baixar o pdf - Sou Catequista

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baixar o pdf - Sou Catequista
Guia de Navegação para Tablets e Smartphones
Editorial
Vocês vão me procurar e me
achar, pois vão me procurar
com todo o coração. (Jr 29, 13)
Catequista, leitor(a), seja
mais que bem-vindo à 14ª edição da revista
Sou Catequista! Este número, o primeiro de
2016 e que compreende os meses de janeiro e
fevereiro, quer ser um guia definitivo para os seus
primeiros passos neste novo ano.
Nas próximas páginas você terá acesso a
conselhos e sugestões que certamente farão
a diferença na sua vida ao longo dos próximos
doze meses.
Também poderá entender as possibilidades
metodológicas dentro da catequese em um
tempo onde crianças e jovens primam pela
experiência, por aquilo que é tátil.
Ao encerrar a leitura, você será capaz de
compreender como e por qual motivo os nossos
primeiros passos, em tudo aquilo que nos
propomos a fazer, devem ser dados sempre em
comunhão com Jesus Cristo. Isso e muito mais
você certamente encontrará a partir de agora.
Em nome de toda a equipe da revista Sou
Catequista, espero que o Salvador do mundo
seja uma presença constante em sua vida,
abençoando você e toda a sua família rumo a
uma conduta pacífica, fraterna e combatente
no que tange as injustiças deste mundo.
Tenha uma ótima leitura e até a próxima edição! ;)
Luiz Guilherme Martins,
Coordenador editorial
Edição 14 | Ano 4 | Fevereiro/2016
Direção geral: Sérgio Fernandes
Coordenação editorial: Luiz Guilherme Martins
Consultor Eclesiástico: Pe. José Alem
Revisão: Marcus Facciollo
Projeto gráfico: Agência Minha Paróquia
Diagramação: Renan Trevisan
Assistente de arte: João Vitor Pereira Faustino
Desenvolvimento Web: Matheus Moreira
Atendimento: Bárbara Silva
Comercial: Adriana Franco
Projetos: Elen Bechelli de Oliveira
Banco de imagens: Shutterstock
A revista digital Sou Catequista é uma publicação da agência
Minha Paróquia, disponível gratuitamente para smartphones
e tablets nas plataformas IOS e Android. Os conteúdos
publicados são de responsabilidade de seus autores e não
expressam necessariamente a visão da agência Minha
Paróquia. É permitida a reprodução dos mesmos desde
que citada a fonte. O conteúdo dos anúncios é de total
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www.soucatequista.com.br
facebook.com/soucatequista
PARA LER A REVISTA, DESLIZE PARA AS
PRÓXIMAS PÁGINAS OU TOQUE NOS
ITENS DO ÍNDICE.
NESTA EDIÇÃO
8
NOSSOS
LEITORES
COMUNICAÇÃO
46
AS POSSIBILIDADES
METODOLÓGICAS PARA UMA
CATEQUESE PARTICIPATIVA
56
BÍBLIA
DE CATEQUISTA
PARA CATEQUISTA
12
UMA VIDA DE
SUPERACAO
ATRAVÉS DA FÉ E DO AMOR
62
16
A VOZ DA IGREJA
ATUALIDADE
24
CANONIZAÇÃO DE
MADRE TEREZA DE
CALCUTÁ
SER CATEQUISTA
30
CATEQUESE,
AÇÃO DA IGREJA
12
passos para
o catequista
crescer na
fé, esperança e amor
84
O CATECISMO RESPONDE
86
MENSAGEM DO PAPA
100
CATECINE
ROTEIROS CATEQUÉTICOS
36
PARTE VI - RITOS &
CELEBRAÇÕES NA
CATEQUESE
105
SUGESTÕES DE APP
106
SUGESTÕES DE LEITURA
Nossa equipe tem se dedicado
bastante para trazer de presente a
você uma revista tão caprichada.
E o que pedimos em troca?
Pedimos apenas que
#compartilhe,
curta a nossa fanpage e divulgue
este trabalho ao máximo de
pessoas.
E obrigado pela amizade!
NOSSOS LEITORES
8
Gostei muito da revista! É com
certeza o melhor material
desenvolvido para catequistas
disponível na internet!
Reginaldo Pinheiro
O app Sou Catequista é muito
útil para os encontros de
catequese! Recomendo a
todos.
Edmar Estevam
Excelente ferramenta para
nós, catequistas. Explicativa,
interativa e de conteúdo
variado. Recomendo com
louvor!
Emerson Marinho
AJUDE-NOS A CHEGAR
A MAIS CATEQUISTAS!
AVALIE E DEIXE O SEU
COMENTÁRIO SOBRE O
APLICATIVO NA APPSTORE:
< CLIQUE AQUI
A SUA AVALIAÇÃO NOS AJUDA A
MELHORAR DE POSIÇÃO NO RANKING
E TER MAIS DESTAQUE NAS LOJAS.
Muito bom! O aplicativo é um
auxílio e uma motivação aos
catequistas do Brasil! Vamos
ler, apoiar e divulgar!
Raquel Anna
9
NOSSOS NÚMEROS
A linguagem da revista é ótima
e o aplicativo é muito prático.
Tem me ajudado muito!
Roberta Marinho
Parabéns, equipe Sou
Catequista! O material da
revista é ótimo, explicativo,
objetivo. O design e os
assuntos são excelentes e nós,
catequistas, agradecemos.
Deus abençoe o empeho de
vocês!
Patrícia Müller
58.900
4.350.000
24.350
4.900
assinantes
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visitantes únicos/dia no site
A revista é impressionate!
Adoro os temas abordados e a
inclusão de vídeos aos textos!
Darliane Aparecida
ENVIE SUA
MENSAGEM PARA
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Na última edição do Desafio Sou Catequista, a editora AveMaria, em parceria com a gente, sorteou os três primeiros
tempos da coleção Sementes, “uma catequese completa para
a experiência do encontro com Cristo”.
Desta vez, o ganhador será premiado com o livro “Catequese ao
raiar do dia”, escrito pelo padre Zezinho!
Para receber o produto em casa, você precisará responder a
questão-chave deste desafio:
O mês de fevereiro marca o início do Tempo da Quaresma,
com ponto de partida na Quarta-feira de Cinzas. Qual é,
então, o significado das cinzas?
A sua resposta deve ser publicada como comentário dentro da
página de promoção do desafio, disponível em nosso site oficial
www.soucatequista.com.br
Lembrando que os textos escritos em nossa página no Facebook
serão invalidados.
Nossa equipe de conteúdo analisará todas as respostas e o
resultado será anunciado no dia 25/2, através do Facebook,
estando disponível também no site. Portanto, fique atento à
data, capriche e, é claro, que Deus te abençoe!
DE CATEQUISTA PARA CATEQUISTA
12
'
Conheca a historia
de
Evanise Aparecida da Silva
'
'
Uma vida de superacao atraves da fe e do amor
'
'
'
'
M
eu nome é Evanise, mas muitos
me chamam de Vaninha. Moro
em Buenópolis, tenho 45 anos,
sou cadeirante, catequista, casada com
Edney, dona de casa e mãe de uma menina
(Maria Eduarda). Com oito meses de idade
tive paralisia infantil apesar de ter sido
vacinada. Daí em diante começou a luta da
minha mãe para me proporcionar uma vida
digna. Fiz tratamento e acompanhamento
físico em Belo Horizonte, no Hospital da
Baleia, até 12 anos de idade. Frequentei a
APAE em Sete Lagoas pela necessidade de
fisioterapia, pois, particular, pela situação
financeira da família, não dava.
13
Tornei-me
catequista com
16 anos ainda
em Sete Lagoas
e quando cheguei
aqui logo procurei
a coordenadora
da catequese.
Ainda nova precisei ir para a escola normal, pois era bastante inteligente e na APAE o ensino
se tornara fraco para mim. Grande desafio conseguir uma vaga, pois naquela época isso era
difícil. Na escola não foi fácil, as carteiras, as portas, o acesso ao banheiro, nada era acessível
para pessoas com deficiência. Mas, com muita luta, a ajuda de minha mãe sempre presente
em minha vida e dos meus irmãos, consegui me formar. Meu pai tinha que garantir o sustento
da família, por isso trabalhava muito e quase não tinha tempo para se dedicar a nós.
Na cidade onde nasci (Buenópolis) não existia tratamento para que eu pudesse me
desenvolver, por isso morei muitos anos em Sete Lagoas. Quando voltei para minha cidade
percebi que minha luta parecia que teria que recomeçar. As pessoas me olhavam diferente
e me tratavam como se eu fosse de cristal, mas logo mostrei que eu era de carne, ossos e
atitude e aos poucos fui ganhando confiança.
14
Tornei-me catequista com 16 anos ainda
em Sete Lagoas e quando cheguei aqui
logo procurei a coordenadora da catequese
e coloquei-me à disposição pedindo uma
oportunidade de fazer o que amo (falar de
Jesus às crianças). No começo foi meio
complicado, mas aos poucos fui sendo aceita
por todos. Hoje sou catequista no bairro onde
moro com crianças muito carentes de tudo.
Procuro ser carinhosa e amável com meus
catequizandos e, apesar da minha condição,
percebo que eles me respeitam.
Nem sempre é possível participar das reuniões na paróquia e também as que acontecem fora
da cidade em nível de forania por causa da locomoção, mas procuro me inteirar dos assuntos
por meio das minhas colegas e de estudos em casa. Gosto de participar das novenas, em
especial do Natal em família – coordeno um grupo aqui no meu bairro todos os anos.
Sou casada há 13 anos, tive a felicidade de gerar duas filhas, mas, infelizmente, a primeira,
que teria 12 anos, por causa de complicações no parto não resistiu e veio a óbito. Cheguei
a pensar em não tentar de novo, mas um dia na igreja, olhando para a imagem de Nossa
Senhora das Graças, fiz uma oração silenciosa e pedi a ela que, se fosse para o meu bem, que
ela intercedesse por mim junto a Deus e me concedesse a graça de ter um filho. Três anos
após a morte da minha filha, engravidei novamente . Hoje, minha princesa tem oito anos e já
vai receber o sacramento da Eucaristia com a graça de Deus e a proteção de Nossa Mãezinha.
Minha vida nunca foi simples. Sou aposentada, batalhadora, considero-me uma vencedora.
Para complementar a renda familiar, faço e vendo cachorro-quente e enfeites de crochê.
O que mais me angustia é a falta de acessibilidade. Moro em uma rua com uma parte sem
calçamento e quando chove é horrível, fica intransitável. Quando preciso ir às compras é
outro dilema, pois as lojas e comércios daqui não têm rampas de acesso para cadeirantes
e muitas vezes preciso escolher de fora o que desejo levar. Tem rampas nas calçadas, mas
não para dentro das lojas. Se quero almoçar fora com a família também não dá para ir a
todos os lugares disponíveis na cidade pelo mesmo motivo.
Estou passando por um momento de profunda tristeza, pois perdi a minha mãe há três meses
com uma morte repentina. Mas tenho fé em Deus que a tristeza vai passar e vai ficar apenas a
saudade e as lembranças dos momentos que tivemos juntas. Ela era meu porto seguro. Minha
fortaleza. Mas confio que Deus não vai me desamparar, Ele me dará forças para vencer mais
essa tribulação. Eu luto pelos meus direitos e faço isso com garra e determinação.
Esta é a história da minha vida. Um abraço fraterno e que Deus abençoe a todos.
Evanise é catequista em Buenópolis, Minas Gerais
VOZ DA IGREJA
16
Um ano que
começa
Dom Murilo S. R. Krieger, Arcebispo de Salvador
17
E
stá começando um novo ano. Por isso, cumprimentamos os amigos, os conhecidos
e quem encontramos, repetindo-lhes: "Feliz ano novo!" Há, no coração de todos, a
esperança de que o ano de 2016 será melhor do que o ano que passou.
É possível que o corre-corre, comum de todo final de ano, não nos tenha possibilitado
um momento de reflexão, um exame do que representou para nós o ano que terminou. Se
isso realmente aconteceu, perdemos muito. Perdemos a oportunidade de olhar para cada
acontecimento com mais objetividade. Tivéssemos feito uma revisão do que vivenciamos
ao longo dos últimos doze meses, as alegrias vividas apareceriam em toda a sua riqueza e
mesmo nossos momentos difíceis acabariam sendo melhor compreendidos. A recordação
das pessoas que conhecemos e das amizades que aprofundamos nos fariam superar
ideias pessimistas. Descobriríamos que tanto os momentos alegres como os difíceis nos
amadureceram e ajudaram a mudar nossa maneira de encarar a vida.
Na dimensão nacional e internacional houve, sim, desentendimentos, profundas
manifestações egoístas, roubos, guerras, fome, multidões de pessoas se deslocando de um
país para outro... Mas, quanto a humanidade caminhou, progrediu e se enriqueceu com
novas descobertas e invenções? É verdade que muito do progresso feito não levou em conta
o bem do ser humano, que deveria estar sempre no centro de qualquer decisão. Seria até
ingênuo negar que em muitos setores e situações o ser humano ficou até mais pobre, uma
vez que se tornou escravo da técnica, do prazer pelo prazer e da matéria. Por outro lado,
devemos lembrar os atos de bondade que a Imprensa não registrou: os inúmeros gestos
de dedicação feitos no silêncio de muitas casas, creches e hospitais e os livros escritos,
alimentando a esperança no coração de muitos...
Por mais completa que tivesse sido nossa reflexão, contudo, não teríamos sido
suficientemente objetivos em nossas análises. O ideal é que pudéssemos, como Michel
Quoist manifestou em um poema, subir muito alto, acima de nossas cidades, acima do
mundo, acima do tempo, para purificar nosso olhar e enxergar tudo com os olhos de Deus.
Aí, sim, poderíamos ver o ano que passou como o Pai o viu. Teríamos a exata dimensão do
que 2015 representou em nossa vida e na caminhada da humanidade.
18
Verificaríamos que, em meio a tanto ódio,
desgraça e pecado, a humanidade, faminta,
esteve à procura da paz e do amor - de
um amor que fosse capaz de saciar seu
desejo de felicidade. Pois esse amor existe;
essa paz é possível. Foi isso que pudemos
perceber na recente celebração do Natal.
Quando Jesus, a "Palavra de Deus" - isto
é, Sua expressão verdadeira -, assumiu a
nossa natureza humana e passou a viver
no meio de nós, nossa vida adquiriu novas
perspectivas. Agora, a humanidade não
caminha mais sem rumo; ela é conduzida
por um impulso de amor, em direção
daquele que é o único capaz de saciar sua
inquietação ("Fizeste-nos para Ti, Senhor, e
inquieto está o nosso coração enquanto não
repousa em Ti" - Santo Agostinho).
Tivéssemos feito tais reflexões, nasceria
em nosso coração uma dupla obrigação: de
agradecimento e de pedido de perdão. De
agradecimento por termos constatado que
o Pai caminhou conosco, animando-nos,
perdoando-nos e nos dando a possibilidade
de tirarmos proveito até de nossos erros.
