cn photoes torre

Transcrição

cn photoes torre
ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DO MERCADO SEGURADOR
ANO 89 Nº887 OUTUBRO/ NOVEMBRO/ DEZEMBRO DE 2013
Seis projetos ganham o troféu Antônio Carlos
de Almeida Braga em cerimônia que comemorou
também os bons resultados do ano
A Constituição Federal, 25 anos depois de promulgada, continua tão contemporânea quanto em 1988,
afirma o ex-ministro do STF, Eros Grau, em entrevista exclusiva sobre a última Carta Magna do Brasil.
sumário
05
Entrevista
Prêmio Inovação
Ministro aposentado do STF, Eros Grau
faz análise dos 25 anos de promulgação
da Constituição de 1988, que, a seu ver,
continua atualizada.
Durante almoço de confraternização, foram
anunciados os vencedores da terceira edição do
Prêmio. Além de relevantes para a sociedade, os
projetos tinham identificação com os PSI.
Comissões Temáticas
Balanço das atividades dos grupos de
trabalho revela conquistas e aponta desafios
para 2014, como o avanço nas certificações
e a melhoria da imagem do seguro.
08
Insurance Meeting
Os prováveis cenários da economia mundial
e as novas tecnologias que terão impacto na
indústria de Seguros foram temas debatidos
na sétima edição do evento, em novembro.
18
Saúde
30
Levantamento inédito da FenaSaúde relaciona
o acesso à saúde privada ao Índice de Desenvolvimento Humano por Município, que é maior
nos locais com coberturas de saúde mais altas.
Capitalização
32
As variadas opções de uso dos títulos
foram reunidas em livro, com prefácio de
Michel Temer, que detalha as quatro principais modalidades da Capitalização.
Fatca
Seguro Garantia
Até abril, todos os produtos oferecidos pelas
seguradoras terão de estar alinhados com os
termos da Circular Susep 477, que substitui a
232, depois de dez anos de vigência.
22
36
Para manter negócios com empresas americanas, seguradoras brasileiras terão que aderir voluntariamente à lei criada nos Estados
Unidos para combater a evasão fiscal.
38
E Mais... 4 – Editorial; 15 – Fides; 16 – 25 anos da Carta Magna; 25 – Biblioteca; 26 – Pesquisa; 28 – Sustentabilidade; 34 – Cascos Marítimos;
40 – Capital Estrangeiro; 42 – Estudo CNseg; 44 – ENS; 46 – Opinião.
EXPEDIENTE
Gouvêa Vieira, Nilton Molina, Pedro
Cláudio de Medeiros B. Bulcão, Pedro
Pereira de Freitas, Sebastian Ramon
Arcuri, Thierry Marc Claude Claudon,
William Alan Yates e Wilson Toneto.
PRESIDENTE
Marco Antonio Rossi
1º VICE-PRESIDENTE
Jayme Brasil Garfinkel
VICE-PRESIDENTES NATOS
Marcio Serôa de Araujo Coriolano,
Marco Antônio da Silva Barros, Osvaldo do Nascimento e Paulo Miguel
Marraccini
VICE-PRESIDENTES
Mário José Gonzaga Petrelli
Patrick Antônio Claude de
Larragoiti Lucas
DIRETOR NATO
Luiz Tavares Pereira Filho
DIRETORES
Acacio Rosa de Queiroz Filho, Alexandre Malucelli, Antonio Cássio dos
Santos, Antonio Eduardo Márquez
de Figueiredo Trindade, Francisco
Alves de Souza, João Francisco Silveira Borges da Costa, Jorge Hilário
CONSELHO FISCAL
Presidente
Marco Antonio Rossi
Membros Natos
Jayme Brasil Garfinkel, Marcio Serôa de
Araujo Coriolano, Marco Antônio da Silva
Barros, Marco Antonio Rossi, Osvaldo
Nascimento e Paulo Miguel Marraccini
Efetivos
Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
José Maria Souza Teixeira Costa
Júlio César Rosa
Suplentes
Haydewaldo Roberto Chamberlain da
Costa e Laenio Pereira dos Santos
CONSELHO SUPERIOR
Presidente
Marco Antonio Rossi
Membros
Acacio Rosa de Queiroz Filho,
Carlos dos Santos, Francisco
Caiuby Vidigal, Jorge Estácio
da Silva, Mário José Gonzaga
Petrelli, Nilton Molina, Patrick
Antônio Claude de Larragoiti
Lucas, Pedro Pereira de Freitas,
Pedro Purm Junior e Thierry Marc
Claude Claudon
Membros de Notório Saber
Alberto Oswaldo Continentino de
Araújo, Eduardo Baptista Vianna,
João Elisio Ferraz de Campos, José
Américo Peón de Sá, Jorge Hilário
Gouvêa Vieira e Paulo Egydio Martins
Membros dos Sindicatos
Augusto Frederico Costa Rosa de
Matos, João Gilberto Possiede, João
Giuseppe Silveira Leite Esmeraldo, Júlio
César Rosa, Mauro César Batista, Múcio Novaes de Albuquerque Cavalcanti,
Paulo Lückmann, Roberto de Souza
Santos, Francisco Alves de Souza
REVISTA DE SEGUROS
Órgão de divulgação
do mercado segurador
PUBLICAÇÃO INTEGRANTE DO
CONVÊNIO DE IMPRENSADO
MERCOSUL – COPREME.
Em conjunto com SIDEMA (Serviço
Informativo do Mercado Segurador
da República Argentina), EL PRODUCTOR (Publicação da Associação
de Agentes e Produtores de Seguro
da República Oriental do Uruguai) e
Jornal dos Seguros (Publicação do
Sindicato dos Corretores de Seguros
e de Capitalização do Estado
de São Paulo).
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cunha, Luiz Peregrino
Fernandes Vieira da Cunha, José
Cechin, José Ismar, Alves Tôrres,
Neival Rodrigues Freitas, Solange
Beatriz Palheiro Mendes.
Editora-chefe
Ângela Cunha (MTb/RJ12.555)
Coordenação Editorial
VIA TEXTO AG. DE COMUNICAÇÃO
[email protected]
21 - 2262.5215
Jornalista Responsável
Vania Mezzonato – MTb 14.850
Assistente de produção
Patricia Stanzione
Mena, Rosane Bekierman, Shutterstock
e Thelma Vidales
Projeto Gráfico
Tapioca Comunicação
Redação e Correspondência
Superintendência de
Comunicação – CNseg
Adriana Beltrão, Claudia Mara e
Vagner Ricardo.
Rua Senador Dantas, 74/12º andar,
Centro - Rio de Janeiro/RJ
CEP. 20031-201
Telex: (021) 34505-DFNES
Fax: (21) 2510.7839
Tel. (21) 2510.7777
www.viverseguro.org.br
E-mail: [email protected]
Colaboradores
Bianca Rocha, Claudio Souza, Denise
Bueno, João Maurício Rodrigues,
Jorge Clapp, Larissa Morais, Marcia
Alves, Rodolfo Campos, Vagner
Ricardo e Vania Mezzonato
Fotografia
Alessandro Mendes, André Durão, Antranik Photos, Arquivo CNseg, Divulgação
ENS, Divulgação FenaSaúde, Pedro
Escritório CNseg/Brasília
SCN/Quadra1/Bloco C
Ed. Brasília
Trade Center – sala 1607
Gráfica: Walprint
Distribuição: Serviços Gerais/CNseg
Periodicidade: Trimestral
Circulação: 5 mil exemplares
Distribuição Gratuita
REVISTA DE SEGUROS • 03
editorial
Resultado positivo
de 2013 impõe
desafios a 2014
Ângela Cunha - Editora
O mercado segurador brasileiro se despede
de 2013 com um balanço positivo e,
consequentemente, com uma agenda para
2014 ainda mais compromissada com a
contínua evolução do setor.
Metas sustentáveis
A Comissão de Sustentabilidade
da CNseg lançou metas que as
seguradoras brasileiras deverão
perseguir até 2015, com base nos
Princípios para Sustentabilidade
em Seguros (PSI). São quatro metas que tornarão as atividades das
empresas mais alinhadas ao desenvolvimento sustentável. A adesão é voluntária.
No próximo questionário que as
seguradoras terão que responder
para elaboração do Balanço Social
do setor, haverá um conjunto de
perguntas que terão o objetivo de
avaliar com precisão o percentual
de empresas que estão se aproximando das metas.
Para estabelecer os temas materiais do setor que serão trabalhados com as seguradoras, a Comissão de Sustentabilidade contratou
uma consultoria. Em cerca de seis
meses, a empresa entregará um
documento apontando os tópicos
específicos que as seguradoras
deverão reformular, em suas práticas e contratos, no que se refere à
sustentabilidade.
04 • REVISTA DE SEGUROS
G
raças ao bom desempenho dos
quatro segmentos – Seguros
Gerais, Previdência e Vida, Saúde
Suplementar e Capitalização –, a estimativa é de que o setor feche o ano
com crescimento de 15% e passe
a representar 6% do PIB (Produto
Interno Bruto). Somente os volumes
das reservas técnicas e do patrimônio
líquido das empresas somaram, até
outubro, R$ 456 bilhões e R$ 103
bilhões, respectivamente.
Resultado desse porte, num ano mundialmente afetado por crises econômicas e catástrofes naturais, somente
é encontrado no norte asiático. Por
isso, o presidente da CNseg, Marco
Antonio Rossi, afirmou que o mercado brasileiro cresce em ritmo chinês,
durante almoço de final de ano com a
imprensa, realizado em dezembro, em
São Paulo, com a presença de jornalistas de veículos de comunicação de
várias regiões do País.
Os números são apenas a ponta de
um enorme iceberg, constituído e
movido por pessoas, profissionais
cujo trabalho se reflete tanto nas
empresas em que atuam quanto no
mercado como um todo. Centenas
deles, cerca de 500, por exemplo,
participam das 14 Comissões Temáticas da CNseg. Ao longo de 2013
foram realizadas mais de cem
reuniões técnicas que discutiram
questões essenciais para a atividade
seguradora, conforme retrata a matéria que faz um balanço das atividades
das Comissões Temáticas da CNseg.
Acrescentem-se a essa lista, a realização de mais 30 eventos (seminários, workshops, conferências, palestras) e o apoio institucional a outros
tantos, promovidos por entidades
parceiras, sobre os mais variados temas. Alguns desses eventos também
estão registrados nesta edição.
Na pauta da CNseg também não
faltaram ações com vistas ao estreitamento das relações com os órgãos
de Governo e entidades de defesa do
consumidor e aquelas ligadas à sustentabilidade – este último, tema que
encerrou o calendário de eventos do
mercado, com a cerimônia de entrega
do Prêmio Antônio Carlos de Almeida
Braga de Inovação em Seguros para
o Desenvolvimento Sustentável aos
vencedores da terceira edição, durante almoço de confraternização de
final de ano do mercado segurador.
O evento aconteceu no Copacabana
Palace, no Rio de Janeiro, com a
presença de cerca de 400 pessoas,
entre elas, muitas lideranças do setor.
Confira a cobertura completa do
evento a partir da página 8.
O desafio agora é superar um ano
de tantas conquistas como foi o de
2013. E o amanhã, segundo Marco
Antonio Rossi, cabe a cada trabalhador do mercado.
Um ótimo 2014 para todos!
entrevista
“A Constituição
acompanha a realidade”
Por Vania Mezzonato
Aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF)
desde 2010, Eros Roberto Grau, 73 anos, voltou a atuar
recentemente (em 26 de novembro) como advogado no
plenário da mais alta corte do País, defendendo o Banco
do Brasil no julgamento de processos que questionam
perdas na caderneta de poupança decorrentes de planos
econômicos das décadas de 1980/90.
atuação mostra a versatilidade
deste advogado gaúcho que, em
2004, foi indicado pelo então presidente Lula para ocupar a cadeira vaga
na Suprema Corte com a aposentadoria do ministro Maurício Corrêa.
No STF, relatou processos importantes, como o que rejeitou ação
proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que questionava
a abrangência da Lei da Anistia para
casos de tortura e crimes comuns,
cometidos por civis e agentes do
Estado durante o regime militar
(1964-1985). Ele mesmo foi preso e
torturado na década de 1970.
O ministro teve de se aposentar compulsoriamente do STF ao completar
70 anos, idade-limite para magistrados que atuam no serviço público, e
não chegou a ocupar a presidência
da Corte. Com um perfil que foge às
formalidades da toga, há anos Eros
Grau se dedica à literatura e já coleciona mais de 40 livros publicados
Arquivo Eros Grau
A
– entre eles, publicações ficcionais de
caráter lúdico e cheio de reminiscências.
É doutor honoris causa pelas
universidades francesas CergyPontoise e Havre e da argentina
Siglo 21. Também foi professor
visitante da Sorbonne e Montpellier.
Dedicou quase 30 anos de sua
vida à Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo
(USP), onde conheceu o então
sindicalista Luiz Inácio Lula da
Silva, que mais tarde o nomearia
para a Suprema Corte.
Natural de Santa Maria, no Rio
Grande do Sul, Eros Grau mantém
uma belíssima casa de estilo colonial na cidade mineira de Tiradentes, e concedeu esta entrevista
exclusiva à Revista de Seguros,
comentando os 25 anos de promulgação da Constituição de 1988.
Para ele, a Carta mantém-se contemporânea à realidade, pois tudo
que se passa à sua margem, a ela
se incorpora. “Por isso mesmo a
Constituição – tal como é interpretada e aplicada, nas e com as normas
produzidas a partir do seu texto –
acompanha a realidade”, afirma.
REVISTA DE SEGUROS • 05
entrevista
Arquivo Eros Grau
REVISTA DE SEGUROS: Como
o senhor avalia a atualidade da
Constituição de 1988? A Carta
envelheceu ou permanece adequada
à realidade 25 anos depois de sua
promulgação?
As alterações
no texto da
Constituição
importam
menos do que as
virtualidades da
sua interpretação.
Tanto isso é
verdadeiro que
sua conformação à
realidade apavora
os que ousam
apropriar-se da
res pública.
Eros Roberto Grau
06 • REVISTA DE SEGUROS
EROS ROBERTO GRAU: A interpretação da Constituição é a transformação
de seus textos em normas. O intérprete parte do texto da Constituição
e desvenda, revela suas normas. As
normas da Constituição são produzidas por quem a interpreta. O texto
da Constituição de 1988 diz o que os
seus intérpretes autênticos – os juízes
– afirmam que ela diz. As normas
jurídicas nela contidas resultam da
interpretação do seu texto, no quadro
da realidade no âmbito e no momento
da qual interpretado. Aprendemos
com Ferdinand Lassale a distinguir a
Constituição formal da constituição
material. O mundo do dever ser é um
espelho do mundo do ser. Os movimentos do mundo do ser no outro se
compõem.
RS: Há sintonia entre as diversas
interpretações do texto constitucional
por parte dos magistrados?
ERG: Nunca interpretamos apenas
o texto da Constituição formal, mas
também a realidade da constituição
material. A Constituição formal conforma a realidade, mas é determinada
pela realidade, de sorte que a distinção entre uma e outra, a Constituição formal e a constituição material,
apenas se pode operar no plano do
pensamento abstrato. E a intrusão
de uma na outra, e vice-versa, dá-se
em pleno movimento. Os juízes não
compreendem e aplicam somente o
texto da Constituição formal. As deci-
sões por eles tomadas resultam dos
movimentos das forças hegemônicas,
tais como eles as compreendem. Se
formos capazes de entender que as
coisas se passam assim, teremos
condições de compreender, também,
como se constituiu o texto da Constituição de 1988 e como ele permanece
contemporâneo à realidade, hoje,
aqui, agora.
RS: A Carta é suficiente à organização
das relações e conflitos sociais hoje
existentes e à defesa dos direitos de
cidadania dos brasileiros?
