FLUXO DE CARGA ESPECIALIZADO PARA REDES DE
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FLUXO DE CARGA ESPECIALIZADO PARA REDES DE
Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. FLUXO DE CARGA ESPECIALIZADO PARA REDES DE DISTRIBUIÇÃO CONSIDERANDO A PRESENÇA DE AEROGERADORES SIDNEY M. KOTO∗, CLAUDIONOR F. NASCIMENTO∗, ALVARO B. DIETRICH∗, EDMARCIO A. BELATI∗, ALESSANDRO GOEDTEL‡, LINA P. G. NEGRETE∗ ∗ Centro de Engenharia - CECS, UFABC Rua Santa Adélia 166,09.210-170, Santo André, SP, BRASIL ‡ Departamento de Eletrotécnica, UTFPR-CP Av. Alberto Carazzai 1640, 86.300-000, Cornélio Procópio, PR, BRASIL E-mails: {sidney.koto,claudionor.nascimento,alvaro.dietrich,edmarcio.belati, lina.negrete}@ufabc.edu.br, [email protected] Abstract⎯ An increasingly wind energy participation in distribution systems (DS) raises issues associated with stability and reliability of such systems. There are advantages in connecting wind generators in DS, such as lower power losses and better voltage profile throughout the system. The load flow technique is a widespread tool for power systems analysis and it is crucial that it proves to be robust and complies with the system’s attributes. This paper proposes a robust load flow methodology for distribution systems including wind generators. The proposed method is compared to other methods for distribution systems, namely the Backward-Forward sweep, calculating results for a 34-bus test system. Then the method is applied to a 126-bus system including wind generators, demonstrating the robustness and efficacy of it. Keywords⎯ Distributed generation, electric distribution system, Newton-Raphson, power flow, wind energy. Resumo⎯ A crescente utilização de fontes eólicas conectadas à rede de distribuição de energia elétrica traz preocupações com relação à estabilidade e confiabilidade destas redes. No entanto, existem alguns benefícios na conexão dessas fontes, tais como a redução de perdas técnicas e a melhora no perfil de tensão nas barras da rede. Uma das ferramentas mais utilizadas nas análises de redes é o fluxo de carga, porém é necessário que esta ferramenta seja robusta e atenda às características do sistema. Neste artigo é proposta uma metodologia para o cálculo do fluxo de carga em sistemas elétricos de distribuição que se provou robusta, mesmo considerando a presença de aerogeradores. O método proposto é comparado com o método de varredura BackwardForward Sweep utilizando um sistema didático de distribuição com 34 barras. Os resultados obtidos na simulação de um sistema com 126 barras com aerogeradores conectados demonstram a robustez e eficácia da metodologia. Palavras-chave⎯ Aerogeradores, fluxo de carga, geração distribuída, Newton-Raphson, sistema elétrico de distribuição. 1 Introdução Baseado na crescente importância da geração eólica por meio de aerogeradores na matriz elétrica brasileira, os problemas e as vantagens provenientes dessa fonte constituem-se em temas de interesse para o planejamento do sistema elétrico. Segundo a ANEEL (2012) há atualmente 73 usinas eólicas instaladas, com capacidade total de 1,47 GW. Estas fontes encontram-se sob contínuo desenvolvimento tecnológico de forma a manter a continuidade do fornecimento de energia e evitar impactos negativos na confiabilidade e estabilidade da rede (Oliveira et al., 2008). A análise e a identificação de perdas de sistemas elétricos de distribuição com geração eólica distribuída podem servir de suporte para o aumento de confiabilidade e estabilidade de tais sistemas, além de mitigar os riscos associados à mudança do paradigma da geração centralizada para o da Geração Distribuída (GD). Além disso, segundo Abu-Mouti e ElHawary (2011), a presença de GD em uma rede de distribuição pode resultar em vantagens, tais como a melhora no desempenho do sistema, em razão da redução das perdas técnicas e da melhora do perfil de tensão nas barras. ISBN: 978-85-8001-069-5 Por outro lado, os sistemas de geração equipados com conversores estáticos de potência, tal como o conversor CC/CA, destinados à conexão a redes. Estes conversores permitem o controle da potência ativa gerada e, principalmente, da potência reativa, cujo controle também pode ser utilizado para se controlar o nível de tensão