De pedido de perdão não só por nosso
egoísmo, que se manifestou em muitas
ocasiões, mas sobretudo por não termos
sabido perceber em nossa vida e na de
todos os que nos cercam os sinais de amor
que ele semeou para que pudéssemos
encontrá-lo a cada hora e sempre.
Se ainda fizermos essas reflexões,
poderemos esperar muito de 2016.
Na dimensão
nacional e
internacional
houve, sim,
desentendimentos,
profundas
manifestações
egoístas, roubos,
guerras, fome,
multidões
de pessoas se
deslocando de um
país para outro...
Mas, quanto a
humanidade
caminhou,
progrediu e se
enriqueceu com
novas descobertas
e invenções?
19
As obras de
misericórdia
corporais
Dom Adelar Baruffi, Bispo de Cruz Alta
20
“
Sede misericordiosos, como vosso Pai do céu é misericordioso.” (Lc 6, 36). A certeza
de que nosso Deus é Pai misericordioso é uma das verdades centrais de nossa fé
cristã. O modo como Deus é e age tem a marca da misericórdia. Porém, o Ano da
Misericórdia quer nos educar para uma vida marcada pela misericórdia, por isso: “sede
misericordiosos”, ou “bem-aventurados os misericordiosos” (Mt 6,7). A Tradição da
Igreja convencionou apresentar sete obras de misericórdia corporais e sete obras de
misericórdia espirituais. Tratarei, hoje, das obras de misericórdia corporais, mostrando
como, para cada uma delas podemos viver a compaixão.
Dar de comer a quem tem fome. A comida é uma necessidade humana básica. A existência
de pessoas que passam fome é um escândalo para a humanidade. As iniciativas sociais e,
em nossa Igreja, para dar de comer aos famintos, são muitas. Disse Jesus: “Eu estava com
fome e vocês me deram de comer.” (Mt 25,35).
Dar de beber a quem tem sede. Trata-se mais do que oferecer um copo d´água. Diz nosso
Papa que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e
universal.” (Laudato Si, 30).
Vestir os nus. Quanto desperdício na compra de roupas desnecessárias! Vê-se muita
generosidade na doação de roupas e agasalhos. Isto é bom. Melhor se nos educássemos, como
nos diz o Papa para a “sobriedade feliz” (LS 224), não sendo “consumistas desenfreados” (LS
227). Afinal, disse Jesus: “Por que vocês ficam preocupados com a roupa?” (Mt 7,28).
Acolher os peregrinos. Esta é uma atitude bíblica muito estimada. No livro do Gênesis,
conta que Abraão e Sara, ao acolherem os três peregrinos, acolheram o próprio Deus e
foram abençoados com o filho que tanto esperavam. Hoje, abrir as portas para acolher os
migrantes é um desafio sobretudo para as sociedades mais industrializadas. Não pode um
cristão e nossas comunidades ter preconceitos para acolher os que são obrigados a migrar
em busca de melhores condições de vida para suas famílias.
21
A certeza de que
nosso Deus é Pai
misericordioso é
uma das verdades
centrais de
nossa fé cristã.
O modo como
Deus é e age
tem a marca da
misericórdia.
Porém, o Ano
da Misericórdia
quer nos educar
para uma vida
marcada pela
misericórdia.
Por isso, sede
misericordiosos!
Visitar os enfermos. Os relatos dos
evangelhos nos mostram Jesus muito
envolvido, próximo dos enfermos. Ele os
tocava e os curava. Os cristãos têm uma
longa tradição de cuidado com os doentes e
idosos. Quantas vidas doadas, ontem e hoje,
pelos enfermos, muitas no anonimato. Bela
é a missão da pastoral que visita os doentes.
Visitar os presos. Em primeiro lugar, é preciso
desarmar-se de preconceitos e julgamentos.
Ao visitar os presidiários expressamos e
oferecemos a misericórdia de Deus, que vai
além da justiça, e continua a amar a pessoa,
mesmo no erro e no pecado.
Enterrar os mortos. No Livro de Tobias
encontramos o seguinte: “Tobit com uma
solicitude toda particular, sepultava os
defuntos e os que tinham sido mortos.”
(Tb 1, 20). Mas, sobretudo,trata-se
de auxiliar os familiares e amigos a
elaborarem o luto, sendo suporte neste
momento difícil, partilhando as palavras
de Jesus sobre a Ressurreição.
Enfim, neste Ano da Misericórdia,
“abramos os nossos olhos para ver as
misérias do mundo, as feridas de tantos
irmãos e irmãs privados da própria
dignidade e sintamo-nos desafiados
a escutar o seu grito de ajuda.” (Papa
Francisco, O rosto da misericórdia, 15).
ATUALIDADE
24
O CAMINHO ESTÁ LIVRE
PARA A CANONIZAÇÃO DE
MADRE TEREZA DE CALCUTÁ
Aprovado o segundo milagre atribuído à beata de Calcutá, está
quase tudo pronto para que ela seja elevada à honra dos altares. O
novo milagre dá testemunho da caridade de Madre Teresa, que, mesmo
estando no Céu, não deixa de amparar os seus filhos
25
O
aval do Papa veio no dia do seu aniversário. Na tarde da quinta-feira, 17 de dezembro,
Francisco ratificou o reconhecimento do milagre que levará a beata Madre Teresa
de Calcutá à honra dos altares. Assim se concluiu o processo super miro ("sobre
o milagre") da causa da "apóstola dos desvalidos". A data oficial da canonização será
divulgada no próximo Consistório, mas estima-se que a cerimônia aconteça no dia 4 de
setembro, ao longo do Ano Santo da Misericórdia.
O milagre tinha sido colocado sob a avaliação final dos bispos e cardeais reunidos na
Congregação para a Causa dos Santos, no dia 15 de dezembro. Depois de escutarem a
exposição de um proponente da causa, os prelados deram o seu parecer positivo e submeteram
o caso à aprovação do Papa. Foi o último grau de julgamento na fase romana do processo sobre
o milagre, iniciado em junho deste ano, na diocese brasileira de Santos, São Paulo.
O trabalho de Madre Teresa junto aos pobres é
amplamente conhecido. O que permanece oculto
para muitos é a sua profunda intimidade com
o Santíssimo Sacramento, a qual constituía a
força de toda a sua vida e apostolado.
A cura extraordinária, que aconteceu em 9 de dezembro de 2008, é relativa a um homem,
hoje com 42 anos, que ficou às portas da morte por conta de "múltiplos abscessos
cerebrais com hidrocefalia obstrutiva". De acordo com o diagnóstico, o paciente já tinha
sido "submetido a um transplante renal e a terapia com imunossupressores", mas nada
tinha adiantado. O caso clínico extremamente crítico e com um prognóstico quod vitam
decididamente infausto se resolveu de repente, de modo total e duradouro, sem qualquer
intervenção cirúrgica. No dia 10 de setembro deste ano, os membros da junta médica foram
unânimes em considerar o tratamento da doença cientificamente inexplicável, com sete
votos positivos, de sete.
Também unânime foi o voto sucessivo dos teólogos que, segundo o costume, são chamados
a manifestar e redigir o próprio voto sobre a perfeita conexão de causa e efeito entre a
invocação unívoca à beata Madre Teresa e a cura imprevista.
26
"Roguem a Madre Teresa que ela o cure"
À época dos fatos, o paciente, engenheiro de profissão, tinha 35 anos e estava casado há
pouco tempo. Seu calvário tinha começado nos primeiros meses de 2008. Ao fim do ano,
ele foi diagnosticado com oito abscessos cerebrais. Os cuidados médicos não surtiram
nenhum efeito e o quadro clínico piorou depois, com o surgimento da hidrocefalia. Uma
cirurgia deveria ser feita para afastar a possibilidade de morte, tida como iminente. No dia
9 de dezembro, já em coma, o paciente entrou na sala de operação. Por causa de problemas
técnicos, todavia, a intervenção foi adiada. Enviado de volta à sala de cirurgia, depois de
apenas uma meia hora de espera, o cirurgião encontrou o paciente surpreendemente
sentado, acordado, sem quaisquer sintomas, perfeitamente consciente e perguntando: "O
que eu estou fazendo aqui?".
"Eu nunca vi nada parecido", escreveu o médico em seu depoimento. "Dos outros casos
semelhantes a esse, em 17 anos de profissão, todos estão mortos. Não posso dar uma
explicação médica ou científica". Exames sucessivos confirmaram a cura definitiva da
patologia cerebral e, em pouco tempo, sem nenhum sequela, o paciente pôde retornar
ao seu trabalho e às suas atividades normais.
A data oficial da canonização será divulgada
no próximo Consistório, mas estima-se que a
cerimônia aconteça no dia 4 de setembro, ao
longo do Ano Santo da Misericórdia.
As provas documentais revelam que foram feitas muitas orações a Madre Teresa, especialmente
durante a gravíssima crise de 9 de dezembro. Depois de perceber a gravidade da situação, a
esposa do jovem profissional tinha pedido aos seus conhecidos que rezassem à beata de quem
ela era devota: "Roguem a Madre Teresa que ela o cure". Exatamente naquela meia hora de
espera da cirurgia, ela se achava com um sacerdote e outros familiares rezando a Madre Teresa
na capela do hospital.
Invocada, a religiosa rapidamente interveio, vindo em auxílio de uma pessoa em condições
extremas, como de resto sempre tinha feito em vida, dedicando-se ao cuidados dos
moribundos e à assistência dos mais necessitados.
27
Uma mulher de profunda comunhão com Deus
O trabalho de Madre Teresa junto aos pobres é amplamente conhecido. O que permanece
oculto para muitos é a sua profunda intimidade com o Santíssimo Sacramento, a qual
constituía a força de toda a sua vida e apostolado. "A Missa é o alimento espiritual que me
sustenta", ela dizia. "Sem ela, eu não conseguiria completar sequer um dia ou uma hora
da minha vida."
Foi de diálogos com Jesus Eucarístico, por exemplo, que lhe vieram as inspirações para
fundar a Congregação das Missionárias da Caridade, ainda em 1946. Ela era diretora de
uma escola católica e sentiu forte o chamado de Deus para abandonar tudo e começar uma
missão especial entre os pobres. Quando conseguiu a autorização de seu bispo, a única
coisa que pedia para ela e suas irmãs era "ajuda espiritual". "Se tivermos nosso Senhor no
meio de nós, com a Missa diária e a Santa Comunhão, não temo nada nem para minhas
irmãs, nem para mim", escreveu ela ao prelado. "Ele cuidará de nós. Mas sem Ele, fraca
que sou, eu não posso nada."
As suas palavras de amor à Eucaristia só confirmavam o lugar de destaque que Jesus tinha
em todas as suas ações. Quem quer que visitasse o seu abrigo em Calcutá ficava surpreso
ao ser levado, em primeiro lugar, à capela do Santíssimo. Jesus era "o Mestre da casa",
como ela dizia, e era a Sua presença a grande motivação do seu trabalho. De fato, tanto na
sua vida de oração quanto no seu apostolado de assistência aos mais necessitados, Teresa
servia a uma só Pessoa: Jesus de Nazaré. "Na Missa – ela explicava –, nós temos Jesus sob
a aparência do pão, enquanto, nas favelas, nós vemos o Cristo e O tocamos nos indigentes,
nas crianças abandonadas."
As Missionárias da Caridade, portanto, não iam às ruas como agentes sociais e políticos,
mas como servas indignas, chamadas a levar Jesus às casas e aos corações das pessoas.
"Toda Santa Comunhão nos preenche de Jesus e nós devemos, com Nossa Senhora, ir
depressa e dá-Lo aos outros", exclamava a beata Teresa.
Pouco a pouco, Cristo foi "tomando posse" da religiosa de Calcutá e transformando todo
o seu ser, a ponto de ela poder exclamar, com São Paulo: "Eu vivo, mas não eu, é Cristo
que vive em mim" ( Gl2, 20). Nesse processo de configuração a Cristo, Madre Teresa
experimentou, a exemplo dos grandes místicos da Igreja, a chamada "noite escura", um
processo de purificação por meio do qual a alma amante vai se desapegando das criaturas
para encontrar o seu repouso em Deus.
28
"Se tivermos nosso Senhor no meio de nós, com a
Missa diária e a Santa Comunhão, não temo nada
nem para minhas irmãs, nem para mim"
Cartas escritas pela beata, divulgadas há alguns anos, fizeram referências a "dúvidas"
e à sensação de um grande "vazio". Alguns jornais interpretaram tudo como o "ateísmo"
de Madre Teresa. Quem conhece um pouco a vida dos santos, no entanto, sabe que esse
caminho de "secura" e "escuridão" foi experimentado por todas as grandes almas de
oração, desde o começo da Igreja até os dias de hoje. O Eclesiástico mesmo adverte,
a quem quer que entre "para o serviço de Deus": "Prepara a tua alma para a provação;
humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria;
não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus (...), a fim de que no
derradeiro momento tua vida se enriqueça" (Eclo 2, 1-3). Fora da Cruz, verdadeiramente,
não existe outra escada por onde subir ao Céu.
O corpo da bem-aventurada Madre Teresa está sepultado em Calcutá, junto à sede das
Missionárias da Caridade. Sobre o seu túmulo branco despojado, está escrito um versículo
do Evangelho de São João que se aplica perfeitamente a toda a sua vida – e deve aplicarse à vida de todos quantos se dizem cristãos: "Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho
amado" (Jo 15, 12).
Madre Teresa,
o filme completo
Primeira parte do documentário especial
sobre a vida de Madre Teresa, produzido
pela Globo News
Com informações de Avvenire, por Equipe Christo Nihil Praeponere
SER CATEQUISTA
30
Catequese,
ação da Igreja
por Pe. José Alem
31
Catequese é um serviço essencial na vida e na missão da Igreja. É um tema, portanto,
fundamental e sem o qual a Igreja não vive plenamente o seu mistério.
Mas é preciso entender melhor em que consiste a catequese. E isso depende também da
nossa maneira de conhecer Deus, a experiência da fé, como entendemos ser Igreja. O tema,
se bem entendido, é sempre surpreendente e inesgotável e interessa a todos os cristãos e
não somente aos que se dedicam claramente a essa missão.
Muito se tem escrito e publicado a respeito desse tema tão decisivo para a vida da
Igreja. Documentos pontifícios, livros, artigos, escritos diversos, além dos manuais,
cursos, encontros, formação. Mas o tema continua atual, novo e é necessário ser mais
compreendido para ser mais bem vivido e anunciado.
Para uma compreensão e vivência mais adequada desse aspecto central da missão da Igreja
é preciso considerar alguns pontos. Cada um deles pode ser tema de formação específica
tanto para os agentes de pastoral em geral – como os sacerdotes, diáconos, famílias,
catequistas – como para a comunidade paroquial, diocesana e comunidades religiosas de
consagrados.
Catequese é um tema que interessa a todos. Todos somos necessitados de uma permanente
catequese que vá além de simples conhecimentos e que desafiam permanentemente a
descoberta de Cristo.
