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Helena P. Blavatsky
JÓIAS DO ORIENTE
Edições Nova Acrópole
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ÍNDICE
PRÓLOGO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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José Carlos Fernández
INTRODUÇÃO À OBRA LITERÁRIA DE
HELENA PETROVNA BLAVATSKY . . . . . . . . . . . . . 23
Harry Costin
H.P.B. E O DISCIPULADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Delia Steinberg Guzmán
JÓIAS DO ORIENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
JANEIRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
FEVEREIRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
MARÇO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
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ABRIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
MAIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
JUNHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
JULHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
AGOSTO
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
SETEMBRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
OUTUBRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
NOVEMBRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
DEZEMBRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
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Prólogo
Este livro nasceu em 1889 da vivaz e profundamente
abissal pluma de Helena Petrovna Blavatsky, H.P.B. para os
seus discípulos. É um diário de máximas de sabedoria.
Extraindo os seus ensinamentos dos tesouros vivos das
tradições budistas, védicas, zoroastrianas… e do misticismo
de todas as épocas; imprime, para cada dia do mês e do
ano, uma máxima filosófica. É um livro para os seus discípulos e, na realidade, para todos os apaixonados pela sabedoria e pela alma da vida. Cada sentença, assim são as sentenças dos verdadeiros sábios, é como uma gema, uma jóia
alquímica que se cristalizou à luz de uma sabedoria certa.
Esta máxima filosófica não é uma opinião ou a valorização
de um facto a partir de uma determinada perspectiva, não é
senão uma verdade certa, captada pela intuição – a memória da alma – afirmada pela mente e corroborada – pelo
observador mais atento e sem preconceitos – em milhares
de factos da vida.
Poderíamos falar desta pequena obra como de um diá-
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rio filosófico, onde cada ensinamento – o desse dia – é uma
semente que a meditação fará crescer e converterá numa
árvore moral de milhares de frutos que poderão levar à
descoberta de novas verdades. E é precioso que em plena
actividade incessante – escrevendo, ensinando e polemizando – H.P.B. tenha encontrado o tempo necessário para
escrever esta «agenda filosófica» que se converteu, sem
dúvida, em modelo de incontáveis agendas filosóficas a posteriori, tão na moda no nosso século XXI.
Encontramo-nos perante os últimos e mais poderosos
lampejos do génio de H.P.B., num labor incansável, sedeada no seu «quartel-general» em Londres. Primeiro em
Lansdowne Road, n.º 17 e, a partir de 3 de Julho de 1890, no
19 Avenue Road, na casa que Annie Besant doou à Sociedade Teosófica e que serviria como sede central europeia
da referida sociedade, bem como de residência para H.P.B.
até ao seu óbito no dia 8 de Maio de 1891.
Não podemos deixar de ficar assombrados diante da
magnitude do trabalho de H.P.B. nesses últimos três anos.
Fixemos a atenção em 1889, ano em que escreve esta
obra, Jóias do Oriente:
• Dirige, revendo cada um dos artigos e provas, a revista Lúcifer.
• No mês de Julho aparece publicada A Chave da Teosofia, «uma clara exposição, em forma de perguntas
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e respostas, de ética, ciência e filosofia, estudos para
os quais a Sociedade Teosófica foi fundada.»
• Passa férias em Fontainebleau, França, onde escreve
a maior parte da obra mística A Voz do Silêncio, baseada em trechos que ela tinha aprendido de memória, num mosteiro tibetano, e que pertenciam ao Livro
dos Preceitos de Ouro.
• Em Agosto dá-se a mudança da Sociedade Teosófica
para o 19 Avenue Road.
• Setembro é o mês de publicação de A Voz do Silêncio.
• O ano finaliza com a nomeação do coronel Olcott como representante de H.P.B. na filial da Sociedade na
Ásia.
É interessante destacar a série de artigos que só nesse
mesmo ano escreveu, na revista Lúcifer, da qual era a alma,
directora e severa correctora.
— The year is dead, long live the year!
— «The empty vessel makes the greatest sound»
— Lodges of magic
— A paradoxal world
— If you shoot at a crow, do not kill a cow
— Qabbalah. The philosophical writings of Solomon Ben
Yehudah Ibn Gebirol (or Avicebron)
— Marriage and divorce - Religion, practical and political
aspects of the question
— The Mithra worship
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— On pseudo-theosophy
— The roots of ritualism in church and masonry
— «Those shalt not bear false witness...»
— Theosophical queries
— Japenese buddhism and Christianity
— Thoughts on Karma and reincarnation
— The struggle for existence
— Over cycle and the next
— On society’s «Agapae»
— Buddhism through christian spectacles
— «It’s the cat»
— «Attention, theosophists»
— Force of prejudice
— World - Improvement or world-deliverance
— The eighth wonder (escrita em 1885, publicado em Out. 1851)
— The «nine-days wonder» press
— A puzzle from Adyar
— The light of Egypt
— Our three objects
— «Going to and from in the earth»
— The theosophist’s right to his God
— Philosophers and philosophicales
— The women of Ceylon
— Memory in the Dying
— An open letter
— What shall we do for our fellow-men?
— Theosophical (?) dogmatism and intolerance
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Nos arquivos da Sociedade Teosófica de Adyar encontram-se cartas e memórias que evocam este ano de 1889 e
que serão úteis ao apresentar este enigma vivente que foi
Madame Blavatsky. Sem dúvida, os melhores documentos de
histórias são aqueles escritos por quem viveu a acção in situ.
Carta de Annie Besant, Primavera de 1889, Londres:
«Desde 1886 que crescia lentamente dentro de mim a
certeza de que a minha filosofia não bastava, de que a vida
e a mente eram algo muito maior do que eu tinha sonhado.
A psicologia desenvolvia-se velozmente; experiências hipnóticas começavam a revelar enigmáticas complexidades
acerca da consciência humana. Eu estudava o lado obscuro
da consciência, sonhos, devaneios. Concluiu-se que os fenómenos da clarividência, clariaudiência e leitura do pensamento eram factos comprovados.
Convencida de que existia algum tipo de poder oculto
decidi procurá-lo incessantemente. Certa vez, no início de
1889, encontrava-me só e em silêncio, imersa nos meus
pensamentos, como era hábito após o pôr-do-sol, quando
uma sensação de “quase desespero” me arrebatou, uma insaciável sede de descodificar o enigma da vida e da mente.
Fez-se então ouvir uma voz que me encorajava,que me dizia que a luz estava perto; uma voz, que para mim, viria a
tornar-se o mais sagrado som do Universo. Poucos dias tinham passado quando Stead colocou dois volumosos livros
nas minhas mãos. “Será que pode rever isso? Os meus jo-
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vens todos se envergonharam de o fazer. Mas você é de tal
forma apaixonada por estes temas que certamente conseguirá fazer algo interessante com tudo isso.” Peguei nos livros: eram os dois volumes de A Doutrina Secreta, escritos
por H. P. Blavatsky.
Carreguei os volumes até casa e sentei-me a ler.
Ao virar de cada página, o meu interesse tornava-se cada vez mais absorvente; porém, tudo me parecia familiar; a
forma como a minha mente deduzia todas as conclusões, o
quão natural era, coerente, subtil e ainda assim quão inteligível. Eu estava maravilhada, cega pela luz no seio da qual,
factos aparentemente desconexos surgiam como partes integrantes do grande todo, e as minhas incertezas, indagações, problemas, pareciam desaparecer.
Escrevi o resumo e pedi a Stead que me apresentasse a
escritora e em seguida enviei um bilhete pedindo autorização para telefonar. Recebi a mais cordial das respostas,
agendando o nosso encontro. Numa noite fresca de Primavera, Herbert Burrows e eu – uma vez que as suas aspirações eram semelhantes às minhas no que diz respeito a estas temáticas – caminhámos desde a estação de Notting
Hill, interrogando-nos acerca do que iríamos encontrar, até
à porta da casa 17 de Lansdowne Road. Uma pausa, uma
rápida passagem pelo hall e pela sala de visitas, portas que
se abriram e uma pessoa numa grande poltrona em frente
a uma mesa, uma voz vibrante. “Cara senhora Besant, há
tanto tempo que desejo conhecê-la.” Eu estava de pé, a mi-
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nha mão estendida num firme aperto de mão, olhando pela
primeira vez na vida, directamente, nos olhos de H.P.B.
Apercebi-me de uma súbita palpitação cardíaca – seria reconhecimento? – após a qual,confesso com alguma vergonha, senti uma selvagem revolta , uma furiosa repulsa, comparável à de um animal selvagem quando sente a mão que
o domina. Sentei-me depois de algumas apresentações que
não me permitiram retirar muitas conclusões, e ouvi. Ela
falou de viagens, de vários países, uma dissertação simples
e brilhante,os seus olhos velados, os seus dedos requintados enrolando cigarros incessantemente. Nada de especial
a registar, nem uma palavra acerca de ocultismo, nada de
misterioso, uma mulher do mundo que conversa com os
seus convidados. Quando nos levantámos para ir embora, o
véu levantou-se momentaneamente e dois olhos brilhantes
e perscrutantes cruzaram-se com os meus. “Oh, minha cara senhora Besant, como eu gostava que pudesse juntar-se
a nós!” Senti um desejo incontrolável de me curvar e beijá-la, impulsionada por aquela voz apelativa, aqueles olhos
persuasivos mas, num repentino acesso do meu já antigo e
indomável orgulho, indiciador da minha falta de discernimento, limitei-me a proferir uma banal despedida, e afastei-me após alguns comentários vagos e formais. “Filha”,dir-me-ia ela muito tempo depois, “o teu orgulho é terrível; és tão orgulhosa quanto o próprio Lúcifer!”
Regressei uma vez mais, e coloquei questões acerca da
Sociedade Teosófica, desejosa de fazer parte dela mas lu-
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tando contra a ideia, uma vez que vi de forma clara e distinta – com dolorosa clareza, de facto – o que essa opção iria
significar. Anteriormente, eu tinha sido alvo de preconceito
público devido ao trabalho que desenvolvera como directora da London School. Iria eu mergulhar novamente numa
corrente de conflito e discussão, expor-me ao ridículo – o
que é ainda pior do que ser odiada – e lutar uma vez mais
em nome do já consumido estandarte de uma verdade impopular? Deveria eu virar costas ao materialismo e encarar
a vergonha de confessar publicamente que eu estava errada, corrompida pelo intelecto que me forçara a ignorar a Alma? Qual seria a expressão nos olhos de Charles Bradlaugh quando eu lhe dissesse que me tornara uma teósofa?
A luta interna era incisiva e persistente.
