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ISSN 2318-3462
Volume 2, Número 2, Mai/Ago. 2015.
FinP ENTREVISTA
PEDRO SILVA: Historiador Português
PEDRO SILVA
A TERRA DE VERA CRUZ (BRASIL)
ANDERSON LUPO NUNES
A FÍSICA QUÂNTICA: sua relação com a
Tradição Esotérica e Exotérica
DOUGLAS ESTEVAM & ITALO GODINHO
DEUS MEUMQUE JUS
GEORGE VICTOR BRIGAGÃO
O ESOTERISMO DO QUATERNÁRIO
ROGÉRIO BITTENCOURT DE MIRANDA
3º YORKSHOP: Apresentando o Rito de
York (report)
NOTíCIA HISTÓRICA (DE 2000)
Associação
YORK RIO
Apoio:
Realização:
TRATADO DE AMIZADE FRATERNAL:
GOB, GLMERJ, GOIRJ (na íntegra)
Volume 2, Número 2, Mai/Ago. 2015.
Missão:
O objetivo da FRATERNITAS IN PRAXIS é desenvolver e promover estudos e pesquisas sobre Maçonaria, Martinismo, Rosacrucianismo, Templarismo, Alquimia, Cabala e temas correlacionados, com foco em História,
Filosofia, Teologia e Ciências Sociais. Sua dimensão internacional busca promover maior intercâmbio entre
pesquisadores de diferentes culturas, saberes e formação.
Dados Catalográficos:
ISSN 2318-3462
Maio a Agosto de 2015.
Volume 02.
Número 02.
Periodicidade:
Quadrimestral
Conselho Editorial
Luiz Franklin de Mattos Silva (Editor-Chefe)
Antônio Alberto de Jesus de Pina Júnior
José Roberto Coutinho
Rogério Bittencourt de Miranda
Anderson Lupo Nunes
Contato
Editor-Chefe: [email protected]
Suporte Técnico: [email protected]
Portal: www.fraternitasinpraxis.com.br
Contato geral: [email protected]
Parceiros Institucionais:
Associação YORK RIO
Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro
Ilustração da Capa:
George Washington como Venerável Mestre
De Loja em Alexandria, Virgínia. Foto de Domínio Público.
Fonte: //en.wikipedia.org/wiki/Freemasonry#/media/
File:Washington_Masonic_print.jpg
Aviso:
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas
não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Revista Fraternitas in Praxis—FinP.
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citados o autor e a fonte.
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Volume 2, Número 2, Mai/Ago. 2015.
Sumário
Apresentação
5
FinP Entrevista: Pedro Silva, escritor Português
7-8
Física Quântica e sua relação com a Tradição Esotérica e Exotérica
ANDERSON LUPO NUNES
9-17
A Terra de Vera Cruz (Brasil)
PEDRO SILVA
19-24
Deus Meumque Jus
DOUGLAS ESTEVAM SILVA; ITALO GODINHO SILVA
25-32
O Esoterismo do Quaternário
GEORGE VICTOR BRIGAGÃO
33-39
3º YORKSHOP: Apresentando o Rito de York
ROGÉRIO BITTENCOURT DE MIRANDA
41-42
NOTÍCIA HISTÓRICA: Tratado de Amizade Fraternal entre GOB, GLMERJ e
GOIRJ
43-47
Diretrizes para Autores
FRATERNITAS IN PRAXIS
49
3
4
ISSN 2318-3462
Volume 2, Número 2, Mai/Ago. 2015.
Apresentação
de York na Cidade do Rio de Janeiro, que contou com
70 maçons das 3 obediências regulares do Brasil.
Georges Victor Brigagão Maçom, Martinista e
Rosacruz, analisa o Esoterismo do Quaternário, unindo as percepções de escolas irmãs dessas e tradições
iniciáticas.
A Física Quântica é o tema apesentado por
Anderson Lupo Nunes, também Mestre Maçom, Rosacruz e Martinista no artigo A Física Quântica e sua
Relação com a Tradição Esotérica e Exotérica.
Para finalizar, lembro Cora Coralina, nossa
poetiza da cidade de Goiás ou Goiás Velho, que com
sua sábia simplicidade nos alerta "o que vale na vida
não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher".
NOVAS FRONTEIRAS
Amigos leitores apresento-vos o novo número
da Revista Fraternitas in Praxis - FinP.
Merece destaque a entrevista com nosso estimado Pedro Silva, um estudioso renomado sobre os
templários em terras Lusitanas que, ainda, nos brinda
com um artigo sobre o Brasil, A Terra de Vera Cruz,
que traz conceitos muito interessantes. Inauguramos
um profícuo intercâmbio com autores de outras nacionalidades.
O autor Pedro Silva nasceu em Tomar
(Portugal). Cedo deu provas do seu interesse pela escrita, tendo alcançado o seu primeiro prêmio literário
com apenas dez anos de idade. Colaborador assíduo
de diversos órgãos de comunicação social, o autor
alcançou a sua estreia literária em 2000, através da
obra sobre os Templários chamada "Ordem do Templo: Em Nome da Fé Cristã". Um ano depois lançou
no Brasil "História e Mistérios dos Templários"
Esperamos que apreciem o artigo DEUS MEUMQUE JUS de autoria de dois novos pesquisadores,
Douglas Estevam e Ítalo Godinho, que associam os
Direitos Humanos e, Maçonaria e Ordem DeMolay.
Num momento tão conflituoso ou beligerante
da maçonaria no Brasil, o Conselho Editorial da FinP
publica a Notícia Histórica: TRATADO DE RECONHECIMENTO E AMIZADE—RJ. Nele, trazemos a baila um
documento raro de 2015, perdido no tempo: Tratado de Fraternal Amizade entre o GOB-RJ, a
GLMERJ e o GOIRJ, firmado em 2000, pelos três
Grãos Mestres da época.
Rogério Bittencourt de Miranda, Mestre Maçom e Sumo Sacerdote do Capitulo York nº 40 de Maçons do Real Arco apresenta-nos notícias do 3º
YORKSHOP, um seminário de apresentação do Rito
Boas leituras e até breve!
Luiz Franklin de Mattos Silva
Editor-Chefe
[email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 5, Mai/Ago, 2015.
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ISSN 2318-3462
Volume 2, Número 2, Mai/Ago. 2015.
Entrevista: Pedro Silva
tendo intervenção directa (por influência do poPS: Basicamente, sou um Escritor Português que se derio sociopolítico de
dedica sobretudo ao ensaio histórico, mas sem des- São Bernardo de Claracurar outras áreas literárias como a ficção. Tenho, val, mentor da Ordem
até ao momento, 62 livros publicados, grande parte do Templo e monge de
deles no Brasil país onde lancei o meu primeiro título Cister) no apoio a um
reino independente cuja
no ano de 2001.
criação oficial devemos
a Dom Afonso Henri2) Fale-nos de sua trajetória pessoal.
ques. Existe, inclusivaPS: Em termos académicos, sou Licenciado em Histómente, uma interessanria, com minor em Cultura e Religião, tendo obtido a
te teoria que coloca, na mesma rota, a Casa de BorPós-Graduação em Estudos Portugueses Multidiscigonha (de onde descendem o primeiro monarca porplinares, nas vertentes de Literatura e História. Sou
tuguês e o seu primo Bernardo de Claraval), as OrCidadão Honorário da Cidade Velha (Cabo Verde) e
dens de Cister e dos Templários com a nobreza de
Patrono da Biblioteca Municipal Dr. Pedro Silva, inauEntre Douro E Minho para a fundação de uma nova
gurada em 14 de Março de 2015, sita na Ribeira
nação que viria a chamar-se, primeiro, Condado PorGrande de Santiago (Cabo Verde).
tucalense e, finalmente, Portugal.
1) Você poderia apresentar-se ao publico leitor a FinP?
3) Como surgiu o interesse pelo tema
5) Há uma influência efetiva da Ordem do
“Templários”?
Templo ou Ordem de Cristo no
PS: Tendo nascido em Tomar, cidade templária portuguesa por excelência, a temática dos Templários “descobrimento do Brasil” ou podemos con"viveu" sempre na minha pessoa. Acabou por ser siderar isso uma especulação?
PS: Creio que a influência é inevitavelmente comprovada pela iconografia. Basta atentarmos na utilização da Cruz de Cristo (símbolo oficial da Ordem ho4) Que fatos relevantes você poderia desta- mónima portuguesa) nas caravelas. E mesmo que
saibamos que esse uso não foi factual desde o pricar na história da Ordem do Templo em Pormeiro momento, o Brasil - em 1500 - surge na histótugal?
ria portuguesa numa fase adiantada dos DescobriPS: Na minha óptica, os Templários foram veros fun- mentos nacionais e, portanto, em um período em
dadores de um novo país ou, por outro lado, tendo que a influência da Ordem de Cristo era uma realidaintervenção directa (por influência do poderio socio- de factual. Por outro lado, e tendo a certeza da despolítico de São Bernardo de Claraval, mentor da Or- cendência directa da Ordem de Cristo dos Templádem do Templo e monge de Cister) no apoio a um rios - ao menos em Portugal nada, tampouco a incúreino independente cuja criação oficial devemos a
perfeitamente natural que um dos primeiros livros
que escrevi fosse sobre a Ordem Militar e Religiosa.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 7-8, Mai/Ago, 2015.
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FinP ENTREVISTA: PEDRO SILVA
ria, consegue desmentir essa realidade - é simples
concluir que, mesmo que de forma indirecta, os Templários acabaram por "estar" também na descoberta
do Brasil.
Resposta: No tocante aos meus livros sobre os Cavaleiros Templários, quiçá aquele que mais me "tocou",
sobretudo pelo tempo necessário à sua confecção e à
amplitude temática foi «Templários em Portugal (a
verdadeira história)», editado no Brasil sob a chancela da são-paulista Ícone Editora. Não apenas foi bem
recebido pelo leitor, mas deu-me um tremendo prazer intelectual criar esse texto. Isto sem deixar de referir que todos os meus 62 livros são, para mim, especiais.
6) Fale um pouco de seus livros sobre a Ordem do Templo.
PS: Como referi acima, na altura em que escrevo estas linhas (Agosto de 2015), tenho 62 livros publicados. 16 deles são, curiosamente, a respeito dos Templários, publicados em Portugal, no Brasil, em Espanha e um deles no Chile. Assumo aquilo que considero a melhor forma de estudar a Ordem do Templo:
isenção. Não pertencendo, eu, a qualquer Ordem neo
-templária ou fraternal de algum tipo, torna-se mais
fácil pesar os prós e os contras sem melindrar seja
quem for. Enquanto profano, os meus livros têm sido
(felizmente) bem aceites pela esmagadora maioria do
público leitor, sejam leigos ou iniciados. Em termos
estritamente teóricos, analiso a Ordem do Templo na
sua abrangência internacional e, depois, concentrando-me na sua presença no meu país, resultando daí
um interessante meio de comparação entre obras.
9) Deixe-nos suas palavras finais.
PS: Antes de mais, quero agradecer a oportunidade
que me deram - na pessoa do seu Editor Luiz Franklin
de Mattos - para deixar estas breves, mas sentidas,
linhas. Foi uma honra participar na revista Fraternitas
In Praxis. Um abraço fraterno aos amigos da Associação York Rio, do Círculo Martinista Independente e
ao GOIRJ. Aos leitores, a minha estima e consideração e que esta parceria possa criar novos vínculos
entre as partes na busca de um mundo melhor.
7) Acredita que existe uma vinculação entre
a Ordem do Templo e a maçonaria?
PS: Na minha qualidade de Historiador, sei que os
Templários foram criados e abolidos pelo único responsável capacitado para tal, o Papa, enquanto líder
máximo da Igreja Católica. Creio que urge que sejamos sérios nesta questão. A Igreja criou-os no século
XII e aboliu-os no início do século XIV. Ponto final. A
Maçonaria Especulativa nasce posteriormente. Ou
seja, não creio que haja vínculo directo. Mas, por outro lado, defendo a visão - mais ampla - de uma vinculação indirecta entre as ordens, nomeadamente o
cariz fraternal, o aproveitamento de alguns rituais,
etc. Isso, sim, é algo que não podemos escamotear.
8) Existe, dentre esses, um que você considere o mais querido?
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 7-8 Mai/Ago, 2015.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 08/01/2015
Aprovado: 15/03/2015
a física quântica e sua relação com as tradições esotéricas e exotéricas
Autor: Anderson Lupo Nunes ¹
Resumo
É feita uma introdução acerca dos princípios básicos da Física Quântica como área da Ciência fundamentada
no método científico e na observação da Natureza. É apresentado o problema da causalidade do colapso da
função de onda quântica sob diversos pontos de vista, culminando na chamada interpretação de Copenhague e o papel do observador neste processo. O papel da Consciência, pelo Idealismo Monista em oposição
ao Realismo Materialista, nos leva a um possível embasamento científico para conceitos muito antigos e oriundo das Tradições Exotéricas e Esotéricas. Diversas relações e abordagens buscando uma interdisciplinaridade ou mesmo uma transdisciplinaridade entre a Física Quântica e o que pode ser chamado de Espiritualidade são apresentadas. Chega-se a uma conclusão que o abismo formado entre Ciência e Religião é circunstancial e que a Física Quântica desempenha um papel fundamental nesta reaproximação.
Palavras-chave: Maçonaria; Esoterismo, Física Quântica, Consciência.
Abstract
An introduction on the basic principles of quantum physics as a field of science based on the scientific method and observation of nature is made. It's presented the problem of causality the collapse of the quantum
wave function from various points of view, culminating in the so-called Copenhagen interpretation and the
role of the observer in this process. The role of consciousness, the Monistic Idealism as opposed to realism
materialistic, leads to a possible scientific basis for very old concepts and originating from the exoteric and
esoteric traditions. Many relationships and approaches seeking an interdisciplinary or even transdisciplinary
between quantum physics and what can be called spirituality are made. It's concluded that the gap formed
between science and religion is circumstantial and that quantum physics plays a key role in this rapprochement.
Keywords: quantum physics, mysticism, realism materialistic and idealism monista.
¹ Anderson Lupo Nunes possui graduação em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003) e mestrado em Engenharia
Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006), Doutor em Física (2015). Tem experiência na área de Engenharia Nuclear, com ênfase em Núcleo do Reator, atuando principalmente nos seguintes temas: equações da cinética pontual, método de
confinamento da rigidez e métodos numéricos. Atua também na área de Ensino de Física e de Eletrônica. É Mestre Maçom da
ARLS de Pesquisas Rio de Janeiro No. 54—GOIRJ/COMAB. E-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 9—17, Mai/Ago, 2015.
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NUNES, A. L. a física quântica e sua relação com as tradições esotéricas e exotéricas
1. Introdução
A Física, como se concebe nos dias de hoje,
está fundamentada no chamado Método Científico.
Segundo Silva (2001) o método foi desenvolvido por
três grandes expoentes da Ciência:
Galileu Galilei (1564-1642) que deu um tratamento teórico ao assunto em seu método experimental. Para ele, o foco da Ciência deveria ser as relações quantitativas e não qualitativas.
Francis Bacon (1561-1626) que em sua obra
Novum Organum critica o processo de abstração e
silogismo de Aristóteles e defende que a descoberta
dos fatos verdadeiros se dá a partir da observação e
experimentação dos fenômenos guiados pelo raciocínio indutivo.
René Descartes (1596-1650) que em sua monumental obra “O Discurso sobre o Método” cria o
chamado método dedutivo, em detrimento do método indutivo, afirmando que chega-se a certeza a partir da razão, como princípio absoluto do conhecimento humano.
Uma forma de definir o Método Científico é
apresentada por Wynn e Wiggins (2002) e transcrita
abaixo na Figura 1. Não se pode deixar de citar Isaac
Newton (1642-1727), nascido exatamente no ano de
falecimento de Galileu, como um dos responsáveis
pela consolidação do Método Científico a partir de
sua construção da chamada Física Clássica. Newton
estabelece uma sólida teoria capaz de explicar satisfatoriamente a Mecânica dentro dos limites da observação sensorial humana e que permaneceu soberana
até o advento das Teorias Quântica e Relativística.
