apresenta - Caixa Cultural

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apresenta - Caixa Cultural
apresenta
apresenta
É com muita satisfação que trazemos ao público a Mostra de Cinema Russo Contemporâneo.
Com filmes que contribuíram de forma inigualável para a história do cinema, a produção
cinematográfica russa ganha uma retrospectiva que vai do período da Perestroika aos seus
últimos 20 anos. Considerado um dos mais expressivos do mundo, o cinema russo contou com
realizadores renomados como Serguei Eisenstein, Andrey Tarkovsky, Alexander Sokurov entre
outros, mais jovens – não tão conhecidos do grande público, mas que deram continuidade à
escola desses grandes mestres.
Com curadoria de Luiz Gustavo Carvalho e Maria Vragova, a mostra pretende inaugurar uma
nova perspectiva de debate em torno dessa filmografia, apresentando ao público brasileiro
alguns dos melhores exemplos do cinema russo após a queda da União Soviética.
Para auxiliar na formação do público, o crítico russo, Andrei Plakhov, fará um ciclo de quatro
palestras, Aspectos do Cinema Russo Contemporâneo, com entrada gratuita.
Ao viabilizar este projeto, a CAIXA dá mais uma prova do seu compromisso com os brasileiros.
Além de seu papel como banco público e parceiro das políticas de estado, a CAIXA apoia
e estimula a cultura, especialmente na circulação de eventos pelas unidades da CAIXA
Cultural. Privilegiando a qualidade e a democratização do acesso, elas levam a sete capitais
eventos de artes visuais, música, cinema, teatro e dança. Nas outras regiões do Brasil,
programas específicos fomentam os festivais de teatro e dança, a produção de artesanato e
a modernização de espaços museológicos.
Assim é a história da CAIXA que, desde sua criação, vem contribuindo para facilitar o acesso
aos diversos bens culturais e o crescimento intelectual e cultural de nossa gente.
Não é fácil chegar a tantas pessoas e lugares, mas esse é um desafio que vale a pena. Afinal,
a vida pede mais.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Há vinte anos atrás, o filme “Penitência” (Pokayanie), realizado em 1984 pelo diretor georgiano
Tenguiz Abuladze, gerava uma grande polêmica em toda a União Soviética. Muitos acreditavam
que, caso este filme fosse exibido nos cinemas, isto significava que realmente alguma coisa
importante estava acontecendo no país e era possível acreditar na transparência (glasnost),
nas mudanças e no que chamavam de “Perestroika” (reconstrução). “Penitência” foi exibido
nos cinemas em 1987, e imediatamente tornou-se um símbolo audiovisual da sua época.
Se o “Degelo”, iniciado por Khrushchev, trouxe uma liberdade maior para as artes em geral,
isto não aconteceu no cinema. Na década de 1960, muitos escritores e poetas aproveitaram
a abertura de Khrushchev para expurgar o espírito stalinista da literatura, provocando o
nascimento de um novo gênero literário, diferente do realismo soviético. No entanto, não se
viu um análogo na sétima arte, em grande parte devido à natureza específica da produção
e distribuição cinematográfica, que envolvia uma série de interdependências em todas
as suas fases. O cinema do “Degelo”, mais suscetível ao controle e censura por parte do
Estado, manteve-se conservador e o espírito stalinista pairou sob o cinema até a chegada de
Gorbachev ao poder.
A Mostra de Cinema Russo Contemporâneo apresenta pela primeira vez em São Paulo, uma
seleção de 13 filmes realizados durante a “Perestroika” e na Rússia da década de 1990 e do
início do século XXI, possibilitando ao público carioca a oportunidade de conhecer um cinema
que aborda pela primeira vez temas de grande importância da história do país durante o
século XX. É impossível compreender o cinema russo contemporâneo, sem evocar o cinema
da “Perestroika”, este cinema realizado entre duas épocas. Graças à produção dessa época,
que praticamente aboliu a censura até então sempre presente na indústria cinematográfica
soviética, cineastas de diversas origens e idades retrataram pela primeira vez o assassinato
da família imperial russa, as perseguições stalinistas da década de 1930 e o trágico destino
dos soldados russos na Guerra do Afeganistão. No entanto, esses diretores não se libertaram
da censura somente ao tratar de assuntos passados, mas também ao falar do presente e do
futuro. O cinema da “Perestroika” retrata de uma maneira visceral a realidade e angústias
das pessoas na Rússia do final do século XX.
Nos dias atuais, quando os netos da Perestroika mostram-nos as consequências deste
cinema nos seus filmes, a Rússia encontra-se novamente diante de uma encruzilhada e por
vezes temos a impressão de vislumbrar um “déjà vu”. Porém o cinema na Rússia atual, com
todas as suas diversidades e nuances, é, sobretudo, um cinema autoral sem nenhuma sombra
do medo que rodeava o cinema soviético. Como Yuri Zhary, personagem inicial do filme “O
Espelho”, de Andrey Tarkovsky, o cinema russo contemporâneo não gagueja e não tem medo
de falar livremente.
Luiz Gustavo Carvalho
Curador da Mostra
CINEMA DA “PERESTROIKA”:
REVOLUÇÃO OU EVOLUÇÃO?
Andrei Plakhov
A vida do novo cinema russo e soviético começou a ser escrita em maio de 1986, durante o
“Quinto Congresso de Cineastas”, quando foram escolhidos novos dirigentes, sob a presidência
de Elem Klimov, os quais criticaram os «intocáveis» conservadores e apoiaram as reformas de
mercado na indústria cinematográfica. Com isso, os estúdios de cinema ganharam independência
artística e financeira e a censura foi praticamente liquidada.
Até esse momento histórico, apesar das suas indiscutíveis realizações, o cinema nacional passava
por uma crise profunda, como consequência da estagnação social e política. Somente as pessoas
que adulavam o poder, podiam trabalhar sem problemas. Os melhores cineastas, como inclusive
Aleksey Guerman e Kira Muratova, passaram anos sem trabalhar, após terem mais um de seus
filmes “colocados na prateleira”. Outros, como Otar Iosseliani e Andrey Tarkovsky, foram para o
estrangeiro e, por isso, banidos da sua pátria. Os jovens talentos, dentre eles Aleksander Sokurov,
encontraram imensas dificuldades tentando ultrapassar a censura.
O número de pessoas que foram ao cinema assistir filmes soviéticos aprovados pelo poder oficial
foi falsificado, mas mesmo assim o número de pessoas que iam ao cinema era bastante alto. A
quantidade de filmes estrangeiros exibidos foi limitada e vídeos oficialmente proibidos não podiam
circular pelo país, pois eram considerados ilegais. Mas não era mais possível manter um país
inteiro sob um isolamento de informações e de cultura: a revolução tecnológica batia à porta.
Praticamente, após o “Quinto Congresso de Cineastas”, foi criada uma comissão para lidar com
os assuntos criativos do cinema. Eu, por exemplo, soube que havia sido indicado para ser o
presidente dessa comissão, quando voltei de Tbilissi, para onde eu tinha viajado no dia seguinte
ao encerramento do congresso. Em Tbilissi, eu já havia começado a trabalhar na tentativa de
trazer para Moscou a cópia de «Penitência», filme proibido de Tenguiz Abuladze. A sua legalização
foi uma das ações de maior impacto dessa comissão. Um total de 250 filmes que haviam sido
censurados, foram legalizados nessa ocasião. Os mais importantes entre eles foram “A longa
despedida”, de Kira Muratova, “A voz solitária do homem”, de Aleksander Sokurov, “Anjo”, de
Andrey Smirnov, “A lancha de Ivan”, de Mark Ossepian, “Comissário”, de Aleksander Askoldov
e, obviamente, “Penitência”, uma farsa trágica anti-stalinista que apelava para fazer as contas
com o passado totalitário, e para propor uma renovação social. Apesar da resistência dos
conservadores, “Penitência”, foi exibido nos cinemas da Rússia e representou a União Soviética
no Festival de Cannes, ganhando o Grande Prêmio.
