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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO VIVIAN COSTA BARROS DEPRESSÃO E APOIO SOCIAL EM GESTANTES DE FETOS COM MALFORMAÇÕES ATENDIDAS EM UM HOSPITAL MATERNOINFANTIL PÚBLICO DE REFERÊNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro 2013 VIVIAN COSTA BARROS DEPRESSÃO E APOIO SOCIAL EM GESTANTES DE FETOS COM MALFORMAÇÕES ATENDIDAS EM UM HOSPITAL MATERNOINFANTIL PÚBLICO DE REFERÊNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Área Saúde Mental e Violências, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Orientador: Professor Doutor Giovanni Marcos Lovisi Rio de Janeiro 2013 VIVIAN COSTA BARROS DEPRESSÃO E APOIO SOCIAL EM GESTANTES DE FETOS COM MALFORMAÇÕES ATENDIDAS EM UM HOSPITAL MATERNOINFANTIL PÚBLICO DE REFERÊNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Área Saúde Mental e Violências, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Banca Examinadora Prof. Dr. Giovanni Marcos Lovisi, IESC/UFRJ Prof. Drª. Jacqueline Fernandes de Cintra Santos, IESC/UFRJ Prof. Dr. Marco Antônio Alves Brasil, HU/UFRJ Rio de Janeiro 2013 RESUMO BARROS, Vivian Costa. Depressão e apoio Social em gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital materno-infantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva)Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013 A gestação e o puerpério são os períodos de maior prevalência de depressão na vida da mulher. Complicações obstétricas, incluindo malformações congênitas, são importantes fatores de risco para depressão durante a gestação. De acordo com o DSM IV, gestantes de fetos malformados vivenciam um evento de vida estressante grave. Esse fato pode ser agravado com a ausência de apoio social. Poucas pesquisas existem no Brasil sobre a temática, portanto, o presente estudo teve como objetivo estimar a depressão em gestantes atendidas em um hospital materno-infantil público de referência para malformações fetais na cidade do Rio de Janeiro. Foram realizadas entrevistas com 86 gestantes de fetos com malformações, no período compreendido entre agosto de 2011 e julho de 2012. O instrumento Composite Internacional Development Interview (CIDI) foi utilizado para o diagnóstico da depressão. A prevalência de depressão durante a gestação foi 17.4% (IC 95% 0,09-0,26), sendo associada à variável estar desempregada. As dimensões de ausências de apoio emocional e de informação apresentaram a maior frequência (57%). A depressão é um transtorno comum em gestantes de fetos com malformações e está associada a indicadores de privação socioeconômica. Portanto, são necessárias a implementação de políticas sociais e intervenções psicossociais adequadas para reduzir o sofrimento psíquico da depressão gestacional nessa população. Palavras-Chave: Depressão. Apoio social. Gestantes. Malformação. ABSTRACT BARROS, Vivian Costa. Depression and Social Support of Pregnant Women in Fetuses with Malformations attended at a Maternal and Child Hospital Public Reference in the city of Rio de Janeiro. Master's degree in Public Health. Institute of Studies in Collection Health. Federal University of Rio de Janeiro, 2013 The pregnancy and postnatal period is the time of major prevalence of depression in women’s life. Obstetric complications, including congenital malformations are important risk factors for depression during pregnancy. According to DSM-IV, mothers of fetuses with malformations experience a severe stressful life event. This fact could be aggravated by lack of social support. As there are few studies if this issue in Brazil, a cross-sectional study was carried out with the aim to assess the prevalence of depression and social support in pregnant women with fetal malformations attended at a reference hospital to fetal malformations in the Rio de Janeiro. Data were collected on a sample of 86 pregnant women using the Composite International Development Interview (CIDI) between August 2011 and July 2012. The prevalence of depression during pregnancy was 17.4% (95% CI 0.09 to 0.26) and associated factor included being unemployed. The lack of emotional and information supports showed the highest frequency (57%). Depression is common during pregnancy of women with fetal malformations and is associated with indicators of socioeconomic deprivation. Psychosocial interventions and appropriate social policies need to be implemented in this population to reduce the burden of maternal depression. Keywords: Depression. Social support. Pregnant. Malformation. SUMÁRIO RESUMO 04 ABSTRACT 05 DEDICATÓRIA 08 AGRADECIMENTOS 09 EPÍGRAFE 12 LISTA DE ILUSTRAÇÕES 13 LISTA DE TABELAS 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 15 1 INTRODUÇÃO 16 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO 20 2.1 Malformação: Conceito e principais aspectos sobre o diagnóstico do recém- 20 nascido 2.2 Depressão durante o período gestacional 23 2.3 Apoio Social: conceito e implicações durante a gestação 26 2.4 Depressão, apoio social e gestação de fetos com malformações: algumas 28 considerações 2.5 Estudos sobre depressão em gestantes de fetos com malformações 29 3 JUSTIFICATIVA 31 4 OBJETIVOS 33 4.1 Objetivo Geral 33 4.2 Objetivos Específicos 33 5 MÉTODOS 34 5.1 Local do Estudo 34 5.2 Desenho do Estudo 36 5.3 População do Estudo 36 5.4 Coleta de Dados 37 5.5 Instrumentos 37 5.5.1 Avaliação das variáveis sociodemográficas 37 5.5.2 Avaliação das variáveis clínicas e obstétricas 38 5.5.3 Avaliação de eventos estressantes durante o último ano 38 5.5.4 Avaliação da Depressão 39 5.5.5 Avaliação de apoio social 39 5.6 Aspectos Éticos 42 5.7 Análise de dados 43 6 ARTIGO 44 6.1 Introdução 45 6.2 Métodos 48 6.3 Resultados 53 6.4 Discussão 64 6.5 Conclusão 67 6.6 Bibliografia 68 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 76 8 REFERÊNCIA 78 9 ANEXOS 85 Dedico este trabalho a todos os sujeitos que vivenciaram ou vivenciam os caminhos sinuosos da depressão e dia a dia tentam entender acima de tudo, seus próprios silêncios. AGRADECIMENTOS À Deus, por me permitir entender que pela fé os momentos felizes são mais iluminados e que os difíceis não devem ser tão pesados; Aos meus pais e irmão por todo amor, carinho, dedicação e compreensão nos momentos em que não pude estar presente, nos momentos delicados, nos momentos de vitórias, nos momentos em que eu pouco conseguia falar pela correria de ter que trabalhar e estudar; À minha avó Zelma, por me dar força nos momentos em que estava pequena, pelo carinho, pelo acolhimento, pelo café quando eu tinha que ficar acordada, minha melhor companhia na hora do almoço em dias que era preciso respirar entre um trabalho, mestrado e outro trabalho; À todos os meus parentes, tios, tias, primos e extensões familiares, acolhedores e carinhosos, por compreender minha ausência em vários momentos de confraternização e assim mesmo, sempre me deram força e torceram por mim; em especial, à minha tia Guaraciara, por todo incentivo e aprendizado; À minha analista Carla Pepe, por todo percurso ao meu lado, por estar tão presente mesmo que por ora internamente, pelo carinho e a quem eu serei eternamente grata; Ao meu orientador Prof. Dr. Giovanni Marcos Lovisi, por todo aprendizado, excelência, atenção, gentileza, cuidado e presença em todos os momentos deste trabalho; À banca examinadora, Prof. Drª Jacqueline Cintra e Prof. Dr. Marco Antônio Brasil. pessoas de ética e compromisso e que gentilmente aceitaram o convite para participação desta banca; Às professoras, Drª. Lúcia Abelha e Drª. Letícia Legay pelo aprendizado e apontamentos teóricos sempre tão precisos; Ao Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), pelo compromisso com seus alunos e a todos os funcionários sempre tão acolhedores; Ao Instituto Fernandes Figueira (IFF), pela ética e compromisso com a sociedade, em especial, a todos os funcionários do Departamento de Genética Médica; Às minhas amigas no mestrado: Drª. Simone Agadir, por estar ao meu lado nesta caminhada, pela paciência, escuta motivação, pelos grandes apontamentos teóricos, revisão, sinceridade, presença em todos os momentos e antes de tudo, por ser minha amiga. A Dr.ª Priscila Krauss, por todo apoio, paciência, carinho, gentileza, esclarecimentos, momentos de confraternização e por mostrar ser mais possível prosseguir. À Mestre em Saúde Coletiva Edna Monteiro, pela ética, acolhimento, carinho, troca e por falar com o coração... À doutoranda Daiana Thiengo, pelo comprometimento das trocas, ética, dúvidas esclarecidas, e momentos de descontração; Ao doutorando Diego Fonseca, pela ajuda na análise de dados, pela paciência em explicar, por sua didática e disponibilidade para ajudar; À doutoranda Tatiana Fernandes, pelas trocas e por sua sociabilidade; À mestranda Keli Sarução, presente do início ao fim e por compartilhar trajetos tranquilos ou delicados; À mestranda Michele, por sua interação social positiva; A todos os meus colegas de turma de mestrado, principalmente Francisca e Karina; À Karla, pelos sábados em sua casa para estudar epidemiologia e por me fazer acreditar que é possível; À Cláudia Oliveira Corrêa, pelos momentos ao meu lado nas aulas de epidemiologia, pelas valiosas trocas nos almoços; À Mirian G. Motta Guimarães, por todo carinho, respeito, acolhida em sua casa em todos os momentos e por compreender-me; À Diana Prieto, por ter me incentivado e por ter visto o resultado da prova quando não tive coragem, por toda força de sempre; Aos meus amigos, Thadeu Vieira, Lorena Lacerda, Michele Azevedo, pela companhia, mesmo às vezes tão longe fisicamente. E a Juliana Sobral, porque é minha amiga, acreditou e me fez acreditar que meu inconsciente iria me guiar quando eu não soubesse algo; À todos os meus colegas do Programa Territórios da Paz da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), trabalho que iniciei na mesma época em que comecei o mestrado: pelo aprendizado sobre violências sob um outro paradigma, pelos textos ofertados, pelos momentos de troca e principalmente aos amigos que lá fiz: Teresa Cristina, minha amiga e companheira na equipe de Gestão do Complexo do Alemão e que me ajudou MUITO nessa correria que é trabalhar demais e fazer mestrado, serei grata eternamente; Minha amiga Isis do Mar Martins, pelos momentos de Saúde Mental e pela marca em todos os momentos; ao amigo Jader Moraes, por sua sabedoria nos momentos delicados no trabalho e pelas trocas de experiência sobre o que é trabalhar e estudar; e a amiga Alice Ferraz por toda experiência e por ter gentilmente me substituído nos momentos em que não pude estar presente. Às estagiárias Monique, Thaís e Fernanda que em comum, realizaram o campo desta pesquisa e digitalizaram os dados; À todas as gestantes que participaram dessa pesquisa, que mesmo passando por um momento tão delicado, aceitaram contribuir com este trabalho. Sem dúvida, essa pesquisa não seria possível sem elas; In memoriam ao meu querido amigo Dr. Carlos Eduardo Mascarenhas, porque ele vibrou quando fui selecionada para o mestrado e em algum lugar certamente está vibrando porque estou concluindo, o meu muito obrigda por todos os momentos!! A gravidez é um período de transição, de metamorfose, período de iniciação. E como todas as experiências de iniciação, não se sai do mesmo modo que se entrou.” (FRANCINE DAUPHIN apud SZEJER e STEWART, 2002) LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1- Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas 22 Quadro 2- Instrumentos utilizados na avaliação da depressão e demais variáveis 41 estudadas LISTA DE TABELAS Tabela1-Características Sociodemográficas e sua associação com a depressão 55 em gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital maternoinfantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil Tabela 2- Associação entre variáveis clínicas e obstétricas e depressão em 57 gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital materno-infantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil Tabela 3- Associação entre eventos de vida estressantes no último ano e 59 depressão em gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital materno-infantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil Tabela 4- Associação entre ausência de dimensões de apoio social e depressão 61 em gestantes de fetos malformados atendidas em um hospital materno-infantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil Tabela 5- Análise Multivariada dos fatores associados à depressão em gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital materno-infantil na cidade do Rio de Janeiro, Brasil 63 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS α Alpha de Crombach APA American Psychiatric Association CID-10 Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde CIDI Composite International Diagnostic Interview DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DSM-IV Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª Edição dp Desvio – Padrão DST’s Doenças Sexualmente Transmissíveis ECLANC Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas EVE Eventos de Vida Estressantes HAS Hipertensão Arterial Sistêmica HPA Hipotálamo-Hipófise-Adrenal IESC Instituto de Estudos em Saúde Coletiva IC Intervalo de Confiança ISS Social Support Inventory k Coeficiente Kappa MOS Medical Outcome Studies N Tamanho da População OMS Organização Mundial de Saúde OR Odds Ratio p p-valor SPSS Statistical Package for the Social Sciences SUS Sistema único de Saúde UNIFESP Universidade Federal do Estado de São Paulo UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro WHO World Health Organization WWW World Wide Web X2 Qui-quadro YLDs Years of Life Lived with Disability 16 1 INTRODUÇÃO As malformações, anomalias ou anormalidades congênitas caracterizam-se por alterações morfológicas ou estruturais, isoladas ou múltiplas, presentes ao nascimento (PEREIRA et al., 2009; LYNBERG e EDYNBERG, 1995;). São internacionalmente classificadas segundo critérios anatômicos, funcionais ou genéticos, podendo ser categorizadas ainda como maiores e menores, segundo o grau de importância médica, cirúrgica ou estética e impacto sobre a morbiletalidade do recém-nato (FLEISCHER et al., 1996). Quanto à sua etiologia sabe-se que as anormalidades cromossômicas (fatores genéticos), os teratógenos (fatores ambientais) e a herança multifatorial (genética e ambiental) estão envolvidos. A literatura também aponta que muitas causas ainda são desconhecidas. Embora os fatores genéticos respondam por um terço das anomalias congênitas, fatores ambientais, tais como exposição a compostos químicos ambientais, radiação, fatores mecânicos, agentes infecciosos, doenças metabólicas maternas, e exposição a medicamentos como tabaco, álcool e outras drogas durante o período periconcepcional, também são importantes fatores de risco para as malformações fetais (MOORE e PERSAUD, 2000). A prevalência de malformações na população está em torno de 4% (PENCHASZADEH, 1993; STOLL et al., 2002), sendo mais frequente nas gestantes mais jovens e naquelas acima de 35 anos, nas tabagistas ou que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas, nas gestantes com poucas consultas pré-natais e desprovidas socioeconomicamente (BASSO et al, 1999 ; BENNEDSEN, 1998; PENCHASZADEH, 1993; STOLL et al, 2002; WEBB et al, 2008). Em um estudo realizado no Rio de Janeiro, a prevalência de malformações chegou em torno de 2%. (COSTA e GAMA, 2006; GUERRA et al, 2008; GUERRA, 2006) O diagnóstico de um feto com malformações congênitas, pode ser considerado um evento estressante grave, visto que as gestantes passam por um momento de grandes expectativas e risco na gestação (DSM-IV, 1994). Esse filho demandará maior atenção e cuidado materno na gestação e