morte e luto - WordPress.com

Transcrição

morte e luto - WordPress.com
MORTE E LUTO: DESAFIOS PARA
O PROFISSIONAL DE SAÚDE
1
Tânia Regina Corrêa de Souza
A PERDA DO OUTRO
2
O PROCESSO DE LUTO
Luto: Conjunto de respostas a uma perda irrevogável. É uma experiência
pessoal e única.
. Reações do luto normal:
¾Dimensão emocional do luto: choque, sensação de perda, negação, tristeza,
apatia, angústia, agitação, raiva, ansiedade, medo, culpa, alívio, solidão.
¾Dimensão intelectual do luto: descrença, preocupação, baixa concentração,
desorganização, déficit de memória, confusão, desorientação.
¾Dimensão física do luto: aperto no peito, vazio no estômago, boca seca, nó na
garganta, falta de ar, distúrbios do sono, distúrbios alimentares.
¾Dimensão espiritual do luto: sonhos, perda da fé, raiva de Deus, dor
espiritual, questionamento de valores, traição de Deus.
¾Dimensão social do luto: perda da identidade, isolamento, falta de interação,
perda da habilidade para se relacionar socialmente.
3
FASES DO PROCESSO DE ENLUTAMENTO
¾ Entorpecimento: dura até uma semana, mesclado por acessos de raiva e
tristeza.
¾ Anseio ou Protesto: emoções fortes e agitação física. O enlutado fica a
procura da pessoa perdida.
¾ Desespero: é a fase mais difícil, lenta e dolorosa provocando apatia,
depressão e desmotivação pela vida.
¾ Recuperação: Sentimentos positivos e adaptação às mudanças e
tornando possível o investimento afetivo em novas situações ou figuras
de apego.
Funções básicas: aceitar a realidade da perda, elaborar a dor da perda e
ajustar-se a um ambiente onde falta o objeto perdido.
4
CLASSIFICAÇÃO DO LUTO COMPLICADO
¾ Luto crônico: prolongamento indefinido do luto.
¾ Luto inibido: ausência dos sintomas do luto normal.
¾ Luto adiado: sem reações imediatas à morte, apresentando mais tarde
sintomas de luto distorcido.
5
FATORES DE RISCO INIBIDORES DO LUTO
¾No enlutado: idade, sexo, baixa auto-estima e perdas mal elaboradas.
¾Da relação com o morto: tipo de parentesco ou relação (ambivalência,
dependência ou segurança).
¾Causas e circunstâncias da perda: inesperada ou prematura (acidente,
suicídio ou assassinato),“luto antecipatório”.
¾Suportes sociais: ausência de família ou família não suportiva, falta de
perspectiva de vida.
¾Personalidade do enlutado: capacidade de responder a situações
estressantes.
¾Luto não reconhecido: ídolos, amantes e aborto.
6
“A dor do luto é o preço que se paga pelo amor e pelo
compromisso”
Parkes, 98
Formas de ajudar o enlutado e/ou família:
ajuda mútua
¾ aconselhamento
¾ grupo de apoio
¾ psicoterapia
Objetivo:
¾ reconstruir a identidade e a vida.
Princípios:
7
1. Deixar falar sobre a perda é o melhor remédio.
2. Confortar, e não tentar conformar.
QUANDO O LUTO TERMINA?
Não é possível prever o tempo de duração do luto, nem sua
intensidade.
Dificilmente a elaboração ocorre num período menor que um ano.
Sinais de término do luto:
8
lembrar e falar do falecido sem dor e sem tristeza.
não ter manifestações psicológicas e físicas
reorganização da vida
adaptação a novos papéis
A PERDA DE SI MESMO
O PACIENTE,
O LUTO E A
MORTE.
9
Segundo Klubler-Ross (estudo com pacientes com câncer,
1998):
1o. Estágio - Negação e Isolamento
2o. Estágio - A Raiva
3o. Estágio - Barganha
4o. Estágio - Depressão
5o. Estágio - Aceitação
10
ESPERANÇA
Segundo Souza (estudo com pacientes com aids, 2008):
EVENTOS
ESTRESSANTES
11
FASES
(PERDAS PRINCIPAIS)
PERDAS
SECUNDARIAS
PRINCIPAIS SENTIMENTOS E
EMOÇOES
SERVIÇO DE
SAÚDE
- choque
- descrença
- fantasias de morte
- medo
- angústia
- CTA
- Atenção
Básica
- insegurança
- baixa auto-estima
- medo da discriminação
- repressão da afetividade
- desgaste emocional causado
por incertezas
- SAE
1º Impacto do
diagnostico
PERDA DA
IMORTALIDADE
2ºComunicação da
soropositividade a
parceiros, amigos e
familiares.
PERDA DA
IDENTIDADE
3º Diagnostico de
aids, inicio do
tratamento,
