análise de “Bárbara”

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O Sujeito Homoerótico Feminino em Chico Buarque: análise de
“Bárbara” e “Mar e Lua”
Maria Cleide Rodrigues Bernardino – Universidade Federal do Ceará
Carine Rodrigues Nogueira - Secretaria de Educação do Estado do Ceará
Edivânia Frutuoso da Silva- Secretaria de Educação do Estado do Ceará
Aline Rodrigues Nogueira - Universidade Federal do Ceará
A seguinte pesquisa propõe um estudo comparativo das canções “Bárbara” e
“Mar e Lua” do compositor Chico Buarque de Holanda, sob a perspectiva da construção
de sujeitos femininos submissos à ordem social que os impede de realizar seus desejos.
Ambas remetem a temática do amor como mote a poesia e são marcadas por um
conflito estabelecido, não pelo sentimento amoroso, mas por se tratar de uma relação
homoerótica. A representatividade dos sentimentos femininos, mais explicitamente do
homoerotismo feminino, traz a purgação da dor, contida no distanciamento das relações,
seja pelos padrões sociais exigidos, seja pelo fim do amor em um dos sujeitos. Essas
canções mostram a configuração do preconceito culminando no elemento trágico, fator
condicionante da impossibilidade da realização plena do amor entre os eu-líricos.
RESUMO:
PALAVRAS-CHAVE: Homoerotismo Feminino; Sentimentos Femininos na Música;
Subalternização do Amor
ABSTRACT: The Homoerotic Female Subject in Chico Buarque: analysis of
"Barbara" and "Mar e Lua”
The following research proposes a comparative study of songs, "Bárbara" and "Mar e
Lua" the composer Chico Buarque de Holanda, from the perspective of the construction
of female subjects submissive to the social order that prevents them from accomplishing
your desires. Both refer to the theme of love as a theme of poetry and are marked by a
conflict set, not the feeling of love, but because it is a homoerotic relationship. A
representation of feminine feelings, more explicitly female homoeroticism, brings to
purge the pain contained in distance relationships, is required by social standards, or by
order of love in one of the subjects. These songs show the bias setting culminating in
the tragic element, determinant of the impossibility of full realization of love between
theI-lyric.
KEY WORDS: Female Homoeroticism; Feelings Women in Music; Subordination of
Love.
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Introdução
Falar do compositor carioca Francisco Buarque de Holanda, carinhosamente
chamado de Chico Buarque, não é não é uma tarefa muito fácil. Sua obra foi marcada
por um estilo peculiar, pois originalidade de expressão é o maior requisito para
reconhecermos um talento genuíno como Chico.
Chico foi cultuado como uma tarefa muito fácil. Sua obra foi marcada por um
estilo peculiar, pois originalidade de expressão é o maior requisito para reconhecermos
um talento genuíno como Chico. Entretanto houve uma mudança em sua poética da
primeira para segunda fase. A linguagem ingênua, comportada e nostálgica de então é
abandonada para dar espaço a uma linguagem mais agressiva e engajada que vinha a se
caracterizar mais tarde, por seu caráter denunciativo, como de protesto. Esta, por sua
vez, também foi abandonada para dar vazão a uma fase mais poética cujo tema era as
mulheres.o compositor da alma feminina, aquele que melhor retratou os sentimentos da
mulher em sua escrita, tanto no âmbito musical quanto literário. Podemos afirmar que
ninguém compreendeu a mulher e os afetos por ela representados tão bem como Chico
Buarque. O eu-lírico feminino de suas canções contém a essência do que é ser mulher.
Inúmeras foram as canções dedicadas a essa vertente, com diferentes enfoques:
Angélica, Beatriz, Bárbara, Luiza, Rita, Yolanda, Carolina entre outras. Não seria
leviano afirmar que para Chico, falar da mulher fazia parte do seu próprio universo
enquanto “irmão da Miúcha” no início da carreira, enquanto pai de três filhas e casado
por trinta anos com Marieta Severo. Ou seja, sua vida foi permeada por mulheres o
tempo todo, portanto, falar de sua alma e de seus afetos era evidente.
Para o presente trabalho selecionamos duas canções, cujo eu-lírico é feminino
em ambas e retrata o amor de mulheres por mulheres: “Bárbara” e “Mar e Lua”, tendo
como principal elo entre as duas a representação do amor homoerótico numa
perspectiva voltada para a idéia de subalternização, partindo do pressuposto de que a
sociedade desvaloriza, renega e estigmatiza esse amor, portanto tende a subalternizá-lo.
