Alguma vez um negro inventou alguma coisa?

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Alguma vez um negro inventou alguma coisa?
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
7 DE AGOSTO DE 2005
Alguma vez um negro inventou alguma coisa?
Por Ava Henry y Michael Williams
Este artigo foi elaborado por Cientistas
Negros e Inventores e editado no Reino
Unido por BIS Publications
Londres - A resposta inevitável deve ser não, nunca, sempre e quando você acredite na
‘história oficial’. No entanto, os fatos contam uma história diferente.
Um homem negro, por exemplo, inventou esses semáforos sem os que o mundo não pode
andar e o pai da medicina não foi Hipócrates, mas Imotep, um multifacético gênio negro que viveu dois
mil anos antes do médico grego. É que os europeus ainda se negam a reconhecer que o mundo não
estava à espera na escuridão para que levassem a luz. A história da África já era antiga quando a
Europa começou a andar.
Um mestre de ensino secundário da Gana, que visitou recentemente Londres, não poda
acreditar que um homem negro tivesse inventado os semáforos. “O que?!”, perguntou com absoluta
incredulidade. “Como pode um homem negro ter inventado os semáforos?!”
Bem, você pode imaginar a classe de educação que este mestre de ensino secundário ensinou
e continua a ensinar a seus estudantes, não por malícia, mas por pura ignorância. Que tipo de
educação recebem os africanos? Todos pensam, igual que este professor ganês, que os negros ‘não
podem’ inventar nada, mas que compram as invenções dos outros.
Um novo livro de texto, "Cientistas e inventores negros", publicado recentemente em Londres
por BIS Publications, descarta totalmente a idéia que as pessoas negras não têm criatividade. Escrito
em conjunto por Ava Henry y Michael Williams (ambos diretores da filial de Londres da BIS
Publications), o livro está pensado para ser usado por crianças de entre 7 e 16 anos.
“Nós esperamos que os pais e mestres ajudem as crianças nesta tarefa de conhecimento e
descoberta”, dizem os autores. As pessoas negras estão encontrando cada vez mais difícil entender
por que, inclusive na era da abertura e liberalismo caracterizada pela Internet, continuam a negar o
reconhecimento devido a inventores e cientistas negros.
E isto acontece apesar de que há documentação que prova que várias invenções importantes
para o mundo têm sido obra da criatividade dos negros.
No passado
Escrevendo sobre as invenções e as descobertas africanas, Count C. Volney, o renomado
historiador francês, escreveu: “Pessoas agora esquecidas descobriram, enquanto outros eram ainda
bárbaros, os elementos das artes e da ciência.
Uma raça de homens agora rejeitada pela sociedade por sua pele escura e seu cabelo
enroscado cimentou no estudo das leis da natureza esses sistemas civis e religiosos que ainda
governam o universo”.
Ao que o Dr. John Henrik Clarke, um historiador afro-americano, acrescenta: “Primeiro, as
distorções devem ser admitidas. O fato lamentável é que a maioria do que nós chamamos agora de
história mundial é só a história do primeiro e segundo florescimento da Europa. Os europeus ainda não
reconhecem que o mundo não estava à espera deles na escuridão para que trouxessem luz. A história
da África já era antiga quando a Europa nasceu”.
O Dr. Clarke é apoiado pelo estudioso e explorador alemão Leo Frobenius, que escreveu em
sua principal obra, Und Afrika Sprach, publicada em 1910: “Nessa porção do globo, o anglo-saxão
Henry Morton Stanley lhes deu nome de ‘escuros’ e ‘escuríssimos’...
Mas antes das invasões estrangeiras, os africanos não viviam em grupos pequenos, mas em
comunidades de 20 mil ou 30 mil habitantes, cujas estradas estavam escoltadas por esplêndidas
avenidas de palmeiras, plantadas a intervalos regulares e de uma maneira ordenada”.
O trabalho de Frobenius inclusive foi melhorado por Thomas Hodgkins, um historiador britânico
que escreveu depois: “Quando as pessoas falam, como ainda algumas vezes o fazem, sobre a África
do sul do Saara como um continente sem história, o que eles realmente dizem é que essa porção da
África tem uma história da que nós, os ocidentais, somos deploravelmente ignorantes...
Um deve admitir que ainda somos vítimas de uma mentalidade colonial: encontramos difícil de
compreender que os africanos possuíssem sua própria civilização durante muitos séculos antes de que
os europeus, começando pelos portugueses ao final do s. XV, concebessem a idéia de tentar venderlhes a nossa”.