Eis-me novamente a caminho de Lansdowne Road para
falar a respeito da Sociedade Teosófica. H.P. Blavatsky olhou-me de forma penetrante por um momento. “Leu o relatório da Society for Psychical Research sobre mim?” “Não,
até agora não ouvi falar dele.” “Então procure-o, leia-o e se
depois de o ler decidir regressar, muito bem.” E ela não voltou a tocar no assunto, e evitou-o falando novamente das
suas experiências noutras terras.
Pedi emprestada uma cópia do relatório e reli-o muitas
vezes. Observei quão frágeis eram as bases sobre as quais
estavam alicerçados aqueles fundamentos, a arrogância das
conclusões e o carácter acusatório das mesmas – e o pior de
tudo – a fonte de onde provinham as alegadas provas. Tudo
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estava contra os Coulomb, que se auto-proclamavam parceiros das alegadas fraudes. Como podia eu considerar tudo
o que se erguia contra aquela natureza franca e corajosa, da
qual tive um vislumbre? Tudo o que se dizia contra a orgulhosa e ardente sinceridade que saía daqueles olhos claros,
honestos e destemidos semelhantes aos de uma nobre
criança? Seria a autora de A Doutrina Secreta aquela miserável impostora, cúmplice de truques, abominável e repugnante mentirosa, aquela médium que utilizava alçapões e
painéis deslizantes? Ri-me perante todo aquele absurdo e
coloquei de lado o relatório com a certeza de uma natureza
honesta que sabe reconhecer a sua própria identidade quando em contacto com ela, e que se arrepiava perante aquele
mentira ignóbil.
No outro dia, eu já estava no escritório da Theosophical
Publishing Company às 7 da manhã na Duke Street, Adelphi, onde a Condessa Wachtmeister – uma das mais leais
amigas de H.P.B. – estava a trabalhar, para assinar a minha
inscrição como sócia da Sociedade Teosófica.
Ao receber o meu diploma, dirigi-me para Lansdowne
Road e encontrei H.P.B. sozinha. Fui ter com ela, baixei-me
e beijei-a sempre em silêncio. “Então entrou para a Sociedade?” “Sim!” “Leu o relatório?” “Sim.” “E então?” Ajoelhei-me à sua frente, segurei as suas mãos nas minhas e olhei-a directamente nos olhos. “A minha resposta é: aceita-me
como sua pupila e dá-me a honra de proclamá-la minha
mestra perante o mundo?” A sua face austera suavizou-se
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com um inesperado brilho de lágrimas no olhar. Então, com
uma dignidade régia ela colocou a sua mão sobre a minha
cabeça. “Você é uma nobre mulher. Que o Mestre te
abençoe.”»(1)
Carta de Herbert Burrows, Primavera de 1889, Londres:
«Assediados por problemas da vida e da mente que o
nosso materialismo não conseguia resolver, inquirindo-nos
intelectualmente acerca do que significam para nós as inóspitas praias do agnosticismo, Annie Besant e eu ansiávamos
por mais luz. Tínhamos lido The Occult World e em anos
passados ouvido falar – quem não ouviu? – da estranha mulher cuja vida parecia ser uma total contradição das nossas
mais queridas teorias. Mas, tal como a filosofia dos livros,
não era para nós mais do que acertivismo. A vida e a carreira
desta mulher carecia de provas para ser analisada.
Cépticos, críticos, treinados ao longo de vários anos de
controvérsia pública para exigirmos as mais rígidas provas
científicas a respeito de coisas que estavam além da nossa
experiência, a Teosofia era-nos desconhecida e parecia-nos
um território impossível. Ainda assim, fascinava porque prometia muito, e com as conversas e as leituras esse fascínio
cresceu. Com ele, cresceu o desejo de conhecer H.P.B.. Foi
assim que, numa tarde memorável, com uma carta de apre___________________
1. Esta carta foi originalmente publicada em The Occult World of Madame
Blavatsky, por Daniel Caldwell, 1991.
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sentação de W. T. Stead (o então editor da Pall Mall Gazette), que substituía o passaporte, encontrámo-nos cara a
cara, no escritório de Lansdowne Road, com a mulher que
mais tarde aprendemos a conhecer e a amar como a mais
maravilhosa mulher do seu tempo.
Eu não era tolo ao ponto de procurar milagres. Não
esperava ver Madame Blavatsky levitar, nem materializar
chávenas de chá. Queria, mais do que tudo, ouvir falar a
respeito da Teosofia, mas não ouvi grande coisa acerca disso. A senhora forte e majestosa, que jogava “paciências
russas”, conversou sobre tudo um pouco, excepto a respeito do assunto que mais nos interessava. Nenhuma tentativa
de proselitismo, nenhuma tentativa de nos manipular (não
estávamos hipnotizados!). Mas durante o tempo em que
aqueles olhos magníficos emanavam luz e apesar da enfermidade física, dolorosamente visível, havia tal poder nela
que dava a impressão de estarmos a ver não a mulher de
verdade, mas apenas a superfície do carácter de alguém
que sabia muito e que suportara muito ao longo da vida.
Tentei manter uma mente imparcial, aberta, e acredito
que consegui. Estava genuinamente desejoso de aprender,
mas mantive-me crítico e atento à mínima tentativa de engano. Quando mais tarde descobri a extraordinária percepção de H.P.B., não fiquei surpreso ao perceber que ela tinha
captado claramente a minha atitude mental nessa primeira
visita, atitude essa que ela nunca desencorajou. Se ao menos os que comentam, levianamente, que ela hipnotiza as
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pessoas soubessem que ela faz questão absoluta que coloquemos à prova todas as coisas, para nos ligarmos apenas
àquelas que são boas!
Ir uma vez significava voltar, de modo que, depois de algumas visitas, comecei a encontrar a luz. Captei vislumbres
de elevada moral, de um zelo que tocava o auto-sacrifício,
de uma filosofia de vida coerente, de uma clara e definida
ciência do homem e da sua relação com o universo espiritual. Foi isto que chamou a minha atenção – não os fenómenos paranormais, pois eu não vi nenhum. Pela primeira
vez na história da minha mente eu tinha encontrado uma
professora capaz de pegar nas pontas soltas dos meus pensamentos e uni-las de forma satisfatória; e a infalível habilidade, o vasto conhecimento, a adorável paciência desta
professora tornavam-se mais evidentes a cada momento.
Rapidamente aprendi que a apelidada de charlatã e trapaceira era uma alma nobre, que se dedicava diariamente a
um trabalho altruísta, cuja vida era pura e simples como a
de uma criança, que nunca levava em linha de conta a dor
ou o entorpecimento físico se isso fizesse avançar a causa
maior na qual toda a sua energia estava consagrada. Às
vezes transparente como o dia, a encarnação da bondade,
ou silenciosa como um túmulo quando necessário, H.P.B.
estava profundamente atenta ao menor sinal de falta de fé
no trabalho que era a sua vida. Grata, extremamente grata
por cada demonstração de afecto – indiferente a tudo o que
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dizia respeito a si mesma – ela uniu-nos a si, não apenas
como sábia professora, mas também como adorável amiga.
Certa vez, quando eu estava deprimido devido a um
longo sofrimento mental e físico, e a roda da minha vida
deslocava-se de forma tão lenta e pesada que quase parou,
durante esse tempo a sua disponibilidade foi incansável e a
prova que ela me deu, demasiado pessoal para aqui ser
mencionada, só uma pessoa num milhão a pensaria.
Perfeita, não; defeitos, sim; a coisa que ela mais odiava
era o louvor cego da sua personalidade. Se eu dissesse que,
às vezes, ela era impetuosa como um redemoinho, um verdadeiro ciclone ao enfurecer-se, não teria dito tudo. Frequentemente pensei que era perfeitamente possível que alguns desses repentes fossem produzidos com um determinado propósito. Mais tarde, eles desapareceram quase por
completo. Os seus inimigos diziam, por vezes, que ela era
grosseira e rude. Nós, que a conhecíamos, sabíamos que
uma mulher tão pouco convencional como ela, no verdadeiro sentido da palavra, nunca existira antes . A sua absoluta
indiferença a todos os convencionalismos exteriores era
verdadeira, baseada no seu conhecimento espiritual a respeito das verdades do universo. Sentado junto a ela, quando
recebia estranhos – e eles vinham dos quatro cantos do
mundo – frequentemente observei, com o mais prazeiroso
deleite, o seu espanto ao verem uma mulher que dizia
sempre o que pensava. Aparecesse diante dela um príncipe
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e ela provavelmente deixá-lo-ia em estado de choque; se
surgisse um homem pobre, dar-lhe-ia o seu último centavo
e dirigir-lhe-ia as suas mais gentis palavras.»(2)
Outra questão de grande interesse é saber se a atribuição de cada uma das máximas a cada dia do ano é fortuita
ou não. Quer dizer, se H.P. Blavastky escolheu cada aforismo tendo em conta a «vibração», tatva ou energia espiritual
próprio de cada dia; pois segundo a astrologia esotérica, cada um deles tem uma «carga» especial. Recordemos no capítulo de A Doutrina Secreta(3) chamado «São Cipriano de
Antioquia», como este sábio, que finalmente se converteu
ao cristianismo, em meados do século III d.C, numa das
suas Iniciações, aprendeu «a divisão caldeia do éter em 365
partes e como cada um dos daimons que o repartem está
dotado da força material necessária para executar as ordens do Príncipe e guiar ali (no éter) os movimentos». H.P.B.
comenta que se tratam dos 365 dias do ano e que, portanto,
cada um deles tem um «dom» especial, talvez vinculado aos
ensinamentos do «Oriente» por ela escolhidos. O melhor é
que o leitor leia e medite sobre a máxima que corresponde
ao seu dia natal, ou ao de pessoas que conheça, e comprove
se o aforismo do dia se «ajusta» especialmente ou não.
___________________
2. Esta carta foi originalmente publicada em The Occult World of Madame
Blavatsky, por Daniel Caldwell, 1991.
3. Volume V, secção XIX, Editora Pensamento, São Paulo.
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Aquele que escreve estas linhas já o fez e ficou surpreendido. É certo que no universo moral tudo está relacionado
e todo o ensinamento é válido para todo o ser humano, mas
não constatamos, também, como alguns parecem chaves
que abrem portas internas enquanto que de outros percebemos somente a sua beleza e lógica, sem que nos comovam
tanto, sem que nos sintamos tão identificados?
Seja como for, aqui estão 365 jóias da sabedoria do Oriente, que podem converter-se num perfeito código moral. Máximas que resplandecem como jóias, condensadas alquimicamente, da Luz do Sol da Sabedoria; Luz que, segundo Platão, ilumina todas as virtudes da alma e que nos permite caminhar melhor no labirinto da vida.
