Acontece – Edição 65.1 - Curso de Jornalismo Mackenzie
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Acontece – Edição 65.1 - Curso de Jornalismo Mackenzie
Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras Publicação feita pelos alunos do 2º semestre de Jornalismo Ano IV - Edição 65 Corredores urbanos Corridas patrocinadas por empresas resgatam o esporte em São Paulo 4 A polêmica da redução da maioridade penal continua 5 X-Games trazem adrenalina para o sambódromo paulistano 7 Discos de vinil sobrevivem e continuam a atrair aficionados 8 Humorista, microfone e muitos risos com o Stand-up Apresentação Trabalhos acumulados, provas finais, o fantasma da reprovação assombrando algumas cabeças. Era o final do semestre que se aproximava. Apesar das circunstâncias adversas, os alunos se empenharam para elaborar mais uma edição do Acontece. Democrático como sempre, este jornallaboratório traz matérias sobre os mais variados assuntos. Dessa vez, o leitor irá encontrar nas próximas páginas uma matéria sobre corridas de rua, de Marina Galeano, que fala do aumento da prática da modalidade e dos benefícios trazidos pela corrida; X-Games, de Stefanie Duarte e Steffanye Moraes, sobre os jogos radicais que aconteceram em São Paulo no mês de abril; a complicada questão da maioridade penal, de Marcela Manocci e Natally Gama, que levantaram os prós e contras da diminuição da idade penal; a resistência dos LPs diante da extinção, de Bruno Lopes; e, finalizando, a nova modalidade de comédia, a Stand-up, de Flávio Junqueira e Rodrigo Ragonha, sobre a chegada desse estilo de comédia no país. Para nós, alunos do segundo período do jornalismo, essa edição tem um sabor diferente. É a nossa despedida do projeto Acontece. Foram quase cinco meses de reuniões de pauta, entrevistas, produção de textos, correção, tratamento de imagens, diagramação e muita correria. Mas valeu a pena. Passamos o bastão para a próxima turma com a sensação de missão cumprida e, acima de tudo, com bastante experiência acumulada. Uma das primeiras coisas que ouvimos quando chegamos na faculdade é que a graduação é apenas a primeira etapa de um longo percurso de formação profissional. O diploma universitário deixou de ser diferencial no currículo há um tempo considerável. Está cada vez mais fácil receber um título de professor, administrador, advogado, jornalista; portanto, cabe a nós, alunos, fazermos diferente, destacarmo-nos numa multidão que aumenta a cada colação de grau. O começo dessa diferenciação está, justamente, na graduação. Quem faz a faculdade é o aluno. Claro que o corpo docente e a estrutura oferecida pela instituição (física e pedagógica) são fundamentais, no entanto, na sala de aula são dados os primeiros e básicos estímulos. Caso o aluno queira realmente se destacar, tem que ir além daquilo pedido em classe. Os bons tempos de escola, quando o conhecimento chegava mastigadinho, acabaram. Agora, entramos no mundo de gente grande. Talvez à primeira vista, o Acontece pareça apenas um jornal-laboratório do segundo período do curso de jornalismo. Será somente isso se você encará-lo assim. Do contrário, está aí uma excelente oportunidade de começar, de fato, sua carreira jornalística. Pense em pautas interessantes, busque fontes qualificadas e não desista no primeiro não – jornalistas precisam ser insistentes. Não deixe de ir para a rua, sujar os sapatos e preocupe-se em apurar os acontecimentos uma, duas ou quantas vezes forem necessárias; dedique-se à produção de sua matéria, cuide do texto, das fotos (não esqueça das fotos!); participe da edição e da diagramação do jornal. Você só tem a ganhar. Nos despedimos por aqui. Essa divagação toda está assumindo um tom de “sermão de mãe”, mas nossa intenção é que as próximas equipes do Acontece e de todos as publicações realizadas pelo Mackenzie entendam a importância do projeto e aproveitem a chance de exercer a profissão de jornalista com seriedade e compromisso, mesmo ainda sendo considerados “aspirantes” à função. Bom trabalho e boa sorte! Editores Web: Ludmila Amaral e Stefanie Duarte Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras Diretora: Esmeralda Rizzo Coordenador: Vanderlei Dias de Souza Acontece Editoras: Luana Cavalcante e Marina Galeano Editores de imagem: Bruno Pegoraro e Davi Correia Projeto Gráfico: Renato Santana Diagramação: Ana Caroline Pereira e Renata Uliana Os editores pelos professores e jornalistas André Nóbrega, MTB nº 26.514, e Lucas Pires, MTB nº 31.990. Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 300 exemplares Repórteres Bruno Pegoraro, Flávio Junqueira, Marcela Mannocci, Marina Galeano, Natally Gama, Rodrigo Ragonha, Stefanie Duarte e Steffany Moraes Contatos Jornal Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, orientados Acesse o nosso site para conferir matéria exclusivas, entrevistas na íntegra e interagir com a nossa equipe: www.aconteceonline.wordpress.com Acontece • Página 2 Para enviar críticas, sugestões, elogios ou comentar as reportagens dessa edição: [email protected] Correr e gostar é só começar A corrida de rua se popularizou entre os paulistanos nos últimos anos. Praticantes e profissionais de Educação Física dão inúmeras razões para aderir à modalidade. Está esperando o quê? V ocê já correu hoje? Talvez o esporte não faça parte da sua vida ainda, mas calçar um par de tênis e correr pelas ruas e parques da cidade se tornou rotina para milhares de paulistanos. A prática da modalidade cresceu significativamente nos últimos anos e, como reflexo, o número de provas de rua, organizadas por empresas e associações, também aumentou. Segundo informações do Banco de Dados da Federação Paulista de Atletismo, em 2001 foram realizadas onze provas. Em 2005, aconteceram 174 provas só na capital. A Corpore (Corredores Paulistas Reunidos), uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1982 com o objetivo de representar e ser porta voz do corredor na comunidade, é, atualmente, o maior clube de corredores da América Latina. Em 1997 eram apenas 800 associados; em 2007, havia um total de aproximadamente 9300 membros. Quanto ao número de inscritos nas provas organizadas pela entidade, geralmente em parceria com outros patrocinadores, o aumento foi ainda mais surpreendente: de 9430 inscritos em 1997 para 118.657 em 2006. Empresas enxergaram na corrida de rua uma ótima oportunidade de marketing. Afinal, divulgam sua marca, e, ao mesmo tempo, vinculam sua imagem à qualidade de vida e preocupação com o bem estar dos clientes. Maratona Pão de Açúcar de Revezamento, Track & Field Run Series e Nike 10 k são exemplos de provas patrocinadas por grandes empresas, que investem em organização e tecnologia, atraindo, assim, um número cada vez maior de corredores. Pessoas das mais diversas idades e classes sociais aderiram à corrida por razões e objetivos distintos. Milton Ramalho, 47 anos, professor universitário, começou a correr aos 18 anos, quando serviu o Exército. “No início eu corria por- que era obrigado; era militar e corria pelo quartel. Depois, passei a correr por prazer, por saúde”, explica. Já Felipe Gonzáles, 28 anos, professor de Educação Física, corre desde 2002. Tornou-se praticante devido ao baixo custo do esporte. “Na época estava desempregado e o esporte mais barato de se praticar era a corrida – era só comprar um tênis e começar a cor- Corredores: prontos para mais uma prova rer. Aí virou paixão.” tou. Dos nove alunos de Roberto Outro corredor amador, no caso, Marmo, personal trainer, três são amadora, é Viviane Aguilar, de 42 especificamente de corrida. Felipe anos. “Atleta” há apenas um ano, González, também personal, treina conta que “correr sempre foi um so- dois alunos e orienta o grupo de nho, mas como estava bem acima do corrida da Academia Full Time. Na peso, era difícil começar. Emagreci visão dos dois profissionais, as pese consegui iniciar aos poucos”. soas querem correr, inicialmente, Para muitos praticantes, parti- para melhorar a forma física. cipar de provas de rua é uma for- “Os meus alunos chegam proma de motivação e de incentivo à curando a parte estética, querendo continuidade da prática esportiva. emagrecer. Com o tempo, almejam Ramalho, que já correu as ma- a superação de limites e a sensação ratonas de São Paulo, Curitiba e de bem estar”, conta Felipe. “EmaFlorianópolis, entre outras, busca grecimento em primeiro lugar, menas provas a concretização de todo lhora da saúde e superação pessoal um planejamento. Gonzáles par- em segundo”, enumera Roberto. ticipa com o intuito de melhorar Diante das vantagens, é preciso seu desempenho, de superar seus frear a empolgação antes de levanpróprios limites. Viviane também tar do sofá e sair correndo por aí. encara como um desafio pessoal. Os professores alertam: o