INVESTIGAÇÃO EM ÉTICA NA CONTABILIDADE

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INVESTIGAÇÃO EM ÉTICA NA CONTABILIDADE
46a
INVESTIGAÇÃO EM ÉTICA NA CONTABILIDADE
– FRAUDES, ENRON E WORLDCOM: TENDÊNCIAS E RITMOS DE PUBLICAÇÃO –
Alberto Jorge Daniel Resende Costa
Equiparado a Professor Adjunto
Unidade de investigação: GOVCOPP
Área Temática: A) Información Financiera y Normalización Contable
Palavras-chave: Enron, Worldcom, fraude, ética, contabilidade
2
INVESTIGAÇÃO EM ÉTICA NA CONTABILIDADE
– FRAUDES, ENRON E WORLDCOM: TENDÊNCIAS E RITMOS DE PUBLICAÇÃO –
Resumo
Este estudo analisa um conjunto de oito revistas académicas, caracterizadas como
publicações
enquadradas
em
diferentes
paradigmas
de
investigação
(positivista,
interpretativo e crítico), para avaliar o tipo de investigação efectuada em cada uma e as
tendências de publicação de artigos relacionados com a ética na contabilidade, mais
especificamente com fraudes, a Enron e a Worldcom. A investigação regista um nível
crescente de artigos publicados nesta área, entre 1999 e 2005, embora existam revistas
com ritmos decrescentes. Este estudo encontra-se ainda por terminar pois pretende-se
chegar ao ano de 2012. Não foi possível, também, concluir se a investigação em ética ligada
à contabilidade segue o paradigma positivista e reconhece-se a necessidade de mais
investigação.
Resumen
Este estudio analiza un conjunto de ocho revistas académicas, publicaciones caracterizadas
como enmarcados en diferentes paradigmas de investigación (positivista, interpretativo y
crítico), para evaluar el tipo de investigación llevada a cabo en cada uno y tendencias de
publicación de artículos relacionados con la ética en la contabilidad más específicamente
con el fraude, Enron y Worldcom. La investigación muestra un aumento en el nivel de los
artículos publicados entre 1999 y 2005, aunque hay revistas con ritmos decrecientes. Este
estudio aún no ha terminado, porque tenemos la intención de llegar al año 2012. También
non fue posible concluir si la investigación en ética relacionada con la contabilidad sigue el
paradigma positivista y se reconoce la necesidad de realizar más investigación.
3
Introdução
A investigação em Contabilidade tem evoluído, consistentemente, ao longo do tempo,
observando-se o desenvolvimento de diversas teorias e metodologias, que permitem ao
investigador enquadrar-se devidamente naquela que entende estar mais alinhada com a sua
natureza pessoal ou optar por uma constelação de teorias, numa perspectiva mais eclética.
Um dos objetivos deste estudo foi fazer uma abordagem aos paradigmas de investigação
mais conhecidos que, embora pouco profunda, pretendeu perceber que paradigmas desses
têm sido seguidos, preferencialmente, na área da ética em contabilidade.
O segundo objectivo consistiu em assinalar tendências de publicação no domínio específico
da ética em contabilidade, tentando evidenciar, ainda, o paradigma de investigação
dominante na investigação actual em Contabilidade, pela análise de artigos em revistas
científicas internacionais.
Na secção seguinte, será feito um enquadramento teórico resumido mas obrigatório no
sentido de esclarecer o que este estudo pretende retratar. Serão ainda apresentadas as
questões de investigação para as quais se procura resposta.
Questões de investigação
A investigação académica em contabilidade foi dominada, durante muitos anos, pelo
positivismo de Auguste Comte (1789-1857), pedra fulcral do chamado método “científico”.
