Efeito da barragem de Manso sobre a inundação em matas ripárias
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Efeito da barragem de Manso sobre a inundação em matas ripárias
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CURSO DE MESTRADO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Efeito da barragem de Manso sobre a inundação em matas ripárias na bacia do Rio Cuiabá. Ricardo Keichi Umetsu. Cuiabá – MT 2004 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CURSO DE MESTRADO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Efeito da barragem de Manso sobre a inundação em matas ripárias na bacia do Rio Cuiabá Ricardo Keichi Umetsu. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Cuiabá – MT 2004 Orientador Prof. Dr. Pierre Girard. Banca Examinadora ________________________________________________________ Prof. Dr. Pierre Girard Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas Instituto de Biociências – Universidade Federal de Mato Grosso Presidente ________________________________________________________ Profa. Dra. Carolina Joana da Silva Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas Instituto de Biociências – Universidade Federal de Mato Grosso ________________________________________________________ Prof. Dr. Walter Collischonn Instituto de Pesquisas Hidráulicas – IPH Universidade Federal do Rio Grande do Sul ________________________________________________________ Dr. Auberto Siqueira Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEMA-MT Dedico Àquelas que são as pessoas mais importantes que tenho na vida: Meus Pais Kenichi Umetsu e Dolores Umetsu. Minhas Irmãs Silvania Sanae Umetsu e Cristiane Akemi Umetsu. Agradeço A Universidade Federal de Mato Grosso, por disponibilizar o Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. A Deus, por me acompanhar durante toda minha vida. Aos meus pais Kenichi Umetsu e Dolores Umetsu, alicerces da minha vida e pelo qual sem eles não teria conseguido chegar até aqui. As minhas irmãs Silvania Sanae Umetsu e Cristiane Akemi Umetsu pelo companheirismo, amor e confiança. Aos meu cunhado Maxsuel Celante pela amizade e companheirismo. Ao Prof. Dr. Pierre Girard pela orientação e acima de tudo por me proporcionar adquirir experiência e conhecimentos extremamente importantes para minha vida. Ao Dr. Auberto Siqueira pelas dicas e colaborações que foram de extrema importância. Ao Prof. Dr. Walter Collischonn e ao Prof. Dr. André Silveira do Instituto de Pesquisas Hidráulica – IPH UFRGS, pela orientação e concessão do estágio. Ao Sr. Dornilho por permitir a realização da pesquisa em sua fazenda. A galera da pós-graduação do IPH – UFRGS. A Leandro Dênis Battirola pelo incentivo, amizade, companheirismo, dedicação e acima de tudo pela confiança a mim depositada. Valeu Garoto!!! A Adriana Pricila Ribeiro pelo apoio e ensinamentos. Ao Marcos Gonçalves Lhano pela amizade. A Márcia Cléia Vilela dos Santos pela amizade, companheirismo, dedicação, sinceridade, apoio e pela ajuda e dedicação nas coletas de campo. A Cândida pela amizade e ajuda nas coletas de campo. A Hélio Ferreira pela amizade, apoio, descontração e dedicação nas coletas de campo. A Jane Simoni pela amizade, companheirismo, confiança e pelas conversas altamente produtivas. A Anderson Assis de Faria grande amigão e companheiro por ter me ensinado indiretamente o quanto a vida é importante e precisa ser vivida. Ao meu grande amigo Calixto Ramos Corrêa Neto pela amizade e acima de tudo companheirismo e pelas longas conversas científicas e empíricas regadas a muita cerveja, churrasco e música sertaneja. Ao meu amigão Bernardo Simões Broetto (Tio Bê) que apesar de intoxicar meus alvéolos pulmonares passivamente com tanto cigarro, proporcionou uma grande amizade. A Karla Amorim pela amizade, companheirismo e principalmente por me mostrar indiretamente o quanto precisamos trabalhar e sermos responsáveis. A Atília Amorim, Patrícia Amorim e Seu Amorim pela amizade e carinho. A galera da república Toca dos Gatos Cláudio Adão de Faria, Cleyson Rodrigues da Silva e Fernando de Lima, pela amizade e companheirismo. A galera do pensionato Toca do Bin Laden Gustavo Molina, Gustavo Carneiro, João Vieira e Cláudio, pelos momentos de descontração e amizade. A todos os amigos de Alta Floresta e Cuiabá, não citarei nomes, pois estarei lembrando de alguns e esquecendo de outros não menos importantes. A toda galera da pós-graduação, valeu moçada. Ao Programa Norte de Pós-Graduação – PNO-PG, pelo apoio logístico na pessoa de Profa. Dr. Flávia Nogueira. A Rosemary Lopes da Silva pela amizade, paciência e prestatividade. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ – CTHIDRO) pela concessão da bolsa de estudos. Sumário Lista de Figuras......................................................................................................X Lista de Tabelas ...................................................................................................XII Resumo..............................................................................................................XIII Abstract .............................................................................................................XIV 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 01 2. OBJETIVOS. 2.1 – Objetivo Geral ........................................................................................ 05 2.2 – Objetivos Específicos ............................................................................... 05 3. MATERIAIS E MÉTODOS. 3.1 – Área de estudo ....................................................................................... 06 3.2 – Determinação do efeito da APM-Manso sobre a dimensão da área alagada e o tempo de permanência da inundação ...................................................... 08 3.2.1 – Aquisição dos dados fluviométricos ............................................... 08 3.2.2 – Freqüência das cheias.................................................................. 08 3.2.2.1 – Curva de permanência...................................................... 09 3.2.3 – Levantamento do perfil topográfico em cotas altimétricas reais ....... 10 3.2.4 – Descrição da geomorfologia fluvial na área de estudo. ................... 10 3.2.5 – Transformação dos hidrogramas em cotas altimétricas reais ........... 11 3.2.6 – Descrição da seção transversal ..................................................... 11 3.2.7 – Determinação do nível de água na área de estudo ......................... 11 3.3 – Descrição da vegetação. 3.3.1 – Fitossociologia............................................................................. 11 3.4 – Solos ..................................................................................................... 15 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO. 4.1 – Levantamento Geodésico. 4.1.1 – Altitude real na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT.......... 16 4.1.2 – Altitude real na área de estudo..................................................... 16 4.2 – Dados fluviométricos da estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT......... 18 4.2.1 – Freqüência das cheias na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT ......................................................................................... 17 4.2.2 – Curva de permanência .............................................................. 19 4.3 – Perfil topográfico e seção transversal da área de estudo na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT ..................................................... 20 4.4 – Modelo de cálculo do nível d’água na área de estudo ................................. 21 4.4.2 – Mapeamento da freqüência de inundação................................... 22 4.5 – Descrição da vegetação........................................................................... 24 4.5.1 – Análise de cluster ..................................................................... 24 4.5.2 – Fitossociologia.......................................................................... 25 4.5.3 – Estrutura de tamanho e distribuição em classes de circunferência 33 4.5.3.1 – Estrutura de tamanho...................................................... 33 4.5.3.2 – Classes de circunferência ................................................. 35 4.5.4 – Perfilhamento........................................................................... 37 4.5.5 – Aspectos sucessionais ............................................................... 38 4.6 – Matéria orgânica (M.O.) .......................................................................... 40 5. CONCLUSÃO .................................................................................................... 43 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 45 X Lista de figuras Figura 1 - Mapa da área de estudo, localidade de Rosário Oeste – MT, fazenda Novo Destino ................................................................................................ 06 Figura 2. Disposição do perfil topográfico na área de estudo Rosário Oeste – MT, fazenda Novo Destino ............................................................................10 Figura 3. Desenho esquemático das parcelas amostradas na área de estudo Rosário Oeste – MT, fazenda Novo Destino .........................................................13 Figura 4. Rio Cuiabá em Rosário Oeste: cota máxima anual 1966-2003 .....................17 Figura 5. Intervalo de recorrência das cheias na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT, 1966-2003, e relação com a magnitude...........................................18 Figura 6. Curva de permanência para a estação fluviométrica de Rosário Oeste - MT, 1966-2003 .............................................................................................19 Figura 7. Perfil topográfico em altitude real e descrição da geomorfologia fluvial na área de estudo, Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ..............................20 Figura 8. Seção transversal da estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT .............21 Figura 9. Modelo de inundação da área de estudo, Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino.................................................................................................. 22 Figura 10. Mapeamento da freqüência de inundação na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino .................................................................... 23 Figura 11. Análise de Cluster para sinúsia floresta na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino .................................................................... 