De fato, toda a vida de Cristo é um processo permanente de catequese. Com ou sem
palavras, com gestos e atitudes Jesus repete de maneira contínuo Seu convite inicial:
“Convertam-se e creiam no Evangelho” (Mc 1,15). Essa é a missão da Igreja e, portanto,
da catequese. Tudo o que Jesus fez e ensinou e enviou à Igreja a viver e a anunciar está
aqui nessas duas atitudes: converter e crer. Se bem entendidas na sua profundidade e
simplicidade, essas duas ações englobam a novidade e a dinâmica da vida nova que Jesus
revela conduzindo todos os que o seguirem a reconquistar sua condição de imagem e
semelhança de Deus, segundo a qual fomos criados.
Catequese é isso. Favorecer as pessoas a descobrirem o ser humano que são, reconstruírem
sua dignidade e se reencantarem com o mistério da vida, da fé, do Amor revelados em Deus.
Mas todo esse processo tem uma dinâmica pedagógica necessária para os tempos e as
culturas em que vivemos. Por isso é preciso que, junto com o processo de conversão e fé,
aprendamos a educar-nos e a contribuir com a educação cristã de todos.
Baseados em documentos da Igreja e na contribuição das várias conquistas do
conhecimento humano sobre a espiritualidade cristã e a pedagogia vamos considerar os
pontos fundamentais e insubstituíveis para que a catequese seja o que deve ser: caminho
para ser discípulo missionário de Cristo encontrando Nele a Verdade que conduz ao
Caminho da Vida.
32
Na 44ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, realizada em 2006, foi aprovada pelos bispos
a realização do Ano Catequético, após 50 anos do 1° Ano Catequético, realizado em 1959.
Essa iniciativa foi resultado da importância que a Igreja vem dando à catequese, como
ficou expresso no Diretório Nacional da Catequese e no Documento Aparecida. A proposta
era para toda a Igreja reacender o interesse e o empenho pela catequese dentro de sua
missão.
Esse desafio já tinha sido apresentado pelo Papa são João Paulo II na Exortação Apostólica
Catechesi Tradendae e também no Documento de Puebla.
No Sínodo dos Bispos realizado em 2008, cujo tema foi "A Palavra de Deus na vida e
na missão da Igreja”, a catequese foi tratada com destaque e prioridade como meio e
instrumento da vida e da missão da Igreja, que consiste fundamentalmente na descoberta,
na vivência, no testemunho e no anúncio da Palavra de Deus.
Todos esses documentos e eventos tiveram como texto inspirador – de algum modo – os
discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Nesse magnífico relato temos o processo de “converter
e crer no Evangelho” que é a missão da Igreja. O texto fala da experiência do encontro
com Jesus Cristo, no caminho, na Palavra e na Eucaristia; relata a mudança de rumo que
tomou a vida dos discípulos; não fica no rito gestual da partilha. Foi a partir da mudança
provocada pelo encontro, que os discípulos assumiram o compromisso da partilha, da
missão, da evangelização, do anúncio, da construção das comunidades (cf. Mt 28,19-20).
O testemunho e a mensagem ficam claros: o ideal da vida cristã no seguimento de Jesus é
expressa no testemunho dos apóstolos: “Somos uma comunidade de RESSUSCITADOS” (cf.
At 2,42¬47).
33
Inspirados nessa revelação por meio dos discípulos de Emaús podemos concluir que a
catequese tem como objetivo fundamental:
• Despertar para a importância do aprofundamento e do
amadurecimento na fé, vivida no seio de uma comunidade;
• A experiência do discipulado, como seguimento do Caminho;
• Que o discípulo possa mergulhar, de modo cada vez mais profundo, nas
Escrituras, na liturgia, na teologia, na evangelização e no compromisso
pastoral, fruto da experiência do "partir o pão".
Isso supõe dar novo impulso à catequese como serviço eclesial e como caminho para
o discipulado”, ter consciência de que a catequese é uma dimensão de toda a ação
evangelizadora; que toda a Igreja assuma uma nova concepção de catequese como
processo formativo, sistemático, progressivo e permanente de educação da fé, da
esperança e do amor (cr. DNC 233).
34
Essa experiência e essa missão supõem atitudes concretas entre as quais destacamos:
• Intensificar a formação catequética dos catequistas, dos agentes de
pastoral, dos religiosos(as) e dos ministros ordenados;
• Incentivar a instituição do Ministério de Catequista;
• Impulsionar o estudo das Sagradas Escrituras;
• Acentuar o Primado da Palavra de Deus na vida da Igreja;
• Cultivar a dimensão litúrgica da catequese;
• Estimular a dimensão catequética nas comunidades na perspectiva da
pastoral de conjunto;
• Dar a devida ênfase à catequese com adultos, com jovens e junto às
pessoas com deficiência;
• Incentivar na catequese a inspiração catecumenal;
• Intensificar a dimensão missionária da catequese por meio da
espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo;
• Educar para a vivência de uma fé comprometida com as urgentes
mudanças da nossa sociedade, tendo presente o princípio da interação
vida-fé;
• Favorecer na catequese a abertura ao outro, à realidade, ao
ecumenismo e ao diálogo inter-religioso.
35
Todo esse processo pode ser resumido em três passos:
1º) ENCONTRO: “Aprender, caminhando com o Mestre”
– Jesus Se aproxima, questiona e escuta;
2º) PALAVRA: “Aprender, ouvindo o Mestre”
– Ele nos revela as Escrituras;
3º) MISSÃO: “Aprender, agindo com o Mestre” – ao partir o pão,
eles O reconheceram e retomaram ao caminho de Jerusalém.
Esse relato é um exemplo real e modelar da ação catequética para toda comunidade.Nele
temos um roteiro para viver a missão da catequese e também como avaliar essa missão.
Seria muito oportuno se as equipes de catequese se reunissem para refletir, revisar
e programar sua missão diante dessa proposta. Isso também pode favorecer todas as
pastorais da Igreja, pois todos são “catequistas” ao exercer seu ministério para servir à
Igreja na sua missão.
Neste novo ano é possível fazer um avanço e crescer na nossa vocação e missão como
batizados que somos e assim vivermos e testemunharmos com a vida e o trabalho
missionário nosso caminho de discípulos de Cristo.
A todos que se decidam à missão de catequizar, invoco a bênção do Senhor para que
vivam e anunciem a alegria do perene programa de nossas vidas: converter-se e crer no
Evangelho.
Cada catequista sinta-se animado na sua missão unido a toda a Igreja em nome da qual
vivemos, somos e agimos.
Pe. José Alem
Sacerdote membro da Congregação dos Missionários Filhos
do Imaculado Coração de Maria. Educador e comunicador,
Professor de Filosofia, Espiritualidade, Comunicação,
Psicologia da Religião. Especialista em Logoterapia. Filósofo
clínico. Assessor de cursos e formação através de palestras,
retiros, encontros, oficinas. Escritor e assessor de projetos de
comunicação e educação.
ROTEIROS CATEQUÉTICOS
36
• PARTE VI •
RITOS & CELEBRAÇÕES
NA CATEQUESE
Resgatando o assunto dos ritos e celebrações na
catequese, que iniciamos na 7a edição e demos
sequência nas últimas publicações, vamos
concluir nosso roteiro itinerário conversando
sobre a celebração de entrega do Creio.
por Ângela Rocha
37
38
A maioria dos itinerários catequéticos sugere que se faça a entrega
do CREDO preferencialmente próximo à Primeira Eucaristia.
Para exemplificar, baseamo-nos no Itinerário da Arquidiocese de
Londrina, PR.
No entanto, como se trata de um tema de fundamental importância
para a catequese, necessário se faz que a catequese que precede a
entrega do símbolo seja profunda e plena de significados.
Sugestão
de leitura:
A importância
do Credo
Antes de colocarmos o roteiro de Celebração para a Entrega,
faremos aqui uma explanação e uma sugestão de “encontro” a ser
realizado com catequizandos, pais e catequistas.
É necessário observar que este roteiro foi construído com as
seguintes premissas:
- O Itinerário de Londrina está baseado na coleção Crescer em
Comunhão, da Editora Vozes, que já no primeiro livro solicita a cópia e
a reza do Creio, mas só vem a trabalhá-lo diretamente no quinto livro,
ou seja, na último ano de preparação para a Crisma. Então, apesar de
não haver uma referência direta a ele, os conteúdos dos dois primeiros
livros são base para o conhecimento da Profissão de Fé: Jesus-Deus,
Pai misericordioso, a criação, etc. Mas sempre é bom o catequista
retomá-los e complementá-los.
- No terceiro volume estuda-se a Igreja, o Batismo, a atuação do Espírito
Santo. Nesse tempo (etapa) pede que se faça o rito da entrega do símbolo,
mas, “após ter dado o conteúdo do Creio” (pág. 14 do itinerário citado).
Como sabemos que esse conteúdo é muito extenso (pág. 48 a 298 do CIC
– Catecismo da Igreja Católica) e também de grande complexidade para a
faixa etária do terceiro tempo, a sugestão aqui é priorizar:
39
A construção de uma imagem correta de Deus;
Esclarecer sobre o mistério da Fé conscientizando
sobre suas implicações na vida pessoal e comunitária;
Destacar o núcleo da fé cristã: Jesus Cristo;
O objetivo é experenciar mais que raciocinar.
- Apesar de as várias Igrejas particulares (dioceses)
do Brasil adotarem subsídios diferentes, o conteúdo
da catequese não difere muito de um lugar para o
outro. Sendo assim, acredito que este roteiro pode
ser usado por todos os catequistas que estão com
turmas próximas ao sacramento da Eucaristia e
também por aqueles que trabalham com a Crisma.
- Utilizaremos aqui o método “ver-julgar/
iluminar-celebrar-agir”, como subdivisões do
encontro, que se dará em dois momentos.
- Pode ser que o encontro tenha que ser desdobrado
em dois por conta do tempo que se tem.
- Logo que o conteúdo for dado, pretende-se fazer,
então, o RITO DE ENTREGA DO SÍMBOLO, numa
celebração da missa com toda a comunidade.
- Portanto, faz-se necessário também uma catequese
com os PAIS OU RESPONSÁVEIS, para que estes sejam
participantes ativos da celebração.
40
PRIMEIRO MOMENTO
ENCONTRO SOBRE O CREIO
- Fazer um levantamento das várias imagens mentais de Deus encontradas com frequência
em jornais, revistas, etc.
Obs.: poderá ser usado o material de Therezinha M. L. da Cruz, Descobrindo Caminhos FTD, 1998, vol. 5, pág. 116-123.
- Trabalhar a imagem de Deus revelada por Jesus na Bíblia (Jo 14,9).
41
VER
- Distribuir para cada catequizando uma semente como a da mostarda, citada como uma
das menores na Bíblia.
- Ver os conhecimentos que eles possuem sobre ela.
- Concluir que há toda uma vida contida na semente: o tipo de planta, folha de cor e
formato definido, flor com perfume, textura, fruto já determinado, etc.
Tudo dentro daquela semente é o MISTÉRIO da Vida!
Mistério não quer dizer coisa oculta, mas algo que experimentamos, mas não conseguimos
explicar com a nossa inteligência.
Mistério é sempre uma revelação por parte de Deus de algo conhecido só por Ele. Deus Se
revela, vem ao nosso encontro.
Deus Se faz conhecer pela natureza, pelos acontecimentos, por meio de pessoas, símbolos,
sinais visíveis como os Sacramentos e pela Sua Palavra.
Jesus veio nos revelar o Pai. Se nos abrirmos para Deus, aceitarmos o Seu amor,
abandonarmo-nos com confiança no Seu ser e agir é o que chamamos de Fé. Pela Fé o ser
humano acolhe a revelação; ouve, reconhece, aceita e passa a pôr em prática a Palavra de
Deus que lemos na Bíblia.
Fé é um dom de Deus, é a resposta que damos ao Seu convite de amor e salvação. Ter fé é
deixar Deus ser Deus em mim, para mim, comigo.
Assista à parábola
do Semeador,
contada por Jesus
Cristo, em versão
animada
42
CONTEMPLAÇÃO/REFLEXÃO
- Colocar um fundo musical bem suave e pedir
que olhem com atenção as suas impressões
digitais, pensem que elas são sua identificação.
Não há mais ninguém no mundo com essas
marcas nos dedos iguaizinhas às deles.
- Depois de instantes pedir que falem o que
sentiram, o que passou pela cabeça deles.
- Ouvir sem emitir juízos, respeitar. Depois
completar: “Vocês confessaram os seus
sentimentos, as suas verdades”.
A maioria dos itinerários
catequéticos sugere
que se faça a entrega do
Credo preferencialmente
próximo à Primeira
- Pedir que peguem a semente e olhem para ela pensando que uma sementinha também foi
plantada no coração de cada um no Batismo. Que semente foi essa?
A semente da Fé! Para fazer essa fé crescer, amadurecer, é que estamos na catequese.
Quando foram batizados bebês, seus pais e padrinhos responderam pela sua fé, mas agora
estão se preparando, serão convidados a assumir sua fé.
Quando confessamos a nossa fé em público fazemos uma PROFISSÃO DE FÉ.
Desde os primeiros apóstolos, há mais de dois mil anos, os cristãos foram fazendo um
resumo das principais verdades de nossa fé, formulando o CREDO (ou Creio, a primeira
palavra da Profissão de Fé). Recitado em nossas missas, o CREDO é símbolo de fé porque
é um sinal de identificação do cristão e, por ter sua origem com os primeiros apóstolos, é
chamado SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS.
43
JULGAR/ILUMINAR
Material: Bíblia, cópia do Credo, uma cartolina, gravuras diversas dentro do tema, cola,
tesoura, pincel atômico, canetinhas.
Dividir os participantes em três grupos e dar como atividade a reflexão de cada uma das
três partes do Credo (são três partes distintas que se articulam entre si, relacionando-as
com as passagens bíblicas. A seu critério o catequista pode usar outras passagens).
CREDO – 1A PARTE:
“Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra.”
CREDO – 2A PARTE:
“E em Jesus Cristo, Seu único Filho Nosso Senhor, que foi
concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu
aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde
há de vir a julgar os vivos e mortos.”
CREDO – 3A PARTE:
“Creio no Espírito Santo. Na Santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos, na remissão dos
pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna.”
44
CELEBRAR
Expor os trabalhos no centro do círculo, colocar uma Bíblia no meio sobre um pano,
acender uma vela e pedir que, por alguns segundos, fiquem em silêncio, pensando nos
conteúdos ali anotados.
Ler pausadamente cada frase da oração que fizeram e que todos respondam juntos:
“Creio, Senhor, mas aumentai minha fé!”.
AGIR
- Lembrando que a Fé sem obras é morta, que a Fé é adesão a Jesus que se traduz em ação,
formular uma proposta de ação transformadora para o grupo realizar em conjunto, na
família, etc.
O catequista poderá sugerir, atento ao conteúdo expressado nos cartazes:
- Atitude ecológica como coleta de reciclável,
economia de água, etc.;
- Concentrar-se na oração do Creio feita com a família,
combinando uma participação no GBR, na Igreja, etc.;
- Demonstrar que quer seguir a Jesus por meio de
uma ação de solidariedade, etc.;
- Combinar a celebração de entrega do símbolo
perante a comunidade e que todos devem saber a
profissão de fé de memória.
