Semeando conhecimento

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Semeando conhecimento
EM REVISTA
PUBLICAÇÃO DA ESCOLA DE NEGÓCIOS UNIVERSIDADE POSITIVO
Edição | 01 • Maio | 2008
R$12,00
Semeando
conhecimento
A importância de investir no principal ativo, hoje, de uma
empresa: o conteúdo intelectual de cada colaborador.
MAURíCIO BOTELHO
Lições de como ser um verdadeiro líder.
POLÊMICA
Dois especialistas respondem por que o dólar começa
a ser questionado como referência de moeda mundial.
EDITORIAL
A Escola de Negócios da Universidade Positivo já nasce de forma diferenciada. Ela integra fortes elementos teóricos da academia com competências empíricas bem-sucedidas
de um grupo empresarial – Grupo Positivo – formado pelas Escolas Positivo, Centro de
Línguas Positivo, Curso Positivo, Universidade Positivo, Positivo Informática, Editora Positivo
e Gráfica Posigraf. Essa integração é fundamental, porque, para saber ensinar, é preciso
saber fazer e ser referência no mercado de atuação.
A Universidade Positivo cria a Escola de Negócios para consolidar o que muitos chamam
de educação continuada, mas poucos realmente oferecem: graduação, pós-graduação,
mestrado, doutorado, numerosos cursos de extensão com as empresas parceiras, pesquisa
e produção científica de referência em business.
A Revista da Escola de Negócios, Negócios em Revista, surge como um diferenciado
veículo de comunicação com o mercado. Soma os relatos que ocorrem no cotidiano do
mundo dos negócios sem, contudo, perder o senso crítico e as análises necessárias para
compreender esse mesmo mundo. É uma revista de formação de opinião, direcionada
para executivos, empresários, comunidade estudantil e todos os que se relacionam ou
têm interesse sobre o contexto que envolve as organizações. A comunicação ocorre com
uma linguagem próxima dos profissionais do mercado, o que torna a leitura agradável e
interessante. Assim, a revista é uma forma de integração de saberes entre diversos profissionais da área e diversas temáticas.
Nesta e nas próximas edições, os leitores encontrarão relatos, opiniões, análises e
conteúdos específicos relacionados ao mercado de trabalho, às tendências de negócios,
às novas oportunidades, à internacionalização de empresas, ou seja, a todos os temas
relevantes e atuais que estejam associados à área de negócios.
O compromisso da Revista da Escola de Negócios da Universidade Positivo é com a
excelência das informações, com a pauta adequada e de interesse dos leitores, com as
escolhas dos colunistas e com a qualidade geral da Revista. O compromisso dos leitores é
fazer dela um ato de prazer e aprendizagem. Um momento especial de imergir no mundo
dos negócios de forma consistente e agradável.
Boa leitura!
Professor Renato Casagrande
Diretor da Escola de Negócios Universidade Positivo
Expediente
Negócios em Revista é uma publicação
trimestral da Escola de Negócios
Universidade Positivo, distribuída em todo
o território nacional a líderes empresariais
e representantes do setor corporativo.
Sua reprodução integral ou parcial
é permitida, desde que citada a fonte.
Reitoria
Reitor: Prof. Oriovisto Guimarães
Vice-Reitor: Prof. José Pio Martins
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Alexandre Daniel Rosa, Armando Rasoto,
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Equipe de Redação
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Edição: Ana Paula Mira
Redação: Ana Paula Mira,
Antonio Carlos Senkovski,
Gabrielle Chamiço e Luísa Barwinski.
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Universidade Positivo
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Esta publicação é elaborada em parceria com o
curso de Jornalismo da Universidade Positivo.
Sua idéia
Espaço reservado para todos os
leitores que queiram dar sugestões de
pauta, criticar ou elogiar o conteúdo da
Negócios em Revista, ou simplesmente
para aqueles que desejam expor sua
opinião em relação a um dos temas
abordados. Sua idéia, aqui, é conteúdo
de primeira grandeza. Participe!
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Maio 2008
Negócios em Revista
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ÍNDICE
TRAJETÓRIA
Nos anos 70, uma empresa que, a bordo de um
fusca, descobriu que o Brasil seria um ótimo
país para investir
Página 06
CURTAS
Tata, blogs e problemas psicológicos no
ambiente corporativo
Página 08
06
POLÊMICA
O sim e o não para uma pergunta que tem intrigado economistas: o dólar está perdendo sua
referência como moeda mundial?
Página 10
PERCEPÇÕES
As artimanhas da linguagem no mundo corporativo. Por José Pio Martins
Página 13
ESPAÇO HSM
Uma conversa com Maurício Botelho,
presidente do conselho da Embraer
Página 14
PERFIL
MATÉRIA de Capa
Entenda
por que na
sociedade do
conhecimento
o trabalhador
é peça
fundamental
para o sucesso
de uma
empresa
A carreira de sucesso que levou o atual
presidente do HSBC no Brasil a mudar de
cargo e assumir o HSBC América Latina
Página 20
14
ACONTECE
A tecnologia que promete revolucionar a
maneira de se comunicar
Página 26
NA MIRA
Google desponta como uma das empresas
mais bem-sucedidas do mundo, mas todo seu
conteúdo ainda é desconhecido
Página 28
NOVIDADES
Relógios preciosos, multicarregadores e um
GPS que só falta levar pela mão
Página 30
VÁRIAS Idéias
Características e vida útil da governança
corporativa. Por José Pachoal Rosseti
Página 33
28
ÍNDICES
Página 34
Página 22
TRAJETÓRIA
Aventura de trabalho
Antonio Carlos Senkovski
6
Negócios em Revista
Maio 2008
A bordo de um fusca, na década de 70,
despachadas por rodovias. Entretanto,
ouvindo o típico barulho estridente e sentin-
um dos principais aspectos da vinda para
do aquele forte cheiro de gasolina. Este é
o Paraná deveu-se pela proximidade do
o cenário da aventura dos suecos Tage
Porto de Paranaguá e dos fornecedores
Karlsson e Anders Levin, que percorreram
de autopeças em São Paulo.
vários quilômetros pelas precárias rodovias
Desde 1927, quando foi criada a empre-
brasileiras em três semanas no ano de
sa na Suécia, os fundadores Gustaf Larson
1972. Na avenida Presidente Dutra, podiam
e Assar Gabrielson diziam: “veículos são
ser vistos os dois jovens, sentados nos
feitos para transportar pessoas. Por isso,
amplos pára-lamas do fusquinha, contando
o princípio básico para todo o trabalho,
o número de caminhões que passavam por
do desenvolvimento à produção, deve
ali, registrando marcas, capacidade de
ser sempre a segurança”. No Brasil, já na
carga e o estado dos veículos.
comemoração de 10 anos da chegada da
Karlson fazia parte da área de planeja-
Volvo, em 1987, a empresa lançou o “Pro-
mento de produto e Levin trabalhava na
grama Volvo de Segurança”, em vigor até
área de caminhões da Volvo. A “aventura”,
hoje com o nome de “Volvo de Segurança
feita por aqueles que podem ser consi-
no Trânsito”. O programa adotado no país
derados os precursores da empresa Volvo
propôs vários debates para reduzir os
por aqui, permitiu que fossem levantados
acidentes de trânsito e contribuiu de forma
dados sobre a economia brasileira e o
expressiva para a elaboração do Código
estado da frota de veículos comerciais. O
de Trânsito Brasileiro de 1997.
trabalho resultou em um relatório detalhado
A posição da empresa no que diz
apresentado à matriz na Suécia. A partir
respeito à preocupação com pessoas
deste estudo, a avaliação do Brasil para a
abrange também os funcionários. Em 1995,
implantação de uma unidade de fabricação
a multinacional sueca lançou o Vikingprev,
pela empresa foi positiva.
plano de aposentadoria suplementar, e foi
O tempo era de ditadura militar, o que
pioneira no Brasil ao implantar a redução
não significava inviabilidade para a insta-
da jornada de trabalho dos horistas para
lação da fábrica no recém-criado bairro
40 horas semanais.
CIC, em Curitiba. Os investimentos do
Nas inovações criadas pela multina-
governo na área de transportes durante o
cional, a criação da Volvo Financial Ser-
regime ditatorial, principalmente até 1973,
vices Latin América é uma referência. A
foram enormes, o que fazia da área de
financeira existe desde 1993. Atualmente,
transportes um mercado crescente. Em
ela é responsável pelos financiamentos
1968, mais de 70% do total de cargas eram
que resultam em 40% das vendas dos
A inovação, sem dúvida, faz parte da política
da empresa desde seu surgimento.
caminhões, ônibus e equipamentos de
que se constitui pelos setores de cami-
bilizado pela financeira da montadora.
construção da marca no País.
nhões, ônibus, equipamentos de construção,
Neste financiamento, o cliente não
Uma novidade extremamente importante,
motores marítimos e industriais, serviços
adquire o caminhão, mas contrata e
só que na área de segurança e criada mais
financeiros, trem-de-força, área indus-
paga por quilômetro rodado.
recentemente, foi o lançamento dos ca-
trial, desenvolvimento e planejamento de
A inovação, sem dúvida, faz parte
minhões equipados opcionalmente com o
produto e compras, logística e peças. Seu
da política da empresa desde seu
alco-lock. O dispositivo, uma espécie de
faturamento em 2006 foi de R$ 3 bilhões.
surgimento. Até a maneira como a
bafômetro instalado dentro da cabine do
Em 2007, foi apontada como uma das
Volvo chegou ao Brasil teve um tem-
veículo, só permite que o motorista dê a
10 melhores empresas para trabalhar no
pero especial: o cheiro de gasolina
partida no caminhão depois de assoprar
Brasil, em uma pesquisa realizada pelas
trazendo o barulho pelos caminhos do
no aparelho e ser aprovado no teste da
revistas Exame e Você S/A.
desenvolvimento da indústria.
quantidade de álcool no sangue.