A maioria dos historiadores aceita agora que os antigos impérios africanos da Gana, Mali e
Songhay* tinham desenvolvido sociedade científicas.
Em Uma História do Desenvolvimento Intelectual da Europa, publicada em 1864, J. W. Draper
escreveu sobre o desenvolvimento social e artístico imensamente superior dos mouros (os negros),
que bem poderiam ter visto com arrogante desprezo as moradas dos governantes da Alemanha,
França e Inglaterra, que naquele tempo apenas eram melhores do que seus estábulos”.
Recentemente, o jornalista britânico de TV Jon Snow, que se fez de um nome como jornalista
na África na década de 1970, ficou assombrado ao encontrar numa biblioteca em Tombuctu (Mali),
pilhas de livros fechados “faz mais de 500 anos” (suas próprias palavras em câmera).
“Nós (os europeus) gostamos de pensar que foi nossa cultura a que levou os livros a África,
mas aqui em minhas mãos está a evidência que demonstra o contrário. Eles nos deram os livros”,
disse Snow, enquanto revisava um deles. Os documentos demonstram que as primeiras universidades
da Europa foram fundadas muito depois da Universidade de Sankore, em Tombuctu, cujos professores
eram todos africanos.
O Antigo Egito
Até no antigo Egito, que era essencialmente um império negro cuja grande glória tem se
atribuído com malícia aos árabes, os negros foram os que iniciaram o caminho das ciências.
Sir J. G. Wilkinson admitiu em seu livro Os Antigos Egípcios (1854) “que os antigos egípcios
possuíram um considerável conhecimento da química e do uso do óxidos metálicos, como ficou
evidenciado nas cores aplicadas a suas peças de vidro e porcelana; e eles, inclusive, estavam
familiarizados com os efeitos dos ácidos sobre as cores eram capazes de lograr matizes nas tinturas
das telas utilizando métodos semelhantes aos que nós empregamos em nossos trabalhos sobre o
algodão”.
Em seu livro Antigo Egito: a Luz do Mundo (1907), Gerald Massy admitiu que Imotep, o
multifacético gênio negro, foi o verdadeiro “pai da medicina” e não, como se sustenta de forma errada,
o médico grego Hipócrates. Imotep era um antigo egípcio que viveu aproximadamente em 2300 antes
de Cristo.
Os documentos mostram que tanto a Grécia quanto a Roma tomaram seus conhecimentos de
medicina dele. Ele era venerado em Roma como o “Príncipe da Paz na forma de um homem negro”.
Também foi um arquiteto adiantado a seu tempo e serviu como primeiro ministro do rei Zoser.
Hipócrates, o chamado ‘pai da medicina’, viveu dois mil anos depois de Imotep. No entanto,
ainda o juramento tomado aos médicos da era moderna observa um código de ética médica baseado
em Hipócrates e não em Imotep.
Esta rejeição ou falta de reconhecimento das invenções e descobertas dos negros a razão pela
que pessoas como o professor ganês podem dizer que os negros não inventaram nada. Invenções tais
como o papel, a elaboração de sapatos, as bebidas alcoólicas, os cosméticos, as bibliotecas, a
arquitetura e muitos mais têm sido obra de pessoas negras muito antes do florescimento da Europa.
Arthur Weigall (Personalidades da Antiguidade, publicado em 1928) admite que Akenaton, o
monarca negro do antigo Egito, foi a primeira pessoa em predicar a crença num Deus todo-poderoso,
todo amor.
“Nos primeiros anos de seu reinado -escreve Weigall- quando ainda era um rapaz, Akenaton
promulgou uma doutrina que estava em seu aspecto exterior um culto dedooder invisível e intangível,
chamado Aton.
Fazia-se visível para a humanidade na luz do sul, geradora de vida, mas em seu significado
mais profundo, simplesmente era a crença num único Deus, todo-poderoso, pai de todas as criaturas
viventes e por quem todas as coisas tinham sua razão de ser”.
Sobre Akenaton, J. A. Rogers ("Os grandes homens de cor do mundo") escreveu: “Séculos
antes do rei Davi, ele escreveu salmos tão bonitos como aqueles do monarca judeu. TTrezentosanos
antes de Mohamed (chamado em Ocidente Maomé), ele ensinou a doutrina de um só Deus. Três mil
anos antes de Darwin, ele se deu conta da unidade que atravessa todas as coisas vivas”.
Quando Akenaton predicava sua crença num só Deus todo-poderoso, era considerado um
herético. Assim, a crença moderna num Deus onipotente, tão cara para cristão, judeus e muçulmanos,
na verdade é uma consequência do pensamento de Akenaton, cujas origens são muito anteriores à
era judaico-cristã.