puerpério, fato que poderá ser percebido pela mãe como uma carga emocional negativa e possivelmente necessitará de uma estrutura de apoio social (GOLLOP,1996). O luto vivido pela perda da possibilidade da gestação ideal poderá gerar grande sofrimento psíquico, processo este aumentado quando o apoio recebido não for sentido como suficiente frente a todas as necessidades enfrentadas, podendo, em alguns casos, 17 desencadear transtornos mentais, em especial a depressão (MORENO E MORENO, 1995; LAPLANCHE e PONTALIS, 2000). Líder entre as causas de anos de vida vividos com alguma incapacidade (Years of life Lived with Disability-YLDs) (OMS, 2001; 2008), o transtorno depressivo atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo todo, sendo duas vezes mais comum em mulheres (5% a 9%) do que em homens (2% a 3%) (OMS, 2012). A depressão também é o transtorno mais frequente durante o período gestacional uma vez que este é considerado um evento de vida estressante (CAMACHO et al, 2006; BENNET et al, 2004; CAMACHO et al, 2006; ANDRADE et al, 2006). Assim, a gestação é caracterizada como um momento de grandes mudanças na vida da mulher, tais como mudanças no corpo, na estrutura e dinâmica familiar, na necessidade do cuidado criterioso com a saúde e com as questões que envolvem o nascimento do filho. Estes aspectos poderão ser vivenciados pela gestante como fatores estressores e deverão ser considerados com atenção por todos aqueles envolvidos no cuidado (BAPTISTA et al, 2004; SJZEJER e STEWART, 1997). A depressão gestacional tem sido considerada o principal fator de risco à depressão no pós-parto, sendo esta, muitas vezes, uma continuação da depressão iniciada na gestação (ALAMI et al, 2006; DA COSTA et al, 2009; DA SILVA et al, 1998; LIMLOMWONGSE, 2006; WISSART et al, 2005). A literatura também aponta que em muitos casos as gestantes que apresentam depressão, podem negligenciar seus sintomas por acreditar que a gestação deverá ser um período de satisfação plena (BAPTISTA,1994) Os principais fatores de risco para depressão no período gestacional são os antecedentes psiquiátricos, em especial, a história pregressa de depressão (LOVISE et al, 2005; MARCUS et al, 2003; PATEL el al, 2002). Outros fatores também associados à depressão na gestação são: baixa renda, dificuldades financeiras, baixa escolaridade, desemprego (DA SILVA et al, 1998; MITSUSHIRO et al, 2006; PATEL el al, 2002), ser solteira ou divorciada (LIMLOMWONGSE e LIABSUETRAKUL, 2006), eventos de vida estressantes (EVE) (ALAMI et al, 2006; GULSEREN et al, 2006), gravidez não-planejada (ALAMI et al, 2006; PATEL el al, 2002), história de violência doméstica (PATEL et al; LOVISE et al, 2005; FERRI et al, 2007), transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas e outros transtornos mentais (BOWEN, 2006; MARCUS et al, 2003) e ausência de apoio social (ANDERSON et al, 2006; BENNET et al, 2004; HERON et al, 2004; JOSEFSSON et al, 2001; MOREIRA e SARRIEIRA, 2008; PATEL, DESOUSA e RODRIGUES, 2003; RODRIGUES e COHEN, 1998; WISSAERT, PARSHAD, KULKARNI, 2005). 18 Considerado como um fator de redução de eventos estressantes, o apoio social recebido pelas gestantes, é destacado por sua importância principalmente durante a gestação (LOVISI et al, 2005). Apesar da difícil conceituação metodológica (THOITS, 1992), alguns autores, para ampliar o conceito de apoio social, dividiram cinco dimensões funcionais para caracterizá-lo, a saber: apoio material, relacionado à provisão de recursos e ajudas materiais; apoio informacional, caracterizado pela disponibilidade de pessoas para obtenção de conselhos e informações fundamentais; apoio afetivo relacionado a demonstrações físicas de amor e afeto; apoio emocional caracterizado por demonstrações de amor, confiança, escuta e interesse; e apoio de interação social positiva, caracterizado pela disponibilidade de pessoas com quem o individuo possa se divertir e relaxar (OSTERGREN et al, 1991; SHERBOUNE E STERWART, 1991; GRIEP et al, 2003; PINTO et al, 2006 ). É importante chamar atenção que em muitas vezes, o transtorno mental, no caso a depressão, pode aparecer como um fator causal que proporciona a ausência de apoio social uma vez que estaria ligado a dificuldades de relacionamento do indivíduo. Da mesma forma, a presença de apoio social pode não ser sentido por aqueles que sofrem depressão, justamente por sua capacidade diminuida nos relacionamentos em geral (HOLAHAN e MOSS,1981; BAPTISTA et al, 1995). Até o momento de realização desse estudo, a prevalência de depressão e apoio social em gestantes de fetos com malformações ainda é escassa. Existem apenas registros de estudos qualitativos sobre o tema no Brasil (ANTUNES E PATROCINIO, 2007; VANCONCELOS e PETEAN, 2009) e as poucas pesquisas internacionais existentes são estudos com dados secundários de base populacional que focam principalmente o desfecho das gestações de mães com transtornos mentais e suas repercussões na saúde da criança. (PEREIRA, et al, 2011) Portanto, o presente estudo tem como objetivo estimar a depressão em gestantes de fetos com malformações atendidas no Instituto Fernandes Figueira, um centro de referência materno-infantil do Sistema Único de Saúde (SUS) para malformações fetais, localizado na cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa teve um delineamento seccional e foi realizada com oitenta e seis gestantes de fetos malformados, no terceiro mês de gestação, que aguardavam consulta médica pelo Departamento de Genética Médica do IFF. As gestantes responderam aos instrumentos padronizados, descritos: Composite International Diagnostic Interview (CIDI) utilizado para detectar a depressão, o Medical Outcome Studies (SHERBOURNE e STEWART, 1991), questionário para avaliação do apoio social, a escala Stressful Life Events (KENDLER et al, 1995) para avaliação de eventos estressantes no último ano e um 19 questionário epidemiológico (PEREIRA et al, 2009; THIENGO et al, 2011) para avaliação de variáveis sociodemográficas, clínicas e obstétricas. As informações apresentadas serão úteis para novos estudos, além de ampliar o conhecimento das características dessa população. 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1- Malformação: Conceito e principais aspectos sobre o diagnóstico do recém-nascido “Todos os recém-nascidos, vivos ou mortos, são examinados clinicamente na busca de malformações e esta observação se estende até sua alta hospitalar, que às vezes é posterior à alta do serviço como nos casos de transferência devido à cirurgia e etc.” (Estudo Colaborativo das Malformações Congênitas, 2007) Caracterizadas por alterações morfológicas ou estruturais, isoladas ou múltiplas, presentes ao nascimento, as malformações, anomalias ou anormalidades congênitas (PEREIRA et al., 2009; LYNBERG e EDYNBERG, 1995;) são internacionalmente classificadas segundo critérios anatômicos, funcionais ou genéticos e podem ser categorizadas como maiores e menores, segundo o grau de importância médica, cirúrgica ou estética e impacto sobre a morbiletalidade do recém-nato (FLEISCHER et al., 1996). Quanto à sua etiologia sabe-se que as anormalidades cromossômicas (fatores genéticos), os teratógenos (fatores ambientais) e a herança multifatorial (genética e ambiental) estão envolvidos como fatores causais. Quanto aos fatores ambientais, a exposição a compostos químicos como radiação, fatores mecânicos, agentes infecciosos, doenças metabólicas maternas, e exposição a medicamentos, tabaco, álcool e outras drogas durante o período periconcepcional também são importantes fatores de risco para as malformações (MOORE e PERSAUD, 2000). A literatura aponta que a prevalência de malformações na população está em torno de 4% (STOLL et al, 2002; PENCHASZADEH, 1993) e no Rio de Janeiro, em torno de 2% (COSTA e GAMA, 2006; GUERRA et al, 2008; GUERRA, 2008). O risco é aumentado para as gestantes mais jovens, naquelas com idade acima de 35 anos, nas tabagistas, naquelas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas, nas gestantes com poucas consultas pré-natais e nas desprovidas socioeconomicamente (WEBB et al, 2008; STOLL et al, 2002; BASSO et al, 1999; BENNEDSEN, 1998; PENCHASZADEH, 1993). O impacto dos defeitos congênitos, definição mais ampla de malformações fetais que inclui anomalias funcionais não aparentes no recém-nascido e manifestadas tardiamente (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 1984) tem aumentado progressivamente no Brasil e passou da quinta para a segunda causa dos óbitos em menores de um ano entre 1980 e 2000 (HOROVITZ et al, 2005; ROSANO et al, 2000; SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, 21 2009). Estudos sobre morbidade infantil indicam que os transtornos genéticos e as malformações são responsáveis por até 25% das hospitalizações em algumas cidades da América Latina (CUNHA, 1996). O diagnóstico de malformação tem se aprimorado consideravelmente nos últimos anos. A tecnologia de imagem fetal, através da ultra-sonografia pré-natal, possibilita identificar no feto a maioria das alterações físicas visíveis no recém-nascido, sendo realizado entre 20 e 24 semanas de gestação (MANNING, 2000). Dessa forma, tornou-se mandatória a realização do exame de ultra-som durante a gravidez, realizado em mais de 90% das gestações (STOLL et al, 2002), cobertura esta equivalente a das regiões urbanas do Brasil, como o Rio de Janeiro (BRASIL, 2007). Além da ultra-sonografia, existem exames complementares que auxiliam na investigação das malformações fetais, tais como a ressonância magnética, principalmente nos casos de anomalias do sistema nervoso central, e os exames citogenéticos, realizados a partir da obtenção de células fetais através da biopsia de vilo corial, amniocentese e cordocentese, que apesar de mais invasivos, são exames de excelência para as aneuploidias e outras doenças genéticas. De acordo com o CID-10-Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (OPAS, 2000), as malformações estão classificadas em agrupamentos, descritos (Quadro 1 ): 22 (Q00-Q99) Quadro 1. Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas QOO-Q07 Malformações congênitas do sistema nervoso Q10-Q18 Malformações congênitas do olho, do ouvido, da face e do pescoço Q20-Q28 Malformações congênitas do aparelho circulatório Q30-Q34 Malformações congênitas do aparelho respiratório Q35-Q37 Fenda Labial e Fenda Palatina Q38-Q45 Outras malformações congênitas do aparelho digestivo Q50-Q56 Malformações congênitas dos órgãos genitais Q60-Q64 Malformações congênitas do aparelho urinário Q65-Q79 Malformações congênitas e deformidades do aparelho osteomuscular Q80-Q89 Outras malformações congênitas Q90-Q99 Anomalias cromossômicas não classificadas em outra parte Quadro 1-ilustrativo (CIDI-10,1993) 23 Pesquisas sobre anomalias congênitas ainda são raras no Brasil e têm sido limitadas a dados hospitalares, como aqueles de unidades colaboradoras do Estudo Colaborativo LatinoAmericano das Malformações Congênitas (ECLAMC), um programa de investigação clínica e epidemiológica dos fatores de risco envolvidos na etiologia das anormalidades congênitas através de uma abordagem metodológica caso-controle (CASTILLA E ORIOLI, 2004). Este programa é utilizado pelo Departamento de Genética Médica do Instituto Fernandes Figueira para as classificações das malformações, exigindo normas descritivas criteriosas para grupos diagnósticos de malformações. Conceitualmente, o ECLANC, que teve seu começo em 1967 e desde então é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, caracteriza-se por ser um acordo voluntário entre profissionais que estudam malformações em recém-nascidos de maternidades latino-americanas. É um manual com normas operacionais, tendo como base a uniformidade de critérios a fim de garantir a comparabilidade entre os diferentes hospitais. As malformações para este estudo são diagnosticadas a qualquer idade, pré ou pós-natal em um nascimento ocorrido na maternidade, considerando todas as observações no recém- nascido, sem limites de número (HOROVITZ et al, 2005). Em termos de prevenção, um importante estudo realizado sobre a atenção aos defeitos congênitos no Brasil, considerou três iniciativas já implementadas que poderão auxiliar na programação do atendimento e prevenção, descritas: a fortificação da farinha de trigo com ácido fólico, pois existe a comprovação cientifica entre a deficiência de ácido fólico e sua associação com defeitos de fechamento do tubo neural; o Programa Nacional de Imunizações, que além da infância, foca na vacinação contra rubéola em mulheres adolescentes e naquelas com até 49 anos de idade no pós-parto e pós aborto. Este Programa foi construído tendo em vista o vírus da rubéola ser considerado o grande causador de óbito intrauterino e de malformações congênitas; e a terceira iniciativa, o preenchimento do campo 34 da Declaração de Recém-nascido Vivo que refere-se à descrição e classificação da anomalia segundo o CIDI-10. Trata-se de uma medida que visa o acompanhamento de incidências dos defeitos congênitos para que seja possível a programação de ações de saúde específicas e avaliações sobre a eficácia de ações já existentes. (HOROVITZ et al, 2005) 2.2 Depressão durante o período gestacional Dados apontam que mais de 350 milhões de pessoas de todas as idades sofrem de depressão, sendo mais frequente em mulheres (OMS, 2012). A depressão está associada a fatores biológicos, psicológicos e socioculturais e quando não tratada, em última instância, 24 pode levar ao suicídio. Apesar da disponibilidade de tratamentos eficazes, constata-se que muitas pessoas sofrem em silêncio pelo estigma da depressão e/ou são mal diagnosticadas. (BAPTISTA, 2004) De acordo com Critérios Diagnósticos do CID-10 (OMS), o transtorno depressivo é diagnosticado segundo sintomas fundamentais: humor deprimido, perda de interesse e fatigabilidade. Segundo este critério, a depressão poderá ser classificada como leve, moderada ou grave, de acordo com a presença de sintomas acessórios (concentração e atenção reduzidas, baixas de auto-estima e autoconfiança, ideia de culpa e inutilidade, visões deslocadas e pessimistas do futuro, ideias ou atos autolesivos ou de suicídio, alterações do sono, alterações de apetite, irritabilidade, impaciência e incapacidade de tomar decisões). O Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-IV (APA, 1994) classifica o transtorno depressivo, como pelo menos cinco dos sintomas: humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as coisas, perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta, insônia ou hipersonia quase todos os dias, agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias, fadiga ou perda de energia quase todos os dias, sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada, capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se e pensamentos de morte recorrentes. De acordo com esta classificação pelo menos um sintoma, humor deprimido ou perda de interesse ou prazer na maioria das coisas, deverá ser apresentado pelo indivíduo na maioria dos dias, por no mínimo duas semanas. O transtorno depressivo pode aparecer em diversas fases da vida, inclusive durante o período gestacional. Sabe-se que o período gravídico-puerperal é considerado o de maior prevalência de transtornos mentais na vida da mulher (BENNET et al 2004).O período gestacional em si, embora considerado dentro do contexto histórico-social como um momento de grandes expectativas e mudanças na vida na mulher, é apontado pela literatura como um evento estressante (CAMACHO et al, 2006). O cuidado com o pré-natal, as consultas de rotina, as mudanças diárias de vida e o cuidado com as questões que envolvem o nascimento de um filho, podem ser considerados fatores