Azul - Pantone 273

Transcrição

Azul - Pantone 273
Qual é o status do psicanalista ?
Clínica psicanalítica no século XXI
Um dos assuntos mais importantes do XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise será
o fórum sobre o “Ofício do psicanalista: formação versus regulamentação”. O tema
está em discussão há sete anos, quando foi criada a Articulação das Entidades
Psicanalíticas Brasileiras, formada por instituições que, apesar de suas divergências
sobre modelos de formação, consideram indispensável o tripé: análise pessoal
com psicanalista qualificado, cursos teóricos e a supervisão do trabalho clínico
com acompanhamento. Hoje, a categoria se defronta com a seguinte situação:
regulamentação, regulação ou manutenção da situação atual. Uma pesquisa
promovida pela ABP em 2001 mostrou que 62% dos votantes ( 337 psicanalistas )
optaram por regulamentação ou regulação. Para o autor do artigo, Wilson Amendoeira,
a saída passa pela criação de uma entidade supra-institucional.
( Pág. 7 e 8 )
Este número do jornal da ABP dá início a uma nova seção: Psicanálise e século XXI. O
objetivo é a reflexão sobre os grandes temas e desafios que a categoria enfrenta nos
dias de hoje para o exercício da profissão com a mudança de valores e paradigmas
da sociedade. Márcio de Freitas Giovannetti abre a seção discutindo o conceito de
provincianismo não no sentido geográfico, mas temporal, aquele no qual a mentalidade
se aprisiona dentro de um tempo específico, desconsiderando a história e o mundo.
Para o autor do artigo, a existência da psicanálise como teoria e como práxis só foi
possível porque Freud foi capaz de superar todo e qualquer provincianismo, desde a
ruptura com a academia médica de Viena até a cultural e moral da sociedade vitoriana
da época. Para ele, não existe subjetividade, sem cidade.” Abramos, pois, nossas portas
aos novos habitantes dessa nova cidade, única forma de preservarmos nosso tão
precioso legado”, diz Giovannetti.
( Pág. 3 e 4 )
Notícias
Ano XI • Nº 32 • Rio de Janeiro • Março 2007
Azul - Pantone 273
Associação Brasileira de Psicanálise
Carta do editor
A
psicanálise cura? Por alguma razão ela é reconhecida como instrumento
promotor de saúde psíquica. Uma análise transforma o “sofrimento neurótico
em um sofrimento comum”, adverte-nos Freud.
Quantas pessoas se beneficiam com o trabalho de um psicanalista? Muitas. Como
a própria medicina o faz todos os dias, desde uma outra perspectiva de tratamento,
objetiva, poderíamos afirmar, e não subjetiva, como a ciência desenvolvida por Freud.
A psicanálise é atual e conta com uma história de mais de um século em todos os
continentes do nosso maltratado globo terrestre. Isso não é pouco e representa uma
experiência invejável. Nesse longo percurso, a psicanálise trabalhou um modelo de
formação da mais alta qualificação. Os padrões de estudos da IPA até podem ser alvo
de críticas. Contudo, as idéias diretrizes da qualificação dos nossos membros estão em
permanente debate, tendo como meta a qualidade e, sobretudo, a ética dos nossos
profissionais.
Ferreira Gullar afirma, em nossa última revista, ao responder se o poeta interpreta a
realidade: “Não. Ele não interpreta a realidade, ele inventa”.
Freud criou um novo homem no século XX, diferente daquele projetado por Decartes
no século XVII. E o homem do século XXI, o homem atual, mantém vínculos com aquele
pensado por Freud?
Se esse homem que hoje recebemos em nossos consultórios traz a marca da “afirmação”
(Bejahung) e da “expulsão” (Ausstossung) na organização psíquica, ele ainda se enquadra
dentro da metapsicologia freudiana com as modificações produzidas pelos seus
seguidores. Se assim for, a psicanálise da nossa época ocupará um lugar imprescindível
na cura da dor psíquica do homem globalizado, que tem laços líquidos, segundo Bauman,
e os modelos positivistas fracassarão na construção dessas novas subjetividades.
É por tudo isso que iniciamos nosso trabalho focalizando a formação, continuando com a
pesquisa, a profissionalização e a política. E, agora, com a psicanálise do nosso tempo.
Um abraço, boa leitura.
Leonardo A. Francischelli
abp_32-3.indd 1
XXI Congresso coloca em
pauta temas da atualidade
A grande marca do XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise é a
seleção de temas para discussão durante o evento, todos ligados
ao nosso cotidiano e à realidade que enfrentamos no século XXI. A
violência, o sentido da vida, a questão do corpo e da sexualidade,
os desafios da psicanálise de crianças serão objeto de amplos
debates e teses, que mobilizarão todos os seus participantes.
O evento, que será realizado de 9 a 12 de maio em Porto Alegre,
contará ainda com 12 cursos que discutirão da teoria da técnica
em Freud a Psicologia Psicanalítica do Self. Para o presidente da
IPA, Cláudio Laks Eizirik, trata-se de um estimulante programa
científico “para enfrentar os desafios do presente e construir o
futuro”. Já a diretora científica da ABP, Telma Barros, afirma que
através dos cursos, da discussão de casos clínicos e do grande
número de temas que serão debatidos em mesas redondas,
vai se poder conhecer melhor a produção científica e os
desenvolvimentos alcançados na prática clínica. Mais informações
no site www.abp.org.br
(Pág. 12 )
“Sinto uma
dor infinita
Das ruas
de Porto Alegre
Onde jamais
passarei...”
Mário Quintana,
O Mapa, 2005
2/23/07 11:47:56 AM
Carta do Presidente
Associação Brasileira de Psicanálise
Rio de Janeiro, 23 de Janeiro de 2007
E
stamos começando o nosso segundo ano de mandato, que é de grande importância para a ABP, pois
estamos comemorando o nosso 40º ano de fundação.
Neste período, a nossa instituição já passou por inúmeras transformações e, cada vez mais, vem
se tornando a entidade representativa de todos os psicanalistas brasileiros e servindo de modelo para outras
instituições, principalmente as latino-americanas. Esperamos que 2007 seja um ano de muitos resultados,
pois temos muito o que comemorar.
Pedro Gomes
Presidente da ABP
O nosso XXI Congresso Brasileiro está próximo, de 09 à 12 de maio, em Porto Alegre. Já estamos com tudo
pronto e organizado, da parte científica à social. Esperamos um grande número de participantes. Acreditamos
que poderemos chegar a mil inscritos. Para isso, organizamos um grande número de Mesas Redondas, Reflexões
Psicanalíticas, Temas Livres, discussões de Casos Clínicos e trabalhos com a comunidade. A parte social está
totalmente organizada. No nosso tradicional Coquetel de Abertura , na segunda noite , teremos uma “Tertúlia
Gaúcha” e, na última noite, o nosso Jantar Dançante de encerramento.
Uma outra boa notícia é que em nossa última Assembléia de Delegados, Salvador foi escolhida para sediar
de 15 à 17 de novembro o II Congresso Luso-Brasileiro de Psicanálise. Temos certeza que será também um
grande acontecimento.
Para finalizar, a ABP e Porto Alegre estão de braços abertos, esperando por todos para o nosso Congresso, que
colocará os psicanalistas para debaterem com profundidade os grandes desafios do século XXI.
Pedro Gomes
Expediente
Conselho Diretor
Presidente Pedro Gomes
Secretário Cláudio Rossi
Tesoureiro Rosa Maria Carvalho Reis
Conselho de Coordenação Científica
Diretora Telma Gomes de Barros Cavalcanti
Secretária Rosangela de Oliveira Faria
Conselho Profissional
Diretor Jair Rodrigues Escobar
Secretário Sylvain Nahum Levy
Conselho de Relações Exteriores
Diretora Leila Tannous Guimarães
Depto de Publicações e Divulgação
Diretor Leonardo A. Francischelli
Secretário Sergio Nick
Secretária auxiliar - PoA Augusta G. Heller
Editor da Revista Brasileira de Psicanálise Leopold Nosek
Editora Associada Maria Aparecida Quesado Nicoletti
Administração
Diretor Superintendente
Sérgio Antônio Cyrino da Costa
Secretárias: Lúcia Lustosa Boggiss e
Renata Lang Marcel
Conselho Profissional
Delegados
Luis Carlos Menezes Maria Olympia França
Alexandre Kahtalian
Carlos Roberto Saba
Jane Kezen
Fernanda de Medeiros Arruda Marinho
Ruggero Levy
Jair Rodrigues Escobar
Alirio Torres Dantas Júnior
Maria Eunice Campos Marinho
Rosaura Rotta Pereira
Bruno Salésio da Silva Francisco
Ana Rosa Chait Trachtenberg
Leonardo A. Francischelli
José Cesário Francisco Júnior
Pedro Paulo de Azevedo Ortolan
Cíntia Xavier de Albuquerque
José Vieira Nepomuceno Filho
Leila Tannous Guimarães
Ednéia Albino Nunes Cerchiari
José Alberto Zusman
Cláudio Tavares Cals de Oliveira
Cláudio José de Campos Filho
Sergio Antonio Cyrino da Costa
Conselho Científico
Alan Victor Meyer
Ana Cláudia Zuanella
Ednéia Albino Nunes Cerchiari
Flávio Roithmann
José Carlos Zanin
Luciano Wagner Guimarães Lírio
Luiz Marcírio Kern Machado
Maria Aparecida Duarte Barbosa
Maria Helena Rego Junqueira
Miguel Marques
Sérgio Cyrino da Costa
Sergio Lewkowicz
Humberto Vicente de Araújo
Jair Rodrigues Escobar
José Alberto Florenzano
José Luiz Meurer
Leila Tannous Guimarães
Lores Pedro Meller
Marina Massi
Miriam Fichman Fainguelernt
Neilton Dias da Silva
Paulo Cesar Lessa
Sergio Antonio Cyrino da Costa
Sylvain Nahum Levy
Comissão de Pesquisas e Universidades
Coordenador : Theodor Lowenkron
Membros: Cláudio Laks Eizirik
Eustachio Portella Nunes
Nei Marinho
Rooseveelt Cassorla
Marion Minerbo
Comissão de Formação
Coordenador : Altamirando Andrade
Membros: Raul Hartke
Myrna Pia Favilli
Angela Sollberger
Edição
JLS Comunicação & Associados
Editor José Luiz Sombra
Redatora Ana Carolina Marques e
Ariane Azeredo
Projeto Gráfico e Diagramação
Interface Designers - Sérgio Liuzzi
Amanda Mattos
Moana Mayall
abp_32-3.indd 2
2/23/07 11:48:03 AM
Psicanálise e século XXI
Associação Brasileira de Psicanálise
O provincianismo e
a clínica psicanalítica
Marcio de Freitas Giovannetti
Analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
1
Em 1944, em seu ensaio sobre Virgilio, T. S. Elliot nos alertou
para a existência de dois tipos de provincianismos: aquele com
o sentido mais comum, o provincianismo geográfico e espacial,
e aquele mais raramente considerado, o provincianismo
temporal. Neste sentido mais específico, ele situa a mentalidade
que tende a aprisionar-se dentro de um tempo específico,
articulações primeiras, o percurso de seu pensamento é o melhor
exemplo de abertura e não dogmatismo. De sua auto-análise
à análise de um outro, como em Dora; da análise de um outro
à análise da emergência da humanidade, como em Totem e
Tabu; da análise da humanidade à análise das massas, como em
Psicologia das Massas e Análise do Ego; das massas à Cultura,
como em O Futuro de uma Ilusão e o Mal-estar na Cultura; da
Cultura à História, como em Moisés e a Religião Monoteísta,
seus textos foram sempre expandindo a problemática humana
e a extensão daquilo que tradicionalmente se considera a
clínica psicanalítica. Idéia esta retomada por nosso colega
Fabio Herrmann com seu conceito de “clínica extensa”.
tendendo a olhar o mundo a partir de conceitos datados,
desconsiderando a organicidade da história e do mundo. O
que coloca um problema fundamental, ou seja, a dificuldade
que tem qualquer pensador em ultrapassar os preconceitos
inerentes a seu próprio momento histórico e a sua cultura de
inserção. É, portanto, crucial, ao pensarmos numa psicanálise
para o século XXI, que não caiamos na armadilha que a
enunciação apresenta. Nem vanguardista, nem saudosista,
nem moderno e nem ultrapassado, o psicanalista só é capaz
de exercer seu quase impossível ofício quando apreende toda
a complexidade do conceito freudiano de aqui e agora: o aqui
como um lugar paradoxal, uma utopia, e o agora, o presente,
como a co-existência de todos os tempos, o passado, o futuro
e o futuro do pretérito.
