informativo são vicente - Província Brasileira da Congregação da

Transcrição

informativo são vicente - Província Brasileira da Congregação da
INFORMATIVO SÃO VICENTE
Boletim de circulação interna
da Província Brasileira da Congregação da Missão
Ano XLII - no. 279
Outubro – dezembro de 2009
Rua Cosme Velho, 241
22241-125 Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 3235 2900
Fax: (21) 2556 1055
_______________________
E-mail:
[email protected]
[email protected]
www.pbcm.com.br
Equipe responsável pelo Informativo
São Vicente
- Pe. Osmar Rufino Dâmaso
- Pe. Gentil José Soares da Silva
- Diác. Vinícius Augusto R. Teixeira
Correção e Revisão:
- Pe. Lauro Palú
Formatação e Impressão:
- Cristina Vellaco
- Equipe de Mecanografia do Colégio
São Vicente de Paulo
“Somos herdeiros de um
grande patrimônio, filhos e filhas
de dois grandes profetas da caridade. Esta herança comum nos
enche de orgulho. Nossos laços se
reforçam. Com um imenso número
de membros em todos os continentes, nós, como Família Vicentina, temos um grande potencial
para estabelecer uma diferença
em nosso tempo, como São Vicente e Santa Luísa fizeram no tempo
deles (...). Temos os ‘genes’ de São
Vicente e Santa Luísa. Temos o coração e o espírito deles.
A fidelidade ao legado deles
nos impele a progredir juntos, para ser profetas da caridade no
mundo atual.
A realidade global de hoje,
por exemplo, o poder das gigantescas corporações transnacionais,
das fusões e dos conglomerados,
exige testemunhos coletivos. Desafia-nos a ser não simples-mente
profetas individuais, mas uma
‘família de profetas’”
(Ir. Julma Neo, FC).
204
205
Sumário
Editorial.......................................................................................................
Voz da Igreja...............................................................................................
Carta do Superior Geral............................................................................
Palavra do Visitador..................................................................................
208
210
213
224
Artigos
Ano Jubilar da F.V.
Os Fundadores: duas vidas diferentes e paralelas,
um mesmo destino...................................................... 227
Pe. Benito Martínez, C. M.
Vida da Província
Campina Verde comemora, com alegria, 140 anos
da Paróquia N. S. da Med. Milagrosa......................... 239
Dalva Vieira dos Santos
Luzes de Aparecida
Chamados à santidade no seguimento de Jesus
Cristo................................................................... 243
Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.
Desafios da Formação
Antropologia da Formação Presbiterial inicial
............................................................................. 248
José Lisboa Moreira de Oliveira
Vida Fraterna
Vida Fraterna em comunidade – final – .............. 255
Pe. Alex Sandro Reis, C. M.
Memória
Dom Hélder Câmara, profeta da justiça..............
Tiago de França da Silva
Família Vicentina
Manhã de Oração e abertura do Ano Jubilar nos
Regionais............................................................. 260
Vinicius Augusto R. Teixeira, C. M.
Pe. Emanuel Bedê Bertunes, C. M.
Pe. Alex Sandro Reis, C. M.
257
Notícias………………………………….......……………………………...............…….. 263
206
207
Editorial
O papa João Paulo II, por ocasião da abertura da 40ª Assembléia Geral
da Congregação da Missão, afirmou “Queridos irmãos, os senhores não só
deram uma notável contribuição para a ação da Igreja nos últimos quatro séculos, pela qual lhes está profundamente agradecida, mas também têm uma
grande história que construir. Enquanto buscam como viver melhor o carisma
vicentino, minha mensagem é esta: „Duc in altum‟ „Avancem para águas mais
profundas!”
A Igreja recebeu de Jesus Cristo a missão de ser luz, sal e fermento do
Evangelho em todos os tempos, lugares e realidades. Como Povo de Deus
em marcha, os cristãos e cristãs em Campina Verde sempre procuraram viver
de forma contínua, dinâmica e progressiva o mandato do Senhor ao longo
destes 140 anos de história da Paróquia de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Na recordação dos nomes de alguns personagens, não se deve perceber só o heroísmo individual, o que seria testemunhar contra as convicções
mais profundas desses próprios atores, mas o protagonismo de milhares de
pessoas que, animadas pelo testemunho, animação e coordenação de líderes-servidores, demonstraram e continuam demonstrando, com a vida e o
compromisso, a solidez e profundidade da formação recebida, para se tornarem discípulos-missionários de Jesus Cristo, com características próprias do
carisma e da espiritualidade vicentina.
Enche-nos de alegria e estímulo perceber como os Missionários Vicentinos, Filhas da Caridade, Leigos e Leigas em Campina Verde, sempre atento
aos “Sinais dos Tempos”, mesmo quando este termo ainda não tinha sido cunhado e utilizado, como a partir do Concílio Vaticano II, procuraram responder
às novas realidades, circunstâncias, acontecimentos e desafios sócioeconômico-político-eclesiais. É concretização desta preocupação a imediata
organização, na Paróquia, tão logo surgiam e eram aprovadas pela autoridade eclesial, das inúmeras e diversificadas Associações, dos Movimentos e
Pastorais, culminando no esforço para que a Paróquia se tornasse uma Rede
de Comunidades. E isto, antes mesmo da declaração da Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho em Santo Domingo e Aparecida.
208
Ao celebrar os 140 anos de existência da Paróquia de Nossa Senhora
da Medalha Milagrosa, constatamos que suas bases não foram lançadas sobre a areia, mas sobre a rocha (cf. Mt 7, 24-25) e assim desejamos que continue: “Edificada sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, sendo Jesus Cristo a pedra angular, sobre a qual todo o edifício bem construído cresce
para ser um templo santo no Senhor” (Ef 2, 20-21).
A Comunidade paroquial, animada pelos Padres e Irmãos da Congregação da Missão, pelas Filhas da Caridade e pelos demais Ramos da Família
Vicentina, busca desenvolver as características que lhe firmam uma identidade própria. Entre estas características destacamos:
a) a vida de oração, própria daqueles que estabelecem relação de profunda intimidade com o Senhor “Dêem-me um homem de oração e ele
será capaz de tudo” (S. Vicente de Paulo);
b) o compromisso com a construção do Reino de Deus, a partir de uma
clara opção de trabalho e vida com os mais pobres;
c) o fortalecimento da dimensão missionária nos fiéis, em particular, e na
comunidade, como um todo;
d) o esforço por vivenciar as virtudes vicentinas da simplicidade, humildade, mansidão, mortificação e zelo.
A todos aqueles que, ao longo destes 140 anos, ofertaram e continuam
ofertando o melhor de suas vidas na concretização dos ideais do evangelho
na Paróquia de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, em Campina Verde o
nosso reconhecimento e louvor. E concluo com as palavras do apóstolo Paulo
aos cristãos de Filipos: “Graças dou a meu Deus, cada vez que me lembro de
vocês, fazendo, com alegria, frequentes súplicas por todos vocês em minhas
orações, por causa da parte que tomaram no Evangelho de Cristo, desde o
primeiro dia até agora. Tendo por certo que aquele que iniciou em vocês a
boa obra, a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo” (Flp 1, 3-6).
Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, C. M.,
Visitador Provincial
209
Voz da Igreja
Vaticano, 24 de junho de 2009
Natividade de São João Batista
N° 20091905
A todos os Reverendíssimos Superiores Gerais
dos Institutos de Vida Consagrada, das Sociedades
de Vida Apostólica e das Associações clericais
Começou há pouco tempo o Ano Sacerdotal. Para esta ocasião, o Santo
Padre dirigiu uma Carta a todos os sacerdotes do mundo. Um ano “para favorecer… a tensão dos sacerdotes para a perfeição espiritual, da qual, acima de
tudo, depende a eficácia de seu ministério”, e para que os sacerdotes, em
primeiro lugar, e, com eles, todo o povo de Deus, possam redescobrir a consciência do extraordinário e indispensável dom do sacerdote ordenado e darlhe novo vigor.
O próprio Sumo Pontífice indicou um lema para este ano: “Fidelidade de
Cristo, fidelidade do sacerdote” e indicou um modelo em São João Maria Vianney.
Todo isso constitui uma clara e ineludível sinalização durante o percurso deste ano e para um melhor êxito; para isso, deverão mobilizar-se todas as forças de
cada circunscrição eclesiástica e todos os componentes do Povo de Deus.
Mediante uma página web na Internet, aberta para este fim (www. annussacerdotalis.org) e a organização das três jornadas finais do encontro sacerdotal em Roma (9-10-11 de junho de 2010), esta Congregação oferecerá
material para meditações, oração, reflexão e estudo, úteis tanto para o benefício pessoal dos sacerdotes ou dos ordinários, como para as jornadas sacerdotais, os retiros e encontros do Clero.
210
As diversas realidades locais de cada um dos Institutos / Sociedades /
Associações devem ser prioritariamente levadas muito em consideração ao
se tomarem as próprias iniciativas, que devem emanar da doutrina e da espiritualidade, que anima a mencionada Carta do Santo Padre. Ela deveria ser
conhecida, em forma capilar, assimilada e estudada pelos sacerdotes do próprio Instituto / Sociedade / Associação, e por todos os aspirantes ao sacerdócio; ser também um fermento para a pastoral vocacional e para um exame de
consciência com o fim de verificar o estado da formação permanente e a vivacidade do próprio carisma fundacional.
A Congregação já enviou anteriormente a todas as Conferências Episcopais e a todos os Superiores maiores um folheto do tamanho de uma revista – impresso depois em diversos idiomas e amplamente difundido – para
promover a adoração eucarística e o exercício da maternidade espiritual em
favor da santificação dos sacerdotes. No presente, é mais que nunca oportuno que em cada diocese, como em cada Instituto / Sociedade / Associação se
proponha um lugar para a adoração prolongada ou possivelmente perpétua
em favor desse fim.
Junto com tais iniciativas se expõem como objetivos, por exemplo:
 A recepção e a difusão capilar e o estudo aprofundado, por parte dos
sacerdotes e dos seminaristas, da Carta do Santo Padre.
 Exercícios espirituais anuais, retiros periódicos e jornadas sacerdotais, estruturados segundo a Carta do Santo Padre.
 Desenvolvimento do programa de formação permanente durante o
Ano Sacerdotal, levando em conta a Carta do Santo Padre, insistindose particularmente nos pontos tratados nela
.
 Aprofundar – também com os seminaristas – o tema sobre o sagrado celibato nas dimensões histórica, teológica, espiritual e pastoral (serão oferecidos
elementos o quanto antes na página web www.annussacerdotalis.org )
 Estudo do diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, publicado pela
Congregação para o Clero no ano de 1994 (em www.annussacerdotalis.org )
211
 Publicar artigos selecionados sobre o sacerdócio ministerial nas revistas (ou afins) do próprio Instituto, ou nas outras promovidas pelo
mesmo Instituto.
 Promoção de peregrinações a lugares particularmente significativos.
 Participação do maior número possível de sacerdotes (também de aspirantes) no Encontro Internacional em Roma (9-10-11 de junho de 2010).
 Aprofundar o estudo da identidade sacerdotal e o consequente desenvolvimento da espiritualidade específica.
 Evidenciar e sublinhar de novo a vocação missionária própria de cada
sacerdote (para tal propósito, durante o ano se publicará uma Carta).
 Atenção aos sacerdotes em dificuldades por problemas de saúde, de
idade ou devidos a outras situações particulares.
O Espírito fará que emerjam, fruto da meditação da Carta do Santo Padre, as mais oportumas iniciativas para oferecer um serviço providencial em
favor do sacerdócio, para dar coragem a tantíssimos irmãos que vivem sobrecarregados pelo “pondus diei”, para ajudar quem se encontra em dificuldade, para corrigir os que seguem um caminho equivocado, para reforçar a
fundamental pastoral vocacional.
Seria de grande utilidade que se trasmitissem a este Dicastério as notícias dos projetos ou das realizações mais significativas, para que todos possam conhecê-las e, assim, haja um intercâmbio de experiências.
Com a certeza de uma fervorosa acolhida da iniciativa proposta pelo
Santo Padre, nossos votos de um Ano Sacerdotal com uma grande fecundidade de todo bem.
Cláudio Card. Hummes,
Prefeito da Congregação para o Clero
Franc Card. Rodé, C.M.
Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida
Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica
+ Mauro Piacenza,
+ Gianfranco Gardin, OFM Conc.,
Arc. Titular de Vittoriana,
Secretário
Arc. Titular de Torcello,
Secretário
212
Superior Geral
CONGREGAZIONE DELLA MISSIONE
CURIA GENERALIZIA
Via dei Capasso, 30
00164 Roma – Italia
Tel. (39) 06 661 3061
Fax (39) 06 666 3831
e-mail: [email protected]
Apelo Missionário
Outubro de 2009
A todos os membros da Congregação da Missão
A graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo encham seus corações agora e sempre!
Nestes doze meses em que comemoramos os 350 anos da morte de
nossos Fundadores, escolhemos como tema “Caridade e Missão”. Somos
convidados a refletir e aprofundar nossa espiritualidade vicentina no dom da
caridade em favor de nossa Missão e por meio dela. Por meio desta carta em
favor das Missões, espero que os Coirmãos de toda a Congregação da Missão acolham em seu coração alguma das missões onde há verdadeiras necessidades e pensem seriamente nela.
Como me escreveu um Coirmão jovem: “Não é fácil tomar a decisão de sair
da própria Província e embarcar numa nova experiência missionária”. É importante rezar, discernir, escutar o que Deus nos está dizendo no coração e depois falar
com o Visitador da Província para que também ele possa ajudar-nos a discernir os
caminhos pelos quais Deus nos chama a que nos entreguemos totalmente na
Congregação da Missão. A necessidade de caridade é imensa em todo o mundo.
Muitas das missões que nos foram confiadas clamam por uma maior presença de
evangelizadores. Recebemos novos pedidos de ajuda por parte de Bispos que se
encontram numa necessidade imperiosa de agentes de pastoral.
213
Começo com nossas próprias missões e com alguns exemplos da ajuda que
estão pedindo. Depois, como de costume, apresentarei as necessidades de nossas Províncias que têm territórios de missão e sentem a falta de pessoal. Mesmo
se não estamos na disposição de entregar-nos às missões, talvez possamos manifestar a caridade através de outras doações concretas. No final desta carta, há
mais informações. O Bispo Dom Hélder Câmara disse umas palavras que um
Coirmão jovem me recordou recentemente: “Ninguém é tão pobre que não tenha
algo que dar nem tão rico que não possa receber alguma coisa”.
MISSÕES INTERNACIONAIS
1- Papua-Nova Guiné
a. O Pe. Vladimir Malota escreve: “Sou o primeiro sacerdote que reside
permanentemente em Nossa Senhora de Fátima em Woitape em 19 anos. A
paróquia sofreu um colapso estrutural e pastoral. Agora estou primeiro
reconstruindo o sistema pastoral. Restabeleci as visitas regulares a todas as
povoações da montanha e da floresta. Pela primeira vez em 20 anos, as pessoas
mais idosas, com lágrimas nos olhos, podem receber os sacramentos e morrer na
graça de Deus. Estou preparando a casa missionária que se acabou totalmente
nas últimas duas décadas.”
“Espiritualmente estou experimentando... o ressurgimento das cinzas de uma paróquia pobre numa das regiões mais afastadas. Há algo mais vicentino?
“Woitape está situada nas Montanhas Goilala e é acessível só por teco-teco ou
com um machado... Todo abastecimento chega por via aérea. A Missão católica
está situada num vale muito lindo; as povoações estão espalhadas pelas montanhas e só se pode chegar até elas a pé.”
“O clima reflete a dicotomia das duas estações de região montanhosa: período
seco e período úmido. Durante o dia a temperatura pode chegar aos 30ºC, mas
de noite com freqüência baixa até zero.”
“Oficialmente atendemos também a paróquia de São Martinho de Porres em Kosipe. Até lá só podemos chegar a pé, após um dia de caminhada desde Woitape.
A Missão foi totalmente destruída no incêndio de 1997. Pastoralmente está quase
214
totalmente desintegrada à espera de um sacerdote. Na paróquia de Kosipe estive
num povoado que tinha sido visitado por um padre a última vez havia 60 anos”.
“Há muitos outros como esse, que estão esperando um missionário que queira e
possa pregar o Evangelho aos mais pobres da pobre Papua-Nova Guiné”.
b. O Seminário do Espírito Santo, Bomana, é interdiocesano, situado fora de Port
Moresby, capital de Papua-Nova Guiné. Atualmente há 38 seminaristas e
somente dois formadores. A necessidade de mais sacerdotes formadores é
imperiosa já que o trabalho aumentou consideravelmente. Faz um ano, havia
quatro formadores residentes: dois eram Coirmãos vicentinos (o Pe. Rolando
Santos, das Filipinas, e o Pe. Tulio Cordero, da República Dominicana). O Pe.
Tulio deixou o seminário o ano passado ao ser nomeado Visitador da Província de
Porto Rico, e o Pe. Rolando Santos deixou o seminário em junho deste ano, para
assumir o ofício de Secretário Geral da Conferência dos Bispos de Papua-Nova
Guiné e das Ilhas Salomão. Um dos dois padres diocesanos formadores deixou o
seminário para estudar em Roma. O seminário conta agora só com o Pe. Justin
Eke, Coirmão nosso da Nigéria, e como reitor o Pe. Peter Artiken.
