A Última Trombeta - Biblecourses.com

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A Última Trombeta - Biblecourses.com
Cristianismo
V itorioso
A Última Trombeta
David Roper
A
s seis primeiras trombetas tocaram numa rápida sucessão.
Após a quarta trombeta, João “vi[u] e ouvi[u]
uma águia que, voando pelo meio do céu, dizia em grande voz: Ai! Ai! Ai dos que moram na
terra, por causa das restantes vozes da trombeta
dos três anjos que ainda têm de tocar!” (8:13). A
­rajada da quinta trombeta introduziu o primeiro de
três “ais”: gafanhotos atormentadores do abismo.
Depois, veio uma segunda proclamação: “O primeiro ai passou. Eis que, depois destas coisas, vêm
­ainda dois ais” (9:12). Isto foi sucedido pela sexta
trombeta: quatro anjos transformados nos “cavaleiros do inferno”.
Assim que esse terrível exército desapareceu
da visão, estávamos prontos para a sétima trombeta — e o terceiro ai. Mas, no lugar disso, tivemos
um interlúdio que ocupou cinco lições desta série.
Mesmo durante esse prolongado intervalo, não pudemos nos esquecer da última trombeta. Um anjo
poderoso “jurou…: Já não haverá demora, mas, nos
dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para
tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de
Deus” (10:6b, 7a).
Por quase dois capítulos, o sétimo anjo permaneceu em posição, com o instrumento em mãos, pronto para tocar. Finalmente, perto do fim do capítulo
11, ouvimos o anúncio que estivemos aguardando:
“Passou o segundo ai. Eis que, sem demora, vem o
terceiro ai” (11:14). Por fim, “o sétimo anjo tocou a
trombeta…” (11:15a).
Com as estridentes notas ainda ecoando em
nossas mentes, aguardamos os horrores que serão
desvelados. Até aqui, cada visão da trombeta foi
mais horrível do que a anterior: saraiva e fogo com
sangue (8:7), água transformada em sangue e água
transformada em veneno (8:8–11), o escurecimento
do universo (8:12), gafanhotos torturantes (9:1–11),
um exército do inferno (9:13–19). Que tragédias
terríveis a última trombeta e o terceiro ai revelariam?1
Nas Escrituras, o ressoar da “última trombeta”
(1 Coríntios 15:52) está associado à segunda vinda
de Cristo:
E ele enviará os seus anjos, com grande clangor
de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos,
dos quatro ventos, de uma a outra extremidade
dos céus (Mateus 24:31; veja 1 Tessalonicenses
4:14–17).
Nessa hora, “do céu se manifestar[á] o Senhor Jesus
com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a
Deus e contra os que não obedecem ao evangelho
de nosso Senhor Jesus…” (2 Tessalonicenses 1:7–9).
Estamos prontos para qualquer coisa (é o que
pensamos), mas o gosto de vitória da cena consecutiva ao ressoar da sétima trombeta pode nos pegar
de surpresa:
O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no
céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo
se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele
reinará pelos séculos dos séculos. E os vinte e
1
A implicação nos anúncios do “ai” é que cada novo “ai” será pior que o anterior. Num sentido, o terceiro ai é o mais trágico
“porque dele não há como recorrer” (Michael Wilcock, I Saw Heaven Opened: The Message of Revelation [“Eu Vi o Céu Aberto: A
Mensagem de Apocalipse”]. The Bible Speaks Today Series. Downers Grove, Ill.: Intervarsity Press, 1975, p. 107).
Apocalipse
11:14–19
quatro anciãos que se encontram sentados no
seu trono, diante de Deus, prostraram-se sobre
o seu rosto e adoraram a Deus, dizendo: Graças
te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso, que és e
que eras, porque assumiste o teu grande poder e
passaste a reinar…
Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se
acha no céu, e foi vista a arca da Aliança no seu
santuário… (11:15–19).
Há um elemento “aflitivo” embutido na cena: o
versículo 18 fala da ira de Deus e da destruição dos
ímpios. Além disso, a sétima trombeta serve como
uma introdução à última metade do livro, que inclui as sete taças da cólera divina (capítulos 15 e 16).
Apesar disso, a ênfase na passagem está na vitória
dos planos de Deus e do povo de Deus. Somos assim
lembrados de que havia um propósito para as cenas
fantásticas introduzidas pelas seis primeiras trombetas: a execução do propósito divino para os que
permanecessem fiéis a Ele.