(GLEICK, 2004)
A Física Quântica surge a partir da teoria estabelecida por Max Planck (1858-1947) para explicar a
profunda divergência entre os resultados experimentais para a radiação de corpo negro com relação a
teoria clássica desenvolvida por Lord Rayleigh (18421919) e James H. Jeans (1877-1946). Esta divergência
entre a Lei de Rayleigh-Jeans e os resultados experimentais ficou conhecida como catástrofe ultravioleta.
Planck considerou em 1900 que a energia só poderia
existir em pequenos pacotes definidos como quanta.
Alguns anos mais tarde, Albert Einstein (1879-1955)
usou a hipótese de quantização da energia para explicar outro resultado experimental, o Efeito Fotoelétrico. Foi ele quem criou o termo fóton para definir cada pacote de energia que é um múltiplo inteiro da
constante de Planck vezes a freqüência vibratória (h x
f). (EISBERG; RESNICK, 1994)
Figura 1: Método científico (WYNN; WIGGINS, 2002)
Fonte: adaptado pelo autor
No início do século XX alguns cientistas desenvolveram os princípios da Física Quântica, construindo uma sólida teoria capaz de descrever satisfatoriamente os insólitos fenômenos que ocorrem no âmago da matéria, ou seja, em escala molecular, atômica
ou subatômica. Tratam-se, de acordo com Nunes &
Nunes (2009), de Niels Bohr (1885-1962), Louis de
Broglie (1892-1987), Erwin Schrödinger (1887-1961),
Werner Heisenberg (1901-1976), Wolfgang Pauli
(1900 – 1958) e David Bohm (1917-1992). Segundo
Chaves e Shellard (2005) no ano de 2001 um terço do
PIB norte-americano era proveniente de tecnologias
derivadas da Física Quântica, mostrando que ela é
uma realidade bastante sólida e relevante no cenário
científico da atualidade.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 9—17, Mai/Ago, 2015.
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NUNES, A. L. a física quântica e sua relação com as tradições esotéricas e exotéricas
2. Princípios Básicos da Física Quântic
Os princípios básicos da Física Quântica são
abordados em diversas referências na literatura científica. Ressalto as descrições feitas por Feynman
(1965), Eisberg e Resnick (1994) e Hewit (2002) pela
sua objetividade e profundidade.
2.1. Dualidade Onda-partícula
A matéria, em seu aspecto mais fundamental,
manifesta-se a partir de características de partícula e
de onda, ou seja, suas características em um determinado experimento realizado sob certas condições se
assemelham com uma partícula clássica, mas em outro experimento, sob condições diversas condições o
mesmo objeto quântico apresenta características que
se assemelham com uma onda clássica. Louis de Broglie definiu a onda de matéria e estabeleceu a equação que permite o cálculo do comprimento de onda
de qualquer elemento material (elétrons, prótons e
nêutrons). Assim, o comprimento de onda (λ) é igual
a constante de Planck (h) dividida pelo produto da
massa (m) pela velocidade (v) do elemento material.
Um estudo bem completo sobre a dualidade ondapartícula é feito em Elbaz (2014).
O Princípio da Incerteza de Heisenberg quebra com o paradigma da Física Clássica de que sabendo exatamente a posição e a velocidade de uma partícula em um determinado instante e conhecidas as
forças que atuam sobre ela seria possível obter a sua
posição exata em qualquer instante (posterior ou anterior). Pela Física Quântica o máximo que se consegue obter é uma probabilidade da partícula estar em
uma determinada posição. Segundo o próprio Heisenberg (1996) é impossível descobrir todos os fatos
parciais necessários à descrição completa de um processo físico. Deck (2015) comprova que o Princípio da
Incerteza, juntamente com o Princípio da Invariância,
são os pilares básicos da Teoria Quântica.
2.3. A Função de Onda Quântica
A equação básica que descreve a Mecânica
Quântica foi formulada em termos ondulatórios por
Schrödinger no final de 1925 e publicada em 1926 e
em termos matriciais por Heisenberg em 1925, que
posteriormente comprovou que as duas formulações
são compatíveis. A função de onda Ψ(r,t) é uma função complexa cujo módulo ao quadrado é igual a probabilidade de encontrar o objeto quântico em uma
posição r em um instante t. Pela interpretação de Copenhague da Física Quântica, o ato de observar um
evento físico provoca o colapso da função de onda
quântica Ψ(r,t). Isso significa que antes da medição o
estado do sistema permitia muitas possibilidades,
mas apenas uma delas foi escolhida aleatoriamente
2.2. Princípio da Incerteza
pelo processo de medição e a função de onda quântiHeisenberg estabeleceu que existe um limite ca modifica-se instantaneamente para refletir esta
para a precisão de uma medida experimental intrín- escolha. Este aspecto é abordado satisfatoriamente
seco ao próprio objeto quântico. Desta forma, torna- por Feyman (1965), Wolf (2013) e Goswami (2007).
se impossível obter a posição ou a quantidade de movimento (o produto da massa (m) pela velocidade (v)) 2.4. Princípio da Complementaridade
de maneira absoluta, ou seja, com incerteza igual a
Bohr estabeleceu este princípio em 1928,
zero. O produto destas duas incertezas (posição e
quantidade de movimento) é sempre maior ou igual afirmando que a natureza ondulatória e corpuscular
a constante de Planck dividida por 4 vezes π da matéria e das radiações são complementares. Isso
implica que se um experimento evidencia um aspecto
(3,14159...).
de onda, é impossível comprovar o aspecto de partícula na mesma medida. Pelo experimento da fenda
dupla de Thomas Young (1773-1829), aplicado a um
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 9—17, Mai/Ago, 2015.
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NUNES, A. L. a física quântica e sua relação com as tradições esotéricas e exotéricas
objeto quântico, como por exemplo, um elétron, verifica-se que: Ao passar um elétron pela fenda dupla
não é feita a medição por qual fenda o elétron passou e aparece uma figura de interferência no anteparo o que evidencia a natureza ondulatória do elétron.
Repete-se o experimento com a diferença de que
sensores foram colocados nas duas fendas para ser
identificado por qual fenda o elétron passou. Surpreendentemente o efeito de interferência desaparece e
o elétron evidencia a sua natureza corpuscular (de
partícula). Observe que o resultado do experimento
da fenda dupla comprova o Princípio de Complementaridade.
Surge a questão de profundas implicações
filosóficas: O que provoca o colapso da função de onda quântica? Em breve retornaremos a esta questão.
2.5. O Princípio de Exclusão
Pauli em 1925 enunciou o famoso princípio
que estabelece que em um átomo multieletrônico
nunca pode haver mais de um elétron ocupando o
mesmo estado quântico. Isso ocorre porque o sistema total de elétrons deve ser descrito por autofunções totais antisimétricas que se anulam caso mais de
um elétron ocupe um determinado estado quântico.
A relevância deste princípio implica se dois ou mais
elétrons pudessem ocupar o mesmo estado quântico,
todos os átomos teriam propriedades similares aos
dos gases nobres, ou seja, não poderiam se combinar
formando moléculas. O Princípio de Exclusão é que
permite a existência de moléculas e, consequentemente, a existência da vida.
Segundo Orear (1982), Pauli inicialmente
obteve a quantidade de elétrons em cada estado
quântico, obtendo para o primeiro estado quântico
(n=1 ou orbital K) um total de dois elétrons, para o
segundo estado quântico (n=2 ou orbital L) um total
de oito elétrons e assim sucessivamente, obtendo K
(2 elétrons), L (8 elétrons), M (18 elétrons), N (32 elétrons), O (18 elétrons), P (8 elétrons) e Q (2 elétrons)
a partir de uma regra que ainda não podia ser deduzida. Um ano depois foi descoberto que os elétrons
possuem um momento angular intrínseco, denominado spin. Pouco depois da descoberta do spin Pauli
e Dirac desenvolveram uma teoria relativística de
partículas de spin ½. Assim, pelo princípio de exclusão e a descoberta do spin foi possível explicar a distribuição eletrônica e a formação das moléculas.
2.6. Princípio da Correspondência
Este princípio também foi estabelecido por
Bohr e determina que a Teoria Quântica, nos limites
em que a constante de Planck seja considerada desprezível, deve coincidir seus resultados com a Física
Clássica ou Física Newtoniana. Assim sendo, ele demonstra que nestes limites regulados pela própria
constante de Planck a equação de Schrödinger deve
obter resultados idênticos àqueles obtidos pelas Leis
de Newton. Assim será com as Leis de Newton que
explicam os movimentos das estrelas e planetas como é com a Física Quântica que regula os movimentos em escalas atômicas e sub-atômicas. É óbvio que
ninguém vai deixar de usar as Leis de Newton para
descrever a queda livre de uma pedra de 500g, mas é
possível obter os mesmos resultados partindo da Teoria Quântica.
2.7. Correlação Não-local
Em 1982, Alan Aspect e seus colaboradores
da Universidade de Paris-Sud conseguiram realizar
um experimento que comprovou a correlação nãolocal a partir de fótons correlacionados em singlet.
Quando um dos dois fótons correlacionados é observado, sua função de onda quântica colapsa. Simultaneamente o outro fóton também colapsa a sua função a onda quântica para o mesmo estado. Note que
isso ocorre exatamente no mesmo instante, sem ser
possível a transmissão informação por qualquer meio
material, lembrando que nada ultrapassa a velocidade da luz. O observador que provoca o colapso da
função de onda dos dois fótons correlacionados atua
fora dos limites do espaço-tempo porque ambos os
fótons colapsam sua função de onda quântica exatamente no mesmo instante. Segundo Goswami (2007)
não existe uma explicação dentro do espaço-tempo
que justifique os resultados do experimento de Aspect.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 9—17, Mai/Ago, 2015.
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NUNES, A. L. a física quântica e sua relação com as tradições esotéricas e exotéricas
3. Considerações acerca do Observador
Para chegar a uma explicação coerente com
todos os princípios básicos da Física Quântica tornase necessário estabelecer os referenciais que norteiam as duas correntes de pensamento. Tratam-se do
Realismo Materialista e do Idealismo Monista.
No ponto de vista do Realismo Materialista a
consciência é simplesmente um atributo da matéria.
A mente não é nada mais do que secreções de glândulas no cérebro. Segundo Bezerra & Orsi (2013) não
existe uma causa para o colapso da função de onda
quântica. Viola-se o princípio da causalidade, ou seja,
de que todo efeito possui uma causa, mas conservase o paradigma do Realismo Materialista de que só
existe matéria.
Já no ponto de vista do Idealismo Monista a
matéria é um atributo da consciência. Assim, a consciência é a responsável pelo colapso da função de
onda quântica. Note que trata-se de uma consciência
não-local, ou seja, fora dos limites do espaço tempo.
Esta hipótese se confirma por todos os experimentos
realizados até agora, incluindo os da fenda dupla de
Young e da correlação não-local de Aspect. A vantagem do Idealismo Monista é que o princípio de causalidade é mantido.
A maioria dos físicos defende o Realismo
Materialista tais como o próprio Heisenberg (1996)
que afirma categoricamente que estava convencido
de que para a ocorrência dos insólitos fenômenos da
Física Quântica não existe uma causa. Feynman
(1965), afirma que não se sabe mais nada além do
que o cálculo das probabilidades da partícula estar
em uma determinada posição em um certo instante,
ou seja, se existir uma causa para o colapso da função
de onda quântica ela é desconhecida. Ainda segundo
Bezerra e Orsi (2013) a maioria dos físicos não está
mais preocupada com a existência de uma causa para
o colapso da função de onda quântica.
Quanto ao Idealismo Monista, alguns físicos
defendem a idéia básica de que uma consciência
transcendental determine o colapso da função de
onda quântica e assim mantenha o Universo
“funcionando”. Capra (1995) afirma que a Teoria
Quântica revela um estado de interconexão essencial
do Universo e que existe um estado de entrelaçamento entre o observador humano e sua consciência.
Goswami (2007) diz que a medição de um fenômeno
se completa quando a consciência transcendente
ocasiona o colapso da função de onda quântica através do cérebro-mente que observa com percepção.
O conceito de uma consciência transcendente e coletiva foi tratado amplamente na área da psicologia por C. G. Jung (1875-1961). Jung (2002) afirma que existe uma camada de inconsciente mais profunda que contém aqueles padrões da percepção psíquica comuns a toda a humanidade o qual chamou
de inconsciente coletivo. Pelo fato deste inconsciente
coletivo, que denominamos aqui de consciência
transcendente, ser o campo das experiências arquetípicas, ele considerou a mais significativa e a suprema
fonte psíquica do poder, da totalidade e da transformação interior. O próprio Pauli se correspondeu muito com Jung e a partir daí teria investigado estes conceitos acerca do inconsciente coletivo e da sincronicidade que possui evidente relação com a correlação
não-local, embora não ligada a questão da causalidade. É bastante plausível que tenha colaborado ativamente com as interfaces entre a Física Quântica e a
Psicologia Analítica (JUNG, 2011).
É evidente que o Idealismo Monista referente
a hipótese de que uma consciência transcendental ou
inconsciente coletivo ser responsável pelo colapso da
função de onda quântica abre um caminho de relação direta entre a Física Quântica e os conceitos relacionados com as Tradições Exotéricas e Esotéricas.
Entenda-se por Exotérica aquele conhecimento difundido para o amplo publico, em geral pelas Religiões. Já o termo Esotérica é relacionado com aquele
conhecimento restrito para círculos de iniciados nas
mais diversas ordens secretas/discretas, tais como a
Maçonaria e o Rosacrucianismo.
4. As Relações da Física Quântica com o Exoterismo
Oriental
As relações entre a Física Quântica e o Exoterismo Oriental são profundas e bastante claras. Capra (1995) estabelece a relação do conceito de Brahman como aquela consciência trancendente que co-
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NUNES, A. L. a física quântica e sua relação com as tradições esotéricas e exotéricas
considerar as formas, estruturas, fatos e coisas como
realidades existentes fora de nós, quando na verdade são apenas o resultado de nossa observação dos
fenômenos. Goswami (2007) trata do caminho da
Yoga como forma de proporcionar um salto quântico
para a consciência pessoal usando o termo atman
quântico.
Tanto Goswami (2007), quanto Capra
(1995), relacionam a Física Quântica com o taoísmo a
partir do princípio da complementaridade onde a
dualidade onda-partícula pode ser expressa pelos
conceitos de Yin e Yang, onde Yang representa o
masculino, o céu, a razão e o Yin é o feminino, a terra, o receptivo, a intuição. Bohr estava bastante
consciente do paralelo entre o conceito de complementaridade e o pensamento chinês. Tanto é verdade que colocou o símbolo taoísta que representa o
Yin-Yang em seu escudo heráldico, conforme podese verificar na figura 2. Note a inscrição “Os contrários de complementam”, clara alusão ao Princípio de
Complementaridade da Física Quântica.
Figura 2: Escudo Heráldico de Niels Bohr
Fonte: http://canalhypatia-bohr.blogspot.com.br/2009/02/escudo-
heraldico-de-niels-bohr.html
O Budismo também está relacionado fortemente com os conceitos da Física Quântica, segundo
Capra (1995). Nele estão presentes os conceitos de
fluxo e impermanência, que é semelhante ao conceito hindu de Maya. Também existe o conceito do Nirvana onde ocorre um salto quântico e o individuo
possui a experiência da totalidade que leva ao Caminho do Meio entre extremos opostos. Observa-se as
relações com o Princípio da Complementaridade e
com o colapso da função de onda pela consciência
transcedental. Segundo Durão (2003), o Budismo tem
como objetivo levar o indivíduo ao estado de Nirvana
é atingido pela prática do caminho do meio, ou seja,
longe dos opostos.
5. As Relações da Física Quântica com o Exoterismo
Ocidental
A própria Bíblia Sagrada revela de uma forma
um tanto quanto velada aspectos da Física Quântica.