estressores na vida das gestantes (SJZEJER e STEWART, 1997). Após confirmação diagnóstica da malformação de seu bebê, algumas mulheres, podem tornar-se ainda mais suscetíveis ao transtorno depressivo durante a gestação. O diagnóstico de um feto com malformações é considerado um evento estressante grave (DSMIV, 1994), visto que mulheres passam por momentos de mudanças em prol de uma nova etapa de vida que surge e possivelmente este filho demandará maior atenção e cuidado materno. O 25 luto (MORENO E MORENO, 1995) vivido pela perda da possibilidade da gestação ideal poderá gerar grande carga psíquica e levar em alguns casos a intenso sofrimento emocional, desencadeando transtornos mentais, como a depressão (LAPLANCHE e PONTALIS, 2000). A mulher deprimida durante a gravidez, devido aos seus sintomas, geralmente apresenta uma menor preocupação com seu estado de saúde, não aderindo adequadamente ao acompanhamento pré-natal, o que tem sido associado ao risco de mortalidade neonatal (CARVALHO et al, 2007). Além deste fator, pode apresentar insônia, aumento ou falta de apetite, alterando a quantidade e a qualidade da dieta alimentar e comportamentos de risco, como maior consumo de álcool, tabaco e outras drogas. Com isso, no período de gravidez e puerpério, os transtornos mentais maternos afetam não só a saúde e o bem-estar da mãe, como também podem afetar a saúde e o desenvolvimento do bebê, contribuindo para complicações obstétricas, tais como baixo peso ao nascer, prematuridade e até mesmo anomalias fetais (KRAMER et al, 2009; PATEL et al, 2004; PATEL e PRINCE, 2006; RAHMAN et al, 2002), além de comprometer o vínculo afetivo (apego) com o bebê (SCHMIDT e ARGIMON, 2009) e a capacidade materna de cuidado no pós-parto, aumentando o risco de desnutrição infantil (CARVALHAES e BENÍCIO, 2002), de comprometimento do crescimento da criança, expresso no baixo peso e altura para a idade (RAHMAN et al, 2002; PATEL et al, 2004), tal como problemas comportamentais e vulnerabilidade para apresentar transtornos mentais na vida adulta (HUOT et al, 2004). Alguns sintomas e sinais do transtorno depressivo comumente manifestados apresentam-se mais intensamente em gestantes, tais como: choro fácil, labilidade afetiva, sentimentos de culpa e capacidade de concentração prejudicada. Queixas recorrentes de insônia e perda de apetite também são muito relatadas. (GOLD, 2002; NONACS e COHEN, 1998). É referido na literatura que pelo próprio estigma da depressão, algumas gestantes negligenciam seus sintomas, visto que a gestação é considerada historicamente de grande demanda da sociedade como um momento de felicidade, o que poderá deixar a gestante culpada por seus sintomas. (EPPERSON, 1999). A literatura aponta que a prevalência de depressão gestacional varia entre 5% a 30%. Em países com rendas altas essas frequências estão em torno de 5% e em países com renda baixa e média, em torno de 20%. (THIENGO et al, 2011; PEREIRA et al, 2008; FAISALCURY, 2007, MENEZES, 2007; KITAMURA et al, 2006; RUBERTSSON et al, 2005; LOVISI et al, 2005; HERON et al, 2004; FELICE et al, 2004; PATEL et al, 2002; FREITAS e BOTEGA, 2002) 26 Estudos apontam que a prevalência da depressão durante o período gestacional pode ser maior, uma vez que as pesquisas focam mais o estudo da depressão no puerpério. Sabe-se, portanto, que a depressão gestacional é o principal fator de risco para depressão no puerpério, e poderá acarretar danos ao bebê, como baixo peso ao nascer e prematuridade. (PATEL et al, 2006; Rahman et al, 2006) O principal fator de risco para depressão durante o período gestacional são os antecedentes psiquiátricos, em especial a história pregressa de depressão (LOVISE et al, 2005; MARCUS et al, 2003; PATEL el al, 2002). Outros fatores estão também associados à depressão na gestação de populações como baixa renda, tais como: dificuldades financeiras, baixa escolaridade, desemprego (DA SILVA et al, 1998; MITSUSHIRO et al, 2006; PATEL el al, 2002), ser solteira ou divorciada (LIMLOMWONGSE e LIABSUETRAKUL, 2006), eventos de vida estressantes (EVE) (ALAMI et al, 2006; GULSEREN et al, 2006), gravidez não-planejada (ALAMI et al, 2006; PATEL el al, 2002), história de violência doméstica (PATEL et a 2006; LOVISE et al, 2005; FERRI et al, 2007), transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas, história de outros transtornos mentais (BOWEN, 2006; MARCUS et al, 2003) e ausência de apoio social (ANDERSON et al, 2006; BENNET et al, 2004; HERON et al, 2004; JOSEFSSON et al, 2001; MOREIRA e SARRIEIRA, 2008; PATEL, DESOUSA e RODRIGUES, 2003; RODRIGUES e COHEN, 1998; WISSAERT, PARSHAD, KULKARNI, 2005). 2.3- Apoio Social: conceito e implicações durante a gestação Considerado como um fator de redução de eventos estressantes, o apoio social recebido pelas gestantes, é destacado por sua importância principalmente durante a gestação (LOVISI et al, 2005). A definição de apoio social está sujeita a muitas limitações pela diversidade conceitual encontrada na literatura. (THOITS, 1992) Rodriguez e Cohen (1998) descrevem três tipos de apoio: o apoio social relacionado à percepção de carinho; apoio instrumental que compreende ajudas tangíveis ou práticas que pessoas ou instituições podem prover a alguém; apoio informacional que se caracteriza por noções indispensáveis que o indivíduo recebe para guiar e orientar suas ações, ou aconselhamento de um profissional de saúde para o tratamento de uma determinada doença. O apoio social também é definido pelas relações que se estabelecem entre indivíduos, tal como pela quantidade de pessoas que ele pode contar e com as quais ele pode confiar em 27 qualquer circunstância (BARRÓN, 1996). A literatura também define o apoio social como a integração social de um indivíduo com o meio externo, além de uma rede de serviços acessíveis, como os serviços de saúde. Além disto, o apoio social pode estar associado a percepção do indivíduo sobre as pessoas da comunidade(BAPTISTA e TORRES, 2006). Cohen e Wills (1985) descrevem, dois tipos de apoio, a saber: “stress buffering” e “main effect” A palavra inglesa buffer significa “proteção” e main effect “efeito principal”. O primeiro modelo de apoio, está ligado a uma proteção do individuo, através do qual o apoio social tem o papel de amortecer as situações de estresse enfrentadas. No segundo, o apoio social tem um efeito principal e direto na saúde do indivíduo. O presente trabalho, utilizará como referencial o tipo de apoio buffer, justificado pelo fato do tema estudado avaliar um evento estressante considerado grave, que é a gestação de um feto malformado (DSM IV, 1994). Para ampliar a qualidade da conceituação, alguns autores identificam cinco dimensões funcionais que compõem o apoio social, descritas: apoio material que refere-se a provisão de recursos e ajudas materiais; apoio afetivo ligados a demonstrações físicas de amor e afeto; apoio emocional, ligado a expressões de afeto e carinho; apoio informacional, ligado à disponibilidade de pessoas para obtenção de conselhos e/ou orientações sobre uma determinada situação; e apoio de interação social positiva, que refere-se à disponibilidade de pessoas com as quais o individuo pode relaxar (SCHWARTZ et al, 2011;OSTEGREN et al, 1991, SHERBOUNE e STEWART, 1991;GRIEPet al, 2003; PINTO et al, 2006 ). No estudo, esta definição de apoio social foi utilizada pelo instrumento de coleta de dados sobre apoio social e consequente discussão dos resultados. Na perspectiva da Saúde Mental, é relevante destacar que o transtorno mental pode aparecer como um fator causal que proporciona a ausência de apoio social e poderá estar diretamente ligado a dificuldade de relacionamentos do indivíduo, como é o caso da depressão.Da mesma forma, os transtornos psiquiátricos, como a depressão, poderão influenciar o indivíduo na avaliação sobre o apoio social que recebe, pois aquele acometido pelo transtorno, pode considerar que recebe pouco apoio social devido a sua baixa capacidade de relacionar-se com o outro. Este fato pode ser ampliado no caso de uma gestação de alto risco, visto que por vivenciar um momento de grande estresse, a gestante poderá avaliar o apoio social recebido com muito mais dificuldade. (HOLAHAN e MOSS,1981) Em um importante estudo de revisão sistemática sobre a associação entre apoio social e depressão durante a gestação, foram associadas significativamente à depressão, as variáveis: baixa renda, baixa escolaridade, ser solteira, conflitos matrimoniais, violência doméstica e 28 eventos de vida estressantes. Este estudo também chamou a atenção para a importância do tema e a necessidade de realização de novos estudos, para um maior conhecimento do apoio social em gestantes (THIENGO et al, 2011). Em relação ao apoio social percebido pelas gestantes e o papel dos serviços de saúde, um estudo de grande relevância, destacou o quanto um serviço de saúde possui um papel central e estratégico para a inserção de gestantes em sua rede social através de investimentos em formações de grupos de cuidado social, inserindo não só a gestante como destinatária de ações, mas também como protagonista e copartícipe no processo de cuidado de sua saúde. O achado deste estudo ressalta a importância que as gestantes sejam sujeitos de suas ações no seu meio social e apresenta ganhos positivos em relação a esta postura mais ativa durante a gravidez (SCHWARTZ et al, 2011). O Ministério da Saúde (2006) recomenda aos profissionais envolvidos no cuidado prénatal, acolhimento humanizado, com prioritária atenção às demandas psicossociais das gestantes, onde cada caso deverá ser contextualizado e avaliado em sua integralidade. Tais recomendações reforçam a importância do apoio social, abrangendo todas as suas dimensões, como por exemplo, nas gestações de alto risco, onde inclui-se a gestação de um feto com malformações. 2.4-Depressão, apoio social e gestação de fetos com malformações: algumas considerações Embora o diagnóstico pré-natal de malformações, de acordo com alguns autores, possa servir de auxílio no preparo emocional dos pais antes do enfrentamento do nascimento de um filho malformado (KEMP et al, 1998), estudos recentes revelam uma associação significativa com o aumento do estresse parental (AITE et al, 2002; SKARI et al, 2006). Um filho com malformação demandará maior atenção e cuidado materno, fato que poderá ser sentido pela mãe como uma carga emocional e social e possivelmente necessitará de uma estrutura de apoio social (GOLLOP,1996). Da mesma forma, essas gestantes devem receber especial suporte clínico e pessoal (NIMBY et al, 1999). Essa questão torna-se importante em termos nacionais, porque ao contrário de outros países onde a interrupção da gestação é legal, no Brasil o aborto é permitido apenas em alguns casos, como em gestações incompatíveis com a vida, por exemplo, a anencefalia. (BRASIL,2011; ROCHE, 2012). 29 Além da notícia da malformação no pré-natal, o parto de um bebê com anomalias pode ser considerado um importante evento estressante na vida da mulher e desencadear transtornos mentais maternos, como a depressão durante o período de puerpério, principalmente em mulheres com antecedentes psiquiátricos (SKARI et al, 2006; VASCONCELOS e PETEAN, 2009). Estudos longitudinais com gestantes de baixo risco demonstram que a depressão é mais frequente durante a gravidez e principal fator de risco à depressão no pós-parto, muitas vezes, uma continuação da depressão iniciada na gestação (ALAMI et al, 2006; DA COSTA et al, 2009; DA SILVA et al, 1998; LIMLOMWONGSE, 2006; WISSART et al, 2005). Portanto, embora seja constatado o avanço de pesquisas sobre depressão durante a gestação, dados reforçam a importância de estudos mais específicos sobre o período considerado, por exemplo, com populações de alto risco pouco pesquisadas, como é o caso de gestantes de fetos com malformações. (BENNEDSEN, 1998) 2.5- Estudos sobre depressão em gestantes de fetos com malformações Com o objetivo de realizar uma revisão sistemática sobre estudos que abordaram a temática da depressão em gestantes de fetos com malformações, foram realizadas buscas nas bases de dados: Lilacs, Scielo e Pepsic com os seguintes descritores: transtornos mentais OR transtornos do humor OR depressão OR transtornos de ansiedade OR saúde mental AND gravidez OR complicações na gravidez AND anormalidades congênitas. Não foi encontrado nenhum resultado para a busca. Nas bases de dados PubMed/Medline, ISIWEB, Scopus, os descritores foram: mental disorders OR mood disorders OR depressive disorder OR anxiety disorders AND pregnancy OR gravidity OR pregnancy complications AND congenital abnormalities OR birth defects OR congenital defects. Após, foi realizada uma busca para estudos no pós-parto, já que no período gestacional não foi encontrado nenhum resultado. Nas bases de dados, Lilacs, Scielo e Pepsic, a busca teve a seguinte estratégia: transtornos mentais OR transtornos do humor OR depressão OR transtornos de ansiedade OR saúde mental AND gravidez OR complicações na gravidez AND período pós-parto AND anormalidades congênitas. Nenhum resultado foi encontrado. A segunda busca nas bases de dados PubMed/Medline, ISIWEB e Scopus, contou com os seguintes descritores: mental disorders OR mood disorders OR depressive disorder OR 30 anxiety disorders AND pregnancy OR gravidity OR pregnancy complications AND postpartum period OR puerperium AND congenital abnormalities OR birth defects OR congenital defects. Nenhum resultado foi encontrado. 31 3 JUSTIFICATIVA Dados apontam que o período gravídico-puerperal é o de maior prevalência de transtornos mentais na vida da mulher, em especial a depressão. O período gravídico, ao contrário do que o senso comum considera, é apontado por alguns autores, como um evento estressante, onde a mulher enfrenta muitas mudanças, principalmente, a reorganização de sua vida, direcionada a uma nova vida que chega e demanda cuidados fundamentais (LIMLOMWONGSE et al 2006; ANDERSSON et al 2003). Nesse período, a vulnerabilidade emocional das gestantes poderá ser maior, aumentada pela ausência de apoio social recebido. (ANDERSON et al, 2006; BENNET et al, 2004; HERON et al, 2004; JOSEFSSON et al, 2001; MOREIRA e SARRIEIRA, 2008; PATEL, DESOUSA e RODRIGUES, 2003; RODRIGUES e COHEN, 1998; WISSAERT, PARSHAD, KULKARNI, 2005). Poucos estudos dedicam-se a pesquisas para avaliação de depressão durante a gestação, sendo as pesquisas no puerpério mais frequentes. Dados também apontam que grande parte do transtorno depressivo diagnosticado no pós-parto teve seu início na fase gestacional. O agravante, é o fato da depressão prévia ser o principal fator de risco para a depressão na gestação, o que também reforça a importância do acompanhamento dessas mulheres por especialistas, psiquiatras e psicólogos, durante o pré-natal e também após o parto. Portanto, existe uma necessidade crescente de pesquisas no período pré-natal, para se aprimorar o conhecimento das características da população de gestantes e maior conhecimento dos contextos sociais em que as mesmas estão inseridas (BAPTISTA 2004). Quando então a mulher recebe a notícia de malformação fetal, sua vulnerabilidade psíquica pode ser maior, pois ter um filho com anomalias congênitas é considerado pelo DSM IV (1994) um evento de vida estressante grave. Neste sentido, torna-se mandatório a realização de estudos para estimar a prevalência de depressão durante a gestação de fetos com malformações e avaliação do apoio social recebido por essa população. A prevalência de depressão em gestantes de fetos com malformações ainda é escassa. Na literatura nacional, existem apenas registros de estudos qualitativos (ANTUNES e PATROCINIO, 2007; VANCONCELOS e PETEAN, 2009). As pesquisas internacionais existentes trabalham com dados secundários de base populacional e focam em sua grande maioria o desfecho de gestações de mães com transtornos mentais e suas repercussões na saúde da criança. (PEREIRA, et al, 2011) 32 O conhecimento das prevalências de depressão nessas gestantes e avaliação do apoio social recebido por essa população, também será útil para a definição do tipo de intervenção adequada para o benefício de mães de fetos malformados. Além disto, poderá contribuir para que Políticas Públicas de Atenção Materno-Infantil e de Assistencial Social estejam mais integradas e atendam aos diversos contextos sociais. 