correto “É uma competição comigo mes- é começar devagar e seguir alguma”, afirma. Em apenas um ano mas recomendações essenciais. “O de treino, ela conseguiu terminar aluno iniciante tem de caminhar uma prova de 15 km. e, aos poucos, alternar caminhada Embora um tanto sacrificante no com trotes curtos”, aconselha Roinício, os entrevistados garantem berto. “Qualquer um pode correr, que a corrida lhes trouxe inúmeros desde que siga orientações de um benefícios. Ramalho aponta a dis- professor de Educação Física e não ciplina, a melhoria da saúde em ge- tenha nenhuma restrição médica. ral e a chance de se relacionar com Pessoas com mais de 50 anos deoutras pessoas. Felipe afirma que, vem consultar um cardiologista. depois de ter começado a correr, Descanso, alimentação e vestipercebeu uma melhora no humor, mentas adequadas também são mais disposição e mais confiança imprescindíveis”, pontua Felipe. para encarar os desafios. Melhora Agora você já tem motivos de no bem estar, na auto-estima e no- sobra para criar coragem e chevas amizades foram os fatores cita- gar na USP às 7h da manhã de um dos por Viviane. domingo – faça chuva ou faça sol Professores de Educação Físi- –, pegar seu kit corrida, e esperar, ca observam que a procura pelo ansiosamente, a largada de mais treinamento de corrida aumen- uma prova. Foto: Arquivo pessoal MARINA GALEANO Acontece • Página 3 As controvérsias da maioridade penal Com o agravamento dos casos de violência cometidos por jovens menores de idade, a redução da maioridade penal volta a ser tema de discussão no país H oje, de acordo com a Fundação do Bem Estar do Menor (FEBEM), há cerca de 15 mil jovens no estado de São Paulo beneficiados por medida sócio-educativa imposta pelo governo. Elas buscam aplicar ao menor de idade uma punição de menor proporção ao de um indivíduo adulto, fazendo com que tenha a oportunidade de se regenerar através de acompanhamento psicológico e, em casos extremos, de internação. A advogada criminalista Adriana Cristina Silveira considera as penas aplicadas pelo Código Penal “duras e elevadas” e não acredita necessária a modificação do Código Penal, que foi totalmente reformulado em 1984. “Existe, sim, a necessidade de reformulação do Código de Processo Penal, que, face ao grande número de recursos, impede a correta aplicação da pena, pois o processo, além de burocrático, implicaria em ‘retroatividade da Lei’, o que só ocorreria para beneficiar o réu”, aponta ela. Outro fator importante ressaltado por ela é a necessidade de maior conhecimento técnico por parte do legislador frente à Constituição e direitos individuais. “Infelizmente, o desconhecimento jurídico de muitos dos iletrados acarreta processos de inconstitucionalidade de tramitação longa no Supremo Tribunal”, afirma. Essa questão é bastante polêmica no mundo inteiro. Muitas pessoas são a favor de que não exista uma idade limite no qual um indivíduo possa ser responsável criminalmente pelos seus atos. Outras dizem que não se pode punir um adolescente, pois este não teria discernimento para entender o que é certo ou errado. Nisso a Dra. Silveira declara que não são poucos os casos de agentes imputáveis acometidos de problemas psicoló- gicos e psiquiátricos oriundos de tuto da Criança e do Adolescente problemas físicos ou fatores exter- (ECA), que considera ato infracionos, que interferem diretamente nal para qualquer tipo de crime no discernimento da conseqüência cometido por menores de 18 anos. do crime praticado. “Todos devem responder por A advogada, conselheira e diretora seus atos e atitudes, independenda OAB de São Paulo Dra. Tallulah temente da idade que tenham. TeCarvalho completa que “a legisla- nho certeza que a dor, os traumas, ção brasileira entende que o me- as perdas, os danos psicológicos nor de 18 anos não possui desen- e morais causados por um crime volvimento mental completo para cometido por um menor ou um compreender e ser plenamente maior de 18 anos são os mesmos. responsável por seus atos”. Por que penas diferentes para o Estatísticas apontadas pela mesmo crime?”, questiona o Sr. Vara da Infância e Juventude da Jorge.O Sr. Jorge, que, após o perCapital de São Paulo mostram que a tendência à criminalidade se inicia aos 14 anos, acentuando-se muito após os 16 anos. Além disso, a criminalidade mais “violenta”, principalmente roubo, homicídio e latrocínio, é quase exclusivamente