PDF - Série de entrevistas sobre negócios sociais

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PDF - Série de entrevistas sobre negócios sociais
CIDADANIA FÁCIL
SÉRIE DE ENTREVISTAS SOBRE NEGÓCIOS SOCIAIS
INTRODUÇÃO
Texto 1
O 'Missing Middle'
Texto 2
Desafios dos negócios sociais (parte 1)
Texto 3
Desafios dos negócios sociais (parte 2)
ENTREVISTAS:
Yoshihiro Kawahara
SenSprout
Francesco Piazzesi
¡Échale! a Tu Casa
Guilherme Lichand
MGov Brasil
Raul Aguayo
Conuco Solar
Victoria Alonsopérez
ChipSafer
Christine Souffrant
Vendedy
David Gluckman
Lumkani
Produzido em agosto de 2015
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: O 'MISSING MIDDLE'
Este é o primeiro post da série sobre negócios sociais, na qual vamos falar sobre
impacto, retorno, financiamento e sobre esse ecossistema no Brasil e no resto do
mundo.
MISSING MIDDLE . Essa expressão tem diversos usos: por exemplo, para designar
populações vulneráveis que nem se beneficiam nem contribuem com o crescimento
econômico de um país, ou para designar a escassez de empresas de pequeno porte
mas com trajetória de crescimento. Eu acho que o Brasil tem ainda outro
"missing middle": negócios sociais, que (1) oferecem respostas concretas para reais
problemas sócio-ambientais, e (2) possuem modelo de negócios sustentável.
O Brasil tem muitas empresas lucrativas, e muitas organizações que pretendem
promover impacto positivo na sociedade. Mas pouquíssimas que estão nesse meio
do caminho, esvaziado. E isso é ruim.
Vamos começar pela filantropia, onde sustentável não quer dizer lucrativo e, portanto,
onde o argumento é - talvez - menos polêmico. Reportagem recente da
Economist deixa claro que do ponto de vista de tirar o máximo retorno de cada dólar
doado, modelos sustentáveis são claramente superiores. O primeiro grande motivo é
que são capazes de promover impacto de forma mais efetiva, e de construir
credibilidade. O segundo, e menos óbvio, é que mesmo que um grande doador deixe
de apoiar a organização no futuro, isso não necessariamente se reflete na extinção
da ação; diante disso, diminui enormemente o risco de imagem para os apoiadores.
Seguindo em frente para negócios sociais, para os quais o impacto social não se
dá através de doações, mas da própria operação da empresa, porque o lucro é
desejável? Bem, o lucro disciplina a operação. É uma força para entregar cada
métrica de impacto de forma cada vez mais eficiente. Eu já falei aqui sobre o teste da
doação: quando medimos o impacto de um negócio social, precisamos levar em
conta o contrafactual em que o negócio não existisse e todos os recursos utilizados
para financiar suas operações fossem, alternativamente, transferidos ao público-alvo
na forma de doação. Essa ótica deixa claro que custos estão diretamente ligados a
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impacto social. E a busca conjunta pelo lucro deixa de ser conflitante com a busca
por impacto positivo na sociedade.
Na semana em que estive no Vale do Silício, esperava sentir um certo dilema entre
impacto social, de um lado, e a lógica dos negócios, de outro. Curiosamente,
contudo, descobri que muitos dos grandes negócios ali se enxergam como grandes
forças transformadoras da sociedade. Vejam por exemplo a Lyft: em conversa com o
Peter Sauer, chief-of-staff, ele disse que enxerga a companhia como um negócio
social, ao promover o uso mais eficiente de um bem (o automóvel) que só utilizamos
10% do tempo, e que movimenta uma indústria exrtremamente nociva ao meioambiente. Ou o ultra-premiado designer Yves Behar, cuja empresa FuseProject faz de
tudo um pouco, inclusive laptops de baixíssimo custo para países pobres, e que vê
na fusão entre forma e propósito uma maneira de impactar positivamente a
sociedade ao tornar mais fácil o dia-a-dia das pessoas.
Você pode estar se questionando se isso é só branding, mas esses dois exemplos
são difíceis de contestar. A Lyft surgiu como mais um elemento para resolver um
problema maior sobre o qual seus sócios estão debruçados há anos: uma rede de
transportes sustentável. John Zimmer já tinha desenvolvido o Zimride antes da Lyft. O
Yves está constantemente envolvido em projetos como o See Well to Learn, que
produz óculos de baixo custo para crianças no México mas que têm demanda
mesmo no mundo desenvolvido. A Gates Foundation ofereceu US$ 100 milhões para
quem desenvolvesse um preservativo que as pessoas preferissem comprar a fazer
sexo sem.
O futuro do impacto social está nos negócios sociais, sustentáveis, lucrativos. E
nisso, também, o Brasil está atrasado. Essa conversa continua nos próximos posts.
- GUILHERME LICHAND, sócio-fundador da MGov Brasil e doutorando em Economia
Política e Governo pela Harvard University
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-o-missingmiddle/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: DESAFIOS DOS NEGÓCIOS SOCIAIS (PARTE 1)
Este é o segundo post da série sobre negócios sociais, na qual vamos falar sobre
impacto, retorno, financiamento e sobre esse ecossistema no Brasil e no resto do
mundo.
Liderar um negócio envolve muitos desafios. Minha proposição é que liderar um
negócio social tem desafios adicionais. Não porque lucro e impacto sejam objetivos
que compitam entre si: já falamos no post anterior que a lógica do negócio social
pode tornar os dois objetivos perfeitamente compatíveis. Mas sim porque
alguns princípios centrais de liderança para negócios em geral não se aplicam da
mesma forma a negócios sociais.
Vamos começar por um conceito que acho particularmente interessante: level 5
leadership. Esse conceito, criado pelo Jim Collins (mentor de vários executivos
importantes, em particular do Jorge Paulo Lemann) e discutido à exaustão no seu
livro Good to Great, define como a característica mais importante para que
um negócio tenha performance sistematicamente superior ao resto do mercado a
presença de um líder humilde, que prefere ficar no plano de fundo. A ausência de
personalismo ajudaria a explicar a capacidade do negócio de sobreviver ao
próprio líder, e de ir além das suas próprias limitações.
O Jim Collins chega a discutir muito brevemente organizações e negócios sociais
nesse livro, mas acredito que sem perceber o conflito em relação a esse conceito.
