Volume 1, edição 1
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Volume 1, edição 1
Junho de 2011 Volume 1, Edição 1 Gazeta Geológica Pontos de interesse especiais: Erupções e aviões, as razões do risco Japão - o nuclear e o contexto geológico Atividades do projeto Litospaço Notícias de projetos de investigação Um clima ameno impulsionou o desenvolvimento da geologia em Portugal Nesta edição: Fukushima Daiichi 2 — a falha é das falhas? Erupção em Terra 3 de gelo Grimsvotn - um vulcão Islandês Calcário de Liós — 4 rocha amiga Atividades em Geociências 5 Visitas de estudo/ 5 saídas de campo Livro de Pedra quer 5 ganhar asas Geohistórias — Um 6 Suíço em Portugal Iremos chegar 7 ao manto terrestre? Equipa de geólo- 7 gos internacionais em Valongo Gazeta Geológica Página 2 Fukushima Daiichi — a falha é das falhas? Energia nuclear “ O arquipéla- Pela segunda vez, em pouco mais de meio século, o Japão vive uma tragédia nuclear. De origem e circunstâncias completamente diferentes, esta última uma consequência de um desastre natural e não humano, como foi aquele da segunda grande guerra. Em 1976, um Japão com poucos recursos que ainda se recuperava do choque da crise do petróleo comprometeu-se inteiramente com a energia nuclear para conseguir uma maior independência energética, um caminho do qual nunca se afastou, apesar das dúvidas crescentes nos Estados cas tectónicas. Ao longo dos anos, novas pesquisas apoiariam a avaliação de Ishibashi, culminando numa previsão feita no ano passado por especialistas do próprio governo de que havia uma hipótese de quase 90% de um sismo de magnitude 8 atingir a área nos próximos 30 anos. Os avanços da sismologia levaram à descoberta gradual de novas falhas ativas imediatamente acima ou perto de centrais nucleares, criando um problema inerente para as operadoras e o governo, levando a uma conclusão inevitável para os críticos da energia nuclear. go japonês é um lugar onde não se deve construir centrais nucleares” Epicentro do sismo que afetou Fukushima Unidos e Europa sobre este tipo de "O arquipélago japonês é um lugar energia. onde não se deve construir centrais Naquele ano, quando o reator número nucleares", disse Ishibashi. Saiba mais sobre o acidente nuclear com http:// www.iaea.org/ newscenter/ news/2011/ fukushima200511.html 1 de Hamaoka começou a operar e o Questões complexas ficam agora no número 2 estava em construção, Katar: o que fazer? Energia nuclear, sim suhiko Ishibashi, sismólogo e agora ou não? A falha é das falhas? professor emérito da Universidade de Kobe, divulgou uma pesquisa demonstrando que a central nuclear estava diretamente acima de uma zona sísmica ativa onde interagem duas pla- Página 3 Volume 1, Edição 1 Erupção em Terra de gelo A última erupção que foi notícia ocorreu na terra do gelo (Iceland - Islândia), no vulcão Grimsvotn, sob o maior glaciar da Europa. Este vulcão esteve em atividade de 21 a 28 de maio e numa semana foi manchete de jornal e porquê? A Islândia é também uma terra de fogo, existem vários vulcões em atividade e de todos eles este é o mais ativo. Quando entrou em erupção formou uma coluna de cinzas de 20 km de altura. Não seria notícia se não recordássemos a erupção do Eyjafjallajökull, em abril de 2010, também na Islândia, cuja nuvem de cinzas obrigou as autoridades europeias Grimsvotn - um vulcão Islandês que gera as minúsculas partículas, segundo Susan Stipp, professora de Nanociências da Universidade de Copenhaga. As cinzas vulcânicas tornam-se perigosas para a aviação, já que podem danificar as turbinas dos aviões a jato, mas, mesmo sem isso acontecer, podem ser mortíferas ao “apagar” as sondas de Pitot (utilizadas para medir a velocidade do aparelho) ou os sensores de