Raoul Wallenberg – Parte II

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Raoul Wallenberg – Parte II
Raoul Wallenberg – Parte II
Raoul Wallenberg
Em meados de janeiro de 1945, quando os russos entraram em Budapeste e libertaram a
Hungria do domínio nazista, uma tropa avançada soviética encontrou Raoul Wallenberg
à frente de uma casa com uma enorme bandeira sueca na entrada. Em russo fluente,
Raoul disse a um atônito sargento russo que ele era o adido de negócios estrangeiros da
Hungria recém libertada. Pediu, e obteve permissão para visitar a sede militar soviética
na cidade de Debrecen, a leste de Budapeste.
A caminho de Debrecen, em 17 de janeiro – escoltado pelos russos, Wallenberg e seu
motorista Vilmos Langfelder pararam em uma das Casas Suecas para se despedir dos
amigos. Ao Dr. Ernõ Petõ, um de seus colegas, Wallenberg disse não ter certeza se ele
era hóspede dos russos, ou seu prisioneiro. Pensou que pudesse voltar em uma semana –
mas está desaparecido desde então.
Vilmos Langfelder
Se Raoul Wallenberg ainda vive ou não é, até hoje, uma incógnita. Os russos alegam
que ele tenha morrido em cativeiro, de ataque cardíaco, no dia 17 de julho de 1947.
Entretanto, várias testemunhas indicam que ele viveu por muito tempo depois disso, e
que é até possível que ainda esteja vivo.
Em novembro de 1944, Wallenberg havia criado em seu departamento uma seção que,
sob sua supervisão, elaboraria um plano detalhado para dar apoio financeiro aos judeus
sobreviventes. Os russos não viam a questão dos judeus da mesma forma,
consequentemente, é de se supor que não entendessem como poderia uma pessoa
dedicar-se a eles de corpo e alma. Portanto, era importante que Wallenberg pudesse
explicar aos russos as suas operações de salvamento.
É provável que os russos enxergassem nestes esforços de proteção algum outro motivo.
Suspeitavam que Wallenberg fosse um espião a serviço dos americanos, e viam com
muito ceticismo os seus contatos com os alemães.
Raoul Wallenberg e seu motorista Vilmos Langfelder nunca mais voltaram de
Debrecen. De acordo com testemunhas fidedignas, eles foram levados a Moscou como
prisioneiros da NKVD, organização que antecedeu a KGB. Testemunhas oculares os
viram sendo levados a celas separadas no cárcere de Lubjanka.
Wallenberg não foi o único diplomata que despertou suspeitas entre os russos. A
representação da Suiça, que também realizou extensivas operações de salvamento entre
a população judaica na Hungria, viu o secretário da sua legação, juntamente com um seu
auxiliar, serem levados presos para a União Soviética. Entretanto, os suiços
conseguiram a sua extradição, em troca de cidadãos soviéticos detidos na Suiça.
Levou algum tempo até que as autoridades de Estocolmo se dessem conta do
desaparecimento de Raoul Wallenberg. Em sua resposta ao Embaixador sueco em
Moscou, o vice Ministro do Exterior Dekanosov declarou que ”as autoridades militares
russas haviam tomado as medidas e ações necessárias para proteger Wallenberg e seus
pertences”.
Os suecos, evidentemente, esperavam que Raoul Wallenberg voltasse logo para casa.
Como nada disso aconteceu, a mãe de Raoul, Maj von Dardel, entrou em contato com
Aleksandra Kollontaj, a embaixadora russa em Estocolmo, que a tranquilizou dizendo
que o filho estava sendo bem tratado na Russia. Ao mesmo tempo, Aleksandra
Kollontaj disse à esposa do Ministro do Exterior Russo Christian Günther, que seria
melhor para Wallenberg se o governo sueco não revolvesse muito esse assunto.
Maj (mãe de Raoul) e seu segundo marido Fredrik von Dardel, em 1975, e Aleksandra Kollontaj
Em 8 de março de 1945, uma rádio húngara controlada pelos russos comunicou que
Raoul Wallenberg havia sido executado a caminho de Debrecen, possivelmente por
nazistas húngaros, ou por agentes da Gestapo. Esta informação criou uma certa
passividade por parte do governo sueco. O Ministro do exterior Östen Undén e o
embaixador sueco na União Soviética pensavam que Wallenberg estivesse morto. Em
outros lugares, entretanto, esta mensagem não foi levada a sério. Na época, se foi dada
aos suecos a oportunidade de negociarem a libertação de Wallenmberg, eles a perderam.
Östen Oldén, Tage Erlander e Gunnar Hedlund
Data de 1965 um discurso do então Primeiro Ministro sueco Tage Erlander, que faz
parte da coletânia de documentos referentes às investigações sobre Raoul Wallenberg.