33 4 OBJETIVOS 4.1-Objetivo Geral O objetivo do estudo foi estimar a prevalência de depressão em gestantes de fetos com malformações, atendidas em um hospital materno-infantil público de referência para malformações da cidade do Rio de Janeiro. 4.2-Objetivos Específicos Descrever o perfil sociodemográfico de gestantes de fetos malformados entrevistadas; Estimar a prevalência das variáveis clínicas e obstétricas; Estimar a prevalência dos eventos de vida estressantes no último ano; Avaliar o apoio social em gestantes de fetos com malformações; Avaliar a associação significativa de depressão durante a gestação e os demais variáveis estudadas. 34 5 MÉTODOS 5.1-Local do Estudo O Brasil ocupa o lugar entre pa ses em termos de indicadores de sa de. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009). O sistema público de saúde (SUS - Sistema Único de Saúde) atende a maioria dos brasileiros. A cidade do Rio de Janeiro tem cerca de seis milhões de habitantes, sendo que 35 % desta população vive abaixo da linha da pobreza. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2007) A cidade possui uma das mais altas taxas de violência do mundo, sendo a maioria ocorrendo em áreas pobres, onde muitas das mulheres que participaram do estudo residem. (SZWARCWALD et al, 2005) Os hospitais do Sistema Único de Saúde são responsáveis por 77,8 % dos partos do estado do Rio de Janeiro e a maioria das gestantes que são atendidas em hospitais públicos do estado é de baixa renda, com baixo nível de escolaridade (SMSERJ, 2005; SCHRAMM et al, 2002) Cerca de 80 % dessas mulheres têm entre 20 e 35 anos de idade, e 16 % têm menos de 18 anos (INSITUTO FERNANDES FIGUEIRA, 2012) O estudo proposto foi realizado no Instituto Fernandes Figueira (IFF) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e faz parta do Sistema Único de Saúde (SUS). Esta localizado na zonal sul da cidade do Rio de Janeiro e caracteriza-se por ser uma instituição de assistência materno-infantil que ocupa importante papel no cenário das instituições públicas do Rio de Janeiro. O Hospital foi criado em 1924, com o nome de Abrigo Hospital Arthur Bernardes, por iniciativa de Carlos Chagas, na época, Diretor do Departamento de Saúde Pública do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, e de Antonio Fernandes Figueira, chefe da Inspetoria de Higiene Infantil do mesmo Departamento, para suprir a falta de um estabelecimento destinado ao atendimento específico das crianças. O Abrigo começou a se constituir num grande centro de pediatria brasileira e colaborador de estudos nesta área. Em 1946 passou a chamar-se Instituto Fernandes Figueira, em homenagem ao seu patrono, falecido em 1928. A partir desse momento, assumiu o papel de Centro Científico destinado a promover pesquisas relativas à higiene e à medicina da criança, estudos e pesquisas biomédicas sobre maternidade, infância, adolescência e problemas sociais correlatos, tornando-se em 1970 uma Unidade Técnico-Científica da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) (IFF, 2010). 35 Em 2010, passou a se chamar Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, tendo como função ser um órgão auxiliar do Ministério da Saúde em desenvolvimento, coordenação e avaliação das ações integradas e direcionadas à área da saúde feminina e infanto-juvenil em âmbito nacional. Tem como missão melhorar a qualidade de vida e promover a saúde da mulher, da criança e do adolescente (IFF, 2012). Dentre os vários serviços oferecidos pelo instituto, destacam-se aqueles exercidos pelos departamentos de Obstetrícia, Neonatologia e Genética Médica. O departamento de obstetrícia possui basicamente duas frentes de assistência: a Unidade de Pacientes Externos (assistência pré-natal e Setor de Medicina Fetal) e a Unidade de Pacientes Internos (enfermaria de gestantes e alojamento conjunto). O Departamento de Neonatologia é composto pelo Berçário de Alto Risco, pelo Berçário Intermediário, pelo Alojamento Conjunto e pelo Ambulatório de “Follow up” (seguimento). O Departamento de Genética Médica assume atividades de assistência, ensino e pesquisa, a partir dos seguintes referenciais clínicos: malformações,retardo mental, síndromes genéticas, aconselhamento genético, prénatal de alto risco fetal e tratamento para as doenças genéticas através das infusões venosas e terapias de reposição enzimática. O departamento é membro colaborador do Estudo Colaborativo Latino-Americano das Malformações Congênitas (ECLAMC) cuja visão é investigar de forma sistemática em recém nascidos consecutivos fatores epidemiológicos associados aos defeitos congênitos. O IFF atende pacientes da rede pública, o que representa o atendimento de pacientes de baixa classe socioeconômica. Cerca de 70% das mulheres brasileiras são usuárias do SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). No serviço de pré-natal desse instituto são inscritas anualmente cerca de 1000 gestantes. Destas, aproximadamente 30% são gestantes de fetos malformados, já que se trata de uma instituição de referência para casos de malformações em todo estado do Rio de Janeiro. Essas mães chegam ao IFF encaminhadas de diversas outras unidades de saúde de todo o estado do Rio, contudo, a maioria delas, 95 % são oriundas da região metropolitana do Rio de Janeiro. (GUERRA, 2001) Segundo estudo realizado com dados do DATASUS para os anos de 2000 a 2004, o IFF foi responsável pelo atendimento de cerca de 19% do total de nascidos vivos com defeitos congênitos no Rio de Janeiro.(GUERRA et al, 2008) Os demais atendimentos realizados no serviço de pré-natal do IFF são de gestantes de alto risco fetal sem diagnóstico de malformações e algumas poucas gestantes de baixo risco. O serviço de pré-natal desse instituto recebe anualmente cerca de 1000 gestantes, cerca de 30% são encaminhadas para o Departamento de Genética Médica por representarem grupo 36 de risco para malformação congênita fetal. Desses casos, destacam-se: gestantes com suspeita de malformação fetal, com história de malformação fetal na família, com gestações anteriores de fetos malformados e com gestação de alto risco pela idade, a saber, pouca idade ou idade avançada. Em média, no período considerado, são confirmados cerca de 100 casos de malformação congênita fetal na atual gestação. (IFF, 2012) 5.2-Desenho do Estudo O trabalho trata-se de um estudo seccional, no qual as mães participantes foram entrevistadas após a consulta de pré-natal no ambulatório de Genética Médica do IFF, no terceiro trimestre de gestação, decorrido pelo menos um mês da confirmação diagnóstica da anomalia congênita pela Medicina Fetal. 5.3-População do Estudo Os indivíduos entrevistados foram todas as gestantes de fetos com malformações, maiores e menores, atendidas no pré-natal do departamento de Genética Médica, cujo diagnóstico tenha sido realizado ou confirmado pela Medicina Fetal do IFF, com assistência pré-natal integralizada nesta instituição durante o período de agosto de 2011 a julho de 2012. Essas gestantes chegam ao serviço de pré-natal do IFF encaminhadas por outras unidades de saúde em todo o estado do Rio de Janeiro com a suspeita de malformação fetal. Após a confirmação diagnóstica da malformação congênita através do exame ultrasonográfico, realizado pela Medicina Fetal do IFF, as mães são acompanhadas no Instituto durante o pré-natal, parto e pós-parto. São encaminhados para o pré-natal da Genética todos os casos de malformações fetais identificados pelo ultra-som na gravidez em curso, e ainda casos em que há idade materna elevada, história de perdas fetais e anormalidades cromossômicas na família. Foram excluídas do estudo as gestantes que se recusaram a participar da entrevista e não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 37 5.4-Coleta de dados As gestantes participantes do estudo tinham pelo menos um mês da confirmação diagnóstica de malformação pelo exame ultra-som morfológico, realizado pela Medicina Fetal do IFF. Essas gestantes eram convidadas a participar do estudo pelas mesmas entrevistadoras que também conduziam o processo de aplicação dos instrumentos (cinco pesquisadoras treinadas previamente, durante três dias sob orientação da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP) As entrevistas foram realizadas na seguinte ordem: questionário epidemiológico (para coletar variáveis sociodemográficas, variáveis clínicas e obstétricas), escala para avaliação de eventos durante o último ano, instrumento para o diagnóstico de depressão e escala de avaliação de apoio social. 5.5-Instrumentos Os principais instrumentos utilizados na avaliação da depressão e das demais variáveis estudadas estão resumidos no Quadro 2, sendo detalhadamente descritos a seguir. 5.5.1 Avaliação das variáveis sociodemográficas O questionário sociodemográfico foi construído por perguntas elaboradas pelos pesquisadores. Foram registrados dados sobre idade, estado civil, escolaridade, cor/etnia, naturalidade, nacionalidade, profissão e religião. A variável faixa-etária foi agrupada em duas categorias: a) 13 até 24 anos para agrupar a faixa etária de adolescentes (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS) ou jovens adultos (EISENSTEIN, 2005) e b) ≥ anos. A variável renda salarial foi agrupada em duas categorias: a) 1 a 3 salários mínimos e b) igual ou maior a três salários mínimos, tomando-se como base o salário mínimo dos anos de vigência da pesquisa (FERREIRA et al, 2009). 38 5.5.2 Avaliação das variáveis clínicas e obstétricas Foi utilizado um questionário para variáveis clínicas e obstétricas baseado em estudos anteriores (THIENGO et al 2011, PEREIRA et al, 2010; SANTOS et al, 2010; PEREIRA et al, 2009; LOVISI et al, 2005). As variáveis clínicas investigadas foram: História patológica pregressa (diabetes, hipertensão crônica-HAS, cardiopatia, hepatite, nefropatia, pneumopatia, neuropatia, tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis-DST’s e ginecopatia), história psiquiátrica (história anterior de depressão, tratamento psiquiátrico/psicológico prévio, tabagismo durante a gestação e uso de álcool durante a gravidez). Variáveis obstétricas: Primíparas, se pensou em aborto, complicações obstétricas atuais, história de doenças gestacionais anteriores (hipertensão na gravidez, pré-eclampsia, sangramento anômolo, ruptura prematura de membrana, placenta prévia, placenta acreta), história de baixo peso ao nascer, história de prematuridade, atual gravidez não planejada, história de malformações fetais em gestações anteriores, história de malformações fetais na família, nº de consultas pré-natal, início do pré-natal e local de início do pré-natal). As variáveis Início do pré-natal e Nº de consultas foram categorizadas de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde (2006) cujo início do pré-natal deverá ser realizado no 1º trimestre de gestação e deverão ser realizadas durante o período de considerado até 6 consultas médicas. 5.5.3 Avaliação de Eventos de vida estressantes no último ano Para avaliar a presença de eventos de vida estressantes (EVE) no último ano foi utilizada a escala Stressful Life Events (KENDLER et al, 1995) que se baseia em uma lista de acontecimentos considerados estressantes, como divórcio, falecimento de pessoa próxima, perda do emprego, entre outros eventos que provocam mudanças significativas na vida do indivíduo. Através dessa escala, adaptada e validada para uso no Brasil (LOPES et al, 2003), foram investigados neste estudo quatorze eventos estressantes: conflitos matrimoniais; história de separação ou divórcio; perda do emprego; conflitos com pessoas próximas; problema físico grave; problemas financeiros; envolvimento judicial; história de acidente de trânsito, incêndio ou catástrofe; história de sequestro; falecimento de pessoa próxima; história de abuso sexual; história de furto; história de agressão e história de assalto residencial. 39 5.5.4 Diagnóstico da Depressão O Composite International Diagnostic Interview (CIDI - versão 2.1) foi utilizado para detectar a depressão. Trata-se de uma entrevista diagnóstica estruturada que pode ser utilizada por entrevistadores leigos e treinados e que fornece o diagnóstico de transtornos mentais baseado nos critérios do CID-10 (OMS, 1993) e do DSM-IV (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION,1994), através de um algoritmo computadorizado. Ele foi traduzido do inglês para o português e validado para o uso no Brasil por psiquiatras brasileiros do departamento de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), apresentando alta confiabilidade diagnóstica (k>0,90) (WITTCHEN et al, 1991). O CIDI é o instrumento padronizado para o diagnóstico de transtornos mentais mais utilizados no mundo, que foi desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde para uso em diferentes culturas e contextos. Foi validado em vários países, o que permite a comparação com estudos internacionais. Além disso, o CIDI também fornece o diagnóstico diferencial, através do diagrama de especificação de repostas, para os sintomas físicos típicos da gravidez e pós-parto, muitas vezes confundidos com sintomas depressivos. Esse instrumento detecta os transtornos mentais nos seguintes períodos: nas últimas duas semanas, no último mês, nos últimos seis meses, no último ano e durante a vida. No presente estudo, foi avaliada a depressão durante o último ano, baseando-se nos critérios diagnósticos do CID-10 (OMS, 1993). Com o CIDI é possível observar se a depressão teve início após o diagnóstico da malformação na gestação (considerando a data de início do episódio) ou se já era um quadro pré-existente. 5.5.5 Avaliação de Apoio social Foi aplicado o questionário Medical Outcome Studies (SHERBOURNE e STEWART, 1991), traduzido e validado para o português, com boa confiabilidade e alta validade de construto com kappa entre 0,62 e 1 (GRIEP et al, 2005; SILVA e COUTINHO, 2005) para estimar o apoio social recebido pelas gestantes. Trata-se de um instrumento autoadministrável, multidimensional, com cinco categorias de apoio social: material (4 perguntas – provisão de recursos práticos e ajuda material); afetivo (3 perguntas – demonstrações físicas de amor e afeto); emocional (4 perguntas – expressões de afeto positivo, compreensão e sentimentos de confiança); interação social positiva (4 perguntas – disponibilidade de pessoas para se divertirem ou relaxarem) e informação (4 perguntas – disponibilidade de pessoas para 40 a obtenção de conselhos ou orientações). Para cada item, a gestante deveria indicar com que frequência considerava cada tipo de apoio, através de uma escala ordinal: nunca (1), raramente (2), às vezes (3), quase sempre (4), ou sempre (5). Os escores foram calculados por meio da soma dos pontos das respostas dadas às perguntas de cada uma das dimensões e divididos pelo número máximo de pontos possível de ser obtido na mesma dimensão. Para padronizar os resultados de todas as dimensões, pois estas eram constituídas por diferentes números de perguntas, o resultado da razão (total de pontos obtidos/pontuação máxima da dimensão) foi multiplicado por 100. (ROBAINA, 2009) Os escores desta escala são distribuídos em baixo, médio e alto. Este estudo analisou apenas dois níveis, a saber: ausência de apoio social, constituída pelos níveis baixo e intermediário e presença, pelo nível alto. Esta divisão foi realizada para padronizar as variáveis, sendo este mesmo procedimento realizado por outros estudos que avaliaram apoio social e utilizaram a mesma escala, como Robaina (2009) e Lovise et al (2005). 