INVESTIGAÇÃO EM ÉTICA NA CONTABILIDADE
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INVESTIGAÇÃO EM ÉTICA NA CONTABILIDADE
46a INVESTIGAÇÃO EM ÉTICA NA CONTABILIDADE – FRAUDES, ENRON E WORLDCOM: TENDÊNCIAS E RITMOS DE PUBLICAÇÃO – Alberto Jorge Daniel Resende Costa Equiparado a Professor Adjunto Unidade de investigação: GOVCOPP Área Temática: A) Información Financiera y Normalización Contable Palavras-chave: Enron, Worldcom, fraude, ética, contabilidade 2 INVESTIGAÇÃO EM ÉTICA NA CONTABILIDADE – FRAUDES, ENRON E WORLDCOM: TENDÊNCIAS E RITMOS DE PUBLICAÇÃO – Resumo Este estudo analisa um conjunto de oito revistas académicas, caracterizadas como publicações enquadradas em diferentes paradigmas de investigação (positivista, interpretativo e crítico), para avaliar o tipo de investigação efectuada em cada uma e as tendências de publicação de artigos relacionados com a ética na contabilidade, mais especificamente com fraudes, a Enron e a Worldcom. A investigação regista um nível crescente de artigos publicados nesta área, entre 1999 e 2005, embora existam revistas com ritmos decrescentes. Este estudo encontra-se ainda por terminar pois pretende-se chegar ao ano de 2012. Não foi possível, também, concluir se a investigação em ética ligada à contabilidade segue o paradigma positivista e reconhece-se a necessidade de mais investigação. Resumen Este estudio analiza un conjunto de ocho revistas académicas, publicaciones caracterizadas como enmarcados en diferentes paradigmas de investigación (positivista, interpretativo y crítico), para evaluar el tipo de investigación llevada a cabo en cada uno y tendencias de publicación de artículos relacionados con la ética en la contabilidad más específicamente con el fraude, Enron y Worldcom. La investigación muestra un aumento en el nivel de los artículos publicados entre 1999 y 2005, aunque hay revistas con ritmos decrecientes. Este estudio aún no ha terminado, porque tenemos la intención de llegar al año 2012. También non fue posible concluir si la investigación en ética relacionada con la contabilidad sigue el paradigma positivista y se reconoce la necesidad de realizar más investigación. 3 Introdução A investigação em Contabilidade tem evoluído, consistentemente, ao longo do tempo, observando-se o desenvolvimento de diversas teorias e metodologias, que permitem ao investigador enquadrar-se devidamente naquela que entende estar mais alinhada com a sua natureza pessoal ou optar por uma constelação de teorias, numa perspectiva mais eclética. Um dos objetivos deste estudo foi fazer uma abordagem aos paradigmas de investigação mais conhecidos que, embora pouco profunda, pretendeu perceber que paradigmas desses têm sido seguidos, preferencialmente, na área da ética em contabilidade. O segundo objectivo consistiu em assinalar tendências de publicação no domínio específico da ética em contabilidade, tentando evidenciar, ainda, o paradigma de investigação dominante na investigação actual em Contabilidade, pela análise de artigos em revistas científicas internacionais. Na secção seguinte, será feito um enquadramento teórico resumido mas obrigatório no sentido de esclarecer o que este estudo pretende retratar. Serão ainda apresentadas as questões de investigação para as quais se procura resposta. Questões de investigação A investigação académica em contabilidade foi dominada, durante muitos anos, pelo positivismo de Auguste Comte (1789-1857), pedra fulcral do chamado método “científico”. De acordo com este paradigma, a realidade a observar é objectiva e a interpretação do investigador é, igualmente, objectiva podendo os fenómenos ser estudados independentemente do comportamento das pessoas, tendo o investigador um papel passivo, explicando o fenómeno e prevendo comportamentos futuros. A contribuição de Ball e Brown (1968) foi fundamental no desenvolvimento de uma nova perspectiva de investigação de carácter positivista. A formulação de uma teoria positiva da contabilidade foi, então, formulada por Watts e Zimmerman (1978 e 1986) e foram registados outros desenvolvimentos. Este tipo de investigação esteve presente na formação de muitos investigadores e continua ainda bem presente, sendo apontada como o paradigma dominante (mainstream) da investigação em contabilidade. A partir da década de 70, desenvolveram-se abordagens alternativas à investigação positivista. Hopwood desempenhou um papel importante neste caminho ao lançar as primeiras pedras do edifício que viria a ser classificado como investigação “social” em contabilidade, apresentando a contabilidade como fenómeno eminentemente social. 