Estabeleceremos um paralelo entre afeto e sexualidade, colocando em evidência os
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fatores de homossexualidade e preconceito nessas canções procurando mostrar a
transfiguração do elemento trágico relacionando-o ao amor, mostrando-o como um
amor problemático, baseando-se na idéia de que a escrita feminina é a “escrita dos
afetos, dos amores, das dores, das melancolias dos ressentimentos, das perdas”.
(CASTELLO BRANCO, 1994, p. 68-69), uma vez que essas questões fazem parte de
uma esfera social e cultural.
Relações Homoafetivas e Subalternização nas Canções
Por se tratar de temas advindos de relações sociais e culturais, é justamente
nesse ponto que encontramos as marcas da subalternização, pois a sociedade, algumas
vezes por razões culturais, tende a desvalorizar as relações homoafetivas atribuindo-lhes
um caráter negativo, imoral e vergonhoso. E é nesse sentido que percebemos o elemento
da subalternidade presente nessas composições, pois temos em ambas a negação desse
amor pela sociedade. Porém, somente renegá-lo não é o bastante, é preciso estingui-lo,
eliminá-lo, mesmo que para isso seja necessário conduzi-lo ao trágico.
A tragédia permeia ambas as canções. Em “Bárbara” esse elemento trágico
caracteriza-se pela ausência da pessoa amada, deixando o eu-lírico completamente
abandonado, provocando assim, uma dor profunda e dilacerante, fazendo-o “mergulhar
num poço escuro”.
No entanto é em “Mar e Lua” que a tragicidade aparece de forma mais forte e
marcante, pois em virtude do preconceito e da estigmatização da sociedade os sujeitos
femininos são conduzidos à morte, dando assim, um fim ao fator que “envergonha a
moral e a boa conduta dessa sociedade”.
Preconceito, sexualidade e tragicidade afloram em “Bárbara” e “Mar e Lua”,
refletindo o afeto feminino em meio ao proibido e o desejo aparece de forma urgente e
belo, rodeado pelo universo da dor, da perda e do abandono. Temos em ambas as
canções um misto de prazer e de angústia, de desejo e aversão.
O amor heterossexual é tema de canções e poesias de muitos poetas e
compositores, porém se arriscar em retratar essa relação entre sujeitos do mesmo gênero
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é algo relativamente novo, em se tratando de pesquisas científicas no acervo
buarquiano. A escrita dessas canções se caracteriza pelo prazer e a fruição como
explicitado por Barthes:
Texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que
vem da Cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática
confortável da leitura. Texto de fruição: aquele que põe em estado de
perda, aquele que desconforta (talvez até certo enfado), faz vacilar as
bases históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de
seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise
na sua relação com a linguagem. (BARTHES, 2OO6, p. 20-21).
O prazer é retratado pelo amor, o sentimento dos afetos, a beleza da afeição; e
a fruição, pelo desconforto do amor proibido e da distância do relacionamento. Barthes
diz que, “um texto sobre o prazer não pode ser outra coisa senão curto” (2006, p.25). As
letras das duas canções objeto dessa investigação são, como é característica do texto
musical, curtas, prazerosas, mas também trazem a fruição do texto, “como uma
obliteração súbita do valor guerreiro, uma descamação passageira dos esporões do
escritor, uma parada do coração”. (BARTHES, 2006. p. 38). Esse escritor retrata o
sentimento feminino em sua essência e traz o questionamento e o distanciamento do
amor e ainda a proibição da sociedade, que não aprova e o conduz ao trágico em uma
canção e ao distanciamento da ruptura do relacionamento na outra canção.
Essa idéia se assemelha ao processo de criação da poesia de suas letras,
conforme podemos observar em Werneck (2006, p. 118):
Em parceria ou não, o instante da criação é de plenitude. É quando, no
dizer de Marieta Severo – durante muitos anos, a primeira pessoa a
quem Chico ia mostrar uma canção recém – nascida –, ele vai do
inferno ao paraíso. Um processo, descreve Marieta, muito doloroso,
em que o compositor persegue alguma coisa que não sabe o que é.
“Não é como um ator”, ela compara, “que tem um personagem a guiálo.” Primeiro, há a sensação de que não vai conseguir. Depois, a
percepção de algo a caminho. “A partir daí, é uma embriaguez”.
Os sentimentos da criação se misturam com os sentimentos do eu-lírico que
finalizam com o adentramento do leitor e de suas inferências, concluindo a fruição e o
prazer explicitado no gênero.
