1-a importancia de ser proa_1_17
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A IMPORTÂNCIA DE SER PROA NO DART 18 APCDC Índice 1- INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4 2- CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO PROA............................................................................... 5 3 - PREPARAÇÃO FORA DE ÁGUA........................................................................................... 6 3.1 - VESTUÁRIO ......................................................................................................................... 6 3.1.1 - Arnês ......................................................................................................................... 6 3.1.2 - Fato ........................................................................................................................... 8 3.1.3 - Colete ........................................................................................................................ 9 3.1.4 - Calçado ................................................................................................................... 11 3.1.4 – Luvas ...................................................................................................................... 12 3.2 – RESPONSABILIDADES DO PROA NO APARELHAR DO BARCO .................................................. 12 3.2.1 – Afinadores de trapézio............................................................................................ 13 3.2.2 – Escota de estai ....................................................................................................... 13 3.2.3 – Afinação dos pontos de estai ................................................................................. 14 3.2.4 - Tensão na testa do estai ......................................................................................... 15 3.2.5 – Adriças, “retranca” e cunningham .......................................................................... 16 4 – “FERRAMENTAS” DO PROA ............................................................................................. 18 4.1 - TRAPÉZIO.......................................................................................................................... 18 4.2 – POSICIONAMENTO PROA-POPA .......................................................................................... 22 4.3 – REFERÊNCIAS VISUAIS ...................................................................................................... 22 4.3.1- O casco deve ir a lamber a água. ............................................................................ 23 4.3.2 – Fita dentro de água ................................................................................................ 23 4.3.3 – Lemes a arrastar..................................................................................................... 24 4.3.4 – Barra de trás a bater dentro de água e listas traseiras .......................................... 24 4.4 – FOOTSTRAPS E CABOS DA POPA ........................................................................................ 24 4.4 – MANOBRAS ...................................................................................................................... 25 4.4.1- Viragem de bordo ..................................................................................................... 25 4.4.2 – Cambar ................................................................................................................... 26 4.4.3- Rondagem da bolina para a popa ou largo .............................................................. 27 4.4.4 – Rondagem da popa para a bolina .......................................................................... 27 4.5 – TENSÃO NA ESCOTA DE ESTAI ............................................................................................ 27 5- COMPORTAMENTO NO BARCO ......................................................................................... 28 5.1 - ANALISAR O ESTADO DO MAR E DO VENTO ........................................................................... 28 5.2 – VENTO FRACO .................................................................................................................. 30 5.2.1 – Bolina...................................................................................................................... 30 5.2.2 – Largo....................................................................................................................... 30 5.2.3 - Popa ........................................................................................................................ 30 5.3- VENTO MÉDIO..................................................................................................................... 