4 Surgiram publicações neste sentido em revistas académicas como a Accounting, Organizations and Society, a Critical Perspectives on Accounting e a Accounting, Auditing and Accountability Journal (Vieira, 2009, p. 19). Chua (1986), classificou a investigação em contabilidade em três categorias: a investigação positivista, a interpretativa e a crítica. Neste estudo, foram identificados os pressupostos dominantes de cada paradigma. Hopper e Powell (1985) já tinham contribuído para esta discussão ao considerarem duas dimensões: a natureza das ciências sociais e abordagens à sociedade, propondo as mesmas três categorias de investigação em contabilidade. Pelo facto de não ser este o objetivo principal deste estudo, não se aprofundará mais esta discussão. O autor partilha de uma visão inicialmente mais positivista; contudo, é manifestamente forte uma tendência crescente para um dos paradigmas alternativos. Neste momento, aceita-se uma perspectiva eclética que tente conjugar os três paradigmas, consoante o objecto a estudar. Os episódios do início deste século, iniciados pelos escândalos da Enron e da Worldcom nos Estados Unidos da América, levaram a que fossem renovadas as atenções sobre a importância da ética na contabilidade. Sentiram-se reacções a diversos níveis: entidades reguladoras dos mercados, entidades reguladoras das profissões e no comportamento dos profissionais. Como exemplo, vejam-se os trabalhos de Helliar e Bebbington (2004), Lovell (2005), Pierce (2006), McPhail (2006) e Molyneaux (2008), publicados pelo The Institute of Chartered Accountants of Scotland1. Desta forma e com base nas leituras efectuadas, propomo-nos responder às seguintes questões: Q1: A investigação em contabilidade obedeceu, no período 1999-2012, à tendência dominante do paradigma positivista? Q2: As revistas consideradas mainstream, no período 1999-2012, dão ênfase à investigação em ética e contabilidade, publicando artigos relacionados com fraudes ou sobre os casos da Enron ou Worldcom? Q3: O ritmo de publicação de artigos sobre escândalos contabilísticos alterou-se depois de 2001 e até 2012? Metodologia No seguimento do primeiro objectivo, foi resumida a bibliografia mais relevante que caracteriza os três paradigmas mais importantes: o positivista, o interpretativo e o crítico. 1 www.icas.org.uk 5 Relativamente ao segundo objetivo deste estudo, tornou-se imperativo proceder a uma escolha de revistas e de artigos nas mesmas. Trieschmann et al. (2000) analisaram artigos de diversas revistas, em diversas áreas, elegendo três revistas consideradas “de referência”: The Accounting Review, Journal of Accounting Research, e Journal of Accounting and Economics. Buchheit et al. (2002), apoiados na escolha apresentada no estudo anterior, procuraram reflectir o número de artigos publicados por área (incluindo a área contabilística) e o tipo de instituições ligadas às revistas referidas. Hasselback et al. (2003) analisaram 40 revistas, num período de 35 anos, estabelecendo um ranking de revistas na área contabilística e dos autores que demonstraram, nesse período, maior capacidade de produção de artigos científicos. As três revistas mencionadas anteriormente mantêm-se no topo da lista, registando-se ainda a referência, nos dez primeiros lugares, à Accounting, Organizations and Society. Ballas e Theoharakis (2003) e Bonner et al. (2006) apresentam, também, trabalhos neste seguimento, confirmando as escolhas já mencionadas e acrescentando a Accounting, Auditing & Accountability Journal, entre muitas outras. Numa perspectiva mais localizada, Lowe e Locke (2005), analisaram a qualidade de diversas revistas através de um inquérito realizado a académicos no Reino Unido. Este estudo reflectiu, ainda, uma classificação das revistas de acordo com os paradigmas de investigação já apresentados. Mais uma vez se confirmaram as revistas já indicadas e entendeu-se juntar a este estudo a Critical Perspectives on Accounting2. Depois