A Igreja de Papua-Nova Guiné está crescendo com os desafios de toda Igreja jovem. Um destes é a disciplina e o compromisso leal assumido pelos sacerdotes.
A experiência recente manifesta que se necessita uma nova dimensão na formação dos seminaristas que se preparam para a Missão. Na Igreja de Papua-Nova
Guiné é habitual ver sacerdotes que nos três primeiros anos de ordenação já são
suspensos de ordens, reduzidos ao estado leigo ou que abandonam as Ordens sacras. É um fato que provoca dúvidas sobre as convicções iniciais dos candidatos.
É muito importante encontrar Coirmãos para o seminário, especialmente se
temos em conta que foi muito difícil conseguir sacerdotes locais para ocupar os
lugares deixados pelos Padres Santos e Tulio. O seminário precisa de um diretor
espiritual e um conselheiro (Guia/Psicólogo). Os Bispos esperam que aumente
nossa presença, começando pela ajuda ao clero, como fez São Vicente.
c. O Bispo de Kiunga, Dom Gilles, escreve: “Recorri a vocês para continuar com
os pedidos apresentados já faz alguns anos, depois de minha visita à Cúria Geral.
O Pe. Rolando Santos me tinha dito que pensava vir trabalhar em nossa diocese,
215
mas foi nomeado Secretário Geral de nossa Conferência de Bispos. Assim, meu
pedido é o mesmo: um sacerdote para que acompanhe meus sacerdotes na casa
de formação, onde queremos preparar candidatos para a vida do seminário.
Tenho consciência de suas necessidades e de que os pedidos de ajuda são
muitos, mas pedir-lhe alguns padres é o único meio que temos para conseguir
obter os nossos próprios padres. Por favor, não nos esqueça!” A língua é o inglês
e o “inglês local”.
2- Ilhas Salomão. O Pe. Greg Walsh, superior dos Coirmãos nas Ilhas Salomão,
pergunta: “Você gostaria de trabalhar numa Igreja viva e vibrante, para plantar
sementes que produzam frutos abundantes durante muitos anos? Aqui nas Ilhas
Salomão a Congregação tem a sorte de estar formando uma nova geração de sacerdotes e de servir uma comunidade jovem sedenta de conhecer melhor sua fé.
As necessidades são grandes. Temos certeza de que você sentirá uma alegria
indizível, trabalhando aqui com seus irmãos. Venha para um semestre ou para
uns poucos anos, ou para muitos! Necessitamos urgentemente de Coirmãos dispostos a lecionar no seminário, já que recentemente cresceu até abarcar o seminário maior completo. Nossas maiores necessidades são Sagrada Escritura e Teologia Moral. Gostaríamos demais de contar com um Coirmão que ensinasse estas matérias. Há outras muitíssimas oportunidades no ministério pastoral, na educação de adultos, no cultivo de vocações para a Congregação da Missão, nas
missões populares em lugares muito isolados. Fazemos a vocês um convite cordial. Escola apostólica: Seminário do Santo Nome de Maria; outros trabalhos pastorais em ordem de importância conforme os vemos: Casa vocacional da Praia
Vermelha, Paróquia do Bom Pastor, Centro apostólico de Nazaré, Assentamento
de Creek Burns, Cadeia de Honiara. Novas possibilidades: uma paróquia nos arredores de Auki (a diocese mais povoada e vibrante das Ilhas Salomão): formação dos aspirante à Congregação da Missão (atualmente nossos estudantes são
enviados às Ilhas Fiji). Queremos oferecer uma “Experiência nas Ilhas Salomão”
para que os interessados possam conhecer as necessidades locais, discernir sua
resposta e divulgar nossa Missão”. Fala-se inglês e o “inglês local”.
3- El Alto, Bolivia. Vocês se lembrarão de que, numa das circulares anteriores do
Tempo Forte anunciei uma reestruturação de nossa Missão em El Alto, Bolívia.
Graças a Deus, esta reestruturação se está completando. Tentamos concentrar
216
os Coirmãos para que possam apoiar-se mutuamente e viver o que nossas Constituições chamam comunidade para a Missão. Assim, tivemos que renunciar a
uma das paróquias que temos em El Alto. Dois Coirmãos viverão juntos numa das
paróquias e outros dois noutra paróquia. Um dos missionários desta equipe de
quatro chegou recentemente, dia 28 de setembro, o Pe. Aidan Rooney, da Província oriental dos Estados Unidos. Viverá com o Pe. Diego Plá em Mocomoco. O
superior da Missão, Pe. Aníbal Vera, viverá com o Pe. Cyrille de la Barre de Nanteuil em Italaque. No final deste ano, um dos missionários que trabalha lá já faz
dez anos, o Pe. Abdo Eid, voltará à sua Província de origem, a Província do Oriente, depois de ter entregado generosamente estes anos à Missão de El Alto. Esperamos que descanse durante algum tempo para poder assumir depois outra experiência missionária num futuro não distante. Sou muito agradecido ao Pe. Abdo
pela generosidade que manifestou durante estes anos trabalhando com nossos
seminaristas, com os seminaristas de La Paz e de El Alto e com os universitários.
4- Estamos iniciando uma nova Missão, como já se mencionou numa circular anterior, em Cochabamba. Dia 7 deste mês de outubro, visitou-nos o Arcebispo de
Cochabamba para acertar os pormenores desta nova Missão em que esperamos
contar ao menos com três Coirmãos, um dos quais será o diretor das Filhas da
Caridade da Bolívia. Agora peço um quarto Coirmão para esta casa porque, ouvindo o senhor Arcebispo com seu vigário de pastoral, as necessidades são grandes e o trabalho é muito. Os Coirmãos que trabalhem nesta Missão colaborarão
com as Filhas da Caridade que têm quatro casas por lá e também em conexão
com outros ramos da Família Vicentina, particularmente com a comunidade da
Juventude Marial Vicentina da Espanha. A língua tanto em El Alto como em Cochabamba é o espanhol; falam-se também o aimara e o quíchua.
NOVAS MISSÕES
Recebi recentemente uma carta de um Bispo de Angola. Diz o seguinte: “Acabo de ser nomeado Bispo da diocese de Mbanza Congo, em Angola. Ao visitar a
diocese doeu-me ver a falta de sacerdotes diocesanos e também de missionários.
Um pouco de informações sobre a diocese, que está situada ao norte de Angola.
Tem uma população de 676.400 habitantes distribuída numa área de 39.459 km2.
Da população, 339.300 são católicos. Há 6 paróquias, 3 congregações masculi217
nas e 6 femininas, 6 sacerdotes diocesanos, 12 sacerdotes religiosos, 33 religiosas. Como pode ver, o pessoal missionário é muito limitado para atender aos católicos e não somente a eles… Por este motivo lhe escrevo com confiança e humildade, pedindo à sua Congregação a possibilidade de fazer-se presente em
nossa diocese com o objetivo principal de dedicar-se à evangelização e à direção
de nosso seminário menor. Esperando obter uma resposta positiva, renovo-lhe os
sentimentos de respeito e consideração para com sua pessoa e lhe agradeço de
antemão sua generosidade e sua disponibilidade. Vicente Carlos Kiaziku, OFM
cap., Bispo de Mbanza Congo.” A língua é o português.
Paróquia-Missão Santiago Apóstolo, Amubri, Talamanca, Costa Rica. William
Benavides Araya nos diz: “A paróquia está nas montanhas de Talamanca. Tem
uns 10.000 habitantes indígenas Bribris e 3.000 Cabécares. A região tem 33
povoados no distrito de Bratsi e Telire. O centro paroquial está em Amburi e para
chegar lá é preciso primeiro ir a Suretka (cantão Talamanca, Província de Limón),
atravessar o rio Telire e Lari de barco e depois caminhar a pé 8 quilômetros
(atualmente há um ônibus). Em Amburi há meios de comunicação, transporte
público, luz elétrica, estações de rádio, uma escola, um colégio, um centro de
saúde e acesso à internet. Nossa gente é muito simples, aberta e generosa, mas
ao mesmo tempo cuidadosa em seu modo de agir e reservada em seus
costumes. A família típica se compõe de mãe e filhos, ou avó e netos; o pai
geralmente está ausente. A juventude se deixa arrastar pela sociedade de
consumo: é hedonística, conformista, abandonando facilmente os costumes e as
tradições. Dependemos de agentes pastorais nas distintas comunidades; sua
liderança é fundamental. Quanto à religião, a maioria da população segue o
Catolicismo, embora as seitas “ataquem” cada vez com mais força. A Igreja é
fraca e o compromisso da comunidade cristã é mal interpretado. Entretanto,
existem expressões de fé e decisões que nos animam a seguir adiante. A ViceProvíncia de Costa Rica pede à Congregação do mundo inteiro missionários que
queiram partilhar esta forma de fé dos indígenas de Talamanca, de modo que
estes nossos irmãos possam gozar do privilégio de conhecer em profundidade o
Reino de Deus para com eles”.
Recebemos um pedido de ajuda do Vice-Visitador de Costa Rica, Pe. Oscar
Mata. Precisa de um formador experimentado para acompanhar os seminaristas
218
do seminário de Ipis. A língua de Costa Rica é o espanhol. A casa de
formação está numa parte muito pobre da cidade, mas com amplos espaços
para atividades pastorais tanto por parte dos seminaristas como por parte do
formador. Na casa vivem o diretor do movimento leigo missionário e o diretor
das vocações. A língua é o espanhol.
a. Cuba: peço mais uma vez ajuda para nossa pequena Província de
Cuba, constantemente necessitada de mais missionários. Graças a Deus,
este ano pudemos enviar para lá um novo missionário, o Pe. Angel Garrido,
missionário durante muitos anos em Madagascar, originário da Província de
Madri, Espanha. Como todos sabem, temos muito poucos Coirmãos em Cuba
mas são muito trabalhadores e pessoas de valor, embora de idade bastante
avançada; precisam de missionários jovens. A língua de Cuba é o espanhol.
É preciso saber viver dentro de algumas limitações políticas e de estruturas
sociais especiais.
b. Honduras. A Província de Barcelona pede ajuda para sua Missão em
Honduras. Atualmente, recebemos o apoio de duas Províncias: os Pes.
Miguel Angel Renes, de Madri, e Alexander Cortez, da América Central.
Acompanhar o povo nestes momentos tumultuosos e politicamente
inquietantes é muito importante. A Missão se esforça por trabalhar com
missionários leigos e por promover o trabalho pastoral em equipe. A língua é
o espanhol e o mosquitio.
c. Nestes últimos dias, recebi um pedido do novo Visitador da Província do
Congo, o Pe. Stanislav Zontak, que precisa de um Padre amadurecido com
experiência na formação. A Província do Congo, graças a Deus, tem muitas
vocações mas, em geral, é muito jovem e carente de experiência e de
formação. Foi este o pedido de ajuda dele. A língua é o francês.
d. A China está continuamente pedindo ajuda para sua comunidade tão
internacional da Província de Taiwan; mas quero fazer uma chamada
especial para participar numa nova experiência na China continental, onde a
Província tem atualmente três Coirmãos, os Pes. Pawel Wierzbicki, polonês,
um Coirmão dos Estados Unidos, Tom Sendlein, e um Coirmão holandês,
219
Henk De Cuijper. Neste último ano se ofereceu como voluntário o Pe. Francis
Cruz, das Filipinas, que já esteve trabalhando na China continental, assim
como outro Coirmão da Irlanda, o Pe. Padraig Regan, que dedicou
generosamente seis meses de ministério à China continental. Em
conformidade com a Província chinesa, pedi à Conferência do Pacífico e da
Ásia que estude a situação para preparar-se para evangelizar na China
continental como o estão fazendo outras congregações religiosas. O Pe.
Padraig escreveu assegurando que há vocações. Com paciência, bom
acompanhamento e um bom planejamento vocacional, podemos atrair jovens
chineses que convidamos a dedicar suas vidas à evangelização dos Pobres.
e. Outra Vice-Província que pede ajuda regularmente é a dos Santos
Cirilo e Metódio, uma área desafiadora e promissora para a evangelização.
Gradualmente, a Vice-Província está promovendo as vocações na Ucrânia e
na Bielo-Rússia, mas não com a rapidez suficiente para responder às
necessidades, visto que diversos missionários que ajudaram a Missão até
agora estão regressando a suas Províncias de origem. Todos podemos
aprender muito do anterior Vice-Visitador, um missionário veterano, o Pe.
Paul Roche, que, depois de terminar seu serviço no cargo, continua na
Missão, oferecendo-se para ir para a Sibéria. Oxalá haja jovens na
Congregação da Missão dispostos a sacrificar-se para trabalhar nesta região
do mundo que se esforça para chegar a conhecer o amor de Deus através da
fé católica. A língua comum dos Coirmãos da Vice-Província é o russo.
f. Outra Província que é claramente missionária, que pediu ajuda e que
goza da prerrogativa de ter sido um dos territórios para onde São Vicente
começou a mandar missionários, é Madagascar. Madagascar pediu à
Província de Paris missionários vietnamitas, levando em consideração que o
Vietnã foi abençoado por Deus com uma grande abundância de vocações. As
línguas são o francês e o malgache.
g. Outra Vice-Província missionária que anda sempre necessitada de ajuda
é Moçambique. Tem diversos Coirmãos de Portugal e do México. Também
quero informar que outras Províncias ou Vice-Províncias da África estão
ajudando a Missão de Moçambique. Recentemente, dois jovens Coirmãos da
220
Nigéria foram para lá, os Pes. Gabriel Ugwunwangwu e Nicolau Ikpeme,
assim como Coirmãos da Etiópia e do Congo. E também do Brasil. A
Província de Salamanca também tem uma comunidade em Moçambique (em
Nacala) onde trabalham uma comunidade de Juventude Marial Vicentina e
outros dois Coirmãos, um da Espanha e um da Eritreia. Esta Missão precisa
de pelo menos mais um Coirmão, para que o trabalho não fique tão
estressante para a equipe missionária. As línguas são o português e alguns
idiomas locais.
h. Possivelmente a Guiné Equatorial. O grupo dos Missionários Leigos
Vicentinos (MISEVI), da Espanha, deu os primeiros passos para abrir uma
nova comunidade. Contarão com o apoio das Filhas da Caridade que já
trabalham lá. Esperam que a nossa Congregação se una a este projeto
missionário. A língua é o espanhol.
Concluo com uma parte da oração para comemorar os 350 anos da entrada no céu de nossos santos Fundadores:
Senhor Deus Onipotente, Pai dos Pobres, neste ano nos concedeis a graça
de comemorar os 350 anos da morte de São Vicente e Santa Luísa. Concedei-nos, por intercessão deles, que nos deixemos transformar mais plenamente pelo Espírito que lhes destes. Que o espírito de caridade inunde nosso
coração e nossa mente, para que nosso amor aos marginalizados e excluídos
pela sociedade seja inventivo ao infinito, carinhoso, atento, misericordioso e
previdente.
Ajudai-nos a ser fortes e humildes em nossa fé, neste nosso mundo que parece tão afastado de vós mas que tem tanta sede de vós.
Fazei que possamos ser sinais de esperança para muitos, como o foram São
Vicente e Santa Luísa.
Seu irmão em São Vicente
G. Gregorio Gay, C. M.,
Superior Geral
221
INFORMAÇÕES E CRITÉRIOS PARA OS QUE NOS ESCREVAM
1.
Depois de um período de sério discernimento, se você se sente disposto a
oferecer-se como voluntário, faça o favor de enviar uma carta ou um e-mail a
Roma antes de 27 de novembro de 2009.
2.
Conhecer a língua já antes de oferecer-se é bom, mas não é
absolutamente necessário. Providenciaremos um período de aprendizagem
da língua e da cultura. Os pormenores variarão de acordo com as condições
particulares do lugar onde o missionário vai trabalhar.
3.
Embora não tenhamos estabelecido um limite de idade, é claramente
necessário que o missionário tenha uma boa saúde e flexibilidade para
inculturar-se.
4.
Os Coirmãos que se ofereçam como voluntários devem informar seu
Visitador de que o fizeram. Depois falarei com o Visitador sobre cada um dos
pedidos.
5.
Sua carta deve dar-nos alguns antecedentes de sua pessoa: sua
experiência ministerial, seu conhecimento de línguas e sua formação
acadêmica. Também deve manifestar os interesses que você tem, como, por
exemplo, a Missão em que estaria interessado em participar.
6.
Mesmo se você já escreveu anteriormente, faça-o de novo. A experiência
demonstra que Coirmãos que não estavam dispostos num momento o estão
em outro.
7.
Se você não pode ir para as missões, talvez possa demonstrar seu zelo
missionário contribuindo financeiramente. Todos os anos, cerca de 15
Províncias que precisam de ajuda para realizar sua Missão acodem ao Fundo
de Solidariedade Vicentina em busca de um microfinanciamento de 5.000
222
dólares ou menos. Estas ajudas se podem conseguir da Central de
Solidariedade Vicentina (VSO), através da Cúria, com rapidez e com um
mínimo de papéis. A Central de Solidariedade Vicentina informa em seu
boletim que esta ajuda produziu frutos maravilhosos (acessível em
www.famvian.org/vso). O fundo para microprojetos se está esgotando. Sobra
menos do que se concede regularmente ao longo de um ano. As doações ao
Fundo de Solidariedade Vicentina são a única fonte de financiamento para
estas ajudas a microprojetos.
