas mortuárias no primeiro piso e por cima delas, no segundo piso uma nova sala para a creche. No exterior fez-se a pavimentação e ajardinamento de todo o logradouro a sul do edifício da igreja, onde se encontra o cruzeiro. E pouco a pouco, a fim de se construir uma verdadeira comunidade paroquial foi surgindo a ideia de construir um centro paroquial, polivalente, para: infantário, jardim infantil, centro de convívio e actividades de tempos livres. A obra começou a ser levada a cabo pelo pároco P. José Ribeiro Mendes em 1984 e foi inaugurada em 1991. O custo total da obra rondou os cem mil contos. Em 1998, o Centro Paroquial contava na creche 74 bebés, no Jardim de infância 117 crianças, em cinco salas, o Centro de Dia 29 utentes. O pessoal de serviço era formado por 67 funcionários: 14 educadoras de infância, uma técnica de serviço social, 24 ajudantes de Acção Educativa, 12 Auxiliares, 3 cozinheiras e 6 ajudantes de cozinha, 3 ajudantes de terceira idade e o motorista. O Centro tem dois pólos dependentes dele: um em Talaíde com uma creche de 75 crianças, um Jardim de Infância com 50 crianças e um Centro de convívio com 39 utentes. O outro pólo é na Madorna, com um Centro de convívio com 70 utentes. Construiu-se também uma igreja na Madorna e outra em Sassoeiros. Ministério Paroquial 821 Os párocos Os párocos de S. Domingos de Rana, desde 1920 foram: P. Álvaro Augusto dos Santos (1919-1923), P. Manuel Mendes Boga ((1923), P. José Aguiar Machado Leal (1924-1931), P. J. dos Reis (1931-1934), P. António Francisco Avelar (19341938), P. Fidelino Otelo Cardoso, pároco interino em 1938-1939), P. Adriano da Silva Pereira (1939-1940), P. António Pereira de Almeida (1940-1951). A paróquia foi confiada aos Espiritanos, a quando da sua vinda para a Torre da Aguilha em 1949. Nessa altura S. Domingos de Rana e Carcavelos tinham um só pároco. A Parede não existia ainda como paróquia. Foi seu primeiro pároco espiritano, P. António Pereira Rodrigues, até Setembro de 1951. P. Manuel António Meira, de Setembro de 1951 a Maio de 1952 P. Querubim da Cunha Meireles, de Maio de 1952 a Outubro de 1953 P. José da Fonseca Lopes, de Outubro de 1953 a Outubro de 1958 P. José Joaquim Correia, de Outubro de 1958 a Outubro de 1965. Em 1965 o P. Joaquim Correia foi nomeado pároco só de Carcavelos, paroquiando essa freguesia até 1970. P. Agostinho Pereira da Silva de 1965 a 1983. P. José Ribeiro Mendes de 1983 a 1998. P. Agostinho Pereira Rodrigues Brígido de 1998 a 2000. P. Domingos da Rocha Ferreira desde 2000 até 2004. Como coadjutores estiveram os PP. José da Fonseca Lopes, José da Cunha Duarte, Altino Cepeda Coelho. A 31 de Agosto do ano 2000 foi celebrado um contrato entre a Congregação e a Diocese em que o Patriarcado confiava à Congregação a Paróquia por mais um período de cinco anos. No ano 2001, foi criada uma Unidade Pastoral S. Domingos de Rana - Tires confiada a 15 de Agosto aos párocos “in solidum” os PP. Domingos da Rocha Ferreira, José de Castro Oliveira e Manuel da Costa Andrade, sendo vigários paroquiais os PP. Joaquim Macedo Lima, Sabino Livela e Ernesto de Azevedo Neiva. Em 2004, a Paróquia foi confiada aos padres Agostinhos, ficando os Espiritanos com a Paróquia da Abóboda que então foi criada. A igreja e a paróquia de Tires A paróquia de Tires é fruto do zelo missionário de alguns padres do Seminário da Torre da Aguilha. Tires era uma zona abandonada da paróquia de S. Domingos de Rana, muito anti-clerical, dominada por forte influência comunista e ateia. O P. António Pereira Rodrigues, quando professor no Seminário da Torre da Aguilha, foi o primeiro missionário de Tires. Baptizou muitos adultos e congregou a primeira comunidade cristã. Deixou muita simpatia e os antigos ainda o recordam com amizade. Seguiu-se-lhe o P. José Eurico de Azevedo, mais voltado para os problemas 822 Adélio TORRES NEIVA sociais e depois o P. António Fernando dos Santos Neves, que deixou o nome ligado ao campo de futebol de que foi grande impulsionador. A partir de 1966, Tires foi entregue ao zelo apostólico dos neo-sacerdotes do IV Ano de Pastoral da Torre da Aguilha. Foi a partir de 1972/73, quando o P. José da Fonseca Lopes veio para S. Domingos de Rana como coadjutor do P. Agostinho Pereira da Silva, que este começou a acompanhar um pouco mais de perto a comunidade cristã de Tires. Havia já ali a capela de Nossa Senhora da Graça, que aparece já descrita nas Memórias paroquiais, construída em estilo barroco, as suas linhas são simples e harmónicas. A cantaria da porta tem aduelas de verga com motivos geométricos trabalhados manualmente a escopro ou cinzel. Por cima, tem uma cornija saliente e sobre esta está implantada uma janela com moldura da mesma época adornada na parte inferior com volutas. Possui torre sineira a condizer, com motivos também em espiral, tendo aos lados da construção dois corpos de uma só água, ligeiramente recolhidos em relação à frontaria principal. No topo da fachada principal tem uma cruz de ferro trabalhada. No interior é de destacar um pequeno púlpito colocado do lado esquerdo e um coro sobre a entrada, com varandim de madeira. Quando o P. Agostinho, depois de 1972/73 começou a frequentar esta comunidade, a capela era demasiado pequena, mesmo com duas missas dominicais. Tornava-se imperativo construir uma igreja nova. Desde 1971/72 que havia sido conseguido um terreno pelo P. José Eurico de Azevedo, projecto e maquete, verba e comissão para um Centro Social que, além da igreja e do salão paroquial, incluía uma creche e um jardim de infância. O terreno para este projecto foi retirado pela Comissão de moradores em 1974, depois do 25 de Abril, numa célebre assembleia, realizada na sede da Sociedade do Primeiro de Maio, que o reclamaram para um Centro Cívico. Foi-lhes confiado o projecto mas nunca chegou a ser concretizado. A 8 de Novembro de 1971 tinha sido nomeado pelo Patriarcado, pároco o P. Joaquim Frazão dos Santos, com o encargo de ir preparando a criação de um futuro Vicariato Paroquial. Comprou-se o terreno onde se encontra hoje a actual igreja. O primeiro projecto não foi aprovado pela Câmara Municipal de Cascais. Fizeram-se novos contactos até o projecto elaborado pelo arquitecto Flores das “Novas Igrejas do Patriarcado” ser aprovado. O Patriarcado escolheu esta igreja para beneficiar do apoio estatal da ordem dos 60 mil escudos. Em 1982, a igreja estava concluída. No dia 28 de Março desse ano, D. António dos Reis Rodrigues, bispo auxiliar do Patriarcado, benzia a nova igreja. Era um passo importante para a criação da paróquia de Tires. A 17 de Julho de 1983, o Patriarcado nomeou o diácono permanente José Ângelo da Silva Serrano, para ajudar nas actividades da comunidade. No dia 31 de Maio de 1985, sendo a comunidade reconhecida com a designação de “quase paróquia”, os cristãos de Tires viram legitimadas as aspirações que vinham nutrindo desde 1983, ano em que o P. José Ribeiro Mendes foi nomeado pároco de S. Domingos e o P. Agostinho Pereira da Silva nomeado coadjutor, Ministério Paroquial 823 com responsabilidade mais directa sobre a comunidade de Tires. No dia 8 de Dezembro de 1986, D. António Ribeiro, patriarca de Lisboa, criou em Tires numa cerimónia festiva, a Paróquia de Nossa Senhora da Graça, desmembrada da paróquia de S. Domingos de Rana, nomeando seu primeiro pároco o P. Agostinho Pereira da Silva. O decreto da nomeação é de 31 de Maio de 1985. O P. Agostinho Pereira da Silva faleceu em 1997. A 19 de Setembro desse ano é nomeado Administrador Paroquial (pároco interino) o P. José Ferreira da Cunha. A 14 de Setembro de 1998 o P. José Cunha foi substituído no mesmo cargo pelo P. Manuel da Silva Martins Sebastião. A 23 de Agosto de 1999, o P. Martins Sebastião era por sua vez substituído pelo P. José de Castro Oliveira. E a 18 de Janeiro do ano 2000 é nomeado pároco o P. Domingos da Rocha Ferreira. A 30 de Agosto do ano 2000 foi celebrado um contrato entre a Congregação e a Diocese em que o Patriarcado de Lisboa confiava à Congregação a Paróquia de Tires por um período de cinco anos. A 15 de Agosto de 2001 o Cardeal Patriraca de Lisboa nomeava pároco de Tires o P. Domingos da Rocha Ferreira “in solidum” com P. José de Castro Oliveira e P. Manuel da Costa Andrade. O Centro Comunitário de Tires foi concebido em 1983 e inaugurado a 26 de Fevereiro de 1984 com o apoio do Estado, Caritas e outras entidades. Actualmente está em construção uma nova igreja em Caparide. A paróquia compreende 13 bairros e uma população estimada em 20 mil habitantes O P. Agostinho, o padre que em Tires deixou uma indelével recordação, faleceu em S. Domingos de Rana a 8 de Março de 1997. A 14 de Março de 1999 inaugurava-se com a presença do bispo auxiliar do Patriarcado D. José Alves, o presidente da Câmara de Cascais José Luís Judas e o P. Eduardo Miranda, Provincial dos Espiritanos, a Avenida P. Agostinho Pereira da Silva, artéria que liga as paróquias de S. Domingos de Rana e Tires, onde o P. Agostinho trabalhou desde 1965 até à sua morte em 1997. O nome do P. Agostinho foi também dado à Escola. Em Agosto de 2004 a Congregação entregou ao Patriarcado a paróquia de S. Domingos de Rana, para, de acordo com o seu carisma, assumir a recém criada paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda, dela desmembrada e cobrindo as áreas de Abóboda, Trajouce, Talaíde e Polima. Como seus primeiros pastores foram nomeados os PP. Veríssimo Manuel Teles e Manuel da Costa Andrade. 824 Adélio TORRES NEIVA Paróquia de Monforte (Évora) O P. José Pereira de Oliveira esteve nas missões de Angola até 1941. Neste ano, foi nomeado para a paróquia de Monforte, em Évora, onde esteve apenas um ano e meio, pois em 1943 foi nomeado Provincial, tendo então deixado a paróquia. Paróquia de Vila Nova de Cerveira Em documento de 24 de Julho de 1980,472 o P. João Alves Terças, primeiro pároco espiritano de Vila Nova de Cerveira faz-nos o historial da presença espiritana naquela paróquia e nas paróquias vizinhas. “Esta residência começou a germinar à minha chegada a Lisboa, depois da grande retirada de Angola; o então Provincial P. José Gonçalves de Araújo perguntou-me se eu queria passar seis meses em Cerveira, em substituição do pároco, P. Adelino, que queria ir por esse tempo a Roma a praticar vida comunitária. Respondi-lhe que, tendo chegado de Angola, gostava primeiro de ir passar algum tempo à família; mas, se era preciso, para lá iria. Ele disse-me que não sabia quando é que o pároco queria partir; que seguisse para a família e ele iria telefonar-lhe e dizer que se entendesse comigo; se me servisse, que aceitasse, se não que teria de procurar outro. Uns dias depois de chegar a Merufe, no princípio da semana, lá aparece o P. Adelino a pedir que me fosse pôr a par dos serviços para ele partir dois dias depois; poderia voltar a Merufe contanto que estivesse em Cerveira no Domingo a tempo de assegurar as missas nas três freguesias: Cerveira, Lovelha e Reboreda. Na residência ficava uma irmã dele e os pais. Deixou-me também o carro para as deslocações. Na altura, ele já contava com uma transferência ao regressar de Roma; desejava dedicar-se a trabalhar com a juventude. Alguns meses depois, o Sr. Arcebispo de Braga, D. Francisco, presidiu em Caminha a uma reunião do clero da zona com o de Cerveira e creio que também com o de Valença; perguntou-me então se eu não gostava de ser nomeado pároco de Cerveira. Respondi-lhe que eu era soldado e faria o que o meu comandante me mandasse. – Se assim é, eu falo com ele, disse-me. – Lá por isso, eu também lhe posso falar; daqui a uns dias devo encontrar-me com ele em Braga por ocasião do Retiro. – Então fale-lhe e diga-me alguma coisa. Nessa altura, havia dois provinciais: um a entregar a pasta e outro a recebê-la. Já foi o Sr. P. Casimiro Pinto de Oliveira, de entendimento com o P. José Gonçalves de Araújo, a dizer-me que podia aceitar, mas sem compromisso para a Congregação. Por isso, se resolvesse voltar para Angola, a Congregação não ficava obrigada a substituir-me. Comuniquei-o ao Sr. D. Francisco que se mostrou satisfeito; só me disse que, regressando a Angola, o avisasse com uns dois meses de antecedência para me substituir. Fui empossado pelo Sr. Vigário Geral. 472 Missionários Espiritanos, nº7 1980 Ministério Paroquial 825 Na altura já tinha sido anexada a Cerveira a Paróquia de Loivo em troca de Reboreda, que fora desanexada. Não tardou muito que o P. Manuel Domingues Vaz fosse também nomeado para lá. Encarregou-se dos serviços de mais perto enquanto eu ia fazendo os de mais longe com o carro. Depois da retirada da irmã do P. Adelino, ele encarregou-se também da cozinha e fê-lo com muita competência; mas é certo que isso lhe tirava muito tempo. O Sr. P. Casimiro ainda concordou em nos procurar um Irmão que se encarregasse da cozinha, canto e de alguma aula de catecismo. Foi assim que apareceu o Ir. Hilário, que não sendo cozinheiro nem propriamente mestre de música, mostrou boa vontade, ensaiou-se e conseguiu bons resultados e muitas simpatias. Por infelicidade, na festa de S. Pedro de Rates de 1977, estando a dirigir o canto com animação, sobreveio-lhe uma trombose, tendo de ser levado de ambulância da capela para o hospital. Passados alguns meses, ao grupo que tinha ficado sem o Ir. Hilário, veio juntar-se o P. Joaquim Carvalho da Cunha, também regressado de Angola. Já nessa altura tínhamos a freguesia de Reboreda que tinha ficado sem pároco e acharam que era o nosso grupo, mesmo só com dois, que estava em melhores condições para a assistir. Mas não tardou muito que o Sr. Arcebispo-Bispo de Viana do Castelo achasse que ainda podíamos tomar mais outra freguesia e entregou-nos a freguesia de Campos, sendo nomeado pároco o P. Cunha. Assim, ficamos com cinco paróquias. O P. Vaz encarrega-se especialmente de Cerveira e Lovelhe; o P. Cunha de Campos e Reboreda; e eu de Loivo, da missa vespertina de Cerveira e da assistência ao hospital. As relações com o clero têm sido boas; eles convidam-nos para vários serviços de ministério e nós fazemos outro tanto, especialmente por ocasião das festas e confissões”. Braga, 24 de Julho de 80. Com a morte do P. Terças no ano de 1981, ficaram os PP. Vaz e Cunha. Em 1996 como o P. Vaz tivesse adoecido gravemente, a Congregação devolveu Cerveira ao bispo da diocese, ficando o P. Cunha com as paróquias de Reboreda, Campos e Lovelhe. Paróquias do Algarve e Alentejo Em 1975, o Sr. Bispo do Algarve D. Ernesto Costa, escreveu ao Provincial dos Espiritanos a pedir-lhe alguns missionários, regressados de Angola, para trabalhar na sua diocese. Na sua reunião de 14 de Novembro de 1975, o Conselho Provincial mostrou-se receptivo ao pedido, pondo como condição a garantia de uma vida de comunidade o que implicava uma equipa de pelo menos dois confrades. Na sequência deste diálogo o Sr. Bispo, começou por sugerir a paróquia de Olhão, mas depois dos PP. Belarmino Galhano e Albino Costa o terem contactado, a opção foi por S. Brás de Alportel, paróquia que assumiram em 1975, continuando o antigo pároco a viver na cave da mesma casa ainda durante 826 Adélio TORRES NEIVA algum tempo. S. Brás era uma paróquia de 8.000 habitantes, distribuídos por mais de 30 “sítios” (lugares). A vila, sítio maior, contaria uns 2500 habitantes. A região outrora muito cristã, vivia agora num grande abandono da prática religiosa. Em 1981 a equipa foi substituída pelos PP. José da Cunha Duarte e Peixoto Lopes, assumindo o P. José Cunha o cargo de pároco. Ao P. Cunha sucedeu em 1992 como pároco o P. António dos Santos Moreira, e em 1997 o P. Domingos Matos Vitorino; no ano seguinte, o cargo foi reassumido pelo P. José Cunha. Vários confrades passaram pela paróquia como colaboradores do Pároco, uns mais, outros menos tempo: P. Álvaro Costa Campos, desde 1984 com alguns interregnos, Ir. Luís Augusto de Oliveira,(Ir. Amaro), P. Norberto Cristóvão, P. António Rodrigues Ferreira, P. Fernandino Cardoso Pereira, P. Ricardo Meira, P. Domingos Matos Vitorino, P. Afonso Cunha. A partir de 1984, S. Brás assumiu também a assistência à Paróquia de Santa Catarina da Fonte do Bispo. O P. Cunha apostou muito na evangelização pela música, fundando para esse efeito uma “Escola de Música” que tem tido muito impacto sobretudo entre a juventude e os adolescentes. Hoje a paróquia é assistida por três confrades PP. José Cunha, Afonso Cunha e Álvaro da Costa Campos, que assistem também a paróquia de Santa Catarina da Fonte do Bispo, a 15 quilómetros de distância. S. Brás tem mais de 80 lugares de culto ou comunidades. Além do trabalho pastoral normal numa paróquia, o P. Cunha está também muito inserido no meio cultural (Museu e Misericórdia) e o P. Afonso Cunha é professor numa escola secundária. Na paróquia trabalha também uma comunidade de Irmãs. Em 1976 o Conselho Provincial decidiu que os PP. Joaquim Cunha e Francisco Valente assumissem as paróquias de Alcoutim, Martim Longo, Giões e Pereiro também na diocese de Faro. O P. Valente deixou a paróquia ainda nesse ano de 1976 e para o substituir foi enviado o P. Tarcísio Santos Moreira, que partiu também logo no ano seguinte. Então o P. Joaquim Cunha ficou sozinho, fazendo comunidade com os confrades de S. Brás de Alportel, mas em 1978 a paróquia de Alcoutim era de novo devolvida ao bispo da diocese e o P. Cunha irá paroquiar para Vila Nova de Cerveira, no Alto Minho. Também ainda em 1976 a Congregação assumiu a paróquia de Alte e Benafim, para onde foram colocados os PP. Francisco Valente, vindo de Alcoutim e o P. Guilherme Ribeiro. No ano seguinte, o P. Guilherme deixava Alte, sendo substituído pelo P. Henrique Alves. A saúde do P. Henrique não lhe permitiu ficar lá por muito tempo, pelo que em 1978 teve que abandonar a paróquia. Foi então ali colocado o P. Avantino de Sousa e o Irmão Amaro. O P. Valente e o Ir. Amaro deixaram Alte em 1981, data em que a paróquia foi de novo entregue à diocese. Outra paróquia que a Congregação assumiu no Algarve foi Santa Catarina da Fonte do Bispo. Assumimos a paróquia em 1981, sendo ali colocados o P. Francisco Valente e Ir. Amaro de Oliveira. Em 1984 a Congregação entregou a Ministério Paroquial 827 paróquia ao Bispo, passando então a ser assistida pelos padres de S. Brás de Alportel. O Ir. Amaro foi para S. Brás, onde se intensificou a presença da Congregação, sobretudo no campo da animação missionária do Algarve, e o P. Valente foi para o Fundão. Durante um breve período de tempo, o P. José Cunha, a pedido do bispo, assumiu também em 1991 a paróquia de Olhão. A paróquia tinha apenas um centro de culto e uma sala de reuniões e esteve sem pároco durante dois anos. O P. Cunha começou por acumular a paróquia de Olhão com a de S. Brás de Alportel. Depois, para dar uma assistência maior, radicou-se ali, para o que foi necessário adquirir um pequeno apartamento. S. Brás ficou confiada aos PP. António Santos Moreira e António Rodrigues Ferreira, tendo o P. Afonso Cunha acompanhado o P. José Cunha para Olhão. Em Olhão, o P. Cunha teve que relançar e restaurar praticamente todas as estruturas para que a comunidade pudesse funcionar. Mas em 1998 regressaram a S. Brás de Alportel, sendo Olhão de novo entregue ao Bispo da diocese. O Conselho Provincial de 26 de Fevereiro de 1976 decidiu também assumir duas paróquias no Alentejo: Ermidas do Sado e Alvalade, na diocese de Beja. Ali foram colocados os PP. José Martins Salgueiro e António Correia Andrade. Mais tarde para ali foram enviados também o P. Carlos Ferreira e o Ir. Porfírio. Em 1981 era pároco o P. Carlos Ferreira que acumulava o cargo de professor na Escola Preparatória sita nas instalações da Torre da Aguilha. Em 1982, o P. Carlos Ferreira é dispensado da sua actividade paroquial e assume o múnus de pároco o P. Joaquim Pereira Francisco. O cargo de pároco passou depois para o P. José Martins Salgueiro, coadjuvado pelo Irmão João Vieira da Cruz. Depois de um intenso labor apostólico e cultural ali levado a cabo por esta equipa, em 1985 a paróquia foi entregue de novo ao Bispo de Beja473 Outras Paróquias Em 1976 a paróquia de Vilarouco, Valongo dos Azeites e Pereiro, na diocese de Lamego, foi confiada aos PP. Carlos Ferreira e Norberto Cristóvão. Deixaram as paróquias no ano seguinte, em 1977, por incompatibildade de aceitação de determinadas condições vindas da parte da diocese. Os PP. António Moreira e António Martinho tomaram posse da paróquia de Freixo de Espada à Cinta em 1976; deixando-a no ano seguinte, 1977. Em 1976, o P. Altino Cepeda Coelho assumiu as paróquias de Fontelas e Oliveira, na diocese de Vila Real, ficando a viver ligado à comunidade de Godim, cargo que exerceu até 1986, ano em que a paróquia foi de novo entregue ao Bispo da diocese.474 Em 1982 o P. Guilherme Ribeiro assumiu a paróquia de Santa Marinha de Portela, em Famalicão, ficando ligado à comunidade do Fraião. Ali permaneceu até ao seu falecimento. 473 474 Conselho Provincial de 14/15 de Jan de 1985 Ibid. Reunião de 25/05/1986 828 Adélio TORRES NEIVA Em 1978 o P. Joaquim Martins assumiu as paróquias de Seixezelo e Sermonde, Gaia, a pedido do Bispo do Porto, duas das paróquias mais pequenas do concelho de Gaia. A primeira conta 1720 pessoas e a segunda 1054. Hoje o P. Joaquim Martins tem a seu cargo apenas a paróquia de Seixezelo. O P. Manuel Sequeira Teles, por proposta do Bispo de Vila Real, assumiu em 1985 as paróquias de Pensalvos e Parada de Monteiros, na diocese de Vila Real, ficando a residir na “Casa Rústica”, da Congregação, em Pedras Salgadas. O P. António Sobral assumiu as paróquias de Touça e Sebadelhe, na diocese de Lamego, em 1976, deixando mais tarde Sebadelhe. O P. Delfim da Silva Pedro assumiu a paróquia de Alhais e outras nas suas redondezas, que deixou em 1981. O P. Teixeira assumiu em 1976 as paróquias de Santa Maria de Émeres e Àgua Revés, no concelho de Valpaços, paróquias em que esteve até à sua morte. O P. Álvaro Soares em 1970 assumiu o ministério paroquial na Vergada, no concelho de Santa Maria da Feira, que foi criada paróquia em 7 de Agosto de 1972. O P. Antero Reis sucedeu ao P. Álvaro Soares na mesma paróquia, a 30 de Novembro de 1984 até à data do seu falecimento em 19 de Julho de 2003. 829 Capítulo 90 A Missão espiritana entre os imigrantes O ministério dos espiritanos portugueses junto dos emigrantes de expressão portuguesa ganhou expressão sobretudo depois da revolução de 25 de Abril de 1974. Nesta altura um grande número de missionários regressou de Angola e foi necessário encontrar trabalho para eles, pelo menos até que pudessem regressar ao seu campo de missão. Nesse sentido a Província manifestou a sua disponibilidade para, segundo as capacidades e disposições dos confrades, alargar o seu campo de acção. Um grupo optou pelo Brasil, outro por paróquias em Portugal e outro mostrou-se disponível a trabalhar entre os emigrantes de expressão portuguesa. Para os mais novos sobretudo abrir-se-iam novos campos de missão de primeira evangelização. As regiões de emigração que os espiritanos privilegiaram foram: os Estados Unidos, o Canadá e a Europa. OS ESPIRITANOS PORTUGUESES NOS ESTADOS UNIDOS Os primeiros contactos Toda a Nova Inglaterra tem uma população de acentuada descendência portuguesa. Nas cidades de Fall River e New Bedford (Mass.), ainda hoje, entre 50 e 75 % da população é bilingue. A imigração cresceu no fim do século XIX e tornou-se maciça nas primeiras décadas do século XX. Os imigrantes portugueses são açoreanos e continentais e da ex-colónia de Cabo Verde. Em 1908, D. Mateus Harkins, bispo de Providence, R.I. pediu aos Espiritanos americanos para lhes enviarem espiritanos portugueses. Os espiritanos idos foram irlandeses que tinham estado em Portugal. Chegou a haver 12 paróquias espiritanas. O único espiritano português a ir para a América, foi o P. Manuel Joaquim Barros, um transmontano de Vila Flor, em 1910. Foi-lhe confiada a missão de Santa Catarina em Little Compton. O P. Barros acabaria por se tornar sacerdote diocesano de Providence e em 1922, é encarregado de fundar a paróquia de Santo António em Pawtucket (1926), após ter fundado a de Sto. António em Portsmouth. Por sua vez, a emigração cabo-verdeana para a América teve o seu início com os pescadores, sobretudo os originários da Ilha Brava, que para lá começaram a emigrar por volta de 1895 nos “barcos de pesca à baleia” que costumavam rondar as ilhas de Cabo Verde. Desde então para cá o fluxo nunca mais estancou. Na 830 Adélio TORRES NEIVA cidade de Providence, a capital do Estado Rhode Island, e sede da diocese, a Igreja fundou a Obra dos Negros, sediada no Centro Social de S. Martinho de Porres, em que quiseram incluir também a etnia Cabo-verdeana. Cada etnia procura conservar as tradições a que se habituou e não abdica da sua identidade, pretendendo também ter a sua igreja nacional, os seus clubes e centros de recreio, como acontece com os irlandeses, italianos, polacos, portugueses, hispânicos, etc. A respeito de Cabo Verde, este fenómeno acentuou-se ainda mais após a independência em 1975. Foi pelos fins de 1969 que os PP. José Maria de Sousa e António Figueira Pinto visitaram os Estados Unidos com o objectivo de angariar fundos para os seus projectos pastorais em Cabo Verde: o P. José Maria pensava num pequeno colégio-seminário na cidade da Praia e o P. Figueira num Centro Social para a paróquia da Praia, onde os dois residiam. O P. José Maria voltou aos Estados Unidos em 1970, 1972 e 1974 com a mesma finalidade. Efectivamente, com a ajuda dos recursos conseguidos, refez-se completamente como residência espiritana o antigo Bar Benfica, anteriormente comprado, e o P. Figueira criou o Centro Social da Paróquia da Praia, ao tempo, um dos edifícios mais valiosos da cidade. Em 1974, o P. José Maria aproveitou a sua viagem aos Estados Unidos para estudar Arte, Música e Antropologia na Brown University e Sociologia e Psicologia na Rhode Island University. Com estes contactos ia germinando a ideia de fundar uma obra de assistência apostólica aos cabo-verdeanos dos Estados Unidos. De resto, havia já um pedido do Bispo de Providence para se assumir esse trabalho. Com a revolução de 25 de Abril de 1974, foram os espiritanos de Cabo Verde a insistir com o P. José Maria para aceitar esse ministério, pois com as mudanças que a revolução provocaria era difícil prever o futuro. Foi neste ano de 1974 que o bispo de Providence (Estado de Rhode Island) dirigiu um pedido aos superiores espiritanos de Roma, Portugal e Cabo Verde, no sentido de o P. José Maria ficar a trabalhar na pastoral da Comunidade caboverdeana. Em 1975 o P. José Maria é nomeado para assistente na paróquia portuguesa de Santa Isabel, em Bristol, diocese de Providence, com o fim pastoral de visitar os hospitais e contactar com os cabo-verdeanos. O contrato era feito por um período de três anos renováveis. Mas como aqui poucos cabo-verdeanos havia, pelos fins de 1975, após um breve destacamento para Narragansett, o P. José Maria conseguiu ir morar para o bispado, onde se sentiu mais livre para a pastoral dos emigrantes de Cabo Verde, que viviam na cidade de Providence e arredores. O projecto de uma paróquia cabo-verdeana Foi a partir de Fevereiro de 1977 que o P. José Maria, agora com residência na paróquia portuguesa de Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Providence, pôde começar um trabalho mais intenso com os cabo-verdeanos, procurando A missão espiritana entre os imigrantes 831 com efeito organizar uma comunidade eclesial. A diocese apoiou-o. O P. José Maria começou então a celebrar a Eucaristia no salão da Paróquia portuguesa de Santo António, em Pawtucket, fundada pelo P. Barros em 1926, celebração que contou com grande afluência de cabo-verdeanos. Em 1977, por decisão do Conselho Provincial de Portugal de 26 de Fevereiro de 1976, o P. António Figueira Pinto era nomeado para a diocese de Fall River, para trabalho pastoral numa paróquia portuguesa de New Bedford. Na sua reunião de 9 de Dezembro de 1977, o Conselho Provincial autoriza os PP. Arlindo Areia Amaro, que acabava de deixar Dacar, e o P. Joaquim Pereira Francisco a partirem para os Estados Unidos. Os PP. Figueira Pinto e Arlindo Amaro foram acolhidos na paróquia de Monte Carmelo, uma paróquia de 15.000 portugueses em New Bedford, cujo pároco era Mons. Luís Mendonça. Na diocese de Fall River não foi possível obter uma paróquia para cabo-verdeanos. Os esforços vão voltar-se então para Providence, onde se estimava viverem mais de 9 mil cabo-verdeanos muito dispersos. Durante o tempo em que estiveram na paróquia do Monte Carmelo, os dois colaboraram na missa dominical, que era transmitida via TV e rádio, a partir daquela igreja portuguesa. O P. Arlindo deu início a um programa semanal num canal português de televisão por cabo, que estava a ensaiar os primeiros passos. Levou ainda a efeito vários programas como. “Aí vem o Natal”, “ Caminhos de Deus, caminhos dos homens”, “Ao fechar