desta primeira escolha considerou-se que uma análise de algumas revistas mais especializadas em publicar artigos sobre ética traria uma perspectiva mais rica sobre a questão. Desta forma, analisaram-se outros trabalhos. Bernardi et al. (2008) compararam o nível de investigação em ética em 25 revistas científicas e na lista das Top-40 revistas usada por Hasselback et al. (2003), concluindo que o nível de investigação em ética tem vindo a aumentar desde 1992. Este estudo permitiu selecionar a revista Business & Society. Uysal (2008) utilizou uma análise bibliométrica para analisar, empiricamente, a investigação em ética nos negócios publicada num conjunto de revistas, no período 1988-2007, destacando-se o Journal of Business Ethics. Seleccionaram-se ainda as revistas Issues in Accounting Education e Business Ethics: A European Review. Bampton e Cowton (2009), suportados numa base de quase 500 artigos recolhidos em diversas revistas científicas entre 1990 e 2007, tentaram avaliar a qualidade da investigação efectuada nesses artigos, considerando algumas questões éticas ligadas à contabilidade. Este trabalho permitiu confirmar algumas das escolhas anteriores. Finalmente e justificando a escolha, em particular, do Journal of Business Ethics, analisou-se o trabalho de Collins (2000) que realçou o acentuado aumento de publicação nesta revista, ao analisar todos os artigos publicados na mesma, desde a sua criação e até 1999. Fica clara a importância desta 2 A Tabela 1 lista os acrónimos dos nomes das revistas 6 revista no panorama das revistas que publicam artigos em ética, sendo também evidente que, como o próprio autor refere, há ainda muito a fazer nesta área. Notam-se coincidências nestes rankings mas alguma dificuldade na escolha de critérios para os estabelecer. Logo, o processo de escolha das revistas para este estudo não foi tarefa fácil nem objectiva: as revistas publicam com ritmos diferentes, com quantidades de artigos diferentes e com tendências de investigação diferentes. Além disso, as revistas têm diferentes objectivos e âmbitos de publicação. Contudo, conseguiu-se reunir algum consenso, avançando com uma escolha que abrange revistas cujas publicações se enquadram nos três paradigmas já enunciados. Uma última referência para a lista Financial Times Top Academic Journals in the Business (2007) e para o Impact Factor das revistas apresentadas. Estes elementos foram, também, considerados para confirmar as revistas escolhidas. Tabela 1 Acrónimos e nomes das Revistas TAR The Accounting Review JAR Journal of Accounting Research JAE Journal of Accounting and Economics AOS Accounting, Organizations and Society AAA Accounting, Auditing & Accountability Journal CPA Critical Perspectives on Accounting IAE Issues in Accounting Education BEAR Business Ethics: A European Review BS Business & Society JBE Journal of Business Ethics Neste seguimento e considerando as restrições já referidas, escolheu-se o período compreendido entre 1999 (Janeiro) e 2012 (Dezembro), dentro do qual se enquadram os escândalos contabilísticos e financeiros que ocorreram nos Estados Unidos da América (com especial relevância para a Enron e a Worldcom), no ano de 2001. O passo seguinte conduziu à opção pela recolha de artigos relacionados com ética e a sua relação com a contabilidade no que respeita, especificamente, a artigos sobre assuntos que envolvam fraudes ou os escândalos contabilísticos da Enron ou Worldcom. Sendo este universo muito vasto, optou-se por, em cada revista, observar o título, as keywords e o abstract do próprio artigo, confirmando-se sempre se continham assuntos relacionados com as palavras fraud, Enron ou Worldcom. Não foi efectuada análise de conteúdo aos artigos. 