pressão e temperatura (que na câmara de combustão ficam cobertos por cinzas vitrificadas) e enganar assim o computador de bordo e provocar a queda do aparelho. Saiba mais, conheça cada vulcão ao pormenor – http:// www.volcanodiscov ery.com/adventuretravel.html Cinzas vulcânicas apagam sensores, enganam computa- Localização do vulcão Grimsvotn dores e fazem cair aviões. a fechar o espaço aéreo da Europa. Mais de 100.000 voos foram cancelados e oito milhões de passageiros ficaram bloqueados. Os danos Por comparação com a erupção ocorrida no ano passado os danos foram reduzidos. No entanto, este vulcão já foi o responsável por uma enorme traA questão das cinzas gédia natural na Islândia. Em 1783, A Islândia é atravessada por um rifte, esteve em erupção durante 7 meses o magma é básico, pobre em gases e ao longo de uma fissura com 27 Km. não deveria ser responsável por erupAs colheitas e o gado foram de tal forções com libertação de tão grande ma afetados que um quinto da popuquantidade de cinzas, mesmo durante lação islandesa morreu de fome. o início da erupção. É a interação entre a lava e a água fria do glaciar Veja imagens de vulcanismo na Isllândia: Vulcanismo secundário http:// www.youtube.com/ watch? v=sggWr6IB5Xk; Vulcanismo fissural (Eyjafjallajökull 2010) http:// www.youtube.com/ watch? v=8IK1ee3VGVI&fe ature=related. Gazeta Geológica Página 4 Calcário de Liós — rocha amiga O projeto Rocha amiga do Ciência Viva propõe envolver escolas em atividades de partilha de conhecimentos e experiências sobre a geodiversidade de vários ambientes, como estratégia de sensibilização para o papel das Geociências na sociedade contemporânea. O Projeto Litospaço associou-se a esta iniciativa e está a desenvolver uma pesquisa sobre uma rocha originária da nossa região — o calcário de Liós. Torre de Belém Uma rocha particular Liós é um tipo raro de calcário que ocorre em Portugal, na região de Lisboa e seus arredores (norte e noroeste), nomeadamente na Serra de Sintra, sendo aqui extraído nos arredores da vila de Pêro Pinheiro e na Terrugem. Os calcários são típicos de águas mais quentes, tropicais, em que o carbonato de cálcio (CaCO3), a partir dos 26-28º C, precipita espontaneamente. O calcário de Liós é uma rocha ornamental com fósseis de bivalves extintos (rudistas) - calcário fossilífero, de idade cretácica. Esta rocha ornamental é muito utilizada na construção lisboeta (Mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém, Estação do Rossio, entre outros). recentes Os fósseis de rudistas, normalmente de grande tamanho, com 15 a 25 cm de dimensão máxima, são bastante evidentes, devido ao aspeto espesso e maciço da parede das suas conchas, aspeto rude (rudis em latim), daí o nome rudistas, e ao facto de apresentarem cor esbranquiçada que se destaca bem no fundo da rocha calcária rosada a avermelhada. Centro Cultural de Belém A presença de fósseis de rudistas nas rochas carbonatadas da região de Lisboa é um testemunho de que nesta região, há cerca de 100-90 milhões de anos atrás (no Cenomaniano), existiu um mar tropical, costeiro, pouco profundo com fundos formados por vaza (lama) carbonatada que, posteriormente, por diagénese, deu origem aos calcários que encontramos atualmente. é comum nas construções lisboetas, antigas ou Calcário de Liós com rudistas (Rua Capitão Leitão, Nº 66 e Rua Manuel de Sousa Coutinho) Página 5 Volume 1, Edição 1 Atividades em Geociências As atividades de aplicação na área da geologia são ferramentas fundamentais do processo de aprendizagem desta disciplina. Protocolos de atividades experimentais, software educativo, fichas formativas, exercícios de aplicação são apenas alguns exemplos de materiais que irão constar deste bloco. Nesta primeira