A Volvo do Brasil forma um “minigrupo”
Hoje, a grande novidade da Volvo é o
serviço de leasing operacional, disponi-
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Negócios em Revista
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CURTAS
Gabrielle Chamiço
Economia cotidiana
Freakonimics é um blog que trata
de economia de uma forma não convencional, por meio de diferentes perspectivas. São publicados pequenos
textos sobre os assuntos do cotidiano,
escritos pelo jornalista Stephen J. Dubner e pelo economista Steven D. Levitt.
Ambos escrevem para o "The New
York Times" e por meio deste veículo
fazem questionamentos que não são
típicos de um economista, mas que
também mostram para as pessoas que
a economia é um estudo de incentivos.
Uma das questões é como conseguir o
que se quer, em especial quando outros
querem a mesma coisa? Os próprios
autores dizem que o propósito do site é
descobrir o lado mais “escondido” das
situações. O endereço do blog é http://
freakonomics.blogs.nytimes.com. Informações sobre os autores, notícias e a
cena do freakonimics ao redor do mundo
estão no site freakonomicsbook.com.
VINTE DICAS
DE SUCESSO,
POR DONALD
TRUMP
Parceria promissora
• Pense grande!
Tata vem desenvolvendo uma parceria
• Seja positivo.
promissora com a italiana Fiat. O estilo
• Siga sua paixão.
parecido deve gerar um vínculo lucrativo
• Aprenda algo novo todo dia.
nos negócios. O design moderno dos in-
• Confie em seus instintos.
dianos aliado ao já consagrado estilo dos
• Seja paciente.
carros populares dos italianos pode chegar
• Tenha um grande time por trás
ao mercado por um preço mais acessível
de você.
e conquistar adeptos do carro popular.
• Ponha beleza em tudo que faz.
Novas pick-ups, produtos resultantes da
• Aprenda a negociar, porque tudo parceria, serão produzidas na Argentina e
que você precisa depende disso.
devem ser lançadas ainda este ano, assim
• Sempre parta para disputar a como o sedã “Linea”.
maior vitória possível.
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Negócios em Revista
Maio 2008
Após o lançamento do Tata Nano, o carro
mais barato do mundo, a empresa indiana
Um dos setores de grande destaque na
• Invista em imóveis, é o melhor
economia brasileira no ano de 2008 será
investimento possível.
o automotivo. A Fiat é uma das empresas
• Assuma riscos.
que mais está investindo em inovações.
• Seja audacioso e atraia a atenção A escolha pela Tata como parceira tem
do público.
como uma das causas o fato de Ratan
• Seja sua própria marca.
Tata ser dono de um império bilionário na
• Goste de trabalhar sete dias por Índia. São 96 empresas divididas em sete
semana e nas férias.
setores: sistemas de comunicação, enge-
• Diga não.
nharia, materiais, serviços, energia, produ-
• Saia da sua zona de conforto.
tos químicos e para consumo. A Índia
• Seja teimoso quando necessário.
respira Tata e abusa do uso de seus
• Sempre tenha um plano B.
produtos. Ao que parece, o empresário
• Nunca se conforme com
pretende instalar esse modelo de vida em
o segundo lugar.
outros países, incluindo o Brasil.
Momento certo
Para este ano foram realizados in-
Maior empresa imobiliária do mercado
brasileiro, a Cyrela Brasil Realty repre-
vestimentos na expansão de landbank
senta a boa fase do mercado imobiliário
e adquiridos 129 terrenos – somados
do país, setor este que tende a ser
ao banco de terrenos atuais, totalizam
destaque no ano de 2008. Em 2007, a
8,8 milhões de m² – , que serão utilizados
empresa lançou 77 empreendimentos e
no desenvolvimento de novos projetos nos
teve o melhor desempenho de todos os
diversos segmentos em que a empresa
tempos. Fechou o ano com presença em
atua. A meta é atingir R$ 7 bilhões em
43 cidades e 13 estados do Brasil, o que
lançamentos e R$ 5,5 bilhões em vendas
soma R$ 5,4 bilhões em lançamentos e
contratadas, além de avançar para outras
R$ 4,4 bilhões em vendas contratadas,
cidades. A Cyrela já atua em São Paulo,
junto à joint ventures e parcerias. O
Rio de Janeiro, Maranhão, Santa Catarina,
lucro líquido chegou a R$ 422 milhões,
Goiás, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do
valor recorde.
Sul e Espírito Santo.
Pequeno problema,
grande solução
Problemas de relacionamento
dentro de grandes empresas podem
ocorrer. O que se torna um obstáculo
é saber como lidar com situações
delicadas que podem prejudicar o
desenvolvimento empresarial e o
ambiente de trabalho. A psicóloga
e mestre em antropologia social,
Jane Cherem, explica que a cultura
de uma empresa tende a reproduzir
as questões de relacionamento que
acontecem no campo social. Isso
gera discussão sobre legitimidade de
O futuro do BRIC
Está previsto que em 2050 um grupo de quatro países ultrapasse a economia do G6
poder. Não é raro ouvir situações em
que o funcionário sabe mais do que
o patrão. Nesse caso, a psicóloga
afirma que não há um problema, pelo
e seja a maior do mundo. Criado há aproximadamente 5 anos, pelos pesquisadores do
contrário, é desejável, pois todas
Goldman Sachs, o BRIC, grupo composto pelos países emergentes Brasil, Rússia, Índia
as grandes empresas precisam,
e China, continua com um bom desenvolvimento. Porém, tais previsões são complicadas
em algumas áreas, de grandes
diante de uma estagnação econômica que não existe para o grupo G6 por possuir o maior
especialistas, que nem sempre são
mercado interno. “A economia é um conjunto global de coisas. Você não pode crescer
os chefes.
uma e diminuir outra”, explica Artur da Silva Coelho, economista da Ambiens Sociedade
Outra situação é saber lidar com as
Cooperativa e professor de economia internacional da Universidade Positivo. Segundo ele,
variadas personalidades. Dentro de
todos os países do grupo cresceram bastante. A China principalmente, pois ela sofre um
um grupo, sempre vai haver o mais
processo de controle de capitais.
tímido ou o que seja mais desenvolto.
Silva ainda afirma que existe espaço tanto para o BRIC crescer quanto para o G6, mas
Em certos momentos é preciso agir
é importante ressaltar que o produto do G6 é mais agregado, conseqüentemente, o valor
com cautela. “Quando nos deparamos
da economia também. Quanto à crise dos Estados Unidos da América, não há como
com a fragilidade humana, precisamos
afirmar que ela afeta apenas os países emergentes. O reflexo está em toda a economia
sempre jogar a favor do sujeito mais
mundial e atinge os países de forma diferenciada. O economista exemplificou a relação
“problemático”, portanto mais frágil
dos países em questão: “A Rússia tem contratos perdoados com os norte-americanos, mas
psiquicamente. Às vezes estamos no
o poderio bélico ainda incomoda os Estados Unidos. Se a China estiver em crise forte, os
limite das possibilidades do sujeito.
EUA deixam de comprar ou não permitem a entrada dos produtos chineses. Na mesma
É sempre melhor voltar à calma, num
proporção afeta o Brasil”. O grupo dos países desenvolvidos tenta proteger alguns setores,
outro momento voltar ao assunto, se for
como dos produtos agrícolas, nos EUA e no Canadá. O que todos querem é a liberação
necessário, e manter o olhar clínico ao
total de produtos industriais e a dos países que ainda mantêm algumas barreiras no cha-
invés do olhar administrativo para estes
mado agronegócios. “A briga é quem vai liderar primeiro todas as barreiras industriais ou
casos”, conclui Jane.
agrícolas”, conclui Coelho.
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Negócios em Revista
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POLÊMICA
SIM
O dólar está perdendo sua
moeda mundial?
