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ARTIGO ORIGINAL FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À MORTALIDADE EM PACIENTES COM SEPSE GRAVE E CHOQUE SÉPTICO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL ESCOLA DO SUL DE MINAS GERAIS RISK FACTORS ASSOCIATED WITH MORTALITY IN PATIENTS WITH SEVERE SEPSIS AND SEPTIC SHOCK IN INTENSIVE CARE UNIT OF A HOSPITAL SCHOOL OF SOUTHERN MINAS GERAIS Nilo César do Vale Baracho1 Gisela Ferraz Lopes2 Thales Duca Araujo2 Thomas Buissa2 Wagner Kendy Yano2. . 1 Mestre em Fisiologia e Farmacologia. Professor Adjunto de Farmacologia e Bioquímica, Faculdade de Medicina de Itajubá 2 Acadêmico do 6° ano de Medicina da Faculdade de Medicina de Itajubá. Trabalho realizado no Hospital Escola de Itajubá Correspondência: Nilo César do Vale Baracho Rua Luiz Gonzaga Rennó, 173. Jardim Eldorado CEP 37502-154 – Itajubá, MG, Brasil Tel.: (35) 3621-4610 E-mail: [email protected] RESUMO Introdução: A sepse é uma síndrome clínica de resposta inflamatória sistêmica secundária a um processo infeccioso. Sepse grave e Choque Séptico compreendem suas formas mais graves. Representa a principal causa de morte nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em todo o mundo. Os preditores de evolução e mortalidade vêm sendo estudados e aplicados, tanto para definir o melhor gerenciamento de recursos financeiros e alterar a conduta terapêutica, quanto para monitorar o desempenho da UTI. Objetivos: Determinar e relacionar os fatores de risco a mortalidade em pacientes com sepse grave e choque séptico internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Escola do Sul de Minas Gerais. Métodos: O estudo foi do tipo caso-controle aninhado a uma coorte prospectiva e observacional, onde foram incluídos pacientes que apresentavam sepse grave ou choque séptico, no período de 30 de julho de 2005 a 30 de junho de 2009. A análise foi realizada com auxílio do programa Minitab versão 15. Foi utilizado o teste de Qui-quadrado de Pearson para associação das variáveis categóricas, sendo rejeitada a independência destas, quando p > 0,05. Resultados e discussão: O estudo abrangeu 167 pacientes. Após analise estatística, obteve-se que a maioria dos pacientes sépticos que evoluíram a óbito eram homens, idosos, com comorbidades, que ficaram internados por menos de 72h e tiveram o trato respiratório como principal origem da doença. Conclusão: Os parâmetros associados à maior mortalidade foram a idade do individuo, o órgão de origem da sepse, presença de diabetes mellitus e hipertensão arterial. Palavras-chave: Sepse grave, Choque séptico, fatores de risco, mortalidade, prognóstico. ABSTRACT: Introduction: Sepsis is a clinical syndrome of systemic inflammatory response secondary to a infection. Severe sepsis and septic shock are the most severe forms. It represents the main cause of death in Intensive Care Unit (ICU) patients worldwide. The predictors of mortality and prognosis has been studied to set a better management of financial resources and change the therapeutic, as for to control the development of ICU. Objectives: Establish and make relations of the risk factors to the mortality in patients who were diagnosed with severe sepsis and septic shock hospitalized in a ICU of a Hospital in South of Minas Gerais. Methods: The study is a case-control type made with a foresight and observational coorte, which were included patients with severe sepsis and septic shock, by the period between June 30th of 2005 to June 30th of 2009. The analysis was made using the program Minitab version 15. It was used the QuiQuadrado of Pearson test to make associations of the categorical variables, not considering those, when p>0,05. Results and discussion: the study encompassed 167 patients. After statistic analysis, it was concluded that most of septic patients who died were elderly males with co morbidities that were hospitalized less than 72 hours and had as the main infection focus the Respiratory System. Conclusion: The most important items associated with the mortality were the patient’s age, septic original organ, the presence of Diabetes Mellitus and Hypertension. Key-words: Severe sepsis, septic shock, risk factors, mortality, prognosis Revista Ciências em Saúde v1, n 1 abr 2011 INTRODUÇÃO A Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) caracteriza-se por uma resposta