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Análise do Texto: Bárbara
Sim, a música aqui é um gênero textual poético, conforme Fávero e Koch
(1994 p. 18) nos explicam a respeito do que é texto: “O termo texto abrange tanto textos
orais, como textos escritos que tenham como extensão mínima dois signos lingüísticos,
um dos quais, porém, pode ser suprido pela situação [...]”.
A representatividade dos sentimentos femininos, mais explicitamente do
homoerotismo feminino revelado no texto musical de forma lírica, traz um eu-lírico ao
mesmo tempo sofrido e sabedor de seus desejos, consciente da situação norteadora do
conflito e que estabelece um paralelo no padrão amoroso. Traz também uma purgação
da dor, contida no distanciamento das relações seja pelos padrões sociais exigidos, seja
pelo fim do amor em um dos sujeitos.
Passemos a análise de “Bárbara”, de autoria de Chico Buarque e Ruy Guerra
(1972-1973):
Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é de mais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar
O meu destino é caminhar assim
Desesperada e nua
Sabendo que no fim da noite serei tua
Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva
Acumulando de prazeres o teu leito de viúva
Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é de mais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar
Vamos ceder enfim à tentação
Das nossas bocas cruas
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E mergulhar no poço escuro de nós duas
Vamos viver agonizando uma paixão vadia
Maravilhosa e transbordante, feito uma hemorragia
Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é de mais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar
Bárbara
Toda a poesia está permeada por um misto de oclusivas velares e nasais. As
oclusivas remetem a algo brusco, forte, enquanto as nasais remetem à mansidão,
calmaria e as velares, a fluidez. Portanto, o eu- lírico vê esse amor por Bárbara como
algo forte, mas ao mesmo tempo terno e possível, enquanto Bárbara não está aberta a
esse amor, não está apta a vivenciar esta relação, talvez por isso se encontre longe,
ausente, marcando a impossibilidade de realização desse amor pela distância.
Bárbara é o fator determinante desse amor, é ela quem conduz, quem determina
o rumo da relação. “Bárbara” retrata um amor proibido, cuja figura amada está longe e
ausente mostrando a busca incessante do eu-lírico pela pessoa amada, ou seja, por
Bárbara. O que nos permite voltar o olhar para a questão do homoerotismo, uma vez
que a canção retrata o amor existente entre duas mulheres.
E é justamente por se tratar de uma relação homoafetiva que iremos encontrar
alguns fatores que marcam a não-realização da mesma, partindo do pressuposto de que
as relações homoafetivas são relações fadadas ao fracasso.
Distância e ausência na primeira estrofe.
“onde estou, onde estás, meu amor vem me buscar”
Desespero e medo, na segunda:
“o meu destino é caminhar desesperada e nua... Deixa eu te proteger do mal,
dos medos e da chuva...;
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Tentação, obscuridade e agonia na quarta estrofe:
“Vamos ceder enfim à tentação
Das nossas bocas cruas
E mergulhar no poço escuro de nós duas
Maravilhosa e transbordante, feito uma hemorragia”
Esses fatores que distanciam o eu-lírico da pessoa amada, impossibilitando
assim a concretização dessa relação, despertam no sujeito feminino os sentimentos de
angústia e melancolia por fazerem desse sujeito o portador de um estigma cuja
sociedade empurra para sua margem. Esta canção retrata o amor proibido e ausente
entre duas mulheres evidenciando a seguinte questão: vazio e impossibilidade são as
marcas do feminino nessa canção. Fato que também se repete em “Mar e Lua”, porém
de uma forma mais drástica e marcante.
Análise do texto: Mar e Lua
Ambas as canções foram compostas inicialmente para o teatro, sendo que “Mar
e Lua”, composição de 1980, especialmente para a peça Geni, de Marilena Ansaldi. E
são consideradas músicas símbolos. Signos de uma geração que rompem conceitos e
padrões, construindo uma nova crítica social. Foi inspirada em uma crônica de jornal,
que contava o suicídio de duas amantes, que foram discriminadas pela moral vigente
local.
De forma doce e poética, Chico conta a história, descrevendo o momento final
das duas, enchendo de metáforas e beleza toda a tragicidade desse amor clandestino. O
homoerotismo é acentuado entre desejos, impulsionados pela paixão, tendo como palco
a luz da lua e o mistério do mar
Passemos à análise do texto “Mar e Lua”:
Amaram o amor urgente
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As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
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Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar
Dentro da própria forma da poesia o compositor constrói um ápice na poesia
narrativa – canção –, e dá uma quebra das sílabas poéticas sempre que se referem aos
elementos femininos – às duas mulheres –, presentes na letra da canção.