3
Com Totem e Tabu aprendemos que não existe humanidade
sem cultura. Analogamente, não existe subjetividade sem
cidade. Esta é uma das mensagens básicas do legado freudiano,
infelizmente, nem sempre levada em conta por muitos de
seus seguidores. Os quatro grandes casos clínicos descritos
por Freud, Dora, Hanns, O Homem dos Ratos e O Homem dos
Lobos, deixam isto bem claro, e daí sua enorme força. Em Dora,
a pequena burguesia austríaca é retratada de forma primorosa,
ancorando e emoldurando a histeria; em Hanns, é a cidade de
Viena com seus trens, transeuntes e zoológico, que configuram
a fobia do menino que se recusava a sair de casa; no Homem
dos Ratos, são as fronteiras do império austro-húngaro, com
as manobras políticas e militares necessárias à manutenção
de um estado em vias de esfacelamento, que enfatizam os
elementos da neurose obsessiva; no Homem dos Lobos, é o exílio
de um império já extinto, o ex-patriamento, que dá sentido à
neurose fronteiriça de Sergei. Portanto, a cena primária da clínica
2
A existência da Psicanálise como teoria e como práxis só foi
possível porque Freud foi capaz de desprender-se de todo e
qualquer provincianismo. Desde a ruptura primeira com o
provincianismo da academia médica de Viena, seu grupo de
inserção original, até a ruptura com o provincianismo cultural
e moral da sociedade vitoriana, seu pensamento só ganhou a
força que tem pelo fato de, a exemplo do inconsciente, não poder
ser contido dentro de nenhum grupo específico. Mostrando-se
sempre maior, mais complexo e mais desbravador do que suas
abp_32-3.indd 3
2/23/07 11:48:04 AM
Associação Brasileira de Psicanálise
Psicanálise e século XXI
“...o psicanalista de hoje não pode se deixar capturar pelo medo ao se
deparar com a nova subjetividade que emerge como conseqüência dos
novos tempos e dos novos espaços.”
psicanalítica, por assim dizer, apresenta sempre o homem em seu
mundo. Jamais dele descontextualizado ou alienado. O aqui e o
agora de Freud necessitavam do suporte específico de seu contexto
histórico-cultural para iluminar as vicissitudes da alma humana.
4
Hospitaleira à palavra estrangeira, à palavra do outro, cosmopolita,
nem um pouco provinciana, é a matriz da clínica psicanalítica. É
esse o único modelo para uma clínica psicanalítica viva: aquela que
se mostra aberta e hospitaleira para a palavra nova e estranha do
homem de seu tempo. Aquela que não se reifica em seus próprios
precipitados, mas que é capaz de se renovar, reinventando-se
em cada aqui e agora, em cada cidade e em cada tempo, única
maneira de continuar viva e com a força original, preservando seus
fundamentos de associação livre e atenção flutuante, sem correr o
risco de se perder em fundamentalismos provincianos a serviço da
barbárie e da alienação.
Mais de cem anos depois de Hanns, o que está agora em questão
é a fobia do psicanalista diante destes novos tempos e novas
palavras. Se Hanns adoecia com o crescimento da barriga de sua
mãe, indício de um novo ser que o deslocaria de seu lugar no mundo,
o psicanalista de hoje não pode se deixar capturar pelo medo ao se
deparar com a nova subjetividade que emerge como conseqüência
dos novos tempos e dos novos espaços. Não podemos nos encapsular
melancolicamente na casa já construída porque nenhuma casa pode
existir independentemente de sua cidade. E a cidade de hoje, bem
como seu habitante, é bastante diferente da Viena e do vienense do
início do século XX. Abramos, pois, nossas portas aos novos habitantes
dessa nova cidade, única forma de preservarmos nosso tão precioso
legado. O que implica, dentre outras coisas, na construção a dois, em
Moana Mayall
conjunto com o analisando, do setting psicanalítico.
abp_32-3.indd 4
2/23/07 11:48:06 AM
Artigo
Associação Brasileira de Psicanálise
Fabio Herrmann:
Uma Psicanálise Brasileira
Leda Herrmann
Psicanalista da SBPSP. Doutora em Psicologia Clínica pela PUCSP
TEORIA DOS CAMPOS Uma Pequena História
Fabio Herrmann construiu ao longo dos últimos trinta e seis anos um
pensamento psicanalítico original. É um autor da Psicanálise Brasileira.
Foi ela a sua bandeira política durante os anos de militância na burocracia
institucional do movimento psicanalítico. Fabio ocupou, nas décadas de
1980 e 1990, a presidência da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São
Paulo, da FEPAL e diversos postos na hierarquia científica da IPA. Nessa luta
não teve apoio, mas a Teoria dos Campos — como passou a ser conhecido
seu pensamento — difundiu-se nos meios intelectuais brasileiro e latinoamericano e vem agregando produção escrita de colegas, principalmente
na forma de teses e dissertações acadêmicas.
(Parte I*)
Fabio Herrmann
Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
A Teoria dos Campos nasce em São Paulo, nos fins dos anos 60, onde a clínica
psicanalítica era intensamente praticada. Citando Fabio em texto que
compõe a orelha de seus livros publicados pela Editora Casa do Psicólogo:
“A Psicanálise foi o principal instrumento de investigação da psique
humana do século XX. Todavia, ela sofreu dois tipos de limitação: de um
lado, restringiu-se ao estudo da clínica psicanalítica; de outro, foi dominada
por algumas doutrinas que se organizaram em escolas.
A Teoria dos Campos surgiu, durante os anos setenta, como uma tentativa
de superar esses problemas. Ela procura resolver a questão das doutrinas
teóricas, pondo em evidência o método psicanalítico de investigação e cura,
que é o essencial, e usa o método para o estudo de todas as manifestações
do psiquismo, não apenas da situação analítica. Numa palavra, para a
Teoria dos Campos, a Psicanálise é a ciência geral da psique.”
1
A Teoria dos Campos cumpriu a tarefa de descer às origens da idéia
psicanalítica freudiana para se perguntar sobre a natureza desse
conhecimento. Usando da crítica à forma predominantemente clínica
tomada pela Psicanálise vigente em nosso meio, a Teoria dos Campos penetra
os fundamentos dessa disciplina, tomando-a por inteiro. É o resultado desse
trabalho de investigação que, ao se constituir em uma obra escrita e em
um pensamento psicanalítico original, impõe-se como uma Psicanálise
Brasileira. Ela não veio a se constituir em nova escola psicanalítica, mas em
uma maneira de pensar o homem no seu mundo, recuperando a concepção
freudiana de psique para além do psiquismo individual. Este pensamento
psicanalítico original parte da crítica à produção teórico-clínica dos
modelos psicanalíticos vigentes no Brasil, na década de 60, que pouco ou
nada avança para lá da repetição, em forma detalhista, dos mesmos temas
e conceitos consagrados pelas escolas psicanalíticas dominantes — a
freudiana e a klein-bioniana. Através do proceder crítico, recupera, também,
a capacidade heurística — de descoberta — do conhecimento formulado
pela Psicanálise, colocando em evidência o que Fabio chamou de idéia
psicanalítica, ou seja, o trabalho freudiano de incorporação para a ciência
de seu tempo da exploração do sentido humano. É dessa forma, portanto,
que a Teoria dos Campos resgata o valor heurístico, ou de descoberta, do
papel do fazer clínico na formulação do conhecimento psicanalítico. Tarefa
que implicou outro resgate, o do método da Psicanálise.
Criei a Teoria dos Campos no fim dos anos 1960, entre 67 e 68, ao
tempo em que terminava o curso de medicina. Naturalmente, ainda
não tinha o nome nem eu tinha a noção de estar reinterpretando a
Psicanálise, de haver criado o que se chama uma teoria. O que escrevi,
na época, foi um ensaio ambicioso intitulado O campo e a relação,
que procurava mostrar a falta de solidez das hipóteses psicanalíticas
quando isoladas de seu campo de origem, do método interpretativo,
e tomadas por fatos psicológicos, antropológicos, psiquiátricos etc.
Ou mesmo psicanalíticos, se se entende por Psicanálise um conjunto
de conhecimentos independentes da forma pela qual foram obtidos.
Minha idéia é que não coletamos fatos, mas interpretamos relações
— verdades relativas —, cada qual pertinente ao campo a que
pertence e onde foi descoberta: campo da clínica ou do quotidiano,
da realidade ou do desejo etc.
Campos são generalizações do conceito de inconsciente. Claro,
do inconsciente não psicológico, da constituição do mundo, não
da faculdade psíquica. Naquele tempo, por exemplo, estudei o
campo da sorte/azar, vale dizer, das regras que fazem as pessoas
achar que algo dá sorte, que têm azar e assim por diante. Não me
interessava propriamente a origem infantil das crendices, se os pais
Em resumo, já nas primeiras comunicações escritas o pensamento
psicanalítico de Fabio mostra como são interdependentes suas duas idéias
formadoras: a de método interpretativo como ruptura de campo e a de
absurdo como as regras que estruturam os campos de sentido humano,
a psique, e que só se mostram pelo processo interpretativo. É esta a idéia
simples, no sentido da química, que sua obra desenvolve e que em minha
tese de doutorado chamei idéia de dupla face método/absurdo.
abp_32-3.indd 5
2/23/07 11:48:17 AM
Artigo
Associação Brasileira de Psicanálise
“A Psicanálise é convidada pela Teoria dos Campos a decifrar o mundo
histórico, individual e coletivo, campos sendo tanto as grandes repartições
da alma, quanto os fenômenos microscópicos do dia a dia...”
são ou não os dispensadores da boa sorte, mas apenas as regras de
eficiência, a forma lógica da crendice e seu correlato no pensamento
científico, culto. Como se vê, mesmo sem o saber com clareza, já
estava virando ao avesso a ciência psicanalítica. Os analistas, como
vim depois a perceber, procuram negar conscienciosamente fazerem
parte da psicologia — Freud mesmo não negava —, mas explicam
psicologicamente o mundo, por meio de afetos, faculdades, funções.