na rede (regulador de tensão), conforme Silva et al. (2011). Nesse sentido, Teodorescu et al. (2011) demonstram que a potência total de um aerogerador deve ser controlada através de conversores CC/CA, com o objetivo de maximizar o aproveitamento da energia do vento. Além disso, Lima et al. (2011) afirmam que os aerogeradores equipados com geradores assíncronos, que não operam com máxima potência, possuem comportamento variável e aleatório, dependendo das condições do vento. Em geral, os sistemas elétricos de potência, que operam principalmente com fonte centralizada, se preparam para um novo cenário no qual uma unidade geradora pode ser conectada diretamente à rede de distribuição, próximo a um ponto de consumo. Para analisar este novo cenário, tanto no planejamento quanto na operação das redes é necessário o total conhecimento do estado do sistema (tensão complexa nas barras), o qual pode ser obtido através do cálculo do Fluxo de Carga (FC). 4204 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. O método de Newton-Raphson, nas suas implementações completa e desacoplada, é amplamente aplicado em sistemas de transmissão em razão de suas características de convergência, sobretudo nas versões desacopladas, que contemplam uma série de aproximações para simplificar a matriz Jacobiana (J), reduzindo assim o tempo de cálculo de cada iteração. Diferentemente das redes de transmissão, que possuem uma topologia em malha, as redes de distribuição primária, cujas tensões variam usualmente na faixa de 11,9 kV a 34,5 kV e com capacidade média de 12 MVA, possuem uma topologia tipicamente radial (Goméz-Expósito et al., 2011). Esta topologia é a mais utilizada nas redes de distribuição em razão de seus menores custos de implantação e manutenção, além de possuir maior simplicidade no planejamento e na operação. Estas diferenças de configuração entre os sistemas de transmissão e distribuição, somadas às grandes alterações nas características elétricas das redes, principalmente entre as relações de reatância (X) e resistência (R), da ordem de 20 vezes para muitos sistemas de transmissão, fazem com que os métodos utilizados para o cálculo de FC nos sistemas de transmissão sejam ineficazes para os sistemas de distribuição. Assim, os métodos tradicionais (Newton-Raphson e suas variações) muitas vezes apresentam problemas numéricos, devido ao mau condicionamento da matriz J, quando empregados nessas redes radiais. Analisando o comportamento da matriz J no processo iterativo para sistemas radiais, observa-se que a matriz não é diagonalmente dominante, tornando o sistema mal condicionado. Esta característica, aliada ao baixo valor da relação entre X e R, resulta em problemas numéricos no processo iterativo, exigindo assim a utilização de métodos específicos para as redes de distribuição (Goméz-Expósito et al., 2011). Considerando-se a possibilidade de sistemas de distribuição que possam operar interligados e com conexão de geração distribuída específica, como os aerogeradores, se faz necessário um método robusto para o cálculo do fluxo de carga, que atenda todas essas características. Neste sentido, a proposta deste trabalho é a apresentação de uma metodologia de cálculo do FC, a qual considera a presença de aerogeradores conectados como unidades de GD em sistemas de distribuição. O FC desenvolvido baseia-se em uma modificação no método de Newton-Raphson, considerando a velocidade do vento na injeção de potência desses aerogeradores e as técnicas de esparsidades para se tratar as características da matriz J. A apresentação do trabalho é organizada da seguinte forma: Na Seção 2 são apresentados os principais aspectos da geração distribuída de energia. Na Seção 3 é apresentada uma descrição da interconexão de aerogeradores em redes de distribuição. Na Seção 4 é apresentada a metodologia proposta para o cálculo do FC de uma rede, considerando a presença de aerogeradores. Na Seção 5, os resultados de simulação e a validação da metodologia proposta são apresentados, discutindo-se o impacto nos perfis de ten- ISBN: 978-85-8001-069-5 são nas barras dessa rede. Finalmente, na Seção 6 são expostas as principais conclusões deste trabalho. 