Erlander concluiu sua fala dizendo que todos os esforços empreendidos pelos suecos
logo depois da guerra haviam sido infrutíveros. Na realidade, as autoridades russas
chegaram até a negar que tivessem qualquer conhecimento de Wallenberg. Entre 1947 e
1951 nada de novo aconteceu. Entretanto, quando os russos começaram a libertar os
prisioneiros estrangeiros, começaram a aparecer muitos testemunhos relativos ao
paradeiro de Wallenberg depois de janeiro e 1945.
Em abril de 1956, o Primeiro Ministro sueco Tage Erlander viajou a Moscou em
companhia de Gunnar Hedlund, o então ministro do Interior, para uma reunião em que
estavam Nikta Khruschev, Nikolai Bulgarin e Vyacheslav Molotov. Estes lhes
prometeram reabrir as investigações.
Nikita Khruschev, Nikolai Bulgarin e Vyacheslav Molotov
Em 6 de fevereiro de 1957, quase um ano depois, os russos anunciaram que, após uma
exaustiva investigação, tinham encontrado um documento que muito provavelmente se
referia a Raoul Wallenberg. Em uma ficha preenchida à mão lia-se que ”o seu já
conhecido prisioneiro Raoul Wallenberg faleceu em sua cela esta noite”. O documento
datava de 17 de julho de 1947, e trazia a assinatura de Smoltsov, chefe da enfermaria da
prisão de Lubjanka. O destinatário era Viktor Abakumov, Ministro de Estado da
Segurança da União Soviética.
Documento relativo à morte de Wallenberg, e Viktor Abakumov
Os russos manifetaram aos suecos um profundo pesar pela morte de Smoltsov em maio
de 1953, e pela execução de Abakumov numa dessas operações de ”limpeza” na polícia
secreta. Os suecos não acreditaram em nenhuma palavra desta declaração, mas os russos
se mantêm restritos a ela até hoje.
Em frontal contradição às informações dos russos, testemunhos de diferentes
prisioneiros que estiveram em cárceres russos depois de janeiro de 1945 dão conta que
Wallenberg tenha sido visto nos anos 50.
Em 1965, o governo sueco publicou um relatório oficial sobre o caso Wallenberg. Um
livro teria sido publicado em 1957, segundo o qual Erlander teria feito tudo o que podia
para descobrir a verdade sobre Raoul Wallenberg. Nesta fase, o número de prisioneiros
de guerra libertados pela União Solviética estava diminuindo, e os testemunhos
rareavam. No final da década de 70, o caso veio à tona novamente. De acordo com o
Ministério do Exterior sueco, dois depoimentos interessantes serviram de base para o
pedido de reexame do caso.(*) A resposta do Kremlin continuava a mesma – que Raoul
Wallenberg morreu em 1947. Com base em novo material considerado confiável, no
início dos anos 80 o Ministro do Exterior sueco Ola Ullsten mandou ao chefe do
governo russo Aleksei Kosygin um novo pedido referente a Raoul Wallenberg. A
resposta foi a mesma de antes: Raoul Wallenberg morreu em 1947.
Ola Ullsten e Alexei Kosygin
Nos anos 1980 o mundo viu crescer o interesse em torno de Wallenberg. Em 1981, ele
se tornou cidadão honorário dos Estados Unidos, em 1985, do Canadá, e em 1986, de
Israel. Por essa época, no mundo todo acreditava-se que Wallenberg estivesse vivo, e
foram realizados vários movimentos pela sua libertação. Desde então, diversas
associações suecas, americanas, e de outros países trabalham incansavelmente na busca
de resposta ao que realmente aconteceu a Raoul Wallenberg.
Em novembro de 2000, Alexander Yakovlev, chefe da comissão presidencial que
investiga o caso Wallnberg, anunciou que o diplomata foi executado em 1947 na Prisão
Lubyanka da KGB, em Moscou. Ele disse que foi Vladimir Kryuchkov, ex chefe da
polícia secreta, quem lhe contou isto em conversa reservada. Em dezembro de 2000, os
russos soltaram um novo comunicado, admitindo que Wallenberg fora equivocadamente
preso em 1945, por suspeita de espionagem, e mantido preso por dois anos e meio até a
sua morte. A declaração não esclarece porque Wallenberg foi executado, nem porque o
governo mentiu sobre sua morte durante 55 anos, insistindo, entre 1957 e 1991 que ele
morreu de ataque cardíaco enquanto estava sob guarda da União Soviética (Washington
Post, 23.12.2000).
Alexander Yakovlev e Vladimir Kryuchkov
Em 12 de janeiro de 2001, um painel conjunto de russos e suecos emitiu um relatório
em que não se chegava a nenhuma conclusão sobre o paradeiro de Wallenberg. Os
russos retornaram à antiga versão, segundo a qual ele morreu de ataque cardíaco em
1947, enquanto os suecos disseram não saber ao certo se ele estava vivo ou morto. O
relatório desenterrou a evidência de que os soviéticos prenderam Wallenberg por
suspeita de espionagem para os Estados Unidos.
(*) Nanna Schwartz, médica sueca, e um outro médico holandes teriam conseguido
informações extra-oficiais de que Raoul Wallenberg estava vivo em alguma prisão na
União Soviética.

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