31 5.3.1 – Bolina...................................................................................................................... 31 5.3.2 – Largo....................................................................................................................... 31 5.3.3- Popa ......................................................................................................................... 32 5.4 – VENTO FORTE................................................................................................................... 32 5.4.1 – Bolina...................................................................................................................... 32 5.4.2 – Largo....................................................................................................................... 32 5.4.3 - Popa ........................................................................................................................ 33 6- TÁCTICA E LARGADAS........................................................................................................ 33 6.1- ELEMENTOS A RECOLHER EM TERRA.................................................................................... 34 6.1.1- Instruções de regata................................................................................................. 34 6.1.2 – Previsão meteorológica .......................................................................................... 34 6.1 – DELINEAR O PLANO EM CONJUNTO ..................................................................................... 35 6.2 – LARGADAS ....................................................................................................................... 35 6.3 –ANALISAR PERDAS E GANHOS ............................................................................................. 37 6.4 - LAYLINES .......................................................................................................................... 38 6.5 – CONES DE VENTO ............................................................................................................. 39 A importância de ser proa 2 APCDC AGRADECIMENTOS.................................................................................................................. 40 A importância de ser proa 3 1- Introdução Ao longo do meu percurso como velejador, e em praticamente todas as classes em que passei, tive a sorte de ocupar as várias posições. E com essa experiência ganhei imenso, pois acredito em parte na teoria – “ Para seres um bom timoneiro, tens de ser um bom proa e vice versa”. É importante que o proa tenha a sensibilidade para perceber o que o timoneiro e o barco precisam naquele determinado momento e seja ágil nas suas acções, de modo a que a perda seja reduzida ao mínimo. Na Dart, sempre vi o papel do proa ser reduzido por vezes ao de um mero “saco de batatas”. Tal não poderia estar mais errado, pois um bom timoneiro com um mau proa nunca terá a prestação ao seu melhor nível, e vice-versa, especialmente numa classe onde existem bons velejadores, como é o caso da Dart. Nunca podemos esquecer que estamos a falar de uma equipa, e que só o melhor entrosamento entre ambos pode levar a bons resultados. O que está escrito neste artigo é a minha opinião e não deve ser encarado como uma verdade absoluta. Acredito que não existem receitas sagradas como: “com 12 nós devemos ter as pernas encolhidas no trapézio e com 13 esticadas”. Note-se que as referências que são dadas neste artigo não são relativas a uma determinada força de vento, mas sim relativas ao comportamento do barco. Há que lembrar que o que para mim pode ser perfeitamente natural, pode ser desajustado para outros. Fica à escolha do leitor a análise da informação a absorver. O objectivo deste artigo é ajudar os proas de Dart 18 (e talvez de qualquer catamaran…) a tomarem contacto com alguns pormenores que por vezes lhes escapam, e que podem traduzir-se numa melhoria substancial da sua performance. APCDC 2- Características físicas do proa Idealmente, o proa deveria ser alto e magro, de modo a ser relativamente leve nas condições de vento fraco e nas condições de vento forte, ter a possibilidade de colocar o seu centro de gravidade o mais fora do barco possível, aumentando a “alavanca”, e contribuído mais eficazmente para o equilíbrio do barco. No entanto, nem todos os bons proas com quem tive o prazer de contactar têm essas características. Em relação ao peso, este depende muito das qualidades do proa, e do peso do próprio timoneiro. No meu entender, a tripulação para um Dart deve pesar idealmente entre 130 e 150 Kg. Este intervalo de peso faz com que a prestação seja o mais equilibrada possível, pois com 130 Kg estamos no limite para andar com