No final dos anos 80, apareceram os primeiros filmes que foram realizados
sem os tabus impostos pela censura. Eles legalizaram temas proibidos
como “sexo” (como em “A pequena Vera”, de Vassily Pitchul), “violência”,
dentre outros. Não só os jovens cineastas, mas também diretores
conceituados abordaram temas importantes da vida dos jovens:
Eldar Riazanov filma “Querida Elena Sergueevna” e Petr
Todorovsky, “Garota internacional”, um filme no qual a heroína
principal é prostituta e, ainda assim é ilustrada com compaixão.
Estes filmes despertaram um grande interesse por parte do
público, tornando-se líderes de bilheteria.
Outra repercussão interessante desses eventos deu-se na
obra de Serguei Soloviev, mais um famoso cineasta
da época. Antes da Perestroika, ele, adaptando clássicos da literatura para o cinema, filmava um
cinema nostálgico sobre o destino dos intelectuais russos (intelligentsia) de uma maneira bastante
pitoresca (“Cem dias depois da infância”, “Salvador” e “A herdeira”). No entanto, ainda em 1986,
como um artista intuitivo, Soloviev realiza uma mudança abrupta em seu estilo. Filmado nos
estúdios do Cazaquistão, o filme “A pomba branca”, não esconde as influências de cineastas tais
como Aleksey Guerman e Aleksander Sokurov, nem as “vacinas” que o cineasta recebeu durante
o seu contato com alunos da lendária classe cazaque (dirigida pelo diretor no VGIK*, alunos esses
que realizaram estreias famosas tais como “La-kha” e “Agulha”, de Rashid Nugmanov). A mistura
entre “grande estilo” e técnicas de vanguarda eternas e transitórias, fórmulas características da
época do nascimento do pós-modernismo russo, são os principais elementos, através dos quais
Serguei Soloviev conseguiu romper os grilhões do neoclassicismo e virar o representante mais
brilhante deste estilo. O seu filme “Assa” (1987) estava repleto de uma ânsia por mudanças, de
ações guerrilheiras undergrounds contra a arte oficial, do exotismo da “contra-cultura” jovem e
dos códigos distintivos do tempo de transição. O próprio Soloviev chamou esse filme, que tornouse um filme da moda, de o início da “Trilogia do marasmo” ou “Três canções sobre a Pátria”,
seguido por “Rosa preta, emblema de tristeza; rosa vermelha, emblema do amor” e “A casa sob
o céu estrelado”.
Na década de 90, após a queda da União Soviética, o cinema russo enfrenta novas dificuldades:
o sistema de distribuição de filmes está falido e a velha ideologia e mitologia são preenchidas
por um vazio. Os cineastas tentam preencher esse vazio refletindo sobre a história soviética
e sobre a atualidade que viviam. Karen Shakhnazarov, no filme “Assassino do Czar”, busca
achar a chave da tragédia das lutas revolucionárias, que tomaram o lugar do culto cristão com
violência sob a bandeira da luta entre as classes. Nikita Mikhalkov realiza “O Sol enganador”,
um análogo russo do filme “E o vento levou”. Trata-se de um romance com intrigas amorosas
acompanhando a história de perseguições stalinistas da década de 30. A atmosfera de uma casa
quase tchekhoviana lembra a última ilha de felicidade no Arquipélago GULAG: em breve esta ilha
estaria condenada a afundar.
Ao longo da última década do século XX, na sociedade russa, onde não se aprendeu as lições de
democracia, acumulam-se a sensação de instabilidade, insegurança e medo diante de agressões
tanto na geração mais velha quanto na geração mais jovem. O homem esconde-se no seu mundo
interior, como é retratado, por exemplo, no filme “O País dos Surdos”, de Valery Todorovsky, que
expressa muita bem a vida turbulenta de Moscou dos meados dos anos 90. A obra, “A idade
meiga”, de Serguey Soloviev, é uma tentativa de mostrar uma época de fortes emoções através
da experiência pessoal do jovem protagonista. A alforria sexual dos adolescentes tem como fundo
a agonia dos rituais dos “Pioneiros”. As deusas do “Komsomol” viram prostitutas e os meninos
de boas famílias trabalhando como caminhoneiros, transportando drogas. Por causa de um amor
infeliz, o protagonista corre para a Guerra do “Cáusaso” para voltar meio louco, cortar as veias,
salvar-se, ir para Paris e entender que a felicidade existe.
Os filmes mais importantes do período pós-soviético foram realizados por Aleksey Balabanov,
cineasta que pode ser considerado filho da “Perestroika”. No final dos anos 90, apareceu “Irmão”,
um filme de revanche social das classes que foram levadas pela Perestroika para os abismos
da existência. Já em 2007, Balabanov filmou “Mercadoria 200”, um filme-metáfora do final da
sociedade soviética, quando a URSS afundou-se na guerra do Afeganistão e na estagnação
social. Nesta obra, o diretor usa como enredo uma história patológica sobre um capitão da
polícia, perverso e assassino. Esse personagem seria a representação de um coágulo extremo
do subconsciente que cresce sempre em um império, que manda seus filhos para o moedor de
carnes bélico e que mata o seu tempo em conversas bêbadas sobre a “Cidade do Sol”. O filme
“Mercadoria 200” é o testemunho de que os miasmas da época soviética continuam até hoje
envenenando o ar.
Contudo, as reformas realizadas no cinema russo graças à energia da Perestroika não foram em
vão. Graças a ela, os artistas receberam vinte anos de uma
liberdade quase absoluta. Muitos mestres da velha escola,
habituados a trabalhar no sistema soviético através de
doações estatais, ficaram desamparados no mercado livre.
Entretanto, não há dúvida de que cineastas como Sokurov,
Valery Todorovsky, Balabanov e muitos outros tiveram
oportunidade de trabalhar somente graças às reformas no
cinema.
O desenvolvimento futuro do cinema, a partir do século XXI,
percorreu mais o caminho de evolução do que o da revolução. Surgiu
na Rússia, no início deste século, uma “nova onda” de cineastas:
isto também é um eco da Perestroika. Diretores tais como Boris
Khlebnikov, Piotr Popogrebsky, Aleksey Mizguirev, Maria Saakyan e
Valeria Gai-Guermanika, não são filhos da Perestroika, mas são netos
dela. Graças a ela, apesar de quaisquer mudanças das condições
econômicas e políticas que possam ter surgido, a principal vertente
do cinema russo continua a ser a
ideia da obra autoral.
* VGIK – Instituto Estatal Russo de
Cinema. Mais antiga universidade de
cinema do mundo, fundada em 1919.