ERG: A composição do contraditório
e a transgressão são da essência do
sistema. É isso que imprime fluência ao sistema. Algo que se passa à
margem da Constituição, mas a ela
se incorpora. Por isso ela está sendo
diuturnamente atualizada, de modo a
permanecer contemporânea à realidade – isto é, à constituição material. Por
isso mesmo a Constituição – tal como
é interpretada e aplicada, nas e com
as normas produzidas a partir do seu
texto – acompanha a realidade.
RS: O mesmo se aplica à constituição
material?
ERG: A constituição material muda e,
por conta disso, as normas constitucionais são produzidas, pelo intérprete, de modo adequado a essas
mudanças. A Constituição do Brasil
continua a ser a mesma de 1988, mas
permanece atual. Na sua totalidade, a
Constituição dá-nos instrumentos de
atuação sobre o mundo do ser.
A força normativa possível latente de
seus preceitos coloca à disposição
dos que a aplicam, os juízes, potencialidades normativas inusitadas, a
A suposição de que
se possa reformar
o modo de produção
social dominante
mediante reformas
constitucionais
é ilusória. Presta-se
unicamente a
legitimar esse
modo de produção
social, a serviço do
qual se põe.
Eros Roberto Grau
Arquivo Eros Grau
serem desencadeadas, é verdade, se
e quando a realidade, ou seja, a constituição material, o permitir.
RS: A sociedade brasileira mudou
muito nestes 25 anos. A família, o trabalho, a vida social sofreram grandes
alterações. As 74 emendas constitucionais que ocorreram foram suficientes para atualizar a Carta Magna?
ERG: As alterações no texto da
Constituição importam menos do que
as virtualidades da sua interpretação.
Tanto isso é verdadeiro – estamos a
ver, tragicamente, ser assim – que sua
conformação à realidade apavora os
que ousam apropriar-se da res pública. Os que a negam ao descumprir a
velha regra do honeste vivere. Quando
o Estado cumpre suas funções, na e
pela face do Poder Judiciário, é desabridamente desafiado.
RS: A desigualdade social ainda é a
mãe das mazelas que atingem nosso
país. Em que o texto de 1988 contribuiu para a redução da desigualdade
nestas últimas décadas?
ERG: As desigualdades sociais não
serão corrigidas no plano do dever
ser constitucional. A suposição de
que se possa reformar o modo de
produção social dominante mediante
reformas constitucionais é ilusória.
Presta-se unicamente a legitimar
esse modo de produção social, a
serviço do qual se põe. Ela terá, a
Constituição que aí está, desnudado um pouco mais os processos de
dominação instalados entre nós. Ao
mesmo tempo, no entanto, aprimorou mecanismos de legitimação do
sistema. Vejo com olhar de ironia
certas afirmações que ela proclama,
meramente formais.
RS: Priorizando os direitos sociais
e colocando muitos deles como de
obrigação de fornecimento ou cumprimento do Estado, como a saúde e a
educação, o déficit no seu atendimento levou multidões às ruas das capitais
brasileiras nos protestos populares
que se multiplicaram no segundo
semestre deste ano. O que há de
ser reformado no texto constitucional
para uma melhor atuação do Estado
nesses campos?
ERG: O que tem levado multidões às
ruas, a meu juízo, é a ausência de
horizontes político-sociais capazes
de comover os jovens, a carência
de ideais e essa coisa inusitada
das redes sociais, incontroláveis no
plano social. E aqui, além disso, hoje
e agora, a amoralidade de uns e a
imoralidade de tantos.
REVISTA DE SEGUROS • 07
Rosane Bekierman e André Durão
Confraternização e Prêmio
08 • REVISTA DE SEGUROS
Mercado
comemora os
bons resultados
do ano
Por Vania Mezzonato
No almoço de confraternização,
foram anunciados os vencedores
da terceira edição do Prêmio
Antônio Carlos de Almeida Braga
de Inovação em Seguros.
N
o elegante Salão Cristal do Hotel Copacabana
Palace, decorado com elementos tropicais,
os líderes do mercado segurador brasileiro
reuniram-se no dia 19 de dezembro para o almoço
de confraternização de final de ano. Na ocasião,
foram anunciados pelo mestre de cerimônia, o
apresentador Otaviano Costa, os vencedores
da terceira edição do Prêmio Antônio Carlos de
Almeida Braga de Inovação em Seguros para o
Desenvolvimento Sustentável, promovido
anualmente pela CNseg.
Mais de 400 pessoas estiveram presentes ao
evento, que contou com a participação de
Bruno Sobral, diretor de Fiscalização da ANS,
do superintendente da Susep, Luciano Portal
Santanna, e do presidente da Fenacor, Armando
Vergilio, além de executivos de seguradoras,
das empresas de Capitalização, de Previdência
Privada e das operadoras de Saúde e dos
presidentes das Federações: Marco Barros
(FenaCap), Osvaldo do Nascimento (FenaPrevi),
Marcio Coriolano (FenaSaúde) e Paulo
Marraccini (FenSeg).
REVISTA DE SEGUROS • 09
Confraternização e Prêmio
“O setor de seguros promove o desenvolvimento econômico do País, o bem-estar e a saúde do consumidor,
que está cada vez mais exigente. Como órgão regulador,
esperamos inovar cada vez mais e que a relação com o
mercado seja sempre justa, sem abrir mão
dos direitos da sociedade”, disse Bruno Sobral, que
representava o presidente da ANS, André Lobo,
na confraternização.
Para Luciano Portal, o ano de 2013 foi extremamente
positivo, com destaque para a aprovação de normativos
que dão mais impulso ao mercado, como a resolução
CNSP que disciplina venda de seguros no varejo
brasileiro; a regulamentação da venda de seguros por
meios remotos e correções no processo administrativo
da autarquia.
Rosane Bekierman e André Durão
“São 2,4 milhões de pontos de varejo, que podem vender seguros para a população de baixa renda. E a venda
por meios remotos também é muito importante, pois
facilita a concorrência e a transparência dos valores
praticados. Aqui no Brasil ainda estamos engatinhando,
mas no mercado da Europa, por exemplo, 30% das vendas já são feitas por meios remotos”, ressaltou.
Como órgão
regulador (ANS),
esperamos
inovar cada vez
mais e que a
relação com o
mercado seja
sempre justa,
sem abrir mão
dos direitos
da sociedade.
Bruno Sobral
10 • REVISTA DE SEGUROS
O superintendente da Susep falou ainda sobre o Termo de
Ajustamento de Conduta firmado com a Caixa Econômica
Federal, que vai aportar R$ 10 milhões numa campanha
contra o mercado marginal de seguros, numa operação
conjunta com a Polícia Federal. Segundo ele, a campanha
também contará com o apoio de outras empresas para
conscientizar o consumidor.
O ano foi considerado extremamente positivo também
pelo deputado federal Armando Vergilio, presidente da
Fenacor, que chamou a atenção para os avanços obtidos principalmente no âmbito do Congresso Nacional,
com o andamento satisfatório de temas de interesse
do mercado.
Em seguida, o presidente da CNseg, antes de iniciar sua
mensagem, agradeceu a presença de Antônio Carlos de
Almeida Braga, que empresta seu nome ao Prêmio – “uma
referência para todos nós” –, das autoridades e de seus
antecessores, os ex-presidentes da Fenaseg/CNseg João
Elisio Ferraz de Campos e Jorge Hilário Gouvêa Vieira.
Um cenário tropical
Ano muito
positivo, com
destaque para
os normativos
que dão mais
impulso ao
mercado, como
a resolução que
disciplina venda
de seguros
no varejo
Texturas de vegetação,
raios de sol, penas de ararinha
azul e imagens que retratavam a
modernidade da tecnologia foram
usadas no cenário tropical que
decorou o Salão Cristal do Copacabana Palace para o almoço de
confraternização do mercado.
O tom contemporâneo
da comunicação visual, decoração
e recursos tecnológicos utilizados
no ambiente contrastavam de
forma harmônica com a arquitetura
tradicional da edificação.
As toalhas de mesa foram feitas
especialmente para o evento
em tecido plotado, que
reproduziam as texturas da trama
institucional do Prêmio.
Os grandes painéis que arremataram as estruturas dos salões
camuflavam as portas divisórias
dos três ambientes do evento,
dando imponência e unidade ao
espaço. Os materiais usados serão
reutilizados em outros eventos
da CNseg e poderão ser
reciclados, posteriormente, atendendo aos princípios do desenvolvimento sustentável.
O ano chamou
a atenção pelos
avanços obtidos
principalmente
no âmbito do
Congresso
Nacional, com
o andamento
de temas de
interesse do
mercado.
Armando Vergilio
Rosane Bekierman e André Durão
Rosane Bekierman e André Durão
Rosane Bekierman e André Durão
Luciano Portal
REVISTA DE SEGUROS • 11
Rosane Bekierman e André Durão
Confraternização e Prêmio
Numa analogia
com o mundo
olímpico, é preciso
agir e pensar
mais alto, pois
podemos fazer
ainda mais.
Desejo que
continuemos
nesta rota de
sucesso.
Marco Antonio Rossi
12 • REVISTA DE SEGUROS
‘Um momento muito especial’
O segmento de seguros fechou 2013
com uma expansão de 15%. A informação foi dada pelo presidente da
CNseg, Marco Antonio Rossi, em sua
mensagem de final de ano durante
o almoço de confraternização das
lideranças do mercado segurador.
“Vivemos um momento muito especial
no mercado de Seguros, com grandes
realizações, grandes números e crescimento em ritmo chinês”, afirmou.
Os números ostentados hoje pelo
mercado, segundo Rossi, seriam
inimagináveis há 10 ou 15 anos. A
participação do setor no PIB chegou a
6%, com mais de R$ 500 bilhões em
valores administrativos ao longo do
ano. Este desempenho, acrescentou,
demonstra o acerto do trabalho desenvolvido pela CNseg e pelas quatro
Federações (FenaCap, FenaPrevi,
FenaSaúde e FenSeg) e a pujança do
mercado para cumprir seu papel de
garantir proteção à sociedade.
O presidente da Confederação res-
saltou também o esforço das companhias seguradoras para ampliar a
demanda de consumidores e ofertar
novos produtos e serviços; a parceria
com a ANS e Susep em busca de
regulamentações mais adequadas ao
ambiente de negócios do mercado; e
a importância dos canais de distribuição, destacando a força dos corretores para tornar o setor de Seguros
ainda melhor e a participação fundamental da Escola Nacional de Seguros – Funenseg como instrumento de
treinamento e de desenvolvimento da
capacidade técnica do mercado.
O compromisso do mercado com o
consumidor também mereceu atenção
na mensagem de Rossi, que destacou
o papel de provedor do seguro ao
devolver à sociedade todos os valores
pagos em impostos. “Numa analogia
com o mundo olímpico, é preciso agir
e pensar mais alto, pois podemos
fazer ainda mais. Desejo que continuemos nesta rota de sucesso”, concluiu.
Os vencedores desta edição
O primeiro lugar categoria Comunicação foi para o projeto “Acessibilidade digital quebra barreiras de
comunicação com os surdos”, de
Luciflávio Gomes e Maurício Barbieri,
também da Bradesco Seguros.
Em segundo lugar, foram premiados:
na categoria Produtos e Serviços,
o projeto “Título de Capitalização
socioambiental”, de Renato Luiz
Arena dos Santos, da Bradesco
Capitalização; na categoria Processo, “Cuidar do cliente – Atendimento
emergencial de sinistros”, de José
Carlos Silva, da Zurich Santander; e,
na categoria Comunicação, o projeto
“Terra Report – edições especiais”,
de Rodrigo Botti, Keity Pacheco,
Priscila Grossi e Rodolfo Clark,
da Terra Brasis.
Nesta edição do Prêmio, foram
inscritos 58 projetos que apresentaram soluções para o desafio
de estimular a geração e adoção
de ideias inovadoras que possam
impactar positivamente o desempenho do mercado e sua relação
com a sociedade.
Alinhada à agenda de sustentabilidade do mercado segurador, a premiação deste ano trouxe um novo
critério de avaliação – os projetos
concorrentes deviam ter identificação com pelo menos um dos
Princípios para Sustentabilidade
em Seguros (PSI), que representam
as dimensões sociais, ambientais e
de governança estabelecidas pelo
Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento Sustentável, em
parceria com a indústria mundial
de seguros.
Antes do anúncio dos vencedores,
os convidados receberam um livreto
que continha o resumo de todos os
projetos concorrentes. A publicação
estará disponível para consulta, em
breve, no Portal da CNseg.
Rosane Bekierman e André Durão
O anúncio dos vencedores da terceira edição do Prêmio Antônio Carlos
de Almeida Braga de Inovação em
Seguros para o Desenvolvimento
Sustentável foi aguardado com grande expectativa. Quando o mestre
de cerimônia anunciou os quatro
finalistas de cada categoria – Comunicação, Processos e Produtos – a
emoção tomou conta dos concorrentes. O prêmio oferece R$ 20 mil em
dinheiro para cada um dos primeiros
colocados e R$ 10 mil para os que
ficam em segundo lugar.
O vencedor da categoria Produtos
e Serviços foi o “Projeto Correios –
Acesso mais fácil ao seguro DPVAT”,
de Antonio Filho, Noé Vaz, Cassiano
Guimarães e Vera Cataldo, da Seguradora Líder DPVAT. Na categoria
Processos, o vencedor foi o “Programa Auto Reciclagem”, de Simoni
Aguiar, Alessandra Franco e Elaine
Goulart, da Bradesco Seguros.
Vencedores do Prêmio Inovação em Seguros para o Desenvolvimento Sustentável, os presidentes das Federações e da CNseg
e o homenageado, Antônio Carlos de Almeida Braga
REVISTA DE SEGUROS • 13
Confraternização e Prêmio
A proposta de cada
projeto inovador
COMUNICAÇÃO
PROCESSOS
PRODUTOS
1º lugar:
“Acessibilidade digital quebra barreiras de comunicação
com os surdos”
Por meio de um personagem
animado 3D (Avatar), desenvolvido segundo as recomendações
dos funcionários com deficiência
auditiva da Bradesco Seguros, a
solução tecnológica faz a tradução de textos em português para
a Linguagem Brasileira de Sinais
(Libras). O usuário deve clicar no
ícone para ver o assistente de
tradução e depois no texto que
deseja traduzir.
1º lugar:
“Programa Auto
Reciclagem”
Com o objetivo é minimizar os impactos ambientais decorrentes do
descarte de peças automotivas
de seus segurados, o programa
promove a coleta e dá destinação
final correta a esses materiais. A
estratégia consiste em mediar a
relação entre oficina e recicladoras, promovendo a coleta pelas
recicladoras do material descartado. De 2009 a 2013, foram
recicladas 8.080 toneladas de
material e 6.154 baterias.
1º lugar:
“Projeto Correios
– Acesso mais fácil
ao seguro DPVAT”
Capacita os profissionais de
todas as agências dos Correios,
que recebem um kit atendimento com diferentes materiais que
permitem efetivamente atender
a vítima de trânsito. Um panfleto informa sobre a cobertura
oferecida e instrui o cidadão
para dar entrada no seguro,
com os detalhes do processo
de solicitação.
2º lugar:
“Terra Report –
edições especiais”
Traz o Mapa Terra Brasis de Catástrofes Naturais Brasileira, com
os tipos e quantidades de eventos naturais que atingiram o Brasil
nos últimos três anos, buscando
identificar, de maneira clara e objetiva, os locais mais suscetíveis.
Os estudos evidenciam que a
incidência de catástrofes no País
é significativa e crescente.
14 • REVISTA DE SEGUROS
2º lugar:
“Cuidar do cliente
– Atendimento
emergencial de
sinistros”
Criado e implantado para localizar segurados atingidos por
grandes catástrofes naturais.
Em menos de 24 horas, adianta
a indenização para reconstrução do patrimônio danificado
antes mesmo do aviso do
sinistro. A premissa do projeto
é cuidar de vidas.
2º lugar:
“Título de
Capitalização
socioambiental”
Destina recursos para projetos
na área de meio ambiente,
ecologia, educação e saúde.