Crônica de uma realidade anunciada
Hugo Eduardo Meza Pinto1 | Marianne Cabral Baggio 2
A análise econômica é, sem dúvida,
como China (10%) e Índia (8%), absorveu
possibilidade de recessão da economia
um ato complexo ou fácil, depen-
essa irrigação de dólares americanos no
americana, o FED diminuiu 0,75% da taxa
dendo do momento da percepção e
mundo, amparando a emissão de moeda
de juros. Este foi o sexto corte consecutivo
observação. Falar sobre a desvalori-
e o aumento dos gastos do governo Bush,
nos juros americanos, que, no entanto, não
zação do dólar, em tempos em que o
como sua política de guerra. Depois de se
impediu posteriores quedas dos índices
mundo assiste a uma grande crise
retirarem em 1971 do padrão ouro, esta-
das bolsas de valores pelo mundo. Como
financeira gerada no país que emite
belecido no acordo de Bretton Woods, os
se não bastasse a constatação de recessão
essa moeda e é o responsável por
americanos criaram o padrão dólar, tendo
da economia americana, já admitida pelo
30% da produção desse planeta, é
como único lastro para suas emissões de
próprio presidente do FED, Ben Bernanke,
desafiador. Primeiro, pelos impactos
moeda a confiança que o mundo deposita
a possibilidade de contágio da crise do
que essa crise pode causar no restante
na sua economia.
subprime imobiliário ao restante do sistema
dos países, especialmente nos emer-
Atualmente, a abundância dessa moeda
gentes, como o Brasil. Segundo, pela
e a crise financeira desenvolvida no
é latente.
Nesse contexto de crise da principal
voracidade dos capitais especulativos
sistema financeiro americano colocam
economia mundial, o mais recomendável
e sua capacidade de desvendar/
em questionamento a possibilidade de
para países como o Brasil, que ensaiam
estourar uma bolha financeira mundial
continuar usando o dólar como referência
crescimentos significativos depois de anos
ainda não dimensionada. A realidade
de valor internacional. Entre agosto de
de recessão econômica, é esperar que
é que há uma série de motivos que se
2006 e 2007, Japão, China, Reino Unido,
a grande economia americana faça um
entrelaçam e deixam transparecer que
grandes petroleiras e Brasil mostraram um
pouso forçado que não abale as condições
essa crise não é tão passageira assim e
aumento tímido de 235 bilhões na compra
do mercado mundial e, principalmente, que
que de alguma forma abalará a moeda
de dólares. As únicas grandes compras
possa conduzir de forma menos dramática
americana e sua referência econômica
foram do Reino Unido (189,4 bilhões) e
suas próprias políticas macroeconômicas.
mundial.
Brasil (63,6 bilhões), enquanto a China
Nesse sentido, o debate das próximas
Ao longo desses últimos anos, os
aumentou seu investimento em apenas
eleições americanas terá um cunho mais
Estados Unidos financiaram seus
13 bilhões e o Japão diminuiu em 37,9
econômico do que geopolítico.
déficits gêmeos (interno e externo)
bilhões. Isso mostra a perda de interesse
No que tange ao dólar, este dificilmente
emitindo moeda, situação que, como
dos maiores compradores da dívida norte-
continuará, em longo prazo, sendo usado
rezam os manuais de economia, só
americana de continuarem os credores que
como referência mundial. Por enquanto, o que
nesse país não causa inflação por ser
costumavam ser.
sustenta sua utilização no comércio mundial
o dólar a moeda de referência mundial,
Outro fato que chama a atenção é a
e nas transações financeiras internacionais
pelo menos em curto e médio prazos.
incapacidade do Banco Central Americano
é a força hegemônica que os Estados Uni-
Ao mesmo tempo, o crescimento
(FED) de intervir de forma eficiente nessa
dos ainda têm no mundo, assim como sua
significativo de países emergentes,
crise. Este mês, na tentativa de diminuir a
relevância econômica e produtiva.
1 Doutor
pela USP e professor da Escola de Negócios da Universidade Positivo.
pela Universidade Positivo e estudante de Mestrado da University of the West of England.
2 Jornalista
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Negócios em Revista
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referência como
Desde que o dólar começou a ter quedas no seu valor, uma pergunta tem assombrado economistas de plantão: o dólar vai perder
seu status de referência mundial de moeda? A pergunta foi feita a dois especialistas da área e as respostas, que contemplam o sim e
o não, trazem informações valiosas para quem ainda tem dúvidas sobre a moeda norte-americana.
Não, não será a vez do Euro
José Guilherme Silva Vieira
Na história das economias monetárias,
se deveu ao fato de que, irritado com o
ecoou a preocupação de muitos de que
as moedas e o poder de compra que elas
privilégio norte-americano de financiar
é preciso fazer algo para que o dólar
representam sempre estiveram no foco
seus déficits externos com a impressão
pare de perder valor, mas é só isso.
das discussões dos homens de negócios
de dólares, o presidente francês Charles
Ademais, o ativo mais seguro do
e dos cidadãos no dia-a-dia. Isso porque
De Gaulle afirmou que os Estados Unidos
mundo em tempos de crise não é e
uma das funções fundamentais da moeda,
estavam comprando o mundo com dinheiro
nunca foi uma moeda, mas sim o ouro.
além de facilitar as trocas, é garantir a
sem lastro. De lá para cá, o dólar nunca
Nesse sentido, a valorização de quase
preservação do valor, das riquezas de uma
mais foi o mesmo.
20% do seu valor na BM&F em doze
sociedade.
A fraqueza do dólar hoje se deve basi-
meses se mostra preocupante. Diante
Durante boa parte do século XX e,
camente ao gigantesco déficit comercial
de uma crise final, não seria o euro o
inclusive ainda agora, o dólar americano
norte-americano com seus parceiros
paradeiro da riqueza, mas sim esse
cumpriu essa tarefa. Essa função de ser a
comerciais, sobretudo com a China e os
metal universalmente aceito como a
moeda de referência para a unidade real
países produtores de petróleo. É para-
riqueza mais líquida.
de valor da riqueza do mundo foi resultado
doxal o fato de que vem a ser justamente
Uma guinada em direção ao ouro
do papel desempenhado pelos Estados
esse imenso déficit que tem barateado
ou ao euro como reserva de riquezas
Unidos no pós-guerra.
o crédito pelo mundo, incluindo o Brasil.
substitutas só se faria à custa de
Na condição de maior potência econômi-
Assim, a medida ideal para fortalecer o
enormes prejuízos para investidores
ca mundial e uma das poucas economias
dólar seria acabar com o déficit comercial
internacionais e para os bancos cen-
não devastadas pela Segunda Guerra
dos EUA – o que prejudicaria a vida de chi-
trais de diversos países. Seja através
Mundial, os Estados Unidos lideraram
neses, indianos, russos e brasileiros, além
de uma mudança na política comercial
um sistema monetário oriundo do acordo
de europeus.
americana, seja através de outro expe-
Por outro lado, está em jogo a suprema-
diente, algo será feito após as eleições
estado de New Hampshire (EUA), basea-
cia do dólar enquanto paradouro da
norte-americanas para a presidência
do na conversibilidade de sua moeda, o
riqueza de investidores internacionais e
da república, em novembro. Podem
dólar, em ouro.
também das reservas internacionais dos
estar certos disso.
A força do dólar derivava-se da imensa
bancos centrais do mundo inteiro. Assim
potencialidade econômica representada
sendo, não interessa aos chineses essa
pelos EUA e pela conversibilidade de sua
desvalorização já que são donos das
moeda em ouro na base de US$ 35 a
maiores reservas internacionais do mundo
onça troy (31,1 gramas), medida que foi
em dólares, cerca de US$ 1,6 trilhão.
cancelada em 1971 pelo presidente Nixon.
NÃO
firmado na cidade de Bretton Woods,
O episódio vivido por Gisele Bündchen –
O cancelamento da conversibilidade de
que deu muito que falar, ao exigir que seus
dólar para ouro, protagonizado por Nixon,
cachês fossem pagos em euros –, apenas
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Negócios em Revista
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HSBC. A maior empresa do mundo.
Eleita pelo ranking Forbes 2000 das maiores companhias mundiais.
www.hsbc.com.br
HSBC Bank Brasil S.A. - Banco Múltiplo
PERCEPÇÕES
Linguagem
perigosa
José Pio Martins
Economista e Vice-Reitor da Universidade Positivo
Segundo estrategistas maquiavélicos,
na reforma tributária o IGF (Imposto sobre
afora exceções explicáveis, uma idéia
Grandes Fortunas). O argumento é que se
errada repetida dezenas de vezes passa
trata de um instrumento de justiça social,
a ser percebida como verdadeira pelo
pois tira dinheiro dos ricos para dar aos
povo. No discurso oficial, afirmam eles,
pobres. A repetição exaustiva desse tipo
as palavras devem representar o que
de argumento pode levar muitos entre os
o governo deseja e não o que os fatos
pobres à crença de que se trata de uma
realmente significam. Um exemplo ilustra
verdade. Entretanto, o argumento é falso.
bem a questão: sempre que se referem
Roberto Campos gostava de ironizar
à “competição por investimentos” entre
dizendo que aqueles que pregam a
os Estados, os que são contrários dizem
distribuição do bolo querem mesmo é o
que existe uma “guerra fiscal” no país. A
controle da faca, sobretudo para reservar
tal guerra, neste caso, refere-se apenas
uma boa fatia para si próprios. Ao término
aos benefícios tributários que os Estados
do governo Lula, o Brasil será um país
oferecem para atrair os investidores. A
criptossocialista, com o governo gastando
palavra “guerra” é negativa, denota coisa
em torno de 43% da renda nacional e tri-
ruim e é usada com a intenção de criar a
butando quase 40% dessa mesma renda.
percepção popular de que a disputa entre
Se a solução da pobreza dependesse da
Estados prejudica a sociedade.
quantia de dinheiro que o governo toma da
Quando tentava aprovar a CPMF, o go-
sociedade, o Brasil já teria saído da gafieira
verno dizia que o Senado tinha que encer-
subdesenvolvida e ingressado no luxo do
rar a crise envolvendo o senador Renan
Jockey Club.