Com a Teoria dos Campos estava nascendo uma Psicanálise que se
situava um pouco além das oposições psicologia/sociologia, história/
estrutura, metafísica/metapsicologia. Quando crescida, seu passo
adulto não seria fácil acompanhar.
de cada situação terapêutica. E de cada estrutura psicopatológica, a
propósito.
Como se explica que diferentes hipóteses sobre o desenvolvimento e
a patologia psíquicos redundem em efeito clínico praticamente igual?
Simples, embora chocante. O que faz efeito não é o acerto do sentido
último do material do paciente, mas sua escuta descentrada, fora
do assunto e da intenção que buscava transmitir. A escuta oblíqua
do analista leva-o a desestabilizar o campo em que o paciente o
procura prender, ele ouve fragmentariamente, ressalta atos falhos
e contradições de lógica emocional — a começar pela paradoxal
existência de uma lógica emocional. E, ao errar o assunto, topa com
regras do campo, do inconsciente relativo. No futuro, vários termos
seriam convocados para exprimir esse fenômeno na Teoria dos
Campos: desencontro produtivo, ato falho a dois etc.
No estado de então, não era difícil compreender, mas talvez sim
aceitar sua novidade. Porque os campos a estudar psicanaliticamente
não se resumem às grandes patologias, porém nos desafiam também
na vida diária: um campo pode ser o do trânsito, por exemplo, como
o da guerra, ou o campo da família ou o de uma família, e por aí
vamos. A Psicanálise é convidada pela Teoria dos Campos a decifrar
o mundo histórico, individual e coletivo, campos sendo tanto as
grandes repartições da alma, quanto os fenômenos microscópicos
do dia a dia...
3
O primeiro alvo conceitual da Teoria dos Campos foi a noção de
inconsciente. Isaías Melsohn já atacara a idéia de inconsciente
psicológico, repositório de representações, como dizia ele.
Considerava — e não sem razão — que Freud havia sido influenciado
pela psicologia sensacionista, ao construir a sua. Como de costume,
que era costume descobri depois, ninguém se ocupou de responderlhe, nem para discordar, nem para dar apoio e continuidade à sua
crítica, num livro que fosse, num simples artigo. No entanto, bem
merecia. Parte das análises de Freud não caem no âmbito psicológico
criticado por Melsohn; em especial, aquelas de campos da cultura,
de antropologia clínica ou de arqueologia fantástica. É até mais fácil
ver nos pequenos textos freudianos, onde ele não parece interessado
em dogmatizar a Psicanálise. Na clínica, nos exemplos de psicologia
concreta, tão prezados por Pullitzer.
2
Havia também uma razão clínica. É que reconhecidamente
conseguíamos bons resultados com os pacientes, mas tais resultados
estavam longe de serem explicados pelas teorias psicanalíticas. Em
primeiro lugar, porque os resultados gerais da prática eram muito
parecidos, quaisquer que fossem as razões teóricas apresentadas como
argumento — leia-se escolas. Em segundo, porque nossas teorias da
eficácia clínica, a da transferência notadamente, pareciam-me fracas
e inconclusivas, muito suscetíveis de sugestão ou auto-sugestão.
Depois de meter na cabeça um sentido transferencial, geralmente uma
transferência afetiva, o analista já não tinha porque ou como pô-la em
dúvida, ficava como uma espécie de função intuitiva e oracular.
A falta completa de resposta que sofreu Melsohn serviu de estímulo
para que eu me pusesse a campo com seu problema, sabendo ao
mesmo tempo qual destino estariam reservados aos frutos de meu
próprio trabalho. Acima de tudo, porém, o ensaio crítico melsohniano
ajudava a demarcar o território a ser explorado teoricamente e certas
armadilhas a evitar.
Daí fui levado a separar com cuidado campo de relação. Relação é
tudo o que se representa, que pode ser conhecido, que tem nome
e perfil. A relação analítica em especial tem tudo isso, não sendo
pois inconsciente. Inconsciente é o campo da relação, o inconsciente
relativo (quer dizer, relativo, da relação). O campo psicanalítico sim,
a esse temos de chegar, às suas regras ocultas. Manejando com arte
a relação analítica — com técnica artística, ou techné –, parecia-me
possível romper a estrutura do campo, do campo emocional específico
A segunda parte deste artigo será publicada no próximo número.
abp_32-3.indd 6
2/23/07 11:48:18 AM
Formação Psicanalítica
Associação Brasileira de Psicanálise
Ofício
do
Psicanalista:
Formação versus Regulamentação
Wilson Amendoeira
Membro efetivo da SBPRJ
Este é o tema de um importante e inédito Fórum que se realizará,
de 21 a 23 de setembro, no Rio de Janeiro: importante por
convocar todos os interessados na Psicanálise e inédito por reunir
psicanalistas de todas as filiações que se reconhecem, para refletir
sobre o campo psicanalítico no Brasil. É também o título de um
livro preparatório, em fase final de edição, que estará disponível a
tempo de informá-lo sobre as grandes questões que serão os alvos
de nossa reflexão e debatidas no encontro.
semana, estudos por apostilas simplórias, apropriação promíscua de
temas afeitos à prática e crenças religiosas, conduzidas por pessoas
estranhas ao campo psicanalítico. O solo comum, firmado pelo
repúdio de todas as instituições ao que se ia instituindo, permitiu
a aproximação inicial, apesar do estranhamento que, como era de
se esperar, permeou nossas primeiras reuniões. Esta aproximação
evoluiu, a custa de muito esforço, para uma aliança de trabalho em
torno do que nos une, mas preservando o que nos diferencia.
O Fórum pretende envolver todos os psicanalistas no processo
de-sencadeado pela Articulação das Entidades Psicanalíticas
Brasileiras, que se desenvolve há sete anos, com reuniões
regulares, e que teve um papel fundamental, neste período, na
defesa da prática psicanalítica enraizada no processo de formação
das instituições psicanalíticas. São instituições que, apesar das
divergências de concepção sobre os requisitos e os modelos de
formação defendidos, mantém seus pilares nas três atividades
complementares e indissociáveis: a análise pessoal com psicanalista
qualificado, os cursos teóricos e a supervisão do trabalho clínico,
com o acompanhamento por colegas mais experientes.
Essa aliança nos permitiu, ao longo desses sete anos, enfrentar dois
projetos de regulamentação da profissão que, apresentados por
deputados federais, aparentemente visavam proteger os psicanalistas
e a população, que requer e busca o tratamento psicanalítico, mas
se mostravam embasados em premissas equivocadas e estipulavam
regras e certificações incompatíveis com o que é a prática do ofício
e do desenvolvimento de um psicanalista.
Entretanto, sabemos que esta união de interesses com estas
entidades não é universalmente aceita entre os membros de nossas
sociedades, o que nos fez manter nossa participação ancorada numa
troca contínua com nossos pares, dando continuidade aos esforços
e reflexões que sucessivas gestões desenvolveram, no Conselho
Profissional, com o conjunto de seus conselheiros, que representam
todas as nossas federadas.
Como sabem os que nos acompanham no ABP Notícias, a
Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras é um movimento
iniciado em junho de 2000 para fortalecer a nossa capacidade de
enfrentamento na questão das formações ligadas a seitas religiosas
e na criação de pseudo-órgãos reguladores, apresentados como
Conselhos de Psicanálise, à semelhança dos modelos da Medicina e
da Psicologia. A ABP, já em 1998, tinha iniciado o combate possível
através de representações no Ministério Público (de Goiânia e
de Brasília), baseadas no Código de Defesa do Consumidor, por
propaganda enganosa, pois a profissão, não sendo regulamentada,
não permitia outro questionamento judicial.
Temos considerado que este é o caminho mais maduro e profícuo
para o encaminhamento destas questões. Penso que uma posição
independente nossa somente dificultaria a convergência de forças
com outras entidades que, gradativamente, estamos tecendo e
que amplifica nossa capacidade de enfrentar tentativas de expor
a controles estranhos as Sociedades e Entidades que formam
os psicanalistas e representam a Psicanálise, além de ampliar a
discussão sobre a inserção social, tanto da Psicanálise quanto dos
psicanalistas.
O movimento surgiu de um convite feito pela presidência da ABP
e pelo Conselho Federal de Psicologia, com o apoio do Conselho
Federal de Medicina e da ABPsiquiatria, a várias entidades
do campo psicanalítico. Estas, que cobriam grande parte dos
profissionais que se dedicam ao estudo e à prática da psicanálise,
se fizeram presentes a uma reunião inicial e exploratória, para
avaliar a percepção que tinham das conseqüências do aviltamento
da prática psicanalítica, com o surgimento de cursos de fins de
Resumidamente, as opções que a questão da prática profissional
oferece são: a regulamentação, a regulação e a manutenção da
situação atual.
A Regulamentação se daria a partir da definição dos parâmetros
mínimos (que nunca seriam os nossos, por serem parâmetros altos),
abp_32-3.indd 7
2/23/07 11:48:25 AM
Formação Psicanalítica
Associação Brasileira de Psicanálise
“Eu entendo que existem possibilidades de regulação...”
para que um profissional seja reconhecido como psicanalista;
estipularíamos órgãos e procedimentos assemelhados aos que
regulamentam e fiscalizam o exercício profissional em outras
atividades, embora tenhamos uma dificuldade adicional por
configurarmos uma qualificação de quarto grau e pela necessidade
do projeto se encaixar nas normas de profissionalização
estabelecidas pelo Congresso Nacional, incluindo todas as linhas
e escolas psicanalíticas. O modelo da regulamentação através
das psicoterapias não nos serve, pois temos especificidades que
foram estabelecidas por uma prática na qual, ao longo do tempo,
preservamos o patrimônio da Psicanálise e organizamos um campo
de assistência, que é representado pelo tratamento às pessoas que
buscam o tratamento analítico.
o primado da instituição psicana-lítica, por outro, vemos que há um
contingente também expressivo de colegas que almejam alguma
forma de ordenamento no campo, pois se somarmos os que optaram
por regulamentação ou regulação chegamos próximos a 62% do
total de votantes.
É para aprofundar o conhecimento, de cada um de nós, sobre este
tema que a Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras, que
envolveu 65 instituições como subscritoras de seu primeiro Manifesto,
resolveu ampliar o universo de discussão, reflexão e tomada de
posições. Até aqui nos conduziu o empenho dos representantes
das instituições envolvidas – é hora de tornar públicos os nossos
encontros e desencontros, de expormos o que temos pensado, quais
as veredas que nossas idéias abriram, que movimentos nos animaram
e quais direções deverão ser tomadas.