24 XI Figura 12. Análise de Cluster para sinúsia sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ................................................................. 25 Figura 13. Número de indivíduos e cota topográfica para floresta e sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ............................. 26 Figura 14. Número de espécies e índice de diversidade de Shannon (H’) na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ................................. 27 Figura 15. Distribuição das espécies com maior IVI, no perfil topográfico, para sinúsia floresta na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino..... 29 Figura 16. Distribuição das espécies com maior IVI, no perfil topográfico, para sinúsia sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino .......................................................................................................... 30 Figura 17. Distribuição das classes de altura (m) dos indivíduos amostrados na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ................................. 34 Figura 18. Distribuição das classes de circunferência (cm) dos indivíduos amostrados na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ...................... 36 Figura 19. Número de indivíduos e perfilhos amostrados na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ...................................................... 37 Figura 20. Análise de Cluster para as sínusias floresta e sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ............................................ 39 Figura 21. Porcentagem de indivíduos mortos para a sinúsia floresta e sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ..................... 40 Figura 22. Número de indivíduos para floresta e sub-bosque e porcentagem de matéria orgânica na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino ... 43 XII Lista de tabelas Tabela 1 – Dados do processamento geodésico na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT ........................................................................................ 16 Tabela 2 – Dados do processamento geodésico na área de estudo, Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino .......................................................................... 16 Tabela 3 - Cotas observadas e calculadas para calibração do modelo hidrológico ...... 22 XIII Resumo Um perfil topográfico de 550 m foi realizado perpendicularmente ao Rio Cuiabá, em um trecho do município de Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino, juntamente com estudos fitossociológicos, em 10 parcelas de 50x20 m; hidrológicos, através de dados de 1966 a 2003 de uma estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT, no rio Cuiabá; e pedológico, através de análise de matéria orgânica, para analisar a influência da inundação sobre a distribuição da vegetação ripária. Através do modelo hidrológico de remanso – regime subcrítico, foi calculado o nível d’água na área de estudo, obtendo-se os intervalos de recorrências das cheias. O canal principal, canal secundário e dique marginal, planície de inundação e terraço foram determinados com seus respectivos intervalos de recorrência de cheias, sendo de ∼1 – 1,7 anos, ∼1,77 – 2,8 anos, ∼3 anos e de ∼3,25 a ∼39 anos, respectivamente. Para a floresta, as espécies Combretum leprosum Mart. (Combretaceae), Callisthene fasciculata (Spr.) Mart. (Vochysiaceae), Licania parvifolia Huber (Chrysobalanaceae), Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze. (Lecythidaceae), Vochysia divergens Pohl. (Vochysiaceae), apresentaram maior Índice de Valor de Importância (IVI) para as parcelas 1, 2, 9 e 10, 3, 5 e 6, respectivamente. Já para sub-bosque as espécies C. leprosum, C. estrellensis, Calophyllum brasiliense Camb. (Clusiaceae), Protium heptaphylum (Aubl.) March. (Burseraceae), V. divergens, C. fasciculata, Machaerium hirtum (Vell.) Stellf. (Fabaceae), apresentaram maior IVI para as parcelas 1, 2, 3, 4, 5 e 6, 9, 10, respectivamente. As espécies encontradas no perfil topográfico correspondem o tempo de inundação a qual suportam, o que foi evidenciado pela formação de dois grupos distintos através da análise de cluster. XIV Abstract A topographical profile of 550 m was accomplished perpendicular to Rio Cuiabá, in a reach of the municipal district of Rosário Oeste - MT, Novo Destino farm, together with fitossocyologic studies, in 10 plots of 50x20 m; hydrological, through data from 1966 to 2003 of a hydrometric station of Rosário Oeste - MT, in the river Cuiabá; and pedologic, through analysis of organic matter, to analyze the influence of the flood on the distribution of the riparian vegetation. Through the hydrologic model - sub-critical regime, the level of water was calculated in the study area, being obtained the recurrence intervals of the floods. The main channel, secondary channel and levee, flood plain and terrace were certain with respective recurrence intervals of floods, being of ∼1 – 1,7 years, ∼1,77 – 2,8 years, ∼3 years e de ∼3,25 a ∼39 years, respectively. To forest, the species Combretum leprosum Mart. (Combretaceae), Callisthene fasciculata (Spr.) Mart. (Vochysiaceae), Licania parvifolia Huber (Chrysobalanaceae), Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze. (Lecythidaceae), Vochysia divergens Pohl. (Vochysiaceae), presented larger index importance value (IVI) for the plots 1, 2, 9 and 10, 3, 5 and 6, respectively. Already for sub-forest the species C. leprosum, C. estrellensis, Calophyllum brasiliense Camb. (Clusiaceae), Protium heptaphylum (Aubl.) March. (Burseraceae), V. divergens, C. fasciculata, Machaerium hirtum (Vell.) Stellf. (Fabaceae), presented larger IVI for the plots 1, 2, 3, 4, 5 and 6, 9, 10, respectively. The species found in the topographical profile correspond the time of flood that they support. The organic matter of the soil demonstrated not to be limited the distribution of the vegetation, that was evidenced by the formation of two different groups through the cluster analysis. 1. INTRODUÇÃO O Brasil apresenta uma extensa rede hidrográfica, cujas características têm proporcionado o seu aproveitamento energético. Atualmente, cerca de 90% da matriz energética brasileira é dependente dos recursos hídricos, e tal condição hidrológica e energética é reproduzida no Estado de Mato Grosso, pelas bacias do Araguaia – Tocantins, do Prata (Bacia do Alto Rio Paraguai) e Amazônica (Guaporé, Teles Pires – Tapajós e Juruena) que representam um potencial estimado em 16.000 MW, dos quais 2% encontram-se em operação e 1% em construção. No Brasil a bacia hidrográfica do Alto Paraguai cobre uma área de 361.666 km², com um potencial hidrelétrico ainda não estimado (Sonoda, 2001). Aproveitando esse grande potencial hidrelétrico que o Brasil dispõe, a construção de grandes hidrelétricas é iminente, uma vez que estas procuram responder a uma demanda sócio-econômica, que é a de proporcionar independência energética a preço relativamente baixo. No entanto, é conflitante com outros interesses da sociedade, principalmente no que diz respeito aos danos ambientais (Merona et al., 2001). Sendo assim, além da alteração hidrológica, definida por Rosenberg et al., (2000), como uma disrupção antropogênica na magnitude ou tempo natural do fluxo do rio, a construção de usinas hidrelétricas provoca mudanças ecológicas e sociais, as quais tem sido avaliadas em nível de escala local, regional e global. Em nível local e regional, Junk & Mello (1987) citam entre as principais mudanças: a translocação de populações humanas, perda de solos, perda de espécies de plantas e animais, perda de monumentos naturais e históricos, perda de recursos madeireiros, modificações na geometria hidráulica do rio, modificações na hidrologia e na carga sedimentar, mudanças florísticas e faunísticas abaixo e acima da represa, impactos para a pesca e aqüicultura, crescimento de macrófitas aquáticas, deterioração da qualidade da água, problemas sanitários e impacto no balaço global de CO2. Além disso, a WCD – World Commission on Dams - (Comissão Mundial sobre Barragens - 2000) relaciona vários grupos de maior impacto das barragens em ecossistemas fluviais, sendo: impactos sobre ecossistemas terrestres, principalmente no lado do rio localizado acima das barragens; emissão de gases de efeito estufa associado aos amplos projetos da barragem e de sua represa; impactos causando alterações dos 2 fluxos da corrente aquática em ecossistemas aquáticos e biodiversidade; alteração no ciclo natural do fluxo rio abaixo em planícies inundáveis; impactos sobre as áreas de piscicultura rio acima, na represa e rio abaixo; e impactos cumulativos sobre um sistema fluvial. Os impactos distintos das alterações hidrológicas incluem a fragmentação de habitats dentro dos rios represados (Dynesius & Nilsson, 1994); mudança do habitat à jusante, como perda de áreas úmidas adjacentes e deterioração, perdas de deltas de rios e estuários de oceano, zonas ripárias e planícies de inundação (Rosenberg et al., 1997). Junk et al., (1989) definem planície de inundação como “áreas que são periodicamente inundadas pelo transbordamento lateral de rios ou lagos, e/ou pela precipitação direta ou água subterrânea; o ambiente físico-químico resultante causa respostas morfológicas, anatômicas, fisiológicas, fenológicas, e/ou adaptações etológicas na biota, e produz estruturas de comunidade características”. A planície de inundação é denominada “zona de transição aquática/terrestre (ATTZ)”, porque alterna entre uma fase terrestre e uma aquática (Junk, 1999). Florestas ripárias são importantes contribuintes para a diversidade e função de ambos os ecossistemas aquáticos e terrestres. Habitats ripários tendem a incluir uma grande variedade de substratos, devido à diversidade e freqüência de processos geomórficos e outros distúrbios. Em muitos sistemas ripários, inundações ocorrem freqüentemente o bastante para acelerar as mudanças da vegetação. Como resultado, florestas ripárias tendem ter grande diversidade em composição de espécies e estrutura física (Gregory et al., 1991). Segundo Junk (1999) trabalhos de engenharia começaram antes que a ecologia da planície de inundação e a relação do canal do rio e a planície de inundação fossem suficientemente conhecidas. Hoje, décadas de experiência com rios sujeitados a medidas de controle da extensão da inundação indicam efeitos colaterais negativos sérios como erosão do canal e conseqüente rebaixamento do nível da água subterrânea, aceleramento da descarga, aumento da amplitude da inundação, bem como perdas de habitats, diversidade de espécies e da função de filtro entre outros (Poff et al., 1997). 