Calheiros, para dedicar-se a projetos de
“Solidariedade social”, “interesse da
interesse da sociedade. O governo tentou,
sociedade”, “justiça fiscal”, todas essas
por vários meios, difundir a crença de que
são expressões da linguagem política,
a CPMF era um bem para o povo e, so-
usadas para revestirem de qualidades as
bretudo, para os pobres, mas a conversa
ameaças de confiscar mais renda de quem
“não colou”. A mesma cantilena retorna,
trabalha, sem a menor garantia de que a
agora, com a proposta do PT de embutir
vida do pobre será melhorada.
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Negócios em Revista
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ESPAÇO HSM
Mudou a música
José Salibi Neto
CKO do Grupo HSM
Em entrevista exclusiva, o chairman da Embraer,
Maurício Botelho, explica como se tira uma
empresa da falência para transformá-la em
uma das quatro líderes mundiais de seu setor
de atividade. Ao contrário do que muitos
empresários pensam, não é preciso mudar as
pessoas – os "músicos",
como ele ensina
poeticamente
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Negócios em Revista
Maio 2008
A indústria aeronáutica é um negócio
logy formaliza o reconhecimento que o
exigente. Requer elevado volume de capi-
mundo tem do trabalho de Botelho no
tal na operação, força de trabalho muito
mercado aeronáutico mundial: ele recebe
qualificada, variadas tecnologias de última
em Washington um dos mais aclamados
geração e tempo longo de maturação de
prêmios do setor, por seu lifetime achieve-
projetos. Isso a torna uma indústria de
ment nesse negócio – ou seja, por todas
risco particularmente alto, que tem der-
as suas realizações. O vice-presidente
rubado competidores tradicionais pelo
de desenvolvimento tecnológico, Satoshi
caminho, como a holandesa Fokker.
Yokota, está também entre os finalistas
O Brasil é o único país em desenvolvimento a ter uma fabricante de aviões entre
para a premiação, na área de engenharia
de propulsão.
as quatro maiores – a Embraer é a terceira,
Em abril de 2007, Botelho passou o bastão
depois da Boeing e da Airbus e antes da
executivo a Frederico Curado, sucessor que
Bombardier. Isso se deve a uma visão de
preparou, e manteve-se como presidente
longo prazo do governo brasileiro – cujo
do conselho de administração (chairman),
início remonta à década de 1940 – e ao
o que lhe possibilita continuar contribuindo
trabalho fundamental do executivo
na formulação da estratégia. Nesta inspirada
Maurício Botelho, o presidente-
entrevista a José Salibi Neto, chief-know-
executivo (CEO) que resgatou
ledge officer do Grupo HSM, ele conta que
uma Embraer praticamente
aprendeu na Amazônia a pôr as pessoas
quebrada em 1995 e a trans-
em primeiro lugar, explica o golpe de mestre
formou em player global.
da pulverização de capital, discorre sobre
Agora em março, a revista
planejamento e resume a mudança da
norte-americana Aviation
Embraer poeticamente: não mudaram as
Week & Space Techno-
pessoas; mudou a música.
Maio 2008
Negócios em Revista
15
Em abril de 2007, você deixou a
Antes do trabalho na Cia. Bozano, eu
presidência executiva da Embraer, de-
tinha sido engenheiro da Empresa Bra-
pois de 11 anos no posto. Quero começar
sileira de Engenharia (EBE), uma empresa
nossa conversa com uma pergunta
de montagem industrial, e essa atividade
quase filosófica. O que essa experiência
me deu algo incrível: permitiu que eu
significou na sua vida?
conhecesse o Brasil mais do que a média
dos brasileiros. Eu, que nasci e morava
Quando fui convidado a presidir a Em-
em Ipanema, no Rio de Janeiro, fui passar
braer recém-privatizada, e destroçada, o
6 anos na Amazônia como jovem enge-
que se apresentava para mim era coisa
nheiro de 26 anos, trabalhando no projeto
totalmente diferente de tudo que eu havia
de montagem de uma planta industrial
vivido antes. Algumas pessoas até me
na Ilha de Marajó. Foi um grande choque
falaram: “Você é doido! Vai largar a dire-
cultural, mas isso teve uma força enorme
toria executiva da holding da Cia. Bozano
na minha formação; pude ver as realidades
[antiga Bozano, Simonsen] e assumir a
tão distintas do País, os nossos desafios
presidência de uma empresa que está
como nação. Eu visitava as populações
destroçada?”. Mas isso foi justamente o
ribeirinhas e via que não tinham sentido
que me atraiu – o desafio imenso.
de futuro. Que futuro podiam ter? Elas
Eu conseguia enxergar ali uma empresa
não tinham nada, não aspiravam a nada,
de tecnologia diferenciada, desenvolvida
absolutamente marginalizadas dentro do
no Brasil, de grande valor. O País tinha
contexto socioeconômico do País.
investido e acreditado muito nela. Aos 52
Isso, para mim, foi um chamado muito
anos, percebi como seria bom terminar
forte. Eu não conhecia o povo. Era um
a carreira profissional sendo capaz de
engenheiro formado por uma das melhores
modificar e fazer reviver a Embraer. Eu
escolas do Brasil que vivia num bairro de
tinha uma motivação pessoal ao assumir o
classe média alta. Conhecer o povo, suas
cargo e também uma vontade de contribuir
dificuldades, sua formação e as questões
para o País.
do seu valor intrínseco foi muito impor-
E eu me sentia capacitado para isso,
tante. Por causa disso, prolonguei minha
porque tinha trabalhado numa subsidiária
estada na Amazônia: fui implantar mais
da Cia. Bozano dedicada a projetos indus-
duas usinas termoelétricas na área de
triais, ou seja, projetos inseridos no con-
Manaus. Foi uma experiência formidável e
texto da tecnologia e de empreendimentos
uma fase muito feliz da minha vida. Eu era
industriais, como era o caso da Embraer.
recém-casado, vivendo num mundo novo,
Cuidávamos da fase do financiamento à
sem filhos, e, naquele tempo, Manaus tinha
escolha de quem construiria e montaria
toda uma aura de audácia, da aventura
as plantas, passando pelo fornecimento
de desenvolver o que era absolutamente
dos equipamentos e pelo controle dos
subdesenvolvido.
processos. Eu tinha atuado até na área
A vivência na Amazônia teve realmente
de transporte, com controle de tráfego de
um valor muito forte na minha formação.
trens e metrôs.
Por exemplo, lá na Ilha de Marajó, trabalhávamos para implantar a fábrica numa
Você já teve outra experiência de tamanha ruptura quanto a da Embraer?
clareira no meio da floresta, onde não
existia nada. Lá implantou-se uma escola –
com professores de Belém contratados. Foi
16
Negócios em Revista
Maio 2008
uma emoção muito grande – e é até hoje,
quando me lembro – ver aquelas crianças
de 7 a 14 anos de idade remando em
suas canoas para ir até lá, porque lá tinha
escola. Isso mostra a força do que representa, para o indivíduo, a possibilidade de
crescer. E esse talvez tenha sido um dos
grandes fatos que se impregnaram em
minha visão ao longo da vida. Ver que as
pessoas buscam crescer. E que enxergam
a educação como o caminho para isso.
Mas, além da Amazônia, a minha formação em diferentes indústrias foi fundamental também.
As pessoas, na época, devem ter se
questionado sobre quem seria melhor
para presidir a Embraer: alguém com
experiência em setores de atividade
variados, como você, ou um especialista
em aviação, não?
Exato! Na minha primeira entrevista
coletiva, logo após minha posse como
presidente da moribunda Embraer, uma
jovem jornalista, uma dos únicos três que
apareceram, olhou meu currículo e perguntou: “O sr. não acha que seria melhor
para a empresa se o sr. entendesse alguma
coisa de aviação?” [risos]. Eu falei: “A sra.
tem razão. Eu sei algumas coisinhas que
podem ajudar, mas talvez fosse bom também que eu conhecesse aviação”.