Roteiro criado por Helena Okano e Ângela Rocha
45
SEGUNDO MOMENTO
CELEBRAÇÃO DE ENTREGA DO CREIO
Proceda-se à entrega do Creio, preferencialmente, com toda a comunidade reunida na
Celebração Eucarística, aproveitando-se o momento anterior à oração do Credo para se
fazer a entrega.
Indicamos o roteiro do livro Itinerário Celebrativo para a Iniciação Cristã – Crianças e
Adolescentes, publicado pela Editora Arquidiocesana de Curitiba, PR.
Previamente os catequistas devem confeccionar a oração do Creio em modelos de
pergaminhos a ser entregues aos catequizandos.
CREIO EM DEUS PAI
Toque para ler
Ângela Rocha
Catequista e formadora na Paróquia N. Sra. Rainha
dos Apóstolos em Londrina-PR. Especialista em
catequética pela FAVI, Curitiba-PR. Administradora
do grupo Catequistas em Formação.
COMUNICAÇÃO
46
AS POSSIBILIDADES
METODOLÓGICAS
PARA UMA
CATEQUESE
PARTICIPATIVA
UM PASSO DEFINITIVO RUMO A
UMA SOCIEDADE CONSTRUÍDA POR
HOMENS E MULHERES DE BEM
por Márcio Oliveira Elias
47
O filósofo alemão Immanuel Kant nos escreveu:
“NÃO HÁ FILOSOFIA QUE SE
POSSA APRENDER; SÓ SE
APRENDE A FILOSOFAR”.
A
catequese para nossas crianças e jovens poderia muito bem partir dessa
premissa kantiana, pois ela não deve ter a pretensão de transmitir textos
prontos e acabados, mas ensiná-los ao exercício da reflexão evangélica em si
mesmos, na sua própria realidade, formando assim um conhecimento doutrinário
frutuoso. Exercitar uma catequese reflexiva nas crianças pode não causar um
impacto observado de imediato, mas, sim, nos fiéis adultos de amanhã.
Uma metodologia na catequese para as nossas crianças poderia facilitar a
construção de suas próprias reflexões, bem como a de seus modos particulares
de conhecer o projeto salvífico. As crianças possuem uma inclinação natural
para a curiosidade, para a admiração e a indagação, visto que são traços
cognitivos que as tornam capazes de descobrir como funcionam as coisas em
seu derredor. Os conceitos assim formados são essenciais para a maneira como
elas constroem a sua compreensão de mundo, pois é essencial que se discutam
esses conceitos e sentimentos, dando-lhes significado e compreensão na
dimensão da doutrina cristã.
48
As buscas metodológicas podem ou não
ser produtivas, visto que dependem do
encaminhamento dado às proposições.
As ferramentas utilizadas pelo catequista
devem ser de cunho participativo,
tais como: o exercício do diálogo, a
autoavaliação, o desenvolvimento das
habilidades de raciocínio e a reflexão
de diferentes assuntos do cotidiano das
crianças, todo o tempo inseridos na
realidade evangélica.
Expandindo o tema: leia
mais sobre a aplicação
da metodologia na
catequese.
Podemos inferir que a catequese é um espaço participativo onde crianças e jovens
poderão encontrar métodos e meios de sistematizar o conhecimento do sagrado,
pois nesse ambiente propício irão trabalhar conceitos e discernimentos, onde se
promoverá a motivação das atividades e da imaginação, desenvolvendo mais que
um conteúdo, também o prazer de pertencer à família cristã. Nesse contexto o
catequista tem um papel fundamental para a formação crística do pensamento da
juventude contemporânea, ávida pelo conhecimento.
49
QUAIS SERIAM OS CAMINHOS DE UMA CATEQUESE PARTICIPATIVA?
A meta que deve nortear uma catequese participativa se destaca pelo fornecimento
ao catequizando de um acesso à base de conhecimento da Sagrada Escritura e da
historicidade da Igreja Católica, o que pressupõe a inclusão das características da
sociedade, da cultura, da economia e do quotidiano dele.
Os jovens necessitam de uma reflexão básica sobre a fé, entendida como a
formação de indivíduos capazes ao exercício de uma cidadania cristã e responsável,
ressaltando que as características particulares demonstram a necessidade de gostar
do ambiente religioso, bem como de se sentir respeitados, confiantes e estimulados
ao aprendizado de sua religiosidade. Primeiramente, as crianças caminham para
adquirir conhecimento de si mesmas, questionam com pais e professores para
alcançar um acordo. Sendo assim, necessitam também de catequistas sensíveis à
observação de seus momentos de angústia e insegurança próprios.
RESPOSTA
EM VÍDEO:
COMO POSSO
ME TORNAR
UM(A) BOM(A)
CATEQUISTA?
50
As crianças exigem consideração, pois prezam a verdade e a honestidade nas
relações, porquanto suas intenções são bem mais elevadas do que seus atos.
A catequese deve ser um ambiente de contato e prazer, onde as questões de
consciência são muito concretas, propiciando um forte sentido de justiça e
de dignidade humana. Percebe-se, portanto, que nesse período da vida elas
são conscientes de si próprias e absorvidas de si mesmas, oportunizando o
desenvolvimento do sentido ético, no mundo que é a sua escola e seus amigos,
onde necessitam de afeto, estímulos e motivações constantes.
A metodologia a ser considerada na catequese de nossas crianças e jovens
deverá ampliar o significado dos conceitos de amizade, amor e liberdade, que
são essenciais para a maneira como eles edificam e percebem o mundo que os
cerca. Compreende-se que o catequizando deve saber que esses conceitos são
controversos no mundo moderno e que existem muitas formas de compreendê-los.
A atuação do catequista nesse momento pode levar as crianças a uma investigação
do significado das coisas de seu cotidiano, das suas próprias atitudes e da maneira
de pensar o mundo, segundo a doutrina cristã.
A Igreja e o catequista devem estar atentos aos novos tempos, não mais futuro,
mas presente no cotidiano das crianças e jovens, bem como às necessidades de
gestar uma educação religiosa auxiliadora do desenvolvimento de um pensamento
eficiente, autônomo e competente, fundados na Boa Nova cristã. Num modelo
participativo, não cabe ensinar o resultado pronto, mas ensinar o próprio processo
de investigar o caminho da salvação em Cristo, objetivando alavancar as habilidades
cognitivas da criança dentro do seu contexto significativo.
Leia também: As
responsabilidades
do catequista
51
A META QUE DEVE NORTEAR UMA
CATEQUESE PARTICIPATIVA SE
DESTACA PELO FORNECIMENTO
AO CATEQUIZANDO DE UM ACESSO
À BASE DE CONHECIMENTO
DA SAGRADA ESCRITURA E DA
HISTORICIDADE DA IGREJA CATÓLICA,
O QUE PRESSUPÕE A INCLUSÃO DAS
CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE,
DA CULTURA, DA ECONOMIA E DO
QUOTIDIANO DELE.
Podemos considerar que o conteúdo
e a metodologia a ser utilizados numa
catequese participativa devem ajudar o
catequizando a buscar o significado de
uma vida cristã, em que a promoção do
diálogo cumpre um papel relevante, visto
que é motivador ao exercício de um pensar
criterioso e sensível, proporcionando o
entendimento do exercício de respeito
ao outro, na tolerância às opiniões
divergentes e à diversidade cultural. O
diálogo é um método que ocupa um plano
especial, pois a reflexão se realiza nessa
comunicação frutuosa, em que as crianças
desenvolvem sua capacidade de pensar.
As crianças, por sua própria natureza, desejam experiências ricas e significativas,
em que possam compartilhar e aprender significativamente. Quando as
observamos atentas à televisão, ao computador ou aos seus jogos, podemos
atribuir esse comportamento à sua preferência pela emoção e excitação. Nenhum
método ou plano de ensino religioso será significativo para as crianças sem que
resulte em experiências significativas, pois a sua religiosidade necessita estar
impregnada de reflexões e sensibilidades.
Catequese: a
experiência
do amor
Numa proposta de fazer uma catequese participativa
para crianças e jovens, não deve haver a preocupação
de estudar profundamente a teologia católica, mas
precisa-se de um roteiro bem elaborado a ser seguido,
visto que deverá conter assuntos de significância para
o catequizando, ou seja, assuntos que estão dentro
do contexto de sua curiosidade e que têm como
objetivo levá-lo a refletir e pensar por si mesmo,
de uma maneira responsável.
52
Assim sendo, é necessário orientar e oferecer subsídios para em que expressem
suas ideias e seus sentimentos, bem como escutando o sentimento dos outros, que
podem ser semelhantes ou diferentes dos seus.
Devemos sempre nos lembrar de que, lidando com crianças de faixa etária menor, elas
precisam muito do concreto e do lúdico e desenvolver essas atividades recreativas é
fundamental, não só para que a catequese seja vivida com alegria e contentamento,
mas também para criar interesses genuínos e o comprometimento com as crianças.
De outro lado, será importante construir um material interessante e vibrante,
mas sem exageros, pois o material não deve tomar a atenção integral da criança,
devendo cumprir a sua função de um facilitador dos meios de questionamento
e aprendizado da nossa fé. O mundo contemporâneo está tomado por imagens
e símbolos que denotam uma linguagem própria, que deve ser traduzida
positivamente no ambiente catequético.
Os limites de tempo e espaço também são importantes, sendo preciso fixar regras
para que uma catequese seja efetivamente produtiva, valendo-se de recursos
audiovisuais ou expressão corporal, cartazes, murais, que são estratégias para
internalizar o ponto de partida da reflexão evangélica. O texto escolhido deve
conter um propósito ou assunto em comum, em que se inicie a investigação do
seu sentido ou significação.
53
Sugestão de leitura:
Evangelização e
novas tecnologias,
por Luís Miguel
Figueiredo Rodrigues
O catequista pode contribuir para levar as crianças e
jovens a compreender o mundo e a sua realidade, não
somente para a sua identificação racional ou na busca
de razões, mas essencialmente pela compreensão do
homem e da sociedade no projeto salvífico do Reino
de Deus, instigando ao questionamento e à reflexão
sobre seus próprios atos, bem como os atos de outros.
O agir com coerência e ética é um dos principais
objetivos de uma catequese participativa, que assim
poderá contribuir na construção de uma pessoa
verdadeiramente humana.
O CATEQUIZANDO QUE CHEGA NÃO SERÁ O MESMO NA SUA PARTIDA
A prática de uma catequese participativa pode inaugurar uma nova abordagem do
sentir a religiosidade e a fé, em que o catequista não é um repetidor de discursos
prontos, mas um facilitador dos caminhos da reflexão e do saber evangélico, que deve
se dispor a eleger novos caminhos, promovendo os questionamentos de sua prática
e de seus valores, conduzindo as suas crianças e jovens na fascinante aventura do
conhecimento de sua Igreja e da história da salvação.
As possibilidades de ensino da catequese participativa provocam os catequistas a
buscar novas perspectivas de aprender, pois assim contribuirão para que a fé e a
esperança num mundo melhor não sejam apenas uma promessa, mas uma realidade
edificada por pessoas melhores. Um dos aspectos mais importantes dessa proposta é
essa diferença no papel que se atribui ao catequista, pois ele deixa de ser a fonte do
saber para fazer parte de uma comunidade de questionamentos e reflexões sobre o
sentido de pertencer e ser a Igreja de Cristo.
54
AS POSSIBILIDADES DE
ENSINO DA CATEQUESE
PARTICIPATIVA PROVOCAM
OS CATEQUISTAS A BUSCAR
NOVAS PERSPECTIVAS DE
APRENDER, POIS ASSIM
CONTRIBUIRÃO PARA QUE
A FÉ E A ESPERANÇA NUM
MUNDO MELHOR NÃO SEJAM
APENAS UMA PROMESSA,
MAS UMA REALIDADE
EDIFICADA POR PESSOAS
MELHORES.
O catequista deve aprimorar sua
metodologia, ensejando estar preparado
para levar adiante uma reflexão religiosa,
coordenando e fazendo objeções nos erros,
perguntando e reperguntando, intervindo
nas discussões, visto que estamos falando
de crianças e jovens em estágio de
amadurecimento, portanto, tomando os
cuidados necessários para que sua opinião
não seja tão intensa que venha a influenciar
como resposta definitiva sem a devida
compreensão do sagrado.
Existe a compreensão de que não se
ensina às crianças o que é religião, mas
o que se faz é incentivar o seu refletir
sobre os aspectos da sua religiosidade,
abrindo caminho para o questionamento
e o diálogo, bem como ao respeito da
opinião do outro, para a investigação
de respostas e, essencialmente, para o
conhecimento do Caminho, da Verdade e
da Vida que nos foi revelado. Nessa prática
do diálogo subsiste a construção do saber
e do seu entendimento, condicionando à
experiência de vida de cada um.
55
Essa prática de aprendizagem catequética
não pode ser um ato solitário, pois o bom
desempenho se dá no trabalho em grupo,
que é fundamental para o sucesso em
qualquer atividade cognitiva, em que cada
um constrói a sua fração de ser pessoa para
posteriormente compreender o sentido
social e participativo da comunidade em
que está inserido, assim favorecendo
relações edificadas em si mesmas e
edificantes em relação ao outro.
A catequese deve estar preparada para
semear uma cidadania consciente,
oportunizando a consciência de que
ensinar a Doutrina Cristã para os
catequizandos é dar- lhes a oportunidade
para adquirir não só informações, mas
também a segurança e a confiança em si e
que se descubram como pessoas humanas
ativas, enveredando pelo processo do
conhecimento de que são imagens
semelhantes do seu Pai Criador.
Referências Bibliográficas
ALTOÉ, Adailton. Método na catequese:
ver, julgar/iluminar, agir, rever e celebrar
no caminho. São Paulo/SP: Editora
Paulus, 2010. 56 p.
BARBOSA, Raquel Lazzari Leite (org.).
Formação de educadores. Artes e
Técnicas – Ciências e Políticas. São
Paulo/SP: Editora UNESP, 2006. 643 p.
DIOCESE DE OSASCO. O fenômeno
religioso: ser católico no meio do
pluralismo religioso. 4ª ed. Osasco/SP:
Editora Paulus, 2015. Vol. 7, 54 p.
LOMBARBI, José Claudinei (org.).
Globalização, pós-modernidade e educação.
2ª ed. Campinas/SP: Editora Autores
Associados, 2003. 234 p.
Márcio Oliveira Elias
Advogado, professor de teologia pastoral. Atua na formação
permanente de agentes pastorais e fiéis leigos na Diocese de
Cachoeiro de Itapemirim-ES, sendo coordenador do Instituto de
Ciências Humanas Evangelii Gaudium, instituição formativa de
denominação católica, que tem por objetivo precípuo produzir e
difundir o conhecimento da doutrina cristã.
BÍBLIA
56
Para descobrirmos, é preciso primeiro
entender o significado dessa expressão,
para então estudar o que pensava
Cristo a respeito dela
57
D
avi é, poder-se-ia dizer, um personagem emblemático nas Sagradas Escrituras.