A anjo forte do capítulo 10 havia jurado antes
que, quando o sétimo anjo tocasse, “o mistério de
Deus” seria “cumprido” (10:6b, 7a). O termo “mistério de Deus” refere-se ao “plano de Deus de redenção em e por meio de Jesus”2. O plano divino de
redenção não será cumprido até “o dia da redenção”
(Efésios 4:30) — quando todos os salvos se reunirão
ao redor do Seu trono. Apocalipse 11:15–19 nos dá,
portanto, um outro vislumbre rápido, mas empolgante, da alegria que aguarda os remidos3.
Estes versículos tiveram a intenção de consolar
os primeiros cristãos, e foram projetados para fortalecer você e eu.
UM ANÚNCIO DE VITÓRIA
(11:15, 17)4
A passagem começa com o que W. B. West
considerou “o versículo chave de todo o livro de
Apocalipse”5: “O sétimo anjo tocou a trombeta, e
houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do
mundo se tornou6 de nosso Senhor7 e do seu Cristo8,
e ele9 reinará pelos séculos dos séculos” (v. 15).
Voltamos à cena do trono dos capítulos 4 e 5.
As “grandes vozes” poderiam ser dos quatro seres
viventes (4:6–9) ou do coro celestial como um todo
(5:11, 12; 7:9, 10). Quem falou não é tão importante
quanto as palavras emitidas: as vozes declararam
que “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor
e do seu Cristo”.
Quando estudarmos o capítulo 13, analisaremos
brevemente alguns dos reinos do mundo que resistiram ao governo de Deus em eras passadas. Um
dos mais poderosos desses reinos existia na época
em que Apocalipse foi escrito: o Império Romano.
A rebelião desses reinos é citada em 11:18, numa
linguagem emprestada de Salmos 2:1–5:10 “Por que
se enfurecem os gentios…” Os cristãos aplicaram os
primeiros versículos de Salmos 2 à participação dos
romanos e dos judeus na crucificação de Jesus (Atos
4:25–28), mas pode-se fazer uma aplicação a qualquer
gentio ou grupo que tente impedir os planos e propósitos de Deus.
2
Veja a lição “Um Livro Pequeno com uma Mensagem Grande”, na edição “Apocalipse — Parte 5”, desta série. 3 É possível
que 11:15–19 seja simplesmente um retrato da vitória da causa de Deus sobre o Império Romano, mas a linguagem corresponde
melhor à síntese de todas as coisas. Por exemplo, a identificação de Deus como Aquele que é e que era, mas não Aquele que virá
(v. 17) certamente deixa a impressão de que a narrativa chegou ao fim do mundo (veja os comentários sobre o versículo 17, na
página 25 desta lição.) Como mencionamos no material introdutório, no Livro de Apocalipse, somos conduzidos vez após vez ao
fim — e depois voltamos e começamos de novo a partir de um ponto de vista levemente diferente. Esta visão das “últimas coisas”
será sucedida por um relato do nascimento de Jesus no capítulo 12. 4 Os títulos e subtítulos desta lição foram adaptados da obra
de Warren W. Wiersbe, The Bible Exposition Commentary (“­Comentário Bíblico Expositivo”), vol. 2. Wheaton, Ill.: Victor Books,
1989, pp. 600–1. 5 W. B. West Jr., Revelation Through First-Century Glasses (“Apocalipse Através das Lentes do Primeiro Século”),
ed. Bob Prichard. Nashville: Gospel Advocate Co., 1997, p. 85. Um comentário semelhante foi feito por George Eldon Ladd, A
Commentary on the Revelation of John (“Comentário do Apocalipse de João”). Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans Publishing
Co., 1972, p. 161. 6 Estão implícitas aqui as palavras “o reino”, ocultas por elipse também no texto original. 7 O termo “Senhor”
(mestre, autoridade) pode se referir ou ao Pai ou ao Filho. Nesta passagem, refere-se ao Pai. 8 “Seu Cristo” (literalmente, “Seu
ungido”) é linguagem messiânica do Antigo Testamento (veja Salmos 2:2) cumprida em Jesus. 9 Esse “Ele” refere-se ao Pai ou ao
Filho? Alguns, com base em 1 Coríntios 15:24–28, afirmam confiadamente que “Ele” refere-se ao Pai — e pode estar certos. Por
outro lado, o texto apenas enfatizou que o reino pertencerá conjuntamente ao “nosso Senhor” e “Seu Cristo”, o que implicaria um
governo conjunto. Robert Mounce expressou a crença de que “o singular... enfatiza a unidade dessa soberania conjunta” (Robert
Mounce, The Book of Revelation [“O Livro de Apocalipse”]. The New International Commentary on the New Testament Series.
Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1977, p. 231). G. R. Beasley-Murray disse que a questão de ser o Pai ou o
Filho era irrelevante para João, “pois para ele o Senhor e o Cristo são uma unidade indissolúvel” (G. R. Beasley-Murray, The Book
of Revelation [“O Livro de Apocalipse”]. The New Century Bible Commentary Series. Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans
Publishing Co., 1974, p. 189). 10 Salmos 2 é classificado como “um salmo real” e era usado em ocasiões relacionadas à realeza em
Israel, como a coroação de um novo rei. A rebelião das nações ou gentios no salmo teve referência imediata ao fato de que quando um novo rei era coroado, as nações vizinhas tentavam aproveitar a confusão para derrubar Israel. Além deste significado, os
judeus reconheciam que o Salmo 2 tinha implicações messiânicas e que tinha uma referência culminante na coroação do Rei dos
reis e Senhor dos senhores. O Salmo 2 é muitas vezes citado no Novo Testamento.
Obviamente, “por trás dos muitos reinos que
dominaram os homens na história da humanidade,
está uma fonte única de autoridade”11: o diabo, “o
príncipe deste mundo” (João 12:31)12. O singular
é usado no versículo 15: “o reino do mundo”13. O
versículo 15 antecipa o tempo em que Deus porá
fim a toda rebelião e “reinará para todo o sempre”.
Quando os vinte e quatro anciãos entoaram o refrão, eles cantaram: “Graças te damos, Senhor Deus,
Todo-Poderoso, que és e que eras, porque assumiste
o teu grande poder e passaste a reinar” (v. 17).
Talvez devamos enfatizar duas idéias que os
versículos 15 e 17 não ensinam: em primeiro lugar,
eles não ensinam que Deus não reinou nem reinará
até o fim da era cristã14. Deus reinou sobre toda a
criação desde que Ele trouxe o mundo à existência.
(Veja Êxodo 15:18; 1 Crônicas 29:11; Salmos 10:16;
29:10.) Anteriormente nestes estudos, reforçamos
que a cena do trono dos capítulos 4 e 5 ensina que
Deus ainda está governando, e ainda está no controle.
Em segundo lugar, os versículos 15 e 17 não ensinam que o reino de Deus não será estabelecido antes
do fim da era presente. Nos versículos de abertura de Apocalipse, João referiu-se a si mesmo como
um “companheiro… no reino” (1:9). Visto que Deus
sempre reinou sobre a Sua criação, Ele sempre teve
um reino15. Além disso, o reino messiânico especial
prometido pelos profetas do Antigo Testamento já
foi estabelecido16.
O reino messiânico estava “próximo” nos dias
dos ministérios de João Batista e Jesus (Mateus 3:2;
4:17). Jesus disse que o Seu reino “viria com poder” enquanto os Seus seguidores estivessem vivos
(Marcos 9:1). O “poder” veio quando o Senhor já
elevado ao céu enviou o Espírito sobre Seus apóstolos no dia da festa judaica chamada Pentecostes
(Atos 1:8; 2:1–4). A vinda do Espírito era prova de
que Jesus havia sentado à direita de Deus e havia começado o Seu reino17. Por isso G. R. Beasley-Murray
pôde dizer que “o reino começou quando o Cristo
subiu ao trono”18. George Ladd concordou com o
fato de que “o Jesus exaltado, desde a sua ressurreição-ascensão está entronizado à direita de Deus
como Senhor e Messias (Atos 2:34–36; Hebreus 1:3;
Apocalipse 3:21)”19. De Atos 2 em diante, os que foram salvos automaticamente se tornaram cidadãos
no reino de Cristo (Colossenses 1:13).
Se os versículos 15 e 17 não ensinam que Deus
começará a reinar no fim da era cristã e que o reino
messiânico será estabelecido no futuro, o que eles
ensinam? Ensinam que um dia toda a resistência ao
reino de Deus cairá por terra. Ensinam que um dia
todas as pessoas reconhecerão a soberania de Deus
(veja Romanos 14:11). Em resumo, celebram a vitória
final da causa divina!
O Senhor queria que o Seu povo soubesse que
a batalha seria difícil, mas que a vitória era certa.