2 Geração Distribuída Em um sistema com geração distribuída, a geração de energia elétrica é realizada próxima às cargas e inclui fontes de baixa potência. O padrão IEEE 1547 define uma GD em uma rede de distribuição como uma rede cujas fontes de geração estão próximas às cargas e, em conjunto, tem potência igual ou inferior a 20 MW à montante do Ponto de Conexão Comum (PCC) da rede (IEEE 1547, 2011). No Brasil, o Decreto Federal 5163 (2004) define GD por exclusão, da seguinte forma: considera-se a produção de energia elétrica por concessionárias, permissionárias ou autorizadas, conectadas ao sistema de distribuição do comprador, exceto para as seguintes fontes: (i) hidroelétricas com potência superior a 30 MW; e (ii) termoelétricas com eficiência energética inferior a 75% (incluindo cogeração). Uma consequência importante, devido ao aumento de participação da GD em sistemas interligados, é a modificação do fluxo unidirecional de um sistema centralizado. Assim sendo, o fluxo de carga passa a ser ativo também do lado do consumidor, fazendo com que alguns impactos devam ser considerados. Nesse sentido, Kashem et al. (2006) analisam um sistema de distribuição e demonstram, dentre outros impactos, a melhora do perfil de tensão do sistema quando uma GD é conectada à rede. O aumento da participação das fontes eólicas na rede interligada traz à tona a necessidade de se medir o seu impacto no sistema elétrico, em termos de estabilidade e de capacidade de expansão. O desafio de analisar esses impactos tem como objetivo mitigar, nesse novo cenário, os problemas técnicos relacionados à degradação da qualidade e confiabilidade da energia fornecida. Nesse sentido, este artigo contribui, principalmente, na análise e avaliação do impacto no perfil de tensões de uma rede de distribuição, devido à integração de geradores eólicos . 3 Aerogeradores Conectados ao Sistema Neste artigo são considerados aerogeradores com gerador de indução duplamente alimentada (DFIG – Doubly Fed Induction Generator) em razão da presença deste tipo de gerador na maioria dos projetos atuais e devido à sua relação custo-benefício atrativa (Mendes et al., 2010). A configuração DFIG consiste em um gerador assíncrono de indução com rotor bobinado onde um conversor CA/CC/CA, bidirecional (também denominado back-to-back), é conectado entre os terminais do rotor e a rede, enquanto o estator é ligado diretamente à rede. A Figura 1 apresenta um esquema da configuração DFIG. No trabalho de Göksu et al. (2010) é ponderada a vantagem do menor custo do gerador DFIG, por este utilizar um conversor parcial, com cerca de 30% 4205 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. da potência da turbina. Os enrolamentos do rotor do DFIG são alimentados pelo conversor bidirecional, que possui em torno de 30% da potência nominal do gerador. Teodorescu et al. (2011) também estimam em 30% a potência que passa pelo conversor num gerador DFIG, mas consideram mais vantajoso a utilização de um gerador síncrono com conversão total da potência para a rede. Figura 2. Curva de Potência pela Velocidade (v-P). Figura 1. Diagrama do aerogerador com DFIG conectado à rede. 3.1 Fluxo de Carga Considerando Aerogeradores O fluxo de carga é um método estático, ou seja, baseia-se num conjunto de equações algébricas independentes do tempo, permitindo o cálculo das tensões nas barras e da potência que flui ao longo da rede. Para incluir um aerogerador DFIG na análise é necessário modelar o fluxo de potência ativa e reativa neste, de tal forma a contemplar a injeção de potência ativa na rede, provenientes tanto do estator como do rotor, e o consumo de potência reativa absorvida pelo rotor. A potência ativa é determinada pela curva v-P, conforme exemplificado na Figura 2, enquanto que a potência reativa depende de P e V. No caso específico de um gerador DFIG, a potência ativa é produzida no estator e, quando este se encontra acima da velocidade síncrona, também pelo rotor. Li et al. (2011) formulam o problema do gerador DFIG considerando o circuito elétrico equivalente do gerador. A Figura 3 apresenta o modelo de circuito utilizado. A potência ativa P é determinada pela velocidade dos ventos, representada pelo escorregamento (s) e será considerada fixa para o cálculo do fluxo de carga, limitação do método visto se tratar de