Quando se trata de impacto social, existe uma cobrança (da mídia, dos investidores,
do público) pelo envolvimento pessoal do líder com a causa. Querem saber qual a
história pessoal daquele que está na linha de frente. Mais do que isso, querem que o
líder seja o porta-voz da causa. Como disse a Sonal Shah - ex-diretora do
escritório de Inovação Social e Participação Cívica da Casa Branca -, na semana em
que estive no Vale do Silício, líderes de negócios sociais precisam ser líderes
disruptivos. Tem vários TED-talks interessantes sobre esse conceito. Acho que fica
clara a tensão entre a necessidade de propelir o negócio para além do líder, de um
lado, a a de incorporar a máxima expressão da sua casa, de outro.
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Uma consequência dessa tensão se dá num plano diferente. Um dilema vivido por
toda startup é que o fundador nem sempre (ou quase nunca) possui as
características certas para ser também o CEO; e mesmo nos casos em isso faz
sentido na trajetória inicial da startup, pode deixar de fazê-lo conforme a startup
cresce e novos desafios aparecem. A capacidade de reconhecer a necessidade de
um CEO com as habilildades que o fundador não possui pode ser a diferença entre o
sucesso e o fracasso. No caso de negócios sociais, contudo, esse dilema corta mais
fundo por dois motivos: primeiro, a dor de ter que deixar a linha de frente de uma
causa com a qual a identificação é profunda, e, segundo, a necessidade de
encontrar um CEO que - além de todas as habilidades necessárias - possa também
servir de porta-voz para esse causa.
Na segunda parte deste artigo vamos falor sobre os desafios das métricas do
negócio (e do impacto), e sobre captação, escala e recorrência.
- GUILHERME LICHAND, sócio-fundador da MGov Brasil e doutorando em Economia
Política e Governo pela Harvard University
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-desafiosdos-negocios-sociais-parte-1/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: DESAFIOS DOS NEGÓCIOS SOCIAIS (PARTE 2)
Este é o terceiro post da série sobre negócios sociais, na qual vamos falar sobre
impacto, retorno, financiamento e sobre esse ecossistema no Brasil e no resto do
mundo.
Monitorar indicadores de desempenho é fundamental para qualquer negócio. Para
um negócio social, o desafio é triplo. Não basta monitorar os outputs vendas, entregas e seus corolários, receitas e lucro -, como um negócio tradicional.
Como o compromisso do negócio é não apenas com o retorno financeiro, mas
também com o retorno social, é preciso monitorar outcomes - utilização dos
serviços, benefícios percebidos - e impacto - as melhorias sobre as dimensões
abrangidas na tese de impacto do negócio, em relação ao cenário contrafactual em
que a empresa não existisse.
Vendas, entregas, receitas e lucros são indicadores internos da empresa. Dependem
essencialmente de um bom sistema de gestão da informação, conectando as
diferentes áreas do negócio. Isso não quer dizer que monitorá-los seja um processo
simples: acompanhar e atuar sobre os indicadores certos pode ser determinante para
a sobrevivência e o sucesso da empresa, incluindo dimensões como o tempo entre
compra e fatura, tempo de entrega, etc. Mas outcomes e impacto envolvem outro
grau de complexidade porque são externos a empresa. Isso envolve dois tipos de
desafio.
Primeiro, a
empresa
não
necessariamente
tem
acesso
aos dados necessários para acompanhar esses indicadores, e precisa comprometer
recursos para fazê-lo. Mesmo negócios cuja mecânica já garante dados de uso além
daqueles de acesso, como microfinanças (e.g.: movimentação da conta-poupança
ao invés de simples dados de acesso) ou plataformas de ensino adaptativo (e.g.:
horas gastas na plataforma ou quantidade de exercícios resolvidos, ao invés de
número de usuários), precisam investir recursos para capturar a percepção dos
usuários.
No caso de impacto, a questão é ainda mais complexa. É necessário um grupo de
controle, isto é, de uma amostra de clientes ou usuários comparável àquele sob a
esfera de influência da atuação da empresa mas que NÃO tem acesso ao produto ou
serviço avaliado (há estratégias alternativas, explorando diferentes intensidades de
tratamento, mas vamos ignorá-las por simplicidade). Acompanhar resultados desse
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grupo pode parecer um puro desperdício de recursos para a empresa - afinal, eles
justamente não foram beneficiados pela sua atuação! - mas não há outra maneira de
comparar a evolução desses indicadores com o cenário contrafactual em que a
empresa não existisse. Esse ponto é fundamental: em um projeto recente da MGov,
os indicadores do "grupo de tratamento" - aquele beneficiados pela ação avaliada pioraram ao longo do tempo. Se analisássemos apenas esse grupo isoladamente,
concluiríamos que a ação teve impacto negativo sobre seu público-alvo. No entanto,
nesse mesmo projeto, os indicadores do "grupo de controle" pioraram ainda mais. Na
comparação, o impacto da ação foi positiva porque os indicadores pioraram menos
no grupo de tratamento; indicando que houve uma tendência geral de aumento da
insatisfação entre o público-alvo, que a ação ajudou a reverter ao menos
parcialmente.
Medir os indicadores certos, na escala e na frequência corretas, é extremamente
desafiador e envolve custos. Utilizando metodologias inovadoras como a pesquisa
por celular, esses custos são hoje muito menores que já foram, da mesma ordem de
grandeza de uma auditoria anual, mas ainda assim correspondem a um investimento
da empresa que é típico dos negócios sociais.
Dado que os negócios sociais têm que acompanhar uma maior gama de indicadores
e investir mais recursos para medir impacto, a pergunta fundamental é se isso é
"precificado" pelos investidores, isto é, se há uma visão de que é possível aceitar um
retorno financeiro menor em troca de um maior retorno social.
Minha proposição é de que isso hoje em dia não é verdade no mundo (com
raríssimas exceções, em particular o braço de investimentos da Fundação Bill &
Melinda Gates), e em especial no Brasil, por dois principais motivos. O primeiro é que
não há ainda uma metodologia disseminada para medir impacto de forma rigorosa,
sobretudo a baixo custo. O segundo é que fundos de impacto social em geral usam o
"impacto social" apenas como definição temática do seu portfólio, mas na prática (em
função do sistema de incentivo para seus gestores, baseado apenas em retorno
financeiro) operam como fundos tradicionais.
Diante desse cenário, captar recursos é especialmente desafiador para negócios
sociais. Mas a captação envolve desafios adicionais em função de uma compreensão
ainda bastante rudimentar sobre os conceitos de escalabilidade, replicabilidade e
recorrência para negócios sociais. Vamos tratar desses temas na terceira e última
parte deste artigo.