QUERIDA ELENA SERGUEEVNA
(Dorogaya Elena Sergueevna)
Drama . URSS, 1988, 94 min. 12 ANOS . HD
Direção . Eldar Riazanov
PENITÊNCIA (Pokayanie)
Drama Filosófico . URSS, 1984, 153 min. 12 ANOS . Blu-Ray
Direção . Tenguiz Abuladze
O ASSASSINO DO CZAR (Tzareubitsa)
Drama histórico-psicológico
Grã-Bretanha/URSS, 1991, 104 min. 12 ANOS . Blu-Ray
Direção . Karen Shakhnazarov
O SOL ENGANADOR
(Utomlennie solntsem)
Drama . Rússia, França, 1994, 151 min. 14 ANOS . HD
Direção. Nikita Mikhalkov
FAROL (Mayak)
Drama. Rússia/Armênia/Holanda, 2006, 98 min. LIVRE . HD
Direção . Maria Saakyan
MERCADORIA 200 (Gruz 200)
Drama . Rússia, 2007, 90 min. 18 ANOS . Full HD
Direção . Aleksei Balabanov
ROSA PRETA, EMBLEMA DA TRISTEZA; ROSA
VERMELHA, EMBLEMA DO AMOR
(Tchernaya rosa - emblema petchali,
krasnaya roza - emblema lubvi)
Drama . URSS, 1989, 139 min. 12 ANOS . HD
Direção . Serguei Soloviev
14
25
16h
14
20
18h30
15
24
16h
15
24
18h30
16
25
16h
16
22
18h30
16h
16h
15h45
16h
17
18
26
16h
17
23
18h30
A POMBA BRANCA
(Tchuzhaia Belaya e Ryaboi)
18
23
16h
MELODIA DAS NOITES BRANCAS
(Melodii beloi notchi)
19
27
16h
19
21
27
18h30
26
16h
ESSA NÃO SOU EU
Drama . Rússia/Arménia, 2012, 102 min. LIVRE . DCP
Direção . Maria Saakyan
ASSA
Drama . URSS, 1987, 153 min. 14 ANOS . 35 mm
Direção . Serguei Soloviev
Drama . URSS, 1986, 95 min. LIVRE . 35 mm
Direção . Serguei Soloviev
Drama . URSS, Japão, 1976, 97 min. LIVRE . 35 mm
Direção . Serguei Soloviev
GAROTA INTERNACIONAL
(Interdevotchka)
Drama . Suécia e URSS, 1989, 151 min. 16 ANOS . 35 mm
Direção . Piotr Todorovsky
18h30
16h
O PAÍS DOS SURDOS (Strana glukhikh)
Drama . Rússia, 1998, 92 min. 14 ANOS . DCP
Direção . Valery Todorovsky
16
23h30
18h30
18h30
18h
23h30
18h30
16h
15h45
PENITÊNCIA (Pokayanie)
Tenguiz Abuladze
Drama Filosófico
URSS, 1984, 153 min. 12 ANOS
Com . Jeinab Botsvadze, Ketevan Abuladze, Quachi Kavsadze, Avtandil Maxaradze,
Sofiko Thiaureli
Exibição . Blu-Ray
Grande Prêmio Especial no Festival Internacional de Moscou, 1987
Prêmio FIPRESSI no Festival Internacional de Cannes, 1987
comentário
do diretor
Aravidze é um sobrenome criado por nós. Na realidade, não existem
georgianos com este sobrenome. Aravidze foi criado a partir da palavra
“ara-vin”, que significa “ninguém”. Varlam Ninguém. Ele representa
uma imagem coletiva de vilões e ditadores de todos os tempos e
povos. Onde isso acontece? Em lugar algum e em todos os lugares.
Nunca e sempre. É aí que surge a “incompatibilidade” consciente de
indícios cotidianos, e a imagem máxima generalizada de Varlam atinge
máscaras expressivas. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, quanto mais
generalizada, mais concreta percebe-se a imagem. Qual é o gênero
do filme? Creio que é uma triste fantasmagoria, uma tragicomédia
grotesca, ou talvez uma farsa trágico-lírica.
Na cena da igreja, soa pelo rádio o texto de uma entrevista, gravada no leito de morte de
Albert Einstein. Mal termina a transmissão, e sem qualquer pausa, pelo rádio é transmitido
um concerto de música leve. Isso impede o pensamento. E antes da leitura do testamento de
Einstein, no qual o cientista adverte a humanidade sobre a catástrofe nuclear universal, vemos
entre as grandes esculturas e exemplos de estética e técnica colocadas na igreja, outra figura
de Bosch: rapidamente passa uma mulher em um vestido verde e azul. Ela arrasta uma cauda
longa, tem um livro grosso na cabeça e no livro está sentado um rato. Esta é a imagem do
cientista que come a si próprio. Este é outro tema importante para mim no filme: o aviso. Todas
essas imagens não são grotescas ou surreais, porém elementos do conteúdo. De outra forma eu
Apesar de ter sido realizado em 1984, “Penitência”, o último filme do diretor
georgiano Tenguiz Abuladze, só pôde ser exibido ao público em 1987. Artistas como
Sandro Barateli e sua esposa são os primeiros a sofrer com o regime totalitarista
instaurado em seu país. Anos depois, a filha decide vingar a morte dos pais e três
gerações de uma família pagam pelos pecados dos seus antepassados. “Penitência”
representa o final de uma época no cinema soviético e anuncia uma nova página na
história do país, sendo considerado um dos primeiros marcos na arte audiovisual da
época da Perestroika.
Nasceu na Georgia, em 1924. Estudou direção teatral no Instituto de Teatro
de Shota Rustaveli, em Tblissi, e cinema no Instituto Estatal Russo de
Cinema (VGIK), em Moscou, onde obteve o seu diploma como diretor em
1952. Em 1980, recebeu o prêmio “Artista do Povo da União Soviética”.
Já o seu primeiro curta-metragem «O burro de Magdana» foi premiado no
renomado Festival de Cannes, em 1956. Sua trilogia (“Suplício”, “A árvore
do desejo” e “Penitência”), trouxe-lhe o prêmio “Lenin” e o “Prêmio NIKA”
(por melhor fotografia), além do prestigiado “Prêmio Especial do Júri” no
Festival de Cannes, em 1987. Tenguiz Abuladze faleceu em 1994.
A primeira “sessão secreta” do filme Penitência foi realizada em Tbilissi, no estúdio “GeorgiaFilm”.
Por coincidência, a luta pela legalização de Penitência começou imediatamente após o 5º Congresso
de Cineastas da União Soviética*. Em uma viagem profissional à Tbilissi, Andrei Plakhov**, que
tinha uma vaga idéia sobre um filme “secreto” anti-stalinista do diretor Tenguiz Abuladze, pede
para o cineasta e diretor da “Geórgia-Film”, Rezo Chkheidze, organizar uma exibição do filme.
A desagradável conversa entre Mikhail Gorbachev e Eduard Shevardnadze sobre o filme já era
conhecida e por isso, todas as precauções possíveis eram tomadas. No entanto, a sessão foi
assistida por pelo menos vinte espectadores, o que poderia causar novos problemas.
O filme, que pelo simples fato da sua existência era testemunha da queda próxima e inexorável
do Império, foi cuidadosamente escondido dos órgãos de censura da capital até 1985. A produção
do filme, o qual em breve teria o nome de Penitência, não teria sido possível sem o patronato
pessoal de Eduard Shevardnadze, que naquele momento exercia a função de Primeiro Secretário
do Comitê Central da Geórgia. Ele apoiou o filme desde o início, logo após a leitura da sinopse e,
de fato, foi o produtor secreto de Penitência. Querendo proteger o futuro filme de intervenções por
parte dos órgãos centrais do partido, Shevardnadze encontrou a única forma de realizar o filme
evitando uma interferência de Moscou: Penitência foi encomendado e financiado pela televisão
georgiana. Desta forma, os autores não precisavam aprovar o cenário em Moscou e o Comitê
Nacional de Cinema somente foi avisado que Tenguiz Abuladze havia começado a trabalhar em
um novo filme.