praticada por menores entre 15 e 18 anos. Jorge Balsalobre Damus teve seu filho, Rodrigo, de 20 anos, assassinado em um semáforo na cidade de São Paulo em 27 de setembro de 1999. Uma quadrilha, sendo três deles maiores e um Rodrigo: morto por um menor de idade menor, queriam roubar seu carro para vender em um der o filho, fundou o “Movimento desmanche e usar o dinheiro na de Resistência ao crime”. Para ele, festa de aniversário do menor, que a redução da maioridade penal completaria 18 anos dali três dias. para crimes considerados graves Quem matou Rodrigo foi o cometidos por menores com cermenor, com um tiro pelas costas. teza inibiria outras pessoas de se Por cometer o latrocínio (roubo aventurarem no mundo do crime. seguido de morte), o assassino re A Dra. Silveira explica que, cebeu medidas “sócio-educativas” ainda que falte um dia para que o permanecendo na “Febem” (hoje, menor complete 18 anos, o comeFundação Casa) por 1 ano e 8 me- timento de um ato criminoso será ses, e foi posto em seguida em li- considerado ato infracional e ele berdade. O Sr. Balsalobre Damus responderá pelo ECA. “No Brasil, acredita que o que precisa mudar o menor infrator não pode ficar é o artigo 228 da Constituição Fe- mais de três anos internado em deral, que diz que os menores de instituição de reeducação, como a 18 anos são inimputáveis, ou seja, Fundação Casa, a antiga Febem. O eles passam a não ser punidos pelo menor não pode ser encaminhado Código Penal mas sim pelo Esta- ao sistema penitenciário”, alerta a Foto: Arquivo pessoal MARCELA MANNOCCI E NATALLY GAMA Acontece • Página 4 Dra. Tallulah. Desta forma, o período máximo de internação será de três anos em estabelecimento próprio a menores, não ficando sujeito à pena máxima de 30 anos, como prevê o Código Penal. Como pai, o Sr. Damus sente que muitos jovens podem perder suas vidas por conta da impunidade apregoada pelo ECA, que acoberta crimes graves cometidos por menores. “Falta seriedade para combater o crime”, aponta. Os defensores da redução damidade penal alegam que se um adolescente de 16 anos pode votar, já tem capacidade para compreender o ato criminoso que praticou. Eles argumentam também que a pena para menores de 18 anos é branda e não inibe a prática de crimes. A Dra. Tallulah explica que a OAB de São Paulo é contrária à redução da maioridade penal, pois acredita que não é reduzindo a maioridade penal que os crimes cometidos por menores diminuirão. “Precisamos investir nesses jovens antes que eles se envolvam com a prática criminosa”, indica ela, apontando um possível futuro para caso venha a ser diminuída a maioridade penal. “Se o Brasil optasse pela redução, passaria pelos mesmos percalços e teria um novo problema a resolver: para onde encaminhar estes jovens infratores diante da falência do sistema prisional, que não recupera ninguém? Certamente estaríamos iniciandoos mais cedo no crime organizado, sem que eles viessem a entender, de fato, o caráter criminoso de sua conduta”, adverte. Em relação ao sistema prisional e ao preparo para receber os menores infratores, pesquisas mostram que o Brasil tem hoje uma superlotação de 150 mil presos e mais de meio milhão de foragidos por causa de 550 mil mandados de prisão jamais cumpridos pela polícia. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) contabiliza um déficit no sistema penitenciário de 700 mil vagas. Para a Dra. Tallulah, o ponto crucial é quanto ao prazo de internação do jovem infrator. “A lei estabeleceu um limite máximo de privação de liberdade de três anos, independente do número de delitos praticados pelo adolescente. Se continuar matando, nenhum minuto pode ser somado a esse tempo máximo de três anos”, afirma. Para a OAB paulista, seria preciso rever o tempo de internação, que deveria ser ampliado levandose em conta o tipo de violência, a periculosidade do autor e o número de delitos praticados pelo menor. A redução da maioridade penal por si só não resolverá o problema da criminalidade como um todo, mas colaborará para a redução dos crimes. Reduzir para 16 anos a maioridade penal atingiria 64% dos atos infracionais no geral, e mais de 90% dos atos infracionais violentos é contra a pessoa. Se a redução da maioridade penal for para os 14 anos, 92% de todos os atos infracionais seriam englobados e praticamente todos aqueles cometidos com violência contra a pessoa, pois até os 14 anos