inflamatória inespecífica do organismo a vários tipos de agressão (pancreatite, trauma, infarto agudo do miocárdio, entre outras), manifestada por duas ou mais das seguintes condições: temperatura corporal superior a 38°C ou inferior a 36°C; frequência cardíaca maior que 90 bpm; frequência respiratória maior que 20/irpm ou PaCO2 inferior a 32 mm Hg e contagem de leucócitos superior a 12.000/mm³ ou inferior a 4.000/mm³ ou ainda com mais de 10% em sua forma jovem. O paciente é portador de sepse caso apresente SIRS deflagrada por infecção.1 Sepse grave e choque séptico representam os espectros mais graves da sepse, associados a sinais de hipoperfusão, disfunção orgânica e hipotensão responsiva ou não a ressuscitação volêmica.2 A elevada mortalidade por sepse já supera doenças clássicas que ocasionam alta mortalidade intrahospitalar, incluindo acidente vascular isquêmico (1219% de morte nos primeiros 30 dias) e infarto agudo do miocárdio (8% de risco de morte).3 Apesar dos avanços tecnológicos e científicos dos últimos anos, a mortalidade pela sepse permanece elevada. A sua incidência sofre variações dependendo do hospital estudado, sendo maior naqueles que lidam com pacientes mais graves. Diagnóstico e tratamento precoce constituem as principais armas para redução da mortalidade.1 O estudo publicado por Angus e col. mostra que nos EUA ocorrem aproximadamente 750.000 casos de sepse por ano, com 215.000 mortes/ano. Nos últimos dez anos, dados epidemiológicos americanos mostram aumento de incidência de 91,3% de sepse nas UTIs daquele país. A mortalidade desta doença é maior que a de pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, câncer de mama e cólon e AIDS. Quase se equipara à mortalidade por síndrome coronariana aguda.4 Recentemente, Alberti e col. publicaram um completo estudo epidemiológico englobando 28 unidades de terapia intensiva da Europa. A taxa de mortalidade hospitalar dos pacientes com sepse ficou entre 44,8 e 67,9% (IC 95%) e dos pacientes com choque séptico, entre 47,2 e 63,8% (IC 95%). 5 No Brasil, dados coletados por Silva e col. mostram incidência de sepse grave em torno de 27% em pacientes com mais de 24 horas de internação em UTI. 3 O estudo Sepse Brasil, feito por Junior e col. evidencia um número de pacientes com sepse grave e choque séptico maior que os relatados nas publicações européias e norte-americanas, com mortalidade de 46,6%. A mortalidade no choque séptico é uma das mais elevadas no mundo, com 65,3%. 6 A partir da década de 90, diversos índices foram criados, baseados em indicadores clínicos e laboratoriais aferidos nas primeiras 24 horas de internação que, após cálculos matemáticos, poderiam prever a taxa de mortalidade. Entre eles, pode-se citar o APACHE II - Acute Physiology and Chronic Health Evaluation 2, que é um sistema de classificação da gravidade das doenças7 e o SOFA – Sepsis Related Organ Failure Assessment, que foi inicialmente criado em 1995 para avaliação da morbidade em pacientes sépticos, uma vez que a sepse é a principal causa de “falência” orgânica múltipla. 8 A DMOS (Disfunção Múltipla de Órgãos e Sistemas) tem com fatores de risco a idade, doença crônica prévia, reanimação inadequada, foco inflamatório e infeccioso persistente. 9 Além desses escores, existem indicadores mais tradicionais, que possivelmente relacionam-se com risco de morte em pacientes sépticos, tais como lactato, contagem de plaquetas e fibrinogênio. 10-12 Outros possíveis fatores de risco são o tempo de internação na UTI, origem do paciente (clínica médica, clínica cirúrgica, pronto socorro e externo), sexo, faixa etária, foco (órgão de origem da Sepse), análise de algumas comorbidades pré-existentes, como diabetes e hipertensão arterial e a International Normalized Ratio (INR) que é uma quantificação comparada da relação do tempo de protrombina (TP) de um doente, usada como padrão para a monitorização dos efeitos da varfarina. A INR indica o que teria sido a relação do TP do doente se fosse medida usando o reagente primário de referência internacional da OMS. 13 Em outubro de 2002, durante o Congresso Europeu de Medicina Intensiva, foi iniciada uma campanha denominada “Sobrevivendo a Sepse”, com objetivo de reduzir a mortalidade por sepse em 25%, nos cinco anos seguintes. 