A equipe de filmagem realizou uma expedição de quatro meses em Batumi***, de onde voltou
quase sem nada: o material, que contemplava mais do que 5.000 metros de filme, foi estragado
pelo laboratório de revelação. Além disso, o filme havia perdido um dos seus principais atores,
Guega Kobakhidze, que faria o papel de Tornike, neto de Varlam. Kobakhidze foi preso por ter
participado no seqüestro de um avião, no aeroporto de Batumi. Em Tbilissi, corria o boato que
as filmagens foram interrompidas pelo KGB georgiano. Mas no dia 31 de janeiro de 1984, no dia
do seu sexagésimo aniversário, Abuladze recebeu um telegrama de Shevardnadze, desejando-lhe
uma conclusão bem sucedida dos trabalhos.
As filmagens recomeçaram em março, após terem encontrado um novo ator para o papel de Tornike
(Merab Ninidze). O filme foi realizado praticamente em cinco meses e em dezembro de 1984 foi
exibido nos estúdios da “Georgia-Film” para o Comitê Central do Partido. Foram sugeridas apenas
a realização de duas pequenas alterações. No entanto, para preservar a versão original do autor,
Sosso Tsiskarishvili, amigo de Abuladze, secretamente realizou uma cópia em vídeo do filme. O
Comitê de Televisão e Rádio da República da Geórgia e o Cinema Estatal da Geórgia receberam o
filme no final de dezembro de 1984 e em meados de maio de 1985 estava planejada uma estréia
na televisão georgiana, a qual porém foi cancelada no último minuto: cópias do vídeo, o qual
estava guardado na casa de Abuladze, foram distribuídas em Tbilissi. Isto deu motivo para que o
KGB local transmitisse informações sobre o filme Penitência diretamente para Mikhail Gorbachev.
Em Moscou, o filme chega em 1986. Apos regressar de Tbilissi, Plakhov conta para Elem
Klimov**** sobre a exibição ilegal em Tbilissi e Chkheidze leva uma cópia secreta do filme para
a capital.
Penitência foi o grande filme do final da época soviética no cinema. Com este filme, e sob a sua
bandeira, foi aberta a primeira página da nova história do cinema russo.
Maxim Medvedev
*5º Congresso de Cineastas da União Soviética: aconteceu durante a Perestroika, em 1986. Durante o Congresso,
inesperadamente, todo o conselho da União dos Cineastas foi reeleito.
**Andrei Plakhov: um dos principais críticos de cinema da antiga União Soviética e da Rússia.
***Batumi: cidade da Geórgia.
****Elem Klimov: cineasta russo. Foi eleito presidente da União dos Cineastas da União Soviética em 1986, durante o 5º
Congresso de Cineastas.
GAROTA INTERNACIONAL
(Interdevotchka)
QUERIDA ELENA SERGUEEVNA
(Dorogaya Elena Sergueevna)
Drama . Suécia e URSS, 1989, 151 min. 16 ANOS
Com . Elena Yakovleva, Tomas Laustiola, Irina Rosanova, Anastassia Nemolyaeva,
Ingeborga Dapkunaite, Maria Vinogradova
Drama . URSS, 1988, 94 min. 12 ANOS
Com . Marina Neelova, Natalia Schukina, Fedor Dunaevskiy, Dmitry Marijanov,
Andrey Tikhomirnov
Exibição . 35 mm
Exibição . HD
“Garota internacional” é um dos primeiros filmes na história do cinema soviético que
aborda um dos temas tabus da URSS: a prostituição. Tânia trabalha oficialmente
como enfermeira, mas ganha a sua vida como prostituta. Em busca de um novo
começo, ela quer fugir da difícil realidade soviética. Porém, a única saída para ser
independente é deixar o país e casar-se com um estrangeiro.
Elena Sergueevna, professora de um ginásio russo, recebe no dia do seu aniversário
uma inesperada visita de quatro alunos. Grata e surpresa, ela os convida para a sua
casa, e só durante a noite percebe o verdadeiro motivo da visita. Um filme importante
para se compreender as mudanças no sistema escolar durante a época da Perestroika.
Nascido em 1925, Piotr Todorovsky iniciou-se no cinema durante a
Segunda Guerra Mundial, decidindo após a guerra tornar-se profissional.
Graduou-se no VGIK no início da década de 50, trabalhando então durante
dez anos nos estúdios de Odessa. Todorovsky foi diretor e cenarista de
todos os seus filmes. O seu filme “Garota Internacional” foi considerado o
filme do ano na União Soviética, em 1989.
Nascido em 1927, o cineasta russo Eldar Aleksandrovitch Riazanov alcançou
um grande renome e popularidade na URSS, através de comédias que
exploram de maneira satírica o cotidiano da sociedade soviética. Recebeu
o Prêmio Estatal Socialista em 1977 e o prêmio “Artista do Povo da URSS”
em 1984. Entre os seus filmes mais conhecidos estão “Noite de Carnaval”,
“Atenção com o Automóvel”, “Ironia do Destino” e “A Garagem”.
O ASSASSINO DO CZAR
(Tzareubitsa)
Karen Shakhnazarov
Drama histórico-psicológico
Grã-Bretanha/URSS, 1991, 104 min. 12 ANOS
Com . Oleg Yankovsky, Olga Antonova, Malcolm McDowel, Armen Dzhigarchanian
Exibição . Blu-Ray
Um novo médico assume a direção de um hospital psiquiátrico em uma província
russa. Ele desperta um interesse especial por um doente que alega ter matado Nikolai
II, o último Czar da Rússia. Ao longo das conversas com o paciente, ele compreende
que a tragédia da família imperial é também a sua tragédia. “O Assassino do Czar” é o
primeiro filme russo realizado sobre o fatídico destino do último Czar e da sua família.
“Assassino do Czar” não é uma simples adaptação cinematográfica
dos acontecimentos da derrota do regime czarista. De alguma
maneira, é uma nova apreciação destes acontecimentos através do
prisma da atualidade. Se acreditarmos em estudos de psicoterapia,
que afirmam que a sensação de culpa é o único sentimento humano
negativo, pois ela destrói totalmente a mentalidade, é sensato supor
que o doente Timofeev virou paciente de um hospital psiquiátrico
por causa da sensação de culpa de algo feito por um outro “ele”.
A sua tortura, agora, consiste em lembrar destes acontecimentos.
Karen Shakhnazarov nasceu em Krasnodar em 1952. Graduouse no Instituto Cinematográfico da Rússia e iniciou o seu trabalho
como cineasta nos estúdios Mosfilm. Os filmes “Uma noite de
inverno em Gagra” e “O mensageiro” tornaram-no conhecido
em toda a Rússia. “O Mensageiro” foi premiado no 15º Festival
de Cinema de Moscou. Karen Shakhnazarov é diretor do maior
estúdio cinematográfico da Rússia, Mosfilm e integra o júri dos
mais importantes festivais de cinema no mundo.
O SOL ENGANADOR
(Utomlennie solntsem)
Nikita Mikhalkov
Drama
Rússia, França, 1994, 151 min. 14 ANOS
Com . Oleg Menshikov, Nikita Mikhalkov, Ingeborga Dapkunaite, Evgueniy Mironov,
Nina Arhipova, Lubov Rudneva, Vatheslav Tihonov, Marat Bashirov
Exibição . HD
Vencedor do Oscar como melhor filme estrangeiro em 1994
Grand-prix do júri no Festival Internacional de Cannes em 1994
comentário
do diretor
Meu desejo de fazer este filme veio em resposta a todas as acusações
trazidas ao longo dos anos sobre o meu país. Que direito temos nós,
olhando com o recuo histórico da década de 90, para analisar qualquer
das eras passadas e condená-las pelo que aconteceu em seguida?