De acordo com este paradigma, a realidade a observar é objectiva e a interpretação do
investigador
é,
igualmente,
objectiva
podendo
os
fenómenos
ser
estudados
independentemente do comportamento das pessoas, tendo o investigador um papel
passivo, explicando o fenómeno e prevendo comportamentos futuros. A contribuição de Ball
e Brown (1968) foi fundamental no desenvolvimento de uma nova perspectiva de
investigação de carácter positivista. A formulação de uma teoria positiva da contabilidade foi,
então, formulada por Watts e Zimmerman (1978 e 1986) e foram registados outros
desenvolvimentos. Este tipo de investigação esteve presente na formação de muitos
investigadores e continua ainda bem presente, sendo apontada como o paradigma
dominante (mainstream) da investigação em contabilidade.
A partir da década de 70, desenvolveram-se abordagens alternativas à investigação
positivista. Hopwood desempenhou um papel importante neste caminho ao lançar as
primeiras pedras do edifício que viria a ser classificado como investigação “social” em
contabilidade, apresentando a contabilidade como fenómeno eminentemente social.
4
Surgiram publicações neste sentido em revistas académicas como a Accounting,
Organizations and Society, a Critical Perspectives on Accounting e a Accounting, Auditing
and Accountability Journal (Vieira, 2009, p. 19).
Chua (1986), classificou a investigação em contabilidade em três categorias: a investigação
positivista, a interpretativa e a crítica. Neste estudo, foram identificados os pressupostos
dominantes de cada paradigma. Hopper e Powell (1985) já tinham contribuído para esta
discussão ao considerarem duas dimensões: a natureza das ciências sociais e abordagens
à sociedade, propondo as mesmas três categorias de investigação em contabilidade.
Pelo facto de não ser este o objetivo principal deste estudo, não se aprofundará mais esta
discussão.
O autor partilha de uma visão inicialmente mais positivista; contudo, é manifestamente forte
uma tendência crescente para um dos paradigmas alternativos. Neste momento, aceita-se
uma perspectiva eclética que tente conjugar os três paradigmas, consoante o objecto a
estudar.
Os episódios do início deste século, iniciados pelos escândalos da Enron e da Worldcom
nos Estados Unidos da América, levaram a que fossem renovadas as atenções sobre a
importância da ética na contabilidade. Sentiram-se reacções a diversos níveis: entidades
reguladoras dos mercados, entidades reguladoras das profissões e no comportamento dos
profissionais. Como exemplo, vejam-se os trabalhos de Helliar e Bebbington (2004), Lovell
(2005), Pierce (2006), McPhail (2006) e Molyneaux (2008), publicados pelo The Institute of
Chartered Accountants of Scotland1.
Desta forma e com base nas leituras efectuadas, propomo-nos responder às seguintes
questões:
Q1: A investigação em contabilidade obedeceu, no período 1999-2012, à tendência
dominante do paradigma positivista?
Q2: As revistas consideradas mainstream, no período 1999-2012, dão ênfase à
investigação em ética e contabilidade, publicando artigos relacionados com
fraudes ou sobre os casos da Enron ou Worldcom?
Q3: O ritmo de publicação de artigos sobre escândalos contabilísticos alterou-se
depois de 2001 e até 2012?
Metodologia
No seguimento do primeiro objectivo, foi resumida a bibliografia mais relevante que
caracteriza os três paradigmas mais importantes: o positivista, o interpretativo e o crítico.