a família exerce maior controle sobre os jovens, impedindo que caminhem para o mundo do crime. Muito além do futebol Nos X-Games 2008, competidores deram um show em skates, bikes e em outras modalidades. Os esportes radicais ganham cada vez mais espaço nesse grande palco que é o Brasil STEFANIE DUARTE E STEFFANY MORAES O X-Games, a maior competição mundial de esportes radicais, realizada pela ESPN, teve início em 1995 no estado de Rhode Island, nos EUA, e anteriormente se chamava Extreme Games. No começo, os jogos reuniam skate, BMX, in-line roller, sky surf, street ludge, escalada e corrida de aventura, dentre outras. Depois vieram o Moto X e o ralli. O sucesso do X-Games nos EUA fez com que o evento rompesse as fronteiras e desembarcasse na Europa, Ásia, América Central e América do Sul. O Brasil já foi sede de três edições do Latin X-Games, entre 2002 e 2004, no Rio de Janeiro. Esses eventos serviam de seletivas para o evento principal, em Los Angeles, que é o mais disputado e badalado do mundo dos esportes extremos. Recentemente a ESPN criou os X-Games Internacionais, competições ao redor do mundo que possibilitam a participação de atletas de todos os continentes. Em 2007, os X-Games passaram pela China, México e Emirados Árabes. E esse ano chegou ao Brasil, num evento com infra-estrutura comparada à de Los Angeles e o segundo maior público da história dos jogos. O evento aconteceu entre os dias 25 e 27 de abril no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, e atraiu mais de 43 mil pessoas. Por conta do imenso público, a edição 2009 já foi confirmada. “O carinho, entusiasmo e participação do público brasileiro foram incríveis. Estamos muito sa- Acontece • Página 5 tisfeitos com os resultados. Com certeza, o evento no Brasil já é o segundo maior X-Games do mundo, atrás apenas do de Los Angeles”, afirmou Rick Alessandri, diretor geral da marca X-Games. No primeiro dia, sexta-feira, os atletas estavam apenas fazendo o reconhecimento dos locais onde iriam competir e treinando. O público foi pequeno, mas de qualquer forma compareceu pra conferir o que estavam preparando. As únicas eliminatórias foram as do skate street, com excelente atuação dos brasileiros. As provas realizadas durantes os três dias foram de BMX (Street e Vertical), Skate (Street e Vertical) e Moto X (Step Up e Best Trick). No sábado e no domingo, além do público que queria conferir as maiores feras desses esportes em Foto: Stefanie Duarte ação, muitas pessoas foram para os chegado aonde chegou – o 4º lu- esses fica com mais vontade ainda shows de CPM 22 e Charlie Brown gar no Campeonato Paulista, 18 de um dia chegar lá”, acredita FeJr. Na prova de Moto X, as arqui- º lugar no Nacional e o 1º lugar lipe. bancadas chegaram a ter 20 mil no Campeonato Mineiro de Mo “De uma forma ou de outra, o pessoas em um só dia, e a intera- toCross. “Ganhei uma prova do esporte está sendo divulgado. Se a tividade dos pilotos com o público campeonato sul-mineiro de Moto- pessoa tiver força de vontade pra atraía cada vez mais gente para o Cross. Foi muito emocionante, es- aprender, ela consegue bem rápilugar. O fluxo de gente foi tamanho tava liderando, caí e na última cur- do, mas as manobras não são fáque os organizadores precisaram va reassumi a liderança e ganhei”, ceis”, conclui Fernando, que anda barrar a entrada de mais pessoas, comemora ele. de skate desde os 13 anos e fala pois já estava mais do que lotado. Com BMX e skate, a animação do que no Brasil o incentivo e o apoio Isso levou o “excedente” a impro- público não foi diferente. O paulis- ao esporte também precisam mevisar: uns subiram em cima de la- ta Lucas Xaparral, após se classifi- lhorar, mas que já é bem maior do tões de lixo e outros se apertavam car em 2º lugar nas eliminatórias, que era há alguns anos. nas grades para ter uma visão pelo venceu a grande final do street No BMX, Simon Tabron foi o menos parcial do que estava acon- skate conquistando seu primeiro vencedor. Executando o 900 graus tecendo. Até a polícia militar foi título como skatista profissional. (duas voltas e meia no ar) por duas chamada para ajudar na ordem. Rodolfo Ramos, o Gugu, li- vezes em sua volta, logo após sua Foram disputadas duas cate- derou a competição até a última participação foi comemorar a congorias: Best Trick (onde a melhor bateria, quando aconteceu a vira- quista junto à platéia, que