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INTRODUÇÃO À OBRA LITERÁRIA DE
HELENA PETROVNA BLAVATSKY
O presente capítulo pretende ser uma breve introdução
à obra literária de H.P.B. que, por enquanto, infelizmente,
só se encontra disponível de forma relativamente completa
em idioma inglês. Entre 1933 e 1985 foram publicados, em
inglês, 14 volumes das suas obras completas, ordenados
cronologicamente, os quais não incluem, mas complementam, o que H.P.B. escreveu em forma de livros, como
Ísis sem Véu e A Doutrina Secreta. Infelizmente, estes textos só se encontram noutros idiomas de forma fragmentária, por agora. Devemos este abnegado trabalho de
recompilação de toda o material escrito de H.P.B. ao compilador das suas Obras Completas, Boris de Zirkoff, que
contou com a colaboração das diversas Sociedades Teosóficas e especialmente de um dos seus presidentes, Sr. N.
Sri Ram.
___________________
As obras marcadas com (*) encontram-se contidas nos catorze volumes
das Obras Completas.
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A obra literária de Helena Petrovna Blavatsky foi imensa. Não só compreende os seus livros mais conhecidos, como A Doutrina Secreta, Ísis sem Véu, A Voz do Silêncio, O
Glossário Teosófico, A Chave da Teosofia, ou compilações
de contribuições literárias surgidas em jornais como Pelas
Grutas e Selvas do Indostão; também inclui cerca de mil artigos em russo, inglês, francês e italiano, cujo volume supera o do conteúdo dos seus livros. Devemos igualmente considerar as suas cartas, das quais só se publicaram dois volumes, e as instruções para a Escola Esotérica, das quais
somente fragmentos são do domínio público.
Na nossa opinião, é possível que um futuro volume das
Obras Completas (Collected Writings) inclua material adicional, como cartas inéditas, ou notas para a Escola Esotérica, que não são conhecidas pelo público. A ideia geral é
que os apontamentos para a Escola Esotérica publicados no
tomo XII das Obras Completas, e em similar forma em A
Doutrina Secreta, edição de Adyar (Tomo V) por A. Besant, são
todos os que H.P.B. deixou. O material incluído no tomo XII
das Obras Completas (págs. 513-713) inclui cinco notas e uma
série de ensinamentos baseados em respostas a perguntas
de H.P.B. que devemos ao Dr. Roso de Luna, tomada de
uma carta de H.P.B. a Sinnett de 1889 (pág. 345) e que indicaria um volume maior de escritos para a Escola Esotérica:
«Perguntais a mim quais são as minhas novas ocupações? Nenhuma, excepto escrever todos os meses cinquen-
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ta ou mais páginas sobre as minhas Instruções Esotéricas,
que não podem se imprimir. Cinco ou seis mártires voluntários e desgraçados entre os meus generosos esoteristas
fazem trezentas cópias para mandá-las aos membros ausentes da minha Secção Esotérica: mas eu tenho, porém,
de revê-las e corrigi-las! Logo as nossas reuniões das quintas-feiras, com as perguntas científicas dos savants, tais
como Bennet ou Kigsland que escrevem sobre electricidade, com taquígrafos em todos os cantos e a segurança de
que a menor palavra minha aparecerá no nosso novo jornal
Transactions of the Blavatsky Lodge, e que será lida e
comentada, não só pelos meus teosofistas, mas por centenas de pessoas predispostas contra mim.»
Numa série de notas preliminares à instrução Número
III, H.P.B. menciona ter recebido instruções de não continuar os ensinamentos esotéricos (O.C. Tomo XII, págs. 581-600),
as quais foram, ainda assim, resumidas na instrução Número V. Porém, exista ou não material adicional da Escola
Esotérica, o leitor conta com um material precioso que abarca um terreno intelectual enorme.
Infelizmente, não são muitos os que tenham estudado
seriamente a obra de H.P.B. por completo, incluindo muitos
malogrados copistas, que cairam abertamente no sectarismo religioso ou no mais baixo medianismo e fantasia, esquecendo o fio fundamental da obra de H.P.B.: o ecletismo
e um espírito fundamentalmente filosófico.
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Esperamos que o presente trabalho contribua para a
orientação do leitor das obras de H.P.B., que não deve sentir-se desencorajado ao enfrentar o monumental conhecimento esotérico expressado em Ísis sem Véu e A Doutrina
Secreta. Existem centenas de artigos, narrações de viagens
e contos ocultistas produzidos pela pluma de H.P.B., através dos quais o leitor pode penetrar no mais maravilhoso
mundo do Mistério que H.P.B. tanto amava.
Relação das obras de Blavatsky
A obra literária de H.P.B. foi composta (exceptuando alguns artigos anteriores) entre 1875 e 1891, principalmente
em língua inglesa, idioma que H.P.B. só dominava de uma
maneira rudimentar na sua chegada a Nova Iorque a 7 de
Julho de 1874. Isto só por si é um enigma e um prodígio que
excede a imaginação. Neste período H.P.B., com muito pouca ajuda (cabe aqui citar a Olcott, a quem devemos o trabalho editorial de Ísis sem Véu), escreveu as seguintes obras:
— Ísis sem Véu (Nova Iorque, 1877).
— A Doutrina Secreta (Londres e Nova Iorque, 1888).
— A Chave da Teosofia (Londres, 1889).
— A Voz do Silêncio (Londres e Nova Iorque, 1889).
— Jóias do Oriente (Londres, 1890).(*)
—Transcrições da Loja Blavatsky (Londres e Nova
(*)
1890 e 1891).
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Iorque,
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— O Glossário Teosófico, obra póstuma (Londres e Nova
Iorque, 1892).
— Contos de Pesadelo (Londres e Nova Iorque, 1892).(*)
— Pelas Grutas e Selvas do Indostão. (Londres, Nova Iorque
e Madrás, 1892). Reeditado como tomo adicional às
Obras Completas.
Finalmente temos os catorze volumes das Obras Completas de H.P.B. que contêm textos adicionais, dos quais só
o primeiro volume corresponde ao período comprendido
entre 1874 e 1878, anterior a Ísis sem Véu. Estes catorze volumes foram publicados em Londres (Inglaterra), Madrás
(Índia) e Wheaton (Illinois, EUA) entre 1933 e 1985 e contêm
artigos, contos, anotações várias, respostas a cartas (contidas em O Teósofo e Lúcifer, dos quais H.P.B. foi editora), e
inclusivamente material apresentado em livros a partir de
1874. Por exemplo, o volume XII inclui o pequeno livro de
aforismos compilados por H.P.B. para cada dia do ano publicado sob o título «Jóias do Oriente» em 1890. Também
foram incluídos, cronologicamente, os Contos de Pesadelo
(publicados em espanhol sob o título de Narrações Ocultistas), e outros textos anteriormente apresentados em forma de livros ou compilações (por exemplo Cinco Anos de
Teosofia). Os catorze volumes também incluem o material
de A Doutrina Secreta que não apareceu na edição original
de dois tomos. Este material, que aparece no tomo XIV das
Obras Completas corresponde ao tomo V de A Doutrina
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Secreta, edição de Adyar, e tomos V e VI da edição espanhola publicada pela editora Kier em Buenos Aires.
Os primeiros escritos de H.P. Blavatsky
Não existe prova concludente de que H.P.B. tenha publicado artigos antes de Outubro de 1874. No entanto, é altamente provável. Por exemplo, numa entrevista a H.P.B. publicada no jornal Daily Graphic de Nova Iorque em 13 de Novembro de 1874, H.P.B. referiu-se ao facto de ter escrito anteriormente para a Revue de Deux Mondes de Paris e de ter
sido uma correspondente do Independence Belge e de outras
publicações francesas. Também existem referências orais a
outras publicações nos EUA, traduções para o russo, etc.
Entre 1874 e 1878, durante a sua estadia nos Estados
Unidos, H.P.B. escreveu uma série de artigos polémicos
nos jornais espiritistas mais conhecidos: Banner of Light
(Boston, Massachussets), Spiritual Scientist (Boston, Massachussets),
Religio-Philosophical Journal (Chicago, Illinois), The Spiritualist (Londres) e a Revue Spirite (Paris). Também escreveu uma
série de contos ocultistas para alguns dos jornais americanos mais importantes como The World, The Sun e The Daily
Graphic, todos de Nova Iorque.
O primeiro artigo de H.P.B. sobre os habitantes do mais
além intitulou-se «Maravilhosas manifestações de Espíri-
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tos» (O.C. Vol. I pág. 30) e foi publicado a 30 de de Outubro de
1874 no Daily Graphic de Nova Iorque. O artigo é uma resposta a um artigo anterior do Dr. G. M. Beard que tratava de desmentir os fenómenos espiritistas que estavam a suceder na
quinta dos Eddy em Vermont, EUA. Na sua resposta, H.P.B.
escrevia no seu estilo inimitável:
«Durante as últimas semanas, o Dr. G. M. Beard assumiu o papel de “leão que ruge” procurando um medium para
“devorar”. Ao que parece, hoje este culto cavalheiro tem
mais fome do que nunca. Logo, o fracasso que experimentou com o “leitor de pensamento” de New Haven não é de
surpreender.
Não conheço o Dr. Beard pessoalmente, nem me interessa saber até que ponto merece ter os louros da sua profissão de doutor em Medicina. O que sim sei, é que jamais poderá aspirar a igualar, e muito menos ultrapassar, homens
sábios como Crookes, Wallace, ou inclusivamente Flammarion, o astrónomo francês, qualquer um dos quais se dedicou, durante anos, à investigação do espiritismo. Todos eles
chegaram à conclusão de que, mesmo supondo que o bem
conhecido fenómeno de materialização dos espíritos não
provasse a identidade das pessoas que dizem representar,
não se tratava, de qualquer modo, da acção de mãos
humanas, e muito menos uma fraude».
Recordemos que H.P.B. havia chegado aos Estados Unidos em Julho de 1873 e que o seu conhecimento do inglês
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era, no melhor dos casos, rudimentar. Durante a sua infância havia aprendido noções de inglês com uma instrutora de
Yorkshire, Inglaterra. No entanto, como ela própria nos relata, jamais voltou a falar e menos ainda escrever a dita língua entre os 14 e os 40 anos de idade. Na mesma nota autobiográfica (compilada por Mary K. Neff) recorda também
uma instância em que lhe havia sido extremamente difícil
entender um livro escrito em inglês durante uma estadia em
Veneza em 1867. Porém, logo depois, teria que começar a
escrever a sua grande obra em inglês, com a qual ganharia
uma bem merecida reputação de insuperáveis conhecimentos ocultistas: Ísis sem Véu.
Ísis sem Véu
Ísis sem Véu foi escrita entre 1875 e 1877, abarcando
menos de dois anos de trabalho contínuo nesta magna obra
que, talvez pela primeira vez desde a desaparição dos platónicos e neoplatónicos, representa um esforço coerente de
sintetizar fragmentos de sabedoria esotérica de todas as idades e culturas do mundo. No prefácio à obra, H.P.B. explica
que o «seu objectivo é ajudar o estudante a descobrir os princípios vitais que subjazem nos antigos sistemas filosóficos».