3 As planícies de inundação são consideradas áreas de alta diversidade biológica, refúgios de espécies raras, de alto valor recreativo, alem de reservatórios e retenção de água durante a inundação, entre outros. Levando em conta as experiências de regiões temperadas, supomos que as espécies resistentes contra inundações periódicas serão substituídas por espécies de áreas não inundáveis. Plantas herbáceas vão reagir muito mais rapidamente do que árvores por causa de seu ciclo de vida mais curto (Junk & Mello, 1987). Processos sucessionais em florestas alagáveis dependem de perturbações periódicas por erosão fluvial e deposição, e a diversidade ecológica relativamente alta, típica em zonas ripárias, particularmente em regiões semi-áridas, é mantida pela modificação e construção de habitats (Johnson et al., 1976; Johnson, 1992; Marston et al., 1995 apud Douglas, 2000). A duração e o tempo de alagamento, o qual controla a erosão e a deposição, são também importantes fatores físicos de controle das comunidades de plantas ripárias (Scott et al., 1997; Toner & Keddy, 1997; Auble e Scott, 1998 apud Douglas, 2000). Estas comunidades vegetais promovem a manutenção da diversidade e a estabilidade de paisagens naturais provendo áreas de reprodução para aves migratórias e vida silvestre (Hunter et al., 1993), abrigando diversas espécies de animais e plantas (Doyle, 1990), mantendo e restaurando a qualidade da água subterrânea e superficial através do controle de fontes de poluição não pontual (Lowrance et al., 1997; Vought et al., 1994) através dos seguintes processos: retenção de sedimentos; preservação do canal da erosão excessiva; filtração e decomposição de nutrientes e poluintes através da alta atividade biológica; e melhorando a taxa de infiltração do solo. E atuando na morfogênese do canal fluvial (Hupp & Osterkamp, 1996; McKenney et al., 1995). Barton & Davies, 1993, demonstraram que a zona ripária protegida pode também diminuir significativamente a concentração de herbicidas nos cursos d’água de microbacias tratadas com tais produtos. Além disso, segundo Rodrigues & Filho, 2001, a mata ciliar ou ripária possui duas funções importantes, a função hidrológica (a mata protegendo o curso d’água) e a função ecológica (a mata protegendo a biodiversidade). Além disso, os ecossistemas ripários são comumente complexos, dinâmicos, diversos e possuem inúmeros valores econômicos, sociais e biológicos (Sharitz et al., 1992). 4 Por causa desses valores, estes ecossistemas representam os ambientes mais perturbados pela ação antrópica e com uma longa história de perturbação humana. Hoje, a maioria dos grandes rios do mundo possui seu regime hídrico regulado (Dynesius & Nilsson, 1994). Este regime condiciona estes ambientes e determina a evolução sucessional das comunidades de plantas ripárias e processos ecológicos (Nilsson & Svedmark, 2002). O mesmo, quando naturalmente variável, cria e mantêm a dinâmica dentro do canal e da planície de inundação e condiciona habitats que são essenciais as espécies aquáticas e ripárias (Poff et al., 1997). Plantas e animais aquáticos são adaptados a estas condições específicas. O represamento de um rio significa uma interrupção de um sistema aberto e de transporte por um sistema mais fechado e de acumulação. Conseqüentemente, a construção de uma represa representa um impacto fundamental para a geometria hidráulica de um rio, resultando em fortes modificações hidrológicas, hidroquímicas e hidrobiológicas, que não somente afetam a área do próprio reservatório, mas também a área abaixo da represa e, no caso da biota, até a área acima dela (Junk & Mello, 1987). Para tanto, dentro deste contexto, está a hidrelétrica de Manso, que começou a operar em outubro de 1999 e foi construída com a intenção de permitir a geração de eletricidade, para suprir água para irrigação, para mitigar efeitos da inundação à jusante e facilitar a navegação, além de incrementar o turismo e as atividades de lazer, sendo denominada por isso como APM – Manso (Aproveitamento Múltiplo de Manso), abrangendo uma área de 428 Km² e capacidade de geração de 210 MW. Está localizada no rio Manso, um dos principais afluentes do rio Cuiabá. Sendo assim, o nível máximo do Rio Cuiabá a partir daquela data passou a ser determinado pela APM-Manso e como provável conseqüência, algumas áreas deixarão de ser inundadas. Enfim, como a biodiversidade local é altamente dependente do pulso de inundação, tanto na sua amplitude espacial como temporal (Junk et al, no prelo), este conhecimento subsidiará os estudos dos efeitos da barragem sobre a biodiversidade. 5 2. OBJETIVOS 2.1 – Objetivo geral: A estrutura da comunidade vegetal ao longo do gradiente de inundação é limitada ou influenciada pela magnitude, freqüência e duração da inundação (Hupp & Osterkamp, 1996). Supõe-se que a barragem do Manso vem afetar estes parâmetros ao longo do Rio Cuiabá. Portanto, este trabalho propõe-se em verificar a existência de uma relação entre a distribuição da vegetação e a inundação lateral do rio Cuiabá. Assim sendo a hipótese de trabalho é que o regime de inundação é o principal determinante ecológico da distribuição da vegetação em mata ripária ao longo de um gradiente de inundação. Em conseqüência mudanças naturais ou antrópicas do regime de inundação poderiam influenciar nos processos de sucessão ecológica. 2.2 – Objetivos específicos: • Avaliar a dimensão, no ponto selecionado, da área inundada e o tempo de permanência da inundação no Rio Cuiabá antes e depois da operação da APMManso; • Avaliar como o alagamento (magnitude, freqüência, duração, extensão) influencia na distribuição da vegetação ripária; 6 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 – Área de estudo Para o estudo da relação entre a inundação e a distribuição da vegetação, através de métodos hidrológicos e fitossociológicos, foi selecionada uma área de estudo nas proximidades do município de Rosário Oeste, Mato Grosso, na Fazenda Novo Destino, situada nas coordenadas geográficas 14°47’23.200 S e 56°19’10.008 O (Figura 1), localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Cuiabá. Figura 1. Mapa da área de estudo, localidade de Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. De acordo com PCBAP (1997), a bacia do rio Cuiabá totaliza aproximadamente 29.000 km2 de área, com perímetro de 841 km, abrangendo as cabeceiras dos rios Cuiabá da Larga e Cuiabá do Bonito, que são formadores do rio Cuiabá até a confluência do rio Coxipó-Assú, pouco a jusante da cidade de Santo Antônio do 7 Leverger, pertencendo assim a Bacia do Alto Rio Paraguai (BAP). Nesta bacia estão inseridos 13 municípios: Acorizal, Rosário Oeste, Nobres, Jangada, Nossa Senhora do Livramento, Nova Brasilândia, Chapada dos Guimarães, Planalto da Serra, Santo Antônio do Leverger, Campo Verde, Barão de Melgaço e, entre esses, Cuiabá e Várzea Grande, principais núcleos urbanos do Estado (VITAL et al., 1996). De acordo com Cavinatto, (1995), a bacia do rio Cuiabá é subdividida ainda em 5 sub-bacias. Têm-se as sub-bacias do alto Cuiabá, do médio Cuiabá, do baixo Cuiabá, do rio Coxipó e a do rio Manso. A Bacia do Alto Paraguai compõe o grande sistema hidrológico ParaguaiParaná-Prata, o Sistema Platino, abrangendo parte do Brasil, da Bolívia e da Argentina, onde o rio Paraguai é um dos tributários do Rio Paraná e, por conseguinte, do Rio da Prata (Alvarenga et al., 1984). No município de Rosário Oeste, pertencente ao médio Cuiabá, na condição de rio de planalto, o Rio Cuiabá apresenta diferença de nível considerável, com diversas corredeiras e declividade diminuindo gradualmente até a cidade de Santo Antônio do Leverger, onde passa para a condição de rio de planície, com baixa declividade, que varia de 10.2 cm/km até 5,6 cm/km na confluência com o Rio Paraguai (PCBAP, 1996). O médio curso do Rio Cuiabá é delimitado pela Província Serrana e a leste pelo Planalto dos Guimarães. Nesta área da bacia predominam solos indiscriminados concrecionários distróficos, que conforme Jacomine et al., (1995), são solos de textura variável, porém tipicamente cascalhenta, pobres e com baixa saturação de bases. Este tipo de solo tem origem Pré-Cambriana, pertencendo ao Grupo Cuiabá. Ocorrem ainda algumas intrusões de solos litólicos e podzólico vermelho-amarelo. Segundo Brasil, (1982) no médio curso do Rio Cuiabá predomina vegetação do tipo campo-cerrado cerradão. A circulação atmosférica na Bacia do Alto Paraguai, em termos gerais, se apresenta fortemente influenciada pelo Anticlone subtropical, semifixo, do Atlântico Sul, pela posição da área como zona de convergência intertropical (zona de baixa pressão equatorial). Este fato é responsável pelo tempo estável, devido a sua subsidência superior. Entretanto, esta situação está sujeita a bruscas mudanças, onde assumem importante papel na circulação da região as massas Tropical Atlântica e Polar Atlântica, provocando o fenômeno da friagem (Alvarenga et al., 1984). 8 O clima da Bacia do Rio Cuiabá pode ser classificado como sendo do tipo Aw de Köppen, tropical semi-úmido, com sazonalidade marcada por dois períodos bem distintos: estiagem e chuvas. 3.2 – Determinação do efeito da APM-Manso sobre a dimensão da área alagada e o tempo de permanência da inundação. Para a realização desta pesquisa a área de estudo foi selecionada no município de Rosário Oeste – MT num ponto o mais próximo possível de uma estação fluviométrica que dispunha de hidrogramas antigos. Os valores de cota da estação foram então transportados para a área de estudo, que está a montante da estação, para então determinar a extensão e freqüência de alagamento. Sendo assim, isto implicou no uso dos seguintes métodos. 3.2.1 – Aquisição dos dados fluviométricos. Os dados fluviométricos da Estação Rosário Oeste (cód: 66250001) foram adquiridos através da Secretaria de Defesa Civil do Estado de Mato Grosso e ANA Agência Nacional das Águas (http://hidroweb.ana.gov.br/HidroWeb/). Esta estação possui uma área de drenagem de 15.908 Km2, sendo de responsabilidade da ANA e tendo a empresa Furnas como a operadora. 