ultramanobra elege o campeão) e Step da de Xaparral. Gugu ficou com passava a casa dos 20 mil. Nenhum Up (uma versão do salto em al- a 2ª colocação, e o gaúcho Paulo brasileiro disputou a decisão. tura sobre duas rodas). A grande Galera em terceiro, diante de 30 Chorão, do Charlie Brown Jr, ausência foi Ronnie Renner, atu- mil pessoas. Os obstáculos foram abriu o show que encerraria o Xal campeão do Step Up, que, com uma réplica dos principais pontos Games, composto em sua maioria problemas particulares, desistiu e praças que os skatistas usam pra por adolescentes de 13 a 17 anos, da etapa no Brasil. A expectativa treinar em São Paulo. dizendo que aquilo que acontecia no Best Trick ficou pela Eletric No skate vertical, nada de no- ali era esporte de “vagabundo”. Death (morte elétrica), nome da vidade, pois Bob Burnquist levou “Vagabundo como nós”, complemanobra do norte-americano Kyle o X de ouro novamente. A final tou em seguida. Muitas pessoas Loza. Nessa categoria os três pri- foi acirrada e Bob venceu nos de- reclamaram e se revoltaram. “Não meiros colocados foram os ameri- talhes, com manobras surpreen- sei em qual sentido ele quis dizer, canos Matt Buyten, Todd Potter e dentes na enorme half pise (pista mas isso não soou bem. Mas o povo Kyle Loza. Já no domingo foi a vez em forma de “U”). só quer ouvir as músicas mesmo, do Step Up, no qual os vencedores Felipe Ferreira e Fernando não está nem aí para o que ele diz”, foram Todd Potter, Greg Hartman Carvalho, ambos skatistas street, opinou Rafael Cunha. “Sou skatise Brizze Izzo. Os brasileiros “Joa- vêem o evento como um incenti- ta, não sou vagabundo e acho que ninha”, Cyro de Olininguém aqui é. O ‘nós’ veira e Giancarlo Berdele é só ele, problema gamini terminaram dele, mas rotular não”, a categoria em sexto, esbravejou Lucas Pinono e décimo lugar nheiro. respectivamente. O impressionante Derick Almeida, sucesso do público e a 18 anos, estudante de bela atuação dos braJornalismo do Masileiros mostraram que ckenzie, é piloto proo Brasil não é só o país fissional de Moto X e do futebol, mas também já competiu em um o país dos esportes racampeonato naciodicais, pois tem muita nal e dois estaduais. gente que em vez de só Ele diz que o esporte chutar bola alcança o ainda tem um longo céu com duas rodas, faz caminho a ser percormalabarismos com quarido no país por causa tro e faz a bicicleta criar da estrutura e do pa- Manobras radicais no Half Pipe: 20 mil pessoas em um dia asas. No mesmo final de trocínio, ainda precários. vo ao esporte de rua. “A exposição semana acontecia a famosa Virada “Muitos pilotos são prejudica- do esporte é muito grande em um Cultural e a semifinal dos campedos por isso, além de outros tantos evento desses e serve para mos- onatos estaduais. Mesmo assim desistirem da carreira pela enor- trar que o skate está vivo e que a o público compareceu em massa, me dificuldade que encontram cada dia aparecem mais profis- mesmo aqueles que, enquanto aspara conseguir apoio e destaque”, sionais andando. Quem está co- sistiam às disputas, ouviam rádio comenta. Derick conta que se não meçando a andar e vê o prestígio e vez ou outra gritavam “gol” em fosse o pai ajudando jamais teria que o skate tem em eventos como alguma parte do sambódromo. Acontece • Página 6 Dá pra virar o disco? A moda de tirar a poeira do vinil não ficou para trás. Apesar de mais de 60 anos de estrada, o LP continua a despertar o interesse de muita gente “ Dá pra virar o disco?!”. Essa famosa frase serve para pessoas que repetem sempre a mesma coisa. Mas há uns trinta anos ela tinha um sentido totalmente diferente. Quem não se lembra dos “bolachões”, com aquelas capas enormes, uma bela produção artística ou aquela foto do ídolo? Apesar de ser coisa do passado, o LP ainda desperta interesse e paixão em muita gente. É o caso de José Eduardo Cunha, 18 anos, estudante de Fotografia no Senac. Ele conta que o primeiro contato com o vinil foi nos tempos de criança, quando ouvia com os seus pais. “Comecei a escutá-los ainda pequeno com meu pai, mas não me interessava muito. Com o passar dos anos eu fui me aproximando e gostando cada vez mais de rock. Aí conheci o punk dos anos 80 e já na adolescência passei a comprar e a escutar meus próprios discos”, conta. Segundo ele, sua coleção não é muito grande – tem 56 discos, com títulos bem variados, desde Tim Maia e Ira! a Clash e