Em Gênesis, capítulo 1, o momento da Criação é descrito como “E Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz se
fez.” Pode-se compreender este momento como a
alusão de que a existência da luz, ou seja, fótons, se
dá pelo colapso da função de onda a partir da vontade de um observador transcendente. Também em
Genesis, no capítulo 2 há uma alusão de que a observação desta consciência transcendente persiste para
todo o sempre no texto: “No sétimo dia Deus descansou de toda a obra que fizera.” Naturalmente o verbo
descansar remete a idéia de observar sem agir diretamente. Mas não trata-se de uma observação totalmente passiva, pois o ato de observar implica no colapso da função de onda quântico para cada processo
que ocorre no Universo. (BÍBLIA SAGRADA, 2012)
Também no Novo Testamento encontra-se
referências implícitas a uma consciência transcendental que tudo observa. No Evangelho de João, capítulo
14: “O Pai que habita em mim é que realiza suas
obras”. Também aparece referência ao Princípio da
Complementaridade toda vez que elementos opostos
são ressaltados, como por exemplo, trevas e luz, morte e vida, bem e mal. (BÍBLIA SAGRADA, 2012)
6. As Relações da Física Quântica com as Leis Herméticas
As Leis Herméticas são fundamentais quando se fala das Escolas Esotéricas.
Os Três Iniciados (1978) revelam no livro denominado O Caibalion as Leis Herméticas que remontam a sabedoria tradicional do antigo Egito. Cada uma
delas possui surpreendente paralelo com os princípios básicos da Física Quântica.
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NUNES, A. L. a física quântica e sua relação com as tradições esotéricas e exotéricas
6.1. O Princípio de Mentalismo:
“O Todo é Mente. O Universo é mental.”
Este primeiro princípio se relaciona com o Idealismo
Monista de que a matéria é um atributo da consciência e de que o colapso da função de onda quântica ocorre devido a observação de uma consciência
transcendental que contém a nossa consciência
pessoal.
6.2. O Princípio de Correspondência:
“O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima.” Alude claramente ao Princípio de Correspondência da Física Quântica que estabelece que as Leis
de Newton (o que está em cima) implicam no mesmo resultado que a Física Quântica (o que está embaixo) no limite de validade de ambas teorias.
6.3. O Princípio de Vibração:
“Nada está parado; tudo se move; tudo vibra.” Este princípio está claramente ligado ao fato
de a matéria possui um comprimento de onda, as
ondas de matéria descritas por de Broglie. A freqüência vibratória é a principal característica da natureza ondulatória dos objetos quânticos.
6.4. O Princípio de Polridade:
“Tudo é Duplo; tudo tem pólos; tudo tem
seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa;
os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias verdades; todos os paradoxos podem
ser reconciliados.” Evidente paralelo com o Princípio
da Complementaridade e com a Dualidade OndaPartícula.
6.5. O Princípio de Ritmo:
“Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas
marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por
oscilações compensadas; a medida do movimento à
direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação.” Mais uma vez alusão às ondas de matéria, só que desta vez de modo ainda
mais direto.
6.6. O Princípio de Causa e Efeito:
“Toda Causa tem o seu Efeito, todo Efeito
tem a sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei;
o Acaso é o nome dado a uma Lei não reconhecido;
há muitos planos de causalidade, porém nada escapa
à Lei.” Este princípio destrói completamente o Realismo Materialista no que concerne a Física Quântica. A
única Causa possível para o colapso da função de onda quântica é uma consciência transcendente, aos
moldes do inconsciente coletivo de Jung.
6.7. O Princípio de Gênero:
“O Gênero está em tudo; tudo tem o seu
princípio masculino e o seu princípio feminino; o gênero se manifesta em todos os planos” Este princípio
pode se relacionar ao Princípio de Complementaridade de Bohr, mas também pode se relacionar ao Princípio de Exclusão de Pauli, pois cada estado quântico
só pode ser ocupado por um único elétron, assim como o indivíduo possui um único gênero no ato da criação. Mesmo um hermafrodita só manifesta um gênero (masculino ou feminino) de cada vez.
Segundo SANTOS (2012) o Caibalion é o livro
que contém o resumo dos preceitos herméticos oriundos do Antigo Egito e da Grécia e foi divulgado por
um grupo de mantenedores dos Arcanos da Verdade.
Estes preceitos místicos teriam sido divulgados a partir do Egito, espalhando-se pela Pérsia, Caldeia, Assíria, Índia, China, Japão, Grécia e Roma. Adeptos e
Mestres espalharam-se pelo muundo, divulgando seu
conhecimento.
7. As Relações da Física Quântica com o Esoterismo
Além dos princípios Herméticos, a Física
Quântica se relaciona com aspectos gerais do Esoterismo. Segundo Arola (1986), o simbolismo do Templo de Salomão remete ao templo interior, o qual o
templo histórico foi apenas uma representação material. Remete claramente ao conceito de uma consciência transcendente, o poder criador que surge a partir do colapso da função de onda quântica.
Queroz (2010) e Hurtak (1996) também tratam dos aspectos simbólicos do Templo de Salomão,
relacionando com o próprio homem, conectado com
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NUNES, A. L. a física quântica e sua relação com as tradições esotéricas e exotéricas
BÍBLIA SAGRADA, Trad. Domingos Zamagna. Editora
Vozes Ltda. 51a Ed., Petrópolis, RJ, 2012.
sua essência cósmica. Hurtak (1996) dá um destaque
as letras hebraicas, chamadas de letras de fogo.
Leadbeater (1928) traça um panorama geral
do simbolismo contido na Franco-maçonaria em seus
aspectos de religiosidade, sem entretanto tornar-se
uma Religião. Marques (2011) faz uma bela introdução dos conceitos da Árvore da Vida da Cabala sob o
ponto de vista do Rosacrucianismo. A sephiiroth de
Kether a Malkut representam os diversos estados
quânticos e também os níveis de consciência.
CAPRA, Fritjof, O Tao da Física. Editora Cultrix, São
Paulo, 1995.
CHAVES, A. & SHELLARD, R. C. Física para o Brasil:
pensando o futuro. SBF. 2005.
DECK, R. T. A Formulation of Quantum Theory Based
on Two Physical Principles. Jornal of Modern Physics,
6, p. 434-447, 2015.
DURÃO, João Ferreira. Pequeno Glossário de Filosofia, Esoterismo, História Antiga e Medieval. Editora
Madras, São Paulo, 2003.
8. Considerações Finais
Um tema bastante complexo que é relacionar a Física Quântica com a Tradição Primordial, em
seus aspectos exotéricos e esotéricos. Nossa filiação
com Deus é percebida em cada lugar onde o senso de
religiosidade se faz presente.
Nota-se que o assunto é vasto e que merece
ser abordado de maneira mais restrita. A comparação
entre o Realismo Material e o Idealismo Monista nos
leva a uma consideração subjetiva de que é difícil
manter o que conceito de o colapso da função de onda quântica por uma consciência transcendente, por
conta da sofisticação do processo.
Os paralelos traçados entre o Caibalion e a
Física Quântica foram surpreendentemente relacionados em todos os sete princípios herméticos. Diversas
referências na Bíblia Sagrada atestam que não é só na
tradição oriental que o Idealismo Monista ganha terreno.
O paradigma do Realismo Materialista é realmente abalado por conta do advento da Física Quântica. O Idealismo Monista relacionado aos fundamentos da Física Quântica abre um vasto campo de interação entre Ciência e Religião. O abismo criado entre
elas não é tão grande assim e pode ser superado por
um salto quântico na perspectiva menos dogmática e
mais aberta.
EISBERG, Robert & RESNICK, Robert. Física Quântica,
Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Partículas.
Ed. Campus, 9ª edição, 1994.
ELBAZ, Claude. Wave-Particle Duality in Einstein-de
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FEYNMAN, Richard P., LEIGHTON, Robert B. &
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GLEICK, James. Isaac Newton, uma biografia. Companhia das Letras, São Paulo, 2004.
GOSWAMI, Amit. O Universo Autoconsciente. Editora Aleph, São Paulo, 2007.
HEISENBERG, W. A Parte e o Todo. Trad. Vera Ribeiro, Ed. Contraponto. Rio de Janeiro, 1996.
HEWIT, P. G. Física Conceitual. Trad. Trieste Freire
Rici e Maria Helena Gravina. Bookman. Porto Alegre,
2002.
HURTAK, J.J.. As Chaves de Enoch. Academia para
Ciência Futura, São Paulo, 1996.
JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente
Coletivo. Editora Vozes, 2ª edição. Petrópolis, 2002.
9. Referências Bibliográficas
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16ª edição. Petrópolis, 2011.
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MARQUES, Hélio de Moraes e (coordenação e supervisão). A Cabala Desvendada. Biblioteca Rosacruz, Curitiba, 2011.
QUEIROZ, Álvaro de. A Geometria Maçônica. Editora
Madras, São Paulo, 2010.
SANTOS, Yedda Pereira dos. Dicionário de Alquimia.
Editora Madras, São Paulo, 2012.
TRÊS INICIADOS. O Caibalion, estudo da filosofia hermética do antigo Egito e da Grécia. Ed. Pensamento,
São Paulo, 1978.
WOLF, Fred Alan. O Tecido do Espaço-Tempo. Ed. Cultrix. São Paulo, 2013.
WYNN, Charles M. & WIGGINS, Arthur. As Cinco Maiores Idéias da Ciência. Ediouro, 2002.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 24/07/2015
Aprovado: 16/08/2015
A TERRA DE VERA CRUZ (BRASIL)
Autor: Pedro Silva ¹
Resumo:
A descoberta ou o “achamento” do Brasil faz parte de um plano bem urdido, incluindo alterações ao nível do
célebre Tratado de Tordesilhas. Do mesmo modo a despreocupação total com a descoberta dos Estados
Unidos da América, alguns anos antes. O que foi feito para que Portugal pudesse encontrar aquele espaço
territorial no hemisfério sul do globo terrestre? De quem parte esse tal “plano”? Muitos historiadores afirmam que se trata do “Plano Templário”, outros renegam essa possibilidade, mas julgam-na fruto do legado
do Infante D. Henrique que D. Manuel soube aproveitar com mestria.
Palavras-chave: Templários, Brasil, Portugal, Descobrimento, D.Henrique
Abstract
The discovery (or "finding") of Brazil is part of a very elaborated plan, including modifications at the same
notorious level of Treaty of Tordesillas. Likewise, the complete lack of concern with the discovery of the United States, some years before. What was made to Portugal to find that territorial space in the south hemisphere of the the terrestrial globe? From whom came this "plan"? Many historians say that is a "Templar
Plan", other historians deny this possibility, but judge it as a result from the Henry the Navigator's legacy
which D. Manuel knew how to take mastery advantage.
Keywords: Knight Templars, Brazil, Portugal, Discovery, D.Henrique
¹ Escritor e pesquisador português, nascido em Tomar, com diversos livros publicados sobre a Ordem do Templo em Portugal ,
Brasil e na cidade de Tomar. E-mail: [email protected]
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SILVA, P. A TERRA DE VERACRUZ (BRASIL)
Introdução
Segundo Tito Lívio Ferreira, a Ordem de
Cristo esteve presente no Brasil desde a
primeira missa e durante todo o período
a que chama de “desbravamento, povoamento, humanização e evangelização”,
ao longo de 300 anos. Sempre rodeada
de mistérios e louvores, a herança dos
Templários parece ter sobrevivido por
muito mais que três séculos após ter
atravessado o Atlântico.
História e Lenda dos Templários
A descoberta do Brasil faz parte, naturalmente,
de um plano bem urdido – não há maneira de escamotear que tudo (incluindo alterações ao nível do
célebre Tratado de Tordesilhas, assim como a despreocupação total com a descoberta dos Estados Unidos
da América, alguns anos antes1 tenha sido feito para
que Portugal pudesse encontrar aquele espaço territorial no hemisfério sul do globo terrestre. Agora,
uma grande questão se coloca: de quem parte esse
tal “plano”? Muitos historiadores são lestos a afirmar
que se trata do “Plano Templário”, outros renegam
essa possibilidade, mas julgam-na fruto do legado do
Infante D. Henrique que D. Manuel soube aproveitar
com mestria.
Nesse mundo latino ainda caótico, desorganizado e subdivido, apenas o reino de
Portugal apresenta, no Outono Medieval,
as características próprias de uma nação
organizada, constituída e estruturada, e
daí ter-se preparado, como se preparou,
para ser no século XV o porta-bandeira da
civilização cristã no planeta. (…) Em Sagres
e em Lagos, sob a direcção do Infante D.
Henrique, príncipe do Atlântico, se processava a transformação da Europa, da Idade
Média para a Idade Moderna, a interligação dos povos de todas as latitudes e longitudes, de todos os meridianos.
(…) Pela bula de 12 de Março de 1455,
Calixto III confirma a anterior de Nicolau
V, e concede a jurisdição espiritual das
terras do Cabo Nao, na costa de África, até
à Índia4, na Ásia, à Ordem de Cristo, governada pelo Infante D. Henrique (…) Segundo as determinações específicas dos papas
referidos, as terras descobertas pelos portugueses seriam adjudicadas naturalmente ao património da Ordem de Cavalaria
de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas rendas
podiam ser empregadas na empresa dos
Descobrimentos marítimos portugueses,
por isso o património da Ordem de Cristo
podia ser aumentado, jamais diminuído
por forma alguma.
(…) Traçada a fronteira ideal das terras
pertencentes a Castela e das terras adjudicadas à Ordem de Cristo, pelo Tratado de
Tordesilhas, em 1494, quatro anos mais
tarde, em 1498, Duarte Pacheco Pereira,
mandado por D. Manoel I, cruza o Atlântico de norte a sul, para localizar geograficamente o património ultramarino da Ordem de Cristo, no novo continente e chega até ao Cabo de Santo Agostinho, no
litoral do atual Estado da Paraíba.”5
Desenvolvimento
Muito temos lido e pesquisado, mas, até ao momento, ainda não houve, da parte de ninguém, uma
resposta cabal a esta dúvida que assola a mente de
muitos. Da nossa parte, estamos em crer que, sem
sombra de dúvida, a Ordem de Cristo2 os sucessores
dos Templários) são parte fundamental no achamento desse grande país sul-americano. Razões para esta
afirmação são várias: apesar de algumas dúvidas, é
de crer que seria a bandeira da Cruz de Cristo a esvoaçar nas caravelas que partiram em direcção ao Brasil. Para além disso, o comandante da embarcação
A possibilidade de o Brasil ser conhecido antes
pertencia à Ordem citada.3 Por último, a distribuição de 1500 tem sido uma das teorias mais debatidas nos
territorial foi entregue, assim como a parte religiosa, últimos tempos, quer por investigadores portugueem primeira instância, à milícia portuguesa.
ses, quer por brasileiros. Um ponto interessante a
fixar é que Duarte Pacheco Pereira, um famoso aventureiro dos mares, na sua obra Esmeraldo de Situ OrFinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 19-24 , Mai/Ago, 2015.
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SILVA, P. A TERRA DE VERACRUZ (BRASIL)
bis, redigida por volta de 1505, aborda a possibilidade de ter sido enviado por D. Manuel numa pesquisa
por mares que iriam desembocar em território brasileiro. Não menos verdade é afirmar que a sua obra
foi publicada posteriormente à chegada de Pedro Álvares Cabral à Terra de Vera Cruz, o que levanta a
possibilidade de se tratar de pura ficção.