Apesar de sua história aparecer no Antigo Testamento - propriamente nos livros
históricos de 1 e 2 Samuel e 1 Reis -, seu nome ainda é citado pelo menos umas
20 vezes no Novo Testamento. A princípio, uma leitura superficial das Sagradas Escrituras
aponta Davi como um grande rei. Não é à toa que, hoje, até se canta: quando o Espírito de
Deus se move em mim, eu rezo como o Rei Davi! Mas teria sido Davi realmente um rei tão
exemplar assim, a ponto de servir de referência para os homens, hoje?
Davi, a princípio, parece ser "um filho insignificante". Segundo o relato, Samuel, o profeta de
Deus, é enviado a um homem chamado Jessé, de Belém. Dentre seus filhos, estaria o novo
rei, visto que Deus rejeitara Saul (cf. 1Sm 16,1). Diante de Samuel, o pai colocara todos os
filhos que, inclusive, haviam sido purificados para o sacrifício, mas sequer avisara o profeta:
"o filho mais novo não está aqui" (cf. 1Sm 16,1-13). Parece que convém ao pai que o caçula
não esteja entre os irmãos. Não é à toa que quando todos os filhos passam diante de Samuel,
ainda é preciso que o profeta pergunte se não há outro, porque Deus não escolhera nenhum
daqueles que lhe haviam sido apresentados. Só quando questionado que o pai avisara que
existia ainda o caçula, que estava no campo cuidando das ovelhas. Imediatamente, então,
Davi é descrito como alguém de cor bonita, olhos formosos e belo aspecto (cf. 1Sm 1,12). Um
dos grandes feitos de Davi é, sem dúvida, a autoria pela morte de Golias, o gigante filisteu. A
história relatada na Bíblia, porém, tem as suas dificuldades, como o próprio fato de que 2Sm
21,19 informa que Elcanã, de Belém, um dos campões de Davi, é que mata o gigante. Davi,
então, teria matado o gigante, mas não diretamente. Do mesmo modo, é preciso atribuir um
caráter simbólico à figura de Golias. Talvez, o fato de chamarem-no de gigante é justamente
para acentuar sua vantagem em relação a Davi.
58
Diante de Saul, porém, Davi mostra uma fé sem tamanho, a ponto de, ao ser
atacado por um leão, agarrá-lo pela juba e golpeá-lo até matar (cf. 1Sm 17,35).
Sua afirmação é emblemática: "O Senhor, que me livrou das garras do leão e
das garras do urso, me livrará das mãos dos filisteus" (cf. 1Sm 17,37). Davi,
mais uma vez, sai vitorioso de sua empreitada.
Com a vitória de Davi sobre Golias, Saul, segundo o relato bíblico, foi tomado
pela inveja, sobretudo pelo refrão que as mulheres cantavam: "Saul matou mil,
mas Davi matou dez mil" (cf. 1Sm 18,7). Saul teria tentado atingir Davi por duas
vezes com uma lança, mas sem sucesso (cf. 1Sm 18,11).
Saul, então, teria feito com que Davi empreendesse uma marcha com sua gente,
contra os filisteus, a fim de se tornar seu genro. A intenção era que Davi morresse,
mas o rei se surpreende porque Davi consegue 200 prepúcios dos filisteus e os
entrega a Saul (cf. 1Sm 18,27), e o rei, sem escolhas, entrega-lhe Micol por esposa.
Todavia, Saul teve ainda mais medo de Davi, porque sabia que o Senhor estava com
ele, mas se tornou seu inimigo por toda a vida.
Deste ponto em diante, os relatos bíblicos parecem colocar Davi como uma
figura inocente, que agora era amado pelos que o rodeavam e que, por sua
vez, ajudavam-no a fugir de Saul, que queria sua morte. O próprio filho do rei,
Jônatas, teria lhe ajudado (cf. 1Sm 19,1-10), bem como sua esposa Micol, que
o amava (cf. 1Sm 19,11-17).
Jesus não queria ser o 'Filho
de Davi' - e não o era, no
sentido de ser 'outro Davi'.
Com a posterior morte de Saul, porém, Davi torna-se um rei tão poderoso que,
segundo o relato de 2Sm 5,1-5, todas as tribos de Israel foram a Hebron pedir a
Davi que reinasse também sobre Jerusalém. Segundo consta, Davi reinou 7 anos
e meio sobre Judá, em Hebron; e 33 anos em Jerusalém, sobre Israel e Judá.
Davi, porém, ao que consta, não era um rei tão bondoso assim. Na conquista de
Jerusalém, onde habitavam os jebuseus, havia muitos coxos e cegos, a quem
Davi teria dito que detestava . Aos poucos, Davi ampliava seu Reino. Todavia, vale
dizer, ampliava-se a custa de invasão, de guerras e de morte.
59
O grande pecado de Davi, segundo a Bíblia, foi desejar a mulher de um de
seus soldados: Betsabeia, esposa do guerreiro Urias. Para tê-la, Davi arma
para que, no combate, Urias vá à frente, com o intuito de que fosse atingido
e morresse. E assim acontece. Ao tomar conhecimento, Davi diz: "...guerra é
assim mesmo: um dia cai um e outro dia cai outro; continue o assalto à cidade
até arrasá-la" (2Sm11,25). Davi, então, toma a mulher de Urias como esposa e
a engravida. Deus, porém, não teria gostado da atitude de Davi, que assumiu
as consequências pelo seu erro (cf. 2Sm 12,1ss). Contudo, é com de Betsabeia
que teria nascido Salomão, que o sucedera.
Nos evangelhos de Mateus e Marcos, Jesus é comparado a Davi. Hosana ao
Filho de Davi, grita o povo enquanto o Messias entra na cidade de Jerusalém
montado num jumento. Primeiro, é bom esclarecer que o termo Hosana foi
tomado, só posteriormente, como uma aclamação de louvor. Na verdade,
Hosana é um grito por clemência. Literalmente, poderia ser Salva-nos,
por favor; Misericórdia de nós, por favor. Do mesmo modo, nas Sagradas
Escrituras, a expressão 'Filho de' não significa, necessariamente, geração
de sangue, mas 'igual a', no sentido da personalidade e da atividade. Logo, o
povo esperava que Jesus fosse como Davi.
Abraão
davi
jesus
Tempo de
espera pela
primeira vinda
2000 a.C.
1000 a.C.
entre 5 e 7 a.C.
época atual
Tempo de espera
pela segunda vinda
2016 d.C.
O fato é que, segundos os relatos, dali não muito tempo, Jesus teria
questionado de onde viria o Messias, ao que o povo (em Mateus) e os
letrados (em Marcos) responderam: "De Davi" (cf. Mt 22,42; Mc 12,35).
Jesus, então, teria lhes colocado uma grande questão: "Então, como Davi,
inspirado, chama o Messias de Senhor, dizendo: 'Disse o Senhor a meu
Senhor: Senta-te à minha direita até que eu faça de teus inimigos estrado
de teus pés?' Pois se o próprio Davi o chama Senhor, como pode ser seu
filho?" (cf. Mt 22,44-45a; Mc 12,36-37). E, segundo o relato, ninguém se
atreveu a lhe dizer mais nada (Mt 22,45b).
60
Parece, portanto, que Jesus não queria ser o 'Filho de Davi' - e não o era, no
sentido de ser 'outro Davi'. O Nazareno sempre se refere a si mesmo como
o 'Filho do Homem', para designar justamente o shekinah tão bem exposto
pela comunidade de João: "No princípio era a Palavra. E a Palavra estava
com Deus. E a Palavra era Deus. E a Palavra se faz carne e acampou entre
nós" (cf. Jo 1,1.14a). Não é preciso, portanto, ir muito longe para acentuar
a dicotomia que se deve estabelecer entre a figura de Davi e de Jesus de
Nazaré. Jesus, verdadeiramente, quis instaurar um novo Reino, mas a partir
do amor, do sentimento de partilha e da solidariedade entre os irmãos, bem
diferente, pois, do reinado de Davi.
Assista ao clássico
longa-metragem
“O Rei Davi”,
disponível no
YouTube.
MATÉRIA DE CAPA
62
12
passos para
o catequista
crescer na
fé, esperança e amor
por João Melo
63
65
N
esta edição, queremos afirmar que nossos primeiros passos em um novo ano
devem ser dados em comunhão com Jesus Cristo e que é importante viver o
ministério da catequese com profunda fé, esperança e amor. Ser catequista é uma
missão muito bonita, mas também desafiadora. Pensando nisso, queremos sugerir a vocês,
nossos leitores, maneiras eficazes de potencializar dois novos semestres pela prática das
virtudes teologais (fé, esperança e amor), que traduzem um caminho de intensa intimidade
com Jesus que liberta e salva. A vocação própria dos anunciadores da Palavra de Deus é “a
obra da fé, o esforço do amor e a constância da esperança que vocês têm no Senhor Nosso,
Jesus Cristo, diante de Deus nosso Pai” (1Ts 1,3).
Catequista
protagonista
da fé, do amor
e da esperança
Quando é que experimentamos a presença viva de Deus em nossa vida? Quando é que
“sentimos” Deus? É quando estamos em comunhão com Jesus Cristo. O Evangelho nos
narra o encontro dos discípulos com Jesus (Jo 1,35-51) e como estes ficaram fascinados
com o Mestre. Hoje, o encontro e a comunhão com Cristo, graças à ação do Espírito
Santo, realiza-se sobretudo na fé recebida e vivida na Igreja. O Documento de Aparecida
(parágrafos 243 a 275) nos aponta alguns lugares, pessoas e dons que nos falam de
Jesus e nos colocam em comunhão com Ele a partir da vivência das virtudes teologais (fé,
esperança e amor):
66
Sugestão de leitura:
Papa pede para ouvir o
Evangelho ao invés
da novela
1. Palavra de Deus
Amar a Palavra de Deus. Ela ocupa a centralidade na vida e na missão da Igreja. A
Palavra de Deus é o alimento cotidiano que sustenta a vida espiritual do catequista.
Com efeito, encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja com a tradição. Na
Bíblia, Deus Se revela e Se comunica conosco. Os Evangelhos nos narram a vida de Jesus
para nos despertar à fé (Jo 20,31). Recebemos também a tradição apostólica, isto é, os
ensinamentos dos discípulos que viveram com Cristo e de Seus sucessores, que é guardada
e transmitida pela Igreja, que é também Palavra de Deus (2Ts 2,15). O Papa Francisco
pede frequentemente para que os cristãos leiam um trecho por dia dos Evangelhos. Que
possamos ter o coração “faminto de ouvir a Palavra de Deus” (Am 8,11).
67
2. A liturgia
Celebrar de maneira contemplativa a liturgia. Encontramos Jesus Cristo, de modo
admirável, na sagrada liturgia. Todas as vezes que os símbolos, gestos, ritos, celebrações,
sacramentais, sacramentos e outras práticas litúrgicas nos conduzem a uma experiência
que nos penetra ainda mais no mistério pascal de Jesus, somos marcados pela vida nova
Nele. Nesse sentido, a liturgia é como um jogo ou uma brincadeira de criança. Uma
menina, por exemplo, brinca de boneca e, dessa forma, antecipa a futura maternidade
que poderá exercer. A liturgia, de certa forma, por meio dos sinais sensíveis aos sentidos
humanos, antecipa as realidades da glória eterna e do encontro face a face com Deus.
68
3. A Eucaristia
Participar assiduamente da celebração da Eucaristia, ato central da vida cristã. A Eucaristia
é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo. Privilegiado lembra
primeiro, e é isso mesmo, dentre todos os lugares onde podemos encontrá-Lo, na Eucaristia
– Corpo e Sangue de Jesus Cristo (Mt 26,26-29) – nossa comunhão é mais profunda pois
somos alimentados com o Pão da Vida, somos atraídos por Jesus e celebramos novamente
a Páscoa da Ressurreição.
69
4. A oração
Ter um momento diário para a oração pessoal. A oração é indispensável na vida do
catequista. Todo catequista tem de saber rezar com os iniciandos, rezar diante deles, rezar
por eles e também ensiná-los a rezar. A oração pessoal, mas também a comunitária, é
lugar onde o discípulo, alimentado pela Palavra e pela Eucaristia, cultiva uma relação de
profunda amizade com Jesus Cristo e procura assumir a vontade do Pai. A nossa oração
deve ser diária, precisamos criar um vínculo, uma intimidade com Deus. Orar é falar e ouvir
Jesus. É uma graça ter este hábito, seja no silêncio do nosso coração, numa oração pessoal
(Mt 6,5-8), ou na nossa oração comum com os irmãos.
70
5. A Cruz
Enfrentar com perseverança e esperança os momentos difíceis da vida e da missão
evangelizadora. As dificuldades, conflitos e sofrimentos, isto é, “abraçar a Cruz” (cf. Mt
16,24), fazem parte integral da vida. Além disso, também encontramos Jesus de modo
especial nos pobres, aflitos e enfermos. Como não é possível encontrar o próprio Cristo
nessas pessoas que muitas vezes nos dão testemunhos de fé, de paciência no sofrimento
e na luta pela sobrevivência? Jesus nos diz que todas as vezes que acolhemos a um desses
pequeninos é a Ele mesmo quem acolhemos (Mt 25,37-40).
Música
"Não desista
do amor"
71
6. A conversão
Buscar com frequência o Sacramento da Reconciliação para o seu próprio bem espiritual.
A conversão e a mudança de vida fazem parte da vida do catequista. O Sacramento da
Reconciliação é o lugar onde o pecador experimenta de maneira singular o encontro com
Jesus Cristo. “Muitos dos que haviam acreditado vinham confessar os seus pecados e
declarar as suas obras” (At 19,18). Jesus revela o rosto misericordioso e bondoso do Pai
para com todos nós, pecadores. Por este sacramento, quando reconhecemos nossos erros
(1Jo 1,9), sentimo-nos acolhidos por Jesus, que nos perdoa. A prática de um exame de
consciência, sempre que possível, antes da confissão ou diariamente – antes de dormir –
ajuda no caminho de crescimento espiritual e de santidade.
72
7. O testemunho
Enfrentar com perseverança e esperança os momentos difíceis da vida e da missão
evangelizadora. As dificuldades, conflitos e sofrimentos, isto é, “abraçar a Cruz” (cf. Mt
16,24), fazem parte integral da vida. Além disso, também encontramos Jesus de modo
especial nos pobres, aflitos e enfermos. Como não é possível encontrar o próprio Cristo
nessas pessoas que muitas vezes nos dão testemunhos de fé, de paciência no sofrimento
e na luta pela sobrevivência? Jesus nos diz que todas as vezes que acolhemos a um desses
pequeninos é a Ele mesmo quem acolhemos (Mt 25,37-40).
73
8. A comunidade
Caminhar junto com a comunidade. Jesus está presente em meio a uma comunidade viva
na fé e no amor fraterno. Aí ele cumpre a promessa: “Onde estão dois ou três reunidos em
Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18,20). Jesus se faz presente em meio a todos
aqueles que lutam pela paz, justiça fraternidade... Que possamos ser comunidades vivas na
fé e no amor para testemunhar aos outros a presença de Jesus em nosso meio.
