12 HARAJUKU GIRL: ícone do século XXI?

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12 HARAJUKU GIRL: ícone do século XXI?
MODA
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POP
show
HARAJUKU GIRL: ícone
do século XXI?
12
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DANIELLE BLASKIEVICZ E RODRIGO APOLLONI
Niponidades
DELÍRIO: Em Harajuku, o normal é ser
extravagante – e isso é ultra-fashion!
ALÍCIA AYALA
contemporânea. Normalmente, explica, as roupas são usadas para cosplay, a caracterização em eventos que reúnem
fãs da cultura pop japonesa. No dia-a-dia, porém, Pedrita
combina elementos para criar um look em que saias, camisetas, mochilas, bolsas, faixas e bottons são colocados em
um contexto de criatividade e moda pessoal.
O visual do estudante de Direito Igor Moura, 25, inclui camisetas, bonés,
munhequeiras, chaveiros e outros itens dignos
de um freqüentador de
Yoyogi Kouen (parque de
Harajuku que reúne uma
fauna fashionista-performática). Cosplayer de
carteirinha, ele já saiu de IGOR: olhares de espanto...
Por que será?
casa caracterizado como
Auron, personagem do
game “Final Fantasy X”, e chamou a atenção dos freqüentadores de um grande shopping da cidade. Pudera: Auron
se veste com um sobretudo vermelho grosseiro, coturnos
com polainas de aço, calças em estilo militar e uma gola
que mais parece um retalho de camisa-de-força. Ah, e carrega uma alabarda de quase dois metros de comprimento.
“A maioria das pessoas olha com cara de espanto, mas al-
DANIEL YARA
A estudante de Design de Produto Pedrita Setenareski,
19, é dona de um corte de cabelo assimétrico inspirado na
personagem Ashe, do game “Final Fantasy XII”. Ela mantém um guarda-roupa dedicado à “niponidade” clássica e
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N
em só de sushi, sumô, Godzilla e chá verde é feita
a cultura nipônica. Em todo o mundo, o Japão é
sinônimo de vanguarda na moda e no comportamento. Cortes de cabelo, maquiagem, cores e texturas de
roupas são apenas alguns dos itens nos quais, sem perceber, as pessoas seguem o que vem “do lado de lá” do mundo. Entretanto, para muitos jovens de Curitiba a relação
com o japanese pop way of life é muito mais profunda. Fãs
assumidos dos ícones dessa cultura – que chega através dos
animes, mangás e jogos eletrônicos, e que é compartilhada
por meio de fotologs –, eles incorporam seus signos no vestir, falar e até nos lugares que freqüentam.
O contato de Natália Brückner com a cultura pop japonesa nasceu aos 14 anos (agora ela tem 19), quando aprendeu a desenhar mangá com uma amiga. “Eu me interessei
pela cultura, pelo idioma e pela música. Aliás, sou viciada
em J-rock (rock japonês) e foi a partir daí que eu conheci
a moda.” Entre as bandas preferidas de Natália estão Dir
en Grey, Malice Mizer, The Gazette e Vidoll, cujo visual –
pelo menos para quem pensava que a cultura pop nipônica
acabava nos programas da NHK – está além da dimensão
glam-metal-feminino-kabuki.
Outra influência é o visual de Harajuku, região de
Tóquio que reúne adolescentes, designers, performers e
fashionistas e que é considerada o lugar mais criativo – ou,
pelo menos, o mais colorido – da moda atual (ver matéria
na p. 14). Em Tóquio, porém, os jovens têm dinheiro para
gastar nas caríssimas lojas da Omotesando Street. E em
Curitiba? “Em algumas lojas, é caro. Mas, se você mesmo
desenha e manda fazer, é tranqüilo”, garante.
Em relação ao estilo, Natália se diz “bipolar”. “É engraçado. Eu me enquadro tanto no estilo elegant gothic lolita
aristocrat, baseado no Romantismo, quanto no fruit, que é
o mais colorido de Harajuku.” Entre as roupas preferidas
estão um vestido de veludo alemão, um casaco em estilo
vitoriano e um vestido xadrez “bonequinha”. “Quase todo
meu guarda-roupa é constituído disso, então eu uso sempre. E as pessoas gostam.”