1
www.icas.org.uk
5
Relativamente ao segundo objetivo deste estudo, tornou-se imperativo proceder a uma
escolha de revistas e de artigos nas mesmas. Trieschmann et al. (2000) analisaram artigos
de diversas revistas, em diversas áreas, elegendo três revistas consideradas “de referência”:
The Accounting Review, Journal of Accounting Research, e Journal of Accounting and
Economics. Buchheit et al. (2002), apoiados na escolha apresentada no estudo anterior,
procuraram reflectir o número de artigos publicados por área (incluindo a área contabilística)
e o tipo de instituições ligadas às revistas referidas. Hasselback et al. (2003) analisaram 40
revistas, num período de 35 anos, estabelecendo um ranking de revistas na área
contabilística e dos autores que demonstraram, nesse período, maior capacidade de
produção de artigos científicos. As três revistas mencionadas anteriormente mantêm-se no
topo da lista, registando-se ainda a referência, nos dez primeiros lugares, à Accounting,
Organizations and Society. Ballas e Theoharakis (2003) e Bonner et al. (2006) apresentam,
também, trabalhos neste seguimento, confirmando as escolhas já mencionadas e
acrescentando a Accounting, Auditing & Accountability Journal, entre muitas outras. Numa
perspectiva mais localizada, Lowe e Locke (2005), analisaram a qualidade de diversas
revistas através de um inquérito realizado a académicos no Reino Unido. Este estudo
reflectiu, ainda, uma classificação das revistas de acordo com os paradigmas de
investigação já apresentados. Mais uma vez se confirmaram as revistas já indicadas e
entendeu-se juntar a este estudo a Critical Perspectives on Accounting2.
Depois desta primeira escolha considerou-se que uma análise de algumas revistas mais
especializadas em publicar artigos sobre ética traria uma perspectiva mais rica sobre a
questão. Desta forma, analisaram-se outros trabalhos. Bernardi et al. (2008) compararam o
nível de investigação em ética em 25 revistas científicas e na lista das Top-40 revistas
usada por Hasselback et al. (2003), concluindo que o nível de investigação em ética tem
vindo a aumentar desde 1992. Este estudo permitiu selecionar a revista Business & Society.
Uysal (2008) utilizou uma análise bibliométrica para analisar, empiricamente, a investigação
em ética nos negócios publicada num conjunto de revistas, no período 1988-2007,
destacando-se o Journal of Business Ethics. Seleccionaram-se ainda as revistas Issues in
Accounting Education e Business Ethics: A European Review. Bampton e Cowton (2009),
suportados numa base de quase 500 artigos recolhidos em diversas revistas científicas
entre 1990 e 2007, tentaram avaliar a qualidade da investigação efectuada nesses artigos,
considerando algumas questões éticas ligadas à contabilidade. Este trabalho permitiu
confirmar algumas das escolhas anteriores. Finalmente e justificando a escolha, em
particular, do Journal of Business Ethics, analisou-se o trabalho de Collins (2000) que
realçou o acentuado aumento de publicação nesta revista, ao analisar todos os artigos
publicados na mesma, desde a sua criação e até 1999. Fica clara a importância desta
2
A Tabela 1 lista os acrónimos dos nomes das revistas
6
revista no panorama das revistas que publicam artigos em ética, sendo também evidente
que, como o próprio autor refere, há ainda muito a fazer nesta área.
Notam-se coincidências nestes rankings mas alguma dificuldade na escolha de critérios
para os estabelecer. Logo, o processo de escolha das revistas para este estudo não foi
tarefa fácil nem objectiva: as revistas publicam com ritmos diferentes, com quantidades de
artigos diferentes e com tendências de investigação diferentes. Além disso, as revistas têm
diferentes objectivos e âmbitos de publicação. Contudo, conseguiu-se reunir algum
consenso, avançando com uma escolha que abrange revistas cujas publicações se
enquadram nos três paradigmas já enunciados.
Uma última referência para a lista Financial Times Top Academic Journals in the Business
(2007) e para o Impact Factor das revistas apresentadas. Estes elementos foram, também,
considerados para confirmar as revistas escolhidas.
Tabela 1
Acrónimos e nomes das Revistas
TAR
The Accounting Review
JAR
Journal of Accounting Research
JAE
Journal of Accounting and Economics
AOS
Accounting, Organizations and Society
AAA
Accounting, Auditing & Accountability Journal
CPA
Critical Perspectives on Accounting
IAE
Issues in Accounting Education
BEAR
Business Ethics: A European Review
BS
Business & Society
JBE
Journal of Business Ethics
Neste seguimento e considerando as restrições já referidas, escolheu-se o período
compreendido entre 1999 (Janeiro) e 2012 (Dezembro), dentro do qual se enquadram os
escândalos contabilísticos e financeiros que ocorreram nos Estados Unidos da América
(com especial relevância para a Enron e a Worldcom), no ano de 2001.