- GUILHERME LICHAND, sócio-fundador da MGov Brasil e doutorando em Economia
Política e Governo pela Harvard University
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-desafiosdos-negocios-sociais-parte-2/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: CONFIE EM SI MESMO, FAÇA O QUE VOCÊ AMA
Yoshihiro Kawahara é o participante japonês do The Venture que ficou entre os cinco
finalistas e foi premiado com uma parcela de $150 mil do fundo remanescente de
$750 mil. É um dos fundadores da SenSprout, cuja missão é tornar a agricultura mais
eficiente, criando culturas que utilizem menos água através de um sistema de
detecção de solo de baixo custo para agricultores.
Seu engajamento com pesquisa acadêmica o levou à invenção de uma tecnologia
eletrônica impressa, que são circuitos eletrônicos impressos sobre tecido ou outros
materiais. O principal objetivo era encontrar boas aplicações que pudessem tirar o
máximo proveito da invenção. Deparou-se com um campo de tecnologia de detecção
em agricultura e descobriu que existiam muitos problemas que poderia ajudar a
resolver.
Para aprender o que poderia ser feito nesta área, conheceu muitos fazendeiros. Eles
realmente precisavam de uma nova tecnologia para melhorar a agricultura. Foi
encorajado por esse convívio, sensores convencionais costumam ter um alto preço e
a característica mais marcante do seu sistema é o custo mais acessível. Sua
tecnologia pode baixar os custos de fabricação em 1/10 e é capaz de monitorar
várias informações úteis do solo como umidade e temperatura.
“Esperamos implantar nossos sensores no exterior em cinco anos. Ainda estamos no
momento de pesquisa e desenvolvimento e temos esperanças de concluir a fase
inicial de viabilidade em um ano”.
No Vale do Silício, durante o período de aceleração do The Venture, gostou muito de
conhecer a start-up ECO-SYSTM, que fica na área da baía de São Francisco. “É muito
mais estruturada e orgânica do que eu imaginava. Senti que é muito importante ter
uma base na área da baía para melhor acelerar o negócio”.
Ao ser perguntado sobre o melhor conselho que já recebeu, é categórico: “'Faça o
que você ama'. Esta frase sempre me faz confiar em mim mesmo”.
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Leia a entrevista completa:
CIDADANIA FÁCIL: O que é a SanSprout? Qual problema busca resolver? Por que é
a melhor maneira de resolver este problema?
YOSHI: Sansprout é um sistema de detecção de solo de baixo custo para
agricultores. É capaz de monitorar várias informações úteis do solo como umidade e
temperatura. Sua característica mais marcante é o custo, pois sensores
convencionais costumas ser muito caros para medições multi-ponto. A tecnologia
utilizada pode baixar os custos de fabricação em 1/10 em relação aos sensores
convencionais.
CIDADANIA FÁCIL: Qual é a sua história pessoal?
YOSHI: Estive engajado em pesquisa acadêmica e ajudei a inventar uma tecnologia
eletrônica impressa. Procuramos por boas aplicações que pudessem tirar o máximo
proveito da invenção e deparei-me com um campo de tecnologia de detecção em
agricultura. Descobri que existiam muitos problemas com os quais poderia contribuir.
Outra razão é o grande problema dos alimentos que todos nós enfrentamos.
CIDADANIA FÁCIL: O que o fez sentir que estava pronto para assumir o risco de ser
empreendedor?
YOSHI: Para aprender o que poderia ser feito nessa área, conheci muitos
fazendeiros. Eles realmente precisavam de uma nova tecnologia para melhorar a
agricultura e fui encorajado por eles.
CIDADANIA FÁCIL: Por que impacto social? Por que com lucro?
YOSHI: Eu não me importava nem com impacto social e nem com lucro, para ser
honesto. Nosso grupo de pesquisa publicou muitos artigos, mas não tínhamos
certeza se havíamos contribuído o suficiente para a sociedade. Este atividade é mais
algo como uma nova jornada para contribuir para a solução dos reais problemas do
mundo. Esta é a nossa recompensa.
CIDADANIA FÁCIL: Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu durante a
semana de aceleração do The Venture?
YOSHI: A start-up ECO-SYSTM, que fica na área da baía de São Francisco é muito
mais estruturada e orgânica do que eu imaginava. Senti que é muito importante ter a
base na área da baía para acelerar o negócio.
CIDADANIA FÁCIL: Como será a SenSprout em um ano? E em cinco?
YOSHI: Crescimento das plantas é algo tão lento. Ainda estamos na fase de pesquisa
e desenvolvimento e esperançosos de que concluiremos a fase inicial de viabilidade
em um ano (temos uma chance por ano para a maioria das culturas!). Esperamos
implantar nossos sensores no exterior em cinco anos.
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CIDADANIA FÁCIL: Qual foi o melhor conselho que você já recebeu? E o pior? Qual
seria seu conselho aos jovens empreendedores no Brasil?
YOSHI: O melhor conselho que eu recebi foi 'faça o que você ama'. Esta frase
sempre me faz confiar em mim mesmo. A pior coisa foi uma pessoa que me disse
para não continuar o negócio. Mesmo assim, acredito que é importante fazer o que
se ama.
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-confie-em-simesmo-faca-o-que-voce-ama/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: TORNAR-SE EMPREENDEDOR NÃO É UMA DECISÃO
CONSCIENTE, SURGE DE UMA PAIXÃO
Organização comunitária, inclusão social, educação financeira, treinamento técnico e
franquias sociais são as combinações do modelo de negócio da ¡Échale! a Tu Casa,
fundada por Francesco Piazzesi, um dos finalistas do The Venture. A ideia é uma
solução para habitações auto construídas em grande escala e feitas com blocos de
construção ambientalmente favoráveis. Conheça a história do fundador e o impacto
gerado pela empresa com entrevista a seguir:
CIDADANIA FÁCIL: O que é a ¡Échale!? Qual problema busca resolver? Por que é a
melhor maneira de resolver este problema?
FRANCESCO: O México sofre de uma grave escassez de habitação a preços
acessíveis: de acordo com o Crédito Federal de Hipotecas, cerca de nove milhões de
famílias se encontram inadequadamente alojadas. Para as famílias pobres que não
têm garantias necessárias para obter empréstimos para habitação, esta situação
levou a um ciclo inescapável de pobreza. As pesquisas mostram que a moradia tem
um papel muito importante na vivencia social e econômica de uma unidade familiar e
as condições de vida relacionadas a ela afetam todos os aspectos do
desenvolvimento humano, da saúde e educação até o avanço social.