infecções
oportunisticas.
PERDA DA SAUDE
- acentuam-se as
perdas da fase
anterior
- auto-imagem
- auto-estima
- risco iminente de adoecer
- medo:
*evidência pública do
diagnóstico
*efeitos colaterais dos ARV
* processo de adoecimento
- SAE
- HD
- ADT
- HC
4ºAgravamento do
quadro clinico,
primeira internação
hospitalar.
PERDA DA
ESPERANÇA
- acentuam-se as
perdas da fase
anterior
- independência
- autonomia
- desesperança
- dependência
- renuncia
- resignação
- medo do sofrimento e da morte
- fantasias de fase final de vida
- angústia de separação
- necessidade de reavaliar a vida
- ADTP
- HC
-------
- afetivas
- sexuais
- sociais
- profissionais
ASSISTÊNCIA NO LUTO
Relações do paciente:
com a equipe : vínculo + (acolhimento)
com a doença : vínculo - (dor total e insucesso no tratamento)
com a família : vínculo + (família deve ser suportiva)
¾ participação nas diferentes fases da doença
(diagnóstico/aguda/crônica/terminal/morte);
12
¾
auxiliar na elaboração do luto, novas formas de enfrentamento e
reorganização da vida;
¾
buscar sistemas de apoio formal e informal (rede de suporte social);
¾
ajudar o paciente e a família a expressarem seus desejos e sentimentos;
¾
ajudar o paciente a resolver pendências;
¾
ajudar no processo de despedida.
Com relação a família:
¾
¾
¾
¾
¾
13
passa pelos mesmos estágios e perdas;
necessita de um espaço para receber informações, tentar resolver
problemas, discutir seus medos, chorar , compartilhar sua angustia e dor;
identificar formas de enfrentamento;
ajudar a família a aceitar a realidade da perda e lidar com a separação e
o luto;
ajudar no processo de despedida;
¾
garantir que a família fez tudo que estava ao seu alcance (diminuir
culpas);
¾
auxiliar na adaptação à vida sem a pessoa;
¾
reconstruir a identidade e a vida.
A MORTE E OS
PROFISSIONAIS DE SAÚDE
14
ADOECER E MORRER
Até o Século XIX:
¾
¾
¾
¾
¾
¾
morte anunciada e natural
evento social
a morte era em casa, hospital tinha
o objetivo de curar
preparação de rituais pelo próprio
doente
não havia tecnologia
profissional de saúde: impotência
e portador de más notícias
Idade Moderna:
¾
¾
¾
¾
¾
¾
15
morte = fracasso (corpo, médico,
sistema de saúde, sociedade e
Deus)
a morte ocorre em hospital e
velórios
preparação é impessoal (legal) e
pela família
tecnologia e recursos terapêuticos
o tempo de vida não é previsto
(esperança)
necessidade de cuidar do
profissional de saúde
Quem é o profissional de saúde?
Perez on Medicine
De onde provém o Sofrimento Psíquico no
trabalho com a saúde ?
17
Dor psíquica do
contato com
sofrimento do
outro, com a
doença e a morte.
Dificuldades técnicas,
tempo quantitativo x
qualitativo, sobrecarga
de tarefas, baixo
salários.
DO OUTRO
ORGANIZAÇÃO
DO TRABALHO
Dificuldades
pessoais e sociais
DE SI MESMO
ANGÚSTIA
STRESS
A DOR DO OUTRO
¾
¾
¾
¾
¾
¾
perdas e lutos não constam dos objetivos da saúde, despreparo dos
profissionais;
o impacto da doença +do doente + stress psicológico dos familiares;
reexperimentação de medos infantis de separação e abandono;
medo de sua própria mortalidade;
lidar com a intimidade corporal e emocional;
lidar com incertezas e limitações;
¾ perdas múltiplas e sucessivas levam a sobrecarga emocional;
¾ dor não é reconhecida.
18
RESULTADOS DO STRESS:
¾ Alto nível de tensão;
¾ Baixa auto-estima;
¾ Angústia;
¾ Ansiedade;
¾ Faltas ou abandono de tarefas;
¾ Mudanças constantes de emprego;
¾ Problemas de saúde;
¾ Síndrome de Bournout (stress crônico).
“A dor é inevitável neste caso e não pode ser evitada...” (Parkes, 1972)
19
DEFESAS:
¾ Objetivam facilitar a fuga de situações de ansiedade, dúvida, culpa,
incerteza.
¾ Facilitam a interação entre o TÉCNICO X PACIENTE no ambiente
hospitalar.
¾ Podem ser despertadas contra processos contratransferências.
¾ Podem dificultar a relação profissional paciente.
20
Fatores de risco: vínculo, tratamento prolongado, pacientes que cativam toda