Na era romana, um homem negro, agora esquecido, Tiro (nascido para o 103 antes de Cristo)
foi o inventor da escrita taquigráfica. Vários historiadores têm lembrado de Tiro como o secretário de
Marco Túlio Cicerão. Cicerão amava ditar suas cartas a Tiro, que as escrevia em método taquigráfico.
Quantos séculos passaram desde o ano 63 antes de Cristo até 1837 de nossa era, quando o inglês
Isaac Pitman ‘inventou’ sua taquigrafia?
Outro historiador, Charles Rollin, conta que os egípcios, a raiz das inundações provocadas pelo
Nilo, estavam obrigadas a medir frequentemente seu país e para esse propósito idealizaram um
método que deu origem à geometria. Esse método passou do Egito para a Grécia, e se crê que foi
Thales de Mileto quem o levou numa de suas viagens.
E se algo faltava para assombro do mestre ganês, Esopo, que viveu no século 6 antes de
Cristo, também era negro. Segundo Planudes o Grande, no século 14, um frei a quem devemos a
forma atual das fábulas de Esopo, o descreveu “com lábios grossos e pele negra”. A influência de
Esopo no pensamento e a moral ocidental é profunda. Platão, Sócrates, Aristófanes, Shakespeare, La
Fontaine e outros grandes pensadores se inspiraram em sua sabedoria.
A Era Moderna
Sem dúvida, a invenção de um negro mais visível da era moderna são os semáforos. Garret
Morgan, um afro-americano (nascido em Kentucky, EUA, em 4 de março de 1877), inventou o sistema
automático de sinais de trânsito em 1923, e depois vendeu os direitos à corporação General Electric
por 40 mil dólares.
Morgan, o sétimo de 11 irmãos, só tinham uma educação escolar elementar, mas era
extremadamente inteligente. Começou sua vida de trabalhador como técnico de máquinas de coser e
rapidamente inventou um sistema para aperfeiçoar as máquinas, que vendeu em 1901 em menos de
50 dólares.
Morgan também inventou a primeira máscara de gás em 1912, pela que obteve uma patente
do governo norte-americano. Seguidamente criou uma companhia para fabricar as máscaras. O
negócio inicialmente foi bom, sobretudo durante a I Guerra Mundial, mas quando seus clientes
descobriram que ele era negro, as vendagens começaram a diminuir.
Morgan tentou enganar seus clientes racistas inventando um creme que se aplicava para alisar
o cabelo e passar por índio da reserva Walpole, no Canadá. Morreu em 1963, aos 86 anos. Outro dos
grandes inventores negros foi Elijah McCoy. Tinha nascido em 2 de maio de 1843 em Colchester,
Ontario, Canadá. Seus pais tinham escapado da escravidão da América do Sul e foram morar no
Canadá com suas 12 crianças.
Sendo jovem Elijah foi bom para a mecânica. Depois de estudar em Edimburgo (Escócia),
regressou ao Canadá, mas não podia encontrar trabalho. Terminou nos Estados Unidos, onde
conseguiu emprego como operário ferroviário em Detroit, Michigan. Era o encarregado de engordurar
as maquinarias.
McCoy decidiu desenvolver um sistema para engordurar que não fizesse parar o
funcionamento das máquinas e em 1872 inventou um sistema de gotejamento para máquinas de vapor
que permitiu engordurá-las durante a marcha.
Em 1929, quando McCoy morreu, tinha mais de 50 patentes a seu nome, inclusive, uma mesa
de ferro e um rociador de grama. Seu dispositivo para engordurar as máquinas de vapor cimentou a
revolução industrial do século 20.
De volta a casa na África, o cientista ganês, Raphael E. Armattoe (1913-1953), candidato ao
Prêmio Nobel de Medicina em 1948, encontrou a cura para a doença do verme da água da Guiné com
sua droga Abochi na década de 1940. Ele também fez uma extensa investigação sobre as diferentes
espécies de ervas e raízes africanas de uso medicinal.
Os inventores negros do EUA
Só nos Estados Unidos, milhares de inventores e cientistas negros têm contribuído
enormemente ao desenvolvimento nacional, além do mundial, sem nenhum reconhecimento. Esta é
uma pequena mostra de inventores negros dos Estados Unidos na era moderna:
Em medicina, Charles R. Drew foi o pioneiro no desenvolvimento do banco de sangue. Em
1940, seu trabalho com o plasma e armazenagem abriu o caminho para o desenvolvimento dos
bancos de sangue nos Estados Unidos. Em 1935, o Dr. William Hinton publicou o primeiro manual
médico escrito por um afro-americano, baseado em sua investigação da sífilis.