o dia”, etc. O P. Arlindo lançou ainda um movimento de jovens (“Geração Nova”), organizou alguns grupos de casais e deu o curso “Deus fala aos homens”. As 542 famílias da comunidade cabo-verdeana começam a sentir a necessidade de instalações próprias. Providencialmente, é posta à venda, uma sinagoga com espaço para 800 pessoas sentadas e uma cripta com a mesma área. O templo judaico “Shalom” é comprado em 13 de Junho de 1979 com dinheiro adiantado pela diocese. A 12 de Outubro de 1979 foram entregues as chaves da sinagoga. O Capítulo Provincial de 1978 considerou Cabo Verde como uma prioridade da Província sendo o trabalho com os imigrantes cabo-verdeanos considerado como uma extensão do trabalho da Congregação em Cabo Verde. Efectivamente, com o regresso a Portugal de muitos espiritanos que trabalhavam em Angola, depois da revolução de Abril de 1974, o Provincial mostrava-se aberto a apelos que vinham de outras áreas de missão, tais como a dos emigrantes de Portugal no estrangeiro e a dos emigrantes que saíam dos países onde os espiritanos trabalhavam, deslocando-se para a América do Norte e Europa. Após três anos de trabalho experimental com os cabo-verdeanos, sem lugar próprio, foi criada a 12 de Agosto de 1979, pelo Bispo de providence, D. Luís Gelineau, a nova paróquia do Imaculado Coração de Maria, sendo o seu pároco o P. José Maria de Sousa. A antiga sinagoga foi abençoada pelo Bispo e dedicada ao Imaculado Coração de Maria em atenção à devoção dos cabo-verdeanos a Nossa Senhora da Graça e ao facto de ser uma iniciativa da Congregação do Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria. A comunidade cabo-verdeana 832 Adélio TORRES NEIVA estava espalhada geograficamente por três zonas: Pawtucket, Providence e East Providence, por onde o P. José Maria tinha andado em visita às famílias e percorrendo as casas com uma imagem do Imaculado Coração de Maria. Casa dos Espiritanos e reitoria Os três padres espiritanos encontravam-se regularmente todas as terças-feiras. A necessidade de obter uma casa própria, onde pudessem conviver tornava-se cada vez mais evidente. De resto esta casa poderia servir para acolher estagiários e confrades que desejassem frequentar cursos nas universidades da área. Seria impossível aos cabo-verdeanos comprar, ao mesmo tempo, uma igreja e uma reitoria. E assim começaram a procurar uma casa que servisse de reitoria. As “poupanças” até aí feitas seriam uma boa base para a compra. Depois de muito procurar apareceu no mês de Abril de 1979 uma casa que oferecia condições muito superiores às daquelas que antes tinham encontrado. E foi assim que o P. Figueira comprou a casa em nome da Província, cujo “Promissory Note” foi assinado pelos PP. Figueira e Arlindo a 18 de Maio de 1979, que ficou a servir de residência paroquial O P. José Maria de Sousa foi convidado pelos bispos de Angola a fazer apelos missionários em favor da CEAST. Tendo ido residir para Bóston, foi nomeado para o substituir na paróquia, em 1981, o P. António Figueira Pinto, coadjuvado pelo P. Joaquim Pereira Francisco. O P. Arlindo Areia Amaro, depois de um tempo em New Bedford, foi convidado em 1981 pelo bispo auxiliar da diocese de Nova York para ser o responsável pelos movimentos laicais dos emigrantes, tendo-se dedicado aos emigrantes mais abandonados, primeiro em Nova York e depois também em New Jersey a convite do Arcebispo de Newark. Como havia deixado em Massachussetts alguns grupos de jovens e casais, o P. Arlindo continuou a assisti-los, visitando-os uma vez por mês. O grupo de Ossining, em New York, garantiu sobretudo através da família Carvalho, o sustento e o alojamento do P. Arlindo. O Arcebispo de Newark, mais tarde, concedeu-lhe uma compensação e pôs à sua disposição um convento. Foi neste convento que se realizou a 2ª Páscoa Missionária. A primeira tinha sido realizada no convento das Irmãs do Bom Pastor, em Ossining. Nas duas Páscoas participaram leigos dos diferentes grupos de Massachussetts, New York e New Jersey. Após dois anos de actividade missionária e de formação intensiva de leigos, em paróquias e grupos da zona de New York, o P. Arlindo veio para Portugal, por insistência do Provincial. Em 1988 o P. Francisco vem de Ludlow para Central Falls, como assistente do P. Figueira e ficando a substituí-lo na sua ausência. Algum tempo depois, em 1991, o P. Figueira, com a saúde muito abalada, regressa a Portugal. Em 1997 o P. Arlindo Amaro regressa aos Estados Unidos, assumindo a paróquia do Imaculado Coração de Maria em Central Falls, onde ainda trabalha. O P. Francisco ficou a seu assistente mas seis meses depois, regressou a Portugal. A missão espiritana entre os imigrantes 833 OS ESPIRITANOS PORTUGUESES NO CANADÁ O Contexto do compromisso da Província Portuguesa com os emigrantes do Canadá Na sequência dos acontecimentos decorrentes da revolução de 25 de Abril de 1974, muitos confrades portugueses que trabalhavam em Angola, regressaram a Portugal. O Conselho Geral, consciente das dificuldades que necessariamente se iriam colocar com este regresso maciço dos confrades de Angola, pediu a solidariedade de toda a Congregação em ordem ao acolhimento e colocação destes confrades. Foi então que a Província do Trans-Canadá, em carta datada de 13 de Novembro de 1975, do então provincial Fr. Michael Doyle, manifestou total disponibilidade para receber alguns confrades, vindos de Angola, comprometendo-se a acolher os mais idosos e encontrar trabalho, junto dos emigrantes portugueses para os ainda capazes. Algumas condições foram desde logo estabelecidas: disposição de fazer parte da Província do Trans-Canadá, disponibilidade para receber nomeação do superior provincial desta circunscrição e do seu conselho; abertura para aprender o inglês e absorver os hábitos e a cultura do país e da Igreja do Canadá, estar preparados para observar as normas locais no tocante a finanças, inclusive a contribuição normal a esta Província e suas obras. Em Julho de 1976, o Provincial do Trans-Canadá, em carta ao Provincial de Portugal, P. Casimiro Pinto de Oliveira, fala do encontro que tiveram no Conselho Alargado e manifesta o seu contentamento por ver que será possível a vinda de confrades portugueses para o Canadá. Concretamente, refere que o nome do P. Amadeu Venâncio Pereira foi proposto à diocese de Toronto, para poder trabalhar numa das várias paróquias portuguesas de Toronto. Conforme testemunho do P. Amadeu, isto terá sido já também influência da passagem na casa provincial da Estrela, do bispo D. Aloisius Ambrosic mais tarde cardeal de Toronto, a solicitar o envio de espiritanos para o trabalho com os emigrantes portugueses. Na verdade, o P. Amadeu foi abordado directamente pelo Provincial, em Lisboa, após circular que este escreveu aos confrades, colocando o Canadá como hipótese de trabalho para alguns deles. Depois foi tratar da burocracia em ordem a poder entrar no Canadá, o que aconteceu em meados de Maio de 1977. Comunidade portuguesa de S. Pedro O primeiro trabalho pastoral do P. Amadeu foi na igreja de S. Pedro (Bathurstt e Bloor), na cidade e diocese de Toronto, que então tinha comunidades inglesa, italiana, portuguesa e espanhola. Na igreja de S. Pedro, as preocupações pastorais do P. Amadeu Pereira foram em várias direcções. A prioridade foi a organização da catequese e a assistência ao “movimento familiar cristão” e ao “renovamento carismático”. Responsável 834 Adélio TORRES NEIVA embora da comunidade portuguesa, colaborava com as outras quatro comunidades. Motivou a comunidade portuguesa para a compra de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, o que deu origem à procissão em honra da mesma. Começou uma irmandade do Divino Espírito Santo, o que implicou a realização do cortejo do mesmo. A comunidade dos PP. Paulistas, a quem estava entregue a paróquia, nunca oferecera um quarto para descansar. O alojamento fazia-o o P. Amadeu na casa espiritana, a Laval House, em Victoria Park, a uma hora de caminho. Só no fim de seis meses, a Província que o acolheu lhe deu um carro em segunda mão. O compromisso com S. Pedro durou seis anos e meio. Nos últimos seis meses, passou o P. Amadeu a dormir no Carabean Centre-Our Lady of Good Counsel – comunidade entusiasta e com pujança e entregue a um confrade espiritano. Santa Maria dos Anjos Em 28 de Setembro de 1983, o P. Amadeu foi nomeado para Santa Maria dos Anjos como “associate pastor” e “missionary chaplain for the portuguese people”. Estava previsto que fosse uma paróquia portuguesa e foi combinado que seria entregue aos Missionários do Espírito Santo. Tal só aconteceu três anos e meio mais tarde quando de lá saíu o P. Amadeu. Entretanto, a ele se havia juntado o P. Francisco Medeiros Janeiro, em Setembro de 1983 e o P. João Crisóstomo em Setembro de 1985, vivendo todos em Santa Maria dos Anjos. O P. Janeiro ficou desde o primeiro momento com o encargo pastoral de S. Pedro, em substituição do P. Amadeu. Em carta de 2 de Fevereiro de 1984, o Provincial de Portugal, P. Manuel Durães Barbosa, na sequência da ida do P. Janeiro para Toronto, escreve a fixar as orientações que havia acordado com o P. Bernard Kelly, Provincial do Trans-Canadá. Eis alguns dos pontos então referidos: os confrades portugueses ficam afectos à província do Trans-Canadá, tal como os confrades portugueses em Espanha, entendendo-se com o Provincial local para tudo; mantêm a ligação com a província de origem com seus direitos e deveres; será aberta uma conta no economato provincial do Trans-Canadá, donde um montante a combinar com o provincial local, será versado na Casa Generalícia, como ajuda à Província Portuguesa.475 Durante este tempo de permanência em Santa Maria dos Anjos, foi o P. Amadeu nomeado cumulativamente administrador paroquial de S. Sebastião por uns oito meses, quando faleceu o pároco P. António Arruda. Muitas vezes foi o P. João Nogueira que se deslocou a São Sebastião para realizar o trabalho paroquial em substituição do P. Amadeu. Paróquia de Santa Inês Em 27 de Junho de 1986 foi a mudança para a paróquia de Santa Inês. Os três 475 Carta de 2 de Fevereiro de 1984 A missão espiritana entre os imigrantes 835 espiritanos viviam em comunidade. No dizer do P. Amadeu, em Santa Inês, encontrou “terra queimada”. Todas as estruturas da paróquia ruíram com a saída do P. Antero Melo, pároco anterior. Na residência nem um prato para comer, nem um lençol para colocar na cama. Em termos de pastoral, foi necessário recomeçar tudo de novo: Coral, Leitores, Vicentinos, Colectores, Cruzada, Filhas de Maria, Associados do Coração de Jesus e Maria, Irmandade do Espírito Santo, comissão de festas do Senhor da Pedra. Hoje, à sombra da igreja há também a banda de música “Lira de Nossa Senhora de Fátima”, “grupo folclórico de cantares e bailares de S. Miguel” e ainda o grupo musical “Searas de Portugal”. Entretanto, novas iniciativas e novos movimentos apostólicos foram surgindo na paróquia: cursos de formação para pais e padrinhos, duas vezes por mês; cursos de noivos, duas vezes por ano; grupo familiar cristão; cursos bíblicos de formação cristã...Nesta paróquia, fruto do trabalho criativo do P. João Mónico foram editados alguns subsídios de apoio: “oração de cada dia na comunidade e na família”, um livro de Vésperas e Laudes que o povo reza antes das missas da manhã e da tarde, um Manual de Baptismo para pais e padrinhos e um Manual de preparação para o matrimónio, para noivos. A catequese paroquial era assegurada por cerca de trinta catequistas e a assistência pastoral a duas escolas católicas. No ano de 1999, realizaram-se três turnos de primeiras comunhões, com um total de 130 crianças e três turnos de crismas, o que faz um total de 150 crismandos. Outros números do movimento paroquial anual: 160 baptismos, 70 casamentos e 90 funerais. Dominicalmente há cinco missas: uma em inglês e quatro em português. Os espiritanos participam nas reuniões do Conselho Pastoral Português e em encontros sectoriais promovidos pelo mesmo e em reuniões de âmbito diocesano. A 19 de Setembro de 1988, o P. Alberto da Fonseca Lopes é nomeado “associate pastor” de Santa Inês, após a sua vinda do distrito do Brasil SE. O P. Alberto deixou, por vontade expressa Santa Inês para ir para Portugal em 1995. Regressando a Portugal para trabalhar na formação a partir de Setembro de 1989, o P. João Nogueira é substituído pelo P. João Mónico que chegou a Santa Inês a 11 de Janeiro de 1990. Paróquia de Santa Maria em Hamilton Em carta de 1 de Junho de 1988, o provincial do Trans-Canadá, P. Bernard Kelly dá conta de uma reunião, realizada a 20 de Abril de 1988 em Santa Inês com a presença dos três espiritanos portugueses: PP. Amadeu Pereira, Francisco Janeiro e João Nogueira. Houve acordo com a mudança de residência do P. Janeiro para Caribbean Center, continuando com o encargo pastoral da igreja de S. Pedro. Tal aconteceu a 18 de Maio de 1988. Entretanto, por essa altura, o mesmo P. Francisco Janeiro comunicou ao Provincial que gostaria de assumir uma paróquia portuguesa em Hamilton. O Provincial e o arcebispo de Toronto D. Ambrozic, ambos eram de opinião de 836 Adélio TORRES NEIVA que seria imprevisível quando é que o P. Janeiro poderia ser nomeado pároco responsável pastor em Toronto e por isso, não havia hipótese de impedir a ida daquele confrade para Hamilton, em resposta ao pedido do bispo daquela diocese. Entretanto, em Abril de 1999, tomava posse da paróquia de Oskville, diocese de Hamilton, o P. Fernando Henrique Ferreira Pinto, ali chegado directamente do Brasil, de entendimento com o bispo de Hamilton e com o superior do Distrito do Brasil SE. Avaliação da presença espiritana A 13 de Maio de 1999 o provincial de Portugal P. Eduardo Miranda teve um encontro com o P. John Geray (provincial do Trans-Canadá em exercício) e P. Joe Fitzpatrick (provincial nomeado), em que foi feita uma avaliação da presença dos espiritanos portugueses no Canadá. Foi manifestado apreço pela integração dos espiritanos portugueses na vida da Província do Trans-Canadá, onde estão na condição de afectados àquela Província. Isto passa pela participação em momentos fortes como assembleias, retiros, jubileus dos confrades, etc. Do salário que os espiritanos portugueses recebem contribuem com um tanto para o funcionamento normal da Província e fundo da terceira idade da Província. Sem valores fixos, é versado na casa Generalícia em Roma um montante, com destino à Província portuguesa. Foi igualmente referido o trabalho pastoral e a proximidade das pessoas. Na comunidade de Santa Inês vivem e trabalham os PP. Amadeu Pereira e João Mónico e uma leiga associada Maria Cândida da Silva Igreja, que governa a casa e colabora na pastoral. Na paróquia de Santa Maria em Hamilton, está o P. Francisco Janeiro e na paróquia de Oakville está o P. Ferreira Pinto. Quanto à continuidade da presença portuguesa naquele campo de apostolado, segundo o ciclo normal da migração por estas terras, a segunda e a terceira gerações não se fixam onde viveram e vivem os pais. Buscam para habitação as periferias mais arejadas. A consequência é o envelhecimento das comunidades. Isto é muito nítido no caso de Santa Inês. Daí que o investimento de confrades neste projecto mereça um sério discernimento, no qual entram as pessoas envolvidas e a Igreja local. OS ESPIRITANOS PORTUGUESES NA ALEMANHA E NA FRANÇA Foi no quarto trimestre de 1965 que apareceu pela primeira vez, em Hamburgo, um sacerdote para colaborar com a igreja local na pastoral dos fiéis de expressão portuguesa. Era o P. Vicente Miranda, natural de Goa. A ele couberam os primeiros contactos com os portugueses espalhados pela Alemanha do Norte, desde a Holanda a Berlim, desde a Dinamarca a Gotingen. Chamava-se “Missão Católica Portuguesa da Alemanha do Norte”, com sede em Hamburgo. A missão espiritana entre os imigrantes 837 O P. Vicente Miranda trabalhava arduamente com dificuldades de toda a espécie, até aos fins de 1970: celebrava no primeiro domingo do mês em Hamburgo, no segundo em Billstedt, no terceiro em Reinbek e em Harburg, ficando com o quarto domingo livre para girar por outras terras. Estruturas paroquias não havia e a colaboração com a Assistência Social da Caritas tinha sido tentada, mas sem resultado. No dia 8 de Fevereiro de 1971, a Conferência Episcopal Portuguesa mandou para a Alemanha o P. José Eurico de Azevedo, que chegou a 16 do mesmo mês e foi aceite pelo bispo de Hildesheim a 1 de Abril. Mas a Missão para os católicos de expressão portuguesa de Hamburgo e do Schlewig-Holstein só a 8 de Março de 1974 foi oficialmente criada pelo bispo de Osnabrucke; um pouco mais tarde, o bispo de Hildesheim estendeu a sua jurisdição ao norte da sua diocese. A primeira iniciativa do P. Eurico Azevedo que, pela primeira vez, celebrou em Hamburgo para os portugueses no primeiro domingo de Março de 1971, foi criar um núcleo com todas as estruturas paroquiais possíveis, em S.ta Maria de Hamburgo, passando a haver ali, missa todos os domingos. Aos poucos, foi-se organizando a catequese e a assistência social na mais íntima e eficaz colaboração com Caritas. A sua acção estendeu-se depois ao campo cultural, dando-se cursos de iniciação de língua alemã e de alfabetização. Ainda em 1971, o pároco escolheu entre os leigos mais dedicados à pastoral o seu Conselho, que havia de tornar-se o embrião do futuro Conselho Paroquial, eleito por toda a comunidade, pela primeira vez em 1975. A vida paroquial foi-se desenvolvendo e na Sexta-Feira Santa de 1972, já a catedral foi pequena para comportar toda a gente que acorreu à celebração penitencial, presidida pelo pároco P. Lourenço de Munster, assistido pelos PP Prata de Drtmund e Carlos Ebner. Aos poucos, esta estrutura paroquial estendeu-se a Harburg e a Glinde, onde passou a haver também todas as estruturas paroquiais, a começar pela Santa Missa todos os domingos e pela eleição de um Conselho Paroquial autónomo. Foi a partir daí que se organizaram cursos de formação e cultura religiosa, fundou-se uma Escola Complementar de Português e de Cultura Portuguesa, para fomentar o reagrupamento familiar, a visita aos doentes aos hospitais, os conselhos paroquiais e os animadores dos grupos de jovens. A missa ao domingo passou a ser celebrada em Hamburgo-Harburg, e à vez em Glinde, Wahlsted e Lubeck. O P. Eurico assistia além dos 8000 portugueses de Hamburgo, os 1200 de Hannover, os 1350 de Bremen e os 2000 no SchleswuigHlstein, até os P. José Simões ter ido para Bremen e o P. Assis Sousa Pinho para Hannover. A Escola Complementar de Português e de Cultura Portuguesa começou a funcionar a 22 de Janeiro de 1973 e é frequentada por perto de 500 alunos, divididos por 23 grupos e ensinados por seis professores. Além desta escola, a missão promove ainda cursos de profissionalização, cultura, folclore, etc.. 838 Adélio TORRES NEIVA Além de Hamburgo, houve ainda capelães em Mainz, onde esteve o P. Salavdor Cabral, em Hannover, onde esteve o P. Assis Gomes de Sousa Pinho e em Bremen, onde esteve o P. José dos Santos Simões. O P. Salvador Cabral esteve em Mainz desde 1973 a 1994, O P. José dos Santos Simões esteve em Bremen desde 1975 a 1979; o P. Assis Gomes de Sousa Pinho missionou em Hannover, na Baixa Saxónia, desde 1976 até ao dia da sua morte a 29 de Março de 2003. O Provincial de Portugal chegou a propor a criação de uma comunidade regional que reunisse estes quatro confrades, mas esta comunidade não chegou a ser verdadeiramente activada. Na sua reunião de 3 de Julho de 1976, o Conselho Provincial aprovou o pedido do P. José Martins Vaz para ser enviado para Metz, na França, a fim de assistir por um ano, os emigrantes de língua portuguesa, naquela região. Depois, a licença foi renovada e o P. Martins Vaz lá esteve até que regressou à Província no ano 2001. 839 Capítulo 91 A Animação Missionária: L. I. A. M. U ma das finalidades dos Institutos Missionários é despertar o povo cristão para a dimensão missionária da sua fé. Esta preocupação esteve presente na vida da Província desde o início, procurando a colaboração do povo de Deus para a actividade missionária por meio da oração e do sacrifício, da promoção vocacional e do auxílio material. Como órgão desta preocupação, o primeiro provincial, depois da restauração da Província lançou a revista Missões de Angola e Congo bem como a Associação de Nossa Senhora de África para a conversão dos infiéis. Em 1937 foi lançado um novo movimento que daí para a frente iria acompanhar e canalizar todas as iniciativas da Província, referentes à animação missionária: a Liga Intensificadora da Acção Missionária (LIAM). Nascida a 13 de Maio de 1937, em Fátima, a partir do pequeno jornal “Entre Nós”, foram seus fundadores o P. Agostinho Lopes de Moura, José Felício e Augusto Teixeira Maio. Tinha como objectivo “despertar a consciência missionária colectiva, mobilizar a múltipla generosidade Fundadores de LIAM cristã nacional a favor da mais importante e mais santa de todas as obras católicas, a obra missionaria”. Só pouco a pouco é que se foram descobrindo e clarificando os caminhos a seguir e os meios a empregar. A evolução do nome da LIAM — começou por ser LAMES (Liga de Auxílio às Missões do Espírito Santo), passou depois para LIMES (Liga Intensificadora das Missões do Espírito Santo) até se fixar em LIAM (Liga Intensificadora da Acção Missionária) — mostra também as opções e a consolidação das linhas de força que viriam a ser consagradas nos seus estatutos. Esta evolução vai no sentido de alargar a colaboração material à cooperação espiritual e de passar das missões do Espírito Santo para toda a actividade missionária da Igreja. As suas linhas de força, mais tarde, assumidas pelos Estatutos eram: - apostolado missionário pela oração - apostolado missionário pela acção 840 Adélio TORRES NEIVA - compromisso na promoção vocacional, nomeadamente nas vocações missionárias - propaganda missionária através da imprensa missionária, sobretudo do jornal “Acção Missionária”, campanhas e iniciativas, sessões de estudo, festas, vigílias de oração. Começando pela Liga Missionária dos estudantes de Coimbra, o movimento depressa irradiou por colégios, seminários, estabelecimentos de ensino, escolas, paróquias. Em 1964 eram já 270 os núcleos da LIAM, espalhados por todo o Portugal, 3.900 os propagandistas, 57.000 os assinantes do jornal “Acção Missionária” e 3.152 os zeladores da Associação de Nossa Senhora de África, e 21 mil os seus associados. O método consistia em criar um núcleo de animação missionária, inserido na igreja local, no colégio ou no seminário, que irradiava para todo o ambiente. O movimento alastrou para os Açores, Angola, Cabo Verde e Moçambique. Os estatutos foram aprovados individualmente pelos bispos portugueses, a partir de 1948. Os números actuais da LIAM apontam cerca de 300 núcleos, 25 mil assinantes da Acção Missionária, 7.500 do Encontro, Almanaque das Missões (tiragem de 150 mil), Calendário da Acção Missionária (150 mil) e Agenda da LIAM (60 mil), Livro das Reuniões (10 mil). Ultimamente, por ocasião do Ano Jubilar espiritano, a 1 de Julho de 2003, os novos Estatutos foram aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa. De mão em mão O P. Agostinho de Moura foi colocado em Lisboa em 1941 para se dedicar a tempo inteiro à animação missionária; nesse mesmo ano era transferido também para Lisboa o jornal “Acção Missionária”. Em 1943 era estabelecida também em Lisboa a chamada “Obra da Propaganda” dos Missionários do Espírito Santo que se viria a identificar com a LIAM. Dela ficavam a fazer parte, conforme dissemos já, os padres Agostinho de Moura, como seu director, José Felício para a animação exterior, Francisco Nogueira da Rocha para secretaria e António Brásio para a revista que iria ser relançada “Portugal em África”. Em Janeiro de 1945 era integrado na obra o Sr. Manuel Rodrigues Teixeira, que viria a assumir o cargo de chefe da administração. Nesse mesmo ano de 1945, o P. José Felício, que era quem mais se movia na animação exterior, era nomeado subdirector da LIAM. Em 1947 são incorporados na obra os PP. Henrique Alves e Augusto Teixeira Maio, um dos liamistas da primeira hora e cuja presença seria muito marcante na LIAM. O P. Henrique Alves, nomeado redactor permaneceria na LIAM até 1953, ano em que partiu para Angola para recolher documentação para a História dos Espiritanos naquela Província. Em 1949, é nomeado administrador da LIAM o P. José da Fonseca Lopes, e no A Animação Missionária: L. I. A. M. 841 ano seguinte, em 1950, chegam os PP. António de Sousa Rodas e Ismael Baptista. Enquanto o P. Ismael passaria depois para outras tarefas da Província, o P. Rodas permaneceria na LIAM até ao ano em que faleceu, vítima de um acidente de comboio na Silva em 1970. Em 1951 o P. António Rodas assumia as funções de administrador da LIAM. Foi uma figura amável e acolhedora cuja imagem, grata e simpática, perduraria na LIAM muito para além da sua morte. A 29 de Dezembro de 1952, o P. Agostinho de Moura, director da LIAM e desde 1949 também provincial da Congregação, foi nomeado bispo de Portalegre e logo a seguir era escolhido para lhe suceder como director da LIAM o P. José Felício. D. Agostinho de Moura trabalhou na LIAM durante 17 anos, desde 1935 a 1952, tendo-lhe imprimido um dinamismo e uma criatividade que deram ao movimento uma difusão e uma implantação a todos os títulos surpreendente. O P. José Felício que lhe sucedeu P. José Felício, com algumas liamistas seria outro líder carismático que implantaria a LIAM nos mais diversos sectores da sociedade e da igreja portuguesa. Seria ele o homem providencial que lançaria a LIAM nas ondas do Vaticano II. Em 1953 entra para a LIAM, embora por pouco tempo, o P. Domingos Rodrigues que assumiu o cargo de redactor do jornal Acção Missionária. Em 1954 é chamado para a LIAM, o P. José da Lapa, recentemente ordenado e que tomará a seu cargo a redacção do jornal bem como a animação missionária da região de Lisboa. Em 1959 começa o movimento de penetração da LIAM nas Escolas do Magistério Primário e dão os primeiros passos os Lares Missionários. Nesse mesmo ano de 1959 o P. António Pereira Rodrigues é chamado para assumir o cargo de promotor vocacional e, no ano seguinte, o P. Álvaro Miranda Santos tomava a seu cargo a redacção da revista Portugal em África. 1962, ano das Bodas de Prata da LIAM, seria um ano particularmente fecundo em iniciativas renovadoras: lançou-se o primeiro curso liamista de formação missionária, organizou-se o primeiro encontro de professores e alunos-mestres das Escolas do Magistério Primário e, no ano seguinte, fundou-se a revista Encontro-Selecções Missionárias. A redacção da revista fica confiada ao P. Adélio Torres Neiva, chegado no ano anterior precisamente para lançar a revista. Em 1963 a expansão da LIAM prossegue o seu ritmo sempre crescente, tendo sido então criado um novo centro no Porto, na Rua Nova do Regado, 250, ficando esse centro confiado ao P. António Rodas, P. José Martins Vaz, especialmente incumbido da animação missionária nos colégios e liceus e P. José Maria de Sousa, capelão do Monte Pedral. 