7 Resultados e discussão A Tabela 2 apresenta um resumo da quantidade de artigos publicados em cada revista, até 2005. Como pode ser observado, a quantidade de artigos publicados foi crescendo ao longo dos anos. Destaca-se, desde logo, a contribuição do JBE que, sozinho, publicou 39% de todo o conjunto de revistas escolhidas. Se for retirada esta publicação, a tendência crescente de artigos publicados mantém-se. As revistas estão apresentadas seguindo o seguinte critério: primeiro, um conjunto três revistas mais “positivistas” (TAR, JAR e JAE); depois, um conjunto de três revistas facilmente associadas aos paradigmas “alternativos” (AOS, AAA, CPA); finalmente, quatro revistas mais especializadas em publicar artigos sobre ética (IAE, BEAR, BS, JBE). Verificamos que existe similitude entre os dois primeiros conjuntos (724 e 798 artigos publicados, respectivamente) e que o terceiro conjunto assume maior relevância devido à consideração do JBE (1851 artigos). Se for retirada esta publicação, mantém-se a igualdade entre os dois primeiros conjuntos e o terceiro acusa uma percentagem menor de publicação (26% - 532 artigos). A Figura 1 permite uma visualização gráfica global e a Figura 2 exclui o JBE. 220 215 210 205 200 195 190 185 180 175 170 165 160 155 150 145 140 135 130 TAR 125 JAR 120 JAE 115 AOS 110 AAA 105 CPA 100 IAE 95 BEAR 90 BS 85 JBE 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 8 Figura 1 N.º de artigos publicados em cada revista, entre 1000 e 2005 Tabela 2 N.º de artigos publicados em cada revista, por ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total Revista TAR N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % 22 5% 19 4% 29 7% 52 10% 42 8% 46 9% 47 9% 257 8% JAR 36 8% 31 7% 35 8% 49 10% 34 6% 32 6% 27 5% 244 7% JAE 41 10% 34 8% 19 5% 19 4% 49 9% 27 5% 34 7% 223 7% AOS 32 7% 37 9% 33 8% 33 6% 31 6% 34 6% 38 7% 238 7% AAA 32 7% 28 6% 24 6% 28 5% 32 6% 27 5% 37 7% 208 6% CPA 39 9% 42 10% 36 9% 44 9% 50 10% 86 16% 55 11% 352 10% IAE 30 7% 25 6% 23 5% 23 4% 24 5% 30 6% 20 4% 175 5% BEAR 28 7% 29 7% 40 9% 38 7% 35 7% 27 5% 32 6% 229 7% BS 20 5% 19 4% 17 4% 21 4% 18 3% 14 3% 19 4% 128 4% JBE 149 35% 168 39% 166 39% 205 40% 210 40% 214 40% 207 40% 1319 39% Total 429 432 422 512 525 537 90 85 80 75 70 65 60 TAR 55 JAR 50 JAE AOS 45 AAA 40 CPA 35 IAE BEAR 30 BS 25 20 15 10 5 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Figura 2 N.º de artigos publicados em cada revista, por ano (exclui JBE) 516 3373 21% 24% 16% 9 A análise gráfica permite perceber, mais rapidamente, a importância do JBE no contexto geral de publicações. Destaca-se, ainda, a CPA que, no ano de 2004, publicou um número especial dedicado à Enron. Os anos de 2003 e 2004 são, nesta amostra, os anos mais fortes em número de publicações. A Tabela 3 apresenta um resumo da quantidade de artigos publicados em cada revista, no período escolhido, de acordo com o critério estabelecido. Como pode ser observado, a quantidade de artigos publicados foi, também, crescendo ao longo dos anos, registando-se um decréscimo no ano de 2005. O JBE contribui em especial para estas tendências (51 artigos) mas, ainda que se retire da amostra, a tendência é exactamente a mesma. Observa-se, contudo, uma tendência positiva de publicação de artigos sobre “fraude”, a “Enron” ou a “Worldcom” nas revistas “alternativas, com realce para a AOS (70 artigos). As revistas “positivistas” publicaram pouco sobre estes assuntos (43 artigos), ressalvando-se, no entanto, o caso do JAE (33 artigos). Este facto está relacionado com os objectivos e âmbito de publicação, em particular, desta revista. É possível destacar três publicações que registam, consistentemente, um maior número de publicações: AOS, CPA e JBE. Em conjunto são responsáveis por 65% (168 artigos) de todos os artigos publicados de acordo com o critério estabelecido (255 artigos). A Figura 3 ilustra, graficamente, estas tendências. Tabela 3 N.º de artigos com “fraud”, “Enron” ou “Worldcom” no título, resumo ou palavras-chave 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total Revista N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % TAR 0 0% 0 0% 3 13% 0 0% 1 2% 0 0% 1 2% 5 2% JAR 3 17% 0 0% 0 0% 1 4% 1 2% 0 0% 0 0% 5 2% JAE 2 11% 4 21% 3 13% 1 4% 3 7% 9 13% 11 19% 33 13% AOS 7 39% 8 42% 8 35% 9 38% 9 22% 15 21% 14 24% 70 27% AAA 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 2 5% 1 1% 1 2% 4 2% CPA 1 6% 0 0% 4 17% 4 17% 4 10% 24 33% 10 17% 47 18% IAE 4 22% 1 5% 0 0% 1 4% 5 12% 6 8% 3 5% 20 8% BEAR 0 0% 5 26% 0 0% 0 0% 2 5% 0 0% 0 0% 7 3% BS 0 0% 1 5% 0 0% 4 17% 4 10% 1 1% 3 5% 13 5% JBE 1 6% 0 0% 5 22% 4 17% 10 24% 16 22% 15 26% 51 20% Total 18 19 23 24 41 72 58 255 17% 47% 16% 10 25 24 23 22 21 20 19 18 17 TAR 16 JAR 15 JAE 14 AOS 13 AAA 12 CPA 11 IAE 10 9 BEAR 8 BS 7 JBE 6 5 4 3 2 1 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Figura 3 N.