Mas o fato era que eu estava bastante
capacitado para enfrentar o desafio tecnológico de tornar aquela empresa viva
novamente, além de ter uma visão da
possibilidade de contribuição diferenciada
ao País. As atividades diversificadas nos
enriquecem muito: eu participei, pela EBE,
da montagem da primeira usina nuclear do
Brasil, em consórcio com a White Westinghouse: a usina de Angra I. Montamos novos
sistemas, uma nova cultura de engenharia
e talvez os primeiros manuais de garantia
Maio 2008
Negócios em Revista
17
de qualidade desenvolvidos no País. Era
que chegamos a abril de 1997 com 3,2 mil
companhia, onde estão os pontos fortes e
uma nova cultura, muito mais sofisticada,
pessoas. Como você pode falar em futuro
fracos de cada um. Os outros quatro pontos
com métodos e processos bem mais
quando se está dentro de um quadro ter-
não adiantariam nada se não tivéssemos
complexos do que aqueles que até então
rível desses?
clientes.
se praticavam. Tudo isso com uma característica especial: sempre trabalhando
por encomenda.
Esses cinco pontos tinham de ser efiDeixe que eu faço essa pergunta:
como?
cazes, não havia uma segunda chance. Então, naturalmente se instalou um senso de
prioridade na empresa que foi bem impor-
VIRADA
Em primeiro lugar, estabeleci a política
tante. Prioridade é uma coisa muito séria.
Imagino que você tenha encontrado
da verdade e da transparência. Durante as
Quando você fala que algo “é prioritário”,
pessoas altamente desmotivadas na
visitas que fiz a todas nossas instalações,
significa que as pessoas vão abdicar de
Embraer...
no meu primeiro mês na Embraer, passei
uma coisa que estão fazendo em prol de
a todos os empregados a mesma men-
outra que um terceiro precisa fazer. Isso é
duro, mas assim foi feito na Embraer.
A desmotivação era imensa mesmo, era
sagem: “Aconteça o que acontecer, para
um processo de quebra de confiança. Um
o bem ou para o mal, há um responsável:
dos fatores desmotivadores era a estrutura
eu. O processo que vou implantar é um
Qual o perfil das pessoas que devem
hierarquizada, quase militar, e a comu-
processo baseado na verdade, em uma
ser escolhidas para a equipe que vai lidar
nicação era vertical. Tudo estava contra.
comunicação aberta, livre, espontânea,
com uma situação adversa?
Lembro que, logo que cheguei, um gerente
verdadeira”. Deixei claro para todos que
me falou, no corredor, sobre um assunto a
não haveria “armação”, mas verdade. Se
Eu acho que não podia ingressar sozinho
respeito do qual eu não sabia. Eu disse:
ela fosse boa, ótimo. Se fosse ruim, também
num ambiente como aquele, totalmente
“Vamos conversar na minha sala”. Ele se
saberiam a verdade e nós trabalharíamos
desconhecido para mim. Decidi levar três
espantou, porque essa possibilidade não
essas questões.
pessoas do meu conhecimento: uma de
existia. Como o presidente da empresa
Depois, foquei cinco pontos para dar
finanças, uma de relações estratégicas
chamaria um gerente para discutir um
uma levantada rápida na empresa e, as-
e uma de desenvolvimento organiza-
assunto que não estava em pauta, sem
sim, levantar o moral geral. Eram cinco
cional. Nós havíamos vivido e partilhado
programação, sem nada, sem uma reunião
prioridades. Primeira: trazer contratos
as mesmas tecnologias de planejamento
marcada, estruturada?
para dentro de casa. Segunda: adequar
estratégico inspiradas na TEO, a Tec-
Havia um processo terrível de dete-
custos à realidade da receita. Terceira:
nologia Empresarial Odebrecht [veja HSM
rioração nos quatro ou cinco anos ante-
reestruturar a empresa financeiramente.
Management no. 43, página 84], um instru-
riores – um processo no qual havia total
Quarta: reconstruir a relação dos emprega-
mento de administração por objetivos que
desconfiança dos empregados em relação
dos com a administração. Quinta: dedicar
pudemos expandir. De resto, usei a força
à administração; um sindicato que tinha
cada centavo de que pudéssemos dispor
das equipes existentes, que eu conhecia
aguerridamente se oposto à privatização.
para o desenvolvimento do jato regional,
porque, entre fevereiro e setembro de 1995,
A situação econômica e financeira era
o ERJ 145, que eu denominava Projeto
acompanhei o que acontecia na Embraer
caótica; a situação comercial, idem; a em-
Redenção.
representando a Cia. Bozano, Simonsen,
presa estava sem crédito. Em dezembro de
Todos os pontos foram fundamentais,
uma das controladoras.
1994, ela tinha alcançado uma receita da
mas quero ressaltar o primeiro, que mudou
ordem de US$ 270 milhões e um prejuízo de
radicalmente a visão da Embraer: produzir
US$ 330 milhões, com um endividamento
não para um mercado estatístico, e sim
Há um cluster aeronáutico em São
acima de US$ 400 milhões.
para um mercado representado por pes-
José dos Campos. Como você vê a
criação de outros no Brasil?
FUTURO DO BRASIL
FUTURO DO BRASIL
Pior ainda, a empresa tinha 6,4 mil
soas. Eu dizia aos meus companheiros:
funcionários dos 13 mil que existiam cinco
quem tem cem clientes pelo mundo tem
anos antes e continuava precisando reduzir
de conhecê-los pelo nome, sobrenome e
Nosso caso foi um projeto de longo prazo
o quadro de pessoal drasticamente – tanto
apelido, tem de conhecer como opera sua
que só o Estado poderia assumir. Começou
18
Negócios em Revista
Maio 2008
em 1946, ano em que se formou o CTA
[Centro Técnico da Aeronáutica], mesmo
ano em que se inaugurava a primeira indústria siderúrgica integrada do País, que
é a base de qualquer processo industrial.
Quatro anos depois, formou-se a universidade, moldada no MIT [Massachusetts
Institute of Technology, de Boston, EUA], e,
vinte anos depois, a Embraer. Acho difícil
reproduzir isso na iniciativa privada.
Então, o Estado não deveria fazer isso
em outras áreas?
O papel de indutor do Estado, numa
economia como a nossa, é absolutamente
determinante. O Estado fez isso também
com o CPQD da Telebrás e devia continuar
fazendo. A iniciativa privada gerencia melhor, mas em outra fase do processo.
O governo sabe que deve induzir?
Acho que não. Ele apóia a pesquisa
no aspecto acadêmico, não para uso
industrial, e crê que isso basta. Temos
uma produção enorme de pesquisas,
mas a transformação disso em patentes
é mínima...
SAIBA MAIS SOBRE MAURÍCIO BOTELHO
Maurício Botelho pode ser descrito de diversas maneiras. Talvez como tetraneto de índios bororos, ascendência
da qual muito se orgulha, e fã da Amazônia. Talvez como
um “garoto de Ipanema”, com o perdão do trocadilho,
um rapaz bem-nascido que se formou em engenharia
mecânica pela excelente Escola Nacional de Engenharia
Para finalizar, peço um conselho seu
aos empresários brasileiros...
da Universidade do Brasil e dividiu sua carreira em duas
fases: a de engenheiro, montando plantas industriais, incluindo a usina nuclear
Angra I, de Angra dos Reis; e a de gestor, que o levou, até os 52 anos de idade, a
Esqueçam a arrogância. É a coisa mais
destrutiva que existe.
acompanhar os investimentos da Cia. Bozano (antiga Bozano, Simonsen) como seu
diretor-executivo.
Mas ele passará para a história mesmo como o presidente-executivo e presidente
do conselho de administração que salvou a Embraer da falência e a transformou numa
Você pode conferir a entrevista acima
na íntegra, na Revista HSM Management No. 67 Ano 12 Ed. Março/Abril
de 2008. A publicação na Negócios
em Revista é fruto de uma parceria
com a HSM, para levar até o leitor o
das empresas líderes mundiais do setor. Uma façanha espetacular.
Já o compararam ao executivo do século XX, Jack Welch. E faz sentido. Como
Welch, Botelho teve de demitir muita gente. Como Welch, ele é focado nas pessoas.
Como Welch, ele põe a franqueza acima de tudo. Como Welch, ele deu a sua empresa
um desempenho inacreditável. Como Welch, é carismático. Uma revista de negócios
descreveu que Botelho “diz o que pensa sem pestanejar e é capaz de desatar em
uma gargalhada segundos depois de repreender alguém”. Lembra Welch?
melhor das entrevistas da HSM nos
últimos anos.