14 No Brasil, quem coordena a campanha é o Instituto Latino Americano para Estudos da Sepse (ILAS), um órgão sem fins lucrativos, com a finalidade de aprofundar os conhecimentos sobre sepse, bem como desenvolver programas para a redução da mortalidade e sequelas em pacientes com sepse. 15 No ano de 2006, houve a implementação desta Campanha no Hospital Escola de Itajubá, um município localizado no sul de Minas Gerais. Os preditores de evolução e mortalidade vêm sendo extensamente estudados e aplicados, tanto para definir o melhor gerenciamento de recursos financeiros e alterar a conduta terapêutica, quanto para monitorar o desempenho de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 16 A análise dos fatores de risco associados à mortalidade em pacientes com sepse grave e choque séptico mostra-se relevante, uma vez que a sepse grave e sua evolução para choque séptico são causas frequentes de óbito e todos os esforços de médicos intensivistas devem ser voltados para detecção precoce do problema ainda na sala de emergência, com implantação de protocolos rigorosos de medidas que reduzam a mortalidade na sepse, procurando reduzir os índices de mortalidade por esta doença. O objetivo desse estudo foi verificar a associação entre os diferentes parâmetros clínicos, epidemiológicos e laboratoriais com a mortalidade de pacientes com sepse grave e choque séptico internados numa unidade de terapia intensiva de um Hospital Escola do Sul de Minas Gerais. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi do tipo caso-controle aninhado a uma coorte prospectiva e observacional, onde foram incluídos, de forma consecutiva, todos os 167 pacientes que apresentavam sepse grave ou choque séptico no momento da internação na UTI, ou que desenvolveram tais doenças após a admissão, no período de 30 de julho de 2005 a 30 de junho de 2009. O grupo de casos foi definido como o de pacientes sépticos que evoluíram para o óbito e o grupo-controle como pacientes sépticos que receberam alta da UTI. Revista Ciências em Saúde v1, n 1 abr 2011 A população do estudo e os dados para análise foram obtidos através dos Livros de Registro de Admissão dos pacientes na UTI do Hospital Escola. Os dados relativos ao órgão de origem da sepse e presença de diabetes mellitus e hipertensão arterial foram obtidos a partir dos prontuários dos pacientes. Uma vez coletados, os dados foram repassados para uma ficha (anexo 1). Foi avaliada a associação entre as variáveis independentes e a evolução dos pacientes a óbito. A análise foi realizada com auxílio do programa Minitab versão 15. 17 Foi utilizado o teste de Qui-quadrado de Pearson para associação das variáveis categóricas, sendo rejeitada a independência destas, quando p < 0,05. RESULTADOS Nos pacientes que evoluíram a óbito, houve predominância do sexo masculino 53,19% (N=25), mas não houve associação entre a evolução para óbito e o sexo, tanto nos pacientes com sepse grave, quanto nos com choque séptico, o que está de acordo com a literatura consultada. A média de idade foi de 59,3 (±19,82) anos para sepse grave e de 64,2 (±16,40), para choque séptico. Foi possível estabelecer associação entre evolução para óbito e faixa etária apenas dos pacientes com sepse grave (p=0,052), o que difere da literatura. (Quadro 2) O tempo médio de internação dos pacientes com sepse grave foi de 7,5 (±7,11) dias e com choque séptico 9,2 (±10,83), tendo a maioria internação por mais de 72 horas, mas não houve associação entre o tempo de internação e a evolução dos pacientes. (Quadro 3) A amostra foi composta por 167 pacientes, sendo 56,28% (N=94) do sexo masculino, com discreta predominância de pacientes admitidos com choque séptico, 52,10% (N=87). 65,27% (N=107) dos pacientes evoluiu a óbito e 34,73% (N=58) recebeu alta da UTI. A mortalidade foi maior em pacientes com choque séptico 68,96% (N=60), não sendo possível estabelecer associação entre a gravidade da sepse e o risco de morte discordando da literatura consultada.18 (Quadro 1) Revista Ciências em Saúde V1, N 1, abr 2011 A maioria dos pacientes com sepse grave e choque séptico foi oriunda da clínica médica, 37,50% (N=30) e 41,20% (N=35), respectivamente, mas não foi estabelecida associação entre a origem do paciente e sua evolução a óbito. (Quadro 4) O trato respiratório foi o principal foco inicial da infecção, tanto em pacientes com sepse grave, quanto com choque séptico. Mesmo com essa diferença significativa nos focos, este esteve associado à