Em 1917, os bolcheviques condenaram tudo o que havia precedido
a sua revolução, e da mesma forma os “Novos bolcheviques”, em
1991 decidiram retratar como horrível, tudo o que aconteceu depois
de 1917.
Com o filme “O Sol enganador”, eu não tento julgar uma era. Eu só
estou tentando mostrar através de uma perspectiva trágica, o charme
de uma existência simples: de crianças que continuam a nascer, de pessoas que se amam
vivendo momentos da sua vida e tendo fé que tudo o que estava acontecendo ao redor deles
era o melhor. Em 1936, as pessoas na Rússia viviam sob um “Sol Enganador”. Todos foram
atores e vítimas do que aconteceu, do que haviam criado. Aparentemente, Stalin era um gênio
diabólico, mas ele foi criado pelas mãos do homem. As pessoas não perceberam que elas foram
as criadoras da sua própria destruição. No filme, Serguei Petrovitch Kotov, coronel do Exército
Vermelho e herói da revolução, não inspira a imagem de alguém que poderia ser acusado de
traição. Quando a polícia política de Stalin, o NKVD, vem prendê-lo, Serguei continua calmo,
com a expectativa de resolver tudo com um simples telefonema para o Kremlin. Somente
quando os policiais tornam-se violentos, ele percebe o que acontece. Esta não é uma tragédia
de um homem culpado, mas a tragédia de um homem cego pelo sol.
Durante o verão de 1936, o premiado drama de Nikita Mikhalkov retrata as perseguições
stalinistas da década de 30. O legendário militar Kotov, camarada preferido de Stalin,
passa as férias com sua família em uma “datcha” (casa de campo). Tudo muda com a
inesperada chegada de Mitia, quem a família não via durante muitos anos.
O escritor, diretor e ator Nikita Mikhalkov nasceu em uma família de
artistas, em Moscou, em 1945. Estudou teatro na Escola Schukin do
Teatro Vakhtangov e cinema no VGIK. Conquistou prestígio internacional
com o filme “Um escravo do amor”, aclamado pela crítica na Europa e
nos Estados Unidos. Seus filmes foram premiados em diversos festivais de
cinema internacional, tais como o Festival de Cannes e o Oscar Americano.
MERCADORIA 200 (Gruz 200)
Aleksei Balabanov
Drama
Rússia, 2007, 90 min. 18 ANOS
Com . Agnya Kuznetsova, Aleksei Poluyan, Leonid Gromov, Aleksei Serebryakov,
Leonid Bichevin, Natalya Akimova
Exibição . Full HD
Inspirado em um pequeno artigo de jornal, “Mercadoria 200” é, provavelmente, o
filme mais importante na carreira de Balabanov, que faz, aqui, uma autópsia do seu
país. Tendo como fundo a guerra do Afeganistão, este ‘thriller’ conta a história de
um policial maníaco, sua mãe, um professor universitário ateu, o líder do partido
local e sua filha desaparecida, entre outros habitantes da pequena cidade soviética
de Leninsk.
comentário
do diretor
Em 1983, eu servi no transporte aéreo e nós fomos anexados
à divisão de força de desembarque que foi para o Afeganistão.
Eu próprio voei para o Afeganistão, e nós trouxemos soldados e
cadáveres de volta. No quartel, eu morava com um homem que
tinha grande experiência de guerra e ele me contou várias histórias.
Por exemplo, de que os cadáveres muitas vezes desapareciam e
não havia nenhum controle real sobre o transporte de volta para
casa. É assim que a imagem do corpo do soldado morto roubado
veio à minha mente.
Eu não pensei na Rússia contemporânea ao fazer este filme. Eu
não sou um professor e não é minha tarefa ensinar as pessoas
quaisquer lições de moral.
Os dois meninos andando juntos no final do filme tornaram-se
oligarcas. Este é o início do capitalismo. Eu não amo o capitalismo
e tão pouco amo o comunismo. Eu gosto das pessoas quando elas
são honestas e dignas.
Aleksei Balabanov nasceu em 1959, em Sverdlovsk. Em 1981,
terminou a faculdade de tradução do Insituto de Pedagogia
de Gorky e em 1990, o Curso Superior de cineastas, com
especialização em «cinema de autor». Entre 1983 e 1987
trabalhou como assistente de diretor. Desde 1990 vivia em
São Petersburgo. Foi um dos fundadores do estúdio e empresa
«STV» onde realizou a maior parte dos seus filmes. Ele foi o
membro da Academia de Cinema Europeu.
O PESO INSUSTETÁVEL*
“Mercadoria 200” (2007) caiu nos frágeis ombros do universo cinematográfico russo,
exigindo que todo o percurso anterior de Aleksei Balabanov fosse reavaliado. Este peso
foi imposto por um homem nascido (como cineasta) a partir dos destroços do império
soviético.
“Mercadoria 200”, que passa em uma cidade fictícia chamada Leninsk, na região de
Leningrado, pode parecer um filme retrô, um thriller psicológico à la Freud, um trash
movie ou um cinema antibélico sobre a Guerra do Afeganistão. Mas não se trata de
nenhum filme histórico, mesmo que a trama do filme aconteça em 1984. “Mercadoria
200” tampouco é o Hitchcock russo ou um trash movie. Sim, é um filme antibélico. O
episódio em que descarregam os caixões e no mesmo avião embarcam os novos recrutas
é um dos momentos mais chocantes do filme, quando cada detalhe é uma provocação.
Finalmente, na tentativa de definir o gênero desse filme, é mais fácil explicar o que ele
não é. Não é um filme realístico, no qual as canções interpretadas servem para situá-lo
no tempo. Também não se trata de uma projeção exata da hierarquia social do período
da “Estagnação” (zastoy)** tardia: é difícil crer que a filha de um Secretário do Comitê
Distrital tenha escolhido um órfão que vai para o Afeganistão como noivo, quando sai
para dançar sem a permissão dos pais. A história sobre o policial perverso e assassino
e até mesmo a menção nos créditos do filme, onde Balabanov diz que “Mercadoria
200” é baseado em fatos reais, também não são muito esclarecedores. Os meados
dos anos 1980 deram a origem às lendas sobre Chikatilo***, personagem que pode
ser comparado a Hannibal Lecter****. O principal canalha do filme é um dos policiais,
porém este papel pode ser trocado com o covarde professor de ateísmo cientifico, que
no final do filme vai à igreja para, por via das dúvidas, ser batizado. E não se trata
de impotência sexual, freudianismo ou ateísmo, mas do subconsciente coletivo russosoviético, que era o verdadeiro dirigente do país. O caso patológico é mostrado como
um coágulo extremo deste subconsciente, que cresce na sociedade de uma grande
potência, a qual manda os seus “filhos” para o moedor de carne bélico enquanto passa
o tempo em uma conversa de bêbados sobre a “Cidade do Sol”*****.
Balabanov não nos oferece uma catarse. No filme, não há nenhum arrependido e
nenhum herói positivo, com a exceção do deficiente vietnamita Sunka, o qual é
assassinado por tentar obstruir o mal. Sem dúvida, um “sinal” do diretor para aqueles
que o consideravam xenófobo. A união final entre um músico romântico e um impostor
também é uma alusão óbvia ao sacrifício que seria imposto em breve à juventude e uma
afirmação de que o futuro pós-perestroika permaneceria tão escuro quanto o passado
soviético.