Ísis sem Véu teve um enorme êxito, esgotando-se na
primeira edição de mil exemplares em dois dias. Em reconhecimento dos enormes conhecimentos desenvolvidos nas
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suas obras, H.P.B. recebeu o mais alto grau maçónico, o de
«Princesa coroada» (Rito de Adopção sob os Ritos de Memphis e Mizraim). Aclaramos que H.P.B. jamais pertenceu à
Maçonaria regular e, portanto, nas suas próprias palavras:
«Não nos encontramos sob nenhuma promessa, obrigação
ou juramento, e portanto não violamos nenhuma confiança», referindo-se à sua crítica da Maçonaria ocidental em
Ísis sem Véu.
O leitor atento notará que Ísis sem Véu começa com uma
exposição dos princípios fundamentais da tradição pitagórico-platónica e outras fontes gregas de sabedoria tradicional, ou seja, das raízes do Esoterismo no Ocidente. Nas suas
referências a Platão, H.P.B. analisa entre outros o «Mito da
Caverna» (A República) e refere-se à filosofia platónica como
«o mais perfeito compêndio dos abstrusos sistemas da antiga Índia, e o único que pode oferecer-nos terreno neutral...
Platão foi, na mais plena acepção da palavra, o intérprete do
mundo, o maior filósofo da era pré-cristã...».
Em Ísis sem Véu H.P.B. demonstrará o mesmo espírito
filosófico que caracterizará todo o seu labor. É uma obra de
síntese que se esforça em demonstrar a identidade das
ideias essenciais de todo o grande sistema filosófico. Segundo H.P.B.: «Há uma regra de interpretação que deve guiar-nos no exame de qualquer opinião filosófica. A inteligência
humana, sob a necessária acção das suas próprias leis, está
impelida em manter as mesmas ideias fundamentais, e o coração do homem a alimentar os mesmos sentimentos em to-
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da a época». Em Ísis sem Véu e suas obras posteriores, especialmente A Doutrina Secreta, H.P.B. esforçar-se-á por
provar esta afirmação.
Um facto lamentável em relação à publicação de Ísis
sem Véu foi que o material que viu a luz na primeira edição
de dois tomos corresponde aproximadamente à metade ou
a um terço do que H.P.B. havia reunido para a obra. O resto
foi destruído, facto que ela lamentaria quando chegou a hora de escrever A Doutrina Secreta.
A Doutrina Secreta
A Doutrina Secreta foi indubitavelmente a obra literária
mais importante de H.P.B. Inicialmente havia sido concebida como uma revisão do material contido em Ísis sem Véu.
No entanto, o produto final, para nossa sorte, contém poucas repetições e muitíssimo material original que, segundo
H.P.B., não seria compreendido ou discutido inteligentemente até ao «próximo século» (nosso século XX).
Olcott relata que em 1879 havia começado a ajudar
H.P.B. a escrever «o seu novo livro teosófico». No dia 24 de
Maio de 1879 havia esboçado um índice e em 4 de Julho havia terminado de escrever o prefácio. Esta havia sido a semente da qual germinaria anos mais tarde A Doutrina Secreta, cujo título Olcott havia sugerido durante um esboço
inicial.
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O primeiro aviso da publicação da obra e solicitude de
subscrições apareceu em O Teósofo de Fevereiro de 1884.
Porém, a publicação não seria possível até finais de 1888. O
primeiro volume saiu da gráfica em Londres no dia 20 de
Outubro de 1880 e o segundo em finais de Dezembro do
mesmo ano ou Janeiro de 1881.
O plano original da obra, segundo o que H.P.B. havia
concebido, comprendia quatro volumes. A primeira edição
foi publicada em dois volumes dos quais faltava muito material que H.P.B. havia preparado. O material que faltava
compreendia fundamentalmente um «longo prefácio» (não
o prefácio que conhecemos) relativo à história dos grandes
Adeptos e do Esoterismo através do tempo. Este é provavelmente o material publicado no tomo V da edição de Adyar e
tomos V e VI das edições em espanhol, excluindo as notas para a Escola Esotérica (publicadas como Alguns Apontamentos sobre o Significado da Filosofia Oculta na Vida no tomo VI
da edição em espanhol). A respeito do conteúdo do tomo IV
original, existem várias referências que nos fazem crer que
versaria sobre Magia e Ocultismo prático. Parece-nos altamente provável que parte deste material tenha sido incluido
posteriormente nas instruções para a Escola Esotérica.
Tal com chegou até nós, o material de A Doutrina Secreta, no qual se citam 1.200 autores e obras, incluidos alguns como O Livro Caldeu dos Números, que não foi possível encontrar, foi ordenado do seguinte modo (incluindo o
material publicado postumamente):
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— Estâncias de Dzyan sobre Cosmogénese e comentários.
— Estâncias de Dzyan sobre Antropogénese e comentários.
— Simbologia arcaica.
— Capítulos sobre Ciência.
— História dos grandes Adeptos e do Esoterismo.
— Algumas instruções para a Escola Esotérica.
As estâncias e comentários obedecem à tradicional forma de exposição oriental conhecida como sutri, sutra e
smrti, ou seja, a apresentação dos textos sagrados (sutra) e
comentários qualificados aos mesmos (smrti). No que diz
respeito aos capítulos relacionados ao Simbolismo, H.P.B.
esclarece que, sem comprender Simbologia arcaica, é impossível desvendar e compreender as antigas concepções
acerca da origem do Universo (Cosmogénese) e do Homem
(Antropogénese).
Em relação ao modo recomendado por H.P.B. para estudar o material contido em A Doutrina Secreta, devemos as
seguintes anotações, atribuidas a conversações com H.P.B.,
a Robert Bowen, membro da Loja Blavatsky de Londres:
«Alguém que imagine que obterá uma imagem satisfatória da constituição do Universo de A Doutrina Secreta, só
ficará confuso com o seu estudo. Não pretende dar tal veredicto da existência, mas sim conduzir até à VERDADE...
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Deve encarar-se o estudo de A Doutrina Secreta como
um meio de exercitar aquele aspecto da mente jamais tocado por outros estudos».
H.P.B. recomendava, para além disso, a reflexão acerca das seguintes ideias:
• A unidade fundamental de toda a existência. Trata-se
do ensino de que a existência é uma coisa, não simplesmente muitas coisas ligadas. Fundamentalmente
só existe um Ser. Este Ser tem dois aspectos, positivo
e negativo. O aspecto positivo é Espírito ou Consciência.
O negativo é substância.
• A segunda ideia vital é a de que não existe a matéria
morta. Todo o átomo está vivo. Não pode ser de outro
modo posto que cada átomo é em si mesmo o Ser
Absoluto.
• A terceira ideia fundamental é que o Homem é o Microcosmos. E se é tal, todas as Hierarquias dos Céus existem dentro de si. Mas, na verdade, não existe um Macrocosmos nem um microcosmos mas uma só Existência. O grande e o pequeno são tais somente vistos
por uma consciência limitada.
• A quarta e última ideia fundamental é a expressa no
grande axioma hermético que sintetiza as demais.
«Como é no Interior, é no Exterior; como é o Grande é o
Pequeno; como é Acima é Abaixo: só existe uma Vida e uma
Lei; e aquele que actua é Uno. Nada é Interior, nada Exterior;
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nada é Grande nem Pequeno; nada é Alto nem Baixo na divina Economia».
A Chave da Teosofia
A Chave da Teosofia foi publicada em 1889. Trata-se de
uma obra fundamentalmente pedagógica dedicada por
H.P.B. «a todos os seus discípulos, que possam aprender e
por sua vez ensinar». A obra está estruturada em forma de
perguntas e respostas, mais um glossário de termos esotéricos e filosóficos. Segundo H.P.B.:
«Não se trata de um livro de texto de Teosofia completo
ou exaustivo, mas só de uma chave que permita abrir a porta que conduz a um estudo mais profundo. A obra traça as
grandes linhas da Sabedoria-Religião, e explica os seus princípios fundamentais, enfrentando ao mesmo tempo as várias
objecções do investigador ocidental comum, e tratando de
apresentar conceitos pouco familiares numa forma e linguagem o mais simples possível. Seria demais esperar que tenha êxito em mostrar de maneira inteligível a Teosofia sem
muito esforço intelectual por parte do leitor. No entanto, esperamos que a obscuridade que permaneça seja devido ao
pensamento e não à linguagem, à profundidade das ideias e
não à confusão. Ao intelectualmente preguiçoso ou confundido, a Teosofia tem que parecer um enigma; pois nos mundos
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mentais e espirituais, cada homem deve progredir pelos
seus próprios méritos».
A obra representa um esforço importante por parte de
H.P.B. de tornar os princípios básicos da Filosofia esotérica
em termos acessíveis ao leitor médio, que teria dificuldade
ao confrontar-se com os difíceis delineamentos e exposições de Ísis sem Véu e A Doutrina Secreta. A sua utilidade
adicional é a de resumir num livro traduzido em muitos idiomas respostas a cartas e perguntas planeadas ao longo dos
anos através das revistas O Teósofo e Lúcifer. No entanto,
não se trata de uma simples compilação do que apareceu
nas referidas publicações, material este que pode ser consultado nas Obras Completas.
A Voz do Silêncio
A tradução de A Voz do Silêncio, que, como H.P.B. nos
relata no prefácio, ela havia memorizado durante o seu
treino ocultista no Tibete, está relacionada com a abertura
da Escola Esotérica. Isto fica manifestado na dedicatória da
obra: «Dedicada aos poucos». Quer dizer, aos verdadeiros
aspirantes à Sabedoria.
Esta obra importantíssima, que contém, segundo H.P.B.,
inspiração tanto pré-budista como budista (Budismo Esotérico), explica o «espírito» da verdadeira Tradição esotérica.
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Nela despreza-se a aquisição de poderes psíquicos e exalta-se a «Sabedoria ou Doutrina do Coração», conhecida exotericamente como a «doutrina de compaixão» de Buda.
As Transacções da Loja Blavatsky
Contrariamente às instruções para a Escola Esotérica, o
material contido em As Transacções da Loja Blavatsky jamais foi considerado de uso restringido. O livro está baseado em notas tomadas taquigraficamente por assistentes às
reuniões da Loja Blavatsky, nas quintas-feiras em Londres
(1889-1891), nas quais se discutiam as estâncias de Dzyan, nas
quais se baseia A Doutrina Secreta, e em que H.P.B. respondia a diversas perguntas. Por se tratar do período final da vida de H.P.B., só contém respostas a perguntas sobre as
quatro primeiras estâncias de Dzyan correspondentes a
Cosmogénese.