análise estática de estado estacionário. Pode-se contornar essa limitação ao se estipular cenários de velocidades e cargas distintas: • Potência ativa injetada = 0 (v < vcut-in) e demanda de carga elevada; • Potência ativa injetada nominal e demanda de carga elevada; • Potência ativa injetada = 0 (v < vcut-in ) e demanda de carga baixa; • Potência ativa injetada nominal e demanda de carga baixa. A velocidade de corte inferior vcut-in é definida como sendo a velocidade abaixo da qual não há conversão de energia mecânica em energia elétrica. ISBN: 978-85-8001-069-5 Figura 3. Modelo do gerador DFIG (estator e rotor). Para o cálculo do fluxo de carga, fixa-se a velocidade do vento (v) e calcula-se o valor de P em função desta, determinada pela curva v-P fornecida pelo fabricante do equipamento. Considerando-se fator de potência constante, calcula-se o valor da potência reativa (Feijóo e Cidrás, 2000). 4 Metodologia Proposta Apresenta-se neste artigo uma metodologia de solução de FC capaz de considerar as características do sistema de distribuição com aerogeradores e atender todas as restrições descritas a seguir. Para um sistema de m barras de carga (PQ) e n barras de geração (PV) e 1 barra de referência, o fluxo de potência ativa e reativa é dado por: Pi = Vi Qi = Vi n + m +1 ∑ V (G ij cos θ ij + Bij sin θ ij ) (1) ∑ V (G sin θ ij − Bij cos θ ij ) (2) j =1 j n + m +1 j =1 j ij onde Gij é a parte real e Bij a parte imaginária da admitância. No método de Newton-Raphson, o fluxo de carga é calculado em todas as barras, iterativamente. Para as barras de carga, os valores de P e Q são fixos, enquanto que nas barras de geração, são dados P e V. Assim, o cálculo do sistema converge quando ∆P e ∆Q tendem a zero no sistema matricial, calculado por: ⎡ ∆P ⎤ ⎡ H ⎢∆Q ⎥ = ⎢ M ⎣ ⎦ ⎣ N ⎤ ⎡ ∆θ ⎤ L ⎥⎦ ⎢⎣∆V ⎥⎦ (3) onde ∆P = Pesp – Pi e ∆Q = Qesp – Qi são as variações nas potências ativa e reativa em relação às potências especificadas (índice “esp”). A matriz Jacobiana (J) representa as derivadas parciais das equações nodais de P e Q em função das magnitudes e fases de tensão (V e θ). 4206 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. Duas características das redes de distribuição devem ser consideradas. A primeira é a característica radial, em contraponto à estrutura em malha de redes de transmissão, implicando em maior grau de esparsidade da matriz de admitâncias e do Jacobiano, dificultando a convergência do processo iterativo de cálculo do vetor de soluções. A segunda dificuldade enfrentada está relacionada ao alto valor da relação entre a resistência e a reatância equivalentes encontradas em redes de distribuição (Goméz-Expósito et al., 2011). Um dos métodos mais utilizados para a análise do fluxo de carga nestas redes é o método Backward Forward Sweep – BWFWS no qual o cálculo desse fluxo é unidirecional, da barra de referência até as cargas, de forma que a tensão da barra decai à medida que esta se afasta da origem (Eminoglu, 2009). Uma limitação apontada para o método BWFWS é a dificuldade de tratar geradores conectados à rede. Além disso, esse método só é empregado em redes que apresentam interligações. Considerando que em uma rede de distribuição, com poucas malhas (ramos interconectados), tanto a matriz admitância nodal (Y) como o Jacobiano (J) são matrizes esparsas, caracterizadas por conter só alguns elementos diferentes de zero, é conveniente utilizar técnicas de esparsidade para melhorar o desempenho do algoritmo de solução. Outra característica importante da matriz J é a sua simetria de valor e posição. Portanto, essas características da matriz J devem ser exploradas na implementação computacional do FC. Uma forma de tratar o problema consiste em apenas armazenar os elementos diferentes de zero da matriz. Com isto, reduz-se o espaço de memória e melhora-se a eficiência do algoritmo. O diagrama do cálculo do fluxo de carga é ilustrado na Figura 4. dos com um computador com processador Intel Core i5 (clock 3,30 GHz – 8 GB de RAM) no LAESE (Laboratório de Eletrônica e Sistemas de Energia Elétrica da UFABC). 