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CATEQUISTAS
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9. A alegria e a esperança
Cultivar a alegria e a esperança como características do catequista. A alegria é um fruto
do Espírito Santo, resultado da íntima relação com o Senhor Ressuscitado. Ela é um
santo remédio contra o pessimismo, a tristeza e a angústia que fazem parte da vida das
pessoas. Certa vez, Jesus, o Grande Catequista, contou a seguinte parábola: “‘Escutai! O
semeador saiu a semear. Ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e os passarinhos
vieram e comeram. Outra parte caiu em terreno cheio de pedras, onde não havia muita
terra; brotou logo, porque a terra não era profunda, mas quando o sol saiu, a semente se
queimou e secou, porque não tinha raízes. Outra parte caiu no meio dos espinhos; estes
cresceram e a sufocaram, e por isso não deu fruto. E outras sementes caíram em terra boa;
brotaram, cresceram e deram frutos: trinta, sessenta e até cem por um’. E acrescentou:
‘Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!’” (Mc 4,3-9). Uma criança, durante um encontro
de catequese, quando ouviu a parábola perguntou ao seu catequista: “Mas por que o
semeador não jogou sementes só na terra boa? Por que jogou nos espinhos no meio
das pedras se não ia nascer?”. Na ocasião o catequista se viu com certa dificuldade
para responder, mas refletiu com calma depois. E pensou assim: certamente é
mais fácil “plantar em terra boa” e colher da “terra boa”! Não se espera nada
da terra que não seja “boa”! O semeador saiu a semear... Ele semeia em todos
os lugares, não faz acepções, é esperançoso, acredita que a semente que
está jogando é tão boa que pode dar seus frutos. Afinal, uma semente não
serve exatamente para ser semeada? Seria mesmo mais sensato da parte
do semeador guardar consigo as sementes porque não encontrou vastos
terrenos que estavam em excelentes condições? O que poderia fazer
o semeador pelos terrenos que ainda não eram terra boa? A semente
é a Palavra de Deus. Na catequese, o semeador é o catequista e os
“terrenos”, nossos iniciandos.
75
De fato, o catequista anuncia a Palavra de Deus mesmo onde para ele é menos provável
que ela seja acolhida ou vivida. Ele tem a mesma atitude de Pedro que, em obediência
ao que Jesus lhe disse, lança as redes ao mar, mesmo sem acreditar muito que poderiam
pegar algum peixe (cf. Lc 5,5). A verdade de Cristo é universal, de modo que todos são seus
destinatários. São Paulo tinha consciência dessa realidade e por isso foi até o Areópago,
lugar de cultura diversa da qual fora criado e da que poderia entender o que ele falava, e ali
discursou... e poucos se converteram (At 17, 16-34). Seu discurso, entretanto, não foi em
vão, pois, quem age e converte é Deus.
O catequista encontra em Deus forças e esperança para seu trabalho de evangelização. Ele
percebe a ação de Deus no meio em que vive. Nossos iniciandos são terrenos bons ou por
melhorar... Nós queremos ser seus semeadores.
76
10. A missão
Ser um missionário no sentido pleno da palavra. O catequista é um facilitador da ação do
Espírito na vida de cada pessoa e na conversão ao Senhor Jesus. Fazer discípulos de Cristo
é fazer missionários, porque todo discípulo é também missionário de Jesus. Reconhecerse como discípulo missionário, construtor de comunidades e comprometido com a nova
evangelização e a transmissão da fé cristã é tomar consciência da vocação missionária da
Igreja e da catequese.
77
11. A devoção mariana
Cultivar uma autêntica espiritualidade mariana. Maria não é o centro da fé. Ela é
modelo de discípula, mãe, mestra e catequista – “Façam tudo o que Ele vos disser” (Jo
2,5). Ela continua a missão de seu Filho (cf. At 1,14). Maria é exemplo de doação e de
comprometimento com a causa do Reino de Deus. Ela é “aquela que sabe transformar um
curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura”
(Papa Francisco em Evangelii Gaudium, nº 286).
78
12. A fé do povo
Respeitar, purificar e promover a piedade popular. A religiosidade popular é uma maneira
legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionário.
Devemos cultivar com equilíbrio e de forma saudável a religiosidade popular que nos vem
como herança do povo simples do nosso país. Povo que, mesmo sem estudo ou muito
entendimento, cultiva uma fé viva muitas vezes maior do que a daqueles que se julgam
entendidos das coisas de Deus. Aí Jesus Se faz verdadeiramente presente. Dentre outras
expressões de fé, podemos citar as festas patronais, as novenas, os rosários e vias-sacras,
as procissões, o carinho aos santos e anjos, as promessas, as orações em família, etc.
Não faltam maneiras de vivenciar o encontro com Jesus Cristo em nossas vidas com fé,
esperança e amor! Na Igreja encontramos todas elas!
Que possamos dizer com o Papa Emérito Bento XVI: “A Igreja é nossa casa! Esta é nossa
casa! Na Igreja Católica temos tudo o que é bom, tudo o que é motivo de segurança e de
consolo! Quem aceita a Cristo: Caminho, Verdade e Vida, em sua totalidade, têm garantida
a paz e a felicidade, nesta e na outra vida!” (Discurso no Brasil, 12/5/07).
79
Uma urgência para a formação de catequistas:
o estilo catecumenal
O catequista tem que viver fortemente a fé se
quiser ter algum êxito na catequese de seus
iniciandos. Isso se torna ainda mais necessário
no nosso tempo, em que a mensagem do
Evangelho é relativizada. Muitas vezes, famílias,
comunidades e até paróquias e a sociedade,
em geral, não ajudam na transmissão da fé. Por
essa razão, torna-se cada vez mais necessária
a boa formação dos catequistas. Retiros, leitura
de bons livros sobre catequese, palestras e
cursos de formações, partilha de experiências
entre o grupo de catequistas... tudo isso
enriquece e prepara melhor os catequistas para
sua missão evangelizadora.
Hoje, no Brasil, não é possível falar em
formação de catequistas sem levar em
conta o processo de Iniciação à Vida Cristã
de estilo catecumenal que precisa ser
conhecido, divulgado e abraçado. Com
efeito, o parágrafo 29 da carta apostólica do
Papa Francisco, Lumen Fidei, afirma: "A fé é
conhecimento ligado ao transcorrer do tempo
que a palavra necessita para ser explicitada:
é conhecimento que só se aprende em um
percurso de seguimento". Esse trecho da
carta apostólica nos lembra justamente
o itinerário de Iniciação à Vida Cristã que
precisa acontecer, assim como na pedagogia
divina, de forma progressiva, respeitando as
realidades e as condições do "terreno" para
a acolhida da semente da Palavra de Deus.
80
Nesse parágrafo, o Papa nos diz que a fé é um conhecimento e que este está ligado ao
transcorrer do tempo. Com isso, o Papa quer ao mesmo tempo afirmar que a transmissão,
a adesão e o aprofundamento da fé ocorrem na realidade concreta do cotidiano da vida, ou
seja, no tempo. De fato, não se trata de qualquer tempo, falamos do tempo presente em
que a Palavra é ouvida, explicitada e, portanto, configurada ao ouvinte crente. Poderíamos
dizer que se trata do tempo necessário para que a semente da Palavra de Deus crie raízes
e possa brotar. Essa fé vivida e aprofundada é um sinal dos frutos dessa fé que, uma vez
fincada no "terreno" fértil do coração do homem, é capaz de transbordar-se aos demais,
oferecendo seus frutos que levam consigo novas sementes e propagam um verdadeiro
campo da fé. Além disso, o texto nos diz que essa fé torna-se real e conhecimento para
o crente na medida em que é aprendida em um percurso de seguimento. Novamente,
lembramos de um caminho a ser percorrido, um itinerário de discipulado e seguimento.
Hoje, a Igreja no Brasil quer que "reproponhamos" o caminho ordinário de Iniciação à
Vida Cristã, permitindo que outros caminhos sejam também levados em conta. É sabido
por todos nós que as estruturas atuais da maior parte das paróquias não atende de modo
adequado ao objetivo de fazer discípulos missionários de Jesus Cristo, torná-los cristãos, e
que temos uma dificuldade maior ainda em atingir aqueles que são indiferentes ou hostis à
Igreja. Olhando para sua tradição milenar, a Igreja vê na história, em uma época de missão,
num mundo de cultura pagã e de poucos cristãos – os primeiros séculos do cristianismo –,
um tesouro a ser resgatado que, adaptado às condições atuais, ajuda a responder de forma
eficaz ao desafio da Nova Evangelização. Esse tesouro chama-se catecumenato. Nessa
perspectiva, a Igreja nos convida a adotar o itinerário da Iniciação à Vida Cristã de uma
81
catequese com estilo catecumenal. Essa nova maneira de fazer catequese exige um novo
modelo de comunidade paroquial que só aos poucos e com muito esforço conseguiremos
mudar. O Estudo 97 da CNBB (Iniciação à Vida Cristã), o RICA (Ritual da Iniciação Cristã
de Adultos) e o Itinerário Catequético da CNBB contêm as orientações necessárias para
começar a implantação da iniciação cristã de inspiração catecumenal nas paróquias. As
últimas diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil da CNBB também já
indicam esse caminho.
O modelo de Iniciação à Vida Cristã de inspiração catecumenal apresentado nesses
documentos propõe uma ação evangelizadora dividida em quatro tempos.
No primeiro tempo (chamado de pré-evangelização), ocorre o primeiro anúncio ou anúncio
querigmático da pessoa de Jesus Cristo, Sua paixão, morte e ressurreição, ou seja, o ponto
essencial e primordial da fé. Esse anúncio ocorre de forma pessoal, por introdutores que
procuram em um clima de amizade e acolhida do iniciando, anunciar-lhes a vida de Jesus,
sobretudo por meio de Seus Evangelhos.
Num segundo momento, em um tempo maior que o primeiro, ocorre o tempo de catequese
propriamente dito, em que de forma sistemática a fé é aprofundada e vivida pelos
iniciandos.
Feito isso, segue-se o tempo da iluminação em que os iniciandos vivem um período de
preparação mais intensa para a celebração dos sacramentos por meio de uma forte
experiência de espiritualidade e oração.
Celebrados os sacramentos, segue-se o tempo da mistagogia, em que o significado da
celebração dos sacramentos é aprofundado. Neste último tempo, há um acentuado caráter
missionário.
Esse processo é maior que a pastoral da catequese em si e envolve toda a comunidade
paroquial. Trata-se de um caminho de adesão à fé e que hoje, mais do que nunca, precisa
ser refletido, adaptado e proposto.
João Melo
Graduando em Teologia (PUC-SP), formado em Filosofia (UNIFAI),
especialista em Catequese (UNISAL) e acadêmico do curso de Pósgraduação em Psicopedagogia (Claretiano) e em Ensino Religioso
Escolar (UNISAL). Colabora na formação de agentes de pastorais ligados
à prática catequética e à formação cristã na cidade de São Paulo/SP.
Contato: [email protected]
O CATECISMO RESPONDE
84
JUSTIÇA E SOLIDARIEDADE
ENTRE AS NAÇÕES
2437 No plano internacional, a desigualdade dos recursos e dos
meios econômicos é tão grande que provoca entre as nações um
verdadeiro “fosso”. De um lado, estão os que detêm e desenvolvem
os meios de crescimento e, de outro, os que acumulam as dívidas.
85
2438 “Diversas causas de natureza religiosa, política, econômica e financeira,
conferem hoje à questão social uma dimensão mundial”. A solidariedade é
necessária entre as nações cujas políticas já são interdependentes. E ainda mais
indispensável quando se toma preciso deter "os mecanismos perversos" que
impedem o desenvolvimento dos países menos avançados. Urge substituir os
sistemas financeiros abusivos e mesmo usurários, as relações comerciais iníquas
entre as nações e a corrida armamentista por um esforço comum no sentido de
mobilizar os recursos e objetivos de desenvolvimento moral, cultural e econômico,
"redefinindo as prioridades e as escalas de valores".
2439 As nações ricas têm uma responsabilidade moral grave para com aquelas
que não podem garantir sozinhas os próprios meios de seu desenvolvimento ou
foram impedidas de fazê-lo por trágicos acontecimentos históricos. E um dever de
solidariedade e caridade; é igualmente uma obrigação de justiça, se o bem-estar
das nações ricas provém de recursos naturais não foram eqüitativamente pagos.
2440 A ajuda direta representa uma resposta apropriada a necessidades
imediatas, extraordinárias, causadas por catástrofes naturais, epidemias etc.,
mas não basta para reparar os graves prejuízos que resultam de situações de
miséria nem para prover permanentemente às necessidades. É necessário
também reformar as instituições econômicas e financeiras internacionais,
para que elas promovam melhor as relações eqüitativas com os países menos
desenvolvidos. E preciso apoiar o esforço dos países pobres trabalhando para seu
desenvolvimento e libertação. Esta doutrina deve ser aplicada de maneira muito
especial no âmbito do trabalho agrícola. Os camponeses, sobretudo dos países
menos desenvolvidos, constituem a massa preponderante dos pobres.
2441 Aumentar o senso de Deus e o conhecimento de si mesmo é a base de
todo desenvolvimento completo da sociedade humana. Este desenvolvimento
completo multiplica os bens materiais e os põe a serviço da pessoa e de sua
liberdade. Diminui a miséria e a exploração econômicas. Faz crescer o respeito
pelas; identidades culturais e a abertura para a transcendência.
2442 Não cabe aos pastores da Igreja intervir diretamente na construção política
e na organização da vida social. Essa tarefa faz parte da vocação dos fiéis leigos,
que agem por própria iniciativa com seus concidadãos. A ação social pode
implicar uma pluralidade de caminhos concretos. Terá sempre em vista o bem
comum e se conformará com a mensagem evangélica e com a doutrina da Igreja.
Cabe aos fiéis leigos "animar as realidades temporais com um zelo cristão e
comportar-se como artesãos da paz e da justiça".
MENSAGEM DO PAPA
VENCE A
86
INDIFERENÇA
E CONQUISTA
A PAZ!
87
Mensagem do
Papa Francisco
para 2016 e o Dia
Mundial da Paz
88
Q
ueridos irmãos e irmãs,
1. Deus não é indiferente; importa-Lhe a humanidade! Deus não a abandona!
Com esta minha profunda convicção, quero, no início do novo ano, formular votos
de paz e bênçãos abundantes, sob o signo da esperança, para o futuro de cada homem
e mulher, de cada família, povo e nação do mundo, e também dos chefes de Estado e de
governo e dos responsáveis das religiões. Com efeito, não perdemos a esperança de que o
ano de 2016 nos veja a todos firme e confiadamente empenhados, nos diferentes níveis,
a realizar a justiça e a trabalhar pela paz. Na verdade, esta é dom de Deus e trabalho dos
homens; a paz é dom de Deus, mas confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que
são chamados a realizá-lo.