O passo seguinte conduziu à opção pela recolha de artigos relacionados com ética e a sua
relação com a contabilidade no que respeita, especificamente, a artigos sobre assuntos que
envolvam fraudes ou os escândalos contabilísticos da Enron ou Worldcom.
Sendo este universo muito vasto, optou-se por, em cada revista, observar o título, as
keywords e o abstract do próprio artigo, confirmando-se sempre se continham assuntos
relacionados com as palavras fraud, Enron ou Worldcom. Não foi efectuada análise de
conteúdo aos artigos.
7
Resultados e discussão
A Tabela 2 apresenta um resumo da quantidade de artigos publicados em cada revista, até
2005. Como pode ser observado, a quantidade de artigos publicados foi crescendo ao longo
dos anos. Destaca-se, desde logo, a contribuição do JBE que, sozinho, publicou 39% de
todo o conjunto de revistas escolhidas. Se for retirada esta publicação, a tendência
crescente de artigos publicados mantém-se. As revistas estão apresentadas seguindo o
seguinte critério: primeiro, um conjunto três revistas mais “positivistas” (TAR, JAR e JAE);
depois, um conjunto de três revistas facilmente associadas aos paradigmas “alternativos”
(AOS, AAA, CPA); finalmente, quatro revistas mais especializadas em publicar artigos sobre
ética (IAE, BEAR, BS, JBE). Verificamos que existe similitude entre os dois primeiros
conjuntos (724 e 798 artigos publicados, respectivamente) e que o terceiro conjunto assume
maior relevância devido à consideração do JBE (1851 artigos). Se for retirada esta
publicação, mantém-se a igualdade entre os dois primeiros conjuntos e o terceiro acusa uma
percentagem menor de publicação (26% - 532 artigos). A Figura 1 permite uma visualização
gráfica global e a Figura 2 exclui o JBE.
220
215
210
205
200
195
190
185
180
175
170
165
160
155
150
145
140
135
130
TAR
125
JAR
120
JAE
115
AOS
110
AAA
105
CPA
100
IAE
95
BEAR
90
BS
85
JBE
80
75
70
65
60
55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
8
Figura 1
N.º de artigos publicados em cada revista, entre 1000 e 2005
Tabela 2
N.º de artigos publicados em cada revista, por ano
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Total
Revista
TAR
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
22
5%
19
4%
29
7%
52
10%
42
8%
46
9%
47
9%
257
8%
JAR
36
8%
31
7%
35
8%
49
10%
34
6%
32
6%
27
5%
244
7%
JAE
41
10%
34
8%
19
5%
19
4%
49
9%
27
5%
34
7%
223
7%
AOS
32
7%
37
9%
33
8%
33
6%
31
6%
34
6%
38
7%
238
7%
AAA
32
7%
28
6%
24
6%
28
5%
32
6%
27
5%
37
7%
208
6%
CPA
39
9%
42
10%
36
9%
44
9%
50
10%
86
16%
55
11%
352
10%
IAE
30
7%
25
6%
23
5%
23
4%
24
5%
30
6%
20
4%
175
5%
BEAR
28
7%
29
7%
40
9%
38
7%
35
7%
27
5%
32
6%
229
7%
BS
20
5%
19
4%
17
4%
21
4%
18
3%
14
3%
19
4%
128
4%
JBE
149
35%
168
39%
166
39%
205
40%
210
40%
214
40%
207
40%
1319
39%
Total
429
432
422
512
525
537
90
85
80
75
70
65
60
TAR
55
JAR
50
JAE
AOS
45
AAA
40
CPA
35
IAE
BEAR
30
BS
25
20
15
10
5
0
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Figura 2
N.º de artigos publicados em cada revista, por ano (exclui JBE)
516
3373
21%
24%
16%
9
A análise gráfica permite perceber, mais rapidamente, a importância do JBE no contexto
geral de publicações. Destaca-se, ainda, a CPA que, no ano de 2004, publicou um número
especial dedicado à Enron. Os anos de 2003 e 2004 são, nesta amostra, os anos mais
fortes em número de publicações.
