Escola Municipal Orlando Breno Educação Infantil

Transcrição

Escola Municipal Orlando Breno Educação Infantil
Secretária de Educação (Sedusc)
Jaboatão dos Guararapes (PE)
Escola Municipal Orlando Breno
Educação Infantil – Projeto Paralapracá
Iniciando a conversa
No ano de 2011, as turmas da educação infantil da Escola Municipal
Orlando Breno sistematizaram e vivenciaram um projeto a partir da
linguagem da arte, tendo como referência o artista russo Wassily Kandinsky
(1866-1944).
Kandinsky é considerado o iniciador da pintura abstrata, ou seja, da
ausência de relação imediata entre as formas e as cores do mundo e as
formas e as cores da representação pictórica.
Este registro, portanto, tem como objetivo apresentar o processo de
escolha e de vivência trilhado pelas crianças da educação infantil desta
unidade escolar, mediado pelas professoras a partir das inferências e/ou
provocações do projeto Paralapracá.
O artista
Nascido em Moscou, no dia 4 de dezembro de 1866, Kandinsky passou
grande parte da infância em Odessa. Estudou direito e economia na
Universidade de Moscou, chegando a diplomar-se em direito aos 30 anos,
mas desistiu desta carreira.
Casou-se em 1892 com a sua prima Anya Chimiakin, que o acompanhou
de mudança, naquele ano, para Munique, na Alemanha, onde iniciou seus
estudos em pintura. O estilo da escola de Ažbè desiludiu Kandinsky, que
preferia pintar paisagens coloridas ao ar livre, em vez de modelos “mal
cheirosos, apáticos e inexpressivos”.
Após vinte anos, Kandinsky tenta inscrever-se, sem sucesso, num curso
ministrado por Franz von Stuck. Um ano depois, ele ingressou finalmente
no curso que frequentou até 1900. Em maio de 1901, Kandinsky cofundou
a sociedade artística Phalanx e foi professor na escola fundada pouco tempo
depois pela entidade. Uma das suas alunas foi Gabriele Münter, que
se tornou sua companheira até 1917. Ele se separou-se de Anya Chimiakin
em 1916.
Já na década de 1911, Kandinsky desenvolveu seus primeiros estudos não
figurativos, fazendo com que fosse considerado o primeiro pintor ocidental
a produzir uma tela abstrata. Suas obras mostram a influência dos verões
que ele passava em Murnau, na Alemanha, notando-se um crescente
abstracionismo nas suas paisagens. Outra influência nas suas pinturas foi
a música do compositor Arnold Schönberg, com quem Kandinsky manteve
correspondência entre 1911 e 1914.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Kandinsky é forçado a
abandonar a Alemanha, partindo para a Suíça, acompanhado por Gabriele
Münter, em 3 de agosto de 1914, esperando um fim rápido do conflito.
Como este não se concretizou, ele voltou à Rússia, separando-se de
Münter, em 16 de novembro do mesmo ano. Aproveitando uma exposição
em Estocolmo em 1916, Kandinsky permanece na Suécia, onde conhece a
sua terceira companheira, a russa Nina de Andreewsky, até o advento da
Revolução Russa. Volta então à Rússia, interessado nos rumos do país,
mas desentende-se com as teorias da arte oficiais e retorna à Alemanha em
1921.
Em constante contato com os artistas da vanguarda, passa a lecionar na
Bauhaus até 1933, quando a escola é fechada pelo governo nazista. Mudase para Paris, onde viveu até o fim de sua vida. Faleceu em Neuilly-surSeine em1944 e foi sepultado no New Communal Cemetery, Hauts-deSeine, Ilha de França.
Desenvolveu a arte abstrata até o final de sua vida. Junto com Piet
Mondrian e Kasimir Malevich, Kandinsky faz parte do “trio sagrado” da
abstração, sendo o mais famoso.