força 4, ou seja, as tripulações mais pesadas ainda conseguem andar “a fundo”, enquanto as de 130 Kg já têm de orçar um pouco na refrega e talvez abrir o carro de escota. Com força 3, os papéis invertem-se, e as tripulações mais leves conseguem ter o proa no trapézio, levantar o casco, e bem mais depressa que as mais pesadas. Ainda assim, não hajam ilusões: Uma tripulação com 130 Kg, que saiba muito bem o que está a fazer com força 3, assim como uma tripulação com 150Kg com força 4 não darão grandes hipóteses aos restantes. Há que ter paciência quando não está o vento mais propício para as nossas características, ter a capacidade de fazermos o esforço para mantermos a paciência, e transcendermo-nos física e mentalmente, para pelo menos conseguirmos ter lugares o mais à frente possível. Visto isto, volto a lembrar que as características físicas não são o mais importante para garantir que somos bons proas!! Em relação à capacidade física do proa, acho que não terá de ser idêntica à dos proas de outras classes. O proa de Dart deve ter aliado a uma boa agilidade, uma boa resistência física, de modo a poder aguentar três regatas em alto nível. Em termos de força física, deverá ter alguma, mas não precisa de ser forte como num 470, por exemplo. Estas são as razões porque algumas senhoras figuram entre os melhores proas da classe Dart. Finalmente, seja qual for a compleição física do proa, este deve ter cuidado com o seu corpo. A vela é um desporto bastante assimétrico (não esforça todos os grupos musculares da mesma forma), o que pode causar, caso se faça com alguma intensidade, alguns desequilíbrios musculares. Assim, recomenda-se que, tanto o timoneiro como o proa frequentem um ginásio com alguma regularidade (duas vezes por semana deverá ser suficiente), de modo a reduzir o cansaço durante os campeonatos e a reduzir o perigo de lesões. O trabalho de ginásio deve estar orientado para a tonificação dos músculos (Body Pump ou Localizada ), alongamento e postura ( Body Balance ou Pilates), e caso haja necessidade, e dependendo dos objectivos da pessoa, para treinar alguma resistência temos o RPM (bicicleta), ou Body Attack (Aeróbica com um ritmo brutal...). Ainda para a prevenção de lesões, é importante que após um dia de vela se promova o alongamento dos músculos, segundo o programa que está disponível na página da Dart em www.dart18.com.pt . A importância de ser proa 5 APCDC 3 - Preparação fora de água 3.1 - Vestuário O proa deve ter sempre ao seu dispor um fato, colete, arnês, luvas e calçado. Este material, acima de tudo, deve ser o menos volumoso e pesado possível, de modo a que o proa não vá “enchouriçado” para dentro de água, comprometendo a sua mobilidade. Deve ser também o mais confortável e funcional possível 3.1.1 - Arnês O arnês é vital para o conforto do proa. À imagem do colete, deve ser o mais leve e maleável possível, assim como pouco volumoso. Em primeiro lugar, quando escolhemos um arnês, devemos ter em atenção se este é de homem, ou de senhora. Em termos geometria na zona do baixo ventre, as diferenças são evidentes e a versão errada pode gerar algum desconforto nessa zona… Existem modelos de arnês dedicados a várias situações: Arnês de pouco vento Arnês de raids Arnês de regata Este apenas se foca na zona inferior. É extremamente confortável para pouco vento, uma vez que não tem parte superior. Este dá-nos uma mobilidade máxima, mas caso o vento suba tornase desconfortável, pois a zona das costas fica completamente desapoiada Estes caracterizam-se por serem mais rijos, e terem uma a zona do gancho do arnês mais larga. Assim oferecem um apoio mais efectivo na zona das costas e cintura, e são ideais para raids, em que temos de fazer bordos mais compridos. Tornam-se desconfortáveis em regatas técnicas, e em alturas em que precisamos de uma mobilidade acrescida. São o mais leve e maleável possível. Convém que seja de fácil afinação e que estas se mantenham ao longo do tempo, uma vez que é mau estar sempre a ter que afinar o arnês. Embora não tenha um apoio tão bom quanto o arnês de raids, compensa largamente com mobilidade. A importância de ser proa 6 APCDC Os últimos modelos de arnês têm incluído uma faca, que deve ser usada, caso o proa necessite, em caso de emergência. Os vários modelos e arneses têm mais afinações, umas mais que outras. Como mais referimos estas duas: marcas de ou menos importantes importantes, Cintura- Na escolha do arnês há que ter em conta a medida na cintura. Recomendamos que seja possível apertar bastante bem na zona da cintura, senão perdemos precisão, e logo, rapidez no momento de enganchar para o trapézio. Todas as afinações do arnês devem ser ajustadas com o máximo de cuidado, de modo a que o conforto seja o máximo. Altura – a afinação do arnês em altura é extremamente