O físico Lloyd Quarteman jogou um papel transcendental na equipe científica norte-americana
que desenvolveu o primeiro reator nuclear na década de 1930 e iniciou a era atômica no mundo. Outro
físico, Roberto E. Shurney, desenvolveu os pneumáticos de malha de arame para o robô da Apolo XV
que tocou a superfície da lua em 1972.
George Washington Carver, um gênio agrícola, desenvolveu novos métodos de cultivo que
salvaram a economia do sul dos Estados Unidos na década de 1920. Em 1927 fez imensas melhoras
ao processo de fabricação de pinturas e colorantes. Também investigou ampliamente a terra e as
doenças das plantas e desenvolveu 325 produtos derivados do amendoim, entre eles tintas, alimentos
e produtos cosméticos.
Jan Ernst Matzeliger (1852-1889) inventou a ‘máquina sem fim’ que impactou grandemente na
indústria dos sapatos do mundo. Obteve uma patente do governo em 1883. após vendeu os direitos à
firma Consolidated Hand Method Lasting Machine Co. Quando morreu, em 1889, tinha outras 37
patentes a seu nome. Foi honrado pelos Estados Unidos em 1992 com um selo de correios com seu
retrato.
O Dr. Ernest E. Just (1883-1941) estudou a fertilização e a estrutura celular do ovo antes da I
Guerra Mundial. Ele deu ao mundo a primeira visão da arquitetura humana ao explicar como trabalham
as células.
Granville T. Woods (1856-1910) inventou um novo transmissor do telefone que revolucionou a
qualidade e distância à que podia viajar o som. A companhia de telefones Bell comprou a patente de
Woods, cujo trabalho mais memorável foi a melhora que logrou para os trens.
Primeiramente, ele inventou o “sistema de telegrafia ferroviário”, que permitiu enviar
mensagens de trem a trem, mas em 1888 melhorou seu invento com um sistema que permitiu
eletrificar os trens. Mais? A lista é inesgotável. Vejamos alguns outros inventores negros.
Richard Spikes desenvolveu a caixa de câmbios automáticos para os automóveis em 1932.
George Carruthers, um astro-físico da NASA, desenvolveu a câmera remota ultravioleta que se usou
na missão da Apolo XVI e que permitiu ao mundo ter uma visão das crateras da lua na década de
1960. Sua combinação de telescópio e câmera é ainda usada nas missões dos transbordadores.
Em 1986, a Dra. Patricia E. Bath, uma oftalmologista, inventou um dispositivo laser que tem se
usado desde então na cirurgia de cataratas.
Em 1989 o Dr. Philip Emeagwali, um imigrante nigeriano nos Estados Unidos, realizou o
cálculo de computador mais rápido do mundo, uma assombrosa operação de 3,1 bilhões de cálculos
por segundo. Seu aporte tem mudado a maneira de estudar o aquecimento global e as condições do
tempo e também tem ajudado a determinar como o petróleo flui sob a terra.
O Dr. Daniel Hale Williams foi primeiro em realizar, em 1893, uma operação de coração num
homem. O químico Percy L. Julian, “um dos maiores cientistas do século 20”, segundo a revista
Ébano, abriu o caminho para o desenvolvimento do tratamento do mal de Alzheimer e do glaucoma
com seus experimentos em 1933.
“Sua investigação na síntese da fisostigmina, uma droga para tratar o glaucoma, determinou
que melhora a memória dos pacientes do mal de Alzheimer e serviu como antídoto do gás nervoso”,
segundo Ébano.
Benjamim Banniker foi o primeiro inventor afro-americano notável. Ele fez o primeiro relógio
nos Estados Unidos e experimentou em astrologia. Depois, foi assistente do francês La Flan, que
planejou a cidade de Washington.
Quando La Flan deixou o país desencantado com os norte-americanos, Banniker recordou os
planos e virou o verdadeiro responsável do desenho da cidade, uma das poucas dos Estados Unidos
com ruas suficientemente amplas como para permitir o passo de dez automóveis ao mesmo tempo.
*Os songhay foram um povo negro-africano da beira do rio Níger meio, mistura entre tuareg e
fulbe. No século 7 ou 8 criaram um império com capital em Kukya e depois em Gao (1010).
Controlavam as rotas das caravanas do Saara central, que levavam a Tumbuctu o ouro do Sudão e
regressavam com sal das salinas de Tombuctu, no norte do Saara. Em 1591 o império foi destruído
pelos marroquinos.

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