A Tabela 3 apresenta um resumo da quantidade de artigos publicados em cada revista, no
período escolhido, de acordo com o critério estabelecido. Como pode ser observado, a
quantidade de artigos publicados foi, também, crescendo ao longo dos anos, registando-se
um decréscimo no ano de 2005. O JBE contribui em especial para estas tendências (51
artigos) mas, ainda que se retire da amostra, a tendência é exactamente a mesma.
Observa-se, contudo, uma tendência positiva de publicação de artigos sobre “fraude”, a
“Enron” ou a “Worldcom” nas revistas “alternativas, com realce para a AOS (70 artigos). As
revistas “positivistas” publicaram pouco sobre estes assuntos (43 artigos), ressalvando-se,
no entanto, o caso do JAE (33 artigos). Este facto está relacionado com os objectivos e
âmbito de publicação, em particular, desta revista. É possível destacar três publicações que
registam, consistentemente, um maior número de publicações: AOS, CPA e JBE. Em
conjunto são responsáveis por 65% (168 artigos) de todos os artigos publicados de acordo
com o critério estabelecido (255 artigos). A Figura 3 ilustra, graficamente, estas tendências.
Tabela 3
N.º de artigos com “fraud”, “Enron” ou “Worldcom” no título, resumo ou palavras-chave
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Total
Revista
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
N.º
%
TAR
0
0%
0
0%
3
13%
0
0%
1
2%
0
0%
1
2%
5
2%
JAR
3
17%
0
0%
0
0%
1
4%
1
2%
0
0%
0
0%
5
2%
JAE
2
11%
4
21%
3
13%
1
4%
3
7%
9
13%
11
19%
33
13%
AOS
7
39%
8
42%
8
35%
9
38%
9
22%
15
21%
14
24%
70
27%
AAA
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
2
5%
1
1%
1
2%
4
2%
CPA
1
6%
0
0%
4
17%
4
17%
4
10%
24
33%
10
17%
47
18%
IAE
4
22%
1
5%
0
0%
1
4%
5
12%
6
8%
3
5%
20
8%
BEAR
0
0%
5
26%
0
0%
0
0%
2
5%
0
0%
0
0%
7
3%
BS
0
0%
1
5%
0
0%
4
17%
4
10%
1
1%
3
5%
13
5%
JBE
1
6%
0
0%
5
22%
4
17%
10
24%
16
22%
15
26%
51
20%
Total
18
19
23
24
41
72
58
255
17%
47%
16%
10
25
24
23
22
21
20
19
18
17
TAR
16
JAR
15
JAE
14
AOS
13
AAA
12
CPA
11
IAE
10
9
BEAR
8
BS
7
JBE
6
5
4
3
2
1
0
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Figura 3
N.º de artigos com “fraud”, “Enron” ou “Worldcom” no título, resumo ou palavras-chave
A Figura 3 permite verificar, com mais rapidez, a tendência crescente de publicação de
acordo com o critério estabelecido, a partir do ano de 2003, destacando-se, novamente, o
ano de 2004. É inegável que as revistas publicaram mais sobre estes assuntos.
É um fenómeno que se interpreta como consequência dos escândalos financeiros
verificados em 2001, pela necessidade de perceber o que, porque e como aconteceu. Estas
tendências encontram-se, também, na mesma linha dos resultados encontrados por Uysal
(2009).
