MERI ORE EDA - Isabelle Van Oost

Transcrição

MERI ORE EDA - Isabelle Van Oost
OFICINA DE PINTURA NA ALDEIA
MERI ORE EDA
O território tradicional Bororo ocupa uma enorme região do cerrado no estado de Goiás, Mato
grosso, e o norte de Minas Gerais. As tribos da região de Minas Gerais foram exterminadas desde
os primeiros contatos com os brancos.
Ha vinte anos uma nova geração insatisfeita com as suas perdas culturais começou a se mobilizar participando ativamente ao movimento de integração indígena na constituição brasileira. Este
grupo luta para a recuperação e o reforço de sua identidade, combate o alcoolismo e a destruçao
social gerada pelo contato com a civilização ocidental.
O Ponto de Cultura Meri Ore Eda vai proporcionar ao povo Bororo um importante exercício de
planejamento e execução de atividades culturais, controle do orçamento e prestação de contas.
Será um espaço de exercício da cidadania, da autonomia e de tomadas de decisão, coisas que
há dezenas de anos o povo Bororo não exerce, vivendo em dependência da missão religiosa e
dos serviços da Funai.
Apos quase cem anos de vida fora do seu habitat original eles voltam viver no meio a natureza.
Os Bororos são originalmente mestre artesão na arte da plumaria que
o fora proibido pelo IBAMA.
As famílias Bororo da aldeia Meri Ore Eda estão construindo muito mais que uma nova aldeia.
Com coragem e determinação, buscam as raízes de sua cultura e tradição, os conhecimentos
adormecidos, a força do espírito.
Há mais de um ano deixaram as casas de alvenaria com todos os confortos da vida moderna
onde viviam em torno da missão religiosa..para voltar a viver no cerrado. A nova aldeia se ergue
,em círculo em torno do Baito – a grande casa espiritual, com casas tradicionais feitas de troncos
de aroeira e palha trançada de babaçu
Em Meri Ore Eda voltaram a tomar banho no rio, a dormir em redes, a contar histórias à luz da
lua, a brincar com as crianças e a conversar na língua Bororo. Os velhos transmitem novamente
os conhecimentos aos jovens que se apropriam das novas tecnologias para recuperar sua cultura
e encontrar novos caminhos. Para serem Boe, gente de verdade, nestes novos tempos.
O projeto Meri Ore Eda está fazendo o reconhecimento dos recursos do cerrado, melhorando a
qualidade de vida com o aproveitamento dos frutos e castanhas e criando novos suportes para a
arte milenar dos grafismos e símbolos da cultura Bororo.
A OFICINA DE PINTURA
A intenção desta intervenção e de estimular o desenvolvimento de um produto que tenha as características particulares e tradicionais dos Bororos.Enquanto o decreto do Ibama não se nuance
a a ong Ideti traz dispositivos para ajudar a tribo na sua sobrevivência e das características de
sua identidade pessoal assim como a criação de um dispositivo capaz de gerar uma renda.
*Ideti : instituto das tradiçãos indígenas.
Lendo o livro das tradição Bororos
A oficina de pintura que administrei tem como objetivo reavivar o grafismo pictural originalmente
utilizando no corpo. Permitir que a identificação pessoal se reencontra na vestimenta lhes trazendo técnicas de pintura sobre tecido e os meios de perpetuar seus costumes e signos particulares
na vestimenta.
Durante a oficina nos abordamos os costumes de varias tribo do mundo e da moda em geral
para uma tomada de consciência da liberdade individual.
Nos falamos da influencia do ambiente sobre a vestimenta e apos lhes ter mostrado varias formas e possibilidades de inspiração e sugeri a colheita de vegetais do redor da aldeia como possível ferramenta ou forma de inspiração.Apos isto os acompanhei simplesmente no procedimento
técnico da pintura.Por começar utilizamos camisetas que podiam ser transformadas,customizadas
a vontade com uma quantidade de materiais e fius de varias cores que deixamos a disposição e
que eles poderiam utilizar seguindo seu gosto.
Um debate muito presente durante este estagio foi o do signo , da síntese da figuração gráfica
que eles conhecem naturalmente bem.
Os índios tem tendência a simplificar todo, nada a ver com preguiça mas um
atalho para chegar ao resultado.(Algo que tem a ver com a proximidade da pureza, da liberdade.).Foi surpreendente de observar que a construção tradicional e a síntese gráfica esta ainda viva quase geneticamente presente e naturalmente
se impôs em todas as realização durante a oficina que foi encerada por um desfile.
Observação de pintura de outra tribo
A PINTURA CORPORAL
Nos índios a arte gráfica se insere num systeme de comunicação visual altamente estruturado,
marcando os eventos, o estatuto.
Os grafismos se adaptam ao suporte plástico do corpo que por sua vez carega outros significados o que permite de apreciar a relação intima entre grafismo, suporte e significado.A pintura
corporal faz parte também de uma função mágica-religiosa do reconhecimento estético e correto
de se apresentar. Ela tem uma função ética e estética.
Essa dualidade corpo ,forma plástica e grafismo, comunicação visual sobre o próprio corpo define
o endivido na sua posição social .
OS CARRIMBOS
Depois do trabalho realizado sobre a noção de possibilidade de
perpetuar a identidade na vestimenta nos procuramos encontrar
uma linguagem técnica que os correspondem mais.
O carimbo feito de caule resistente foi o ponto de partida de nossa procura,e uma técnica utilizada em varias tribos para a pintura
corporal e de objetos e tecidos ,a onde eles dominam ainda a
tecelagem.Em seguida nos utilizamos filhas, sementes cortadas
no meio, e finalmente veio a idéia de utilizar o tronco do galho
de buriti que e fibroso e fácil de talhar.
A partir deste momento as formas e modelos não acabavam de
serem esculpidos.
Em pouco tempo eles produziram uma grande quantidade de
carimbos de diferentes grafismos abstratos ou figurativos e realizam pinturas de vários tecidos de estrutura bem particulares.
As camistes e tecidos que os jovens estão pintando com os desenhos tradicionais recriados em carimbos de broto de buriti e plantas do cerrado, trazem a beleza e diversidade de formas há muito tempo guardadas na memória. São peças
únicas, arte e expressão de um povo que se reinventa.