3.2.2 – Freqüência das cheias. O estudo sobre as cheias abrange a análise das freqüências relacionadas com as cotas mais elevadas que anualmente ocorrem em determinada seção transversal. Cheia, refere-se ao maior débito diário que ocorre em cada ano. Cada cheia, portanto representa um evento anual. A análise das cheias está inserida no estudo dos eventos raros, de alta magnitude e baixa freqüência, e diversas técnicas analíticas são utilizadas. Entre elas destaca-se a relacionada com a teoria dos valores extremos (Christofoletti, 1981). O procedimento inicia-se com a coleta das cheias para longo período de anos, cujos dados constituem uma série anual. Em seguida, os dados coletados são 9 ordenados conforme a seqüência da magnitude, dos valores mais elevados para os menores. A cada valor deve corresponder um número de ordem, que representa a sua posição na escala. Como a finalidade de estabelecer, para cada cheia, o seu intervalo de recorrência, definido como o intervalo de tempo que ocorre entre duas cheias de igual magnitude, costuma-se aplicar a equação simples expressa da seguinte maneira (Christofoletti, 1981): Ir = N +1 M onde: Ir é o intervalo de recorrência; N é o número total dos eventos considerados na série anual; e M é o número de ordem que representa a posição da cheia na escala organizada. 3.2.2.1 – Curva de permanência. A curva de permanência apresenta a freqüência com que ocorrem valores iguais ou superiores aos valores de uma série temporal (Tucci, 2001). Para o cálculo é necessário ordenar as variáveis temporais diárias em ordem decrescente, atribuindo ordem 1 ao maior valor e ordem n ao menor, em uma amostra com tamanho n. Computar a freqüência com que cada valor ordenado é excedido ou igualado (permanência), seguindo a equação: P = 100.m/n onde: P é a permanência; m é a sua ordem; e n é o tamanho da amostra. 10 3.2.3 – Levantamento do perfil topográfico em cotas altimétricas reais. O perfil topográfico na área selecionada, feito perpendicularmente à margem do rio (Fig. 2), foi determinado através do procedimento de topografia padrão (teodolito) e régua topográfica, a partir da base geodésica instalada no local (RN – Registro de nível). Os primeiros pontos topográficos foram instalados conforme a geomorfologia fluvial para demonstrar o canal principal, canal secundário e leveé, os pontos restantes foram instalados de 50 em 50 metros, totalizando um perfil topográfico de 550 metros. A cota altimétrica real foi obtida através de GPS – Geodésico. A partir disso foi possível transformar as cotas em altitudes reais. 550 m Sem escalas Figura 2. Disposição do perfil topográfico na área de estudo Rosário Oeste – MT, fazenda Novo Destino. 3.2.4 – Descrição da geomorfologia fluvial na área de estudo. O levantamento do perfil topográfico permitiu a descrição da geomorfologia fluvial - canal principal, dique marginal, canal secundário, planície de inundação e terraço. 11 3.2.5 – Transformação dos hidrogramas em cotas altimétricas reais. Na estação fluviométrica foi determinada a altitude real, através de GPS – Geodésico (WGS-84). A altitude foi calculada com referência a um “RN” (Registro de nível) que determina a altura do ponto zero das réguas linimétricas. A partir disso foi possível determinar as cotas fluviométricas presente nos hidrogramas em cotas altimétricas reais. 3.2.6 – Descrição da seção transversal. Para o cálculo da linha de água a montante da estação fluviométrica, na área de estudo, foi preciso determinar a seção transversal do rio no local onde está a estação e também na área de estudo. Para tanto foi realizado um estudo batimétrico, onde, com o auxílio de um barco e guincho batimétrico, foi determinada a profundidade em intervalos de 5 m, bem como a largura do rio naquele momento. 3.2.7 – Determinação do nível de água na área de estudo. As cotas conhecidas na estação fluviométrica foram utilizadas para determinar o nível de água na área de estudo, para tanto equações hidrológicas foram utilizadas e calculadas através do programa HEC-RAS 3.1.1 – U.S. Army Corps of Enginners. Segundo Tucci, (2001), o cálculo da linha de água em regime subcrítico é realizado de jusante para montante. Esta é a condição da maioria dos rios naturais. E é calculado através da seguinte equação. ⎡ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⎞⎤ ⎛ ⎢ 1 ⎜ α 2 - α1 ⎟ + C ⎜ α1 - α 2 ⎟ + ∆x ⎜ 1 + 1 ⎟ ⎥ 2⎟ 2 2 ⎜ 2 ⎟ ⎜ 2 ⎢ g ⎜ A2 A2 ⎟ ⎝ Kc1 Kc2 ⎠ ⎥⎦ 1 ⎠ ⎝ A1 A2 ⎠ ⎣ ⎝ 2 Q Z1 = Z2 + 2 Onde: Z1 e Z2 – Cotas da seção. Q – Vazão. α – Coeficiente de Coriolis. 12 A – Área do perfil transversal. C – Coeficiente de contração ou expansão. ∆x – Distância das seções. Kc = (A.R2/3)/n (onde: “R” é o raio hidráulico e “n” é o coeficiente de rugosidade de Manning). Nesta equação as incógnitas são Z1, A1 e R1. Pode-se estabelecer a relação entre Z1 = f(A1) e Z1 = f(R1) com base na seção transversal, a única incógnita passa e ser Z1, que é a cota da seção a montante. A o modelo hidrológico foi calibrado através de observações diretas entre a cota na estação fluviométrica e a cota na área de estudo. Conhecidas as cotas do rio Cuiabá na área de estudo, pôde-se determinar a extensão e freqüência de alagamento, que foi avaliada da seguinte maneira. A cota mínima para a água transbordar do canal (extensão de alagamento = 0) foi determinada a partir da comparação entre o perfil topográfico e as cotas fluviométricas e da mesma maneira para a cota fluviométrica máxima que corresponder a extensão do alagamento. 3.3 – Descrição da vegetação. 3.3.1 – Fitossociologia Para o levantamento fitossociológico foram demarcadas sobre o transecto de 550m 10 parcelas de 50x20m subdivididas em 100 parcelas de 5x20m, de forma contígua e não aleatória, totalizando 1ha (10.000m2) (Fig. 3). Transectos são métodos de amostragem recomendados onde se imagina que comunidades são fortemente influenciadas por um gradiente ambiental (Barbour et al., 1987). Foram amostrados todos indivíduos com circunferência a altura do peito maior ou igual a 5cm (CAP ≥5cm), e divididos, segundo Rizzini, (1997), em floresta, (altura igual ou maior que 4 metros), e sub-bosque (altura menor que 4 metros). 13 50 m P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 2 0 m 500 Sem Figura 3. Desenho esquemático das parcelas amostradas na área de estudo Rosário Oeste – MT, fazenda Novo Destino. Os parâmetros fitossociológicos, para a obtenção do IVI – Índice de Valor de Importância, foram calculados segundo metodologia já consagrada, descrita em Mueller-Dombois & Elemberg (1974), através das seguintes fórmulas: DTA = N.U/A DAs = ns.U/A DRs = 100.ns/N ABI = P2/4π ABT = ΣABI ABs = ΣABIs DoTA = ABT.U/A DoAs = ABs.U/A DoRs = ABs/ABT.100 FAs = 100.nAs/ΣFA FRs = 100.FAs/ΣFA IVIs = DRs+FRs+DoRs IVCs = DRs + DoRs H’ = - Σpi.logepi pi = ni/N 14 onde: DTA – Densidade total por área (Ind/ha); N – Número total de indivíduos amostrados desconsiderando-se a espécie; U – Unidade de área (1ha = 10.000 m2); A – Área amostrada (m2); ns – Número de indivíduos da espécies s; DAs – Densidade absoluta da espécie s; DRs – Densidade relativa da espécie s; ABI – Área basal individual; P – Perímetro (circunferência); ABT – Área basal total; ABs – Área basal da espécie; DoTA – Dominância total; DoAs – Dominância absoluta da espécie s; DoRs – Dominância relativa da espécie s; FAs – Freqüência absoluta da espécie s; nAs – número de unidades amostrais com ocorrência da espécie s; nAT – número total de unidades de amostragem; FRs – Freqüência relativa da espécie s; IVIs – Índice de valor de importância da espécie s; IVCs – Índice do valor de cobertura da espécie s; H’ – Índice de diversidade de Shannon & Weaver (Shannon & Weaver, 1949) Para a análise de similaridade entre as parcelas do transecto foi utilizado a Análise de Cluster (Gauch, H. G., 1982) com distância Relativa de Sorensen ligados pelo método de Ward, utilizando o programa PC-ORD (McCune & Mefford, 1999). 15 3.4 – Solos. O solo foi coletado e uma profundidade de 10cm, com o uso de trado holandês, a cada 5m dos dois lados das sub-parcelas de 5x20. As amostras coletadas foram armazenadas em sacolas plásticas. As amostras foram analisadas conforme rotina para obtenção da terra fina e seca ao ar (TFSA), com os quais foram feitas a análise de Matéria Orgânica (MO). A quantidade de matéria orgânica (%MO) foi calculada através do método de diferença inicial descrito por Lim & Jackson (1982). O solo foi seco a 60°C até a obtenção do peso constante. O solo seco foi colocado em cadinhos de porcelana, pesados, e colocados em um formo mufla. As amostras foram aquecidas a 300°C durante 2 horas. Após resfriarem, os cadinhos foram pesados novamente, a diferença de peso significou água de constituição, matéria orgânica, alguns solúveis e sais voláteis. 16 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 – Levantamento Geodésico. 4.1.1 – Altitude real na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT. O resultado do levantamento geodésico com seus respectivos parâmetros é demonstrado na tabela 1. A altitude real do RN (Registro de nível) que corresponde a diferença de altitude do ponto zero da régua foi de 204.389 metros. O datum utilizado foi o WGS84. Tab. 1 – Dados do processamento geodésico na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT. Estação Remota (Estático0113) Local de ocupação: 01 Intervalo de medida: 3.00 segundos WGS84 (metros) Lat: S 14 50 01.47278 Long: W 56 24 50.79982 Hgt: 204.389 Und: 0.000 MSL: 204.389 +/- 0.006 +/- 0.007 +/- 0.008 +/- 0.008 Altura da antena: Modelo da antena: Sad69 (metros) Lat: Long: Hgt: Und: MSL: UTM-sad69 X: Y: 1,448 m [inclinação: 1.440 m] SA200 (metros) S 14 49 59.93271 W 56 24 49.01725 210.890 0.000 210.890 +/- 0.006 +/- 0.007 +/- 0.008 +/- 0.008 563090.430 8360021.705 +/- 0.007 +/- 0.006 4.1.2 – Altitude real na área de estudo. O resultado do levantamento geodésico com seus respectivos parâmetros é demonstrado na tabela 2. A altitude real obtida do RN (Registro de nível) instalado no local foi de 208.643 metros. O datum utilizado foi o WGS84. Tab. 2 – Dados do processamento geodésico na área de estudo, Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. Estação Remota (Estático0112) Local de ocupação: 01 Intervalo de medida: 3.00 segundos WGS84 (metros) Lat: S 14 47 23.95173 Long: W 56 19 11.56746 Hgt: 208.643 Und: 0.000 MSL: 208.643 +/- 0.005 +/- 0.006 +/- 0.008 +/- 0.008 Altura da antena: Modelo da antena: Sad69 (metros) Lat: Long: Hgt: Und: MSL: UTM-sad69 X: Y: 1,528 m [inclinação: 1.520 m] SA200 (metros) S 14 47 22.41163 W 56 19 09.78749 215.265 0.000 215.265 +/- 0.005 +/- 0.006 +/- 0.008 +/- 0.008 573243.994 8364832.832 +/- 0.006 +/- 0.005 17 4.2 – Dados fluviométricos da estação fluviométrica de Rosário Oeste - MT. Os dados fluviométricos de cota na estação de Rosário Oeste obtidos, registram dados de 1966 a 2003, os valores das máximas cada ano foram transformados em cotas reais, como é demonstrado na figura 4. 