“¡Échale! a Tu Casa” considera que envolver os participantes em cada passo do
processo é fator chave para o sucesso do programa. Através do seu envolvimento,
eles podem aprender novas habilidades, desenvolver autoestima e ser os próprios
motores em busca do desenvolvimento. Cada casa construída e melhoramento de
casa tem um preço justo que os participantes devem pagar. “¡Échale! a Tu Casa”
compreende que a oferta de crédito é algo delicado e por isso inclui workshops
sobre finanças para ajudar os participantes a administrar seus orçamentos e para
ficarem alerta à importância de poupar.
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Através do programa de habitação “¡Échale! a Tu Casa” cria inclusão econômica
para toda a comunidade e não só aos participantes do programa. Isto é alcançado
através de empregabilidade dos membros da comunidade como trabalhadores das
construções, além disso, mais de 60% dos materiais utilizados para o programa são
adquiridos com fornecedores locais. Envolver a comunidade no processo a torna
parte da solução, a empodera a mudar sua realidade e alcançar direito à habitação.
CIDADANIA FÁCIL: O que o fez sentir que estava pronto para assumir o risco de ser
empreendedor?
FRANCESCO: Perceber que não havia ninguém oferecendo soluções acessíveis às
pessoas fora da rede de segurança. É como um paradoxo, o pescador está
morrendo de fome e o pedreiro não tem casa. Para mim era escandaloso pensar que
as famílias gastavam dinheiro em estruturas que nunca iriam fornecer um lar seguro e
dignificante. Uma vez que eu tinha um bom produto e um programa testado, me
dando conta de que era efetivo e transformador, foi quando decidi ir em frente.
Acredito que você não faz uma decisão consciente de se tornar um empreendedor,
eu simplesmente me tornei apaixonado pela ideia e em resolver o problema.
CIDADANIA FÁCIL: Por que impacto social? Por que lucro?
FRANCESCO: O programa começou de maneira não lucrativa mas logo percebi que
isso era um grande limitador na escala de replicação. Tínhamos um ótimo produto
que teve tremenda aceitação, então transitamos para um modelo lucrativo para fazer
mais projetos em mais lugares. Como uma instituição não lucrativa, precisávamos
designar muito dos nossos recursos humanos para a angariação de fundos, com a
mudança nós passamos a usar este tempo para criar novos projetos.
CIDADANIA FÁCIL: Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu durante a
semana de aceleração do The Venture?
FRANCESCO: A importância da colaboração, o poder da informação e a
necessidade de expandir para novos países.
CIDADANIA FÁCIL: Como a ¡Échale! vai ser em um ano? E em cinco?
FRANCESCO: ¡Échale! a Tu Casa constantemente revisa e atualiza sua estrutura e
procedimentos para ter certeza de que está oferecendo aos clientes a menor taxa de
juros e criando o maior impacto social ao ajudar as famílias a adquirir casas. A posse
da casa é um importante primeiro passo rumo ao acesso a melhores oportunidade de
sustento, o aumenta a renda familiar e a melhora saúde e educação para toda a
comunidade. Além dos planos para o lançamento de sua própria divisão financeira
no futuro próximo, ¡Échale! a Tu Casa está desenvolvendo um modelo de franquia
social que permitirá que outros possam replicar o sucesso do programa em outros
países.
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CIDADANIA FÁCIL: Qual o melhor conselho que você já recebeu? E o pior? Qual
seria o seu conselho para os jovens empreendedores no Brasil?
FRANCESCO: Melhor conselho – Sempre que uma porta se fecha, duas novas portas
aparecem. Pior conselho – Quando você tiver testado o programa, procure ajuda.
Meu conselho – Colaboração é a sua melhor ferramenta.
Conheça a trajetória do Francesco:
Descendente de imigrantes italianos fugidos da Europa atingida pela guerra,
Francesco nasceu e foi criado na Cidade do México, onde viu seus pais criarem a Ital
Mexicana, uma grande empresa de equipamentos para construção. Observando o
esforço empreendedor de sua família, aprendeu a criar novas oportunidades desde
jovem. Tem duas formações, incluindo um MBA no Instituto Tecnológico de
Monterrey, na Cidade do México (2002) e um Ph.D em Planejamento Estratégico para
Desenvolvimento de Políticas na Universidade Anáhuac (2006).
Francesco juntou-se aos negócios da família quando ainda estava no ensino médio,
trançando seu caminho até tornar-se Diretor de Novos Negócios e Vendas. Sob sua
liderança a empresa identificou uma nova necessidade de mercado, ampliando seus
negócios para outros países, abrangendo a América Latina, o sul dos Estados
unidos, Egito e Índia. Em 2007 Francesco ajudou a fundar (e liderou como Presidente
até março de 2014) o Conselho Nacional para Habitações Ecológicas e Sustentáveis
(CONVIVES).
A ideia da Echale é uma solução para habitações auto construídas em grande
escala, surgida de uma demanda para fazer blocos de construção ambientalmente
favoráveis pela Ital Mexicana. Enquanto trabalhava na empresa da família nos anos
80, Francesco teve a oportunidade de visitar várias plantas de fabricação de tijolos,
observando processos tremendamente poluentes de queima de argila. Aproveitando
a experiência da Ital na fabricação de equipamentos para construção, ele e sua
família começaram a produzir materiais para construção ecologicamente favoráveis.
Após um longo período de iterações, eles inventaram uma prensa para adobe
(patenteada e chamada por TerraPress) que maximiza as propriedades térmicas e
estruturais do adobe, produzindo blocos chamados “Adoblock”. Neste momento eles
criaram uma organização sem fins lucrativos (Adobe Home Aid) para distribuição
de Adoblocks para a construção de casas doadas a famílias que tiveram os lares
devastados por desastres naturais. Logo cedo Francesco percebeu que as pessoas
não queriam viver em casas atribuídas, então em 1997 criou um novo programa
chamado “¡Échale! a Tu Casa” para que os destinatários pudessem contribuir com
suas novas casas. Entretanto, após nove anos e nove mil lares construídos,
Francesco percebeu que o único caminho para ampliar suas operações e encontrar
novas demandas era criar um modelo rentável, gerando renda e investimentos, então
a Ecoblock (nome oficial vigente da empresa) foi criada em 2006.
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-torna-seempreendedor-nao-e-uma-decisao-consciente-surge-de-uma-paixao/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: A IMPORTÂNCIA DE TRABALHAR COM O GOVERNO,
E NÃO APESAR DELE
A MGov Brasil representou nosso país como uma das empresas finalistas do The
Venture e Guilherme Lichand teve a chance de apresentar seu trabalho a diversos
especialistas do mundo dos negócios durante a semana de aceleração do concurso.
Vamos conhecer também como tudo começou e quais são seus próximos passos.