Conservar as razões da esperança
2. Embora o ano passado tenha sido caracterizado, do princípio ao fim, por guerras e atos
terroristas, com as suas trágicas consequências de sequestros de pessoas, perseguições
por motivos étnicos ou religiosos, prevaricações, multiplicando-se cruelmente em muitas
regiões do mundo, a ponto de assumir os contornos daquela que se poderia chamar uma
«terceira guerra mundial por pedaços», todavia alguns acontecimentos dos últimos anos e
também do ano passado incitam-me, com o novo ano em vista, a renovar a exortação a não
perder a esperança na capacidade que o homem tem, com a graça de Deus, de superar o
mal, não se rendendo à resignação nem à indiferença. Tais acontecimentos representam a
capacidade de a humanidade agir solidariamente, perante as situações críticas, superando
os interesses individualistas, a apatia e a indiferença.
Dentre tais acontecimentos, quero recordar o esforço feito para favorecer o encontro dos
líderes mundiais, no âmbito da Cop21, a fim de se procurar novos caminhos para enfrentar
as alterações climáticas e salvaguardar o bem-estar da terra, a nossa casa comum. E
isto remete para mais dois acontecimentos anteriores de nível mundial: a Cimeira de
Adis-Abeba para arrecadação de fundos destinados ao desenvolvimento sustentável do
mundo; e a adoção, por parte das Nações Unidas, da Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, que visa assegurar, até ao referido ano, uma existência mais digna para todos,
sobretudo para as populações pobres da terra.
89
O ano de 2015 foi um ano especial para a Igreja, nomeadamente porque registrou o
cinquentenário da publicação de dois documentos do Concílio Vaticano II que exprimem,
de forma muito eloquente, o sentido de solidariedade da Igreja com o mundo. O Papa
João XXIII, no início do Concílio, quis escancarar as janelas da Igreja, para que houvesse,
entre ela e o mundo, uma comunicação mais aberta. Os dois documentos – Nostra aetate e
Gaudium et spes – são expressões emblemáticas da nova relação de diálogo, solidariedade
e convivência que a Igreja pretendia introduzir no interior da humanidade. Na Declaração
Nostra aetate, a Igreja foi chamada a abrir-se ao diálogo com as expressões religiosas nãocristãs. Na Constituição pastoral Gaudium et spes – dado que «as alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles
que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos
discípulos de Cristo»[1] –, a Igreja desejava estabelecer um diálogo com a família humana
sobre os problemas do mundo, como sinal de solidariedade, respeito e amor.[2]
Nesta mesma perspectiva, com o Jubileu da Misericórdia, quero convidar a Igreja a rezar e
trabalhar para que cada cristão possa maturar um coração humilde e compassivo, capaz de
anunciar e testemunhar a misericórdia, de «perdoar e dar», de abrir-se «àqueles que vivem
nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria
de forma dramática», sem cair «na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o
espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói».[3]
Variadas são as razões para crer na capacidade que a humanidade tem de agir, conjunta
e solidariamente, reconhecendo a própria interligação e interdependência e tendo a
peito os membros mais frágeis e a salvaguarda do bem comum. Esta atitude de solidária
corresponsabilidade está na raiz da vocação fundamental à fraternidade e à vida comum.
A dignidade e as relações interpessoais constituem-nos como seres humanos, queridos
por Deus à sua imagem e semelhança. Como criaturas dotadas de inalienável dignidade,
existimos relacionando-nos com os nossos irmãos e irmãs, pelos quais somos responsáveis
e com os quais agimos solidariamente. Fora desta relação, passaríamos a ser menos
humanos. É por isso mesmo que a indiferença constitui uma ameaça para a família
humana. No limiar dum novo ano, quero convidar a todos para que reconheçam este fato a
fim de se vencer a indiferença e conquistar a paz.
90
Algumas formas de indiferença
3. Não há dúvida de que o comportamento do indivíduo indiferente, de quem fecha o
coração desinteressando-se dos outros, de quem fecha os olhos para não ver o que sucede
ao seu redor ou se esquiva para não ser abalroado pelos problemas alheios, caracteriza
uma tipologia humana bastante difundida e presente em cada época da história; mas, hoje
em dia, superou decididamente o âmbito individual para assumir uma dimensão global,
gerando o fenômeno da «globalização da indiferença».
A primeira forma de indiferença na sociedade humana é a indiferença para com Deus,
da qual deriva também a indiferença para com o próximo e a criação. Trata-se de um dos
graves efeitos dum falso humanismo e do materialismo prático, combinados com um
pensamento relativista e niilista. O homem pensa que é o autor de si mesmo, da sua vida e
da sociedade; sente-se auto-suficiente e visa não só ocupar o lugar de Deus, mas prescindir
completamente d’Ele; consequentemente, pensa que não deve nada a ninguém, exceto a si
mesmo, e pretende ter apenas direitos.[4] Contra esta errônea compreensão que a pessoa
tem de si mesma, Bento XVI recordava que nem o homem nem o seu desenvolvimento são
capazes, por si mesmos, de se atribuir o próprio significado último;[5] e, antes dele, Paulo
VI afirmara que «não há verdadeiro humanismo senão o aberto ao Absoluto, reconhecendo
uma vocação que exprime a ideia exata do que é a vida humana».[6]
A indiferença para com o próximo assume diferentes fisionomias. Há quem esteja bem
informado, ouça o rádio, leia os jornais ou veja programas de televisão, mas fá-lo de maneira
entorpecida, quase numa condição de rendição: estas pessoas conhecem vagamente os dramas
que afligem a humanidade, mas não se sentem envolvidas, não vivem a compaixão. Este é o
comportamento de quem sabe, mas mantém o olhar, o pensamento e a ação voltados para si
mesmo. Infelizmente, temos de constatar que o aumento das informações, próprio do nosso
tempo, não significa, de por si, aumento de atenção aos problemas, se não for acompanhado
por uma abertura das consciências em sentido solidário.[7] Antes, pode gerar uma certa
saturação que anestesia e, em certa medida, relativiza a gravidade dos problemas. «Alguns
comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países pobres, com
generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa “educação” que os tranquilize
e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais irritante, quando
os excluídos vêem crescer este câncer social que é a corrupção profundamente radicada em
muitos países – nos seus governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política
dos governantes».[8]
91
Noutros casos, a indiferença manifesta-se como falta de atenção à realidade circundante,
especialmente a mais distante. Algumas pessoas preferem não indagar, não se informar
e vivem o seu bem-estar e o seu conforto, surdas ao grito de angústia da humanidade
sofredora. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de sentir compaixão pelos
outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes
sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete.[9] «Quando estamos bem e
comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o
faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem;
e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e
confortável, esqueço-me dos que não estão bem».[10]
Vivendo nós numa casa comum, não podemos deixar de nos interrogar sobre o seu estado
de saúde, como procurei fazer na Carta encíclica Laudato si’. A poluição das águas e do
ar, a exploração indiscriminada das florestas, a destruição do meio ambiente são, muitas
vezes, resultado da indiferença do homem pelos outros, porque tudo está relacionado. E de
igual modo o comportamento do homem com os animais influi sobre as suas relações com
os outros,[11] para não falar de quem se permite fazer noutros lugares aquilo que não ousa
fazer em sua casa.[12]
Nestes e noutros casos, a indiferença provoca sobretudo fechamento e desinteresse,
acabando assim por contribuir para a falta de paz com Deus, com o próximo e com a criação.
92
A paz ameaçada pela indiferença globalizada
4. A indiferença para com Deus supera a esfera íntima e espiritual da pessoa individual e
investe a esfera pública e social. Como afirmava Bento XVI, «há uma ligação íntima entre a
glorificação de Deus e a paz dos homens na terra».[13] Com efeito, «sem uma abertura ao
transcendente, o homem cai como presa fácil do relativismo e, consequentemente, tornase-lhe difícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz».[14] O esquecimento
e a negação de Deus, que induzem o homem a não reconhecer qualquer norma acima de si
próprio e a tomar como norma apenas a si mesmo, produziram crueldade e violência sem
medida.[15]
A nível individual e comunitário, a indiferença para com o próximo – filha da indiferença
para com Deus – assume as feições da inércia e da apatia, que alimentam a persistência
de situações de injustiça e grave desequilíbrio social, as quais podem, por sua vez, levar
a conflitos ou de qualquer modo gerar um clima de descontentamento que ameaça
desembocar, mais cedo ou mais tarde, em violências e insegurança.
Neste sentido, a indiferença e consequente desinteresse constituem uma grave falta ao
dever que cada pessoa tem de contribuir – na medida das suas capacidades e da função
que desempenha na sociedade – para o bem comum, especialmente para a paz, que é um
dos bens mais preciosos da humanidade.[16]
Depois, quando investe o nível institucional, a indiferença pelo outro, pela sua dignidade,
pelos seus direitos fundamentais e pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura
orientada para o lucro e o hedonismo, favorece e às vezes justifica ações e políticas que
acabam por constituir ameaças à paz. Este comportamento de indiferença pode chegar
inclusivamente a justificar algumas políticas econômicas deploráveis, precursoras de
injustiças, divisões e violências, que visam a consecução do bem-estar próprio ou o da
nação. Com efeito, não é raro que os projetos econômicos e políticos dos homens tenham
por finalidade a conquista ou a manutenção do poder e das riquezas, mesmo à custa de
espezinhar os direitos e as exigências fundamentais dos outros. Quando as populações
vêem negados os seus direitos elementares, como o alimento, a água, os cuidados de saúde
ou o trabalho, sentem-se tentadas a obtê-los pela força.[17]
Por fim, a indiferença pelo ambiente natural, favorecendo o desflorestamento, a poluição
e as catástrofes naturais que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida,
constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas, novas situações
de injustiça com consequências muitas vezes desastrosas em termos de segurança e paz
social. Quantas guerras foram movidas e quantas ainda serão travadas por causa da falta
de recursos ou para responder à demanda insaciável de recursos naturais?[18]
93
Da indiferença à misericórdia:
a conversão do coração
5. Quando, há um ano – na Mensagem para o Dia Mundial da Paz intitulada «já não
escravos, mas irmãos» –, evoquei o primeiro ícone bíblico da fraternidade humana, o
ícone de Caim e Abel (cf. Gn 4, 1-16), fi-lo para evidenciar o modo como foi traída esta
primeira fraternidade. Caim e Abel são irmãos. Provêm ambos do mesmo ventre, são
iguais em dignidade e criados à imagem e semelhança de Deus; mas a sua fraternidade
de criaturas quebra-se. «Caim não só não suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por
inveja».[19] E assim o fratricídio torna-se a forma de traição, sendo a rejeição, por parte de
Caim, da fraternidade de Abel a primeira ruptura nas relações familiares de fraternidade,
solidariedade e respeito mútuo.
Então Deus intervém para chamar o homem à responsabilidade para com o seu
semelhante, precisamente como fizera quando Adão e Eva, os primeiros pais, quebraram
a comunhão com o Criador. «O Senhor disse a Caim: “Onde está o teu irmão Abel?” Caim
respondeu: “Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?” O Senhor replicou: “Que
fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim”» (Gn 4, 9-10).
Caim diz que não sabe o que aconteceu ao seu irmão, diz que não é o seu guardião. Não se
sente responsável pela sua vida, pelo seu destino. Não se sente envolvido. É-lhe indiferente
o seu irmão, apesar de ambos estarem ligados pela origem comum. Que tristeza! Que
drama fraterno, familiar, humano! Esta é a primeira manifestação da indiferença entre
irmãos. Deus, ao contrário, não é indiferente: o sangue de Abel tem grande valor aos seus
olhos e pede contas dele a Caim. Assim, Deus revela-Se, desde o início da humanidade,
como Aquele que se interessa pelo destino do homem. Quando, mais tarde, os filhos de
Israel se encontram na escravidão do Egito, Deus intervém de novo. Diz a Moisés: «Eu
bem vi a opressão do meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor diante dos seus
inspetores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos
egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que
mana leite e mel» (Ex 3, 7-8). É importante notar os verbos que descrevem a intervenção de
Deus: Ele observa, ouve, conhece, desce, liberta. Deus não é indiferente. Está atento e age.
De igual modo, no seu Filho Jesus, Deus desceu ao meio dos homens, encarnou e mostrouSe solidário com a humanidade em tudo, exceto no pecado. Jesus identificava-Se com a
humanidade: «o primogênito de muitos irmãos» (Rm 8, 29). Não se contentava em ensinar
às multidões, mas preocupava-Se com elas, especialmente quando as via famintas (cf. Mc 6,
34-44) ou sem trabalho (cf. Mt 20, 3). O seu olhar não Se fixava apenas nos seres humanos,
mas também nos peixes do mar, nas aves do céu, na erva e nas árvores, pequenas e grandes;
abraçava a criação inteira. Ele vê sem dúvida, mas não Se limita a isso, pois toca as pessoas,
fala com elas, age em seu favor e faz bem a quem precisa. Mais ainda, deixa-Se comover e
chora (cf. Jo 11, 33-44). E age para acabar com o sofrimento, a tristeza, a miséria e a morte.
94
Jesus ensina-nos a ser misericordiosos como o Pai (cf. Lc 6, 36). Na parábola do bom
samaritano (cf. Lc 10, 29-37), denuncia a omissão de ajuda numa necessidade urgente
dos seus semelhantes: «ao vê-lo, passou adiante» (Lc 10, 32). Ao mesmo tempo, com este
exemplo, convida os seus ouvintes, e particularmente os seus discípulos, a aprenderem
a parar junto dos sofrimentos deste mundo para os aliviar, junto das feridas dos outros
para as tratar com os recursos de que disponham, a começar pelo próprio tempo apesar
das muitas ocupações. Na realidade, muitas vezes a indiferença procura pretextos: na
observância dos preceitos rituais, na quantidade de coisas que é preciso fazer, nos
antagonismos que nos mantêm longe uns dos outros, nos preconceitos de todo o gênero
que impedem de nos fazermos próximo.
A misericórdia é o coração de Deus. Por isso deve ser também o coração de todos aqueles
que se reconhecem membros da única grande família dos seus filhos; um coração que bate
forte onde quer que esteja em jogo a dignidade humana, reflexo do rosto de Deus nas suas
criaturas. Jesus adverte-nos: o amor aos outros – estrangeiros, doentes, encarcerados,
pessoas sem-abrigo, até inimigos – é a unidade de medida de Deus para julgar as nossas
ações. Disso depende o nosso destino eterno. Não é de admirar que o apóstolo Paulo convide
os cristãos de Roma a alegrar-se com os que se alegram e a chorar com os que choram (cf.
Rm 12, 15), ou recomende aos de Corinto que organizem coletas em sinal de solidariedade
com os membros sofredores da Igreja (cf. 1 Cor 16, 2-3). E São João escreve: «Se alguém
possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração,
como é que o amor de Deus pode permanecer nele?» (1 Jo 3, 17; cf. Tg 2, 15-16).
É por isso que «é determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que
viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para
penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para
regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia. A primeira verdade da Igreja é o amor de
Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e
mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente
a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos
movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um
oásis de misericórdia».[20]
95
Deste modo, também nós somos chamados a fazer do amor, da compaixão, da misericórdia
e da solidariedade um verdadeiro programa de vida, um estilo de comportamento nas
relações de uns com os outros.[21] Isto requer a conversão do coração, isto é, que a graça
de Deus transforme o nosso coração de pedra num coração de carne (cf. Ez 36, 26), capaz
de se abrir aos outros com autêntica solidariedade. Com efeito, esta é muito mais do que
um «sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos
por tantas pessoas, próximas ou distantes».[22] A solidariedade «é a determinação firme
e perseverante de se empenhar pelo bem comum, ou seja, pelo bem de todos e de cada
um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos»,[23] porque a
compaixão brota da fraternidade.