Um célebre investigador português refere que
“não parece plausível que um homem (nota: Duarte
Pacheco Pereira) que participou na fase final das negociações de Tordesilhas, tendo sido, inclusivamente,
por determinação do Príncipe Perfeito (nota: D. Manuel), um dos signatários do Tratado – distinção que
nem sempre refere, tal como não menciona a sua
relevante actuação na defesa do reino de Cochim
(1504), nem o acolhimento triunfal que D. Manuel
lhe reservou (1505) – procurasse valorizar o seu currículo com uma viagem inexistente. (…) As ilações a
retirar são, pois, a de que a expedição de 1498 foi
comandada pelo autor do Esmeraldo e que a mesma
atingiu os objetivos pretendidos pelo rei de Portugal”.6
Atestada que está a capacidade de navegação
de Duarte Pacheco Pereira7 e, por arrastamento, a
sua incapacidade para efabular sobre viagens, cremos, então, que a dúvida principal que se coloca – e
sem possibilidade de ser resolvida – consiste em se
considerar, ou não, como válida a interpretação dos
investigadores modernos. Isto, pois a viagem de Duarte Pacheco, na realidade, existiu. Agora, se encontrou ou não um porto seguro em qualquer local do
Brasil, bem, sobre isso, apenas os próprios o poderiam confirmar, visto que, de uma interpretação da
obra Esmeraldo, jamais existe uma clareza relativa ao
território brasileiro. Porém, a interpretação pode ser
conduzida nesse sentido. Enfim, um imbróglio que
quase ninguém tem tido a capacidade de assumir, de
forma concreta. Fiquemos, no entanto, com a parte
mais polémica, e que mais tem dado azo a teorias, da
pena de Duarte Pacheco Pereira:
bem-aventurado Príncipe, temos sabido e
visto como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos Vossa
Alteza mandou descobrir a parte oucidental, passando além da grandeza do mar
oceano, onde é achada e navegada tão
grande terra firme, com muitas e grandes
ilhas adjacentes a ela, que se estende a
setenta graos de ladeza da linha equinocial contra o pólo ártico e, posto que seja
assaz fora, é grandemente povoada (…) é
achada esta terra não navegada pelos navios de Vossa Alteza e, por vosso mando e
licença, pelos dos vossos vassalos e naturais; e indo por esta costa sobredita, do
mesmo círculo equinocial em diante, per
vinte e oito graos de ladeza contra o pólo
antárctico, é achado nela munto e fino
brasil8 com outras cousas de que os navios
nestes reinos vêm grandemente carregados.”
Eis-nos, então, apesar das polémicas, chegados
ao ano de 1500. A 8 de Março desse ano, uma frota9
de treze navios, comandados por Pedro Álvares Cabral,10 preparava-se, a partir de Belém (Lisboa) para
se encaminhar rumo ao “desconhecido” oceano. Com
uma tripulação de 1500 homens, era uma esquadra
bem preparada e com uma missão bem delineada. A
21 de Abril desse ano avistam terra firme e, no dia
seguinte, os portugueses pisam as finas areias do
continente sul-americano, sob o olhar dos ameríndios
locais. Apesar dos preparativos, o cenário que encontraram foi, aos seus olhos europeus, deslumbrante,
como se atesta através da Carta de Pêro Vaz de Caminha:
E além do que dito é, a experiência, que é
a madre de todas as coisas, nos desengana e de toda a dúvida nos tira; e portanto,
Na quarta-feira seguinte, pela manhã topamos aves a que chamam fura-buchos e
neste dia, a horas de véspera, avistámos
terra, a saber: em primeiro lugar um monte grande, muito alto e redondo e outras
serras mais baixas ao sul dele; e terra rasa,
com grandes arvoredos. Ao mesmo monte
pôs o Capitão o nome de Monte Pascoal; e
à Terra – Terra de Vera Cruz. Mandou lan-
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 19-24 , Mai/Ago, 2015.
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SILVA, P. A TERRA DE VERACRUZ (BRASIL)
çar o prumo e acharam 25 braças e ao pôr
-do-sol, a cerca de 6 léguas da terra, lançamos âncoras com 19 braças; a ancoragem
foi boa. Ali ficamos toda aquela noite e na
quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e
seguimos direito à terra com os navios
pequenos (…) Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de 7
ou 8, segundo os navios pequenos disseram, porque chegaram primeiro. Ali lançamos os bateis e esquifes à água e vieram
logo todos os capitães das naves a esta
nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o
Capitão mandou no batel, a terra, Nicolau
Coelho para ver aquele rio; e quando começou a ir para lá acorreram, à praia, homens, aos dois e três; assim, quando o
batel chegou à foz do rio estavam lá 18 ou
20 homens, parados todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos e setas nas mãos.
Vinham todos rijos para o batel e Nicolau
Coelho fez-lhes sinal para que deixassem
os arcos e eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que
aproveitasse porque o mar batia com força na costa. Apenas lhes deu um barrete
vermelho e uma carapuça de linho que
levava na cabeça e um sombreiro preto. E
um deles deu-lhe um sombreiro de penas
de aves, compridas, com uma copazinha
pequena, de penas vermelhas e pardas
como as de papagaio. E outro deu-lhe um
ramal grande de continhas brancas e miúdas que parecem ser de aljaveira.
Considerações Finais
Assim, estava encontrado, pelo menos a nível
oficial, este país que, ainda hoje se revela como o
mais belo fruto da árvore dos Descobrimentos Portugueses, onde a língua de Camões ecoa em milhões de
pessoas, localizadas tão longe de Portugal. Estamos
em crer que tal se deveu, sobretudo, aos esforços da
Ordem de Cristo, herdeira directa dos conhecimentos
Templários. Tanto assim é que o primeiro símbolo a
figurar na Terra de Vera Cruz não foi a bandeira por-
tuguesa, mas, isso sim, a célebre Cruz de Cristo, no
padrão dos Descobrimentos.
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Cristo e Santigo. In: As Ordens Militares em Portugal,
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Tomar: Editora Cidade de Tomar, 1986.
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TZUKERNIK, D. Uma nova luz sobre as expedições de
Colombo. Revista “Ocidente”. Lisboa, nº 273 – Vol.
LX, p. 3-20, Janeiro de 1961.
Notas finais
1
O Tesouro Templário em Portugal, de Patrício Cristóvão, refere
que “É evidente que Portugal pouca importância dava ao continente americano sob o ponto de vista económico. Conhecia
todo o continente, percorrido mais de vinte anos antes da data
oficial da descoberta por navegadores portugueses, mas também por tradição; já os Templários sabiam da sua existência. Era
o mundo dos deuses antigos, daqueles que trouxeram verdadeiros conhecimentos ao povo do velho continente, o que justificava o grande conceito templário como o de todos os conhecedores da história: «ao erguer-se qualquer obra de vulto procurai as
ruínas do passado». (…) Portugal foi sempre um pequeno país
que conservava as suas fronteiras sem pretender expandir-se na
sua posição europeia; não lhe faltaram oportunidades, porém,
Portugal não era um país qualquer, era um templo construído
pelos Templários. Tinha uma missão a cumprir e essa englobava
toda a Humanidade.” (pág. 36). Acrescente-se, ainda, a teoria
que pretende a descoberta dos Estados Unidos da América por
navegadores portugueses, na obra A Ordem de Cristo e o Brasil,
da pena de Tito Lívio Ferreira, pág. 53: “«As nossas investiga-
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 19-24 , Mai/Ago, 2015.
22
SILVA, P. A TERRA DE VERACRUZ (BRASIL)
ções, porém, conduziram-nos a uma nítida conclusão: marinheiros portugueses visitaram muitas vezes as Terras do Novo Mundo, ainda antes da primeira viagem de Colombo (…) A única base do projecto de Colombo foram as instruções que ele recebeu
em Portugal. Com efeito, o que determinou Colombo em sua
empresa foram os dados, e especialmente o mapa obtido dos
marinheiros que tinham visitado o Novo Mundo nos anos 80.
Demonstraremos que esses homens que visitaram a América
anteriormente a Colombo eram marinheiros de navios portugueses. (D. Tzukernik, Uma nova luz sobre as expedições de Colombo, em «Ocidente» - Lisboa, Janeiro de 1961; nº 273 – Vol.
LX, ps. 3 a 20).
2
Nada nos diz, documento algum atesta que essa cruz (nota: de
Cristo) fosse nos panos do esbelto barco criado pela ciência marítima dos portugueses – a caravela (…) Está assente de há muito, em heráldica, que as armas nos escudos, peitorais, casas,
navios, etc., se começaram e continuaram a usar por motivo de
precisão de se reconhecer facilmente quem delas fazia uso. Em
longínquas épocas se principiaram a empregar por difícil se tornar, especialmente na tumultuosidade da guerra, o reconhecer
os guerreiros vivos ou mortos, em virtude do cerramento das
suas armaduras. (…) Assim se criou a armaria que largamente se
estendeu. (…) Estas eram colocadas também nos seus pertences: portões, palácios, arreios dos cavalos, e, se barcos tinha,
nas velas eram pintadas, para que, no mar, se discriminassem e
respeitasse o poder do seu proprietário. Se, deste modo, era
uso generalizado, não acontecia o mesmo em Portugal, nos primeiros oitenta anos dos Descobrimentos. O Infante D. Henrique
tinha as suas armas próprias que só empregava no que a si dizia
respeito, mas, como chefe da Ordem de Cristo, que ao mar se
lançava, com a bandeira desta é que ele honrava os capitães das
suas barcas (…) D. Henrique que vive até 1460 e seus barcos,
pois, sempre levaram a Cruz de Cristo, mas essa nobre bandeira
era como que testemunho de posse da sua Ordem e em sinal de
reconhecimento de que, sem ela, não teria sido o grande homem, devido ao qual meio mundo começou por ver, mais cedo,
o descobrimento do outro meio.” (pp. 8-10, da obra A Cruz da
Ordem de Cristo nos navios dos Descobrimentos Portugueses,
de Vieira Guimarães) .
3
De acordo com Patrício Cristóvão, na sua obra O Tesouro Templário em Portugal, havia uma componente de secretismo em
torno da Ordem de Cristo, dos navegadores e dos Mestres que
engendraram os chamados Descobrimentos Portugueses: “Não
há lugar para dúvida quando se fala de ocultismo e ciências secretas praticadas na Antiguidade. Foi um facto que a história
comprova. Estranho nos parece que os historiadores confiem
nos documentos legados tomando como verdade indiscutível o
seu conteúdo. (…) A Ordem de Cristo fechou-se à divulgação no
tocante à conquista dos bens terrenos que sabia só conduziam à
anarquia e à guerra, geradas pela cobiça. Porém, era aberta à lei
divina, ao Velho e Novo Testamento como a renúncia e sacrifício
dos santos. Será que alguém pensa que o Infante D. Henrique
ou outro Governador da Ordem iam transmitir os valores descobertos? Não. Havia sim um núcleo, um escol que conhecia as
diretrizes ao qual era exigido segredo fundamental, absoluto.
Missões confiadas sob esse aspecto levaram à história inúmeras
dúvidas pois, é evidente, algo transparecia dos grandes movimentos efetuados. Sabe-se que os navegadores portugueses
quando por força das circunstâncias eram obrigados a fornecer
indicações por escrito, duplicavam as distâncias e alteravam os
ângulos de observação astral.” (pág. 18)
4
De acordo com a obra As Ordens Militares em Portugal, e a
título de curiosidade, refira-se que das 32 personalidades que
constituem a galeria dos Vice-reis e Governadores da Índia, 25
pertenciam à Ordem de Cristo, segundo o estudo de Manuel da
Silva Castelo Branco, no texto “As Ordens Militares na Expansão
Portuguesa”, pp. 57-66. Alguns dos nomes são, a saber: Governador – Lopo Soares de Albergaria (1515 a 1518); Vice-Rei – D.
João de Castro (1545 a 1548); e Vice-Rei – D. António de Noronha (1571 a 1573).
5
Tito Lívio Ferreira, A Ordem de Cristo e o Brasil, pp. 34-45. Na
mesma obra, atente-se ainda à referência da Ordem de Cristo
ao Brasil, na pp. 111-112: “«Não se depara na história universal,
um caso como o da Ordem de Cristo, votada, durante um largo
período, à obra nacional dos Descobrimentos. Daqui, também, o
carácter juntamente heróico e político que assinalou a cavalaria
portuguesa» (Cf. Jaime Cortesão, Introdução à História das Bandeiras. II – p. 186) Assim, se a Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, constituída pela cavalaria portuguesa, única
no género na história das civilizações, não foi combater em Jerusalém, em contrapartida foi a cavalaria dos oceanos e depois a
cavalaria bandeirante para estar em todos os continentes, inclusive ao património da Ordem de Cristo, politicamente, o Estado
do Brasil, a fim de propagar o lusocristianismo, onde irradiam a
civilização grega, o espírito jurídico romano e a teologia judeucristã. E por isso, o português foi em trezentos anos, na Europa,
na Ásia, na África e no Brasil, marinheiro, mercador, missionário
e militar, no bandeirismo.”
6
Jorge Couto, pp. 153-154 da obra A Construção do Brasil. Ainda
sobre Duarte Pacheco Pereira, e até para tentar compreender a
sua estatura moral, atente-se nas palavras do Dicionário de Biografias, pp. 523-524: “Cosmógrafo português e militar, realizou
algumas viagens à costa da Guiné, sob as ordens de D. João II e
figurou entre os membros da delegação portuguesa encarregada de estabelecer com os castelhanos, os termos do Tratado de
Tordesilhas. D. Manuel I, em 1498, encarregou-o de uma expedição relacionada com a demarcação da linha estabelecida pelo
mesmo tratado, o que terá constituído um passo preparatório
do descobrimento do Brasil e depois acompanhou Pedro Álvares
Cabral na viagem de 1500. Depois de várias outras viagens, no-
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 19-24 , Mai/Ago, 2015.
23
SILVA, P. A TERRA DE VERACRUZ (BRASIL)
meadamente à Índia, exerceu o cargo de capitão de S. Jorge da
Mina. Na sua obra revelou-se um dos melhores representantes
da escola náutica portuguesa e afirmou o primado da experiência como fonte do conhecimento, contra o saber livresco tradicionalmente aceito.
7
A revista brasileira Isto É, publica a 19 de Novembro de 1997,
um interessante artigo sobre o desenvolvimento da teoria na
qual Duarte Pacheco Pereira foi o primeiro a chegar ao Brasil.
Atente-se num excerto do texto: “Esqueça tudo o que você
aprendeu na escola sobre o Descobrimento do Brasil. (…) O primeiro português a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira, um génio da astronomia, navegação e geografia e
homem da mais absoluta confiança do rei de Portugal, D. Manoel I. Duarte Pacheco descobriu o Brasil um ano e meio antes de
Cabral, entre Novembro e Dezembro de 1498. O primeiro português a confirmar que existiam terras para lá do Oceano Atlântico desembarcou aqui num ponto localizado nas proximidades
da fronteira do Maranhão com o Pará. De lá iniciou uma viagem
pela costa norte, indo à ilha de Marajó e à foz do rio Amazonas.
Quando regressou a Portugal, o rei ordenou-lhe que a expedição deveria ser mantida em sigilo. O motivo para que a descoberta fosse tratada como segredo de estado era bastante simples: as terras encontravam-se em área espanhola, de acordo
com a divisão estabelecida pelo famoso Tratado de Tordesilhas,
assinado em 1494.
uma frota que parte com destino à Índia, virá a descobrir o Brasil a 22 de Abril de 1500. Seguiu a rota indicada por Vasco da
Gama, mas, ao passar por Cabo Verde, sofre um desvio maior
para sudoeste, atingindo a costa brasileira a 22 de Abril de 1500.
Manda um navio a Portugal com a nova da descoberta e segue
para a Índia, chegando a Calecute em 13 de Setembro de 1500.”
Em Dicionário de Personalidades, obra incluída na colecção História de Portugal, coordenada por José Hermano Saraiva, a descrição do comandante é mais extensa. Porém, optamos por citar
apenas os trechos mais importantes: “Teve na nomeação para
capitão-mor da Armada da Índia a oportunidade da sua vida.
Vasco da Gama abrira o caminho marítimo para a Índia dois
anos antes e Portugal era o centro do mundo. O novo rei, D.