A igreja seguiria adiante triunfantemente, fazendo
uma conquista após outra, até que, finalmente, seu
Comandante em Chefe plantaria a bandeira da vitória na colina da eternidade20. T. F. Glasson escreveu:
Temos um ditado: “Já está tudo resolvido” que
significa que o resultado de alguma disputa é
tão certo que, embora ainda demore um tempo,
o resultado é uma conclusão previamente determinada. Esse é o caso aqui, com a diferença de
que o grito de vitória já começou.21
UMA ACLAMAÇÃO DE LOUVOR
(11:16–18)
Após o anúncio de vitória, a passagem continua com uma aclamação de louvor. Como antes,
os vinte e quatro anciãos22 se prostraram diante do
trono e louvaram a Deus (v. 16). No capítulo 4 eles
haviam louvado a Deus como o Criador (vv. 10, 11);
no capítulo 5, adoraram a Deus como Redentor (vv.
8–10); agora eles proclamavam Deus como Vencedor
e Rei:
…Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso,
que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar. Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira,
Ladd, p. 161. 12 Se necessário, pare para enfatizar que a única autoridade que o diabo possui é aquela que Deus lhe concedeu
— e que Deus permitiu que o diabo e seus seguidores exercessem autoridade no mundo visando aos propósitos do próprio Deus.
Todavia, compreender esse importante assunto não é essencial para entendermos a mensagem de Apocalipse 11:15–19. 13 A ERC
diz “os reinos do mundo”, mas os manuscritos confirmam a forma singular “reino”. 14 O tempo passado é usado no versículo
17. A passagem diz literalmente “e reinaste”. 15 A palavra “reino” significa basicamente “governo, reinado, soberania”. 16 Veja o
artigo complementar “O Estabelecimento do Reino/da Igreja”, p. 50 da edição “Atos, 1”, de A Verdade para Hoje. 17 Muitos prémilenistas admitem que, “num sentido”, Jesus está reinando hoje, mas eles insistem que o reino messiânico só será estabelecido
quanto Cristo voltar à terra e reinar por um período literal de mil anos na cidade de Jerusalém. A Bíblia ensina que Jesus está
reinando agora no Seu reino. 18 Beasley-Murray, p. 189. 19 Ladd, p. 162. 20 Esta sentença foi adaptada de West, pp. 85–86. 21 T. F.
Glasson, The Revelation of John (“A Revelação de João”). The Cambridge Bible Commentary on the New English Bible Series.
Cambridge, England: Cambridge University Press, 1965, p. 71. 22 Veja mais comentários sobre os vinte e quatro anciãos na lição
“A Perspectiva Correta”, na edição “Apocalipse — Parte 3”, desta série.
11
e o tempo determinado para serem julgados
os mortos, para se dar o galardão aos teus
servos, os profetas, aos santos e aos que temem
o teu nome, tanto aos pequenos como aos
­grandes, e para destruíres os que destroem a
­terra (vv. 17, 18).
O cântico de louvor deles poderia servir de “‘índice’
para o restante do Livro de Apocalipse”23.
O Senhor Reinará com Supremacia (v. 17)
Primeiramente eles falaram do reino supremo de
Deus: “Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso,
que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar”(v. 17). O reino de Deus será
comentado no capítulo 19 (veja vv. 6, 15, 16).
Prestemos uma atenção especial na expressão
“que és e que eras”. Você vê alguma coisa diferente
nessas palavras? No capítulo 1 Deus foi caracterizado como “aquele que é, que era e que há de vir”
(v. 4; grifo meu; veja v. 8). Os quatro seres viventes
louvaram a Deus no capítulo 4; falaram dEle como
“aquele que era, que é e que há de vir” (v. 8; grifo
meu). Em 11:17, porém, a expressão descritiva “que
há de vir” não aparece24 — porque, na visão, fomos
transportados para um tempo em que o Senhor já
veio para castigar os ímpios e recompensar os fiéis.
O Senhor Julgará Retamente (v. 18a, c)
Um aspecto essencial de Deus estabelecer a Sua
autoridade sobre toda a criação será o Dia do Juízo.
Alguns não gostam de pensar em Deus como um
Deus de justiça, mas Merrill Tenney destacou o seguinte:
Um Deus de amor também precisa ser um Deus
de juízo, pois como Ele poderia amar o Seu povo
e permitir que este sofresse interminavelmente?