205 Cota real(m) 204 203 202 201 200 199 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Fig. 4. Rio Cuiabá em Rosário Oeste: cota máxima anual 1966-2003. As partes quebradas dos gráficos representam anos com ausência de dados completos. A cota máxima registrada, 204,055 m, ocorreu no ano de 1995, enquanto que o ano de 1971 registrou a menor cota máxima, 199,945 m. 4.2.1 – Freqüência das cheias na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT. A análise da freqüência das cheias possibilitou determinar o intervalo de recorrência das mesmas, nos anos de 1966 a 2003, como mostra a Fig. 5. A mesma também mostra a extrapolação da magnitude das cheias para os mais variados intervalos. 18 2400 Vazão (m3 /s) 2000 R2 = 0.9825 1600 1200 800 0 10 20 30 40 Intervalo de recorrência (anos) Fig. 5. Intervalo de recorrência das cheias na estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT, 1966-2003, e relação com a magnitude. A maior cheia registrada, 204,055 m (8,46m), apresentou intervalo de recorrência de 39 anos, seguida pela cheia 203,805 (8,21m), com intervalo de 19,5 anos. A menor cheia registrada, 199,945 (4,35m), obteve intervalo de 1,03 anos. Esses valores indicam que a probabilidade de ocorrência dessas cheias é de 2 e 4 vezes em um século. 19 4.2.2 – Curva de permanência. Os dados fluviométricos de 1966 a 2003 permitiram o cálculo da curva de Vazão (m3/s) permanência, como mostra a figura 6. 2400 2100 1800 1500 1200 900 600 300 0 1966-1999 2000-2003 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Permanência (%) Fig. 6. Curva de permanência para a estação fluviométrica de Rosário Oeste - MT, 1966-2003. A curva de permanência foi calculada para os anos de 1966 a 1999 e 2000 a 2003, uma vez que a barragem de Manso passou a operar em novembro de 1999, tendo como objetivo de mostrar um possível efeito da barragem do manso sobre o fluxo natural do rio Cuiabá. A comparação entre as curvas de permanência antes e depois do barramento do rio Manso mostra que ocorreu uma diminuição das máximas registradas no Rio Cuiabá. 20 4.3 – Perfil topográfico e seção transversal da área de estudo na estação fluviométrica de Rosário Oeste - MT. O perfil topográfico e seção transversal da área estudo com as altitudes reais de cada ponto da margem esquerda (M.E.) e direita (M.D.) está demonstrado na figura 7, bem como a geomorfologia fluvial. 210 Terraço M.E. Dique marginal 208 Planície de inundação M.D. Cota real (m) 206 Canal secundário 204 202 Canal principal 200 198 196 194 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Distância (m) Figura 7 – Perfil topográfico em altitude real e descrição da geomorfologia fluvial na área de estudo, Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. No perfil topográfico foram amostrados 14 pontos perpendicularmente ao rio Cuiabá partindo de sua margem direita. O dique marginal apresentou altitude real de 207,363 m, compreendendo o terceiro ponto amostrado ou 20 m da margem do rio. A planície de inundação apresentou o ponto 6 (150 m da margem) como sendo o de maior depressão compreendendo 206,276 m. O último ponto (ponto 14), 550 m da margem apresentou maior altitude (209,072 21 m). A margem esquerda não apresentou planície de inundação sendo mais “encaixada”, sendo sua altitude no ponto 0 igual a 209,178 m. O levantamento batimétrico para a descrição da seção transversal utilizou 99 verticais, distanciadas 1 m uma da outra, compreendendo, desta forma, a largura de 99 metros do rio no momento da batimetria. O ponto mais profundo do canal compreendeu 195,013 m. A figura 8 mostra a seção transversal da estação fluviométrica de Rosário Oeste - MT, os dados foram obtidos através da ANA – Agência Nacional das Águas. O perfil transversal foi realizado no ano de 2000. 206 M.E. Cota real (m) 204 M.D. 202 200 198 196 194 192 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Distância (m) Fig. 8. Seção transversal da estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT. 4.4 – Modelo de cálculo do nível d’água na área de estudo. O levantamento geodésico permitiu estabelecer a declividade entre as seções da área de estudo e da estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT, obtendo-se o valor de 0,222331 m/km, sendo a distância entre a seções de 26,510m (26,51 Km) obtido através de ferramentas de GIS em mapa digitalizado. O cálculo no nível d’água na área de estudo foi calibrado através de observações diretas na cota na estação fluviométrica e na área de estudo como mostra a tabela 3. 22 Tab. 3 – Cotas observadas e calculadas para calibração do modelo hidrológico. Cota Área de estudo Cota Estação Fluviométrica Observado Calculado 196.555 (m) 200.25 (m) 199.99 (m) 197.615 (m) 201.9 (m) 202.17 (m) 199.175 (m) 203.6 (m) 203.86 (m) A obtenção desses valores permitiu o cálculo da linha de água em regime subcrítico – remanso, obtendo-se, assim, o valor da cota na estação fluviométrica de Rosário Oeste que reflete no transbordamento do canal na área de estudo, e, conseqüentemente o enchimento da planície de inundação. A cota obtida foi de 7 m, ou seja, 202,645 m, representando uma vazão de 1763 m3 e intervalo de recorrência de 3 anos. Esta cota reflete na área de estudo a altitude de ∼207,4 m do nível da água e extensão de alagamento, a partir do dique marginal, de ∼375,46 m, como mostra a figura 9. .06 .04 .06 210 Legenda 208 LE P 1 Cota (m) 206 SA P 1 204 Subs 202 Margem 200 198 196 194 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Distância (m) Fig. 9. Modelo de inundação da área de estudo, Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. 23 4.4.2 – Mapeamento da freqüência de inundação. O cálculo do nível d’água na área de estudo através do modelo de remanso permitiu mapear a freqüência de inundação no perfil topográfico, como demonstrado na figura 10. Alta Freqüência Baixa Duração Alta Freqüência Alta Duração Baixa Freqüência Baixa Duração 210 P1 P2 P5 P4 P3 P6 P7 275 300 325 P9 P8 P10 209 208 Cota (m) 207 206 205 204 203 202 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 350 375 400 425 450 475 500 525 550 Distância (m) ~1 - 1.7 Anos ~3 Anos ~3.55 - 7.8 Anos ~1.77 - 2.8 Anos ~3.25 Anos ~9.75 a 39 Anos Fig. 10. Mapeamento da freqüência de inundação na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. A freqüência de inundação que corresponde a ∼3 anos, e compreende a inundação da planície, atinge a extensão de alagamento de ∼375,46 m a partir do dique marginal. A freqüência de ∼39 anos corresponde a uma extensão de ∼495.25 m. Uma vez que se esperava um perfil topográfico aonde a distância fosse diretamente proporcional a elevação das cotas, sugeriu-se a estimação da duração do alagamento, porém, o que foi encontrado foi uma planície de inundação muito bem definida, aonde com transbordamento do leito do rio ocorre o armazenamento da água nessas depressões, não podendo, dessa forma, avaliar a duração do alagamento. As parcelas 24 que possuem maior influencia da inundação são as parcelas 3, 6 e partes das parcelas 4 e 5 que estão sujeitas a uma grande freqüência e duração da inundação. Enquanto que a inundação nas parcelas 1 e 2 é de grande freqüência e baixa duração, isso ocorre porque quando o rio volta para calha a água desloca-se para a planície de inundação e lá fica armazenada. 4.5 – Descrição da vegetação. 4.5.1 – Análise de cluster. A Análise de cluster com distância Relativa de Sorensen ligados pelo método de Ward resultou,para a sinúsia floresta, a formação dois grupos distintos (porcentagem de agrupamento 18.18%) o primeiro formado pelas parcelas P1, P2, P9 e P10 e o segundo grupo formado pelas parcelas P3, P4, P5 e P6, como mostra a figura 11. 0.045 Distance (Objective Function) 0.669 1.293 1.918 2.542 G1 G2 |-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+ Information remaining (%) 100.000 75.000 50.000 25.000 0.000 |-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+ P1 ---| |------------| P2 ---| |------------------------| | | P9 ----------------| |---------------------| | | P10 -----------------------------------------| | | P3 ---------| | |-----------------| | P4 | | | | |--------| |-----------------------------------| P5 | | | P6 ---------------------------| Fig. 11. Análise de Cluster para sinúsia floresta na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. 25 Também para a sinúsia sub-bosque a Análise de Cluster ordenou dois grupos distintos (porcentagem de agrupamento 9.09%) (Figura 12), sendo o primeiro grupo formado pelas parcelas P1, P2, P9 e P10. Já o segundo grupo foi formado pelas parcelas P3, P6, P4 e P5. 0.125 Distance (Objective Function) 0.826 1.526 2.227 2.927 G1 G2 |-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+ Information remaining (%) 100.000 75.000 50.000 25.000 0.000 |-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+ P1 ---------------------------------------------| | P2 ----| |-----------------| |----------------| | | P9 ----| |-----------------------| | | | P10 ---------------------| | | P3 -----------| | |--------------------| | P6 -----------| | | |------------------------------| P4 | | |-------------------------------| P5 | Fig. 12. Análise de Cluster para sinúsia sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. Tanto para floresta quanto para sub-bosque ocorreu o agrupamento das parcelas que correspondem a áreas que sofrem alagamento freqüente e duradouro, ou seja, da planície de inundação, separado das parcelas que correspondem às áreas de menor influência da inundação. Vale ressaltar que a parcela 1 e 2 sofrem a mesma freqüência de inundação (∼2.5 anos) que as parcelas 3, 4, 5 e 6, porém, como dito anteriormente, estas parcelas possuem maior duração de alagamento. O mesmo ocorre com as parcelas 9 e 10 que possuem uma freqüência de alagamento a cada ∼5.5 e ∼13 anos, respectivamente, porém com baixa duração, sendo assim essas parcelas assemelhamse, quando à presença de espécies, com as parcelas 1 e 2. Além disso, as espécies responsáveis pelos dois agrupamentos correspondem às espécies que ocorrem no cerrado e no pantanal, demonstrando dessa forma a influência da inundação sobre a ocorrência dessas espécies. 26 4.5.2 – Fitossociologia. No estudo fitossociológico foram amostrados 1.122 indivíduos, divididos em 829 para floresta e 293 para sub-bosque, conforme demonstrado na figura 13, juntamente com o perfil topográfico. Para sinúsia floresta a parcela 4 de 50x20m (200m) apresentou o maior número de indivíduos (156), seguido pela parcela 2 (100m) com 145 indivíduos. As parcelas 9 (450m) e 10 (500m) apresentaram maior número de indivíduos para sub-bosque, com 66 e 97 respectivamente. Tanto para floresta quanto para sub-bosque as parcela 7 (3500m) e 8 (500m) não apresentaram indivíduos com CAP≥5cm. 180 210 140 P3 120 209 P5 P1 100 208 P9 207 P10 206 P6 80 205 P7 P8 204 40 20 203 Capim Capim 60 Cota (m) P2 160 N. Ind. P4 202 201 0 200 0 10 20 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 Distância (m) Sub-bosque Floresta Cota (m) Fig. 13. Número de indivíduos e cota topográfica para floresta e sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. As parcelas 1, 2 e 9 apresentaram maior número de espécies, com índices de diversidade de Shannon (H’) de 3.258, 3.296 e 3.258, respectivamente. A parcela 6 apresentou menor número de espécies com diversidade H’ = 1.386 (Fig. 14). 