FUNDO DE SOLIDARIEDADE VICENTINA: PARA CONTRIBUIR
Contribuições de Províncias, de Casas ou de Indivíduos:
1. Os cheques devem ser feitos em nome da “Congregazione della
Missione” e deve-se escrever no verso “somente para depósito”. Devem
ser enviados a:
John Gouldrick, C. M.,
Ecônomo Geral
Via dei Capasso, 30
00164 Roma - Italia
2. Outras formas de contribuição podem ser combinadas com o Ecônomo Geral.
Em todo caso
1. Todo donativo terá seu recibo. (Se o recibo de sua contribuição não
chegar num tempo razoável, faça o favor de pôr-se em contato conosco
para que o esclareçamos.
2. Faça o favor de informar-nos se fez ou pensa fazer uma doação como
se indica acima.
223
PALAVRA
Estimado Coirmão e prezado(a) leitor(a),
Estamos chegando ao final de mais um a-
DO
no. Revendo a caminhada constatamos que
VISITADOR
muitos e importantes são os motivos que elevam
o nosso pensamento a Deus e despertam o
nosso coração para o louvor e a gratidão.
Apontar os sinais de vida e celebrar as conquistas, mesmo pequenas, são
estratégias importantes a serem adotadas por todos nós. Apontar os sinais de
vida e celebrar as conquistas por vida digna será nosso maior testemunho de
que o Deus dos Pobres está vivo e continua atuando na implantação do seu Reino através da vida, da prática e dos ensinamentos dos discípulos e discípulas de
Jesus. Apontar os sinais de vida e celebrar as conquistas também servirá para
reavivar a fé, a esperança e a coragem de tantos Coirmãos, irmãos e irmãs que
se encontram desiludidos ou cansados por não perceberem que as “coisas de
Deus” acontecem de maneira pura e simplesmente.
Louvamos e agradeçamos a Deus pelo Ano Sacerdotal que estamos
celebrando. O Papa Bento XVI na mensagem de abertura do Ano Sacerdotal
convidou os presbíteros a fazer deste ano “uma ocasião propícia para crescer
na intimidade com Jesus, que conta com seus ministros, para difundir e consolidar seu Reino, para difundir seu amor, sua verdade. Portanto, que a exemplo do Santo Cura de Ars, deixem-se conquistar por ele para serem no
mundo de hoje, mensageiros de esperança, reconciliação e paz”. Na mesma
mensagem o Papa afirma “pediremos ao Senhor que inflame o coração de
224
cada presbítero com a caridade pastoral capaz de fundir seu “eu” no de Jesus
sacerdote, para assim poder imitá-lo na mais completa entrega de si mesmo”.
Louvamos e agradeçamos a Deus pelo Ano Jubilar Vicentino em que celebramos os 350 anos da morte de São Vicente de Paulo e Santa Luísa de
Marillac. “Fazemo-lo com o lema „Caridade e Missão‟. A missão é o enfoque
que desejamos dar a este ano de celebrações.” “Nossa missão, evangelizar e
servir os Pobres, é motivada como sempre pelo amor a Deus que se concretiza em atos de caridade em contato direto com os Pobres e por amor a eles.
Celebramos nosso passado agradecendo a Deus pelos exemplos maravilhosos de amor que nos deixaram.” “Celebraremos também a morte e ressurreição de um companheiro muito próximo, o primeiro companheiro de São
Vicente de Paulo: o Pe. Portail, falecido no mesmo ano de 1660. Todos eles
estavam implicados numa missão de amor. Estavam unidos pelo amor: um
profundo amor a Deus e um profundo amor aos Pobres. Levaram a cabo sua
missão com uma paixão tão forte que ainda hoje continua atuando na Família
Vicentina no mundo inteiro, de uma forma muito mais forte do que São Vicente e Santa Luísa ou inclusive o Pe. Portail puderam imaginar. Para dar um
exemplo de como esta Missão continua, ainda há outro aniversário a celebrar
este ano: os 150 anos da morte de São Justino de Jacobis, o grande missionário da Eritreia e da Etiópia” (Pe. Gregory G. Gay, SG, 13/10/2009).
Louvamos e agradecemos a Deus que nos possibilitou a realização das
Assembleias Domésticas e Provincial em preparação para a Assembleia Geral em 2010 que terá como lema: “Fidelidade Criativa à Missão” e como
tema: (...) tendo em vista o Evangelho e sempre atenta aos sinais dos
tempos (...) a Congregação da Missão procurará abrir caminhos novos e
empregar meios adequados [às circunstâncias dos tempos e dos lugares] (...) de modo a permanecer em estado de renovação contínua (cf.
Const. 2). Juntemos nossas vozes em oração pelo período de assembléias
que estamos vivendo. “Deus Pai misericordioso, que enviastes vosso Filho
como Salvador do mundo e evangelizador dos Pobres, vós nos escolhestes
para anunciar a Boa Nova aos Pobres, nossos Senhores e Mestres; agrade225
cemo-vos por nos terdes chamado a esta vocação como Missionários vicentinos. Estamos a caminho da 41° Assembleia Geral e vos pedimos a luz de
vosso Espírito Santo, para que conduza nossos sentidos, fortaleça nossa fraqueza e nos torne dóceis às vossas inspirações, para podermos estar atentos
às chamadas do Evangelho, da Igreja e dos sinais dos tempos.”
Louvamos e agradecemos a Deus pelos propedeutas e seminaristas que
Ele mesmo, o Senhor da Messe e Pastor do Rebanho, continua a chamar e
nos enviar. Louvamos e agradecemos a Deus pelos nossos Coirmãos Vanderlei Alves dos Reis e Odinei de Paiva Magalhães, que emitiram os Santos
Votos no dia 14/2/2009, pelos nossos Coirmãos Luís Carlos do Vale Fundão
e Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira, que foram ordenados diáconos no dia
1/11/2009, e pelo Diácono Gentil José Soares, que será ordenado presbítero
no dia 12/12/2009. Louvamos e agradecemos a Deus pela vida e vocação de
todos os nossos Coirmãos, pelo fortalecimento do Carisma e da consciência
missionária nos inúmeros membros da Família Vicentina. Apresente você
também outros motivos para louvar e agradecer a Deus.
Problemas? Provações e provocações? Desafios? Existiram e continuam insistindo em existir. Se os enfrentamos com coragem e confiança é na
certeza de que a Providência Divina jamais nos abandona. Como nos ensina
São Vicente, “Para agir verdadeiramente e para agir bastante, é suficiente realizar a vontade de Deus. Deus realiza então mais do que poderíamos fazer,
e ele cuida dos nossos negócios porque nós fazemos os que são dele” (SV
II,236).
Finalizando esta mensagem renovo a todos os Coirmãos, leitores e leitoras, os votos de um Santo e abençoado Natal. Que o Menino Deus renove
em cada um de nós a certeza de que, com ele, poderemos construir um ano
de 2010 muito melhor, repleto de amor, de justiça, de fraternidade e de paz,
sinal do Reino Definitivo.
226
Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, C. M.,
Visitador Provincial
Ano Jubilar da F.V.
Os Fundadores: duas vidas diferentes e paralelas,
um mesmo destino
1
Pe. Benito Martínez, C.M.
Província de Saragoça (Espanha)
Ao longo da história da humanidade, o Filho de
Deus procurou continuamente quem pudesse se
encarregar da missão de libertar os indigentes da
pobreza. No fim do século XVI, fixou os olhos sobre dois seres humanos, um homem e uma mulher. Ela era do norte da França, ele do sudoeste. Mas o Senhor sabia que ambos se encontrariam em Paris. Este encontro era necessário para fundar a Companhia da Filhas da Caridade, um dos pilares da missão de salvar os Pobres tanto no plano humano
como no plano espiritual. Quem era este homem e quem era esta mulher?
Ela se chamava Luísa de Marillac e ele, Vicente de Paulo. Suas vidas eram
muito diferentes, mas ambos iam caminhar paralelamente para o mesmo destino, como se fossem dirigidos por uma força divina que Vicente de Paulo
chamava Providência.
SÃO VICENTE DE PAULO
Vicente de Paulo nasceu na aldeia de Pouy, perto de Dax, nas Landes
da Gasconha. O camponês do sudoeste francês não estava na mesma situação social e econômica do resto da França, conforme falam os historiadores.
1
Artigo publicado em: Echos de la Compagnie, Paris, n. 2, p. 142-152, mars-avril 2009, sob o título: Les Fondateurs: deux vies différentes et parallèles,
un même destin. Em razão da natureza deste periódico, omitimos as 13 notas que acompanham o texto original (NT).
227
O país basco, o Béarn, a Guyenne e a Gasconha eram pequenos Estados
com um parlamento, uma administração e uma fiscalização autônoma. Eles
tinham criado um campesinato proprietário de suas terras, onde havia poucos
arrendatários. A família Depaul não era pobre, ainda que fosse exposto a de
tornar-se, em tempos de guerra e de más colheitas.
Do lado da mãe, parece que os Moras eram burgueses e donos do domínio de Peyroux, em Ortheville, situado a 20 km ao sul de Dax. Eles tinham
uma série de direitos sobre os habitantes e as terras da aldeia: a justiça, a ordem, a taxa de seu forno, do moinho, da prensa, etc., pelos quais recebiam
retribuições. Além disso, eram isentos de numerosos impostos. Parece também que vários irmãos de sua mãe eram advogados e funcionários públicos e
que uma pessoa da família Moras, talvez um dos avós de Vicente de Paulo,
tinha uma casa na aldeia de Pouy.
Do lado de seu pai, os Depaul eram grandes camponeses, com terras,
bosque e gado em Pouy e em outras localidades próximas a Dax, como, por
exemplo, na aldeia de Saint-Paul. Como era uma família de funcionários públicos, de burgueses e de grandes camponeses, supõe-se que eram influentes na sociedade do lugar. Pode-se dizer, então, que Vicente de Paulo pertencia a uma família que podia, por sua própria condição, segundo o costume
e a mentalidade social da época, aspirar subir na escala social e eclesial sem
contradizer o Evangelho. Pode-se também ver o mesmo nas famílias de Saint-Cyran, Bérulle, Francisco de Sales, Arnauld, Marillac, Attichy, etc. É também o que São Vicente e Santa Luísa pretendiam para o filho de Luísa, Miguel Le Gras. Este costume não poderia se realizar a não ser nas famílias
que podiam permitir-se fazê-lo, graças às suas relações de influência e à colação de benefícios eclesiásticos que pertenciam ao rei, aos nobres, à alta
burguesia ou ao alto clero. Se se fazia isso, é porque era normal na época.
Acrescentemos também que, segundo o costume, os caçulas pobres dessas
228
famílias eram destinados à administração pública, a entrar no convento ou a
abraçar o estado sacerdotal. Nenhuma dessas aspirações opunha-se diretamente ao Evangelho, porque, então, a separação entre mundo e transcendência era inconcebível. A sociedade francesa era do gênero sacral. O sagrado impregnava tudo, não havia distinção entre o domínio social, o político
e o religioso. No final do século XVI, ter ou não ter vocação dependia geralmente do benefício familiar ou das necessidades da Igreja. Santo Tomás e o
Concílio de Trento não pediam ao sacerdote mais do que uma vida sem mancha e certo conhecimento para exercer seu ministério. A noção de vocação
pessoal foi uma novidade na França do século XVII, introduzida por Bérulle e
propagada por Olier, Bourdoise, bem como pelos Oratorianos, Sulpicianos e
pelos Padres de São Nicolau de Chardonnet.
Por iniciativa do senhor de Comet, juiz e parente dos Moras, a família
Depaul se esforça para melhorar a situação social da família e escolhe o estado clerical para Vicente, contando com o seu consentimento. Por quê? Talvez, eles o julgassem capaz de assumir os estudos eclesiásticos e de ascender a um posto importante na Igreja. Com a idade de quinze anos, Vicente
partiu para estudar no colégio de Dax. Ele conseguiu cursar três anos em um
e, em dois anos, preparou-se para estudar teologia. Além disso, foi considerado apto a tornar-se preceptor dos filhos do senhor de Comet. Tudo isso leva-nos a supor que, quando menino, enquanto ainda pastoreava o gado, Vicente teve um professor particular, seja em sua casa, seja, o que é mais provável, quando ele passava alguns dias em casa de seus avós maternos.
Talvez, seus avós tenham se dado conta de sua piedade. E, de fato,
mais tarde, seu caráter sombrio e brusco se tornaria um temperamento afetuoso e sensível. Teve uma devoção infantil para com a Virgem; deu como esmolas punhados de farinha ou 30 soldos aos Pobres; verteu lágrimas quando,
aos vinte anos, recém-ordenado, foi a Roma e viu o túmulo dos apóstolos;
229
quando visitou sua família, também chorou por não poder ajudá-la financeiramente. Alguns anos mais tarde, exclamará: “Pensais que eu não amo meus
pais? Tenho por eles todos os sentimentos de ternura e afeição que qualquer
um poderia ter pelos seus. E este amor natural exigia de mim que os assistisse” (Abelly III,294). Vicente era um bom rapaz, pensava em cumprir suas
obrigações de padre e também buscar os meios de assegurar o bem-estar
material da família. Naquela época, não havia oposição alguma entre levar
uma vida sincera de padre e o desejo de ajudar a família. Hoje em dia, já não
há qualquer oposição ao Evangelho no fato de boas famílias desejarem que
seus filhos estudem, adquiram diplomas e busquem postos elevados na sociedade e na Igreja.
Assim era para Vicente de Paulo. Em 1638, quando já era “santo”, escreveu a Luísa sobre o futuro de seu filho Miguel: “Falei com o senhor Pavillon sobre vosso filho. Estimo que esteja de acordo que o mesmo conclua sua
teologia, que ele se faça padre, exercite-se, por algum tempo, nos exercícios
de piedade convenientes aos eclesiásticos. Feito isso, não vejo nenhuma dificuldade que impeça o senhor Pavillon de recebê-lo. Fora isso, o jovem serlhe-ia inútil e seria uma dor insuportável a ele mesmo ver-se diante de montanhas na extremidade do reino, sem nada fazer e incapaz de qualquer emprego. Em nome de Deus, senhora, acredite, sei bem o que é isso. Espero
que, se vosso filho fizer o que eu disse há pouco, não lhe faltarão bons empregos; se aprouver a Deus que eu viva, prometo-lhe cuidar dele como se
fosse meu sangue” (SV XV,19).
Parece que Vicente considerava o desejo humano de prosperar na vida
como algo que Deus teria inscrito no ser ao criar o universo. De acordo com a
natureza, ele teria posto no ser humano o amor próprio, a responsabilidade e
a luta pela felicidade pessoal, familiar e social, como se a santidade consistisse unicamente em viver segundo a natureza humana programada por Deus e
que, vivendo assim, cumprir-se-ia sua vontade.
230
Esta mentalidade poderia explicar o fato de que, ao voltar à sua aldeia,
em 1623, Vicente se sentiria profundamente atormentado pela sensação de
ter cometido uma injustiça. Seus irmãos e irmãs talvez lhe tenham feito alguma repreensão. A família gastou com a sua formação, vendeu até mesmo um
par de bois para que ele pudesse, depois, ajudá-los a ter uma vida melhor.
Era uma das maneiras de investir dinheiro naquela época. Além da afeição
que tinha por sua família, talvez se sentisse culpado de uma injustiça contra
ela. Mas, ele pensava também que um “eclesiástico que possui alguma coisa
deve-a a Deus e aos Pobres” (SV II,219). Então, para tranqüilizar sua consciência e fazer justiça, cedeu a seus irmãos e irmãs todos os bens que tinha
herdado de seus pais e mais 900 libras (cf. SV XII,61).
Aos 19 anos, é ordenado Padre. Vicente diz que era uma coisa bem comum na época (cf. SV XI,118). Ninguém se escandalizava. O Concílio de
Trento ainda não tinha sido aplicado na França. O período dos grandes reformadores ainda não tinha chegado. Depois de sua ordenação, tentou ser
pároco de Tihl, uma paróquia próxima à sua aldeia natal. Ele a pediu, mas em
vão. Ainda que o encargo das almas fosse um benefício com uma remuneração apreciável, não queria dizer que teria vivido confortavelmente de suas
rendas. Dizer que este era o seu único objetivo é uma afirmação totalmente
infundada. E, alguns anos mais tarde, quando foi nomeado pároco de Clichy
e de Châtillon, ficou muito feliz.
A Providência velava: se ele tivesse tomado o posto de Tihl, não poderia
ter fundado a Companhia das Filhas da Caridade, pois uma Associação ou
uma Confraria, para nascer e desenvolver-se, deveria ser parisiense e não
provinciana. Não teria encontrado Luísa de Marillac, que se revelou tão indispensável quanto ele nesta fundação, para organizá-la e dirigi-la. Ademais, Vicente tem as qualidades de um camponês apto para fundar uma Companhia
de camponesas, consagradas para o serviço dos Pobres: era tenaz, hábil,
231
criativo para superar as dificuldades e buscar soluções. Oriundo de uma família generosa, capaz de ajudar os Pobres, era capaz das relações necessárias
para ser padre. Depois, Vicente compreenderá que tudo isso o tinha preparado para fundar uma Companhia com um novo estilo para a época.