Manuel I, desejava consolidar o poder luso em terras do Oriente. A escolha de Cabral, em detrimento, por exemplo, de Vasco
da Gama, prendeu-se com o facto de D. Manuel I ter entendido
dever mandar à Índia uma armada eminentemente com funções
militares. Apesar dessa componente, o descobrimento (ou achamento) da costa do Brasil, levada a cabo por Pedro Álvares Cabral, em Maio de 1500, parece ter obedecido a instruções precisas, sendo o resultado de observações prévias, feitas por outros
navegadores, em especial depois da partilha do Mundo, baseada no Tratado de Tordesilhas (1494). Assim se entenderá que
Cabral se tenha preocupado em fazer um reconhecimento sumário da costa brasileira e, de imediato, ter enviado a D. Manuel a célebre carta de Pêro Vaz de Caminha, onde se dá conta da
descoberta.” (pág. 126)
8
De acordo com o Grande Dicionário da Língua Portuguesa,
brasil é uma árvore leguminosa, que produz a brasilina para
tinturaria. A Grande Enciclopédia Universal refere ainda que é
uma árvore da família das Papilionáceas, que cresce nos países
tropicais e cuja madeira é o pau-brasil. Ainda sobre a Descoberta do Brasil, esta última obra adensa ainda mais a dúvida, ao
referir que, muito provavelmente, o primeiro europeu a pisar o
solo brasileiro terá sido o navegador espanhol Vicente Yanez
Pizón, entre os anos de 1499 a 1500.
9
“Foi, pois, a esquadra de Pedro Álvares Cabral a primeira que
saiu de Portugal, indo as suas velas «todas assinaladas pelas
cruzes de Cristo», como refere claramente Gaspar Correia, nas
suas «Lendas da Índia». De então por diante, todas as novas
frotas as levaram no seu velame, para que bem alta esta excelsa
cruz fosse também contemplada, por todos os que ao povo, por
ela simbolizado, ficavam a dever o descomunal serviço de descerrar os mares, de contemplar outras estrelas, de ver novas
regiões e de conhecer o resto da Humanidade.”, pág. 16 da obra
de Vieira Guimarães, intitulada A Cruz de Cristo nos Navios dos
Descobrimentos Portugueses.
10
No Dicionário de Biografias, pág. 117, dá-se uma descrição
sucinta do navegador português: “nomeado comandante de
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 19-24 , Mai/Ago, 2015.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 13/05/2015
Aprovado: 02/07/2015
DEUS MEUMQUE JUS
Autor: Douglas Estevam Silva ¹
Ítalo Godinho Silva²
Resumo
O p r e s e n t e a r ti g o t e m p o r o b j e ti v o o f e r e c e r u m a d e f e s a a o s D i r e i t o s H u m a n o s . P a r a i s s o , l a n ç a m ã o d e u m a a n á l i s e h i s t ó r i c o - fi l o s ó fi c a , a b o r d a n d o p o r m e n o r i z a d a mente cada movimento do pensamento humano que deu ensejo à fundamentação
d o s d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s . A o c a b o d e s s a p e r s p e c ti v a , p r e t e n d e - s e e x p o r u m a c r í ti c a a o e n t e n d i m e n t o c o m u m q u e p a i r a a o r e d o r d e s s e t e m a , e x p l i c i t a n d o e r e b a t e n d o o p i n i õ e s e i v a d a s d e s e n s o c o m u m , a l i m e n t a n d o o d e b a t e d e m o c r á ti c o e p r o m o v e n d o u m j a r g ã o a r g u m e n t a ti v o m a i s d e n s o p a r a o d i á l o g o i n s ti t u c i o n a l p e r ti n e n t e à t e m á ti c a .
Palavras-chave: Direitos Humanos; História do Pensamento Humano; diálogo dem o c r á ti c o ; D e M o l a y I n t e r n a ti o n a l .
Abstract
T h i s a r ti c l e a i m s t o p r o v i d e a d e f e n s e f o r H u m a n R i g h t s . T h e r e u n t o , i t m a k e s u s e
of a historical-philosophical analysis, addressing in detail every movement of hum a n t h i n k i n g w h i c h g a v e r i s e t o t h e f o u n d a ti o n o f F u n d a m e n t a l R i g h t s . A t t h e e n d
o f t h i s p e r s p e c ti v e , i t i n t e n d s t o e x p o s e a c r i ti q u e o f c o m m o n u n d e r s t a n d i n g h o v e r i n g a r o u n d t h i s t h e m e , e x p l a i n i n g a n d r e b u tti n g o p i n i o n s b e s e t w i t h c o m m o n
s e n s e , f u e l i n g t h e d e m o c r a ti c d e b a t e a n d p r o m o ti n g a d e n s e r a r g u m e n t a ti v e j a r g o n
f o r i n s ti t u ti o n a l d i a l o g u e r e l e v a n t t o t h e t h e m e .
Keywords: H u m a n R i g h t s ; H u m a n T h i n k i n g ’ s H i s t o r y ; d e m o c r a ti c d i a l o g u e ; D e M o l a y
Internacional.
¹ Ilustre Comendador Cavaleiro eleito do Priorado Mensageiros da Luz, nº 150, graduando em Direito — e-mail: [email protected]
² Graduando em Direito do 4º período da Faculdade de Direito da UERJ — e-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 25-32 Mai/Ago, 2015.
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ESTEVAM, D; GODINHO, I. DEUS MEUMQUE JUS
1. Introdução
Logo após a Segunda guerra Mundial, era de
se esperar que temas como os direitos humanos passassem ao primeiro plano. Uma catástrofe propositada e estupendamente lúgubre que levou a 50 milhões
de mortos não podia fazer outra coisa senão despertar a consciência sensível do valor humano. Isso se
expressou desde a atmosfera mórbida relegada pelo
trauma de Auschwitz a diversos outros pontos de vista: perpassando as urgentes reflexões sobre o Holocausto, até a necessidade imperiosa de enxergar o
humanum genum por um prisma valorativo e não
mais utilitário.
Em 10 de dezembro de 1948, em Paris, é estabelecida a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Diploma de vocação global, de pronto, interpretado, nas palavras de José Pablo Feinmman, como “a
bíblia da humanidade”1, já que aglutinou em torno de
seu cartaz, sob supervisão combativa de Eleanor Roosevelt, todas as ligeiras diferenças que constavam na
proclamação de Ciro, na Lei Natural da opulenta Roma, no Bill of Rights, na Declaração de Direitos do
Bom Povo de Virgínia, ou na Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, entre outros.
Isto é, o conteúdo da Carta comporta um fim
em si, bem como prescreve uma comunidade jurídica
ideal a fim de perseguir condições de vida humana
digna assim como o que quer que seja para salvaguardar predicados naturais do Homem. À luz dessa
concepção, fica simples compreender que tais preceitos, por corolário, são de caráter perpétuo e inalienável, os quais não admitem qualquer discricionariedade ou paixão idiossincrática por parte do Legislador
em se tratando do seu próprio conteúdo, porque é
instrumento que consola até mesmo as bases dos
governos, que devem, por sua vez, espelhar a alma
de seu povo. 2
Os Direitos Humanos consagrados na fundação do referido Diploma, tornaram-se, nas últimas
décadas, um dos grandes consensos éticos do mundo
ocidental. Eles são mencionados em incontáveis documentos internacionais, em Constituições, leis e de-
cisões judiciais. No plano abstrato, poucas ideias se
equiparam a eles na capacidade de seduzir o espírito
e ganhar adesão unânime1. No entanto, estabelecer
uma carta global com um teor análogo só não é possível como, hodiernamente, corrente e encorajável.
Porém, as Cartas não funcionam por si, todavia, há de
se sustentá-las até os seus limites. De outro modo, as
nações que pleiteiam esse desejo de comunidade
ideal — haja vista que propõem como evento central
ou lateral o espírito de fraternidade e a educação social —, mesmo naturalmente incorrendo em faltas
onerosas advindas do tempo, devem peremptoriamente perseguir a verdadeira diretriz nelas selado.
Desenvolve-se, portanto, o raciocínio de que
os direitos em pauta são, por excelência, os instrumentos que alçam o Homem a um patamar superior
e consequentemente este é o referencial axiológico
para o Direito. Com efeito, é a expressão real e concreta da Justiça e dos demais valores, sendo os critérios de convalidação de todo e qualquer ordenamento jurídico e da comunidade política, antes e, sobretudo, na Sociedade Internacional, já que sintetizam
um paradigma de sociedade; ou melhor, esse catálogo de direitos impõe um comando, tal qual é de funcionar como critério teleológico dos ordenamentos
nos direitos domésticos e na aliança universal, que
vise buscar, com igual ímpeto e cooperação no plano
internacional, a sustentação e efetivação desses direitos que nos são tão caros.
É por isso que se defende um Modelo Humanitário: Os direitos fundamentais são garantidos pelo
núcleo indisponível do Direito, e este núcleo é a Realização Social3, como diz J. J. Gomes Canotilho.
2. Costura histórica: origem e evolução
Para começar a discorrer sobre direitos humanos, primeiramente, há a necessidade de se verificar a construção histórica de tais garantias, assim como a forma de legitimação desses direitos. Ademais,
como explica Gadamer4, em suas lições sobre hermenêutica filosófica, todo o horizonte de interpretação
humana está contido num pano de fundo histórico,
sem o qual não seria possível ao homem compreen-
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 25-32 Mai/Ago, 2015.
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ESTEVAM, D; GODINHO, I. DEUS MEUMQUE JUS
der a realidade à sua volta. Consequentemente, a
compreensão está no próprio modo de ser do homem5; sendo a compreensão uma apreensão e projeção de possibilidades do agir no âmbito do contexto
prático, social e histórico.
2.1 Um tablete de barro
Alguns estudiosos defendem a controversa
ideia que o embrião dos direitos humanos se deu, por
evento inédito, com a declaração do rei aquemênida
da Pérsia Antiga, Ciro, o Grande, após a conquista da
Babilônia. Materializado naquilo que ficou registrado
nos anais da historiografia moderna como Cilindro de
Ciro: um diminuto objeto de argila cozida em formato
cilíndrico, descritos em grafia cuneiforme acadiana,
que exalta expressamente a linhagem e grandeza de
seu senhor, bem como sua legitimação, que por sua
vez teria sido concedida pelo deus Marduque, aquele
que o convocou para ser governante daquelas terras.
No mesmo conjunto, patrocina a permissão de seu
povo a viver livre da tirania e de eleger seus deuses,
independente dos grupos e das diretrizes que comungavam e dos grupos que se integravam. 6
ra como esses direitos foram substancialmente inovadores.
Um dos documentos mais famosos do
mundo inspirou algumas das liberdades fundamentais de hoje. No entanto, ele começou apenas como
uma solução prática para uma crise política há 800
anos. 10
Entretanto, urge salientar que a Magna Carta não se constitui como pedra angular dos direitos
fundamentais haja vista dois aspectos essenciais. Primeiro, somente nobres detinham tais direitos; segundo, o conceito universal do tema inerente à natureza
humana ainda não possuía suas raízes que somente
iriam se estruturar posteriormente com as obras contratualistas.11 Ainda assim, desde 1215, a Magna Carta viu-se defronte outros quadros político-sociais
(especialmente no século XVII, com o recrudescimento do conflito entre a coroa e o Parlamento) que a
lançaram até a categoria de símbolo do surgimento
do constitucionalismo.
2.3 O giro maquiavélico12
A despeito da marcação supramencionada
dos eventos que se gravaram na história como insígnias do constitucionalismo contemporâneo e dos direitos humanos, cumpre sobrelevar que a fecundação
desses mesmos direitos é — intrínseca e eminentemente — moderna, uma vez que, com o advento das
Revoluções Burguesas, viu-se nascer um instrumento
inédito à época (que seria absurdo pleitear na Idade
Média), qual seja, “os direitos fundamentais protegendo aqueles que são agredidos pelos poderes verticais do Estado”13
2.2 Magna Carta: sombras futuras de direitos
Dando um salto cronológico que cá é peculiar, o esforço de alinhavar mais um ponto é agora remetido à História que se configurou sob a luz ofuscante da Idade Média, mais precisamente no ano de
1215 com a Magna Carta7. O rei João Sem-Terra, numa conjuntura política envolvendo territórios e a manutenção da coroa, tal como desentendimentos entre o próprio monarca, o Romano Pontífice e os baEm vista disso, significa dizer que os direitos
rões ingleses acerca das prerrogativas do poder régio,
viu-se obrigado a conceder e garantir determinados fundamentais são paralelos e complementam-se na
direitos8 que delimitavam o poder soberano. Tal fei- medida em que o Homem é elevado a dimensões superiores na camada sociopolítica. O vento das muto, até então, inovou a História do Direito.
danças trazido pelo período de transição denominaO que de mais importante se verifica nesse do Renascimento é atrelado ao humanismo que vai
memorável capítulo é que, primeiramente, esculpiu- instaurar toda uma nova concepção do homem frense como marco da concessão de direitos do poder te ao universo. Desse jeito, muda-se o paradigma da
regno aos indivíduos: “o que alguns teóricos vão con- existência, que agora se assenta sobre a flecha do
siderar é o fato de a Magna Carta instituir acordo de racionalismo, ou seja, a razão que servirá como meio
direitos e não acordo entre homens, como se perce- de excelência para se encontrar a verdade no mundo.
be em cartas anteriores [...]”9 e, além disso, a maneiFinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 25-32 Mai/Ago, 2015.
27
ESTEVAM, D; GODINHO, I. DEUS MEUMQUE JUS
Nessa perspectiva, o homem ganha um caráter preponderante. Perfilhando a noção, é-lhe dado
um novo papel no palco de atuações, sendo agora
aquele que concede significado ao Mundo
(revelando, assim, um contraponto teórico, tendo em
vista que Paulo de Tarso e Tomás Aquino arguiam
que, com a ausência total do Homem na Terra, Deus
e o Mundo permaneceriam iguais). E é isso que vai
começar a mudar no contexto do pensamento filosófico moderno, pois alvitram que o mundo pode até
existir na pouquidade ou mesmo numa total apartação do gênero humano, porém, este Mundo só possui sentido quando na existência latente do Homem.
Permanecendo então nessa mesma perspectiva, a característica expoente da dinâmica artísticoliterária desse período é realocar o Homem a um patamar de superação que até então estava encoberto
por instituições, há muito tempo, perenes e inatacáveis, que a fé cristã estabelecera ao longo do medievo. Isto posto, a fé passa a ser vitimada pelo ceticismo ou por inevitáveis atitudes de renovação, cuja
consequência mais vistosa será a Reforma Protestante impulsionada por Martinho Lutero e João Calvino;
semelhante ocorrido no campo religioso, também
surgem propostas de reformas na ciência e na filosofia. É nesse derredor complexo, onde pesam as polêmicas religiosas e científicas modelando o mundo
moderno.
Estabelecida essa nova postura de inserir o
indivíduo numa nova existência, os novos ares da
modernidade vão possibilitar a união para a construção do chamado Estado Moderno. Decorrentemente
no campo filosófico, o movimento que se destaca é o
humanismo cívico italiano — outra face do Renascimento — também no século XIV, tendo como seu
arauto mais competente o polímata de Florença, Nicolau Maquiavel. Vai engendrar, em termos de filosofia política, a negação de toda aquela construção medieval, resgatando por corolário o idealismo dos Antigos Gregos — com a descoberta de novos textos da
Antiguidade greco-latina — para construir, num plano paradigmático, as Cidades.
A conclusão de todo esse apanhado faz compreender que a dignidade da pessoa humana tem
origem espiritual imanente, qual seja, na Bíblia Sagrada: “Deus criou o homem à sua imagem, /à imagem
de Deus ele o criou,/homem e mulher ele os criou.” (Gn 1:27). Por sucesso, a dignidade da pessoa
humana migra para a filosofia no contexto iluminista,
fundamentando-se na razão, na capacidade moral
em sua vertente axiológica e na autodeterminação
do indivíduo.