edição é proposta uma atividade experimental “Ação da água acidificada no calcário” Os materiais encontram-se disponíveis na plataforma da escola — disciplina Litospaço. Resultados da experiência Visitas de estudo/ saídas de campo de Geologia Uma visita de estudo é um tipo de atividade que estimula os alunos dado o caráter motivador que constitui a saída do espaço escolar. A componente lúdica desta estratégia bem como as relações interpessoais que propicia, leva a que os alunos se empenhem na sua concretização. Contudo, a visita de estudo é mais do que um passeio. Constitui uma situação de aprendizagem que favorece a aquisição de conhecimentos, proporciona o desenvolvimento de técnicas de trabalho, facilita a sociabilidade e que promove a interligação entre a teoria e a prática, a escola e a realidade. A proposta de visita de estudo da 1ªEd. da GG é uma visita ao “Museu Geológico do LNEG” por ser um dos museus mais representativos no país na área das geociências. http://e-geo.ineti.pt/MuseuGeologico/ esta página fornece todas as informações necessárias para se marcar e organizar/preparar esta visita. Uma proposta de plano de visita encontrase na plataforma eslc (disciplina Litospaço). Livro de Pedra quer ganhar asas A exposição Livro de Pedra, que esteve no CRE no 2º período, pode partir para outras escolas, mostrando assim a outros os nossos exemplares de fósseis e o trabalho desenvolvido pelos nossos alunos e professores. Duas escolas secundárias já se mostram interessadas no projeto. Esperamos pelo início do próximo ano letivo para agendar esta atividade. É intenção do Litospaço lançar, às outras escolas o desafio de valorizar a exposição com fósseis das suas coleções e respetivas fichas descritivas (segundo o modelo seguido na exposição). Museu Geológico do LNEG Gazeta Geológica Página 6 Geohistórias Não confundir com Geohistória, ramo da geologia que reconstituí a história geológica da Terra. Geohistórias é um bloco da Gazeta Geológica em que se contam histórias dos geólogos, das suas descobertas , erros ou dúvidas e mesmo das suas vidas. Um Suíço em Portugal Quando consultamos trabalhos de geologia de Portugal, um dos nomes que se destaca, pela frequência com que surge, é o de Paul Choffat , um suíço. Paul Choffat chegou a Portugal em outubro de 1878 (com 29 anos). Veio por motivos de saúde, pois os médicos tinham-lhe aconselhado a permanência durante alguns meses num clima temperado para conseguir melhoras de uma doença de faringe de que sofria e se tornara crónica. Escolheu Portugal, pois tinha tido um Conheça outras biografias de geólogos portugueses http://egeo.ineti.pt/ edicoes_online/ Uma visita, programada para três meses, alargou-se a 41 anos. Léon Paul Choffat (1849-1919). No fundo corte geológico de sua autoria. convite de Carlos Ribeiro (um engenheiro apaixonado pela geologia) para estudar as formações do Jurássico em Portugal. A sua visita, programada para três meses, alargou-se e viria a morrer em Lisboa 41 anos depois. Durante esses longos anos publicou os seus trabalhos através de memórias e comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal (nos quais ingressou) e em diversos jornais científicos nacionais e estrangeiros com que colaborou. Dos seus trabalhos publicados destacam-se inúmeros estudos sobre estratos mesozoicos e cartas geológicas (da colaboração com Nery Delgado surgiu a segunda carta geológica do país, publicada em 1899 e devem-selhe, muitas outras cartas regionais). Também se dedicou à tectónica e hidrogeologia, áreas em que publicou trabalhos pioneiros. São da sua autoria alguns dos primeiros cortes geológicos de Portugal. Um deles serviu como base para questões de um exame nacional de Geologia do 12º ano, há 