importante. A tensão a aplicar nessa afinação tem particular influência no alinhamento tornozelo-ancaombros. Uma tensão exagerada faz com que seja difícil esticar completamente as costas, diminuindo a alavanca disponível e também se torna bastante penoso para a parte superior da coluna e ombros, que ficam sujeitos a tensões elevadas durante largos períodos. Quando a tensão é insuficiente, há tendência para exagerar a curvatura da coluna lombar, diminuindo também a alavanca e impondo stress anormal na coluna lombar. Este equilíbrio é então importante quer do ponto de vista de eficiência mecânica, quer da saúde da coluna do proa. A importância de ser proa 7 APCDC 3.1.2 - Fato A escolha do fato a usar para ir para dentro de água é mais importante do que aquilo que se possa pensar à partida. Podem ser utilizadas várias combinações que apresentamos na tabela: Características Costuma ser feito com tecido impermeável e respirável. Costuma ter borrachas nas extremidades, que estão preparadas para ser cortadas, caso estejam demasiado apertadas e se tornem desconfortáveis. Vantagens É o fato mais confortável nas condições mais severas, especialmen te com um polar completo por baixo. Não precisa da utilização de mais peças de vestuário por fora. Desvantagens -Se não for respirável, torna-se extremamente desconfortável, dado que não deixa a transpiração sair e ficamos molhados por baixo. - Um bom fato seco é relativamente caro. - É difícil de despir, caso se tenham de satisfazer algumas necessidades fisiológicas. Utilizar quando Quando as condições de vento, mar e temperatura estão más. Recomenda-se para 10 a 15% dos locais e datas que a Dart utiliza. Fato Fato construído isotérmico em neoprene. completo e Enquanto top seco / antigamente os corta-vento fatos de neoprene se tornavam bastante desconfortáveis depois de apenas algumas horas de uso, hoje em dia são mais elásticos e macios. Permite uma mobilidade fantástica, e protege bem do frio. Alguns estão equipados com braguilha o que para os homens é extremament e vantajoso. - Ficamos com mau cheiro depois de usar - Não protege do frio como o fato seco - Acabamos por estar sempre molhados, o que se tivermos grandes tempos de espera entre regatas, pode ser extremamente desconfortável. - Caso esteja algum calor é extremamente desconfortável Quando as condições de vento e mar estão médias/fortes e a temperatura é de primavera. A utilização de um top seco ou corta vento melhora a protecção na zona do tronco. Recomenda-se para a maior parte das regatas do calendário da Dart Fato seco A importância de ser proa 8 APCDC “Short” com Em termos de top seco / materiais é ao Corta – vento idêntico anterior, simplesmente tem as mangas e as pernas cortadas a meio. A espessura do tecido também costuma ser inferior Mobilidade ainda melhor. Caso venha algum calor, ou o vento abrande é muito mais fácil de suportar do que os anteriores. -As pernas ficam desprotegidas, o que em campeonatos mais compridos pode causar algumas feridas mais chatas, por causa da cama. Alguns proas têm de usar joelheiras, que normalmente não são muito práticas. Nada aconselhável em condições severas. Com temperaturas de verão e não muito vento. Recomenda-se a utilização de um top seco ou corta vento, caso seja necessário proteger melhor a zona do tronco. Normalmente só consigo usar calções e T-shirt (nunca de pano) à proa em uma ou duas ocasiões durante o ano. Com vento, não é nada aconselhável pois ficamos extremamente desprotegidos contra pancadas, que são relativamente frequentes. Um velejador com frio tem necessariamente piores prestações do que teria se estivesse com uma temperatura adequada. Quando se atinge este estado, os reflexos ficam mais lentos, a concentração diminui, aumenta o perigo de lesões e provoca um desgaste energético desnecessário. Por cima do colete e arnês pode ainda ser vestida uma T-shirt de Lycra ou normal, o que ajuda a que não se tenha tanta tendência para se ficar preso a cabos no barco. Só mais um pormenor: embora por vezes não nos apercebamos, usar roupa que fique ensopada com suor ou água torna-se desconfortável, como uma Tshirt. Seja por baixo do fato seco, ou com mais algum calor em contacto com a água, ela demora bastante tempo a secar e fica rija, fazendo muita diferença. 