842 Adélio TORRES NEIVA Para substituir o P. António Rodas no cargo de administrador da LIAM, em Lisboa, é nomeado o P. José Fernandes. Entretanto, o P. José da Lapa passara a redacção do jornal ao P. Adélio Torres Neiva, ficando ele mais livre para a animação missionária no exterior. O P. Francisco Vaz ficava também integrado na LIAM como auxiliar da administração. Em 1965 o P. José Martins Vaz era transferido para Lisboa e o P. António Pereira Rodrigues estabelecia sua residência no Porto. Também neste mesmo ano, o Irmão Amândio Braz passava da Procuradoria das Missões para a LIAM, colaborando no sector da redacção e o irmão Nuno era integrado na administração. Em 1966 chega o P. António Cardoso Botelho que foi chamado para assumir o cargo de administrador, tendo ao P. José Fernandes sido confiada a animação do Patriarcado. Por sua vez, o P. José da Lapa passava para o centro do Porto, assumindo a responsabilidade do sector vocacional e a animação missionária da juventude. O ano de 1967 merece ser assinalado pelo lançamento do filme “Uma vontade Maior” e o de 1968 pela iniciativa “Caminhada Heróica da Juventude Missionária” a Fátima, organizada pelo centro do Porto, bem como o lançamento dos cursos “Juventude Missionária”. Em 1969 entram para a LIAM os PP. Augusto Teixeira Maio e Joaquim Macedo Lima, que se encarregam da animação missionária no exterior. Em 1972 o P. António Botelho é transferido para Cabo Verde tendo sido nomeado para o substituir na administração da LIAM o P. António Figueira Pinto e por sua vez o P. António Pereira Rodrigues deixa a LIAM para partir para as missões de Angola. Como reforço novo, são nomeados para o Centro do Porto os PP. Abel Moreira Dias e José Pinto de Carvalho, que darão à LIAM do norte um novo impulso e um novo dinamismo, tendo o P. Lapa regressado a Lisboa, depois de um ano de reciclagem em Roma. Em 1973, o abade da Loureira oferece à Congregação uma casa na Rua da Boavista no Porto, tendo então o centro da Rua Nova do Regado passado para esta nova residência que então fica a cargo dos PP. Abel Moreira Dias, José Pinto de Carvalho e Joaquim Pereira Pinto. Em 1974, tendo o P. Torres Neiva partido para Roma, para o substituir na redacção do Encontro é nomeado o P. Francisco Lopes e, no ano seguinte, vêm para Lisboa o P. Adélio Cunha Fonte e o Irmão Inocêncio, como acessor da administração. Em 1976 será a vez do Irmão Daniel ser também adstrito à administração. Em 1976 é criado mais um centro da LIAM, em Coimbra, na Travessa do Espírito Santo, confiado aos Padres Veríssimo Manuel Teles e Adélio Cunha Fonte. Para Lisboa é nomeado o P. José Ribeiro Mendes e como administrador o P. Marcelino Duarte Lopes. A LIAM passava assim a ter três centros: Lisboa, Porto e Coimbra, assumindo cada um a animação missionária das dioceses da sua área. Todas as actividades de âmbito nacional, bem como as dioceses do Sul, ficavam a cargo do director, o P. José Felício coadjuvado pelo P. José da Lapa. A Animação Missionária: L. I. A. M. 843 Em 1977, o P. Carlos Gouveia Leitão, é nomeado para o Centro da Boavista e no ano seguinte é criado um novo Centro da LIAM, no Fundão, na Rua José Germano da Cunha, 39, tendo sido escalonados para este centro os PP. Carlos Gouveia Leitão, António Lourenço Braz e o Irmão João Vieira. O P. José Ribeiro Mendes passava de Lisboa para o Porto e para Lisboa é nomeado o P. Francisco Medeiros Janeiro, que assumirá as funções de redactor do jornal Acção Missionária até 1982 . A VIRAGEM DOS ANOS 80 O Capítulo Provincial dos Espiritanos de 1978 procurou dar novo impulso e abrir novos horizontes à animação missionária dos Espiritanos; a LIAM viria naturalmente a ser afectada por esta nova leitura da animação missionária. Antes de mais, o Capítulo procurou estender os espaços da animação missionária a todos os membros e a todas as comunidades, fazendo da animação missionária uma das suas vertentes essenciais. Assim, todas as comunidades espiritanas, em princípio, seriam centros de animação missionária. Pretendia-se deste modo dar uma unidade mais articulada à animação missionária dos Espiritanos. A LIAM, que até aí tinha de alguma maneira uma certa autonomia na sua caminhada, passa a ser expressamente integrada no projecto da Província. Em segundo lugar, esta animação missionária é integrada nos quadros do governo da Província, assumindo a sua responsabilidade directa um dos membros da equipa provincial, então designados por vice-provinciais. Em virtude desta orientação, o director da LIAM passaria a ser um dos membros da equipa provincial. De resto, já o Capítulo Provincial anterior, o de 1970 atribuía a um dos membros da equipa provincial a responsabilidade da animação missionária exterior. A LIAM continuaria, no entanto a ser o modo específico da animação missionária da Província, embora não exclusivo. Os Centros da LIAM seriam as comunidades espiritanas prevalentemente orientadas para a animação missionária em todas as suas dimensões, em conformidade com os Estatutos da LIAM, à luz da teologia missionária actual. O Capítulo procurou ainda que esta animação missionária se integrasse cada vez mais nas orientações do Concílio, em comunhão com as igrejas locais e seus projectos pastorais. O Capítulo Provincial de 1984 daria novo ênfase a estas orientações. Lembremos apenas duas directivas desse Capítulo: “A LIAM não poderá considerar-se como todo o sector da animação missionária da Província, ainda que historicamente o pudesse ter sido. Todavia, o Capítulo vê na LIAM uma forma concreta para formar e animar uma valiosa rectaguarda missionária de colaboração e ajuda, em comunhão com a Província e com o seu projecto de animação missionária” (nº470). “No trabalho da LIAM atender-se-á de preferência: - à formação de líderes nos núcleos, para que promovam a consciência missionária no ambiente em que vivem; 844 Adélio TORRES NEIVA - à inserção gradual dos núcleos na comunidade paroquial; - ao relacionamento dos núcleos com as Missões “ad extra”; - e à evangelização e promoção dos pobres no seu ambiente” (nº482). Em conformidade com estas orientações vão ser tomadas algumas iniciativas que marcam efectivamente uma nova etapa na história da LIAM. - Como director da LIAM é nomeado o P. Veríssimo Manuel Teles, o membro da equipa provincial designado para o sector da animação missionária da Província. A LIAM fica assim integrada nos quadros do governo da Província. De alguma maneira podemos dizer que a fase dos directores carismáticos se conclui para abrir um novo ciclo. - Uma das primeiras medidas a ser tomada foi a da criação de um Conselho da Animação Missionária e a Assembleia Geral da Animação Missionária, organismos reservados aos espiritanos. - Como instrumento de comunhão e integração da animação missionária no projecto pastoral da igreja local são lançados em 1979-80 os Cadernos de Estudos, o primeiro dos quais foi consagrado ao “Domingo e Missão” precisamente porque o tema desse ano pastoral era o Domingo. - Outra iniciativa para consolidar esta comunhão e unidade da família espiritana, foi a Peregrinação Missionária a Fátima da Província e seus amigos a 4 e 5 de Julho de 1982, organizada pela LIAM. Nela participaram cerca de 5000 pessoas e 38 espiritanos. Esta peregrinação passaria a repetir-se todos os anos, constituindo um momento alto de comunhão e convívio de toda a família espiritana. Em 1979 é nomeado para o Centro da Boavista como secretário da promoção vocacional o P. João Mónico, que no ano seguinte apresenta um projecto de reestruturação do secretariado das vocações. A equipa deste secretariado seria constituída pelo Secretário das Vocações, os directores dos seminários espiritanos, um representante de cada centro da LIAM e um Irmão Auxiliar. Neste ano de 1979, são nomeados para a LIAM, o P. João Tavares para Lisboa, e os padres Manuel Magalhães Fernandes, Joaquim Correia da Rocha e Irmão António Gonçalves para Coimbra. A 15 de Março de 1980 o Conselho da Animação Missionária apresenta ao Conselho Provincial a proposta de modificar o formato da revista “Encontro” e torná-la mensal, proposta que foi aceite. Em 1982 é enviado como apoio à equipa da Boavista, o P. José Coelho Amorim. Nesse mesmo ano o P. Firmino Cachada assume a redacção da Acção Missionária, em substituição do P. Francisco Janeiro, dedicando-se ao mesmo tempo à animação missionária da juventude. Virá a fundar os Jovens Sem Fronteiras. Foi também neste ano que o P. Arlindo Areia Amaro é colocado no Espadanido, em Braga, abrindo assim um novo centro que virá a ter grande impacto na arquidiocese de Braga e o P. José Fernandes é enviado para o Fundão. No ano seguinte, 1983, é criado um novo Centro em Lisboa: o centro de Benfica, na Rua do Parque, 11, ficando nele integrados os Padres José Lapa, Firmino Cachada e o Irmão Joaquim dos Santos Custódio. No ano seguinte o A Animação Missionária: L. I. A. M. 845 Irmão Custódio é nomeado para a Torre da Aguilha. Será substituído pelo Irmão António Gonçalves. Em 1984 o P. Domingos da Cruz Neiva é nomeado administrador da LIAM em substituição do P. Marcelino Lopes e o P. Francisco Valente vai para o Fundão. Nesse mesmo ano, o P. José de Castro Oliveira, na sua qualidade de assistente da equipa provincial encarregado da animação missionária, é nomeado director da LIAM, tendo o P. Veríssimo Teles, no ano seguinte seguido para Coimbra, onde continuará como redactor do Encontro. Em 1986, o P. José Martins Salgueiro é colocado na Boavista em substituição do P. José Pinto de Carvalho, então nomeado pároco de Godim, sendo também para aí destacado o P. António Luís Gonçalves. Para Lisboa, como redactor do Encontro, regressa o P. Adélio Torres Neiva e para o Fundão é enviado o P. João Baptista Pinheiro. O ano de 1987, cinquentenário da LIAM, ficou marcado por algumas iniciativas de vulto, entre as quais sobressaem a elaboração de um Directório da Animação Missionária e uma imponente peregrinação a Fátima, tendo nela participado o Superior Geral da Congregação. No ano seguinte, em 1988, tendo o P. José de Castro sido eleito provincial, assume a direcção da LIAM o P. Firmino Cachada. Para a Silva, trabalhando na formação e acumulando o Secretariado das Vocações segue o P. Veríssimo Teles e para a Boavista são nomeados os padres Serafim Marques da Silva e Norberto da Conceição Cristóvão. A equipa vocacional passa a ser constituída pelos PP. Veríssimo Teles, António Marques de Sousa e Ir. António Braz. Em 1989 o P. José Manuel Matias Sabença é colocado no centro de Benfica, colaborando com o P. Firmino Cachada na redacção da Acção Missionária e na animação dos Jovens Sem Fronteiras. Neste mesmo ano é nomeado administrador da LIAM o P. Manuel dos Santos Neves que substitui no cargo o P. Domingos da Cruz Neiva. E para substituir o P. José da Lapa, nomeado para Secretário da CNIR, é nomeado para Benfica o P. Manuel Marinho Lemos Couto, recém chegado das missões de Angola. Em 1990 o Centro do Porto passa para a rua do Pinheiro Manso, nº62, sendo aí colocado o P. António Marques de Sousa. Devido à dificuldade em dinamizar o centro do Fundão, este centro é fechado, continuando, no entanto a residir aí uma pequena comunidade espiritana. O P. Carlos Gouveia Leitão passa para Viana do Castelo, para aí abrir um novo centro de animação missionária e de acolhimento a grupos. A equipa vocacional, sempre em evolução à procura das melhores soluções, fica agora constituída pelos padres Veríssimo Teles (Silva), António Marques de Sousa(Porto), Ir. António Braz (Fraião) e Ir. Pedro Falcão (Espadanido), vindo do Brasil. Entretanto o Directório da Animação Missionária é discutido em Assembleia Provincial no Fraião, vindo depois a ser aprovado pelo Conselho Provincial. 846 Adélio TORRES NEIVA Ainda nesse ano de 1990 para o novo Centro de Viana do Castelo são destacados os Padres Domingos Matos Vitorino, em substituição do P. Carlos Gouveia, e o Irmão João Vieira. Para o Centro do Pinheiro Manso são destacados os Padres António Luís Farias Antunes, juntamente com o P. António Marques de Sousa, que já aí estava. O P. António Farias substitui o P. Norberto Cristóvão que passa a integrar a comunidade do Fundão. Em 1991 a equipa do Espadanido passa a ser constituída pelos PP. Arlindo Amaro e Matos Vitorino, o P. António Marques de Sousa vai para Coimbra e o P. José Gaspar para o centro de Viana do Castelo em substituição do P. Vitorino. Durante este período em que o P. Firmino Cachada foi director da LIAM merecem relevo especial alguns passos de grande fôlego dados no sentido de uma melhor formação a dirigentes e de uma corresponsabilização cada vez maior dos leigos na direcção da LIAM: a formação do Conselho Nacional da LIAM e o Encontro dos Responsáveis de Núcleo, duas iniciativas que, começadas timidamente, têm hoje grande impacto no dinamismo da LIAM. Em 1991 é nomeado director da LIAM, em substituição do P. Firmino Cachada, o P. Manuel Marinho Lemos Couto, recém-eleito assistente da animação missionária na equipa provincial. Durante o seu governo, o P. Lemos prosseguirá o seu trabalho persistente e confiante junto dos núcleos, revitalizando e fundando novos grupos, imprimindo assim à LIAM um novo dinamismo e uma nova alegria em servir a causa missionária. Sob a sua direcção, a LIAM adquiriu nova vitalidade. Nesse mesmo ano a administração da LIAM passava para o P. Agostinho Brígido e a equipa vocacional ficava a ser constituída pelos PP. Veríssimo Teles (coordenador), Eduardo Osório, Manuel Magalhães Fernandes e Ir. António Braz. É também neste ano que é lançado o Projecto do Voluntariado Missionário Espiritano, assumido pelo Conselho Provincial e confiado ao P. Arlindo Areia Amaro. Em 1994 o P. José Costa é nomeado Secretário das Vocações, em substituição do P. Verísimo Manuel Teles, ficando a nova equipa vocacional a ser formada pelos PP. José Costa, José Carlos Coutinho, José Gaspar, Tarcísio Moreira, Veríssimo Teles e Ir. António Braz. Em Fátima, confraternização liamista Em 1995 é colocado na animação missionária em Lisboa, o P. António Manuel Neves, (Tony Neves), e na equipa do Pinheiro Manso o P. Eduardo Osório. Nesse mesmo ano o P. Arlindo Areia Amaro parte para os Estados Unidos, passando o centro de Braga, do Espadanido para o Fraião. Desse Centro se ocupará o P. José de Castro Oliveira ao mesmo tempo que se incumbirá de dinamizar o voluntariado. O Centro do Espadanido ficará A Animação Missionária: L. I. A. M. 847 marcado pela actividade incansável do P. Arlindo Amaro que não se poupou a esforços para despertar os leigos, lançar o Voluntariado e formar os Jovens Sem Fronteiras. Em 1996 era nomeado para o Centro de Viana do Castelo o P. António Correia Andrade, ano em que o P. Vitorino deixa este centro para preparar a sua ida para Moçambique. Neste mesmo ano, duas leigas, após um tempo de preparação fizeram um compromisso com a Província, partindo depois como voluntárias missionárias para o Lubango, Angola. A 1 de Janeiro de 1997 assume a redacção da Acção Missionária o P. António Manuel Neves (Tony Neves), tendo o P. Firmino Cachada que foi redactor do jornal desde 1983, partido para Bruxelas. Ainda em 1997 o P. António Farias é nomeado director da LIAM, em substituição do P. Marinho Lemos, cargo que só exercerá pouco mais de um ano, pois no Capítulo Geral de 1998 foi eleito Assistente Geral da Congregação. Substituiu-o o P. José de Sousa, como assistente da equipa provincial para a animação missionária e o P. Tony Neves como director nacional da LIAM. De notar ainda a criação neste mesmo ano do Conselho de Redacção, que o Conselho Ampliado da Província havia decidido em 1997. Desse Conselho ficaram a fazer parte os PP. Tony Neves (presidente), António Farias, Adélio Torres Neiva, Irmã Ascensão, Dr.ª Sandra Simões e Paulo Vaz (JSF) e Vítor Silva, jovem espiritano em formação. 849 Capítulo 92 Os Jovens Sem Fronteiras Tony Neves Coordenador Nacional dos JSF O s jovens sempre estiveram no centro das preocupações da animação missionária espiritana. Quando a Liga Intensificadora da Acção Missionária (LIAM) nasceu, em 1937, apostou muito forte na pastoral juvenil, dando-lhe um cunho missionário. No início dos anos 70, tiveram lugar as então chamadas ‘caminhadas heróicas’, a ‘Juventude Missionária’ e os ‘Cursos Ad Gentes’. Foi este protagonismo dos jovens, em muitas das iniciativas da LIAM, que conduziu à fundação dos Jovens Sem Fronteiras em 1983 pelo P. Firmino Cachada, a quem o Provincial dos Espiritanos confiara a animação missionária dos jovens, a partir de Lisboa. Entretanto, o Conselho Provincial de então – de acordo com as actas – deu a orientação no sentido de todos os responsáveis dos diversos Centros de Animação Missionária (Braga, Porto, Coimbra...) apostarem nesta linha. O P. Arlindo Amaro lançou o movimento em Braga, o P. António Farias no Porto e o P. José Manuel Sabença em Clamart, periferia de Paris. Ao longo do tempo, foram surgindo grupos JSFs em Colmar (França), Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Angola, pelo P. Firmino Cachada. Estes Grupos JSFs fora de Portugal estão ligados aos Espiritanos que ali trabalham. Em 1998, os JSF celebraram 15 anos de vida no X Encontro Nacional, realizado na Praia das Maçãs, em Sintra. Foi tempo de recordar o passado, olhar o presente e projectar caminhos de um futuro que está nas raízes. Em pleno Jubileu dos 300 anos dos Espiritanos, os JSFs celebraram 20 anos de Missão. O carisma, a espiritualidade e a história são marcos decisivos, pontos de referência obrigatórios. Encontros Nacionais e Regionais A Praia das Maçãs (Sintra) acolheu o X Encontro Nacional em 1998. Numa exposição fotográfica, intitulada ‘Expo87-98 – Mares navegados de Barcelos a Sintra’, mostraram-se imagens dos Encontros de Barcelos (87), Ilha da Azambuja (88, 89, 91 e 95), Penha-Guimarães (90), Foz do Neiva – Viana do Castelo (92), Colégio do Sardão – V.N. Gaia (96) e Ribeira do Fárrio – Ourém (97). O Seminário do Fraião acolheu o Nacional 99 e o Seminário da Torre d’Aguilha (Cascais) o de 2000. O norte recebeu os JSFs para os Nacionais de 2001 (Paróquia de Fiães – Santa Maria da Feira) e de 2002 (Paróquia de Carvalhal 850 Adélio TORRES NEIVA – Barcelos). Em contexto de Jubileu, pelos 20 anos do Movimento, o Encontro Nacional de 2003 foi realizado no Seminário da Torre d’Aguilha. Com um tema e um lema alusivos ao que de mais importante a Igreja está a viver, estes Nacionais JSF são o único momento do ano em que todos, de norte a sul, se encontram para celebrar, rezar, partilhar, aprofundar conhecimentos e experiências, avaliar, programar, confraternizar. O Encontro Nacional de 2004 foi no Mosteiro de Singeverga, em S. Tirso, com a participação de cerca de 350 JSF. Os Encontros Regionais apostam mais na formação e, ao longo dos primeiros 20 anos de vida do Movimento, tiveram um papel muito importante para as regiões de Braga, Porto e Lisboa. Os JSFs começaram a participar no Encontro de Coordenadores da Animação Missionária Espiritana (CAME) desde a sua 2ª edição, em 1997 e no Conselho da Animação Missionária (CAM), desde 2004. Retiros O crescimento interior, a dimensão da Fé... nunca poderão ser descurados ou atirados para um segundo lugar. Por isso, as reuniões começam-se e terminamse a rezar, os grupos organizam vigílias e, nos tempos litúrgicos fortes, criam espaços de oração. A Missão está sempre presente na Palavra de Deus que se lê, nos testemunhos que se chamam ou recordam, nas petições que se fazem, nos compromissos que os membros do grupo têm. O Retiro deve, contudo, ter lugar cativo na agenda de cada JSF, uma vez por ano. Em geral, é na Quaresma que escuta o convite de Cristo para se ir até ao deserto, até à Fonte, beber espiritualidade, carregar baterias, fazer a experiência de Deus na oração. Nos primeiros 20 anos da história dos JSF, os Retiros, de norte a sul, têm sido dos pratos fortes para enfrentar a caminhada do dia-a-dia. O Centro Espírito Santo e Missão (CESM), criado em 1997, integrou no calendário anual, todos os Retiros dos JSFs (Braga, Porto e Lisboa). Encontros de Animadores O I Encontro Nacional de Animadores teve lugar em 1990. Nasceu da convicção de que todos(as) quantos são eleitos para coordenar os grupos paroquiais JSF precisam de uma formação especial, numa perspectiva de liderança e dinâmicas de grupos. Eles e elas, mais que os outros, necessitam de conhecer a espiritualidade e o carisma espiritano. Estes Encontros (também estendidos aos Vice-Animadores) têm jogado um papel vital no bom funcionamento dos grupos, durante o ano de pastoral. Aqui se apresentam os programas anuais, se partilham listas, actividades e preocupações. A injecção de confiança e de coragem para enfrentar as dificuldades a surgir durante o ano também tem lugar neste Encontro. Os Jovens Sem Fronteiras 851 Sintonia com a Igreja local Os grupos de JSF são paroquiais. A inserção na Igreja local é um ponto de honra, faz parte da essência e do carisma do Movimento. Por isso, todos os jovens se integram e se empenham nas suas comunidades paroquiais. O pároco é sempre o animador espiritual nº1 do Grupo. Ele deve aprovar o programa de actividades e deve acompanhar a sua realização. A sintonia com a Igreja local está bem patente nos cargos que muitos JSFs desempenham a nível da Pastoral da paróquia, do arciprestado/vigararia e da Diocese. No âmbito nacional, os JSFs deram uma colaboração muito grande na execução dos Fátima Jovem desde 1994, que tiveram lugar em Fátima. O mesmo compromisso esteve bem patente nos ‘Fórum Ecuménico Jovem’, realizados em Leiria (1999) e Lisboa (2000) e Vila Nova de Gaia (2001), Coimbra (2002) e Aveiro (2003). Reuniões / Aposta Formativa A formação integral (humana e cristã) é uma prioridade de todas as vertentes de uma pastoral juvenil. Os JSFs não fogem à regra. Nas reuniões semanais, a formação deve ocupar, pelo menos, dois terços do tempo. Trata-se de educar para os valores humanos, educar para a Fé e, dentro desta, para a dimensão missionária da Igreja. Têm sido orientados muitos cursos ou sessões sobre os mais variados temas, no âmbito dos valores e numa linha de Fé. Nesta mesma linha se pode situar o Seminário sobre Direitos Humanos que teve lugar na Universidade Católica (Lisboa) por ocasião do 10º Aniversário JSF. E muitos Colóquios têm sido organizados por diversos grupos, nas várias regiões do país. Foi no Encontro Nacional de Animadores, realizado na Torre d’Aguilha, em 2002, que se lançou a Primeira parte do Caderno de Temas para as Reuniões dos Grupos JSFs, da autoria da Fátima Monteiro. A Segunda parte foi lançada no Encontro Nacional de Animadores de 2003, em Fátima. Férias Missionárias Em 1988, um grupo de JSF foi até Caió (Guiné-Bissau) para ajudar a construir a Escola Sem Fronteiras. A esta experiência se deu o nome de Ponte 88. Cabo Verde foi o campo escolhido para a Ponte 92. S. Tomé e Príncipe acolheria a Ponte 94, enquanto os JSF da região Braga foram trabalhar para a GuinéBissau. No ano seguinte, houve, em simultâneo, duas experiências: S. Tomé e Cabo Verde (Ponte 95). Ponte 2004 na Missão dos Dembos 852 Adélio TORRES NEIVA Os JSF da Região Braga fizeram uma nova experiência de Verão, desta feita em S. Lourenço dos Orgãos (Cabo Verde) para ajudar a construir a Padaria da Solidariedade. A Ponte 96 foi em Malanje (Angola), a de 97 foi no Huambo, a de 99 em Caió-Tubebe (Guiné-Bissau), a de 2000 em Netia (Moçambique), a de 2001 em S. Tomé e a de 2002 na Calheta de S. Miguel (Cabo Verde). Em plena celebração dos 20 anos, a Ponte 2003 foi ‘construída’ em Kalandula, Malanje, (Angola) e a de 2004 relizou-se na Missão dos Dembos, (Angola). A estas experiências missionárias ‘lá fora’, juntaram-se muitas outras ‘cá dentro’. As Semanas Missionárias’ e as ‘Semanas Comunitárias’ congregaram JSFs em actividades organizadas em diversas dioceses. Foi tempo de testemunho, de partilha, de oração, de vida comunitária, em situações tão diversas como são paróquias de Bragança, Viana, Lamego, Leiria-Fátima, Aveiro ou Beja. O número de JSFs que participam nas Semanas Missionárias no Alentejo vai aumentando de ano para ano. A título de exemplo, em 2002, foram organizadas quatro Semanas no mês de Agosto e em 2004, foram cinco as paróquias escolhidas do Minho ao Baixo Alentejo. A partir de 2001, os JSFs iniciaram a sua participação nos Campos de Trabalho de Aranda de Duero (Espanha), na casa de recuperação de toxico-dependentes e integraram-se em todas as iniciativas promovidas pela Equipa Ecuménica Jovem (fóruns, Campo de Trabalho no Telhal, Peregrinação a Taizé). No Ano Internacional da Juventude (1985), os JSFs realizaram a I Peregrinação Missionária, a pé, a Fátima. A II teve lugar em 1987, a III em 1990 e a IV em 1993. A celebração das Jornadas Mundiais da Juventude, com o Papa João Paulo II, levou a Santiago de Compostela, em 1989, dezenas de JSFs que foram convidados a trabalhar nas equipas de acolhimento. Foi igualmente forte a participação de JSFs de todas as regiões nas Jornadas Mundiais da Juventude que tiveram lugar em Paris (1997) e em Roma (2000). A 2ª Visita que o Papa fez a Portugal também foi muito participada pelos JSFs, sobretudo a celebração no Estádio do Restelo (Lisboa), o mesmo se diga da 3ª, a Fátima, para beatificar os Pastorinhos, a 13 de Maio de 2000. Cultura e Missão A Aula Magna da Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa acolheu os quatro Festivais da Canção Missionária (1986, 87, 88 e 91). São um marco histórico de que ficaram discos e cassetes para comprovar a qualidade do evento. Em colaboração com a Comissão dos Cinco Séculos de Evangelização e Encontro de Culturas, os JSFs empenharam-se na realização do Festival Cultura e Missão (Junho 1990) que teve lugar junto à Torre de Belém (Lisboa). Como balanço foi escrito: ‘Mais de cinco mil jovens e adolescentes; três concertos de música; entrevistas com missionários; um programa ‘Despertar ao Vivo’ (RR); Os Jovens Sem Fronteiras 853 uma marcha luminosa; passeios de convívio no Tejo; um festival de folclore e culturas de expressão portuguesa; uma Eucaristia solene junto da Torre de Belém’. Durante a celebração do jubileu dos 20 anos, realizou-se em S. Domingos de Rana (Cascais) o I Festival da Canção Sem Fronteiras. Campanhas de Solidariedade A formação é prioritária para a caminhada de um grupo juvenil. Mas não se pode ficar por aqui, é preciso lançar mãos à obra e fazer o que estiver ao alcance para que a Missão possa ir para a frente. Os apelos que os missionários lançam de situações de fronteiras são um desafio a exigir resposta adequada. Assim, os JSF, em Lisboa, lançaram logo no início o Fundo de Apoio às Igrejas do Terceiro Mundo (FAITM) que aderiram ao Serviço Espiritano de Solidariedade. Em Braga, os JSFs também apoiaram diversos projectos missionários, sobretudo na Guiné-Bissau e em Cabo Verde (Padaria da Solidariedade). Para tal, os grupos organizaram festas, quermesses, rifas, feiras de artesanato.... Iniciativas como ‘jantar africano’, ‘concerto sem fronteiras’, ‘chá missionário’, ‘bacalhau pela missão’, ‘janeiras solidárias’, ‘sarau cultural’, ‘sopa missionária’, ‘teatro pela missão’... já fazem parte do imaginário sem fronteiras. Uma Missão criativa e solidária. Sol Sem Fronteiras Como a sociedade avança e não se pode ficar para trás, era urgente fundar uma Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) para ajudar os JSFs a ir mais longe no domínio da solidariedade e da cooperação com a Igreja missionária. A Associação Sol Sem Fronteiras (Solsef) nasceu, a 1 de Novembro de 1993, para dar aos trabalhos do Movimento (e de outras pessoas que se quisessem associar ) uma cobertura jurídica apropriada. Nos princípios de Solsef, sublinha-se a sua inspiração cristã e prioridade que se dá à Igreja missionária, na escolha de projectos de apoio ao desenvolvimento. Pode dizer-se que esta organização é um complemento dos JSFs, permitindo-lhes permanecer como Movimento Missionário mas, ao mesmo tempo, partilhar com a sociedade civil e, sobretudo, com outros jovens, os seus ideais de fraternidade, traduzidos na solidariedade e na cooperação. Solsef aposta na realização de Projecto Solsef em S. Tomé e Príncipe várias campanhas públicas com o objectivo de arranjar meios financeiros para apoiar diversos projectos na área da educação, da saúde e da ajuda humanitária: a Escola Sem Fronteiras de Caió 854 Adélio TORRES NEIVA (Guiné-Bissau), Ajuda de Emergência à Guiné-Bissau após a guerra de 1998, Escola Arquidiocesana do Lubango (Angola), o Centro de Apoio à Infância de Ribeira Afonso (S. Tomé e Príncipe). A Campanha Jubilar da Família Espiritana foi a construção e funcionamento de Escolinhas no norte de Moçambique e foi coordenada por Solsef. Na Guiné-Bissau, a Escola de S. José, em Bajob, foi inaugurada em 2002 e a construção do Liceu de Calequisse concluiu em 2004. Ponto alto da celebração do 5º aniversário de Sol Sem Fronteiras foi a realização de um Colóquio na Universidade Católica (Lisboa) sobre ‘Solidariedade e Direitos Humanos’. A 8 de Novembro de 2003, Sol Sem Fronteiras celebrou 10 anos, no Colégio Marista de Lisboa. Voluntariado Missionário O Voluntariado Missionário Espiritano implica uma missão de, pelo menos, um ano. O Nélson Ramalhoto (JSF – Braga), foi o primeiro JSF a partir em Missão. Trabalhou dois anos no Lubango, sul de Angola. Depois dele, a Margarida Querido e a Sandra Colaço (JSF – Portela) partiram para Malanje, no planalto do norte de Angola. O Victor Barros (JSF – Tires) partiu para Caió, na Guiné Bissau, a Paula Vicente (JSF – Benfica) para Ribeira Afonso, em S. Tomé e o Miguel Ribeiro (JSF – Monte Abraão – Queluz) para Malanje. Os médicos Ivone Gonçalves e Nélson Gaspar e a analista Isabela Ribeiro estiveram dois meses em Ribeira Afonso, S. Tomé. O António Silva (JSF – Tires) esteve na Calheta de S. Voluntárias Missionárias Espiritanas em Malange Miguel (Cabo Verde) por um ano. Com os Leigos Para o Desenvolvimento, a Ana Sofia Nunes (JSF – Portela) trabalhou dois anos em Timor, a Rita Monteiro (JSF – Portela) esteve com os Verbitas em Monapo, norte de Moçambique e a Sílvia Ribeiro (JSF – Tires) trabalhou na Guiné com a Fundação Evangelização e Culturas. O Voluntariado também se faz aqui em Portugal, numa linha de opção pelos mais pobres. Assim, a título de exemplo, recordo a Visita mensal dos JSF de Tires ao estabelecimento Prisional de Tires (Cascais) e o trabalho de apoio escolar e catequético dos JSF da Portela no Bairro do Prior Velho, um dos mais pobres das periferias de Lisboa. Nos Encontros Nacionais realizados em paróquias (Fiães da Feira e Carvalhal de Barcelos), os participantes foram ao encontro de instituições que apostam no apoio aos excluídos da nossa sociedade ou participaram em ‘workshops’ sobre situações de exclusão e marginalização social. Os Jovens Sem Fronteiras 855 Navegando na Net Os JSFs não passam ao lado das novas tecnologias da comunicação. Depois de terem ganho direito de cidadania no jornal ‘Acção Missionária’ e na revista ‘Encontro’, foram conquistando intervenções nas Rádios e Televisões, bem como na Agência Ecclesia e muitos títulos da imprensa escrita, sobretudo de inspiração cristã. A ‘Ponte 2001’, em S. Tomé, teve direito a acompanhamento televisivo, o mesmo se diga dos Encontros Nacionais e de Animadores. Mas uma das apostas de futuro tem a ver com a internet. Assim, pode-se saber mais sobre o carisma, as iniciativas e os projectos dos Jovens Sem Fronteiras, consultando os sites dos Espiritanos (www.espiritanos.org) e de Sol Sem Fronteiras (www.solsef.pt). A partir de 2002, foram criados dois grupos de partilha de informações na net, o ‘[email protected]’ e o [email protected]. Com estas ‘mailing lists’, os Jovens Sem Fronteiras estão mais perto uns dos outros e mais informados, via e-mail. A celebração dos 20 anos A Foz do Arelho (Caldas da Rainha) deu à luz, em 1983, o primeiro grupo paroquial de Jovens Sem Fronteiras. Foi o começo de um sonho que, vinte anos depois, se tornou já realidade do Minho ao Algarve, de Angola a Cabo Verde, de França a S. Tomé e Príncipe. Foi na Foz do Arelho que as ‘jovens sem fronteiras’ de há 20 anos contaram aos actuais a Missão que lhes corre ainda nas veias. Foi na manhã do dia 5 de Setembro, durante a Eucaristia de Acção de Graças que encheu de festa a Igreja Paroquial. Este momento celebrativo foi apenas um de muitos que se realizaram ao longo de 2003, com relevo particular para o ‘Especial JSF – 20 anos’ que decorreu de 31 de O bolo dos 20 anos. Agosto a 7 de Setembro. O testemunho dos ‘anciãos’ O dia 31 de Agosto, no Seminário da Torre d’Aguilha (Cascais) foi ponto de encontro para seis dezenas de ‘antigos’ Jovens Sem Fronteiras. A presença do fundador, o P. Firmino Cachada, actualmente a trabalhar em Bruxelas, foi um bom pretexto para um encontro com a história, um regresso às raízes, uma sã confraternização. A partilha feita pelo Paulo Vaz, primeiro Presidente Nacional, avaliou o caminho feito e lançou um debate sobre caminhos a abrir e a palmilhar, rasgando novos compromissos de Missão sem fronteiras. Em Braga, o Encontro com os mais antigos foi na noite do dia 4 de Setembro, no Seminário do Fraião. O Porto escolheria o 28 de Setembro. 