Estado do meio ambiente e retrospectivas políticas: 1972-2002
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Estado do meio ambiente e retrospectivas políticas: 1972-2002
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Capítulo 2 Estado do meio ambiente e retrospectivas políticas: 1972-2002 UNEP, Dario Riva, Italy, Still Pictures 29 30 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 O Relatório de Situação Ambiental – SOE (State of the Environment) foi introduzido nos Estados Unidos por meio da promulgação do Ato Nacional de Política Ambiental de 1969 – NEPA (National Environmental Policy Act) e tornou-se uma atividade de caráter mundial a partir da declaração adotada na Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972. Inicialmente, o centro das atenções voltava-se para a situação do ambiente biofísico – terra, água doce, florestas e vida silvestre, por exemplo. As pessoas eram geralmente consideradas como uma ameaça ao meio ambiente. Ao longo dos anos, contudo, o SOE vem se tornando mais integrado e, ao avaliar e relatar as mudanças que ocorrem no meio ambiente, passou a levar em conta as complexas interações entre este e o homem. Subseqüentemente, estabeleceu-se o relatório SOE em todos os níveis – locais, nacionais, subregionais, regionais e globais. Várias abordagens foram utilizadas: algumas voltadas a meios, como a terra e a água; algumas a temas setoriais, como agricultura e atividades florestais; outras a questões como degradação de terras e poluição, além de outras que mesclavam todos esses temas. Outros modelos adotados incluíam a pressão-estado-resposta – PSR (pressure-state-response) e, posteriormente, a força motriz-pressão-estado-impacto-resposta – DPSIR (driving force-pressure-state-impact-response). Essas abordagens, distintas entre si, serviram aos seus propósitos. Contudo, percebem-se deficiências no que tange à instituição de uma abordagem linear ante processos ecológicos complexos e interações entre o homem e o meio ambiente. Freqüentemente, os relatórios minimizam o fato de que, além de o homem exercer um impacto sobre o meio ambiente, este último também exerce um impacto sobre o homem. Dessa forma, desenvolveu-se, com o passar do tempo, um modelo mais integrado de avaliação e informação ambiental, que visa mostrar as relações de causa e efeito da interação entre o homem e o meio ambiente. Ele busca conectar as causas (forças motrizes e pressões) aos efeitos ambientais (estado) e às atividades (políticas e decisões) que deram forma ao meio ambiente ao longo das últimas três décadas, bem como aos impactos que tais mudanças exercem atualmente nas pessoas. Inicialmente, a análise se dá por temas (aspectos socioeconômicos, terra, florestas, biodiversidade, água doce, zonas costeiras e marinhas, atmosfera, áreas urbanas e desastres), sendo a natureza holística do meio ambiente enfatizada quando necessário. Essas questões temáticas são, primeiramente, analisadas a partir do ponto de vista global e, posteriormen- te, a partir do nível regional GEO: África, Ásia e Pacífico, América Latina e Caribe, América do Norte, Ásia Ocidental e Regiões Polares. As seções globais enfatizam a maioria das principais questões de cada setor, indicando as tendências ao longo das últimas três décadas. A análise utiliza como referência a Conferência de Estocolmo de 1972, ao discutir a evolução das questões e a maneira pela qual a comunidade internacional vem tentando tratar esses problemas. No nível regional, cada região é identificada para fins de análise – por meio de diversos processos de consulta – com duas ou três questões-chave regionais para cada setor ou tema. Essas questões são discutidas nas páginas seguintes e encontram-se listadas na tabela contígua, a qual enfatiza as questões comuns às diferentes regiões, mostrando a natureza global das questões ambientais com as quais o mundo se depara atualmente. A tabela ainda identifica algumas diferenças regionais singulares que demandam respostas regionais também singulares. Ao longo de todo o relatório, as seções específicas de cada região, assim como os gráficos, possuem códigos de cor, para uma fácil identificação (ver a tabela com as cores de cada região). Quando apropriado, são fornecidas também análises com diferenciação sub-regional, e são apresentados exemplos nacionais para enfatizar determinados tipos de desenvolvimento. A finalidade precípua da avaliação política, sob o enfoque da avaliação integrada, é a identificação dos sucessos e das falhas no desenvolvimento de políticas ambientais, bem como a sua implantação como diretrizes para futuras iniciativas políticas. As análises são sustentadas por gráficos e outras ilustrações desenvolvidos por meio da utilização de dados especialmente compilados para o período de avaliação do GEO-3 nos últimos trinta anos. Os dados foram compilados a partir de diversas fontes, sendo, sempre que possível, posteriormente agregados em níveis nacionais, sub-regionais, regionais e globais, a fim de facilitar as comparações entre os diversos níveis. O Portal de Dados do GEO-3 trata de alguns dos dados inicialmente identificados no GEO-1, de 1997, a saber: harmonização de conjunto de dados nacionais e aquisição de conjuntos de dados mundiais. Este capítulo enfatiza a integração entre as regiões, entre a situação do meio ambiente e a política adotada, entre o passado e o futuro, entre áreas temáticas e entre os setores (por exemplo: ambiental, econômico, social e cultural). Tenta, ainda, analisar as políticas (respostas sociais) relativas a questões ambientais específicas, mostrando os impactos positivos e negativos de tais políticas sobre o meio ambi- ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 ente e como este pode induzir a políticas, tanto retrospectiva quanto pró-ativamente. Este capítulo trata, também, do impacto exercido pelas políticas dos setores público e privado, assim como pelas políticas regionais e globais, incluindo acordos ambientais multilaterais. A análise leva em consideração não somente a política ambiental, mas também os impactos de políticas gerais em relação a questões ambientais, tais como as tendências de uma política social e econômica mais ampla com repercussões ambientais. Outro componente importante deste capítulo é a utilização de imagens de satélite para ilustrar as mudanças ocorridas no meio ambiente nos últimos trinta anos. As imagens foram geradas pelo Landsat, que, coincidentemente, foi lançado em 1972 – o mesmo ano da Conferência de Estocolmo. As imagens do Landsat, localizadas em uma ou duas páginas ao final de cada seção, com a inscrição “O nosso meio ambiente em transformação”, salientam as mudanças ambientais em locais distintos de diversas regiões. 31 Nota: Esta tabela representa as duas ou três principais questões temáticas por região abordadas neste capítulo. Devido ao modelo DPSIR utilizado na análise, uma determinada questão pode estar coberta por dois ou mais temas. Por exemplo, a degradação florestal pode ser tratada como um importante agente causador de perda da biodiversidade em uma região, enquanto em outra pode constituir o principal motivo de preocupação. 32 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 UNEP, S. Yoh, Tophan Picturepoint Aspectos socioeconômicos Panorama mundial Nos últimos trinta anos, o mundo vem passando por uma mudança social, econômica, política e tecnológica sem precedentes. Esses componentes, quando interligados, proporcionam o cenário para a análise das mudanças verificadas no meio ambiente, ao longo desse período, tendo em vista podermos considerálos como os agentes mais influentes em termos de mudanças ambientais. Desenvolvimento humano Ganhos consideráveis ocorreram no campo do desenvolvimento humano, particularmente nos países em desenvolvimento: a renda e a linha de pobreza no que se refere a renda melhoraram, e as pessoas vivem mais, estão mais saudáveis, mais alfabetizadas e apresentam um nível de educação jamais registrado. A renda anual cresceu, em termos reais, vertiginosamen- te nos países em desenvolvimento: 13% na África (1972-1999), 72% na Ásia e Pacífico e 35% na América Latina e Caribe, tendo decrescido 6% na Ásia Ocidental (compilado de World Bank, 2001). Todavia, as taxas continuam desanimadoras no século XXI, com níveis altos de privação persistindo por todo o mundo. Aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas, ou um quinto da população mundial, ainda vivem em estado de extrema pobreza, com menos de um dólar por dia, e 2,8 bilhões de pessoas, ou quase metade da população mundial, vivem com menos de dois dólares por dia (UNDP, 2001). Três quartos dos que vivem em extrema pobreza situam-se em áreas rurais (IFAD, 2001), sendo a maioria mulheres. A pobreza não se limita aos países em desenvolvimento: mais de 130 milhões de pessoas que vivem nos países membros da OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (Organization for Economic Cooperation and Development) – são consideradas como de baixa renda (UNDP, 2001). ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 33 Progresso do desenvolvimento humano nos últimos trinta anos …têm um nível mais alto de alfabetização e são mais instruídas… pessoas taxa de taxa de expectativa de vida ao mortalidade mortalidade desnutridas 1975-99 de menores infantil nascer (milhões) de 5 anos 1970-99 1970-75 a 1970-99 (por 1.000 1995-2000 (milhões) nascidos vivos (anos) taxa de adultos alfabetizado 1970-2000 (estimativa, percentual) Os baixos níveis da saúde estão relacionados a fatores ambientais e à pobreza (WHO, 1997; Murray e Lopez, 1996). Os avanços médicos, os progressos nos serviços básicos de saúde e a implementação de políticas sociais resultaram em uma significativa elevação da expectativa de vida e em um marcante declínio nos índices de mortalidade infantil (UN, 2000). Em termos gerais, uma criança que nasce hoje em dia possui oito anos mais de expectativa de vida do que uma nascida há trinta anos (UNDP, 2001). Entretanto, os índices de pobreza tanto em áreas urbanas quanto nas rurais, assim como as principais doenças infecciÍndice de Desenvolvimento Humano IDH O IDH combina indicadores das dimensões básicas do desenvolvimento humano (longevidade, conhecimento e padrão decente de vida), no intuito de medir os avanços globais de cada país, os quais são classificados como de desenvolvimento alto, médio ou baixo. Entre 1975 e 1999, verificou-se um progresso global no desenvolvimento humano (ver tabela), demonstrando, dessa forma, o potencial para a erradicação da pobreza e o progressivo desenvolvimento humano para as próximas décadas. No entanto, 8 países em transição econômica e 12 outros, situados na África Subsaariana, sofreram retrocessos no mesmo período (ver “África” e “Europa”, neste capítulo). Estrutura em mudança do desenvolvimento humano (em milhões de pessoas) 1999 1975 Alto desenvolvimento humano Médio desenvolvimento humano Baixo desenvolvimento humano 650 1.600 1.100 650 1.600 1.100 Nota: o número de pessoas se refere somente aos países cujos dados sobre o período de 1975 a 1999 encontravam-se disponíveis; não representam, portanto, o número total da população. Fonte: UNDP, 2001 progresso …e têm rendas mais altas progresso progresso As pessoas vivem mais e com mais saúde… Educação primária Educação crianças fora secundária da escola 1970-2000 taxa bruta de matrícula (estimativa, 1970-97 (percentual) milhões) pobreza de renda renda (PIB/cap 1990-98 1975-1998 em 1985 PPP (percentual) US$ países em desenvolvimento osas, como HIV/AIDS, tuberculose e malária, constituem uma ameaça para os avanços obtidos na área da saúde ao longo das últimas décadas. Um enorme progresso também foi alcançado em termos de educação nos últimos trinta anos, e os índices de alfabetização em adultos saltaram de 63%, conforme estimativas de 1970, para 79% em 1998 (Unesco, 2000). No entanto, ainda havia 854 milhões de adultos analfabetos em 2000, dos quais 543 milhões eram mulheres (63,6%), e 325 milhões de crianças não tinham acesso à escola, sendo 56% desse total composto por meninas (UNDP, 2001). O avanço na educação (especialmente entre as mulheres), juntamente com a capacitação, é considerado um marco fundamental na redução da taxa de crescimento da população mundial, caindo de um pico anual de 2,1% no início da década de 1970 para 1,3% no ano 2000 (UN, 1997; UNFPA, 2001). Uma população em mudança A população mundial cresceu de aproximados 3,85 bilhões, em 1972, para 6,1 bilhões em meados do ano 2000 (ver gráfico na página seguinte), e cresce, atualmente, à taxa de 77 milhões ao ano (UNFPA, 2001). A maior parte desse crescimento concentra-se nas regiões em desenvolvimento, sendo aproximadamente dois terços na Ásia e no Pacífico. Seis países respondem por 50% do total do crescimento anual: Índia (21,1%), China (13,6%), Paquistão (4,8%), Nigéria (3,9%), Bangladesh (3,7%) e Indonésia (3,6%) (United Nations Population Division, 2001). Atualmente com 1,2 bilhão de pessoas, as regiões industrializadas têm expectativa de pouca mu- Os gráficos de barra à esquerda mostram que o progresso no desenvolvimento humano se deu em diversas frentes. Os dados sobre pobreza se referem à parcela da população que vive com menos de um dólar por dia. Fontes: FAO, 2000; UNDP, 2001; Unesco, 2000 34 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 População mundial (em milhões) por região, 1972-2000 Ásia Ocidental Ásia e Pacífico América do Norte África América Latina e Caribe Europa A população mundial atualmente está crescendo a um ritmo de 77 milhões por ano, sendo que dois terços do crescimento ocorrem na região da Ásia e Pacífico. Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001 dança para os próximos cinqüenta anos, ao passo que se projeta, para as regiões em desenvolvimento, um crescimento de 4,9 bilhões, em 2000, para 8,1 bilhões, em 2050 (United Nations Population Division, 2001). Essa diferença deve-se, principalmente, aos níveis de fertilidade. Os países menos desenvolvidos registraram a taxa de fertilidade de 3,1 crianças por mulher, no período compreendido entre 1995 e 2000, enquanto nos países desenvolvidos a taxa foi de 1,57 criança por mulher no mesmo período – bem abaixo Produto interno bruto per capita (US$ 1995/ano), 1972-99 África Europa Américado doNorte Norte América Ásia e Pacífico América Latina e Caribe Ásia Ocidental Apesar do crescimento econômico mundial, a diferença entre ricos e pobres tem se ampliado entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento; as rendas per capita aumentaram somente de forma marginal, exceto na Europa e na América do Norte. Fonte: compilado de World Bank, 2001 do nível de reposição de 2,1 crianças por mulher (UNFPA, 2001). A lacuna na expectativa de vida entre as regiões em desenvolvimento e as desenvolvidas foi reduzida de 22 anos, em 1960, para menos de 12 anos em 2000. Entre 1995 e 2000, a expectativa de vida nas regiões industrializadas era estimada em 75 anos, e em torno de 63 anos nas regiões em desenvolvimento (United Nations Population Division, 2001). Como a taxa mundial de fertilidade continua a regredir e a expectativa de vida a aumentar, a população mundial envelhecerá mais rapidamente nos próximos cinqüenta anos do que na última metade do século passado (United Nations Population Division, 2001). No entanto, o surgimento do HIV/AIDS na década de 1970 diminuiu a expectativa de vida na maioria dos países afetados, fazendo com que a doença seja, atualmente, a quarta maior causa de mortalidade no mundo. Mais de 60 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV desde a década de 1970, e 20 milhões de pessoas morreram. Dos 40 milhões de portadores do HIV em todo o mundo, 70% encontram-se na África Subsaariana, onde a AIDS é a maior causa de mortalidade (UNAIDS, 2001). Em comparação com a África, o impacto relativo da epidemia de HIV/AIDS é ainda incipiente na maioria das regiões do mundo. Houve notáveis movimentos populacionais nos últimos trinta anos devido à rápida urbanização, à migração internacional e aos movimentos de refugiados e desabrigados. O número de pessoas que vivem fora de seus países de origem aumentou de 84 milhões, em 1975, para um total estimado de 150 milhões de pessoas no final do século XX (UNDP, 1999; UNHCR, 2000). O número de refugiados aumentou de 2,7 milhões em 1972 para um pico de 18,3 milhões em 1992, estacionando em 11,7 milhões no final de 1999 (UNHCR, 2000). Em 2001, estimava-se que aproximadamente 22 milhões de pessoas consideradas como “preocupantes” tivessem classificadas como refugiadas, repatriadas e deslocadas em seus próprios países (UNHCR, 2001). A expectativa é de que as regiões mais desenvolvidas continuem a ser o maior destino dos processos migratórios internacionais, com um crescimento médio da ordem de 2 milhões ao ano nos próximos cinqüenta anos. Devido à baixa taxa de fertilidade nos países receptores, essas migrações exercerão um impacto significativo no crescimento demográfico das regiões desenvolvidas (United Nations Population Division, 2001). ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 35 Desenvolvimento econômico Tendências da produção e do consumo mundiais de energia Não obstante as significativas flutuações ocorridas, a economia mundial cresceu consideravelmente, em termos globais, nas últimas três décadas. O produto nacional bruto mundial cresceu mais que o dobro, passando de aproximadamente US$ 14,3 trilhões para aproximados US$ 29 trilhões e 995 bilhões em 1999 (Constanza e outros, 1999; World Bank, 2001). Essas cifras, contudo, não incluem os valores atribuídos aos bens e serviços ambientais, que, apesar de serem cruciais para os sistemas que dão suporte à vida na Terra e de contribuírem para o bem-estar do ser humano, estão à parte do mercado. O valor estimado desses serviços provenientes do ecossistema situa-se entre US$ 16 trilhões e US$ 54 trilhões ao ano, com uma média anual de US$ 33 trilhões. Tal estimativa deve ser considerada como mínima, devido à sua natureza variável (Constanza e outros, 1997). Tomando-se por base o PIB, a economia mundial cresceu 3,1% ao ano entre 1980 e 1990, e 2,5% anualmente entre 1990 e 1998, com taxas de renda per capita de 1,4% e 1,1%, respectivamente (UNCTAD, 2000). Houve, no entanto, variações regionais significativas nesse período, tendo a Ásia e o Pacífico, região que abriga mais da metade da população mundial, apresentado taxas de crescimento muito mais altas do que as demais regiões. O PIB per capita (em dólares constantes de 1995) quase dobrou na região noroeste do Pacífico e na Ásia Oriental, entre 1972 e 1999, com um crescimento médio anual de 2,4% (dados compilados a partir de World Bank, 2001); em contraste, diminuiu na África Subsaariana. Apesar desse crescimento global, a lacuna entre a população rica e a pobre aumentou, tanto entre países desenvolvidos e em desenvolvimento quanto dentro dos países, particularmente na América Latina e na África Subsaariana (UNDP, 2001). A renda per capita apresentou um crescimento apenas marginal na maioria das regiões, com exceção da Europa e da América do Norte (dados na página anterior). Atualmente, 3,5 bilhões de pessoas de países considerados como de baixa renda ganham menos que 20% da renda mundial, ao passo que 1 bilhão de pessoas que vivem em países desenvolvidos ganham 60% (UN, 2000). A relação entre a renda dos países onde vivem os 20% mais ricos da população do planeta e a dos países onde vivem os 20% mais pobres também aumentou – 30:1, em 1960; 60:1, em 1990; e 74:1, em 1997 (UNDP, 1999). A energia é de extrema importância para o desenvolvimento socioeconômico. É também fundamental para o alcance das metas econômicas, sociais e ambientais do desenvolvimento econômico sustentável. O aproveitamento da energia expandiu significativamente as opções da população, fazendo com que aqueles que dispõem de acesso à energia possam desfrutar de produtividade, mobilidade e conforto sem precedentes. Contudo, a utilização per capita da eletricidade evidencia uma enorme disparidade. A média anual da OCDE, de 8.053 kilowatts-hora (kWh) per capita, é aproximadamente cem vezes superior que a dos países menos desenvolvidos, onde é registrada uma média de somente 83 kWh per capita (UNDP/UNDESA/WEC, 2000). A taxa anual de crescimento mundial do uso de energia entre 1972 e 1999 foi de 2% em média, tendo sido registrado um decréscimo de 2,8% na década de 1970, de 1,5% nos anos 1980 e de 2,1%, na década de 1990 (IEA, 1999). Esse decréscimo se deu em virtude do fraco desenvolvimento econômico das economias européias em transição na década de 1990, agravadas, ainda, pela crise financeira mundial de 1997 e 1998 (UNDP /UNDESA/WEC, 2000). Os benefícios humanos advindos da produção e do consumo de energia produzem, com freqüência, um efeito negativo sobre o meio ambiente, o que, por sua vez, pode ameaçar a saúde humana e a qualidade de vida. Os impactos sobre a composição da atmosfera, o desflorestamento (com conseqüente erosão do solo e assoreamento de massas d'água), a eliminação de resíduos de combustíveis nucleares e acidentes ocasionais, como o de Chernobyl, são alguns dos problemas amplamente conhecidos. Em níveis mundiais, o consumo per capita mudou relativamente pouco nos últimos trinta anos, apesar de o consumo total ter crescido em torno de 70% no período de 1972 a 1999. Em termos regionais, o consumo per capita caiu na América do Norte, o maior consumidor, e cresceu consideravelmente na Ásia. A redução do consumo de energia de combustíveis fósseis nas áreas de alto consumo e a obtenção de um consumo mais equilibrado, dentro dos países e entre eles, são imperativos ambientais para o século XXI. Consumo per capita de energia (toneladas equivalentes de petróleo/ano) África Ásia e Pacífico Europa América Latina e Caribe Ásia Ocidental Média Mundial América do Norte Consumo total de energia (milhões de toneladas equivalentes de petróleo/ano) Ásia Ocidental Ásia e Pacífico América do Norte Europa África América Latina e Caribe Fonte: compilado de IEA ,1999 e United Nations Population Division, 2001 36 Esta é a imagem mais detalhada em cores reais da totalidade da Terra disponível em março de 2002. Observações da superfície terrestre, oceanos, mares congelados e nuvens, realizadas durante muitos meses, foram reunidas em um mosaico contínuo de cada quilômetro quadrado da superfície da Terra, à exceção da Antártida. Fonte: NASA – Imagem do Goddard Space Flight Center ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 O crescimento do uso de energia (ver box na página anterior) e de transporte é indicador de desenvolvimento econômico e exerce impactos severos no meio ambiente. O uso de veículos particulares tornou-se um hábito fortemente arraigado entre aqueles que dispõem de meios para tal. Desde a década de 1970, aproximadamente 16 milhões de novos veículos passaram a rodar, anualmente, pelas estradas mundo afora (UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 1998), sendo que os automóveis de passageiros representaram 15% do total do consumo global de energia (Jepma e outros, 1995). As desigualdades de renda também se refletem em disparidades semelhantes no consumo de bens materiais (ver “Pegadas Ecológicas”, na página ao lado). Estima-se que os 20% mais ricos da população mundial respondam por 86% de todo o consumo privado, ou seja, consomem 58% da energia mundial, 45% de toda a carne e peixes e 84% de todo o papel e possuem 87% da frota de automóveis e 74% de todos os telefones. Em contraste, os 20% mais pobres consomem 5%, ou menos, de cada um desses bens e serviços (UNDP, 1998). Para a maioria dos países em desenvolvimento, a pobreza, o desemprego e a baixa produtividade são os principais problemas. Em todos esses países, o setor informal emprega 37% da força de trabalho; na África, esse número salta para 45% (UNCHS, 2001). Na década de 1980, os Programas de Ajuste Estrutural – SAPs (Structural Adjustment Programmes) foram introduzidos pelo Banco Mundial no intuito de delinear os desajustes econômicos e aumentar a eficiência econômica por meio de reformas. Os SAPs causaram impactos de ordem Número de países conectados à Internet (em milhões) econômica, social e ambiental, incluindo efeitos negativos sobre a estabilidade social e a sustentabilidade ambiental (Reed, 1996). A pobreza, o desemprego e a queda dos padrões de vida também se apresentaram como problemas significativos para os países em transição econômica durante a década de 1990. A dívida externa, que alcançou US$ 2 trilhões 572 milhões e 614 mil em 1999, é também uma questão crítica (World Bank, 2001). A Iniciativa para os Países Pobres Muito Endividados – HIPCs (Heavily Indebted Poor Countries) teve início em 1996, e, em novembro de 2001, pacotes para a redução da dívida, totalizando US$ 36 bilhões, já haviam sido cometidos a 24 países, sendo a maioria na África (IMF, 2001). Todavia, tal iniciativa causou desapontamentos, e muitos países beneficiados com a amortização da dívida ainda despendem mais com o seu serviço do que com educação básica ou saúde (Oxfam, 2001). ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Número de usuários da Internet (em milhões) Países em desenvolvimento Países desenvolvidos 37 Usuários de telefonia fixa e móvel (em milhões) Fixa Móvel Os gráficos à esquerda mostram o crescimento explosivo do uso da Internet e de telefones móveis, mas, ainda no ano 2000, somente um quarto dos usuários da Internet pertenciam a países em desenvolvimento. Fonte: ITU, 2001 Ciência e tecnologia As maravilhas da ciência e da tecnologia proporcionaram ao homem padrões mais altos de saúde, uma vida mais longa, melhores empregos, melhor educação e uma existência mais confortável do que tudo que foi vivido por seus antepassados há cem anos. Comissão para o Estudo da Organização da Paz, 1972 Essa percepção da década de 1970 permanece válida ainda hoje. A ciência e a tecnologia propiciaram importantes avanços nos últimos trinta anos, por exemplo, nos campos da informação, da comunicação, da medicina, da nutrição, da agricultura, do desenvolvimento econômico e da biotecnologia. Quarenta e seis centros de inovação tecnológica foram identificados no mundo, principalmente na Europa e na América do Norte (Hillner, 2000). A tecnologia da informação e da comunicação – ICT (Information and Communications Technology), particularmente, tem revolucionado o modo como as pessoas vivem, são educadas, trabalham e interagem (Okinawa Center, 2000). A Internet, a telefonia celular e as redes de satélites diminuíram a noção de tempo e de espaço. A partir da metade da década de 1980, a tecnologia da comunicação via satélite deu início a um poderoso e novo meio de alcance global. A união de computadores e comunicação no início da década de 1990 desencadeou uma explosão de formas de comunicação, processamento, armazenamento e veiculação de uma imensa quantidade de informações. Em 2001, era possível transmitir uma maior quantidade de informação por um único cabo em um segundo do que a que em 1997 se podia enviar por toda a Internet em um mês (UNDP, 2001). Pegadas ecológicas As pegadas ecológicas são uma estimativa da pressão humana sobre os ecossistemas mundiais, expressas em “unidades de área”. Cada unidade corresponde ao número de hectares de terras biologicamente produtivas necessárias para produzir alimento e madeira necessários ao consumo humano e a infra-estrutura utilizada nessa produção e para absorver o CO2 produzido pela queima de combustíveis fósseis; em seguida, leva em consideração o impacto total causado ao meio ambiente. A pegada ecológica mundial é uma função do tamanho da população, do consumo per capita de recursos e da intensidade de recursos utilizada pela tecnologia empregada. Durante o período de 1970 a 1996, a pegada ecológica mundial cresceu de aproximados 11 bilhões de unidades de área para mais de 16 bilhões de unidades de área. A pegada média mundial permaneceu relativamente constante de 1985 a 1996, no patamar de 2,85 unidades de área per capita. Pegadas ecológicas regionais (1996, unidades de área per capita) África Ásia e Pacífico América Latina e Caribe Oriente Médio e Ásia Central Europa Central e Leste Europeu Europa Ocidental América do Norte Nota: nem todas as regiões correspondem exatamente às regiões GEO Fonte: WWF e outros, 2000 A ICT tem avançado rapidamente e vem apresentando enormes oportunidades para o desenvolvimento humano, ao tornar mais fácil para um número maior de pessoas o acesso às informações disponíveis em locais remotos, de maneira rápida e econômi- 38 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 “Somente por meio de um profundo envolvimento, da informação, do conhecimento, do compromisso e da ação das pessoas de todo o mundo os problemas ambientais poderão ser sanados. As leis e as instituições não são suficientes. A vontade das pessoas deve ser poderosa o suficiente, e insistente o suficiente, para que uma qualidade de vida efetivamente boa seja proporcionada a toda a humanidade.” — Comissão para o Estudo da Organização da Paz, 1972 Uma mão através do Muro de Berlim simboliza a queda da Cortina de Ferro na Europa, em 1989, um dos mais importantes eventos políticos das últimas três décadas. Fonte: UNEP, Joachim Kuhnke e Topham Picturepoint ca. Contudo, a difusão desigual da ICT significa que o acesso ao desenvolvimento tecnológico proporcionado pode ser vantajoso apenas para uma minoria. Atualmente, os usuários da Internet são predominantemente urbanos, e 79% deles vivem em países membros da OCDE, os quais contam com somente 14% da população mundial. Todavia, mesmo nos países em desenvolvimento, a utilização da Internet tem aumentado: por exemplo, na China, houve um salto de 3,9 milhões para 33 milhões de usuários, entre 1998 e 2002 (UNDP, 2001; CNNIC, 2002). A telefonia celular superou as restrições estruturais das linhas fixas, e o número de assinantes cresceu de pouco mais de 10 milhões em todo o mundo, no início da década de 1990, para mais de 725 milhões no início de 2001, o que representa um aparelho celular para cada oito habitantes do planeta (ITU, 2001). Além disso, novas tecnologias estão ajudando as pessoas a compreender melhor o meio ambiente. Em julho de 1972, o governo dos Estados Unidos lançou o primeiro satélite LANDSAT. Em 2002, o programa LANDSAT alcançou trinta anos de registros, o que significa o maior registro contínuo de dados nas superfícies continentais da Terra (USGS, 2001). Esse fato trouxe uma nova dimensão para o monitoramento e a avaliação ambiental, permitindo o rastreamento de mudanças, o controle de tendências e o aperfeiçoamento na emissão de alertas antecipados (ver imagem abaixo). Imagens geradas pelo LANDSAT podem ser encontradas nas páginas ao final de cada seção do Capítulo 2. Contudo, para alguns países em desenvolvimento, a tecnologia pode representar uma fonte de exclusão, em vez de uma ferramenta para o progresso. “A tecnologia é criada como uma resposta às pressões de mercado, não às necessidades das populações carentes, que possuem pequeno poder aquisitivo. Como resultado, as pesquisas negligenciam as oportunidades de desenvolver tecnologias para essas populações” (UNEP, 2001). Por exemplo, dos 1.223 novos medicamentos comercializados entre 1975 e 1996, somente 13 foram desenvolvidos com vistas ao tratamento de doenças tropicais (UNDP, 2001). Novas tecnologias também causam riscos imprevistos para a saúde humana e o meio ambiente: por exemplo, a redução da camada de ozônio devido ao uso de CFCs, o efeito colateral de medicamentos, o uso involuntário de novas tecnologias como armas, a poluição, as preocupações com os impactos causados por organismos geneticamente modificados e desastres tecnológicos como os ocorridos em Chernobyl e Bhopal. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Gestão pública A gestão pública é uma questão preponderante que se aplica a todos os níveis e setores da sociedade – do local ao global e dos setores público ao privado –, causando impactos sobre leis e direitos humanos, sobre os sistemas político, parlamentar, democrático e eleitoral, sobre a sociedade civil, sobre a paz e a segurança, sobre a administração e a informação públicas e sobre a mídia e o mundo organizado. Conseqüentemente, a consciência e a atenção em relação às questões públicas têm crescido em todos os aspectos da vida moderna, incluindo as questões ambientais. A gestão pública “eficiente” é reconhecida como um pré-requisito para o desenvolvimento de políticas saudáveis e, mais importante ainda, para assegurar que tais políticas sejam efetivamente implementadas. Os trintas anos que separam a Conferência de Estocolmo da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável testemunharam uma importante revisão dos sistemas políticos, incluindo a descolonização da África, o fim do apartheid na África do Sul, a queda da Cortina de Ferro, a reunificação da Alemanha e a desintegração da antiga União Soviética. Houve um abrupto aumento nas alianças econômicas e sociais, assim como no número de membros das Nações Unidas, que chegou a 190 em março de 2002. Talvez a maior mudança tenha ocorrido no nível nacional, onde a democracia e a transparência tornaram-se questões relevantes, particularmente na década de 1990, quando muitos governos foram substituídos em resposta à demanda popular. Nos últimos dez anos, mais de cem países em desenvolvimento e em transição puseram fim a regimes militares ou de um único partido (UNDP, 2001). Desde 1972, e principalmente na década de 1980, a internacionalização do meio ambiente vem merecendo uma posição de destaque em muitos dos países desenvolvidos, com os partidos verdes marcando as suas posições (Long, 2000). As três últimas décadas também presenciaram o crescimento massivo dos movimentos da sociedade civil em todas as regiões do globo, com muitas organizações desempenhando um papel mais próativo. As organizações não-governamentais estão crescentemente influenciando as decisões dos setores governamentais e privados e às vezes até participando delas. O poder do povo em influenciar políticas vem sendo reconhecido desde pelo menos a década de 1970. “Somente por meio de um profundo envolvimento, da informação, do conhecimento e do compromisso e da ação das pessoas de todo o mundo os problemas ambientais poderão ser sanados. As leis e as instituições não são suficientes. A vontade das pessoas deve ser poderosa o suficiente, e insistente o suficiente, para que uma qualidade de vida efetivamente boa seja proporcionada a toda a humanidade” (Commission to Study the Organization of Peace, 1972). A crescente integração das finanças, das economias, das culturas, das tecnologias e das administrações por meio da globalização causa impactos profundos, tanto positivos quanto negativos, sobre todos os aspectos das vidas das pessoas, bem como sobre o meio ambiente. O domínio que as forças do mercado começam a exercer sobre as esferas social, política e econômica resulta no perigo de que o poder e a riqueza concentrem-se em uma minoria, fazendo com que a maioria se torne crescentemente marginalizada e dependente. No século XXI, o desafio será instituir uma forma de governo forte o bastante para assegurar que a globalização opere em benefício da maioria das pessoas e não somente dos lucros. Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, panorama mundial CCNIC (2002). Semiannual Survey report on the Development of China’s Internet (January 2002). China Internet Network Information Center http://www.cnnic. net.cn/develst/rep200201-e.shtml IEA (1999). Energy Balances of OECD countries 1960– 97, Energy Balances of Non-OECD countries 1971–97. Paris, Organization of Economic Cooperation and Development, International Energy Agency Commission to Study the Organization of Peace (1972). The United Nations and the Human Environment – The Twenty-Second Report. New York, United Nations IFAD (2001). Rural Poverty Report 2001 – The Challenge of Ending Rural Poverty. Rome, International Fund for Agricultural Development http://www.ifad.org/poverty/ index.htm [Geo-2-270] Costanza, R., d’Arge, R., de Groot, R., Farber, S., Grasso, M., Hannon, B., Naeem, S., Limburg, K., Paruelo, J., O’Neill, R.V., Raskin, R., Sutton, P. and van den Belt, M. (1997). 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No entanto, a África entrou no século XXI enfrentando diversos desafios. 41 População (em milhões) por sub-região: África Oceano Índico Ocidental África Ocidental África Meridional Norte da África África Oriental África Central Desenvolvimento humano Dos 49 países africanos para os quais se dispõe de dados, 20 estão classificados como de médio índice de desenvolvimento humano e 29 como de baixo índice de desenvolvimento humano (UNDP, 2001). Em termos gerais, essas informações são traduzidas em: • • • baixa expectativa de vida: 52,5 anos, em contraste com a média mundial de 66,3 anos (United Nations Population Division, 2001); baixos níveis de educação e alfabetização: aproximadamente 60% de adultos alfabetizados em 1999, em contraste com a estimativa média mundial de 75% (compilado de UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 2000); e pobreza generalizada: PIB per capita (em dólares constantes de 1995) de US$ 749, em contraste com a média mundial de US$ 5.403 (World Bank, 2001a). As diferenças sub-regionais são mais marcantes entre o Norte da África, onde ocorreu um rápido progresso nos últimos trinta anos, e a África Subsaariana. Na primeira, a expectativa de vida aumentou em quatorze anos no período de 1970-1975 a 1995-2000. A África Subsaariana, contudo, experimentou um progresso lento, e doze países sofreram retrocessos em seus índices de desenvolvimento humano entre 1975 e 1999 (UNDP, 2001). Quase 350 milhões de pessoas, 44% da população total, vivem com um dólar ou menos ao dia (na Nigéria chega a 70% da população), e até 150 milhões de crianças vivem abaixo da linha de pobreza (ADB, 2000 e UNDP, 2001). A distribuição de renda é também altamente distorcida: os 10% mais carentes ganham menos que 5% do total, e os 10% mais ricos ganham de 25% a 45% desse mesmo total, dependendo do país (ADB, 2001). Há, ainda, uma grande desigualdade entre a condição social dos homens e a das mulheres; em muitas sociedades, as mulheres são proibidas de terem propriedades e terras. Em geral, ganham menos e não possuem representatividade em altos postos. As taxas de crescimento da população na África ainda são altas, 2,4% ao ano, se comparadas com a média mundial de 1,3%. Fonte: United Nations Population Division, 2001 O acesso aos serviços de saúde varia, mas geralmente situa-se abaixo da média mundial. O pequeno crescimento econômico e as pressões da população crescente sobre e estrutura existente têm contribuído com o baixo investimento no setor de saúde. Em 1998, os gastos per capita do governo com saúde (em relação ao poder aquisitivo) variaram de US$ 623 na África do Sul, o mais alto da região, a somente US$ 15 em Madagascar (UNDP, 2001). Uma população em mudança A África vem apresentando uma das mais altas taxas de crescimento demográfico dos últimos trinta anos; a taxa atual de 2,4% é bem mais alta que a média mundial de 1,3%. A população cresceu mais que o dobro, passando de 375 milhões, em 1972, para 794 milhões em 2000, cerca de 13% da população mundial. As taxas de fertilidade da África também estão entre as mais altas do mundo, embora em declínio: de 6,8 crianças por mulher no período de 1965 a 1970 para 5,4 crianças por mulher de 1995 a 2000 (United Nations Population Division, 2001). A pandemia de HIV/AIDS, que matou 2,3 milhões de pessoas na África, vem causando um impacto em todos os aspectos do desenvolvimento humano, social e econômico. O continente possui o mais alto índice de infecção e a maior proporção de portadores do vírus HIV (8,4% dos adultos) do mundo. Em 2001, eram 28,1 milhões de portadores do HIV na África Subsaariana – 70% do total mundial. Nos últimos vinte anos, a doença causou um impacto significativo na expectativa de vida da região. Em países como Botswana e Malawi, a 42 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 expectativa média de vida já se encontra abaixo dos 40 anos (UNAIDS, 2001). Os países do Norte da África são menos gravemente afetados. Não obstante ações louváveis por parte de vários países, estima-se que o impacto da AIDS sobre o desenvolvimento social, o crescimento econômico e os sistemas de saúde chegue a bilhões de dólares. Por exemplo, na África do Sul o impacto previsto deverá chegar a 0,4% do PIB no decorrer da próxima década (UNAIDS, 2000). O impacto sobre famílias, comunidades e sociedades é incalculável. Desenvolvimento econômico Enquanto o PIB per capita cresceu de forma estável desde 1972 no Norte da África, na África Subsaariana manteve-se estável ou diminuiu. Nota: os dados para a África Oriental anteriores a 1992 não são confiáveis. Fonte: estimativa do World Bank, 2001a As economias dos países africanos são amplamente baseadas em produtos primários ou na extração de recursos naturais, sendo ambos exportados sem nenhum processamento. Como resultado, o crescimento econômico situa-se abaixo do potencial da região, uma vez que o valor agregado ao processamento se acumula fora do continente, tornando as economias africanas extremamente vulneráveis às flutuações dos preços externos e às normas de comércio. A primeira crise do petróleo, em 1973-74, desencadeou diversos contratem- PIB per capita (US$ 1995) por sub-região: África África Central Norte da África África Ocidental África Oriental África Meridional Oceano Índico Ocidental Região pos e recessões econômicas que duraram mais de um quarto de século. A queda dos preços do café, do cacau e de outras culturas comercializáveis na década de 1980 produziu impactos catastróficos sobre as economias da região. Entre 1970 e 1995, a África perdeu metade de seus mercados, o que representou uma queda de receita da ordem de US$ 70 bilhões ao ano (Madavo, 2000). A dependência da África em relação à agricultura sem irrigação artificial significa que a produção é vulnerável às variações climáticas, o que pode afetar gravemente a segurança alimentar humana e as exportações. A ênfase na exploração mineral, nos cultivos de exportação e na extração madeireira também produziu impactos prejudiciais ao meio ambiente. Com a pressão adicional de uma população em crescimento, a África vem apresentando um fraco desempenho econômico nos últimos vinte e cinco anos. O PIB anual per capita na região subsaariana diminuiu 1% entre 1975 e 1999, e a renda também se reduziu (UNDP, 2001). No entanto, 34 países africanos registraram aumentos em suas rendas per capita entre 1994 e 1997, e 18 apresentaram uma taxa de crescimento agregado superior a 5% ao ano, o que representa o nível necessário para a redução dos níveis de pobreza (Madavo e Sarbib, 1998). Há especulações no sentido de que tais fatos possam estar sinalizando uma recuperação econômica sustentada, que, em parte, reflete os resultados positivos da implantação de reformas estruturais e do crescimento macroeconômico orientado (Madavo, 2000; Madavo e Sarbib, 1998). Desde a metade da década de 1990, verifica-se um processo de suspensão ampla do controle sobre os preços, de eliminação das associações de mercado, de racionalização das taxas de comércio, de liberalização dos mercados financeiros e de aceleração do processo de privatização (ADB, 2000). A dívida externa ainda é uma barreira significativa para o crescimento econômico e para a redução da pobreza na África. Na região como um todo, a dívida aumentou quase 22 vezes, saltando de US$ 16 bilhões e 960 milhões, em 1971, para US$ 370 bilhões e 727 milhões, em 1999 (World Bank, 2001a). Em 1970, os encargos da dívida da África Subsaariana totalizavam somente US$ 6 bilhões, ou 11% do PIB; esse valor aumentou para US$ 330 bilhões, ou 61% do PIB, em 1999 (ADB, 2000). Desde então, vem ocorrendo um pequeno declínio (World Bank, 2001b). No Norte da África, o crescimento da dívida externa seguiu padrão semelhante. Recentemente, tem-se dado mais ênfase à amortização da dívida e ao aumento do investimento externo direto (FDI – Foreing Direct Investiment). Embora vinte países africanos tenham sido contemplados com a aprovação de seus pacotes para a amortização da dívida, sob a égide da Iniciativa para os Países Pobres Muito Endividados (IMF, 2001), o endividamento permanece como uma questão muito preocupante. Ciência e tecnologia Quanto aos avanços tecnológicos, tanto a disseminação quanto o acesso e a adoção da ciência e tecnologia são incipientes no continente africano, em termos gerais. A região possui um grande número de países marginalizados (como Gana, Quênia, Moçambique, Senegal, Sudão e Tanzânia), onde uma vasta parcela da população não se beneficia sequer de antigas tecnologias, como, ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS por exemplo, linhas fixas de telefone. Todavia, a África possui vários países que costumam adotar de forma dinâmica novas tecnologias, tais como a Argélia, o Egito, a África do Sul, a Tunísia e o Zimbábue, muito embora a disseminação de antigas tecnologias ainda seja lenta e incompleta mesmo nesses países. A região possui dois centros de inovação tecnológica: El Ghazala, na Tunísia, e Gauteng, na África do Sul. No entanto, a maioria dos países africanos não está incluída no Índice de Avanços Tecnológicos – TAI (Technological Achievement Index), e, mesmo a África do Sul, que possui o mais alto índice entre os países do continente, apresenta um TAI de 0,340, ou seja, menos da metade do valor mais alto, de 0,744, apresentado pela Finlândia (UNDP, 2001). O acesso limitado a tecnologias adequadas a preços acessíveis reprime seriamente as opções de desenvolvimento sustentável. No setor agrícola, por exemplo, muitos países africanos dependem da irrigação e, no entanto, os sistemas mais eficientes de irrigação por gotejamento têm um custo muito alto para a maioria dos agricultores, o que resulta em desperdício de água. A África também permanece marginalizada no que diz respeito ao acesso à biotecnologia para produção agrícola, produtos farmacêuticos e prevenção de doenças. As empresas estrangeiras estão aptas a explorar comercialmente espécies biológicas, ao passo que as empresas locais não dispõem de tecnologia, de capital ou de know-how para tal investimento. Todos os países da região possuem conexões para acesso à Internet, com um total aproximado de 4 milhões de usuários (2,5 milhões na África do Sul) – ou um usuário para cada 200 habitantes, enquanto a média mundial é de um usuário para cada 30 habitantes (Jensen, 2001). A tecnologia de telefonia celular possibilitou à África superar as limitações estruturais inerentes às comunicações por linhas terrestres. Em 1990, o acesso à telefonia celular era pequeno, ou inexistente, para os países africanos; já em 1999, a tecnologia obteve uma enorme disseminação em todos os países – por exemplo, na África do Sul, a disponibilidade saltou de 0,1 por 1.000 habitantes para 132 por 1.000 habitantes (UNDP, 2001). Gestão pública Não obstante a ocorrência de significativas mudanças institucionais e políticas ao longo dos últimos trinta anos, a administração pública “eficiente” ainda é um aspecto parcial e frágil na África. A mudanças mais marcantes foram o fim do colonialismo, a instalação de regimes militares e de partido único na maioria dos países e o aumento da participação de ONGs, das comunidades de base e de organizações da sociedade civil. A corrupção, contudo, é endêmica em muitos países. Por exemplo, em uma escala de um a dez, 14 países da região obtiveram classificação abaixo de cinco no quesito índice de corrupção, sendo que 4 desses países obtiveram um escore inferior a dois (TI, 2001). A crescente escalada de conflitos civis também tem sido uma barreira para a estabilidade, o crescimento econômico e o desenvolvimento social nesses últimos trinta anos. Tais conflitos, tipicamente surgidos a partir de diferenças étnicas ou sociais, ou a partir da competição pelos recursos naturais, têm resultado em massivos deslocamentos de populações, bem como no desvio de recursos financeiros que deveriam contemplar setores vitais como a saúde e a educação. Aproximadamente um em cada cinco africanos ainda vive em estado de conflito civil (Madavo, 2000). Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, África ADB (2000). ADB Statistics Pocketbook 2001. African Development Bank http://www.afdb.org/knowledge/ publications/pdf statistics_pocket _book.pdf [Geo-2-281] ADB (2001). Human Development Indicators. African Development Bank http://www.afdb.org/knowledge/ statistics/statistics_indicators_selected /human/pdf/ human_tab3.pdf [Geo-2-282] IMF (2001). Debt Relief for Poor Countries (HIPC): What has Been Achieved? A Factsheet. International Monetary Fund http://www.imf.org/external/np/exr/ facts/povdebt.htm [Geo-2-283] Jensen, M. (2001). 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Washington DC, World Bank 43 44 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Aspectos socioeconômicos: Ásia e Pacífico A Ásia e o Pacífico ocupam 23% da superfície da Terra e abrigam mais de 58% da população mundial. Na região estão localizadas várias das maiores economias emergentes, como a China e os países do Sudeste Asiático. Nos últimos trinta anos, a região passou gradualmente de um estilo de vida de subsistência para a sociedade de consumo, com altas taxas de urbanização, ocidentalização e crescimento demográfico. Essa transição não ocorreu sem impactos sociais, econômicos e ambientais adversos. Desenvolvimento humano A numerosa população da Ásia e do Pacífico concentra-se em apenas três subregiões. Em termos gerais, a velocidade de crescimento diminuiu, alcançando a média mundial de 1,3% por ano. Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001 Dos 53 países da região, considera-se que 7 possuem alto nível de desenvolvimento humano, 21 nível médio e 5 nível baixo (os demais países, incluindo pequenas ilhas do Pacífico Sul, não possuem classificação). As sub-regiões do Noroeste do Pacífico e do Leste Asiático lograram um rápido e sustentado progresso na maioria das áreas do desenvolvimento humano, ao passo que o Sul da Ásia encontra-se em atraso, com níveis ainda altos de pobreza. O PIB per capita (em dólares de 1995) varia de US$ 506 no Sul da Ásia até US$ 4.794 no Noroeste do Pacífico e no Leste Asiático. A expectativa de vida ao nascer aumentou em toda a região, passando, no Sul da Ásia, de 50 anos, em 1970-1975, para mais de 60 anos, em 1995-2000. No Noroeste do Pacífico e no Leste Asiático, o aumento no mesmo período foi de aproximadamente 61 anos para cerca de 70 anos. As taxas de alfabetização em adultos também apresentaram crescimentos semelhantes, passando de 33% para 55% no Sul da Ásia, no período de 1972 a 1999, e de 55% para 84% no Noroeste do Pacífico e no Leste Asiático (World Bank, 2001). População (em milhões) por sub-região: Ásia e Pacífico Pacífico Sul Noroeste do Pacífico e Leste Asiático Sudeste da Ásia Austrália e Nova Zelândia Sul da Ásia Ásia Central Aproximadamente três quartos da população carente mundial vivem no continente asiático, sendo essa carência particularmente significativa na Índia, em Bangladesh, no Camboja, no Afeganistão, na República Democrática Popular do Laos, no Nepal e no Paquistão. No Sul da Ásia, 40% da população vive com menos de um dólar ao dia (UNDP, 2001). A carência, no entanto, não é determinada somente por fatores econômicos. Indicadores convencionais sugerem que muitas populações das ilhas do Pacífico encontram-se na linha de pobreza (UNESCAP, 1999) – no entanto, muitas comunidades ainda desfrutam de altos graus de subsistência, com base em sistemas nãomonetários tradicionais (UNEP, 1999). Para muitos países da região, a pobreza é o resultado de gritantes desigualdades e falhas institucionais que fazem com que os benefícios do crescimento econômico sejam usufruídos por uma elite minoritária. Além disso, a urbanização, a mudança para a economia de mercado e o alto crescimento demográfico, sem o devido crescimento do número de oportunidades de emprego, compõem o problema. O mesmo acontece com a exploração excessiva dos recursos naturais, que ameaça a viabilidade agrícola e a agricultura de subsistência (UNESCAP, 1999). Uma população em mudança A população da região cresceu de 2 bilhões e 173 milhões, em 1972, para 3 bilhões e 514 milhões, no ano 2000 (United Nations Population Division, 2001). As taxas de crescimento demográfico decresceram de 2,3%, em 1972, para 1,3% (igual à média mundial), em 2000, embora haja significativas variações sub-regionais. Isso pode ser, em parte, atribuído ao declínio dos níveis de fertilidade, que caíram de 5,1 para 2,1 crianças por mulher ao longo das três últimas décadas (United Nations Population Division, 2001). No entanto, alguns dos países mais populosos do mundo encontram-se na região, onde a China e a Índia respondem por 38% da população mundial. A região também abriga cinco dos seis países que, conjuntamente, respondem por metade do crescimento demográfico do mundo – Bangladesh, China, Índia, Indonésia e Paquistão (United Nations Population Division, 2001). O alto crescimento demográfico reflete-se nas estruturas populacionais da região. A maioria dos países tem população jovem; 30% da população asiática situa-se abaixo dos 15 anos de idade (United Nations Population Division, 2001). Embora isso possa ser visto como uma característica positiva, do ponto ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 45 de vista da maior disponibilidade de trabalhadores jovens, em algumas sub-regiões, especialmente nas ilhas do Pacífico, isso também tem significativas implicações socioeconômicas negativas, particularmente no que se refere ao alto índice de desemprego. Ademais, o grande número de jovens que entram na idade produtiva compõe o quadro de pressões exercidas pelo crescimento demográfico. Apesar dos ganhos em termos de expectativa de vida, estima-se que 7,1 milhões de pessoas sejam portadores do vírus HIV na Ásia e no Pacífico (quase 18% do total mundial). Aproximadamente 435 mil mortes e mais de um milhão de novos casos foram registrados (UNAIDS, 2001). Desenvolvimento econômico Nos últimos trinta anos, os países da região vêm se empenhando na busca do desenvolvimento econômico e de melhores padrões de vida. No entanto, as taxas de crescimento anual do PIB decresceram de um patamar máximo de 9,76%, em 1970, para 2,54%, em 1999, verificando-se uma queda de 1,04% em 1998, devido à crise econômica asiática (World Bank, 2001). Em termos globais, contudo, a renda per capita (em dólar de 1995) quase dobrou no Noroeste do Pacífico e no Leste Asiático, alcançando um crescimento médio de 2,4% ao ano entre 1972 e 1999 (ver gráfico na página seguinte). No Sul da Ásia, a taxa de crescimento também excedeu os 2% (compilado de World Bank, 2001). Entretanto, o crescimento foi muito lento nas ilhas do Pacífico, o que é coerente com estudos recentes que indicam um declínio geral dos padrões de vida nos países das ilhas do Pacífico (UNESCAP, 1999). A região da Ásia e Pacífico responde por 41,7% da dívida externa global, o que totaliza US$ 1 trilhão 73 bilhões e 977 milhões em 1999 – um encargo maior que o quíntuplo, se comparado aos US$ 189 bilhões e 968 milhões registrados em 1981 (World Bank, 2001). A estrutura econômica da região mudou substancialmente ao longo dos últimos trinta anos, com a diminuição da importância do setor agrícola e o crescimento do setor de serviços. Mesmo no Sul da Ásia, a contribuição da agricultura no PIB caiu de 39% em 1980 para 30% em 1995, enquanto a contribuição do setor de serviços aumentou de 35% para 41% (World Bank, 1997). Essas mudanças estruturais também se refletem no nível de empregos. Em 1960, 75% dos asiáticos eram empregados na agricultura. Em 1990, esse número caiu para aproximadamente 60%, enquanto a parcela da população que trabalha na indústria cresceu de 15% para 21% (ADB, 1997). Na sub-região do Pacífico, o estilo de vida mudou da subsistência para sociedades capitalistas baseadas em fundos financeiros de fomento. O padrão de vida para os moradores da região é relativamente alto, quando comparado ao de outros países em desenvolvimento. Contudo, existem algumas tendências preocupantes, com indicações de aumento de desemprego, particularmente entre jovens, altas taxas de abandono no ensino básico, baixa renda familiar e uma crescente incidência do uso de drogas e da criminalidade (SPC, 1998). Muitas das pequenas e remotas ilhas do Pacífico não possuem nenhum tipo de indústria, enquanto outros países da sub-região possuem pequenas indústrias de processamento de alimentos e bebidas, vestuário e montagem ou reparos de pequenos maquinários (UNEP, 1999). A economia agrícola tradicional da região da Ásia e Pacífico está perdendo terreno para o setor de serviços: no período de 1972 a 1999, a contribuição da agricultura com o PIB caiu de 23% para 16%, ao passo que a contribuição do setor de serviços cresceu de 43% para 50%. Fonte: UNEP, Topham Picturepoint 46 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 PIB per capita (US$ 1995) por sub-região: Ásia e Pacífico Austrália e Nova Zelândia Ásia Central Sudeste da Ásia Noroeste do Pacífico e Leste Asiático Sul da Ásia Pacífico Sul Região Embora a renda na Austrália e na Nova Zelândia seja gigantesca em comparação às outras subregiões, nestas houve um crescimento estável, exceto na Ásia Central e nas ilhas do Pacífico Sul. Nota: não se dispõe de dados anteriores a 1984 para a Ásia Central e anteriores a 1981 para o Sul da Ásia. Fonte: estimativa de World Bank, 2001a centros rurais de informação montados em Pondicherry, Índia, que permitem o acesso à Internet por meio de energia solar e elétrica e por meio de sistemas de comunicação sem fio ou fixos. Como resultado, agricultores e pescadores podem acessar tudo, desde informações do mercado a imagens de satélite. No entanto, somente 0,4% dos indianos utilizavam a Internet em 2001 (UNDP, 2001). Na China, a utilização da Internet cresceu quase dez vezes, de 3,9 milhões de usuários, em 1998, para mais de 33 milhões em janeiro de 2002 (UNDP, 2001; CCNIC 2002) – cifra que representa somente 2,75% da população total, enquanto mais da metade da população de Hong Kong tem acesso à Internet (UNDP, 2001). Na Índia, a indústria de informação e comunicação gerou aproximadamente US$ 7,7 bilhões em 1999, quinze vezes mais que em 1990, com quase US$ 4 bilhões em exportação (UNDP, 2001). As oportunidades de emprego e desenvolvimento econômico associadas oferecem potenciais significativos para a solução do problema da pobreza da região. Ciência e tecnologia Gestão pública A região conta com, no mínimo, dez centros de inovação tecnológica situados na Austrália, na China, na Índia, no Japão, na Malásia, na República da Coréia, em Cingapura e em Taiwan (Hillner, 2000). A Ásia responde por aproximadamente 30% dos gastos globais com pesquisa e desenvolvimento, metade dos quais corresponde somente ao Japão (Unesco, 2000). Em sintonia com o desenvolvimento em outras partes do mundo, a disseminação de novas tecnologias, tais como a Internet e a telefonia celular, vem ocorrendo em níveis sem precedentes, com impactos significativos nas vidas das pessoas e em algumas economias nacionais, como por exemplo, os O cenário otimista em relação ao futuro da Ásia, do início ao meio da década de 1990, foi eclipsado por recentes acontecimentos no Sudeste Asiático e na Coréia. A perda de confiança na região fez com que os seus líderes, a fim de evitar futuros retrocessos na atividade econômica, devotassem mais atenção à necessidade de uma administração eficiente e de um gerenciamento fiscal mais adaptável. Para que os países voltem a prosperar, os governos e as instituições devem fomentar os mercados novos e os que se encontram em crescimento, bem como implementar políticas que beneficiem simultaneamente a economia, o meio ambiente e a população. Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, Asia e Pacífico ADB (1992). Environment and Development: a Pacific Island Perspective. Manila, Asian Development Bank ADB (1997). Emerging Asia – Changes and Challenges. Manila, Asian Development Bank CCNIC (2002). Semiannual Survey Report on the Development of China’s Internet (January 2002). China Internet Network Information Center http://www. cnnic.net.cn/develst/rep200201-e.shtml [Geo-2-290] Hillner, J. (2000). Venture Capitals. Wired, 7 August 2000 SPC (1998). Pacific Island Populations. Noumea, Secretariat of the Pacific Community UNAIDS (2001). AIDS Epidemic Update; December 2001. Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS) - http://www.unaids.org/worldaidsday/2001/ Epiupdate2001/Epiupdate2001_en.pdf [Geo-2-291] UNDP (2001). Human Development Report 2001. Oxford and New York, Oxford University Press http://www. undp.org/hdr2001/completenew.pdf [Geo-2-289] UNEP (1999). Pacific Islands Environment Outlook. Nairobi, United Nations Environment Programme UNESCAP (1999). Survey of Pacific Island Economies. Port Vila, UNESCAP, Pacific Operations Centre UNESCO (2000). Facts and Figures 2000 – Science & Technology. UNESCO Institute for Statistics http:// www.uis.unesco.org/en/pub/pub0.htm [Geo-2-292] United Nations Population Division (2001). World Population Prospects 1950-2050 (The 2000 Revision). New York, United Nations - www.un.org/esa/ population/publications/wpp2000/wpp2000h.pdf [Geo2-204] World Bank (2001). World Development Indicators 2001. Washington DC, World Bank http://www.worldbank. org/data/wdi2001/pdfs/tab3_8.pdf [Geo-2-024] ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Aspectos socioeconômicos: Europa Os processos políticos, econômicos, sociais e industriais resultantes do fortalecimento e da expansão da União Européia (UE), bem como a transição de regimes de planejamento centralizado para sociedades mais abertas e baseadas na economia de mercado, constituem os avanços mais importantes ocorridos na Europa nos últimos trinta anos (ver box à direita). Essas mudanças produziram efeitos profundos no desenvolvimento dos vários países envolvidos, tanto nas sub-regiões quanto na região como um todo. Embora as três sub-regiões da Europa (Ocidental, Central e Leste) apresentem similaridades, existem diferenças em função de eventos recentes e históricos, que resultaram na heterogeneidade política, econômica e social da região. Após a queda do comunismo, no final da década de 1980, uma nova era de cooperação pan-européia, voltada às questões ambientais, teve início no âmbito da infra-estrutura do processo denominado como “Meio Ambiente para a Europa” – EfE (Environment for Europe). Essa ampla agenda política incluía a meta de apoiar e fortalecer a democratização, que gradualmente transformou países sob o regime do socialismo de estado em países pós-comunistas (ver box à direita). Todavia, durante os preparativos para a Convenção de Aarhus, na década de 1990, percebeu-se claramente que os direitos e a participação do povo permaneciam como um objetivo vago, tanto em muitas das democracias ocidentais já estabelecidas quanto na Europa