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Negócios em Revista
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Negócios em Revista
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PERFIL
Com a cara e a coragem
Luísa Barwinski
Ousadia e
perseverança
foram
ingredientes
decisivos para
o sucesso de
Emilson Alonso
Crescer, ganhar dinheiro, dar mais
Foi em 1986, com 24 anos e tempo de
extensão dos horários de atendimento ao
comodidade ao cliente e gerar em-
sobra para retomar o mundo dos negócios,
cliente nas agências, das 9 às 18 horas.
pregos. Pode-se resumir assim, dessa
que ele entrou no Citigroup pela segura-
Com isso, o número de clientes é maior
forma simples, a carreira de Emilson
dora Argos, que hoje se chama Chubb.
e, para dar conta dessa clientela toda, é
Alonso. À primeira vista parece sim-
Aos 25 anos, Emilson Alonso já era o diretor
preciso ter mais gente do outro lado do
ples, mas levar crédito e bancarizar
financeiro da organização. Hoje, aos 52
balcão – com essa medida, em um ano,
quem não tinha conta em banco não é
anos, Alonso se prepara para assumir a
300 pessoas foram contratadas para reali-
tão fácil quanto parece. Alonso iniciou
presidência do HSBC na América Latina e
zar as operações nos postos de caixa. No
sua carreira na área financeira da
já está se mudando para o México, de onde
total, os números chegaram a 1,1mil novos
farmacêutica Sandox, hoje Novartis.
comandará a supervisão nos 14 países da
funcionários, aumento da produtividade de
Formado em engenharia civil e com
região onde o banco está presente. Acima
10% para 15%.
mestrado em administração, o atual
de Alonso, só Michael Goghegan - o CEO
CEO do HSBC da América Latina ar-
mundial do HSBC.
Com a promoção de Alonso, o HSBC
Brasil volta para as mãos de um inglês, o
riscou. Resolveu largar tudo para
Assim como fez no Brasil, Alonso pre-
"mister" Shaun Wallis, de 52 anos – 30 deles
investir no agronegócio na época em
tende levar o banco às pessoas que fazem
trabalhando no HSBC. Wallis, também já
que João Figueiredo foi presidente
parte da população economicamente ativa
passou pela Ásia, Oriente Médio e Europa.
do Brasil. Mas como os inícios cos-
que ainda não têm conta corrente. Sob
Agora, cabe a Emilson Alonso o desafio de
tumam ser um pouco complicados,
a gestão de Emilson Alonso, o HSBC no
gerenciar os bancos HSBC da América
Alonso, que havia juntado dinheiro
Brasil se tornou um banco que visa dar
Latina, o que, para ele, será apenas mais
próprio e de amigos para comprar uma
ao cliente toda a comodidade de que
um passo na sua carreira de sucesso.
fazenda, quebrou.
ele precisa. É dele a implementação da
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Negócios em Revista
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MATÉRIA de Capa
Da diretoria ao chão da fábrica, todos os
colaboradores de uma empresa detêm
conhecimentos específicos, particulares e
absolutamente imprescindíveis para o sucesso de
uma organização
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Semeando conhecimento
Ana Paula Mira
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Sociedade do conhecimento, capital
lhador é fundamental para que se possa
intelectual, gestão de bens intangíveis,
implantar uma gestão baseada em bens
gestão por competências. Esses são
intangíveis. “Dentro das teorias estratégi-
apenas alguns dos novos termos na “so-
cas de gestão, está a teoria de recursos e
ciedade do conhecimento”, expressão
capacidade, segundo a qual o maior ativo
cunhada por Peter Drucker, para con-
é intangível, ou seja, não importa quantas
ceituar uma revolução silenciosa que
fábricas ou matrizes a empresa tem,
acontece nas empresas de todo o mundo.
mas sim o quanto a marca é conhecida;
Nessa revolução, as mudanças atingem
o ativo, dessa maneira, é baseado no
a maneira de gerenciar uma empresa e,
conhecimento”. A conseqüência imediata
principalmente, a importância que cada
desse novo pensamento é a valoriza-
trabalhador tem dentro do ambiente
ção maior de cada pessoa. Se antes
empresarial. É de Drucker também outro
o trabalhador era considerado mais
termo importante para entender esse novo
uma engrenagem nesse processo,
cenário: trabalhador do conhecimento. E é
agora ele é ponto fundamental. “O colabo-
nele que estarão concentrados os esforços
rador de uma empresa, desde a função
predominantes para que esse novo tipo de
mais simples até a mais sofisticada, tem
gestão dê certo.
que ter noção do conhecimento que pos-
Para Carolina Sass de Haro, doutoranda
sui e de que isso faz diferença”. O exem-
em gestão do conhecimento e gerente
plo que Carolina dá é de uma caixa de
geral do Hotel Blue Tree, em Curitiba, é
supermercado. Nessa função, o contato
nesse mesmo trabalhador que também se
com o cliente acontece no momento em
concentram os maiores desafios. “Hoje, o
que o usuário do serviço tem a sua per-
trabalhador ainda não se percebe com um
cepção de como foi atendido. “Ela sabe
ativo da empresa, e essa tem sido a maior
se o cliente encontrou o que queria, se
dificuldade”. Ela também ressalta que a
foi bem atendido; é esse funcionário que
visão que a empresa tem desse traba-
tem essa informação elaborada, nenhum
outro funcionário detém esse conhecimento”. Nessa nova relação, o desafio é
fazer com que o trabalhador perceba seu
papel e que ele, acima de tudo, saiba
como disseminar essa informação. “Existe
ainda muito medo de compartilhar o
conhecimento; acontece muito de a pessoa ficar na defensiva e não perceber que
conhecimento é a única coisa que, quando
compartilhado, faz a pessoa ganhar, e não
perder”. Sem orientação, corre-se o risco
de desperdiçar informações preciosas.
“O colaborador de
uma empresa, desde a
função mais simples
até a mais sofisticada,
tem que ter noção do
conhecimento que
possui e de que ele faz
diferença”
Novo paradigma
Apesar de ser o futuro das empresas,
Nomes
Thomas Stewart e Peter Drucker firma-
a gestão do conhecimento tem sido
ram no mundo corporativo conceitos impor-
responsável por questionamentos em
tantes dessa nova tendência. Stewart citou
relação à área da administração. Bruno
pela primeira vez o capital intelectual. O
Fernandes, doutor em Administração de
autor aponta como o conhecimento tornou-
Empresas na área de Recursos Humanos,
se um recurso econômico proeminente –
chama atenção para o fato de que esse
mais importante que a matéria-prima; mais
novo tipo de gestão desafia o paradigma
importante, muitas vezes, que o dinheiro.
da administração, de que só é possível
Considerados produtos econômicos, a
gerenciar o que é possível medir. Para ele,
informação e o conhecimento são mais im-
isso gera vários impactos nos negócios, já
portantes que automóveis, aço e qualquer
que o mais importante é o conhecimento
produto da era industrial.
embutido em algum produto ou serviço.
“Para dar conta de como lidar com esse
desafio – de uma realidade mais vulnerável
e abstrata – são necessárias práticas num
cenário integrado”. Umas delas é implantar
o balance score card, uma tentativa de
avaliar resultados empresariais e medir
resultados intangíveis.
“É preciso criar um novo modelo de
negócios que abranja isso”, diz Bruno.
O professor diz que os próprios prêmios
dirigidos a jovens empreendedores estão
premiando projetos na área de gestão do
conhecimento.
IMPLANTAÇÃO
Por essa e outras razões, a implantação de um projeto como esse dura, no mínimo, um ano. A dificuldade
está não só na maneira como o colaborador se vê, mas também na cultura organizacional. “A empresa
não pode punir novas idéias, por exemplo. Ela tem de estar ciente de que todos devem estar envolvidos,
não pode ficar restrito a apenas um departamento”, diz Carolina.
Outro ponto importante é saber reconhecer e premiar esse trabalhador. Normalmente, isso pode
acontecer por meio de bonificações, auditorias ou remunerações. “É preciso premiar quando o trabalhador
reconhece que tem esse conhecimento e sabe como utilizá-lo”. Algumas empresas já implantaram o processo
com sucesso, como a Xerox e a Zara. “A Xerox passou a disponibilizar palmtops para os técnicos poderem
se comunicar com mais rapidez e ter informações sobre quem, quando e como determinado cliente já foi
atendido. Já a Zara, sempre que lança uma nova coleção, ajusta sua produção à quantidade de peças
vendidas”, explica Carolina. Para elas, essas são algumas possibilidades de gerenciar conhecimento e
beneficiar as empresas.