30 3.5 25 3 20 2.5 2 15 H' N. Ind. 27 1.5 10 1 5 0.5 0 0 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P9 P10 Parcela N. Espécies H' Fig. 14. Número de espécies e índice de diversidade de Shannon (H’) na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. As parcelas 3 e 6, que compreendem a planície de inundação apresentaram menor riqueza. Acredita-se que isso esteja relacionado ao maior tempo de inundação. Essa tendência nas partes mais baixas de áreas ripárias já foi verificada por Lieberman et al., (1985). Soares (1997) estudando a vegetação do pantanal de Nhecolândia – MS, encontrou diversidade maior do que na área de estudo, sendo H’ = 3.625, enquanto que Damasceno Junior (1997) encontrou uma diversidade menor (H’ = 2.63), em um trecho de mata ciliar do rio Paraguai, concluindo que aparentemente a inundação e a ausência do período sazonal de seca parecem configurar-se como uma barreira para a colonização da área por espécies de formações vegetais vizinhas, resultando em uma formação com baixa riqueza e diversidade. Rodrigues (1992) discute que, em áreas com rios de relevo encaixado, a freqüência e a duração das inundações são menos intensas, sendo menor a restrição da colonização das áreas ribeirinhas por espécies das formações vegetais adjacentes. Este mesmo autor estudando uma área de relevo encaixado na bacia do rio Passa-Cinco encontrou diversidade H’ = 3.5, que segundo o mesmo, está na faixa de valores encontrados para as matas de planalto do estado de São Paulo. Campbell et al., (1992) estudaram três áreas de diques geomorfológicos seqüenciais das várzeas do rio Juruá, com idades conhecidas e constatou que a área 28 mais próxima ao leito do rio (mais inundável) possuía menor quantidade de espécies e baixa diversidade. As outras duas áreas possuíam diversidade diretamente proporcional à idade e inversamente proporcional ao nível de inundação a que estavam sujeitas. Da mesma forma ocorre para as matas ciliares do rio Paraná, que, segundo Previdello et al., (1996) estão sujeitas a níveis elevados de perturbação, além de estarem sujeitas à inundação, apresentando também baixa diversidade e número de espécies. Em áreas úmidas, a inundação inicia uma cadeia de reações conduzindo a redução das condições do solo. Essas reações causam vários processos físicos, químicos e biológicos que possuem importância significativa para a vegetação (Pezeshki, 2001). Nunes da Cunha & Junk (1996), verificaram que determinadas espécies de plantas tem dadas preferências quanto à localização em um gradiente de inundação. Em ambientes complexos as espécies possuem habilidades para tolerar todas as dificuldades do ambiente. Determinadas características abióticas como tipo e grau de umidade do solo, parecem exercer influência sobre a distribuição dos taxa nos habitat. Além disso, plantas de áreas úmidas possuem várias características que permitem sua sobrevivência em solos periodicamente saturados e acompanhados de mudanças químicas (Pezeshki, 2001). O padrão de distribuição da vegetação ripária pode ser limitado pela tolerância da espécie a um distúrbio específico ou regime de estresse, como também por tolerância para outras interações mais difusas inclusive competição. Em sistemas fluviais, a distribuição da vegetação entre os elementos da paisagem podem ser largamente influenciada pela tolerância da espécie para processos geomórficos específicos (Hupp et al., 1996). A análise fitossociológica mostrou que, para a sinúsia floresta, a parcela 1 (50m a partir da margem do rio) teve a espécie Combretum leprosum Mart. (Proteaceae) com maior IVI (Índice de Valor de Importância) e FAi (Freqüência Absoluta) de 50%. Na parcela 2 (100m da margem do rio) a espécie Callisthene fasciculata (Spr.) Mart. (Vochysiaceae), apresentou maior IVI e FAi de 70%. Já na parcela 3 (150 metros da margem do rio) a espécie Licania parvifolia Huber (Chrysobalanaceae) apresentou maior IVI e FAi de 90%. Na parcela 4 (200 metros da margem do rio), a espécie Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze. (Lecythidaceae) apresentou maior IVI e FAi de 100%. A espécie Vochysia divergens Pohl. (Vochysiaceae) apresentou maior IVI na 29 parcela 5 (250m da margem do rio) e as espécies L. parvifolia e Erythroxylum anguifugum Mart. (Erythroxylaceae) apresentaram maior FAi de 60%. A parcela 6 (300m da margem do rio) apresentou a espécie V. divergens com maior IVI e FAi de 90%. Nas parcelas 9 e 10 a espécie C. fasciculata apresentou maior IVI e FAi de 90 e 40%, respectivamente (Fig. 15). Grupo 1 Grupo 2 210 P1 P2 P4 P3 P5 P8 P7 P6 P10 P9 209 208 206 CAPIM 205 CAPIM Cota (m) 207 204 203 202 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500 525 550 Distância (m) Combretum leprosum Mart. Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze. Callisthene fasciculata (Spr.) Mart. Vochysia divergens Pohl. Licania parvifolia Huber. Fig. 15. Distribuição das espécies com maior IVI, no perfil topográfico, para sinúsia floresta na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. Para a sinúsia sub-bosque a parcela 1 teve a espécie C. leprosum com maior IVI e FAi de 20%. Na parcela 2 a espécie C. estrellensis apresentou maior IVI e FAi de 40%. Já na parcela 3 a espécie Calophyllum brasiliense Camb. (Guttiferae) obteve maior IVI e FAi de 20%. Na parcela 4, os indivíduos mortos apresentaram maior IVI, seguido pela espécie Protium heptaphylum (Aubl.) March. (Burseraceae) que apresentou FAi de 30%. Também para a parcela 5 os indivíduos mortos apresentaram maior IVI, seguidos pela espécie V. divergens com FAi de 30%. Na parcela 6 a espécie V. divergens apresentou maior IVI e FAi de 50%. A espécie C. fasciculata apresentou 30 A espécie Machaerium hirtum (Vell.) Stellf. maior IVI na parcela 9 e FAi de 70%. (Leguminosae-Faboideae) apresentou maior IVI na parcela 10, e FAi de 100% (Fig. 16). Grupo 1 Grupo 2 210 P2 P1 P3 P5 P4 P8 P7 P6 P9 P10 209 208 206 CAPIM 205 204 CAPIM Cota (m ) 207 203 202 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500 525 550 Distância (m) Combretum leprosum Mart. Protium heptaphylum (Aubl.) March. Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze. Vochysia divergens Pohl. Calophyllum brasiliense Camb. Callisthene fasciculata (Spr.) Mart. Machaerium hirtum (Vell.) Stellf. Fig. 16. Distribuição das espécies com maior IVI, no perfil topográfico, para sinúsia sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. As diferentes faixas topográficas, em que as espécies analisadas se encontram, refletem o tempo de inundação a qual suportam. O efeito da freqüência e duração das inundações no padrão de distribuição das espécies em planícies de inundação já foi verificado por vários autores, além desses efeitos, esses ambientes caracterizam-se por determinar condições para o surgimento de adaptações diversas (Junk, 1996). Para a parcela 1, as sinúsias floresta e sub-bosque apresentaram a mesma espécie com maior IVI. As parcelas 2, 9 e 10 apresentaram a mesma espécie C. fasciculata (Carvoeiro) com maior IVI, para a sinúsia floresta e também na parcela 9 para sinúsia sub-bosque. Esta espécie é uma árvore comum do cerrado em solos mesotróficos. No pantanal esta espécie é encontrada no cerradão em depressões não inundáveis, considerando que a árvore tolera pequena inundações sazonais, a mesma 31 pode formar agrupamentos em torno de áreas alagáveis (Haase et al., 1995). Esta espécie é considerada uma indicadora de áreas de cerradão (Ratteret al., 1989). Isso explica a presença da mesma nas parcelas 9 e 10 que possuem baixa freqüência de inundação propiciando o estabelecimento desta espécie. A sua presença na parcela 2 explica-se pelo fato de que esta parcela sofre inundações freqüentes porém com baixa duração. O sub-bosque da parcela 2 apresentou a espécie C. estrellensis (Jequitibá) com maior IVI, a sua presença ocorre nas 4 últimas sub-parcelas próximas a parcela 3, que compreende a planície de inundação, a mesma espécie apresentou maior IVI para floresta na parcela 4 ocorrendo em todas as sub-parcelas. Estas parcelas estão próximas da parte mais baixa do perfil, sendo que a parcela 4 está ligada com a parte mais alta. Portanto, estas parcelas sofrem inundações freqüentes, mas de baixa duração. Segundo Lorenzi (1992) esta espécie é característica de floresta clímax, preferindo solos úmidos. A parcela 3, para a sinúsia floresta, apresentou a espécie L. parviflora com maior IVI, esta parcela compreende a planície de inundação, e, desta forma, é influenciada por grande duração de inundação. Ribeiro (1999) estudando uma área do pantanal de Poconé – MT, denominada Landi da Moranga, encontrou a espécie L. parviflora com segundo maior IVI. No estudo realizado no pantanal matogrossense próximo ao rio Bento-Gomes, realizado por Eller (1993), a espécie que mais se destacou foi L. parviflora. Evidenciando, dessa forma a preferência desta espécie a locais inundáveis. A espécie C. brasiliense (Guanandi) que ocorre no sub-bosque da parcela 3 é conhecida por formar agrupamentos denominados “landi” no pantanal, esta espécie tem como habitat preferencial as áreas úmidas de solos arenosos, características da região do pantanal. A sua presença na parcela 3 esta restrita as partes mais baixas do perfil e, conseqüentemente, sofre grande influência da inundação. Nunes da Cunha (1998) cita as espécies L. parvilfora, C. brasiliense, Mouriri guianensis e Soroceae sprucei como sendo espécies que ocorrem em habitats inundáveis por dois meses ou mais. Ainda para o sub-bosque a parcela 4 apresentou a espécie P. heptaphylum (Almécega) com maior IVI, a mesma ocorre nas sub-parcelas próximas a parcela 3 e, desta forma está dentro das partes mais baixas, sendo influenciada pela inundação. Soares (1997) estudando uma área do pantanal de Nhecolândia – MS, encontrou a 32 espécie P. heptaphylum com maior IVI, sendo esta espécie citada em vários trabalhos realizados em áreas do cerrado do pantanal. As parcela 5 e 6, tanto para sub-bosque quanto para floresta apresentaram a mesma espécie V. divergens (Cambará) com maior IVI, ocorrendo nas sub-parcelas mais baixas do perfil. Esta espécie é comum em florestas ripárias e dominante em florestas sazonalmente inundadas (Nascimento & Nunes da Cunha, 1989), forma florestas densas monotípicas ao longo de vários rios do pantanal, onde a inundação sazonal varia de 3 a 4 meses. Vários autores citam esta espécie como sendo característica de florestas inundáveis (Nascimento & Nunes da Cunha, 1989; De Paula et al., 1995; Haase, 1995; Damasceno Junior, 1997; Almeida, 1995). O sub-bosque da parcela 10, que apresenta maior quantidade de indivíduos que a floresta, teve como expressiva presença a espécie M. hirtum (Espinheiro), o baixo número de indivíduos de porte maior, para esta parcela, não está relacionada com a inundação, mas sim com o fogo, visto que esta parcela é composta por espécies características do cerrado. Para os diferentes níveis de stress existem várias características estruturais e metabólicas que permitem a sobrevivência dos vegetais nos ambientes inundáveis, que podem estar relacionados às faixas de preferência topográficas encontradas. Uma das principais conseqüências da inundação é o desencadeamento de metabolismo anaeróbico nas raízes para compensar a anoxia nesses ambientes. Algumas plantas podem diminuir a anoxia transportando oxigênio das partes aéreas para as raízes, por meio de lenticelas hipertrofiadas e, em alguns casos, formando uma capa de O2 sobre as raízes para permitir a absorção de nutrientes que se tornam indisponíveis nessas condições (Joly, 1994). Outras podem produzir malato em via metabólica alternativa para evitar intoxicação por etano e/ou lactato produzidos por via anaeróbica (Joly & Crawford, 1982). A inundação pode ainda inuzir a formação de aerênquima, que facilita o transporte de oxigênio para as raízes (Armstrong et al., 1994). 33 4.5.3 – Estrutura de tamanho e distribuição em classes de circunferência. 4.5.3.1 – Estrutura de tamanho. A figura 17 mostra as classes de tamanho dos indivíduos amostrados nas 8 parcelas. A parcela 1 apresentou maior número de indivíduos no intervalo de 5.1 a 6 m, sendo os intervalo de 2.1 a 10 m, os mais significativos. Na parcela 2 o intervalo de 3.1 a 4 m apresentou maior número de indivíduos, com intervalos de 1.1 a 7 m representando maior densidade. No intervalo de 6.1 a 7 m, a parcela 3 apresentou maior número de indivíduos, sendo os intervalos de 2.1 a 10 m os mais representativos. Já a parcela 4, o intervalo de 4.1 a 5 m, apresentou maior número de indivíduos, sendo os intervalos 2.1 a 8 m os de maior representatividade. A parcela 5 teve o intervalo de 5.1 a 6 m com maior número de indivíduos, e maior ocorrência de espécies nos intervalos de 2.1 a 8 m. No intervalo de 8.1 a 9, a parcela 6 apresentou maior número de indivíduos, com concentração maior em classes de altura maior, 6.1 a 11 m. A parcela 9 apresentou maior número de indivíduos no intervalo de 4.1 a 5 m, sendo as classes de 1.1 a 7 m, com maior densidade. No intervalo de 1.1 a 2 m, a parcela 10 apresentou maior número de indivíduos, com maior densidade nas classes ente 1.1 e 4 m. Nas oito áreas, a altura mínima foi de 1 m, ocorrendo a presença de indivíduos com até 22 m na parcela 1. O padrão de distribuição em classe de altura demonstrou que na maioria das parcelas, com exceção da parcela 6, os indivíduos concentram-se nos intervalos de alturas inferiores a 8 m, diminuindo gradativamente à medida que aumenta a altura, evidenciando-se nessas parcelas dossel baixo e poucos indivíduos emergentes. A ocorrência de indivíduos na nas classes de 7.1 a 11 m, na parcela 6 se deve ao fato da dominância da espécie V. divergens, que segundo Haase (1995) é uma árvore que pode atingir alturas de 20 a 25 m. Este padrão é típico para as florestas sazonalmente inundáveis do pantanal, onde as classes de altura apresentam um estrato mais dominante ente 5 e 6 m de altura com a presença de algumas plantas emergentes (Nunes da Cunha, 1998). Nunes da Cunha (1990) encontrou um dossel entre 5 e 16 m, com espécies atingindo até 20 m nos capões do rio Bento Gomes; dossel de 14 m para os capões 34 próximos ao rio Cuiabá; e, nas matas do rio Alegre, dossel de 4 a 6 m nas faixas mais próximas ao leito do rio, e dossel de até 15 m nas faixas livres de inundação. Parcela 2 Parcela 1 20 N.Ind. 10 5 21.1 a 22 18.1 a 19 16.1 a 17 14.1 a 15 12.1 a 13 10.1 a 11 Classes de altura (m) Classes de altura (m) 11.1 a 12 10.1 a 11 9.1 a 10 8.1 a 9 7.1 a 8 6.1 a 7 Parcela 6 40 20 30 15 10.1 a 11 9.1 a 10 8.1 a 9 7.1 a 8 6.1 a 7 3.1 a 4 5 0 0 2.1 a 3 10 10 1.1 a 2 20 0a1 N.Ind. Classes de altura (m) Classes de altura (m) Parcela 10 Parcela 9 60 40 Classes de altura (m) 5.1 a 6 4.1 a 5 3.1 a 4 0 1.1 a 2 20 0a1 15.1 a 16 14.1 a 15 13.1 a 14 12.1 a 13 11.1 a 12 10.1 a 11 9.1 a 10 8.1 a 9 7.1 a 8 6.1 a 7 5.1 a 6 4.1 a 5 3.1 a 4 2.1 a 3 1.1 a 2 0a1 N.Ind. 80 2.1 a 3 N.Ind. Parcela 5 N.Ind. 5.1 a 6 Classes de altura (m) Classes de altura (m) 50 40 30 20 10 0 4.1 a 5 3.1 a 4 2.1 a 3 1.1 a 2 0a1 50 40 30 20 10 0 12.1 a 13 11.1 a 12 10.1 a 11 9.1 a 10 8.1 a 9 7.1 a 8 N.Ind. Parcela 4 6.1 a 7 5.1 a 6 4.1 a 5 3.1 a 4 2.1 a 3 1.1 a 2 30 25 20 15 10 5 0 0a1 N.Ind. Parcela 3 5.1 a 6 8.1 a 9 6.1 a 7 4.1 a 5 2.1 a 3 0a1 0 4.1 a 5 N.Ind. 15 60 50 40 30 20 10 0 Classes de altura (m) Fig. 17. Distribuição das classes de altura (m) dos indivíduos amostrados na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. 35 Soares (1997), estudando uma área do pantanal de Nhecolândia – MS, encontrou um dossel de até 17, sendo que a maioria dos indivíduos ocorreram em intervalos de 1 a 2 m de altura. 4.5.3.2 – Classes de circunferência. A figura 18 mostra a distribuição em classes de circunferência dos indivíduos amostrados nas 8 parcelas. A parcela 1 apresentou maior número de indivíduos no intervalo de 21 a 30 cm, sendo os intervalos de 11 a 70 cm os com maior concentração de indivíduos. No intervalo de 11 a 20 cm ocorreu maior número de indivíduos na parcela 2, 3, 4 e 5 sendo os intervalos de 11 a 40, 11 a 70, 11 a 60 e 11 a 60 os intervalos mais representativos, respectivamente. Na parcela 6 o intervalo de 41 a 50 cm apresentou maior número de indivíduos, com maiores distribuições nos intervalos de 41 a 90 cm. Semelhantemente com as parcelas 2, 3, 4 e 5 as parcelas 9 e 10 também apresentaram maior número de indivíduos no intervalo de 11 a 20cm, sendo os intervalos de 0 a 50 cm e 0 a 40 cm os de maior representatividade, respectivamente. A distribuição de todos os indivíduos amostrados, em classes de circunferência, demonstrou grande concentração nas classes mais baixas, decrescendo gradualmente até as maiores classes. A presença de maior número de indivíduos nas classes inferiores de circunferência, com redução gradual nas outras classes, normalmente, está relacionada à maior mortalidade entre os indivíduos jovens, com conseqüente diminuição no recrutamento (Damasceno, 1997). Além disso, os indivíduos de espécies do subbosque, que não atingem grande circunferência, podem também estar influenciando a maior freqüência nessas classes. A parcela 6 apresentou maiores classes de circunferência, devido, novamente, a presença da espécie V. divergens, que pode alcançar 45 a 50 cm de diâmetro (Haase, 1995). 0 a 10 Destino. Classes de circunferência (cm) 191 a 200 181 a 190 171 a 180 161 a 170 151 a 160 141 a 150 131 a 140 121 a 130 111 a 120 101 a 110 91 a 100 81 a 90 71 a 80 61 a 70 51 a 60 41 a 50 31 a 40 21 a 30 11 a 20 N.Ind. 40 30 20 N.Ind. 0 a 10 Parcela 5 Classes de circunferência (cm) Classes de circunferência (cm) Parcela 9 Parcela 10 70 60 50 10 0 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Classes de circunferência (cm) Fig. 18. Distribuição das classes de circunferência (cm) dos indivíduos amostrados na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo 151 a 160 Classes de circunferência (cm) 141 a 150 0 131 a 140 10 0 121 a 130 5 111 a 120 10 101 a 110 15 91 a 100 60 81 a 90 70 25 71 a 80 Parcela 3 61 a 70 30 151 a 160 141 a 150 131 a 140 121 a 130 111 a 120 101 a 110 91 a 100 81 a 90 71 a 80 61 a 70 51 a 60 41 a 50 31 a 40 Parcela 1 51 a 60 Classes de circunferência (cm) 41 a 50 0 21 a 30 5 31 a 40 10 N.Ind. 80 11 a 20 0 a 10 171 a 180 161 a 170 151 a 160 141 a 150 131 a 140 121 a 130 111 a 120 101 a 110 91 a 100 81 a 90 71 a 80 61 a 70 51 a 60 41 a 50 31 a 40 21 a 30 100 20 21 a 30 20 N.Ind. 0 a 10 11 a 20 N.Ind. 25 11 a 20 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 N.Ind. N.Ind. 15 0 a 10 211 a 220 201 a 210 191 a 200 181 a 190 171 a 180 161 a 170 151 a 160 141 a 150 131 a 140 121 a 130 111 a 120 101 a 110 91 a 100 81 a 90 71 a 80 61 a 70 51 a 60 41 a 50 31 a 40 21 a 30 11 a 20 N.Ind. 36 Parcela 2 60 40 20 0 Classes de circunferência (cm) Parcela 4 50 40 30 20 Classes de circunferência (cm) Parcela 6 16 14 12 10 8 6 4 2 0 37 4.5.4 – Perfilhamento. A figura 19 mostra o número de indivíduos e perfilhos amostrados, evidenciando o maior número de perfilhos na parcela 4, seguido pela parcela 10. 250 200 150 100 50 0 1 2 3 4 5 6 9 10 Parcela N. Ind. N. de Perfilhos Fig. 19. Número de indivíduos e perfilhos amostrados na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. O perfilhamento (desenvolvimento de gemas laterais em função de uma perturbação – alagamento, fogo, etc) tem sido evidenciado para a maioria das espécies do pantanal e ocorre preferencialmente em ambientes inundáveis (Nunes da Cunha, 1998). Percebe-se que todas as parcelas amostradas possuem certo grau de perfilhamento, isso pode ser explicado pelo fato de que a maioria das parcelas, com exceção das parcelas 9 e 10 que possivelmente possuem perfilhamento devido ao fogo, estão sob a influencia da inundação. 38 4.5.5 – Aspectos sucessionais. No agrupamento das parcelas pelo método de Ward, com distância relativa de Sorensen, que mede similaridade, formaram-se dois grupos distintos, sendo o primeiro representado pelas parcelas P1, P2, P9 e 10 tanto para floresta quanto para subbosque. O segundo grupo é formado pelas parcelas P3, P4, P5 e P6, também tanto para floresta quanto para sub-bosque (Fig. 20). A análise de cluster demonstrou que na parcelas 6, 9 e 10 , as espécies da sinúsia sub-bosque correspondem às mesmas espécies encontradas na sinúsia floresta, demonstrando, dessa forma, a colonização dessas áreas pelas espécies já existentes. Ao contrário, as parcelas 1 a 5 as sinúsias sub-bosque e floresta não formam grupos, o que poder levar a pensar que a composição do sub-bosque difere da composição da floresta, indicando processos sucessionais que seriam resultados da perturbação induzida ciclicamente pelas inundações. Por exemplo, na formação dos agrupamentos a parcela 3, para sinúsia floresta, agrupou-se com a parcela 4, para sinúsia sub-bosque, esta similaridade pode indicar que as espécies da parcela 3 estão invadindo a parcela 4, porém, vale ressaltar que a parcela 4 para floresta também se agrupou com as parcelas 3F (Floresta) e 4S (subbosque). Rodrigues et al., (2001) consideram a inundação ocorrente na faixa ciliar como instrumento natural de perturbação da vegetação. Essa perturbação seria conseqüência do extravasamento do rio, provocando o soterramento ou remoção periódica da serrapilheira, do banco de sementes e mesmo dos indivíduos jovens na faixa imediatamente ciliar ou do encharcamento prolongado do solo nos trechos de embaciamento, provocando a seletividade de espécies, com aumento da mortalidade de indivíduos nesses trechos. Sendo assim, poderíamos considerar que na condição ciliar ocorreria um favorecimento dos grupos iniciais de sucessão, já que esses fatores são tipicamente perturbadores e característicos dos ambientes ciliares, com ocorrência repetitiva. 