Em Paris
No final do ano de 1608, Vicente chega a Paris. Parece que, depois de
ter finalizado seus estudos em Toulouse, esteve em Roma e, segundo seu
relato, foi feito cativo na Tunísia durante dois anos. Embora alguns biógrafos
não acreditem nisso, eu o admito, pois uma aventura tão improvável, que ele
mesmo conta a um juiz e advogado de Dax, só poderia ser verdadeira. Este
mesmo poderia ter verificado tal informação. Vicente tinha 27 anos quando
descreveu este fato e sabia o que fazia. Era um homem de comprovada maturidade e de uma personalidade definida. Apresenta-se como um bom padre
que quer viver o melhor possível sua vida sacerdotal. Penso que esta passagem dolorosa serviu para aumentar nele a piedade sacerdotal que guardava em si e podia fazê-lo sentir os sofrimentos dos infelizes.
Em Paris, por volta de 1602, os círculos de espiritualidade começariam a
ganhar importância. Um dos mais famosos era o que se reunia no palácio de
Barbe Jeanne Avrillot, esposa de Pierre Acarie. Depois de sua viuvez, a senhora Acarie entra no Carmelo e recebe o nome de Maria da Encarnação.
Seu círculo era freqüentado por seu primo Pierre de Bérulle, André Duval,
Ange de Joyeuse, Benoît de Canfield, Brétigny, Gallemant, Miguel de Marillac, a Marquesa de Maignelay (que fazia parte da família dos Gondi) e muitas
outras pessoas. Todas seguiam as inspirações do Cartuxo Dom Baucousin e
a espiritualidade renoflamenga, através da Perle Évangélique, o Bref Traité,
de Isabelle Bellinzaga (Gagliardi), a Règle de Perfection, de Benoît de Canfi-
232
eld, e os escritos de Santa Catarina de Gêneva. A maioria dentre eles também lia os escritos de Santa Teresa de Ávila e alguns de São João da Cruz.
Pouco depois de sua chegada a Paris, Vicente de Paulo começa a freqüentar este círculo de espiritualidade, ou porque buscava a santidade ou
porque aquelas pessoas o convidavam para suas reuniões. Através da oração contemplativa e do desprendimento, todos buscavam a santidade ou,
como dizia Bérulle, a divinização. Essas pessoas espirituais do círculo da senhora Acarie tinham muita influência entre os nobres.
Tudo indica que, por volta do final de 1609 ou início de 1610, Vicente de
Paulo podia ser considerado um padre que buscava Deus e, graças a informações posteriores, sabemos que ele se dedicava à oração sob a direção de
Bérulle. Em 1610, é nomeado capelão da Rainha Margarida de Valois (Margot), repudiada por Henrique IV. Em 1611, faz os Exercícios no Oratório e Bérulle o julga digno de substituir o pároco de Clichy, Padre Bourgoing, que se
tornaria Oratoriano. Por influência de Bérulle, no ano seguinte, Vicente é nomeado preceptor dos filhos da poderosa família dos Gondi.
A noite mística do amor ou a santidade
As pessoas que freqüentam o círculo da senhora Acarie vivem a oração
e Vicente de Paulo a pratica assiduamente. Ele progride nesta prática. Por
volta de 1614, sendo preceptor na casa dos Gondi, entra na Noite Mística que
os biógrafos chamam de tentação contra a fé, mas que parece ser a Noite
Escura dos Sentidos, que São João da Cruz apresenta como uma porta que
introduz na contemplação chamada oração de quietude.
Nesta Noite, Vicente de Paulo faz a grande oferta: entregar sua vida pelo
outro, pedindo a Deus para assumir a situação dolorosa de seu amigo (o teólogo que encontrou no palácio da Rainha Margarida de Valois). Vicente compreende que Deus aceitou sua oferta e sente o peso das dúvidas de seu
233
companheiro. Ele só se libertará das mesmas mediante outro ato de amor:
consagrar sua vida, por amor a Jesus Cristo, ao serviço dos Pobres.
Não foi esta oferta que o tornou “santo”, mas foi porque ele já era “santo”
que fez esta oferta. Em sua caminhada, entregando-se à oração para cumprir
a vontade de Deus e libertar-se de todo apego, Vicente entra na noite mística
dos sentidos, uma etapa comum a todos os cristãos que seguem Jesus. Esta
oferta foi o coroamento do esforço realizado por Vicente, graças às virtudes
teologais recebidas no batismo. Assim, Vicente alcançou o desprendimento
interior de si mesmo a ponto de sacrificar sua vida por este teólogo que sofria.
Através da contemplação, Vicente recebe os sete dons do Espírito Santo que
o purifica de si mesmo. Por esta purificação, chamada noite mística, ele vive
uma “segunda conversão”, tal como a explica o teólogo da época, Luis Lallemant. Como expressão de santidade, Vicente se oferece a Deus para servir
aos Pobres que ele já visitava durante estes anos obscuros, no Hospital da
Caridade que os Irmãos de São João de Deus haviam fundado em Paris.
Nessas circunstâncias, Deus o faz sair daquela situação (é assim que ele
procede com aqueles que chegam a esta etapa da vida espiritual). Por duas
vezes, Vicente exporá este assunto às Filhas da Caridade (SV IX,420.424).
Podemos dizer que, com as disposições pessoais e os dons recebidos no Batismo, ele acolheu a força do Espírito de Deus que o fez sair da Noite Mística:
apesar de suas dúvidas, ele buscava a santidade no serviço dos Pobres. Era
santo, amava os Pobres, estava preparado para a missão que Deus ia confiar-lhe. Faltava apenas encontrar-se com Luisa de Marillac.
SANTA LUÍSA DE MARILLAC
Luísa de Marillac é a outra pessoa de que Deus precisava para salvar os
Pobres de uma determinada maneira. Poucos meses antes da chegada de
Vicente de Paulo a Paris, em 1607, Luísa, com a idade de 16 anos, encontra
um Capuchinho da rua Saint Honoré. Fazia três anos que ela vivia numa das
numerosas pensões existentes em Paris para moças de classe média. Habi234
tualmente, elas mesmas faziam os trabalhos domésticos para não aumentar o
custo da pensão. Luísa procurava uma resposta a uma pergunta que inquietava seu coração: Por que aquela vida de sofrimento? Ela dirá, meditando,
três anos antes de morrer: “Visto que Deus me concedeu tantas graças, como
a de fazer-me conhecer que sua santa vontade era de que eu fosse a ele pela
Cruz, que sua bondade quis que eu experimentasse já desde o meu nascimento, não me deixando quase nunca, em qualquer idade, sem ocasiões de
sofrimento” (Escritos Espirituais, p. 707).
Nascida em 1591, era filha natural de um ou de uma Marillac, até hoje
por nós desconhecido. Foi acolhida pelo chefe da família, Luís de Marillac,
que a introduziu, pouco tempo depois de seu nascimento, no melhor convento
de Paris (onde eram educadas as filhas da nobreza). Lá, Luísa recebe uma
boa formação em letras que lhe será necessária para ser fundadora e Superiora Geral da Companhia. Saberá redigir regulamentos, memórias, escrever
cartas e surpreender as senhoras da alta sociedade, apresentar-se diante dos
bispos ou administradores civis.
Com a morte de Luís de Marillac, Luísa é excluída da família Marillac por
seus membros e pelas leis civis, em razão das circunstâncias de seu nascimento. Foi colocada numa pensão, onde descobre o espírito de serviço e aprende a gerir a vida doméstica e os trabalhos da casa. Mais tarde, poderá
ensinar tudo isso às suas filhas.
Queria ser capuchinha, mas os Marillac a obrigaram a casar-se com Antônio Le Gras, um burguês de classe média, a fim de melhorar a posição política da família Marillac-Attichy.
Aquele Capuchinho tinha lhe dado três conselhos: orar, confiar em Deus
e colaborar com sua vontade. Nesta colaboração cheia de confiança, ela encontra a solução para suas interrogações sobre os mistérios dolorosos de sua
vida. Luísa se entrega à oração, mas à maneira daqueles cuja espiritualidade
235
se funda numa mística abstrata, a mesma que Bérulle havia inculcado em Vicente de Paulo.
Noite Mística
Com o começo da doença de Antônio Le Gras, Deus se manifesta a Luísa,
sem que ela o reconhecesse, duro e terrível, para purificá-la dos tormentos de
sua vida interior. É a noite passiva, que o próprio Vicente de Paulo atravessou,
pouco tempo antes. À maneira de São João da Cruz, Deus a purificará até junho
de 1623; em seguida, de uma maneira mais suave, até dezembro de 1625, com
a morte de seu marido. Durante a doença de seu marido, o espírito ferido de Luísa deixa-se envolver por um complexo de culpa porque tinha se casado quando
havia pensado em entrar para a vida religiosa.
Através desses acontecimentos, Deus a purifica e revela a missão que lhe
vai confiar, como uma continuação do chamado ouvido quando ela tinha 16 anos. A noite termina no dia de Pentecoste de 1623. Nesse dia 4 de junho, o Espírito Santo termina a purificação e anuncia que vai lhe dar um novo diretor espiritual, comunicando-lhe também que ela estaria com outras jovens a serviço dos
Pobres. Já era “santa”, estava pronta para a fundação da Companhia.
Nem durante esta purificação passiva, nem nos anos seguintes, Luísa
de Marillac compreendeu completamente o sentido místico, a importância
desta “Noite Passiva” para sua vida espiritual. Ela não compreendeu que
Deus começava a revelar-lhe sua vocação. Teve que considerar o que vivia
como uma realidade espiritual entre outras, conhecida por todas as pessoas
que buscam Deus.
Vigília de Pentecostes de 1642: queda do assoalho
Outro acontecimento luminoso foi o milagre da queda do assoalho da sala vazia. Na vigília de Pentecostes de 1642, devia acontecer uma reunião en236
tre São Vicente, as Senhoras da Caridade e Luísa. Assim que a reunião foi
cancelada, o piso da sala onde esta devia acontecer desabou. Para Luísa, a
Companhia foi salva por Deus (A. 75). Então, ela começou a escrever uma
espécie de diário e nele conta o que o Espírito de Deus lhe anunciara na Noite Mística de 1623 (A. 123).
Aos 54 anos, a releitura que faz de sua vida passada faz ver como Deus
a guiou para encontrar São Vicente e fundar com ele a Companhia das Filhas
da Caridade, ainda sem compreender totalmente de que se tratava. Era uma
Marillac, mas sem ser nobre, pois, se fosse, não poderia ter sido, naquela época, Filha da Caridade. Neste momento, ela compreende a importância de
sua formação humanística recebida em Poissy e de sua passagem como serviçal na pensão. Compreende, igualmente, que não poderia ter sido religiosa,
que devia ter se casado e que Deus a havia escolhido porque era viúva e tinha um filho. Naquele tempo, a mulher solteira não gozava de consideração,
a mulher casada dependia totalmente do seu marido, somente as viúvas de
boa condição financeira, sobretudo se tivessem um filho, poderiam se considerar em igualdade com os homens em termos de direitos e obrigações.
Naquele momento, Luísa compreende que sua vida, que considerava
como uma cruz pesada, tinha lhe dado a liberdade necessária para ser fundadora. Deus a havia escolhido em razão desta vida, com suas qualidades
intelectuais e afetivas, incluindo a formação humana da burguesia. Antes de
ter conhecido Vicente de Paulo, ela havia colaborado inconscientemente com
Deus, reconhecendo-o nos acontecimentos da vida. Aos 54 anos, ela compreende que Deus lhe deu o carisma de fundadora, precisamente por causa
de seu estado de vida, que possibilitara a fundação das Filhas da Caridade.
Deus a fez encontrar um grande diretor espiritual: Vicente de Paulo. Embora,
inicialmente, ele não lhe tenha agradado muito. O encontro da mulher do norte da França com o homem do sudoeste francês realizara-se. Aconteceu aproximadamente no Natal de 1624 ou no início do ano de 1625.
237
Até conhecer São Vicente, Luísa não tinha encontrado a possibilidade
de doar-se inteiramente aos Pobres. Como todas as pessoas piedosas, ela
dava esmolas. Sua preocupação era a união com Deus, sua santificação, a
de seu esposo e a de seu filho. Por isso, entrega-se à oração. Depois de sua
“Noite Mística”, sua oração se torna contemplativa e assim permanecerá ao
longo de toda a sua vida. O fato de entregar-se a Deus na oração será a base
de seu dom a Deus nos Pobres. Entretanto, chegará o momento em que a vida e a pessoa de Luísa de Marillac se identificarão com os Pobres, graças à
influência de São Vicente (SV I,73-74). Sua doação a Deus será sempre
constante, mas, a partir do mês de maio de 1629 até sua morte, esta doação
a Deus se realizará através do serviço dos Pobres, estando a serviço da
Companhia que ela fundou com São Vicente e à qual pertence.
Todavia, há certa diferença entre a entrega de Santa Luísa aos Pobres e
a de São Vicente. Ele conhecia os Pobres desde sua infância e esta sua entrega aos Pobres estava no mais profundo de seu ser. Para Luísa de Marillac,
absorvida pelo medo do julgamento de Deus e por seu grande desejo de santificar-se, a entrega aos Pobres veio-lhe por seu diretor, Vicente de Paulo. Ela
se identifica com os Pobres de tal forma que, por assim dizer, seu ser se
compõe de um invólucro exterior (a pele), os Pobres, enquanto que o interior
de seu ser (a carne) foi sempre a vida interior que ia diretamente para Deus.
Por outro lado, para São Vicente, o invólucro exterior (a pele) era sua vida interior; o interior de seu ser (a carne) eram os Pobres. Mas todos os dois foram, igualmente, fiéis ao destino que Deus quisera para eles: o de servir e
evangelizar os Pobres.
Para concluir, ousaria afirmar que tudo o que Santa Luísa é, na história
da caridade para com os Pobres e na Companhia, ela o deve a São Vicente.
Mas, é preciso dizer também, que a contribuição de Santa Luísa na obra de
Vicente de Paulo foi de tal importância que se poderia pensar que, se ela não
238
estivesse ao seu lado, muitas obras do santo não teriam vindo à luz ou não
teriam perdurado depois dele.
(Tradução: Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.)
Vida da Província
CAMPINA VERDE COMEMORA, COM ALEGRIA, OS 140 ANOS
DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA MEDALHA MILAGROSA
Campina Verde, uma pequenina, mas
acolhedora cidade do Triângulo Mineiro, segunda casa da Congregação da Missão no
Brasil, completou no último dia 6 de novembro, 140 anos de oficialização de sua Paróquia, que serão celebrados em conformidade
com a programação do Ano Vicentino que se
estenderá até 28 de novembro de 2010, encerrando-se com a Festa de Santa Catarina Labouré, por ocasião dos 180
anos das aparições de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa àquela noviça
das Filhas da Caridade.
Para se tomar conhecimento da história política de Campina Verde, faz-se necessário levar em consideração que o Sertão da Farinha
Podre, onde se achava situada o antigo Arraial de Campo Belo, fazia parte da Diocese
de Goiás e pertencia à Freguesia de Boa Vista do Rio Verde, atualmente Monjolinho, que
foi elevada a Paróquia pela Lei Mineira n0.
1625, de 6 de novembro de 1869. Como o Arraial
de Campo Belo já se achava em evidente progresso, povoado pelas autoridades civis, professores,
policiais etc., achou-se por bem transferir a sede
daquela Freguesia para o Povoado de Campo Belo,
o que foi regulamentado pela Lei Mineira 556, de 30
de agosto de 1911.
239
Com a pretensão de celebrar este jubileu toda a comunidade se mobilizou, elaborando um vasto programa de atividades, e para abrir o Ano Vicentino nada melhor do que a Festa de São Vicente de Paulo, em 27 de setembro
de 2009. Muitas comemorações comporão o programa carinhosamente preparado para este Ano Vicentino:
350 anos da morte de São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac;
180 anos das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré;
180 anos da chegada dos Padres Lazaristas a Campina Verde;
150 anos da morte de Padre Jerônimo Gonçalves de Macedo;
70 anos da presença das Filhas da Caridade em Campina Verde.
Estas comemorações terão como tema: “São Vicente de Paulo – Um
Santo atual”, e como lema: “O amor é inventivo até o infinito” (SV). Lembrando a história de nossa Paróquia percebemos que o ideal vicentino esteve presente em todos os momentos, desde a chegada dos primeiros padres até os
dias de hoje, quando a Congregação da Missão continua dispensando permanente atenção ao trabalho de evangelização.
Ao volvermos nosso olhar para a história da Paróquia da Medalha Milagrosa, nos deparamos com a Providência Divina a embalar nossos sonhos e
a tornar realidade nossos projetos. Foram inumeráveis as conquistas e em
decorrência disso muito trabalho foi necessário empreender. Tudo nos leva a
agradecer, sem cessar, a intercessão de nossa Padroeira que, como mãe zelosa, esteve presente em todas as alegrias e dificuldades.
Faz parte das comemorações deste jubileu a elaboração do livro “Sob o
Signo da Fé”, que tem como principal objetivo proporcionar uma narrativa acurada e relativamente completa da história desta Paróquia, tornando-se este um
projeto coletivo, pois se baseia no trabalho desenvolvido por nossos antecessores e continua pelos tempos afora, a compor esta epopéia.