856 Adélio TORRES NEIVA Missão nas fronteiras ‘Estar perto dos que estão longe sem estar longe dos que estão perto’ é uma frase que tem norteado os JSF. Para dar corpo a este ideal, um grupo esteve em Kalandula (Angola) e dois outros estiveram em Alvalade do Sado e Baleizão (Beja) durante o mês de Agosto. Durante o ‘Especial JSF 20 anos’, Braga apostou na casa de S. João de Deus (Barcelos) e nas Paróquias de Gominhães (Guimarães) e Carvalhal (Barcelos). O Porto apostou nos idosos das Irmãzinhas dos Pobres, nas crianças da Obra do P. Gil (Feira) e numa Vigília na Paróquia de Ramalde. Lisboa foi até Ermidas do Sado (Beja) ao encontro dos idosos e das crianças. Na quinta-feira, dia 5, todos os caminhos foram dar à Ribeira do Fárrio (Ourém) onde tivera lugar o I Encontro Nacional em contexto paroquial. Depois da celebração da Eucaristia, o grupo rumou até ao Caneiro (Ourém) onde a comunidade local os esperava. Ali almoçaram e dali foram enviados em peregrinação a pé até Fátima. A presidência do Terço das 21h30 marcou este dia. De Fátima, os JSF partiram para o Seminário da Torre d’Aguilha, em Cascais, passando pela Foz do Arelho. 201 JSF no Nacional 2003 Foi um record, ultrapassou-se a barreira dos 200! O Seminário da Torre d’Aguilha conseguiu ‘acantonar’ esta multidão que partilhou experiências, rezou, reflectiu, escutou e divertiu-se muito. Os JSF foram confrontados com onze workshops sobre a Missão (no masculino e no feminino), a imigração, a solidariedade e o desenvolvimento, o voluntariado, a pastoral prisional, a ajuda humanitária e os direitos humanos, a animação missionária da Igreja em Portugal, o trabalho com deficientes de foro psiquiátrico. Momento alto foi a partilha da jornalista Laurinda Alves, directora da Revista XIS e comentadora na Rádio Renascença. Apelou à confiança em Deus e em si próprios. Referiu o ‘mais e melhor’ como objectivo de conversão, apostando nos propósitos de vida: poucos, pequenos e possíveis’ contra os grandes pecados: desânimo, desalento e desespero’. Elogiou o papel das minorias, dos remadores contra a maré porque as massas são sempre acríticas. Na manhã de domingo, o P. José Manuel Sabença, Superior Provincial dos Espiritanos, apontou alguns caminhos de futuro aos JSF. Ligado ao Movimento desde a primeira hora, o P. José Manuel apresentou 20 razões (todas com esquema de email!)... para olhar com confiança o futuro. Festival da Canção Sem Fronteiras O momento com mais vibração foi o I Festival da Canção Sem Fronteiras realizado no salão Paroquial de S. Domingos de Rana (Cascais). Foram nove as Os Jovens Sem Fronteiras 857 canções concorrentes. A apresentação, sempre muito animada, esteve a cargo da Marta Ventura e do Carlos Duarte Bastos, da Rádio Renascença, e o júri foi presidido pelo P. Manuel Durães Barbosa, director da Obras Missionárias Pontifícias. A Canção vencedora foi ‘Servir é viver’ dos JSF de Braga que também ganharam o prémio da melhor interpretação. O 2º lugar e o prémio da melhor letra foi para os JSF de Benfica com a canção ‘Sol na Missão’ e o 3º coube aos JSF de Tires que cantaram: ‘Brilha o Sol...’. No intervalo, houve um espaço de dança que galvanizou a sala cheia, proporcionado pelos JSF que fizeram a Ponte em Angola e as Semanas Missionárias no Alentejo. O envio em Missão A Eucaristia de encerramento foi uma Festa da Missão. Ali se juntaram aos 200 JSF muitos dos ‘antigos’ que participaram no encontro do domingo 31 de Agosto. No ofertório, cada grupo de campo entregou um símbolo de compromisso. Na acção de graças, coube aos mais velhos agradecer estes vinte anos de Missão sem fronteiras. Na hora de partir, lia-se nos rostos a alegria de regressar às suas terras de origem onde a Missão continua como urgência. Como dizia o P. José Manuel Sabença: ‘Por mil e uma razões, creio poder dizer que JSF não é nem nunca será Jovens Sem Futuro, mas sim Jovem Sempre Forte, porque animado e fortalecido pela luz de Cristo’. Jovens Sem Fronteiras...uma história ainda no começo.... De 1983 até hoje, apenas se deu um pequeno passo. A história deste Movimento Missionário ainda está no começo, as primeiras páginas só agora estão a ser escritas. Os Estatutos foram aprovados pela Coordenação Nacional a 6 de Fevereiro de 2000 e pela Conferência Episcopal Portuguesa a 24 de Junho de 2003. É um projecto de fé, de caminhada em grupo, de missão, de solidariedade... um ramo que entronca numa velha árvore de 300 anos: a Congregação do Espírito Santo, fundada em 1703. Os JSFs têm consciência de que o futuro está nas raízes e, por isso, vão continuar a beber da espiritualidade espiritana. JSF em Encontro Nacional 859 Capítulo 93 Movimento Missionário de Professores (MOMIP) O MOMIP teve as suas raízes em 1962 com os Encontros Nacionais de Professores e Alunos Mestres, organizados pela LIAM. Foi através destes encontros que a motivação missionária se foi infiltrando nos seus participantes, dando origem a uma mística que acabou por sentir a necessidade de se organizar em movimento. Assim, depois de muita reflexão e partilha de ideias, em 1992, no Encontro de Cabo Verde, foi constituída uma Comissão instaladora e em 1998 tornou-se um movimento com âmbito nacional e duração indeterminada. Em 1999 os seus Estatutos foram aprovados, adquirindo o movimento o estatuto legal de associação privada sem fins lucrativos, de índole cristã e missionária. A sua sede ficou estabelecida na sede nacional da LIAM, na rua de Santo Amaro, à Estrela. Segundo estes Estatutos, os objectivos do movimento são os seguintes: a) dedicar-se à animação missionária de professores e alunos nas escolas e seu meio Encontro do MOMIP no Porto em 2001 envolvente; b) desenvolver o voluntariado missionário em ordem a despertar professores e outros para serem cooperantes em países desfavorecidos, sobretudo de expressão e língua portuguesas; c) apoiar a formação de missionários; d) promover o intercâmbio solidário entre culturas, línguas e etnias através do ambiente escolar e se possível a geminação entre escolas; e) promover e apoiar projectos de alfabetização e outras iniciativas que visam a educação de base; f) proporcionar aos seus membros a formação cultural, social e profissional. O MOMIP exercerá as suas actividades orientando-se pelos princípios definidos na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Doutrina Social e Moral Cristãs, segundo a espiritualidade e apoio dos Missionários do Espírito Santo. O MOMIP tem três categorias de membros, correspondendo ao nível de empenhamento e dedicação às suas actividades: 860 Adélio TORRES NEIVA a) membros colaboradores; b) membros efectivos, que têm de ser, ou ter sido, educadores ou professores; c) membros honorários. Os membros colaboradores são aqueles que aceitam participar no todo ou em parte, nos objectivos do MOMIP. São membros honorários aqueles que pelo seu saber e dedicação colaboram com os objectivos do MOMIP, mas cuja actividade não lhes permite uma participação total. Como todas as associações o MOMIP tem os seus órgãos sociais que são: a Assembleia Geral, a Direcção e o Conselho Fiscal. A direcção é constituída por um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário, um Tesoureiro, um Vogal, tendo a presença, sem direito de voto, do Conselheiro Espiritual. O MOMIP está ligado à Congregação do Espírito Santo, sendo o seu Conselheiro Espiritual nomeado pelo Provincial dos Missionários do Espírito Santo que aconselha, orienta e apoia o Movimento. O MOMIP procurará estabelecer delegações regionais. O seu regulamento interno, aprovado em Assembleia Geral, regulará o funcionamento dos serviços nacionais e das delegações regionais. Todos ao anos o MOMIP organiza um Grande Encontro a nível nacional, um ano dentro do país e outro ano fora e, ao longo do ano, promove vários encontros regionais. A Conferência Episcopal Portuguesa aprovou os seus estatutos a 1 de Julho de 2003. 861 Capítulo 94 Os Antigos Alunos J á em 1894, quando começou a haver alunos do Colégio do Espírito Santo, já formados por escolas posteriores, se começou a pensar em criar uma Associação dos Antigos Alunos do Colégio. Na reunião do Conselho Provincial de 30 de Setembro de 1894 foi ventilada a questão de uma Associação dos Antigos Alunos dos Colégios, como já existia em alguns colégios da França. Nessa altura foi decidido estudar melhor a questão, pois seria uma boa altura para essa fundação, a data das Bodas de Prata do Colégio que se iriam celebrar em 1897. Em Março de 1898, no mesmo Conselho Provincial, foi decidido fundar esta associação: dever-se-ia procurar entre os antigos alunos uma pessoa de influência marcante, para presidir a ela; criaria um gabinete e organizaria uma reunião todos os anos. De facto, durante a vigência do Colégio realizaram-se as duas primeiras reuniões destes alunos. A ideia tinha surgido antes, mas só agora se concretizou. Foi a 20 de Junho de 1909 que se realizou no Colégio do Espírito Santo, a primeira Reunião dos Antigos Alunos deste Colégio. A Eucaristia comemorativa foi celebrada pelo cónego Luís da Cunha Brandão, antigo aluno do Colégio, acolitado pelo Barão de S. Lázaro, Fernando Raio de Carvalho, também antigo aluno. À bênção do Santíssimo Sacramento, que era sempre um dos momentos mais emotivos da festa, acolitaram os antigos alunos PP. António Ribeiro Teles e José Terças Nesse dia ficou decidido criar uma Associação dos Antigos Alunos, tendo o antigo aluno Dr. Alberto Pinheiro Torres explicado os fins desta Associação. Era seu objectivo estreitar a união entre os antigos alunos do Colégio, criar uma receita para um prémio anual para os actuais alunos e subsidiar a formação de um dos filhos dos antigos alunos que carecessem dessa ajuda. Esse prémio, por sugestão deles, teria o nome do fundador do colégio “P. Eigenmann”. A comissão para elaborar os estatutos desta Associação ficou constituída pelo director do Colégio, pelo Dr. Carlos de Almeida Braga, o Dr. Alberto Pinheiro Torres e o Visconde de Paço de Nespereira, que viria a ser governador civil de Braga. A comissão para angariar meios seria formada pelo Barão de S. Lázaro, o Dr. Alberto Carlos Meneses, D. José de Lencastre e Inácio de Augusto Cerqueira. Os antigos alunos que estiveram presentes neste primeiro encontro foram 250. A segunda reunião, desta vez menos numerosa, até porque se deu num dia de muita invernia, foi a 5 de Junho de 1910 e reuniu 140 ex-alunos. Presidiu à 862 Adélio TORRES NEIVA Eucaristia o antigo aluno P. António Ribeiro Teles, professor no Seminário Apostólico da Formiga. Foi entregue pela primeira vez, o prémio “Eigenmann” a quatro alunos do Colégio, ficando, por proposta da comissão, as medalhas em exposição no Colégio. Foi também decidido dar um subsídio aos alunos menos remediados com o nome de “Prémio Hossenlopp”. A terceira reunião, no tempo da existência do Colégio, que deveria ser no ano seguinte, já se não realizou por o Colégio ter sido suprimido pelo Governo da República em 1910. O P. Pinho e os Antigos Alunos Quando o P. Pinho chegou a Portugal em 1919 teve a grande consolação de verificar que os colégios continuavam a viver no coração de muitas gerações de antigos alunos. A esperança de os poder restaurar tinha desaparecido pois não havia a indispensável liberdade nem se podia dispor de pessoal para os orientar. Mas entre os antigos alunos, a Congregação não tinha morrido por completo. Quando se começou a espalhar a notícia de que havia espiritanos em Braga, a Quinta do Charqueiro começou a ser visitada e alguns, nomeadamente D. José de Lencastre, Dr. Pinheiro Torres e vários médicos e padres, antigos alunos, por ali passaram várias vezes. Por fim, surgiu a ideia de se reunirem para restabelecer contactos e reviver tempos passados. A primeira reunião, organizada pelo P. Miguel Fonseca, teve lugar a 19 de Agosto de 1923, presidindo à Eucaristia o bispo de Leiria, D. José Correia da Silva, antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, sendo o almoço de confraternização num hotel do Bom Jesus. A partir daí, essa reunião passou a fazer-se anualmente. Essas reuniões eram um momento forte de alegria, cordialidade, entusiasmo e saudade. Os que não podiam comparecer enviavam expressivas mensagens e telegramas que bem denotavam a comunhão de sentimentos. Alunos houve que desde a primeira hora se puseram à disposição da Congregação, como o D. José de Lencastre, outros que ofereceram, enquanto tiveram forças para o fazer, o contributo gratuito das aulas de sua especialidades, como o Capitão Monteiro Pinto, e outros com a sua assistência médica permanente ao seminário, como os Drs. Jerónimo Louro e Ramalho. Os seminários da Congregação para vários deles, tornaram-se casas de visita obrigatória e frequente. Estes antigos alunos tiveram um papel de muita importância no relançamento da Congregação, pois foram uma frente de apoio decisiva em não poucas conjunturas. Nessa altura em 1923 fundou-se a “União dos Antigos Alunos dos Colégios do Espírito Santo”, ficando a seu director o P. Fonseca. Em 1937 a União passaria para a Província. Em 1924, a 25 de Maio, a reunião foi no mosteiro de Tibães, tendo presidido à Eucaristia o antigo aluno D. José Correia da Silva, bispo de Leiria e sendo o Os Antigos Alunos 863 almoço servido na Sala do Capítulo do mosteiro. Receberam-se mensagens, entre outros dos PP. Blériot, Kempf e Girollet. Na reunião de 1939 foram homenageados D. Moisés Alves de Pinho, o P. Fonseca e o P. Blériot, recentemente falecido. As reuniões faziam-se todos os anos, no Seminário do Fraião, em geral na festa da Santíssima Trindade. Era um dia intensamente festivo onde não faltavam os discursos, a reunião de confraternização, a fotografia da praxe, e a renovação do apoio material que davam à Congregação. O número, ao princípio com cerca de duas centenas, foi diminuindo à medida que o número dos falecidos ia crescendo. Em 1968 a reunião era já feita em conjunto com os Antigos da Formiga. Depois da morte do P. Miguel Fonseca, a relíquia sempre festejada e venerada do Colégio, assumiu a direcção da União o P. António Teles e depois da morte deste o Superior do Fraião, primeiro o P. Manuel Meira e depois os superiores sucessivos. Os “Antigos da Formiga” Em 1925, no dia 5 de Outubro, precisamente 15 anos após a proclamação da República, reuniram-se pela primeira vez, na Formiga, os antigos escolásticos do Seminário Apostólico da Formiga; compareceram 25. A segunda reunião realizou-se no mesmo Colégio, no ano seguinte, também no dia 5 de Outubro e a ela compareceram 20 formicenses. Quando tudo fazia prever que estas reuniões se tornassem anuais, para maior incremento das relações entre os antigos alunos da Formiga, ficou a terceira reunião marcada para 1931 e nela compareceram apenas 17 pessoas. No ano de 1945, 14 anos depois, é que teve lugar a quarta reunião, sempre na Formiga e no dia 5 de Outubro, estando presentes 16 formicenses e dois espiritanos: o provincial de então P. José Pereira de Oliveira e o P. Aníbal Rebelo. Andavam as coisas neste pé, quando no verão de 1952, o dr. Joaquim Caetano Pinto, ausente do país durante muitos anos, encontrando-se com o Sr. Antómio Martins Correia lhe perguntou pelas reuniões. Da conversa ficou resolvido nomear-se uma comissão para organizar estas reuniões e promover uma reunião imediata “que servisse de base a uma nova era de ressurgimento nas relações entre os antigos formicenses”, com reuniões se não anuais, pelo menos muito frequentes. A reunião efectuou-se a 1 de Dezembro de 1952, na Formiga, tendo comparecido a ela 16 antigos. E a partir daí as reuniões tornaram-se anuais. Em 1953 houve já 29 presenças, incluindo três espiritanos não formicenses: o P. Olavo Teixeira, provincial, o P. João Pinto da Silva, superior do Seminário do Fraião e o P. José Felício, director da Acção Missionária. Nesta reunião foi lançada a ideia da fundação de uma Bolsa de Estudos, cujos estatutos foram aprovados na reunião do ano seguinte. Em 1954 compareceram 27, tendo a data passado de 5 de Outubro para o 10 de 864 Adélio TORRES NEIVA Junho. Nesta reunião foi decidido publicar um pequeno boletim “Antigos da Formiga”, de que chegaram a sair 10 números. Houve a sugestão de associar aos Antigos da Formiga os antigos alunos dos seminários do Espírito Santo, posteriores à restauração de 1919. Em 1955, compareceram 33 e em 1956, excepcionalmente a reunião realizou-se no Seminário do Fraião, por serem as Bodas de Oiro sacerdotais de três Antigos da Formiga: PP. José Maria Figueiredo, José Finck e Lúcio Casimiro dos Anjos. Em 1958 realizou-se no Seminário da Torre da Aguilha a primeira reunião dos ASES (Antigos Alunos dos Semanários do Espírito Santo), onde esteve uma representação dos Antigos da Formiga. A segunda reunião, no ano seguinte, seria já no Fraião. Na reunião de 1959, estiveram nove espiritanos, todos eles Antigos da Formiga, excepção feita ao P. António Meira: PP. José Maria Figueiredo, Jerónimo Ferreira, José Rodrigues Cosme, Joaquim Correia de Castro, Isalino José Alves Gomes, e Clemente Pereira da Silva. Em 1951 começaram a participar na reunião também as senhoras, pelo que ficou instituída a Família dos Antigos da Formiga, tendo comparecido 30 pessoas. Em1955 foi nomeado para secretário dos Antigos da Formiga o P. Joaquim Correia de Castro. Os A . S . E. S Foi no ano de 1938 que o P. Fernando Moreira, depois de ter despedido um dos seus seminaristas, preocupado com o futuro daquele jovem e de muitos outros que frequentavam o seminário mas que eram despedidos por neles se não vislumbrar vocação para o sacerdócio, chamou o Dr. Manuel Teixeira e deu-lhe conta dessa preocupação. Desta confidência, os dois logo pensaram em fazer uma “União dos Antigos Seminaristas”. Existia já a “União dos Antigos Seminaristas da Formiga”, restrita ao Seminário da Formiga. O P. Fernando Moreira pretendia abarcar todos os antigos seminaristas da Congregação em Portugal. Foi assim que, o P. Fernando Moreira fundou e dirigiu o jornal “União” onde difundia o convite dirigido a todos os antigos seminaristas para se unirem e tornarem cooperadores dos Missionários do Espírito Santo nas obras que lhe são próprias e características. Mais tarde, em 1985, criariam uma Associação com Estatutos e quadro jurídico. União dos Antigos Alunos dos Seminários do Espírito Santo Desde que os Antigos Alunos da Formiga, em 1952 começaram a ter as suas reuniões anuais, foi objecto de constante estudo e consulta o plano de aproximar os “antigos” dos modernos seminários do Espírito Santo, isto é, todos os que frequentaram seminários do Espírito Santo após a restauração da Província em 1919. A ideia esteve a ponto de se concretizar em 1954, graças ao entusiasmo do Os Antigos Alunos 865 “antigo” do Fraião, António Fernando Correia Pinto, coadjuvado pelo seu primo Joaquim Caetano Pinto, da Comissão da “União dos Antigos da Formiga”. A ida desse fraionense para Angola transtornou por então o plano de uma reunião mista dos antigos dos modernos seminários com os antigos da Formiga, mas não a ideia, que continuou sempre de pé. A junção de todos os antigos de todos os seminários do Espírito Santo era aliás uma questão vital para ao “Antigos da Formiga”. Este fechou com o 5 de Outubro, estancando-se assim a fonte de perpetuidade para os formicenses, que de ano para ano viam rarear as suas fileiras. E se eles até agora não Reunião de Antigos Alunos, com o Superior Geral. tinham levado a cabo a sua aproximação entre os representantes dos dois ciclos históricos – monarquia e república – isso ficou-se a dever apenas à extraordinária vitalidade e espírito de união dos “Antigos da Formiga”, que à distância de meio século e apenas com algumas dezenas de sobreviventes, têm apresentado reuniões com frequência que rondam pela casa dos 30. Coube ao ano de 1958, registar, finalmente, na Torre da Aguilha, no dia 27 de Julho, a primeira Reunião dos Antigos dos Seminários do Espírito Santo, graças principalmente à acção do Dr. Manuel Teixeira. Nesta primeira reunião ficou resolvido entre outras coisas, o seguinte: a) O agrupamento toma o nome de “União dos Antigos Alunos dos Seminários do Espírito Santo” b) A próxima reunião efectuar-se-á no Fraião, no dia 16 de Agosto de 1959. c) Foi indigitado o P. Fernando Moreira para delegado da Congregação junto da União. d) Foi nomeada uma Comissão para elaborar os Estatutos da União. e) Foram nomeadas duas Comissões executivas, uma para o Norte outra para o Sul. f) Ficou resolvido haver anualmente uma reunião, em local a designar de reunião para reunião. g) A “Acção Missionária” será o órgão oficial da União. A União ficou a ser denominada “Uni-Ases”, com o seu jornal, encontros e reuniões periódicas nos diversos centros regionais e magna assembleia anual no Seminário do Fraião, na Festa da Santíssima Trindade. No Boletim de 1962 aparecem os princípios orientadores da Associação que se resumem no seguinte: Natureza: Uma Associação de carácter moral que congrega todos os alunos dos seminários do Espírito Santo que não completaram a carreira eclesiástica e os que a completaram ou ficaram fora da Congregação. Fins e Meios: 866 Adélio TORRES NEIVA 1. Reavivar o espírito de camaradagem criado no tempo do seminário; 2. Manter e desenvolver o espírito missionário, segundo o ideal da Congregação. 3. Promover em todos os membros da União o sentido do reconhecimento devido à Congregação do Espírito Santo, tornando-o efectivo, cada um no seu campo de acção e possibilidades. 4. Prestar assistência moral e material, esta quando necessária e possível, aos colegas que dela careçam. A 28 de Outubro de 1985 os “ASES” Manuel Ribeiro Soares, Timóteo Jorge Moreira, Diamantino dos Santos Oliveira, José Maria de Seabra Marques, Manuel Alves Moreira da Costa, Manuel Francisco de Sousa e António Monteiro constituíram no Cartório Notarial de Paredes, perante o notário João Enes Gonçalves, a associação denominada “União dos Antigos Alunos do Espírito Santo”, que se regerá pelos Estatutos que então foram aprovados e depois corrigidos pela Assembleia dos Ases. Junto da União há um sacerdote, delegado da Congregação. De 1960 a 1965 figura o P. Fernando Moreira como assistente da Congregação junto dos antigos seminaristas. Depois, a maioria dos antigos, contra a opinião do P. Moreira, decidiu dar um quadro jurídico à União, criando uma Associação, com os respectivos estatutos. Foi nomeado assistente da Associação o director das Vocações, P. José Lapa desde 1965 a 1973. O P. Abel Moreira Dias foi o assistente seguinte até 1984. Seguidamente veio o P. João Carreira Mónico e o P. António Farias Antunes. Seguiu-se depois o P. Jorge Veríssimo até 1998, data em que foi nomeado o P. José Reis Gaspar. Em 2002, foi nomeado como segundo assistente, especialmente para a zona norte, o P. Mário Silva. Todos estes assistentes procuraram dinamizar e manter viva a preocupação missionária nos antigos escolásticos e acarinhar a sua presença e a sua memória na Família Espiritana. A colaboração dos ASES tem sido sobretudo de apoio à Congregação, seja pela fundação de Bolsas de estudo, seja por apoio profissional, seja sobretudo pela amizade e dedicação que continuam a consagrar à Congregação. Tanto o grande encontro anual do Fraião como as reuniões regionais são sempre um momento forte de comunhão, amizade e saudade. O órgão que os une começou por se chamar “União dos ASES” aparecido em forma de Boletim em 1961; depois em 1974 passou a chamar-se só UNIÃO. Finalmente o seu último nome, que ainda vigora, é “Uniases”. 