6 anos. O seu prestígio foi reconhecido internacionalmente. Em jeito de conclusão podemos dizer que a geologia de Portugal muito ficou a dever ao clima ameno deste país e à ligeira doença respiratória de Paul Choffat. Página 7 Volume 1, Edição 1 Iremos chegar ao manto terrestre? Na publicação on-line Ciência Hoje, pode ficar a conhecer-se a intenção de uma equipa de cientistas retomar o projeto Mohone que há 50 anos se propunha chegar ao manto. Fonte: Ciência Hoje (http:// www.cienciahoje.pt/1002), Abril, 2011, consulta em 2011-05-30. Os três locais escolhidos para as perfurações ficam, naturalmente, na crosta oceânica pois a sua espessura (6 km) é muito inferior à da crosta continental (30 a 60 Km). O projeto parou devido ao abandono dos patrocinadores após a quebra do equipamento de perfuração. O novo projeto vai utilizar, possivelmente, o navio de perfuração Japonês Chikyu (Planeta Terra, em japonês) que em 2007 conseguiu a proeza de perfurar 5.815 metros sob o leito marinho do sul do Japão. Os investigadores afirmam que será preciso muito dinheiro para levar a cabo as experiências, mas “não tanto como enviar um foguetão à Lua”. Estrutura simplificada da Terra e navio de prospecção Chikyu. Para saber mais sobre este navio http:// farinha0.tripod.com/id126.html Equipa de geólogos internacionais em Valongo Vieram da Rússia, Austrália, China, EUA, República Checa, Reino Unido, Espanha, Dinamarca e França Um grupo de 30 cientistas esteve no dia 7 de maio em Valongo, para estudar formações geológicas do período do Ordovícico (na escala de tempo geológico, corresponde à Era Paleozoica), existentes na Serra de Santa Justa. Tenha uma ideia da grandiosidade da tarefa através do esquema Estas formações retratam geologicamente Valongo há 490 milhões de anos, altura em que o território era parcialmente coberto por mar, e a vida na Terra era ainda uma promessa. Aqui encontram-se dos maiores fósseis de trilobites do mundo, em xistos formados e dobrados pela colisão de placas que originou o supercontinente Pangeia. Veja como conhecer trilobites e outros seres marinhos de há 490 Ma http:// geologia.aroucanet.com/indexhp? option=com_content&task=view&i d=22&Itemid=49 Editorial Não dê férias à ciência, leve-a consigo Geologia no Verão Edição de 2011 (15 de Julho a 15 de Setembro) http://www.cienciaviva.pt/home/ A Gazeta Geológica pretende ser um divulgador de informação das geociências. É uma iniciativa do Litospaço (projeto da escola no âmbito da Geologia) e destina-se a todo o interessado por estas temáticas e em especial, a professores e alunos da disciplina de Biologia e Geologia. A Geologia não é uma ciência exata como a Matemática, a Física ou a Química, mas em muito depende delas para se fazer explicar. Não é classificada como uma ciência experimental como a Biologia, mas não se podem estudar fósseis sem conhecimentos profundos da ciência da vida. Assim, também a nossa gazeta precisa da colaboração de todos os elementos da comunidade que queiram participar neste boletim, desde que “a estrela” da redação seja a geologia. Esc. Secundária Leal da Câmara Av. Pedro Nunes, nº1 2635-317 Rio de Mouro Tel: 219 169 310 Fax: 219 162 065 [email protected] http://www.eslc.pt/moodle/ Disciplina—Litospaço Quando chegarem as férias vá para o campo, aprecie a paisagem. Tire uma fotografia às rochas que lhe chamem a atenção (pode ser uma rocha isolada, um afloramento rochoso ou um corte junto a uma estrada). A única exigência é que o faça em território nacional e que registe a localização (se tiver um GPS anote as coordenadas). Traga-nos a foto e restante informação. Nós dar-lhe-emos informação sobre a rocha e, se o Júri assim o indicar, um prémio (cheque FNAC de valor a determinar).