O JBE, em particular, aumentou de forma substancial, a quantidade de artigos sobre estes
assuntos. Se o critério utilizado fosse mais abrangente, os resultados seriam, muito
provavelmente, mais expressivos. Esta revista apresenta ritmos de publicação crescentes,
como se pode observar pela análise da Tabela 4 (e da Figura 4), que apresentam todos os
11
artigos publicados no JBE desde a sua criação. Collins (2000) já tinha concluído no mesmo
sentido ao relatar os primeiros dezasseis anos de publicação do JBE, até atingir os 1500
artigos publicados.
Tabela 4
N.º de artigos publicados no JBE
Anos
JBE
%
1982
40
1,02%
1983
29
0,74%
400
1984
39
0,99%
375
1985
58
1,47%
1986
56
1,42%
350
1987
72
1,83%
325
1988
109
2,77%
1989
104
2,64%
1990
98
2,49%
1991
96
2,44%
1992
99
2,52%
1993
98
2,49%
1994
93
2,36%
1995
87
2,21%
1996
135
3,43%
1997
153
3,89%
1998
154
3,91%
1999
149
3,79%
2000
168
4,27%
2001
166
4,22%
2002
205
5,21%
2003
210
5,34%
2004
214
5,44%
2005
207
5,26%
2006
185
4,70%
25
2007
178
4,52%
0
2008
301
7,65%
2009
378
9,61%
2010 (1)
54
1,37%
3935
100,00%
300
275
250
225
200
175
150
125
100
75
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
50
Figura 4
(1)
Resultados até ao momento em
que este trabalho está a ser efectuado
N.º de artigos publicados no JBE
Estes resultados, embora permitam retirar algumas conclusões, apresentam limitações
devido à natureza do estudo. Por outras palavras, considera-se que o período escolhido é
demasiado curto para conclusões inequívocas que serão, obrigatoriamente, limitadas. Outro
factor limitativo consiste na quantidade e qualidade das revistas seleccionadas. Embora
tenha sido feito um esforço para incluir revistas reconhecidas pelo autor e por outros autores
como “de referência”, há muita informação dispersa por outras publicações, capaz de
solidificar estes resultados ou de os relativizar, conforme as situações. Finalmente e aquela
que poderá ser a maior limitação na opinião do autor deste estudo, a escolha das “palavraschave” que levou às conclusões sobre artigos que as contêm. O autor deste estudo está
12
convicto que a escolha destas palavras poderá produzir resultados distorcidos pelo que a
introdução de mais critérios ou de um critério mais apurado poderia ter produzido outros
resultados, cientificamente mais válidos.
Desta forma, fica ainda muito por fazer, no sentido de aprofundar e melhorar o estudo ora
apresentado. Será importante alargar substancialmente o período de análise, incluindo mais
anos antes de 2001, selecionar revistas consultando mais bibliografia relevante sobre o
assunto, acrescentar mais “palavras-chave” à análise, realizar análise de conteúdo aos
artigos para se perceber melhor os seus objectivos e o paradigma de investigação seguido e
incluir mais publicações na área da accounting ethics em particular. Refere-se, ainda, que o
autor pesquisou outras publicações mas esbarrou com dificuldades não superadas de obter
informação sobre os artigos publicados, keywords e respetivos resumos (abstracts). Veja-se,
como exemplo, o Business and Professional Ethics Journal.
A confrontação, com os resultados obtidos, permitiu ainda aferir até que ponto terá sido
possível responder às questões de investigação inicialmente formuladas.
Q1: A investigação em contabilidade obedeceu, no período 1999-2012, à tendência
dominante do paradigma positivista?
Entre 1999 e 2005 não se obtiveram resultados suficientes para concluir neste sentido,
especialmente pelo período de análise ser demasiado restritivo. Observa-se que nas
três publicações mais “positivistas” (TAR, JAR, JAE) o número de artigos publicados
está muito próximo do das revistas “alternativas” (AOS, AAA, CPA), pelo que é
necessário aprofundar mais a investigação, com análise de conteúdo aos artigos,
experimentando um período mais alargado.