ACONTECE
Tecnologia 3G –
a regra da exceção
Antonio Carlos Senkovski
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Negócios em Revista
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É comum a mídia anunciar uma nova
Um desses clientes é o empresário
tecnologia e aparecerem comentários tanto
Ariovaldo Costa da Rocha. Ele utiliza o
do lado das empresas, divulgando seus
serviço há cerca de 7 meses: “uso o ce-
lançamentos, quanto dos clientes, dizendo
lular na empresa, na chácara, em casa,
que as novidades não são exatamente
na praia e na região de Ponta Grossa –
como as propagandas mostram.
interior do Paraná. Em Curitiba funciona
Mas as “regras” existem para serem
melhor, mas nas outras regiões também
superadas de acordo com as neces-
conecta. Uso para abrir imagens e para
sidades. E é o que vem acontecendo com
outros serviços, tudo com mobilidade,
a tecnologia 3G de celulares. No Brasil, ela
pois posso estar andando pelas ruas de
está em uma fase de adaptação, entretanto
Curitiba enquanto acesso a internet sem
já proporciona convicção à maioria dos
perda de conexão”.
seus usuários de que os publicitários não
Até pouco tempo atrás, aproximada-
exageram ao definir a nova tecnologia
mente 1998, o celular era uma ferramenta
como uma terceira geração de celulares.
exclusiva de comunicação oral. Não existia
o envio de mensagens, transferência de
As empresas de telefonia móvel apre-
O gerente de marketing da Tim es-
dados ou qualquer outro serviço, somente
sentarão um novo conceito de serviços nos
clareceu que em telefonia móvel sempre
a troca de palavras faladas. O primeiro
próximos meses. Segundo José Doroteu
se deve buscar as novas tecnologias.
aparelho de telefonia móvel apareceu
Fabro, gerente de marketing da Tim, testes
“Hoje nós brincamos dizendo que o
no mercado em 1983 e pesava cerca de
em laboratório apontaram velocidades de
aparelho de celular até fala. Nele você
um quilo. O preço do DynaTAC 8000x
transferência em até 7 Megabytes (MB)
tem voz, internet, MP3, máquina fotográ-
aproximava-se dos 4 mil dólares.
por segundo. Não se pode esperar essa
fica, armazenador de informações. Com
A telefonia evoluiu de maneira expressiva
velocidade em um primeiro momento, mas
as inovações estamos ampliando as
nas últimas duas décadas. Depois de 1998
o primeiro passo já foi dado. “O serviço
possibilidades”.
surgiu uma segunda geração de celulares
possibilitará uma alta velocidade de
E uma dessas possibilidades se volta
com serviços totalmente inovadores: era
comunicação sem fio. A ferramenta poderá
para o acesso à educação. Em conse-
o início da era digital. O identificador de
ser usada em jogos on-line e fazer dois
qüência da ampliação da cobertura 3G,
chamada, o envio de mensagens de texto
usuários disputarem um jogo de corrida,
podem ocorrer avanços nos campos
(SMS) e, um pouco depois, o envio de
por exemplo, interativamente”, diz Fabro.
mais variados. Isso pode envolver mate-
dados estavam na lista das inovações.
A Tim ainda não disponibilizou a nova
rial produzido pelo celular ou até mesmo
Porém, a velocidade desses serviços não
tecnologia no mercado, mas tem previsão
se compara com a de hoje. Arquivos de
de lançamento para o segundo trimes-
Além disso, os impactos graças à 3G
músicas e imagens eram transferidos a
tre deste ano. Primeiramente os novos
não vão ocorrer somente nas grandes
uma velocidade aproximada de 2,4Kb/s,
serviços prestados pela empresa serão
cidades. As regras de concessão, que
o que significava a espera de quase 1h30
a videochamada, internet banda larga,
foram compradas para dar direito às
para o download de um arquivo de 10 MB
TV digital, além da maior velocidade de
operadoras de usar a nova faixa de
(Megabyte), por exemplo.
transferência de dados. Por enquanto a
freqüência, têm como uma das con-
Agora surge a terceira geração (3G)
televisão estará disponível somente em São
dições a instalação da telefonia celular
de telefonia móvel no Brasil. Na verdade,
Paulo, onde a tecnologia High-definition
nos 1.800 municípios do Brasil que
desde 2004, com o lançamento da tecno-
television (HDTV) já está funcionando, mas
ainda não dispõem do serviço: “Cada
logia EV-DO, pela Vivo, a 3G está presente
assim que estiver presente em outros locais
empresa é responsável por 25% dos
no país. Mas depois do leilão no qual as
poderá ser acompanhada com toda a mo-
municípios, mas não precisa ser em
operadoras compraram as faixas para
bilidade que os celulares propiciam.
3G”, esclarece Fabro.
projetos de ensino à distância.
transmitir em 3G, as possibilidades podem
Os preços dos aparelhos em um primeiro
Para os clientes de 2G não haverá
ser ampliadas e também os índices de
momento não serão os mesmos que as
mudanças. Somente quem optar por
velocidade.
pessoas estão acostumadas a ver nas
trocar seu aparelho terá acesso às novi-
Até agora os serviços de internet móvel
fartas promoções das lojas. Um aparelho
dades do mercado. Já para os usuários
da operadora Vivo – Vivo Zap e Vivo
3G da Tim estará disponível a partir dos
de 3G, a rede de cobertura 2G será
Flash – permitem acesso à internet com
R$ 700. “Quando uma nova tecnologia é
compatível com os novos aparelhos.
uma velocidade média de 300 a 700 Kb/s,
adotada, se tem um período denominado
A evolução da tecnologia não tem fim.
para o Zap, e 60 a 100 Kb/s, para o Flash.
amadurecimento. Depois se abre um leque
Sempre existirá um ponto onde começar
Isso significa que o mesmo arquivo de 10
enorme”, revela Fabro. A tendência é de
é possível. E é essa característica do
MB, cujo download demorava 1h30, hoje
que, depois que novos serviços sejam
desenvolvimento tecnológico a principal
demora de 1 a 5 minutos. Essa conexão
colocados à venda, os que estão no
causa da máxima de que em toda regra
pode ser executada em todas as áreas de
mercado hoje comecem um processo de
existem as exceções.
cobertura da Vivo (CDMA 1xRTT).
popularização.
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Negócios em Revista
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NA MIRA
Muito além do Google
Gabrielle Chamiço
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Negócios em Revista
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Orkut, Youtube, Gmail, Google Talk e
alunos. Para conectar o programa é
o próprio site de buscas Google são os
muito simples. Basta o usuário acessar
produtos mais conhecidos e presentes no
um endereço, que é criado no próprio
cotidiano da maioria das pessoas. Pode-se
software, e pesquisar pelo sistema de
dizer que é impossível encontrar alguém
busca. Outro produto é o Google Earth,
que nunca tenha ouvido falar no nome da
que o curso de Engenharia Civil utiliza
empresa. O domínio do Google, no entanto,
para geoprocessamento. O software
vai muito além de comunicadores, sites de
não é o profissional – que possibilita
busca e relacionamento. a produção de vídeos mostrando um
As grandes empresas hoje aderem
deslocamento e ainda possui fotos com
aos serviços de softwares oferecidos
melhores resoluções – mas sim o gratui-
pelo Google que não são tão conheci-
to, suficiente para o uso acadêmico.
dos. A abrangência no mercado é muito
O Desktop também é gratuito. No
vasta. Charles Dalla Costa, coordenador
caso do Sketchup, apesar de ser pago,
de suporte na Universidade Positivo, em
acaba sendo mais rentável, pois ele
Curitiba, mostra quais são os programas
concorre com o Autocad, cuja licença
utilizados por alguns cursos e os benefícios
custa R$ 1.500,00, enquanto o produto
que eles propiciam. “A Google tem dezenas
do Google sai por 100 dólares. Focados
de produtos; nós utilizamos alguns como
em grupos empresariais, esses pro-
o software de desenho em 3D, Sketchup,
gramas, de um modo geral, facilitam
no curso de design”, afirma. A instituição
a busca de informações corporativas
também utiliza o Google Desktop Search,
e disponibilizam arquivos com muita
que tem a função de indexar e procurar
eficiência. Buscar essas ferramentas
os arquivos locais e buscar dentro de
de trabalho é um investimento valioso,
uma base de dados teses de dissertação
não só para um bom desempenho,
de mestrados e artigos que a instituição
como também para a agilidade nos
possui, facilitando assim as pesquisas dos
negócios.
Maio 2008
Negócios em Revista
29
NOVIDADES
Luísa Barwinski
Tempo precioso
A empresa suíça Vacheron Cons-
é com outro slogan, seguindo o ditado
tantin fabrica relógios desde o século
do primeiro, que a Vacheron Constantin
XVIII aliando bom gosto e inovação
se refere à linha Contemporary Patrimony.
já no primeiro minuto. Jean-Marc Va-
“Pureza é uma questão de proporção, refi-
cheron fundou-a em 1755 e em 1819
namento é uma questão de gosto.” Dados
seu neto, Jacques-Barthélémy, firmou
esses preceitos, os mestres relojoeiros
parceria com François Constantin,
da casa combinaram a simplicidade com
alterando o nome da companhia para
uma mecânica complexa ao oferecer dia e
“Vacheron et Constantin”. No mesmo
data no display da linha que foi premiada
ano, Constantin envia uma carta para
com o selo Poiçon de Genève, símbolo de
Jacques-Barthélémy contendo uma
perfeição horológica. Além disso, a linha
frase que acabaria por criar o slogan
Contemporary Patrimony possui peças em
da empresa – “Façamos o melhor se
ouro 22 quilates e 27 rubis e estojo em ouro
possível; e isto é sempre possível”. E
rosa 18 quilates.
Como fazer a diferença
Mais do que uma consultoria correta, Keith Merron faz um aprofundamento do que é preciso para ser um consultor consciente
e não fazer apenas “um bom trabalho”. O livro de 232 páginas é
obrigatório para quem deseja prosperar na carreira de consultor.
"Dominando Consultoria: como se tornar um Consultor Master e
densenvolver relacionamentos duradouros com seus clientes" traz
pesquisas e entrevistas com 14 consultores master experientes,
que auxiliam na compreensão dos princípios, habilidades, fatores
comportamentais e técnicas que o autor identifica ao longo da
leitura. Keith Merron ainda revela as características e qualidades
que farão a diferença com o cliente.