Começando pela novidade: a empresa está passando por um processo de
rebranding. No início, era definida como uma consultoria em gestão de políticas
públicas que utiliza tecnologia "antiga" - SMS e chamadas automáticas de voz - para
avaliação de impacto, monitoramento e engajamento cívico.
As ferramentas, o público e a maneira de atuar foram mudando organicamente ao
longo desses três anos de empresa, para fornecer as melhores respostas aos
desafios apresentados pelos clientes. A melhor definição encontrada - por enquanto para descrever o que a MGov faz hoje é a seguinte: é uma plataforma de design e
avaliação, para políticas públicas e impacto social, que utiliza tecnologia "certa" - de
SMS a aplicativos de smartphone - para produzir soluções concretas, escaláveis e
replicáveis.
Em um ano a MGov será a primeira startup de impacto social brasileira a trabalhar em
escala com o Governo. Os números de impacto terão passado dos cerca de 3
milhões atuais para ao menos 10 milhões, no Brasil e no exterior. Em cinco anos, será
referência mundial em avaliação de impacto social e a plataforma será utilizada
amplamente para apoiar políticas públicas em todos os continentes.
Veja as respostas detalhadas trazidas pelo Guilherme:
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CIDADANIA FÁCIL - O que é a MGov? Qual problema busca resolver? Por que é a
melhor maneira de resolver este problema?
GUILHERME - A MGov nasceu para resolver o seguinte problema: nossa democracia
funciona muito aquém da sua capacidade. Os gestores públicos não dispõem de
ferramentas para identificar as demandas do cidadão ou para responder a elas na
frequência e na escala corretas. Esse é um problema global, que afeta não apenas a
vida dos milhões de cidadãos que dependem diariamente de serviços públicos; afeta
também a crença na capacidade do Governo de nos representar e, portanto, a
qualidade da nossa democracia.
Nós somos um dos poucos negócios sociais que trabalha com o Governo, e
não apesar dele. Essa decisão de trabalhar com o Governo - ao mesmo tempo uma
grande oportunidade e um enorme desafio -, lado a lado com a opção de utilizar a
tecnologia mais apropriada para se comunicar com o público-alvo dessas ações, ao
invés de embarcar na "moda do aplicativo", é o que torna a plataforma da MGov uma
ferramenta única. Mas ninguém vai salvar o mundo sozinho, e precisamos de uma
infinidade de iniciativas para "resolver esse problema", que é talvez o maior desafio
do século XXI.
CIDADANIA FÁCIL - Qual é a sua história pessoal?
GUILHERME - Sou economista, formado pela FGV-EESP, com mestrado em
Economia pela PUC-Rio. Depois disso passei um ano e meio no escritório do Banco
Mundial em Brasília como analista de pesquisa do Departamento de Redução de
Pobreza e Gestão Econômica. Lá foi meu primeiro contato com o uso do celular - na
África e na América Central - para coletar dados junto a populações remotas, e para
monitorar impactos sobre pobreza em alta frequência. A ideia me parecia genial, mas
era mal executada - os participantes tinham que pagar pelas mensagens e era
reembolsados ao final, e até por isso era tudo focado em SMS, já que voz é muito
mais cara. Isso eliminava de cara analfabetos e aqueles sem crédito no celular, além
de produzir dados de qualidade duvidosa já que diversas perguntas eram agrupadas
em um mesmo SMS.
Em 2011 fui para Harvard cursar o PhD em Economia Política e Governo. No meu
primeiro summer, quando nos EUA é comum que as pessoas trabalhem em coisas
diferentes para ganhar experiência, fui ser consultor da Secretaria de Planejamento
do Rio Grande do Norte. Queria saber como seria estar do lado do Governo, e
principalmente de um Governo da região mais pobre do nosso país, que estaria entre
os países mais pobres do mundo se fosse independente. E foi lá onde surgiu a
primeira oportunidade para tirar do papel a ideia de usar o celular para melhorar
políticas públicas no Brasil. O Estado queria avaliar o programa de distribuição de
leite, mas não tinha nenhum dado para isso. Coletar dados segundo a metodologia
tradicional ali custava entre 80 e 90 reais por entrevista em 2013. Com o celular era
possível fazer isso por até 20 reais por entrevista, mas era um salto no escuro - uma
população remota, com sinal de celular intermitente, de baixa escolaridade e muitas
vezes analfabeta... O desafio não era pequeno. Mas se funcionasse ali, funcionaria
em qualquer lugar! Me juntei ao Marcos e ao Rafael, amigos de longa data, e com
diferentes capacidades para formarmos o time certo para tirar executar um projeto
tão complexo com a máxima qualidade. E assim nasceu a MGov.
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Contribuiu muito para a minha trajetória estar em Harvard, não só pelos recursos
(físicos e humanos) disponíveis, mas por ter me provocado uma reflexão nova. Os
pesquisadores da minha área - políticas públicas e desenvolvimento econômico estavam muito envolvidos com os países em desenvolvimento, sobretudo na Ásia e
na África, mas não existia praticamente nada no Brasil, sobretudo no Nordeste. Meu
entendimento é que, aqui, faltava infra-estrutura da pesquisa - e que a MGov poderia
também permitir que os melhores cérebros do mundo pensassem os nossos
problemas a partir da nossa plataforma (Isso aliás já vem acontecendo; o Painel das
Secas do Ceará envolveu pesquisadores de Harvard e Warwick e foi financiado pelo
Yale Savings and Financial Innovation Funds, através de uma doação da Fundação
Bill e Melinda Gates).
Contribuíram também na minha formação o Colégio Bandeirantes, e o Acampamento
Nosso Recanto, onde formei minha curiosidade intelectual e os meus valores
pessoais.
CIDADANIA FÁCIL - O que o fez sentir que estava pronto para assumir o risco de ser
empreendedor?
GUILHERME - Em primeiro lugar, acho que não tinha ideia do que isso significava! Eu
realmente não tinha ideia de como funcionava uma empresa. Quando começamos,
achei que em dois meses teríamos um time fazendo tudo, e que eu poderia ficar tão
somente fazendo pesquisa, sem me envolver nas operações. Claro que não foi assim.
Mas tem sido um aprendizado incrível me envolver em tudo - do planejamento
estratégico, à criação de uma cultura corporativa, à captação.
Em segundo lugar, essa questão do risco foi minimizada no nosso caso por dois
fatores. Primeiro, porque até hoje financiamos a empresa com recursos próprios. O
modelo nasceu muito focado em capital humano, extremamente enxuto, e evoluiu
para tecnologia própria somente quando a empresa foi capaz de gerar os recursos
para isso. Segundo, porque todos, ainda hoje, trabalham part-time na empresa.