Ramones, entre outros. Mas o seu favorito é um do Ultraje a Rigor, o “Nós vamos invadir a sua praia”, considerado um marco no Rock nacional dos anos 80. José conta que comprar discos não é tão complicado. “Um lugar que eu costumo ir pra comprar vinil é na Galeria do Rock. Lá tem várias lojas, dá pra achar várias raridades. E não precisa só comprar, você pode trocar alguns também. Mas em vários lugares no centro têm uns sebos que vendem vinil”, indica ele. Mas o LP não se resume apenas à música. Ele resgata lembranças de uma época que não volta mais. Uma época em que ouvir música era algo muito especial, era uma forma de as pessoas se reunirem em volta de um toca-discos e curtirem horas e horas de muita música e dança. Pensando nisso, algumas gravadoras têm dado início a um revival do vinil. A Rhino Records é uma delas. Uma das responsáveis pela disseminação dos CDs no início dos anos 1990, hoje a Rhino olha para o passado e relança coleções especiais em vinil. Na tentativa de alcançar o público fiel à agulha e ao prato, a gravadora norte-americana criou até um selo especial, o Rhino Jean Gantines: “Vinil nunca vai acabar” Vinyl. As primeiras relíquias relan- cionadores se arrependeram e tençadas são do Grateful Dead: “Live/ tam resgatar os discos perdidos. Dead”, “Workingman’s Dead” e Jean também é colecionador. A “American Beauty”, remasteriza- paixão pelo vinil surgiu por volta dos e impressos em vinil de 180 dos 12 anos, quando nas rádios ele gramas. Foram também reedita- ouvia algumas bandas pop e comdos discos da década de 1970 do prou o seu primeiro compacto. CoYes e do T Rex. meçou a colecionar LPs por volta Mesmo com opções de relança- de 1974 e hoje conta com mais de mentos preciosos, o custo desses quatro mil discos em sua coleção. discos é alto. Uma caixa do Me- Por ser um aficionado por rock, tallica, por exemplo, tem a suges- sua coleção é composta por discos tão de preço de 100 dólares. Mas do final dos anos 1960 e 1970, e dos no Brasil a produção de vinil che- gêneros Hard Rock, Metal e MPB. gou ao fim. A única fábrica que Ele possui algumas relíquias, disainda resistia ao avanço tecnoló- cos lançados em 1965. Conta que gico e continuava produzindo LPs tem um cuidado todo especial com era a Polysom, instalada em Bel- os LPs. “São todos encapados com ford Roxo – na Baixada Fluminen- dois plásticos, para evitar a entrase, estado do Rio de Janeiro. Tinha da de poeira, e limpados com deuma produção feita sob encomen- tergente neutro sempre que possída, que atendia principalmente vel”, explica. a DJs da Europa e do Japão, que Ter os discos pode não ser o buscavam música brasileira. Teve mesmo que ouvir os discos. Mas que fechar suas portas no início Jean afirma que escuta pelo medeste ano. O Ministério da Cultu- nos um disco por dia, e vai além: ra prometeu apoio a Polysom para “A qualidade do som é muito meque suas atividades não fossem lhor que a do CD”, ressalta. “O som encerradas, mas a ajuda ficou ape- do LP é um pouco mais grave e não nas nas notícias. possui uma freqüência tão aguda Apesar de a produção de vinil quanto a do CD, o que produz um não existir mais no Brasil, a pro- som mais limpo”, esclarece. cura começa a crescer. É o que Apesar de ser tido como uma conta Jean Lazaro Pasil Gantines, tecnologia ultrapassada e em ex48 anos, proprietário da Metal, tinção, Jean dá boas razões para loja especializada em artigos de crer que o disco de vinil não vai rock localizada no centro de Santo acabar. “Acho que os LPs são para André que funciona desde 1984. sempre. A moda do vinil está volSegundo Gantines, quando o CD tando, e quem gosta de vinil não foi lançado muitos colecionadores deixa de comprar. A moçada que de vinil venderam toda a coleção e começou a comprar vinil, daqui passaram a comprar CDs. Com o 10 ou 20 anos, vai continuar compassar do tempo, os próprios cole- prando”, justifica. Foto: Bruno Pegoraro BRUNO PEGORARO Acontece • Página 7 A nova moda na comédia FLÁVIO JUNQUEIRA E RODRIGO RAGONHA S tand-up Comedy (algo como Comédia em pé) é um gênero humorístico em alta no Brasil. A idéia básica consiste em um humorista relatando coisas do cotidiano com muito bom humor. Ou seja, o objetivo é fazer rir de situações que fazem parte do diaa-dia e que muitas vezes passam despercebidas. Muito conhecido nos Estados Unidos e Europa e estrelado por grandes celebridades como Woody Allen, Robin