Na Regulação instituiríamos, junto com outras instituições
psicanalíticas, uma sociedade civil que credenciaria todas as
instituições consideradas, apesar das divergências no processo
de formação e de transmissão da Psicanálise, como pertencendo
ao campo psicanalítico. Esta entidade avalizaria as instituições
componentes e seria a interface com a sociedade em questões
que digam respeito ao exercício profissional. Seria um conselho
regulador, certificando as instituições aptas e, através desta
certificação, os seus membros.
Até o momento, foi eficaz a nossa reação às tentativas de
regulamentação da atividade; o que precisamos avaliar é se, em
outras correlações de forças e interesses, não seremos prejudicados
em nossa capacidade de enfrentamento ou enfraquecidos pelo
desgaste provocado, em nós mesmos, pela repetição das tentativas e
pela imensa energia e tempo que despendemos em cada uma delas.
Eu entendo que existem possibilidades de regulação, pois podemos
alcançar um projeto centrado no reconhecimento de uma entidade
supra-institucional, constituída de representações dos vários campos
e escolas psicanalíticas. Esta entidade credenciaria instituições
que atendessem os padrões de formação a serem estabelecidos
em conjunto e tornaria pública a relação de instituições que são
reconhecidas por ela como formadoras de psicanalistas, sem
qualquer interferência do Estado, ou de algum dos seus poderes
constitucionalmente constituídos. Esta instituição seria a natural
interface entre o movimento psicanalítico, os poderes constituídos,
os representantes do povo e a sociedade civil.
A terceira opção seria mantermos a nossa postura histórica de
nos opor a qualquer regulamentação ou regulação do campo
profissional, por considerarmos que a Psicanálise tem uma
qualificação que não se ajusta aos modelos que podem sofrer
algum tipo de certificação por instituições de ensino ou órgãos
reguladores públicos; se existe um indicador, ele será, certamente,
o de qual é a instituição que forma, quem são seus componentes,
que padrões são seguidos.
Para aferir o que pensavam os membros da ABP, realizamos, em
2001 uma pesquisa com as três opções possíveis e, contando
com a resposta de 337 colegas, obtivemos o seguinte resultado:
regulamentação - . 91 votantes, 27% do total; regulação - 117
votantes, 35% do total; e manutenção de Posição Atual - 129
votantes, 39% do total.
Penso que nós, os psicanalistas, não reclamamos nenhuma
regu-lamentação do Estado, pois como explicitamos em um dos
Manifestos lançados, “A Psicanálise progride há mais de um século,
graças a princípios e métodos rigorosos e um corpo teórico que tem
a proposta de Sigmund Freud como fundamento”.
Como vêem, os números revelam mudanças importantes na visão
dos psicanalistas, filiados à ABP, nestas questões. Se por um lado
uma maioria expressiva opta por mantermos a nossa posição atual,
com raízes em nossa história de autonomia e independência, com
abp_32-3.indd 8
2/23/07 11:48:26 AM
Homenagem
Associação Brasileira de Psicanálise
Armando Ferrari
Apresentação
Recordando Armando Bianco Ferrari
Grupo Organizador dos Encontros Ítalo-Brasileiros (São Paulo)
Fausta Romano
Professora do Centro de Formação e Pesquisa Psicanalítica de Roma
Ferrari trabalhou em São Paulo como analista didata até 1976,
lecionando na USP e no Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira
de Psicanálise de São Paulo.
Viver ao lado de um anarquista durante 20 anos foi para mim um
treinamento duro e insubstituível. O profundo respeito pela liberdade,
entendida como plena responsabilidade em relação a si próprio,
constitui o fundamento da abordagem clínica e científica desenvolvida
pelo prof. Armando Ferrari durante quase toda a sua vida.
Sempre se interessou pela Psicanálise e suas interlocuções com a Sociologia,
Antropologia e Filosofia. Na Psicanálise privilegiava, entre vários autores, a
obra de Bion e Matte Blanco, sempre desenvolvendo idéias próprias, a partir
da experiência clínica.
A liberdade permeia sua investigação clínica, a partir da necessidade
de que o analista se libere das próprias teorias e conhecimentos no
momento em que encontra o analisando (inclusive aquelas que ele pode
ter no encontro com cada paciente individualmente), desse modo ele
poderá distinguir tudo o que aos poucos vai se descobrindo na relação
analítica e poderá favorecer no analisando (e também em si próprio) o
aprender da experiência, cuja importância para o desenvolvimento do
autoconhecimento Bion já assinalava.
Sentindo que necessitava ampliar e desenvolver algumas de suas hipóteses
teóricas e experiências pessoais, decidiu mudar-se para Roma, onde sabia
que poderia encontrar em Emilio Garroni e Aldo Stella parceiros capazes
de ajudá-lo. De fato lá permaneceu por mais de 20 anos, estudando e
desenvolvendo suas hipóteses até que em 1995 decidiu voltar a visitar o
Brasil, já com um trabalho teórico consistente e original, onde pretendia
discutir com os colegas suas novas propostas.
Em seu primeiro livro, publicado no Brasil em 1995, “O Eclipse do Corpo”,
procura, segundo ele mesmo, resgatar o “lugar do corpo” na teoria
psicanalítica.
A liberdade permeia o desenvolvimento de seu pensamento teórico,
partindo da necessidade de liberar cada conceito já construído da
própria imobilidade: contestar a hipótese que se quer verificar, liberarse da tentação de cristalizar o pensamento e a experiência, por meio do
uso indiscriminado de palavras codificadas e vazias de significado, para
poder descobrir algo novo.
Residindo ainda em Roma, deu continuidade à sua obra, publicando:
___ Adolescência – o Segundo Desafio - considerações psicanalíticas
(publicado no Brasil em 1996)
___ A Aurora do Pensamento (publicado no Brasil em 2000)
___ Vida e Tempo – Reflexões Psicanalíticas (publicado no Brasil em 2004)
Os seus pressupostos teóricos, derivados da atenta e profunda reflexão
em torno da experiência clínica e do estudo crítico dos que o precederam
com suas contribuições para o desenvolvimento da Psicanálise, foram
continuamente submetidos à revisão crítica e à transformação.
Publicou em inglês o livro – From the eclipse of the body to the dawn
of thought (2004); uma coletânea de seus mais importantes trabalhos
publicados em italiano e português.
Era essa sua maneira de conceber o indivíduo: um sistema complexo
e dinâmico, cuja capacidade de adaptação ao ambiente e aos desafios
da vida, se baseia numa dialética continua entre elementos diferentes e
opostos, num equilíbrio instável, que tende a uma estabilidade e harmonia
nunca totalmente alcançadas, a não ser com o fim da própria vida.
Suas idéias frutificaram não só em São Paulo, mas também em Brasília,
onde ministrou seminários e supervisões durante muitos anos, além de
Curitiba, Campo Grande, Recife e Aracaju. Nos últimos anos desenvolveu
intenso intercâmbio científico por meio dos Encontros Ítalo-Brasileiros,
realizados no Brasil e na Itália.
Quando comecei a me aproximar do seu sistema de trabalho e
pensamento, um dia lhe disse que não me sentia muito segura, porque
alguns aspectos do seu modelo não estavam muito claros para mim.
Recordo-me que, com a passionalidade de sempre, me respondeu:
“Doutora, não me importo nem um pouco que a senhora aprenda o
meu modelo; eu a quero aqui inteira, com suas percepções, emoções,
idéias, e com toda a sua criatividade”.
Faleceu em Roma, em 14 de abril de 2006, em meio aos preparativos para
mais um Encontro Ítalo-Brasileiro, que ocorreu em Florença, de 28 a 30 de
julho de 2006. Deixou-nos com uma enorme saudade, mas ao mesmo tempo
desejosos de continuar refletindo e investigando suas hipóteses. Ferrari
era um exemplo vivo de suas idéias, sempre rigoroso em seu pensamento
clínico e amoroso em suas atitudes, como bem mostram as homenagens
aqui publicadas.
Lembro-me de ter ficado desconcertada, de ter tido receio de ter feito
um “papelão”, que o meu professor estivesse me reprovando... mas durou
apenas um instante, pois logo em seguida um agradável sentimento de
alívio e liberdade foi surgindo em mim. Podia retornar a mim mesma e
abp_32-3.indd 9
2/23/07 11:48:27 AM
Homenagem
Associação Brasileira de Psicanálise
pensar com toda a minha inteireza, ficar curiosa, buscar, caminhar, voltar,
sendo eu mesma o ponto de referência para mim, mesmo em presença
do outro.
instante a plenitude da própria experiência de si mesmos, dos próprios
sentimentos.
Estar no tempo presente, vivendo tudo o que é possível viver, em lugar
de projetar-se em direção ao fim: a angústia em relação ao fim da
vida, paradoxalmente o torna dramaticamente presente e acelera os
processos de morte.
O prof. Ferrari era um “outro” extremamente presente e ao mesmo tempo
ausente. Essa experiência desconcertante me deixou curiosa desde o
primeiro momento: sempre pronto a intuir e apoiar, jamais invasivo ou
mesmo substituindo-se à originalidade do outro.
Essa liberdade sempre esteve presente no seu método de trabalho
clínico: muitas vezes recebi analisandos que tinham tido a sorte de fazer
a primeira entrevista com ele, o primeiro pedido de ajuda. Nenhum deles
iniciou o seu trabalho comigo falando-me dele. Eu tinha o privilégio
de encontrar analisandos já dispostos a trabalhar consigo próprios, já
curiosos e desejosos de poder encontrar-se.
Isto não pode vencer a doença, mas em todos os casos, essas pessoas
tiveram um tempo de vida significativamente mais longo do que a
medicina havia previsto, e qualitativamente melhor.
“Partindo do pressuposto de que o BINO não pode abandonar o tempo a
não ser com o risco de catástrofes maiores, a operação teórico-clínica se
constrói, sobretudo na maneira pela qual esse tempo pode ser vivido...
cada encontro com o analisando é uma sessão em que tudo o que se
deveria dizer foi dito”, tudo o que se deveria viver foi vivido.
Apenas com a análise já avançada, alcançando áreas particularmente
significativas, surgia em todos eles algo que sabiam ter encontrado
durante aquele primeiro encontro com ele e que tinha ficado guardado
“lá no fundo”, como uma luz ainda não identificada, mas seguramente
vívida e presente.
E assim viveu ele próprio. Sempre inteiro no momento presente, e para quem
estava ao seu lado; podia-se viver com ele, a cada dia, a dor pelo fim da
vida, e a curiosidade e a alegria por um novo dia, sem nunca “economizar”,
mas com a curiosa sensação de que o tempo se multiplicava, se dilatava
inesperadamente.
Logo depois da sua morte, tive essa estranha sensação de que o meu
tempo se dilatava dolorosamente. Depois, comecei a lembrar as datas
da minha história com ele: quantos anos eu tinha quando o conheci,
quanto tempo passou (e me pareceu muitíssimo tempo) e não me
parecia ter vivido tanto tempo assim.
Acredito ser esse o significado do seu conceito de “outro como catalisador
dos recursos do indivíduo”: não podemos sozinhos, autarquicamente,
fazer emergir as nossas qualidades, as nossas potencialidades. Com
a presença de um outro semelhante a nós na sua diversidade, e no
encontro com ele, somos solicitados a ativar aspectos nossos até então
ignorados e silenciosos.