equipe, pacientes de difícil manejo, pacientes com quem se identifica e
paciente que é colega.
POSTURAS DOS PROFISSIONAIS
(estratégias de enfrentamento)
21
¾
Calosidade profissional - a prática traz indiferença total à dor do paciente,
de maneira a não ser tocado pelo sofrimento dele.
É a mais encontrada, fria e distante. Identidade profissional é preservada.
Não humanizada.
Foco: doença
¾
Distanciamento crítico - a dor do paciente é aprendida e compreendida na
totalidade de sua essência (modelo = relação psicoterapêutica).
É a mais adequada, postura de equilíbrio, permite ampla intervenção.
Foco: doente – escuta e compreensão dos sentimentos.
¾Empatia genuína - envolvimento com o paciente sem estabelecer
qualquer tipo de barreira, o profissional não resguarda limites de sua
vida pessoal.
Vínculo transcende o relacionamento profissional e paciente. A dor
pode ser a mesma para os dois.
Ex: médico de família
¾Profissionalismo afetivo - trabalho sistematizado, sem que o
envolvimento profissional escape ao controle do profissional.
Respeito pelo doente e doença, mas com certo distanciamento.
Pode ser aprendida, é a que mais se aproxima das condições
tecnológicas das instituições nos dias de hoje.
Camon - 2002
22
CLASSIFICAÇÃO DAS DEFESAS
¾
¾
¾
¾
¾
Fragmentação da relação técnico-paciente: divisão de tarefas para diminuir
tempo de contato com o paciente.
Despersonalização e negação: não existem doentes, mas sim doenças.
Todos os pacientes são iguais.
Distanciamento e negação: sentimentos e identificações são barradas,
evitadas.
Eliminar decisões: rotinas, protocolos e padronizações de condutas.
Redução do peso da responsabilidade: estrutura formal, hierarquização e
sistema de papéis.
PITTA - 2003
23
MECANISMOS PARA ADAPTAÇÃO AO STRESS
¾ Construção de uma couraça impermeável às emoções e sentimentos;
¾ Isolamento social;
¾ Negação ou minimização dos problemas;
¾ Ironia e humor negro (jargões, rótulos Ex: SPP)
¾ Médico: cuida de si mesmo, da família e amigos.
Nogueira-Martins - 1991
24
Como cuidar do profissional da saúde?
¾ Emoções devem ser identificadas, atendidas e cuidadas.
¾ Evitar negação ou repressão da emoção.
¾ Suporte :
* Espaço de reflexão e diálogo
* Vivências que possibilitem a expressão de sentimento - perda e
morte, relação da equipe, família, comunicação ......
¾ Supervisão sistemática
¾ Oferecer cursos e treinamentos que instrumentalizem os profissionais.
¾ Estimular atividades que diminuam o stress
( coral, massagem, comemorações, celebrações ...)
25
“PODEMOS ATÉ NÃO LEMBRAR DE
QUEM PARTILHOU NOSSA ALEGRIA,
MAIS JAMAIS ESQUECEREMOS QUEM
CHOROU DIANTE DE NOSSA DOR...”
26
CAMON - 2002
BIBLIOGRAFIA:
•
•
•
•
•
•
•
•
27
Bowlby, J. Formação e Rompimento dos laços afetivos. Martins Fontes, SP, 1979.
Bromberg, M.H.P.F. A Psicoterapia em situações de Perdas e Lutos. Psy II, Campinas,
1998.
Bromberg, M.H.P.F. Estudos Avançados sobre o Luto. Editora Livro Pleno, Campinas,
2002.
Camon, V. A. A. Urgências Psicológicas no HOSPITAL. Pioneira, São Paulo, 2002.
Kovács, M. J.Morte e Desenvolvimento Humano. Casa do Psicólogo, São Paulo, 1992.
Kúbler-Ross, E. Sobre a Morte e o Morrer. Editora Martins Fontes, São Paulo, 1987.
Parkes, C. M. Luto: Estudos sobre Perdas na Vida Adulta. Summus, São Paulo, 1998.
Pitta, A. Hospital – dor e morte como ÓFÍCIO. Editora Hucitec, São Paulo, 1994.
TANIA REGINA CORREA DE SOUZA
Coordenação Estadual DST/Aids
Rua Santa Cruz, 81
Tel: 5084.5235
São Paulo - S.P. - cep: 04121-000
28
Email: [email protected]

Documentos relacionados

O processo de luto na vida adulta decorrente de morte de um ente

O processo de luto na vida adulta decorrente de morte de um ente variações de uma sociedade para outra. A relação entre o pouco encorajamento da sociedade para expressar o pesar assim como o número de problemas manifestados após a perda e a influência da rede so...

Leia mais