Williams e Chris Rock, o espetáculo teve um início tímido no Brasil na década de 1970 com José Vasconcelos. Mais tarde, Chico Anysio e Jô Soares produziram shows ao vivo que se aproximavam do atual stand-up, que vem ganhando força no país alavancado principalmente pelo grupo Clube da Comédia, formado por cinco humoristas – Marcelo Mansfield, Marcela Leal, Rafinha Bastos, Oscar Filho e Danilo Gentili. “O Marcelo chamou a Marcela e o Rafinha para montar um show metade humor físico, apresentado pelo Marcelo, e metade Stand-up, apresentado pelos outros dois. Não deu muito certo, mas serviu como um embrião. Finalizaram uma curta temporada e iniciaram um projeto apenas de Stand-up”, explica Oscar Filho. A estréia do Clube da Comédia foi em abril de 2005 com Marcelo Mansfield, Marcela Leal, Rafinha Bastos, Márcio Ribeiro, Henrique Pantarotto e Oscar Filho. Depois houve algumas mudanças e chegaram ao elenco atual. Sobre o esquema da apresentação, Oscar esclarece o formato. “O Stand-up é apresentado sozinho, sem figurino, acessório, iluminação complexa, sonoplastia ou cenário. Nada. Só um comediante e um microfone, o que já é bastante.” Com o sucesso do show, o grupo ganhou cada vez mais fãs por diversas regiões do país. Leandro Fuschini, 21 anos, de Santos, fala sobre o que lhe agrada no Stand-up. “É uma comédia pensada, que traz coisas do nosso dia-a-dia e acaba fazendo a gente rir de nós mesmos, diferente das piadas ‘estilo Ari Toledo’”, comenta o estudante. Oscar Filho concorda: “É comum ouvir coisas do tipo ‘isso já aconteceu comigo’, ‘verdade’, ‘eu também penso assim’. Matheus Spadari: fã da comédia Stand-up A pessoa vê que é real, que é próxi- principais vídeos viraram mamo, que é cotidiano”. nia no YouTube, tendo milha Com todo esse reconhecimento res de visitas por dia. Fiquei fã e admiração do grande público, o de muitos comediantes só de Stand-up leva cada vez mais jovens tê-los visto pela internet, depara o teatro. “A maioria das pia- pois procurei ir ao próprio tedas faz referência a assuntos rela- atro”. cionados aos jovens, como criação Porém, não são todos que de personagens, programas de TV têm a oportunidade de conhee dificuldades de relacionamento”, cer o trabalho desses artistas, diz Matheus Spadari, estudante de e, por isso, Matheus acha que 18 anos. “Talvez um público com o Stand-up precisa de maior idade mais avançada deixasse de divulgação nacional. “São raentender a maioria das piadas, ras as apresentações dos shows ou não as acharia tão engraçadas em cidades do interior e outros quanto os jovens, por não compar- estados do Brasil. O público tilhar do mesmo ‘universo’ que o acaba tendo uma visão de que público mais novo”, acredita ele. o show fica fora de seu alcance. “Se a pessoa não gosta de teatro Assim, uma maior divulgação porque acha chato ou entediante, e uma melhor programação de o Stand-up ajuda a trazer a pessoa apresentação em outras cidades pra ver que existem coisas diver- só fariam o stand-up melhorar, tidas. O teatro é necessário, mas criando uma fonte de entreteainda existe muito preconceito”, nimento mais diversificada ao opina Oscar, que segue a colher os público brasileiro”, acredita. frutos que o Clube da Comédia lhe Mesmo com a participação proporciona. no programa de televisão, que Graças à exposição no site You- requer muita dedicação, Oscar Tube, Oscar Filho, Danilo Gentili não pretende deixar o Clube e Rafinha Bastos estão agora na da Comédia. “Stand-up é vitelevisão com o programa CQC. ciante. Não consegui parar até “O meu vídeo foi visto há um ano hoje. Eu acho muito poderoso e meio na Argentina pelo diretor, você ler uma notícia no jornal, que chegou aqui e foi me ver no ver um comercial na TV, pegar Clube. Se não fosse o Stand-up, uma história que aconteceu não estaria no YouTube, e se não com você, transformar em piafosse o YouTube, não estaria no da e contar na mesma semana CQC”, explica Oscar. para 100, 200 pessoas”, diz ele, Seus vídeos na internet são que está no ramo desde 2005. responsáveis também pelo gran- “É quase uma terapia, só que de número de fãs. Spadari conta os terapeutas são os especcomo foram seus primeiros conta- tadores, que riem no final de tos com esse tipo de comédia. “Os cada história sua”, compara. Acontece • Página 8 Foto: Flávio Junqueira O Stand-up Comedy ganha seu espaço na comédia brasileira e já é o gênero preferido de muitos