Calha aqui ressaltar a tríplice transformação
pela qual passou o paradigma humano do conhecimento. Primevamente, erigido numa concepção que
abarca filósofos pré-socráticos de primoroso quilate
cujo destaque direciona-se a Pitágoras — em sua forma de compreensão de mundo geometrizada, simétrica, ao passo em que, mística — e, principalmente,
Anaximandro — em seu ideal de perfeição e harmonia cósmica centrada no Logos.
A seguir, no século IV, agora adentrando nos
estudos dos Doutores da Igreja encabeçados por
Agostinho de Hipona14, a apropriação do Logos grego
desemboca numa construção teológica voltada a
Deus e seus domínios. Isto é, o arcabouço teórico,
que antes era fundamentado no conceito de Logos,
toma Deus como seu argumento precípuo.
Somente com o advento do Iluminismo é
que a última transformação é efetivada. O homem,
servindo-se de um novo baldrame por meio do qual
funda a nova ciência, estabelece as bases seus conhecimentos não mais em Deus, tampouco no Logos,
mas sim na razão!
2.4 Um paralelo inevitável
As ditas Revoluções Liberais, aquelas principiadas no século XVIII e que se desenvolveram no século XIX, forjaram-se sob o arrimo dos sustentáculos
iluministas, promovendo avultado reforço e profunda
estruturação para a ideia de direitos humanos. Com
a Revolução Gloriosa, a Emancipação das 13 Colônias
norte-americanas e a Revolução Francesa (a mais ínclita e jactante delas), observa-se uma perseguição
homérica aos direitos inatos, mormente engendrados
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 25-32 Mai/Ago, 2015.
28
ESTEVAM, D; GODINHO, I. DEUS MEUMQUE JUS
com as teorias do empirista britânico e ideólogo do
liberalismo John Locke, que faz saltar aos olhos a necessidade (útil a uma demanda específica) do Estado
em retribuir o pacto social para seus indivíduos, qual
seja, a não subversão dos fins para os quais foi criado
e a defesa diligente dos direitos naturais sob o risco
de ser dilapidado.
Dessa maneira, o contratualismo lockeano é
o fundamento filosófico do poder limitado. Como o
pacto é firmado entre os cidadãos e o soberano, é de
sua população que o monarca recebe seu poder e
investidura. Se os cidadãos podem conceder, também podem tirar o poder que emprestam, e esse é o
fundamento da democracia política burguesa15.
Essa concepção torna Locke o antípoda de
Hobbes, ou seja, a despeito de ambos terem em comum a figura do pacto ou contrato para explicar como os homens passavam de um estado para outro,
Hobbes, apesar da solidez de sua argumentação e a
consistência de suas conclusões (que arquitetou para
ser a mais competente defesa intelectual do Leviatã),
foi fiel de uma só vocação, o absolutismo. Por outro
lado, o gênio inglês pode ser distinguido como um
devoto de que entendia ser uma predestinação: o
culto à liberdade política, à tolerância religiosa, a defesa dos direitos dos cidadãos e a cruzada em busca
de uma nova era16. Tal contraste o faz ainda mais digno de admiração.
Na discrepância conceitual entre os dois
pensadores, reside outra consequência. Ainda em
Locke, a propriedade deve ser percebida como uma
concessão ou liberalidade do Estado, e sendo um direito inalienável como a Vida, o Estado não poderia
dela dispor17. E a propriedade, como se sabe, é uma
das conquistas do estado burguês. Sem propriedade,
não há burguesia e, sem domínio da burguesia, não
há Estado burguês. Efeitos concatenados que não
importam em nada de pejorativo, apenas representam axiomas fundantes de uma classe essencialmente comercial que ascendia, fantasiando-se com a segurança jurídica e dominando o campo das ideias.
Em princípio, o que se conflagrou com a insurreição dessa camada é que todo homem nasce
igual e livre. Destarte, põe-se um ponto final aos privilégios de berço que se arrastavam pelos séculos das
sociedades de castas, como também se perseguia a
limitação e controle do poder soberano.
Essa é a cruzada original da burguesia, que
ressoa, através de seus juízos, até nossos dias colocando-se como medida indicativa que pode ser ilustrada até em nossa Constituição: “sem distinção por
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política” ou “por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil”.18
Portanto, sem esgotar mais tinta que o assunto exige, apenas é imprescindível sublinhar a alomorfia do conceito romano de Lei Natural para Direitos Naturais, o que constata, faticamente, a universalidade de seu caráter, visto que se comprovam válidos e exigíveis a qualquer tempo e em qualquer lugar, pois pertencem à própria natureza humana.
Dessa maneira, não é mister insistir, neste
trabalho, em uma pretensa distinção entre direitos
humanos e direitos fundamentais, ora, pois, o cerne
da questão se resume a constatar o rol de direitos
que atinam ao gênero humano pelo tão somente fato
da identidade de ser humano, independentemente
da recepção ou positivação do Legislador pátrio.
3. Libertas, aequalitas, fraternitas19
Em relação ao lema da Revolução Francesa,
pode-se afirmar que os três postulados não passam
de reverberações de si mesmos. Ou seja, primeiramente, a Revolução ocorre por uma insurgência liberal e, portanto, era necessário que houvesse liberdade formal, isto é, para que a classe burguesa ascendente pudesse gerir seus negócios de maneira independente tendo guarida na segurança jurídica, era
fulcral que não houvesse a pretensa desigualdade do
Antigo Regime. Logo, firma-se o princípio da Liberdade.
Logo em seguida, vem a Igualdade. Para que
exista a igualdade entre os homens, primeiramente,
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 25-32 Mai/Ago, 2015.
29
ESTEVAM, D; GODINHO, I. DEUS MEUMQUE JUS
é necessário que eles sejam livres. Todavia, a questão
que clama passagem é: para que essa liberdade?
Aristóteles, imerso numa sociedade aristocrática, dizia que se deve “tratar igualmente os iguais, e desigualmente aos desiguais”20. Na Grécia Antiga, o ideal
de homem era voltado à menção honrosa ao herói,
os homens nobres, aristói, em contraposição à plebe21. O homem, desse modo, que nasce condicionado, não pode galgar igualdade no seio social.
Tão só quando é lançada a pedra angular da
Liberdade, é que o homem, livre em suas próprias
determinações e escolhas, pode se igualar a seus
iguais e não mais ser taxado por habilidades e qualidades inatas. A Igualdade é um corolário da Liberdade.
Portanto, no novo contexto, exsurge uma
nova maneira de enxergar o homem e as relações
entre si: de que maneira é possível fazer com os homens vivam em perfeita união e harmonia? Daqui
promana o conceito de Fraternidade. Ela é imersa nas
novas concepções de Liberdade e Igualdade implantadas no seio histórico humano, e é partir desses dois
princípios é que se pode conceber esse terceiro, ou
seja, sendo o homem livre e igual, o que apenas resta
para que ele viva de modo como Hobbes, Locke ou
Rousseau afirmam após instituição do Pacto Social é
a Fraternidade. Isto é, o homem concebendo os outros como seus iguais e assim podendo conviver em
paz. “Vede: como é bom, como é agradável habitar
todos juntos, como irmãos” (Sl 133:1)
problema não filosófico, mas político.”22
No estado da arte aqui amparado, tomando em
conta todos os vieses e matizes que soergueram o
entendimento sobre a importância e relevância dos
direitos humanos, a sua defesa constata, para além
de um núcleo personalíssimo, a redenção de um Estado Democrático de Direto no qual o homem desenvolve suas potencialidades e, efetivamente, consagra
uma vida em comunidade; “A liberdade política sem
as liberdades individuais não passa de engodo demagógico de Estados autoritários ou totalitários. E as
liberdades individuais, sem efetiva participação política do povo no governo, mal escondem a dominação
oligárquica dos mais ricos.”23
É nesse compasso, cadenciando as três virtudes
máximas de DeMolay: liberdade civil, religiosa e intelectual, que reluz a primorosa teoria da dimensão
objetiva dos direitos fundamentais. Em pormenores,
significa enxergar tais direitos sob o prisma dos principais preceitos apregoados pela sociedade, e, lançálos como desígnios norteadores das relações humanas, em todos os seus âmbitos.
No entendimento de que tais direitos condensam os valores centrais a determinada comunidade
política, remanesce, pois, o dever de encarná-los no
panorama crítico social com o intuito de moldar o
horizonte opinativo democrático, que vem sofrendo
crescentes desgastes argumentativos e humanísticos,
à mercê de discursos inflados e passionais. Significa,
ainda assim, tornar à opinião pública a verdadeira
importância do debate amparado em direitos e gaEm outras palavras, os direitos são subjetivos ao rantias que tardaram séculos para se efetivar e custahomem pelo simples e mero fato de ser homem.
ram vidas para que pudessem ser legitimados.
4. A corrupção de Babel
Após o todo, no que ainda resta para elucidar a
real pretensão deste artigo, é de bastante esmero e
consideração que se exponha as garantias e defesas
de uma teoria institucional calcada numa concepção
objetiva dos direitos humanos. Não mais além, nas
palavras de Bobbio: “O problema fundamental em
relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o
de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um
Precisando ainda mais essa nova visão já lançada, Daniel Sarmento explica que “a dimensão objetiva expande os direitos fundamentais para o âmbito
das relações privadas, permitindo que estes transcendam o domínio das relações entre cidadão e Estado,
às quais estavam confinados pela teoria liberal clássica. Reconhece-se então que tais direitos limitam a
autonomia dos atores privados e protegem a pessoa
humana da opressão exercida pelos poderes sociais
não estatais, difusamente presentes na sociedade
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 25-32 Mai/Ago, 2015.
30
ESTEVAM, D; GODINHO, I. DEUS MEUMQUE JUS
contemporânea.”24 Assim, faz-se imperativo observar 3 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito de acesso
o pedestal assumido pelos direitos humanos funda- à justiça constitucional. Luanda, junho de 2011.
mentais - apropriando-se de toda a redundância que 4 GADAMER, Hans-Georg. Wahrheit und Methode.
o assunto permite25 - e a nova ótica a partir da qual o Tübingen, 1960.
homem moderno deve pautar a sua compreensão.
5
HEIDEGGER, Martin. Sein und Zeit. Berlim, 1927
6
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1986.
5. Considerações Finais
Sem a presunção de esgotar a temática, perseguindo o fio condutor que leva a uma cosmovisão
multifacetada e centrada na dignidade da pessoa humana, todo o supracitado faz remeter o debate democrático a um patamar cujo principal valor é voltado à dimensão axiológica do ser humano. É, com toda
a clareza possível, munir as categorias discursivas das
instituições contra os vis assédios que insurgem-se
contra o antro da jurisdição calcada no homem perseguido por valores aptos a lhe permitirem uma vida
digna e justa. Ainda assim, nos versos do pastor evangélico Martin Niemöller (1892-1984), perseguido pelo
regime nazista em 1938, jaz a importância que esse
diálogo suscita ainda hoje:
7
http://www.bl.uk/magna-carta
8
http://www.legislation.gov.uk/aep/
Edw1cc1929/25/9/contents
9
MARRAFON, Marco Aurélio. Direito e Pensamento
Político. Faculdade de Direito, UERJ. Maracanã, 2014.
10
http://www.bl.uk/events/magna-carta—law-liberty
-legacy?
ns_campaign=magnacarta&ns_mchannel=display&ns
_source=bl_website&ns_linkname=mcspace944_90&
ns_fee=0
11
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social.
E não sobrou ninguém
Primeiro eles vieram atrás dos comunistas,
e eu não protestei, porque não era comunista.
Depois, eles vieram pelos socialistas,
e eu não disse nada, porque não era socialista.
Mais tarde, eles vieram atrás dos líderes sindicais,
e eu me calei, porque não era líder sindical.
Então foi a vez dos judeus,
e eu permaneci em silêncio porque não era judeu.
Finalmente, vieram me buscar,
e já não havia ninguém que pudesse falar por mim.
6. Referências bibliográficas e Notas de Fim
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre Direito Civil.
Hobbes, Thomas. O Leviatã.
12
MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira
década de Tito Lívio.
13
http://www.encuentro.gov.ar/sitios/encuentro/
programas/ver?rec_id=104210
14
NOGUEIRA FILHO, Octaciano da Costa. Introdução à
Filosofia Política. Ed. - Brasília: senado Federal, Unilegis, pp. 106, 2010.
15
WEFFORT, Francisco Correia. Os Clássicos da Política 1.
16
NOGUEIRA FILHO, Octaciano da Costa. Introdução à
Filosofia Política. Ed. - Brasília: senado Federal, Unilegis, pp. 106, 2010.
17
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre Direito Civil.
18
http://www.encuentro.gov.ar/sitios/encuentro/ BRASIL, Constituição Federal. Artigos 5º, VIII e 3º,
IV.
programas/ver?rec_id=50205
1
19
OZOUF, Mona.
Liberté, égalité, fraternité,
JEFFERSON, Thomas. Escritos políticos. São Paulo:
Editora Abril Cultural. Coleção Os Pensadores, 1973. dans Pierre Nora (dir.). Lieux de Mémoire, vol. III : Les
2
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 25-32 Mai/Ago, 2015.
31
ESTEVAM, D; GODINHO, I. DEUS MEUMQUE JUS
France.
De
l'archive
à
limard, 1997, p. 4353-4389.
l'emblème,
Gal-
20
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução: Pietro
Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2006.
21
NIETZSCHE, Friedrich. A Genealogia da Moral.
22
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus Ltda., 1992, p. 24
23
COMPARATO, Fábio Konder. Comentário ao artigo
1º, in 50 anos da declaração universal dos Direitos
Humanos 1948 - 1998, Conquistas e Desafios, OAB,
Comissão Nacional de Direitos Humanos. Brasília,
1998, p. 38
24
SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e Relações Privadas. Revista Lumen Juris, 2ª edição.
25
SARLET, Ingo Wolfgang. O conceito de direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. ConJur,
27 de fevereiro de 2015, 8h02.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 25-32 Mai/Ago, 2015.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 19/06/2015
Aprovado: 02/08/2015
O SIMBOLISMO ESOTÉRICO DO QUATERNÁRIO
Autor: George Victor Brigagão ¹
Resumo
Neste estudo, o simbolismo esotérico do quaternário foi investigado do ponto de vista da Numerologia, da
Alquimia e da Cabala. Foi realizada também uma breve revisão na literatura maçônica. O simbolismo do quaternário é expresso em diversas tradições esotéricas na forma de uma cruz, e seu significado foi também
abordado neste estudo. Enquanto o número 3 expressa o equilíbrio e a manifestação divina, o número 4 é o
símbolo da nossa realidade terrena e do mundo visível. Para que os 3 primeiros princípios pudessem manifestar a Criação do íntimo Absoluto, foi necessário que a Trindade emanasse de si 4 elementos que compusessem a estrutura material do mundo. Na Alquimia, o quaternário representa os quatro elementos que
constituem a matéria: Fogo, Água, Ar e Terra. O nome de Deus, segundo a Bíblia e a Cabala, é composto por
quatro letras hebraicas, que exercem um papel fundamental na Criação. Para os maçons, o quatro está associado ao esquadro.
Palavras-chave: Numerologia; Quatro; Cabala; Alquimia; Cruz.
Abstract
In this paper, the esoteric symbology of the quaternary was investigated by the point of view of Numerology, Alchemy and Kabbalah. A brief review in the masonic literature was also performed. The quaternary symbolism is expressed in many esoteric traditions by means of a cross, and its meaning was also discussed. While the number 3 expresses the equilibrium and the divine manifestation, the number 4 is the
symbol of our "earthly" reality and the visible universe. For the first 3 principles could have expressed the
Creation from the inner Absolute, it was necessary that the Trinity have emanated 4 elements to set the material structure of the universe. In Alchemy, the quaternary represents the four elements that constitute the
matter: Fire, Air, Water and Earth. The name of God, according to the Bible and the Kabbalah, comprises four
hebrew letters, which performs a fundamental role in the Creation. To the masons, the number 4 is associated with the square.
Keywords: Numerology; Four; Kabbalah; Alchemy; Cross
¹ Maçom, Rosacruz e Martinista. E-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 33– 39. Mai/Ago, 2015.