Q2: As revistas consideradas mainstream, no período 1999-2012, dão ênfase à investigação
em ética e contabilidade, publicando artigos relacionados com fraudes ou sobre os
casos da Enron ou Worldcom?
Entre 1999 e 2005, observa-se um comportamento pouco relevante nos casos da TAR
e JAR que publicaram, cada uma, 2% (10 artigos) do total de artigos em causa (255
artigos). O JAE aumentou consideravelmente o número de artigos nesta área, desde
2003 e até 2005 (de 3 para 11). A AOS e a CPA apresentam ênfase muito relevante,
com 27% (70 artigos) e 18% (47 artigos), respectivamente, do total de artigos. Na AAA
não se percebe qualquer relevância em publicar nesta área (4 artigos de 1999 a 2005).
Desta forma, as revistas consideradas mainstream, no período 1999-2005, dão pouca
ênfase à investigação em ética e contabilidade, publicando artigos relacionados com
fraudes, a Enron ou a Worldcom. Torna-se necessário, novamente, alargar o período
de análise e incluir outras revistas que se identifiquem com este paradigma.
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Q3: O ritmo de publicação de artigos sobre escândalos contabilísticos alterou-se depois de
2001 e até 2012?
Considerando todas as revistas analisadas entre 1999 e 2005, registou-se um aumento
de 152% (de 23 para 58 artigos) no ritmo de publicação de artigos com base no critério
escolhido. Realça-se ainda que até ao ano de 2004 o aumento foi de 213% (de 23 para
72 artigos) e que houve um decréscimo de quase 20% (14 artigos) de 2004 para 2005.
O ano de 2004, sozinho, publicou aproximadamente 28% de todos os artigos. Quem
regista o maior aumento, em percentagem, foi o JAE, como já foi referido. A TAR
decresceu 67% (de 3 para 1 artigo) e o JAR e a BEAR mantiveram o mesmo ritmo (0
artigos). A CPA aumentou o seu ritmo de publicação em 150% (4 para 10 artigos), a
AOS aumentou em 75% (de 8 para 14 artigos) e o JBE aumentou em 200% (de 5 para
15 artigos), o que representa o maior aumento em termos absolutos. Última referência
para a BS que passou de 0 para 3 artigos. Mais análise seria considerada muito útil
para consolidar estas conclusões, como já foi explicado.
Conclusões preliminares
Este estudo representa um esforço específico de tentar assinalar tendências relativamente
ao paradigma de investigação dominante na investigação actual em Contabilidade, pela
análise de artigos em algumas revistas científicas internacionais, evidenciando ainda
tendências de publicação no domínio específico da ética em contabilidade. Teve ainda,
como objectivo, fazer uma abordagem aos paradigmas de investigação mais conhecidos, de
forma a clarificar o posicionamento do autor.
O estudo efetuado até ao momento considera-se enriquecedor e importante no sentido que
tenta perceber de que forma têm evoluído os ritmos de publicação, em algumas revistas,
logo após os escândalos financeiros ocorridos em 2001, com especial destaque para a
Enron e a Worldcom.
As conclusões preliminares apontam para um crescimento dos artigos publicados, desde
1999 a 2005 e para um ainda maior aumento dos artigos publicados na área da ética em
contabilidade e das fraudes em particular.
São apontadas diversas limitações ao estudo efectuado e abertas novas avenidas para
investigação futura, mais aprofundada e mais abrangente.
Fica ainda por esclarecer, com evidência empírica relevante se a investigação em
contabilidade obedeceu, no período 1999-2012, à tendência dominante do paradigma
positivista. Contudo, considera-se ter sido possível, com alguma segurança, afirmar que
estas revistas, consideradas mainstream, dão pouca ênfase a esta área, em contrapartida
das restantes, mais ecléticas e consideradas “alternativas”.
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