5.1 Teste Comparativo Um primeiro teste foi realizado com o objetivo de comparar o método de fluxo de carga proposto neste trabalho, batizado de Newton-M, com o método de varredura, BWFWS, apresentado em Eminoglu (2009). O sistema utilizado para o teste é composto por 34 barras, mostrado na Figura 5, e possui as seguintes características: 1 barra de subestação, 33 barras de carga, 33 linhas de distribuição e 4 laterais. Figura 5. Sistema com 34 barras. Os dados referentes a este sistema podem ser obtidos em Carvalho (2006). A Figura 6 apresenta os valores de módulo e ângulo fase das tensões, obtidos com o método de varredura, BWFWS, e pelo método proposta neste trabalho, batizado de Newton-M. Para todos os métodos, o critério de convergência especificado foi ξ=0,00001 pu. Figura 4. Diagrama da metodologia proposta. 5 Resultados O algoritmo apresentado foi desenvolvido utilizando-se o software Matlab. Os testes foram realiza- ISBN: 978-85-8001-069-5 Figura 6. Comparação entre os métodos – (a) tensão; (b) fase. 4207 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. Como resultado para as perdas do sistema, obteve-se 222,29 kW de perdas ativas e 65,27 kVAr de perdas reativas. O método Newton-M convergiu após 6 iterações, mesmo número que o método BWFWS, o que mostra sua aplicabilidade para sistemas de distribuição. Pode-se observar que os valores obtidos com o método de Newton-M correspondem aos valores obtidos com o BWFWS. Nos dois casos foi adotado flat-start como condição inicial. Pode-se concluir que o processo de convergência do Newton-M é tão rápido quanto o de varredura, pois em 6 iterações desse processo atinge-se uma solução que satisfaz a precisão desejada. A comparação entre os resultados dos dois métodos pode ser observada na Figura 7, onde o método Newton-M converge mesmo que a primeira iteração esteja mais distante da solução. Essa robustez se deve à característica do método de Newton-Raphson e à manipulação das matrizes esparsas J, o que permite um menor espaço de armazenamento e rapidez no processo de cálculo. É importante salientar que para esse sistema o método de Newton-Raphson tradicional não obteve solução. Figura 7. Convergência dos métodos. 5.2 Teste em Sistemas com Aerogeradores Para avaliação do impacto de aerogeradores em sistemas de distribuição foi estudado um sistema de 126 barras que representa um sistema real de distribuição na China (Yang et al., 2008), modificado especificamente para contemplar aerogeradores. Foi utilizado o método Newton-M, que trata a esparsidade das matrizes Y e J, com o objetivo de garantir e melhorar a convergência do processo iterativo do método Newton-Raphson para redes de distribuição. Para o posicionamento de aerogeradores foram escolhidas as barras nas quais houve maior queda de tensão no cálculo do FC sem a geração distribuída. A Figura 8 (rede de 126 barras) mostra a localização dos aerogeradores, cada um com potência ativa nominal de 2 MW, que estão posicionados diretamente nas barras de carga (PQ). Neste trabalho, essas barras permanecem como barras PQ mesmo com aerogeradores conectados às mesmas. Para o cálculo da potência ativa considerou-se a curva de velocidade dos ventos (v-P) e escorregamento fixo, em 1,2. Os fatores de corte adotados foram: velocidade de corte de entrada (cut-in) igual a 4 m/s e velocidade de corte (cut-out) igual a 25 m/s. Segundo Castro et al. (2011) e Liu et al. (2008), um DFIG pode ser modelado como sendo uma barra PQ com fator de ISBN: 978-85-8001-069-5 potência fixo, com a potência ativa dada pela curva v-P e a potência reativa definida pela potência ativa multiplicada pela tangente do ângulo do fator de potência (fixado em 0,92), fazendo com que a tensão nos terminais do aerogerador seja não controlada. Como o fluxo de carga é um método estático, foi utilizada a potência média em função da velocidade do vento, segundo uma distribuição de Weibull (Shujun e Yan, 2011) dada por: P (v ) = Pnom k ⎛v⎞ ⎜ ⎟ c ⎝c⎠ k −1 eh (4) k ⎛v⎞ (5) h = −⎜ ⎟ ⎝c⎠ onde P(v) é a potência ativa em função da velocidade do vento, Pnom é a potência nominal do aerogerador. O fator de forma k e o parâmetro de escala “c” são características locais da distribuição de ventos. Para o estudo, utilizou-se k = 1,552 e c = 3,222 conforme Ulgen e Hepbasil (2002). Figura 8. Sistema de distribuição com aerogeradores. Foram analisados quatro cenários: • Potência ativa = 0 (v < vcut-in); • Potência ativa