Folha de S. Paulo - CIA revelar parte de atividades ilegais
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Folha de S. Paulo - CIA revelar parte de atividades ilegais
mundo mundo2 EF EF SÁBADO, 23 DE JUNHO DE 2007 ★ Tel.: 0/xx/11/3224-3452 Fax: 0/xx/11/3223-1644 E-mail: [email protected] Serviço de atendimento ao assinante: 0800-775-8080 Grande São Paulo 0/xx/11/3224-3090 Ombudsman: [email protected] A25 CHINA ESCRAVIDÃO VIRA ESCÂNDALO QUE PRESSIONA DIRIGENTES CRISE EM GAZA ISRAEL OFERECE PACOTE DE INCENTIVOS A ABBAS Pág. A28 Pág. A33 CIArevelarápartedeatividadesilegais Material conhecido como “jóias da família” registra envolvimento da agência em tentativas de assassinatos de líderes CAIXA-PRETA Conheça os principais segredos guardados da CIA Fidel, Lumumba, Trujillo e general chileno estão na lista, que inclui experiências com civis, vigilância de jornalistas e escutas ilegais ................................................................................................ “JÓIAS DA FAMÍLIA” SÉRGIO DÁVILA 693 páginas DE WASHINGTON de material previamente classificado, conhecido internamente como “jóias da família” e que envolvem atividades ilegais realizadas pela agência de inteligência norte-americana, entre elas: Planos de assassinato >> Do ditador cubano Fidel Castro, “supervisionados por Robert Kennedy” >> Do comandante do Exército chileno René Schneider, morto em 1970 por extremistas de direita que pretendiam impedir a posse de Allende (1908-1973) >> Do líder congolês anticolonialista Patrice Lumumba (1925-1961) >> Do ditador Rafael Trujillo (1891-1961), da República Dominicana Outros casos revelados >>Arquivos sobre mais de 9.900 norte-americanos ligados ao movimento antiguerra (incluindo a abertura de cartas à atriz e ativista Jane Fonda) >> Transcrições que mostram a preocupação do governo com depoimentos no Congresso de pessoas que investigavam as atividades da companhia telefônica norte-americana ITT durante o governo de Allende >> A prisão de um desertor russo que pode “ser vista como uma violação das leis sobre seqüestro” >>Escuta dos colunistas , Robert Allen e Paul Scott >> Vigilância dos jornalistas Jack Anderson, Britt Hume e Michael Getler >> Invasão da casa de um exagente da CIA e da de um exdesertor >> Buscas sem mandado >> Abertura de cartas de e para a ex-União Soviética entre 1953 e 1973 e de e para a China entre 1969 e 1972 >> Experimentos involuntários de mudança de comportamento em cidadãos norte-americanos >> Vigilância de “grupos dissidentes” entre 1967 e 1971 CHINA E RÚSSIA 11 mil páginas dos registros das operações CAESAR, POLO e ESAU, sobre as lideranças chinesas e soviéticas, as relações sino-soviéticas entre 1953 e 1973, um apanhado de inteligência sobre programas militares do Pacto de Varsóvia e centenas de páginas sobre o avião espião A-12 Fonte: The National Security Archive A CIA tornará pública na semana que vem parte de documentos que comprovam atividades ilegais exercidas pela agência de inteligência norteamericana nos anos 50, 60 e 70. Entre elas, estão o planejamento ou tentativa de assassinatos de líderes como o ditador cubano Fidel Castro, monitoramento, vigilância, abertura de correspondência e/ou escuta ilegal de cidadãos norte-americanos, como a atriz e ativista Jane Fonda, e experimentos não-voluntários com drogas em civis. O anúncio foi feito anteontem pelo atual diretor da agência, Michael Hayden, e é resultado de décadas de pressão de entidades de direitos civis, pesquisadores, acadêmicos e jornalistas. São 693 páginas de material previamente sigiloso, conhecido internamente como “jóias da família”, e 11 mil páginas de registros de operações de inteligência ligadas à exUnião Soviética e à China e a relação entre os dois países. Ontem, o National Security Archive, ligado à Universidade George Washington, na capital norte-americana, antecipou-se à agência e colocou parte dos documentos no ar. “Esqueletos” O que mais chama a atenção é uma lista de “esqueletos” relatada em 1975 pelo então diretor da CIA, William Colby, ao então presidente Gerald Ford, motivada por um texto do repórter Seymour Hersh no jornal “The New York Times”. Ford temia que a revelação das atividades ilegais da agência pudesse fazer com que ele tivesse o mesmo destino de seu antecessor, Richard Nixon, que renunciara no ano anterior. Entre os “esqueletos”, está a participação em tentativas de assassinato de Fidel, com o envolvimento “direto” de Robert Kennedy, enquanto ele era secretário de Justiça, segundo relato também tornado público de Henry Kissinger, então secretário de Estado dos EUA. Mas não só: de acordo com relato de seu diretor à época, a agência planejou o assassinato de “alguns líderes estrangeiros”, entre eles o africano anticolonialista e breve premiê do Congo Patrice Lumumba (1925-1961) e o ditador Rafael Trujillo (1891-1961), da República Dominicana —mas não teve “nada a ver” com o assassinato do primeiro, que acabaria efetivamente ocorrendo, e “apenas uma tênue conexão” com os assassinos do segundo. Participou também do plano de assassinar o general e comandante chefe do Exército chileno René Schneider, morto em 1970 por um grupo de extremistas de direita que, com a ação, pretendiam impedir a posse do socialista Salvador Allende (1908-73). O diretor da CIA falou com o presidente no dia 3 de janeiro de 1975. No dia seguinte, também em encontro com Ford, transcrições mostram a preocupação de Kissinger com depoimentos no Congresso sobre investigações de atividades golpistas no Chile da companhia telefônica norte-americana ITT durante o governo Allende. “Isso [os depoimentos] é só a ponta do iceberg”, disse ele a Ford. Colby também se referiu ao problema chileno no encontro anterior. “Há ainda um outro problema que pode causar muita confusão: depois da investigação ITT-Chile pelo Congresso, houve acusações de que nossos testemunhos não foram muito ‘kosher’ [termo para comidas preparadas segundo a religião judaica usado nos EUA como gíria para “honesto”]”. O diretor segue: “Não creio que tenha havido atividade criminosa, mas houve um certo ‘andar na corda bamba’. Há uma velha regra segundo a qual, para proteger fontes e informações, você pode distorcer um pouco as coisas”, conclui. Além de monitoramento ilegal de jornalistas críticos ao governo, infiltração em grupos de ativistas, abertura de correspondência de cidadãos norteamericanos de e para a exUnião Soviética e a China, há testes bancados pela agência com cidadãos norte-americanos “não-voluntários”, “incluindo reação a certas drogas”. Ao anunciar a liberação dos arquivos anteontem, Hayden, da CIA resumiria seu conteúdo com a frase: “A maioria é desabonadora, mas faz parte da história da CIA”. Para o diretor do National Security Archive, Thomas Blanton, é um começo.