O Glossário Teosófico
O Glossário Teosófico foi a obra póstuma de H.P.B. Na introdução à primeira edição de 1892 o editor lamenta que ela
só tenha visto em vida as primeiras 32 folhas das provas de
impressão, pois tinha intenção de estender consideravelmente o volume da obra, tal como nós conhecemos. A maior
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parte dos escritos pertence em punho e letra a H.P.B., exceptuando certos conceitos das doutrinas cabalísticas, rosacruzes e herméticas, que ela delegou a W. W. Wescott, um
erudito cabalista e rosa-cruz.
Pelas Grutas e Selvas do Indostão
Esta obra, publicada como tomo adicional aos XIV volumes das Obras Completas, corresponde a contribuições literárias de H.P.B. publicadas em jornais russos. Ela havia
começado a escrever regularmente para jornais russos em
1877, desde Nova Iorque. Encontraram-se 17 artigos deste
período.
Pelas Grutas e Selvas do Indostão começou a ser publicado em Novembro de 1879 em forma de cartas de viagem.
A primeira série, publicada originalmente na Crónica de
Moscovo, foi interrompida em Janeiro de 1882. Em Novembro de 1885, o Mensageiro Russo, que havia reimpresso a
série original entre Janeiro e Julho de 1883, reassumiu a
publicação de uma segunda série, que chegou a compreender 7 capítulos, terminando no final de um parágrafo com a
promessa de continuar, e assinado com o pseudónimo de
H.P.B. Raddha-Bai.
A obra não é simplesmente uma descrição literal das
aventuras de viagem de H.P.B. Não sabemos até que ponto
História, Literatura e Esoterismo se misturam. Na edição es-
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panhola, o Dr. Roso de Luna tratou de elucidar estas perguntas nos seus copiosos comentários a cada capítulo. No entanto, grande parte do mistério permanece...
Devemos um detalhe biográfico notável (compilado nos
escritos de H.P.B. em russo) à sua irmã Vera de Zhelihovsky,
que nos conta que durante a guerra entre a Turquia e a Rússia ela deu instruções para doar todos os seus honorários à
Cruz Vermelha e às famílias dos soldados feridos.
O Teósofo e Lúcifer
Pouco depois da sua chegada à Índia a 16 de Fevereiro de
1879, em colaboração com Olcott, Blavatsky começou a planificar a publicação de uma Revista exclusivamente dedicada
a temas ocultistas: O Teósofo. Esta viu a luz a 1 de Outubro
do mesmo ano e até finais do mês já contava com 381 subscrições. Nela H.P.B. verteu muitos esforços e conhecimentos
através de artigos, notas editoriais, respostas a cartas, etc.
Infelizmente nem tudo o que ela escreveu tem a sua assinatura ou um de um dos seus pseudónimos, facto que dificultou o trabalho do editor das sua Obras Completas. Ao longo
da sua trajectória literária, H.P.B. havia utilizado diversos
pseudónimos como Hadji Mora, Raddha-Bai, Sanjna e «Adversário». O seu inimitável estilo teve que servir muitas vezes
de guia para o reconhecimento de artigos e comentários não
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assinados, especialmente aqueles que aparecem em O Teósofo e Lúcifer.
Em Março de 1885 H.P.B. abandonaria a Índia para não
regressar mais. Durante os seus últimos seis anos de vida,
seguramente os mais difíceis, daria luz às suas mais maravilhosas flores: A Doutrina Secreta, A Voz do Silêncio e a Escola Esotérica. A este período corresponde também a fundação de uma nova revista sob o nome de Lúcifer. O primeiro
número de Lúcifer apareceu em Londres a 15 de Setembro
de 1887. A página titular levava a seguinte inscrição: «Uma
revista teosófica, dedicada a “trazer à luz as coisas ocultas
da obscuridade”». Em Lúcifer, H.P.B. continuou a expressar
a sua inesgotável creatividade e conhecimento que
incluíram importantes trabalhos como «O carácter esotérico dos evangelhos», que surgiu em Lúcifer naquela época.
Conclusão: um Enigma chamado H.P.B.
Não conseguimos saber plenamente quem foi o ser que
o mundo conheceu como H.P.B... mas não é necessário
comprender a essência da luz para seguir um sinal luminoso. A obra de H.P.B. foi plena desses sinais luminosos
que permitem descobrir um património espiritual comum
para toda a Humanidade. Esperamos que o leitor tenha a
coragem de enfrentar estes ensinamentos com os seus
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próprios meios e através dos seus próprios esforços. A recompensa talvez seja aquela Liberdade da qual tanto falamos e tão pouco vivemos.
Harry Costin
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H.P.B. e o discipulado
Ao fim de cem anos da sua desaparição física, H.P.B. parece-nos ainda mais atractiva e misteriosa do naqueles momentos em que, ao alcance dos humanos, seja para elogiá-la
ou criticá-la, também escapava ao comum denomindador da
gente. Ela encarnou e continuará a encarnar uma personagem complexa, de riquíssimas matizes, enigmática e simples
ao mesmo tempo. Torna-se muito difícil separar aspectos
isolados da sua vida sem referirmos o conjunto, que é o que
outorga valor a cada elemento integrante. Uma existência
plena de aventuras físicas e metafísicas, uns textos que pelo
seu conteúdo em Sabedoria escorrem pelas duras arestas da
mente somente racional, tudo se une ao tentarmos analisar
o factor discipulado em relação a H.P.B.
Numa primeira aproximação, o que é o discipulado?
Uma forma de vida, em que um homem ou uma mulher ficam sob a orientação directa de um Mestre, impulsionados
por uma ânsia de perfeição moral e espiritual e dispostos a
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vencer todas as provas necessárias por amor à Sabedoria
que o seu Mestre encarna.
Esta questão, inclui pois, vários factores inseparáveis:
O facto da existência dos Mestres de Sabedoria (sem os
quais não haveria discípulos) e que, neste caso particular,
H.P.B. deu a conhecer no Ocidente, às vezes de maneira específica e concreta, e outras vezes referindo-se à presença
constante desses Seres que animavam o seu labor e o de
todos os homens de consciência desperta.
Apesar das críticas que reuniu a seu respeito, e ainda
que até ao final da sua vida H.P.B. tenha sido tratada como
impostora, entre outras coisas, por mencionar uns Mestres
que só viviam na sua fantasia, este é um facto fundamental
que motivou, motiva e motivará uma boa parte do impulso
espiritual e evolutivo que anima a humanidade.
O facto da existência de discípulos (sem os quais não haveria Mestres), em que se inclui a própria H.P.B., e todos os
que autenticamente decidem aceder a estes graus de aperfeiçoamento progressivo.
A relação entre Mestres e discípulos, é muitas vezes tingida de romântica ingenuidade e escasso conhecimento. Relação que pode ser mais ou menos directa e concreta, mais
ou menos conhecida e publicitada, mais ou menos frequente
segundo as circunstâncias históricas e humanas. Relação
muito difícil de definir pois baseia-se em princípios de amor,
compreensão, compromisso e entrega que ultrapassam o
sentido vulgar desses termos. Traduz-se em Devoção, Inves-
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tigação e Serviço por parte do discípulo; Provas, Orientação,
Exigências e Energia por parte do Mestre.
Tendo em conta estes três factores que acabamos de
considerar, propomo-nos a dividir este trabalho nas seguintes partes:
1 - H.P.B. como Discípula
Posto que o foi de coração durante toda a sua vida, não
podemos fazer mais do que apoiar-nos em alguns pontos
biográficos que nos ajudem a introduzir a sua constante relação com os Mestres, a sua fidelidade e obediência, e a dedicação à obra por Eles recomendada.
2 - H.P.B. como Mestra
Aqui focaremos um determinado período da sua vida;
incluiremos alguns aspectos do seu carácter pessoal, a sua
capacidade para se rodear de gente; os seus discípulos, as
suas obras, e o particular estilo do seu ensino.
H.P.B. como Discípula
Se bem que não exactamente dentro do contexto discipular, encontraremos sim referências às características
extraordinárias que distinguiram H.P.B. desde a sua mais
tenra idade. É possível que estas características tenham sido a evidência inicial ou o ponto de partida da sua relação
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com os Mestres, ou melhor dito, com o Seu Mestre e muitos
outros «Irmãos» - como ela costumava chamá-los - no Caminho espiritual.
Desde muito pequena assombrou os seus familiares e
conhecidos com dotes insólitos para desencadear todo o
tipo de fenómenos ao seu redor, para recordar o que ninguém recordava e ver ou entender o que ninguém via ou entendia. Devemos interpretar esta inata predisposição como
um contacto inconsciente com os Mestres e com outros
planos de manifestação, ou mais como uma habilidade prematura favorecida por outras muitas encarnações dedicadas ao desenvolvimento do potencial humano interior?
A. P. Sinnett assume a hipótese de que já na sua primeira infância, H.P.B. (a Srta. Hahn como ele a chama) estava protegida por uma certa intervenção inexplicável, capaz de actuar no plano físico quando as circunstâncias o requeriam. E, efectivamente, foram muitas as ocasiões no decurso da sua vida em que poderia ter sofrido perigosos acidentes ou ter morrido não fosse por essas intervenções «milagrosas». No mesmo sentido escreve a condessa Wachtmeister: «Durante a sua infância ela via, perto dela, uma
forma astral que sempre lhe aparecia num momento de
perigo e a salvava justamente no momento mais crítico.
H.P.B. considerava essa forma astral como o seu anjo da
guarda encontrando-se sob o Seu cuidado e orientação.» A
mesma figura imponente acompanhou-a durante a sua
adolescência; era sempre o mesmo protector e o seu rosto
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era inconfundível, ao ponto de que quando tinha 20 anos e o
encontrou sob uma forma humana, o reconheceu imediatamente e sentiu que sempre crescera sob o seu cuidado.
Depois do seu matrimónio, aos 17 anos, e após abandonar o seu marido ancião, embora conservando para sempre o seu apelido, partiu do seu país e durante dez anos viajou por lugares insólitos da Ásia Central, Índia, América do
Sul, África e Europa. Não é fácil saber com exactidão o que
fez H.P.B. nos dez anos de incessantes viagens que mencionámos. Não há relatos precisos a seu respeito, salvo os
seus próprios comentários nem sempre extensos nem
esclarecedores.
Como foi a sua viagem para a Índia e para o Tibete?
Quanto durou e o que fez nesse tempo? Alguns dados perfilados fazem ver que tentou várias vezes entrar no Tibete; e
evidenciam que foi um samám tártaro quem a ajudou a
entrar convenientemente disfarçada, e a recolher pessoalmente experiências interessantíssimas .