HARAJUKU STYLE: influências que vão de “O
Morro dos Ventos Uivantes” a Godzilla – passando
por Elvis Presley e (acredite) Michael Jackson
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MODA
gumas sabem do que se trata e param para conversar. Às vezes, a gente acaba
até fazendo novas amizades”.
ALÍCIA AYALA
Ichigo
CURITIBA DELUXE
FERNANDA TRINDADE (à esquerda)
em dia de cosplay na Praça do Japão.
A designer gráfico Sabrina Foggiatto, 27, também é apaixonada por personagens de animes e mangás, mas não se arrisca a fazer cosplay. “Para isso
é preciso, pelo menos, ser parecido com o personagem. Senão, pode virar
piada”, observa. O olhar crítico não a impede de incorporar elementos do
universo pop japonês ao vestir do dia-a-dia (nada mais justo: na moda, os
parâmetros são outros). “Uso bolsas, blusinhas, relógios, bottons e chaveiros.
Mas não caio em exageros.”
Sabrina até criou uma loja virtual, a Ichigo-toys, em que vende bonecos,
estatuetas de personagens e acessórios de moda. Ela aproveita as compras em
distribuidoras virtuais no Japão, Estados Unidos e Hong Kong para abastecer
o próprio guarda-roupa.
Fernanda Trindade, 20, é estudante do quarto período de Estilismo e Confecção de Moda do Senai. Ela também importa roupas, sapatos e acessórios do
Japão. No cotidiano, sua principal referência são os calçados – a compra mais
recente foi um par de sapatos brancos de plataforma (investimento: R$ 160).
Complementam o visual jeans e camisetas com estampas de caveiras, oncinha,
coroas, listas e xadrez.
Moda divertida
O estilista Roberto Arad se identifica com os jovens curitibanos que incursionam pelo mundo da moda “cosplay-Harajuku”. Ele observa que a tendência, comum em outros países desde os anos 90, chegou tardiamente ao Brasil.
“Esses meninos e meninas perceberam que a moda é para quem sabe criar
personagens, que é algo divertido. Eles estão atrás do novo, não têm amarras”,
analisa. Segundo Arad, acompanhar esse tipo de movimento sem preconceito
é uma atitude inteligente. “Ainda que às vezes seja perceptível uma certa falta
de referências, vale a pena tentar entender as linguagens que eles usam.”
Serviço: Ichigo-toys – www.ichigo-toys.com.br
Por dentro de Harajuku
NATÁLIA BRÜCKNER: mangá, j-rock
e um guarda-roupa à moda Harajuku
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Saias pregueadas típicas dos uniformes das estudantes japonesas, vestidos
dignos de “O Morro dos Ventos Uivantes”, roupas metalizadas, bandanas, cabelos
coloridos e/ou de corte assimétrico, meiões e estampas inusitadas são marcas da
moda em Harajuku, a região mais badalada de Tóquio. É perfeitamente possível
afirmar que, se a corte de Maria Antonieta ou os personagens de “Blade Runner”
aparecessem por lá, não causariam frisson em relação ao visual.
Para a editora de moda Érika Yamamoto Lee, 33, Harajuku reflete o Japão
contemporâneo. Segundo ela, quando o país se tornou potência econômica, a
cultura pop ocupou o lugar de valores mais tradicionais. “Os pais ficavam doze,
catorze horas trabalhando e os filhos procuraram suprir essa ausência. Como?
Com mangás e animes.”
Na avaliação da consultora americana Faith Popcorn, presidente da empresa
de marketing BrainReserve, a moda de rua e a cultura japonesa terão a mesma
influência que a moda inglesa exerceu nos anos 70. Harajuku, principalmente nos
finais de semana, é um colossal desfile de moda a céu aberto, tendo as ruas como
passarela e os freqüentadores como modelos e personal stylists. Góticos, punks,
neo-hippies e patricinhas desfilando bolsas da Louis Vuitton dividem o mesmo espaço urbano. O vestir, principalmente entre os jovens, transformou-se em um intenso processo de leitura e criação.
Para espanto, admiração e delírio de quem curte moda
e comportamento. (DB)

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