867 Capítulo 95 Serviço de Solidariedade Espiritana com Angola (SES) P. Casimiro Pinto de Oliveira D urante a realização do V Capítulo Provincial, na Torre da Aguilha, de 15 a 29 de Julho de 1990, quando se examinava a difícil situação em que viviam os confrades em Angola, em estado de guerra, um dos seus delegados, o Padre Joaquim Maria Mendes, lançou o apelo para uma maior ajuda aos Espiritanos em Angola, mormente carenciados de alimentos, salientando também a miséria do povo e pedindo, especialmente, vestuário para os que mais colaboravam com os missionários, concretamente os catequistas. Até então a Província não dispunha de um serviço organizado de apoio alimentar aos missionários; algo se ia enviando tanto pela Procuradoria das Missões como pelo novo movimento Jovens Sem Fronteiras: em alimentos, vestuário, material escolar, artigos de enfermagem, etc. Os Espiritanos portugueses sentiam profundamente os problemas de Angola, até porque muitos deles lá haviam trabalhado; e os amigos e colaboradores dos Espiritanos, principalmente os liamistas, iam-se consciencializando para ajudar os missionários numa Angola em guerra. Pareceu assim oportuno e mesmo necessário dotar a Província de um instrumento de serviço aos missionários, para além do que já fazia a Procuradoria. Após maduro exame, o Capítulo fez as seguintes propostas: “Crie-se um SERVIÇO DE SOLIDARIEDADE que intensifique e coordene as acções promovidas neste âmbito, ao nível das Comunidades, da Animação Missionária e da Procuradoria.” “O Conselho Provincial dê os passos necessários para criar este serviço de coordenação, conseguindo, na medida do possível, pessoas e meios indispensáveis para esse fim. A Procuradoria fica responsável pelo envio.” “Como gesto de solidariedade efectiva, apoie-se a geminação entre grupos de animação missionária ou paróquias com obras, projectos ou comunidades nas circunscrições missionárias.” “Que toda a Província assuma como uma das suas prioridades a procura de uma resposta concreta e efectiva às situações mais urgentes, como a que Angola está a viver.” “Que cada comunidade, no seu projecto comunitário, tenha em atenção esta 868 Adélio TORRES NEIVA preocupação de comunhão e solidariedade com os confrades em situações mais difíceis, estabelecendo inclusivamente gestos concretos de partilha.” “Que se encorajem e intensifiquem as iniciativas tomadas ao nível da Animação Missionária e da nossa imprensa, para fazer participar as nossas comunidades cristãs e particularmente os leigos que connosco colaboram, nesta prática da solidariedade missionária.”476 Estavam dados os passos necessários para o nascimento da Solidariedade Espiritana com Angola. Nos primeiros anos, a ajuda, enviada em contentores, era constituída mais por roupas, tecidos, calçado e material escolar do que por alimentação e outros artigos. Com o passar dos anos, foram-se fazendo alterações, de acordo com as necessidades e os apelos dos missionários; a primazia passou para os produtos alimentares, em especial o leite, tendo em atenção a fome tanto dos missionários como das populações e, principalmente, das crianças. Ao longo de treze anos sentiu-se bem o empenho dos espiritanos; por seu lado a administração provincial, na fase inicial, concedeu avultadas verbas; mas é de justiça salientar que de longe a maior contribuição se deve ao generoso contributo, em géneros e em dinheiro, de uma grande rede de liamistas, benfeitores e amigos. Por seu lado a imprensa espiritana tem sido grande dinamizadora de uma cadeia de solidariedade. De l de Novembro de 1990 até 31 de Dezembro de 2003, foi enviado o seguinte: Leite, arroz, açúcar, feijão, massas, farinha de trigo (421.891,00) Kgs; Sal de cozinha (1.500,00) Kgs; Chouriço e Salsichas (71.382,50) Kgs; Óleo alimentar (33.861,00) Lit.; Sabão em barra. (68.855,00) Kgs; Artigos de enfermagem e remédios, incluindo um aparelho de Raio X, uma mesa de operações e um aparelho de radioscopia (9.085,00) Kgs; Bicicletes, incluindo algumas motorizadas, para Catequistas (239) Unid.; Roupas novas e usadas, tecidos e cobertores (constata-se um envio crescente de roupas novas) (669.230,00) Kgs; Calçado novo e usado (21.935,00) Kgs; Máquinas de costura e de tricotar (26) Unid.; Material escolar, livros, um duplicador e Bíblias (23.265,00) Kgs; Móveis: camas, colchões, secretárias, cadeiras, armários, portas, estantes, etc (15.490,00) Kgs; Diversos materiais de construção (1.590,00) Kgs; Gerador eléctrico (1) Unid.; Brinquedos para crianças. (917,00) Kgs; Artigos de desporto (230,00) Kgs; 476 Documentos Capitulares. II Vol. Nºs 772-577 Serviço de Solidariedade Espiritana com Angola (SES) Diversos artigos religiosos Pneus com jantes Artigos variados 869 (242,00) Kgs; (9) Unid. (1.241,00) Kgs; Este movimento de solidariedade espiritana com Angola, num total de 67.416 volumes, 4.309,35 metros cúbicos e 1.346.953,50 kg de peso, insere-se numa estrutura mais vasta que se constituiu e se tem afirmado nos últimos anos como o Serviço Espiritano de Solidariedade (SES). A Província Portuguesa disponibiliza anualmente grandes contributos monetários para, através de instâncias espiritanas internacionais, colaborar na Solidariedade de toda a Congregação no mundo. Aos seus membros em actividade missionária e para seus trabalhos vai concedendo valiosas ajudas. Por outro lado empenha-se em fomentar, mormente através da sua imprensa missionária, a colaboração do povo cristão e dos amigos para com os missionários e seus projectos; e, felizmente, tem havido uma grande correspondência. Existem muitos donativos vindos para missionários individualizados. Nestes últimos anos foram lançadas campanhas de fundos para o financiamento de projectos, sempre bem sucedidas; pela sua importância e significado salientam-se: ajuda aos missionários da Guiné-Bissau em fase aguda de guerra e desorganização do país; constituição de uma reserva para futura construção de uma Igreja em Caió, na Guiné-Bissau; a construção de numerosas escolas em Netia, Moçambique; apoio à construção da nova missão espiritana de Itoculo em Moçambique; a maternidade de Kalandula em Angola; o Centro Pastoral da Calheta de S. Miguel na ilha de Santiago em Cabo Verde. Desde 1999 a Província Portuguesa concede uma ajuda muito especial para o funcionamento dos seminários espiritanos em Angola. Apoio material aos seminários espiritanos de Angola Nos terríveis anos de crise e profundas carências durante a guerra em Angola, a alimentação dos seminaristas constituiu um dificílimo problema. Dos alimentos enviados pela Província Portuguesa, no âmbito da Solidariedade espiritana, a Procuradoria de Luanda retirava uma parte para os Seminários; mas não era uma ajuda programada. Numa das suas passagens por Lisboa, no verão de 1999, o Ecónomo provincial espiritano de Angola, Padre Manuel Teixeira José, formulou o pedido de a Província Portuguesa fornecer uma parte substancial da alimentação necessária. Com o Procurador das Missões, Padre Casimiro Pinto de Oliveira, fez-se um estudo das necessidades para o ano escolar de 1999-2000, a partir do número de alunos, professores e pessoal em serviço nos Seminários. O pedido referia-se apenas a esse ano; mas a continuação das dificuldades em Angola levou a que a ajuda se tenha efectuado até à presente data. Os envios têm 870 Adélio TORRES NEIVA sido realizados para os portos de Luanda e Lobito, em contentores, de acordo com a indicação de Luanda e a localização dos Seminários; e sempre com a marcação do que se destina a cada um deles. 871 Capítulo 96 Voluntariado Missionário Espiritano P. José Costa F oi no Capítulo Provincial de 1984 que os espiritanos começaram a falar do laicado missionário, entendido no seu aspecto de voluntariado. “O Provincial e seu conselho julgarão da possibilidade e oportunidade, em pessoas e meios, de efectivar o lançamento do Laicado Missionário. Esta iniciativa será proposta a outros Institutos Missionários”477. No Capítulo Provincial de 1990 retoma-se o tema mas como decisão assumida: “Confie-se a um confrade o lançamento do Voluntariado Missionário quanto possível em colaboração com os IMAG e o desenvolvimento da cooperação dos associados”478. A fim de organizar este novo sector da nossa Animação Missionária, o Conselho Provincial incumbiu o P. Arlindo Areia Amaro de elaborar um plano de acção ou projecto para lhe ser apresentado em Fevereiro de 1992, após ter recebido algumas sugestões, num Conselho de Animação Missionária. Na assembleia da Páscoa daquele ano, o projecto do Voluntariado foi estudado pelos confrades que nela participaram, recebendo retoques e achegas. Nesta altura foi nomeada uma comissão para dar forma definitiva ao texto do projecto, tendo em conta todas as sugestões apresentadas. O texto foi finalmente aprovado no Conselho Provincial de Outubro de 1992. A fim de colaborar com o P. Arlindo, e principalmente para acolher os candidatos ao voluntariado, vindos do Sul do país, foi nomeado o P. Manuel Durães Barbosa. No intuito de tornar o projecto extensivo a todos os Institutos Missionários, o Provincial Espiritano, P. José de Castro Oliveira, na reunião dos IMAG (Institutos Missionários Ad Gentes) em 6 de Maio de 1991, fez a proposta a todos os superiores maiores como se lê na acta dessa reunião: “...O P. Castro informa que a Congregação do Espírito Santo nomeou um padre e disponibilizou uma casa em Braga para a formação de um laicado missionário. Não se trata de uma iniciativa dos Espiritanos, mas de todos os Institutos Missionários. Para realizar este projecto que tem de dar passos e alargar horizontes, é preciso constituir uma equipe ligada à animação missionária. Foi avançada a ideia de criar um centro de formação para leigos e sua colocação. Foi pedido ao P. Castro para enviar uma circular aos Institutos Missionários explicitando o projecto, visto não estar ainda claro para todos”479. 477 478 479 Documentos Capitulares n.º 478. Documentos Capitulares n.º 601. JMAG, Acta n.º 14. 872 Adélio TORRES NEIVA Como se tornava indispensável uma consulta aos respectivos Conselhos Provinciais, a decisão ficou adiada para a próxima reunião de 1992. O que então ficou decidido foi exarado em acta do seguinte modo: “P. Castro comunica que o projecto que têm para a formação dos leigos missionários, pensado inicialmente para ser um projecto comum, é levado à frente, por enquanto, pelos Espiritanos. Fizeram já os estatutos onde vem contemplado o acolhimento, a preparação e o envio”480. Os Institutos Missionários estavam de acordo em lançar tal movimento a nível nacional e de forma conjunta, e todos aceitaram comprometer-se com este projecto, mas mais nenhum tinha as condições necessárias, em pessoas e instalações, para o levar por diante. Ficaram então os Espiritanos encarregados de organizar e dinamizar o projecto, sendo para eles encaminhados todos os candidatos que se fossem apresentando. Os ESTATUTOS, depois de apresentarem a fundamentação teológica do laicado missionário, tinham no seu capítulo II, os objectivos, as condições exigidas, a proposta do caminho de formação. Assim se definia: “O VOLUNTARIADO MISSIONÁRIO ESPIRITANO é um sector da Animação Missionária da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, constituído por homens e mulheres que desejam solidarizar-se com os mais pobres e desfavorecidos, aceitando colaborar gratuitamente num projecto missionário, por um tempo determinado”. Este projecto seria coordenado por um responsável provincial do sector. Tinha como objectivos: A) – Por parte da Província: “formar leigos conscientes e responsáveis para a missão ‘Ad Gentes’; prepará-los para a missão e acompanhá-los durante a sua prestação de serviço missionário; integrá-los, como animadores missionários na Igreja de origem”. B) – Por parte dos voluntários: “Ser uma presença testemunhante de fé; solidarizar-se com os mais pobres; oferecer um serviço a uma Igreja em terras de Missão; enriquecer-se com os valores de outras culturas e o dinamismo de outras Igrejas; colaborar com os missionários Espiritanos, partilhando também a sua espiritualidade”. As condições exigidas aos candidatos eram as seguintes: “Ter 20 anos como idade mínima; ter saúde física e psíquica para suportar o clima e as circunstâncias adversas; ser católico de fé amadurecida; ter motivação evangélica; ter aptidão julgada necessária para a tarefa profissional ou de evangelização que vai realizar; se for casado, que o seu cônjugue o acompanhe e comungue do mesmo ideal; não ter pessoas a seu encargo, no caso de trabalho missionário fora do seu país”. Ao voluntário exigia-se ainda: “ter dado provas de leigo comprometido numa comunidade eclesial; aceitar o programa de formação que for julgado necessário, antes de partir; assumir um compromisso por tempo determinado, nunca inferior a um ano; capacidade de escuta e diálogo com outras culturas; disposição de colaborar com os missionários e de se integrar na comunidade eclesial do lugar onde vai residir; não 480 Acta n.º 17. Voluntariado Missionário Espiritano 873 casar, no período de compromisso, a não ser que o missionário coordenador não veja nisso qualquer obstáculo”. Sobre a formação a ministrar ao candidato, os Estatutos são também bastante precisos. Depois de aconselharem uma formação a longo prazo, em que o candidato deveria frequentar cursos de formação Bíblica e Catequética e de dinâmicas de grupo, os Estatutos prevêem uma preparação próxima. Como propostas de cursos mais voltados para a missão: “Introdução à Eclesiologia e Teologia da Missão; Introdução à História do país em que vai trabalhar; conhecimento da história, situação e necessidades da Igreja local que vai servir”. Os Estatutos definem as relações do Voluntário com a Igreja de acolhimento do seguinte modo: “- A partida do voluntário só poderá efectuar-se para zonas onde esteja organizada uma estrutura de acolhimento: Uma comunidade missionária onde o voluntário se insira, que lhe dê apoio espiritual e lhe ofereça um convívio fraterno; Um coordenador nomeado pela circunscrição onde ele vai trabalhar, disponível para o apoiar e orientar de modo permanente. - O serviço do voluntário pode ser pedido quer pelos missionários quer pelos agentes de pastoral da Igreja local, mas sempre com conhecimento e anuência do Bispo da Diocese. - A oferta ou pedido de trabalho missionário deve estar de acordo com o desejo ou proposta do voluntário e do responsável espiritano que o envia. - O responsável espiritano do voluntariado estabelecerá diálogo com o bispo e a comunidade de acolhimento, dando-lhe a conhecer as características e possibilidades do voluntário; a sua relação com a Congregação; o apoio de que necessita. - Os compromissos assumidos pelas diferentes partes devem ficar escritos. - O responsável provincial manter-se-á em contacto com o Bispo da Diocese, a comunidade de acolhimento, o Coordenador nas Missões e o Voluntário. - A comunidade de acolhimento deve velar para que os compromissos assumidos sejam cumpridos por ambas as partes. As relações entre o voluntário e a Província eram definidas por um contrato no qual constava a duração do serviço missionário e outros elementos importantes tais como: “Quem paga as viagens de ida e de volta; qual o trabalho profissional ou apostólico que vai realizar; quais os meios financeiros que asseguram o seu sustento, a sua saúde e o exercício do seu trabalho apostólico; onde vai viver e trabalhar; que seguro o apoiará em caso de invalidez; que apoio receberá a quando do regresso, caso não encontre trabalho nos primeiros seis meses”. Com a finalidade de pôr em acção o projecto do voluntariado, a Província Portuguesa nomeou uma equipa com um responsável a tempo pleno. Foi-lhe confiada a seguinte tarefa: “Despertar e cultivar a vocação laical missionária; organizar programas de preparação para os candidatos voluntários; procurar e preparar locais de vida e trabalho para os leigos que desejem integrar-se no voluntariado, através de contactos 874 Adélio TORRES NEIVA com os Bispos e Superiores dos Distritos e Províncias e de visitas aos países de missão; combinar com cada candidato o seu programa de preparação: manter contacto com os leigos que são enviados e suas famílias e com os coordenadores nas missões; ter os contactos necessários com a Igreja local e a comunidade espiritana das zonas onde os voluntários prestam serviço; estabelecer e manter contactos com outras Províncias espiritanas que fazem idênticas experiências; desenvolver contactos com outros Institutos Missionários que estejam empenhados num projecto do mesmo género, no sentido de dar e receber informações e ajudarem-se mutuamente”. A Província apoiou financeiramente o projecto sugerindo que se buscassem as ajudas financeiras necessárias nos organismos nacionais e internacionais para que, à medida que se fosse expandindo, ele caminhasse para a sua autonomia financeira. O P. Arlindo Areia Amaro, confrade escolhido pelo Conselho Provincial para o lançamento e organização do Voluntariado, procurou, como lhe foi pedido, trabalhar em conjunto com os outros Institutos Missionários. Começou por divulgar o projecto com um atraente desdobrável, apresentando-o como uma nova forma de viver a missão, pôs as condições para dele se fazer parte, iniciou a formação do primeiro grupo, pôs-se em contacto com os Bispos de Angola e com vários missionários espiritanos espalhados pelo mundo a quem poderia interessar este projecto. Em 1993 eram vinte os que participavam nas etapas de formação e doze candidatos eram dados como aptos a partir. A situação de guerra que de novo se reacendera em Angola, país onde os voluntários seriam mais úteis, não favorecia o envio. As comunicações eram lentas, os contactos difíceis, e o envio poderia ser um risco. Até 1994 nenhum candidato tinha partido. Em 1994 o P. José de Castro Oliveira, assumiu a responsabilidade do Voluntariado e mudou a sua sede para o Fraião. Dada a impaciência de alguns e depois de uma viagem a Angola para verificar “in loco” as reais necessidades e possibilidades, começou a preparar-se a primeira equipe para partir, já com um destino definido. Em 1996, partiram as primeiras voluntárias Maria Celeste Pina dos Reis e Laura Maria Marques Rodrigues Casimiro, por dois anos, para a diocese do Lubango para trabalharem na escola do ICRA; no ano seguinte, seguiu-se o Nelson Ramalhoto para a mesma escola e o Asdrúbal Carvalho para o Sêndi; em Julho de 1999 partiu o Dr. João Nascimento para a diocese de Menongue. Por seu lado, a Associação Sol Sem Fronteiras também preparava e enviava alguns Jovens Sem Fronteiras. Malange (Angola), Caió (Guiné), Ribeira Afonso (S. Tomé), Calheta (Cabo Verde) foram alguns dos destinos de trabalho destes jovens. O dispêndio de muitas energias e a sensação de um trabalho paralelo fez nascer a necessidade de uma colaboração maior com a ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’ com a qual se formalizou um protocolo de colaboração nos seguintes termos: “Atendendo a que a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, através do Voluntariado Missionário Espiritano (VME), acolhe e garante a preparação, envio e acompanhamento de Leigos(as) que querem partir em missão Voluntariado Missionário Espiritano 875 por dois ou mais anos, segundo o carisma espiritano; atendendo a que a ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’ nascida do sector juvenil da Animação Missionária Espiritana, os Jovens Sem Fronteiras, tem como objectivo principal apoiar o desenvolvimento dos povos, através de projectos de solidariedade; atendendo a que os Leigos(as) Missionários(as) Espiritanos(as) para além da pastoral, se comprometem em projectos nas áreas da saúde, do ensino e de outros pólos de desenvolvimento dos povos; A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo e a ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’ celebram este protocolo: A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo coordena a inscrição, acolhimento inicial, formação, a escolha de projectos e lugares de envio, bem como o acompanhamento dos Voluntários(as) Missionários(as). A ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’ coordena o dossier de documentação, as implicações burocráticas, os contactos com entidades financeiras (oficiais ou privadas) e faz o acompanhamento específico se os(as) Voluntários(as) Missionários(as) integram projectos em que a ONGD está envolvida. O(a) Voluntário(a) Missionário(a), após o seu regresso, decidirá, em diálogo com a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo e a ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’ que tipo de vínculo gostaria de manter com estas instituições depois da sua experiência de voluntariado missionário”. Este protocolo com a validade de três anos foi assinado por ambas as partes em 21 de Maio do ano 2000. Assinaram pela Província os PP. Eduardo Francisco Miranda Ferreira, provincial e José de Castro Oliveira, responsável do Voluntariado Espiritano e pela ONGD Sandra Isabel Dias Simões, presidente da direcção e Manuel Pereira Bento, Director Executivo. Em Setembro de 2000 o P. José Martins da Costa assumiu a responsabilidade do Voluntariado. Apoiando-se em todo o trabalho que a FEC (Fundação Evangelização e Culturas) estava a realizar no sentido de coordenar a formação para os voluntários para aí envia os leigos que se apresentavam, fazendo a selecção segundo os critérios definidos nos Estatutos. Aos que não queriam partir ou que só estavam disponíveis por um mês, eram apontados outros caminhos. A Internet com o sítio Espiritano passou a ser a porta para o primeiro contacto. Dezenas de pessoas se mostram curiosas querendo saber mais, mas permanecem apenas aquelas que, respondendo a uma ficha de inscrição em que estão as condições exigidas, se identificam mesmo com o projecto espiritano. Em 2003 partiu um leigo para a Calheta de S. Miguel (Cabo Verde), e outra para Moçambique; em Fevereiro de 2004 partiu outra para o Lubango e mais duas partiram ao longo do ano de 2004. Sem a estrutura de outros organismos de maior dimensão, o Voluntariado tem dado resposta de maneira consistente aos casos que se identificam verdadeiramente com a missão espiritana e os resultados surpreendem-nos pela positiva. A proximidade com a comunidade religiosa no campo da missão, com uma profunda partilha de vida, tem sido o caminho utilizado e que tem dado frutos consoladores. 877 Capítulo 97 CEPAC - Centro Padre Alves Correia P. Veríssimo Teles A década de 90 foi a maior em entradas de imigrantes em Portugal. Portugal não soube – nem está a saber ainda – regular o fluxo migratório. Como na Europa, a regularização do fluxo migratório é feita pela óptica do lucro e pela restrição da lei, executada pela polícia. O valor da pessoa humana é ignorado como que conscientemente e as causas da imigração não acauteladas nos países de origem e o país de acolhimento olha o imigrante como máquina de produção. Os Missionários do Espírito Santo, numa visão humanista e cristã, manifestam o seu desacordo com tais políticas de imigração e colocam no “terreno” este centro como sinal e grito do respeito pela pessoa humana por ser pessoa e por ser filha de Deus. Como complemento indispensável à Capelania dos Africanos, que é a Palavra que anuncia a Caridade, e que os Missionários do Espírito Santo têm assistido desde os Padre Alves Correia começos da imigração, nasce o Centro Padre Alves Correia como que a “caridade” incarnada para o imigrante. O nome O Centro tomou o nome do P. Joaquim Alves Correia, missionário espiritano, por ele ter sido durante décadas uma voz que se fez ouvir na defesa dos direitos humanos e dos valores da liberdade e da democracia. É conhecido pelo seu zelo apostólico e os seus escritos fazem-no presente e actual. O Prof. Manuel Braga da Cruz, diz: ”O P. Joaquim Alves Correia é justamente, e sem exagero, um dos pais fundadores da democracia portuguesa em que vivemos.”481. O P. Joaquim Alves Correia nasceu a 5 de Maio de 1886 e veio a falecer, exilado político, nos USA, a 1 de Junho de 1951. O CEPAC tem procurado viver na esteira do seu “patrono”. Visitar o Centro é constatar diariamente uma luta pelos direitos humanos e pela dignidade da 481 cf. Prefácio do Livro “P. Joaquim Alves Correia” de Francisco Lopes 878 Adélio TORRES NEIVA pessoa, não de forma académica, mas concretizada no imigrante sem documentos, que não têm direito a casa, a cuidados de saúde e viver com a família, e muitas vezes vítima e explorado por empregadores. Objectivos do Centro Padre Alves Correia O Centro aparece com o objectivo fundamental de ajudar os imigrantes a uma integração total que lhes respeite a identidade e os faça sentir pessoas numa sociedade que, à partida, reconhece os direitos humanos e subscreve os acordos e leis internacionais. Concretamente, esta ajuda de integração leva o Centro a prestar todo o apoio documental e administrativo possível: documentação para permanência no País, para inserção no trabalho, aquisição de alojamento, direito à saúde e educação. Como muitos imigrantes chegam sem conhecer os seus direitos e deveres, cabe ao Centro também esta missão. O Centro encaminha os seus utentes para as diversas instituições civis e do Estado, onde podem resolver os seus problemas e defende-lhes os direitos. Quis também o Centro comprometer-se no apoio jurídico e de saúde dos seus utentes. Por isso, ao longo da história do CEPAC são centenas os “litígios” que se procuraram sanar entre imigrantes e patrões; centenas ainda as cartas dirigidas aos departamentos a alertar para a justiça devida aos imigrantes. A denúncia pública das injustiças, cautelosa mas afoita, tem também sido caminho corrente na intervenção escrita, radiofónica e até televisiva; recorde-se o “caso Vuvu” (que agitou o País) e o “Caso STL. Lda. Barrosa” de Leiria. No concreto da vida do imigrante, o Centro está com ele, tanto quanto possível, quando não tem papéis, quando não tem trabalho, alojamento, saúde ou é injustiçado; quando não tem alimento ou precisa de vestuário ou de um medicamento. O Centro, pelos seus funcionários dedicados, sabe ouvir a “história dramática” de muitos imigrantes e requerentes de asilo. A organização do Centro Na sua organização, o Centro conta com dois corpos gerentes: a direcção e o conselho fiscal. O Conselho Provincial da Congregação do Espírito Santo, não pelos estatutos, mas pela prática, faz para o CEPAC de “Mesa da Assembleia Geral”. A Direcção é indicada pela Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo e homologada pelo Cardeal Patriarca de Lisboa. A Direcção é constituída por um director, um tesoureiro, um secretário e dois vogais. É da sua competência a administração dos bens e serviços do Centro, zelando pelo seu bom funcionamento e promoção das acções necessárias à consecução dos seus objectivos. É também da sua competência a elaboração anual de relatórios, orçamentos e contas. O Conselho fiscal é constituído por um presidente, um secretário e um relator, sendo da sua competência auxiliar a direcção no desempenho das suas funções. Em 1992, a direcção do Centro era constituída pelo P. António Ribeiro CEPAC - Centro Padre Alves Correia 879 Laranjeira, presidente; P. Afonso Cunha Duarte, tesoureiro; Ir. Purificação Cachada, secretária; e os Vogais P. Firmino de Sá Cachada e Sr. José Vaz Moreira. O Conselho fiscal era composto pelos padres Marcelino Duarte Lopes, presidente; P. Casimiro Pinto de Oliveira, secretário; e o P. Adélio Torres Neiva, relator. Com a data de 19 de Abril de 1995, a direcção era remodelada ficando assim constituída: P. Veríssimo Manuel Teles; director, P. Norberto da Conceição Cristóvão, tesoureiro; Ir. Maria da Purificação de Sá Cachada, secretária; P. Firmino de Sá Cachada, vogal; José Vaz Moreira, vogal. Em 21 de Outubro de 1996, havia nova remodelação na direcção: o P. Veríssimo Teles continuava a director, sendo tesoureiro o P. António Luís Farias Antunes e secretário o P. António Manuel Santos de Sousa Neves; os vogais ficaram os senhores José Vaz Moreira e José Maria Pérez. Em 1998, o P. Lourenço Ndjimbu ocuparia o cargo de secretário. Nova remodelação foi feita com a data de 16 de Novembro de 2000: P. José dos Reis Gaspar, director; P. Veríssimo Teles, tesoureiro; P. Lourenço Ndjimbu, secretário; como vogais ficaram os Srs. José Vaz Moreira e António Leandro (entretanto falecera o Sr. José Maria Pérez). Nesta data foi também reorganizado o conselho fiscal: P. Casimiro Pinto de Oliveira, presidente; P. Adélio Torres Neiva, secretário; e relator P. Carlos Salgado Ribeiro. Em Setembro de 2004, constituiu-se uma nova direcção, com o P. Mário Faria Silva, director; P. José dos Reis Gaspar, tesoureiro; P. Gaudêncio Sangando, secretário; mantendo-se os mesmos vogais Srs. José Vaz Moreira e António Leandro. No difícil trabalho de atendimento dos utentes no Centro, ficou, desde o início da actividade do Centro, a Ir. Maria da Purificação. O atendimento era feito diariamente de 2ª a 6ª feira, das 15 às 19 horas; ao sábado, das 09 às 12 horas; Ao domingo, das 15 às 19 horas, o Centro estava aberto para convívio e sessões de cultura. Em finais de Julho de 1996, a Ir. Maria da Purificação de Sá Cachada deixa de prestar o seu valioso serviço no CEPAC – Centro Padre Alves Correia. Há que reestruturar o trabalho no Centro. Contratou-se uma técnica superior de serviço social e contratou-se uma jovem angolana – Juliana Temo – como recepcionista, que já trabalhava no Centro como voluntária. Desde 1996 trabalharam no Centro como técnicas de serviço social as Dras. Hélia Augusta de Magalhães Correia, Fernanda Magalhães, Paula Frango, Sandra Gomes, Raimunda Paula Correia. Desde Novembro de 2003 fizeram-se contratos com Ana Rosalina Aires da Mata e Elau Kieveni Ferreira dos Santos, respectivamente como técnica de serviço social e recepcionista. Sempre ao longo dos anos, o CEPAC – Centro Padre Alves Correia foi servido por voluntários, a quem por vezes deu gratificações. Lembrem-se os jovens universitários que sob a direcção dos sociólogos P. Firmino Cachada e Manuel Antunes forneceram o material que possibilitou os livros de pesquisa “Imigração e Associações” e “Números da Imigração Africana”. No ano académico 1996-97, esteve como voluntário no Centro o jovem Alberto 880 Adélio TORRES NEIVA Machado Ramos. Outros voluntários têm servido o Centro como os jovens Miguel Frada e Libânio Brito Fernandes, sempre prontos para qualquer serviço. Os Missionários do Espírito Santo subsidiam o Centro numa terça parte do orçamento anual; uma outra terça parte tem sido subsidiada pela Sta. Casa da Misericórdia, com quem se fez um protocolo, que neste momento transitou para a Segurança Social; a última terça parte do orçamento é realizada pelos amigos do CEPAC - Centro Padre Alves Correia e indústria pessoal da direcção do Centro. Também financeiramente o CEPAC vive da ajuda exterior. Datas mais significativas da história do Centro Padre Alves Correia - 26 de Março de 1992, o Conselho Provincial dos Missionários do Espírito Santo aprova os Estatutos e proposta da 1ª Direcção: P. António Ribeiro Laranjeira, P. Afonso Cunha, Ir. Purificação Cachada, P. Firmino Cachada, Sr. José Vaz Moreia. - 28 de Março de 1992 – Começo das Actividades no nº 43 R/C da Rua de Sto. Amaro, à Estrela, Lisboa - 9 de Outubro de 1992 aprovação dos Estatutos pelo Cardeal Patriarca de Lisboa - 13 Outubro de 1992 participação à Segurança Social, pelo Patriarcado, da existência do CEPAC - Centro Padre Alves Correia como pessoa jurídica. - 18 de Janeiro de 1993, devolução, pela Segurança Social ao Patriarcado do duplicado da participação de existência de pessoa jurídica. - 6 de Novembro de 1992, registo no livro 5 das Fundações de solidariedade social - 30 