Ou como Ele poderia permitir que o mal se multiplicasse incontrolavelmente como erva daninha
num jardim abandonado? As obras dos homens
precisam ser julgadas, pois sem um dia de juízo
os justos jamais serão reconhecidos, e o mal não
será castigado…
…a justiça requer que desigualdades sejam
extintas e erros sejam corrigidos.25
Os vinte e quatro anciãos falaram do julgamento de Deus: “Na verdade, as nações se enfureceram;
chegou, porém, a tua ira, e o tempo26 determinado
para serem julgados os mortos” (v. 18a). Veremos
a oposição das nações nos capítulos 13, 17 e 19. A
ira de Deus será realçada em passagens como 14:10,
16:19 e 19:15. “O tempo” do juízo será dramatizado
na última parte do capítulo 20.
Com respeito às nações se “enfurecendo”,
Warren Wiersbe fez uma pergunta pertinente: “O
que enfurece as nações?” Escreveu ele:
Certamente, O Senhor foi bom e gracioso para
com elas. Ele supriu suas necessidades (Atos
14:15–17; 17:24–31), determinou seus territórios
e bondosamente adiou Seu julgamento para dar
aos homens oportunidade de serem salvos. Além
disso, Ele mandou Seu Filho para ser o Salvador
do mundo… O que mais Ele poderia fazer por
elas?27
Salmos 2 fez a mesma pergunta:
Por que se enfurecem os gentios e os povos
imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor
e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os
seus laços e sacudamos de nós as suas algemas
(Salmos 2:1–3).
A resposta à pergunta: “Por que se enfurecem os
gentios?” é: “Porque eles querem andar pelos seus próprios caminhos… Como filhos adolescentes, as nações
querem se livrar de toda restrição…”28
Um dia, Deus confrontará a raiva infantil das
nações com a Sua justa ira. As palavras gregas traduzidas por “se enfureceram” e “ira” no versículo
18 vêm da mesma raiz. Deus não é arbitrário em Seu
julgamento; o castigo será de acordo com o crime
(veja Gálatas 6:7). O mesmo ponto é exposto na última parte do versículo 18, que declara que Ele destruirá “os que destroem a terra” (v. 18c). Os enfurecidos conhecerão a fúria de Deus. Os destruidores
serão destruídos.
Aqueles dentre nós que vivem numa sociedade
ecologicamente consciente podem pensar no mau
uso dos recursos naturais ao lerem as palavras: “os
que destroem a terra”. Essa aplicação é possível,
mas o Espírito Santo tinha em mente questões mais
sérias do que o abuso de um gigantesco globo de
terra e rochas, chamado Terra, cujos “‘elementos
abrasados se derreterão’ um dia (2 Pedro 3:12)29. A
palavra grega traduzida por ‘destruir’ não significa
23
Wiersbe, p. 600. 24 A ERC acrescenta “que hás de vir”, mas essa inclusão não é sustentada pelas evidências dos manuscritos.
Merrill C. Tenney, Proclaiming the New Testament: The Book of Revelation (“Proclamando o Novo Testamento: O Livro de Apocaipse”). Cambridge, Inglaterra: Cambridge University Press, 1965, p. 71. 26 A palavra grega traduzida por “tempo” é kairos, que geralmente indica “um tempo apropriado”. 27 Wiersbe, p. 600. 28 Ibid. (grifo dele). 29 Não estou tentando desconsiderar os esforços para a
conservação do planeta, mas estou tentando colocar essas questões em perspectiva. Muitos estão mais preocupados com esta terra
decadente do que com “a nova terra” (Apocalipse 21:1), a nova habitação (espiritual) para os nossos novos corpos (espirituais).
25
extinguir ou levar à extinção, mas ‘mudar para pior,
corromper’ (Thayer), assim como traças corroem
tecidos (Lucas 12:33), assim como a predisposição
para o mal corrompe as mentes (1 Timóteo 6:5)”30.
O Espírito estava falando dos que corromperam esta
terra — os que a encheram de impurezas morais,
blasfêmias e incredulidade ímpia.
Os cristãos que viviam no tempo de João colocariam o Império Romano no topo da lista de destruidores da terra, mas a mensagem aplica-se muito
bem hoje aos que possuem “mente… pervertida”,
os que corrompem o mundo em que você e eu vivemos.
O Senhor Recompensará Generosamente (v. 18b)
O Dia do Juízo não será simplesmente um dia
de “acerto de contas” com os que se opuseram a
Deus. Será uma hora de grande euforia, quando
Deus reconhecerá e recompensará os Seus. Os vinte e quatro anciãos descreveram isto como “o tempo determinado… para se dar o galardão aos teus
­servos, os profetas, aos santos e aos que temem o
teu nome, tanto aos pequenos como aos grandes”31
(v. 18b).