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BRIGAGÃO, G.V O ESOTERISMO DO QUATERNÁRIO
INTRODUÇÃO: O NÚMERO QUATRO
manifestações invisíveis, e o 4 (ou os 4 elementos)
O número 4 é o símbolo da nossa realidade cristaliza a manifestação tornando-a visível (ADOUM,
terrena e do mundo visível. Comecemos observando 2010).
o contraste entre o 4 - mundo material - e o 3 - munMatematicamente, dois pontos definem uma
dos superiores: o 4 sendo o número do quadrado e reta, três pontos definem um plano e quatro pontos
da cruz, os quais são desenhados com um esquadro - definem um sólido. É relevante observar ainda que,
ou formados pela união de 4 esquadros (Figura 1) - e por meio da adição teosófica, o número 4 se converte
o 3 sendo o número do triângulo, que na figura do em 10 (1+2+3+4), o que pode ser visualizado graficacompasso pode-se desenhar um círculo. Enquanto na mente na chamada Tretraktis (Figura 2), uma reprenatureza predomina uma assinatura arredondada, e sentação pitagórica de um triângulo formado por 10
a linha reta é uma exceção, quase a totalidade das pontos dispostos em 4 linhas. Neste caso, o 4 (quarta
obras humanas segue justamente o contrário. Histo- e última linha) é a base do 10, que por sua vez tem o
ricamente, desde que o homem primitivo deixou a significado de totalidade e plenitude, sendo semecaverna para construir sua própria moradia, o 4 sur- lhante ao Um, o que novamente leva à conclusão de
giu no nosso planeta na forma de obras retangulares que o 4 é o número da matéria (natureza), o número
e pontiagudas (BANZHAF, 2009). O 4 representa o do mundo da ação (quarto mundo cabalístico: Assiesquadro, que para nós é símbolo da perfeição e reti- ah).
dão (ação sobre si mesmo), assim como da organização da matéria (BOUCHER, 2006). Por outro lado, o 3
é o número que expressa o equilíbrio, a manifestação
divina e o mundo divino.
(a)
(b)
Figura 2. Tetraktis.
Fonte: elaborada pelo autor
Figura 1. Figuras geométricas formadas com 4 esquadros: (a)
quadrado; (b) cruz
Fonte: (BOUCHER, 2006).
Simbolismo da Cruz
Anterior ao cristianismo, a cruz sempre foi um
símbolo muito respeitado e cultuado em diversas culO 4 representa a separação aparente do homem do turas pelo mundo, e dessa forma, agrega em si muiseu Deus, ou a passagem de um mundo a outro tos significados e simbolismos.
(inferior). Assim como a célula, pelo estímulo e moviUma das primeiras cruzes que se têm notícia é
mento, produz outra célula de sua própria classe, asa cruz em Tau (T ou cruz fenícia), e seu simbolismo
sim também tudo quanto existe deve ser dual em sua
trazia o aspecto ativo-passivo da geração da vida. Esnatureza, trino em sua manifestação e quádruplo pasa cruz era uma das letras que constituía o alfabeto
ra sua realização. Para que os 3 primeiros princípios
fenício e corresponde à última letra do alfabeto hepudessem manifestar a Criação do íntimo Absoluto,
braico (Tav). A estrutura em T lembra um malho de
do interior para o exterior, foi necessário que a Trindupla cabeça, representando assim a força material,
dade emanasse de si 4 elementos que compusessem
a determinação e o cumprimento de ordens - é aqui
a estrutura material do mundo. Assim, o 1-2-3 são
no mundo físico que realizamos nosso trabalho FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 33– 39. Mai/Ago, 2015.
34
BRIGAGÃO, G.V O ESOTERISMO DO QUATERNÁRIO
além do senso de retidão e cumprimento da Lei. É
interessante notar que o “T” (tau) é também a letra
que começa e termina o nome do deus
“Thot” (Sabedoria Oculta), a quem é atribuída a autoria dos textos herméticos, e que é considerado um
símbolo de Iniciação, a chave que abre e guarda a
sabedoria oculta - ou mesmo Graus iniciáticos. Também nos Mistérios de Mitra os sacerdotes faziam o
sinal do tau (sinal da cruz) sobre a fronte dos iniciados (VIEIRA, 2009). Na maçonaria, o malhete evoca o
simbolismo do Tau, que, segundo Leadbeater (1928),
tem o mesmo significado do esquadro.
A cruz também sinaliza as quatro direções no
mundo material (pontos cardiais: leste, oeste, norte e
sul) e simboliza a matéria em sua manifestação quádrupla (elementos alquímicos Fogo, Ar, Água e Terra).
Seus (quatro) ângulos retos assinalam a retidão, o
trabalho e a justiça da Lei no mundo físico. Além disso, o traço na horizontal representa nosso relacionamento com a matéria (o concreto) e o traço na vertical representa nosso relacionamento com o divino (o
abstrato). A cruz representa nesse sentido a conjunção dos contrários, o ativo e o passivo, o inferior e o
superior, a vida e a morte. Enquanto os dois eixos da
cruz fazem pensar na passagem do tempo e nos pontos cardeais (o espaço-tempo), o ponto central, união
dos dois eixos, é o lugar onde não há mais tempo
nem mudança de qualquer espécie, sendo por isso
um sítio de passagem ou de comunicação simbólica
entre este e um outro mundo, um ponto de ruptura
do tempo e do espaço (VIEIRA, 2009).
discórdia os desagrega (REALE, 2002). Ele descreveu a
formação desses elementos segundo a interação de
duas qualidades (ou eixos) - ativa e passiva, sendo a
ativa o quente-frio, que promove a aglutinação dos
corpos, e a passiva o seco-úmido, que faz com que os
corpos se dissolvam. Das qualidades elementares,
duas participam da composição de cada elemento,
mas uma delas é primária e a outra é secundária
(COTNOIR e WASSERMAN, 2009). A Tabela 1 mostra
as qualidades associadas a cada elemento, seus espíritos elementais e suas correspondências no homem
e na natureza. Outras formas representativas de manifestação do quaternário são apresentadas na Tabela 2. De acordo com o alquimista árabe Avicena, os 4
elementos alquímicos podem ser descritos da seguinte forma:
Alquimia
De acordo com os antigos alquimistas, os elementos Fogo, Ar, Água e Terra são os quatro princípios que compõem a matéria. Aristóteles em sua
obra Metafísica, definiu um elemento como "aquilo
de que uma coisa é essencialmente composta, que é
imanente à coisa e que é indivisível segundo a forma". Além disso, diria Aristóteles que os quatro elementos permanecem imutáveis em sua natureza e
sofrem simplesmente uma (relativa) mudança quantitativa, tornando-se poucos quando o amor os reúne
para formar unidade e tornando-se muitos quando a
A Terra é o centro da existência. É estacionária, mas volta à posição se é movida. É
através da Terra que partes do nosso corpo se fixam e se mantém coesas numa
forma compacta. É assim que a forma externa se mantém.
A Água envolve a Terra e é envolvida pelo
Ar. Ela possibilita que as coisas sejam moldadas e ajustadas em sua construção; ela
se desfaz facilmente de uma forma velha e
aceita prontamente uma nova.
O Ar está acima da Água e abaixo do Fogo.
Ele se rarefaz, torna as coisas mais finas,
mais leves, mais delicadas, mais macias e,
consequentemente, mais capazes de se
deslocar para uma esfera superior.
O Fogo está acima de todos os outros elementos localizados, como ele, na região
do mundo sublunar – tudo o que está
abaixo da Lua, em outras palavras, o nosso
mundo. Ele amadurece, rarefaz e refina
todas as coisas, e se mistura com todas.
Seu poder de penetração permite-lhe
atravessar o Ar; com seu poder, ele submete os dois elementos frios pesados;
com seu poder ele mantém as propriedades elementares em harmonia – Avicena
(Ibn Sīnā) (Extraído de COTNOIR; WASSERMAN, 2009, p.36).
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 33– 39. Mai/Ago, 2015.
35
BRIGAGÃO, G.V O ESOTERISMO DO QUATERNÁRIO
Fogo
Ar
Água
Terra
Natureza do elemento
Seres Elementais
Estado físico
Natureza
Quente e seco
Úmido e quente
Fria e úmida
Seca e fria
Salamandras
Plasma
Seres humanos
Homem
Vontade
Naipe do Tarot
Paus
Silfos
Gás
Animais
Pensamentos,
Intelecto
Espadas
Ondinas
Líquido
Plantas
Emoções, Sentimentos
Copas
Gnomos
Sólido
Minerais
Sensações, Corpo
Físico
Ouros
Ponto cardeal*
Oeste
Leste
Sul
Norte
Tabela 1. Os quatro elementos alquímicos e suas correspondências
(Adaptado de BANZHAF, 2009; COTNOIR e WASSERMAN, 2009).
Arcanjos
Animais sagrados
Virtudes mágicas
Virtudes cardeais
Estações do ano
Fases da lua
Fases do dia
Michael, Rafael, Gabriel, Uriel
Leão, águia, homem e touro
Querer, saber, ousar e calar
Justiça, fortaleza, prudência e temperança
Primavera, verão, outono e inverno
Nova, crescente, cheia e minguante
Madrugada, manhã, tarde e noite
Fases do homem
Infância, juventude, maturidade e velhice
Tabela 2. O quaternário em outras conotações
Fonte: (BANZHAF, 2009).
Cabala
O nome do Deus de Israel é um nome de
quatro letras hebraicas, Iud-Hei-Vav-Hei [ ‫] יהוה‬
chamado por alguns de Tetragrama ou Tetragrammaton (MATHERS, 2005). Esta palavra tem como
raiz as letras do verbo ser ,cuja união com o Iud
(centelha divina da Luz infinita) forma o significado
"Ele É". Por sinal, no hebraico não se conjuga o verbo ser no presente, porque só Deus É. No Judaísmo, sua pronúncia é proibida para a população em
geral, sendo substituída pela palavra Adonai - senhor - ou Elohim quando Adonai e o Tetragrama
aparecem juntos (MCLAUGHLIN; EISENSTEIN,
1906).
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 33– 39. Mai/Ago, 2015.
36
BRIGAGÃO, G.V O ESOTERISMO DO QUATERNÁRIO
A pronúncia verdadeira é conhecida e reservada pelos cabalistas e rabinos, devendo ser feita com a intenção correta, sendo restrita a momentos específicos. A razão consiste em um dos 10 mandamentos:
Não tomarás o nome do Senhor [ ‫]י ה ו ה‬
teu Deus em vão; porque o Senhor não
terá por inocente o que tomar o seu nome
em vão (Êxodo 20:7).
Segundo Kaplan (2002), o nome de Deus unifica as 10 Sefirot, pois cada letra possui uma ligação
com uma ou mais Sefirot. O ponto superior de Iud [ ' ]
representa Keter, o restante do Iud [ ‫ ]י‬representa
Chokhmah (sabedoria), o primeiro Hei [ ‫ ]ה‬a Binah
(entendimento), o Vav [ ‫ ] ו‬às 6 sefirot seguintes e o
Hei [ ‫ ]ה‬final a Malkhut, como mostra a Tabela 3.
Malkhut, ou reino, representa o mundo da ação, que
pode ser dividido segundo os 4 elementos fogo, água,
ar e terra, como ilustra a Figura 3. O Iud evoca o simbolismo do ponto (ou ponto expandido), e seu valor
numérico (10) indica que todas as Sefirot estão contidas nele. Expressa, assim, o princípio masculino, a
unidade, que é própria da Sabedoria. O Hei, segunda
e quarta letra do Tetragrama, expressa a idéia de separação, própria do Entendimento, do princípio feminino e do binário, como sugere sua própria grafia,
que tem duas partes separadas. O Vav, com seu valor
numérico 6, expressa a criação do Universo como síntese de Deus no mundo divino (Iah) - triângulo superior. O Hei final consolida a criação com o mundo material e repete a ideia do binário, permitindo a presença da dualidade no mundo da matéria.
Figura 3. Representação do Tetragrama em figuras geométricas:
triângulo (Keter a Binah), hexagrama (6 Sefirot seguintes) e quadrado circunscrito (Malkhut)
Fonte: (LEVI, 2011).
O Tetragrama está assentado na forma do
corpo do Homem. A cabeça é o Iud [ ' ], os braços e
os ombros são o Hei ,[ ‫ ]ה‬o tronco é o Vav [ ‫ ] ו‬e as
pernas o Hei final [ ‫ ]ה‬. Essa é a forma física do
Tetragrama expressa no homem, enquanto a animação da alma corresponde às dez Sefirot. A alma apresenta uma divisão tripla, cujas dimensões são associadas a cada um dos mundos cabalísticos a partir de
Beriah (criação): a primeira dessas divisões é
Neshamah, consciência mais elevada da personalidade-alma, a segunda é Ruach, correspondente ao
mundo astral, e a terceira Nefesh, correspondente ao
mundo sensual e material dos desejos, como mostra
a Tabela 4. "A Trindade sempre é concluída pelo quaternário e encontra sua realização nele" - resulta daí
que Iud-Hei-Vav [ [ ‫] י ה ו‬se completa e se realiza em
Iud-Hei-Vav-Hei [ ‫( ]י ה ו ה‬MATHERS, 2005, p.55).
Sefirot
Letra
Keter
Ponto superior do Iud (')
Chokhmah
Binah
‫י‬
‫ה‬
Chesed, Gevurah, Tiferet,
Netzach, Hod, Yesod
‫ו‬
|Mundo
Atsiluth
Significado
Emanação
Alma humana
-
Malkhut
‫ה‬
Beriah
Criação
Neshamah
Ietsirah
Formação
Ruach
Assiah
Ação
Nefesh
.
Tabela 4. Composição da alma humana (individual) segundo a
Cabala.
Fonte: ???????
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 33– 39. Mai/Ago, 2015.
37
BRIGAGÃO, G.V O ESOTERISMO DO QUATERNÁRIO
o que era, o que é, o que há de vir". Ap.
4:6-8.
Maçonaria
Do ponto de vista da consciência humana podemos traduzir os quatro elementos da seguinte forma: "o fogo é a vontade do ser; unida ao ar, que é o
pensamento, produzem ambos a água, emoções,
produzindo-se pelo desejo a ação (terra)". Quando os
elementos do fogo dominam o homem, fazem-no
violento e dão-lhe o temperamento bilioso; os do ar
tornam-no reflexivo e inteligente e dotam-no de temperamento sanguíneo, os da água fazem-no sensitivo
e impressionável, outorgando-lhe um temperamento
linfático; os da terra fazem-no ativo, constante e dãolhe temperamento nervoso (ADOUM, 2010).
Quando o homem, no futuro, chegar à União
com seu Íntimo, poderá compreender o significado
dos versículos 6-8 do cap.4 do Apocalipse de São João. Segundo J. Adoum (2010), essa é a chamada quadratura do círculo (cruz circunscrita): quando o homem domina os 4 elementos inferiores que reinam
atualmente em seu corpo físico e manifesta princípios superiores, cujas vibrações o fazem volver ao
círculo, à Unidade. Para dominar os elementos inferiores da água, temos de extirpar as paixões grosseiras;
para dominar os elementos do fogo, temos de vencer
os instintos animais. O domínio dos elementos do ar
consiste na perfeita concentração da mente e o domínio sobre os da terra consiste na limpeza interna e
externa do corpo e num jejum racional (ADOUM,
2010).
O Templo na Maçonaria segue o simbolismo
do Templo do Rei Salomão, que possui geometria retangular cujos lados são orientados segundo os 4
pontos cardeais. De acordo com o I Livro de Reis, o
Templo representa o assento para a habitação de
Deus (I Reis 8:13).