3.1.3 - Colete O colete que se utiliza na vela ligeira não é nem deverá ser um colete de salvação, mas sim um colete de flutuação. Este deve apenas ajudar a flutuar, no caso de cairmos na água. Assim, deve ser o mais pequeno e leve possível, desde que seja adequado ao nosso peso. Recomendam-se dois tipos de coletes: A importância de ser proa 9 APCDC Fecho Central Enfiar por cima Costumam ser um pouco mais volumosos e mais eficientes na ajuda de flutuação. Não têm tanta tendência para vir para a zona do pescoço quando dentro de água. Têm mais possibilidades de afinação. Tem a possibilidade de ter um Hydro-Pack, onde podemos ter bebida à nossa disposição, mesmo sem sair do trapézio. Estão reduzidos ao mínimo, de modo a providenciar o máximo de mobilidade e conforto. Não são tão bons em termos de apoio lombar, caso se decida utilizar o arnês por cima do colete. A protecção do tronco contra pancadas não é tão eficaz. Desde que sejam leves e pouco volumosos, a escolha deve ser feita à vontade do proa. O colete pode ser vestido por cima ou por baixo do arnês. No caso de o colocarmos por baixo do arnês, reforçamos o apoio oferecido por este, uma vez que vai funcionar como uma espécie de prolongamento deste. No entanto, vai-nos retirar mobilidade, o que dependendo das condições pode ou não ter influência. Outro factor que também pode ter relativa importância na escolha de ter o colete por cima ou por baixo do arnês, é a visibilidade do gancho. Note-se que a importância deste factor é relativa, pois após algum treino, o engate do gancho de trapézio é completamente automático, pois é uma tarefa desempenhada com muita frequência durante um dia de vela. Na minha opinião pessoal, se tivermos um bom arnês, e que esteja bem afinado, é mais vantajosa a utilização do colete por cima do arnês. Cabe a cada proa a análise das condições em que vai velejar, e acima de tudo escolher a combinação em que se sente mais confortável. A importância de ser proa 10 APCDC 3.1.4 - Calçado O calçado é extremamente importante para a mobilidade e confiança do proa. Estar constantemente a escorregar é péssimo para a sua performance e pode ser bastante perigoso. Nunca se devem usar ténis ou qualquer tipo de calçado que não seja especificamente desenhados para o efeito, ou qualquer tipo de calçado escorregadio, e que possa por em causa a função do proa. Assim, o calçado mais utilizado é o que mostramos de seguida: Botas Sapatos Características Costumam ser feitas de um material bastante resistente, e são reforçadas na zona do peito do pé (para pranchar, no caso do timoneiro). Costumam ter um interior de neoprene ou em borracha, sendo normalmente seladas com um fecho. A sola é estriada Têm uma sola rija e em material que em norma tem melhor adesão ao barco do que as botas acima referidas. Vantagens São extremamente confortáveis com vento forte. A sola é bastante rija e aderente o que possibilita a estabilidade da posição do proa, em condições mais difíceis. Muitos acham confortável a utilização de meias em conjunto Desvantagens Com vento fraco e calor são bastante desconfortáveis. Podem causar uma irritação na pele na zona do peito do pé e calcanhar de aquiles, uma vez que tem tendência a roçar com bastante insistência nessas zonas. Têm a sola ainda mais rija, aliado a um acréscimo de velocidade de execução por haver menos constrangimentos à movimentação na zona do tornozelo Caso também se faça o lugar de timoneiro, não são aconselháveis para pranchar Uma das soluções que se poderia aplicar para reduzir o perigo de escorregar, quando no trapézio, seria colocar fita anti-derrapante na zona do trapézio. No entanto, é contra as regras da classe. A importância de ser proa 11 APCDC 3.1.4 – Luvas As luvas desempenham um papel muito importante no conforto do velejador. Tornam-se ainda mais importantes quando o velejador não pratica regularmente, o que faz com que as mãos fiquem mais frágeis no contacto com os cabos. Esse contacto pode traduzir-se em bolhas que podem ser bastante dolorosas, causando grande desconforto, e pele áspera. As luvas são também importantes na protecção do frio. Embora sejam importantes na protecção das nossas mãos também nos retiram sensibilidade, sendo necessário alguma habituação. Ao comprar umas luvas, temos de ter em conta, em primeiro lugar, de com que frequência é que pensamos usá-las. No caso de as utilizarmos com bastante frequência, é importante que se comprem umas luvas reforçadas com materiais exóticos, como o kevlar e o carbono. Em segundo lugar, temos de ter a noção do que ambiente em que vamos andar. Não vamos comprar umas luvas completas de neoprene, para andarmos com temperaturas de cerca de 20º. Em termos de configuração das luvas, costumam existir no mercado os três modelos que mostramos de seguida: Luvas sem dedos Sem polegar indicador e Luvas com dedos Em termos de sensibilidade, as luvas sem dedos são as melhores, pois deixam a ponta dos dedos livres para executar qualquer tipo de operação mais complicada, como desatar um nó. Têm a desvantagem de enrolarem na zona dos metatarsos desprotegendo essa zona. Para resolver esse problema em particular, temos a solução intermédia, que são as luvas sem polegar e sem indicador. As luvas completas e de neoprene não se vêm muito em Portugal, mas não deixam de ter a melhor protecção e a pior sensibilidade. 