41 Quadro 2. Instrumentos utilizados na avaliação da depressão e demais variáveis estudadas. Variável Instrumento Variáveis sociodemográficas, Clínicas e Obstétricas Questionário Epidemiológico Eventos Estressantes Stressful Life Events Scale Depressão CIDI (Composite International Diagnostic Interview) Apoio Social Medical Outcome Studies Tempo médio de aplicação 10 minutos 5 minutos 30 minutos 10 minutos Momento de aplicação Pré-natal Pré-natal Pré-natal 3˚ trimestre Pré-natal Fonte de informação Descrição do instrumento Paciente Instrumento elaborado por pesquisadores para coleta de dados epidemiológicos das gestantes Paciente Escala que avalia a presença de 14 eventos estressantes no último ano, tais como conflitos matrimoniais, perda do emprego, história de acidentes Paciente Entrevista padronizada e estruturada elaborada pela OMS que fornece o diagnóstico de transtornos mentais baseados nos critérios do CID-10 e DSM-IV Paciente Instrumento autoadministrável, multidimensional que avalia cinco categorias de apoio social: interação social positiva, apoio afetivo, apoio emocional, apoio de informação e apoio material. 42 5.6-Aspectos Éticos O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Fernandes Figueiras e pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ. Antes da entrevista cada mulher foi informada sobre a pesquisa e esclarecida sobre suas dúvidas, sendo convidada a participar. Foram asseguradas de sua participação voluntária e sem prejuízos para o seu atendimento médico, tendo plena liberdade para sair do estudo a qualquer momento e recusarse a responder às perguntas que possivelmente poderiam ocasionar constrangimentos de alguma natureza. De acordo com o previsto, não ocorreu transtornos decorrentes da pesquisa. Em alguns casos, quando o pesquisador avaliou desconforto emocional durante a entrevista, as gestantes foram orientadas para suporte terapêutico no Serviço de Psicologia Médica do Instituto Fernandes Figueira. Cabe ressaltar que as entrevistas aconteceram antes da consulta com a Medicina Genética e as equipes, tanto da Genética quanto a Psicologia do IFF estava ciente da pesquisa, o que facilita ainda mais as pesquisadoras o encaminhamento das gestantes quando percebiam a necessidade de suporte psicológico. Dessa forma, foi assegurado o atendimento às mulheres que apresentaram desconforto emocional durante a entrevista e também àquelas que foram identificadas com depressão ou outros transtornos mentais. É importante ressaltar que o Serviço de Psicologia Médica do IFF manifestou formalmente compromisso com esses atendimentos, como também o Serviço de Genética Médica ao longo da pesquisa esteve sempre presente quando solicitado pelas pesquisadoras para esclarecimentos de dúvidas clínicas, o que foi de grande importância para os encaminhamentos realizados ao Serviço de Psicologia do IFF. Durante a abordagem para entrevista, as gestantes fizeram todas as perguntas que julgaram necessárias antes de concordar em participar do estudo e receberam das entrevistadoras os esclarecimentos adequados. Antes do início de cada entrevista, era assinado pela gestante o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, uma que ficava com ela e outra em posse do pesquisador. As entrevistadas não tiveram ganhos financeiros para participação na pesquisa, no entanto, foi assegurado que em possíveis casos quando então as gestantes tivessem que comparecer ao hospital para conclusão da pesquisa, em turnos ou dias diferentes das consultas médicas, as despesas com alimentação e transporte poderiam ser custeadas pela pesquisa. 43 Contudo, nenhum caso desse tipo ocorreu e por isso, nenhuma ida da gestante ao hospital foi custeada pela pesquisa. É importante ressaltar que a identidade das entrevistadas será mantida em todas as publicações da pesquisa como uma informação confidencial. Estes dados serão sempre mantidos em sigilo pelo pesquisador. 5.7-Análise de Dados Foi calculada a prevalência de depressão (com Intervalo de Confiança de 95%), definindo o transtorno de acordo com a classificação do CID-10 e primeiramente, realizada uma análise univariada dos dados. Foram utilizados o Teste do Qui-quadrado e o Teste de Fischer para variáveis categóricas e o Teste de Pearson para variáveis contínuas. Em todos estes testes foi considerado um nível de significância de 5%. Os Odds Ratios (razão de chances) e os respectivos Intervalos de Confiança também foram calculados. As variáveis associadas com a depressão na análise bivariada, considerando um pvalor igual ou menor a 0,10, entraram no modelo de regressão logística. Foi considerado estatisticamente significante quando o p-valor foi igual ou menor que 0,05. Para o modelo final foram calculados Odds Ratio (razão de chances) com um intervalo de confiança de 95%. O programa SPSS 16 (Statistical Package for the Social Sciences) foi utilizado na análise estatística dos dados. 44 6 ARTIGO 6 ARTICLE Depressão e Apoio Social em Gestantes de Fetos com Malformações atendidas em um Hospital Materno-Infantil Público de Referência no Rio de Janeiro Depression and Social Support of Pregnant Women in Fetuses with Malformations attending at a Maternal and Child Hospital Public Reference in Rio de Janeiro Barros, V.C.; Lovisi, G.M. Resumo A gestação e o puerpério são os períodos de maior prevalência de depressão na vida da mulher. Complicações obstétricas, incluindo malformações congênitas, são importantes fatores de risco para depressão durante a gestação. De acordo com o DSM IV, gestantes de fetos malformados vivenciam um evento de vida estressante grave. Esse fato pode ser agravado com a ausência de apoio social. Poucas pesquisas existem no Brasil sobre a temática, portanto, o presente estudo teve como objetivo estimar a depressão em gestantes atendidas em um hospital materno-infantil público de referência para malformações fetais na cidade do Rio de Janeiro. Foram realizadas entrevistas com 86 gestantes de fetos com malformações, no período compreendido entre agosto de 2011 e julho de 2012. O instrumento Composite Internacional Development Interview (CIDI) foi utilizado para diagnóstico da depressão. A prevalência de depressão durante a gestação foi 17.4% (IC 95% 0,09-0,26), sendo associada à variável estar desempregada. As dimensões de ausências de apoio emocional e de informação apresentaram a maior frequência (57%). A depressão é um transtorno comum em gestantes de fetos com malformações e está associada a indicadores de privação socioeconômica. Portanto, são necessárias a implementação de políticas sociais e 45 intervenções psicossociais adequadas para reduzir o sofrimento psíquico da depressão gestacional nessa população. Palavras-Chave: Depressão; Apoio social; Gestantes; Malformação. Abstract The pregnancy and postnatal period is the time of major prevalence of depression in women’s life. Obstetric complications, including congenital malformations are important risk factors for depression during pregnancy. According to DSM-IV, mothers of fetuses with malformations experience a severe stressful life event. This fact could be aggravated by lack of social support. As there are few studies if this issue in Brazil, a cross-sectional study was carried out with the aim to assess the prevalence of depression and social support in pregnant women with fetal malformations attended at a reference hospital to fetal malformations in the Rio de Janeiro. Data were collected on a sample of 86 pregnant women using the Composite International Development Interview (CIDI) between August 2011 and July 2012. The prevalence of depression during pregnancy was 17.4% (95% CI 0.09 to 0.26) and associated factor included being unemployed. The lack of emotional and information supports showed the highest frequency.(57%) Depression is common during pregnancy of women with fetal malformations and is associated with indicators of socioeconomic deprivation. Psychosocial interventions and appropriate social policies need to be implemented in this population to reduce the burden of maternal depression. Keywords: Depression. Social support. Pregnant.Malformation. 6.1-Introdução As malformações, anomalias ou anormalidades congênitas caracterizam-se por alterações morfológicas ou estruturais, isoladas ou múltiplas, presentes ao nascimento (LYNBERG e EDYNBERG, 1995; PEREIRA et al., 2009). São internacionalmente classificadas segundo critérios anatômicos, funcionais ou genéticos, podendo ser categorizadas ainda como maiores e menores, segundo o grau de importância médica, cirúrgica ou estética e impacto sobre a morbiletalidade do recém-nato (FLEISCHER et al., 46 1996). Quanto à sua etiologia sabe-se que as anormalidades cromossômicas (fatores genéticos), os teratógenos (fatores ambientais) e a herança multifatorial (genética e ambiental) estão envolvidos. A literatura também aponta que muitas causas ainda são desconhecidas. Embora os fatores genéticos respondam por um terço das anomalias congênitas, fatores ambientais tais como exposição a compostos químicos ambientais, radiação, fatores mecânicos, agentes infecciosos, doenças metabólicas maternas e exposição a medicamentos, como tabaco, álcool e outras drogas durante o período periconcepcional, também são importantes fatores de risco para as malformações (MOORE e PERSAUD, 2000). A prevalência de malformações fetais na população está em torno de 4% (PENCHASZADEH, 1993; STOLL et al, 2002), sendo mais frequente nas gestantes mais jovens e naquelas acima de 35 anos, nas tabagistas ou que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas, nas gestantes com poucas consultas pré-natais e nas desprovidas socioeconomicamente (BASSO et al, 1999 ; BENNEDSEN, 1998; PENCHASZADEH, 1993; STOLL et al, 2002; WEBB et al, 2008). Em um estudo realizado no Rio de Janeiro, a prevalência de malformações fetais chegou em torno de 2%. (COSTA e GAMA, 2006; GUERRA et al, 2008; GUERRA, 2008) O diagnóstico de um feto com malformações, pode ser considerado um evento estressante grave, visto que as gestantes passam por um momento de grandes expectativas e risco na gestação (DSM-IV, 1994). Esse com malformação demandará maior atenção e cuidado materno na gestação e puerpério, fato que poderá ser sentido pela mãe como uma grande carga emocional e possivelmente necessitará de uma estrutura de apoio social (GOLLOP,1996). O luto vivido pela perda da possibilidade da gestação ideal poderá gerar grande sofrimento psíquico, processo este aumentado quando o apoio recebido não for sentido como suficiente frente a todas as necessidades enfrentadas, podendo levar, em alguns casos, desencadear transtornos mentais, em especial a depressão (MORENO E MORENO, 1995; LAPLANCHE e PONTALIS, 2000). Líder entre as causas de anos de vida vividos com alguma incapacidade (Years of life Lived with Disability-YLDs) (OMS, 2001; 2008), o transtorno depressivo atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo todo, sendo duas vezes mais comum em mulheres (5% a 9%) do que em homens (2% a 3%) (OMS, 2012). A depressão também é o transtorno mais frequente durante o período gestacional, uma vez que também pode ser considerado um evento de vida estressante (CAMACHO et al, 2006; BENNET et al, 2004; CAMACHO et al, 2006; ANDRADE et al, 2006). Assim, a gestação é caracterizada um momento de grandes mudanças na vida da mulher, tais como mudanças no corpo, na estrutura e dinâmica familiar, 47 necessidade do cuidado criterioso com a saúde e com as questões que envolvem o nascimento do filho. Estes aspectos poderão ser vivenciados pela gestante como fatores estressores e deverão ser considerados com atenção por todos aqueles envolvidos no cuidado (BAPTISTA et al, 2004; SJZEJER e STEWART, 1997). A depressão gestacional, tem sido considerada o principal fator de risco à depressão no pós-parto, sendo esta, muitas vezes, uma continuação da depressão iniciada na gestação (ALAMI et al, 2006; DA COSTA et al, 2009; DA SILVA et al, 1998; LIMLOMWONGSE, 2006; WISSART et al, 2005). A literatura também aponta que em muitos casos as gestantes que apresentam depressão, podem negligenciar seus sintomas por acreditar que a gestação deverá ser um período de satisfação plena (BAPTISTA, 1994). Os principais fatores de risco para depressão no período gestacional são os antecedentes psiquiátricos, em especial, a história pregressa de depressão (LOVISE et al, 2005; MARCUS et al, 2003; PATEL el al, 2002). Outros fatores também associados à depressão na gestação são: baixa renda, dificuldades financeiras, baixa escolaridade, desemprego (DA SILVA et al, 1998; MITSUSHIRO et al, 2006; PATEL el al, 2002), ser solteira ou divorciada (LIMLOMWONGSE e LIABSUETRAKUL, 2006), eventos de vida estressantes (EVE) (ALAMI et al, 2006; GULSEREN et al, 2006), gravidez não-planejada (ALAMI et al, 2006; PATEL el al, 2002), história de violência doméstica (PATEL et al 2002; LOVISE et al, 2005; FERRI et al, 2007), transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas e outros transtornos mentais (BOWEN, 2006; MARCUS et al, 2003) e ausência de apoio social (ANDERSON et al, 2006; BENNET et al, 2004; HERON et al, 2004; JOSEFSSON et al, 2001; MOREIRA e SARRIEIRA, 2008; PATEL, DESOUSA e RODRIGUES, 2003; RODRIGUES e COHEN, 1998; WISSAERT, PARSHAD, KULKARNI, 2005). Considerado como um fator de redução de eventos estressantes, o apoio social recebido pelas gestantes é destacado por sua importância principalmente durante a gestação (LOVISI et al, 1996). Apesar da difícil conceituação metodológica (THOITS, 1992), alguns autores, para ampliar o conceito de apoio social, dividiram cinco dimensões funcionais para caracterizá-lo, a saber: apoio material, relacionado à provisão de recursos e ajudas materiais; apoio informacional, caracterizado pela disponibilidade de pessoas para obtenção de conselhos e informações fundamentais; apoio afetivo relacionado a demonstrações físicas de amor e afeto; apoio emocional caracterizado por demonstrações de amor, confiança, escuta e interesse; e apoio de interação social positiva, caracterizado pela disponibilidade de pessoas 48 com quem o individuo possa se divertir e relaxar (OSTERGREN et al, 1991; SHERBOUNE E STERWART, 1991; GRIEP et al, 2003; PINTO et al, 2006 ). É importante chamar atenção que em muitas vezes, o transtorno mental, no caso a depressão, pode aparecer como um fator causal que proporciona a ausência de apoio social uma vez que estaria ligado a dificuldades de relacionamento do indivíduo. Da mesma forma, a presença de apoio social pode não ser sentido por aqueles que sofrem depressão, justamente por sua capacidade diminuida nos relacionamentos em geral (HOLAHAN e MOSS,1981; BAPTISTA et al, 1995). Até o presente momento desse estudo, a prevalência de depressão em gestantes de fetos com malformações ainda é escassa. Existem apenas registros de estudos qualitativos ou sobre o tema no Brasil (ANTUNES E PATROCINIO, 2007; VANCONCELOS e PETEAN, 2009). As poucas pesquisas internacionais existentes são estudos com dados secundários de base populacional que focam principalmente o desfecho das gestações de mães com transtornos mentais e suas repercussões na saúde da criança. (PEREIRA, et al, 2011) Portanto, o presente estudo teve como objetivo estimar a depressão em gestantes de fetos com malformações atendidas no Instituto Fernandes Figueira, um centro de referência materno-infantil do Sistema Único de Saúde (SUS) para malformações, localizado na cidade do Rio de Janeiro. 