Na Templo Maçônico, outro símbolo que evoca a idéia do quaternário é a Orla Dentada, que envolve todo o perímetro do pavimento mosaico. Representa a muralha protetora da humanidade, constituída pelos adeptos ou homens que em séculos e milênios passados atingiram a meta da perfeição humana. Estão ao redor da humanidade nos mundos espirituais, segundo diz uma escritura budista, para salvar
a linhagem humana de ulterior e mais profunda miséria e aflição. Existe uma ampla interpretação para
as quatro orlas que aparecem nos ângulos das franjas. Em uma delas, representa as quatro virtudes cardeais, que são: temperança, fortaleza, prudência e
justiça (LEADBEATER, 1928). Em minha livre interpretação, pode-se estabelecer uma associação entre a
Orla Dentada e a muralha protetora da Jerusalém Celeste descrita no Apocalipse de São João (Ap. 21:12),
cujos lados tinham 3 portais cada, de forma que o
conjunto dos portais representa as 12 tribos de Israel, como também está descrito no livro de Ezequiel
(Ez. 48:30-35).
No quadro do Grau de Companheiro, o nome
E à vista do trono havia como um mar de
de
Deus
(Tetragrama) aparece escrito no alto da envidro, semelhante ao cristal e, no meio do
trono e ao redor do trono, 4 animais chei- trada da Câmara-do-meio, que por sua vez se situa
os de olho adiante e atrás.
no alto de uma escada. Representa a busca pela VerE o primeiro animal, semelhante a um
leão, e o segundo animal, semelhante a
um bezerro (touro) e o terceiro animal
que tem rosto como de homem e o quarto
animal, semelhante a uma águia voando.
E os 4 animais, cada qual tinha 6 asas, e ao
redor e dentro estão cheios de olhos e
não cessavam, dia e noite, de dizer:
"Santo, Santo o Senhor, Deus onipotente,
dade e o caminho místico em direção a Deus, que o
Companheiro trilha através do estudo das ciências
ocultas e dos mistérios da natureza. Representa, assim, aquele que se ilumina e vira um adepto. A câmara-do-meio consiste numa sala lateral do Templo de
Salomão, sendo mencionada no cap. 6 do I Livro de
Reis. Para a Franco-Maçonaria representa o lugar onde os Companheiros se reúnem e recebem seus salários.
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BRIGAGÃO, G.V O ESOTERISMO DO QUATERNÁRIO
A porta da câmara-do-meio estava à di- https://www.bibliaonline.com.br/acf/1rs/6 - Acesso
reita da casa, e por caracóis se subia à em 24/08/2015.
câmara-do-meio, e da do meio à terceira.
https://www.bibliaonline.com.br/acf/1rs/8 - Acesso
I Reis 6:8
Tendo em vista todo o simbolismo exposto, o
estudo do Quaternário pelo maçom leva a uma pesquisa valiosa e profunda de grande diversidade, podendo levar à diversos caminhos da forma como ao
longo da história diferentes Tradições o compreenderam, mas que no fim tem o mesmo significado e a
mesma Verdade.
em 25/08/2015.
https://www.bibliaonline.com.br/acf/ap/4 - Acesso
em 24/08/2015.
https://www.bibliaonline.com.br/acf/ex/20 - Acesso
em 24/08/2015.
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KAPLAN, A. Sêfer Ietsirá - O Livro da Criação. 4ª ed.,
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Madras, 2005.
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God". In: Jewish Encyclopedia, 1906. Disponível em:
http://www.jewishencyclopedia.com/articles/11305names-of-god - Acesso em 25/08/2015.
REALE, G. Metafísica de Aristóteles III. Edições Loyola,
2002.
VIEIRA, J. D. A Cruz: Formas e Simbolismos. Editora
Madras, 2009
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ISSN 2318-3462
Recebido: 30/09/2015
Aprovado: 03/10/2015
Notícia:
3º YORKSHOP: APRESENTANDO O RITO DE YORK
Kennyo Ismail, do Distrito Federal, nos brindou com
as origens deste que é o Rito mais praticado no mundo, trazendo aos presentes a sensação de viagem no
tempo e da importância de se entender a história para sabermos onde estamos e para onde poderemos
ir.
No dia 29 de agosto do presente ano cinquenta e dois Irmãos Maçons se reuniram no Aerópago
Ordem e Progresso no bairro da Tijuca para nosso
terceiro Yorkshop. Evento esse idealizado em sua primeira edição, por inspiração de nosso Irmão Kennyo
Ismail e que vem divulgando o Rito de York e a Ciência e Arte Maçônicas.
Nesta terceira edição tivemos um templo lotado, com Irmãos das três potências regulares do Rio
de Janeiro, com a presença do Grande Secretário de
Administração e Guarda dos Selos do Grande Oriente
Independente do Rio de Janeiro, Jorge Gouvea Mello
e do Grande Secretário de Cultura e Ritualística, da
mesma Obediência, Paulo Cesar Loyola Marques.
Tivemos diversas palestras, que irei tentar
nestas poucas linhas transmitir um pouco da essência
de cada uma, muito distante do brilhantismo de cada
palestrante.
Histórico do Rito de York – Nosso Irmão
Filosofia do Rito de York – À partir do relato
de sua dissertação de mestrado, o Irmão Kennyo Ismail faz um panorama de que preceitos morais estão
presentes na Maçonaria, esta escola de Moral de suma importância, mostra também a importância e responsabilidade que tem o Venerável Mestre, ao liderar as Lojas e consequentemente ser um espelho para seus liderados, ou seja os membros da Loja.
As Virtudes Cardeais e Teologais – De forma
brilhante Ítalo Aslan, nosso Irmão de Cabo Frio, nos
trouxe reflexões sobre essas virtudes, presentes nos
diversos Ritos da Maçonaria e que de alguma forma
podem nos ajudar a guiar nossas ações no dia a dia
de nossa vida.
Esoterismo e Maçonaria – Paulo Vianna, traçou paralelos sobre a Ordem Maçônica e o Misticismo, trazendo diversas analogias entre o micro e o
macrocosmo, a presença da Cabala no Rito escocês
Antigo e Aceito e de como podemos trazer para nossa vida prática esses conceitos.
Hebraico: Letra, Escrita e Misticismo – Muito
de nossas Lendas, ensinamentos, questões morais e
história estão ligadas ao Judaísmo, pudemos entender um pouco mais através da palestra de Marcello,
nosso querido Irmão, que brilhantemente nos brindou com seu conhecimento sobre o hebraico, que
está presente fortemente em alguns Graus do Rito de
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 41– 42. Mai/Ago, 2015.
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MIRANDA, R B. 3º YORKSHOP: APRESENTANDO O RITO DE YORK
York.
Rogério Bittencourt Miranda
Física Quântica e Misticismo – Nosso Irmão
Anderson Lupo, discorreu sobre questões fundamentais da ciência e da vida contemporâneas. Através do
entendimento da física quântica podemos explicar
muitas questões presentes no misticismo, na Maçonaria e na vida diária, nos deixando mais próximos do
Grande Arquiteto do Universo, inclusive.
Mestre Maçom, Sumo Sacerdote do Capitulo York
nº 40 de Maçom do Real Arco, Past Ilustre Mestre
do Conslho York nº 6 de Maçons Crípticos, Enfermeiro e Assessor da Coordenação Geral de Atenção
Primária da Prefeitura da Cidade do Rio de janeiro.
De Aprendiz a Templário: O Rito de York: Os
Irmãos Franklin Matos e Rogério Miranda discorreram de forma didática os graus Simbólicos e os Altos
Graus do Rito de York, apresentando aos presentes a
possibilidade de entender o encadeamento lógico
que há entre os graus e como estão organizados estes graus.
Eventos como esse devem ser incentivados e
multiplicados, pois só através do contato entre Irmãos, troca de conhecimentos e confraternizações é
que podemos entender nosso passado, presente e
imaginar o futuro.
A Maçonaria no Brasil tem uma diversidade
enorme de Ritos, que se bem entendidos podem e
devem conviver de forma pacífica e se complementar
na busca pelas Verdades.
Como todo encontro maçônico que se preze
tivemos um ótimo Ágape na hora do almoço onde
conhecer novos Irmãos é sempre uma possibilidade,
além de unificar os laços que nos unem.
Esperamos que logo um quarto Yorkshop se
apresente. Este foi organizado pelas Lojas Acácia de
York 52, Francisco Cândido Xavier 55 e Revista Científica Fraternitas in Praxis.
Que os sentimentos de que necessitamos buscar a verdade, aliviar os sofrimentos do próximo e
que é fundamental sermos fraternos, não só com os
irmãos da Ordem, mas com todos os Irmãos da Orbe
Terrestre fiquem inculcados em todos que estiveram
presentes e nos que lerem esse texto.
Aproveito para agradecer todos os presentes,
a organização, aos palestrantes e aos leitores pela
possibilidade de dividir o evento ocorrido.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 2, n.2, p. 41– 42. Mai/Ago, 2015.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 29/07/2015
Aprovado: 29/08/2015
NOTÍCIA HISTÓRICA
TRATADO DE RECONHECIMENTO E AMIZADE—RJ
Faz exatamente 15 anos, parece que foi ontem, algo tão singelo e eivado de sentimentos de verdadeira amizade, como somente a Ordem Maçônica
poderia proporcionar.
inalienável de todos os maçons, vencendo suas paixões, conviverem em paz, reconhecidos como irmãos, independente de ritos, lojas, graus e cor de
avental.
A Revista Fraternitas in Praxis registra em suas páginas, para todos os interessados, de forma pública, para os historiadores e para os amantes da verdade e das relações de verdade e fraternidade que já
existiram entre as três obediências maçônicas no
estado do Rio de Janeiro.
Esse documento deve ser distribuído, amplamente, em todas as redes e listas virtuais ou não, lidos em loja, mostrando que as relações porá mais
tênues que sejam, podem ser estabelecidas de forma
consensual pelos pontos mínimos de que unificam e
não pelos pontos que separam.
Sim, meus irmãos, em 2000, existiram momentos de paz, de harmonia, de reconhecimentos,
visitas amigas entre irmãos de diferentes obediências, mas estabelecidas em um documento oficial,
assinados entre os 3 grão-mestres da época.
Não se pode deixar de registrar a data 23 de
agosto de 2000 e os nomes dos signatários de ato
tão corajoso: Sergio Tavares Romay (GOB-RJ), Claudio Moreira de Souza (GLMERJ) e Ward de Souza
Gusmão (GOIRJ).
É um TRATADO DE MÚTUO RECONHECIMENAtualmente, com o comunicado oficial de que
TO E FRATERNAL AMIZADE entre o GOB/RJ, a Grande a Grande Loja unida da Inglaterra não interfere de
Loja Maçônica do Estado do Rio de Janeiro e o Gran- forma nenhuma em assuntos de Obediências Maçôde Oriente Independente do rio de Janeiro.
nicas em outros países, esse documento ganha peso
por provar que é possível termos uma maçonaria uniÉramos tão felizes e nem sabíamos.
ficada nacionalmente.
Esse documento perdeu-se com o tempo. SuPara terminar, citamos o trecho da apresentamiu ou foi sumido. Muitos atualmente chegam a negar sua existência, para justificar atitudes insanas, ção, que diz que esse documento expressa “O desejo
defendidas por bajuladores, que desencadeia uma da comunidade maçônica, ou seja, uma maçonaria
onda inigualável de perseguições, ameaças, punições indivisível, e empenhada no aperfeiçoamento moral e
intelectual do homem, independente de raça, credo,
e exclusões.
posição social ou a que Potência possa o maçom perDepois de intensas buscas e pesquisas, nós, tencer uma vez mais foi ratificado” (GM Sergio Roda redação da revista FinP, conseguimos esse docu- may).
mento na íntegra, com as assinaturas originais. Um
deleite aos olhos dos verdadeiros e sinceros maçons No mais, esperamos que a leitura do documento e
sua divulgação, citada a fonte, estimule que os mado Brasil.
çons em cada oficina, contribua para a unidade da
Em suas páginas, o texto simples, direto e ob- Maçonaria Brasileira.
jetivo reconhecem o primordial, o básico, o direito
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TRATADO DE RECONHECIMENTO E AMIZADE—RJ
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Diretrizes para Autores
A submissão de trabalhos deverá ser feita através da página da revista.
Formato:
Os originais deverão ser apresentados no seguinte formato:
- Arquivo de texto: Microsoft Word,
- Tabelas: coladas como gravura “jpg” ou utilizando a ferramenta detabelas do Word,
- Gráficos e figuras: acrescentadas ao arquivo word como “jpg”, com mínimode 200 dpi,
- Página tamanho A4, margem esquerda e superior de 3cm, direita einferior de 2cm, espaço entre linhas “simples”;
- fonte: Calibri;- texto principal: tamanho 11;
- citação superior a 3 linhas do original: tamanho 9;
- notas de fim: tamanho 9, separado do texto por linha de 5 cm;- parágrafo: 1,25 cm da margem;
- alinhamento: justificação inteira;
- bibliografia: no final do documento, formato conforme ABNT.
Obs.: Permite-se, com a finalidade de facilitar aleitura, a nota de fim. Mas é vedado o uso de nota de rodapé.
Referências Bibliográficas e/ouBibliografia, Citações, Notas de Fim:
A Revista FRATERNITAS IN PRAXIS adota como critério orientador para elaboração das referências bibliográficas dos artigos nela
publicados asseguintes formas:
- NBR-6023:2002 - Referências bibliográficas;
- NBR-10520:2002 – Citações;
- NBR-6022:2003 - Artigo em publicação periódica cientifica.
O não respeito as NBR's no que se refere à apresentação do artigo acarretará na sua imediata devolução para correção por parte
do(s) autor(es). Exceção será feita aos autores não brasileiros que não residem no país, cujos textos serão adequados às normas da
ABNT acima citadas.
Apresentação dos textos
Estabelece-se, ainda, uma padronização para a apresentação de textos, que deverá seguir o seguinte critério quanto à sua forma:
Título: centrado, todo em maiúsculas, negrito, fonte Calibri,tamanho 14.
Subtítulo: Em linha imediatamente abaixo do titulo, todo em minúsculas, negrito, fonte Calibri, tamanho 13.
Resumo: em português, justificação inteira, máximo de 100 palavras, fonte Calibri, tamanho 11, não tabulado. Em parágrafo único.
O título “Resumo” deverá ser em negrito, fonte Calibri, tamanho 12, somente primeira letra em maiúscula, não tabulada.
Palavras-chave: em português, à esquerda, justificação inteira, até 4 palavras, fonte Calibri, tamanho 11, não tabulada. O título
“Palavras-chave” deverá ser em fonte Calibri, tamanho 12, negrito, somente primeira letra em maiúscula, não tabulada.
Logo abaixo, Resumo em inglês, no mesmo formato do resumo em português. O título “Abstract” terá o mesmo formato do título
“Resumo”.
Palavras-chave em inglês seguindo o mesmo formato das em português. O título “Keywords” terá o mesmo formato do título
“Palavras-Chave”.
Em seguida, Resumo em espanhol, no mesmo formato do resumo em português.O título “Resumen” terá o mesmo formato do
título “Resumo”.
Palavras-chave em espanhol seguindo o mesmo formato das em português. O título “Palabras clave” terá o mesmo formato do
título “Palavras-Chave”.
Resumos e Palavras-Chave não serão exigidos de resenhas, relatos de eventos, entrevistas e notícias.
Texto principal do artigo/ensaio/resenha: justificação inteira, parágrafo com tabulação de 1,25 cm, espaço entre linhas simples.
Chamadas dos blocos: sem numerar, somente inicialmaiúscula, Calibri, 12 pontos, negrito.
Páginas enumeradas: no canto inferior direito.
Notas: notas apenas de fim, fonte Calibri, tamanho10, separadas do texto por linha de 5 cm.
Citações: as citações bibliográficas no corpo do texto devem seguir o estipulado pela NBR 10520:2002.
Ao elaborar as Referências Bibliográficas, adotar o critério do itálico para o titulo da obra. Não usar sublinhado. Não usar negrito.
Tamanho do artigo: seguindo os parâmetros anteriormente mencionados, um artigo deve se enquadrar em no mínimo 02 e nomáximo 15 páginas, já incluindo as notas de fim e/ou bibliografia.
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