Folha 048
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EP336p048_050 22.10.04 17:52 Page 48 DIREITOS HUMANOS “Sei que vou terminar minha vida num tubo de oxigênio, mas não quero morrer me sentindo uma ” formiguinha S E B A S T I Ã O A LV E S D A S I LV A , ex-operário da Brasilit Raphael Falavigna/ÉPOCA ASFIXIA Sebastião perdeu parte do pulmão esquerdo de câncer e o direito pela asbestose Morto pelo amianto O ex-operário da Brasilit Sebastião Alves da Silva, símbolo internacional da luta contra a fibra cancerígena, perdeu sua última batalha ELIANE BRUM S ebastião Alves da Silva parou de respirar às 23h20 da sexta-feira 15. Ele só tinha um pedaço do pulmão esquerdo, o resto tinha sido roubado pelo câncer. O que sobrou do órgão e todo o pulmão direito foi paralisando e endurecendo ao longo dos últimos anos numa doença chamada asbestose. Causada pela contaminação por amianto (asbesto), ela é conhecida como “pulmão de pedra”. Havia 100 dias que Sebastião estava ligado 24 horas a máquinas de oxigênio. Tinha completado 66 dias de internação no Hospital das Clínicas, de São Paulo. Às 19 horas daquela sexta-feira, ele não conseguia falar. Ergueu a mão e acenou para a esposa, Irene. Sucumbiu quatro horas depois, quando os pulmões não consegui- 48 ram mais fazer o movimento de inspiração-expiração. Sebastião, então, morreu por asfixia. Acabara de completar 68 anos de idade e 46 de casamento. Há três anos, Sebastião disse a ÉPOCA: “Eu sei que vou terminar minha vida amarrado a um tubo de oxigênio. Só não quero morrer me sentindo uma formiguinha”. Símbolo internacional da luta contra o asbesto, Sebastião não queria ser esmagado pelo poder das multinacionais do amianto. Suas últimas imagens estarão no documentário A Lenta Morte do Amianto, dedicado a ele pela TV franco-alemã Arte. No início deste mês, a Al Jazeera havia feito uma matéria sobre o operário para o mundo árabe. Ex-funcionário da Brasilit de São Caetano, em São Paulo, onde entrou adolescente e saiu aposentado, Sebas- tião tornou-se uma referência por sua quase inabalável resistência. “Cada um que fizer acordo enfraquece a nossa luta”, dizia aos companheiros. Ele tinha vencido em ação na Justiça, mas a Brasilit recorreu. Em 29 de setembro, quando estava havia 50 dias no hospital e só conseguia balbuciar umas poucas palavras, fechou um acordo com a empresa por meio de seus advogados. No dia 8 deste mês, o recibo foi assinado. Morreu no mesmo dia em que o cheque de R$ 58 mil foi descontado no banco. A esposa diz que a parte da família foi de R$ 38 mil. A maior parcela do dinheiro foi consumida para pagar dívidas contraídas ao longo de seis anos de doença. A Brasilit, que faturou R$ 260 milhões em 2003, substituiu o amianto como matéria-prima por fio de polipropileno. “Pagamos ao Sebastião valor ä ÉPOCA 25 DE OUTUBRO, 2004