Cada título de Capitalização
socioambiental comercializado
no País tem parte de sua
receita auferida destinada às
instituições pertinentes de
cada área.
FIDES
Marco Antonio
Rossi é o novo
presidente da Fides
Por RODOLFO CAMPOS
Presidente da CNseg assumiu o cargo
durante a 34ª Conferência Hemisférica
de Seguros, realizada na Guatemala.
C
om 1,8 mil empresas filiadas, reunindo 18 países da América Latina,
além dos Estados Unidos e da Península Ibérica, a Federação Interamericana
de Seguros (Fides) conta, desde novembro, com um brasileiro (o segunda da
sua história) à frente de sua presidência.
Marco Antonio Rossi, que também é
presidente da CNseg e da Bradesco
Seguros, tomou posse no comando da
instituição durante a 34ª Conferência
Hemisférica de Seguros, realizada na
Guatemala, entre 10 e 13 de novembro,
para um mandato de dois anos.
Um brasileiro no comando da instituição contribuirá para evidenciar a importância do Brasil neste mercado, pois o
A partir da esquerda:
Recaredo Arias (presidente da Associação
Mexicana de Instituições de Seguros),
Raúl de Andrea (secretário-geral da Fides),
Gonzalo Lauria (presidente da Associação das
Seguradoras da Venezuela e ex-presidente
da Fides), Marco Antonio Rossi (atual
presidente da Fides e presidente da CNseg)
e Jorge Claude (vice-presidente executivo da
Associação de Seguros do Chile)
País já representa cerca de 50% das
contribuições de seguros na América
Latina e Caribe, segundo Rossi já havia
afirmado no portal da CNseg.
Em seu discurso de posse, ele expressou o desejo de que os países-membros da Fides possam compartilhar experiências, e que a Fides é o
espaço ideal para isso. Para Rossi,
a indústria de Seguros tem um papel
fundamental no fomento, defesa e
fortalecimento do crescimento econômico observados na região.
consumidor
Sua gestão será focada no reforço da
conscientização sobre a importância do
seguro, para estimular o crescimento,
fomentar o desenvolvimento social por
meio do Microsseguro; fortalecer o
ambiente regulatório, garantir a integridade financeira da indústria e promover o desenho de produtos de acordo
com as necessidades do consumidor.
O presidente anterior da Fides, o
venezuelano Gonzalo Lauria Alcalá,
esteve no Brasil na posse de Rossi na
CNseg, em maio deste ano, e afirmou,
na ocasião, que a gestão do brasileiro à
frente da instituição seria uma excelente
oportunidade para o mercado brasileiro aumentar sua integração com os
demais países da América Latina.
Gonzalo Alcalá também destacou
que o Projeto Estou Seguro, desenvolvido pela CNseg na Comunidade
Santa Marta, em Botafogo, Zona Sul
do Rio de Janeiro, era uma importante referência para o projeto de
educação financeira da Federação
Interamericana, voltado a crianças e
adolescentes, que busca incentivar a
inclusão do tema Seguro no currículo
escolar dos sistemas educacionais
dos países-membros.
Esta é a segunda vez que um presidente da CNseg ocupa o cargo.
Entre 1980 e 1983, a função foi
exercida por Clínio Silva.
Arquivo CNseg
REVISTA DE SEGUROS • 15
Arquivo CNseg
25 anos da carta Magna
Bodas de prata da
Constituição
Gloria Faria, Superintendente Jurídica da CNseg
Nesses 25 anos foram apresentadas
no Congresso Nacional 2.925
propostas de emenda constitucional.
Amplo
catálogo de
direitos e
garantias
fundamentais,
o texto
constitucional
é generoso
quanto a direitos
sociais.
16 • REVISTA DE SEGUROS
H
á muitas razões para se comemorar
as bodas de prata da Constituição
Federal. Como cúpula do arcabouço jurídico, a Constituição rege o mais longo
período de regime democrático no País.
Promulgada sob os novos ventos de
liberdade que se seguiram a duas
décadas de regime autoritário, seu
preâmbulo explicita o propósito de
‘instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício de direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos...’.
Entretanto, a forma fragmentada com
que foi elaborada, como bem destacou
o ministro Gilmar Mendes – em palestra
durante o X Seminário Internacional
Ítalo-Ibero-Brasileiro de Estudos Jurídicos, realizado de 21 a 23 de novembro,
no STJ, em Brasília –, “deu origem a
contradições e desacertos”. Também
sua organização bem diversa das constituições anteriores não contribuiu para
uma melhor ordenação dos comandos.
Amplo catálogo de direitos e garantias
fundamentais, o texto constitucional
é generoso quanto a direitos sociais.
Entretanto, os comandos relativos à
universalização dos serviços públicos de
saúde e de educação não têm eficácia.
Em consequência, instalou-se a judicia-
lização das relações. Em muitos casos,
a possibilidade de exercício desses direitos passa pelos tribunais, em que hoje
tramitam quase 100 milhões de ações.
As passeatas de junho denunciaram a
insatisfação com o déficit da saúde, da
educação e da mobilidade urbana. A
reinvindicação das ruas por soluções
concretas aponta na direção de um
novo pacto federativo; capaz de delimitar territórios nos quais se estabeleçam
instituições de governança de políticas
públicas integradas; trazendo as decisões para perto dos fatos.
Para que isso ocorra, emendas constitucionais não bastam. Nessas duas
décadas e meia foram apresentadas no
Congresso Nacional 2.925 propostas
de emenda constitucional, tendo sido
aprovadas 74 Emendas Constitucionais
e seis Emendas Constitucionais de
Revisão. Dos 369 dispositivos constitucionais sujeitos a regulamentação, 257
deles foram regulamentados.
Os números são impactantes, porém,
o resultado prático é pífio. As mudanças necessárias demandam tratamento mais adequado ao fôlego da missão. Creio que o desafio nos colocará
diante da necessidade da convocação
de uma nova constituinte.
Indiscutivelmente há o que se comemorar, indubitavelmente muito a reformar.
Arquivo CNseg
25 anos da carta Magna
A Carta e os direitos
assegurados
José Arnaldo Rossi, Consultor da CNseg
A reforma
política não
contemplada
na CF de 1988,
quando há
muito já se fazia
necessária,
faz-se
premente.
Os deveres e direitos previstos,
na maioria das vezes, só chegam aos
cidadãos mediante o socorro do Judiciário,
que, assoberbado, perde eficiência ao ter
que complementar a ação do Estado
O
grande mérito da Carta de
1988, que comemorou seu
quarto de século em 2013, é sem
dúvida ter contemplado formalmente, com a possibilidade de
inclusão, muitos brasileiros que
até então se encontravam à
margem de uma série de
direitos e garantias.
A universalização de serviços
essenciais, como saúde e educação, passou a ser direito de
todos e dever do Estado, sob a
garantia constitucional. O extenso
rol de direitos e deveres individuais e coletivos preenche os
78 incisos – e seus respectivos
parágrafos – do Artigo 5º.
Entretanto, dada oportunidade à
burocracia para crescer, o Estado
inchou e ficou maior do que a sociedade brasileira poderia comportar
– grande, lento e pouco eficiente.
Os deveres e direitos previstos, na
maioria das vezes, só chegam aos cidadãos mediante o socorro do Judiciário. Um judiciário assoberbado que
também perde eficiência ao ter que
complementar a ação do Estado.
Pelos direitos instituídos e as
portas abertas, a possibilidade
da inclusão fez-se ampla. Mas
ficou na possibilidade. Na prática, os serviços públicos não são
entregues e o caminho concreto
da inclusão não se completa.
A reforma política não contemplada na CF de 1988, quando
há muito já se fazia necessária,
e a reforma da administração
pública, que não responde
adequada ou suficientemente
às demandas da população,
fazem-se prementes.
Para tanto, a sociedade terá
que se organizar e propor
mudanças radicais. Mudanças que construam, de fato, a
representação pela qual clamam
os milhares de brasileiros que
exibiram seu protesto nas ruas.
Representação que os identifique com aqueles que contribuirão para elaborar novas políticas
públicas que tornem o Estado
mais eficiente e enfim, na prática, garanta os direitos instituídos e a inclusão prometida.
REVISTA DE SEGUROS • 17
Comissões Temáticas
Pedro Mena
As conquistas
de 2013 e os
desafios para 2014
Por CLAUDIO SOUZA
Superintendente Jurídica, Gloria
Farias, e Presidente da Comissão
Jurídica, Washington Luis B. da
Silva (Metlife)
Os integrantes
das Comissões
Temáticas tiveram,
neste ano, mais
de 100 reuniões,
incluindo as
realizadas por meio
das quatro salas de
videoconferência
da CNseg.
18 • REVISTA DE SEGUROS
Considerados a alma da CNseg, grupos de
trabalho contribuem com os órgãos reguladores
e promovem a troca de conhecimento.
A
segunda edição do balanço das
Comissões Temáticas da CNseg,
realizada em 3 de dezembro, no Hotel
Windsor Atlântica, mostrou que o ano
de 2013 foi de avanços e apontou os
principais desafios para 2014. A diretora executiva da Confederação, Solange
Beatriz Palheiro Mendes, representou
o presidente Marco Antonio Rossi no
evento e ressaltou que as comissões
são a “alma” do trabalho da CNseg.
“Nas comissões os temas relevantes
são debatidos em profundidade para
que as demandas e expectativas do
setor se realizem. É claro que cada
uma das nossas empresas tem interesses próprios, mas aqui debatemos
aqueles que se convergem para o
crescimento da indústria como um
todo”, afirmou Solange na abertura.
De acordo com a executiva, as Comissões Temáticas tiveram, neste ano, mais
de 100 reuniões, incluindo as realizadas
por meio das quatro salas de videoconferência da CNseg no País (duas no Rio,
uma em São Paulo e uma em Brasília).
Mais de 500 integrantes participaram
das 14 Comissões Temáticas sob a
coordenação das Superintendências:
Regulação (SUREG), Assuntos Jurídicos
(SJUR); de Relações com o Mercado
(SUREM); e da diretoria de Relações
Governamentais (DIREG).
Para 2014, a diretora ressaltou que
um dos principais objetivos da instituição será o avanço nas certificações
de profissionais de seguros, além de
manter a preocupação com a divulgação e melhoria da imagem do produto
‘Seguro’. Além disso, anunciou a
criação de mais uma nova Comissão
Temática no ano que começa: a de
Comunicação e Marketing.
CENTRO DO DEBATE
O alongamento compulsório dos
Pedro Mena
Comissões SUREG: Carlos Alberto Viana Dias (Bradesco Seguros, presidente da Comissão de Processos e
Tecnologia da Informação, Antônio Teles de Medeiros (Bradesco Seguros), presidente da Comissão de Assuntos
Fiscais, Luciana da Silva Bastos (Icatu Seguros), representando o presidente da Comissão Atuarial, Vinicius José
de Almeida Albernaz (Bradesco Seguros), presidente da Comissão de Investimentos, Alexandre Leal (CNseg),
Asízio Aparecido de Oliveira (Zurich), presidente da Comissão de Controles Internos, Laênio Pereira dos Santos
(SulAmérica), presidente da Comissão de Administração e Finanças e Wady José Mourão Cury (BB Mapfre),
presidente da Comissão de Resseguro
Assízio Aparecido de Oliveira (Zurich
Minas Brasil Seguros), a Comissão conseguiu reverter parcialmente a proposta
do governo de retirar as responsabilidades das auditorias externas e colocar
nas administrações das seguradoras.
CURVAS DE JUROS
Na Comissão Atuarial (CAT), Luciana da Silva Bastos (Icatu Seguros),
que representou o presidente Almir
Martins Ribeiro, falou sobre o proble-
Pedro Mena
investimentos para os planos VGBL
e PGBL, instituído pela resolução
4.176 do Conselho Monetário Nacional, foi o principal tema tratado pela
Comissão de Investimentos (CINV)
em 2013 e deve continuar no centro
do debate até, pelo menos, fevereiro
de 2014. A previsão foi apresentada
pelo presidente da CINV, Vinicius
José de Almeida Albernaz (Bradesco
Vida e Previdência).
“Esse é o principal tema de conversa
entre o setor e o governo. Tentamos
antecipar os eventuais problemas e avisamos ao governo, mas não adiantou”,
lembrou Albernaz, explicando que as seguradoras precisam ter mais flexibilidade
para investir os recursos das reservas e
oferecer produtos de acordo com o perfil
de rentabilidade e risco de cada cliente.
O superintendente de Regulação da
CNseg, Alexandre Leal, lembrou que
2013 foi o primeiro ano em que começaram os resgates dos planos VGBL, desde que a modalidade foi criada no Brasil.
“Nunca antes nesse País, houve resgates
de VGBL”, brincou o superintendente.
Na Comissão de Controles Internos
(CCI), as principais atividades durante o
ano ficaram em torno da Consulta Pública nº 5, da Susep, que trata, dentre
outras coisas, das responsabilidades e
obrigações das auditorias internas e externas. Segundo o presidente da CCI,
ma da fixação, por parte da Susep,
das curvas de juros das seguradoras.
Segundo ela, isso gera um descasamento entre ativos e passivos. “O
atuário pode fazer provisão em relação à taxa de juros que ele acha que
vai ter lá na frente. Por que a Susep
tem de dizer isso?”, questionou.
Na Comissão de Administração e
Finanças (CAF), um dos destaques é
o trabalho para mostrar à Susep quais
custos devem ser diferidos nos balanços. “A Susep proibiu o diferimento
dos custos administrativos em 2013 e
queremos que a autarquia volte a estar
alinhada com as práticas internacionais, que permitem esse diferimento”,
explicou o presidente da CAF, Laênio
Pereira dos Santos (SulAmérica Seguros de Pessoas e Previdência).
O presidente da Comissão de Assuntos Fiscais (Cafis), Antonio Teles de
Medeiros (Bradesco Seguros), ressaltou a atuação do grupo junto à Pre-
Comissões SUREM: Solange Beatriz (CNseg), Silas Rivelle Jr. (Unimed Seguros), presidente da Comissão de
Ouvidoria; Maria Aparecida Carvalho Carneiro (Bradesco Seguros), representando a presidente da Comissão de
Recursos Humanos; Eugenio Velasques (Bradesco Vida e Previdência, presidente da Comissão de Microsseguro e
Seguros Populares); Adriana Boscov (SulAmérica Seguros), presidente da Comissão de Sustentabilidade; e Maria
Elena Bidino, superintendente de Relações com o Mercado
REVISTA DE SEGUROS • 19
feitura do Rio sobre a questão do ISS
das empresas de seguro de Saúde.
“Isso teve um efeito significativo nas
empresas de saúde”.
Uma das conquistas da Comissão de
Resseguro (CR), segundo o presidente
Wady José Mourão Cury (BB Mapfre),
foi fazer as autoridades entenderem o
conceito de acúmulo de risco e que o
Resseguro protege não só as operações, mas também o patrimônio das
seguradoras. “Houve um trabalho forte
da Comissão para explicar o que é
risco isolado e o conceito de acúmulo
de risco”, avaliou.
A última Comissão a se apresentar no
bloco sob a coordenação da Superintendência de Regulação foi a de
Processos e Tecnologia da Informação
(CPTI). O presidente Carlos Alberto
Viana Dias (Bradesco Saúde) ressaltou
que o grupo tem como meta se aproximar mais das demais Comissões
para antecipar suas demandas.
DECISÕES JUDICIAIS
Ao apresentar o balanço da Comissão de Assuntos Juridicos (CAJ) de
2013, a superintendente Jurídica da
CNseg, Gloria Faria, destacou que o
número de decisões judiciais favoráveis às seguradoras está aumentando
e que o volume de ações instauradas,
envolvendo as companhias do setor,
está caindo. Gloria acrescentou que a
CAJ trabalha de forma integrada com
as outras Comissões e que o modelo
para atuação da Comissão ainda está
sendo aperfeiçoado.