6.2-Métodos Local de Estudo O estudo foi realizado no Instituto Fernandes Figueira (IFF), da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) que faz parte do Sistema Único de Saúde e está localizado. O IFF está localizado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro e caracteriza-se por ser uma Instituição de assistência materno-infantil que ocupa importante papel no cenário das Instituições públicas do Rio de Janeiro. O hospital foi criado em 1924, com o nome de Abrigo Hospital Arthur Bernardes, por iniciativa de Carlos Chagas, na época, Diretor do Departamento de Saúde Pública do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, e de Antônio Fernandes Figueira, chefe da Inspetoria de Higiene Infantil do mesmo departamento, para suprir a falta de um estabelecimento destinado ao atendimento específico de crianças. Em 1946 passou a chamarse Instituto Fernandes Figueira, em homenagem ao seu patrono, falecido em 1928. A partir desse momento, assumiu o papel de Centro Científico destinado a promover pesquisas 49 relativas à higiene e à medicina da criança, estudos e pesquisas biomédicas sobre maternidade, infância, adolescência e problemas sociais correlatos, tornando-se em 1970 uma Unidade Técnico-Científica da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) (IFF, 2010). O serviço de pré-natal desse Instituto recebe anualmente cerca de 1000 gestantes, sendo aproximadamente 30% encaminhadas para o Departamento de Genética Médica por representarem grupo de risco para malformação fetal. Desses casos, destacam-se: gestantes com suspeita de malformação fetal, com história de malformação na família, com gestações anteriores de fetos malformados e com gestação de alto risco pela idade, a saber, pouca idade ou idade avançada. Em média, no período considerado, são confirmados cerca de 100 casos de malformação fetal na atual gestação. (IFF, 2012) População de estudo A população do estudo consistiu de todas as gestantes de fetos com malformações atendidas no pré-natal do departamento de Genética Médica, cujo diagnóstico foi realizado ou confirmado pela Medicina Fetal do IFF, com assistência pré-natal integralizada nesta Instituição durante o período de agosto de 2011 a junho de 2012. Coleta de Dados As mães participantes do estudo estavam no terceiro trimestre de gestação, decorrido pelo menos um mês da confirmação diagnóstica de malformação pelo exame ultrassom morfológico, realizado pela Medicina Fetal do IFF. Essas gestantes eram convidadas a participar do estudo pelas mesmas entrevistadoras que também conduziam o processo de aplicação dos instrumentos (cinco pesquisadoras treinadas previamente, durante três dias sob orientação da Universidade Federal do Estado de São Paulo -UNIFESP) As entrevistas foram realizadas na seguinte ordem: questionário epidemiológico (para coletar variáveis sociodemográficas, variáveis clínicas e obstétricas), escala para avaliação de eventos durante o último ano, instrumento para o diagnóstico de depressão e escala de avaliação de apoio social. 50 Instrumentos Avaliação das variáveis sociodemográficas O questionário sociodemográfico foi construído por perguntas elaboradas por pesquisadores em estudos anteriores. (THIENGO et al, 2011, PEREIRA et al, 2010). Foram registrados dados sobre idade, estado civil, escolaridade, cor, naturalidade, nacionalidade, profissão e religião. A variável faixa-etária foi agrupada em duas categorias: a) 13 até 24 anos para agrupar a faixa etária de adolescentes (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS) ou Jovens Adultos (EISENSTEIN, 2005) e b) ≥ anos. A variável renda salarial foi agrupada em duas categorias: a) 1 a 3 salários mínimos e b) igual ou maior a três salários mínimos, tomando-se como base o salário mínimo dos anos de vigência da pesquisa (BANCO MUNDIAL, 2009) Avaliação das variáveis clínicas e obstétricas Foi utilizado um questionário para variáveis clínicas e obstétricas baseado em estudos anteriores (THIENGO et al 2011, PEREIRA et al, 2010; SANTOS et al, 2010; PEREIRA et al, 2009; LOVISI et al, 2005). As variáveis clínicas investigadas foram: História patológica pregressa (diabetes, hipertensão crônica-HAS, cardiopatia, hepatite, nefropatia, pneumopatia, neuropatia, tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis-DST’s e ginecopatia), história psiquiátrica (história anterior de depressão, tratamento psiquiátrico/psicológico prévio, tabagismo durante a gestação e uso de álcool durante a gravidez). Variáveis obstétricas: primíparas, se pensou em aborto, complicações obstétricas atuais, história de doenças gestacionais anteriores (hipertensão na gravidez, pré-eclampsia, sangramento anômolo, ruptura prematura de membrana, placenta prévia, placenta acreta), história de baixo peso ao nascer, história de prematuridade, atual gravidez não planejada, história de malformações em gestações anteriores, história de malformações fetais na família, nº de consultas prénatal, início do pré-natal e local de início do pré-natal). As variáveis Início do pré-natal e Nº de consultas foram categorizadas de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde (2006) cujo início do pré-natal deverá ser realizado 51 no 1º trimestre de gestação e deverão ser realizadas durante o período de pré-natal até 6 consultas médicas. Eventos de vida estressantes Para avaliar a presença de eventos de vida estressantes (EVE) no último ano foi utilizada a escala Stressful Life Events (KENDLER et al, 1995) que se baseia em uma lista de acontecimentos considerados estressantes, como divórcio, falecimento de pessoa próxima, perda do emprego, entre outros eventos que provocam mudanças significativas na vida do indivíduo. Através dessa escala, adaptada e validada para uso no Brasil (LOPES et al, 2003), foram investigados neste estudo quatorze eventos estressantes: conflitos matrimoniais; história de separação ou divórcio; perda do emprego; conflitos com pessoas próximas; problema físico grave; problemas financeiros; envolvimento judicial; história de acidente de trânsito, incêndio ou catástrofe; história de sequestro; falecimento de pessoa próxima; história de abuso sexual; história de furto; história de agressão e história de assalto residencial. Diagnóstico da Depressão O Composite International Diagnostic Interview (CIDI - versão 2.1) foi utilizado para detectar a depressão. Trata-se de uma entrevista diagnóstica estruturada que pode ser utilizada por entrevistadores leigos e treinados e que fornece o diagnóstico de transtornos mentais baseado nos critérios do CID-10 (OMS, 1993) e do DSM-IV (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION,1994), através de um algoritmo computadorizado. Ele foi traduzido do inglês para o português e validado para o uso no Brasil por psiquiatras brasileiros do departamento de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), apresentando alta confiabilidade diagnóstica (k>0,90) (WITTCHEN et al, 1991). O CIDI é o instrumento padronizado para o diagnóstico de transtornos mentais mais utilizados no mundo, foi desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde para uso em diferentes culturas e contextos e validado em vários países, o que permite a comparação com estudos internacionais. Além disso, o CIDI também fornece o diagnóstico diferencial, através do diagrama de especificação de repostas, para os sintomas físicos típicos da gravidez e pós-parto, muitas vezes confundidos com sintomas depressivos. 52 Esse instrumento detecta os transtornos mentais nos seguintes períodos: nas últimas duas semanas, no último mês, nos últimos seis meses, no último ano e durante a vida. No presente estudo, foi avaliada a depressão durante o último ano, baseando-se nos critérios diagnósticos do CID-10 (OMS, 1993). Com o CIDI é possível observar se a depressão teve início após o diagnóstico da malformação na gestação (considerando a data de início do episódio) ou se já era um quadro pré-existente. Avaliação de Apoio social Foi aplicado o questionário Medical Outcome Studies (SHERBOURNE e STEWART, 1991), traduzido e validado para o português, com boa confiabilidade e alta validade de construto com kappa entre 0,62 e 1 (GRIEP et al, 2005; SILVA e COUTINHO, 2005) para estimar o apoio social recebido pelas gestantes. Trata-se de um instrumento autoadministrável, multidimensional, com cinco categorias de apoio social: material (4 perguntas – provisão de recursos práticos e ajuda material); afetivo (3 perguntas – demonstrações físicas de amor e afeto); emocional (4 perguntas – expressões de afeto positivo, compreensão e sentimentos de confiança); interação social positiva (4 perguntas – disponibilidade de pessoas para se divertirem ou relaxarem) e informação (4 perguntas – disponibilidade de pessoas para a obtenção de conselhos ou orientações). Para cada item, a gestante deveria indicar com que frequência considerava cada tipo de apoio, através de uma escala ordinal: nunca (1), raramente (2), às vezes (3), quase sempre (4), ou sempre (5). Os escores foram calculados por meio da soma dos pontos das respostas dadas às perguntas de cada uma das dimensões e divididos pelo número máximo de pontos possível de ser obtido na mesma dimensão. Para padronizar os resultados de todas as dimensões, pois estas eram constituídas por diferentes números de perguntas, o resultado da razão (total de pontos obtidos/pontuação máxima da dimensão) foi multiplicado por 100. (ROBAINA, 2009) Os escores desta escala são distribuídos em baixo, médio e alto. Este estudo analisou apenas dois níveis, a saber: ausência de apoio social, constituída pelos níveis baixo e intermediário e presença, pelo nível alto. Esta divisão foi realizada para padronizar as variáveis, sendo este mesmo procedimento realizado por outros estudos que avaliaram apoio social, como Robaina (2009) e Lovise et al (2005). 53 Análise de dados Foi calculada a prevalência de depressão (com Intervalo de Confiança de 95%), definindo o transtorno de acordo com a classificação do CID-10 e primeiramente realizada uma análise univariada dos dados. Foram utilizados o Teste do Qui-quadrado e o Teste de Fischer para variáveis categóricas e o Teste de Pearson para variáveis contínuas. Em todos estes testes foi considerado um nível de significância de 5%. Os Odds Ratios (razão de chances) e os respectivos Intervalos de Confiança também foram calculados. As variáveis associadas com a depressão na análise bivariada, considerando um pvalor igual ou menor a 0,10 entraram no modelo de regressão logística. Foi considerado estatisticamente significante quando o p-valor for igual ou menor que 0,05. Para o modelo final foram calculados Odds Ratio (razão de chances) com um intervalo de confiança de 95%. O programa SPSS 16 (Statistical Package for the Social Sciences) foi utilizado na análise estatística dos dados. Aspectos Éticos O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Fernandes Figueiras e pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ (PARECER nº 021/10) Antes da entrevista cada mulher foi informada sobre a pesquisa e convidada a participar do estudo, devendo para tanto, assinar o termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As gestantes foram asseguradas que a participação seria voluntária, sem prejuízos para o seu atendimento médico, tendo plena liberdade para sair do estudo a qualquer momento e recusar-se a responder às perguntas que pudessem ocasionar constrangimentos de qualquer natureza. Aquelas que apresentaram desconforto emocional ou apresentaram diagnóstico de depressão, foram orientadas a procurar o Serviço de Psicologia do Instituto ou unidades de saúde de sua região. 6.3-Resultados Das noventa e três gestantes convidadas a participar do estudo, sete recusaram-se, informando desconforto emocional pela expectativa da consulta no ambulatório de Genética. Portanto, a população do estudo foi constituída por oitenta e seis gestantes de fetos 54 malformadas (taxa de participação de 92,5%), entrevistadas no período entre agosto de 2011 e julho de 2012. A prevalência de depressão durante a gestação foi de 17,4% (IC 95%: 0,090,26) Características sociodemográficas da amostra A idade das gestantes variou de 13 a 47 anos, com uma média de 25,9 anos (desviopadrão = 7,7 anos). As características sociodemográficas que predominaram foram: faixa etária de até 24 anos de idade (52,3%), cor/etnia parda (46,5%), casada/união estável (66,3%), ser natural do Estado do Rio de Janeiro (77,9%), ter mais de oito anos de estudos (75,6%), ter trabalho formal (46,5%), ter renda média de 1 a 3 salários (61,6%) e ter religião (75,6%). As gestantes desempregadas apresentaram associação significativa à depressão durante a gestação (57,1%; OR 6,93 IC 1,17-40,98; p= 0,03), assim como aquelas com renda média de 1 a 3 salários mínimos (24,5%; OR 0,123 IC 0,15-0,99; p= 0,02). (Tabela 1) 55 Tabela 1. Características sociodemográficas e sua associação com a depressão em gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital materno-infantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil Características* População Depressão N % n % OR (IC 95%) p-valor 45 52,3 8 17,8 1,05(0,34-3,21) 0,93 41 47,7 7 17,1 1 Branca 27 31,4 6 22,6 1.07(0,26-4,47) 0,93 Parda 40 46,5 5 12,5 0,54(0,13-2,28) 0,40 Negra 19 22,1 4 21,1 1 Casada/Mora junto 57 66,3 4 19,3 1,44(4,99) Solteira 28 32,6 11 14,3 1 Rio de Janeiro 67 77,9 9 13,4 2,97 (0,9-9,83) Outros 19 22,1 6 31,6 1 ≤ 8 anos de estudo 21 24,4 6 22,6 0.40 (0,12-0,13) >8 anos de estudos 65 75,6 9 13,8 1 Desempregada 7 8,1 4 57,1 6,93(1,17-40,98) 0,03 Trabalho informal 8 9,3 1 12,5 0,74(0,74-7,44) 0,80 Trabalho formal 40 46,5 5 12,5 0,74(0,20-22,84) 0,66 Estudante/Do lar 31 36,0 5 16,1 1 1 a 3 salários 53 61,6 13 24,5 0,12(0,15-0,99) ≥ 3 salários 26 30,2 1 3,8 1 Não 21 24,4 3 14,3 1,36(0.34-5,37) Sim 65 75,6 12 18,5 1 Faixa Etária 13 até 24 anos* ≥ anos Cor/Etnia Estado Civil 0,57 Naturalidade 0.07 Escolaridade 0,12 Ocupação Renda Média 0,02 Religião N= 86 OR - Odds ratio; p-valor= ≤0,0 . * O total de observações pode variar devido à ocorrência de ausência de informações 0.66 56 Variáveis Clínicas e Obstétricas Em relação às variáveis clínicas e obstétricas, foram mais frequentes as primíparas (58,1%), a gravidez não planejada (55,8%), com até seis consultas no pré-natal (68,6%), início do pré-natal no primeiro trimestre (80,2%), início do pré-natal fora da instituição do estudo (87,2%), a história de malformação em gestações anteriores (21,1%) e com algum tipo de malformação na família (18,6%). Chamou atenção que cerca de 30,0% das gestantes relataram história anterior de depressão, enquanto apenas 11,6% informaram já ter realizado algum tratamento psiquiátrico prévio. (Tabela 2) 57 Tabela 2. Associação entre variáveis clínicas e obstétricas e depressão em gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital materno-infantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Variáveis Clínicas* População Depressão N % n % OR (IC 95%) p-valor 16 18,6 3 18,8 1,12(0,28-4,53) 0,88 História anterior de depressão 26 30.2 7 26,9 2,4(0,76-7,51) 0,13 Tratamento psiquiátrico/psicológico prévio 10 11,6 2 20 1,21(0,23-6,38) 1,00 Tabagismo durante a gravidez 6 7 0 - 0,81(0,73-0,90) 0,59 Uso de álcool durante a gravidez 4 4,7 0 - 0,82(0,74-0,90) 1,00 Variáveis Obstétricas* N % n % OR (IC 95%) p-valor Primíparas 50 58,1 9 18,0 1,1(0,35-3,42) 0,87 Pensou em aborto 24 27,9 3 12,5 0,6(0,15-2,33) 0,45 Complicações obstétricas atuais 14 16,3 3 21,4 1,36(0,33-5,64) 0,67 História doenças gestacionais anteriores 9 10,5 - - 0,80(0,72-0,90) 0,15 História baixo