de Junho de 1993 declaração de registo do CEPAC pela Direcção Geral da Acção Social; - 17 de Julho de 1993 sai a Declaração no Diário da República, nº 166, 13-033, série III. - 1994, primeiro denunciante de corrupção no Sef do Algarve em que foram constituídos arguidos um inspector e nove funcionários (“Público, 20 – 7 – 1994 pág. 25) - 8 de Julho de 1993 data inicial do “Projecto Terra Longe” - 20 de Junho de 1995, “Imigração e Associações” - Livro - 31 de Janeiro de 1995, “Números da Imigração Africana” - Livro - Dezembro de 1992 a Janeiro 1993, “Acolher Imigrante” – apoio à legalização (existe relatório) Caso “VUVU” - 9 Fevereiro de 1994 - Grace Vuvu e sua filha são “detidas” à chegada ao aeroporto da Portela - 9-10-11-12 de Fevereiro o CEPAC - Centro Padre Alves Correia movimenta a opinião pública; deputados, advogados e pessoas públicas comprometem-se com o caso “VUVU”. CEPAC - Centro Padre Alves Correia 881 - 12 de Fevereiro: D. Manuel Martins vai ao aeroporto, bem como o P. Manuel Soares, da Obra Católica, e o P. Jorge Fernandes, da CNIR. 12 de Fevereiro: P. Firmino Cachada e o marido de Vuvu começam greve da fome, a que se juntam António Cerdeira, dos J.S.F., e Francisco Raposo, do SOS-Racismo - 12 de Fevereiro D. Januário da CEP e Pierre Shouver, superior geral dos Espiritanos, manifestam apoio. - 15 de Fevereiro: Graça Araújo, juíza do TIC, liberta judicialmente Grace Vuvu e sua filha, aceitando o “Habeas Corpus” solicitado pelos advogados Vera Jardim e Oliveira Martins. - 15 de Fevereiro: Festa com Grace, filha e marido e a população na Igreja da Portela. - 22 de Março 1994 : Grace Vuvu e a filha regressam a Luanda para tratar de visto de entrada em Portugal. - 1996 – Participação activa no 2º período de legalização. - 24 de Setembro de 1998, protocolo tipo A com Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa. - 1 de Setembro protocolo com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. - 2001 – Participação na legalização por “autorização de permanência”. - 15 de Janeiro 2001 protocolo tipo A/B com Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa. - 2002 – Fundação do CORCIM com Obra Católica Portuguesa das Migrações, Cáritas, LOC/MTC, Capelania dos Africanos, Capelania dos Imigrantes de Leste, SJR, Comissão de J&P dos Religiosos, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. - 21 de Novembro de 2000, denúncia de “escravatura com cabo-verdianas” por uma empresa de limpeza, em Leiria: – STL. Lda. Barrosa – Leiria. A imprensa diária deu relevo. Desafios actuais Actualmente, os desafios são colocados pelos milhares de indocumentados que existem no País (100 a 150 mil?), pelo desemprego crescente, pela desarmonia do governo no fazer e no aplicar a lei. Nos três períodos vulgarmente chamados de legalização nenhum teve resultado satisfatório, não atingiram de modo eficaz a finalidade; em nossa opinião, pelos obstáculos burocráticos e maus funcionários. Desafio é também procurar criar opinião pública que desemprego, insegurança social, violência e criminalidade não são forçosamente frutos maus da imigração. Desafios são também os milhares de jovens universitários sem bolsas, ou pagas a desoras, sem alojamento digno, sem alimentação apropriada. Poderíamos ainda lembrar os “doentes”… No dia a dia, são desafios para o Centro os problemas dos imigrantes, que poderíamos apresentar sob diversos eixos: trabalho precário, desemprego de longa duração, más condições habitacionais, problemas familiares, elevado preço 882 Adélio TORRES NEIVA das rendas de casa, dificuldades na escolaridade dos filhos. Outros problemas frequentes, na população imigrante, que se tornam desafios para o CEPAC : Doentes que vêm sob junta médica dos respectivos países, principalmente, Angola, Guiné-Bissau e de Cabo Verde, e que ficam anos à espera de uma intervenção cirúrgica, sem dinheiro para se alimentarem e em alojamentos precários, e sem possibilidade de trabalhar por falta de saúde e de visto que o permita. Doentes que as embaixadas, sem dinheiro (?) e “sem coração”, pura e simplesmente abandonam!... Mulheres que não trabalham por não terem onde deixar os filhos, e não conseguem suportar o encargo de uma ama ou infantário, principalmente quando são mães solteiras. Mulheres abandonadas pelos companheiros e com filhos menores a seu cargo. Jovens mães-solteiras. Pessoas idosas que moram sozinhas e sem direito a reforma. Pessoas que têm mais de 50 anos e que não conseguem arranjar trabalho por terem essa idade. Pessoas que chegaram a Portugal depois de Dezembro de 2001, e já não estão abrangidos pela Autorização de Permanência. Agregados familiares com rendas de casa muito elevadas. Super lotação das habitações e más condições de habitabilidade. Exploração e discriminação no trabalho. Alcoolismo, e sem-abrigo. Dificuldade de acesso ao Serviço Nacional de Saúde. Acentuado insucesso e abandono escolar precoce. Agregados familiares numerosos e sem condições dignas de subsistência. Imigrantes que trabalham desde que chegaram a Portugal e que, de um momento para o outro, se veêm desempregados, e sem possibilidade de renovar o visto e outros sem dinheiro para o renovar. Imigrantes que a qualquer momento podem ficar sem tecto porque se instalaram em bairros degradados, que têm já data para ser derrubados, e até já receberam a ordem de despejo. A nossa resposta A nossa resposta passa pela fidelidade aos objectivos do Centro e pelas dificuldades dos utentes; passa também pelas possibilidades dos nossos recursos humanos e materiais: apoio administrativo e documental, esclarecimento e defesa dos direitos dos imigrantes e suas famílias, apoio às famílias com carências económicas, apoio jurídico em processos litigiosos, promoção cultural e social, apoio a jovens estudantes africanos, informação e sensibilização da opinião pública sobre os problemas específicos da imigração. Boa parte da nossa resposta passa pelo apoio e trabalho social. O apoio social e o serviço social têm um significado existencial na vida dos imigrantes. São várias as nossas modalidades de apoio. Apoio Emocional: empatia, sentimentos positivos, confiança, aceitação, CEPAC - Centro Padre Alves Correia 883 reconhecimento por parte das outras pessoas; os utentes saem do CEPAC com a sensação que são ouvidos, aliás, mais do que ouvir, no CEPAC “escutam-se” as pessoas. Apoio para encontrar soluções aos problemas: possibilidades de falar com alguém acerca dos problemas, encorajamento, procura de informações para possível solução. Integração Social: conhecimento e abertura aos valores e princípios de vida numa sociedade diferente daquela em que o imigrante nasceu. Apoio prático e material: acompanhando alguém, se necessário, a um qualquer serviço; fazer-lhe um documento; fazer uma carta de apresentação numa repartição, marcar uma consulta, encontrar um centro de saúde que receba um utente; tentar encontrar um emprego pelo jornal… Pagar uma renda ou receita; pagar um título de transporte ou um passe… São comuns e pequenas respostas do dia a dia. Outra resposta passa pelo fornecimento de géneros alimentícios e de vestuário, a cerca de 100 famílias por mês. Em números foram atendidas no Centro as seguintes pessoas: 2362 em 1997; 2845 em 1998; 2962 em 1999; 1960 em 2001; 1673 em seis meses de 2002; 1253 em 2003, ano de mudança de instalações. Instalações em Lagares D’el Rei A remodelação da Casa da Rua de Sto. Amaro, à Estrela – Lisboa, dos Missionários do Espírito Santo, obrigou o CEPAC desde finais de Julho de 2002 a procurar alternativa para poder funcionar. Após as férias de 2002, o Centro esteve fechado até Fevereiro de 2003. Depois de muito se procurar, a Igreja de Sta. Joana Princesa, Alvalade, dispensou ao Centro umas instalações vagas, compostas de três módulos independentes, situados num recinto ajardinado, com árvores e cercado com rede de ferro, tendo a sul e a ocidente a escola 101. A direcção é a seguinte: Rua dos Lagares d’ El Rei, 27 – 1700-268 LISBOA. Foi no dia de consoada de 2003 que nos foi entregue a chave. Todo o mês de Janeiro de 2003 foi para fazer a mudança. O Centro reabriu dia 2 de Fevereiro, festa de Libermann. O espaço do CEPAC está dividido em três bungalows: o primeiro serve de gabinete para o Director e a administração do Centro, onde há algum espaço para reuniões; o segundo bungalow, é o de acolhimento, composto por duas divisões: a sala de espera e o gabinete de serviço social, onde estão respectivamente a recepcionista e a Técnica de Serviço Social; há ainda neste bungalow, duas casas de banho, para utentes e funcionários respectivamente, e uma copa onde é possível aquecer refeições; o terceiro bungalow, o maior, também com duas divisões, é onde se situa o banco de roupa, com peças para homem, mulher e criança (mais de 1500) e o banco de alimentos, com duas arcas frigoríficas, dois frigoríficos e diversos armários. A mudança para a Rua dos Lagares D’el Rei, foi desestabilizadora para a prossecução do acompanhamento dos imigrantes. Apesar de avisados por carta, a maioria não soube localizar a nova morada, ou não chegou, mesmo, a receber a 884 Adélio TORRES NEIVA informação da mudança de domicílio; no entanto, foram começando a aparecer aos poucos os imigrantes e de “boca em boca” trocaram a informação, levando um folheto informativo com a morada e com o telefone que se tornou muito útil, pois só com a morada por vezes é difícil chegar ao Centro por se encontrar numa rua bastante isolada, que facilmente passa despercebida. A mudança foi, também, desestabilizadora para as instituições com quem tínhamos parcerias em encaminhar os imigrantes, pois também desconheciam o espaço. No último trimestre de 2003, o número de utentes duplicou, o que foi muito positivo, e quase todos os dias chegam mais pessoas pela primeira vez, quer encaminhados por outras instituições quer por decisão e conhecimento próprios. A Paróquia de Sta. Joana Princesa, não só não nos cobra aluguer, mas paga à Câmara de Lisboa a renda do referido espaço. A luz e a água têm sido também pagas pela Paróquia de Sta. Joana Princesa. Os Missionários do Espírito Santo, disponibilizaram uma carrinha para os trabalhos do Centro, ficando a manutenção da mesma a cargo do Centro. É uma grande ajuda, evitando o aluguer semanal de transporte, principalmente quando se trata de ir buscar géneros alimentícios ao Banco Alimentar Contra a Fome. Protocolos Devido à especialização e burocratização dos serviços sociais o utente tem grandes dificuldades em conhecer e descobrir o Serviço certo para o seu problema, principalmente se estão indocumentados ou irregulares em Portugal. Ao mesmo tempo, muitos serviços sociais estão a trabalhar separadamente ou em paralelo. Por isso é necessário uma coordenação. Esta colocação em rede significa três abordagens diferentes: 1. Recolha de informações disponíveis de todos os serviços sociais; 2. Coordenação de actividades de forma a evitar o trabalho a dobrar; 3. Cooperação entre os serviços sociais de forma a que ajudem verdadeiramente o utente. Hoje qualquer instituição necessita de trabalhar coordenadamente com outras instituições e de estabelecer com elas protocolos e parcerias. A qualidade com que há que responder às situações, a globalidade que as mesmas têm e a fragilidade de meios que cada organização tem, a isso obrigam. O CEPAC tem dois protocolos: um com o Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa e um com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Com o SCAL e a Obra Católica das Migrações tem também colaborado em vários projectos. Havendo no entanto uma estreita colaboração com a Capelania dos Africanos do Patriarcado de Lisboa, bem como com o ACIME – Alto Comissariado para a Imigração e as Minorias Étnicas. O Director do CEPAC faz parte do Conselho Consultivo para os Assuntos da Imigração (COCAI) representando a União das IPSS. Com diversas outras instituições existe também bom relacionamento. Algumas reúnem-se com o CEPAC, uma vez por mês, em reunião do “Grupo de Coordenação Social”: CPR – Conselho Português para os Refugiados, AMI – CEPAC - Centro Padre Alves Correia 885 Assistência Médica Internacional, - Serviço de Emergência Social da Santa Casa da Misericórdia, SJR – Serviço Jesuíta para os Refugiados -, Agir XXI, Centro Regional de Segurança Social de Lisboa, Organização Internacional de Imigrações, SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras… Relacionamo-nos, ainda, com outras instituições afins e muitas vezes resolvemos os problemas concretos encaminhando os utentes para essas instituições ou recebendo-os delas. Participamos sempre que possível em encontros onde se debate a problemática da imigração e dos imigrantes, como por exemplo – as “Jornadas de Reflexão contra a Exclusão Social”, promovidas pela Ajuda à Igreja que Sofre, “Jornadas Pastorais dos Secretariados Diocesanos de Migrantes” , “Jornada de Reflexão e Debate: Todo o Imigrante é meu Irmão”, promovida pela Ajuda à Igreja que Sofre. Participamos também no 1.º Congresso sobre a Imigração, promovido pelo ACIME nos dias 18 e 19 de Dezembro de 2003. O CEPAC - Centro Padre Alves Correia -, trabalha também em conjunto com a Capelania dos Africanos, organizando diversos eventos: Celebração de festividades religiosas (Natal e Páscoa), com uma vertente cultural e segundo os seus costumes e tradições; encontros temáticos e culturais (Festa de Juventude, Festa Crioula, Festa dos Povos). 887 Capítulo 98 Capelania dos Africanos e outras capelanias P. Veríssimo Teles O s começos da imigração Ente 1965 e 1970, não choveu em Cabo Verde suficientemente para que os campos produzissem o necessário alimento. É pois a seca que leva a uma imigração maciça. Estes factores eram ajudados pela falta de mão de obra em Portugal provocada pelos milhares de jovens no serviço militar nas “colónias”, bem como pela “fuga” dos trabalhadores portugueses para toda a Europa e Estados Unidos e Canadá… O P. José Vaz Os caboverdianos da ilha de Santiago, por intermédio dos missionários do Espírito Santo, no tempo os únicos missionários na Ilha vinham para Portugal; os habitantes de Fogo e Brava e das ilhas de Barlavento emigravam sobretudo para Itália, pois aquelas eram ilhas missionadas pelos capuchinhos italianos. Desde meados da década de 60, os caboverdianos começaram a chegar a Lisboa, em grande número. Urgia que em Portugal, alguém cuidasse minimamente do acolhimento dessas dezenas de imigrantes vindos em cada avião. Os Missionários do Espírito Santo que estavam na sua terra, estiveram também no acolhimento aos imigrantes começa em Portugal com uma figura que se tornou lendária entre os imigrantes caboverdianos em Portugal: - o P. José Martins Vaz. O P. José Martins Vaz, missionário espiritano, acompanhará durante cinco longos anos os imigrantes cabo-verdianos: irá esperá-los ao aeroporto, procurarlhes-á o primeiro abrigo para dormida, o primeiro trabalho, encarregar-se-á de enviar o primeiro dinheiro deles para a família distante; enfim, encarregar-se-á da “cura pastoral”. A Igreja da Lapa e a Basílica da Estrela guardam a recordação dos milhares de africanos que ali participaram na liturgia dominical. Outras Igrejas como a de S. João de Brito, a do Campo Grande, a de Benfica (Amparo) ficaram também ligadas ao acolhimento dos caboverdianos na década de 70. Do tempo do P. José Martins Vaz não se conhece nenhum relatório. Mas há documentos nos jornais diários da época. O Jornal “O Século” trouxe uma 888 Adélio TORRES NEIVA grande reportagem feita pelo P. José M. Vaz, de que mais tarde “Acção Missionária” fez uma separata. O tempo do P. Afonso Cunha O P. Afonso da Cunha Duarte trabalhou mais de uma década com os imigrantes africanos, antes de o Patriarcado criar a Capelania. Do seu tempo existem relatórios anuais desde 1977. Neles se manifesta não só o seu interesse pelo acolhimento e integração dos africanos, mas também de muitas religiosas. Os centros de culto eram também, ao tempo, centros de promoção social. O P. Afonso Cunha percorreu as dezenas de bairros dos caboverdianos onde, com muitas religiosas, na precaridade das condições foi sinal de presença da Igreja e apoio social: Fim do Mundo, Marianas, Pedreira dos Húngaros, Lém Ferreira, Alto de Sta. Catarina, Damaia, Campolide, Alto da Cova da Moura, Sta. Iria da Azóia, Quinta do Mocho… Em diversos destes bairros houve apoio social com A.T.L., cursos de alfabetização, de culinária, costura. 1987 – A Capelania dos Africanos A Capelania dos Africanos foi criada pelo saudoso D. António Ribeiro, em 26 de Fevereiro de 1987. O primeiro Capelão foi o P. Afonso Cunha Duarte, missionário do Espírito Santo, desde a criação da Capelania até ser substituído, em 20 de Janeiro de 1995, pelo actual capelão, P. Veríssimo Teles. Desde 1997, dois missionários espiritanos dinamizam a Capelania: os padres Lourenço Ndjimbu e Veríssimo Teles. Em finais de 2003 o P. Lourenço foi substituído pelo P. Gaudêncio Sangando. O tempo actual O último relatório da Capelania dos Africanos disponível é de 1998. Todavia isso não significa que a Capelania tenha diminuído a sua actividade, pelo contrário. Dois factores tomam significado nestes últimos cinco anos na actividade da Capelania: o aumento do fluxo migratório até 2002 e a coordenação feita pelo Departamento da Mobilidade recém-criado no Patriarcado. Também, em 1997 o P. Lourenço Ndjimbu, missionário espiritano angolano, integra a Capelania o que permitiu um trabalho pastoral de maior alcance junto dos imigrantes angolanos. Actualmente, haverá no País uns 600 a 650 mil imigrantes. Os documentados são 500.000. Mais de metade dos imigrantes são africanos. Geograficamente, os africanos vivem sobretudo na grande Lisboa; isto é Lisboa cidade, e concelhos limítrofes de Vila Franca de Xira, Loures, Amadora, Oeiras, Lisboa. Capelania dos Africanos e outras capelanias 889 A inserção dos imigrantes A Capelania esforça-se para que os imigrantes africanos participem na vida paroquial, começando a assumir os ministérios laicais, (v.g. catequistas e acólitos, leitores, movimentos de apostolado, obras sociais, retiros, cursos...). A Capelania tem-se proposto como objectivos fundamentais: ajudar a formação e integração religiosa dos imigrantes africanos nas comunidades locais e diocesanas; proporcionar formação cristã e humana a crianças, adolescentes e jovens e suas famílias; promover o desenvolvimento da fé pelas acções litúrgicas dos sacramentos e outros encontros de oração; promover encontros com cada cultura em que a fé se possa dizer e viver; promover o encontro de culturas pelo estímulo e apelo a cada cultura, de modo que a cultura portuguesa seja cada vez mais multicultural e nela a fé se possa viver na diversidade dos acentos culturais. As mensagens da paz e dos refugiados anualmente fazem parte da catequese junto dos imigrantes, bem como as mensagens de Advento e Quaresma. Anualmente tem sido elaborado um programa de actividades que integra celebrações dominicais em várias paróquias e comunidades onde há um número significativo de imigrantes; celebrações circunstanciais por ocasião de festas em honra de santos “populares” entre os imigrantes; peregrinação anual a Fátima; passeios; semanas de evangelização intensiva; festa de coros cristãos africanos; retiros e recolecções para jovens e adultos; visita a doentes, nas famílias e nos Participação da Capelania na Festa dos Povos hospitais, e a reclusos na prisão de caxias; acompanhamento de famílias enlutadas e visitas regulares aos bairros. O programa anual de actividades integra ainda as acções programadas pelo departamento diocesano da Mobilidade Humana. OUTRAS CAPELANIAS Além da Capelania dos Africanos, a Congregação assumiu ainda outras capelanias, algumas com carácter provisório, outras nem tanto. Destes compromissos destacamos: Capelania do Hospital Ortopédico de Santana, na Parede Foi nomeado para esta capelania em 1982 o P. Firmino Cardoso Pinto. Ali esteve até 1997, ano em que faleceu nesse mesmo hospital. 890 Adélio TORRES NEIVA Para o substituir foi nomeado o P. Manuel Nunes que ali esteve até 1998, ano em que passou o cargo ao P. Francisco Mendes Pereira. O P. Mendes Pereira deixou a capelania em Janeiro de 2004, sendo então substituído interinamente pelo P. António Santos Moreira. Em Junho desse ano assumiu a capelania o P. Francisco Fernandes Correia. Centro Hospitalar do Alto Minho, Viana do Castelo Esta capelania foi assumida pelo Superior do Seminário de Viana do Castelo, tendo o P. António Luís Gonçalves sido oficialmente encarregado da capelania em 1984. Em 1986, o P. Gonçalves deixou Viana do Castelo e para o substituir na capelania foi nomeado o P. António Cardoso Cristóvão. Em 1989 era nomeado o P. Manuel Augusto Ferreira como capelão A 21 de Janeiro de 1997 saiu no “Diário da República” a nomeação do P. Norberto da Conceição Cristóvão, como capelão do hospital, pois o P.Augusto tinha terminado a idade legal para esse serviço. Por sua vez, o P. Norberto atingia também o limite de idade em 2003, sendo então reconduzido por mais um ano naquele ministério. No ano 2004 foi nomeado capelão o P. José de Castro Oliveira. Hospital Cova da Beira, Covilhã Em 1997 foi nomeado capelão do Hospital Cova da Beira, na Covilhã, o P. António Cardoso Cristóvão. Actividade que exerceu até ao limite de idade permitido por lei, em Março de 2004. Estabelecimento Prisional de Tires A assistência a este estabelecimento prisional começou com o P. Agostinho Pereira da Silva. Em 1993, o P. José Martins Salgueiro substituiu o P. Agostinho, tendo sido oficialmente contratado a 13 de Dezembro de 1994. Por ter atingido o limite de idade previsto pela lei, deixou o cargo a 1 de Outubro de 2003. 891 Capítulo 99 Movimento dos Apóstolos do Coração Imaculado de Maria P. Olavo Teixeira Martins O Movimento dos Apóstolos do Imaculado Coração de Maria foi fundado pelo P. Olavo Teixeira Martins, que foi provincial da Congregação. Ele próprio nos conta a génese, a finalidade e a expansão do movimento, cuja sede se encontra na Casa de Nazaré em Carapeços - Barcelos. “O Movimento Cor Unum é um entre muitos outros movimentos apostólicos, com autonomia própria, existentes em Portugal. Nascido na arquidiocese de Braga, no Noviciado da Congregação do Espírito Santo, na Silva, Barcelos, logo foi acolhido, aceite, aprovado e abençoado por todos os Bispos de Portugal, como “sendo um dos mais poderosos e eficazes auxiliares da Acção católica” e “a resposta mais adequada e actual à Mensagem de Nossa Senhora de Fátima”, sendo tido como “uma das formas mais decididas de realizar eficazmente a campanha de decência e pureza de costumes, tão pedida e recomendada pela Santa Sé Apostólica.” Deu-nos a mão – é a sua mão bem amiga e paternal – o Sr. D. António Bento Martins Júnior, Arcebispo Primaz de Braga, que desta forma nos admitiu e introduziu, no seio da Igreja como “obra apostólica” e, por isso mesmo, dentro do “mandato” da Missão da mesma Igreja. Os Estatutos por ele aprovados a 5 de Fevereiro de 1950 (Ano do dogma da Assunção de Nossa Senhora) foram sucessivamente aprovados e abençoados com palavras muito cativantes e em documentos oficiais rubricados, por cada um, pelo Núncio Apostólico, pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, pelos Bispos do Porto, Aveiro, Coimbra, Beja, Lamego, Leiria, Bragança, Vila Real, Évora, Guarda, Portalegre, Funchal, Viseu, Algarve, Luanda, Nova Lisboa, e Cabo Verde. A bênção e aprovação do Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, foi-nos dada num autógrafo de 415 palavras, de que aqui damos o começo: “Tenho por verdadeiramente providencial o Movimento dos Apóstolos do Coração Imaculado de Maria: surgiu em Portugal quase ao mesmo tempo que lá fora outros similares. A coincidência significa que resulta de uma necessidade comum. E esta necessidade é o Espírito Santo “o qual renova a face da terra”, que a faz sentir nas almas e inspira a sua resposta.” 892 Adélio TORRES NEIVA Em que situação está hoje o “Cor Unum”: Com a necessidade de “regressar às fontes” e pôr tudo em dia com o Concílio Vaticano II, também o Movimento, ao chegar aos seus 30 anos de existência, sentiu necessidade de ter a “sua identidade” mais definida, como obra de Leigos e com personalidade jurídica, quer civil quer religiosa. Assinados e rubricados por S.Ex.a Rev.ma o Senhor D. Eurico Dias Nogueira, foram-nos concedidos, por graça da Mãe da Divina Providência, três documentos que nos “garantem a identidade”: 1. Uma nova aprovação do Movimento, reconhecendo-o como “Movimento de espiritualidade Marial”; 2. Um decreto de erecção da Associação Cor Unum dos Apóstolos do Imaculado Coração de Maria, da qual resulta a sua personalidade canónica e civil; 3. Um outro decreto de erecção de “Pia União das Servas da Mãe de Cristo Sacerdote”, preparatória para a erecção em Instituto secular (sic). Cada uma destas palavras tem sua direcção própria. Resta dizer que os seus membros se espalham por todas as dioceses colaborando em trabalhos apostólicos, particularmente Obra de Retiros, Cursos de Liturgia e Bíblia, Catequese e obras missionárias, de modo particular a LIAM. Ligação do “Cor Unum” com a Congregação do Espírito Santo - O fundador é da Congregação do Espírito Santo e vários outros Espiritanos têm dado, alegre e convictamente, a melhor colaboração. - No Cor Unum vive-se e difunde-se a espiritualidade dos Espiritanos: devoção ao Espírito Santo e ao Coração Imaculado de Maria; - A doutrina Libermaniana é larga e abundantemente difundida quer na revista “Ao Serviço da Rainha do Mundo” quer nos Retiros, Cursos e outras actividades organizadas pelo Cor Unum. A posição de “Cor Unum” perante a Congregação do Espírito Santo - Nasceu no Noviciado da Silva, como fruto da espiritualidade apostólica, eucarística e marial que a Comunidade em pleno então vivia e respirava, a ponto de atrair as multidões ao Evangelho. Com a plena aprovação, inteira alegria e acção de graças, toda a Comunidade viu, no desabrochar desta obra, uma santa e digna resposta dada á pergunta das gentes “tocadas pelo Espírito”, que aqui acorriam: “Que faremos, irmãos?“ (Actos 2, 37). A capelinha de S. Bento aí está como testemunho histórico das inúmeras conversões e das dezenas e dezenas de vidas que ali “ouviram o chamamento do Senhor para a vida consagrada” como religiosas missionárias. Desde então, foi o Movimento sempre acarinhado e assistido pelos Sacerdotes da Silva, com rara excepção. O mesmo se diga de todos os Provinciais. De muitos, há documentos escritos muito comoventes e animadores... E não vá sem Movimento dos Apóstolos do Coração Imaculado de Maria 893 dizer-se que o Cor Unum mereceu particular interesse e carinho dos Superiores gerais: Griffin, Lefebvre e de modo particular de Timmermans, o qual na sua primeira visita a Portugal, quis vir pessoalmente à Casa de Nazaré e informar-se da obra, terminando por dizer: “obra digna da Congregação e dentro dos seus fins”. A salientar que o Director do “Cor Unum” , que durante 15 anos esteve ausente em Espanha, de lá foi chamado por decisão de um Provincial e seu Conselho, para se incumbir de levar por diante o Movimento, que “ em boa hora criara” e que a ele se desse a tempo inteiro, sendo para tal dispensado de qualquer outro cargo. O que afinal tem sido feito no espírito de serviço e obediência à Congregação e ao apostolado da igreja, tal como os outros membros da Congregação que se dedicam a outro qualquer género de actividades, sob a dependência dos Superiores. E deixamos para o fim outro ponto a pôr em relevo: a 16 de Julho de 1971, Festa de Nossa Senhora do Carmo, na segunda sessão do capítulo Provincial 1970/1971 na Torre da Aguilha, o Capítulo decidiu que o Cor Unum tivesse existência reconhecida independente da Província, P. Olavo Teixeira e membros do “Cor Unum”. embora a Província assumisse a responsabilidade de lhe garantir assistência espiritual, enquanto não houvesse outros sacerdotes que o pudessem fazer. Como particular achega, foi um dia publicado no Boletim da Província que um outro sacerdote espiritano ficaria em Lisboa para coadjuvar o Director de Cor Unum O Cor Unum tem dois centros operacionais: um, na Casa de Nazaré, pertença sua e outro, na Rua João de Deus, à Estrela, casa alugada e pertença do Patriarcado, o qual a alugou ao Cor Unum por ser movimento apostólico. 