“Não conseguimos ajustar exatamente o modelo e, no ano que
vem, pretendemos encontrar uma
solução definitiva para que a participação aconteça da melhor maneira
20 • REVISTA DE SEGUROS
Pedro Mena
Comissões Temáticas
As empresas
têm interesses
próprios, mas
aqui (nas
Comissões)
debatemos
aqueles que se
convergem para
o crescimento da
indústria como
um todo.
Solange Beatriz
possível”, disse ela. A CAJ tem 81
pessoas que se reuniram sete vezes
ao longo do ano e participaram de
quatro palestras.
O presidente da Comissão, Washington
Luís Bezerra da Silva (Metropolitan Life
Seguros e Previdência), informou que
um dos temas mais importantes foi a
norma proposta pelo governo para a
taxação dos planos de VGBL. Segundo
ele, a CAJ está trabalhando para mos-
trar a inviabilidade das propostas. “Se
essa taxação acontecer, o VGBL deixa
de ser um seguro e passa a ser uma
herança”, afirmou.
Em relação aos temas para o futuro, o presidente da CAJ ressaltou
o desafio gerado pelo aumento da
expectativa de vida dos brasileiros,
que passou a ser de 74,6 anos,
para os homens, e de 78 anos, para
as mulheres, segundo o IBGE. “A
longevidade muda muita coisa, exige
produtos diferentes e altera a questão
das indenizações”, exemplificou.
PRODUÇÃO PARLAMENTAR
Após um ano de muitas votações
propostas nas câmaras legislativas do País, a previsão é de que
a produção parlamentar caia em
2014, devido às eleições gerais e
à realização da Copa do Mundo no
Brasil. Entretanto, a expectativa dos
trabalhos da Comissão Permanente
de Assuntos Governamentais (CPAG)
não é de diminuição. “Em anos
eleitorais, a produção legislativa é
menor. Isso é bom, mas temos de
ter cuidado, pois há risco de termos
deliberações mais açodadas”, alertou o presidente da CPAG e diretor
de Relações Governamentais da
CNseg, Antonio Mazurek.
A CPAG que tem 31 membros fez
nove reuniões ao longo do ano, analisando 1.468 propostas legislativas,
entre projetos de lei, requerimentos e
demais proposições, a maioria na área
de Saúde. O aumento foi de 17% em
relação ao número de proposições
acompanhadas em 2012.
Do total analisado no ano passado, a
Câmara dos Deputados concentrou
a maior parte, com 792. O Senado
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Um dos maiores desafios das Comissões Temáticas sob a coordenação
da Superintendência de Relações
com o Mercado da CNseg, para
2014, é a Educação Financeira. A
avaliação é da superintendente Maria
Elena Bidino, que abriu o balanço
das atividades das Comissões Temáticas sob sua coordenação.
O presidente da Comissão de Microsseguros e Seguros Populares (CMSP),
Eugênio Liberatori Velasques (Bradesco Vida e Previdência), disse que,
além da análise dos impactos e dos
questionamentos sobre as normas
regulatórias dos Microsseguros, a coordenação do projeto de consultoria
para aplicação da ferramenta PACE
(Produto, Acesso, Custo e Experiência) no mercado brasileiro e a formulação de estratégia de educação
financeira para a CNseg, com foco
na população de baixa renda, foram
destaques de 2013.
Na Comissão de Relações de Consumo (CRC), a diretora executiva da
CNseg, Solange Beatriz, representou
o presidente, Vladimir Freneda Rodriguez (Assurant Seguradora), ressal-
Pedro Mena
foi responsável por 234 proposições
e o restante passou pelas assembleias legislativas dos estados.
Em relação às perspectivas de projetos relevantes a serem discutidos
neste ano, Mazurek ressaltou a importância, para o segmento de seguro de
Veículos, de se regulamentar o mercado de desmanches. “Hoje, os desmanches são feitos de qualquer forma.
Na Argentina, fizeram essa regulamentação, e o roubo de veículos caiu pela
metade”, afirmou.
Em anos eleitorais
a produção
legislativa é
menor. Isso é bom,
mas temos de ter
cuidado, pois há
risco de termos
deliberações mais
açodadas.
Antonio Mazurek
tando a negociação com o Procon de
Minas Gerais sobre seguro de Garantia Estendida. O órgão havia proibido
a venda das “garantias estendidas’
para eletrodomésticos e outros bens,
mas a Comissão conseguiu mostrar
ao Procon que este tipo de seguro
não era prejudicial ao consumidor.
Na Comissão de Ouvidoria (COUV),
o presidente Silas Revelle Jr. (Unimed Seguradora) destacou como
principais temas: o estudo da regulamentação para obrigatoriedade
das Ouvidorias, sugestão de planilha
de motivos de reclamações por segmento (Seguros Gerais, Previdência
Privada e Vida, Saúde Suplementar
e Capitalização) e a proposta de relatório padronizado das Ouvidorias,
que ficará à disposição da fiscalização da Susep. “Quanto mais estruturada e divulgada for a Ouvidoria,
haverá menos processos judiciais
contra as empresas, e mais clientes
satisfeitos”, garantiu Revelle.
Para a presidente da Comissão de
Sustentabilidade, Adriana Boscov
(SulAmérica Seguros), 2013 foi o ano
para falar sobre o que é sustentabilidade em seguros. Entre os maiores
desafios para 2014, ela destacou a
conscientização de consumidores,
a responsabilidade do segurador na
Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) e a avaliação sobre como as
mudanças climáticas já estão afetando
os sinistros no País. “Os desastres naturais, como inundações, são os maiores riscos das mudanças climáticas no
Brasil. Estamos começando a fazer o
levantamento para ver quantos sinistros
já têm estas causas”, afirmou.
Na Comissão de Recursos Humanos
(CRH), os principais temas tratados
foram a certificação técnica e o painel de indicadores de RH. “Estamos
fazendo estudo sobre a situação
atual da remuneração. Para se ter
um mercado cada vez mais qualificado, é preciso ter uma boa política
de remuneração”, explicou Maria
Aparecida Carvalho Carneiro (Bradesco Seguros), que representou a
presidente da CRH, Patrícia Coimbra
(SulAmérica Seguros).
REVISTA DE SEGUROS • 21
INSURANCEService Meeting
Novas tecnologias
alteram o mundo
dos negócios
Por VAGNER RICARDO
Os prováveis cenários da conjuntura mundial e
tecnologias como Big Data, iCloud e Predictive Analisys
foram os principais temas discutidos no evento.
I
magine uma consulta médica básica
realizada à distância ou os procedimentos emergenciais definidos a partir
dos dados indicados nos sensores de
uso pessoal. E ainda: carros dotados
de sensores que ampliam absurdamente a segurança no trânsito ou que
são capazes de se locomover sem motoristas. Em vez de fábricas, diversos
produtos feitos a partir de impressoras
portáteis 3D. E a entrega de pizzas feitas por drones no lugar de motoboys.
Um mundo mais inteligente está
sendo construído e, nos próximos 10
anos, tais tecnologias vão mudar o
modo de fazer negócios, inclusive no
mercado segurador. Nesse complexo
jogo de xadrez corporativo, um cenário de riscos e de oportunidades se
avizinha e cada jogada será estratégi-
ca para a sobrevivência ou o fracasso
das empresas num contexto excessivamente tecnológico.
Mas todo esforço das empresas para
responder aos desafios impostos pela
tecnologia pode cair por terra se não
houver uma comunicação adequada,
que alcance a classe média. “É fundamental ter ferramentas inovadoras,
mas nada disso será útil se as empresas não conseguirem se comunicar
com essa classe econômica”, afirma
Renato Meirelles, sócio-diretor do
Data Popular Pesquisa.
PROTAGONISMO
Na sua avaliação, a classe média
brasileira assumiu o protagonismo do
mercado interno e não há qualquer
indicação de que sairá do pódio nos
Em 2020, serão bilhões de dispositivos conectados:
22 • REVISTA DE SEGUROS
Alessandro Mendes
próximos anos – pelo contrário, serão
cada vez mais numerosos: eram 38
milhões em 2003, 54 milhões em 2013,
e chegarão a 58 milhões em 2023.
Os prováveis cenários da conjuntura
mundial e tecnologias como Big Data,
telemática, iCloud, Predictive Analisys
estiveram entre os principais temas
discutidos no 7º Insurance Service
Meeting, tradicional encontro anual realizado pela CNseg, que ocorreu entre
os dias 8 e 10 de novembro, na Costa
Verde do Rio de Janeiro. Nesta edição,
a ideia foi discutir os grandes temas
que poderão ter impactos, diretos ou
indiretos, na indústria de Seguros e em
seus clientes, além das ações necessárias para se viver e conviver nesse
admirável mundo novo.
Presentes à solenidade de abertura,
Patrick Larragoiti, vice-presidente da
CNseg e presidente do Conselho de
Administração da SulAmérica; Antonio
Cassio dos Santos, diretor da CNseg
e CEO de Seguros Gerais da Zurich
Seguros; Carlos Viana, presidente da
Comissão de Processos e de Tecnologia da Informação da CNseg e superintendente-executivo da Bradesco
Saúde, concordaram que os próximos
anos vão mudar a forma de fazer
negócios, exigindo estratégias inovadoras para as corporações focadas na
longevidade de mercado.
“A informação, que já é importante no
atual momento das empresas, terá
um caráter cada vez mais estratégico
e transformador”, antecipou Carlos
Viana. “Em particular, vejo que, na
parte de seguro Corporativo Médico,
sem conhecer o Big Data, as empresas tendem a desaparecer em médio
prazo. Isso já está acontecendo na
Europa e começa a virar realidade nos
Estados Unidos”, acrescentou Antonio
Cassio, para quem o gap tecnológico
que o país norte-americano impõe ao
restante do mundo deve preocupar e
exigir reação, sobretudo dos países
e empresas da América Latina, que
utilizam tecnologias defasadas.
CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
Representando o presidente da CNseg,
Marco Antonio Rossi, na solenidade,
Patrick Larragoiti disse que o crescimento do mercado prosseguirá acelerado nos próximos anos, mas haverá
A tecnologia
do carro sem
motorista ajudará
a reduzir os
acidentes de
trânsito, já que
95% das colisões
ou atropelamentos
são devidas a
falhas humanas.
Andrés Oppenheimer
importantes desafios às seguradoras.
“Para acompanhar o crescimento
potencial, as seguradoras terão de
criar novos produtos e dispor de novos
canais de distribuição. O mercado terá
ainda o desafio de entender o uso e o
impacto do Big Data na sua atividade,
já que tem uma fonte de dados bastante interessante em seus sistemas de
gestão de clientes, de sinistros e até de
prevenção”, assinalou.
Exemplo clássico do ‘perde-ganha’ gerado pela inovação tecnológica é o caso
do seguro de Automóvel, que poderá se
transformar em um produto residual, se
o uso de carros sem motoristas alcançar escala global, como se imagina. No
momento, além do Google, montadoras
como Audi, Volkswagen e Mercedes-Benz estudam projetos de carros sem
motoristas. Nos testes já realizados em
ruas americanas, o novo modelo de
automóvel exibiu um ótimo desempenho
em termos de sinistralidade.
“Esta tecnologia ajudará a reduzir os
acidentes de trânsito, já que 95% das colisões ou atropelamentos são decorrentes
de falhas humanas”, afirmou o jornalista
Andrés Oppenheimer, um dos palestran-
REVISTA DE SEGUROS • 23
Insurance Service Meeting
É fundamental
ter ferramentas
inovadoras,
mas nada disso
será útil se as
empresas não
conseguirem
se comunicar
com essa classe
econômica.
DIVERSIFICAÇÃO DE
PRODUTOS
O resultado desta performance é que
as seguradoras terão de ser menos dependentes da produção de automóvel
e apostar na diversificação de produAlessandro Mendes
Renato Meirelles
tes estrangeiros presentes no encontro.
Nesse cenário de risco decrescente, os
cálculos indicam que a apólice de automóveis terá prêmios em franca redução:
de estimados 20% até 2017, para uma
queda de 80% entre 2018 e 2022, dado
o uso desta tecnologia.
O mercado terá
ainda o desafio
de entender o
uso e o impacto
do Big Data na
sua atividade,
já que tem
uma fonte de
dados bastante
interessante.
Patrick Larragoiti
24 • REVISTA DE SEGUROS
tos, recomenda Oppenheimer. Na sua
avaliação, os seguros de Responsabilidade Civil para eventuais problemas
apresentados com esta nova tecnologia podem ser promissores.
Em paralelo ao desenvolvimento do
carro sem motorista, está em estudo
o uso de drones para fins comerciais.
Inicialmente usados como arma de
guerra, os veículos aéreos não tripulados já são testados por redes como a
Domino’s na entrega de pizzas. “Mas
podem colidir durante os traslados,
abrindo novos negócios para as seguradoras”, brincou o jornalista.
Todos os players que fornecem
produtos e serviços preparam-se
para o futuro. Os crescentes investimentos na 3ª plataforma de Tecnologia, incluindo-se o iCloud, Big Data,
Mobility e Social Business, definirão a
configuração da nova Tecnologia da
Informação (TI) no mundo.
Em 2020, serão bilhões de
dispositivos conectados: 1,9 bilhão
de computadores pessoais, 2,6 bilhões
de smartphones, 25 bilhões de
dispositivos inteligentes, 1,3 trilhão de
tags/sensores e 450 bilhões de transações eletrônicas por dia, segundo
afirmou Alexandre Campos Silva, da
IDC Brazil Consulting.
PRATA DA CASA
A Central de Serviços e Proteção
ao Seguro da CNseg (Ceser) está
entre os players aptos a oferecer
soluções ao mercado segurador
para uma melhor administração dos
negócios. Nas gôndolas, bancos de
dados e sistemas e serviços desenvolvidos pela unidade de negócios
da CNseg, de forma exclusiva ou
por meio de convênios com órgãos
públicos ou parcerias privadas, para
a captura de informações relevantes
e sua disponibilidade ao mercado
na sequência.
Todas as ferramentas miram o aumento da eficiência e da qualidade
dos serviços prestados pelo mercado
segurador, lembra Paulo Kurpan,
superintendente de Operações e
Serviços da Ceser. “O futuro é amanhã e, apesar de ser uma incógnita,
assumimos o desafio de apoiar as
seguradoras para que recebam sistemas e serviços adequados para este
novo mundo anunciado pela evolução
tecnológica e, dessa forma, mantenham variáveis importantes ao seu
negócio”, acrescenta ele.
Biblioteca
Saindo do
lugar comum
Arquivo CNseg
Resenha por: José Fernando Baron
José Fernando Baron é especialista
em Gestão Estratégica da Informação pela
UFMG e Gerente Comercial na KeepTrue
Soluções Fiscais
Design Thinking – Inovação em Negócios
Autores diversos
Editora: MJV, 2012, 160 páginas
Metodologia abordada permite ao leitor
aplicar conceitos inovadores de análise de
problemas, gestão de equipes e projetos.
S
e olharmos ao nosso redor vamos
verificar que a expressão da moda é
“pensar fora da caixa”, ou seja, pensar de
maneira diferente da massa. Neste livro,
Maurício José Vianna e Silva, engenheiro
de computação pela PUC-Rio, mestre e
doutor em Ciência da Computação pelo
IIT (Illinois Institute of Tecnology); Ysmar
Vianna e Silva Filho, engenheiro elétrico
pelo ITA, mestre e doutor em Ciência
da Computação pela Universidade da
Califórnia em Berkeley, USA; Isabel K.
Adler, designer pela Esdi/Uerj, com MBA
pela Coppead e Mestrado na Universidade Tecnológica de Delft, Holanda;
Brenda de Figueiredo Lucena, mestre em
Design pela PUC-Rio; e Beatriz Russo,
mestre em Design Centrado no Usuário
pela PUC-Rio e doutora em Experiência
Emocional pela Universidade Tecnológica
de Delft, na Holanda, nos dão uma aula
de como colocar este jargão em prática.