Os Padres Vicentinos tiveram nesta
história uma participação fundamental,
tendo sido, desde o século XIX, os responsáveis pelo trabalho missionário aqui
realizado. Com a chegada dos santos
Padres do Caraça o povo foi logo se a240
glomerando para dar origem a um lugarejo denominado Campo Belo, que
passou a ser referência em toda a região, tanto como centro missionário e religioso, como também por instalar-se aqui uma escola que veio fomentar o
crescimento intelectual de muitos jovens.
A vinda dos padres trouxe para o lugar uma devoção tão grande a Nossa Senhora que dá para perceber nitidamente o entusiasmo e a fragilidade do
campina-verdense ao estreitar-se ao colo desta mãe tão bondosa, seja para
pedir, seja para agradecer. Desde tempos remotos, Nossa Senhora foi escolhida padroeira de Campina Verde: primeiro sob o título de Nossa Senhora
Mãe dos Homens, devoção trazida pelos padres do Caraça, depois Nossa
Senhora da Medalha Milagrosa, em comemoração ao centenário das aparições em 1930.
A elaboração deste trabalho que envolveu pesquisa em documentos antigos, manuscritos e outros mais, trouxe à memória dos mais antigos a oportunidade de relembrar as histórias contadas ou vividas, muitas das quais registradas nos livros do Tombo da Paróquia, ou na lembrança do povo, contadas à boca pequena, conforme a herança cultural do campina-verdense. O
lançamento do livro “Sob o Signo da Fé” foi, sem dúvida, uma grande oportunidade de se trazer à baila estas lembranças, para delas tirarmos proveito.
Estas comemorações nos dão também a oportunidade de conhecermos
o heróico e valoroso trabalho do grande Padre Jerônimo, primeiro evangelizador que, ao ter contato com João Batista Siqueira e sua mulher Bárbara,
veio plantar neste solo a semente da fé, em decorrência da doação de grande
latifúndio à Congregação da Missão.
Dando sequência ao trabalho de Padre Jerônimo, seguiram-se outros
padres, muitos dos quais já canonizados pela memória popular: Padre José
Vicente Gonçalves de Macedo, Padre Guilherme Van de Sandt, Padre Delery,
Padre João Anesi, Padre José Alves de Araújo, Padre Freitas, Padre Hélio
Grossi, Padre Egídio, Padre Sebastião Mendes, Padre José Carlos de Melo,
Padre Célio Dell’Amore, Padre João Saraiva, Padre Hypólito, Padre Luiz Rodrigues, Padre Nilson, Padre Sebastião Carvalho, Padre Getúlio, Padre Evilásio, Padre Mól, Padre Donizete e tantos outros coadjutores que estão gravados na memória do povo em letras de ouro.
241
É inesquecível também a participação dos leigos no trabalho comunitário, seja em suas associações ou movimentos, seja em suas práticas religiosas particulares, que imprimiram nesta Paróquia as marcas de sua presença.
É importante registrar também que o trabalho dos padres não teria sentido, se
não fosse a resposta sempre pronta do leigo ao estímulo e esforço empreendido. Estas duas forças, bem unidas e coesas, propiciam resultados muito
promissores. Daí se afirmar que Campina Verde é uma cidade que nasceu
sob o signo da fé, já que os padres lazaristas foram instrumentos de Deus a
semear o santo evangelho nesta seara.
Como ingrediente importante para o bom êxito do trabalho empreendido
pelos Padres Vicentinos, salta-nos aos olhos a eficiência e a dedicação das
Irmãs, Filhas da Caridade, que, a exemplo de Santa Luísa, doam sua vida ao
serviço dos mais pobres. Estas Irmãs chegaram pela primeira vez a Campina
Verde no dia 5 de janeiro de 1940, e os frutos de seu trabalho puderam logo
ser percebidos. Estiveram presentes na educação das alunas do Educandário
Sagrada Família e, ainda nos dias de hoje prestam importante trabalho à frente do Hospital São Vicente de Paulo, do Asilo Padre João Anesi e da Creche
Divino Pai Eterno. São abelhinhas laboriosas que tudo fazem para aliviar o
sofrimento dos mais necessitados. Além de ajudar nas obras sociais mencionadas, ainda se dedicam à catequese paroquial, à liturgia, assim como à assistência religiosa na comunidade.
A Paróquia Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, pedacinho da grande
Igreja fundada por Jesus Cristo, quer continuar sempre fiel às orientações de
nossa Diocese que, por sua vez, atende ao que preconiza a Santa Sé, formando o corpo, cuja cabeça, Jesus Cristo, nos indica o longo caminho que
devemos percorrer, até que um dia, irmanados pela mesma fé naquele que
nos fortalece, possamos mostrar-nos vitoriosos, não nos esquecendo jamais
de nossa vocação vicentina: “ver o Cristo no Pobre”.
Que, ao colocar-nos em contato com a história de nossa Paróquia, possamos enriquecer-nos com os detalhes que a compõem, abastecendo-nos de
otimismo e coragem para empreendermos a futura jornada. Os desafios se
apresentarão difíceis e gigantescos, mas não podemos e nem devemos desanimar. Povo de Deus a caminho necessita de muita força e coragem!
Àqueles que nos antecederam, nosso agradecimento por nos valermos
de suas experiências! Para as futuras gerações, a certeza de que é possível
construir um mundo mais justo e fraterno. Sabemos que há ainda um longo
242
caminho a percorrer, para chegarmos um dia à Terra Prometida, vivendo e
perseverando SOB O SIGNO DA FÉ.
Dalva Vieira dos Santos
Luzes de Aparecida
Chamados à santidade no seguimento de Jesus Cristo
Vinícius Augusto R. Teixeira, C.M.
O Documento de Aparecida dedica
seu capítulo IV à “vocação dos discípulos
missionários à santidade”. Pelo Batismo, o
Pai nos chama a ser discípulos missionários de Jesus Cristo. No seguimento de
Jesus, encontra-se o nosso caminho de
santidade, por meio do qual entramos na
comunhão trinitária, a partir da inserção na comunidade eclesial (cf. DA 153).
O que nos define é “o amor recebido do Pai graças a Jesus Cristo pela unção
do Espírito Santo” (DA 14). Por meio desse amor, que encharca a criação inteira, “Deus Pai sai de si para chamar a participar de sua vida e de sua glória”
(DA 129). A história de Israel se desenvolve em torno da experiência fundante
da proximidade misericordiosa do Senhor para com o seu povo escolhido, fazendo-o “partícipe de sua verdade, sua vida e sua santidade” (DA 129), sobretudo em momentos de opressão e abandono (cf. Ex 3, 7-8). Na intuição de
Aparecida, a vocação à santidade se concretiza no seguimento de Jesus em
sua dupla estrutura de discipulado e missão. Neste caminho, somos conduzidos pelo Espírito Santo a uma conformidade sempre maior com Cristo em
sua reverente comunhão com o Pai e em sua caridade compassiva e operosa
para com os irmãos, particularmente os mais pobres.
1. Seguimento: discipulado e missão
Jesus Cristo é a plena e definitiva revelação do amor fontal da Trindade, amor que se derrama no coração humano e preside a marcha da história. “Deus,
que é Santo e nos ama, nos chama por meio de Jesus a sermos santos (cf. Ef 1,
4-5)” (DA 130). A vida de Jesus de Nazaré aponta para a realização do projeto do
Pai no mundo, para a realização de sua vontade. A esse projeto chamamos Reino
243
de Deus, opção fundamental de Jesus e núcleo estruturante de sua missão. Nosso caminho de santidade supõe, portanto, o compromisso decidido com a causa
do Reino, causa pela qual viveu, morreu e ressuscitou Jesus. Na vida cristã, o encontro com Cristo constitui o ponto de partida de toda verdadeira experiência de
Deus e de nossa atuação na história.
“O discípulo experimenta que a vinculação íntima com Jesus no
grupo dos seus é participação da Vida saída das entranhas do Pai,
é formar-se para assumir seu estilo de vida e suas motivações (cf.
Lc 6,40b), correr sua mesma sorte e assumir sua missão de fazer
novas todas as coisas” (DA 131).
Do encontro com Cristo, aprofundado na convivência, nasce o desejo de
segui-lo. O seguimento de Jesus, polo dinamizador da vida cristã, desdobrase em duas grandes dimensões: o discipulado e a missão. Como nos garante
o evangelho de Marcos, Jesus escolheu seus discípulos “para que estivessem com ele e para enviá-los a pregar” (Mc 3,14). Estar com Jesus é condição indispensável para conhecê-lo intimamente, identificar-se com ele, percorrer o seu caminho, assumir a sua causa e anunciá-lo como Boa Notícia
aos demais. Na tradição judaica, da qual Jesus é legítimo herdeiro, a relação
entre mestre e discípulo ultrapassa os limites da transmissão do conhecimento e se consolida na comunhão entre ambos. O discípulo não apenas se senta aos pés do mestre para deixá-lo falar, mas faz uma adesão consciente e
livre ao conteúdo da sua mensagem e ao seu estilo de vida, acompanhando-o
aonde quer que vá. Mas isso não significa que o discípulo tenha que reproduzir mimeticamente gestos e palavras do seu mestre, dentro de coordenadas
históricas distintas. O desafio que se impõe ao discípulo consiste, sobretudo,
em perscrutar as intuições mais profundas daquele que lhe comunicou sua
própria experiência, para atualizá-las em seu cotidiano, ao enfrentar situações
e conflitos semelhantes ou imprevistos, sempre à luz daqueles valores básicos que lhe foram transmitidos na convivência com o mestre: “Aquele que crê
em mim fará as obras que eu faço e fará ainda maiores” (Jo 14, 12).
A experiência dos primeiros seguidores de Jesus atesta que é do discípulo que nasce o missionário, como afirmou o papa Bento XVI, no discurso
inaugural da Conferência de Aparecida: “Discipulado e missão são como as
duas faces da mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo,
não pode deixar de anunciar ao mundo que só ele nos salva (cf. At 4, 12)”
(DA 146). Os apóstolos não tardaram em assimilar as exigências do mandato
missionário (cf. Mc 16, 15). Por isso, embora enfrentando perseguições, “não
cessavam de ensinar e de anunciar a Boa Nova do Cristo Jesus” (At 5, 42),
indo “de lugar em lugar” (At 8, 4). Em seu itinerário apostólico, Paulo vincula o
chamado à santidade (cf. 1Cor 1, 2) ao imperativo da evangelização: “Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; é, antes, uma necessidade
244
que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9, 16).
À vocação à santidade corresponde, portanto, a missão de evangelizar, tarefa
fundamental da Igreja, destinada a abrir-se a toda a humanidade e a não se
encerrar em suas próprias estruturas e esquemas previamente concebidos. O
autêntico discípulo tem consciência de que os valores assimilados na convivência com o Mestre, aprofundados na escuta da Palavra, celebrados na liturgia e assumidos como norma do agir, são os que melhor correspondem ao
sentido da vida. Por isso, não pode deixar de transmitir aos irmãos e irmãs,
através do testemunho, do serviço, do diálogo e do anúncio, a fascinante
descoberta do encontro com Cristo.
“Quando cresce no cristão a consciência de pertencer a Cristo, em
razão da gratuidade e alegria que produz, cresce também o ímpeto
de comunicar a todos o dom desse encontro. A missão não se limita
a um programa ou projeto, mas em compartilhar a experiência do acontecimento do encontro com Cristo, testemunhá-lo e anunciá-lo de
pessoa a pessoa, de comunidade a comunidade e da Igreja a todos
os confins do mundo (cf. At 1, 8)” (DA 145).
Para que possa evangelizar, o discípulo é chamado a assumir como
próprio o modo de ser e de atuar de Jesus, compartilhando de sua opção pelo
Reino, opção que se desdobra no amor e na obediência incondicional ao Pai
e na doação total de si aos irmãos, especialmente aos mais pobres, enfraquecidos e abandonados. Enquanto vivência radical do amor a Deus e ao
próximo, a santidade constitui a forma mais autêntica de evangelização, sobretudo nestes tempos em que se constata a crescente ruptura entre os discursos, as reais convicções e as vivências concretas. Dessa forma, o discípulo missionário encarna em sua própria existência a verdade que ele anuncia,
realizando suas atividades ordinárias de maneira extraordinária e vivendo a
santidade na simplicidade transparente do seu cotidiano, a fim de “gritar o
Evangelho com a vida”, conforme a contundente afirmação de Charles de
Foucauld (1858-1916).
“No seguimento de Jesus Cristo, aprendemos e praticamos as bemaventuranças do Reino, o estilo de vida do próprio Jesus: seu amor
e obediência filial ao Pai, sua compaixão entranhável frente à dor
humana, sua proximidade aos pobres e aos pequenos, sua fidelidade à missão encomendada, seu amor serviçal até a doação de
sua vida” (DA 139).
A centralidade do Mestre na vida do discípulo faz com que Cristo se torne o critério orientador de todas as suas decisões e escolhas, dirigindo sua
vida na perspectiva do Reino. Conhecemos a exortação com que São Bento
(480-547) condensa toda a riqueza da centralidade de Cristo na vida daqueles que o seguem: “Nada absolutamente anteponham a Cristo” (Regra. LXXII,
245
11). Vale recordar também o conselho dado por São Vicente de Paulo a um
jovem padre da sua Congregação, que acabara de ser nomeado superior de
uma comunidade local: “Quando se trata de fazer alguma boa obra, dizei ao
Filho de Deus: Senhor, se estivesses em meu lugar, como agirias nesta ocasião?” (SV XI, 348). Trata-se de assumir o desafio de seguir Jesus, vivendo
como ele na liberdade do Espírito, em conformidade com o projeto do Pai e
em estado de vigilância ativa frente aos sinais dos tempos. “Hoje, contemplamos a Jesus Cristo tal como os Evangelhos nos transmitiram para conhecer o que Ele fez e para discernir o que nós devemos fazer nas atuais circunstâncias” (DA 139).
2. Conduzidos pelo Espírito
Toda a vida de Jesus de Nazaré foi animada pela ação do Espírito Santo
(cf. At 10, 38). Eis como se define o inequívoco conteúdo programático de
sua missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou
pela unção para evangelizar os Pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade
aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 18-19).
No início de sua vida pública, depois do batismo, o Espírito conduziu Jesus
ao deserto (Mc 1, 12-13), a fim de prepará-lo para os desafios da missão, orientando-o no amadurecimento de sua opção fundamental pelo Reino, no discernimento da vontade do Pai e no propósito de colocar-se a serviço de todos. Movido pelo Espírito, Jesus venceu as tentações de seguir outros caminhos, mantendo-se firme na fidelidade ao Reino de Deus até a Cruz. Seus
discípulos foram formados no Espírito Santo (cf. At 1, 2) para que pudessem
acolher, assimilar e testemunhar a iniciativa amorosa do Pai manifestada no
Filho (cf. Jo 14, 26). Desde Pentecostes, os seguidores de Jesus experimentam permanentemente a ação revitalizadora do Espírito, suscitando diversos
dons e carismas (cf. 1Cor 12, 1-11) e articulando-os em favor da missão (cf.
DA 149). O Espírito na Igreja é o protagonista da evangelização: suscita e
forma discípulos, tornando-os continuadores da missão que Jesus recebeu de
seu Pai (cf. Jo 20, 21). A ação do Espírito na comunidade dos discípulos missionários consiste em manter viva a memória do Mestre, recordando-nos tudo
o que ele fez e ensinou e possibilitando a conformidade com o seu estilo de
vida; em despertar nossa criatividade para que possamos descobrir caminhos
novos na ação evangelizadora; em consolar-nos diante dos desafios e mobilizar nossas energias em vista da construção de um mundo melhor. Formandonos como discípulos e animando-nos na missão, o Espírito nos conduz à santidade.
“O Espírito Santo, com o qual o Pai nos presenteia, identifica-nos
com Jesus-Caminho, abrindo-nos a seu mistério de salvação para
que sejamos filhos seus e irmãos uns dos outros; identifica-nos com
Jesus-Verdade, ensinando-nos a renunciar a nossas mentiras e
246
ambições pessoais; e nos identifica com Jesus-Vida, permitindonos abraçar seu plano de amor e nos entregar para que outros „tenham vida nele‟” (DA 137).
3. Por uma espiritualidade do seguimento
Aparecida nos ajuda a redescobrir uma nova maneira de viver a espiritualidade cristã como modo próprio de enraizar-se em Deus e relacionar-se
com o mundo, uma espiritualidade trinitária, encarnada na realidade, geradora de convicções firmes e motivações profundas, capaz de sustentar, estimular e exprimir a busca permanente da santidade em meio às contradições do
nosso continente, empreendendo um contínuo processo de conversão pessoal, comunitária, pastoral e institucional.