Poderíamos fazer uma distinção entre alguns
dos termos usados para identificar os galardoados
ou recompensados. Por exemplo, embora todos os
cristãos sejam santos (“separados” para o serviço
de Deus), nem todos são profetas (porta-vozes de
Deus). Todavia, as expressões “servos”, “profetas”
e “santos”, “aqueles que temem o Teu nome”, e “os
pequenos e os grandes” não constituem uma lista de
grupos diferentes, mas uma forma impressionante
de afirmar que todos os fiéis serão recompensados
— independentemente de quem sejam, do serviço
que tenham prestado, de serem ou não considerados
“importantes” pelo mundo.
Não é consolador reconhecer que o Senhor sabe
e valoriza tudo o que você faz, e que um dia Ele recompensará você?
Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso
galardão nos céus (Mateus 5:12).
…e cada um receberá o seu galardão, segundo o
seu próprio trabalho (1 Coríntios 3:8).
…recebereis do Senhor a recompensa da herança
(Colossenses 3:24).
Deus… se torna galardoador dos que o buscam
(Hebreus 11:6).
Acautelai-vos… para receberdes completo galardão (2 João 8).
Os capítulos finais de Apocalipse darão algumas
pinceladas no tema do galardão, mas nossas mentes
são incapazes de compreender todas as maravilhas
que Deus reserva para os fiéis. “Como está escrito:
Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem
preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios
2:9). As poucas pistas que temos nos enchem de temor e expectativa.
A promessa do galardão divino para os fiéis serviu de esteio para os cristãos em tempos difíceis. Ela
também pode nos ajudar quando estivermos atravessando circunstâncias difíceis.
UMA CERTEZA DA FIDELIDADE DE DEUS
(11:19)
O consolo proporcionado por este trecho bíblico
ainda não se acabou. No versículo 19 temos a resposta de Deus às palavras de louvor. De repente, o
cântico mergulha em silêncio e surge à vista de João
uma nova visão da glória divina32:
Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se
acha no céu33, e foi vista a arca da Aliança no seu
santuário, e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande saraivada (v. 19).
Esta visão com certeza trouxe surpresa e alegria
aos corações dos que conheciam os conceitos judaicos. Aos que não conhecem o cenário do Antigo
30
Homer Hailey, Revelation: An Introduction and Commentary (“Apocalipse: Introdução e Comentário”). Grand Rapids, Mich.:
Baker Book House, 1979, p. 263. Hailey estava citando a definição dada em C. G. Wilke e Wilibald Grimm, “diaftheiro”, A GreekEnglish Lexicon of the New Testament, trad. e rev. Joseph H. Thayer. Edimburgo, Escócia: T. & T. Clark, 1901; reimpressão. Grand
Rapids, Mich.: Regency Reference Library, s.d., p. 143. 31 Veja outros usos da expressão “pequenos e grandes” em Apocalipse
13:16; 19:5; 20:12. 32 Esta afirmação foi adaptada de Bruce M. Metzger, Breaking the Code: Understanding the Book of Revelation
(“Decifrando o Código: Entendendo o Livro de Apocalipse”). Nashville: Abingdon Press, 1993, p. 71. Aparentemente, desta vez
João só teve permissão para um breve vislumbre no lado de dentro do santuário. Ele será aberto novamente em 15:5. 33 Vimos
anteriormente a distinção entre o santuário que João deveria medir (11:1, 2) e o santuário que se acha no céu. (Veja a lição “Estamos Dentro das Medidas?”, na edição “Apocalipse — Parte 5”, desta série.) O santuário que se acha no céu é mencionado com
freqüência em Apocalipse (3:12; 7:15; 14:15, 17; 15:5, 6).
Testamento, fazem-se necessárias algumas palavras
de explicação:
Êxodo 25:10–22 fala da arca da aliança. Era uma
caixa de madeira coberta de ouro, com cerca de
um metro e meio de comprimento e dois metros e
meio de altura e largura34. A tampa da caixa, que
era chamada de “propiciatório”, continha a figura
de dois querubins um de frente para o outro, olhando para baixo. Quanto à arca, Deus prometeu a
Moisés: “Ali, virei a ti e, de cima do propiciatório, do
meio dos dois querubins35 que estão sobre a arca do
Testemunho, falarei contigo…” (Êxodo 25:22). Para
a mente judaica, a arca era sinônimo de glória e da
presença de Deus.