º de artigos com “fraud”, “Enron” ou “Worldcom” no título, resumo ou palavras-chave A Figura 3 permite verificar, com mais rapidez, a tendência crescente de publicação de acordo com o critério estabelecido, a partir do ano de 2003, destacando-se, novamente, o ano de 2004. É inegável que as revistas publicaram mais sobre estes assuntos. É um fenómeno que se interpreta como consequência dos escândalos financeiros verificados em 2001, pela necessidade de perceber o que, porque e como aconteceu. Estas tendências encontram-se, também, na mesma linha dos resultados encontrados por Uysal (2009). O JBE, em particular, aumentou de forma substancial, a quantidade de artigos sobre estes assuntos. Se o critério utilizado fosse mais abrangente, os resultados seriam, muito provavelmente, mais expressivos. Esta revista apresenta ritmos de publicação crescentes, como se pode observar pela análise da Tabela 4 (e da Figura 4), que apresentam todos os 11 artigos publicados no JBE desde a sua criação. Collins (2000) já tinha concluído no mesmo sentido ao relatar os primeiros dezasseis anos de publicação do JBE, até atingir os 1500 artigos publicados. Tabela 4 N.º de artigos publicados no JBE Anos JBE % 1982 40 1,02% 1983 29 0,74% 400 1984 39 0,99% 375 1985 58 1,47% 1986 56 1,42% 350 1987 72 1,83% 325 1988 109 2,77% 1989 104 2,64% 1990 98 2,49% 1991 96 2,44% 1992 99 2,52% 1993 98 2,49% 1994 93 2,36% 1995 87 2,21% 1996 135 3,43% 1997 153 3,89% 1998 154 3,91% 1999 149 3,79% 2000 168 4,27% 2001 166 4,22% 2002 205 5,21% 2003 210 5,34% 2004 214 5,44% 2005 207 5,26% 2006 185 4,70% 25 2007 178 4,52% 0 2008 301 7,65% 2009 378 9,61% 2010 (1) 54 1,37% 3935 100,00% 300 275 250 225 200 175 150 125 100 75 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 50 Figura 4 (1) Resultados até ao momento em que este trabalho está a ser efectuado N.º de artigos publicados no JBE Estes resultados, embora permitam retirar algumas conclusões, apresentam limitações devido à natureza do estudo. Por outras palavras, considera-se que o período escolhido é demasiado curto para conclusões inequívocas que serão, obrigatoriamente, limitadas. Outro factor limitativo consiste na quantidade e qualidade das revistas seleccionadas. Embora tenha sido feito um esforço para incluir revistas reconhecidas pelo autor e por outros autores como “de referência”, há muita informação dispersa por outras publicações, capaz de solidificar estes resultados ou de os relativizar, conforme as situações. Finalmente e aquela que poderá ser a maior limitação na opinião do autor deste estudo, a escolha das “palavraschave” que levou às conclusões sobre artigos que as contêm. O autor deste estudo está 12 convicto que a escolha destas palavras poderá produzir resultados distorcidos pelo que a introdução de mais critérios ou de um critério mais apurado poderia ter produzido outros resultados, cientificamente mais válidos. Desta forma, fica ainda muito por fazer, no sentido de aprofundar e melhorar o estudo ora apresentado. Será importante alargar substancialmente o período de análise, incluindo mais anos antes de 2001, selecionar revistas consultando mais bibliografia relevante sobre o assunto, acrescentar mais “palavras-chave” à análise, realizar análise de conteúdo aos artigos para se perceber melhor os seus objectivos e o paradigma de investigação seguido e incluir mais publicações na área da accounting ethics em particular. Refere-se, ainda, que o autor pesquisou outras publicações mas esbarrou com dificuldades não superadas de obter informação sobre os artigos publicados, keywords e respetivos resumos (abstracts). Veja-se, como exemplo, o Business and Professional Ethics Journal. A confrontação, com os resultados obtidos, permitiu ainda aferir até que ponto terá sido possível responder às questões de investigação inicialmente formuladas. Q1: A investigação em contabilidade obedeceu, no período 1999-2012, à tendência dominante do paradigma positivista? Entre 1999 e 2005 não se obtiveram resultados suficientes para concluir neste sentido, especialmente pelo período de análise ser demasiado restritivo. Observa-se que nas três publicações mais “positivistas” (TAR, JAR, JAE) o número de artigos publicados está muito próximo do das revistas “alternativas” (AOS, AAA, CPA), pelo que é necessário aprofundar mais a investigação, com análise de conteúdo aos artigos, experimentando um período mais alargado. Q2: As revistas consideradas mainstream, no período 1999-2012, dão ênfase à investigação em ética e contabilidade, publicando artigos relacionados com fraudes ou sobre os casos da Enron ou Worldcom? Entre 1999 e 2005, observa-se um comportamento pouco relevante nos casos da TAR e JAR que publicaram, cada uma, 2% (10 artigos) do total de artigos em causa (255 artigos). O JAE aumentou consideravelmente o número de artigos nesta área, desde 2003 e até 2005 (de 3 para 11). A AOS e a CPA apresentam ênfase muito relevante, com 27% (70 artigos) e 18% (47 artigos), respectivamente, do total de artigos. Na AAA não se percebe qualquer relevância em publicar nesta área (4 artigos de 1999 a 2005). Desta forma, as revistas consideradas mainstream, no período 1999-2005, dão pouca ênfase à investigação em ética e contabilidade, publicando artigos relacionados com fraudes, a Enron ou a Worldcom. Torna-se necessário, novamente, alargar o período de análise e incluir outras revistas que se identifiquem com este paradigma. 13 Q3: O ritmo de publicação de artigos sobre escândalos contabilísticos alterou-se depois de 2001 e até 2012? Considerando todas as revistas analisadas entre 1999 e 2005, registou-se um aumento de 152% (de 23 para 58 artigos) no ritmo de publicação de artigos com base no critério escolhido. Realça-se ainda que até ao ano de 2004 o aumento foi de 213% (de 23 para 72 artigos) e que houve um decréscimo de quase 20% (14 artigos) de 2004 para 2005. O ano de 2004, sozinho, publicou aproximadamente 28% de todos os artigos. Quem regista o maior aumento, em percentagem, foi o JAE, como já foi referido. A TAR decresceu 67% (de 3 para 1 artigo) e o JAR e a BEAR mantiveram o mesmo ritmo (0 artigos). A CPA aumentou o seu ritmo de publicação em 150% (4 para 10 artigos), a AOS aumentou em 75% (de 8 para 14 artigos) e o JBE aumentou em 200% (de 5 para 15 artigos), o que representa o maior aumento em termos absolutos. Última referência para a BS que passou de 0 para 3 artigos. Mais análise seria considerada muito útil para consolidar estas conclusões, como já foi explicado. Conclusões preliminares Este estudo representa um esforço específico de tentar assinalar tendências relativamente ao paradigma de investigação dominante na investigação actual em Contabilidade, pela análise de artigos em algumas revistas científicas internacionais, evidenciando ainda tendências de publicação no domínio específico da ética em contabilidade. Teve ainda, como objectivo, fazer uma abordagem aos paradigmas de investigação mais conhecidos, de forma a clarificar o posicionamento do autor. O estudo efetuado até ao momento considera-se enriquecedor e importante no sentido que tenta perceber de que forma têm evoluído os ritmos de publicação, em algumas revistas, logo após os escândalos financeiros ocorridos em 2001, com especial destaque para a Enron e a Worldcom. As conclusões preliminares apontam para um crescimento dos artigos publicados, desde 1999 a 2005 e para um ainda maior aumento dos artigos publicados na área da ética em contabilidade e das fraudes em particular. São apontadas diversas limitações ao estudo efectuado e abertas novas avenidas para investigação futura, mais aprofundada e mais abrangente. Fica ainda por esclarecer, com evidência empírica relevante se a investigação em contabilidade obedeceu, no período 1999-2012, à tendência dominante do paradigma positivista. Contudo, considera-se ter sido possível, com alguma segurança, afirmar que estas revistas, consideradas mainstream, dão pouca ênfase a esta área, em contrapartida das restantes, mais ecléticas e consideradas “alternativas”. 14 Referências Ball, R., & Brown, P. (1968). An Empirical Evaluation of Accounting Income Numbers. Journal of Accounting Research, 6(2), 159-178. Ballas, A., & Theoharakis, V. (2003). Exploring Diversity in Accounting through Faculty Journal Perceptions. Contemporary Accounting Research, 20(4), 619-644. Bampton, R., & Cowton, C. J. (2009). Taking stock of accounting ethics scholarship: a review of the journal literature. Unpublished Working Paper. 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