Tomando emprestada a forma de
pensar dos designers, eles desenvolveram neste livro, em cinco partes,
uma metodologia que permite ao leitor aplicar em seu dia a dia conceitos
inovadores de análise de problemas,
gestão de equipes e projetos.
Apoiados em diversos exemplos de
situações práticas retiradas de projetos
reais, cada fase do processo é explicada
e depois exemplificada. Em cada capítulo, perguntas como “Por que Inovar?”,
“O que é Design Thinking?”, “Por que
Design Thinking?” são respondidas.
Aplicando suas teorias inovadoras,
unindo Arte, Ciência e Tecnologia, e
utilizando os instrumentos de marketing como pesquisa de campo e entrevistas, devidamente “modificadas”,
eles nos explicam os resultados que
vão obtendo, em cada um dos “cases”
práticos avaliados, levando o leitor a
compreender todo o processo de criação de uma ideia e, principalmente,
como colocá-la em ação.
Trata-se de uma abordagem bastante
didática e prática, como bem ressaltou
Kleber Figueiredo, diretor da Coppead/
UFRJ, convidado a colocar sua opinião
na “orelha” da primeira capa.
Realmente um livro muito interessante, sobre um assunto em que
a literatura em língua estrangeira
ou traduções de livros importados
imperavam. Trazendo exemplos e
cases na realidade brasileira, desenvolvidos pela equipe dos autores não
pode deixar de ser lido por executivos, gestores e líderes de projetos
ou ainda por quem deseja sair do
lugar comum, ou seja, pensar fora da
caixa, realmente.
REVISTA DE SEGUROS • 25
Antranik Photos
pesquisa
Francisco Galiza e Maria Helena Monteiro durante o evento de apresentação da pesquisa
ainda um mercado machis“T emos
ta”. A conclusão é da diretora da
Escola Nacional de Seguros (ENS),
Maria Helena Monteiro, entidade
responsável pelo estudo ‘Mulheres
no Mercado de Seguros no Brasil’,
realizado juntamente com o consultor
Francisco Galiza. ”As mulheres representam 57% da força de trabalho do
mercado segurador, mas os homens
ganham quase 40% mais e lideram
nas cinco maiores faixas salariais. Eles
também concentrarem os cargos de
nível executivo e gerencial”, afirma.
O levantamento mostra que há quatro
mulheres gerentes para cada dez
homens e uma diretora para cada
cinco diretores. A maior concentração
feminina é na área Comercial, com
cerca de 40% dos cargos de Gerência
ocupados por mulheres.
O trabalho, realizado pela ENS, com
apoio da CNseg e Fenacor, teve o
objetivo de mapear o papel da mulher
no mercado segurador brasileiro. O
estudo traz uma radiografia da presença feminina no mercado de seguros no Brasil, em seus mais diversos
aspectos, segundo Francisco Galiza,
26 • REVISTA DE SEGUROS
como a evolução da mulher na sociedade brasileira; o comportamento
mais comum de uma segurada; os
perfis da securitária e da corretora;
os tipos de produtos existentes para
o público feminino; e os depoimentos
das executivas do setor com sugestões para o segmento.
SALÁRIO INFERIOR
Assim como em outros setores da
economia, o salário das mulheres –
na atividade de Seguros, Previdência
Complementar Aberta e Capitalização
– é inferior ao dos homens para executar a mesma tarefa. Elas ganham,
em média, pouco mais de 60% do
valor pago aos homens, um percentual abaixo inclusive da média nacional de 70% apontada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), segundo revela a pesquisa.
“O mercado segurador ainda tem
muito a fazer para garantir acesso ao
emprego e igualdade de oportunidades no desenvolvimento da carreira”,
afirma Maria Helena.
Francisco Galiza destacou um dado
interessante da pesquisa: apenas 2%
das mulheres não voltam a trabalhar depois da licença maternidade.
Porém, após um ano de retorno da
licença, 30% das mulheres deixam de
trabalhar na companhia. “O setor precisa discutir estratégias para manter
as mulheres em seu quadro, pois o
número delas que deixam a empresa
depois da maternidade é muito preocupante”, ressalta o consultor.
Sobre o comportamento do gênero
na compra de produtos de um modo
geral, o estudo indica que a mulher,
diferentemente do homem, escuta
mais atentamente as mensagens, faz
distinções mais apuradas ao escolher
os produtos, e nas compras online,
prefere ver o bem adquirido dentro
de um contexto prático. “A interação
pessoal é mais importante, e a mulher
é mais conservadora em sua escolha”,
afirma Maria Helena.
SOLUÇÕES X PRODUTOS
Em investimentos financeiros, a mulher
tende a se expor menos ao risco do
que o homem. Ele foca em preço e
ela, em benefícios, priorizando estabelecer relacionamento de confiança
Estudo mapeia
participação
feminina no seguro
Por DENISE BUENO
As mulheres representam 57% da força
de trabalho do mercado segurador, mas
os homens ganham quase 40% mais e
lideram nas cinco maiores faixas salariais.
com o vendedor e, partir daí, estabelecer uma ligação de longo prazo. “Isso
abre uma grande oportunidade para
os corretores de Seguros”, assinala
a executiva. Na compra de produtos
em geral, como de Seguros, a consumidora feminina é mais emotiva, e o
masculino, mais racional. A mulher é
mais detalhista e, na área de seguros,
tende a comprar mais soluções, em
vez de produtos.
Para Maria Helena Monteiro, chegou
o momento de as empresas do setor
atentarem para as essas características do público consumidor,
desenvolvendo produtos e serviços
específicos. Ela conta que algumas
empresas já investem no desenvolvimento de apólices exclusivas para
as mulheres. Mas, para ela, é preciso
avançar ainda mais.
“As mulheres muitas vezes não têm
tempo para um ‘happy hour’, pois
precisam voltar para casa e ajudar
o filho na lição escolar. Esse fator
não deve comprometer a carreira
profissional dela”, assinala a diretora da ENS. Na sua avaliação, esse
comportamento já mudou muito,
O mercado
segurador
ainda tem muito
a fazer para
garantir acesso
ao emprego e
igualdade de
oportunidades no
desenvolvimento
da carreira.
Maria Helena Monteiro
mas ainda é preciso entender melhor
a agenda das profissionais. “Muitas
delas têm um período da vida que
não podem viajar muito. E isso também deve ser observado”.
QUADRO FUNCIONAL
A mulher já conta com cursos técnicos para profissionais que operam com este mercado específico.
Mas, para Maria Helena, isso não
é suficiente: é preciso fazer muito
mais para que a participação das
mulheres nos órgãos de direção seja
proporcional à participação delas no
quadro funcional. A próxima pesquisa, que provavelmente será desenvolvida em 2014, já tem objetivo: a
mulher como consumidora.
Segundo análise do IBGE, o Data
Popular concluiu que praticamente
quatro em cada dez domicílios brasileiros são chefiados por mulheres. Ou
seja, a ENS terá um estudo repleto
de dados para subsidiar a criatividade
das seguradoras no que diz respeito a
lançamentos de produtos e serviços,
bem como em atendimento diferenciado ao público feminino.
O setor precisa
discutir estratégias
para manter as
mulheres em
seu quadro, pois
o número delas
que deixam a
empresa depois
da maternidade é
preocupante.
Francisco Galiza
REVISTA DE SEGUROS • 27
Sustentabilidade
Metas alinhadas
ao desenvolvimento
sustentável
Por DENISE BUENO
Rosane Bekierman
Comissão de Sustentabilidade da CNseg
lança metas que as empresas deverão
perseguir até 2015, com base nos PSI.
a
Muitas empresas
que não estavam
sensíveis ao
assunto já estão
se estruturando
e os resultados
começam a
aparecer.
Adriana Boscov
28 • REVISTA DE SEGUROS
s seguradoras brasileiras ganharam uma nova ferramenta para
tornar suas atividades mais alinhadas
ao desenvolvimento sustentável. A
CNseg, por meio da sua Comissão de
Sustentabilidade, lançou metas que
essas empresas deverão perseguir até
2015, com base nos Princípios para
Sustentabilidade em Seguros (PSI, na
sigla em inglês) firmados entre a indústria global do ramo e o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
para Instituições Financeiras (UNEP FI),
em 2012. Se antes havia princípios
gerais para as questões Ambiental,
Social e de Governança (ASG), agora
o setor tem objetivos bem definidos.
A adesão é voluntária, mas a
experiência da Confederação tem
mostrado que o nível de adesão no
Brasil é alto. Para a presidente da
Comissão, Adriana Boscov, os percentuais estabelecidos são ambiciosos,
porém factíveis de serem alcançados.
A primeira das quatro metas estipula
que 40% das seguradoras levarão em
conta questões ASG na sua política de
subscrição de riscos até 2015. Quer
dizer que, na hora de fechar contrato
com um segurado pessoa jurídica, as
seguradoras deverão considerar os riscos ASG que essas empresas possam
gerar. Quando o convênio com a ONU
foi assinado, o percentual de empresas
que já adotavam a política era de 18%.
“O ano de 2013 foi de disseminação
de conceitos. Fizemos muitos eventos e palestras, traduzimos artigos e
publicações. O objetivo era oferecer
informação para o mercado começar a
entender a questão de sustentabilidade
nos negócios de seguros. Percebemos
que muitas empresas que não estavam sensíveis ao assunto já estão se
estruturando e os resultados começam
a aparecer”, avalia Adriana.
BALANÇO SOCIAL
Segundo a executiva, no próximo
questionário que as seguradoras terão
que responder para elaboração do
Balanço Social do setor, haverá um
conjunto de perguntas sobre as metas
PSI. Desse modo, será possível avaliar
com precisão os percentuais de empresas que estão se aproximando das
metas para 2015.
A segunda meta estabelecida diz respeito ao engajamento de stakeholders
(partes interessadas). Ficou estabelecido que 30% das seguradoras deverão
ter um programa de engajamento
de corretores nas questões ASG até
2015. A terceira prevê avanço na inte-
gração entre programas governamentais e políticas internas. Ficou definido
ainda que 50% das seguradoras
integrarão em suas políticas de responsabilidade social políticas oficiais
dos governos municipais, estaduais
e federal. Em relação a essas duas
diretrizes, o marco zero, de 2012, era
de 7% e de 29%, respectivamente.
A última meta diz respeito à prestação de contas e estipula que 50%
das seguradoras reportarão questões ASG, até 2015. Em 2012,
25% das seguradoras publicavam
anualmente um relatório específico
do desempenho ASG.
AVANÇO RÁPIDO
Um importante aspecto que ainda precisa ser trabalhado é o da Governança.
“Apesar de haver poucas empresas de
capital aberto no setor de Seguros, somente em três, num universo de 160, a
Governança avança rápido, e isso sofre
a influência do modelo no qual trabalhamos, da divisão por Federações. O
trabalho da CNseg com as Federações
(FenSeg, FenaPrevi, FenaSaúde e
FenaCap) tem uma influência forte nessa transformação, pois tem apontado
o caminho”, justificou a presidente da
Comissão de Sustentabilidade.
Entre as empresas com iniciativas mais
avançadas nas três dimensões, de
acordo com Adriana, estão as signatárias dos Princípios de Sustentabilidade: BB Mapfre, Bradesco, Itaú, Líder
DPVAT, Mongeral, SulAmérica, Porto
Seguro, Terra Brasis (resseguradora).
“De todos os países participantes da
iniciativa da ONU, já somos o que tem
mais adesões”, comemorou.
Para estabelecer de modo preciso os
temas materiais do setor que serão
trabalhados com as seguradoras, a
Comissão de Sustentabilidade con-
No próximo
questionário que as
seguradoras terão
que responder para
elaboração do Balanço
Social do setor, haverá
um conjunto de
perguntas sobre as
metas PSI.
O risco ambiental
aos poucos vai
sendo considerado
nas apólices, o que
contribui para gerar
preocupação com o
assunto em toda a
cadeia de empresas
seguradas.
As metas até 2015
1) 40% das seguradoras
integrarão as questões ASG
(Ambientais, Sociais e de
Governança) na política de
subscrição de riscos.
2) 30% das seguradoras terão
um programa de engajamento
de corretores nas questões
ASG.
3) 50% das seguradoras
integrarão em suas políticas
de responsabilidade social as
políticas públicas dos governos
municipais, estaduais e federal.
4) 50% das seguradoras
reportarão questões ASG.
tratou uma consultoria. Em cerca
de seis meses, a empresa entregará
um documento apontando os tópicos específicos que as seguradoras
deverão reformular, em suas práticas
e contratos, no que se refere a sustentabilidade. O passo seguinte será
trabalhar com as empresas por meio
das quatro Federações”, antecipou
Adriana Boscov.
PRÓXIMOS PASSOS
Outra novidade programada para
2014 são os cursos de sustentabilidade oferecidos para profissionais
do seguro. O primeiro será lançado
em março, numa parceria da CNseg
com a Fundação Getulio Vargas e a
Escola Nacional de Seguros. Será
um curso-piloto de média duração
(24 horas/aula) a valores acessíveis.
Adriana percebe que os PSI já começam a gerar uma mudança de mentalidades e atitudes. Um dos maiores
avanços se deu em relação à Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PRNS),
discutida em seminário realizado
em maio pela CNSeg. Segundo ela,
o evento influiu para sensibilizar as
empresas quanto ao tema e já gerou
mudança de práticas no descarte de
material proveniente de sinistros, por
exemplo. O risco ambiental aos poucos
vai sendo considerado nas apólices, o
que contribui para gerar preocupação
com o assunto em toda a cadeia de
empresas seguradas.
Para a presidente da Comissão de
Sustentabilidade, o que precisa avançar
ainda mais é a questão social. Para
ela, nem governo, nem empresas
estão dando a dimensão adequada ao
problema, levando a desigualdade e a
violência a níveis inaceitáveis atualmente, o que requer um comprometimento
maior de toda a sociedade.
REVISTA DE SEGUROS • 29
saúde
Pesquisa associa
IDHM à cobertura de
planos de saúde
Divulgação FenaSaude
Por JOÃO MAURÍCIO RODRIGUES
Levantamento inédito da
FenaSaúde relaciona o acesso à saúde
privada ao Índice de Desenvolvimento
Humano por Município.
U
O cruzamento
de dados revelou
que a maioria
dos contratos
de beneficiários
de planos de
assistência médica
está concentrada
em cerca de dois
mil municípios
brasileiros com
IDHM alto ou
muito alto.
José Cechin
30 • REVISTA DE SEGUROS
m dos principais desejos do
cidadão brasileiro, os planos de
saúde contribuem para o aumento
da qualidade de vida da população
– onde há plano de saúde, há bom
nível de bem-estar das pessoas.
Esta é uma das constatações do
diretor-executivo da FenaSaúde,
José Cechin, com base no levantamento inédito da Federação sobre
a relação entre a saúde privada e o
Índice de Desenvolvimento Humano
por Municípios (IDHM).
Segundo José Cechin, os resultados
demonstraram que os índices de IDHM
são melhores nos municípios com
taxas de cobertura de planos de saúde
mais altas. “O cruzamento de dados
revelou que a maioria dos contratos de
beneficiários de planos de assistência
médica está concentrada em cerca
de dois mil municípios brasileiros com
IDHM alto ou muito alto”, observou.
O objetivo da pesquisa foi associar
o índice de IDHM com cobertura de
planos de saúde e mostrar a relevância dos planos para alcançar um
IDHM alto. “Desta forma, a Saúde
Suplementar pode contribuir significativamente para o aumento do capital
saúde dos indivíduos. Este capital,
por sua vez, permite que os indivíduos
levem uma vida mais produtiva e saudável, qualificando a força de trabalho
e aumentando a produtividade e o
produto potencial da economia como
um todo”, explica o diretor-executivo.