peso ao nascer 8 22,2 2 25,0 2,0(0,29-13,62) 0,47 História prematuridade 7 19,4 2 28,6 2,50(0,36-17,57) 0,35 Atual gravidez não planejada 38 55,8 5 33,3 0,56(0,18-1,86) 0,35 História de malformações em gestações anteriores 8 21,1 1 12,5 0,71(0,07-7,16) 0,77 História de malformações fetais na família 16 18,6 3 20,0 1,15(0,28-4,53) 0,88 Nenhuma 2 2,3 1 50,0 6,67 (0,32-137,4) 0,22 Até 6 consultas 59 68,6 10 16,9 1,36(0,34-5,47) 0,66 Acima de 6 consultas 23 26,7 3 13,0 1 1º trimestre 69 80,2 12 17,4 1,02(0,25-4,10) Demais trimestres 20 23,3 6 30,0 1 11 12,8 1 9,1 2,3(0,27-19,43) História Patológica Pregressa História Psiquiátrica Nº de consultas prénatais Início do Pré-Natal (semanas de gestação) 0,98 Local Início Pré-Natal IFF Outros 75 87,2 14 18,7 1 OR - Odds ratio; p-valor= ≤0,0 *O total de observações pode variar devido à ocorrência de ausência de informações 0,68 58 Eventos de Vida Estressantes no Último Ano Os eventos de vidas estressantes mais frequentes foram: conflitos matrimoniais e com familiares (38,4%, cada), problema financeiro (26,7%) e falecimento de pessoa próxima (20,9%). Os eventos associados significativamente com a depressão foram: conflitos matrimoniais (p=0,06), separação/divórcio (p= 0,03), perda de emprego (p=0,004), conflitos com familiares (p= 0,01), história de sequestro (p= 0,03), história de agressão (p=0,001). (Tabela 3) 59 Tabela 3. Associação entre eventos de vida estressantes no último ano e depressão em gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital materno-infantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Eventos Estressantes no último ano Depressão População N % n % OR (IC 95%) p-valor 33 38,4 9 27,3 2,94(0,94-9,22) 0,06 História de Separação/Divorcio 13 15,1 5 38,5 3,94(1,07-14,47) 0,03 Perda de Emprego 17 19,8 7 41,2 5,34(1,58-17,99) 0,004 Conflito familiares/ amigos/vizinhos 33 38,4 10 30,3 4,17(1,28-13,62) 0,01 Problema Físico Sério 3 3,5 1 33,3 2,46(0,21-29,08) 0,46 Problema Financeiro 23 26,7 5 21,7 1,47(0,44-4,89) 0,53 Envolvimento Judicial 7 8,1 2 28,6 2,03(0,34-11,62) 0,42 História de acidente 2 2,3 1 50 5,0(0,30-84,78) 0,22 História de Sequestro 1 1,2 1 100 0,17(0,102-0,27) 0,03 Falecimento de Pessoa Próxima 18 20,9 3 16,7 0,93(0,23-3,74) 0,92 História de Abuso 2 2,3 1 50 5,0(0,30-84,78) 0,22 História de Furto 4 4,7 1 25 1,62(0,16-16,73) 0,68 História de Agressão 6 7 4 66,7 12,55(2,05-78,87) 0,001 História de Assalto Residencial 1 1,2 - - 0,82(0,75-0,91) 0,64 Conflitos Matrimoniais N= 86 OR - Odds ratio; p-valor ≤ 0,0 60 Apoio Social A média geral das cinco dimensões de apoio social foi de aproximadamente 88,4% (desvio=padrão 13,52). O apoio afetivo obteve a maior média com 95,1% (desvio padrão= 11,25), enquanto que o apoio material apresentou uma menor média com 82,5% (desvio padrão= 18,93). A maior parte da população apresentou ausência de apoio emocional e de informação (57,0%, cada). As ausências de apoio associadas significativamente à depressão em gestantes de fetos malformados foram: ausência de apoio afetivo (OR 0,30 IC 0,09-1,02; p= 0,05) e ausência de apoio de interação social positiva (OR 0,35 IC 0,10-1,22;p=0,09). (Tabela 4) 61 Tabela 4. Associação entre ausência de dimensões de apoio social e depressão em gestantes de fetos malformados atendidas em um hospital materno-infantil público de referência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Apoio Social População Depressão N % n % OR(IC 95%) p-valor Ausência de Apoio Emocional 49 57,0 10 20,4 0,61 (0,12-1,97) 0,40 Ausência de Apoio Material 47 54,7 9 19,1 0,77(0,25-2,39) 0.65 Ausência de Apoio de Informação 49 57,0 11 22,4 0,42 (0,12-1,44) 0.16 Ausência de Apoio Afetivo 18 20,9 6 33,3 0,30(0,09-1,02) 0.05 Ausência de Apoio de Interação Social 46 53,5 11 23,9 0,35(0,10-1,22) 0,09 OR - Odds ratio; p-valor ≤ 0,0 62 Análise Multivariada As variáveis naturalidade (p=0,06), ocupação/profissão (p=0,03), renda média (0,024), história de conflitos matrimoniais (p=0,06), história de separação/divórcio(p=0,03), perda de emprego (p=0,004), conflitos familiares (p=0,01), história de sequêstro (p=0,03), história de agressão (p=0,001), ausência de apoio afetivo (P=0,05) e ausência de apoio de interação social positiva (p=0,09) foram associadas (p≤0, 0) à depressão na gestação e entraram no modelo de regressão logística. Baseando-se na relevância clínica e no p-valor “borderline” (entre 0,0 e 0, 0) (BROWER, 2006), a variável ocupação/profissão (estar desempregada; p=0,07), embora marginalmente associada à depressão gestacional, foi considerada significativa. (Tabela 5) 63 Tabela 5. Análise Multivariada dos fatores associados à depressão em gestantes de fetos com malformações atendidas em um hospital materno- infantil na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Vaiável OR bruto OR ajustado IC 95% p=valor Desempregada 6,93 20,31 0,802-514,274 0,07 N=86 OR - Odds ratio; p-valor ≤ 0,0 OR ajustados para variáveis: Naturalidade, ocupação/profissão, renda média, história de conflitos matrimoniais, história de separação/divórcio, perda de emprego, conflitos com familiares, amigos ou vizinhos, história de sequestro, história de agressão, ausência de apoio afetivo, ausência de apoio de interação social positiva. 64 6.4-Discussão A prevalência total de depressão na gestação estimada neste estudo foi de 17,4% (IC 95%:0,09-0,26). Este resultado está em consonância com a literatura, cuja prevalência de depressão varia entre 13% a 25% (THIENGO et al, 2011; SPOOZAL et al, 2009; PEREIRA et al, 2009, FERRI et al, 2007, MIRSHUHIRO et al, 2006; LOVISI et al, 2005; BLANEY et al, 2004), embora estes estudos não tenham avaliado a especificidade de uma gestação com feto malformado. Considerado um evento de vida estressante grave (DSM IV,1994), vivenciar a gestação de um feto com malformações, pode também significar para essas gestantes a necessidade de adaptar-se a essa nova realidade, marcada por situações específicas, como por exemplo, o aumento do cuidado pré-natal (KEMP et al, 1998). Assim, apesar de um possível aumento da vulnerabilidade emocional dessas mulheres após a notícia de malformação do feto, mecanismos de defesa podem estar presentes. Esses mecanismos são descritos na literatura como essenciais na constituição do sujeito e capazes de proporcionar uma viabilidade psíquica entre o indivíduo e a realidade diante de situações de eventos estressantes graves, como o apoio social recebido (BOTEGA, 2006; LAPLANCHE; PONTALIS, 2000). Em relação ao apoio social recebido pelas gestantes, a dimensão apoio afetivo caracterizado por demonstrações físicas de amor e afeto (SCHWARTZ et al, 2011; PINTO et al, 2006, GRIEP et al, 2003; OSTEGREN et al, 1991, SHERBOUNE e STEWART, 1991) apresentou a maior média (88,4%) em relação às outras dimensões. Esta dimensão de apoio social foi associada significativamente à depressão durante a gestação na análise bivariada (p=0,05), fato que foi congruente com outros estudos (ANDERSON et al, 2006; BENNET et al, 2004; HERON et al, 2004; JOSEFSSON et al, 2001; MOREIRA e SARRIEIRA, 2008; PATEL, DESOUSA e RODRIGUES, 2003; RODRIGUES e COHEN, 1998; WISSAERT, PARSHAD, KULKARNI, 2005). Cabe ressaltar que a literatura aponta a relevância do apoio afetivo, considerado muito importante como um fator de redução de impacto (LOVISE et al, 2005). A gestante de um feto com malformações , também está vivenciando um momento de luto (MORENO e MORENO, 1985;LAPLANCHE e PONTALIS, 2000) do bebê “ideal”, a desidealização de uma gestação sem problemas. Este fato poderá mobilizar um maior número de amigos, familiares e pessoas mais próximas que, diante da notícia de malformação, expressam maiores demonstrações físicas de afeto, numa tentativa de reduzir o impacto da notícia da 65 malformação fetal recebida pela gestante e o possível aumento de sua vulnerabilidade emocional. Na ocasião da ausência desse apoio, considerado um fator de proteção nesses casos, poderá tornar essas gestantes ainda mais vulneráveis emocionalmente, principalmente, ao transtorno depressivo, fato que explica a associação estatisticamente significativa na análise bivariada entre depressão durante a gestação e ausência de apoio afetivo. Na análise final, a associação significativa de desemprego com depressão durante a gestação, foi também constatada em outros importantes estudos (THIENGO et al, 2011, PEREIRA et al, 2010, MITSHURO et al, 2006, PATEL et al, 2003). A população estudada apresentou maior frequência na faixa de renda mensal equivalente a 1-3 salários mínimos (61,6%), o que caracteriza uma população com rendimento baixo à médio. Essas categorias de rendimentos são em sua grande maioria representadas por indivíduos que possuem trabalho autônomo ou estão desempregados, segundo classificação do Banco Mundial. (FERREIRA et al,2013). Portanto, apesar do estudo não ter privilegiado uma categoria para trabalho autônomo e não ser possível uma análise mais detalhada, a associação significativa de depressão gestacional com desemprego na análise final, esteve em consonância com a literatura consultada. Gestar um feto com malformações, para essas mulheres, poderá suscitar a prioridade da presença de recursos materiais para o cuidado com o filho. O achado sobre a maioria da população estudada de pertencer à categoria de rendimentos baixos e médios sugere uma ligação com ausência de apoio material, que apresentou alta frequência no estudo (54,7%), como também pode explicar a associação de depressão gestacional com desemprego. Possivelmente a perda de emprego para essa população de gestantes, poderá significar perder quase todas as possibilidades de recursos materiais para o cuidado de um filho com malformações . Nesse contexto, o pouco acesso às informações sobre as Políticas de Saúde e Políticas de Assistência Social existentes, poderão aumentar a vulnerabilidade emocional das gestantes, sendo este fato ilustrado, pela alta frequência de ausência de apoio informacional encontrada no estudo (57%). O apoio informacional está relacionado com a disponibilidade de pessoas e Instituições para oferecer informações e orientações ao indivíduo (SCHWARTZ et al, 2011; PINTO et al, 2006, GRIEP et al, 2003; OSTEGREN et al, 1991, SHERBOUNE e STEWART, 1991). Sua ausência na população estudada poderá contribuir para o aumento da vulnerabilidade para transtornos mentais, como a depressão, que pode ser agravada pelo desemprego. É importante destacar que a associação na análise bivariada entre depressão gestacional e o evento estressante perda de emprego no último ano (p=0,004), corroborou 66 com o achado na associação final de depressão durante a gestação e com a variável estar desempregada. Cabe ressaltar que a história de agressão no último ano apresentou associação significativa com depressão gestacional (p=0,001) na análise bivariada, o que esteve em consonância com outros estudos (LOPES et al, 2003; PEREIRA et al, 2009). A associação de conflito com familiares, amigos e vizinhos com depressão na gestação na análise bivariada (p=0,01) e a chance encontrada para o aumento da depressão gestacional (4,17: 1,28-13,62) foi também um ponto de destaque neste estudo. A literatura aponta que o grupo de pessoas mais próximo de um indivíduo, pode ser considerado em muitos casos, uma rede relacional ampliada, que poderá oferecer algum tipo de suporte em caso de necessidade (MACEDO, 1979; ANDOLFI, 1988, 1988; MINUCHIN, 1999; 1980; OSÓRIO, 1996; SOUSA,1997; SLUZKI,1997, SCHNITMAN,1997, WOORTMANN,1987). Ter vivenciado conflitos com essa rede no último ano, poderá ser percebido pela gestante como um evento estressor relevante, pois poderá considerar que sua rede de apoio está comprometida. Nesse âmbito, duas ausências de apoio podem também estar relacionadas: a ausência de interação social positiva (53,5%) e a ausência de apoio emocional (57%). A primeira dimensão de apoio está ligada à capacidade do indivíduo ter pessoas com quem possa relaxar e se divertir. A segunda relaciona-se a expressões de afeto positivo, compreensão e sentimentos de confiança. Vivenciar a possibilidade dessas ausências de dimensões de apoio tão importantes para a qualidade de vida dos indivíduos em geral, poderá ser mais um fator impactante para a gestante. (SCHWARTZ et al, 2011; PINTO et al, 2006, GRIEP et al, 2003; OSTEGREN et al, 1991, SHERBOUNE e STEWART, 1991) Apesar de não ter encontrado associação estatisticamente significativa neste estudo entre a depressão gestacional e história anterior de depressão, um grande número de mulheres relatou ter vivenciado depressão ao longo da vida, fato consistente com outros estudos (THIENGO et al 20111, PEREIRA et al, 2010, RICH-EDWAERDS, 2006, KIM et al, CHEE et al, 2005, FELICE et al 2004, MARCUS et al, 2003, PATEL et al 2002, LUIS et al, 1998). Sabe-se que história de depressão prévia é o principal fator de risco para a ocorrência desse transtorno durante o período gravídico, em especial, tratando-se de uma gravidez com malformações (BAPTISTA,2004). Chamou também atenção que apesar da alta frequência de história de depressão anterior à gestação, poucas mulheres relataram história de acompanhamento psiquiátrico/psicológico anterior (11,6%). Sendo a depressão uma condição crônica e recorrente (CID-10, 1993),a baixa frequência de tratamento psiquiátrico/psicológico prévio aponta a importância da assistência em saúde mental para esse grupo populacional. 67 Nesse sentindo, as avaliações psiquiátricas/psicológicas realizadas e a importância dos encaminhamentos de pacientes para os Serviços de Saúde Mental mostram-se necessárias e urgentes. Destaca-se a necessidade de uma melhor integração entre as políticas de Saúde Mental nos serviços de saúde em geral. Em relação às variáveis obstétricas, apesar da alta frequência de gestantes que não planejaram a gravidez (55,8%), os achados apontaram que tanto o número de consultas de pré-natal (68,6%- até 6 consultas), como seu início desejável no primeiro trimestre de gravidez (80,2%) e começo dessas consultas na atenção básica (87,2%), estão de acordo com as orientações do Mistério da Saúde (2006). Fato que pode ser destacado neste estudo, foi a alta frequência (65%) de gestantes que informaram possuir alguma religião. A religião é apontada pela literatura como um potencial racionalizador que leva um sentido à vida e oferece um suporte alternativo para criação de motivação para enfrentar a pobreza (MARIS e MACHADO, 1994; MACHADO, 1996). Este fato sugere que mesmo com as ausências das dimensões de apoio social encontradas no estudo e considerando o contexto socioeconômico em que as gestantes estão inseridas, a religião pode ter sido vivenciada nesta população como um suporte emocional. Limitações Dentre as limitações encontradas no estudo, destaca-se o fato de ter um desenho seccional e, portanto, não passível de inferir causalidade (MEDRONHO et al,2005). Também é importante destacar que os achados neste estudo, não podem ser generalizados para toda população da cidade do Rio de Janeiro/Brasil. Entretanto, sabe-se que a maior parte da população brasileira é atendida pelo Sistema Único de Saúde e que o Instituto Fernandes Figueira, além de ser um hospital federal, é um centro de referência para malformação na cidade do Rio de Janeiro e no Brasil. 