injetada acima da velocidade de corte e abaixo da nominal (v = 7 m/s); • Potência ativa injetada acima da velocidade de corte e abaixo da nominal (v = 10 m/s); • Potência ativa injetada (v = 14 m/s). Esse é um sistema radial, sem a presença de malhas, em que a barra de referência (#126) está conectada ao PCC. O cálculo convergiu após 3 iterações (Figura 9), em todos os cenários. Figura 9. Convergência dos métodos. O perfil de tensões ao longo das barras pode ser observado na Figura 10. Quanto maior a potência ativa gerada pelos aerogeradores, mais próximo de 1 pu apresenta-se as tensões nas barras da rede como um todo. 4208 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. O sistema tem a barra de referência com a tensão de 1,05 pu e, apesar da acentuada queda de tensão nas barras próximas ao PCC no alimentador principal, observou-se que o sistema sem a geração distribuída tem a tensão dentro do limite de 5% em torno de 1 pu. ma de mau condicionamento da matriz Jacobiana (J), presente nas versões tradicionais do método de Newton-Raphson e de suas variações, foi eliminado pelo tratamento da esparsidade da matriz J. Testes com o sistema com 126 barras mostraram que a metodologia é robusta, mesmo com a inserção de aerogeradores. Uma avaliação mais profunda da inserção de geração eólica em redes de distribuição deve contar com a consideração da distribuição probabilística da velocidade dos ventos. A ferramenta computacional utilizada neste trabalho deverá ser aperfeiçoada através da implementação de um FC probabilístico, de forma a considerar também o regime de variação dos ventos presente no local da rede de distribuição. Figura 10. Perfil de tensões do sistema. Agradecimentos Todas as configurações de rede com aerogeradores apresentaram melhorias em relação à configuração sem a geração distribuída no que diz respeito à queda de tensão ao longo dos alimentadores. O perfil de tensões com a menor variação de tensão entre barras foi obtido com velocidade do vento igual a 10 m/s. Ao se analisar as perdas de potência ativa da rede apresentadas na Tabela 1, observou-se que as perdas relativas à potência ativa injetada foram menores para os casos em que houve geração eólica. Como a geração ficou mais próxima das cargas localizadas a jusante da barra de referência, houve incremento na eficiência do fluxo de carga no sistema. Um acréscimo de 2% na potência ativa total gerada resultou em uma diminuição da ordem de 6% nas perdas ativas totais. O sistema como um todo se beneficiou com a inserção de geração distribuída, tanto na tocante à diminuição de perdas de potência quanto na melhoria do perfil de tensões ao longo dos alimentadores. Tabela 1. Potência Ativa, Reativa e Perdas. v v v Base 7 m/s 10 m/s 14 m/s P total (kW) 500,0 502,4 506,9 510,0 P perdas (kW) 19,2 18,9 18,4 18,0 Q total (kvar) 300,0 301,4 304,0 305,7 Q perdas (kvar) 21,5 21,1 20,5 20,1 Perdas (%) 3,8 3,8 3,6 3,5 As perdas de potência ativa, considerando a potência máxima do aerogerador (v = 14 m/s) ocorrem principalmente no alimentador principal (98% da perda total). 6 Conclusões Neste artigo foi proposta uma metodologia para o cálculo do fluxo de potência em redes de distribuição, considerando a conexão de aerogeadores. A metodologia, denominada Newton-M, foi comparada ao método BWFWS, comprovando sua eficiência computacional para redes de distribuição. O proble- ISBN: 978-85-8001-069-5 Os autores agradecem aos suportes oferecidos pelo CNPq (480352/2010-0) e pela UFABC. Referências Bibliográficas Abu-Mouti, F.S. e El-Hawary, M.E. (2011). Optimal DG placement for minimizing power loss in distribution feeder systems using sensorydeprived optimization algorithm. In: 24th Canadian Conference on Electrical and Computer Engineering (CCECE), pp. 205-209. ANEEL (2012). Banco de Informações de Geração: <www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/ capacidadebrasil.asp>. Acesso em: 23/03/12. Carvalho, M.R. (2006). Estudo de técnicas eficientes para a resolução do problema de fluxo de potência para sistemas de distribuição radial. Dissertação de Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. Castro, L.M., Fuerte-Esquivel, C.R., TovarHernández, J.H. (2011). 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