Os lobisomens com patente****** e sem patente são não só os carrascos, mas também
as vítimas de uma sociedade construída sob uma repressão total camuflada, a qual ficou
impregnada no subconsciente coletivo. “Mercadoria 200” dá-nos a chave para todo o
universo de Balabanov. A mesma chave que abre as portas para o mundo de outros
“poetas malditos”. Esta chave é a transgressão, ou seja, a saída do estado natural, que
é muitas vezes realizada através da perversão sexual (como em Pasolini), violência
(Haneke), álcool ou drogas. Mas pode igualmente ser o resultado de mutações abruptas
da sociedade. Assim, a idéia “esquerda” evoca um texto totalitário. Assim, o passado
soviético ganha traços necrófilos de um cadáver vivo, fascinante e repulsivo, que
constitui o estilo neo-soviético da estagnação. Com “Mercadoria 200”, que é filmado
no estilo de um Guignol gótico e que o próprio cineasta define como um filme sobre
o amor, Balabanov prova que não é um cínico, mas um romântico. Um romântico não
revolucionário, porém macabro.
Andrei Plakhov
*Peso insustentável: a palavra «Gruz» em russo tem diversos significados. Pode significar
«mercadoria», como no nome do filme, e também peso.
**Estagnação: a estagnação econômica que assolou a antiga União Soviética, durante a liderança
de Leonid Brejnev.
*** Chikatilo: Andrei Chikatilo foi um maníaco sexual que matou 53 crianças e mulheres no
período entre 1978 e 1990. Julgado pelos seus crimes somente após a queda da União Soviética,
foi fuzliado em 1994.
**** Hannibal Lecter: Hannibal Lecter é um célebre personagem de ficção elaborado pelo escritor
Thomas Harris, que surgiu pela primeira vez no livro Dragão Vermelho.
***** Cidade do Sol: A Cidade do Sol é uma obra filosófica do frade dominicano italiano Tommaso
Campanella, de 1602. Junto com a Utopia de Tomás Moro, a Cidade do Sol constitui a obra
utópica mais importante do início da idade média.
******Lobisomens em platina: integrantes da polícia russa.
O PAÍS DOS SURDOS
(Strana glukhikh)
Drama . Rússia, 1998, 92 min. 14 ANOS
Com . Tschulpan Hamatova, Dina Korzun, Maksim Sukhanov, Aleksey Gorbunov,
Nikita Tiunin, Alexandr Yatsko
Exibição . DCP
Na busca de dinheiro para pagar as dívidas de jogo do namorado, Rita, a heroína
principal do drama de Valery Todorovsky, conhece a surda-muda Yaya. Juntas, as
duas vivenciam diversas oportunidades que permitirão Rita ajudar o namorado ou
viajar para o “País dos surdos”.
Filho do diretor Piotr Todorovsky, Valery Todorovsky nasceu em Odessa, em
1962. O seu primeiro longa-metragem, “País dos surdos” foi exibido no
48º Festival Internacional de Cinema de Berlim. Seus filmes receberam o
“Prêmio Nika” e a “Prêmio Águia Dourada”, assim como o Grande Prêmio do
Festival Internacional de Cinema Heidelberg-Mannheim. Em 1999, integrou
o júri do 21º Festival Internacional de Cinema de Moscou.
MELODIA DAS NOITES BRANCAS
(Melodii beloi notchi)
Serguei Soloviev
Drama
URSS, Japão, 1976, 97 min. LIVRE
Com . Komaka Kurihara, Yuri Solomin, Aleksandr Zbruev, Elizaveta Solodova, Andrei
Leontovitch, Serguey Polezhaev
Exibição . 35 mm
O maestro e compositor russo Ilya e a jovem pianista japonesa Yuko conhecem-se em
Leningrado. Após o seu regresso para o Japão, Yuko tenta esquecê-lo, porém durante uma
gravação ressurgem sentimentos, acompanhados das lembranças das noites brancas do verão
russo e a consciência de um obstáculo que os separa.
Serguei Soloviev é uma das figuras mais importantes no cenário
cinematográfico russo atual. Nascido em 25 de agosto de 1944,
na cidade de Kem, Soloviev ganhou o prêmio “Artista do povo
da Rússia”. Após completar os seus estudos no Instituto Estatal
Russo de Cinema, ganhou, em 1975, o “Urso de Prata” como
melhor diretor no 25º Festival Internacional de Berlim pelo
filme “Cem dias depois da infância”. Foi diretor de importantes
peças teatrais, tais como “Tio Vânia” (Pequeno Teatro) e “A
Gaivota” (Teatro Taganka). Entre 1994 e 1997, lecionou no
Instituto Estatal Russo de Cinema. Integrou o júri do 22º
Festival Internacional de Cinema de Moscou. A sua filmografia
inclui mais de 19 filmes.
A POMBA BRANCA
(Tchuzhaia Belaya e Ryaboi)
Serguei Soloviev
Drama
URSS, 1986, 95 min. LIVRE
Com . Slava Ilyushenko, Vladimir Steklov, Ludmila Savelyeva, Ilya Ivanov, Liubomiras
Lauciavicius, Andrey Bitov, Sultan Banov, Boris Olekhonovitch
Exibição . 35 mm
Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Filmes de Veneza, 1986.
Em 1946, na pobre cidade de Poinciana, as crianças são confrontadas com a formação militar,
a elite local ostenta falsas histórias nas salas de bilhar e bandos de divertem-se com brigas
sangrentas. É neste contexto que aparece na cidade uma linda pombinha branca. Quase
morrendo, Ivan consegue apanhá-la e logo passa a ser cobiçado pela “máfia dos pombos”.
TRÊS CANÇÕES SOBRE A PÁTRIA
Oleg
Kovalov
(Nova história do cinema
nacional. 1986-2000.
Cinema e contexto, T.S. São
Petersburgo, Seans, 2001)
Serguei Soloviev chamou os seus filmes “Assa”, “Rosa preta,
emblema da tristeza; rosa vermelha, emblema do amor” e “A
casa sob o céu estrelado”, de “Três canções sobre a Pátria”, pois
retratavam a realidade da Rússia na época da Perestroika. A
trilogia é construída de forma lógica e consequente: “Assa” é
uma canção sobre os tempos passados, “Rosa preta, emblema da
tristeza; rosa vermelha, emblema do amor” um brilhante carnaval
dos tempos de mudança e “A casa sob o céu estrelado” um
réquiem, cantado com uma amargura seca e lágrimas invisíveis,
pelos sonhos que nunca se tornaram realidade.
Entre imagens que mostravam a estagnação dos tempos de Brezhnev e cenas do Czar Pavel I
nos últimos dias antes do seu assassinato, Soloviev previa o fim, onde muitos, ingenuamente,
estavam vendo o início. Na sociedade soviética da década de 80 ainda era possível evitar o
contato com a realidade e continuar a viver a sua vida. Na sua estreia, “Assa” anunciou a
queda de um império, através do caráter de Krymov, um leitmotiv persistente em toda a trama,
uma forma de realização concreta das forças de estagnação no filme. A canção de Viktor
Tsoi sobre a esperança de mudanças foi considerada um hino pela geração da Perestroika.
Mas o espectador de “Assa” na época, não conseguiu entender que as “mudanças”, e em
conseqüência a “liberdade”, não seria o futuro ideal pelo qual todos esperavam.
Problemas morais não podem ser resolvidos através de mudanças sociais. Este ciclo nietzchiano
é virtuosamente abordado através da introdução do assassinato de Pavel I na narrativa. Em
1801, o czar russo sente que o fim do seu reinado está perto, e Krymov identifica-se com
este sentimento. Embora o assassinato de Pavel I e o golpe de Estado estejam visualmente
em paralelo ao assassinato de Bananan pelos homens de Krymov, o assassinato de Pavel faz
alusão, na verdade, ao posterior assassinato de Krymov. Ambos os assassinatos, obviamente,
têm um significado simbólico de mudança: o colapso de valores antigos e o início da nova
época.