Quando ao fim de dez anos, H.P.B. regressa para onde
estava a sua família de sangue, faz notar o indubitável desenvolvimento que haviam adquirido as suas faculdades, até à
altura inseridas no conceito de espiritismo, que ganhava terreno e adeptos no Ocidente.
Enumerar a quantidade de fenómenos mais ou menos
chamativos que ocurriam ao seu redor seria uma tarefa
interminável: móveis que se moviam sozinhos, aumento ou
diminuição do peso dos objectos, possibilidade de ver coisas
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invisíveis e pessoas ausentes, espectros de falecidos, ruídos, sussurros, golpes rítmicos, campainhas, músicas... Não
obstante H.P.B. não trabalhava como uma simples médium,
quer dizer, não era governada por nenhum tipo de entidade,
mas pela sua própria vontade, rasgo este que foi desenvolvido cada vez com mais vigor, ainda que para sua infelicidade se tenha visto forçada a oferecer ao público muitos fenómenos que comprovassem em parte as sua palavras, ou
que ajudassem a despertar inquietudes espirituais adormecidas nos seus observadores. A sua irmã, a Sra. Zhelihovsky, comenta nos seus escritos que H.P.B. não estava sob a
influência de fantasmas ou espectros de defuntos mas pela
presença no corpo astral dos seus «potentes amigos».
Uma experiência particular que viveu perto dos seus 30
anos, podia interpretar-se como um contacto mais profundo com os Mistérios Iniciáticos e com a sua missão perante
o mundo orientada pelos Mestres. O episódio parte de uma
incompreensível doença que a levou a permanecer vários
dias em estado de coma. Ela mesmo relata que então vivia
uma dupla personalidade: uma era H.P.B., que ainda doente abria os olhos e respondia quando se chamava por esse
nome; a outra - que nunca revelou quem era - actuava plenamente noutro mundo e não fazia ideia de quem era
H.P.B.. A gravidade da doença fez com que fosse aconselhável transferi-la para Tiflis, com os seus parentes. Durante a viagem, no fundo de uma simples barca que seguia a
irregular corrente de um rio, as suas criadas viam-na levan-
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tar-se e desaparecer entre os bosques da margem, apesar
do seu corpo debilitado e inconsciente não se mover da embarcação. Com quem se encontrava então e para quê? Cremos que a resposta forma parte dos muitos segredos a que
ela foi tão fiel quanto aos seus próprios Mestres.
Depois de outra estadia de vários anos no Oriente dedicados a uma sólida formação relacionada com o domínio dos
seus poderes e a sabedoria oculta, e após ter acedido muito
provavelmente à Iniciação, compreende que a sua tarefa é a
de divulgar os seus conhecimentos entre as pessoas, mas
ainda não vê claramente como deve fazê-lo.
Poderíamos considerar esta data [1870] como o início do
seu trabalho concreto enquanto Mestra, mas antes de abordarmos este aspecto da sua vida, devemos insistir que jamais, em nenhuma circunstância, deixou de ser uma fiel discípula. De acordo com os seus relatos, ela tomou conhecimento no seu primeiro encontro com o seu Mestre, aos 20
anos, do trabalho que a esperava no mundo, a fundação
daquilo que futuramente viria a ser a Sociedade Teosófica, e
todas as dificuldades que isso acarretaria. Mas o seu amor e
a sua obediência levaram-na a aceitar tudo quanto fosse necessário: «Desde o início eu sabia o que devia esperar porque
me haviam dito, e não cessei de o repetir aos demais: Quando
alguém entra tão rápido no Caminho... o karma pessoal, em
vez de lhe ser atribuído ao longo de toda a vida, chega em
bloco e esmaga-o com todo o seu peso. Aquele que acredita
naquilo que professa e no seu Mestre, aguentará e sairá vito-
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rioso da prova; aquele que duvida, o cobarde que teme receber o que em justiça merece e trata de evitá-lo, FRACASSA».
H.P.B. como Mestra
Poderíamos assegurar, sem receio de estarmos equivocados, que a maior lição de mestria de H.P.B. foi a sua inquebrantável lealdade para com os seus Mestres. E talvez
por isso tenha sido Mestra; não porque se sentisse segura
do seu saber e da sua força, mas porque sempre tentou
transmitir aos demais a procedência Superior da sua energia espiritual e da sua extraordinária Sabedoria. Foi Mestra
para louvar os seus Mestres, humilde quando errava e mais
humilde todavia quando colhia triunfos.
Os seus discípulos? Essa é outra longa e confusa história
ainda por esclarecer. Em todo o caso ensinou, escreveu e fez
o que fez porque assim lhe ordenaram. Quem entendeu isso,
seguiu-a, e quem não entendeu, nunca chegou a alcançá-la,
nem à sua Mensagem.
Retomemos o fio da sua vida em 1870. No princípio pensou em actuar apoiando-se na difusão das ideias espiritistas.
Encontrava-se então no Egipto onde fundou uma associação
para a investigação dos fenómenos espiritistas que lhe trouxe mais desgostos e problemas do que satisfações. A partir
dessa tentativa tem início a longa saga de críticas e calúnias
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invejosas e ignorantes que a perseguiram até ao final dos
seus dias... e ainda perseguem, cem anos depois. Mas este
projecto falhado serviu-lhe para voltar a contactar o seu velho amigo, o mago copta.
Foi em 1873 que se radicou nos Estados Unidos, e em
Novembro de 1875 fundou, em Nova Iorque, a Sociedade
Teosófica, designando o Coronel Olcott Presidente Vitalício
e reservando para ela o obscuro cargo de Secretário Correspondente.
Este facto suscita-nos um importante enigma quanto à
sua função de Mestra, pois aparentemente deixa de lado
uma excelente oportunidade de gerir de maneira directa a
transmissão do seu ensino. Ainda que seja provável que essa fosse a sua intenção ao desligar-se de todo o labor burocrático (se bem que nunca pudesse afastar-se dele) e rotina. Mas nesse caso, é assombrosa a escassa selectividade
que exercia sobre a gente que se aproximava da Sociedade
Teosófica e dela própria, tanto que foi vendida, atraiçoada e
injuriada muitas vezes por quem havia tido o raro privilégio
de estar junto a ela.
Tinha H.P.B. intenção de escolher e formar um núcleo
de discípulos, ou voltava o seu saber a mãos cheias e com
toda a confiança para todos os que ensinava? Era Mestra de
todos e para todos, ou alguma vez pretendeu constituir um
grupo,particular, assim como os seus Mestres haviam feito
distinguido-a em especial? Talvez a resposta esteja na Es-
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cola Esotérica e no Grupo Interno em que colocou as suas
esperanças nos seus últimos anos, aos quais faremos
referência em seguida.
Não obstante, a Sociedade Teosófica tinha finalidades
bem concretas desde o seu começo, como testemunham
tanto H.P.B. como o coronel Olcott. Este último reconhece
que a obra foi levada a cabo sob a direcção de um grupo de
Mestres, especialmente de um Deles; Mestres a que Olcott
teve grande acesso graças à mediação de H.P.B.. E ela
adjudicou à Sociedade Teosófica a difícil tarefa de despertar
as consciências adormecidas para Sabedoria Atemporal e
para as transcendentes faculdades do Homem. Mas o conhecimento dos motivos que levaram à fundação da Sociedade Teosófica não implicava que os Mestres lhe tivessem
assinalado o método exacto para o fazer. Assim, H.P.B. enfrentou a terrível dificuldade de desvelar as ciências ocultas
e a existência dos grandes Mestres, adaptando as ideias da
«Religião da Sabedoria» ao estilo do raciocínio ocidental.
Como resultado, muitos dos integrantes da Sociedade Teosófica consideraram que não era suficiente gozar dos ensinamentos de H.P.B. e quiseram entrar em contacto directo
com os Mestres, sem analisarem primeiro a sua capacidade. Para tal choviam as solicitudes para serem aceites como candidatos ao discipulado, o que conduziu a uma liberalização das regras de admissão a fim de que fossem dadas
maiores oportunidades a quem demonstrasse um forte impulso e convicção.
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Mas mesmo assim, a Sociedade Teosófica e a própria
H.P.B. foram objecto de duras acusações por parte de quem
se sentia excluído, rejeitado ou até enganado com o fantástico relato de uns Mestres que, de ansiados, passaram a ser
qualificados de inexistentes.
Estes membros da Sociedade Teosófica consideravam-se discípulos de H.P.B., ou tomavam-na como simples intermediária, tratando de imitar os seus passos? A todo momento ela fazia saber as difíceis condições que eram exigidas aos verdadeiros discípulos e advertindo para o perigo do
fascínio pelo adeptado e do exercício dos fenómenos sem
antes obter frutos no âmbito do trabalho pelo próximo, animando e elevando os mais débeis e menos favorecidos. Isso,
sem contar com o facto de passar a estar sob a observação
de um Mestre (quer o discípulo o veja ou não com os seus
olhos) o que equivale a despertar toda essência nobre, mas
também todas as paixões adormecidas da natureza animal,
assim como carregar com os factores kármicos que afectam
ao seu próprio grupo ou nação, atraindo a antipatia do meio
circundante enquanto tenta alterá-lo com fins benéficos.
H.P.B. cita, desanimada, a grande quantidade de fracassos desses presumidos discípulos, ainda que destaque algumas honrosas excepções. «Durante os onze anos de existência da Sociedade Teosófica (escrito em 1886) conheci, de setenta e dois probacionistas aceites regulares à experiência,
e de centenas de candidatos laicos, somente três que não
fracassaram até agora, e somente um que alcançou com-
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pleto êxito.» «... a esses teósofos que estão descontentes
com a Sociedade em geral, ninguém lhes fez nenhuma promessa imprudente; além de que, nem a Sociedade nem os
seus Fundadores lhes ofereceram os seus “Mestres“ como
prémio de boa conduta. Durante anos, a cada novo membro
era-lhe dito que não se lhe prometia nada, e que tinha que
esperar tudo a partir do seu próprio mérito pessoal.»
De certa forma, H.P.B. sentia-se responsável por ter
dado a conhecer no Ocidente a existência dos Mestres e por
ter revelado os sagrados nomes de alguns Deles, originando mais curiosidade e especulação do que um autêntico desejo de progredir. Por isso viu-se obrigada a recorrer à natureza desses Mestres, que são por sua vez discípulos de
outros Maiores e que em conjunto estão submetidos a leis,
como todos. «Apesar da sua santidade e avanço na ciência
dos Mistérios, são ainda assim, homens, membros de uma
Fraternidade, onde são os primeiros a observar as suas leis
e regulamentos correspondentes.»