São relevantes as características desse “outro”: cada vez encontramos
aspectos diversos de nós próprios, nos descobrimos diferentes.
Nem sempre prazerosamente, mas de qualquer forma mais ricos de
experiências. Nesse sentido Ferrari considera a relação analítica como
um sistema auto-interpretante, e repensa o conceito de contratransferência: em cada relação analítica, enquanto o analisando vai em
direção a si próprio, no sentido de que, pela primeira vez, vai se tornando
consciente da própria originalidade, o analista volta-se para si próprio.
Portanto, não é o analisando que “coloca alguma coisa no analista”, mas
é o analista que se torna aberto e disponível para conhecer aspectos
próprios estimulados na interação com aquele paciente particular.
Portanto, a relação analítica é criada pelo encontro de duas relações
transferências: aquela do analisando com o analista e a do analista
com o analisando. Nesse sentido, cada relação analítica particular é
considerada uma matriz de experiência.
Mas trabalhar com ele, estudar com ele, investigar e pensar, viver com
ele, era sobretudo no tempo presente: cada dia era um “presente” da
vida para a própria vida.
Isso poderia assemelhar-se ao famoso “carpe diem”, mas não é totalmente
assim. Pois acredito não ter jamais conhecido alguém tão ocupado com
projetos e idéias como ele, às vezes muito além do razoável.
Mas é assim que se vive o presente, pois o momento em que nós estamos,
o momento presente, recolhe o nosso passado em forma de experiência
de nós mesmos e o futuro em forma de desejo.
Posso dizer que Armando Bianco Ferrari nunca deixou de desejar, até o
último instante de vida, criando enfim, em quem o escutava, a ilusão
de um projeto. Mas cada projeto nosso para o futuro, não é senão a
expressão dos nossos desejos de hoje.
A relação analítica, para Ferrari, é plenamente inscrita no tempo histórico,
pois tem um início, um desenvolvimento e um término. E reside nisto
sua poderosa potencialidade transformadora.
Sua morte me fez sentir como uma flecha lançada no tempo por um
arco poderoso, que se retesou com toda a força que possuía: a flecha vai
em direção ao desconhecido, o arco permanece ancorado no seu último
instante de vida, no seu último suspiro.
O Tempo
“Gostaria de encontrar um modo compreensível e aceitável para falar do
tempo, o tempo psíquico, o tempo da experiência subjetiva... a percepção
temporal nasce com a nossa consciência, mas o ser humano busca
estratagemas para dilatar o tempo: podemos talvez por um momento
pensar numa modalidade construtiva dessa ‘dilatação temporal’, no
sentido de dar vida à nossa vida enquanto a temos”. E ele o fez.
Acredito que muitos que tiveram a oportunidade de conhecê-lo, podem
sentir-se depositários dos seus desejos (e como os tinha!), e cada um
pode, se quiser, guardar esse testemunho à sua maneira, com humildade
e responsabilidade.
Em cada análise, mas especialmente com os pacientes que a medicina
define como doentes terminais, aqueles que, para Ferrari “têm somente
amanhã” para viver, ele conseguiu criar a capacidade de viver em cada
10
abp_32-3.indd 10
2/23/07 11:48:27 AM
Homenagem
Associação Brasileira de Psicanálise
Dr. Armando Bianco Ferrari
Fabio Herrmann
da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
A Sociedade de São Paulo ofereceu-me a honra de escrever uma página
— uma só — em memória de nosso amigo querido, falecido recentemente,
meu antigo analista, o ítalo-paulista Armando Bianco Ferrari.
Dr. Antonio Luiz Bento Mostardeiro
Começando por sua geografia espiritual, ítalo-paulista, o digno e
confiável dicionário Aurélio, em sua 1ª Ed., 1975, consigna tal expressão
à pág. 1053: “pastifício, do ítalo-paulista pastificio”… Enquanto o
Aurélio abona o nome, Ferrari soube abonar o fato. São Paulo é uma
estranha cidade, demasiado pobre e muito rica, feita de gente de todas
as procedências, mas acima de tudo italiana. Ao magma da imigração
dos tempos do café, Ferrari soube trazer a pedra lavrada da cultura
e do refinamento intelectual italianos. Nós que convivemos dia a dia
com ele até há exatos trinta anos — até 1976, quando retornou à Itália
—, pudemos beneficiar-nos da lição de humanidade de sua psicanálise
ítalo-paulista.
Fomos surpreendidos com a morte do Mostardeiro aos 78 anos de idade.
Trabalhou como de costume na semana que antecedeu o óbito. Consultou
para uma forte dor abdominal, baixou para fazer exames e não voltou mais.
Todos os exames médicos realizados, havia poucos meses, indicavam boas
condições de saúde. Tudo foi tão inesperado e rápido que muitos amigos
receberam a notícia do óbito tardiamente. Mesmo assim, um expressivo
número de amigos compareceu para as últimas despedidas.
Mostardeiro ofereceu contribuições para a psicanálise, psicoterapia e
psiquiatria. Foi um clínico talentoso e um professor lúcido, que se caracterizava
pela clareza das suas idéias, ancorada numa fina sensibilidade. Sempre foi
muito estimado pelos alunos junto aos quais mantinha uma relação de
respeito e de elevada consideração. Valorizava a atitude e o caráter das
pessoas, ouvia os discursos, abstinha-se de emitir julgamentos.
Como a própria psicanálise e como a nossa cidade, Ferrari era
espiritualmente múltiplo e poliglota: falava a língua da antropologia, da
sociologia, da literatura e das artes, da arquitetura, da política e da filosofia,
em cujo encontro d’águas nadava seu peixe psicanalítico. É provável
que por não ser apenas psicanalista possa ter ele sido tão inteiramente
psicanalista. A psicanálise, afinal, não é uma especialidade, senão uma
forma pensativa de viver.
Psiquiatra formado nos anos 1960, mais tarde tornou-se professor do
Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Exerceu psiquiatria clínica e forense, era um hábil psicoterapeuta. Tornouse psicanalista pela Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre analisando-se
com o dr. David Zimmermann e supervisionando com distinguidos analistas,
sobressaindo, entre eles, o dr. Mario Martins pelo qual nutria grande
admiração. Posteriormente foi um dos fundadores da Fundação Universitária
Mário Martins e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre. Em
ambas instituições ocupou os mais importantes cargos e funções. Considerava
que a fundação da SBPdePA ofereceu uma oportunidade de revitalização a
psicanálise gaúcha. Com mente aberta era avesso a dogmatismos, apreciava
o novo e sempre estava disposto a correr riscos pelo desenvolvimento da
psicanálise. Full member da IPA. Ao longo da vida ganhou muitas homenagens
e reconhecimentos. Entretanto, na sua simplicidade, não se impressionava
com os elogios e homenagens que recebia.
Gostaria de destacar na personalidade gentil e entusiástica de meu
analista um só aspecto, neste momento especial: seu interesse pela vida
concreta, perfeito antípoda da tecnicidade que larva entre tantos grupos
dogmáticos.
Como Freud, ele amava o homem concreto, de carne e osso, de inteligência
e emoções, de trabalho e sonho, nas suas diferentes fases da vida, em
cada vetor da Flecha do tempo que tão bem explorou. Daí que sua
investigação mergulhasse na infância, na adolescência e, ultimamente,
na velhice e na morte. Da morte, ensinou-nos que, se esta é matéria de
destino e não de escolha, morrer é um ato humano, de responsabilidade
pessoal. O último, talvez nem sequer o de maior importância, porém
jamais irrelevante com certeza. Morrer de tanto viver, este poderia ser o
lema de nosso amigo. Já a morte, enquanto pano de fundo da existência,
não admite relação, não se representa nem se escolhe, sendo antes o
campo de minha vida — dimensão inconsciente, onde adquire sentido
cada qual de meus atos e meu tempo encontra seu por quê. Na morte,
como nos ensinava, o homem faz sentido pleno para os outros, nossa
história completa-se, com ou sem justiça.
Produziu inúmeros trabalhos científicos e gozava de elevada consideração
no meio científico e cultural, sendo freqüentemente solicitado a emitir
opiniões. Acreditava que, na formação analítica, a análise pessoal e a
supervisão tinham um papel especial. Sem diminuir a importância dos
seminários teóricos, pensava que análise pessoal era o que proporcionaria
ao candidato vivenciar o valor do instrumento analítico. Enfatizava que
a análise podia mudar as pessoas e discordava dos diziam “que análise
não muda ninguém, dá uma ajeitada”, embora reconhecesse que isso se
relacionava à experiência de cada pessoa. Supunha que a falta de crença na
análise poderia levar a acomodações e distorções e nisso residiria a descrença
quanto ao futuro da psicanálise. Através da análise da transferência é que se
poderia visualizar os ganhos e progressos dos tratamentos. As perspectivas
futuras da psicanálise dependiam, portanto, dos analistas e não da própria
psicanálise como ciência, dizia.
Espero, pois, não estar sendo injusto para com a memória de nosso
querido amigo e mestre, ao propor aqui o sentido de sua existência como
um irrestrito e risonho Sim. Sim ao mundo, sim ao homem, sim à vida.
Nos últimos anos lecionava a História da Psicanálise uma disciplina que
lhe possibilitava transitar pelos autores clássicos da psicanálise e fazer
correlações com os desenvolvimentos atuais. Consistente, com profundo
conhecimento, era um professor que todos gostavam de ouvir. Entretanto,
eram suas qualidades humanas, seu caráter acolhedor e sua elevada
disposição ética que atraiam as pessoas. Um exemplo inesquecível, uma
perda para psicanálise gaúcha.
11
abp_32-3.indd 11
2/23/07 11:48:29 AM
Notícias e Programação
Associação Brasileira de Psicanálise
Programa intensifica ação
junto à comunidade
Dra. Maria Tereza Naylor Rocha
Membro associado da SBPRJ
Congresso terá 49 painéis e 12 cursos
Com o objetivo de ampliar o espaço de atuação psicanalítica em função de uma
crescente demanda social, a SBPRJ reuniu no Programa Psicanálise e Interface Social
(PROPIS) várias atividades destinadas à sociedade e, especificamente, às camadas
mais carentes da população, que vêm sendo desenvolvidas em parcerias com
diversos segmentos sociais.
O XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise, que será realizado entre 9 e 12 de
maio em Porto Alegre, apresentará uma série de atividades ligadas à prática
psicanalítica. Entre elas, 49 painéis, que serão debatidos em dez salas simultâneas, diariamente. Os painéis irão tratar de temas bastante atuais para
o profissional e o paciente, como “Tempo e subjetividade no mundo contemporâneo”, “O sentido da vida: o desafio do suicídio”, entre outros. A comissão
organizadora definiu também a realização de 12 cursos, entre eles: ”Teoria da
Técnica em Freud”, “De que sujeito fala Lacan”, e “Teoria da Técnica na Psicologia Psicanalítica do Self”.
O PROPIS vem ao encontro de uma preocupação da Brasileira do Rio em não se alhear
àquilo que pode e deve ser uma contribuição da Psicanálise para a diminuição da
violência, melhoria da saúde mental e qualidade de vida da população brasileira. Além
disso, a inciativa, atende à Declaração Universal dos Direitos do Homem proclamada
pela ONU, finalidade da SBPRJ, definida no capítulo I, artigo 1º do Estatuto.