3.2 – Responsabilidades do proa no aparelhar do barco Sendo o Dart um barco extremamente simples, a lista de verificações antes de ir para a água é relativamente curta, quando comparada com outros barcos. Ainda assim, é importante que o proa tenha uma atenção especial na verificação dos pontos que se seguem. A importância de ser proa 12 APCDC 3.2.1 – Afinadores de trapézio Uma vez que o trapézio é extremamente importante para o desempenho do proa, é importante que tudo o que está relacionado com este esteja a funcionar na perfeição. Acima de tudo, os afinadores de trapézio têm de estar impecáveis nos seguintes aspectos: Cabos a usar – Os melhores cabos a utilizar com os mordedores standart da classe são, na minha opinião, os chamados cabos enrolados. Estes já são relativamente difíceis de encontrar no mercado, face aos cabos muito mais eficientes (em termos mecânicos) de spektra ou dynema. No entanto, são os que funcionam melhor com este tipo de mordedor. Com os mordedores que foram aprovados na assembleia da classe de 2007, a história já é diferente... Se utilizarmos uns clamcleat (que na minha opinião são os melhores e mais seguros que conheço), o cabo deve não ser muito rijo, e os enrolados já não se aplicam. Devem ser relativamente moles, para que se moldem perfeitamente nos dentes do mordedor e não tenham tendência para se desmorder em qualquer altura. Atar o elástico – embora pareça irrelevante, o modo como atamos o elástico ao gancho é na realidade bastante importante: Ao atarmos o elástico do modo que apresentamos na figura, garantimos que o gancho está sempre a apontar para baixo. Isto é extremamente importante, pois assim garantimos que este está sempre na mesma posição que torna a tarefa de enganchar muito mais automática. Se o atarmos sem ser assim, ele vai sempre torcer para um dos lados. 3.2.2 – Escota de estai A escota de estai e todo o sistema de moitões são extremamente importantes na prestação do proa. Especialmente os mordedores devem funcionar de forma impecável. Note-se que os que vêm de origem não são muito bons, e com o uso ficam bastante maus. Estes, segundo as regras da classe, podem ser substituídos por outros, desde que não tenham esferas. Os que apresentamos na figura como exemplo são da Ronstan, e são muito mais fiáveis. A bitola da escota e dimensão dos moitões também foi sujeita a alteração na assembleia de 2007. Esta modificação pode ser bastante vantajosa com pouco vento, permitindo ao estai voar de uma maneira A importância de ser proa 13 APCDC diferente. Mas mais importante do que a sua bitola, esta deve estar em boas condições e correr dentro dos moitões com facilidade. Ainda em relação ao conjunto moitão/mordedor há mais uma afinação: o posicionamento angular do mordedor. Normalmente costumo usar no furo nº 3 a contar do lado do mordedor, mas esta afinação deverá ficar ao critério do proa. Caso alteremos a afinação na direcção do mordedor, o mordedor fica posicionado de modo a que seja mais fácil de soltar a escota, e mais difícil de morder, e vice-versa. Note-se que, com vento forte, muitos timoneiros costumam levar a escota perto de si e afinar regularmente o estai, e o mordedor deve estar afinado a pensar nisso, caso haja esse hábito. Durante o aparelhar da escota, há que ter muito cuidado para garantir que esta não fica torcida. Caso ela fique torcida, o cabo não corre tão bem. Finalmente, o comprimento também é muito importante. A verificação de se o comprimento é o correcto ou não é bastante simples: Deve-se colocar o mosquetão no brandal de proa e a escota deverá ficar com o aspecto da figura. Se a escota for demasiado comprida, terá ainda mais tendência para se enlear com os outros cabos. 3.2.3 – Afinação dos pontos de estai Embora muitas tripulações passem épocas inteiras sem mexer nos pontos de estai, estes são de extrema importância. A afinação resume-se a desapertar os dois parafusos com um utensílio que mostramos na figura, chegar para trás ou para trás e voltar a apertar. A influência destes na valuma de estai é bastante grande, e logo no comportamento do barco. Normalmente, chegamos os pontos de estai para a frente quando temos mareta e vento fraco a médio. Assim ficamos com mais potência no barco, e ultrapassar as ondas é mais fácil, tornando o barco mais rápido com estas condições. A importância de ser proa 14 APCDC Uma maneira de perceber se a valuma de estai está bem fechada é olhando para as fitas de estai e para a sua configuração, especialmente para a de cima. Ao velejarmos correctamente à bolina e com a tensão de escota apropriada, as fitas de cima ficam praticamente estáticas, mesmo com o barco a abanar com mareta. Aí, sabemos que estamos no limite ou já com a valuma demasiado fechada. Nessa altura devemos ir a sotavento e