39 Distance (Objective Function) 0.045 1.466 2.887 4.308 5.729 |-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+ Information remaining (%) 100.000 75.000 50.000 25.000 0.000 |-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------+ P1F --------| |--------------| P2F --------| | |------| P2S --------------| | | |--------| | P9F -| | |----------------| |------------| | | P9S -| | | | |---------------| P1S ------------------------------| | | | | P10F | | | |----------------------------------------------| | P10S | | | P3F ----| | |-| | P4S ----| |----| | | | | P5S ------| |--------------------------| | | | | P4F | | | | |----------| |------------------------| P5F | | | P3S -------------------| | |------------------| P6F --| | |----------------| P6S --| Fig. 20. Análise de Cluster para as sínusias floresta e sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. Quanto aos indivíduos mortos a figura 21 mostra a porcentagem dos mesmos para floresta e sub-bosque. Percebe-se que as parcelas que compreendem a planície de inundação com intervalo de alagamento de ∼2.5 anos, apresentaram maior porcentagem de indivíduos mortos, sendo que a parcela 5 apresentou maior porcentagem para os indivíduos do sub-bosque, enquanto que a parcela 3 apresentou maior porcentagem para os indivíduos pertencentes a sinúsia floresta. Percebe-se também a maior ocorrência de indivíduos mortos para a sinúsia subbosque, com exceção da parcela 3. Isso pode ser explicado pelo fato de que no intervalo de inundação apresentado para a planície de inundação é possível que plantas adaptadas a regiões secas colonizem e se desenvolvam nas áreas durante o período seco, porém quando ocorrem as inundações a mesmas não suportam o distúrbio e morrem. 40 Sendo assim, tomando a inundação como papel limitante da presença de algumas espécies, qualquer alteração na dinâmica de inundação desses ambientes estará propiciando a colonização das áreas alagáveis por espécies de ambientes secos ou vice e versa. % Ind. Mortos 25 20 15 10 5 0 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P9 P10 Parcela Floresta Sub-bosque Fig. 21. Porcentagem de indivíduos mortos para a sinúsia floresta e sub-bosque na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. 4.6 – Matéria orgânica (M.O.). A análise de matéria orgânica demonstrou que as parcela 3, 5 e 6 possuem maior porcentagem sendo, 14.5%, 15.17% e 14.24%, respectivamente. Por outro lado a parcela 4 apresentou menor porcentagem de matéria orgânica, 3.68% (Fig. 22). 41 180 16 160 14 140 12 10 100 8 80 % N. Ind. 120 6 60 40 4 20 2 0 0 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P9 P10 Parcelas Sub-bosque Floresta M.O. Fig. 22. Número de indivíduos para floresta e sub-bosque e porcentagem de matéria orgânica na área de estudo Rosário Oeste – MT, Fazenda Novo Destino. Na planície de inundação a porcentagem de matéria orgânica encontrada nas parcelas é inversamente proporcional as cotas altimétricas do perfil topográfico, ou seja, as áreas mais baixas possuem maior quantidade de matéria orgânica enquanto que as áreas mais altas possuem menos. Isso pode ser explicado pelo fato de que diante de uma inundação, causada tanto pelo extravasamento do canal quanto pela precipitação direta, a matéria orgânica acumulada nas partes mais altas “lixivia” para as partes mais baixas. Segundo Jacomine (2001), nas áreas onde há permanente encharcamento do solo desenvolvem-se principalmente os organossolos (solos orgânicos) e em menor proporção os gleissolos e os neossolos quartzarênico hidromórfico (areias quartzosas hidromórficas). O mesmo autor cita que quanto às propriedades químicas dos solos orgânicos, verifica-se prevalência de solos fortemente ácidos, com baixa saturação por bases e elevada saturação em alumínio extraível. Freqüentemente estes solos são deficientes em alguns micronutrientes. A parcela 4, que apresentou menor quantidade de matéria orgânica é também a mais elevada da planície de inundação. Em geral uma vegetação mais abundante é esperada em solo mais rico em M.O. e portanto mais rico em nutrientes. No entanto o contrário aqui é observado, a parcela 4 mais pobre em M.O. suporta uma vegetação 42 mais densa e rica que as parcelas 3 e 6. Isso de deve ao fato de que a dinâmica de inundação é o principal limitante para a densidade e diversidade das espécies na área de estudo. Além disso essa elevação na planície de inundação caracteriza uma mudança brusca nas características do ambiente ocorrendo a formação de um ecótono, aonde segundo Neiff (2003) a transição entre duas ou mais comunidades (ou populações) implica a existência de uma área com valores intermediários para os parâmetros que caracterizam a estrutura desse conjunto de organismos (densidade, cobertura, volume). O mesmo autor cita que esta transição ou tensão implica reconhecer que ambas as comunidades ou populações interferem uma sobre as outras mediante alelopatia, com diferentes taxas de reprodução e de crescimento, tolerância e taxa de recuperação aos distúrbios, entre outros atributos que intervém para configurar a preponderância de uma ou outra população. O resultado pode ser uma transição: modificação estutural e funcional da assembléia na zona de contato. Os indicadores estruturais a medir são atributos qualitativos (integração específica, estrutura de idades) e quantitativos (tamanho dos indivíduos, densidade e tamanho populacional), ainda que as causas e conseqüências das mudanças em ambos os casos sejam distintos. Entretanto percebe-se que, na área de estudo, a quantidade de matéria orgânica do solo não é o que mais limita a vegetação, exercendo apenas uma influência secundária sobre a distribuição e densidade das espécies, pois a dinâmica de inundação parece ser o principal determinante. 43 5. CONCLUSÃO A análise dos hidrogramas da estação fluviométrica de Rosário Oeste – MT no rio Cuiabá, o cálculo do intervalo de recorrência de cheias na área de estudo realizado através do modelo de remanso, demonstraram que a mesma sofre influência do pulso de inundação, ocorrendo, em diferentes intervalos ao longo do gradiente topográfico. Um perfil topográfico com altitudes diretamente proporcionais a distância, ou seja, as altitudes aumentam na mesma proporção que a distância, permitiria avaliar a duração da inundação em cada parcela através da análise dos hidrogramas conhecidos, porém, o que se encontrou foi um perfil topográfico com depressões consideráveis evidenciando uma planície de inundação muito bem definida, e, desta forma, impossibilitou estimar a duração da inundação nas parcelas, uma vez que o transbordamento do canal causa armazenamento de água na planície, sendo assim uma relação robusta entre a freqüência, extensão e duração da inundação com a distribuição da vegetação ficou restrita. Pelo menos se pode pensar que as áreas em depressão permanecem mais tempo alagadas do que as outras. Entretanto pode-se avaliar a importância do alagamento sobre a distribuição das espécies evidenciando que as cotas topográficas aonde as espécies se encontram refletem o nível de inundação a qual estão sujeitas, ocasionando, desta forma, a formação de diferentes fitofisionomias, podendo ser observado a ocorrência de floresta decídua, regeneração, área úmida e cerrado, demonstrando uma relação qualitativa entre a duração da inundação e a composição vegetal. Além disso, ficou claro que na área de estudo a freqüência e duração da inundação constitui o principal determinante ecológico da vegetação tanto no que diz respeito a composição, estrutura e processos sucessionais. A análise de matéria orgânica do solo não demonstrou influenciar na distribuição da vegetação, apenas indicou que a maior concentração de matéria orgânica ocorre nas partes mais baixas. Sendo assim, foi possível demonstrar a complexidade dessas formações vegetacionais, que estão sobre forte influência de perturbações naturais, estas que são responsáveis pela manutenção dos diferentes ambientes encontrados. Portanto, como foi demonstrada a importância da inundação para a distribuição da vegetação, possíveis alterações causarão mudanças significativas nessas áreas 44 influenciando os processos de sucessão onde espécies de regiões secas invadirão áreas antes inundadas, alterando significativamente a composição natural da vegetação. Porém, para a consolidação deste estudo é necessário o monitoramento das áreas estudadas por tempo mais prolongado com intervalos de coleta de pelo menos 7 anos um do outro, como na maioria dos trabalhos desenvolvidos em outras partes do mundo. Através disto, junto com monitoramento acompanhado das alterações causadas pela hidrelétrica poder-se-á avaliar temporalmente a influência dessas alterações sobre as comunidades vegetais. Outro fato importante a ser destacado é quanto a Lei 4.771 de 15-09-65 do Código Florestal que trata da proteção das matas ciliares, segundo esta lei a área de proteção das margens dos rios varia de acordo com a largura do rio, ou seja, na área de estudo o rio compreende uma largura de aproximadamente 100 m, portanto deve-se preservar uma faixa de mata ciliar de apenas 100 m. Porém, no transecto de 550 m pode-se avaliar as diferentes fitofisionomias presentes com elevada importância ecológica e hidrológica. Desta forma, esta pesquisa demonstra a necessidade da reformulação da para manter a integridade das matas ciliares. 45 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, N. N., Nunes da Cunha, C. 1995. Mapa da cobertura vegetal da região noroeste do Pantanal de Poconé. Registro do ano de 1966. In: Fotointerpretação de fotografias aéreas aplicadas ao estudo da vegetação e avaliação territorial. Relatório CNPQ. 25p. Alvarenga, S. M., Brasil, A. E., Pinheiro, R., Kux, H. J. H., 1984. 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