Assim entendida, a solidariedade constitui a atitude moral e social que melhor
dá resposta à tomada de consciência das chagas do nosso tempo e da inegável
interdependência que se verifica cada vez mais, especialmente num mundo globalizado,
entre a vida do indivíduo e da sua comunidade num determinado lugar e a de outros
homens e mulheres no resto do mundo.[24]
96
Fomentar uma cultura de solidariedade e
misericórdia para se vencer a indiferença
6. A solidariedade como virtude moral e comportamento social, fruto da conversão pessoal,
requer empenho por parte duma multiplicidade de sujeitos que detêm responsabilidades
de caráter educativo e formativo.
Penso em primeiro lugar nas famílias, chamadas a uma missão educativa primária e
imprescindível. Constituem o primeiro lugar onde se vivem e transmitem os valores do amor
e da fraternidade, da convivência e da partilha, da atenção e do cuidado pelo outro. São
também o espaço privilegiado para a transmissão da fé, a começar por aqueles primeiros
gestos simples de devoção que as mães ensinam aos filhos.[25]
Quanto aos educadores e formadores que têm a difícil tarefa de educar as crianças e
os jovens, na escola ou nos vários centros de agregação infantil e juvenil, devem estar
cientes de que a sua responsabilidade envolve as dimensões moral, espiritual e social da
pessoa. Os valores da liberdade, respeito mútuo e solidariedade podem ser transmitidos
desde a mais tenra idade. Dirigindo-se aos responsáveis das instituições que têm funções
educativas, Bento XVI afirmava: «Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura
ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta
valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa
ensinar a saborear a alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para
com o próximo e de participar ativamente na construção duma sociedade mais humana e
fraterna».[26]
Também os agentes culturais e dos meios de comunicação social têm responsabilidades
no campo da educação e da formação, especialmente na sociedade atual onde se vai
difundindo cada vez mais o acesso a instrumentos de informação e comunicação. Antes de
mais nada, é dever deles colocar-se ao serviço da verdade e não de interesses particulares.
Com efeito, os meios de comunicação «não só informam, mas também formam o espírito
dos seus destinatários e, consequentemente, podem concorrer notavelmente para a
educação dos jovens. É importante ter presente a ligação estreitíssima que existe entre
educação e comunicação: de fato, a educação realiza-se por meio da comunicação, que
influi positiva ou negativamente na formação da pessoa».[27] Os agentes culturais e dos
meios de comunicação social deveriam também vigiar por que seja sempre lícito, jurídica e
moralmente, o modo como se obtêm e divulgam as informações.
97
A paz, fruto duma cultura de solidariedade,
misericórdia e compaixão
7. Conscientes da ameaça duma globalização da indiferença, não podemos deixar de
reconhecer que, no cenário acima descrito, inserem-se também numerosas iniciativas e
ações positivas que testemunham a compaixão, a misericórdia e a solidariedade de que o
homem é capaz.
Quero recordar alguns exemplos de louvável empenho, que demonstram como cada
um pode vencer a indiferença, quando opta por não afastar o olhar do seu próximo, e
constituem passos salutares no caminho rumo a uma sociedade mais humana.
Há muitas organizações não-governamentais e grupos sócio-caritativos, dentro da
Igreja e fora dela, cujos membros, por ocasião de epidemias, calamidades ou conflitos
armados, enfrentam fadigas e perigos para cuidar dos feridos e doentes e para sepultar
os mortos. Ao lado deles, quero mencionar as pessoas e as associações que socorrem
os emigrantes que atravessam desertos e sulcam mares à procura de melhores
condições de vida. Estas ações são obras de misericórdia corporal e espiritual, sobre as
quais seremos julgados no fim da nossa vida.
Penso também nos jornalistas e fotógrafos, que informam a opinião pública sobre as
situações difíceis que interpelam as consciências, e naqueles que se comprometem na
defesa dos direitos humanos, em particular os direitos das minorias étnicas e religiosas,
dos povos indígenas, das mulheres e das crianças, e de quantos vivem em condições de
maior vulnerabilidade. Entre eles, contam-se também muitos sacerdotes e missionários
que, como bons pastores, permanecem junto dos seus fiéis e nos apoiam sem olhar a
perigos e adversidades, em particular durante os conflitos armados.
Além disso, quantas famílias, no meio de inúmeras dificuldades laborais e sociais,
se esforçam concretamente, à custa de muitos sacrifícios, por educar os seus filhos
«contracorrente» nos valores da solidariedade, da compaixão e da fraternidade! Quantas
famílias abrem os seus corações e as suas casas a quem está necessitado, como os
refugiados e os emigrantes! Quero agradecer de modo particular a todas as pessoas,
famílias, paróquias, comunidades religiosas, mosteiros e santuários que responderam
prontamente ao meu apelo a acolher uma família de refugiados.[28]
Quero, enfim, mencionar os jovens que se unem para realizar projetos de solidariedade,
e todos aqueles que abrem as suas mãos para ajudar o próximo necessitado nas suas
cidades, no seu país ou noutras regiões do mundo. Quero agradecer e encorajar todos
aqueles que estão empenhados em ações deste gênero, mesmo sem gozar de publicidade:
a sua fome e sede de justiça serão saciadas, a sua misericórdia far-lhes-á encontrar
misericórdia e, como obreiros da paz, serão chamados filhos de Deus (cf. Mt 5, 6-9).
98
A paz, sob o signo do Jubileu da Misericórdia
8. No espírito do Jubileu da Misericórdia, cada um é chamado a reconhecer como se
manifesta a indiferença na sua vida e a adotar um compromisso concreto que contribua
para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o
ambiente de trabalho.
Também os Estados são chamados a cumprir gestos concretos, atos corajosos a bem das
pessoas mais frágeis da sociedade, como os reclusos, os migrantes, os desempregados e
os doentes.
Relativamente aos reclusos, urge em muitos casos adotar medidas concretas para
melhorar as suas condições de vida nos estabelecimentos prisionais, prestando especial
atenção àqueles que estão privados da liberdade à espera de julgamento,[29] tendo em
mente a finalidade reabilitativa da sanção penal e avaliando a possibilidade de inserir nas
legislações nacionais penas alternativas à detenção carcerária. Neste contexto, desejo
renovar às autoridades estatais o apelo a abolir a pena de morte, onde ainda estiver em
vigor, e a considerar a possibilidade duma anistia.
Quanto aos migrantes, quero dirigir um convite a repensar as legislações sobre as
migrações, de modo que sejam animadas pela vontade de dar hospitalidade, no respeito
pelos recíprocos deveres e responsabilidades, e possam facilitar a integração dos
migrantes. Nesta perspectiva, dever-se-ia prestar especial atenção às condições para
conceder a residência aos migrantes, lembrando-se de que a clandestinidade traz consigo
o risco de os arrastar para a criminalidade.
Desejo ainda, neste Ano Jubilar, formular um premente apelo aos líderes dos Estados para
que realizem gestos concretos a favor dos nossos irmãos e irmãs que sofrem pela falta de
trabalho, terra e teto. Penso na criação de empregos dignos para contrastar a chaga social
do desemprego, que lesa um grande número de famílias e de jovens e tem consequências
gravíssimas no bom andamento da sociedade inteira. A falta de trabalho afeta, fortemente,
o sentido de dignidade e de esperança, e só parcialmente é que pode ser compensada pelos
subsídios, embora necessários, para os desempregados e suas famílias. Especial atenção
deveria ser dedicada às mulheres – ainda discriminadas, infelizmente, no campo laboral – e
a algumas categorias de trabalhadores, cujas condições são precárias ou perigosas e cujos
salários não são adequados à importância da sua missão social.
99
Finalmente, quero convidar à realização de ações eficazes para melhorar as condições de
vida dos doentes, garantindo a todos o acesso aos cuidados sanitários e aos medicamentos
indispensáveis para a vida, incluindo a possibilidade de tratamentos domiciliários.
E, estendendo o olhar para além das próprias fronteiras, os líderes dos Estados são
chamados também a renovar as suas relações com os outros povos, permitindo a todos uma
efetiva participação e inclusão na vida da comunidade internacional, para que se realize a
fraternidade também dentro da família das nações.
Nesta perspectiva, desejo dirigir um tríplice apelo: apelo a abster-se de arrastar os outros
povos para conflitos ou guerras que destroem não só as suas riquezas materiais, culturais
e sociais, mas também – e por longo tempo – a sua integridade moral e espiritual; apelo
ao cancelamento ou gestão sustentável da dívida internacional dos Estados mais pobres;
apelo à adoção de políticas de cooperação que, em vez de submeter à ditadura de algumas
ideologias, sejam respeitadoras dos valores das populações locais e, de maneira nenhuma,
lesem o direito fundamental e inalienável dos nascituros à vida.
Confio estas reflexões, juntamente com os melhores votos para o novo ano, à intercessão
de Maria Santíssima, Mãe solícita pelas necessidades da humanidade, para que nos
obtenha de seu Filho Jesus, Príncipe da Paz, a satisfação das nossas súplicas e a bênção do
nosso compromisso diário por um mundo fraterno e solidário.
CATECINE
100
Por Celso Antonio
101
Um certo Príncipe do Egito
É
um período negro para os hebreus no Egito. Milhões deles foram escravizados pelo
faraó Seti para construir seus templos. Embora Moisés tenha nascido hebreu, sua
mãe não quer que ele passe a vida como escravo e, por isso, o deposita no Rio Nilo
em uma cesta (você já parou para pensar por que aquelas cestinhas para bebês se chamam
“Moisés”?). Ele é salvo e acaba sendo adotado por uma princesa egípcia, e é criado como
um irmão para Ramsés, o herdeiro do trono do Egito. Mas, depois que atinge a idade adulta,
Moisés descobre que não tem sangue egípcio; que, na verdade, ele faz parte do mesmo
povo que o serve desde que ele era pequeno. Ele então deixa o Egito e vagueia através do
deserto, finalmente chegando a uma aldeia de pastores.
102
Em seguida Moisés encontra Deus em uma
sarça (moita) ardente; O Senhor diz a ele
para voltar para o Egito e pedir ao faraó
para deixar seu povo partir. Ao retornar, ele
descobre que Ramsés é o novo faraó. Ele
suplica a seu antigo irmão que liberte os
hebreus, mas Ramsés se recusa; segue-se
então a conhecida sequência de pragas
e pestilência, que finalmente o obriga a
ceder. Quando Moisés finalmente está
tirando o seu povo do Egito, Ramsés muda
de ideia e dá início à perseguição. Moisés
pede a Deus para ajudá-los mais uma vez,
e o exército do faraó é tragado pelo Mar
Vermelho. Tendo libertado o seu povo,
Moisés recebe os Dez Mandamentos de
Deus e os inscreve em tábuas de pedra.
Embora eu não
recomende este
filme para crianças
muito pequenas,
ele pode ser uma
grande ferramenta
de aprendizagem
para adolescentes,
grupos de jovens
ou aspirantes a
catequista.
103
Talvez o aspecto mais impressionante deste filme monumental sejam as imagens, o
visual altamente simbólico. As muitas canções memoráveis também são arte pura: estão
vivas, com cores e formas próprias. Em contraste, a cena da páscoa, onde a praga mortal
vem e mata todas as crianças egípcias primogênitas (o primeiro filho de cada família),
se passa em um austero preto e branco. Existem inúmeros outros deleites visuais, desde
os monumentos do Egito (a Esfinge, as Pirâmides) até a sarça ardente, passando pela
travessia do Mar Vermelho (com direito até mesmo a uma baleia!).
Embora eu não recomende este filme para crianças muito pequenas, ele pode ser uma
grande ferramenta de aprendizagem para adolescentes, grupos de jovens ou aspirantes
a catequista. Mas você pode ser obrigado a responder a algumas perguntas difíceis. Bora
estudar o Antigo Testamento?
Celso Antonio
Jornalista, escritor e professor de inglês pela
Escola Estadual Coronel Castanho de Almeida,
na cidade de Guareí, interior de SP.
SUGESTÕES DE APP
CATECISMO
DA IGREJA
CATÓLICA
Agora você pode ter acesso aos
principais elementos da doutrina
católica a qualquer momento e
em todos os lugares
O
app Catecismo da Igreja Católica,
tanto em sua versão pocket (para
iOS) quanto convencional (Android),
carrega consigo os principais elementos da
doutrina e da moral católica sob o conceito
pergunta-resposta.
O material disponibilizado pelo aplicativo está
atualizado de acordo com a versão publicada
pela Igreja em 2005 e o download pode ser
feito por smartphones Android e iOS.
Agora você pode ter acesso aos principais
elementos do catolicismo a qualquer
momento, em todos os lugares!
105
SUGESTÕES DE LEITURA
106
PARÓQUIA E
INICIAÇÃO
CRISTÃ
de João Fernandes Reinert, editora Paulus
Acesse o site
A transmissão da fé e a sua consequente
vivência eclesial-comunitária são desafios
pastorais da atualidade. É exigente perseverar
na vivência eclesial, quando cresce o assim
chamado processo de desinstitucionalização
religiosa ou a crença sem pertença.
Repensar os caminhos da iniciação cristã e
a reconfiguração eclesial é, portanto, uma
tarefa urgente. A metodologia catecumenal,
caminho antigo e sempre novo para iniciar
na fé, apresenta-se como uma renovada
chance evangelizadora. Contudo, ela
depende de renovada configuração paroquial.
Catecumenato e renovação paroquial se
complementam e se enriquecem. O que
o catecumenato tem a dizer à renovação
paroquial e em que sentido a paróquia
renovada contribui para o catecumenato são
questões que o autor apresenta neste livro.
107
CATEQUESE AO
RAIAR DO DIA
de padre Zezinho, SCJ, editora Ave-Maria
Acesse o site
Começar o dia em oração e dedicando um
tempo para refletir sobre os ensinamentos de
Jesus faz com que nossa fé se solidifique ainda
mais e que tenhamos um grande dia pela
frente. Nesta obra, de autoria do Pe. Zezinho,
SCJ, o autor reuniu alguns pensamentos que
os levaram à reflexão e estudo nas Sagradas
Escrituras e em outros livros sobre temas que
ajudam a catequizar e nos aproximar de Deus,
nos suprindo como um verdadeiro instrumento
que ajude o cristão a pensar ao longo do dia.
CONHECER NOSSAS
RAÍZES – JESUS JUDEU
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Este livreto nos convoca a percorrer
o caminho do diálogo em busca da
compreensão e do sentido daquilo que nos
une, a Escritura. Indispensável na formação
dos catequistas, grupos de círculos bíblicos
e todos os que buscam crescer no diálogo
e comunhão no seguimento a Jesus Cristo,
Caminho, Verdade e Vida.
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