Central e no Leste Europeu (REC, 1998). Desenvolvimento humano A Europa é uma região onde predominam níveis de desenvolvimento humano de alto a médio (UNDP, 2001). Entretanto, embora o nível global continue a aumentar gradualmente em toda a Europa Ocidental e em partes da Europa Central, muitos países do Leste Europeu têm, desde o início do processo de transição, sofrido diversos retrocessos, incluindo aumento nos níveis de carência relacionados exclusivamente à baixa renda. Tradicionalmente, a região apresenta altos índices de alfabetização em adultos, estimados em 95% em toda a região, embora essas taxas tendam a ser ligeiramente mais baixas em algumas partes do sul da Europa Ocidental (Unesco, 1998). Em vários países da Europa Central e do Leste Europeu (Moldávia, Romênia, Federação Russa e Ucrânia), metade, ou mais, da população possuía renda abaixo da linha de pobreza oficial, no período de 47 O crescimento da União Européia Para os dez países da Europa Central e do Leste Europeu que se candidataram a aderir à União Européia (Países Candidatos à adesão), a filiação significa um meio de alcançar a estabilidade após as mudanças resultantes do processo de transição por que passaram, assim como para acelerar o desenvolvimento econômico. Para todos os treze Países Candidatos, aderir a União Européia (UE) implica enormes desafios de ordem política e econômica, incluindo harmonização de legislações e instituições às exigências da UE. Tanto a UE quanto os Países Candidatos encontram-se em transição para formas mais sustentáveis de desenvolvimento, porém em estágios diferentes. Nota: no início de 2002, os Países Candidatos eram: Bulgária, Chipre, República Checa, Estônia, Hungria, Letônia, Malta, Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia e Turquia. Disponibilidade e acesso à informação ambiental A informação, a participação e o acesso à justiça são elementos essenciais a uma democracia verdadeiramente participativa. Esses temas, portanto, tornaram-se elementos centrais no processo do Meio Ambiente para a Europa EfE, resultando no endosso das Diretrizes de Sófia, em 1975; na adoção da Convenção sobre o Acesso à Informação e à Participação Pública nos Processos de Tomada de Decisões; e no Acesso à Justiça nas Questões Ambientais (Convenção de Aarhus), durante a Convenção Ministerial Européia sobre o Meio Ambiente, realizada em Aarhus, Dinamarca, em 1998. A Convenção de Aarhus baseava-se na noção de que o envolvimento público no processo de tomada de decisões, notadamente por intermédio das autoridades públicas, tende a melhorar a qualidade e a implementação das decisões finais. Ele garante o direito à informação, à participação e à justiça no contexto da proteção dos direitos das gerações presentes e futuras de viver em um ambiente adequado à sua saúde e ao seu bem-estar. 1989 a 1995 (UNDP, 1999a). O empobrecimento resulta em uma brutal queda nos salários reais e no PIB per capita, em altas taxas de inflação, assim como no aumento da desigualdade de rendas – inclusive entre homens e mulheres, sendo estas, geralmente, as primeiras a perderem os seus empregos. Os preços relativos também mudaram, sendo que os preços de bens e serviços necessários à população pobre geralmente aumentaram de forma mais rápida que outros (UN, 2000a). Embora o problema da baixa renda seja mais claramente disseminado e grave no Leste Europeu, o fenômeno não é desconhecido na Europa Ocidental, onde um número estimado em 17% da população da União Européia (exceto Finlândia e Suécia) ainda vive em situação de carência. A vulnerabilidade à carência é mais generalizada: 32% dos europeus passam por pelo menos um período anual de baixa renda a cada três anos, enquanto 7% vivem em estado de carência constante durante esse mesmo período (EC, 2001). Os custos humanos do processo de transição foram além da carência de renda. Em toda a Europa, a expectativa de vida aumentou no período de 1995 a 2000, se comparado ao período de 1975 a 1980, ou seja, de 70,3 48 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 População (em milhões) por sub-região: Europa Europa Ocidental Europa Central Leste Europeu A população da Europa aumentou em 100 milhões desde 1972, mas atualmente as taxas de fertilidade caíram a níveis inferiores aos necessários à estabilidade da população em muitos países. Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001 para 73,1 anos, respectivamente (ambos os sexos, dados compilados de United Nations Population Division, 2001). No entanto, em alguns países do Leste Europeu, a expectativa de vida decresceu durante o mesmo período, particularmente a dos homens – por exemplo, de 62 para 58 anos na Federação Russa e de 65 para 64 na Ucrânia (UNDP, 1999b). Além disso, em muitos países da Europa Central e do Leste Europeu (Bielo-Rússia, Estônia, Letônia, Federação Russa e Ucrânia), a relação de homens para mulheres encontra-se muito abaixo da PIB per capita (US$ 1995) por sub-região: Europa relação padrão. As causas dessa “questão dos homens desaparecidos” são múltiplas e complexas, mas se originam principalmente na falta de segurança humana: conflitos militares, saúde deficiente, desemprego, perda de pensões e corrupção, tudo isso resultando em desintegração social e baixa qualidade de vida (UNDP, 1999b). O desmantelamento do sistema social da era comunista também levou à desintegração social e a desigualdades na prestação de serviços sociais nos países da Europa Central e do Leste Europeu. Esse declínio foi associado à proliferação de fraudes, de negócios ilegais e do crime organizado (UNDP, 1999b). Em marcante contraste com as condições anteriores à transição, a população agora se encontra privada de proteção e segurança, estando freqüentemente à mercê de forças do crime organizado que surgiu em conluio com funcionários corruptos do governo. O aumento nos índices de criminalidade revela a fraqueza na autoridade do poder público e na aplicação das leis. Uma população em mudança A população da Europa aumentou em 100 milhões desde 1972, perfazendo um total de 818 milhões em 2000, o que corresponde a 13,5% da população mundial (ver gráfico). A mudança mais significativa que atualmente ocorre na maioria da região é o envelhecimento da população em virtude das baixas taxas de fertilidade e do aumento da expectativa de vida. As taxas de fertilidade caíram de 2,3 para 1,4 criança por mulher nos últimos trinta anos e situam-se abaixo de 1,1 criança por mulher na Armênia, na Bulgária e na Letônia, muito abaixo do índice de 2,1 crianças por mulher, necessário para manter estáveis os níveis populacionais (United Nations Population Division, 2001). Outra tendência que deve permanecer, e que representa um enorme desafio para a região, é a dos movimentos populacionais em toda a Europa. Esses movimentos estão relacionados tanto a conflitos (pessoas em busca de asilo, pessoas desalojadas e refugiados, incluindo migrações transitórias originárias dos países em desenvolvimento) quanto à busca por melhores remunerações (UNECE e outros, 1999; UNDP, 1999b). Desenvolvimento econômico Região Europa Central Leste Europeu Europa Ocidental Embora o PIB per capita tenha crescido de forma estável na Europa Ocidental, e, portanto, na região como um todo, há nítidos contrastes com os níveis de PIB per capita na Europa Central e no Leste Europeu. Nota: os dados para a Europa Central e para o Leste Europeu anteriores a 1989 não são confiáveis. Fonte: estimativas de World Bank, 2001 As economias da Europa Ocidental haviam se recuperado da recessão do início da década de 1990 e cresciam a taxas aproximadas de 2,5% ao ano, no final do ano 2000 (UN, 2000a). Um importante fator foi a criação do mercado único. Tendo iniciado com a criação do Sistema Monetário Europeu, em 1979, a conclusão do Mercado ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Comum Europeu se efetivou em 1993, e a União Monetária Européia tornou-se uma realidade para 300 milhões de pessoas nos 12 países da União Européia, com o lançamento do euro em 1º de janeiro de 2002. A moeda deverá ser um instrumento de estabilidade econômica e crescimento em toda a Europa, fortalecendo o crescimento econômico e a política de cooperação na região. O PIB per capita (calculado em dólares constantes de 1995) cresceu em níveis estáveis em toda a região, de aproximadamente US$ 9 mil em 1972 para uma média de US$ 13.500 em 1999 (ver gráfico na página ao lado). No entanto, existem diferenças sub-regionais importantes, com variações que vão desde US$ 25.441 na Europa Ocidental, em 1999, até US$ 3.139 na Europa Central e US$ 1.771 no Leste Europeu (compilado de World Bank, 2001). Entre 1980 e 1999, o PIB real decresceu em 14 países da Europa Central e do Leste Europeu, sendo que o decréscimo foi de mais de 50% em quatro países – Geórgia, Moldávia, Ucrânia e Iugoslávia (UN, 2000a). O consumo médio per capita aumentou em níveis estáveis na Europa Ocidental, ao ritmo médio de 2,3% ao ano nos últimos vinte e cinco anos (UN, 2000b). O consumo em alguns países da Europa Central e do Leste Europeu recentemente começou a crescer, à medida que parte da população obteve um aumento em seu poder de compra, particularmente na Polônia (com um aumento de 65% desde 1991), na Hungria e na Eslovênia (UN, 2000b). Ciência e tecnologia A Europa é líder em desenvolvimento e uso de tecnologias. A região possui, no mínimo, 19 centros de inovação tecnológica, liderados pela Suécia e pela Finlândia, com muitos países situados na vanguarda da produção de tecnologias de ponta. A Europa responde por cerca de 30% dos gastos globais com pesquisa e desenvolvimento, situando-se logo após a América do Norte e equiparando-se à região da Ásia e Pacífico (Unesco, 2001). O crescimento das tecnologias de informação e comunicação, particularmente da Internet, ligando milhões de lares e postos de trabalhos europeus é provavelmente o mais formidável avanço tecnológico ocorrido nos últimos trinta anos. O número de usuários da Internet cresceu 250% entre 1998 e 2000, passando de 539 em cada 10 mil habitantes para 1.366 em cada 10 mil habitantes (ITU, 2002), embora esses dados mascarem diferenças regionais distintas. A Agência Espacial Européia e o Canadá lançaram, no início de 2002, o satélite ambiental Envisat, com a finalidade de monitorar a saúde do planeta por meio da coleta de dados sobre mudanças ocorridas no solo, nos oceanos, nas calotas de gelo e na atmosfera da Terra. Consumo de energia na Europa Embora o consumo per capita de combustíveis fósseis tenha mudado significativamente em toda a Europa ao longo dos últimos trinta anos, isso se deu, em parte, devido ao crescimento negativo do consumo de energia nos países da Europa Central e do Leste Europeu, em função de sua reestruturação econômica. Na Europa Ocidental, contudo, o vínculo entre o crescimento econômico e a utilização de energia não foi quebrado (EEA, 2001). O consumo de energia per capita varia consideravelmente na Europa Ocidental, mas cresce na maioria dos países, à exceção da Alemanha, onde foi registrado um decréscimo de 5% entre 1987 e 1997. Embora o consumo per capita de energia seja freqüentemente mais baixo nos países do Leste Europeu e da Europa Central, se comparados aos da Europa Ocidental, a intensidade de energia é três vezes superior, ou mais, que a desta última (OECD, 1999). Isso ocorre devido à grande parcela demandada pela indústria pesada, a tecnologias obsoletas e à baixa eficiência no uso da energia. Mudanças atuais e futuras na atividade industrial acarretarão importantes implicações no vínculo entre a utilização de energia e o crescimento econômico. A substituição de tecnologias obsoletas por tecnologias modernas e limpas proporcionará um grande potencial para o desenvolvimento sustentável. Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, Europa EC (2001). Consultation paper for the preparation of an EU Strategy for Sustainable Development. UN (2000a). Economic Survey of Europe 2000 No.1. New York and Geneva, United Nations UNESCO (1999). World Education Indicators 1998, on CDROM. UNESCO Division of Statistics, Paris, 1999. COM (2001). 264-final. Brussels, European Commission UN (2000b). Economic Survey of Europe 2000 No.2/3. New York and Geneva, United Nations UNESCO (2001). Facts and Figures 2000. Paris, UNESCO Institute for Statistics http://www.uis.unesco.org/ en/pub/pub0.htm [Geo-2-292] EEA (2001). Environmental Signals 2001. Copenhagen, European Environment Agency ITU (2002). ICT Free Statistics Home Page: Internet Indicators by Country for 1998 and 2000. International Telecommunication Union http://www.itu.int/ITU-D/ict/ statistics [Geo-2-293] OECD (1999). Environment in the Transition to a Market Economy. Progress in CEE and NIS. Paris, Organization for Economic Cooperation and Development REC (1998). 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Desenvolvimento humano Embora a população da região tenha crescido 74% durante o período de 1972 a 2000, a taxa de crescimento caiu de 2,48% para 1,52% ao ano durante o mesmo período. Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001 Seis dos 46 países da região (Argentina, Bahamas, Barbados, Chile, Costa Rica e Uruguai) estão classificados como de alto índice de desenvolvimento humano. A maioria dos demais países da região situa-se no grupo de médio índice de desenvolvimento humano, e somente o Haiti é classificado no grupo de baixo índice de desenvolvimento humano (UNDP, 2001). A pobreza é generalizada. Estima-se que aproximadamente 200 milhões de pessoas, ou 40% da população da região, vivam em condições de pobreza (IADB, 2000; ECLAC, 2000). A incidência de pobreza é mais alta nas áreas rurais, mas o número de pessoas pobres é maior nas áreas urbanas. Quase metade da população pobre é composta de crianças ou jovens. A expectativa de vida cresceu de 65,8 anos para 72,5 anos entre 1970 e 2000, sendo registradas importantes diferenças nacionais e subnacionais que se relacionam com os níveis de renda per capita (PAHO, 1998). A expectativa de vida é mais alta no Caribe (74 anos) e na América do Sul (73,5 anos), embora existam variações sub-regionais: a expectativa de vida em Cuba e em Porto Rico é de 20 anos mais do que no Haiti e é 10 anos mais alta na Venezuela e na Colômbia do que na População (em milhões) por sub-região: América Latina e Caribe América do Sul Bolívia. Apesar disso, todos os países, exceto o Haiti, superam a meta de expectativa de 60 anos proposta para a região, em 1977, como parte da Estratégia Mundial de Saúde para Todos no Ano 2000 (PAHO, 1998). Programas de saúde mais eficientes também reduziram as taxas de mortalidade infantil significativamente, de 81,6 por 1.000 nascimentos em 1970, para 35,5 por 1.000 nascimentos em 1995 (World Bank, 1999). A educação também apresentou avanços nas duas últimas décadas. A taxa de alfabetização em adultos é geralmente alta, próxima a 88% em 1999 (UNDP, 2001), o que representa um salto quando comparada aos 77% registrados em 1980 (UNEP/OD, 2001). No entanto, o alto índice de má distribuição de renda, presente em toda a região, se reflete nas desigualdades de acesso à escola e nos níveis de assistência e desempenho escolar (UIS, 2001). A violência, incluindo o homicídio, cresce em toda a região, especialmente na Colômbia e no Brasil. Ademais, a violência familiar vem aumentando, particularmente contra mulheres e crianças. Estima-se que quase metade das mulheres da América Latina já passou por, pelo menos, um episódio de violência em suas vidas (ECLAC, 2000). Mais recentemente, a região, em sua totalidade, tem rumado no sentido da paz, à exceção de alguns poucos conflitos como o que envolveu Peru e Equador na década de 1990. Uma população em mudança A população da região aumentou aproximadamente 74%, de 299 milhões em 1972 para