6.5-Conclusão A prevalência de depressão foi de 17,4% (IC 95%: 0,09-0,26) e está em consonância com a literatura nacional e internacional, demonstrando a importância da Saúde Mental para essa população. Esse achado reforça a relevância dos estudos sobre transtornos mentais em gestantes de fetos malformados, em especial, àqueles que avaliam depressão. Na análise final, 68 observou-se que a associação entre estar desempregada e depressão durante a gestação foi relacionada à ausência de apoio material. Chamou atenção, a importância do acolhimento às demandas sociais pelos profissionais de saúde envolvidos no cuidado pré-natal e quando preciso, a realização de encaminhamentos aos serviços competentes. Em países com grande desigualdade socioeconômica como o Brasil, o impacto da gestação de um feto com malformações deve ter atenção especial, pois, nessas mulheres as ausências de apoio social, agravam as adversidades sociais que enfrentam. É também importante um diálogo constante na rede de saúde, sobre novas estratégias que visem melhorar o atendimento e encaminhamento psiquiátrico/psicológico das mulheres aos serviços, principalmente àqueles que possuem pré-natal. Nestes serviços, quando a gestante recebe o diagnóstico sobre a malformação de seu feto, a presença do serviço de Saúde Mental atuante, torna-se fundamental. Portanto, tendo como base a complexidade da população estudada, é relevante reforçar que os profissionais de saúde envolvidos no cuidado, tenham atenção integral às demandas apresentadas pelas gestantes de fetos malformados. Com base nos achados do estudo, torna-se fundamental a importância de novas pesquisas, principalmente com desenhos longitudinais, como estudos de coortes e casoscontrole, para o conhecimento dos fatores de risco da depressão durante a gestação e apoio social nesse grupo populacional. Estes achados permitirão que políticas de saúde estejam mais integradas com as políticas de assistência social e consequente melhora da qualidade da assistência. 6.6-Bibliografia (Artigo) 1.ADOLFI, M. Tempo e mito em terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. 2.ALAMI, KM.; KADRI, N.; BERRADA, S. Prevalence and psychosocial correlates of depressed mood during pregnancy and after chilbirth in a Moroccan sample. Arch Womens Ment Health 9(6). 343-6, 2006. 3. 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Acesso em: 31 de agosto de 2012. 76 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o presente estudo, constatou-se que, apesar da gestação de um feto malformado ser considerado um evento estressante grave e de grande relevância no período pré-natal, ainda não existem na literatura estudos focados na depressão gestacional e apoio social neste período. O período gestacional, já considerado pela literatura um evento estressante, quando associado ao diagnóstico de malformação, poderá deixar as gestantes ainda mais vulneráveis psicossocialmente, influenciando tanto no cuidado consigo, como no cuidado de seu bebê. Tendo em vista estas constatações, o conhecimento das prevalências de depressão e apoio social das gestantes no período considerado, torna-se prioritário, tanto para o redimensionamento das avaliações durante o pré-natal, como para o planejamento de novas estratégias de diagnóstico precoce, tratamento da depressão e melhor qualidade do acolhimento dessas gestantes pelas equipes de saúde envolvidas no cuidado, nos serviços de pré-natal. Verificou-se que, a depressão gestacional e o apoio social recebido por essas mulheres, mesmo em populações que não apresentam a especificidade de um feto com malformações, é um problema de saúde pública ainda pouco estudado. A grande maioria dos estudos dedicamse às pesquisas no puerpério, apesar da literatura já apontar que a depressão nesse período, em muitos casos, tem seu início no pré-natal. No presente estudo, foi possível observar que, uma grande parte das gestantes, possui história prévia de depressão ao período gestacional, e que em grande parte dos casos, não são tratados, tornando o problema da prevalência da depressão nas mulheres em idade fértil, um problema muito mais grave. Portanto, o estudo também ressalta a importância da desconstrução do estigma da depressão especialmente no período pré-natal, a importância de diagnósticos bem realizados e encaminhamentos dessas pacientes para os Serviços de Saúde Mental. Em especial, investimentos no esclarecimento sobre a saúde mental das gestantes, é de suma importância, tanto para aquelas que vivenciam uma gravidez de baixo risco, quanto as de alto risco e passam por um evento estressante grave. Dessa forma, o planejamento em saúde pré-natal atenderá um maior contingente, permitindo um manejo mais adequado da depressão gestacional e no puerpério, como a melhora da qualidade de vida dessas mulheres. Assim, de acordo com os achados encontrados, foi também chamada atenção para a necessidade da construção de novos estudos, principalmente longitudinais, para o conhecimento dos fatores de risco envolvidos e um melhor entendimento da dinâmica social 77 das gestantes de fetos com malformações. Nesse sentido, evidencia-se que um maior conhecimento sobre a temática em questão, permitirá que Políticas de Saúde estejam em consonância com Políticas de Assistência Social. 78 8 REFERÊNCIA ADOLFI, M. Tempo e mito em terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. ALAMI, K. M.; KADRI, N.; BERRADA, S. Prevalence and psychosocial correlates of depressed mood during pregnancy and after chilbirth in a Moroccan sample. Archives of Womens Mental Health, v. 9, n. , p. 343-346. 2006. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4.ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1994. ANDERSSON, L. et al. 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Estas informações contribuirão para o conhecimento da frequência de depressão materna em casos de malformação do bebê e para a construção de uma assistência em saúde mental integrada ao cuidado pré-natal, visando o bem-estar físico e emocional dessas mães. 2. A pesquisa consistirá em uma entrevista face a face, que acontecerá após a consulta de prénatal com a Genética, sem prejudicar o seu atendimento médico. 3. A sua participação nesse estudo é voluntária. Mesmo que você decida participar, você tem plena liberdade para sair do estudo a qualquer momento, sendo-lhe assegurado o direito de recusar-se a responder às perguntas que ocasionem constrangimentos de alguma natureza, sem incorrer em nenhuma penalidade. O seu atendimento médico não será prejudicado caso você decida não participar ou caso decida sair do estudo já iniciado. 4. Você poderá fazer todas as perguntas que julgar necessárias antes de concordar em participar do estudo, ou a qualquer momento, e receberá do entrevistador os esclarecimentos adequados. O Comitê de Ética em Pesquisa do IFF também estará à disposição para eventuais esclarecimentos e outras providências que se façam necessárias. 5. De um modo geral, não há riscos associados ou decorrentes da pesquisa, mas em caso de possível desconforto emocional durante a entrevista e nos casos em que forem identificados depressão ou outros transtornos mentais será oferecido suporte terapêutico no Serviço de Psicologia Médica deste instituto. 6. Não há ganhos financeiros para as participantes da pesquisa, no entanto, nos casos em que as entrevistas acontecerem em turnos ou dias diferentes das consultas médicas, as despesas com alimentação e transporte poderão ser custeadas pela pesquisa. 7. A sua identidade será mantida como informação confidencial. Os resultados do estudo podem ser publicados, mas sua identidade não será revelada. Os registros médicos, porém, poderão ser consultados pelos monitores do estudo, pelo Comitê de Ética e pelas autoridades de saúde. Eu, __________________________ li e entendi todas as informações sobre esse estudo e todas as minhas perguntas foram respondidas a contento. Portanto, consinto voluntariamente em participar desse estudo. Assinatura da paciente ________________________ Local/data __________________ Assinatura do pesquisador ______________________Local/data __________________ Pesq. Responsável: Priscila Krauss Pereira (CRP 05/33758) Praça Jorge Machado Moreira, Ilha do Fundão - Tels: (21) 2598-9274 / 3795-0120 / 8866-6626 Comitê de Ética em Pesquisa do IFF-FIOCRUZ Av. Rui Barbosa 716, Flamengo – [email protected]. Tel: (21) 2554-1730 / fax 2552-8491 90 ANEXO E QUESTIONÁRIO EPIDEMIOLÓGICO Identificação Nome: ___________________________________________________________________ Endereço:______________________________________________________________ Telefone:____________________________________ CEP:_________________________ Idade:___________ Data de nascimento: ____________ Estado civil:_____ 0- solteira 1- casada 2-divorciada 3- viúva Escolaridade:____ 0 - analfabeta 1- Ensino fundamental (1º grau) 2- Ensino médio (2º grau) 3- Ensino superior (3º grau) Cor: ______ 0- branca 1- parda 2- negra 3- indígena Naturalidade:_____ 0- Rio de Janeiro 1- Estado 2- Sudeste 3- Nordeste 4- Outros Nacionalidade:____ 0- Brasileira 1- Estrangeira Quanto tempo mora no Rio de Janeiro:_________________ Profissão:______ 0- desempregada 1- trab. Informal 2- trab. Formal 3- do lar 4estudante 91 ANEXO F QUESTIONÁRIO SOBRE VARIÁVEIS CLÍNICAS E OBSTÉTRICAS História patológica pregressa:____ 0- não 1- sim Diabetes____ Nefropatia____ Tuberculose____ HAS crônica____ Pneumonia____ DST____ Cardiopatia____ Traumatismo____ Ginecopatia____ Hepatite____ Neuropatia____ Outros_________ Fatores de reprodução: N° de gestações:____ N° de crianças:____ N° de abortamentos:____ induzidos____ espontâneos____ Quantas vezes amamentou:____ História de doenças gestacionais anteriores:____ 0- não 1- sim História de baixo peso ao nascer anteriormente:____ 0- não 1- sim História de prematuridade:____0- não 1- sim Atual gravidez foi planejada:____ 0- não 1- sim História psiquiátrica: História de depressão:____ 0- não 1- sim Tratamento psiquiátrico prévio:____ 0- não 1- sim Fuma:____ 0- não 1- sim Uso abusivo de álcool:____ 0- não 1- sim Uso de drogas ilícitas:____ 0- não 1- sim 92 ANEXO G EVENTOS DE VIDA ESTRESSANTES NO ÚLTIMO ANO: Conflitos matrimoniais:____ História de separação/divórcio:____ Perda de emprego:____ Conflitos com familiares, amigos ou vizinhos:____ Problema físico sério:____ Problemas financeiros:____ Envolvimento judicial:____ História de acidente de trânsito/incêndio/catástrofe:____ História de seqüestro:____ Falecimento de pessoa próxima:____ História de abuso sexual:____ História de furto:____ História de agressão:____ História de assalto residencial:____ 93 ANEXO H AVALIAÇÃO DA DEPRESSÃO (CIDI) 94 95 96 97 98 99 100 ANEXO I 101 ANEXO J Ministério da Saúde Fundação Oswaldo Cruz INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – CEP ACOMPANHAMENTO DE PESQUISA – 2004.2 Instruções para preenchimento: clique aqui I.CADASTRO *Campo a ser preenchido pelo CEP *PROTOCOLO CEP N.º 0035/10 *ENTRADA *Aprovado em 1ª instância 2ª instância 3ª instância 4ª instância *CONEP: Processo N.º 0035.0.008.2310 *Parecer N.º 021/10 *Aprovado em 1ª instância 2ª instância 3ª instância 4ª instância *DELIBERAÇÃO *DELIBERAÇÃO CEP- IFF CEP- FIOCRUZ (antecedeu Res. 196/96) *Análise realizada CEP-IFF + CEP de outra(s) IES II. PESQUISADOR RESPONSÁVEL PRISCILA KRAUSS PEREIRA Nome completo Formação Acadêmica Psicóloga doutoranda em Saúde Coletiva pelo IESC/UFRJ Endereço Residencial CEP: Bairro: Telefones Cidade: Rio de Janeiro Fax: Estado: Celular: e-mail PESQUISADOR MESTRADO PESQUISADOR VISITANTE ESPECIALIZAÇÃO DOUTORADO Outros (especificar) Depressão e fatores associados durante a gravidez de bebês Título completo e atual do projeto com malformações congênitas atendidas em um hospital materno-infantil público de referência do Rio de Janeiro REALIZAÇÃO Orientador(es) Nome(s) Giovanni Marcos Lovisi Formação Acadêmica e Citar maior Titulação Medicina/UFJF Origem(Instituição) Universidade Federal do Rio de Janeiro Doutorado em Saúde Pública/ENSP-FIOCRUZ III.Grupos (segundo Folha de Rosto da CONEP) Área Temática Especial *Campo a ser preenchido pelo CEP 102 *GRUPO II *GRUPO I *GRUPO III (projetos que devem ser acompanhados pela CONEP) (projetos que dependem da aprovação da CONEP) Genética humana Reprodução humana Novos equipamentos, insumos, dispositivos Novos procedimentos Populações indígenas Biossegurança Cooperação internacional Todos os outros que não se enquadram em áreas temáticas especiais Novo fármaco Nova vacina Novo teste diagnóstico Organismo geneticamente modificado - OGM Projeto com cooperação estrangeira SIM (Anexar CQB – Lei 8.974/95) NÃO SIM NÃO IV. INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA Revisão teórica Coleta de material Estágio atual da Cronograma(duração total): 1 ano Análise pesquisa (assinalar mais de um, se necessário) Término:___________ Interrompido (justificar) EQUIPE Citar todos os participantes (Incluir quantas linhas forem necessárias) Nome Completo Formação Acadêmica Instituição Departamento Atividade a ser desempenhada na pesquisa UFRJ Coordenadora/pesquisad ora UFRJ Pesquisadora/Entrevista dora UFRJ Pesquisadora/Entrevista dora UFRJ Entrevistadora Entrevistadora Taís Suane Psicóloga doutoranda em Saúde Coletiva Psicóloga mestranda em Saúde Coletiva Psicóloga mestranda em Saúde Coletiva Estagiária Monique Félix Estagiária UFRJ Fernanda Lourenço Estagiária UFRJ Priscila Krauss Pereira Keli Rodrigues Sarução Vivian Costa Barros Resultados encaminhados à publicação Entrevistadora SIM (anexar cópia dos trabalhos) NÃO (Ainda em análise de dados) V. MATERIAL UTILIZADO (assinalar mais de um, se necessário) fetal DNA placentário células germinativas ginecológico soroteca registro de dados dados de prontuário dados de questionário depoimentos outros (especificar) sangue medula óssea liquor arquivo de tecido arquivo fonográfico arquivo iconográfico Imagem VI. SUJEITO DA PESQUISA O sujeito da pesquisa pertence a algum dos grupos a seguir (assinalar mais de um, se necessário) 103 populações indígenas grupos religiosos militares presidiários doentes mentais idosos crianças e adolescentes parturientes Previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos da pesquisa SIM - valor: NÃO retardo mental gestantes doenças genéticas nenhuma das citadas(especificar) R$ ___________________ VII. PROPRIEDADE DAS INFORMAÇÕES SIM NÃO Restrição quanto à divulgação SIM pública dos resultados NÃO Uso, destino e propriedade do material e/ou dados coletados (Descrever) Os dados coletados serão utilizados na construção de teses e dissertações e para a confecção de artigos científicos. O material coletado será armazenado, em local seguro, para consulta futura caso seja necessário, por pelo menos 5 anos. Medidas de proteção à SIM confidencialidade dos dados NÃO Modificação na metodologia SIM após aprovação pelo CEP NÃO Se afirmativa a questão SIM anterior, encaminhou por NÃO escrito ao CEP Houve incidente ético durante SIM (descrever anexo) a pesquisa NÃO Se afirmativa a questão SIM anterior, autoriza o CEP tomar NÃO medidas cabíveis. O material será utilizado SIM exclusivamente para esta NÃO(justificar anexo) pesquisa Pesquisa envolvendo patente VIII. CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO Foi utilizado em sua pesquisa Quem obteve Foi preenchido em 2 vias, ambas identificadas com o nome do participante e do representante legal, datas e assinadas Entregou uma das vias ao participante Arquivou a pesquisador via do Uso de Imagem de algum sujeito da pesquisa Participação de voluntário e/ou representante legal ANALFABETO Algum voluntário e/ou responsável legal demonstrou dificuldade para entender e/ou compreender os objetivos da pesquisa SIM NÃO(justificar anexo) Próprio Pesquisador Outra pessoa da pesquisa SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO 104 Quantos explicitaram tais dificuldades Houve recusa de algum voluntário após apresentação dos objetivos da pesquisa Quantos se retiraram da pesquisa após terem dado consentimento Considera que o CEP contribuiu para sua formação como pesquisador O CEP tem sido importante na condução ética de sua pesquisa 1 3 5 10 SIM NÃO 1 5 10 SIM NÃO SIM NÃO + de 10 Vários Nenhum Vários Nenhum