Sempre que há uma estabilidade representada na poesia pela métrica perfeita, o
compositor introduz uma quebra desse equilíbrio rítmico e cita os dois elementos
femininos, demonstrando a relação de contraversão desse relacionamento aos olhos do
padrão normativo dos relacionamentos na sociedade.
Quando se faz referência a “Mar e Lua”, a contagem dos versos se dá numa
progressão crescente, mas somente até onde começa o processo de diluição do
relacionamento aos olhos sociais, quando começa o distanciamento do relacionamento
com relação à sociedade, a contagem dos versos recua igualando-se a primeira,
remetendo à idéia de um marco zero que seria o início da destruição da relação.
Entretanto, no final, com uma contagem de sílabas poéticas muito superior às
outras, a referência as duas é feita não separadamente – um elemento feminino do outro
–, mas refere-se à ambas unificando-as e representando a sublimação desse amor, tendo
em vista essa contagem. Esta canção composta em 3ª pessoa retrata, em uma metáfora,
o amor entre duas mulheres. No entanto, um amor marcado pela dor, pelo sofrimento e
pelo preconceito. É facilmente notável a subalternização desse amor nessa canção e isso
se dá por se tratar de uma relação homoafetiva. As marcas da rejeição da sociedade a
esse amor são claras em diversos trechos da composição: “Amavam o amor proibido”...
“E foram ficando marcadas, ouvindo risadas, sentindo arrepios...” “E foram correnteza
abaixo, rolando no leito, engolindo água...” “E a se desmanchar”.
Percebemos claramente o conflito enfrentado por esses sujeitos femininos por
causa do homoerotismo, pois é no campo do embate homoerótico que a subalternização
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do feminino se esgarça. A subalternização transgressora do papel feminino. A recusa
dos papéis impostos pela sociedade é uma marca do feminino, que luta contra essas
imposições tornado-se assim, um agenciador da desordem, na qual não vigora a
necessidade de obediência à norma.
A impossibilidade de realização plena desse amor se dá, mas somente aos
olhos da sociedade; para a sociedade esse amor não se concretiza, caminha para a
diluição, marcada pela morte dos sujeitos femininos. Entretanto, ambas as mulheres se
encaminham para ficarem juntas, para morrem juntas. Portanto, elas negam a sociedade
e num plano só delas vivenciam esse amor.
Temos então a morte, não como fonte de temor, mas como a única forma
através da qual, ambas as mulheres – o casal – atingem o estado da plenitude, da
perfeição, da união para a concretização desse amor.
Considerações finais
Estabelecendo uma relação de comparação entre essas duas canções,
percebemos facilmente muitos pontos em comum entre elas. Ambas são marcadas pela
relação de homoafetividade, retratando o amor de mulheres por mulheres, cuja
sociedade, apesar de todo o discurso democrata, defendendo a liberdade de expressão e
igualdade de direitos para todos, mostrava-se ainda amarrada pelos laços de
tradicionalismo, revelando que os valores patriarcais, machistas e tradicionais, ainda se
encontram fortemente arraigados no sujeito inserido nessa sociedade.
Outro ponto forte em que ambas as composições se comunicam é o fato de
representarem uma relação que não se concretiza aos olhos da sociedade, relações que
não se realizam em sua completude. Em “Bárbara” a impossibilidade desse amor se dá
pela distância e ausência da pessoa amada, pelo abandono do eu-lírico por parte da
pessoa amada e em “Mar e Lua” pela representação da morte dos sujeitos femininos aos
olhos da sociedade.
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Essas canções constituem um caminho para a destruição, a distância, a morte,
pois a sociedade, neste caso, renega os processos sociais de inclusão desses sujeitos
femininos e empurra-os para o território da subalternidade, deixando-os à margem,
obrigando-os a fazer parte de um grupo que é excluído e rejeitado, mas que tem
consciência dessa rejeição, e que embora saibam perfeitamente quais são os motivos
geradores dessa estigmatização, esses sujeitos não se submetem ao enquadramento da
sociedade, preferindo em um dos casos, a morte ao seguimento das normas sociais.
Referências bibliográficas
BARTHES, Roland. O Prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 2006.
CASTELLO BRANCO, Lúcia. A Traição de Penélope. São Paulo: Annablume, 1994.
FÁVERO, Leonor Lopes. KOCH, Ingedore Vilaça. Linguística textual: uma
introdução. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
MENESES, Adélia Bezerra de. Figuras do feminino na canção de Chico Buarque.
Cotia: Ateliê Editorial, 2000.
WERNECK, Humberto. Chico Buarque: tantas palavras. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
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