aproximadamente 519 milhões no ano 2000. Entretanto, a taxa anual de crescimento demográfico caiu de 2,48% para 1,52% no mesmo período, em grande parte devido às mudanças nos padrões de natalidade. As taxas de fertilidade diminuíram à metade, de 5,6 crianças por mulher, em 1970, para 2,7 crianças por mulher, em 1999. As taxas mais altas de crescimento demográfico são registradas na América Central, com 1,78%, e as mais baixas no Caribe, com 1,04% (United Nations Population Division, 2001). América Central Caribe Desenvolvimento econômico O crescimento econômico tem flutuado na região nas últimas três décadas, variando de um pico de 8,4% ao ano em 1973 a um mínimo de -2,2% ao ano em 1983 (World Bank, 2001). Conseqüentemente, o PIB per capita cresceu a uma média de somente 1,0% ao ano, de US$ 2.827 em 1972 para US$ 3.819 em 1999 (World Bank, 2001), embora alguns países tenham obtido desempenho melhor que outros. No Chile, por exemplo, o PIB per capita cresceu mais que o dobro, passando de US$ 2.360 para US$ ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 5.121, enquanto na Nicarágua diminuiu quase à metade, de US$ 917 para US$ 472 (World Bank, 2001). O crescimento registrado na década de 1990 foi possível por meio de importantes reformas econômicas, particularmente no que concerne à liberalização do comércio e dos investimentos. Processos de integração, incluindo acordos de livre comércio e união aduaneira – como o Acordo de Livre Comércio da América do Norte – NAFTA, o Pacto Andino, o Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, a Comunidade e Mercado Comum do Caribe – CARICOM e o Mercado Comum da América Central – começaram a produzir benefícios. Por exemplo, as exportações da Comunidade Andina cresceram, em termos de valores, 37% em 2000, e as exportações intraregionais aumentaram 29%. Do mesmo modo, o comércio intra-regional nos países do MERCOSUL cresceu 21%, e do NAFTA teve aumento de 20% (IADB, 2000). Todavia, à exceção de alguns países como o Chile, a maioria não logrou retomar o vigor econômico da década de 1980, e, em termos globais, a região obteve somente um crescimento econômico modesto nos últimos trinta anos. As exportações permanecem amplamente baseadas em mercadorias e produtos primários, sobretudo petróleo e seus derivados, minerais, agricultura e produtos florestais e afins. Desse modo, a tradicional vulnerabilidade e a dependência externa da região têm aumentado devido à natureza não-sustentável dessas atividades, em termos tanto de acesso a mercados quanto de disponibilidade, a longo prazo, dos recursos naturais (UNEP, 2000). Em muitos países, as importações continuam a crescer mais rapidamente que as exportações (ECLAC e UNEP, 2001). O consumo per capita de energia aumentou de aproximadamente de 0,7 para 0,9 tonelada equivalente de petróleo no período de 1972 a 1999, em contraste com a média mundial de 1,1 tonelada equivalente de petróleo (IEA, 1999; United Nations Population Division, 2001). Os encargos da dívida externa da região cresceram brutalmente (21 vezes): de US$ 46 bilhões e 251 milhões em 1971 para US$ 982 bilhões e 32 milhões em 1999, representando 38% do total mundial (World Bank, 2001). Os governos começaram a contrair níveis insustentáveis de dívida na década de 1970, com conseqüências devastadoras para as economias da região nas décadas que se seguiram. Na década de 1980, a alta nas taxas de juros nos Estados Unidos e na Europa Ocidental elevou o serviço das dívidas, ao mesmo tempo em que os esforços para reduzir a inflação causada pela recessão reduziram as receitas com as quais seriam pagos os serviços das dívidas. A hiperinflação se fez presente em muitos países, notadamente no Brasil e na Argentina, na medida em que os governos recorriam à impressão de dinheiro novo. A década de 1990 assistiu ao 51 PIB per capita (US$ 1995/ano): América Latina e Caribe América Central América do Sul Região Para a região como um todo, a média de crescimento do PIB per capita foi de somente 1,0% ao ano durante o período de 1972 a 1999. Nota: não se dispõe de dados confiáveis para a região do Caribe. Fonte: estimativa de World Bank, 2001 acúmulo de grandes desequilíbrios macroeconômicos que levaram a severas crises no México, em 1995, no Brasil, em 1998 (ECLAC e UNEP, 2001), e, mais recentemente, na Argentina, em 2001 e 2002. Sozinha, a Argentina possui uma dívida de US$ 147 bilhões e 880 milhões, ou 18% do total da região. Alguns países, como a Bolívia e a Guiana, qualificaram-se para negociar a amortização de suas dívidas conforme a Iniciativa para os Países Pobres Muito Endividados – HIPC (World Bank, 2001). Em 1999, a taxa de desemprego da região chegou a 8,8%, o nível mais alto da década (ECLAC e UNEP, 2001), semelhante à taxa registrada no auge da crise da dívida, na década de 1980. À exceção do Chile e do Desequilíbrios no desenvolvimento social O nível de desigualdade de distribuição de renda da região é o mais alto do mundo e continua a crescer em todas as sub-regiões. Em toda a região, o salário mínimo registrado foi, em média, 28% mais baixo em 1998 que em 1980. A reduzida capacidade de criação de empregos das economias da região e o fato de os que possuem nível universitário se beneficiarem mais da crescente demanda por trabalho estão entre as supostas razões para a contínua concentração de renda, muito embora o debate acerca dessa situação ainda continue. A situação em relação à distribuição de terras reflete uma tendência semelhante, como, por exemplo, uma alta concentração de propriedade de terras no Chile, no México e no Paraguai. A desigualdade no acesso a esse recurso básico por parte da população rural constitui uma fonte de tensão social. Muitos conflitos aconteceram durante a década de 1990 devido a problemas relacionados com a posse de terras e altos níveis de pobreza nas zonas rurais. A fim de resolver essa questão, o governo da Costa Rica redistribuiu quase 2 milhões de hectares (aproximadamente um terço da área total do país), por meio de programas de distribuição, aquisição e assentamento de títulos de propriedade de terras em grande escala. O “acordo de paz” de El Salvador deu lugar à reforma agrária e a um programa de transferência de propriedades de terras (atualmente, em El Salvador, 75,1% das terras são ocupadas por seus proprietários). Fonte: ECLAC e UNEP (2001) 52 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 A difusão das comunicações no período 1980-1998 (unidade/1.000 pessoas) Linhas telefônicas Jornais de circulação diária Estações de rádio 1998 1980 1998 1980 1998 América Central América do Sul Caribe 86,2 23,0 35,8 120,62 27,4 52,9 54,8 48,9 37,9 54,7 46,9 23,7 181,4 305,1 361,4 295,7 457,8 520,3 Região 36,7 139,6 45,7 37,3 293,1 442,7 1980 Fonte: World Bank, 2000 Panamá, o número de pessoas que trabalham no setor informal da economia cresceu em muitos países, enquanto as taxas de desemprego aumentaram. Na década de 1990, sete em cada dez empregos gerados nas cidades da região foram no setor informal. Tais empregos se caracterizam por serem não permanentes, não regulamentados e sem o amparo de qualquer forma de seguridade social (ECLAC e UNEP, 2001). O único desenvolvimento positivo, em termos de tendências relacionadas à força de trabalho, foi o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho. Em 1980, pouco mais de um quarto da força de trabalho era composta por mulheres nas Américas Central e do Sul, e, em 1997, as mulheres perfaziam um terço da força de trabalho na América Central e quase dois quintos na América do Sul. No Caribe, onde a participação feminina tem sido mais alta que no resto da região, esse número chegou a 43% em 1997 (ECLAC e UNEP, 2001). Nas duas últimas décadas, os aumentos registrados foram mais altos do que em qualquer outra região do mundo. Ciência e tecnologia As formas tradicionais de informação e tecnologia continuam sendo disseminadas na região, com um grande aumento na distribuição de telefones e rádios em todas as sub-regiões, ao longo das duas últimas décadas (ver tabela). Houve também um aumento no uso de telefones celulares e computadores, com crescimento superior a 30% ao ano no uso da Internet na América Latina (UNDP, 2001). O Brasil é um dos maiores usuários de telefonia celular, com mais de 23 milhões de assinantes em 2000; as linhas celulares superaram as linhas fixas em vários países, como o México, o Paraguai e a Venezuela (ITU, 2001). Com 8,6% da população mundial, a região possui 2,7% da comunidade científica e produziu aproximadamente 2,5% das publicações científicas de 1998. O Brasil é considerado o país mais bem-sucedido em termos científicos e tecnológicos, com investimento de 1% do seu PIB em pesquisas e desenvolvimento científico, enquanto a média regional situa-se no patamar de 0,53% (Massarani, 2001). Gestão pública Dois importantes avanços políticos marcaram a região nas duas últimas décadas. O primeiro foi a transição das ditaduras militares para governos democráticos. Atualmente, todos os países ou possuem um governo democrático eleito pelo povo ou encontram-se em processo de democratização. O processo de democratização proporcionou um progresso mais acelerado, no passado recente, devido ao fortalecimento de governos estaduais e municipais, à reforma do sistema judiciário e à privatização de grandes empresas estatais. O segundo avanço se deve à participação da sociedade civil na criação de instituições civis, tais como as organizações não-governamentais. O aumento da liberdade resultou em uma maior consciência em relação ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, embora essas questões devam ainda ser plenamente integradas ao processo político de tomada de decisões. Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, América Latina e Caribe ECLAC (2000). Social Panorama of Latin America 19992000. Santiago, United Nations Economic Commission for Latin America and the Caribbean ECLAC and UNEP (2001). 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Washington DC, World Bank ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Aspectos socioeconômicos: América do Norte As últimas três décadas do século XX trouxeram crescente abundância e poder para a América do Norte. Os norte-americanos não somente vivem mais, em sociedades crescentemente diversas, como a sua produção de riqueza material e o seu consumo de bens também se encontram entre os mais altos do mundo. O capital norte-americano, a sua tecnologia e seus bens materiais impulsionam a globalização, uma tendência característica do terceiro milênio que implica oportunidades e riscos sem precedentes. Desenvolvimento humano Tomando por base o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, a região tem provavelmente o mais alto nível de desenvolvimento humano do planeta. Com o Canadá classificado como o terceiro país de maior índice no mundo e os Estados Unidos na sexta colocação, a região possui um IDH médio de 0,935, enquanto os países de maior renda da OCDE apresentam um índice médio de 0,928 (UNDP, 2001). Apesar disso, a pobreza não é desconhecida na América do Norte. Na última década, as taxas de pobreza diminuíram nos Estados Unidos, mas aumentaram no Canadá. Embora continuem os debates sobre a definição, a medida e, ainda, a extensão da pobreza, os dados mostram claramente que alguns grupos sociais são mais vulneráveis que outros. Os povos autóctones, algumas minorias, pais solteiros ou separados e crianças são mais propensos a serem afetados pela pobreza (Ross, Scott e Smith, 2000; Dalaker, 2001). Uma população em mudança Em contraste com outros países industrializados, particularmente os da Europa, a população da América do Norte continua a crescer, embora as taxas de crescimento tenham permanecido constantes em aproximadamente 1% nas últimas três décadas, com a participação da região na população mundial tendo decrescido levemente de 6,2% para 5,2% (aproximadamente 314 milhões) no ano 2000 (United Nations Population Division, 2001). Embora as taxas de crescimento sejam baixas, há um contínuo processo migratório, principalmente a partir da América Latina, do Caribe e da região da Ásia e Pacífico, o que resulta em uma população mais diversificada na região (Blank, 2001). A população está envelhecendo (ver gráficos página 54). As pessoas com 60 anos ou mais repre- sentavam 14% da população em 1970 e 16% em 2000. Estima-se que, em 2025, a população de idosos seja de 25% do total da população (United Nations Population Division, 1998). Esse gradual envelhecimento da população é o resultado do declínio das taxas de crescimento, do aumento da expectativa de vida e do envelhecimento da geração do pós-guerra. Essa tendência traz implicações para os sistemas de seguridade social e para os fluxos financeiros globais, tendo em vista que, à medida que as pessoas se aposentam, elas deixam de poupar para começar a utilizar os ativos que acumularam ao longo dos anos. Desenvolvimento econômico Desde 1972, a América do Norte vem passando por uma grande integração regional, com crescente atividade econômica e uma gradual mudança rumo ao setor de serviços. Algumas empresas americanas tornaram-se efetivamente transnacionais e têm investido pesadamente em economias emergentes, influenciando significativamente os padrões de desenvolvimento em diversas regiões do globo. Não obstante os retrocessos ocorridos nos últimos trinta anos, a América do Norte fortaleceu o seu papel como propulsora da mudança da economia mundial (Blank, 2001). As preocupações acerca da vulnerabilidade do setor elétrico desapareceram totalmente na medida em que às crises do petróleo, de 1973 e 1979, sobrevieram a reestruturação da economia e o crescimento do setor de serviços (ver gráfico). Com a conclusão do acordo de livre comércio e a emergência da biotecnologia e de novas tecnologias de comunicação, muitas economias da região experimentaram altíssimos índices de crescimento na década de 1990, para, posteriormente, no ano 2000, experimentar uma enorme queda, abalando os mercados de capitais. Estima-se que, em 2001, os 285 milhões de habitantes dos Estados Unidos (incluindo 135 milhões de trabalhadores) tenham produzido um PIB de aproximadamente US$ 10 trilhões; no Canadá, 31 milhões de habitantes (incluindo 15 milhões de trabalhadores) produziram um PIB de US$ 670 bilhões (US Department of Commerce, 2002; US Census Bureau, 2002; US Department of Labor, 2002; Statistics Canada, 2002). A América do Norte não somente lidera a produção econômica mundial como é também o maior consumidor. O consumo privado per capita da região é aproximadamente cinco vezes maior que a média mundial, tendo crescido de US$ 11.461, em 1972, para US$ 18.167, em 1997; a média mundial é de US$ 2.315 e de US$ 3.257, respectivamente (World Bank 2001, dados expressos em dólares constantes de 1995). 