A fé cristã se funda na experiência do encontro com Cristo, identificado
como a plena manifestação do amor de Deus, cujas feições são mais maternas do que paternas e cuja misericórdia, cheia de ternura, é capaz de perdoar, restituir a esperança e fazer recomeçar. A vida de Jesus testemunha que
“Deus é amor” (1Jo 4, 8). Nele, está a origem, o essencial, para o qual temos
de voltar sempre, sobretudo em épocas de instabilidade e de mudança. O núcleo estruturante de sua missão consiste em viver para o Pai, numa relação
de total confiança e abandono, e, para os irmãos, no serviço e na oferta, fazendo do Reino sua opção fundamental, até o dom de si mesmo, “para que
todos tenham vida plenamente” (Jo 10, 10). Seu modo de ser e de atuar, sua
fascinante liberdade diante das leis, instituições, ideologias e estruturas do
seu tempo, seus sentimentos mais profundos, sua compaixão para com os
enfraquecidos e desprezados definem os traços da conduta de todos os que
querem segui-lo, acolhendo o chamado à santidade. Nossa conformidade
com Cristo, portanto, está associada à vivência de uma liberdade orientada
pelos valores do Reino e em ordem à sua realização histórica, a partir do cotidiano. Da sintonia com o espírito de Cristo (cf. Rm 13, 14), pressuposto da
santidade cristã, resulta o empenho em assumir o Evangelho como norma
suprema do agir e centro dinamizador dos nossos projetos pessoais e comunitários, abraçando o mundo inteiro num gesto profético de compromisso com
a transformação de suas estruturas, conforme a inequívoca intuição do Documento de Aparecida:
“Ao participar desta missão, o discípulo caminha para a santidade.
Vivê-la na missão o conduz ao coração do mundo. Por isso, a santidade não é fuga para o intimismo ou para o individualismo religioso, tampouco abandono da realidade urgente dos grandes problemas econômicos, sociais e políticos da América Latina e do mundo,
e, muito menos, fuga da realidade para um mundo exclusivamente
espiritual" (DA 148).
247
Desafios da Formação
ANTROPOLOGIA DA FORMAÇÃO
PRESBITERAL INICIAL
José Lisboa Moreira de Oliveira
*
Nos últimos anos, a Igreja Católica
Romana se viu envolvida por uma série
de escândalos, tendo padres como protagonistas. Esse fato afetou sensivelmente a missão evangelizadora e colocou a
Igreja em total descrédito. Conheço alguns padres que trabalham nos Estados Unidos da América e tive oportunidade de ouvir deles relatos dramáticos
de situações constrangedoras. Mesmo os padres honestos e equilibrados se
viram de repente censurados e odiados pelo povo, a ponto de não poderem
sair às ruas, pois corriam o risco de serem apedrejados.
Todos esses casos revelam a urgente necessidade de se dar mais atenção à dimensão antropológica da formação presbiteral, particularmente no período inicial da caminhada. Infelizmente, a experiência tem mostrado que,
embora presente nos documentos oficiais, essa dimensão se encontra bastante esquecida, deixada de lado. Às vezes até se chega a fazer alguma coisa, mas de maneira muito superficial, não permitindo que os candidatos ao
*
Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília, graduado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, Mestre em Teologia pela Pontifícia
Faculdade Teológica da Itália Meridional (Nápoles – Itália), Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma. Autor de 13 livros e dezenas de artigos sobre o
tema da vocação e da animação vocacional. Foi assessor do Setor Vocações e Ministérios da CNBB (1999-2003) e Presidente do Instituto de Pastoral Vocacional (20022006). Atualmente, é gestor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília, onde também é professor de
Antropologia da Religião e Ética.
248
ministério presbiteral se encontrem com eles mesmos e enfrentem a si mesmos, trabalhando situações existenciais não totalmente resolvidas e que podem depois atrapalhar seriamente o exercício dessa vocação específica.
Neste breve artigo, proponho dez passos que podem ajudar a retomar
essa dimensão com mais seriedade, permitindo aos formadores e aos próprios vocacionados trabalhar em profundidade essa questão. São apenas rápidas pinceladas que exigem um aprofundamento maior e um trabalho mais
intenso de acompanhamento personalizado dos candidatos. Inclusive, em alguns casos, faz-se necessário um acompanhamento com especialistas (psicólogo ou psiquiatra) para detectar problemas mais sérios e até situações existenciais que impedem a ordenação do jovem. Hoje, considerando o que
está por aí, o trabalho vocacional consiste mais em convencer a pessoa a desistir da idéia de ser padre do que o contrário. Parece paradoxo, mas é isso
mesmo!
1. Elementos teóricos de fundamentação da formação inicial
Os primeiros três passos poderiam ser chamados de fundamentos teóricos da formação inicial. Trata-se de verificar quais concepções estão na cabeça dos formadores e dos formandos. O primeiro deles se refere à visão de
ser humano. É de suma importância que os educadores vocacionais tenham
clareza acerca disso, pois no mundo atual, fragmentado e confuso, podem
aparecer visões e concepções totalmente distorcidas da pessoa. Muitas vezes, apesar de discursos bonitos, nossas idéias são o resultado de concepções reducionistas que limitam a visão de pessoa a um único aspecto. Por isso, é muito importante que os educadores vocacionais verifiquem como está
isso neles mesmos e nos jovens vocacionados que chegam aos seminários.
249
A partir disso, faz-se indispensável resgatar a visão bíblica de ser humano, na qual há uma integração plena entre corpo (soma), alma (psiquê), espírito (pneuma) e fragilidade (sárx). Segundo a Bíblia, o ser humano não é só
corpo, ou só alma, e assim por diante. Ele é totalmente corpo, totalmente alma, totalmente espírito e totalmente marcado pela fragilidade. Essa concepção bíblica possibilita uma pedagogia formativa que valorize todas as dimensões da vida humana, evitando a fragmentação ou o descuido por uma delas.
Por isso, o segundo passo é superar o dualismo filosófico e teológico
que há séculos macula a vida da Igreja e, particularmente, a formação presbiteral. Por causa da ausência dessa visão bíblica de ser humano, temos criado
verdadeiras dicotomias entre humano e divino, corpo e alma, etc. Tal concepção vem desde a entrada do maniqueísmo no cristianismo dos primeiros séculos. Francisco García Bazán, no seu livro Aspectos incomuns do sagrado
(Paulus, 2002), lembra que o maniqueísmo é “uma gnose intelectual helenística baseada na concepção de que o conhecimento é a causa determinante
da salvação” (p. 179). Prega a existência de dois princípios ou naturezas, o
bom e o mau, que são eternos, anteriores à criação do mundo, e estão em
nítida oposição e separação entre si.
A tradução disso para a prática levou os maniqueístas a valorizar excessivamente a gnose, a alma, e a desprezar tudo aquilo que está revestido de
humanidade. De fato, para a visão maniqueísta, a corporalidade, a dimensão
humana da pessoa, é expressão ou resultado da queda do homem primordial.
Logo, é preciso separar as coisas, pois o resgate só virá por meio da separação que permitirá o triunfo do Bem. E se olharmos para o cristianismo atual, e
para o processo formativo, vamos perceber como estão infestados de maniqueísmo. A desconfiança para com os aspectos humanos da pessoa (corporalidade, sexualidade, liberdade, autonomia, etc.) são visíveis. E tal desconfiança leva a não trabalhar isso na formação, empurrando muitas questões pa250
ra “debaixo do tapete”. Mais tarde, pressionados por situações da vida concreta o “lixo” sai de debaixo do tapete e suja por completo a “pureza virginal”
da Mãe Igreja! Como aconteceu de forma impressionante nos Estados Unidos
e na Irlanda, embora no Brasil não faltem exemplos disso.
Por essa razão, é indispensável um terceiro passo: ter consciência de
que a pessoa é história encarnada. Também os vocacionados que chegam
ao seminário trazem consigo uma história, com suas marcas bem definidas.
Hoje, na quase totalidade dos casos, os jovens chegam quebrados, fragilizados, destruídos. Não porque eles sejam ruins, mas porque são vítimas de tantos problemas e situações que os afetam. Por isso, torna-se quase impossível
encontrar um jovem sem problemas mais sérios e complicados. No dizer de
Zygmunt Bauman (Comunidade. A busca por segurança no mundo atual. Rio
de Janeiro: Zahar, 2003), quase todos eles são “fugitivos” de si mesmos, dos
outros, da realidade, contentando-se com uma maneira bastante “rebaixada”
de viver. Assim sendo, a dimensão antropológica da formação precisa cuidar
bem disso.
2. Elementos de pedagogia vocacional
Em virtude do que foi dito antes, além dos fundamentos teóricos, são
necessários processos pedagógicos que, de fato, facilitem e possibilitem um
trabalho sério de acompanhamento vocacional. Tais processos pedagógicos
devem, sobretudo, permitir que os jovens vocacionados se deem conta do
que se passa dentro deles e queiram assumir a própria história com coragem
e determinação. Isso é muito importante, pois no momento atual existe, tanto
da parte dos educadores vocacionais como dos próprios jovens, o medo de
olhar para a própria realidade. Infelizmente, como diz Bauman, o que encontramos hoje são “comunidades de fugitivos”, de pessoas distanciadas de si
251
mesmas. Neste sentido, proponho mais quatro passos, os quais comporiam a
pedagogia da formação inicial.
Em primeiro lugar, o cuidado com o tempo justo. A maturidade do ser
humano tem o seu ritmo e nós não podemos forçá-lo, antecipando ou prolongando etapas. No atual esquema canônico, as etapas de formação costumam
ter prazos nos quais todos os formandos são incluídos, sem nenhum respeito
pela história e pelo ritmo de cada um. Todos começam e terminam as etapas
no mesmo dia e horário! Assim, o processo formativo se torna um verdadeiro
“balaio de gatos”, no qual é possível encontrar pessoas diferentes, com histórias diferentes, situações diferentes, e para as quais são aplicados os mesmos métodos, conteúdos e dinâmicas. Isso quer dizer que a formação, no atual contexto, precisa ser personalizada. O acompanhamento não pode ser
genérico, igual para todos. Quando isso acontece, há o risco de precipitações
e de queimas de etapas. E “apressar” ou “congelar” o tempo ou o ritmo de
cada pessoa pode ser extremamente problemático.
Por essa razão, o acompanhamento vocacional deverá ser revestido de
um outro elemento que é o discernimento e o cuidado com cada vocacionado.
Toda formação terá que ser essencialmente discernimento. Ela precisa ser
educação (do verbo latino educere), entendendo isso como processo que faz
a pessoa tirar de dentro dela mesma aquilo que ela já é ou possui. Todo o
processo formativo deve levar ao discernimento (do latim discernere = separar, cortar ao meio), ou seja, àquela capacidade de ir separando e analisando
criteriosamente, dentro de si, os diversos elementos existenciais para conhecê-los melhor e verificar se é possível com tais condições existenciais assumir uma determinada vocação específica. Por esta razão, todo discernimento
é doloroso e sofrido, mas precisa ser feito, pois, do contrário, não ajudará a
formar pessoas sadias. Forjará apenas pessoas hipócritas e ambíguas. Tudo
isso, porém, com muito cuidado, pois o ser humano é delicado e certas dinâ252
micas e pedagogias podem aumentar ainda mais os problemas e transformar
as pessoas em verdadeiros monstros.
Nesse sentido, um terceiro elemento pedagógico se faz necessário. O
cuidado com a dimensão ética da formação. Trata-se de ver, em primeiro lugar, o que é melhor para aquela pessoa que está diante do educador vocacional. Sabemos, por experiência, que, infelizmente, na questão da formação
presbiteral se costumam colocar em primeiro lugar os interesses da instituição. A falta de padre e o desespero diante da quantidade de “trabalho pastoral” a ser feito levam bispos, superiores e formadores a apressar as etapas, a
formar de qualquer jeito, pouco importando a situação concreta dos sujeitos.
Há uma verdadeira falta de ética na maioria dos seminários. Pensa-se
no número, na quantidade, nas demandas existentes e não nas pessoas concretas. Dificilmente, na formação, faz-se a pergunta: “onde está o teu irmão?”
(Gn 4,9). Dito de outra forma: em que situação se encontra o irmão formando? Será que posso exigir dele tamanha responsabilidade? Será que o processo formativo o está preparando de verdade para exercer um ministério tão
exigente? Toda formação séria deve ser “guarda” do irmão formando e cada
formador deve sempre se perguntar: o que fiz? De fato, nos diz ainda Zygmunt Bauman, no seu livro Ética pós-moderna (Paulus, 1997), eu sou “guarda
de meu irmão” independentemente do que ele faz, vê ou pensa. Do ponto de
vista ético, a minha responsabilidade é sempre maior que a dos outros.
A partir disso, surge um quarto elemento pedagógico para a formação:
avaliar constantemente os efeitos do processo formativo. Infelizmente boa
parte dos bispos, superiores e formadores nunca para para fazer avaliação.
Têm medo da avaliação. Tremem diante da possibilidade de uma verificação
corajosa que aponte falhas no processo. Por essa razão ficam repetindo o
que todo mundo já está cansado de perceber que não deu certo. Com isso,
253
provocam verdadeiros desastres, pois fomentam um tipo de formação que
prepara monstros e não seres humanos simples e responsáveis. Aliás, de um
modo geral é típico da formação presbiteral criar pessoas irresponsáveis, incapazes de assumir sua própria responsabilidade diante dos outros. Infelizmente, os seminaristas saem dos seminários como padres que aprenderam a
mentir, a fingir, a enganar, a colocar a culpa nos outros. Não aprenderam a
assumir os próprios atos. Por isso, hoje, quase todos os padres ficam se agarrando a normas firmes, a autoridades, à obediência cega, à infalibilidade.
Porque, no fundo, como diz muito bem Bauman, na sua Ética pós-moderna,
são homens-camaleão, que se escondem debaixo dos disfarces da lei para
sufocar a própria insegurança e a própria incapacidade de assumir por si
mesmos a própria responsabilidade. E nisso, ainda de acordo com Bauman,
está a crise pós-moderna, pois a atitude de agarrar-se à segurança da lei
transforma-se em insegurança dos sujeitos, pois nunca haverá para eles uma
autoridade suficiente para lhes garantir que estão agindo certo. Por isso, facilmente acabam por transgredir todas as leis, agindo como se elas não existissem. Assim os que parecem “conformistas”, por baixo dos panos e na calada da noite, fazem bem o que querem.
3. Dimensão “política” da formação inicial
Podemos, então, concluir que há uma dimensão “política” da formação,
entendendo esse termo no sentido de politichè, ou seja, de cuidado com o
bem público, com o que é de todos. Porque o ministério presbiteral não é algo
destinado para a vantagem dos próprios sujeitos, mas para o bem da comunidade (At 20, 22-35; 1Pd 5, 1-4), torna-se necessário que todo padre chegue
à ordenação revestido dessa consciência. É claro que o exercício do ministério, quando resultado de um chamado divino, traz realização para os ministros. Mas isso é apenas conseqüência e não fim. Desse modo, mais dois elementos são importantes para o processo formativo.
254
Antes de tudo, verificar que tipo de formação está sendo realizado. De
fato, dependendo dos métodos e pedagogias usadas, a formação poderá ser
apenas refúgio para fugitivos, para “órfãos”. Quando a formação forma apenas fugitivos, no sentido mencionado anteriormente, ela se torna um desastre, uma tragédia para as comunidades que receberão os futuros padres. Isso
porque, como observa Bauman no seu já citado livro Comunidade, fugitivos
costumam se juntar a outros fugitivos e criar padrões rígidos e exigentes com
a finalidade explícita de não permitir que “intrusos” se metam na vida deles.
A conseqüência disso é o distanciamento cada vez maior do povo e a
ausência de compromissos sérios com a comunidade, uma vez que a fuga
não permite nenhuma forma de comprometimento com um povo que é visto
como ameaça para a liberdade privatizada. Por isso, hoje está se tornando
cada vez mais comum entre os padres, especialmente entre os midiáticos, a
agorafobia, ou seja, o medo de lugares públicos, de multidões. Essas ameaçam sua fragilidade e sua superficialidade. Contatos mais intensos podem
desmascarar o sujeito. Por isso, ele prefere ficar em um palco muito alto e
distante, onde não é possível enxergar as suas “rugas”.
De conseqüência, um penúltimo passo se faz urgente: tomar consciência
da relação entre a formação e a dimensão salvadora e libertadora da evangelização. Nos seminários, são formados os futuros guias do povo. Não temos o
direito de brincar com algo tão sério e tão significativo para o amanhã da própria Igreja. É claro que Deus não vai ficar dependendo da figura de um padre
para salvar a humanidade. Mas mesmo assim os presbíteros não deixam de
ter uma importância decisiva para as comunidades católicas. E, nesse sentido, a salvação, pelo menos para os católicos, vai depender também deles,
mesmo porque a própria hierarquia prega isso.
Conclusão: valorizar a dimensão antropológica da formação
255
Logo, como último passo desse itinerário, podemos afirmar que a antropologia vocacional não é algo irrelevante, mas essencial para a formação dos
padres. Ela não pode ser, de forma alguma, descuidada, pois se assim acontecesse estaríamos colocando em sério risco o futuro de tantos presbíteros e
de tantas comunidades. Não basta pensar na espiritualidade, na formação teológica, na pastoral e na vida comunitária. Se a formação não cuidar da dimensão antropológica, todas essas outras dimensões desaparecerão como
fumaça. E os escândalos envolvendo padres estão mostrando que os seminários não estão cuidando dessa dimensão como deveriam.