Discordamos do princípio de que o empreendedor deve estar full-time na empresa
desde o início. Essa lógica gera uma legião de empresas zumbis, que sobrevivem
mesmo sem gerar impacto ou retorno. Na nossa visão, o ideal é assumir full-time
somente quando a empresa já gera caixa suficiente para manter essa estrutura fulltime (Esse momento está finalmente chegando para a MGov, e devemos passar a
integrar um time full-time no início do ano que vem).
CIDADANIA FÁCIL - Por que impacto social? Por que com lucro?
GUILHERME - Como você pode ver, nunca planejei ser empreendedor. Isso só
aconteceu porque sentia que era o mais bem posicionado para resolver aquele
problema. Então não seria empreendedor se não fosse para promover impacto social
- uma busca aliás que sempre guiou minhas opções de estudo e carreira. A opção
por ser um negócio com fins lucrativos veio da crença de que o lucro e o impacto
social não são conflitantes. Já falei disso no Cidadania Fácil algumas vezes. O lucro
disciplina a operação. Entregando cada vez mais projetos com os mínimos custos
para que isso seja possível, estamos verdadeiramente maximizando impacto - cada
real a mais gasto na operação poderia ser um real a mais doado para o público-alvo,
num mundo contrafactual em que a MGov não existisse.
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CIDADANIA FÁCIL - Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu durante a
semana de aceleração do The Venture?
GUILHERME - Que precisávamos de um rebranding. Explicar o que a empresa faz e
o impacto que ela gera de maneira que qualquer um possa entender é um desafio
enorme. E isso não é simplesmente cosmético: a apresentação influencia em
decisões de parcerias e financiamento. Então levamos isso como grande
aprendizado, e estamos trabalhando nisso até o final do ano.
CIDADANIA FÁCIL - Qual foi o melhor conselho que você já recebeu? E o pior? Qual
seria seu conselho aos jovens empreendedores no Brasil?
GUILHERME - O melhor conselho foi que adquirir um novo cliente vale muito, mas
fechar um novo projeto com um cliente pré-existente vale mais ainda. O pior conselho
foi para que não trabalhássemos com Governo... "dá muito trabalho", disseram.
Aproveitando o ensejo, meu conselho para os jovens empreendedores brasileiros é
que onde estão os grandes desafios, estão também as grandes oportunidades.
CIDADANIA FÁCIL - Como você planeja usar seu conhecimento e experiência como
um estudante de doutorado no seu negócio, e vice versa?
GUILHERME - A única maneira de conseguir tocar uma startup e concluir um PhD em
Harvard foi realmente juntar as duas coisas. Meu principal projeto de pesquisa - que
avalia os impactos da seca sobre o pequeno produtor - utiliza a tecnologia da MGov.
Então a MGov tem servido como agência implementadora de pesquisas, abrindo
diversas oportunidades para fazer avançar o conhecimento sobre o impacto de
políticas públicas e de soluções financeiras para os mais pobres, em termos
mundiais. De outro lado, o perfil empreendedor tem me ajudado na universidade.
Hoje, eu coordeno projetos de pesquisa com escala muito superior àqueles da
maioria dos meus colegas. Claro que com a ajuda de um time fantástico que torna
tudo mais fácil por aqui.
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-aimportancia-de-trabalha-com-o-governo-e-nao-apesar-dele/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: TODOS TEMOS A RESPONSABILIDADE DE FAZER DO
MUNDO UM LUGAR MELHOR
A Conuco Solar foi uma das empresas finalistas do The Venture, é baseada na
República Dominicana e oferece serviços para facilitar a autogeração de energia
solar. É um modelo que promove a energia limpa e permite a criação de instalações
individuais, para que os consumidores possam ter custos menores com eletricidade.
Raul Aguayo, o co-fundador, explica: “oferecemos espaço para aluguel e as pessoas
podem definir suas instalações solares lá, ganhando créditos nas suas contas de
energia com a eletricidade que seus sistemas produzem. É uma solução que permite
a qualquer pessoa acessar energia solar, sem aumentar gastos para o governo e os
demais usuários”.
Entenda melhor a origem da empresa e conheça a história do Raul a seguir:
CIDADANIA FÁCIL - Qual é a sua história pessoal?
RAUL - Sou engenheiro eletricista e decidi converter o negócio da minha família (uma
fábrica de blocos de concreto) para a energia solar, aprendi muito sobre instalações
solares e seus desafios. Sendo incapaz de ter uma instalação solar por morar em um
apartamento, fiz algumas pesquisas e descobri que este modelo poderia funcionar e
não era contra qualquer política ou regulamento em vigor, então eu trabalhei nisso e
redefini o negócio.
CIDADANIA FÁCIL - O que o fez sentir que estava pronto para assumir o risco de ser
empreendedor?
RAUL - Eu não estava procurando começar meu próprio negócio separadamente,
mas uma coisa levou a outra e me encontrei em uma posição em que tinha a
oportunidade e quase a responsabilidade de ir adiante tanto quanto eu pudesse. Nós
ainda não estamos operando, nós ainda estamos em negociação com a companhia
de distribuição a algumas instituições governamentais. É sempre difícil mudar a
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maneira como as pessoas pensam, mas acredito que nós vamos ser capazes de
fazer isso acontecer.
CIDADANIA FÁCIL - Por que impacto social? Por que com lucro?
RAUL - Acredito que todos temos a responsabilidade de tentar fazer do mundo um
lugar melhor, falar e se lamentar não vai fazer diferença, nós não podemos somente
sentar e esperar alguém agir, nós temos que fazer. Acredito que lucro é importante
porque torna o impacto sustentável. Se não há lucro, é um modelo fraco que pode
não sobreviver quando você se for ou quando as coisas se complicarem.
CIDADANIA FÁCIL - Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu durante a
semana de aceleração do The Venture?
RAUL - Foi muito interessante para mim ver todas aquelas pessoas envolvidas neste
tipo de empreendedorismo, com tanta paixão, já que é muito incomum, pelo menos
no meu país. Aquilo foi muito motivador para seguir adiante.
CIDADANIA FÁCIL: Como será a Conuco Solar em um ano? E em cinco?
RAUL - Em um ano esperamos estar operando nosso primeiro parque, em cinco anos
eu espero que nós tenhamos cinco ou mais parques, espero que possamos fazer
pelo menos um novo por ano.
CIDADANIA FÁCIL - Qual foi o melhor conselho que você já recebeu? E o pior? Qual
seria seu conselho aos jovens empreendedores no Brasil?