evolução apenas nos pacientes com choque séptico. (Quadro 5). Revista Ciências em Saúde V1, N 1, abr 2011 Em relação à presença de co-morbidades, a maioria dos pacientes portadores era hipertensa, mas não diabética. Não foi estabelecida associação entre a presença de hipertensão arterial e a evolução do paciente com sepse grave; apenas pacientes com choque séptico mostraram esta associação, o que não está de acordo com a literatura. (Quadro 6) DISCUSSÃO grave e choque séptico como um marco que discriminará uma tendência para óbito ou não. Esta observação é mais um dado a reforçar a campanha mundial de sobrevivência na sepse (Survival Sepsis Campaign), na qual as sociedades médicas em todo o mundo apregoam abordagens rápidas, precoces e protocoladas das ações terapêuticas. 22 O estudo também se assemelhou aos dados de outros centros que mostram a maioria de internações nas UTI gerais serem decorrentes de problemas clínicos. 23,25 O foco principal de sepse grave e choque séptico foi o trato respiratório, sendo que no choque séptico houve associação com a mortalidade, o que está de acordo com diversas publicações, como as de Koury e col. 18 Na verdade, cada vez mais o sítio respiratório tem sido implicado na fonte do processo infeccioso, o que é compatível com um número cada vez maior de pacientes sob ventilação mecânica e com internação prolongada nas unidades de terapia intensiva. As co-morbidades estiveram associadas à maior risco de mortalidade, exceto pela hipertensão arterial no choque séptico. Dados semelhantes foram encontrados por Silva e col. 3 Isso é explicado pelo fato de que comorbidades como hipertensão arterial sistêmica e diabetes são reflexos de uma idade avançada e podem causar maior susceptibilidade no indivíduo para desenvolver complicações graves. Parâmetros laboratoriais como o INR e o lactato também foram analisados nesse estudo. Porém, o número de prontuários com tais informações não tinha significância estatística para a inclusão neste trabalho. Acredita-se que isso tenha ocorrido pela ausência da aplicação do protocolo criado pela Campanha No presente estudo houve discreta predominância de pacientes com o diagnóstico de Choque Séptico (52,10%), assim como esta afecção foi a maior causa de mortalidade (68,96%). Este dado condiz com os apresentados por Junior e col. no Estudo Sepse Brasil, no qual a mortalidade por Choque Séptico foi de 65%.19 Este resultado, porém, continua elevado quando comparado com dados mundiais. Em uma revisão da mortalidade no choque séptico, a mortalidade global encontrada foi de 49,7%. 20 Eliézer e col. mostraram recentemente no estudo BASES, dados epidemiológicos semelhantes ao presente estudo, incluindo idade e predominância do sexo masculino. 21 A idade média observada (59,3 anos para Sepse Grave e 64,2 anos para Choque Séptico) e a predominância do sexo masculino é uma constante em todos os estudos. Assim como esperado, o sexo não foi associado com a mortalidade. A idade avançada, ao contrário, esteve relacionada com a mortalidade em pacientes com sepse grave. Acredita-se que isso seja consequência de um perfil de paciente com maior presença de comorbidades, além de apresentar uma diminuição da resposta imune. O mesmo não ocorreu para idosos com choque séptico, o que neste estudo, foi discordante com a literatura. O tempo de internação do paciente na UTI não esteve relacionado com a mortalidade, porém a alta incidência de óbitos em internados com menos de 72 horas (70% dos pacientes com sepse grave e 85,7% dos pacientes com choque séptico) parece confirmar a relevância dos três primeiros dias de evolução da sepse Revista Ciências em Saúde v1, n 1 abr 2011 Sobrevivendo a Sepse, no qual o hospital em estudo só passou a fazer parte no ano de 2006. CONCLUSÃO 12. Sepse grave e choque séptico continuam com elevada incidência e mortalidade. Os resultados dessa pesquisa refletiram o perfil do paciente com sepse grave e choque séptico numa UTI, mostrando ser um problema comum em homens, idosos, que tem como principal foco de origem o trato respiratório, além de frequentemente apresentarem co-morbidades. Os parâmetros associados à maior mortalidade foram a idade do individuo, o órgão de origem da sepse, diabetes mellitus e hipertensão arterial. 13. 14. 15. REFERÊNCIAS 1. Santos MC. Sepse. [Internet]. 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