TAXA DE COBERTURA
O dirigente esclarece que a pesquisa
analisou os resultados dos municípios com taxa de IDHM muito alta,
alta, média, baixa e muito baixa. Nos
44 municípios com IDHM muito alto
existem 15 milhões de beneficiários
de planos de saúde, num universo de
quase 30 milhões de habitantes, com
taxa de cobertura por plano de saúde
de 51%. Concentra 15,7% da população brasileira.
Na faixa seguinte, José Cechin destaca as 1.889 cidades com IDHM alto,
onde moram 21 milhões de pessoas com planos de saúde, de uma
população de cerca de 98 milhões de
pessoas, com uma taxa de cobertura
Nos outros municípios o dirigente
explica que a população terá acesso
aos planos de saúde na medida em
que a economia também cresça e
traga empresas produtivas que gerem
emprego, renda e ofereçam planos
coletivos para os funcionários.
A análise realizada pela FenaSaúde
traçou um paralelo entre o percentual de beneficiários de planos de
saúde por estado no ano de 2010
com o IDHM, que é levantado pelo
Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD) a cada
dez anos.
Shutterstock
de 27,6%. É a maior concentração
de usuários do País. A mesma taxa
cai para 6,4% no IDHM médio (2.233
municípios), 1,3% no baixo e menos
de 1% no índice muito baixo.
A pesquisa demonstrou também que
nove dos dez estados com maior taxa
de cobertura de planos de saúde do
País registraram uma melhor esperança de vida na pesquisa do IDHM.
Nesses estados, a população vive,
em média, até os 75,6 anos, enquanto no grupo de estados restante, a
média de vida da população gira em
torno de 72,5 anos.
POTENCIAL DE
CRESCIMENTO
Os dados da pesquisa também
demonstram as oportunidades de mercado para venda de planos de saúde.
Segundo José Cechin, nos municípios
com IDHM muito alto, em um universo
de 30 milhões de habitantes, pouco
mais da metade possui plano. “As empresas podem vislumbrar um mercado
potencial razoável. São municípios em
que as pessoas têm renda alta, bom
estado de saúde e nível de escolaridade. O mesmo se pode dizer também
dos que tem IDHM alto”.
O IDHM é composto por cinco faixas, varia entre 0 e 1. Quanto mais
próximo de 1, maior o desenvolvimento humano de um município.
São considerados três itens: renda,
educação e longevidade.
No Brasil, o último resultado foi
divulgado no fim do mês de julho
pelo PNUD, considerando o período
de 2000 a 2010. A análise também
considerou dados do Ministério
da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Dados gerais
Municípios brasileiros existentes
na data da pesquisa: 5.556
93,7% dos contratos de
beneficiários de planos de
assistência médica estão
concentrados em 1.933
municípios com IDHM alto ou
muito alto.
6% dos beneficiários da Saúde
Suplementar estão localizados
no conjunto de 2.233
municípios com IDHM médio e
0,6% em 1.367 municípios com
baixo desenvolvimento.
Taxa de cobertura
No Estado de São Paulo
43% da população possui
assistência médica. Por
outro lado, o Estado do Acre
tem uma das menores taxas
de cobertura de planos de
saúde do País: apenas 6% da
população do Estado possui
assistência privada.
Taxas de IDHM
No Rio de Janeiro e Espírito
Santo, observam-se as maiores
taxas entre os municípios com
IDHM muito alto, 62,7% e 62,1%,
respectivamente. Os municípios
com IDHM médio, baixo e muito
baixo, apresentam as menores
taxas de cobertura, 6,4%; 1,3% e
0,8%, respectivamente.
O Estado de São Paulo concentra
54,5% dos municípios com
IDHM Muito alto.
REVISTA DE SEGUROS • 31
Capitalização
Livro dá dicas
sobre opções de
uso dos títulos
Por RODOLFO CAMPOS
O autor propõe
a criação de
uma agência
reguladora
para fiscalizar
e controlar
a qualidade
dos serviços
prestados pelas
empresas
e zelar pelo
bem-estar dos
consumidores.
32 • REVISTA DE SEGUROS
A publicação, com prefácio de Michel
Temer, detalha o funcionamento das quatro
principais modalidades de Capitalização.
M
uita gente não sabe, mas os
títulos de Capitalização podem
ser utilizados como garantia no aluguel de imóveis, em substituição ao
fiador ou ao seguro fiança. Além de
ser uma opção rápida, desburocratizada e sem o inconveniente de se
ter que contar com favores de uma
pessoa de confiança, o locatário
pode resgatar o valor investido no
final do contrato, com correção monetária, o que não ocorre com outros
tipos de garantias, além de ainda
concorrer a prêmios nos sorteios,
podendo vir até a adquirir o imóvel
com esse dinheiro.
Esta é uma das dicas contidas no
livro “Contrato de Capitalização”, do
procurador federal e mestre em Direito
Jerônimo Jesus dos Santos, lançado
recentemente pela Editora LTr. Por definição, a Capitalização é uma forma de
guardar dinheiro por um prazo e taxa
de juros previamente determinados,
com direito, na maioria das vezes, a
concorrer a prêmios em sorteios.
VANTAGENS
Os sorteios são, inclusive, uma das principais vantagens dessa modalidade de
investimento de médio ou longo prazo em
relação a outros disponíveis no mercado.
“Com seu aspecto lúdico, os sorteios são vistos como oportunidades de antecipar sonhos, ganhar
dinheiro extra e até mudar de vida”,
destaca Jerônimo.
Mas não é só individualmente que a
Capitalização apresenta benefícios.
Nas palavras do autor, “a economia
coletiva transmuda-se em patrimônio
nacional realizado, desenvolvendo e
valorizando as fontes de produção,
permitindo a crescente melhoria do
padrão de vida, saúde e bem-estar
dos aglomerados humanos”.
Outra finalidade para os títulos de
Capitalização, cada vez mais difundida comercialmente, é sua utilização
como instrumento promocional e de
fidelização. Nesse caso, as empresas
adquirem séries fechadas de títulos, vinculando-os à venda de seus
Arquivo CNseg
Com seu aspecto
lúdico, os sorteios
são vistos como
oportunidade de
antecipar sonhos,
ganhar dinheiro
extra e até mudar
de vida.
Jerônimo Santos
produtos ou serviços. Nestes casos,
pode-se prever a cessão do direito de
participação nos sorteios e transferir
ao cliente o direito de resgate, além de
funcionar como mais uma motivação
para que os clientes mantenham em
dia o pagamento de suas compras.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Para aqueles que pretendem iniciar um
programa de educação financeira, o
livro “Contrato de Capitalização”, cujo
prefácio foi escrito pelo vice-presidente
da República Michel Temer, detalha o
funcionamento das quatro principais
modalidades de Capitalização.
A modalidade Tradicional se caracteriza por restituir ao titular do título, ao
final do prazo de vigência, no mínimo
o valor total dos pagamentos efetuados, desde que todos os pagamentos
previstos tenham sido realizados nas
datas programadas.
Na modalidade Compra Programada o
titular recebe, ao final da vigência, o valor do investimento em moeda corrente
nacional, e pode optar pelo recebimento
do bem ou serviço referenciado.
Já a modalidade Popular é voltada
para quem prioriza o valor dos prêmios, que representa parte do capital
acumulado. Em contrapartida, o valor
de cada prêmio individual deve ser
sempre igual ou superior a 12 vezes
a quantia dos pagamentos, mesmo
quando houver mais de um sorteado,
não havendo, entretanto, a devolução
integral dos valores pagos.
Por fim, na modalidade Incentivo há
vinculação do título a um evento promocional de caráter comercial. Nesta
modalidade, o subscritor é uma empresa que compra o título e cede, total
ou parcialmente, o direito do sorteio
aos clientes consumidores do produto
utilizado no evento promocional.
LEI COMPLEMENTAR
Apesar de reconhecer que a legislação atual cumpre seu papel, fortalecendo o mercado de Capitalização
e facilitando o relacionamento entre
clientes e empresas, o autor defende
a criação de uma Lei Complementar que disponha sobre o Sistema
Nacional de Capitalização, cuidando
especificamente dos contratos de
Capitalização, seus efeitos econômicos, sociais e jurídicos; dos institutos
da operação de Capitalização e dos
direitos e deveres dos contratantes.
Outra proposta é a da criação de uma
agência reguladora para fiscalizar e controlar a qualidade dos serviços públicos
praticados por tais sociedades e corretores, zelando pelo bem-estar social dos
consumidores e protegendo os interesses difusos e coletivos da sociedade
contra o arbítrio do poder econômico e
do poder político dos governos.
Indagado a respeito das perspectivas do mercado de Capitalização
no Brasil, o procurador afirma ser
“extremamente otimista no tocante
à expansão sempre crescente da
Capitalização que, mesmo diante do
já alcançado, está muito longe de
atingir um ponto de saturação”.
REVISTA DE SEGUROS • 33
Modelo norueguês
pode reduzir
sinistralidade
Por VAGNER RICARDO
Shutterstock
O objetivo do plano nórdico é
oferecer todos os seguros, exceto o
de P&I, em um único, consistente e
coordenado padrão.
Pelo modelo da Noruega, o armador poderá nomear seu próprio perito para ter uma segunda opinião do sinistro,
com custo de contratação a cargo da seguradora
U
m novo debate para a adoção do
clausulado norueguês de Cascos
Marítimos no mercado brasileiro ocorreu em novembro, quando um encontro promovido pela FenSeg e pela
Escola Nacional de Seguros (ENS)
reuniu cerca de 120 participantes para
demonstrar as vantagens do modelo
escandinavo. A conclusão dos especialistas é de que este modelo é uma
alternativa para, aos poucos, reduzir
a elevada sinistralidade da carteira,
por meio de uma maior colaboração e
ações mais amigáveis entre as partes:
seguradoras e segurados.
34 • REVISTA DE SEGUROS
Nos últimos 17 anos, o seguro de
Cascos Marítimos não tem obtido
lucro no mercado mundial. Mas
seguradoras e resseguradoras mantêm a aposta neste ramo, abrindo
as portas para acolher novos riscos.
Em consequência, as taxas permanecem competitivas, prolongando o
ciclo de soft market. No Brasil, o resultado operacional negativo é mais
recente – se repete nos dois últimos
exercícios –, mas não há qualquer
sinalização de que haverá alta dos
prêmios, até porque as perdas não
são tão expressivas.
MODELO HÍBRIDO
O Brasil tem potencial de crescimento
dos negócios nesse ramo, tendo em
vista a dinâmica do comércio exterior e
os investimentos de frota de apoio para
atender aos investimentos da indústria
de petróleo. Como o mercado é aberto, o Brasil segue a capacidade mundial, algo fundamental para suavizar os
riscos assumidos pelas seguradoras
locais e, na prática, limitar suas perdas.
Apesar disso, há uma mobilização para
incorporar os termos do mercado da
Noruega. Na verdade, o mercado nacional já adota algumas premissas do
clausulado norueguês. Mas o modelo
é híbrido, já que mantém as condições
gerais do contrato brasileiro, o que, na
prática, faz que a efetividade fique no
meio do caminho.
“O ideal é procurar manter o texto
nórdico o mais íntegro possível, por
ser proativo, além de tentar resolver
os problemas e reduzir as perdas dos
sinistros. Mas é fato que isso se torna
incompatível com a coexistência das
condições nórdicas e brasileiras no
mesmo contrato de seguro de Cascos
Marítimos. Dessa forma, podem surgir
dúvidas e discussões e este não é o
propósito de uma boa apólice”, afirma
a diretora da AON, Maria Helena Carbone, palestrante no seminário ocorrido
no auditório da ENS, no Rio de Janeiro,
no dia 19 de novembro. De fato, os
modelos diferem. Os chamados planos
nórdicos são baseados no Norwegian
Marine Insurance Plan, de 1996, e
revistos a cada três anos por um Standing Revision Committee (SRC).
MAIS EQUILIBRADO
O plano é dividido em quatro partes. A
primeira lista as regras comuns aplicadas a todos os seguros do plano
adquirido; as outras apresentam normas específicas envolvendo as demais
coberturas disponíveis. Para facilitar o
entendimento, o plano norueguês está
disponível para consultas em sites e em
um livro com 158 páginas, em inglês.
Há também comentários reunidos em
511 páginas para tornar clara a interpretação das normas, o que faz que
haja poucas disputas entre segurados
e seguradores.
O plano norueguês é considerado mais
equilibrado do que as outras condições
existentes no mundo. O objetivo final
do plano nórdico é oferecer todos os
seguros, exceto o de P&I (Protection &
Indenity, na sigla em inglês), em um único, consistente e coordenado padrão.
O seguro, pelas regras nórdicas, tem
os termos acordados entre as partes
e opera, com raras exceções, em all
risk. No modelo brasileiro, os riscos
são nomeados e os termos são fixados
pelo segurador.
No caso de franquias, os eventos
envolvendo salvamento, ações relacionadas a Avarias Grossas ou para
reduzir os custos das perdas, além das
despesas para liquidação de claims
(sinistros) e relacionadas à perda total,
são isentos da participação do segurado no modelo nórdico.
TÉRMINO AUTOMÁTICO
No caso brasileiro, a franquia é aplicável
em todos os casos acima, exceto por
perda total. Pelos termos da Noruega,
só duas situações estão previstas para o
término automático do seguro, ao passo
que as demais precisam ser informadas
com 14 dias de antecedência. No modelo brasileiro, as situações de término
automático são mais numerosas. Além
disso, ao contrário das regras brasileiras,
o armador poderá nomear seu próprio
perito para ter uma segunda opinião do
sinistro, com custo de contratação a
cargo da seguradora.
O seguro de Cascos Marítimos engloba coberturas às perdas e danos
causados às embarcações de transportes de passageiros, de cargas, de
recreio, reboques etc., em virtude de
acidentes ocorridos não só durante sua operação, mas também nas
fases de construção ou reparo.
E estão cobertas perdas totais (por
naufrágio ou outras causas); assistência e salvamento; avaria grossa
(apenas para embarcações de transporte de cargas); Responsabilidade
Civil por Abalroação; avaria particular
Arquivo CNseg
Cascos Marítimos
O ideal é procurar
manter o texto
nórdico o mais
íntegro possível, por
ser proativo, além
de tentar resolver
os problemas e
reduzir as perdas
dos sinistros.
Maria Helena Carbone
(danos parciais); remoção de destroços, por exemplo.
Tradicionalmente, há franquia nesta
modalidade de seguro. Os armadores
também contratam seguro de Responsabilidade Civil nos chamados clubes
de P&I. Os 13 clubes que, juntos,
formam o Grupo Internacional de P&I
Club fornecem cobertura de responsabilidade para cerca de 90% da tonelagem oceânica mundial. Cada clube
retém os primeiros US$ 9 milhões em
cada sinistro. Cada pool é parcialmente
ressegurado por meio de uma empresa
cativa chamada Hydra.
REVISTA DE SEGUROS • 35
Seguro Garantia
Produtos terão
que se adequar à
Circular 477
Por VAGNER RICARDO
A nova circular da Susep reforça
a previsão de que essa modalidade
terá um novo salto de faturamento
nos próximos anos.
Thelma Vidales
D
O produto já
não atende
plenamente o
cliente e seu
regulamento
tornou-se
ultrapassado após
10 anos da Circular
232, que é de junho
de 2003.
Rogério Vergara
36 • REVISTA DE SEGUROS
ez anos após sua vigência, o prazo de validade da Circular Susep
232 (Seguro Garantia) chega ao fim
poucos meses antes da data oficial
de sua sucessão, em abril de 2014,
quando todos os produtos ofertados
pelas seguradoras terão de estar
alinhados com os termos da Circular
477, publicada em setembro.
A morte súbita do normativo deve-se à rápida adesão dos segurados à
Circular 477, uma vez que grande parte
dos editais de licitações publicados no
último trimestre de 2013 já adotou as
novas regras de uso do Seguro Garantia entre as exigências. “Diante do comportamento dos segurados, a data de
conversão da Susep tornou-se uma ficção, porque todas as seguradoras que
operam no ramo vão oferecer seguros
com base na nova circular, ignorando
o prazo final de abril. Do contrário, vão
perder mercado”, destaca o presidente
da Comissão de Crédito e Garantia da
FenSeg, Rogério Vergara.