Aa obras
As imagens produzidas por Kandinsky não possuem preocupação em
representar o mundo real. Ao contrário, são imagens ricas em cores, formas
livres, desinteresse pelos elementos da gramática visual, mas são,
sobretudo, cheias de expressão de liberdade e de felicidade.
Influenciado pelas cores da natureza e pela música, o artista buscou
representar um mundo destituído de guerras e de conflitos e impregnado de
cores e de espontaneísmos. Muito criticado na sua época, hoje Kandinsky é
considerado um dos principais artistas modernos do mundo ocidental.
Vejamos algumas de suas Imagens:
O encontro
A escolha/encontro entre as obras de Kandinsky e as crianças da educação
infantil da Escola Municipal Orlando Breno deu-se de forma ocasional e
pouco planejada. Isso porque, de uma lista de artistas regionais, nacionais e
internacionais, a escolha feita por esta unidade escolar foi tardia, deixando
alguns poucos nomes da lista inicialmente oferecida.
Mas o que poderia ser um problema terminou sendo um bom encontro! As
cores e as formas, pouco convencionais, chamaram a atenção das
professoras da educação infantil, que afirmaram que as imagens de
Kandinsky pareciam mais “pinturas feitas por crianças”.
As crianças, livres de preconceitos e das regras estéticas convencionadas
por nós adultos, encantaram-se pelo artista e suas obras. Mas um desafio
ainda estava a ser desmistificado: por onde começar?
Um pouquinho de arte
A então supervisora escolar da Escola Municipal Orlando Breno, Alba
Valéria, procurou e conversou com a professora Emília Freitas,
explicando-lhe a proposta a ser vivenciada pelo Paralapracá.
Por ter a formação acadêmica em artes visuais, a professora Emília Freitas
sistematizou alguns tópicos para a formação/reflexão das professoras da
educação infantil. Entre os pontos destacados, foram discutidas as seguintes
questões:
Compreender a arte no contexto atual é compreender que não se
pode restringir a atividade artística ao mero fazer artístico e, por isso, as
professoras teriam de fazer pesquisas/estudos sobre os aspectos da vida e
obra do artista. Tais informações não deveriam ser transmitidas aos alunos
de forma enciclopédica, mas eram fundamentais para o enriquecimento
cultural das próprias professoras.
Foi apresentada/discutida a proposta triangular do ensino de arte,
concebida pela arte/educadora Ana Mae Barbosa. Em tal proposta Ana
Mae fundamenta que o ensino de arte na contemporaneidade deve
fundamentar-se em três ações básicas: a leitura da imagem (pela qual os
alunos observam/apreciam/conversam sobre as imagens do artista estudado);
a contextualização (em que as crianças aprendem sobre os aspectos da vida
do artista e são levadas a refletir sobre as convergências e as diferenças
entre o contexto sócio-histórico-cultural do artista e de suas próprias vidas);
e a produção (que pode ser a produção de imagens, textos das poéticas
pessoais).
Foi feito um levantamento das ideias que poderiam ser feitas com as
crianças da educação infantil: apreciação das obras, escrita do nome do
artista Kandinsky, ouvir músicas e desenhar/pintar o que se imagina por
meio da música, pintar com os olhos fechados, conversas sobre aspectos da
vida/obra de Kandinsky, etc.
Assim, teve início um processo de diálogo/produção intenso entre as obras
de Kandinsky e as crianças. Um diálogo/produção repleto de cores, de
formas inusitadas, de liberdade e, sobretudo, de aprendizado.
A seguir, algumas fotos mostram este
significativo processo:
Imagens produzidas com esponjas: em grupo e após a leitura de
uma obra de Kandinsky, as crianças preencheram uma tela utilizando
esponjas livremente. Aproveitou-se, na ocasião, para conhecer as cores.
Imagens produzidas a partir da figura geométrica de um círculo:
após a apreciação de uma imagem de Kandinsky repleta de formas
circulares, em grupo, as crianças foram convidadas a pintar círculos em
antigos discos de vinil. Nem Kandinsky pensou em algo tão original!