Desta forma, durante a sua estadia nos Estados Unidos
viu-se sempre rodeada de gente que a visitava no seu domicílio e ainda que ela fosse extraordinariamente constante e
leal para com os seus amigos, estes nem sempre lhe pagaram na mesma moeda. As tertúlias prolongavam-se em
longas e eruditas conversas que atraíram um interessante
núcleo de pensadores em Nova Iorque. Mas, como dizia um
jornalista do New York Times, «nem todos os que a visitavam partilhavam as suas opiniões, pois em verdade so-
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mente alguns seguiam os seus ensinamentos com implícita
fé. Muitos dos seus amigos e dos que se filiaram na Sociedade Teosófica por ela fundada, eram pessoas que afirmavam pouco e não negavam nada.»
Sempre ganhava e perdia amigos. E discípulos...?
Ao mudar-se para a Índia em 1879, pensou que ali encontraria um meio propício para a difusão das suas ideias.
Mas não foi exactamente assim. Ainda que a gente simples
do povo a amasse pela sua generosidade e benevolência, não
faltaram novas traições e mal-entendidos no ambiente político inglês que imperava, sendo curioso que H.P.B. pensasse
que este era o melhor governo para a Índia tal como se encontrava então. E também não foi ali que a sua enorme capacidade para produzir fenómenos se reflectiu nas reacções
positivas que eram esperadas.
Sempre foi muito trabalhadora e activa. Madrugava para
escrever artigos e traduções – faria o mesmo ao dedicar-se
à sua Doutrina Secreta – quer fosse para revistas inglesas,
americanas, russas ou para redigir intermináveis cartas relativas ao funcionamento da Sociedade Teosófica. Atendia durante horas a fio os indígenas que iam visitá-la ou então discutia com os adoradores do moderno hinduísmo que, segundo ela, contradizia o verdadeiro significado dos Vedas. Mas
estivesse na actividade que estivesse, bastava que ouvisse «a
voz que os demais não podiam ouvir» (o chamamento do seu
Mestre ou de algum dos «Irmãos») para que abandonasse
tudo e se encerrasse no seu quarto para receber instruções.
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A partir de 1881 teve que suportar uma série de ataques,
cada vez mais duros e continuados, que se centravam na sua
capacidade de produzir fenómenos, na sua presumida qualidade de «espiã russa», nas suas «manipulações» económicas, na sua «encenação» a respeito dos Mestres e um
grande e igualmente etc.. Infelizmente, isto roubou-lhe muitas energias, atrasou em parte a compilação da Doutrina
Secreta e contribuiu para o agravamento da sua débil saúde.
Em 1882 adoeceu gravemente e recebeu um aviso para
se encontrar com os seus ocultos Instrutores em Sikkim.
Então escreveu a Sinnett:
«Adeus a todos, e se eu morrer antes de vos ver, não me
rotulem de “impostora”, porque juro que vos disse a verdade,
ainda que tenha ocultado muita dela. Espero que a senhora X
não se desonre evocando-me com alguma médium. Tenham
a segurança de que se alguém aparecer, não será nunca o
meu espírito nem nada que me pertença, nem sequer a minha casca, que morreu há muito tempo. A vossa, todavia em
vida, H.P.B.»
Foram vários os que quiseram acompanhá-la nesta viagem na certeza de poderem conhecer algum desses excepcionais Mestres, mas Eles maquinaram formas de despistar
toda a gente – bem ou mal intencionados – e manter o encontro a sós. Esta durou apenas dois ou três dias, após os quais
regressou curada da terrível doença que tinha estado a ponto
de acabar com a sua vida.
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De regresso à Europa, passou por França, Alemanha, e
Inglaterra, relacionando-se com os membros da cada vez
mais florescente Sociedade Teosófica. Se bem que muitos
deles fossem partidários da doutrina exposta por H.P.B. no
seu aspecto mais sério e profundo, é triste comprovar que
o que continuava a chamar a atenção eram os fenómenos
que se produziam ao seu redor e as suas comunicações
com os Mestres.
Em finais de 1885 começou a recompilar a sua ciclópea
Doutrina Secreta. A este respeito são interessantíssimas as
notas da já mencionada condessa Wachtmeister, que viveu
junto a H.P.B. e cuidou dela nos seus últimos anos, nas
quais explica a maneira prodigiosa como foi escrita a obra,
assim como a integridade pessoal da sua autora.
«A Doutrina Secreta é, na verdade, uma magna obra. Eu
tive o previlégio de ver como ia escrevendo, ler o manuscrito e presenciar o oculto procedimento com que obtém a
suas informações.» «Um dia, ao entrar no seu escritório
encontrei o piso coberto por folhas manuscritas e quando
lhe perguntei o significado daquilo respondeu-me: “Sim,
tentei doze vezes escrever esta página correctamente e o
Mestre dizia sempre que estava mal. Creio que vou enlouquecer escrevendo-a tantas vezes, mas deixa-me sozinha,
não me deterei até conseguir, mesmo que tenha que passar
toda a noite a fazê-lo“.» «Logo, cedo pela manhã, eu vi sobre
a sua escrivaninha um pedaço de papel com caracteres des-
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conhecidos traçados em tinta vermelha. Ao perguntar-lhe o
significado dessas misteriosas notas, ela respondeu que indicavam o seu trabalho para esse dia.» «Frequentemente lamentei ver como resmas de manuscritos, cuidadosamente
preparados e copiados, eram atirados às chamas após uma
palavra, uma intimação dos Mestres...!»
Passou os seus últimos anos em Londres, onde morreu
a 8 de Maio de 1891, quase de repente, sentada numa cadeira
junto à sua cama, já que o médico lhe havia dito nessa mesma manhã que não havia perigo eminente de morte.
Que conclusões extrair ante um panorama tão rico e
complexo, tão pouco usual, tão extraordinário e enigmático?
Há, pelo menos, um par de ideias que ficam relativamente claras: não há nenhuma dúvida da condição de discípula de H.P.B., existem sim pontos obscuros quanto aos
discípulos que ela formou. H.P.B. é um modelo impecável
de discipulado. H.P.B. é um mistério como Mestra, parece
que o seu labor nesse sentido foi transmitir e ensinar aquilo que a ordenaram, com amor pela humanidade, sim, indiscutivelmente, mas também por Amor aos seus Mestres.
Se os seus poderosos Instrutores a elegeram para cumprir uma missão específica no mundo, se ela foi um dos poucos escolhidos no Ocidente, é difícil dizer o mesmo a respeito dos discípulos que H.P.B. elegeu.
Falámos na quantidade de decepções causadas por
amigos, discípulos e membros da Sociedade Teosófica em
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geral, ainda que soubesse carregá-las com grandeza filosófica, a Sociedade Teosófica não foi para H.P.B. o viveiro de
homens e mulheres ansiosos pela Sabedoria Superior que
se esperaria.
Nos sete anos anteriores à sua morte, parece que existiram tentativas – sempre a pedido dos Mestres – de formar
um grupo de discípulos mais capacitados em esoterismo
profundo. Em 1887 é Judge – a cargo da Secção Americana
da Sociedade Teosófica – que solicita a H.P.B. um corpo de
ensinamentos que respondesse ao sincero desejo de muitas pessoas de realizarem um trabalho probatório preliminar que as tornasse dignas de serem aceites como discípulos dos Mestres. Tudo isso se materializou na Secção Esotérica ou Escola Esotérica, dirigida por H.P.B., que desde
Londres enviaria as Instruções a Judge, na América, e a Olcott nos países asiáticos.
Esta Escola, independente da Sociedade Teosófica, fundamentou o seu trabalho e a formação dos seus conteúdos
com base num «Livro das regras», redigido sob a inspiração
do Mestre M. e de H.P.B. O primeiro escrito com indicações
específicas – num momento estritamente privado, confidencial e pessoal para os membros da Escola – foi uma Memória
Preliminar elaborada por H.P.B. em 1888, na qual expõe uma
série de razões para a formação deste grupo e explica o que
se espera dos seus integrantes. À intenção especial da Escola Esotérica há que agregar outra mais profunda e preponde-
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rante: a constituição de um Grupo Interno para doze discípulos pessoais, que receberam aulas de H.P.B. desde o dia 20
de Agosto de 1890 até ao dia 22 de Abril de 1891, um total de
23 aulas com uma periodicidade de 2 a 4 por mês, e até
poucos dias antes da sua morte.
Os resultados de tudo isso? A História, como sempre,
terá a última palavra e expressar-se-á em factos concretos.
Não importa que muitos dos discípulos de H.P.B. tivessem
ficado pelo caminho ou que tivessem caído no esquecimento; o seu labor não foi infrutífero porque apesar do tempo
continua a despertar almas e a gerar discípulos através da
sua obra.
É provável que a sua grande missão tenha sido escrever
incansavelmente, deixando provas de uma Sabedoria quiçá
demasiado avançada para o seu tempo e mesmo, quem sabe,
para o nosso. O inegável é que H.P.B. conhecia perfeitamente
as suas dificuldades para actuar como Mestra, mas não para
se projectar na sua obra escrita, que é onde devemos procurá-la. Vejamos as suas próprias palavras, numa carta dirigida à condessa Wachtmeister: «Se está “preocupada” eu estou completamente perplexa para compreender o que se espera de mim. Nunca prometi desempenhar o papel de gurú,
mestre de escola ou professor... Disse-lho, em várias ocasiões, eu nunca ensinei ninguém a não ser no meu próprio
estilo pessoal... Se tivesse de me castigar repartindo instruções ordenadas, à maneira de um professor, durante uma
hora – e nem digo nada se fossem duas horas por dia – eu
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preferiria escapar para o Pólo Norte ou morrer a qualquer
momento cortando inteiramente as minhas ligações com a
Teosofia. Sou incapaz de fazer tal coisa, como qualquer um
que me conheça deveria saber.»
Muito se insistiu sobre o enigma de H.P.B., tanto o da
sua personalidade – aparentemente em contacto com os homens mas vivendo a maioria das vezes em relação com outros seres – como o da sua obra, extensa, complexa e difícil
de apreciar através de uma simples leitura. A sua linguagem
abscura tende a enganar: a obscuridade é a de quem não
está à altura dos seus ensinamentos e a falta de clareza é
própria de temas que nunca serão claros para a mente, mas
sim para a intuição.