Atualmente, o PROPIS desenvolve os seguintes projetos:
Além dessa agenda, o Congresso, que tem como tema central “Prática Psicanalítica - Especificidades, Confrontações e Desafios”, promoverá também
bastante reflexão sobre assuntos da atualidade que mobilizam hoje os
psicanalistas, debate de casos clínicos em pequenos grupos e temas livres.
Esta edição do evento apresenta uma novidade: haverá troca de idéias sobre
atividades com a comunidade.
1. Vi-vendo a cidade - oficinas com crianças de comunidades de baixa renda
do Rio de Janeiro, líderes comunitários e educadores, visando a inclusão social e
construção de cidadania, sob a coordenação de Maria Teresa Naylor Rocha.
2.“Clínica Pais-bebês” - modalidade clínica de atendimento a pais e bebês num
tríplice enfoque: prevenção, diagnóstico e terapêutica precoce, favorecendo uma
maior integração com a comunidade no contato com creches, escolas, hospitais e
profissionais da primeira infância, sob a coordenação de Eliane Pessoa de Farias.
Exposição
3.“O viver e a doença” - grupos operativos com familiares de portadores de
mucoviscidose no Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz do
Ministério da Saúde, visando melhoria da qualidade de vida dos pacientes e suas
famílias, sob a coordenação de Sonia Bromberger.
Outra atividade será uma exposição de pôsteres, que tem como objetivo criar
uma oportunidade para que a comunidade psicanalítica entre em contato com
pesquisas e trabalhos desenvolvidos em diferentes regiões do país, que serão
apresentados nos pôsteres.
4.“Agentes Sociais da Liberdade” - grupos operativos com egressos do sistema
penitenciário encaminhados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio
de Janeiro para apóia-los no processo de reintegração à rede social extra-muros,
sob a coordenação de Flavia C. Strauch.
Para enviar as peças, é necessário seguir algumas orientações, como dimensão
definida em 1m de altura por 90 cm de largura, nome do autor (com pequeno
currículo) e Instituição a que é filiado, além de um texto explicativo, com ilustrações (gráficos, desenhos, imagens, etc).
5.“Escutar e Pensar” - programas radiofônicos transmitidos pela Radio Ministério
da Educação e Cultura do Rio de Janeiro tratando de temas da vida quotidiana,
familiar, social e profissional, objetivando difundir as concepções psicanalíticas,
sob a coordenação de Sonia Eva Tucherman.
A data limite para o encaminhamento do pôster é 31 de março de 2007. O
material deverá ser enviado por e-mail para avaliação e seleção, no endereço:
[email protected]. Mais informações no site: www.abp.org.br
6.“Perguntar e Pensar” - programas radiofônicos com as mesmas características
do “Escutar e Pensar”, visando prioritariamente o público infanto-juvenil, sob a
coordenação de Sonia Eva Tucherman ( em elaboração).
Núcleo de BH amplia atuação
7.“Ler e Pensar” - edição, no prelo, de três livros: Família, Sexualidade e
Sentimentos, pela Editora Mauad do Rio de Janeiro, com material escrito pelos
psicanalistas para os programas radiofônicos para divulgação da psicanálise, sob a
coordenação de Sonia Eva Tucherman.
Desde que a nova diretoria no Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte tomou posse, as
suas atividades do estão sendo ampliadas na cidade. Eliane de Andrade, Sérgio Kehdy e
Edna Pires Guerra Torres vêm se empenhando para realizar mensalmente os “Diálogos
Psicanalíticos”, sessões de debate teóricos. Os encontros contam com psicanalistas de
outras instituições para apresentação de trabalhos e discussão com a platéia.
8.“Projeto DEGASE” - grupos operativos com agentes penitenciários do
Departamento Geral de Ações Socio-Educativas, da Secretaria de Estado da Família
e da Assistência Social do Estado do Rio de Janeiro- que abriga adolescentes e
jovens apenados para discussão de temas introduzidos pelos CDs dos programas
“Escutar e Pensar”, visando psicanalista Sonia Eva Tucherman.
Em dezembro, foi realizada a jornada “Psicanálise hoje: desafios e implicações clínicas”,
com a presença da secretária geral da IPA, dra. Mônica Armesto, do presidente da ABP,
dr. Pedro Gomes, de colegas da SPRJ e da SBPSP, além de autoridades da saúde e
educação locais.
9.“Mais uma vez... Era uma vez” - atividade de leitura de histórias infantis
desenvolvida na biblioteca da SBPRJ com grupos de crianças em idade préescolar e escolar das comunidades circundantes, utilizando a literatura como
instrumento facilitador na comunicação, na socialização, na educação e no
desenvolvimento psíquico, sob a coordenação de Celmy Quilelli Correa.
Além disso, o NPBH vem mantendo grupos de estudos e em março oferecerá um curso
de psicoterapia para a comunidade. Em 2007, o Núcleo completa 15 anos de existência.
Para comemorar, será realizado na cidade o encontro da ABP, encontro de núcleos da
IPA e outras atividades.
SBP de Ribeirão Preto escolhe nova diretoria
No dia 1 de dezembro de 2006, tomou posse a nova diretoria da SBPRP, composta por
Pedro Paulo de Azevedo Ortolan (presidente), Maria Auxiliadora Campos (secretária),
Guiomar Papa de Moraes (tesoureira), Maria Bernadete Amêndola Contart de Assis
(diretora científica), José Cesário Francisco Júnior (diretor do instituto) e Sônia Maria
Mendes Eleutério Mestriner (secretária do Instituto). Durante a cerimônia de posse,
Leopoldo Nosek apresentou uma conferência enfocando suas idéias e pensamentos
sobre a prática analítica.
Capsa leva analistas ao exterior
O presidente da ABP, Pedro Gomes, realizou palestra na Sociedade Portuguesa de
Psicanálise no último dia 9 de fevereiro, durante a Jornada Clínica ˆ 2007. Paralelamente,
Ruggero Levy, presidente da SPPA, esteve na Itália, fazendo conferências.
12
abp_32-3.indd 12
2/23/07 11:48:36 AM
Notícias e Programação
Associação Brasileira de Psicanálise
Núcleo de Marília
atende baixa renda
Comunidade
A Coordenadora do SOE (Serviço de Orientação e Encaminhamento) do Núcleo
de Psicanálise de Marília e Região, dra. Maria Regina Viegas de Almeida, está
oferecendo atendimento psicoterápico de orientação analítica à população de
baixa renda. O objetivo inicial do projeto é o aprimoramento dos terapeutas. A
procura por parte da população tem sido bastante satisfatória.
O Núcleo de Psicanálise de Marília e Região (NPMR), por meio do Setor de Serviços
à Comunidade, está oferecendo um Curso de Especialização em Psicoterapia
Psicanalítica (CEPP), realizado em parceria com o Centro Educacional UNIVEM,
mantido pela Fundação Eurípedes Soares da Rocha de Marília. O conteúdo visa
proporcionar ao profissional, psicólogo ou médico, recursos teóricos e clínicos
para exercer a prática em Psicoterapia Psicanalítica.
Já a Comissão de Cultura do Núcleo, com o objetivo de debater diferentes
aspectos das relações humanas contemporâneas, organizou uma série de
atividades periódicas que visam refletir a relação entre cultura e psicanálise. A
Comissão três dessas atividades que estão sendo realizadas em parceria com a
Comissão de Cultura da Associação Paulista de Medicina/Marília:
A cada dois anos é feita seleção para início de novas turmas, tendo a segunda
turma começado em 2005. Segundo Kátia Burle dos Santos Guimarães,
membro associado da SBPSP e Coordenadora do CEPP do NPMR/UNIVEM,
As monografias apresentadas ao final do Curso foram de boa qualidade e
vários alunos em seus depoimentos referiram-se ao CEPP como “um divisor
de águas” em suas atividades clínicas.
Cine-debate-É um projeto mensal, que exibe longas-metragens seguidos de
debates e que busca apresentar um breve mosaico do cinema mundial, refletindo
sobre importantes questões da sociedade atual.
Outros cursos
Fevereiro:
“A Língua das Mariposas” (Espanha) – Debatedores: Pedro Pagni (professor
doutor em Filosofia da Educação/UNESP) e Zilda M. Tosta Ribeiro (pediatra,
professora da FAMEMA e membro da APM-Marília).
O Núcleo vem promovendo também eventos científicos para seus membros,
agregados e alunos do Curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica.
Em fevereiro começa e vai até outubro mais um curso mensal, intitulado “A
Evolução do Pensamento de Freud”. Será ministrado por Márcio de Freitas
Giovannetti, analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
O curso faz parte da programação de Educação Continuada e é oferecido às
pessoas que já passaram pelos cursos de Especialização e tem interesse em
continuar seus estudos.
Março:
“Osama” (Afeganistão) – Debatedores: Sônia M. M. Guirado (psicoterapeuta de
Base Psicanalítica e professora e metre em Psicologia Clínica/ UNESP) e Wilton
Carlos Lima da Silva (professor e doutor em História/ UNESP).
Abril:
“A Outra” (EUA) – Debatedores: Carla M. B. Bittencourt (psicóloga e analista
em formação na SBPSP), Gisele S. Demarchi (psicóloga clínica e agregada do
NPMR) e Rosa Dantas (psiquiatra, analista em formação na SBPSP e professora
da FAMEMA).
Cursos de Teoria Psicanalítica têm sido oferecidos mensalmente para estudantes
e profissionais. Ministrados pelos membros do Núcleo de Psicanálise de Marília
e Região e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Nesse ano
de 2007, os temas para os estudantes referem-se à questões básicas sobre
Psicopatologia; para os profissionais a proposta é estudar os desenvolvimentos
na clínica. A Comissão de Divulgação dos cursos é formada por Cacilda Grama
P. Villas Boas, psiquiatra candidata do Instituto da Sociedade Brasileira de
Psicanálise de São Paulo, Silvana Maria Francisco Neves do Amaral, candidata
do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Maria Regina
Viegas de Almeida, psiquiatra candidata do Instituto da Sociedade Brasileira
de Psicanálise de São Paulo.
Maio:
“Lavoura Arcaica” (Brasil) – Debatedores: Paulo Celso S. Moreira (médico
cardiologista) e Cibele M. M. B. Brandão (analista, membro da SBPSP e
presidente do NPMR).
Junho:
“Eroica” (Inglaterra) – Debatedores: Gisele S. Demarchi (psicóloga clínica e
agregada do NPMR) e Ubirajara R. A. Marques (professor e doutor em Filosofia/
UNESP e regente do Coral Boca Santa de Marília).