895 Capítulo 100 Contributo dos Espiritanos para o Renovamento Carismático em Portugal P. José da Lapa O Renovamento Carismático foi introduzido em Portugal pelo P. José da Lapa, missionário do Espírito Santo. Ele próprio nos conta como o movimento começou. Em 1973-1974 foi o P. Lapa fazer um ano de reciclagem teológico-pastoral em Roma, na universidade Gregoriana, ficando instalado no Seminário Francês. Foi aí que, pela primeira vez, a 13 de Dezembro de 1973, ouviu falar a um sacerdote e dois seminaristas que frequentavam o mesmo seminário, do Renovamento Carismático. Tratava-se de um “Movimento Pentecostal” que, em 1967, depois do Vaticano II, tinha irrompido na Universidade Espiritana de Duquesne, Pitsburg, nos Estados Unidos e que começava a alastrar por todo o mundo. Tendo sido convidado, o P. Lapa participou pela primeira vez a 8 de Janeiro de 1974 numa reunião de um grupo carismático chamado Hossana, que tinha lugar na Casa Generalícia das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria. Num ambiente de alegria e de descontracção foram dados vários e belos testemunhos de vida Nova no Espírito Santo que calaram P. Lapa em Fátima fundo no meu coração e me entusiasmaram a inscrever-me para os “Seminários de vida nova no Espírito”. Querendo levar esta experiência até às últimas consequências, iniciei no dia 24 de Fevereiro de 1974, com mais 50 neófitos, esta caminhada de 7 semanas. A meio desta caminhada teve lugar a 24 de Março de 1974 a celebração para a “Efusão (Baptismo) do Espírito”. Depois da oração inicial e do ensinamento sobre a “Efusão do Espírito”, em consonância com a Bíblia, a Teologia e a prática na Igreja dos primeiros tempos, houve uma hora de oração pessoal. Cada um, com a liberdade que o Espírito dá, era livre de dar o passo em frente, renunciando a todo o pecado e aceitando Jesus como Salvador e Senhor de sua vida. Fez-se a renovação das promessas do Baptismo, já que a “Efusão” é uma graça que, pela fé dos crentes e pela oração da 896 Adélio TORRES NEIVA comunidade, renova, reanima e dinamiza a vida baptismal, abrindo caminho para libertar e deixar actuar livremente o Espírito Santo. Duante a oração algo aconteceu de profundo, de belo, de maravilhoso que não sei descrever, mas que me penetrou até ao mais fundo do meu ser. Naquele momento, eu poderia dizer que o Espírito Santo veio sobre mim e me deu uma consciência viva de que Deus me habitava. A experiência da “Efusão” que gera a vida nova no Espírito é muito mais vasta e profunda e não há palavras no dicionário para explicar o “inexprimível” em linguagem humana... A semente foi lançada e acolhida em Roma, cabeça e coração da Igreja de Cristo, essencialmente hierárquica e essencialmente carismática. Esta semente de fogo esteve em gestação, em tempo de deserto e de peregrinação, desde 28 de Maio, em Roma, passando por Milão, Suiça e Paris, até 6 de Novembro do mesmo ano 1974, em Fátima. No dia 28 de Maio, na última reunião em que participei no Grupo Hossana, em Roma, alguém “profetizou” que a faúlha que eu levava de Roma, se iria propagar em Portugal. Depois da minha confidência à Irmã Maria Gonçalves, das Servas de Nossa Senhora de Fátima, no dia 15 de Outubro, aceitei o convite que ela me fez para uma recolecção, no dia 6 de Novembro, à tarde e à noite, na Casa de Nossa Senhora do Carmo, do Santuário de Fátima. Participaram neste encontro as seguintes pessoas: Irmã Maria Gonçalves, Cónego Perdigão, P. Manuel Couto, P. Manuel Antunes, P. Francisco Vermelho, P. José Morais, P. Pedrosa, Rosa Maria Nogueira, Irmã Maria Laíde, Irmã Maria do Céu Farinha, Irmão Jorge; com as quais o Senhor Bispo de Leiria, D. Alberto Cosme do Amaral pretendia criar o núcleo central do CORIMA (Coração Imaculado de Maria) para a difusão da mensagem de Fátima. Naquela noite de 6 de Novembro de 1974, durante aquele tempo de Cenáculo, vigília que se prolongou das 21.00h às 24.00h, aconteceu um pentecostes pessoal e comunitário, naquela pequena Sala de Visitas, junto da Capela da Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo, naquele lugar, onde agora passa, subindo e descendo, um grande elevador… Em espírito, voámos até ao Cenáculo de Jerusalém e, em união com Maria, com os Apóstolos, as Santas Mulheres e os Discípulos, rezando uns pelos outros, vivemos a experiência de Pentecostes, que iniciou a Igreja de Jesus Salvador e Senhor, que veio trazer fogo à Terra e que só deseja que ele alastre... Na pobreza, na simplicidade e na disponibilidade destes irmãos eu vi e atesto que, naquele pequeno Cenáculo, Jesus se manifestou e que “todos ficaram cheios do Espírito Santo”: aconteceu, inesperadamente uma verdadeira “efusão do Espírito Santo”, renovação actualizada da graça baptismal... Sem planos a longo prazo, comprometemo-nos a viver e a reviver em oração esta experiência de Vida Nova no Espírito e marcámos um próximo encontro já mais aberto, para o 2º Domingo de Dezembro, dia 8, Festa da Imaculada Conceição, na casa de Nossa Senhora do Carmo. Participaram mais de cem pessoas que os elementos do grupo tinham convidado. Contributo dos Espiritanos para o renovamento Carismático em Portugal 897 O pequeno grupo de Fátima, que depois se baptizou com o nome “Coração Imaculado de Maria” (CORIMA), coordenado pela Irmã Maria Gonçalves, pela Rosa Maria Nogueira, primeira jovem do Renovamento em Portugal, pelo Cónego Perdigão, pelo Irmão Jorge, dos Maristas, pediu-me para, durante algum tempo, ir mensalmente a Fátima para orientar estas Assembleias. Ficou assente que aos terceiros Domingos, da parte da tarde, se realizassem Assembleias abertas. Foi assim que a 19 de Janeiro de 1975 se realizou a segunda assembleia em Fátima, agora com mais de 200 pessoas. As reuniões em Fátima, continuaram sob a orientação da Irmã Maria Gonçalves, que mais tarde viria a fundar, a partir do Renovamento e como seu fruto, a Comunidade para os Sem-Abrigo “Vida e Paz”, da Maria Rosa Nogueira, do Cónego Perdigão e do Irmão Jorge, em profunda união e colaboração com o primeiro grupo de Lisboa que, depois, se viria a chamar PNEUMAVITA. Do grupo de oração CORIMA começaram a saltar faúlhas deste fogo novo para a Marinha Grande, Leiria e outros pontos da região. A partir do mês de Maio de 1975, depois do Congresso Internacional de Roma, no qual participámos 17 portugueses, as actividades do Renovamento Carismático em Fátima, com a colaboração do grupo CORIMA, começaram a ter uma projecção nacional, sempre acompanhadas e abençoadas pelo Senhor D. Maurílio de Gouveia, na qualidade de Presidente da Comissão Episcopal para o Apostolado dos Leigos. Como nos Estados Unidos, também em Portugal o Espírito Santo escolheu uma Casa Espiritana – a comunidade da Estrela - para o nascimento e difusão do Renovamento carismático. Foi na pequena sala de visitas desta comunidade que de Outubro de 1974 a Janeiro de 1975, me reuni frequentemente com um pequeno “grupo de oração”. Foi a 5 de Janeiro, no Domingo da Epifania, festa eminentemente missionária, que o Senhor nos impeliu a abrir as portas deste pequeno Cenáculo e a realizar uma Reunião/Assembleia na Sala de Cima desta Casa Espiritana, verdadeiro ninho do Renovamento Carismático em Portugal. Na tarde daquele dia 5 foram abertas as portas do grande Salão de conferências, recolecções e actividades para a LIAM e Juventude Missionária. Vieram cerca de 120 pessoas: Liamistas, Religiosas/os, Seminaristas, Leigos de vários movimentos e um pequeno grupo de Sacerdotes. O clima que se vivia era de profunda alegria e comunhão fraterna. A Epifania (manifestação do Alto) que atraiu os Magos ao encontro de Jesus na Judeia foi também para todos nós uma manifestação da glória do Senhor. Toda a Assembleia teve consciência profunda da presença viva de Cristo em nós e entre nós derramando sobre a Comunidade, de modo imprevisível, uma grande efusão do Seu Espírito. Como os Reis Magos, em sintonia com a Eucaristia, naquela Casa Missionária, à sombra da Basílica da Estrela, também as pessoas cantavam e rezavam: “Vimos a Sua Estrela no Oriente e viemos com presentes adorar o Senhor...” (Mt 2,2). A Assembleia pediu para que se continuassem a realizar estas reuniões. Alguns até pediam todos os Domingos. De comum acordo, 898 Adélio TORRES NEIVA salvaguardando a reunião semanal do pequeno núcleo que já reunia desde Outubro do ano anterior, e sobre o qual pesava a responsabilidade de preparar em oração, jejum e discernimento, futuros encontros, em união com Fátima, ficou assente que a próxima Assembleia se realizaria no primeiro Domingo de Fevereiro, dia 2, por coincidência festa da Apresentação e do Venerável Padre Francisco Libermann, um dos fundadores da Congregação do Espírito Santo. Congregaram-se desta vez mais de 200 pessoas e a Irmã Maria Gonçalves, S.N.S.F. veio de Fátima com um pequeno grupo para participar, colaborar e testemunhar. As reuniões na Casa Espiritana da Estrela, com Assembleias mensais nos primeiros domingos, cada vez mais concorridas e animadas, continuaram a realizar-se até às férias de Verão. Este Cenáculo, reunido na comunidade espiritana, viria a tornar-se o ninho do Renovamento Carismático Católico em Portugal que quer o Cardeal Patriarca D. António Ribeiro quer o superior provincial dos Missionários Espiritanos P. José Gonçalves de Araújo aprovaram e incentivaram. A expansão do Renovamento Carismático em Portugal foi, a todos os títulos, vertiginosa e imprevisível. Os pólos de Fátima e de Lisboa, em perfeita sintonia de espírito e de acção tornaram-se, pela acção do Espírito Santo, os instrumentos propulsores para que esta graça de renovação pentecostal lançasse raízes, crescesse e frutificasse em todos os pontos do país e nas mais variadas latitudes e povos de expressão portuguesa. Assembleia Carismática em Lisboa Os planos e os mistérios de Deus são insondáveis e o Seu Espírito, que enche o universo, sopra, como um novo pentecostes, onde quer, como quer e com quem quer... 899 Capítulo 101 A Província Espiritana de Espanha 482 A fundação da Obra de Espanha Por várias vezes, a Congregação do Espírito Santo teve contactos com a Espanha. Primeiro, por intermédio da Província da França e, depois, com a Província de Portugal. Em 1903, Mons. Le Roy , Superior geral, esteve dez dias nos arredores de Saragoça, tentando fundar a Congregação em Nossa Senhora da Cogullada, antigo mosteiro capuchinho. Para lá foi enviado o P. Leportier com alguns Irmãos, pois pensava-se fundar aí uma Obra de Irmãos. A ideia foi abandonada devido a um projecto de lei sobre a Concordata, que deixava o futuro da obra muito incerto. A Província de Portugal estivera já em Espanha por duas vezes: a primeira, em Gibraltar, no Colégio de S. Bernardo, em 1870, com o P. Eigenmann e os escolásticos Alexandre Rulhe, Policarpo dos Santos, José Maria Antunes e os aspirantes irmãos Mendes, Pereira e Silva, que abandonaram em 1872. A segunda vez foi em Zamora, na Academia de Linguas de San Atilano, onde estabeleceram um pequeno escolasticado, desde Outubro de 1913 a 1920, ano em que em Braga recomeçou o escolasticado menor. A fundação de uma Província em Espanha foi decidida no Capítulo Geral de 1950, e confiada à Província Portuguesa. As razões apontadas para confiar esta fundação a Portugal foram: a vizinhança geográfica, a semelhança de relações mútuas (língua, costumes, clima político) e a notável prosperidade e vitalidade da Província de Portugal, então dirigida por um homem activo e empreendedor, o P. Agostinho de Moura. Desde o verão de 1951 que o P. Moura começou as suas pesquisas para encontrar uma casa, em Espanha. Encontrou-a em Madrid, na Rua Joaquim Garcia Morato, nº 117 (Santa Engrácia), rés do chão, esquerdo, uma construção toda nova, na paróquia de Santa Teresa e Santa Isabel, num dos bairros mais importantes da capital espanhola. Em Setembro o contrato foi assinado e imediatamente se começou a mobilar a casa. A 22 de Outubro chegou o primeiro inquilino, o Ir. Francisco da Santíssima Trindade (Irmão Trindade) para dar a última mão ao arranjo da casa. Hospedou-se em casa do Sr. Américo Martins Molarinho, um português, casado em Madrid, que, com a sua mulher e filha, desde a primeira hora foi um bom amigo e precioso cireneu. 482 Elementos fornecidos por P. Joaquim Ramos Seixas. 900 Adélio TORRES NEIVA A inauguração foi a 28 de Outubro desse ano de 1951, com a presença do P. Clemente Pereira da Silva, assistente geral da Congregação, do P. Agostinho de Moura, provincial de Portugal, Representante do Arcebispo de Madrid e Director as OMP, D. Angel Sagarmiga, de D. Daniel Gomes Junqueira, bispo de Nova Lisboa (Huambo), de alguns membros e benfeitores da Província Portuguesa. A nova comunidade ficou constituída pelos PP. Isalino Alves Gomes (director), Augusto Teixeira Maio (Propaganda) e Irmão Trindade (administração e serviços da comunidade). O seu objectivo imediato era dar a conhecer a Congregação e abrir caminhos para a implantação da Congregação em Espanha. Logo no ano seguinte, em 1952, graças à generosidade do Dr. Veiga Pinto e outros amigos portugueses de Madrid, se começou na Rádio Intercontinental de Madrid, a emissão radiofónica espiritana semanal, com o título Madrid-Africa – 30 minutos, preparada pelo P. Augusto Maio, com a colaboração desinteressada e amiga de D. Leopoldo de la Peña e uma equipa de especialistas da emissora. Durante cerca de 25 anos este programa, que depois tomou o título de Quinze minutos missionários, foi um verdadeiro instrumento para tornar a Congregação conhecida em toda a Espanha. Foi um programa que depois foi repetido pela Radio Valladolid, Radio Puertolano, Radio Cazalla de la Sierra. Desenvolvimento da Fundação A 30 de Março de 1953, a comunidade foi transferida para a Calle de los Olivos, 12, (Bairro Metropolitano) de Madrid, recentemente comprada para sede definitiva da Congregação, por escritura de 26 de Março deste ano. Foi aqui que teve lugar a primeira visita do Superior Geral, P. Francis Griffin, por ocasião da ordenação episcopal de D. Agostinho de Moura, a 26 de Abril de 1953, o verdadeiro fundador desta Província. Sucedeu-lhe o P. Olavo Teixeira, que depois continuou o processo desta fundação. Neste mesmo ano chegou o P. José Maria Felgueiras, que foi nomeado superior da Obra de Espanha e que muito trabalharia na promoção vocacional e na fundação do Seminário Menor. Em 1954 começou-se a publicação da revista MIES (Missões do Espírito Santo com o P. Teixeira Maio como director e redactor. A 31 de Outubro de 1955, abriu oficialmente , com 12 alunos, em Paredes de Nava (Palência) o Seminário Menor Espiritano, tendo como director o P. Francisco Mendes Pereira e a colaboração do P. Alberto Camboa e os Irmãos Trindade e Antonino, substituídos depois pelos Irmãos Cassiano, Paulo e Estêvão. A 9 de Setembro de 1956 fez a sua profissão no Fraião, o primeiro irmão espiritano espanhol, o Ir. Xavier (Jesus Blanco Martinez), destinado depois à comunidade de Madrid. Ainda neste ano, a 26 de Novembro, depois de 54 dias de doloroso sofrimento, com as pernas amputadas em consequência de um grave acidente de comboio (4 A Província Espiritana de Espanha 901 de Outubro) sofrido quando tentava salvar um dos estudantes do seminário de Paredes de Nava, faleceu no hospital de Palência o P. José Maria Felgueiras, sempre recordado com saudade por quantos o haviam conhecido. A 27 de Dezembro de 1957 o Ayuntamento de Jodar (Jaén) deu a uma das ruas da terra donde era originário o seminarista Lino Diaz, salvo pelo P. Felgueiras, o nome do P. José Maria Felgueiras. A 15 de Janeiro de 1959 o Ministério do Governo, conceder-lhe-ia, a título póstumo, a Ordem Civil da Beneficência de Espanha. A 2 de Abril de 1959, acompanhado do novo provincial de Portugal, P. Firmino Cardoso, chegou a Espanha, onde ficou colocado, o P. Olavo Teixeira. A 5 de Julho deste ano foi ordenado em Roma o primeiro sacerdote espiritano espanhol P. Buenaventura Mur. A 15 de Outubro deste ano D. Alejandra de Diego oferece à Congregação, em Castrillo de la Veja (Burgos), os terrenos onde viria a ser construído o Noviciado. Em Outubro de 1960, por desdobramento do Seminário de Paredes de Nava, por falta de espaço foi criada provisoriamente em Valladolid a residência de Huerta del Rey, com 10 alunos, a cargo dos PP. Avelino Barreto (director da residência) e José dos Santos Simões (director dos escolásticos), substituído no ano seguinte pelo P. José Coelho Barbosa. Como auxiliares estavam os Irmãos Cassiano e Paulo. A 6 de Outubro de 1961 faleceu em Madrid o P. Celestino Belo, que se encontrava em Madrid em convalescença, para ser colocado nesta Província. A 19 de Novembro de 1961, como fruto de uma campanha para conseguir uma casa ou terrenos para construção de um seminário (Paredes de Nava não tinha condições suficientes) os PP. Olavo Teixeira e José Maria Couto abrem a comunidade de Tortoreos (Pontevedra), depois de a Congregação ter aceite por oferta do bispo de Tuy-Vigo, a direcção da Fundação das Escolas de Artes e ofícios da marquesa do Pazo de las Mercedes. A casa , a quinta e as condições do Patronato permitiam a instalação do seminário. Ao mesmo tempo, o P. Olavo Teixeira assumia as funções de pároco de las Nieves, funções que depois exercerá o P. José Maria Couto. Em Outubro de 1962, o Seminário Menor de Paredes de Nava é transferido para Tortoreos juntamente com os alunos da residência de Valladolid. A direcção dos escolásticos ficou confiada aos PP. Francisco Mendes Pereira (seminaristas maiores) e Alberto Camboa (seminaristas menores) e P. José Coelho Barbosa (responsável dos alunos externos). Ao todo eram 56 estudantes. Em 1963, a revista MIES passa a chamar-se Pentecostes Misionero, muito melhorada e com tiragem mensal. Uma nova fase na vida da Província Depois de madura reflexão, o Conselho Provincial de Portugal e a Casa Generalícia decidem lançar uma nova estratégia para a Animação vocacional em Espanha, insistindo em vocações mais avançadas em estudos, que permitissem, a 902 Adélio TORRES NEIVA médio prazo ter membros espanhóis preparados para assumir a responsabilidade da Província. Para isso foram chamados das missões de Angola, para abrir novos centros de irradiação, os PP. José Gonçalves Araújo, Joaquim Ramos Seixas, Manuel David Sousa (1964), Alberto dos Anjos Coelho (1964), José Martins Salgueiro (1965), António Vassalo (1966), José Veiga, José Coelho Barbosa (1966), Carlos Salgado (1976) e os angolanos PP. Pedro Candjimbo (1967), Bernardo Bongo (1972) e Sabino Livela (1974). Criado por decreto de 27 de Maio de 1964 inaugurou-se em Tortoreos, com a presença dos conselheiros gerais PP. Higgins e Avelino Costa e do P. Firmino Cardoso, provincial de Portugal, o noviciado espiritano de Espanha com a tomada de hábito de 10 noviços espanhóis, 9 clérigos e um Irmãos sob a direcção do P. Olavo Teixeira Martins, como mestre, P. Mendes Pereira, submestre e António Cardoso Cristóvão. Como pároco ficou o P. José Maria Couto. Dos escolásticos menores, um grupo (10) foi para Portugal, e outro (21) continuou os estudos no Seminário menor de La Bañeza (Léon), da diocese de Astorga. A 5 de Fevereiro de 1965, na Calle Muntaner, nº 102, 1º na cidade de Barcelona, abre o novo Centro de Animação Missionaria, sendo a comunidade formada pelos PP. Joaquim Ramos Seixas (Director), Manuel David Sousa (Propaganda exterior) e Ir. Xavier Blanco Martinez (adminsitrção e serviços da comunidade). Com a abertura deste centro divide-se o país em duas zonas de propaganda espiritana: uma que abrangia as Províncias da Catalunha, Aragão, Valência e Ilhas Baleares e outra, com o resto do país. A 17 de Agosto de 1965, o P. José Gonçalves de Araújo foi nomeado pelo Conselho Geral membro do Conselho Provincial de Portugal, em representação da Obra de Espanha, cargo já exercido pelo P. Felgeueiras até à data da sua morte, em 1954. Esta nomeação abre caminho para que esta Obra avance para uma maior autonomia, com a posterior nomeação de um Conselho de Obra para a organização local, sob a da supervisão do Conselho Provincial de Portugal. Como director da Propaganda foi nomeado o P. José Araújo em substituição do P. Simões, que foi destacado para Angola. Em 1966 o P. Manuel David Sousa é nomeado para Tortoreos, como responsável de um novo Centro de Animação Missionária para as regiões da Galiza, Astúrias, Vascongadas e Navarra. A 5 de Abril de 1966, depois da visita do Superior Geral Mons. Marcel Lefebvre, o Conselho Geral decide aceitar os terrenos que lhe oferecia D. Alejandra de Diego em Castrillo de la Veja, para a fundação de uma comunidade, e decide também procurar em Barcelona lugar para a construção de um futuro Escolasticado Maior. A 2 de Novembro de 1966, depois de analisadas devidamente as condições pelo Superior Geral, Provincial, Director da Obra e Ecónomo Geral, o Conselho Geral autorizou a compra de uma quinta, chalet e edifício em construção, do Paseo Canovas del Castillo, nº 64, em San Cugat del Vallés (Barcelona). Logo se começou a sua adaptação para escolasticado maior. Em Novembro de 1966, o P. Olavo Teixeira regressava a Portugal, deixando A Província Espiritana de Espanha 903 definitivamente a Espanha, onde muito trabalhou pela consolidação desta Província. Para o substituir como mestre de noviços foi nomeado o P. José Veiga, até então responsável da revista. A 18 de Maio de 1967, inaugurou-se em Madrid o andar recentemente comprado, por escritura de 12 de Abril de 1967, na Calle Santa Engracia (então chamada Joaquim Garcia Morato), nº 149, 1º B, pois cada vez se fazia sentir mais a necessidade de sediar a Animação Missionaria numa zona mais central da cidade e de mais fácil comunicação, assim como com mais espaço para acolhimento dos missionários. A 8 de Dezembro de 1967, Mons Lefebvre inaugura solenemente o Escolasticado Maior de Espanha em San Cugat del Vallés (Barcelona), com a presença do Provincial de Portugal P. Amadeu Martins, sob a direcção do P. Manuel David Sousa. O escolasticado abriu com 7 alunos de Teologia e 3 de Filosofia, que frequentavam a s aulas na faculdade “San Francisco de Borja” dos Jesuitas. Em Março de 1968, com o P. António Perez Bernardez como director, ajudado pelo Ir. Hermenegildo Veiga, o Centro de Animação Missionária da Galiza passou do escolasticado de Tortoreos para a cidade de Vigo, funcionando na casa da mãe do P. António Perez, que vivia só. A 30 de Maio de 1968 teve lugar a primeira reunião do Conselho de Obra, assim constituído: PP. José Araújo (director e representante do Conselho Provincial), Martins Salgueiro (administrador da Propaganda), B. Mur (Secretário), Francisco Alves do Rego (Superior de Madrid), Joaquim Ramos Seixas (Superior de Barcelona), José Veiga (mestre de noviços), M. David Sousa (Director do escolasticado de San Cugat), António Perez (Director do Centro da Galiza) e Ir. Xavier Blanco (representante dos Irmãos). A 31 de Maio de 1968, festa de Nossa Senhora Rainha do Mundo, foi o lançamento da primeira pedra do edifício definitivo do Noviciado espiritano de Espanha, no terreno doado por D. Alejandra de Diego, em Castrillo de la Veja (Burgos). A fundação da Província de Espanha Em 1969, o P. Bussard, visitador geral, visitou as comunidades de Espanha, sondando a opinião de todos em ordem à elevação da Obra de Espanha a Província. Era opinião geral que a Obra de Espanha tinha já condições e estruturas para caminhar por seu próprio pé. Assim por decreto da Sagrada Congregação dos Religiosos de 21 de Fevereiro de 1969, depois da decisão do Conselho Geral de 11 deste mesmo mês, foi criada a Província de Espanha, separando-se da Província de Portugal. Como seu primeiro provincial foi nomeado o P. Joaquim Ramos Seixas, a 12 de Maio desse ano. Como Casa Provincial foi escolhida Olivos 12, Madrid. O Conselho Provincial ficou assim formado: PP. José Gonçalves Araújo, 1º assistente, Waldo Garcia Romero, 2º assistente, Manuel David Sousa (Director 904 Adélio TORRES NEIVA do escolasticado maior), Antonio Perez Bernardez (Animação Missionária), Fernando Corazón Torres (Esolasticado Menor), Ir. Javier Blanco (Ecónomo Provincial) e Victor Cabezas (Secretário e representante dos Escolásticos). A 19 de Janeiro de 1970, a Província adere à constituição da Associação de Institutos exclusivamente missionários (ASIEM) e ao movimento do Serviço Conjunto de Animação Missionária (SECAM), iniciado em 1968. Em 8 de Junho desse mesmo ano, de acordo com a Província de Portugal e depois de consulta aos membros interessados, integram-se na Província de Espanha todos os membros espanhóis que, até à data, tinham professado na Província de Portugal, assim como o Ir. Antonino (Armindo Fernandes Barbosa), português que optou pela sua integração na nova Província. Os PP. Francisco Alves do Rego e António Cardoso Cristóvão regressam a Portugal. Os PP. José Gonçalves de Araújo, Manuel David Sousa, José Maria Couto Pereira, António Vassalo, Alberto dos Anjos Coelho, José Barbosa e Joaquim Ramos Seixas, continuam vinculados à Província de Portugal, mas afectados à Província de Espanha. O P. José Gonçalves Araújo, nomeado provincial de Portugal, deixaria a Espanha a 5 de Julho de 1970. A Província continuou depois o seu rumo, mas agora independentemente de Portugal. Lembremos apenas, que o contributo dos espiritanos portugueses, agora mais reduzidos, continuou a ser decisivo para o futuro da Província de Espanha, nomeadamente através da dedicação do veterano daquela província P. Ramos Seixas que, em 1981, depois dos provincialatos dos PP. Waldo Garcia Romero e Heliodoro Machado, foi novamente escolhido para provincial num momento particularmente crítico da vida daquela província, e do P. José Maria Couto Pereira, que foi escolhido para ecónomo provincial, cargo que exerceu durante largos anos. Momento particularmente significativo da história da Província de Espanha foi o Encontro Internacional dos Jovens espiritanos que em 1974 reuniu em Aranda de Duero 140 jovens de toda a congregação. Nessa altura, a Província de Espanha era um ponto de referência obrigatório para o dinamismo e criatividade de toda a Congregação. A Província de Espanha seria ainda particularmente interpelativa pelas equipas de leigos e associados que formou e enviou para diversas fronteiras da missão, nomeadamente para o Paraguay, Amazónia, Angola e Tanzánia, e pela diversidade de compromissos assumidos em terras de missão pelos membros desta província, mau grado a escassez do seu número. A crise de 1968 também na Espanha deixou marcas difíceis de ultrapassar, numa Província ainda em estado nascente. De salientar ainda a iniciativa da publicação de uma colecção de “Antologia Espiritana”, em 5 grossos volumes levada a cabo pelo P. Joaquim Ramos Seixas e destinada a tornar acessíveis aos espiritanos de língua castelhana os escritos dos fundadores e os momentos mais decisivos da história espiritana. 