RAUL - O melhor conselho é "persiga seus objetivos e sonhos...é difícil ousar fazer
isso". O pior são pessoas que dizem que não vale a pena, ou qualquer pessoa que
diga que não vai funcionar. Meu conselho seria ousar e tentar coisas novas e
diferentes, não ter medo.
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/raul-aguayo-assumiu-suaresponsabilidade-de-tentar-fazer-do-mundo-um-lugar-melhor/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: UM NEGÓCIO DEVE BUSCAR MAIS DO QUE APENAS
INVESTIR NO SEU PRÓPRIO CRESCIMENTO
A Victoria Alonsopérez foi uma das finalistas do The Venture por ser uma das
criadoras do ChipSafer, uma plataforma que rastreia o comportamento de rebanhos
bovinos de forma remota e autônoma. Para começar, vamos falar do seu currículo,
digno de admiração: ela é engenheira eletrônica, em 2013 co-fundou a ieeTECH, uma
empresa social que desenvolveu o ChipSafer. Graças a esse projeto, foi vencedora
da Competição de Jovens Inovadores da União Internacional de Telecomunicações.
Antes da ieeTECH, no mesmo ano de 2013 ganhou o prêmio de Melhor Jovem
Inovadora da Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Em 2014 o Banco
Interamericano de Desenvolvimento selecionou a ieeTECH como a Startup mais
Inovadora da América Latina e do Caribe e a MIT Technology Review em espanhol a
selecionou como a Inovadora do ano.
Sua maior paixão sempre foi o espaço. Em 2011 participou da Universidade Espacial
Internacional, onde co-desenhou um experimento médico para astronautas que
ganhou o Desafio ZeroG Barcelona. Atualmente é co-Presidente do Conselho
Consultivo da Geração do Espaço, uma ONG global em apoio ao Programa das
Nações Unidas sobre Aplicações Espaciais. Foi também aluna da Singularity
University e co-fundadora da CloudStat, uma startup que desenvolve veículos aéreos
não tripulados para múltiplas aplicações.
E isso não é tudo! Veja a seguir um pouco mais da história da ChipSafer e dos
aprendizados da Victoria no The Venture:
CIDADANIA FÁCIL - O que é a ChipSafer? Qual problema visa resolver? Por que é a
melhor maneira de resolver este problema?
VICTORIA - ChipSafer é uma plataforma que não só rastreia e detecta anomalias no
comportamento do gado, mas o faz remotamente, de forma autônoma e em tempo
real, depois disso envia todas essas informações diretamente ao agricultor, que pode
acessá-las em um laptop ou telefone. Através da nossa tecnologia, os agricultores
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podem não só saber onde os animais estão e receber avisos se uma anomalia é
detectada, mas também obter estatísticas sobre o desempenho do gado, ajudando-o
a melhorar a sua produção e por consequência seus lucros.
CIDADANIA FÁCIL - O que a fez sentir que estava pronta para assumir o risco de ser
empreendedora?
VICTORIA - Eu sempre quis ser uma empreendedora, mas achei que terminaria
minha carreira acadêmica primeiro. Eu estava pensando em começar um doutorado,
no Brasil ou nos Estados Unidos, mas o valor do prêmio que ganhei em 2013 foi
suficiente para abrir a empresa e o doutorado foi adiado em nome do
empreendimento.
CIDADANIA FÁCIL - Por que impacto social? Por que com lucro?
VICTORIA - Acredito que um negócio deve buscar mais do que apenas investir no
seu próprio crescimento, deve visar um bem para a sociedade. Mas também não
queria criar um modelo de ONG. Em 2001, um surto de febre aftosa devastou a
economia do Uruguai. Gado é seu princípio de exportação e a epidemia não só
afetou o setor rural, mas todo o país, causando enormes perdas econômicas,
pobreza e desemprego. As comunidades mais afetadas foram também as mais
pobres. Percebemos que, ao controlar as doenças do gado, tínhamos uma
oportunidade de reduzir significativamente os eventos que poderiam trazer ainda
mais problemas àqueles que já vivem na pobreza.
CIDADANIA FÁCIL - Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu durante a
semana de aceleração do The Venture?
VICTORIA - Quando eu estava começando, passei por outros processos de
aceleração. Foi muito interessante, depois de já estar em uma outra etapa da
empresa e ter uma equipe maior, poder acessar novos conteúdos. Estou aplicando
conceitos que aprendi, como os de design thinking, team building.
CIDADANIA FÁCIL: Como será a ChipSafer em um ano? E em cinco?
VICTORIA - Em um ano queremos estar em pelo menos mais um país e em cinco
queremos estar estabelecidos na América Latina. O Brasil tem um ótimo mercado
para nós, por causa de estados como Rio Grande do Sul, vizinho do Uruguai, e
também o Mato Grosso do Sul.
CIDADANIA FÁCIL - Qual foi o melhor conselho que você já recebeu? E o pior? Qual
seria seu conselho aos jovens empreendedores no Brasil?
VICTORIA - O melhor conselho que tive foi o de não ter medo de errar, os erros
acontecem e você vai aprender muito com eles. O pior conselho foi o que eu deveria
ter outra postura, ser mais conservadora, ao passo que descobri que devemos ser
sempre autênticos. Meu conselho seria não ter medo de errar e nem de se sentir
bobo por causa disso.
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-um-negociodeve-buscar-mais-do-que-apenas-investir-no-seu-proprio-crescimento/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: VIVEMOS EM UMA SOCIEDADE EM DESEQUILÍBRIO
E NÃO PODEMOS IGNORAR ISSO
A Vendedy foi criada por Christine Souffrant, que vem de uma grande linhagem de
vendedoras de rua no Haiti. Trata-se de uma rede de tecnologia móvel que permite
que os vendedores de rua façam uploads de fotos de seus produtos para que um
consumidor viajante possa procurar, comprar e pagar por um item via SMS. Agentes
locais entregam o produto no hotel do consumidor durante sua estadia.
Conheça mais sobre a história de mais uma finalista The Venture:
CIDADANIA FÁCIL - Qual problema Vendedy busca resolver? Por que é a melhor
maneira de resolver este problema?
CHRIS: O problema que estamos tentando resolver é que atualmente dois bilhões de
pessoas estão vendendo na rua para sobreviver e elas geralmente são exploradas
por pessoas que tomam parte de seus bens e isso faz com que permaneçam no ciclo
da pobreza. Sempre foi muito difícil para esses vendedores levar seus produtos para
os mercados globais, nossa rede é a melhor solução para isso porque o que fazemos
é conectá-los a pessoas que já têm grande vontade de comprar seus produtos, os
viajantes, que sempre querem levar lembranças dos locais que visitam.