Biblioteca
Ciclo de Cinema-Esta atividade busca homenagear grandes diretores da nona
arte, através do diálogo entre psicanálise e arte cinematográfica. Cada ciclo
apresenta de três a quatro obras selecionadas da filmografia de um mesmo
cineasta, com reflexões do público e de um psicanalista convidado após as
exibições. O projeto inaugural foi “Ciclo Stanley Kubrick”, com periodicidade de
um filme por mês e com a seguinte programação:
A Comissão de Biblioteca, que iniciou suas atividades em dezembro de
2004 sob a coordenação de Silvia Cristina Santos Aoki Tardim, candidata do
Instituto da SBPSP, conta com a participação de mais cinco agregados. São
eles: Angelina Menon Oliveros, Carlos Fernando Paes Favalli, Edna Carlos de
Souza Cardoso, Gisele dos Santos Demarchi e Melina Roquete Vaz, todos
psicólogos agregados do NPMR.
Junho:
“De Olhos Bem Fechados” (1999) – Convidado: dr. Márcio de Freitas
Giovannetti (analista Didata da SBPSP).
Também foi firmada uma parceria com o curso de Biblioteconomia da UNESP
de Marília, de modo a dar início à organização da biblioteca. Desde então os
universitários, através de estágio curricular, vêm catalogando e organizando o
acervo, composto por cerca de 400 exemplares. O objetivo é tornar a biblioteca
um espaço de incentivo ao estudo, pesquisa, discussão e produção científica
e cultural da instituição. Um das metas para incrementar o acervo é passar a
transcrever alguns eventos que as demais comissões do NPMR realizam.
Agosto: “Laranja Mecânica” (1971) – Convidado: dr. Alfredo Menotti Colucci
(analista Didata da SBPSP).
Setembro: “2001: Uma Odisséia no Espaço” (1968) – Convidado: dr. José
Antonio Pavan (analista Didata da SBPSP).
Tardes de Sábado
Temas relacionados ao universo cultural são discutidos em evento bimestral,
que trabalha com enfoques diversos como filosofia, antropologia, etc. O contato
estabelecido entre convidado e público serve como oportunidade para a
interação de outros saberes com a psicanálise. Os títulos mais recentes foram:
“Individualidade e Subjetividade” (convidado: Jayme Wanderley Gasparoto
– prof. e doutor em Sociologia); “Nietzsche: pensador da cultura” (convidado:
Márcio Benchimol de Barros – prof. e doutor em Filosofia); “Literatura e
Formação Humana” (convidada: Maria do Rosário Longo Mortatti – profª. Livre
Docente em Letras).
Núcleo de Natal tem nova direção
Foi eleita a nova diretoria do Núcleo Psicanalítico de Natal para o biênio
2007/2008: Maria Luiza Lavigne (presidente), Eduardo Afonso (diretor
Científico), Jurandir Carvalho (diretor Administrativo) e Salatiel Silva
(diretor Financeiro).
Integram a Comissão de Cultura do Núcleo: Carla Maria Brás Bittencourt, Carlos
Fernando Paes Favalli, Gisele dos Santos Demarchi, Rosa Maria Batista Santas,
Regina de Baptista Colucci e dra. Zilda Maria Tosta Ribeiro, diretora Social da
Associação Paulista de Medicina Marília.
A Clínica Social dr. George Lederman, sob a coordenação do Salatiel Silva,
encontra-se em plena atividade. No último ano do Curso de Formação
Psicanalítica da sua primeira turma, o NPN, em comemoração aos 150 anos
do nascimento de Freud, lançou também no dia 8 de dezembro passado, o
seu jornal, Pensamentos Imperfeitos.
13
abp_32-3.indd 13
2/23/07 11:48:37 AM
Notícias e Programação
Associação Brasileira de Psicanálise
IPA faz em julho congresso em Berlim SBPRJ elege nova diretoria
Dr. Claudio Laks Eizirik
Presidente da IPA - International Psychoanalytical Association
No dia 18 de dezembro de 2006 foi eleita a nova diretoria da SBPRJ. O Conselho
Diretor, que vai dirigir a entidade no biênio 2007-2008, é dirigido por Altamirando
Matos de Andrade Jr, eleito presidente. A vice-presidência ficou com Maria Helena
Rego Junqueira. Completando a nova equipe estão Bernard Miodownik (secretário),
Letícia Tavares Neves (tesoureiro), Sônia Eva Tucherman (diretor do Instituto),
Ruth Lerner Froimtchuk (vice-diretor do Instituto), Miriam Fichman Fainguelernt
(secretária do Instituto), Maria da Conceição Moraes Davidovich (diretor do Conselho
Científico), Sérgio Eduardo Nick (diretor do Conselho Profissional) e Admar Horn
(diretor da Clínica Social e Centro de Estudos Psicanalíticos).
Oitenta e cinco anos depois do congresso internacional realizado em Berlim, em 1922,
a IPA voltará a se reunir em julho nesta cidade, que representa um marco histórico
em que momentos trágicos, terríveis e sublimes se mesclam com um presente cheio
de progresso e expressões artísticas destacadas. Sob o tema geral “Recordar, repetir e
elaborar na psicanálise e na cultura hoje“, um abrangente e qualificado programa de
atividades científicas e culturais está pronto para acolher e estimular a reflexão e o
debate sobre este desafiador tema e outros a ele relacionados.
Calendário de eventos
Uma impressionante quantidade de propostas de painéis e trabalhos individuais foi
apresentada, levando a um cuidadoso processo de seleção. Conferências, debates,
encontros com autores destacados, outorga de prêmios, reuniões dos comitês e do Board
da IPA, a possibilidade de estreitar contatos, discutir e fazer novos relacionamentos, no
cenário de uma cidade fervilhante, oferece uma oportunidade ímpar para participar da
construção coletiva de nossa disciplina, em seu 45º encontro internacional.
22/03/07– Reunião Certifica com o presidente da ABP, Pedro Gomes – “Psicanálise
relacional contemporânea: uma nova forma de trabalhar em psicanálise”
29/03/07– Sessão Clínica com Ney Marinho
26/04/07–Reunião Científica com Maria de Lourdes Monteiro de Salles (SBPRJ), Osmar de
Salles (SPRJ) e Ronaldo Victer (SPRJ) – “A teoria de sistemas intersubjetivos”
03/05/07– Sessão Clínica com Luiz Fernando Chazan
4/05/07– Reunião Científica com Vera Bulak – “Alice e o lagarto: uma abordagem
psicanalítica nos distúrbios alimentares”
28/06/07- Reunião Científica com Elie Cheniaux Jr – “Interface entre psicanálise e
neurociência”
05/07/07- Sessão Clínica com Eliane Pessoa de Farias
Além desta programação, está sendo organizado um Encontro Clínico entre SBPRJ e
SBPSP ainda para o primeiro semestre.
Todos os dados gerais sobre o programa, as inscrições e a reserva de hotéis estão
disponíveis no site da IPA, através do qual um número crescente de colegas já está se
inscrevendo. Se acrescentarmos a isto a realização do XXV Congresso da ABP, em Porto
Alegre, com um estimulante programa científico, podemos antever que 2007 será um
ano em que a psicanálise internacional continuará produzindo e refletindo, com sua
vitalidade e criatividade para enfrentar os desafios do presente e construir seu futuro.
Informações e inscrições: www.ipa.org.uk
O Comitê de Mulheres e Psicanálise ( Cowap ) da Associação Internacional de Psicanálise
( IPA ) promove dias 23 e 24 de março,no Rio de Janeiro, o VI Diálogo Latino-Americano
Intergeracional entre Homens e Mulheres. O tema deste encontro será “Corpo e Subjetividade”.
O encontro, na sua organização, conta com a co-chair da América Latina, Teresa Lartigue
Vives, do México, Mariam Alizade, da Argentina, e Teresa Haudenschild, do Brasil.
O núcleo do comitê local é composto de representantes das quatro sociedades
psicanalíticas do Rio de Janeiro, filiadas à IPA: Rosa Sender Lang (Rio 1), Maria Cristina
Amendoeira (Rio 2), Débora Regina Unikowski (Rio 3) e Nanci Gaspar Moura (Rio 4).
Há também a participação de representantes da Cowap de São Paulo (SBPSP) e da
Associação Brasileira de Psicanálise (ABP).
O objetivo é debater o porquê do predomínio do corpo em detrimento de uma
interioridade e vínculos afetivos. A clínica psicanalítica vem testemunhando uma busca
obsessiva pelo controle do corpo no sujeito da contemporaneidade. Desde a renascença
o corpo humano é continuadamente desvelado na história e na arte. Os avanços da
Medicina, as manipulações do DNA, levantam novas questões na ordem do pensamento,
da ética, da política, da religião e de fenômenos culturais jamais pensados. O corpo
tornou-se campo privilegiado de experimentações, sofrendo inumeráveis intervenções.
O presidente da IPA, Cláudio Eizirik, fará a abertura dos trabalhos e teremos a participação
dos professores Sérgio Paulo Rouanet e Ivo Pitanguy.
Informações pelos site da SPRJ; SBPRJ; APRIO 3 e APERJ- Rio 4 ou pelo telefone da SPRJ:
(21) 25434998.
MG: Posse na Associação de Médicos Escritores
No dia 12 de fevereiro, o médico e psicanalista Sebastião Abrão Salim estará tomando
posse na presidência da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – MG. O evento
acontecerá na Associação Médica de Minas Gerais. Uma das metas do novo presidente
é reunir e lavar os escritores e membros da ABP para interagir com outras instituições e
agregar valor com outras formas de arte.
SPR tem nova diretoria
A Sociedade Psicanalítica de Recife realizou em 14 de dezembro de 2006 a eleição e
posse da nova diretoria para o Biênio 2007/2008, sendo eleito presidente a psicanalista
Ivanise Ribeiro.
Após a eleição, dr. Alirio Dantas Jr, que agora faz parte do Conselho Consultivo, agradeceu
a todos pelo apoio recebido durante a sua gestão e em seguida foi homenageado pela
nova diretoria com uma placa de agradecimento. Foram homenageadas também a
dra. Lenice Sales e o dr. José Lins de Almeida, por suas contribuições à psicanálise no
Nordeste do Brasil, e a Maria Eunice Marinho, pelo extenso trabalho desenvolvido no
sentido de incentivar o compromisso dos candidatos quanto à formação psicanalítica.
Um minuto de silêncio foi feito por um ano da morte do psicanalista Antônio Carlos
Soares de Escobar, referendado como um grande colaborador da SPR.
MS tem mudança no Conselho Diretor
As atividades da SPR para o ano de 2007 se encontram em fase de planejamento pela
Nova Diretoria, ficando para o mês de março o início da sua execução com o evento
Psicanálise e Cinema. Os membros da nova diretoria são: presidente: Ivanise Ribeiro;
secretário: Austregésilo Castro; tesoureira: Lúcia Antunes Rodrigues; diretora científica:
Mabel Cavalcanti; diretora do Instituto: Maria Eunice C. Marinho; Comissão de Ensino:
Maria Arleide da Silva, Maria Inês Mendonça, Magda Passos e Suzana Tonin; e Conselho
Consultivo: Alirio Dantas Jr, Adalberto Goulart e Paulo Marchon.
A Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul (Provisória) tem um novo Conselho
Diretor (2007-2008), eleito em 1º de novembro passado e referendado em Assembléia
Geral Ordinária em 13/12/2006.