905 Capítulo 102 Memorial Espiritano Espiritanos falecidos pertencentes à Província de Portugal Nome Sr. Pedro Martins de Carvalho Sr. Bernardo Ribeiro Sr. Álvaro Coutinho Ir. Carlos Podão Ir. Ângelo - Daniel Vaz Sr. António Mendes Palmeira Sr. Emílio Pereira Sr. António Neves Ir. Arnaldo Baltazar Ir. Egídio Moita Ir. Gonçalo Gouveia Ir. Silvino Pinto Sr. Francisco Delgado Sr. José Rocha P. José Matias P. António Marques Ir. Tomé de Guadalupe Sr. José Gonçalves Rebordão Ir. Calisto Colaço Ir. Ilídio Jorge Ir. Silvério de Oliveira Sr. Luís Cardenas Ir. Guilherme Oliveira Ir. António Martins Ir. Ildefonso Pires Ir.Baltazar Gonçalves Ir.Lázaro Viegas Ir. Avelino da Silva Ir. Dionísio Duarte D.N. 18601856186818631873187318701870187218331866187218761873186718601871187518331872186218751871186318651873186718741874- D.F. 1886 1887 1889 1892 1892 1893 1893 1893 1894 1894 1895 1895 1895 1895 1896 1896 1897 1897 1900 1900 1900 1900 1901 1901 1902 1902 1902 1903 1903 Local PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA PERU PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA 906 Ir. Zacarias Ferrão Ir. Marcolino Ferreira Ir. Teódulo Martins Ir. Cláudio Gomes Ir. Custódio Fernandes Ir. Vidal Brito Sr. António Ramoa Ir. Isidro Pinheiro Sr. António Cardoso Ir. Rodrigo Araújo Ir. Silvino Moreira Ir. Raimundo Alves Ir. Amaro - Manuel Antunes Ir. Maurício Marques Ir. Tomás Pereira Ir. Dâmaso Bacelo Ir. Dionísio de Carvalho Ir. Samuel Correia Ir.Urbano Pinto Ir. Agostinho - Manuel Caetano Ir. Caetano Fernandes Ir. Ernesto Alves Bicho Ir. Joaquim Silva Campos Ir. Adão - António Ferreira Sr. Manuel Dias Lopes Sr. Lourenço Mendes de Andrade Ir. Martinho Brás P. Augusto Lopes de Azevedo P. Filipe Misseno Grilo Ir. Lino Soares Sr. Manuel Oliveira Ir. Damasceno Maçurano Ir. Estêvão Esteves P. José Magalhães Ir .Vicente dos Santos Ir. Afonso - Geraldo Nunes Ir. António Marques da Silva Ir. Germano Teixeira Ir. Gonzaga Cabral Adélio TORRES NEIVA 187618681879187818781861188118771889185218901871187518601871187518671846187618821853189018631886189218901882188518911881188618641860186518641886189318721854- 1904 1905 1905 1906 1906 1906 1906 1907 1908 1909 1909 1910 1910 1910 1910 1911 1911 1911 1911 1911 1913 1913 1913 1913 1913 1914 1915 1915 1915 1916 1916 1917 1917 1917 1918 1918 1919 1919 1919 ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA BRASIL PORTUGAL ANGOLA BRASIL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL ANGOLA ANGOLA Galeria Espiritana Ir. Sebastião Fernandes Sr. José Oliveira Sr. Manuel Moutinho Ascensão Ir. Francisco de Faria Ir. Justino - Miguel da Silva Ir. Manuel Moutinho da Ascensão P. Manuel Alves Sr. Avelino Dourado Ir. Fernando Fernandes Ir. Geraldo Martins Ir. Abel - Joaquim Martins Carneiro Sr. Augusto Ferreira Ir. Carlos de Sousa Ir. Álvares da Silva Ir. Júlio Lopes Gouveia P. António Ramos P. Manuel Alencar Sr. Álvaro Misseno Ir. José Lopes de Sousa P. João José Alves Ir. Miguel da Silva P. Aquilino Câmara P. Luís Cancela P. Manuel Sousa Ir. Alípio - Francisco da Moita P. José Maria Antunes Ir. Camilo Jorge Ir. Estanislau Carrilho Ir. Ricardo Pereira P. Luciano de Sá Ir. Gregório Gomes Ir. José Maria Marques P. José Seveno P. Lourenço André Ir. Mateus - Eleutério Tomé P. Luís Barros da Silva Ir. Augusto Soares Queirós Ir. Nuno Marques Ir. Estêvão Dias Vieira 907 186118971897186218611898187918921851187218641897187518541867188418861900185518831865190018661866184118561867187018751881187419051902186818561869185118931903- 1919 1919 1919 1920 1920 1920 1920 1920 1921 1921 1921 1922 1922 1923 1923 1924 1924 1924 1925 1926 1927 1927 1927 1927 1928 1928 1929 1929 1929 1929 1930 1930 1930 1930 1931 1931 1932 1932 1933 PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA BRASIL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL FRANÇA ANGOLA ANGOLA PORTUGAL ZANZIBAR ANGOLA PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL ANGOLA ANGOLA PORTUGAL ANGOLA ANGOLA 908 Ir. Lucas - Lucas Ferreira P. Manuel Dias Ir. Inácio Alves Ir. Alberto Silva Ir. Lourenço Naval Ir. Teotónio Gomes P. José A. Terças Ir. Brás Gomes Ir. Celestino Oliveira Ir. João Bento Borges P. Manuel Vieira Sr. Francisco Sarmento Ir. Domingos Martins Ir. Jorge Carvalho P. Manuel Brás Ir. João de Brito da Silva P. Joaquim Rocha Sr. José Baptista Ir. Bento dos Santos Ir. Frutuoso da Silva Ir. Silvano Gomes P. António Pereira Ir. António Pereira Ir. Germano Baptista Ir. Adélio - António Cangueiro Ir. Duarte Vaz P. Abílio Teixeira Sr. Custódio Pereira Ir. Fortunato Pereira Ir. Ambrósio - António Lourenço Ir. Luís Gonzaga Silva P. João Cardona Ir. João Baptista Ferreira Ir. João de Deus Oliveira P. José Alves Terças P. José Pacheco Monte P. Vicente Soares Ir. Paulo Pinheiro Ribeiro P. Lindorfo Quintas Adélio TORRES NEIVA 1846- 1933 PORTUGAL 1891- 1933 BRASIL 1857- 1934 PORTUGAL 1875- 1935 ANGOLA 1850- 1935 ANGOLA 1856- 1935 ANGOLA 1904- 1935 ANGOLA 1911- 1936 PORTUGAL 1867- 1936 ANGOLA 1894- 1936 ANGOLA 1898- 1936 PORTUGAL 1913- 1937 PORTUGAL 1856- 1938 ANGOLA 1915- 1938 PORTUGAL 1875- 1938 PORTUGAL 1864- 1939 ANGOLA 1884- 1939 HAITI 1919- 1939 PORTUGAL 1855- 1940 PORTUGAL 1864- 1940 PORTUGAL 1863- 1940 ANGOLA 1872- 1940 ANGOLA 1873- 1941 ANGOLA 1909- 1941 PORTUGAL 1851- 1942 PORTUGAL 1871- 1942 ANGOLA 1914- 1942 ANGOLA 1916- 1942 PORTUGAL 1877- 1943 ANGOLA 1877- 1943 ANGOLA 1868- 1943 ANGOLA 1877- 1943 ANGOLA 1864- 1944 PORTUGAL 1865- 1944 PORTUGAL 1880- 1944 PORTUGAL 1876- 1944 PORTUGAL 1907- 1944 ZANZIBAR 1880- 1945 PORTUGAL 1912- 1945 CABO VERDE Galeria Espiritana Ir. António Pereira P. António Gomes P. Manuel Junqueira P. Miguel da Fonseca Ir. Ângelo - Joaquim Alves Bicho Ir. Xavier Moreira P. António Nunes da Costa Ir. Agostinho Soares Patrício Ir. António Ferreira Ir. Cristiano - Cristiano Pacheco Nunes Ir. Gervásio Dantas Ir. Marcos Rodrigues Sr. Acácio Silva Ir. Anselmo - Manuel Rodrigues Ir. Boaventura Alves Azevedo Ir. Serafim Rodrigues Ir. Antero da Silva P. Joaquim Alves Correia Sr. Joaquim Vale P. José Domingues Sampaio P. Domingos Vieira Baião Ir. Narciso - Manuel Costa P. António Ribeiro Teles Ir. João Baptista - Adriano Lopes Ir. Luís - Luís Ribeiro Novo P. Arnaldo Baptista D. Faustino Moreira dos Santos Ir. Valfredo - Valfredo Pinheiro Ir. Amândio - José de Oliveira Claro P. João Albino Alves Manso P. José Maria V. B. Felgueiras Ir. Gualberto - Ildefonso Lourenço Antunes Ir. Celerino Cordeiro Ir. Gonçalo - Alfredo Alves de Magalhães P. António Brojo Almeida Direito Ir. Lourenço - João Matias P. Agostinho Rodrigues Pintassilgo P. António Rodrigues Pintassilgo P. Manuel António de Sousa 909 188019081910186618781868189919191883187818681885191818671871187718611889192219241886186818811924189218911885188118791908191118761893188919211899188418881906- 1946 ANGOLA 1947 PORTUGAL 1947 ANGOLA 1947 PORTUGAL 1948 ANGOLA 1948 PORTUGAL 1948 PORTUGAL 1949 PORTUGAL 1949 ANGOLA 1949 ANGOLA 1949 ANGOLA 1949 ANGOLA 1949 PORTUGAL 1950 ANGOLA 1950 BRASIL 1950 PORTUGAL 1951 PORTUGAL 1951 E. U. A. 1951 PORTUGAL 1952 ANGOLA 1952 PORTUGAL 1953 PORTUGAL 1953 PORTUGAL 1954 PORTUGAL 1954 PORTUGAL 1954 PORTUGAL 1955 CABO VERDE 1955 PORTUGAL 1956 ANGOLA 1956 ANGOLA 1956 ESPANHA 1957 ANGOLA 1958 ANGOLA 1958 PORTUGAL 1958 PORTUGAL 1959 ANGOLA 1959 ANGOLA 1959 ANGOLA 1959 ANGOLA 910 Ir. Marcelino - Manuel Joaquim António Martins Ir. Silvestre - Carlos Augusto da Silva P. Bernardo Vieira Melo P. Joaquim Pereira da Silva P. António Pintassilgo P. Celestino Oliveira Belo Ir. Protásio - José Gomes Ferreira P. Agostinho Esteves Pinheiro P. João José da Cruz Ir. Miguel - Miguel José de Sousa P. Manuel Dias Matos Lage P. Querubim Cunha Meireles P. Manuel Misseno Ir. Luciano - Luciano Ferreira Ir. Pedro - Cipriano Pinto de Almeida P. Aníbal Pompeu Oliveira Rebelo Ir. Bernardino Sena - José Ascensão Lázaro Salcedas Ir. Francisco Assis - Narciso Martins Vaz P. Álvaro Óscar da Cruz Melo P. Clemente Pereira Silva P. José Gonçalves da Silva P. José Pereira Marante P. Mário Alves da Silva P. António Ferreira da Silva D. Daniel Gomes Junqueira Ir. Manuel Martins Campos - Evaristo P. António Rodas de Sousa P. José Finck P. José Rodrigues Cosme P. José Santos Fonseca P. Manuel Ribeiro P. António Martins Fernandes Sr. Manuel Costa Mendes Ir. Arnaldo - Francisco Xavier Fonseca Ir. Augusto - Domingos Abreu Marques Ir. Bernardo - Joaquim Nogueira Ir. Casimiro - José Esgalhado Ir. Celestino - José Lourenço Leitão Ir. José - Joaquim Esteves Pinheiro Adélio TORRES NEIVA 1877- 1960 1907- 1960 1909- 1960 1875- 1960 1891- 1961 1922- 1961 1878- 1962 1907- 1962 1883- 1962 1895- 1963 1879- 1963 1918- 1963 1891- 1964 1881- 1965 1892- 1965 1886- 1966 1908- 1967 1876- 1967 1910- 1967 1886- 1967 1918- 1967 1929- 1967 1902- 1967 1919- 1969 1894- 1970 1872- 1970 1918- 1970 1881- 1970 1896- 1970 1923- 1970 1900- 1970 1941- 1970 1948- 1970 1875- 1971 1915- 1971 1884- 1971 1902- 1971 1924- 1971 1926- 1971 PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA ESPANHA PORTUGAL ANGOLA SUÍÇA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA PORTUGAL ANGOLA ANGOLA ANGOLA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL ANGOLA Galeria Espiritana P. Manuel Alves Laranjeira Ir. Bonifácio - Manuel Pinto da Silva D. Pompeu Sá Leão Seabra Ir. Elias - Aprízio Ribeiro Ir. Teodoro - António Machado Ir. Cláver - Alexandre Fernandes Ir. Evangelista - Manuel José Ramos Ir. Lucas - José Anacleto Pereira Ascensão P. Francisco Joaquim Vaz P. Augusto Teixeira Maio P. José Maria Figueiredo Ir. Afonso Rodrigues - Gaudêncio Gonç. Henriques Ir. Martinho Carlos M. Gomes P. Adélio Ribeiro Lopes P. Domingos Alves Salgueiro P. Joaquim Gomes Ir. David Armando Costa Pinto Ir. Justino - António Santos Barroca Gil Ir. Messias - Francisco Marques Paulino P. Angelino Oliveira Guimarães P. Jerónimo Ferreira Ir. Teófano - António Joaquim Messias Ir. Veríssimo - Eugénio Maria Alves Rafael Ir. Vital - Joaquim Fernandes P. Daniel Rosa Junqueira P. José Silva Pereira Ir. Berkmans - António Martins Cunha P. António Lourenço Brás P. Joaquim Resende Barata Freire Lima P. José Marques Gonçalves de Araújo P. José Rodrigues Neiva de Araújo D. Moisés Alves de Pinho Ir. Porfírio - Francisco Pinto da Silva P. Alfredo Mendes P. Jacinto Ngole P. Manuel Jesus Raposo Ir. Fiel - Luís Rosa Ir. Abílio - António Lopes de Sousa Ir. Eugénio - Avelino Afonso Rocha 911 1928- 1971 1924- 1972 1908- 1973 1903- 1973 1910- 1973 1881- 1974 1909- 1974 1909- 1974 1916- 1974 1912- 1975 1883- 1975 1914- 1976 1909- 1976 1930- 1976 1911- 1976 1920- 1976 1914- 1977 1902- 1977 1913- 1977 1903- 1977 1890- 1977 1892- 1978 1902- 1978 1914- 1978 1937- 1978 1907- 1978 1905- 1979 1912- 1979 1901- 1979 1932- 1979 1899- 1979 1883- 1980 1904- 1980 1911- 1980 1935- 1980 1893- 1980 1922- 1981 1895- 1981 1921- 1981 ANGOLA PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL ANGOLA QUENIA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL 912 P. João Domingues Terças P. Joaquim Pereira Pinto P. Porfírio Duarte Lourenço Ir. Pedro Quitumba P. Francisco Alves do Rego P. José Maria Pereira Ir. Agostinho - Agostinho Alves Trindade P. António Cardoso P. António de Oliveira Giroto P. Manuel Rodrigues Ferreira Ir. Lázaro - Serafim Dias P. Abel Pinto de Sousa P. Guilherme Carlos Ribeiro P. Ismael Baptista Ir. Assis - José Vieira P. António Brásio P. Armando Alves Pinto P. Cândido Ferreira da Costa P. João Pinto da Silva P. José Oliveira Andrino Ir. Filipe - Clemente Ribeiro Pereira Vilela Ir. Hilário - José Oliveira Martins Ir. Joaquim - José Afonso da Cunha P. Adriano Rocha P. Isalino Alves Gomes P. Joaquim Correia de Castro P. José Pereira de Oliveira P. Manuel Geraldes Pereira P. Henrique Alves P. Augusto Nogueira de Sousa P. Francisco Nogueira da Rocha P. Manuel Soares Moutinho Ir. Cipriano - Avelino Nogueira Cunha Ir. Domingos - Rogério Anjos Meireles Ir. Jerónimo - António Silva Gomes P. Alfredo dos Santos P. Avelino Alves Barreto P. José Gonçalves Torres Palma D. Agostinho Joaquim Lopes de Moura Adélio TORRES NEIVA 1908- 1981 1916- 1981 1926- 1981 1907- 1982 1904- 1982 1913- 1982 1895- 1983 1916- 1983 1926- 1983 1919- 1983 1904- 1984 1912- 1984 1915- 1984 1915- 1984 1924- 1985 1906- 1985 1909- 1985 1904- 1985 1909- 1985 1917- 1985 1916- 1986 1922- 1986 1921- 1986 1907- 1986 1895- 1986 1898- 1986 1909- 1986 1911- 1986 1910- 1986 1925- 1987 1912- 1987 1910- 1987 1910- 1988 1921- 1988 1908- 1988 1918- 1988 1916- 1988 1925- 1988 1910- 1989 PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL BRASIL ANGOLA PORTUGAL BRASIL FRANÇA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL BRASIL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL ANGOLA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL Galeria Espiritana P. José Fonseca Lopes P. João Eduardo Moniz Ir. Inocêncio - José Domingues P. António Belarmino Galhano Ir. Estanislau - Francisco Sousa Moreira Ir. Nicolau - João Machado P. Manuel Perfeito Martins Ferreira P. Avelino Pereira da Costa P. José Felício Ir. Inácio - José Tomás Cavalheiro P. Abílio Fonseca Guerra P. António Amâncio Ventura Ir. Damião - Joaquim Gomes de Oliveira Ir. Estêvão - Manuel Joaquim Duarte Ir. Mateus - João António Fernandes Ir. Torcato - Manuel Barreto Coelho P. Alfredo Purificação Pereira P. Avantino de Sousa P. Henrique Sá Couto P. José Francisco Valente Ir. Amaro - Luís Augusto Oliveira Ir. Moisés - Joaquim Costa Correia P. Álvaro Soares da Silva P. José Pinto de Carvalho P. Eduardo da Silva Leitão P. José Alves P. António Joaquim da Silva Ir. Francisco Rodrigues Morais P. António Luís Gonçalves P. Manuelino Pinto de Oliveira P. Cidalino Ferreira de Melo P. Firmino Cardoso Pinto P. José António Teixeira P. Manuel António Meira P. Agostinho Pereira da Silva Ir. Paulo - José Francisco Coelho Ir Vítor - Manuel Gonçalves Valente P. Manuel Marinho Lemos do Couto P. António Pereira Rodrigues 913 191419281920191219111910192719131911191219211921191019271903190519331912191619121917190619111936192019221909192419091918191719151923190219201922191419381924- 1989 PORTUGAL 1989 CABO VERDE 1990 PORTUGAL 1990 PORTUGAL 1991 PORTUGAL 1991 PORTUGAL 1991 PORTUGAL 1991 PORTUGAL 1991 PORTUGAL 1992 PORTUGAL 1992 ANGOLA 1992 PORTUGAL 1993 PORTUGAL 1993 PORTUGAL 1993 PORTUGAL 1993 PORTUGAL 1993 PORTUGAL 1993 PORTUGAL 1993 PORTUGAL 1993 PORTUGAL 1994 PORTUGAL 1994 PORTUGAL 1994 PORTUGAL 1994 PORTUGAL 1995 PORTUGAL 1995 PORTUGAL 1995 ANGOLA 1996 PORTUGAL 1996 PORTUGAL 1996 PORTUGAL 1997 PORTUGAL 1997 PORTUGAL 1997 PORTUGAL 1997 ANGOLA 1997 PORTUGAL 1998 PORTUGAL 1999 PORTUGAL 1999 PORTUGAL 1999 ANGOLA 914 P. Armindo Fernandes Barbosa P. José Sequeira Ribeiro P. Manuel David de Sousa P. Vitorino Jorge da Silva Amorim P. António Moreira P. Manuel Domingues Vaz Ir. Valentim - Adelino Sousa Carvalho P. António Rodrigues Ferreira Ir. Francisco - Filipe Duarte P. Fernando Moreira da Silva P. Francisco Manuel Lopes Ir. Joaquim Costa Manso P. Antero Alves dos Reis P. Assis Gomes de Sousa Pinho P. Manuel Augusto Ferreira P. Sabino Livela Ir. Sílvio - José Morais de Freitas Ir. Tiago - Francisco de Oliveira Ir. Ireneu - Francisco da Mata P. Manuel Nunes Adélio TORRES NEIVA 19271915193319271912192019241926191819111917193019271930192119341921191819151925- 1999 1999 1999 1999 2000 2000 2001 2001 2002 2002 2002 2003 2003 2003 2003 2004 2004 2004 2004 2005 ESPANHA PORTUGAL PORTUGAL BRASIL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL ALEMANHA PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL 915 Capítulo 103 A memória que faz futuro: Os “Santuários Espiritanos” CEMITÉRIOS 1. BRAGA a) Cemitério da cidade – Jazigo-sepultura nº25 com a inscrição: “ Jazigo perpétuo dos Padres do Espírito Santo”, com cinco sepulturas de mármore: P. Tomás Hossenlopp falecido a 15.03.1910 64 anos Ir. Francisco Faria “ 15.04.1919 58 “ P. Álvaro Misseno “ 22.12.1924 24 “ P. Aquilino Câmara “ 1926 27 “ P. Luis Cancela “ 27.11.1927 61 “ P. Henrique Blériot “ 27.05.1939 78 “ P. José Pacheco Monte “ 09.06.1944 68 “ P. Miguel dos Anjos Fonseca “ 26.06.1947 81 “ P. Cosme (não espiritano) b) Antigo Cemitério do Fraião José Neiva Araújo (seminarista) P. Agostinho Labrousse Ir. Lucas Ferreira Álvaro Martins (seminarista) Ir. Inácio Alves P. Manuel Vieira José Baptista (seminarista) Ir. Bento dos Santos Ir. Antonino Pereira Arnaldo Rocha Ferreira (seminarista) Ir. Adélio Cangueiro P. José Alves Terças Ir. João de Deus Oliveira Ir. Paulo Pinheiro P. Lindorfo Quintas “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ 29.06.1930 26.03.1933 08.10.1933 14.11.1933 08.12.1934 21.04.1935 03.04.1939 20.03.1940 15.10.1940 17.11.1941 18.09.1942 14.01.1944 28.12.1944 12.01.1945 07.04.1945 c) Cemitério Novo do Fraião P. João Hervé “ 29.10.1945 72 87 “ “ 77 38 “ “ 85 68 17 91 64 79 65 33 “ “ “ “ “ “ “ “ 43 “ 916 Ir. Xavier Moreira Ir. Emílio de Oliveira Acácio Silva (noviço clérigo) Ir. Patrício de Sousa Ir. Antero da Silva Joaquim Vale (diácono) Ir. Narciso Costa Ir. Gonçalo Magalhães Ir. Marcelino Martins José Jorge Valente (postulante) Ir. Protásio Ferreira P. Manuel Dias Matos Lage James Machin (agregado) Ir. Pedro Pinto de Almeida Ir. Bernardino Salcedas Ir. Lucas Ferreira P. José Pereira Marante Ir. Bernardo Nogueira Ir. Vital Fernandes Ir. Veríssimo Alves P. João Domingues Terças Ir. Lázaro Dias P. Avelino Alves Barreto Ir. Cipriano Nogueira da Cunha Ir. José Tomás Cavalheiro Ir. Filipe Duarte (Francisco) P. Francisco Manuel Lopes Ir. Joaquim da Costa Manso Ir. José Morais de Freitas (Silvio) Ir. Francisco de Oliveira (Tiago) Adélio TORRES NEIVA falecido a 15.04.1947 “ 23.12.1947 “ 02.02.1949 “ 19.10.1949 “ 01.01.1951 “ 06.04.1951 “ 08.12.1953 “ 17.01.1958 “ 27.05.1960 “ 13.10.1960 “ 04.12.1962 “ 02.03.1963 “ 10.08.1963 “ 23.08.1965 “ 06.01.1967 “ 05.11.1974 “ 05.09.1967 “ 29.01.1971 “ 13.11.1978 “ 13.12.1978 “ 11.02.1981 “ 01.03.1984 “ 20.08.1988 “ 24.08.1988 “ 25.12.1992 “ 03.02 2002 “ 25.06.2002 “ 25.03.2003 “ 15.09.2004 “ 12.12.2004 80 anos 67 “ 31 “ 31 “ 90 “ 29 “ 85 “ 68 “ 83 “ 22 “ 83 “ 83 “ 72 59 65 38 86 64 72 72 90 72 78 81 82 85 73 81 86 “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ Nota: O cemitério antigo do Fraião, mesmo ao lado da igreja paroquial, desapareceu, por ocasião da construção do novo. Neste, temos 21 sepulturas em mármore, uma das quais contém as ossadas dos confrades sepultados no antigo. Arranjo feito em 1987. Umas 4 ou 5 foram cedidas às Irmãs do Espírito Santo. 2. Coimbra P. Joaquim Barata Freire de Lima Jaz.33, leirão 20 P. Isalino José Alves Gomes483 Sep.39, série D, leirão 27 483 Trasladado para a sua terra natal. falecido a 30.07.1979 “ 02.01.1987 78 anos 90 “ A memória que faz futuro: Os “Santuários Espiritanos” 917 3. Godim Um jazigo sepultura, com três espaços, rodeado de um lancil de granito e leve corrente suspensa de pequenos pilares e cruz saliente ao meio de um dos lados. Situa-se no leirão mais baixo Ir. Augusto César Rodrigues (Serafim) falecido a 15.12.1950 Ir. António Lopes de Sousa (Abílio) “ 25.11.1981 P. Joaquim Correia de Castro “ 03.03.1986 Ir. Francisco Moreira de Sousa (Estanislau) “ 02.07.1991 Ir. Francisco Rodrigues Morais “ 26.06.1996 73 anos 85 “ 88 “ 79 “ 71 “ 4. Lisboa (Prazeres) Sepultura em pedra calcárea. S.P.871; Secção 32. Rua 1, lado direito P. António Nunes Costa P. Augusto Teixeira Maio P. Ismael Baptista P. José Felício P. Cidalino Ferreira de Melo falecido a 10.06.1948 “ 31.07.1975 “ 15.11.1984. “ 20.08.1991 “ 04.12.1997 49 anos 63 “ 69 “ 80 “ 79 “ 5. Porto (Agramonte) Duas sepulturas em pedra mármore, juntas, com a indicação “Congregação do Espírito Santo”. Numa delas, uma lápide “preito de saudade dos Tarcísios do Porto” ao P. Rebelo, 4ª secção, nº 318-319. P. António Gomes da Silva P. Aníbal Pompeu de Oliveira Rebelo P. José Alves falecido a 15.06.1946 “ 12.10.1966 “ 17.04.1995 39 anos 79 “ 72 “ 6. Silva (Barcelos) Capela –Jazigo da Casa da Silva D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado falecida a 16.12.1935 Ir. Frutuoso “ 05.11.1940 P. António Ribeiro Teles “ 19.10.1953 Ir. Valfredo Pinheiro “ 09.08.1955 Ir. Justino Barroca “ 02.02.1977 D. Isabel (mãe do P. Mendes Pereira) “ P. Abel Pinto de Sousa “ 25.10.1984 P. José Pereira de Oliveira “ 24.02.1966 P. Manuel Soares Moutinho “ 01.09.1987 Ir. José Vieira (Assis) “ 23.07.1985 92 anos 74 74 74 “ “ “ 72 76 77 61 “ “ “ “ 918 Adélio TORRES NEIVA 7. S. Domingos de Rana (Torre da Aguilha) Quatro sepulturas juntas com a indicação “Missionários do Espírito Santo” e os números 59, 60, 62, 89. P. Arnaldo Baptista falecido a 23.03.1954 Ir. Luís Ribeiro Novo “ 25.05.1954 Ir. Adriano Lopes (João Baptista) “ 11.11.1954 P. José Finck “ 25.12.1970 Ir. José Lourenço Leitão (Celestino) “ 23.04.1971 Ir. Augusto Domingos Alves Marques “ 28.05.1971 Ir. Xavier da Fonseca (Arnaldo) “ 21.04.1974 P. José Maria Figueiredo “ 01.08.1975 Ir. Carlos Gomes (Martinho) “ 02.04.1976 P. Joaquim Gomes “ 15.10.1976 Ir. Armando Pinto (David) “ 06.02.1977 Ir. Francisco Marques Paulino (Messias) “ 20.02.1977 Ir. António Martinho da Cunha (Berchmans) “ 27.05.1979 P. Manuel de Jesus Raposo “ 25.04.1980 Ir. Luís Rosa (Fiel) “ 18.01.1981 Ir. Avelino Afonso da Rocha (Eugénio “ 01.12.1981 P. António Duarte Brásio “ 13.08.1985 P. José de Oliveira Andrino “ 29.08.1985 P. Manuel Geraldes Pereira “ 09.01.1986 Ir. Clemente Pereira Vilela (Filipe) “ 10.04.1986 P. Henrique Alves “ 22.04.1986 Ir. José Martins de Oliveira (Hilário) “ 28.08.1986 Ir. António da Silva Gomes (Jerónimo) “ 24.06.1988 José Dias “ 1959 P. José da Fonseca Lopes “ 29.07.1989 Ir. José Domingues (Inocêncio) “ 11.04.1990 Ir. João Machado (Nicolau) “ 24.08.1991 Ir. Pedro Quitumba (Angola) “ 18.08.1992 Ir. Joaquim Gomes de Oliveira (Damião) “ 06.02.1993 Ir. João António Fernandes (Mateus) “ 08.05.1993 Ir. Joaquim Duarte (Estêvão) “ 13.06.1993 P. José Francisco Valente “ 12.11.1993 Ir. Luis Augusto de Oliveira (Amaro) “ 15.08.1994 P. Eduardo da Silva Leitão “ 30.08.1995 Ir. José Francisco Coelho (Paulo) “ 16.02.1998 Ir. Manuel Gonçalves Valente (Vítor) “ 20.02.1999 No cemitério de Trajouce: Ir. Joaquim da Costa Correia (Moisés) “ 27.03.1994 P. Sabino Livela “ 05.07.2004 62 anos 62 “ 30 “ 89 “ 47 “ 56 “ 96 “ 92 “ 66 “ 56 “ 62 “ 63 “ 74 “ 86 “ 76 “ 60 “ 79 “ 68 “ 74 “ 78 “ 76 “ 64 “ 79 “ 82 “ 74 “ 70 “ 80 “ 75 “ 82 “ 89 “ 65 “ 81 “ 71 “ 75 “ 75 “ 84 “ 91 70 “ “ A memória que faz futuro: Os “Santuários Espiritanos” 919 8. Viana do Castelo Três sepulturas em terra, com gradeamento à volta e uma placa com a inscrição “Congregação do Espírito Santo”, na Secção nº 4 C. P. Desidério Rosé Ir. Augusto Soares Queirós Francisco A. Sarmento (escolástico) Manuel V. de Matos (escolástico) Ir. João Baptista Ferreira Ir. Clemente Rafael P. Jerónimo Ferreira Ir. Elias Ribeiro P. António Belarmino Galhano P. Manuel Nunes falecido a -1929 “ 20.07.1931 “ 28.02.1937 “ 1921-1938 “ 30.05.1942 “ 1876-1945 “ 06.08.1977 “ 13.09.1973 “ 13.03.1990. “ 11.02.2005. 35 anos 81 “ 24 “ 80 “ 87 70 77 79 “ “ “ “ CONFRADES SEPULTADOS NA SUA TERRA NATAL Arquidiocese de Braga P. António Martins Fernandes (S. Salvador do Campo) P. Daniel Rosa Junqueira. (Aguçadoira - P. Varzim) P. Domingos Alves Salgeueiro ( Sta. Maria de Galegos - Barcelos) P. Guilherme Carlos Ribeiro falecido a 24.03.1970 28 anos “ 13.10.1978 41 “ “ 10.04.1976 65 “ “ 20.04.1971 85 “ “ 20.04.1971 43 “ “ 02.01.1986 81 “ “ 29.11.1989 78 “ “ 10.10.1991 88 “ “ 09.10.1993 88 “ “ 21.12.1990 60 “ Ir. Adelino de Sousa Carvalho (Valentim) “ 26.03.2001 77 “ 28.11.2003 82 “ (Portela - Famalicão) P. Manuel Alves Laranjeira (Antas - Esposende) P. Isalino Alves Gomes (Vila Cova - Barcelos) D. Agostinho Lopes de Moura (Vila das Aves - Santo Tirso) P. Avelino Pereira da Costa (Rivães - Famalicão) Ir. Manuel Barreto Coelho (Torcato) (Gamil - Barcelos) P. Manuel Marinho Lemos do Couto (Marinhas - Esposende) (Terroso - P.Varzim) P. Manuel Augusto Ferreira (Antas - Esposende) “ 920 Adélio TORRES NEIVA Diocese de Coimbra P. Joaquim Francisco Vaz (Penela) P. José Sequeira Ribeiro falecido a 01.01.1974 “ 17.01.1999 57 anos 84 “ (Abrunhosa - Mangualde) Diocese da Guarda P. António Brojo de Almeida Direito (Aldeias - Gouveia) P. António Lourenço Brás (Enxabarda - Fundão) P. Carlos Rodrigues Pinto falecido a 21.01.1958 46 anos “ 12.08.1979 61 “ “ 02.08.1985 72 “ “ 04.08.1980 77 “ “ 22.10.1957 81 “ “ 23.11.1992 71 “ “ 01.09.1996 87 “ (Bandada - Sabugal) Ir. Cristiano Pacheco (Aldeia de S.Francisco de Assis - Covilhã) Ir. Profírio da Silva (Sta Maria da Covilhã) Ir. Gualberto (Vila do Touro - Sabugal) P. António Amâncio Ventura (Melo - Gouveia) P. António Luís Gonçalves (Vilar Formoso) Diocese de Lamego P. António Cardoso (Queimadela - Armamar) P. José dos Santos Fonseca (S.Cosmado - Armamar) Ir. Jorge de Carvalho (Cimbres - Armamar) Ir. Bonifácio da Silva (Penude - Lamego) P. José Pinto de Carvalho (Alamofala - Castro Daire) P. Firmino Cardoso Pinto (Armamar - Lamego) falecido a 09.05.1982 67 anos “ 23.03.1970 47 “ “ 1938 23 “ “ 11.10.1972 48 “ “ 01.10.1994 59 “ “ 28.01.1997 81 “ A memória que faz futuro: Os “Santuários Espiritanos” 921 Diocese de Leiria Ir. Teófano Messias (Vilar dos Prazeres - Ourém) P. Alfredo da Purificação Pereira (Freixianda - Ourém) P. António Rodrigues Ferreira (Santa Eufémia - Leiria). falecido a 07.05.1978 61 anos “ 07.07.1993 60 “ “ 09.10.2001 75 “ Diocese do Porto P. Domingos Vieira Baião (Rio Tinto - Baguim) P. Querubim da Cunha Meireles (Crestuma) P. Manuel Ribeiro (Argoncilhe) D. Moisés Alves de Pinho falecido a 29.11.1952 “ 29.03.1963 42 anos “ 26.05.1970 50 “ “ 17.06.1980 96 “ “ 20.05.1985 75 “ “ 06.10.1961 39 “ “ 06.02.1977 74 “ “ 26.12.1979 46 “ “ 10.12.1962 78 “ “ 09.06.1987 75 “ “ 24.04.1986 79 “ “ 11.11.1954 30 “ “ 15.03.1987 67 “ “ 26.07.1955 70 “ “ 14.02.1981 55 “ “ 06.09.1991 64 “ (Fiães - Feira) - Trasladado para Luanda em 20.10.1999 P. Armando Alves Pinto (Fiães - Feira) P. Celestino de Oliveira Belo (Anta - Espinho) P. Angelino de Oliveira Guimarães (Anta - Espinho) P. José Marques Gonçalves de Araújo (Avintes - Gaia) P. Francisco Alves do Rego (Sobreira - Paredes) P. Francisco Nogueira da Rocha (Recarei - Paredes) P. Adriano da Rocha (Recarei - Paredes) Ir. João Baptista Lopes (Paranhos - Porto) P. Augusto Nogueira de Sousa (Gandra - Paredes) D. Faustino Moreira dos Santos (Gandra - Paredes) P. Joaquim Pereira Pinto (S.Paio de Oleiros) P. Manuel Prefeito Martins Ferreira (Gens - Foz do Sousa) 922 P. Henrique de Sá Couto (S.Paio de Oleiros - Feira) P. Álvaro Soares da Silva (Argoncilhe Vergada) P. Manuelino Pinto de Oliveira (Lobão - Feira) P. Agostinho Pereira da Silva (Guizande - Feira) P. António Moreira (Tabuado - Marco de Canaveses) P. Fernando Moreira da Silva (S.Paio de Oleiros) P. Assis Gomes de Sousa Pinho (Caldas de S.Jorge - Feira) P. Antero Reis Adélio TORRES NEIVA falecido a 02.11.1993 81 anos “ 21.05.1994 83 “ “ 17.06.1996 77 “ “ 08.03.1997 76 “ “ 20.02.2000 87 “ “ 03.01.2002 91 “ “ 29.03.2003 73 “ “ 19.07.2003 77 “ (Argoncilhe - Vergada) Diocese de Vila Real Ir. Joaquim da Cunha (Chã - Alijó) P. José António Teixeira (Jou – Murça) P. Manuel David Sousa falecido a 25.02.1986 64 anos “ 15.02.1997 73 “ “ 20.04.1999 66 “ (Fradizela - Mirandela) Diocese de Viana do Castelo P. José Gonçalves Torres Palma (Mujães) P. Manuel Domingues Vaz falecido a 13.04.1988 “ 25.01.2000 62 anos 79 “ (Adegão. - Ponte do Lima) Diocese de Viseu P. Avantino de Sousa (Vila Cova à Coelheira - V.N Paiva) falecido a 14.05.1993 80 anos A História de Provincia Portuguesa 923 MONUMENTOS A ESPIRITANOS Fiães (Feira) – Busto de D. Moisés Alves de Pinho Senhora do Salto (Aguiar de Sousa) – Busto do P. Joaquim Alves Correia Avintes- Efígie do P. José Gonçalves Araújo; conjunto “Ao Espírito Missionário” Vergada (Argoncilhe) – Busto do P. Álvaro Soares da Silva Recarei (Paredes) - Busto do P. Adriano Rocha RUAS COM NOMES ESPIRITANOS Viana do Castelo: Rua D. Moisés Alves de Pinho, junto ao Seminário Nogueira (Braga): Rua P. Eigenmann, no lugar do Cruzeiro Porto: Rua P. Pacheco Monte, junto da capela do Monte Pedral Coimbra: Travessa do Espírito Santo, em frente da residência espiritana Godim: Rua das Missões do Espírito Santo, junto do Seminário Lisboa (Moscavide): Rua P. Joaquim Alves Correia (na Quinta das Laranjeiras) Gandra (Paredes): Rua D. Faustino Moreira dos Santos Tires (Cascais): Avenida P. Agostinho Pereira da Silva Bragança: Rua P. José Maria Pereira Sassoeiros (S. Domingos de Rana): Rua dos Missionários do Espírito Santo Jodar (Jaen- Espanha): – Calle P. José Maria Felgueiras HONRAS ESPECIAIS CONCEDIDAS A ESPIRITANOS P. José Maria Antunes, Comendador da ordem da Imaculada Conceição P. José Maria Felgueiras, Ordem Civil de Beneficiência de Espanha (15 /01/ 1959) P. António Brásio, Comendador da ordem do Infante D. Henrique (12.04.1962) P. Joaquim Alves Correia, Grande Oficial da Ordem da Liberdade, a título póstumo, (24.04.1980) P. António de Oliveira Giroto, comendador da “Ordem de Camões” (10.02.1981) P. Custódio Campos, Ordem de Mérito, pelo Governo de Cabo Verde (em 1981 e 2003) P. António Cachada, Ordem de Mérito, pelo Governo de Cabo Verde (em 2003) P. Laurindo de Jesus Marques, Medalha Professor Darcy Ribeiro, pela Câmara de Queimados (2004). D. Abílio Rodas de Sousa Ribas, condecorado por várias ordens e entidades, nomeadamente pelo presidente da República Portuguesa com o grau da Cruz da Ordem de Benemerência. 924 Adélio TORRES NEIVA 925 Capítulo 104 Títulos da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, reconhecida pelo Estado, usou no decorrer dos tempos os seguintes títulos: Congregação do Espírito Santo Congregação dos Padres do Espírito Santo Instituto Missionário do Espírito Santo Instituto dos Padres do Espírito Santo Instituto do Espírito Santo Corporação dos Padres do Espírito Santo Corporação dos Missionários do Espírito Santo de Angola Missionários do Espírito Santo Padres do Espírito Santo Missionários do Espírito Santo em Angola e Congo Missões do Espírito Santo Missões Ultramarinas do Espírito Santo Missões Ultramarinas do Espírito Santo de Angola e Congo Missões do Espírito Santo em Angola Missões do Espírito Santo em Angola e Congo Associação dos Missionários do Espírito Santo Instituto Missionário do Espírito Santo em Angola Congregação do Espírito Santo, Província de Angola Província de Portugal da Congregação do Espírito Santo Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo Ordem dos Missionários do Espírito Santo Congregação dos Missionários do Espírito Santo de Angola Congregação dos Missionários do Espírito Santo e Angola (Decreto de 3 de Agosto de 1949) A Congregação usou ainda os títulos, mas estes não reconhecidos oficialmente: Corporação dos Missionários de Angola Missões de Angola e Congo 926 Adélio TORRES NEIVA Devemos ao Procurador das Missões P. João Pinto da Silva (1947-1950), o conhecimento oficial e definitivo dos vários nomes que à Congregação eram dados (excepção feita aos últimos três) e que tanta confusão provocavam: A Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo é uma entidade canonicamente erecta, com personalidade jurídica também no foro civil, por ter sido feita a participação da sua existência ao Governo Civil de Lisboa em 6 de Março de 1963, nos termos dos artigos III e IV da Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa, tendo sido reconhecida como Corporação Missionária nos termos do artigo 38º do Decreto Lei 31207 de 5 de Abril de 1941( Estatuto Missionário), por despacho publicado no Diário do Governo nº 112, IIª Série de 16 de Maio de 1941.