Porém, soube transmitir com bastante clareza o sentido
da sua vida, a sua entrega a um Ideal nobre e o seu inalterável amor por quem a guiou no Caminho. Nada melhor,
pois, que as suas próprias palavras para demonstrar o brilho luminoso da verdade, a força da luz que arrasa as trevas:
«Se me perguntarem: Quem sois vós, para encontrades falhas em nós? Sois quem comunga com os Mestres recebendo diariamente os Seus favores, tão santa, tão impecável, tão
digna? A isto respondo: NÃO SOU. Imperfeita e defeituosa é
a minha natureza, muitos e notórios são os meus erros e por
isso o meu karma é mais pesado que o de qualquer outro
teósofo. É assim (e deve ser) desde que por tantos anos estou
no alvo de inimigos e até de alguns amigos. No entanto,
aceito a prova alegremente. Porquê? Porque sei que tenho,
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apesar de todas as minhas faltas, a protecção do Mestre
que se extende sobre mim. E se a tenho, a razão é simplesmente esta: ao longo de mais de 35 anos, desde 1851, quando vi ao meu Mestre em corpo real e pessoalmente pela
primeira vez, jamais o neguei nem duvidei Dele, nem sequer em pensamento. Jamais uma reprimenda, uma queixa contra Ele se escapou dos meus lábios ou cruzou o meu
cérebro por um instante, sob as provas mais duras... Devoção incondicional Àquele que encarna o dever que me toca, e crença na Sabedoria (colectivamente, dessa grande,
misteriosa, mas real Irmandade de homens santos), é o
meu único mérito e razão do meu êxito na filosofia oculta.»
Delia Steinberg Guzmán
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JÓIAS DO ORIENTE
GEMS OF ORIENT
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PREFACE
Few words will be needed by way of preface to these
Gems from the East.
At a time when Western minds are occupied in the study
of Oriental Literature, attracted possibly by its richness of
expression and marvelous imagery, but no less by the broad
yet deep philosophy of life, and the sweet altruistic doctrines
contained therein, it is thought seasonable to present the
public with a useful and attractive little volume such as this.
The Precepts and Aphorisms, compiled by «H.P.B.» are
culled chiefly from Oriental writings considered to embody,
in part, teachings which are now attracting so much attention in the West, and for the diffusion of which the Theosophical Society is mainly responsible.
As far as possible we have endeavoured to make the volume attractive, handy, and useful to all.
It contains a Precept or an Axiom for every day in the
year; lines of a Theosophical nature, selected from sources
not invariably Oriental, preface each month; and the whole
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PREFÁCIO
Poucas palavras serão necessárias em jeito de prefácio
a estas Jóias do Oriente.
Num tempo em que as mentes Ocidentais estão ocupadas com o estudo da Literatura Oriental, provavelmente atraídas pela sua riqueza de expressão e pelo imaginário maravilhoso, mas não menos pela vasta, mas profunda filosofia
de vida e pelas doces e altruístas doutrinas nela contidas,
entendeu-se que era oportuno apresentar ao público um pequeno e atractivo livro como este.
Os Preceitos e Aforismos, compilados por «H.P.B.», são
principalmente escolhidos a partir dos escritos Orientais que
se considera incluírem, parcialmente, os ensinamentos que
actualmente tanta atenção merecem no Ocidente e por cuja
difusão a Sociedade Teosófica é a principal responsável.
Tanto quanto possível, tentámos tornar a obra atraente,
de fácil manuseio e útil para todos.
Ela contém um Preceito ou um Axioma por cada dia do
ano; cada mês é prefaciado por algumas linhas de natureza
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is embellished with drawings from the pen of F. W., a lady
Theosophist.
It is hoped that our efforts will meet with approval from
all lovers of the good and beautiful, and that they may not be
without effect in the cause of TRUTH.
W.R.O.
«THERE IS NO RELIGION HIGHER THAN TRUTH»
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Teosófica, seleccionadas de fontes não invariavelmente
Orientais e todo o livro é embelezado com desenhos feitos
por F. W., uma Teósofa.
Esperamos que os nossos esforços mereçam a aprovação de todos os apaixonados do bom e do belo e que eles
sejam úteis à causa da VERDADE.
W.R.O.
«NÃO HÁ RELIGIÃO SUPERIOR À VERDADE»
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JANUARY
«UTTISHAT! - Rise! Awake!
Seek the great Teachers, and attend! The road
Is narrow as a knife-edge! Hard to tread!»
«But whoso once perceiveth HIM that IS;
Without a name, Unseen, Impalpable,
Bodiless, Undiminished, Unenlarged,
To senses undeclared, without an end,
Without beginning, Timeless, Higher than height,
Deeper than depth! Lo! Such an one is saved!
Death hath not power upon him!»
THE SECRET OF DEATH (fr. The Katha Upanishad).
1
The first duty taught in Theosophy, is to do one’s duty
unflinchingly by every duty.
2
The heart which follows the rambling senses leads
away his judgment as the wind leads a boat astray
upon the waters.
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JANEIRO
«UTTISHAT! - Levantem-se! Acordem!
Procurem os grandes Mestres e prestem atenção! O caminho
É estreito como o fio de uma navalha! Difícil de trilhar!»
«Mas quem uma vez O entendeu, esse que É;
Não tem nome, é Invisível, Intangível,
Imaterial, Não Diminuído, Não Aumentado,
Não Revelado aos sentidos. Não tem um fim,
Nem começo, é Intemporal. Mais Alto do que a altura,
Mais profundo do que a profundeza! Vejam! Esse está salvo!
A morte não tem poder sobre ele!»
THE SECRET OF DEATH (fr. The Katha Upanishad)
1
O primeiro dever ensinado na Teosofia é cumprir firmemente o nosso dever através de cada dever.
2 O coração que segue os sentimentos errantes afasta o
seu julgamento, tal como o vento que desencaminha
um barco nas águas.
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3
He who casts off all desires, living free from attachments, and free from egoism, obtains bliss.
4
To every man that is born, an axe is born in his mouth,
by which the fool cuts himself, when speaking bad language.
5
As all earthen vessels made by the potter end in being
broken, so is the life of mortals.
6
Wise men are light-bringers.
7
A just life, a religious life, this is the best gem.
8
Having tasted the sweetness of illusion and tranquillity, one becomes free from fear, and free from sin,
drinking in the sweetness of Dhamma (law).
9
False friendship is like a parasitic plant, it kills the
tree it embraces.
10
Cut out the love of self, like an autumn lotus, with thy
hand! Cherish the road of peace.
11
Men who have not observed proper discipline, and
have not gained treasure in their youth, perish like
old herons in a lake without fish.
12
As the bee collects nectar, and departs without injuring the flower, or its color or scent, so let a Sage
dwell in his village.
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3
Aquele que abandona todos os desejos, vivendo livre
de algemas e livre de egoísmo, atinge a felicidade.
4
Por cada homem que nasce, nasce um machado na
sua boca, com o qual o tolo se corta, sempre que profere palavras grosseiras.
5
Tal como todas as vasilhas de barro feitas pelo oleiro
acabam partidas, assim é a vida dos seres humanos.
6
Os homens sábios são portadores de luz.
7
Uma vida íntegra, uma vida devota é a melhor jóia.
8
Tendo provado a doçura da ilusão e da tranquilidade,
libertamo-nos do medo e do pecado, bebendo a doçura do Dhamma (lei).
9
A falsa amizade é como uma planta parasita, mata a
árvore que abraça.
10
Arranca com a tua mão o amor por ti próprio, tal como fazes a um lótus de Outono! Acarinha o caminho
da paz.
11
Os homens que não observaram uma disciplina correcta e não conseguiram ganhar riquezas na juventude, perecem tal como velhas garças num lago sem
peixe.
12 Tal como a abelha recolhe o néctar e parte sem afec-
tar a flor, a sua cor ou o seu cheiro, assim deixem o
Sábio habitar a sua aldeia.
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13
As rain does not break through a well-thatched house, passion will not break through a well-reflecting
mind.
14
He who hath too many friends, hath as many candidates for enemies.
15
That man alone is wise, who keeps the mastery of
himself.
16 Seek refuge in thy soul; have there thy Heaven! Scorn
them that follow virtue for her gifts!
17
All our dignity consists in thought, therefore let us
contrive to think well; for that is the principle of
morals.
18
Flattery is a false coin which circulates only because
of our vanity.
19
Narrowness of mind causes stubbornness; we do not
easily believe what is beyond that which we see.
20
The soul ripens in tears.
21 This is truth the poet sings - That a sorrow’s crown of
sorrows / Is remembering happier things.
22
Musk is musk because of its own fragrance, and not
from being called a perfume by the druggist.
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13
Assim como a chuva não entra numa casa bem coberta, a paixão não irrompe através de uma mente
pensadora.
14
Aquele que tem demasiados amigos, tem o mesmo
número de candidatos a inimigos.
15
Só é sábio quem possui profundo conhecimento de si
próprio.
16
Procura refúgio na tua alma; encontra lá o teu Céu!
Despreza quem persegue a virtude pelas suas dádivas!
17
Toda a nossa dignidade reside no pensamento, por
isso deixemo-nos pensar bem; porque este é o princípio da moral.
18
A lisonja é uma moeda falsa que só circula devido à
nossa vaidade.
A tacanhez de espírito provoca obstinação; não acreditamos com facilidade no que está para além daquilo que vemos.
20 A alma amadurece nas lágrimas.
19
21 Isto é verdade, canta o poeta - Que a coroa de lamen-
tações de uma lamentação / É recordar coisas mais
felizes.
22 O almíscar é almíscar por causa da sua própria fragrância e não por ser chamado perfume pelo farmacêutico.
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23 Not every one ready for a dispute is as quick in trans-
acting business.
24
It is not every graceful form that contains as graceful
a disposition.
25
If every pebble became a priceless ruby, then pebble
and ruby would become equal in value.
26
Every man thinks his own wisdom faultless, and every mother her own child beautiful.
27 If wisdom were to vanish suddenly from the universe,
no one yet would suspect himself a fool.
28 A narrow stomach may be filled to its satisfaction, but
a narrow mind will never be satisfied, not even with
all the riches of the world.
29
He who neglects his duty to his conscience, will neglect to pay his debt to his neighbor.
30 Mite added to mite becomes a great heap; the heap in
the barn consists of small grains.
31
He who tasteth not thy bread during thy lifetime, will
not mention thy name when thou art dead.
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23
Nem todo aquele que está pronto para uma discussão é tão expedito para fazer negócio.
24
Nem todas as formas graciosas contêm um temperamento igualmente encantador.
25
Se todos os seixos se transformassem em rubis sem
preço, então o seixo e o rubi teriam o mesmo valor.
26
Todo o homem pensa na sua própria sabedoria perfeita e toda a mãe na beleza do seu próprio filho.
27
Mesmo que a sensatez desaparecesse de repente do
universo, ninguém se julgaria tolo.
28
Um estômago pequeno pode encher-se até ficar satisfeito, mas uma mente limitada nunca ficará satisfeita, nem mesmo com todas as riquezas do mundo.
29
Aquele que descura o dever perante a sua consciência, esquecer-se-á de pagar a dívida ao vizinho.
30
Migalha mais migalha formam um grande monte; no
celeiro o monte é constituído por pequenos grãos.
31
Aquele que não provou o teu pão durante a vida, não
pronunciará o teu nome quando morreres.
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