A Arca da Aliança
Dentro da arca havia duas tábuas de pedra com
os Dez Mandamentos inscritos (Deuteronômio 10:3–
5)36. Esses mandamentos eram o cerne da aliança que
Deus fizera com Israel (veja Deuteronômio 5:2–22),
daí o nome “arca da aliança”37. “Aliança” era uma
palavra preciosa para os judeus38.
Mais do que qualquer outra palavra do Antigo
Testamento, “aliança” é a palavra que faz Israel
se lembrar da promessa permanente e fidedigna de Deus. Jeremias fala da esperança pela
salvação messiânica nos termos de uma aliança: “Farei com eles aliança eterna…” (Jeremias
32:40). Agora essa palavra preciosa é novamente
evocada e afirmada.39
A arca ficava no Santo dos Santos40, primeiramente no tabernáculo (Êxodo 26:33, 34) e depois
no templo (1 Reis 8:6)41. Ela era vista apenas uma
vez por ano (no Dia da Expiação) por um homem
(o sumo sacerdote), quando ele passava pelo véu
entrando no Santo dos Santos para fazer expiação
por si mesmo e pelo povo (Levítico 16:11–17; veja
Hebreus 9:7). Não havia maior honra no judaísmo
do que ter permissão para entrar na presença do
próprio Deus e ver a preciosa arca.
Tendo este pano de fundo em mente42, imaginemos a empolgação dos primeiros leitores quando
esta cena se desdobrou: “Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se acha no céu, e foi vista a arca
da Aliança no seu santuário” (v. 19a). A abertura do
Santo dos Santos anunciava a promessa da presença pessoal de Deus (21:3)43, enquanto a arca era um
lembrete de que Deus é um Deus de aliança que
guarda as Suas promessas.
O maior atrativo do céu não são ruas de
ouro, rios brilhantes ou árvores exóticas, mas
a presença íntima do nosso fiel Senhor. Ali, finalmente, “o tabernáculo de Deus [estará] com os
homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de
Deus, e Deus mesmo estará com eles” (Apocalipse
21:3)!
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A arca media dois cúbitos e meio de comprimento e 1 cúbito e meio de largura e altura. Um cúbito era cerca de 50 cm.
Veja uma breve exposição sobre querubins nos comentários sobre os quatro seres viventes na lição “A Perspectiva Correta”,
na edição “Apocalipse — Parte 3”, desta série. 36 Além das tábuas de pedra¸ também havia dentro da arca um cesto de maná e a
vara de Arão que floresceu (Êxodo 16:32–34; Números 17:10; Hebreus 9:4). Evidentemente, eles foram retirados ou perdidos em
algum momento (1 Reis 8:9). 37 A expressão “arca da aliança” encontra-se em Números 10:33; 14:44; Deuteronômio 10:8; 31:9, 25,
26. Como as tábuas contendo os Dez Mandamentos eram chamadas de o “testemunho” (Êxodo 31:18), a arca é mais comumente
chamada de “a arca do testemunho” (como em Êxodo 25:22; 26:33, 34; Levítico 16:13). 38 A palavra “aliança” refere-se a um acordo entre duas partes. A velha aliança foi o acordo de Deus com Israel. A nova aliança é entre Deus e os cristãos. Deus sempre
cumpriu, e sempre cumprirá, Sua parte nos Seus acordos. 39 Earl F. Palmer, 1, 2, 3 John & Revelation (“1, 2, 3 João e Apocalipse”).
The Communicator’s Commentary Series, vol. 12. Dallas: Word Publishing, 1982, p. 197. 40 A princípio, ocasionalmente a arca
da aliança era usada na frente dos israelitas para enfatizar que Deus os estava guiando. (Por exemplo, veja Josué 4:9, 10; 6:1–20.)
Mais tarde, ela foi posicionada no Santo dos Santos. 41 Veja o diagrama do templo na lição “Estamos Dentro das Medidas?” da
edição “Apocalipse — Parte 5”, desta série. 42 Outro detalhe importante que poderia estar nas mentes dos primeiros leitores é
que nos últimos dias do reino de Israel, a arca foi perdida. Segundo a tradição judaica, a arca foi escondida para não ser destruída juntamente com o templo. É mais provável que a arca tenha sido destruída quando os babilônios destruíram o templo
e a cidade de Jerusalém, em 586 a.C. (2 Reis 25:9). Alguns pensam que o rei do Egito poderia ter pego a arca quando ele levou
outros tesouros do templo (1 Reis 14:25, 26). (Obviamente, o que aconteceu com a arca física é irrelevante. Apocalipse 11 diz que
a sua contraparte espiritual está no céu — e isto sim é relevante.) 43 Quando Jesus morreu na cruz, o véu do santuário rasgou-se
(Mateus 27:51), simbolizando que o caminho até Deus estava aberto (veja Hebreus 10:19–22). Aquilo que foi iniciado por Jesus
será concluído quando finalmente estivermos no céu.