Imagens produzidas a partir da figura geométrica de um
triângulo: após o círculo, foi a vez do triângulo. O que inspirou
produção foi um rápido passeio pelas ruas do entorno da escola, onde as
formas triangulares foram vistas nos telhados das casas.
Imagens produzidas com cordão: para se trabalhar com a ideia de
linhas, que podem ser abertas, fechadas, retas, curvas. Nada mais
apropriado e desafiador que pintar com um cordão, fazendo surgir na
tela linhas cheias de cores e de imaginação. Kandinsky adoraria ver isso!
Imagens produzidas sem pincel – pinturas com garrafas
plásticas: nesta atividade, após um bom bate-papo, flores coloridas e
bonitas começaram a surgir na tela. O resultado agradou!!!
Imagens produzidas sem pincel – pintura com o pé: após uma roda
de conversa e apreciação de imagens, a criançada apontou que o artista
parecia pintar manchas “muito esquisitas”. Surgiu, assim, a ideia de
pintar com os pés. Nem as professoras resistiram e meteram a “mão na
massa”... mão, não!!! Meteram os “pés na tela”.
Pintura com cola colorida: tubinhos de cola colorida povoam os
nossos sonhos/desejos de infância. Quem nunca quis pintar com cola
colorida!? Aqui, as crianças puderam brincar de fazer linhas coloridas,
traçando os caminhos de um aprendizado colorido e feliz!
Aprendizados
É difícil descrever os aprendizados que se consolidam numa proposta como
a exposta acima, pois cada criança se envolve com as atividades propostas
de uma forma única e intransponível.
Além disso, aprender não é quantificar quantas letras, quantas cores e/ou
quantas informações foram retidas pelas crianças. Aprender é o desafio
contínuo em relacionarmo-nos com o outro e com o mundo. De modo geral,
as crianças aprenderam:
Sobre alguns aspectos da vida e da obra de
Kandinsky.
O nome e a mistura das
cores.
Sobre linhas, círculos e outras formas
geométricas.
A dividir o material e colaborar com a limpeza do
ambiente escolar.
A trabalhar em grupo, esperando a vez de produzir, respeitando a
produção dos
colegas.
Que arte não é algo que está nos livros e em lugares distantes, mas
está presente ao nosso redor.
Que arte não é algo para poucos, mas para todos, ou seja: todos nós
podemos experimentar a arte.
Que o exercício da arte é o exercício da liberdade. E liberdade é
bom demais!
Terminando a conversa
Esta experiência aconteceu entre os meses de julho e setembro de 2011, foi
vivenciada pelas crianças da educação infantil da Escola Municipal
Orlando Breno e apresentada ao projeto Paralapracá, com intermediação da
Secretaria de Educação do Município de Jaboatão dos Guararapes.
A experiência foi conduzida pelas professoras Aldemira Lima de Souza,
Andrea Gusmão, Janeide de Souza Lima e Viviane Ramos de Araújo, sob a
supervisão escolar de Alba Valéria Ferreira da Silva. O relato desta
experiência foi sistematizado pela supervisora escolar Emília Patrícia de
Freitas em setembro de 2012, quando foi encaminhado aos supervisores do
projeto Paralapracá e da Secretaria de Educação de Jaboatão dos Guararapes.
Vale ressaltar que a experiência realizada com a educação infantil
contagiou toda a unidade escolar e a mostra cultural realizada em
novembro de 2011, foi planejada e executada a partir da vida/obra de
muitos outros artistas, preenchendo, assim, a Escola Municipal Orlando
Breno de cores, de formas, de arte, de vida.
Esperamos que este relato de experiência sirva como ponto de reflexão e
ponto de partida para outros encontros/aprendizados com outros artistas e,
sobretudo, com a nossa própria essência.

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