OBRAS PÚBLICAS
A nova circular e a expectativa de que
o Governo Federal, por meio de Me-
dida Provisória, amplie a participação
do Seguro Garantia entre as cauções
possíveis em contratos de obras públicas reforçam a previsão de que esta
modalidade terá um novo salto no faturamento a partir dos próximos anos.
Os principais aspectos do Seguro
Garantia, incluindo as mudanças do
marco regulatório e capitais segurados
mais elevados, foram temas exaustivamente discutidos em encontro que
reuniu 120 participantes, em Brasília,
em novembro, promovido pela FenSeg
e Escola Nacional de Seguros, que reuniu representantes de seguradoras, dos
tomadores e de empresas públicas.
Na oportunidade, os diretores Nelson Le
Cocq D’Oliveira (Susep) e Neival Rodrigues (FenSeg), participantes da solenidade de abertura, deixaram claro que a
Circular 477 será não só o passaporte
para uma forte expansão do seguro
nos próximos anos, como também um
passo importante para encerrar ruídos e
imperfeições operacionais.
“Na parte de treinamento, as novas
regras exigirão a realização de diversos
workshops pela Escola Nacional de Seguros no próximo ano para atualizar téc-
Thelma Vidales
As novas regras
exigirão a realização
de diversos
workshops pela ENS
no próximo ano para
atualizar técnicos
das seguradoras e
corretores.
Maria Helena Monteiro
Nelson Le Coqc, Neival Freitas e Maria Helena Monteiro
nicos das seguradoras e corretores de
seguros”, adiantou a diretoria da ENS,
Maria Helena Monteiro, que também
participou da solenidade de abertura.
NOVO MARCO
A nova circular da Susep, diferentemente do normativo do mercado
americano, cuja regulamentação do
Seguro Garantia é expressa em duas
páginas, conta com 60 páginas (contra
dez, da 232) para corrigir grande parte
das imperfeições de mercado. O novo
marco é fruto de três anos de consultas a seguradoras, contratados e
contratantes e se preocupou em definir
mais claramente as regras de sinistros,
prazos de vigência e critérios de indenizações, entre outros pontos.
Entre os problemas do marco que
chega ao fim em abril, havia negativas
por comunicação de sinistros fora do
prazo ou pedidos de indenizações
que não cabem ao ramo – mas sim
a outras modalidades, como risco de
engenharia. Em resposta às lacunas, as
empresas públicas adotaram cláusulas
indevidas nas licitações de obras públicas, regulando por exceção para evitar
riscos maiores e garantir a entrega de
obras no prazo.
Exemplo disso, obrigações trabalhistas
e previdenciárias (agora disponíveis
como cobertura facultativa nos produtos à luz da Circular 477), prazo
de vigência mínima de dois anos do
contrato - o correto é a renovação
anual - fixação de tetos para a compra
de planos de Resseguros, enumerou
o executivo Rogério Vergara. “Isso
demonstra que o produto já não atende
plenamente o cliente e que seu regulamento tornou-se ultrapassado após
10 anos da Circular 232, de junho de
2003”, acrescentou ele.
APARANDO ARESTAS
Mas as ações adotadas pela Susep e
mercado segurador pretendem aparar
arestas constatadas nos últimos anos.
A Susep, com a nova circular, está
certa de que deu passos para atualizar
o marco regulatório com as práticas de
mercado. Não é por acaso, contudo,
que a migração da Circular 232 para a
Circular 477 ocorre de forma acelerada,
afirma Carla Acras (AIG).
Segundo ela, o novo normativo encerra
a zona cinzenta da legislação anterior,
ao fixar regras claras nas condições
contratuais, sobretudo no que se refere
a procedimentos para protocolo de
expectativa de sinistros, critérios de
caracterização, prazo de vigência do
seguro e a necessidade de informar a
seguradora sobre aditivos ao contrato
principal para eventuais endossos das
apólices, entre outros.
No plano institucional, a FenSeg adotou
duas ações que vão ajudar a aperfei-
çoar o relacionamento com os clientes.
A primeira é o lançamento de um Guia
de Boas Práticas do Seguro Garantia,
provavelmente em fevereiro, cujo texto
preliminar está praticamente concluído
e será submetido à diretoria da FenSeg
para sanção. A ideia é listar as melhores
práticas que o mercado adotará para
evitar desgastes com clientes.
MANUAL DO SEGURADO
Outra medida importante, também
com lançamento previsto para 2014,
será um manual para os segurados.
Nesse caso, à luz da Circular 477
serão elencadas as principais informações sobre coberturas, modalidades
negociadas no ramo, procedimentos
sobre aviso de sinistros, entre outros
tópicos. Mesmo com os problemas
pontuais, o seguro se consolida entre
as demais modalidades de caução
que disputam o direito de oferecer
garantias para o cumprimento das
obrigações contratuais.
Hoje são cinco modalidades para
obrigações públicas ofertadas pelas
seguradoras. A de Garantia do Licitante; a de Garantia do Executante
Construtor, Fornecedor ou Prestador
de Serviços; Garantia Aduaneira (Receita Federal); Garantia de Retenção
ou Adiantamento de Pagamento; e
Garantia Judicial (produto acolhido
em diversas instâncias da Justiça).
REVISTA DE SEGUROS • 37
Antranik Photos
Fatca
Combate globalizado
à evasão fiscal
Seguradoras brasileiras estão entre
as instituições que se prepararam para
aderir ao Fatca, lei criada pelos EUA para
reduzir a evasão fiscal.
A
té abril de 2014, algumas
seguradoras brasileiras terão
um longo trabalho pela frente para
implantar os requerimentos do Fatca
(na sigla em inglês, Foreign Account
Tax Compliance Act), lei norte-americana promulgada em 2010 e regulamentada em 2013 com o objetivo de
reduzir a evasão fiscal nos Estados
Unidos. Embora os bancos estejam
mais adiantados, as seguradoras poderão recuperar o atraso se iniciarem
desde já a adesão ao Fatca.
A orientação foi transmitida em
evento da CNseg, realizado no dia
5 de dezembro, no auditório da
Bradesco Seguros, em São Paulo,
com a participação de especialistas
da consultoria KPMG e do superintendente de Regulação da CNseg,
Alexandre Leal. “Estamos atrasados,
mas nunca é tarde”, afirmou Leal.
Há 15 anos atuando na KPMG nos
Estados Unidos, Julio Castro explicou que aquele decidiu criar a lei Fatca depois de enfrentar um escândalo envolvendo um banco estrangeiro,
38 • REVISTA DE SEGUROS
que ajudava norte-americanos a
“esconderem” seus ativos no exterior. Por lei, os americanos são obrigados a pagar impostos ainda que
morem em outro país. “Assim surgiu
o Fatca, que permite ao governo
americano ter acesso a informações
sobre transações financeiras de cidadãos e empresas que residam ou
atuem fora do país, os denominados
US persons”, disse.
Segundo Castro, o Fatca estabelece
que as informações sobre transações financeiras dos US persons
devem ser controladas e reportadas
às autoridades fiscais dos Estados
Unidos pelas FFIs e NFFEs – siglas
que denominam, respectivamente,
as instituições estrangeiras financeiras e não-financeiras.
Ele explicou que a adesão é voluntária, porém, as seguradoras que mantêm negócios com empresas norte-americanas ou com US persons,
enquadradas na condição de FFI ou
NFFE, estarão sujeitas à retenção de
30% sobre os pagamentos a receber
O Fatca permite ao
governo americano
ter acesso a
informações
sobre transações
financeiras
de cidadãos e
empresas que
residam ou atuem
fora do país.
Julio Castro
Antranik Photos
Por MÁRCIA ALVES
Hoje, os cadastros
no Brasil não
estão preparados
para identificar
US persons,
principalmente
os de produtos,
que não são
unificados.
Phelipe Linhares
Com ou sem o IGA,
as seguradoras
terão de cumprir
os requerimentos
e o melhor é
não esperar a
assinatura do
acordo. O Fatca
esta aí e tem de ser
cumprido.
Alexandre Leal
Antranik Photos
de fontes dos Estados Unidos. A
mesma penalidade será aplicada aos
segurados US persons que se negarem a autorizar o reporte de suas
informações.
No Brasil, já se tem notícia de um
grande banco multinacional que
decidiu abrir mão dos clientes que
se recusaram a autorizar o envio de
informações sobre suas transações
financeiras. “Foi uma decisão estratégica do banco, que preferiu encerrar o relacionamento com parte de
seus clientes a ter de fazer a retenção de 30%”, disse Leal, ressaltando
que existe um entrave à adesão das
seguradoras e de instituições financeiras ao Fatca.
A questão é que, sem a assinatura
de um acordo intergovernamental
(IGA, na sigla em inglês) entre o governo brasileiro e o norte-americano,
o envio de informações sigilosas de
segurados ou correntistas US persons poderá infringir a legislação do
país. “Este é um risco que as empresas não querem correr”, disse Leal.
Entretanto, como o primeiro prazo
do cronograma de implantação do
Fatca vence em abril desse ano,
Leal teme que não haja tempo
para as seguradoras adotarem os
procedimentos necessários para
a adesão. “Com ou sem o IGA, as
seguradoras terão de cumprir uma
série de requerimentos e o melhor é
não esperar a assinatura do acordo.
O Fatca esta aí e tem de ser cumprido”, disse.
De acordo com Phelipe Linhares, da
KPMG, o processo de adequação
compreende diversas fases, começando pela classificação da empresa
ou do seu produto no escopo do
Fatca. Ele elencou os passos para
adequação ao Fatca a partir da
identificação dos clientes originários
dos Estados Unidos; apuração dos
impactos que serão assumidos;
planejamento das ações necessárias;
adaptação dos sistemas; envolvimento e treinamento do pessoal dedicado às novas tarefas; definição de
processos, soluções e novas abordagens de governança e de exposição a riscos; além do gerenciamento
do relacionamento e da comunicação com clientes, potenciais clientes
e demais partes interessadas.
Linhares reconheceu que a identificação de clientes US persons é o
primeiro grande desafio para as empresas brasileiras. “Hoje, os cadastros no Brasil não estão preparados
para identificar US persons, principalmente os de produtos, que não
são unificados”, disse. “Mas o
Brasil não está sozinho nesse
processo, em todos os países as
seguradoras estão atrás dos bancos
na adequação”, disse.
Dentro do escopo do Fatca
Todos os US persons detentores de direitos de resgate de contratos
de seguros superiores a US$ 50 mil:
•Anuidades vitalícias, temporárias e certas (benefícios concedidos)
•Planos PGBL e VGBL, planos tradicionais e Fundos de Aposentadoria Programada Individual (Fapi)
•Títulos de Capitalização
•Seguro de Vida temporário, dotais mistos e puros
Fora do escopo do Fatca
•Todos os contratos de seguro de Vida com vigência anual e prêmio
ajustável por idade, sem valor de resgate; ou que tenham pagamentos periódicos de prêmios durante a vigência do contrato.
•Planos de Previdência que gozem de incentivos fiscais; ou nos
quais os resgates estejam condicionados à determinada idade
de aposentadoria, invalidez ou morte, ou haja penalidades para
retiradas antes destes eventos.
REVISTA DE SEGUROS • 39
Capital Estrangeiro
Novas regras da
IAIS preocupam
mercado brasileiro
Por JORGE CLAPP
Lastreadas pelo G-20, medidas alteram o
cálculo de capital e são válidas para empresas
com atuação internacional.
O objetivo é
aprimorar a
quantidade de
capital que as
seguradoras
necessitam para
se proteger contra
perdas futuras
significativas e
inesperadas.
40 • REVISTA DE SEGUROS
A
crise financeira que abalou as
finanças mundiais em 2008 ainda
causa apreensão em diferentes setores econômicos, inclusive no mercado
de seguros. Tanto assim que a Associação Internacional dos Supervisores
de Seguros (IAIS, na sigla em inglês),
entidade que congrega os órgãos
reguladores de aproximadamente 200
países – inclusive a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e a
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) –, decidiu alterar sua
tradicional postura de orientadora,
passando a estabelecer regras que
devem ser seguidas por empresas de
todos os continentes.
Esse novo perfil da IAIS é lastreado
politicamente pelo G-20, grupo formado pelos ministros de finanças
e chefes dos bancos centrais das
19 maiores economias do mundo
e mais a União Europeia e tem, ou
terá em breve, forte repercussão no
mercado brasileiro.
As primeiras medidas relevantes são
as novas regras mundiais de cálculo
de capital, válidas para um grupo de
empresas com atuação internacional.
Tal modelo, que está em consulta
pública, foi apresentado durante a
20ª Conferência da IAIS, realizada
na cidade de Taiwan, na China, em
meados de outubro. O objetivo é
aprimorar a quantidade de capital que
as seguradoras necessitam para se
proteger contra perdas futuras significativas e inesperadas.
FORÇA POLÍTICA
A CNseg foi representada nesse evento
pela superintendente do Núcleo de
Estudos e Projetos, Fernanda Chaves,
para quem a nova definição de capital
surgiu da necessidade de maior proteção do mercado de mundial. “A mudança de postura chamou a atenção
de todos. Mas a verdade é que a IAIS,
que era pouco representativa desde
sua criação, há 25 anos, está ganhando força política e hoje é uma referência
inclusive para o G-20”, afirma.
Fernanda explica que o primeiro
passo é a exigência inicial de capital
Arquivo CNseg
Algumas
seguradoras
brasileiras com
operações na
América Latina,
por exemplo,
deverão seguir
o receituário
indicado pela
instituição
internacional.
Fernanda Chaves (à direita), ao lado de Camila Avozani: “O mercado brasileiro será impactado já em 2014”
(Backstop Capital Requirement, ou
BCR), que deve estar definida até o
encontro dos líderes do G-20 previsto
para o final de 2014. Essa exigência
abrangerá todo o grupo, incluindo até
mesmo as empresas subsidiárias que
não são seguradoras – mas ainda não
foi definido como e onde será integralizado o novo aporte de capital, o que
gera muitas dúvidas e alguma preocupação em todo o mundo.
A aplicação do BCR atingirá um grupo
seleto, formado por nove grandes conglomerados mundiais, dos quais seis
atuam no Brasil, através de subsidiárias: Allianz, Generali, Axa, Prudential,
AIG e MetLife. “Isso significa que o
mercado brasileiro será impactado já
em 2014”, observa a superintendente.
REFERÊNCIA PRINCIPAL
Outra integrante desse Núcleo que
acompanha de perto esse processo é
Camila Avozani, que acha mais provável que as definições tenham como
referência principal a chamada “Solvência II” (regras de capital baseado em
risco aprovadas para as seguradoras
europeias), que sequer foi implementada. “É preciso definir valores, percentuais, tipos de capital e onde investir.
Acreditamos que alguns testes serão
realizados antes da definição”, avalia.
Depois dessa primeira etapa, a IAIS
vai estabelecer novos níveis de capital
e uma nova lista de exigências, que
atingirão alguns grupos seguradores
que atuam em diferentes países. Dessa
forma, algumas seguradoras brasileiras
com operações na América Latina, por
exemplo, deverão seguir o receituário
indicado pela instituição internacional.
Isso porque, de acordo com Fernanda Chaves e Camila Avozani, caso a
proposta atual seja efetivada, as novas
exigências terão que ser cumpridas por todos os grupos com ativo
superior a US$ 50 bilhões; receita de
prêmios anual de pelo menos US$ 10
bilhões; e negócios em três ou mais
países. “O impacto será expressivo”,
alerta Fernanda Chaves, acrescentando que a adaptação às regras deverá
ocorrer até 2019.
PERDAS FUTURAS
As novas medidas refletem a preocupação demonstrada por supervisores de seguros de todo o mundo,
na 20ª Conferência da IAIS, em
relação à necessidade de aprimoramento da quantidade de capital que
as seguradoras necessitam para
se proteger contra perdas futuras
significativas e inesperadas.