ASSA
Serguei Soloviev
Drama
URSS, 1987, 153 min. 14 ANOS
Com . Serguey Bugaev, Tatiana Drubitch, Stanislav Govorukhin, Dmitri Shumilov,
Viktor Beshlyaga, Anita Zhukovskaya
Exibição . 35 mm
Um mafioso intelectual vai à cidade de Yalta para roubar um precioso violino.
Bananan, um jovem e talentoso músico, apaixona-se por Alika, amante do velho
bandido. O filme narra o conflito entre duas épocas, o velho mafioso que incorpora
a URSS e o rapaz sonhador da Rússia, na época da Perestroika. Uma das principais
obras de Serguei Soloviev, o filme relata o fim do antigo império, e mostra-nos como
tudo de positivo e atraente dos novos tempos nada mais é do que o resultado deste
sistema e, por isso, é também condenado a naufragar com ele.
Eu estava estudando no VGIK*, na faculdade de fotografia. Depois
de dois anos de estudos, havia compreendido que não me tornaria
operador de câmera. Assim, eu comecei a escrever roteiros.
Serguei
Livnev
Roteirista do filme “Assa”
Soloviev veio visitar-me, e eu entreguei-lhe um cenário para que
ele estudasse. Ele vislumbrou algo que procurava no cenário,
pensando num projeto que depois virou o filme “Assa”. Vivíamos
uma época de mudanças e ele, sendo uma pessoa muito
sensível, percebia que tinha que fazer alguma coisa diferente.
E provavelmente, via em mim uma personificação de algo novo
e fresco. Naquela época, eu tinha vinte anos. Depois de ler os
meus roteiros, Soloviev convidou-me para uma conversa. Disse
que gostava dos meus roteiros, mas que para poder filmá-los,
ele precisava de um novo roteiro. Ele pediu-me para escrever um
roteiro de um romance policial, o qual evocasse de alguma
maneira o filme “Não atirem no pianista”, de François Truffaut.
Queria também que tivessem assassinatos na trama. “Pelo menos
dois”, disse-me. E ainda deveria existir uma história de amor. Ele
queria uma história emocionante, como nas peças de Tchekhov.
Ele havia proposto para que eu, um jovem rapaz de vinte anos de
idade, inserisse no filme tudo o que houvesse de atraente.
*VGIK – Instituto Estatal Russo de Cinema. Mais antiga universidade de
cinema do mundo, fundada em 1919.
“Assa” está nos cinemas. Pela primeira vez na história do cinema soviético foi realizada uma
campanha publicitária. Longas filas nas bilheterias e salas superlotadas. As opiniões do público
e dos críticos vão de elogios azedos e irônicos ao entusiasmo acompanhados por palavrões.
Entretanto, “Assa” é um dos filmes mais discutidos de Serguei Soloviev. Não é um filme
dependente da conjuntura atual, como muitos dizem.
O filme reflete o inebriamento causado pela liberdade e a chegada da contracultura, a qual
Soloviev testemunhou no início dos anos 1980. “Assa” é um dos poucos filmes dos anos
1980, no qual os autores tentam dialogar com a realidade e com as rápidas mudanças sociais,
procurando novas formas e técnicas para delas se aproximarem. A linguagem dos personagens
é extremamente liberal. Muitos tabus soviéticos são quebrados no filme e pela primeira vez
no cinema soviético são interpretadas canções de Victor Tsoi e Grebenchikov. Provavelmente,
nunca a estética e a mitologia do rock russo foram tão precisamente encarnadas na tela como
em “Assa”. Ao contrário do rock ocidental dos anos 1960, o rock russo tem traços inteligentes
e humanistas, funcionando como uma forma de resistência à vida cotidiana soviética bruta e
chata. Por isso, as letras das músicas descrevem personagens bondosos e infantis, como é o
caso de Bananan*.
Soloviev sentiu muito bem a falta de vitalidade, à qual todos estavam condenados. Isso
determina os tons do filme: onde muitos ingenuamente viam o início, Soloviev previa o fim.
Se na sociedade soviética ainda existia a possibilidade de evitar contato com a realidade e
simplesmente continuar a viver a sua vida, nas novas condições seria necessário renascer, calar
a boca ou morrer. Uma outra saída foi simplesmente procurar outra ocupação, como fizeram
quase todos os jovens roqueiros no início dos tempos das “mudanças”.
A canção de Tsoi sobre a espera pelas mudanças é acolhida como o hino desta geração. Mas
há ainda um longo caminho a percorrer, antes que os espectadores de “Assa” entendam que
as mudanças e, respectivamente, a tão almejada liberdade não é uma época em que tudo será
permitido. Eles deverão entender que problemas morais não podem ser resolvidos somente
por transformações sociais e que todos sempre mentirão. Eles deverão ainda compreender que
Krymov era, é e sempre será o dono da vida, ao contrário de Bananan, que não encontrou lugar
e maneira para sobreviver no passado, e encontrará ainda menos no futuro. E ainda terão que
resignar-se com este fato.
Dmitri Bykov**
*Bananan – protagonista do filme “Assa”
** Dmitry Bykov é escritor, poeta, jornalista, crítico e professor.
Tatiana
Drubitch
atriz principal do
filme “Rosa Preta,
Preta, emblema
da tristeza; Rosa
Vermelha, emblema
do amor”)
Aleksandra é um personagem extremamente importante para mim,
pois sem ele não existiria o filme “Rosa Preta, emblema da tristeza;
Rosa Vermelha, emblema do amor”. Eu gosto muito desse filme. Acho
que ele é mais concreto do que “Assa”, também devido ao gênero.
“Rosa Preta, Preta, emblema da tristeza; Rosa Vermelha, emblema
do amor” é feita em um gênero concreto, o qual eu entendo. Mas,
apesar de tudo, é “Assa” que funciona como um fermento, sem o qual
“Rosa Preta, Preta, emblema da tristeza; Rosa Vermelha, emblema
do amor” não existiria.
ROSA PRETA, EMBLEMA DA TRISTEZA; ROSA
VERMELHA, EMBLEMA DO AMOR
(Tchernaya rosa - emblema petchali,
krasnaya roza - emblema lubvi)
Serguei Soloviev
Drama . URSS, 1989, 139 min. 12 ANOS
Com . Aleksandr Abdulov, Aleksandr Bashirov, Viktor Beshlyaga, Mikhail Danilov, Tatiana
Drubitch, Aleksandr Zrubev
Exibição . HD
Este filme é um hino tragicômico de uma época louca. Querendo proteger a filha, os pais de
Alexandra a trancam na casa do avô. Isto não impede que ela conheça o dissidente Tolik, que
acabou de sair do manicômio, e o extravagante órfão Mitia. “Rosa preta, emblema da tristeza;
rosa vermelha, emblema do amor” passou a ser também o emblema de uma marcha da luta e
do entusiasmo de artistas que descrevem com veemência uma época caótica e de mudanças.
FAROL (Mayak)
Maria Saakyan
Drama
Rússia/Armênia/Holanda, 2006, 98 min. LIVRE
Com . Anna Kapaleva, Olga Yakovleva, Sos Sarkissyian, Sofiko Thiaureli
Exibição . HD
Lena, originária de uma pequena cidade cáucasa, foi procurar a sua felicidade em
Moscou. Ela regressa para a sua cidade natal, onde moram os seus avós e onde
eclodiu a guerra. Todos preferem não falar sobre a guerra, mas é impossível ignorá-la
e, agora, Lena tem que descobrir o mundo dentro da guerra e compreender que fugir
não quer dizer se salvar ou salvar os outros. O destino dela agora é encontrar a si
própria nesta situação.