Querer ordenar alguém que não trabalhou suficientemente o seu humano é o mesmo que entregar uma taça de cristal para que uma criancinha
brinque com ela. Logo a criança vai deixar a taça cair ou vai arremessá-la por
terra. E o desastre será total. Enquanto sacramento do Cristo Pastor, o padre
deverá ser alguém que vai viver em favor das pessoas, capaz de ser compreensivo, especialmente com os que erram e fraquejam (cf. Hb 5, 1-4). Mas para que o futuro padre seja alguém realmente comprometido com as causas da
humanidade, ele vai precisar ter plena consciência de que também ele “é acometido de todos os lados pela fraqueza” (Hb 5,2).
E essa consciência só se adquire quando trabalhamos de modo suficiente a dimensão humana, antropológica, da nossa vocação. Quando chega ao
ministério pela via da arrogância (Hb 5, 4-5), e não pela vida da encarnação,
da kénosis, (Hb 5, 7-10; Fl 2, 4-11), dificilmente um padre poderá ser sinal
sacramental de Cristo, “causa de salvação eterna” (Hb 5, 9). Será, pelo contrário, sacramento do Diabo, pois terá idéias e projetos não de discípulo de
Jesus, mas intentos e atitudes próprios de Satanás (Mc 8, 32-33). E como
costumava repetir um místico do século passado, Justino Russolillo, fundador
das Congregações Vocacionistas, Deus nos livre desse tipo de padre!
256
Vida Fraterna
Vida Fraterna em Comunidade
Final
Pe. Alex Sandro Reis, C.M.
Ilustração – Passado
Presente
– Quantas vezes, entre encontros e
reuniões, somos parados para escutar do clero sobre a importância dos
Padres da Missão na sua formação.
Mais ainda, não são poucos os que
trazem à tona comoventes partilhas
sobre momentos da vida formativa. Quantos Padres são lembrados e reverenciados. Causa-nos um sentimento de alegria por fazermos parte de uma
Companhia que mostrou sua identidade ao longo de décadas. Ficou associada à imagem dos Padres da Missão como grandes formadores do Clero. E
não para surpresa, mas para constatação, bons e santos padres e bispos foram formados pela Congregação. Não só viveram a fidelidade do carisma,
como ajudaram a responder aos anseios da época.
Ao olhar para o passado, “derretemos” tanto de alegria, quando, “lá fora”,
reconhecem o intenso apostolado realizado; como de gratidão por nossos
Coirmãos que, em determinadas fases do passado, com suas exigências
próprias, fizeram com que a Pequena Companhia desse sua contribuição na
busca de um mundo mais justo e fraterno.
Ao olhar para o presente, somos chamados a analisar a Companhia sob
duas vertentes:
A – Interna
257
 Constatação – Os reflexos das grandes mudanças entram em nossa
Casa, promovendo, de um lado agilidade no apostolado, de outro enfraquecimento da vivência comunitária.
 Interpelação – É hora de organizar a casa. Ou as forças, dons e talentos se unem para que o bem comum (vivência fraterna em prol do serviço aos pobres) se fortaleça e irradie o seu carisma ou corremos o risco
de nos apaixonarmos pelo passado, enfraquecendo–nos no agora e talvez fazendo-nos “desaparecer” no futuro.
B – Externa
“Vinde e vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos bem
unidos” (Sl 133,1).
 Constatação – Não é novidade que a humanidade, ao longo de sua
caminhada, com um acento mais forte de uns tempos para cá, vem fazendo inúmeras tentativas (egoístas e frustradas) de encontrar-se com a
Felicidade. De modo mais atento, percebe-se que muitos modelos criados para tal fim viraram cinzas, perderam sua eficácia, resultando no
homem uma angústia ainda maior.
 Provocação – Uma pergunta que deveria percorrer todas as comunidades de vida fraterna: Será que os “lá de fora” conseguem nos identificar
(tanto no apostolado como na vivência), como “bebedores” e continuadores daquela fonte que trouxe não só alívio para aqueles a quem deveríamos ir, mas renovação e entusiasmo na própria Igreja? Será que os “lá
de fora” conseguem diferenciar o nosso modo de ser e de viver dos seculares, como foi um dia no passado?
 Conservadorismo – Quanto mais a vida em comunidade conservar aqueles elementos (oração, refeição, reuniões, descanso e apostolado)
em comum, como sentido existencial de vida pessoal e comunitária,
mais estará fortalecida internamente diante dos solavancos das mudanças que ocorrem aqui e ali e mais estará contribuindo para que os “lá de
258
fora” sejam interpelados porque o sentido mais profundo da existência
passa pela solidariedade e fraternidade.
Memória
Dom Hélder Câmara, profeta da justiça
Tiago de França da Silva
Estudante de Filosofia da PBCM
No dia 7 de fevereiro do corrente ano, a Igreja celebrou os cem anos de nascimento de Dom Hélder Pessoa
Câmara. Filho do nordeste brasileiro, nasceu em Fortaleza
– CE e, desde pequeno, manifestou o desejo de ser padre.
Diante deste desejo, assim se manifestou o tenentecoronel João Eduardo Torres Câmara, pai de Dom Hélder:
“Você sabia que para uma pessoa ser padre ela não pode ser egoísta, não
pode pensar só em si mesma? Ser padre e ser egoísta é impossível, eu sei,
são duas coisas que não combinam”. E a resposta do menino Hélder foi imediata: “Pai, é um padre como o senhor está dizendo que eu quero ser”. Apesar das poucas condições, o menino Hélder, aos 14 anos de idade, em 1923,
ingressou no Seminário da Prainha, em Fortaleza (CE), seminário que estava
sob a direção dos Padres Lazaristas. Depois de uma formação rígida e fiel às
leis e à doutrina da Igreja, o seminarista Hélder foi ordenado presbítero por
Dom Manuel da Silva Gomes, no dia 15 de agosto de 1931, aos 22 anos de
idade, após licença do Vaticano.
O jovem padre foi designado para acompanhar os Círculos Operários
Católicos e, posteriormente, a Legião Cearense do Trabalho. Também foi organizador da JOC - Juventude Operária Católica no Ceará. A partir de 1932,
com a fundação da AIB – Ação Integralista Brasileira, o Padre Hélder, com a
devida licença e indicação de seu Bispo, passa a participar e a organizar a
AIB no Ceará. A partir de 1936, o Padre Hélder é acolhido pelo Cardeal Sebastião Leme e passa a morar no Rio de Janeiro, onde se envolveu diretamente com a questão educacional no Instituto de Pesquisas Educacionais.
Foi no Rio de Janeiro que o Padre Hélder conheceu mais profundamente o
Humanismo integral de Jacques Maritain e muitos intelectuais com quem aprendeu a ser aberto ao diálogo e conciliador nas ideias. Na manhã ensolara259
da do dia 22 de abril de 1952, o Padre Hélder foi sagrado Bispo da Igreja,
nomeado Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro. No dia 14 de outubro de
1952, às 9h30, no Palácio São Joaquim, ocorreu a Assembléia de fundação
da CNBB.
Em 1964, ano do golpe militar no Brasil, Dom Hélder foi nomeado Arcebispo de Olinda e Recife, em Pernambuco. Vinte e um anos depois, em 1985,
depois de um pastoreio marcado pela profecia e pela esperança, Dom Hélder
passa o báculo a Dom José Cardoso Sobrinho e se aposenta como Bispo residencial, tornando-se Emérito da Arquidiocese de Olinda e Recife. Durante o
exercício da missão na referida Arquidiocese, Dom Hélder se destacou pela
denúncia contra as injustiças sociais. Trabalhou incessantemente em favor da
promoção humana, preferencialmente em favor dos Pobres. Lutou incansavelmente pela defesa e promoção dos direitos humanos, denunciando a ditadura militar e o capitalismo neoliberal. Anunciou a Boa Nova do Reino de
Deus em Pernambuco, no Brasil e no mundo.
Depois de ter discorrido brevemente sobre a longa caminhada de Dom
Hélder, do Ceará para o mundo, quero dar ênfase a três aspectos da vida
deste grande Bispo da Igreja do Brasil: quero falar de sua humildade, de seu
espírito profético e de sua vivência da verdade e da justiça. Um breve olhar
teológico sobre estas características ajuda a entender a pessoa de Dom Hélder. Era um homem de muitos dons, que foram colocados a serviço da Igreja
Povo de Deus, mas estas características, para as quais dedico algumas palavras, fizeram-no o Bispo mais brilhante e polêmico que a Igreja no Brasil já
teve. Trata-se de uma figura que, mesmo depois da morte, continua a inquietar a consciência dos acomodados e encorajar aquelas pessoas que acreditam no modelo de Igreja anunciado por ele. De fato, o Espírito do Senhor fez
e faz maravilhas no meio do povo.
Depois da realização do Congresso Eucarístico Internacional do Rio de
Janeiro em 1955, Dom Hélder se tornou um homem humilde. Não que sua
humildade tenha nascido com o Congresso, mas logo após, numa conversa
que teve com o Cardeal Gerlier, de Lyon (França), este o desperta para as
necessidades dos Pobres. A primeira atitude de Dom Hélder foi promover a
Cruzada São Sebastião, que consistiu num trabalho efetivo em favor da dignidade da pessoa humana. A vivência da humildade em Dom Hélder passa
pela vivência da pobreza. Com os pobres, ele aprendeu a ser humilde. Por
isso, após o Concílio Vaticano II, do qual participou intensamente como articulador, Dom Hélder faz a opção preferencial pelos Pobres e, quando retorna
260
ao Recife, renuncia a morar no Palácio Episcopal e passar a viver pobremente na sacristia da Igreja das Fronteiras, no bairro Boa Vista. Além disso, também renuncia a todos os privilégios e insígnias episcopais.
Dom Hélder foi um dos maiores profetas do século XX. O testemunho da
Sagrada Escritura a respeito dos profetas mostra claramente que o profeta
incomoda a ordem estabelecida. A palavra do profeta causa incômodos, espanto e admiração. Incomoda, porque denuncia, mostra os equívocos; espanta, porque é sempre uma novidade, uma surpresa; causa admiração, porque,
apesar das ameaças, o profeta é temido por sua coragem e ousadia. A ação
profética é incalculável, pois é o Espírito de Deus que guia os gestos e as palavras do profeta. Este não fala de si nem por si, mas fala daquilo que é de
Deus e da parte de Deus. A profecia fala de vida e de liberdade. Logo, ela
denuncia como mal e como força contrária ao Reino de Deus tudo o que se
opõe à vida verdadeiramente humana e integral e à liberdade, que faz parte
do ser humano. A profecia de Dom Hélder incomodava os opressores que estavam dentro e fora da Igreja. E, como a perseguição e a incompreensão fazem parte da missão profética, Dom Hélder foi vítima daqueles que se sentiram ameaçados pela verdade que ele professava.
Dom Hélder não entendia a fé separada da vida. Quando resolveu assessorar e articular o Concílio Vaticano II e as conferências do CELAM, o fez
porque foi um Bispo preocupado com a situação da Igreja no Brasil. Durante
toda a sua vida, lutou para que a Igreja se aproximasse cada vez mais dos
Pobres. Apesar da conjuntura eclesiástica quase imutável, sempre defendeu
a edificação de uma Igreja pobre entre os Pobres. Depois que se despojou
das aparências e daquilo que ele mesmo chamou de “sede de poder”, é que
conseguiu se tornar o missionário que o Evangelho exige de cada cristão. Este precisa ser livre para anunciar e optar pelo Evangelho da liberdade. Dom
Hélder conseguiu transcender as estruturas de poder da Igreja e encontrou
Jesus cotidianamente nos Pobres, a quem serviu com justiça e verdade.
O mundo de hoje clama por autênticos cristãos. Ser cristão nas atuais
conjunturas social e eclesial é um desafio possível. Diante das graves injustiças cometidas contra a natureza e contra a dignidade da pessoa humana, a
justiça deve ser abraçada por todos, principalmente pelos cristãos, assim
chamados por seguir Jesus de Nazaré que anunciou: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6, 33). O testemunho de Dom Hélder não pode ser esquecido, pois ajuda-nos em nosso processo de conversão. Deus,
261
em sua infinita bondade, não deixará faltar à Igreja homens como Dom Hélder
Câmara, para renová-la no seguimento de Jesus.
Família Vicentina
Manhã de Oração e Abertura do Ano Jubilar nos Regionais
1. Regional Belo Horizonte
Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.
No dia 27 de setembro, solenidade litúrgica de São Vicente de Paulo, a
Família Vicentina (Regional de Belo Horizonte) esteve reunida para a celebração da sua Manhã de Oração Comum, tendo
como tema: “Seguindo Jesus, no caminho de São
Vicente e Santa Luísa: Caridade e Missão”. Éramos, aproximadamente, 1.000 pessoas, preenchendo os espaços da igreja de São José do Calafate. Todos os nove ramos estiveram significativamente representados. O ambiente se caracterizou pelo acolhimento fraterno, pela alegria contagiante, pela simplicidade e
profundidade requerida pela ocasião. Tudo começou com uma Oração de
Abertura, congregando todas as pessoas num só
coração e numa só alma, para cantar as maravilhas que o Senhor vem realizando em nós e, através de nós, na vida dos Pobres. Em seguida,
fomos brindados pela Paróquia do Pai Misericor262
dioso (Paulo VI) com uma bela e expressiva apresentação teatral, explicitando o sentido e o alcance do Ano Jubilar. O coroamento da Manhã de Oração
foi a celebração da Eucaristia, preparada e animada por todos os ramos, presidida por Dom Vicente Zico, C. M., e concelebrada por 13 Coirmãos.
Assim, inauguramos o Ano Jubilar da Família Vicentina, dando graças
ao Senhor pelo legado espiritual e missionário que nos foi deixado por nossos
inspiradores há 350 anos. A Equipe de Coordenação Regional quer externar
sua mais sincera gratidão a todas as pessoas que contribuíram para que esta
Manhã de Oração se realizasse. O Deus de São Vicente e de Santa Luísa,
que nos reuniu naquela Manhã, faça resplandecer sobre toda a Família Vicentina o brilho radioso de sua face para sermos reflexos do seu amor misericordioso junto aos irmãos mais pobres. Que Ele nos dê a sua graça e a sua
bênção, tornando fecundo o Ano Jubilar que agora iniciamos para o louvor da
sua glória.
2. Regional do Rio de Janeiro
Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C. M.
No dia 27 de setembro de 2009, a Família Vicentina (Regional do Rio de
Janeiro) reuniu-se para fazer memória ao dia de São Vicente de Paulo, celebrar o Dia de Oração da FV e fazer a abertura do Ano Jubilar, em comemoração aos 350 anos de morte e ressurreição de São Vicente de Paulo e Santa
Luísa de Marillac.
A festa foi digna da data e das razões que nos levaram à Catedral Metropolitana, onde os poucos ramos deste Regional estiveram representados.
Houve uma boa participação em nossa celebração, presidida pelo Pe. Agnaldo. Éramos em número de mais ou menos 650. Dos 7 ramos existentes aqui,
6 se fizeram presentes. Foi uma Missa solene, embora simples e bonita, bem
ao estilo vicentino.
263
Cada ramo levou seus sonhos, desejos, anseios, e projetos para depositarmos no altar de Deus e juntos rendermos graças ao Senhor da vida.
O que significou? Já há alguns anos, a FV vem unindo esforços entre
seus ramos para estreitar os laços, sonhar e trabalhar juntos num projeto comum, sem perder a riqueza da singularidade de cada ramo. Queremos fazer
do Ano Jubilar mais uma oportunidade de fortalecer, estreitar e alimentar os
laços de unidade vicentina. Uma oportunidade de voltar às fontes para beber
água limpa, fresca, para fortalecer e revigorar nossa identidade.
Para 2010, queremos implementar as iniciativas que já existem: Encontro Regional da FV, Curso para Missionários e Missões Vicentinas. E organizar outras: celebrar o dia de Santa Luísa de Marillac e São Vicente de Paulo,
realizar encontro para refletir e estudar sobre o tema “Mudança de Estruturas”
e celebrar em família o “mês vocacional vicentino”.
Sabemos e temos consciência das potencialidades da FV que pode ir
mais longe no serviço aos Pobres, na construção do Reino de Deus. Pedimos
ao Senhor que derrame suas graças sobre cada ramo, para que o Ano Jubilar
seja um ano de graça do Senhor para toda a FV no mundo. Ele nos dê a coragem necessária para mudar nossas estruturas e permitir que Seu Espírito
sopre onde quer e nos conduza para águas mais profundas.
3. Regional Brasília
Pe. Alex Sandro Reis, C. M.
O Dia de Oração da Família Vicentina, celebrado na Paróquia Nossa
Senhora da Medalha Milagrosa (Riacho Fundo II), constou de duas etapas:
1ª etapa – Tríduo Festivo – Dia 24/09 – A celebração foi presidida por Pe.
Bonfim, ficando a reflexão a cargo de Ir. Márcia, F. C. No dia 25/09, a celebração foi presidida por Pe. Luís de Oliveira Campos e Pe. Getúlio fez a reflexão. No dia 26/09, Pe. Alex Sandro presidiu e a Cs. Emília refletiu. Foram
264
montadas barraquinhas, visando a confraternização e o bom entrosamento
entre os ramos e paroquianos.
2ª etapa – Dia de São Vicente de Paulo – Durante a tarde, houve apresentações culturais tendo como tema: Mudança de Estruturas. A Celebração Eucarística foi presidida pelo arcebispo, Dom João Brás de Aviz, que mostrou
sua surpresa pelo grande número de pessoas que compõem os ramos da F.