O entendimento dos órgãos reguladores é de que, no caso específico do
seguro, a cautela é indispensável, pois
a maioria dos grandes grupos atua em
diversos países simultaneamente. Com
isso, crescem as chances de eventuais
dificuldades financeiras enfrentadas por
uma subsidiária localizada em determinado país atingir todo o grupo, provocando um “efeito dominó”.
O novo cenário criado pela crise de
2008 tornou ainda mais fundamental
levar em conta as operações mundiais
no momento de se definir a fórmula que
irá pautar o cálculo de capital necessário. Falta agora estipular como e onde
esse capital deve ser alocado.
REVISTA DE SEGUROS • 41
cnseg
Shutterstock
Estudo
IAIS define
padrão global
de capital
A entidade que até então provia seus
associados com orientações, a partir de agora irá
desenvolver também a fórmula de cálculo.
N
o último mês de outubro, o mercado segurador mundial recebeu
a notícia de que Associação Internacional de Supervisores de Seguro (IAIS)
desenvolverá, a partir de 2014, um
padrão global de capital baseado em
risco para determinados grupos seguradores. Esta definição foi uma surpresa, pois a IAIS, que até então provia
seus associados com orientações, a
partir de agora irá desenvolver também
a fórmula de cálculo.
42 • REVISTA DE SEGUROS
A IAIS é a entidade representativa dos
órgãos reguladores e supervisores de
seguro de mais de 200 jurisdições, de
cerca de 140 países que respondem
por 97% dos prêmios arrecadados
mundialmente. As ações da IAIS
norteiam medidas regulatórias que
afetam diretamente seus membros,
que são supervisores regionais como,
por exemplo, no Brasil, a Susep e a
ANS. Os debates e as ideias surgidas
no âmbito da IAIS já influenciaram as
exigências de capital que ainda estão
em desenvolvimento na Susep, com a
mudança de um sistema padrão para
um de capital baseado em risco.
O processo que culminou nesta nova
definição internacional de capital surgiu
da necessidade de maior proteção do
mercado de Seguros mundial, após a
crise de 2008. A reação da IAIS a este
movimento foi a criação da ComFrame,
estrutura ampla de supervisão de Grupos Seguradores Internacionalmente
Ativos (IAIGs).
O critério para a definição de um IAIG,
assim como todo o processo em torno
do ComFrame, está em finalização (até
dezembro de 2013 a proposta inicial
estará em consulta pública), mas algumas ideias iniciais, inclusive critério de
enquadramento, já estão divulgadas. A
partir de 2014, haverá a fase de teste
e avaliação da ComFrame na prática,
com previsão de ser completamente
adotada no final de 2018. A fase de
teste compreenderá estudos de impacto de seus elementos, por exemplo,
quanto à efetividade e viabilidade, além
de avaliar se sua implantação implicará
custos excessivos para os grupos de
seguradores incluídos no programa.
O aumento da preocupação com os
impactos de atuação das empresas
multinacionais, os líderes do G-20 demandaram a definição de um subgrupo dentro dos IAIGs, os Seguradores
Globais Sistemicamente Importantes
(G-SII), ou too big to fail. Para estes,
deverá ser aplicada uma exigência de
capital mundial imediata. A medida de
capital inicial (BCR) servirá de base para
um segundo patamar de exigência de
capital, de maior absorção de sinistros
(HLA), aplicada para os G-SIIs, mas não
para os IAIGs. Nove grupos foram selecionados como G-SIIs em julho de 2013,
a serem reavaliados anualmente:
A estrutura de
ComFrame compreenderá
três níveis de padrão
de capital para o
mercado segurador:
Higher Loss Absorbency (HLA):
Complementando o estudo a ser
desenvolvido para o BCR, o HLA é
para que os G-SIIs mantenham um
nível mais elevado de capital a partir
de 2019. Seu detalhamento deverá ser
feito até o final de 2015.
Backstop Capital Requirement (BCR):
Exigência inicial de capital, com
a pretensão de estar pronta para
implementação pelos G-SIIs até o
encontro de líderes do G-20 em
novembro de 2014. Deverá abranger
todas as atividades dos grupos, incluindo
empresas subsidiárias não seguradoras.
Ainda não está definido se a aplicação do
BCR será feita para o restante dos IAIGs.
• Europa: Allianz SE*, Assicurazioni
Generali S.p.A.*, Axa S.A.*, Aviva plc,
Prudential plc.
• EUA: American International Group,
Inc.*, MetLife*, Inc., Prudential
Financial, Inc*
• China: Ping An Insurance (Group)
Company of China, Ltd.
Os seis grupos marcados com
asterisco já operam no Brasil e terão
aplicação da BCR em breve. Isto significa
que o mercado brasileiro será impactado
diretamente em 2014 pelas medidas
da IAIS, através da supervisão das subsidiárias desses grupos pelos supervisores
regionais de suas sedes. No futuro, serão
também afetados por regras da IAIS os
Insurance Capital Standard (ICS):
É o padrão global de capital baseado
em risco, que será desenvolvido
a partir de 2014 com objetivo de
ser adotado pelos IAIGs em 2019.
Durante seu desenvolvimento será
avaliada a adequação de capital
mínimo em relação às regras locais.
grupos seguradores brasileiros com
atuação internacional que se enquadrem na definição de IAIGs.
O tema requerimento de capital para
grupos seguradores permanecerá
em pauta por muito tempo, visto que
existem questões relevantes ainda não
respondidas e que deverão ser amplamente discutidas. Uma delas é como
uma requisição de capital padronizada
permeará países com regras contábeis
diferenciadas, dada à falta de uniformidade mundial neste ponto.
Mas certamente vai provocar um grande
debate o local em que o capital ficará depositado. Como a exigência de
capital será calculada em nível de grupo
segurador, este montante poderá ser
totalmente alocado no país da matriz
do grupo, ou subdivido pelos países em
que atua. Portanto, o mercado segurador brasileiro deve acompanhar de perto
as mudanças regulatórias internacionais,
que, neste caso, poderão impactar
desde a contabilidade até a estrutura e
a alocação de capital no Brasil.
Segundo o planejamento atual, em
2015 e 2016 haverá a primeira etapa
de testes para a especificação de
uma referência de capital, calculado
com a abordagem de estresse de
cenários adversos ponderados pela
probabilidade de ocorrência. Este
valor será comparado com dois
níveis: principal (core) e elementos
adicionais, para a composição
dos recursos totais de capital.
Assim, este capital representará
a capacidade de absorção de
sinistros dos grupos, tanto para a
continuidade das atividades quanto
para o caso de liquidação.
REVISTA DE SEGUROS • 43
ENS
Parceria com
Londres gera ganhos
sem precedentes
Por BIANCA ROCHA
Mestrados da Cass Business School,
em Londres, ajudam a desenvolver o
segmento atuarial no Brasil.
O Brasil ainda
é novo no
ramo atuarial
comparado a
outros países.
Ter a chance de
estudar fora é
extremamente
importante.
Arquivo ENS
Rafael Tsuzuki
44 • REVISTA DE SEGUROS
A
pós optar pela realização de um
curso de Mestrado em Ciências
Atuariais, em Londres, Leonel Lopes
Junior já percebe os benefícios que a
experiência internacional ofereceu a
sua carreira. Ao retornar da Inglaterra,
em outubro deste ano, ele foi promovido na empresa em que trabalhava
antes de viajar, uma prova do reconhecimento e valorização do mercado
em relação à capacitação profissional
e de qualidade.
Esse é apenas mais um caso de
sucesso proporcionado pela parceria
entre a Escola Nacional de Seguros
(ENS) e a Cass Business School – City
University, instituição londrina que
oferece cursos de pós-graduação.
Pelo acordo, iniciado em 2012, a ENS
concede duas bolsas integrais por ano
para estudantes interessados em cursar Mestrado em Ciências Atuariais ou
Gestão Atuarial no exterior. O período
de aulas é de um ano e a bolsa é de
1.000 libras mensais, além da passagem aérea em classe econômica de
ida e volta para a capital inglesa.
“O fato de morar fora do Brasil proporciona experiências que vão além do
desenvolvimento técnico de um mestrado. Entre elas estão o aperfeiçoa-
mento da língua inglesa, a convivência
com outras culturas e o contato com
um mercado de seguros mais desenvolvido”, destaca Leonel.
AMPLA VISIBILIDADE
Graduado em Ciências Atuariais pela
Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade
de São Paulo (FEA-USP), Luiz Paulo
Bueno tem opinião semelhante. Ele
foi um dos alunos do Mestrado em
Ciências Atuariais na Cass Business
School entre 2012 e 2013. “Realizar
uma especialização dentro desta área
certamente gera uma ampla visibilidade no mercado”, diz, afirmando que
a parceria da ENS com a instituição
inglesa é fundamental para o desenvolvimento do setor atuarial no Brasil.
Para o diretor de Ensino Superior e Pesquisa da Escola Nacional de Seguros,
Claudio Contador, a ideia da parceria
se concretizou devido ao aumento da
demanda por profissionais qualificados
na área atuarial. Segundo ele, o suporte
financeiro comprova o empenho da
ENS na capacitação de quem atua no
segmento. “Queremos que esses profissionais adquiram conhecimentos sólidos
e voltem ao Brasil com expertise de alto
OPORTUNIDADE ÚNICA
Em setembro deste ano, mais dois
profissionais, agraciados pela bolsa
de estudos para 2013/2014, embarcaram para Londres para cursar o
Mestrado em Ciências Atuariais na
Cass Business School. Camila Prado
diz que a experiência está superando
as suas expectativas e já espera voltar
ao Brasil com novas oportunidades
na carreira. “Acredito que esse mestrado agregará conhecimento ao meu
currículo. Quanto mais estudos nessa
área, maior será o aprimoramento
da nossa profissão, que está sempre
em renovação em relação a regras e
convenções”, explica.
Para Rafael Tsuzuki, estudar em
um país onde a profissão de atuário possui longa tradição é um dos
maiores benefícios proporcionados
pela parceria da ENS. “O Brasil ainda
é considerado um país novo no ramo
atuarial comparado a outros como
Reino Unido e Estados Unidos. Ter
a chance de estudar fora é extremamente importante”, afirma.
Na opinião do decano da Cass
Business School, professor Steven
Haberman, os alunos patrocinados
pela ENS podem levar conhecimentos
importantes para o Brasil, um país,
segundo ele, em contínuo crescimento,
mas com poucos atuários qualificados.
Ele ressalta que a instituição foi considerada por uma revista acadêmica a
segunda melhor no ranking de escolas
atuariais do mundo. “O objetivo da
parceria é permitir que alunos talentosos do Brasil tenham a oportunidade
de ganhar experiência e qualificação.
E que isso possa ajudá-los na prática
adequada da profissão em seu país”.
Arquivo ENS
nível, para elevarem cada vez mais o desempenho do nosso mercado”, reforça.
Luiz Paulo Bueno (à esq.) e Leonel Lopes Junior estão entre os beneficiados pela experiência
internacional proporcionada pela parceria entre a ENS e a escola britânica.
Treinamento no exterior
Além da parceria com a Cass Business School, a Escola
Nacional de Seguros (ENS) tem, desde 2000, um acordo de
cooperação técnica com a The Chartered Insurance Institute (CII),
instituição londrina voltada para o ensino de Seguro e Resseguro.
O convênio possibilita a realização, dentre outras atividades, do
Programa de Treinamento no Exterior organizado pela Escola
para aprimorar a formação dos profissionais do setor. O tema do
treinamento é “Os Processos Técnicos do Resseguro”.
Segundo Claudio Contador, a partir da abertura do mercado de
Resseguros no Brasil, a Escola buscou um treinamento que
pudesse contribuir para o desenvolvimento e qualificação do
profissional brasileiro. “Londres é o berço do Resseguro e para
onde convergem players de todo o mundo em busca de negócios
e colocação de riscos. Por essa tradição, o mercado londrino tem
profissionais extremamente experientes formados sobre uma
sólida base educacional”.
Até agora, mais de 40 alunos já fizeram o treinamento, que
acontece uma vez por ano. Em 2014, as aulas estão previstas
para acontecer entre 15 e 19 de setembro, e as inscrições já
estão abertas. O conteúdo aborda tópicos como cláusulas
contratuais, documentação (contract certainty), facultativo,
formas, tipos, estilos e termos de Resseguro e outros
relacionados, com estudos de casos e exercícios.
REVISTA DE SEGUROS • 45
opinião
Navegando em
mar com ondas
Arquivo CNseg
Antonio Penteado Mendonça, jornalista e especialista em Seguros e Previdência
As “mágicas” contábeis feitas pelo governo,
para garantir o superávit primário, jogam para
baixo a credibilidade nacional.
por aí vamos, numa sucessão de fatos e
A realidade é
previsões bastante desanimadoras.
No entanto, o setor de Seguros espera
que a sociedade
um ano de crescimento bem acima da
brasileira tem
média brasileira. E não é sonho, nem
necessidade de
número para inglês ver. A realidade é
todos os tipos
que a sociedade brasileira tem necesde proteção e o
sidade de todos os tipos de proteção e
seguro é a mais
o seguro é a mais importante e eficiente
importante e
de todas elas.
A premiação acontecida no almoço
eficiente de
de final de ano, no dia 19 de dezembro,
todas elas.
mostra o alto grau de competência
e profissionalismo que hoje pauta a
ano de 2014 será tudo, menos um atividade e é requisito cada vez mais
período fácil. A frase é a síntese de indispensável para os que pretendem
todas as opiniões públicas e privadas de fazer carreira no setor.
Não há mais espaço para amadores.
quem entende de economia e política.
O Brasil está com a economia bastante A falta de competência é punida pelo
desarranjada e não há nenhum sinal de próprio mercado. Quem não é bom
que o governo pretenda fazer as corre- no que faz é naturalmente expelido,
acirrando a competição entre as seguções de rumo necessárias para corrigir
radoras, resseguradoras e corretores
as distorções criadas por ele mesmo,
de seguros em benefício do segurado,
pelo menos antes das eleições.
ou seja, da sociedade, que, por meio
Por conta das “mágicas” contábeis
das apólices, tem a proteção necesfeitas para garantir o superávit primásária para investir em novas fronteiras
rio, a credibilidade nacional passa por
geradoras de riquezas.
um momento de baixa. O dólar subiu
Independentemente das grandes obras
vertiginosamente, a indústria está em
e dos investimentos públicos, o País
recessão, as grandes obras de infraestrutura estão em ritmo lento, a corrupção continua se modernizando, o que gera
uma forte participação da inciativa privaestá longe do fim, a incompetência na
da nos números globais da economia.
gestão da coisa pública custa caro, e
o
46 • REVISTA DE SEGUROS
Aliás, neste sentido, se o governo fosse
mais eficiente e a carga tributária mais
leve, a velocidade do desenvolvimento
seria maior, beneficiando bem mais a
nação como um todo.
Neste cenário, o setor de Seguros
tem o importante papel de proteger os
investimentos e a riqueza social. Mas
tem também outro, menos visível, tão
importante quanto este: os fundos
administrados pelas empresas do setor
são ferramentas essenciais para financiar o desenvolvimento do País.
Assim, não é contradição dizer que,
apesar de o País ter pela frente um ano
complicado, o setor de Seguros tem
condições de manter o crescimento na
casa dos dois dígitos, principalmente
pela expansão dos Seguros exigidos
pela população, desde os seguros
de Vida até os demais tipos de
seguros patrimoniais.
É bom lembrar que 2014 será um ano
curto. Com Carnaval, Copa do Mundo e
eleições, 2015 está logo aí, pronto para
chegar. Quer dizer, não haverá espaço
para o que está ruim se deteriorar muito
mais. Como os indicadores de aumento
de renda permanecem positivos, as
novas aspirações da população serão
a mola necessária para, assim que as
coisas se acalmarem, se tomarem as
medidas para colocar ordem na casa.