35
A passagem encerra com uma amostra pirotécnica celestial do poder de Deus: “e sobrevieram
­relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande
­saraivada” (v. 19b)44.
CONCLUSÃO
Essa é a visão da “última trombeta”. Num
sentido, não vimos a conclusão da visão da última trombeta; porque, como já foi determinado, a
sétima trombeta serve de introdução à última parte do livro e especialmente às sete taças da cólera
divina. Apesar disso, vimos o suficiente para nos
enchermos de admiração em relação ao momento
em que “a trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Coríntios 15:52b)! Na lápide do pai de um pregador
norte-americano45 estão as palavras: “Na esperança
de uma ressurreição gloriosa”.
Quase no fim do enterro de Winston Churchill,
o clarim soou intermitentemente, como é costume
na morte de um estadista inglês. Depois, a pedido
de Churchill, tocaram o toque da alvorada — o sinal
para despertarem e se levantarem. Essa era a afirmação de Churchill de sua crença na ressurreição.
O toque da última trombeta é algo que você está
aguardando ou temendo?
A visão da sétima trombeta foi dada para encorajar os cristãos perseguidos. Deus queria que eles
soubessem que seus inimigos podiam matá-los, mas
não podiam derrotá-los. Ele queria que o Seu povo
soubesse que “por pior que fosse a situação, aquilo não seria o fim”46. Ele queria que eles soubessem
que, se permanecessem fiéis, no final haveria vitória!
Quando a sétima trombeta tocar, será um dia de
vitória ou derrota para você? Se você não está preparado para a vinda do Senhor, hoje é o dia de se
preparar!47
Questões para
Revisão e Debate
1. Reforçamos repetidas vezes que “trombetas
são para avisar”, mas também vimos que
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9.
10.
foram usadas trombetas para anunciar.
Embora a sétima trombeta tenha um elemento
de aviso, dizendo o que vai acontecer aos que
se opõem a Deus e não se arrependem, ela
também anuncia o destino dos que são fiéis a
Deus. Como você resumiria esse anúncio?
Segundo a lição, o que 11:15 e 11:17 ensinam
— e o que não ensinam?
Você acha que existe algum significado no
fato da conhecida expressão “aquele que há
de vir” não aparecer na descrição de Deus no
versículo 17?
Por que é importante enfatizar que Deus é
um Deus de justiça bem como um Deus de
misericórdia?
Em relação aos julgamentos de Deus em
11:14–19, como “o castigo se aplicará ao
crime”?
Quando você lê a expressão “os que destroem
a terra”, em quem você pensa?
É consolador para você saber que Deus
recompensa ou galardoa os nossos esforços?
(Como a idéia de galardões pode ser
conciliada com o ensino bíblico de que não
ganhamos a salvação por mérito?)
O que significa a palavra “aliança”? Por que
essa palavra trouxe consolo aos judeus? Como
ela pode nos trazer consolo?
Fale da arca da aliança física — e do
significado de sua contraparte espiritual no
céu.
O que deve fazer quem ainda não está pronto
para “a última trombeta”?
Notas para
Pregadores e Professores
Merrill C. Tenney, em Proclaiming the New
Testament: The Book of Revelation (“Proclamando o
Novo Testamento: O Livro de Apocalipse”), publicou uma lição sobre o capítulo 11 enfocando o tema
“O Reino Eterno”. Ele extraiu da passagem três pontos principais: 1) O Poder do Reino, 2) O Programa
do Reino e 3) A Permanência do Reino.
44
Todos esses elementos são símbolos do poder e da justiça de Deus que vimos várias vezes antes em Apocalipse. A passagem mistura símbolos do amor de Deus revelado pela Sua aliança com símbolos da Sua ira justa. 45 O pregador é Glen Pace, da
igreja de Cristo em Judsonia, Arkansas. 46 A ilustração de Churchill e a citação são de um sermão de John Risse, intitulado “A
Igreja de Profetas e Mártires”, pregado na igreja de Cristo Southern Hills, Abilene, Texas, no dia 7 de abril de 1991. 47 Se usar esta
lição no formato de sermão, veja a nota de rodapé 38, na lição “Testemunhas de Deus” desta edição.
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