30
Negócios em Revista
Maio 2008
Carregue tudo
Celulares, fones Bluetooth, videogames portáteis e uma infinidade
de eletrônicos já fazem parte da vida de muita gente. Mas, apesar
de facilitar e agilizar a maioria das tarefas profissionais e também
aspectos da vida pessoal, os mobiles podem atrapalhar. Todos
aqueles cabos e carregadores que precisam ser levados junto com
o aparelho são incômodos. Criado pelos engenheiros da Callpod de
Chigado, o Chargepod é uma solução para este problema. O multicarregador possui seis entradas para quase todo tipo de aparelho
eletrônico e pode ser usado em casa, no carro e no escritório.
Caminho fácil
Colorido sem tinta
Interativo e fácil de manusear. Estas
Zero Ink, em inglês, significa “sem tinta”.
são duas das principais características
Sem tinta, fios ou conexões USB, a impres-
que definem o GPS eTREX da Garmin. O
sora portátil deve toda sua mágica ao seu
aparelho é pequeno e de interface simples,
papel especial – protegido por mais de 100
de forma que até quem não está familiari-
patentes. Vários cristais ativados pelo calor
zado com esse tipo de equipamento não
da impressora fazem a foto aparecer no pa-
deve encontrar maiores complicações.
pel. As fotos reveladas pela ZINK são mais
Com apenas cinco botões, o eTREX pode
nítidas, duráveis e baratas. Além disso, a
ser operado com apenas uma das mãos.
impressora móvel revolucionou o mercado
O GPS da Garmin ainda grava 500 pontos
com o conceito de não se ligar a nada e
de localização, basta inserir os dados e
poder ser levada em qualquer pasta, bolsa
seu ponto de chegada estará na memória
ou mochila. E melhor, por não utilizar tinta, a
do aparelho; e para voltar para casa, pode
ZINK evita cartuchos e tonners, o que reduz
contar com a opção TrackBack®, que o
muito o número de resíduos lançados ao
levará pelo melhor caminho.
meio ambiente.
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Negócios em Revista
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8JAIJG6A
6<:C96
DOMINGO NO CÂMPUS
A série de concertos "Domingo no Câmpus"
traz a Curitiba grandes nomes da música
erudita. Os concertos comentados garantem
maior aproximação e envolvimento
do público com o programa apresentado.
• 11 de maio – Camerata Antiqua de Curitiba
• 18 de maio – Quarteto Uirapuru:
Fernando Pereira (violino)
Dhyan Toffolo (violino)
José Taboada (viola)
Claudia Grosso (violoncelo)
• 8 de junho – Ensemble Universidade Positivo:
Quinteto de Sopros
• 29 de junho – Solistas de Londrina
Local: Teatro Positivo – Pequeno Auditório
Horário: 11h
CINE DEBATE
EXPOSIÇÃO DE PINTURAS – UM
OLHAR SOBRE A PAISAGEM DA
UNIVERSIDADE POSITIVO
A exposição apresentará obras de artistas
plásticos paranaenses, com interpretações
da paisagem da Universidade nas mais
variadas técnicas.
• Período: 18 a 31 de maio
Local: Foyer – Prédio da Pós-Graduação
e Extensão
Horário: de segunda a sexta-feira, das 9h
às 21h; sábados, das 9h às 16h
Entrada gratuita
EXPOSIÇÃO – UNIVERSIDADE
MOSTRA ARTE
O projeto Cine Debate consiste na exibição de
filmes seguidos de discussões com professores
e profissionais convidados.
A produção artística de professores, alunos e
colaboradores da Universidade Positivo estará
em exposição, incluindo selecionadas obras,
como esculturas, pinturas e fotografias.
• 13 de maio – O Show de Truman
• 14 de maio – Código 46
• Período: 28 de julho a 12 agosto
Local: Teatro Positivo – Pequeno Auditório
Horário: 8h e 19h30
Entrada gratuita
Local: Sala de Eventos – Prédio da Pós-Graduação
e Extensão
Horário: de segunda a sexta-feira, das 9h
às 21h; sábados, das 9h às 16h
Entrada gratuita
Mais informações pelo site http://extensao.up.edu.br ou pelo telefone (41)3317-3283.
VÁRIAS Idéias
Governança corporativa:
um modismo a mais?
Jose Paschoal Rossetti
Robert Monks, estabelecendo conceitos,
governança corporativa, pode-se dizer que
relatando casos de desvios de conduta
seu surgimento não se caracterizou como
(expropriatórios dos interesses de
um modismo a mais. No mundo todo o tema
"acionistas distantes") na gestão das com-
se enraizou. E por um número grande e
panhias e assumindo postura ativista por
bastante sólido de razões.
melhores práticas, que envolvessem os
Nos países de controle pulverizado, as
acionistas, os conselhos de administração
razões são a maior fiscalização e o moni-
e as diretorias executivas das empresas.
toramento de gestores não-proprietários
No Brasil, onde a estrutura de capital,
– em princípio propensos a confundir seus
o controle e a gestão das empresas são
próprios interesses com os dos acionistas
bem diversos das do mundo anglo-saxão,
– e maior segurança, qualidade e trans-
o tema desembarcou "oficialmente" em
parência de informações a investidores
1995, no mesmo ano do livro de Monks,
individuais e institucionais que aderem
com a criação do então Instituto Brasileiro
maciçamente ao mercado de capitais.
A expressão corporate governance
de Conselheiros de Administração, que se
Nos países, como o Brasil, de capital
surgiu no início dos anos 90 nos Es-
transformou no atual IBGC – Instituto Bra-
concentrado e de decorrente sobreposição
tados Unidos e logo migrou para o
sileiro de Governança Corporativa. Outras
da propriedade e da gestão, há razões
Reino Unido e o Canadá, países com
iniciativas de grande alcance só viriam no
externas, vinculadas ao desenvolvimento
características empresariais bastante
final dos anos 90 e na virada para o século
do mercado de capitais, e internas, rela-
próximas das norte-americanas: mer-
XXI. Destacamos três: a edição pela CVM
cionadas ao bom direcionamento das com-
cado de capitais forte, alta dispersão
de cartilha recomendando padrões de
panhias, através de conselhos de admi-
do capital de controle das empresas,
governança superiores aos exigidos em
nistração de alta eficácia, aptos a orientar
separação entre a propriedade e a
lei; o interesse por boas práticas pelos
com maior segurança o desenvolvimento
gestão e forte presença de forças
investidores institucionais, como a PREVI,
de negócios e de modelos de gestão, em
externas no monitoramento do mundo
maior fundo de pensão do país, que editou
um mundo de maior complexidade, cres-
corporativo. Em 1992, surgiram nesses
seu código de governança, aplicável nas
centemente aberto e sujeito a movimento
países os três primeiros códigos de boa
empresas controladas por esta instituição
de mudanças cada vez mais abrangentes,
governança: respectivamente, o "Princi-
ou nas que ela mantivesse participações
velozes, profundos e impactantes.
ples of Corporate Governance: Analysis
expressivas; e a criação pela BOVESPA
Enfim, um tema novo, mas que veio para
and Recommendations", o "Cadbury
dos novos segmentos do mercado de
ficar. E, conseqüentemente, indispensável
Report" e "The Toronto Report".
capitais, para listagem de empresas com
como uma das matérias fundamentais dos
padrões diferenciados de governança.
planos curriculares de escolas de negócios
Três anos depois, em 1995, foi
ditado o primeiro livro sobre o tema
Apesar do ainda curto tempo de vida
"Corporate Governance", do americano
dos princípios, dos processos e práticas de
que estejam sintonizadas com as grandes
transformações do mundo corporativo.
Maio 2008
Negócios em Revista
33
ÍNDICES
Indicadores
Sob controle
Os principais índices de preços, IGPM e IPCA,
trouxeram apreensão no trimestre final de 2007. No
primeiro trimestre de 2008, a reversão da tendência
ou a atenuação da pressão inflacionária se deveu em
parte à queda do dólar que aumentou a importação e
a concorrência interna. A queda do dólar ainda deve
repercutir sobre as commodities nos próximos períodos, atenuando a inflação nos alimentos. Tendência a
estabilizar a inflação em torno da meta anual do Banco
Central.
Oscilando com tendência de queda?
A trajetória do dólar norte-americano segue com
tendências de queda, oscilando nos momentos de crise.
Os fundamentos da economia americana, com elevado
déficit interno e comercial, não sustentam apostas de
reversão desse padrão.
Você sabia...
Que o risco-país, medido pelo JP Morgan, é uma medida obtida a partir da
diferença entre as taxas de juros dos certificados da dívida de um determinado
país contra a taxa de juros dos títulos do Tesouro dos EUA? Assim, para cada
100 pontos de risco-país, estamos pagando juros 1% maiores que os EUA.
34
Negócios em Revista
Maio 2008
Alta no risco-país, medido pelo JP
Morgan (em pontos-base), ainda não
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