53 54 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 PIB per capita (US$ 1995/ano), com a participação do setor de serviços: América do Norte PIB per capita Participação do setor de serviços O PIB per capita cresceu vigorosamente na América do Norte nas três últimas décadas, e a participação do setor de serviços aumentou de 63% para 72% no período 1972-1997. Fonte: World Bank, 2000 Não obstante representem somente 5% da população mundial, os Estados Unidos e o Canadá consomem aproximadamente 25% do total mundial de energia (IES, 2002). E, embora haja evidências de uma leve desvinculação entre o uso de energia e o crescimento econômico, o uso per capita de energia permaneceu consistentemente mais alto que em qualquer outra parte do globo (Mathews e Hammond, 1999). O uso de veículos particulares continua a crescer, enquanto a utilização dos transportes públicos permanece constante, em termos gerais (ver “Áreas urbanas”). Ciência e tecnologia Nas últimas três décadas, a região vem exercendo a liderança mundial em inovações científicas e tecnológicas. A América do Norte possui 14 centros de inovação tecnológica, sendo 13 nos Esta- dos Unidos e 1 no Canadá, e 38% dos gastos mundiais com pesquisa e desenvolvimento se originam na região, com uma participação preponderante dos Estados Unidos (Unesco, 2001). Uma crescente proporção desses investimentos vem do setor privado, dos quais 67% dos Estados Unidos e 45% do Canadá. O capital de risco continua sendo uma fonte particularmente importante de financiamento de novas empresas produtoras de tecnologia, particularmente dos setores de informação, comunicação e biotecnologia. Os gastos com educação superior, da ordem de US$ 19 mil/estudante/ano nos Estados Unidos e US$ 14,5 mil/estudante/ano no Canadá, em 1998, situam-se entre os mais altos do mundo. A região também atrai um grande número de cientistas estrangeiros (OECD, 2001a). Em 1995, os Estados Unidos foram responsáveis por 34,8% de todas as patentes registradas. O país publica um grande número de trabalhos científicos per capita, assim como o Canadá. A América do Norte é uma vigorosa difusora de tecnologias de informação e comunicações, que se constituem em bens de extrema importância para as economias baseadas no conhecimento. O acesso a computadores e à Internet encontra-se entre os mais altos do mundo, e as taxas de acesso continuam a crescer. Os Estados Unidos são o maior mercado mundial da Internet, com quase 100 milhões de usuários regulares no início de 2001. Eram, também, os líderes mundiais no mercado de telefonia celular, com aproximadamente 110 milhões de usuários em 2000, número em vias de ser brevemente superado pela China (ITU, 2001). A produtividade multifatorial, ou a eficiência no emprego do capital e do trabalho no processo produtivo, aumentou rapidamente tanto no Canadá quanto nos Estados Unidos, durante a segunda metade da década de 1990 (OECD, 2001b). Pirâmide de população em 1990 e 2000: Estados Unidos mais de anos Mulheres Homens As pirâmides demográficas para os Estados Unidos mostram claramente uma tendência ao envelhecimento, mesmo que para uma única década, 1990-2000 Fonte: US Census menos de Bureau, 2002 anos percentual percentual ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Gestão pública Na medida em que o mundo caminha rumo à integração global, o poder político, fiscal e administrativo migra progressivamente para os estados e as províncias da América do Norte, resultando em uma estrutura corporativa mais “linear” e em processos de tomada de decisões mais descentralizados. Ao mesmo tempo, as organizações não-governamentais surgiram como novos e importantes atores sociais, muitas delas com uma limitada estrutura formal de autoridade. Contudo, essa crescente interdependência também expôs a região a novos riscos relacionados a eventos que ocorrem em outras partes do mundo. Os atentados de 11 de setembro de 2001 demonstraram não somente tal interdependência, como também a exposição, a vulnerabilidade e a necessidade de conhecer melhor as principais forças atuantes no cenário mundial. A proteção dos interesses e investimentos da economia americana passou a integrar o conceito de segurança nacional (IIP, 2001). Os protestos contra a liberalização do comércio, ocorridos em Seattle, 1999, e em Quebec, 2001, evidenciaram a crescente ansiedade da população com a globalização, os valores ambientais, o comércio e os direitos trabalhistas. Paralelamente, a tendência no sentido de uma maior responsabilidade e transparência por parte das empresas gera possíveis e importantes implicações no que tange à regulamentação e ao compromisso da sociedade civil em influir no setor privado. Os últimos trinta anos também trouxeram à tona um crescente esforço de conscientização no sentido de se equilibrar o crescimento econômico contínuo com objetivos ambientais e sociais. A preocupação com o estado do meio ambiente natural passou para primeiro plano à medida que o ambientalismo tornou-se reconhecido como movimento social. Impulsionadas por movimentos populares da década de 1970, leis e políticas ambientais foram rapidamente sancionadas. A América do Norte foi uma das primeiras regiões a adotar legislações ambientais e a lançar mão da participação popular, e pelo menos no caso do Canadá, uma das primeiras a adotar o conceito de desenvolvimento sustentável (Barr, 1993). Ganhos impressionantes foram obtidos com o controle de muitos poluentes convencionais e com a contínua tendência de criar áreas protegidas. A preocupação ambiental cresceu na metade dos anos 1980 devido à nova consciência da natureza global de alguns problemas ambientais, ao mesmo tempo em que se desencadeava uma grande parceria entre diferentes ONGs ambientalistas. Na década de 1990, advogavam-se as abordagens de “senso comum”, à medida que a preocupação pela redução do déficit produzia cortes no orçamento dos setores responsáveis pelo meio ambiente e, por conseguinte, aumentava a confiança em incentivos oriundos do mercado e de programas voluntários (Dowie, 1995; Vig e Kraft, 1997). Após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento de 1992, ambos os países se comprometeram com o desenvolvimento sustentável, conforme consta das metas estabelecidas pelo governo do Canadá e dos esforços empreendidos por vários estados e municípios americanos no sentido de dar prosseguimento à Agenda 21. Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, América do Norte Barr, J. (1995). The Origins and Emergence of Quebec’s Environmental Movement: 1970-1985. Master’s Thesis. Montreal, McGill University Blank, R.M. (2001). An overview of trends in social and economic well-being, by race. In Smelser, N.J., Wilson W.J. and Mitchell, F. 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O Iêmen é o único país da região na categoria de baixo índice de desenvolvimento humano. Não há informações disponíveis para Iraque, Cisjordânia e Gaza (UNDP, 2001). Essa classificação foi mais alta para a maioria dos países na década de 1990 do que no início dos anos 1980, embora muitos desses países tenham sido submetidos a retrocessos durante esse mesmo período, particularmente na década de 1990 (UNDP, 2000). PIB per capita (US$ 1995/ano): Ásia Ocidental . . . . . . . . Em alguns países, houve um significativo avanço em certos componentes do desenvolvimento humano nos últimos trinta anos. Por exemplo, a expectativa de vida aumentou em Omã de 54,9 anos, no início da década de 1970, para mais de 70 anos, em 2000, embora no Iraque tenha ocorrido um declínio de 66 para 58 anos no mesmo período (WHO, 2000). O acesso a água tratada e a instalações sanitárias adequadas é geralmente alto (de 80% a 100%), à exceção do Iêmen, onde os números são de 69% para água tratada e 45% para instalações sanitárias adequadas (UNDP, 2000 e 2001). O acesso à água potável também caiu no Iraque durante a segunda metade dos anos 1990 (UNDP, 2000). Há uma considerável variação no PIB per capita entre os países da Ásia Ocidental. Os PIBs mais altos estão na Península Arábica, variando de US$ 6.384 na Arábia Saudita a US$ 16.483 no Kuwait, em 1998. No entanto, em países como Kuwait, Catar e Emirados Árabes Unidos, o PIB per capita decresceu ao longo dos últimos anos – no Catar, por exemplo, passou de US$ 36.413 em 1975 para US$ 12.950 em 1998. Essas mudanças são atribuídas às flutuações no preço do petróleo. Os países do Mashreq apresentam níveis de PIB per capita muito mais baixos, variando de US$ 1.095 na Síria a US$ 2.288 no Líbano, em 1998 (não há dados disponíveis para Iraque e Territórios Palestinos). O Iêmen é, destacadamente, o país mais pobre – a média do PIB per capita aumentou somente de US$ 169, em 1975, para US$ 471, em 1998 (UNESCWA, 1999). Apesar do PIB per capita relativamente alto em muitos países, a pobreza humana e de renda ainda persistem. Sete países da região (Iraque, Jordânia, Líbano, Omã, Arábia Saudita, Síria e Iêmen) apresentam uma baixa classificação em um ou mais dos principais elementos utilizados na avaliação dos índices de desenvolvimento humano. Na maioria desses países, a alfabetização de adultos e a baixa expectativa de vida são fatores-chave, em vez da baixa renda, a qual representa um importante item em países como Jordânia, Omã e Iêmen (UNDP, 2001). De maneira geral, as taxas de alfabetização cresceram na Ásia Ocidental nas últimas duas décadas, como por exemplo no Líbano, onde chegou a 92%. A alfabetização feminina apresentou crescimento estável na maioria dos países, mas permanece abaixo da masculina (Unesco, 2000). Uma população em mudança Na Ásia Ocidental, o PIB per capita sofreu poucas alterações em termos gerais, desde 1972. As variações se devem principalmente a mudanças no preço do petróleo. Fonte: estimativa de World Bank, 2001 A população da Ásia Ocidental (exceto os Territórios Palestinos Ocupados) quase triplicou, passando de aproximados 37,3 milhões em 1972 para 97,7 milhões ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS em 2000, com crescimento menor na região do Mashreq que na Península Arábica (ver gráfico). Em 1972, Cisjordânia e Gaza tinham uma população de 1,13 milhão de habitantes e, no ano 2000, de 3,19 milhões (United Nations Population Division, 2001). A taxa de crescimento demográfico da região permanecia acima dos 3% no ano 2000, bem acima da média mundial de 1,3% (United Nations Population Division, 201). Contudo, são observadas significativas variações na região – a população dos Emirados Árabes Unidos cresceu mais de oito vezes desde 1970, ao passo que em outros países as taxas foram muito baixas ou até mesmo negativas. Atualmente, as taxas mais altas são registradas no Iêmen – 4,1% ao ano no final do século XX (United Nations Population Division, 2001). As altas taxas de crescimento demográfico podem ser atribuídas, em parte, às políticas nacionais. Por exemplo, os progressos alcançados na área da saúde resultaram em um declínio de 50% nas taxas de mortalidade – o que teve como conseqüência o aumento da expectativa de vida, que passou de 60,7 para 69,7 anos – e reduziram para menos da metade as taxas de mortalidade infantil: de 75 para menos de 30 mortes em cada 1.000 nascidos vivos. Apesar do decréscimo das taxas de fertilidade em ambas as subregiões, de mais de 7 crianças por mulher para 6,3 na Península Arábica, e de mais de 7 para 4,6 no Mashreq, as taxas atuais de fertilidade ainda permanecem muito mais altas que a média mundial de 2,8 (United Nations Population Division, 2001). Na maioria dos países, a população é muito jovem. Nos países membros do CCG – Conselho de Cooperação do Golfo (Gulf Cooperation Council, PIB total (US$ bilhões 1995) por subregião: Ásia Ocidental Mashreq Península Arábica População (em milhões) por sub-região: Ásia Ocidental Mashreq Península Arábica do qual fazem parte todos os países da Península Arábica, à exceção do Iêmen), 43% da população tem menos de 15 anos (Al-Qudsi, 1996); na sub-região do Mashreq, esse dado varia de 30%, no Líbano, a 48%, no Iraque (UNESCWA, 1997). Quase 50% da população palestina tem menos de 15 anos de idade, o que aumenta a taxa de dependência (menores de 15 e maiores de 64 anos, que dependem da população ativa) para mais de 100%, taxa muito alta para os padrões mundiais (PCBS, 1997). Apesar do rápido crescimento demográfico das últimas três décadas, os países do CCG ainda padecem de uma pequena base demográfica (AlQudsi, 1996). Embora o aumento da população seja, em grande parte, devido às altas taxas de crescimento demográfico, o grande fluxo de trabalhadores estrangeiros em função da crescente demanda por mão-deobra, por força da expansão dos setores da indústria e de serviços, também representa um importante fator. O total da força de trabalho dos países do CCG cresceu de 2 milhões, em 1975, para 8 milhões, em 1995. Os trabalhadores estrangeiros constituem 70% desse total, chegando a 90% nos Emirados Árabes Unidos, 83% no Kuwait, 60% em Bahrein e Omã e 59% na Arábia Saudita (Al-Qudsi, 1996). Desenvolvimento econômico Em termos reais, o PIB total cresceu 43% na região como um todo entre 1988 e 1998 (calculado em dólares constantes de 1995). Fonte: estimativa de World Bank, 2001 57 O desempenho econômico tem sido amplamente afetado pelas flutuações dos preços do petróleo nos mercados internacionais, por políticas econômicas internas, bem como por outros fatores de ordem nãoeconômica, incluindo guerras regionais e conflitos internos (UNESCWA, 1999). As economias dos países do CCG dependem das receitas do petróleo e in- A população da Ásia Ocidental continua crescendo à taxa de mais de 3% ao ano, em torno de 3,6% ao ano na sub-região da Península Arábica e aproximadamente em 2,7% ao ano na subregião do Mashreq. Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001 58 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 dústrias afins, enquanto as dos países do Mashreq e do Iêmen são mais diversificadas. O PIB da região cresceu mais de três vezes no período de 1975 a 1980, de US$ 85,8 bilhões para US$ 256,67 bilhões, respectivamente, tendo chegado a US$ 307,71 bilhões em 1998 (UNESCWA, 1999). O gráfico da página 57 mostra o crescimento do PIB total, em dólares constantes de 1995, no período de 1988 a 1998. Em 1997, à exceção do Iraque, os países do CCG respondiam por 85,47% do PIB nominal global da região, do qual a Arábia Saudita participava com a maior parcela (US$ 146,2 bilhões), seguida pelos Emirados Árabes Unidos (US$ 49,54 bilhões) e pelo Kuwait (US$ 30,37 bilhões). Em 1990, a Guerra do Golfo causou enormes danos, diretos ou indiretos, na economia de vários países da região. As taxas de crescimento econômico têm variado consideravelmente na área. Apesar da taxa de crescimento real do PIB anual ter sido de 3,04% nos países do CCG entre 1976 e 1998, foi levemente maior em alguns países do Mashreq: 4,46% na Síria, 5,51% na Jordânia e 6,39% no Líbano (UNESCWA, 1999). A composição estrutural do PIB da região mudou significativamente nas últimas três décadas deviConsumo e produção de energia: Ásia Ocidental A Ásia Ocidental é rica em recursos de energias convencionais e 9 dos 12 países da região são produtores e exportadores de petróleo. Apesar de ser um importante produtor, o Oriente Médio consome somente cerca de 4,3% da energia primária comercial do mundo. O consumo de energia cresceu em níveis mais rápidos na Ásia Ocidental nas últimas três décadas do que em qualquer outra parte do globo. Todavia, esse crescimento apresentou uma desaceleração, passando dos 6,4% anuais da década de 1970 para os 4,7% registrados na década de 1990 (UNDP, UNDESA e WEC, 2000). O consumo per capita final de energia também apresentou um crescimento estável ao longo das três últimas décadas, passando de 0,5 tonelada equivalente de petróleo em 1971 para 1,6 em 1999 (IEA, 2001). do à diversificação econômica (UNESCWA, 1999). Os países membros do CCG começaram a reestruturar as suas economias no intuito de reduzir a sua dependência em relação ao petróleo, ao diversificá-las por meio da agricultura, da indústria e do setor de serviços, incluindo o turismo. A parcela combinada do setor industrial (com a inclusão do petróleo) caiu de 80%, em 1975, para 51%, em 1998. A contribuição global da agricultura aumentou de 0,89%, em 1975, para 4,22%, em 1998 (UNESCWA, 1999). A participação do petróleo no PIB dos países do CCG, mesmo tendo caído de 62,4% em 1980 para 33,81% em 1998, ainda era considerada alta. Ciência e tecnologia Os avanços em ciência e tecnologia foram modestos. Na Jordânia, no Kuwait, no Líbano, na Síria e nos Emirados Árabes Unidos, os estudantes de ciências e engenharia somam aproximadamente um quarto do total de estudantes de nível superior, e, no Iraque, chegam a 41% (World Bank, 2001). Todavia, a falta de recursos financeiros limita a sua contribuição. As áreas prioritárias em pesquisas incluem recursos hídricos, biotecnologia, energia renovável e desenvolvimento de tecnologias nativas. A disseminação de tecnologias de comunicação é variável. A distribuição de computadores pessoais varia de quase o dobro da média mundial de 7,72 por 100 habitantes em Bahrein, no Kuwait, no Catar e nos Emirados Árabes Unidos, a somente 0,19 por 100 habitantes no Iêmen (World Bank, 2001). O uso de telefones celulares cresceu rapidamente e deve superar o número de linhas fixas nos Emirados Árabes Unidos e em Bahrein, que detêm o maior número de assinantes por 100 habitantes: 30 e 54,8, respectivamente (ITU, 2001 e 2002). Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, Ásia Ocidental Al-Qudsi, S. (1996). Labour market policies and development in the GCC: Is domestic policy of significance? In Delvin, J. (ed.), Gulf Economies: Strategies for Growth in the 21st Century.Washington DC, Georgetown University IEA (2001). 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World Health Organization http://www-nt.who.int/ whosis/statistics/ [Geo-2-307] World Bank (2001). World Development Indicators 2001. Washington DC, World Bank ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Aspectos socioeconômicos: as Regiões Polares Esta seção trata somente da Região Ártica, uma vez que a Antártida não possui população permanente. Nos últimos trinta anos, o Ártico despontou como uma importante região geopolítica composta por oito nações que circundam o Oceano Ártico: Canadá, Dinamarca (Groenlândia e Ilhas Faroe), Estados Unidos (Alasca), Federação Russa, Finlândia, Noruega e Suécia. O Ártico abrange cerca de 13,4 milhões de quilômetros quadrados, com uma população de 3,5 milhões de pessoas e uma densidade demográfica de 0,26 pessoa por quilômetro quadrado (AMAP, 1997). Desenvolvimento humano Dos oito estados árticos, sete apresentam alta classificação no Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, com a Noruega em primeiro lugar e Groenlândia/ Dinamarca em 15º. No entanto, a Federação Russa que se encontra classificada na 55ª posição, está na faixa de médio índice de desenvolvimento humano (UNDP, 2001). A Federação Russa é a única nação ártica cujo índice caiu nas três últimas décadas (UNDP, 2001). Essas classificações mascaram uma diferença sutil, porém marcante, entre a Região Ártica e as latitudes mais temperadas de cada uma das nações árticas. A Região Ártica apresenta não somente uma expectativa de vida mais baixa, como também taxas de mortalidade mais altas, tanto entre adultos quanto entre crianças, do que as médias nacionais dos países que a constituem. A expectativa de vida no norte da Noruega é cinco anos inferior que a média nacional para homens e três anos menos para mulheres (AMAP, 1997). Na Groenlândia, onde mais de 80% da população é composta pelo povo inuit, a expectativa de vida é de 69,5 anos, quase dez anos inferior à da Islândia (AMAP, 1997; UNDP, 2001). No final da década de 1980, a expectativa de vida para homens (54 anos) e mulheres (65 anos) do norte da Rússia, era de dez a vinte anos inferior à média nacional (AMAP, 1997). A taxa de mortalidade infantil para as minorias autóctones do norte da Rússia é de 30 por 1.000, e chega a 47,6 por 1.000 entre o povo yup’ik, na Sibéria, enquanto a mortalidade infantil na Islândia é de somente 6 por 1.000 nascidos vivos (AMAP, 1997). 59 Altas taxas de alfabetização caracterizam todas as regiões árticas, embora a qualidade do ensino seja inferior àquela dos centros urbanos situados ao sul. A preocupação com a perpetuação da língua nativa levou a uma renovação de esforços para oferecer a educação básica nos idiomas nativos, bem como a prática desses idiomas nos níveis secundário e superior. Todos os povos do Ártico correm riscos de saúde devido a poluentes orgânicos persistentes (POPs), metais tóxicos, radionuclídeos, poluentes internos e externos, contaminação da água e radiação ultravioleta. No Canadá, estudos preliminares mostraram que os níveis de POPs no sangue de povos autóctones que consomem mamíferos marinhos foram de três a dez vezes mais altos que os níveis encontrados no sul do Canadá. Todavia, o medo em relação a esses contaminantes pode levar a mudanças na dieta tradicional desses povos, o que, por sua vez, poderá acarretar outros problemas de saúde (Government of Canada, 2000). Uma população em mudança O Ártico abriga diversos povos autóctones. Os inuits representam mais de 80% da população da Groenlândia e 85% da população de Nunavut, Canadá. Salvo essas exceções, esses povos são minoria em sua própria terra natal, devido a processos migratórios. A Região Ártica tem uma população muito jovem; um quarto da população tem menos que 15 anos na Groenlândia e na Islândia, e 41% da população de Nunavut, Canadá, tem menos de 16 anos (Conference Board of Canadá, 2002; CIA, 1998a e b). Houve um drástico crescimento demográfico em Nunavut, entre 1986 e 1996, devido às altas taxas de nascimento e ao aumento da expectativa de vida (ver gráficos abaixo). A população do Ártico é jovem em comparação com as dos estados árticos. Nota: Nunavut em número de habitantes, Canadá em milhares Fonte: Conference Board of Canada, 2002 Pirâmide de população para o território de Nunavut e para o Canadá Nunavut Mulheres Homens Canadá 60 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Populações autóctones do Ártico le ut n e Y upik Ch u k c h I n i Yu N ga na s I nuit i t N Noruega n I u u Islândia S In n Cree Enets e n e t s I n u i t Groenlândia en k i n lga Do n s a D e Canadá Ya ku ka t gi r Ev en s Ev I n u v i al u i t ry Ko Chu van u ab as n ca M is et pi a t Y upik At h Federação Russa ak Selkups A Alasca (EUA) aa mi Finlândia total de habitantes 2 000 000 Ilhas Farde Suécia 500 000 300 000 150 000 50 000 população autóctone As oportunidades de emprego e a construção de residências não acompanharam o ritmo do crescimento da população, o que gerou desemprego e sérias crises habitacionais em diversas comunidades (AMAP, 1997). As altas taxas de alcoolismo, suicídios, homicídios e mortes acidentais também podem ser relacionadas à falta de oportunidades e a um conseqüente senso de impotência (Bjerregaard e Young, 1998). No final da década de 1980, o desemprego atingiu índices de 25% a 30% no norte da Rússia (AMAP, 1997), e 500 mil pessoas abandonaram a região (Weir, 2001). população não autóctone O mapa mostra a localização dos principais povos autóctones do Ártico e a porcentagem de povos autóctones nas zonas árticas de cada um dos Estados árticos. Fonte: CAFF, 2001 A importância dos alimentos de subsistência As comunidades do Ártico dependem da rena doméstica, de carnes de origem silvestre, aves, mamíferos marinhos, peixes e vegetais locais, que, em conjunto, representam até 50% da dieta da população nativa e 25% da dieta da totalidade da população da Região Autônoma de Chukotka Okrug, na Federação Russa (AMAP, 1997). A alimentação de subsistência é de extrema importância para a população nativa, convertendo-se, dessa forma, em uma das principais razões pelas quais as organizações autóctones lutam pela conservação dos recursos naturais, dos direitos de caçar, pescar, capturar e coletar vegetais, assim como pela redução da poluição transportada para o Ártico a partir das latitudes médias. Desenvolvimento econômico A pesca, o turismo, o comércio de peles, as artes e o artesanato são atividades comerciais tradicionalmente importantes no ártico. Estima-se que 26% dos empregos no Alasca dependam da saúde do meio ambiente (Colt, 2001). As economias da Groenlândia, das Ilhas Faroe e da Islândia dependem da pesca e da exportação de produtos pesqueiros (AMAP, 1997), que representa 75% do total de exportações da Islândia (CIA, 1998b). A indústria de peles quebrou na década de 1970 devido aos protestos pelos direitos dos animais e à proibição decretada pela Europa e pelos Estados Unidos sobre produtos de mamíferos marinhos (Lynge, 1992). O turismo está adquirindo uma crescente importância para as economias do Ártico. As visitas de turistas ao Alasca durante o verão dobraram na década de 1990, tendo alcançado 1,2 milhão de turistas em 1999 (ADT, 2000) e respondendo por 3% do PIB do Alasca em 1998 (Goldsmith, 1999). Em 1999, o turismo gerou receitas anuais de US$ 30 milhões para Nunavut e de quase US$ 1 bilhão para o Alasca (State of Alaska, 2001). A exploração dos recursos petrolíferos estimulou o crescimento econômico nas nações árticas. Aproximadamente 85% do orçamento do Alasca é oriundo das receitas do petróleo (State of Alaska, 2001), e planejam-se avanços futuros. O desenvolvimento da indústria petrolífera expandiu-se para além da costa do Alasca, e explorações são realizadas na plataforma das Ilhas Faroe e no setor norueguês (Bjorsvik, 2000). Os recursos de petróleo e gás têm sido desenvolvidos em diversas regiões do norte da Rússia, e estima-se que a região oeste da Sibéria seja a maior província petrolífera do mundo (Klett e outros, 1997). A exploração no norte do Canadá, onde se estima que metade do potencial ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS petrolífero do país esteja situada, foi recentemente revitalizada (DIAND, 2001). A mineração é outra atividade econômica importante para alguns países. A indústria de mineração do Alasca foi avaliada em mais de US$ 1 bilhão/ano no período de 1995 a 2000 (Knowles, 2001a). A produção de ouro, chumbo, zinco e diamante continua a ser importante na região ártica do Canadá (BHP Billioton, 2002). A mineração de chumbo e zinco cessou na Groenlândia (Taagholt e Hansen, 2001), mas uma nova mina de ouro iniciou os testes de produção. O complexo de mineração russo de Norilsk era o maior produtor mundial de níquel em 1997 (Norilsk, 2002). Ciência e tecnologia Após a Conferência das Nações Unidas de 1972, em Estocolmo, a participação da população nativa em fóruns de ONGs e em encontros científicos levou a diferentes formas de apreciação do conhecimento tradicional e à inclusão do conhecimento ecológico tradicional no planejamento do uso de terras e recursos. Atualmente, muitos cientistas estão receptivos à parceria com povos nativos e moradores locais da região em suas pesquisas. O acesso à Internet, embora desigualmente distribuído, revolucionou a comunicação no Ártico. Apesar da difusão de computadores, televisão, filmes, vídeos e radiodifusão em toda a região, os serviços de telefonia em muitos povoados da Rússia Ártica ainda são inadequados ou mesmo inexistentes. Gestão pública Em 1972, o Ártico era uma zona altamente militarizada, o que impedia qualquer tipo de cooperação internacional. Somente após a criação da Estratégia de Proteção Ambiental do Ártico – AEPS (Artic Environmental Protection Strategy), em 1991, as oito nações que compõem a região estabeleceram compromissos com vistas a uma cooperação contínua. Em 1996, a AEPS se converteu no Conselho Ártico, que tem como propósito o fomento da proteção ambiental e do desenvolvimento sustentável. O Conselho é singular entre as organizações internacionais, uma vez que conferiu às organizações autóctones a condição especial de “participantes permanentes” do Conselho (Artic Council, 2002). O petróleo do Alasca e o Refúgio de Vida Silvestre do Ártico O Refúgio Nacional de Vida Silvestre do Ártico (ANWR), situado na região noroeste do Alasca, “é o melhor exemplo dado pelos Estados Unidos de uma comunidade de ecossistemas árticos/subárticos intactos que funcionam naturalmente” (USFWS, 2001). A vida silvestre do Refúgio está protegida, à exceção de uma área em disputa que pode ser liberada para exploração de petróleo e gás natural, por meio de uma lei do Congresso dos Estados Unidos. Estima-se que essa área contenha de 2 bilhões a 12 bilhões de barris de petróleo economicamente viáveis. O Serviço de Pesca e Vida Silvestre dos Estados Unidos (USFWS) aponta para uma possibilidade de 50% de se encontrar uma quantidade de petróleo equivalente àquela consumida pelos Estados Unidos em nove meses. Os campos de petróleo situados no declive norte do Alasca já produziram 13 bilhões de barris desde 1973, e as reservas atuais devem ser de somente 3 bilhões de barris. Para o povo gwich'in que habita ambos os lados da fronteira entre o Canadá e o Alasca, o Refúgio Nacional de Vida Silvestre do Ártico é uma região sagrada, porque, além de abrigar as terras onde nascem as manadas do caribu de porcupine, sua principal fonte de alimentação, vestuário, ferramentas e ornamentos, é o centro irradiador de sua cultura (Gemmill, 2002). As três últimas décadas assistiram ao retorno da autoridade política a partir dos governos centrais para os governos regionais, e mesmo locais, assim como a uma grande transferência de terras e capital para populações nativas. Acordos de Reivindicações Territoriais Globais agora cobrem todas as zonas árticas do Canadá e incluem a transferência de milhões de quilômetros quadrados de terra e água, de capital, de receitas, de direitos de exploração agrícola e de desenvolvimento. O povo saami conquistou um considerável poder de autodeterminação por meio da criação dos Parlamentos Saami em cada um dos estados Nórdicos. A Groenlândia tornou-se semi-autônoma em 1979, com o estabelecimento do Governo Autônomo, que foi posteriormente fortalecido em 1985 (Osherenko e Uong, 1989). A população autóctone do norte da Rússia ainda está por obter tal grau de autonomia sobre as suas terras e vidas, apesar de a proteção aos seus direitos estar contemplada na Constituição de 1993 e na legislação recente (Osherenko, 2001; Kryazhkov, 1996). 61 62 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Referências: Capítulo 2, aspectos socioeconômicos, as Regiões Polares Arctic Council (2002). Arctic Council www.arcticcouncil.org [Geo-2-326] ADT (2000). The State’s Role in Guiding Tourism Growth. Alaska Division of Tourism http://www.dced.state.ak. us/cbd/toubus/pptandspeeches.htm [Geo-2-308] AMAP (1997). Arctic Pollution Issues: A State of the Arctic Environment Report. Oslo, Arctic Monitoring and Assessment Programme Colt, S. (2001). 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Em 2000, a maioria das marismas centrais aparecia como manchas que variavam de verde-oliva a marrom-acinzentado, indicando vegetação rala em solos que variam de pouco úmidos a secos. 1976 Os pântanos compreendem a totalidade do sistema fluvial do Tigre e do Eufrates e estão localizados na confluência dos dois rios no sul do Iraque e no oeste do Irã. O ressecamento desses vastos recursos úmidos é atribuído a duas causas principais: as represas a montante e os projetos de drenagem. Uma imagem aérea dos pântanos, registrada em 1976, mostra-os ainda praticamente intactos. No ano 2000, restava somente uma pequena porção do pântano de Al-Hawizah, situado na fronteira Iraque-Irã, muito embora estivesse diminuindo rapidamente devido a projetos hídricos localizados rio acima. Os pântanos são refúgios de extrema importância para aves migratórias, e sua perda põe em risco aproximadamente 40 espécies que migram entre a Sibéria e a África do Sul. Vários mamíferos e peixes que existiam somente naquela região são hoje considerados extintos. A pesca costeira praticada no norte do Golfo Pérsico, que depende dos pântanos, utilizados pelos peixes para desovar, também já foi afetada. Muitos dos povos árabes dessa região, que viveram durante milênios em suas frágeis casas semiflutuantes nesse raro ambiente aquático, viram-se forçados a partir devido ao colapso de seu habitat. Destruiu-se uma cultura, e seus habitantes foram transformados em refugiados. Compilação: Hassan Partow, UNEP Division of Early Warning and Assessment (Divisão de Alerta Antecipado e Avaliação do PNUMA) Imagens de satélite: USGS/EROS Data center Fotografia: Nik Wheeler 2000