O Conselho é composto pelos seguintes membros: presidente: Gleda Brandão Coelho
M. Araújo; secretaria: Miriam Catia Bonini Codorniz; tesoureira: Maria Auxiliadora S.
Marques; diretor do Instituto de Psicanálise: Lenita Osorio Araujo; diretor científico:
Maria de Fátima Chavarelli; Departamento Assistência Psicológica: Terezinha Alcântara
Silva; Comissão de Avaliação e Progressão de Membros: Marcia Regina Mendes Ibraim;
delegada junto à ABP: Miriam Catia Bonini Codorniz; delegada junto à Fepal: Leila
Tannous Guimarães; IPA Liaison Committee : H. Gunther Perdigão (Chair), Pablo A.
Cuevas Corona e Marcos Gheiler.
APRio-3 promove palestras
O ano começou com muitas atividades na APRio-3. No dia 4 de janeiro, foi realizada a
Reunião Científica - “Primeiras Etapas de Contato e Formação da Relação Analítica”, cujo
apresentador foi José Carlos Zanin, membro efetivo com funções didáticas da APRio-3. E,
no dia 18, houve outra Reunião Científica, sob o tema “Algumas Vinhetas para se conversar
sobre a Questão da Identidade”, que teve como apresentador José Luiz F. Petrucci, membro
efetivo e analista com funções didáticas da SBP de PA. No cerne das discussões estiveram
a clínica, a função e a identidade do analista e do par analista-analisando.
Seminários do Instituto
Os 32 seminários previstos para o 1º Semestre de 2007, das 3ª e 4ª Turmas de Candidatos
do Instituto de Psicanálise da SPMS, terão inicio em 27 de fevereiro de 2007.
14
abp_32-3.indd 14
2/23/07 11:48:39 AM
Diretoria, Conselhos e Comissões
Associação Brasileira de Psicanálise
XXI Congresso debaterá “cura”, “transformações” e “construções”
Telma Barros
Diretora Científica
Através de cursos, de discussão de casos clínicos e um grande número
de temas a serem debatidos em mesas redondas, estaremos empenhados
em conhecer a produção científica e os desenvolvimentos alcançados
na prática clínica, frente às Confrontações e Desafios que nos são
apresentados na atualidade. Desta forma, estaremos contribuindo para
comprovar que a Psicanálise continuará a existir na medida em que a sua
Especificidade seja preservada e, ao mesmo tempo, ela possa também se
beneficiar dos avanços e aprofundamentos realizados, assegurando assim
sua possibilidade de seguir constantemente sendo reinventada.
Nos dias 9 a 12 de maio de 2007 nós, psicanalistas brasileiros, membros da
ABP e candidatos dos Institutos das Sociedades componentes, temos um
encontro marcado. A diretoria da ABP, juntamente com o Conselho Científico
e as Comissões Organizadoras, está finalizando o programa do XXI Congresso
Brasileiro de Psicanálise da ABP, que terá como tema central “Prática
Psicanalítica – Especificidades, Confrontações e Desafios”.
O evento será realizado no Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre. O local
escolhido segue o movimento natural de sediar o Congresso nas diferentes
regiões onde a psicanálise tem prosperado e gerado Sociedades Componentes
da ABP, FEPAL e IPA. No Rio Grande do Sul, terra que nos deu o primeiro
analista brasileiro a assumir a presidência da IPA tem se mostrado como
solo fértil para a produção e desenvolvimento do pensamento e prática da
Psiquiatria e Psicanálise, desde os primeiros tempos da Psicanálise no Brasil.
Sabemos que a prática psicanalítica em seus aspectos teórico-clínico
exige de nós analistas, um trabalho contínuo de reflexão e elaboração
de nossos recursos, em nossa função analítica, de forma que possamos
utilizar nosso instrumento de trabalho com mais eficácia. Esta parece ser
uma das motivações que temos para a realização de nossos congressos,
ou seja, a de investir no intercâmbio de idéias e experiências, com vistas
ao aprimoramento da clínica psicanalítica, que constitui o alicerce de
nossa identidade profissional.
Nesse cenário, nós, organizadores, encontramos o acolhimento, entusiasmo
e colaboração fundamentais para a geração de um Congresso que venha a
atender aos anseios de todos. Esperamos que o empenho, os cuidados e o
carinho que estamos dedicando à organização do evento possam encontrar
em cada um dos colegas a ressonância, motivação e mobilização na direção
desse encontro marcado.
Durante os dias do Congresso, estaremos investigando a nossa prática,
compartilhando idéias, inquietações e descobertas, na tentativa de aprofundar
nossos questionamentos em torno de temas relativos à teoria e técnica
psicanalítica e noções como as de “Cura”, “Transformações” e “Construções”,
em análise. Em foco, estarão a pessoa do analista, sua formação, seus recursos
pessoais e sua experiência de interação com distintas estruturas de pacientes
no cenário analítico.
Por esse motivo, é importante que cada Sociedade possa preparar-se e
contribuir com o seu melhor. Desta forma poderemos ter um Congresso
que permaneça entre nossas melhores lembranças. A cidade de Porto
Alegre nos espera e oferece recantos encantadores a serem descobertos e
desfrutados pelos que a visitam. Assim como o Hotel do Congresso, Porto
Alegre reúne tradição e modernidade, em uma harmonia que surpreende.
Se por um lado a beleza natural já é reconhecida e amplamente divulgada,
por outro, o ambiente cultural e gastronômico seduz e agrada até os mais
exigentes visitantes. Lá nos encontraremos!
Regulação do exercício da Psicanálise no Brasil
Jair Escobar
Diretor de Exercício Profissional
Em reunião do Conselho de Representantes da ABP, realizada no Rio de
Janeiro em 26 de novembro de 2006, debateu-se acerca das alternativas de
regulação do exercício da psicanálise no Brasil. Na oportunidade, dandose seguimento aos trabalhos iniciados no âmbito do Conselho Profissional
da ABP, foi apresentado pelo dr. Carlos Klein Zanini estudo identificando a
questão da regulação como problemática recorrente em diferentes países,
assim reconhecida pela própria IPA.
que acabou ensejando sua rejeição, à vista dos riscos de interferência do
Estado sobre a definição dos próprios contornos da psicanálise.
Decidiu-se então buscar a construção de um modelo em que o
‘credenciamento’ ficaria a cargo de um Conselho, formado pela
congregação de entidades psicanalíticas. Com isso, ficaria afastada a
interferência do Estado, e a regulação do exercício da psicanálise no
Brasil se deslocaria para as próprias entidades, em um processo cuja
principal característica seria a de uma espécie de auto-reconhecimento.
Tendo presente a universalidade do problema, foram apresentadas as
experiências havidas em países como França e Itália, com o propósito de
fomentar o debate e, eventualmente, inspirar a construção de um modelo
para o Brasil. Neste sentido, foram discutidas as dificuldades inerentes a
qualquer tentativa de regulação, sentidas especialmente no tocante à
fixação do critério de acesso ao exercício da psicanálise, que poderia tanto
residir na necessidade de uma formação específica (Medicina, Psicologia,
etc), quanto na necessidade de associação a determinada entidade.
Estamos esboçando um modelo, que estabeleça princípios básicos
comuns de um exercício da psicanálise baseado em uma conduta
ética é respeitosa. Assim que tivermos dados mais objetivos
estaremos compartilhando com o conselho de representantes os
passos seguintes desta questão.
Foram igualmente debatidas na reunião alternativas para o ‘credenciamento’
das entidades, cuja filiação outorgaria ao profissional a condição de exercer
a psicanálise. Em uma primeira alternativa – extraída do modelo francês – o
‘credenciamento’ adviria de órgão estatal (v.g. Ministério da Educação), o
15
abp_32-3.indd 15
2/23/07 11:48:40 AM
Cultura
Associação Brasileira de Psicanálise
O Caçador de Pipas
Resenha de
Eliane de Andrade
Membro efetivo e presidente do Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte, da SPRJ
ficando sozinhos, sem termos possibilidade de fazê-lo. De um lado, a omissão
constante, de outro, a dedicação incondicional. E por fim, as pipas, única
possibilidade de contato entre tudo o
que não se fez e tudo o que se pode
fazer. Mas ainda assim, as pipas funcionam como uma metáfora de uma cultura onde o importante é estar sozinho
nos céus, cortando com cerol tudo que
ameaçar este poderio solitário. E para
que isto aconteça é necessário ter um
séquito de servidores que submissamente te promovem ao lugar máximo,
viril, de existência única, sem concorrentes.
Khaled Hosseini, um afegão exilado nos
Estados Unidos, médico, estréia em 2003
na literatura com este “O caçador de pipas”, best-seller, centésima edição (o exemplar que li).
Considerado um romance, o livro trata,
sobretudo da culpa. Culpa da desigualdade social e étnica em um país, Afeganistão, que ficamos conhecendo pela
descrição minuciosa do autor, apontando
as belezas destruídas pelas invasões russa
e do Talibã. Culpa pela impossibilidade de
se lutar contra o poder descomunal que
arrasa uma cultura. Culpa por não se conseguir lutar contra o poderoso, que arrasa
nosso irmão amado, mas nos ameaçaria
caso o enfrentássemos.
Um belo livro que nos apresenta uma
cultura diferente da nossa, brasileira,
mas que, se bem analisada, revela as inúmeras semelhanças que o narcisismo
humano tem.
Através de seu protagonista, o anti-herói
Amir, somos convidados a nos posicionar
quanto ao que faríamos na mesma situação que este viveu. A covardia mais-quehumana e a coragem supra-humana, mas
mítica, nos é apresentada, como algo detestável, porém inelutável até certo ponto.
Posicionar-se em um país onde a força
bruta impera, tanto no nível do gover-no, quanto no nível das relações
interpessoais dominadas por códigos de comportamento ancestrais,
implica em colocar a nossa sobrevivência em risco. O autor nos aponta
então a saída egoística, mas que deixa seqüelas por toda a vida.
Uma história sobre a dominação pela
força e a possibilidade de redenção pelo
perdão. Talvez por isto, campeão de
vendas: a história estampa a natureza
humana no que ela tem de mais falível.
Em tempo, necessário se faz ressaltar a ausência da mãe na
história. Como não há mães, os homens tentam ocupar este lugar,
mas deixam a idéia de que se elas estivessem ali, talvez o cerol
pudesse ser retirado das linhas das pipas e estas pudessem conviver no céu, em harmonia.
Através da descrição da relação dos dois amigos da trama, vamos
tentando nos identificar em qual posição nos colocaríamos e acabamos
Nossos autores
O ABP Notícias está criando este espaço para divulgar a produção escrita dos psicanalistas, indicando o título da obra, editora e o nome do autor.
THEODOR LOWENKRON. “Psicoterapia psicanalítica breve”. 2ª. Edição, Artmed.
GLEY P. COSTA. “O Amor e seus Labirintos” Porto Alegre: Artmed, 2007.
ANTONIO CEZAR PELUSO e ELIANA RIBERTI NAZARETH “Psicanálise, Direito e Sociedade: Encontros possíveis” São Paulo: Quartier Latin, 2006.
SEBASTIÃO ABRÃO SALIM. “Risa - do Holocausto à Terra Santa”, Romance, Sografe Editora, 2006.
16
abp_32-3.indd 16
2/23/07 11:48:44 AM

Documentos relacionados