olhar para a configuração da valuma. Se estiver parecido com a fotografia, ou seja, se virmos claramente o lado de sotavento do estai, está demasiado fechada. Volto a lembrar que a tensão na escota deve ser a apropriada. Com vento médio, devemos chegar um pouco mais atrás os pontos de estai de modo a darmos mais algum twist na vela, e a torná-la mais rápida. Só por si, se os pontos de estai estiverem bem afinados, o estai deverá abrir mais um pouco, e nem sempre precisamos de os chegar atrás. Assim, as fitas de cima e de baixo do estai, quando andamos à bolina, devem ter um comportamento idêntico. Com vento forte, a ideia é abrir bem o estai. Falando de novo na configuração das fitas, quando conseguimos caçar o estai todo, as fitas de cima devem ter mais tendência para abanar do que as de baixo, o que evidencia um twist bastante pronunciado da valuma. Uma das grandes vantagens de ter o estai assim, é a de não despejar vento para cima da vela grande. Como o mastro do Dart não tem vaus, e logo, não tem suporte lateral, quando o estai despeja demasiado vento para cima da grande o mastro tem tendência a inverter, momento em que o barco costuma baixar bastante a velocidade, para além de não ser saudável para o mastro. 3.2.4 - Tensão na testa do estai Embora seja, na maior parte das vezes, o timoneiro a afinar, acho que deveria ser da responsabilidade do proa a afinação desta vela. A afinação da testa de estai deve começar logo em terra, do modo que vemos na fotografia. Devemos encostar-nos com força aos dois brandais do pé-de-galo da proa, recriando a tensão da escota da grande no aparelho. De seguida olhamos para a testa do estai e damos a tensão que julgarmos ser a apropriada para as condições de vento e mar que pensamos encontrar. Esta afinação, muitas vezes é rectificada no mar, quando já estamos em contacto com as condições reais. Para o fazermos, devemos ir até à posição que vemos na A importância de ser proa 15 APCDC figura ao lado (o que em certas condições requer um muito bom equilíbrio), e alterar a tensão no cabo. Ao darmos demasiada tensão na testa do estai, o saco chega-se demasiado à frente, fazendo com que haja uma perda significativa de ângulo de bolina. Ainda assim, o estai nunca deve ter tensão a menos, o que faz com que o saco esteja demasiado atrás, fechando, na maior parte das vezes, demasiado a valuma, e fazendo com que as fitas de estai fiquem quase imperceptíveis. A testa de estai tem demasiada tensão quando tem a aparência da foto da esquerda, ficando com uma ruga que vai deste o punho até às fitas de baixo. Ao ter tensão a menos, fica com as rugas na zona dos garrunchos, como na fotografia da direita. 3.2.5 – Adriças, “retranca” e cunningham Estes três items aparecem agrupados no mesmo ponto pois são extremamente importantes para que a mobilidade do proa não seja comprometida. Caso os cabos estejam mal arrumados, a probabilidade de haver um “enleanço” entre cabos é grande. Em relação às adriças, devem ir atadas à parte da frente das cintas, mesmo junto à barra da frente, de uma das duas formas que apresentamos nas fotos seguintes: Pessoalmente, prefiro a do lado direito, uma vez que as adriças vão muito mais compactas. Para o fazer desta forma a sequência é a seguinte: A importância de ser proa 16 APCDC Deve-se passar A por dentro das voltas de B, e dar uma volta de fiel na zona da cinta. Na altura de desatar parece um pouco confuso, mas não é: basta procurar a volta de fiel e inverter o processo. Seja qual for o esquema que escolhamos, é muito importante deixar uma folga mínima para que o mastro possa rodar livremente até aos extremos, sendo que em terra, devemos rodar o mastro à mão para verificação. Em relação ao cunningham, devemos ter a sua ponta atada e, se possível, ter algumas voltas à volta da ferragem do mastro. As voltas não devem ficar muito apertadas, pois, se por alguma razão houver algum toque na ferragem corremos o risco de o cunningham se folgar. A “retranca” (coloco entre aspas pois não passa de um cabo que vai do punho da vela à ferragem do mastro, e que serve para garantir que o mastro roda com a vela), deve ter a tensão ajustada. Como o cabo tem de ter aquelas medidas segundo as regras da classe, dar duas voltas completas e enfiar no mosquetão torna-se complicado, ficando com uma tensão exagerada, provocando uma distorção do terço inferior da vela grande. Assim, faz-se como na figura, em que se dá um nó e puxa-se uma das alças para trás, fazendo com que a “retranca” fique mais solta. Aqui aparece o factor realmente importante para o proa: se esta estiver demasiado folgada vai dificultar bastante as manobras ficando com muita tendência para se prender no arnês e no colete. Vale a pena perder algum tempo para conseguir encontrar um compromisso. A importância de ser proa 17