CIDADANIA FÁCIL - Qual a sua história pessoal?
CHRIS: Eu nasci nos Estados Unidos e fui criada no Haiti, então foi aí onde nasceu o
conceito, porque eu cresci no meio de vendedores de rua, minha tia, minha mãe,
minha família sempre batalhou nas esquinas do Haiti para poder ter um sustento.
Cresci com essa realidade e decidi criar uma solução para esse mercado, então
fundei a Vendedy.
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CIDADANIA FÁCIL - O que a fez sentir que estava pronta para assumir o risco de ser
empreendedora?
CHRIS: Não existe nada sobre estar pronta, você não pode definir esse momento,
não é algo para o que se está preparado. Posso dizer que venho de um cenário
empreendedor então isso pode ter ajudado.
CIDADANIA FÁCIL - Por que impacto social? Por que com lucro?
CHRIS: Impacto social porque é claro que vivemos em uma sociedade em
desequilíbrio e não podemos simplesmente ignorar isso, principalmente para alguém
que veio desta experiência. Busquei uma fonte de lucro porque ONG’s não são
sustentáveis, dependem de doadores. Ter um modelo sustentável faz o impacto ser
maior, aumentar mais rápido. Esse é o melhor modelo e é o que muitas empresas
estão buscando.
CIDADANIA FÁCIL: Como será a Vendedy em um ano? E em cinco?
CHRIS: Em um ano estará funcionando perfeitamente em todo o Caribe. Em cinco
anos queremos ser a rede móvel número um que conecta viajantes e vendedores de
rua em tempo real.
CIDADANIA FÁCIL - Qual foi o melhor conselho que você já recebeu? Qual seria seu
conselho aos jovens empreendedores no Brasil?
CHRIS: Acho que o melhor conselho que já recebi foi ‘não leve as coisas para o lado
pessoal’, porque você vai encontrar pessoas com diferentes perspectivas. O melhor
conselho que poderia dar seria para sempre conhecer a razão pela qual se faz
alguma coisa, qual o propósito.
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-vivemos-emuma-sociedade-em-desequilibrio-e-nao-podemos-ignorar-isso/
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FOR-PROFIT-FOR-PURPOSE: SER EMPREENDEDOR SE TRATA DE ESTAR PRONTO
PARA A MUDANÇA
A Lumkani já vendeu e distribuiu dispositivos para mais de mil domicílios na África do
Sul. A empresa de David Gluckman é um negócio social que desenvolveu uma
tecnologia para detecção de fogo em assentamentos informais ou favelas do mundo
todo. Foi o negócio que representou a África do Sul como finalista do The Venture.
CIDADANIA FÁCIL - O que é a Lumkani? Qual problema busca resolver?
DAVID: Estamos resolvendo o desafio de controlar incêndios em favelas. Eles
deslocam dezenas de milhares de pessoas e tiram vidas, destroem propriedades e
criam enormes problemas financeiros, além de outras inseguranças para as pessoas
que vivem em áreas de enorme risco. Detecção de fogo já foi estudada muito tempo
antes de atuarmos nessa área – mas não foram desenhados produtos para o controle
de risco destinado a famílias que vivem em áreas de baixa renda. Nós aplicamos a
ideia de detecção de uma maneira inovadora que é desenhada para se adaptar
perfeitamente ao ambiente.
CIDADANIA FÁCIL - Qual a sua história pessoal?
DAVID: Sou economista por experiência, com atuação em consultoria de gestão. De
maneira geral sou um empreendedor e meu interesse principal é fazer diferença na
vida das pessoas. Quero ter a certeza de que o que estou fazendo está agregando
valor sustentável à outras vidas e em algum momento da minha carreira estou criando
muitos empregos para tirar as pessoas da pobreza.
CIDADANIA FÁCIL - O que o fez sentir que estava pronto para assumir o risco de ser
empreendedor?
DAVID: Passar tempo no mundo corporativo me deu o incentivo final para sair da
zona de conforto. Você nunca se sente pronto (talvez nunca esteja) mas
empreendedorismo não se trata de estar pronto, é sobre estar pronto para a
mudança/dificuldade/complexidade e não se esconder, mas enfrentar.
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CIDADANIA FÁCIL - Por que impacto social? Por que com lucro?
DAVID: Precisamos de grandes mudanças no mundo e elas podem ser vistas como
riscos ou oportunidades. Eu escolho a segunda. Uma maneira de ter certeza que
poderemos ver mudanças rápidas é com negócio. Com pessoas engajadas,
envolvidas, motivadas e empregadas, você pode assistir a mudança acontecendo.
CIDADANIA FÁCIL: Como será a Lumkani em cinco anos?
DAVID: Teremos uma grande rede com centenas de milhares de moradias que
estaremos protegendo do fogo e vamos agregar valor de outras maneiras,
trabalhando com a tecnologia para outros usos.
CIDADANIA FÁCIL - Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu durante a
semana de aceleração do The Venture?
DAVID: Que existe uma indústria crescente de negócios sociais que conta com
pessoas verdadeiramente incríveis, inteligentes e dedicadas trabalhando nela. Isso
me deixa empolgado em fazer parte.
CIDADANIA FÁCIL - Qual seria seu conselho aos jovens empreendedores no Brasil?
DAVID: Qualquer que seja a sua ideia e não importa quão incrível você pensa que ela
seja, converse com as pessoas para as quais você planeja vender, tenha certeza que
elas vão querer, teste o produto e construa um MVP (produto viável mínimo) e então
mostre para as pessoas para ver se elas ainda querem o seu produto. Teste, teste,
teste. Você nunca vai acertar de primeira.
CIDADANIA FÁCIL - Como vocês planejam lidar com o desafio de fazer com que o
produto seja utilizado corretamente, incluindo a questão da troca de baterias?
DAVID: Criamos meios tecnológicos de comunicação para lidar com este tipo de
coisa, como troca de baterias. Nós temos estreitas relações com as comunidades
onde operamos e vamos alavancar essa relação para poder passar essa mensagem.
Nós também temos tecnologia que nos diz como nosso sistema está se saindo e
quão saturadas nossas redes estão. O grande vantagem do nosso produto é que nós
o encaixamos à vida do cliente, é um produto passivo que ganha vida quando é
necessário e faz com que o consumidor saiba o que a tecnologia faz.
Link: http://www.mgovbrasil.com.br/cidadania-facil/for-profit-for-purpose-serempreendedor-se-trata-de-estar-pronto-para-a-mudanca/
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