Maria Saakyan vem se destacando no cenário cinematográfico
russo e europeu como um dos talentos mais promissores da
nova geração. Nascida em 1980 em Yerevan, Armênia, aos
doze anos mudou-se para Moscou com a sua família. Em 1996,
iniciou seus estudos no Instituto Estatal Russo de Cinema
(VGIK), na classe de Vladimir Kobrin. Graduou-se em 2003
com o filme “O adeus”, o qual recebeu um prêmio no Festival
de Cinema de Rotterdam e o prêmio “Golden Apricot” no
Festival de Cinema de Yerevan. O seu primeiro longa-metragem,
“Farol”, foi premiado em diversos festivais internacionais de
cinema. Maria Saakyan tem recebido convites para participar
de importantes festivais de cinema internacionais tais como o
Festival Internacional de Filme de Moscou, o Festival de Cinema
de Belgrado e a Berlinale.
Daniil
Smolev
crítico de cinema
No filme “Farol”, mesmo quando falam da guerra, falam bem baixinho,
sussurrando, olhando com cautela. Maria Saakyan não se aprofunda
nos detalhes políticos, ela vê a guerra sem divisão entre os seus e
outros, de uma maneira feminina e muito pessoal (ela própria mudouse com a sua família para a Rússia, em 1993, fugindo da guerra
na Armênia). Ao mesmo tempo, é um filme muito pitoresco. Cada
imagem é feita como se fosse um quadro e chega o momento quando
não estamos mais em um cinema, mas passeamos por um museu.
ESSA NÃO SOU EU
(I’m going to change my name)
Maria Saakyan
Drama
Rússia/Arménia, 2012, 102 min. LIVRE
Com . Evgeny Tsyganov, Arina Adju, Maria Atlas-Popova
Exibição . DCP
Um retrato de duas gerações femininas. Uma mãe, diretora de um coral de renome
internacional, e sua filha, perdida entre a solidão e a tecnologia. Indiferentes aos seus
próprios sentimentos, a distância entre ambas leva-as a arriscarem suas vidas, sem
pensar nas consequências.
CICLO DE
PALESTRAS
ASPECTOS DO CINEMA RUSSO
CONTEMPORÂNEO
Andrei Plakhov
É crítico, historiador de cinema e colunista do jornal Kommersant. Entre
2005 e 2010, foi presidente da Federação Internacional de Críticos de
Cinema. Durante a Perestroika, Plakhov era secretário da “União de Cineastas
de URSS” e chefe do comitê que lançou mais de 200 filmes proibidos pela
censura soviética. Ele atua como conselheiro, programador e membro do júri
de vários festivais internacionais de cinema, incluindo Berlim, Veneza, Tóquio,
San Sebastian, Xangai, São Petersburgo e Moscou. É membro da Academia de
Cinema Europeu.
“Penitência e a abertura para um outro
cinema”
20 de janeiro, às 18h30
O filme “Penitência” de Tenguiz Abuladze, realizado na Geórgia ainda antes
da chegada de Mikhail Gorbatchev ao poder, foi um dos primeiros sinais da
“Perestroika”. Não é por acaso que este filme é proveniente da Geórgia, onde
os estúdios de cinema tinham uma atmosfera mais liberal e o Chefe de Estado,
Eduard Shevarnadze, era mecenas de ousados projetos artísticos. Através da
sua legalização, após ter ficado parado durante três anos devido à censura,
dos prêmios conquistados em festivais internacionais e da distribuição nos
cinemas, Penitência fez o acerto final de contas com o stalinismo e foi o marco
da falência ideológica da União Soviética. A pergunta final do filme: “Para que
serve uma estrada, se ela não leva-nos à igreja?” aponta o sinal de mudanças
de valores dos dogmas comunistas para o cristianismo. O filme proporcionou
a abertura para as críticas ao stalinismo, as quais podem ser encontradas
em diversos outros filmes soviéticos do final dos anos 1980 e início dos anos
1990.
“O cinema da Perestroika: um cinema
engajado”
21 de janeiro, às 18h30
A Perestroika trouxe a oportunidade de abordar novos temas através do
cinema. Um deles era o sexo (até a Perestroika, este tema era resumido na
famosa frase que dizia que “o sexo não existia na URSS”). Os primeiros
filmes que evocam este tema foram “Pequena Vera”, de Vassily Pitchul e
Garota Internacional, de Piotr Todorovsky. Palavras ousadas como “sexo”
e “prostitutas” assustavam e intrigavam os espectadores e por isso ambos
tornaram-se sucesso de bilheteria na antiga União Soviética. A Perestroika
influenciou também outros filmes, que pela primeira vez na história abordaram
temas de grande interesse para a sociedade soviética, os quais até então eram
tratados como “tabu” no país. Assim, podemos citar o filme “O assassino do
czar”, de Karen Shakhnazarov, que aborda pela primeira vez na história do
cinema russo o destino final da família imperial russa, ou “O sol enganador”,
de Nikita Mikhalkov, que retrata as perseguições stalinistas nos anos 1930.
“Serguei Soloviev: o cineasta da
Perestroika”
23 de janeiro, às 15h30
“Aleksei Balabanov e o cinema dos anos
noventa”
22 de janeiro, às 18h30
Aleksei Balabanov tornou-se o principal cineasta dos anos 1990, mas isto só
ficou completamente claro após o grande sucesso dos filmes “Irmão” e “Irmão
2”. Foi Balabanov quem também pela primeira vez falou nitidamente sobre a
“ideologia de revanche social”, um tema importante para a sociedade russa
pós-soviética. Nessa época, Balabanov realizou o filme “Mercadoria 200”,
no qual explica por que a imundice do passado soviético permaneceu tão
presente no subconsciente da sociedade russa dos anos 1990.
Serguei Soloviev foi um dos cineastas mais bem sucedidos durante o período
da “Estagnação” (zastoy), durante o governo de Leonid Brejnev. Mas Soloviev
foi também um dos primeiros cineastas a sentir o vento das mudanças trazidas
pela Perestroika, as quais ele cristalizou no seu filme “Assa”. Nesse filme,
sente-se o entusiasmo das subculturas jovens que chegavam para substituir a
arte oficial. Desta forma, a obra de Serguei Soloviev de certa forma representa
todo o anseio por mudanças e novos ideais, tão esperados pela sociedade
soviética dos meados dos anos 1980.
BIBLIOGRAFIA
BARABANOV, Boris - Assa. Livro de mudanças. São Petersburgo, Amfora. 2008
BYKOV, Dmitri - A mais nova história do cinema nacional. 1986-2000. Cinema e contexto. Volume
IV. São Petersburgo, Revista “Seans”, 2002.
MEDVEDEV, Maxim - A mais nova história do cinema nacional. 1986-2000. Cinema e contexto.
Volume IV. São Petersburgo, Revista “Seans”, 2002.
SOLOVIEV, Serguei Soloviev - Aniversário de Assa // Assa e outras obras deste autor. Segundo
livro: Não faz mal, se eu fumar? São Petersburgo. Seans. Amfora. 2008
Curadoria e Direção Artística
Luiz Gustavo Carvalho
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Saakyan e Victoria Lupik, Anton Melnik, Konstantin
Biryukov e Rossotrudnichestvo, Embaixada da
Rússia no Brasil, Consulado da Rússia no Rio de
Janeiro, Elena Ignatyeva, Andrei Plakhov, Consórcio
MOSFILM, Alessandro Cerri e Studio Cerri, Flávia
Cerri, Phamela Dadamo, Yvonne Varry e Gaumont
Pathearchives, Gosfilmofond e Oleg Botchkov.
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