V. Falou também sobre a importância de Vicente de Paulo e dos Lazaristas
em sua vida. O arcebispo aproveitou o momento e pediu que as Relíquias do
Santo Fundador pudessem estar presentes na Capital no ano seguinte, tendo
em vista o Congresso Eucarístico.
Pequenas Observações:
 A cada ano que passa, cresce a consciência entre os ramos sobre a importância deste dia. Havia, aproximadamente, 2.500 pessoas.
 O entrosamento entre os ramos é um fato marcante.
 Os stands dos ramos instalados nas dependências da igreja aprofundaram o caráter vocacional.
 O engajamento dos paroquianos, tanto nas celebrações como nas barraquinhas.
 Começa a surgir a consciência de que os ramos não podem se reunir
apenas neste dia, mas precisam criar mais projetos em comum.
 O desafio de colocar em prática o tema proposto.
265
 A presença das Relíquias de S. Vicente tornou-se momento tanto de curiosidade como de profunda piedade.
Notícias
1. Mudança de Estruturas
Acaba de ser lançada no Brasil a tradução
do livro elaborado pelos membros da Comissão Internacional da Família Vicentina para a promoção de Mudança de Estruturas: “Sementes de Esperança”. Tratase de uma coletânea de artigos, elaborados
com critério e competência, que está servindo de base para os Encontros Internacionais, Nacionais e Regionais da Família
Vicentina sobre a mesma temática. Na tradução brasileira, os capítulos originais foram
acrescidos de uma interessante e oportuna
contribuição do Ir. Adriano Ferreira da Silva,
da Província do Rio de Janeiro, sobre o Projeto CPF, desenvolvido pelo Colégio São Vicente, visando a solidariedade efetiva “com as situações de pobreza e o sofrimento das populações carentes das regiões em que desenvolvemos trabalhos missionários (...), por meio de atividades educativas como a
formação de professores, jovens e lideranças comunitárias” (p. 177). Os interessados em adquirir o livro por favor se dirijam ao Pe. Mizaél Donizetti Poggioli, através do e-mail: [email protected].
2. Família Vicentina – BH - Formação Missionária – 2009
266
De agosto a novembro deste ano, aproximadamente 100 leigos e leigas
de diversos ramos da Família Vicentina participaram dos encontros de formação missionária promovidos pelo Regional de Belo Horizonte, nas dependências do Instituto São Vicente de Paulo. Trata-se de uma iniciativa que vem
dando certo há quase dez anos, visando o aprofundamento da vocação e
missão do laicato vicentino na Igreja e na sociedade. Os temas abordados
perpassaram diferentes áreas: formação humana, bíblia, cristologia, eclesiologia, liturgia, missiologia, vicentinismo, etc. A conclusão deste projeto de
formação permanente se deu com o retiro espiritual, realizado em Igarapé, no
dia 22 de novembro, tendo como pano de fundo o tema do Ano Jubilar: Caridade e Missão. De todos os participantes, 50 partirão para Jenipapo e Francisco Badaró, norte de Minas, onde celebraremos as Santas Missões Populares Vicentinas, de 10 a 24 de janeiro de 2010.
Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.
3. XVII Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba
Florianópolis, 10 a 13 de junho de 2009
“Trincheira de idéias vale mais que
trincheiras de guerras.” (José Martí)
O evento
A Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba acontece a cada
ano em alguma cidade do Brasil, geralmente no primeiro semestre. É um
projeto que extrapola questões políticas e econômicas. É um evento que
267
favorece a formação da consciência crítica de cidadãos latino-americanos,
pois dele participam pessoas que defendem variadas bandeiras de lutas,
na procura de conhecimento e cooperação entre Brasil e Cuba nas mais
diversas áreas e segmentos, mas sempre ressaltando a lógica de um Novo
Socialismo para os nossos tempos.
Cuba: as vitórias, o percurso
Decifrando a perseguição políticoeconômica-ideológica-midiática capitalista contra a caminhada do povo cubano: “É uma guerra de todas as frentes contra o povo. É um genocídio”, afirmou o General Harry Villegas,
membro do Comitê Central do Partido
Comunista de Cuba, Deputado do Poder Popular. Foi companheiro de Che Guevara e esteve no front de todo o
processo da Revolução Cubana. Foi ele uma das grandes atrações desta
Convenção. Foi para nós uma memória viva de todo o processo revolucionário cubano. Destacou os avanços e as conquistas de seu país, sobretudo
os muitos relatos que refletem a trajetória militar de Cuba, como “Playa Girón”, a primeira derrota militar de Washington na América. Segundo Villegas, a palavra de ordem atual para manter a justiça social frente às misérias humanas do capitalismo é trabalhar e lutar, investindo prioritariamente
na educação.
A evolução da nação cubana contrasta com sua própria história na luta por preservar sua identidade e independência contra a pretensão dos
Estados Unidos de apoderar-se da maior das Antilhas. O triunfo da Revolução lança luzes para um novo projeto socioeconômico e político.
268
Segundo a Dra. Natividad Guerrero Borrego, Coordenadora do Centro de Estudos sobre a Juventude, que também participou do evento, “os
programas da Revolução propiciaram aos jovens uma maior interdisciplinaridade nos conteúdos educacionais, bem como práticas esportivas e maior
participação social”. O sonho cubano é que todos os jovens tenham acesso
ao ensino superior. “É um ensino que deve ser universalizado”, enfatiza.
50 anos de Revolução!
“Calcula-se que nesses 50 anos do triunfo da Revolução Cubana,
5.557 pessoas foram vítimas de ações terroristas em Cuba. Também há
indícios da sabotagem de um avião da Cubana em Barbados”, afirmava ainda o General Villegas. A história mais surpreendente, no entanto, se refere aos 5 heróis cubanos: Ramón Labañino, Fernando González, Antônio
Guerrero, Gerardo Hernández e René González. São mantidos presos
injustamente nos Estados Unidos, aguardando o julgamento pela Suprema
Corte Norte-Americana. É urgente mobilizar a opinião pública, num movimento de ação conjunta, da imprensa e dos movimentos sociais. Atualmente, existem 347 comitês em 112 países (28 nos EUA), que lutam pela libertação dos 5 heróis cubanos.
Um outro aspecto que devemos enfocar é a guerra midiática que há
contra Cuba, que procura dividi-los, confundi-los, massacrá-los. O poder
dos Estados Unidos e de seus aliados é usado massivamente nesse sentido. Recentemente, várias publicações davam conta de uma suposta invasão dos americanos em Cuba. A mídia
contra o povo cubano é coordenada e
articulada inclusive na indústria do entretenimento.
269
Nesses 50 anos do triunfo da Revolução, muitas associações e movimentos nasceram em Solidariedade ao povo cubano; atualmente são 2.074
organizações em 147 países. Na América Latina, são 691 organizações
que têm vínculo com Cuba. Em Cuba, o Instituto de Amizade com os
Povos Cubanos foi criado em 30/12/1960, a primeira resolução do Conselho de Ministros Cubanos após o triunfo da Revolução, e tem o objetivo de
fomentar a solidariedade de Cuba com todos os países do mundo. É um
projeto popular e real da diplomacia do povo. É um grande movimento de
solidariedade.
Participar da XVII Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba foi
uma extraordinária experiência que fizemos, o seminarista Héber Faria e
eu, um evento político e social, nas dependências da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, num clima de inverno caloroso e solidário ao povo
cubano! A XVIII Convenção será no final de janeiro de 2010, em Porto Alegre – RS. Para saber e aprofundar mais sobre a dinâmica realidade cubana
acesse: www.cubaviva.com.br
Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado, C. M.
4. Notícias do Visitador e do Conselho
Incardinação na Arquidiocese de Belo Horizonte. No dia 11 de fevereiro
de 2009 foram incardinados na Arquidiocese de Belo Horizonte, mediante o
que de Direito se estabelece para o assunto, os Padres Carlos Antônio Vilela
Mota e Edson de Oliveira Silva.
Nomeação de Diretor para o Seminário Interno: O Visitador Provincial,
com o consentimento do seu Conselho, nomeia o Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, C. M., Diretor do Seminário Interno (cf. Est. 69, 4º).
270
Aprovação de pedidos para admissão ao Seminário Interno. O Visitador
Provincial, consultado os membros do seu Conselho (cf. Const. Art. 53, § 2),
em reunião realizada no dias 6 e 7 de outubro/2009, aprovou o pedido para
admissão ao Seminário Interno encaminhado pelos jovens: José Nunes Cardoso, Hélio Correia Maia, João Paulino da Silva Neto e Paulo Cezar Velozo.
O Seminário Interno em 2010 estará funcionando em Campina Verde e terá
como Diretor o Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, CM.
Província de Fortaleza da Congregação da Missão (PFCM) sob nova direção. A Província de Fortaleza da Congregação da Missão desde o mês de
outubro encontra-se sob a direção do Pe. Evaldo Carvalho dos Santos, C.M.,
que substituiu o Pe. Ari Alves dos Santos, afastado da função de superior
provincial por motivos de saúde.
Assembleia Paroquial em Carinhanha – BA. Realizou-se de 13 a 15 de novembro, no Centro de Treinamento de Liderança (CTL) Pe. Josimo, a Assembleia das
Comunidades da Paróquia São José em Carinhanha. O primeiro dia da Assembleia foi dedicado à acolhida dos delegados, abertura e dinâmica de apresentação. O segundo dia foi dedicado à exposição do professor Alberto Farias sobre o
tema “CEB’s e o seu reavivamento”; trabalhos em grupo a partir das questões: O
que ainda existe de CEB’s? Como podem ser revitalizadas, reavivadas? Neste
mesmo dia ocorreu a avaliação das prioridades e apresentação das conquistas,
desafios e propostas pelas pastorais. O último dia da Assembleia, após a celebração eucarística, foi consagrado à reflexão, às propostas de encaminhamentos e
estabelecimentos de prioridades visando reavivar nas comunidades o “espírito”
das CEB’s. Foram eleitas como prioridades para o ano de 2010: a) A formação
permanente em todos os níveis (bíblia, liturgia, catequese, dízimo, juventude); b) A
formação da juventude; c) Fé e política.
Encontro de Formação promovido pela CLAPVI. Nos dias de 15 a 22 de
outubro de 2009 na cidade do Panamá aconteceu o Encontro de Formação
para Ecônomos Provinciais, Visitadores e outros Coirmãos que prestam ser271
viço na área administrativa / econômica. Estiveram presentes representantes
das seguintes Províncias e Vice-Províncias: Colômbia, Centro-América, Panamá, México, Puerto Rico, Costa Rica, Equador, Peru, Venezuela, Argentina, Chile e Brasil (Províncias do Rio de Janeiro e Curitiba). Eram no total 39
participantes, incluindo os assessores e membros da Cúria Geral. A PBCM
esteve representada pelos padres Agnaldo Aparecido de Paula, Geraldo Eustáquio Mól Santos e Emanoel Bedê Bertunes. O Encontro contou com a assessoria do Ir. Afonso Murad, FMS (Brasil) para o tema “Gestão e Espiritualidade”; Dr. Raúl Reis (Panamá) para o tema “Situação social e econômica da
América Latina e do Caribe: análise, perspectiva e problemas”; Pe. John
Gouldrick para o tema “Informações e orientações para os ecônomos provinciais da Congregação da Missão”; Dr. Germán Gómez Serna (Argentina) para
o tema “Orientações para manutenção e conservação do patrimônio e investimentos”; Pe. John Patrick Prager para o tema “Conteúdo do voto de Pobreza na Congregação da Missão e sua relação com as finanças à luz de nossas
Constituições e Estatutos” e Pe. Joseph Foley para o tema “Missão na ONU
como representante da Congregação da Missão”. A partir dos desafios enfrentados e da troca de experiências, os participantes do encontro apresentaram critérios, ações e processos que possam constituir-se nos elementos necessários de um futuro Guia Prático do Ecônomo Provincial. Maiores informações sobre o encontro e o conteúdo das assessorias serão matéria do próximo Boletim da CLAPVI.
Encontros Provinciais em 2010
Fique atento! Registre na agenda.
Acontecerá de 12 a 16 de abril de 2010 na Fazenda do Engenho (MG) o
Encontro Provincial de Formação Permanente para todos os membros incorporados da PBCM. O Encontro que terá abertura no dia 12 de abril com a celebração eucarística às 19:30 min tratará dos seguintes temas: Liderança Servido272
ra; Mudança de Estruturas e Revisão de Vida e Missão nas dimensões apostólica,
humano-afetiva-intelectual, comunitária, espiritual e vicentina.
No dia 17 de abril será realizada a Assembleia Geral Ordinária Civil da
PBCM para prestação de contas.
Nos dias de 18 a 20 de abril ocorrerá encontro com todos os missionários
das Comunidades de Serra do Ramalho, Carinhanha, Francisco Badaró,
Paulo VI e Riacho Fundo II para “Revisão das atuais práticas, conteúdos, métodos, recursos humanos e financeiros, projetos de evangelização e projetos sociais
desenvolvidos pelas Equipes Missionárias”,conforme proposta 11 do Planejamento Provincial 2008-2010.
De 9 a 13 de junho acontecerá o Encontro dos Coirmãos Jovens.
De 4 a 9 de outubro: Retiro Provincial e Assembleia Provincial Eletiva.
Situação Canônica do Seminário São Justino de Jacobis. O Conselho Provincial em reunião realizada nos dias 7-8/6/2009 aprovou proposta da Comissão de
Formação que “entende ser necessário distinguir as etapas da formação”. Neste
sentido foi aprovado que a partir de 2010 o Seminário São Justino de Jacobis, localizado à Avenida Artur Guimarães, nº 1112, Bairro Santa Cruz, em Belo Horizonte, acolherá os estudantes do propedêutico. Em reunião realizada nos dias 12/12/2009 o Conselho Provincial decidiu que o Seminário São Justino de Jacobis
ficará adido à Casa Canônica “Instituto São Vicente de Paulo”.
Comunicação de transferências e nomeações. O Visitador Provincial, consultado os membros do seu Conselho e os interessados, comunica as seguintes
transferências e nomeações para ofícios:
1. Pe. Wilson Alzate Garcia, CM, transferência da Paróquia N. Sra. de Fátima
(Contagem), para a Paróquia Pai Misericordioso, Paulo VI (Belo Horizonte).
273
2. Pe. Deoclides Magalhães Rodrigues, CM, transferência da Missão-Paróquia
N. Sra. da Medalha Milagrosa (Riacho Fundo II) para a Missão-Paróquia São
José Operário (Serra do Ramalho).
3. Diác. Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira, CM, transferência da Paróquia N.
Sra. de Fátima (Contagem), para a Paróquia São José do Calafate (Belo
Horizonte), onde realizará o estágio diaconal e continuará representando a
PBCM no regional da Família Vicentina.
4. Ir. Vanderlei Alves dos Reis, CM, do Seminário São Justino de Jacobis para
a Paróquia N. Sra. de Fátima (Contagem), onde continuará seus estudos no
4º ano de teologia e será membro efetivo da Equipe Missionária.
5. Pe. Wander Ferreira, CM, da Casa Dom Viçoso para o Seminário São
Justino de Jacobis (Belo Horizonte) onde exercerá o ofício de formador
dos estudantes do propedêutico.
6. Ir. Paulo Afonso Ferreira, CM, da Paróquia N. Sra. da Medalha Milagrosa
(Campina Verde) para a Missão-Paróquia N. Sra. da Medalha Milagrosa
(Riacho Fundo II, DF).
7. Ir. Odinei de Paiva Magalhães, CM, nomeado para o ofício de auxiliar da
formação e ecônomo no Seminário São Justino de Jacobis (Belo Horizonte).
O Visitador Provincial, atendendo solicitações e com o parecer favorável
dos membros do seu Conselho, indica:
1. Pe. Tadeu Oliveira Santos Pôrto, CM, para o ofício de Assessor Espiritual do Conselho Metropolitano da Sociedade de São Vicente de Paulo,
em Contagem (3/9/2009).
2. Pe. Alex Sandro Reis, CM, para o ofício de Assessor Espiritual do Conselho
Metropolitano da Sociedade de São Vicente de Paulo, em Brasília (3/9/2009).
274
3. Pe. Alexandre Nahass Franco, CM, para o ofício de Assessor Espiritual
do Conselho Nacional do Brasil da Sociedade de São Vicente de Paulo
(8/10/2009).
Licenças. O Visitador Provincial, atendendo solicitação do Coirmão interessado
e com o consentimento do seu Conselho concedeu as seguintes licenças:
1. Pe. José Debortoli, CM. Licença para passar os meses de janeiro a junho de 2010 na Casa dos religiosos na Mariápolis Ginetta, em Vargem
Grande Paulista, SP. (Conselho de 28-29/08/2009).
2. Pe. Valmir Severino de Almada, CM. Licença de viver fora da Casa ou
fora da Comunidade, por um ano, conforme Constituições da Congregação da Missão, artigo 67 (Conselho de 1-2/12/2009).
Indicação e solicitação de nomeação aos senhores bispos:
1. A Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte:
a. Pe. Dejair Roberto De Rossi, CM, para o ofício de Cura do Curato Divino Espírito Santo, em Contagem (8/9/2009).
b. Pe. Onésio Moreira Gonçalves, CM, para o ofício de pároco da Paróquia São José do Calafate, em Belo Horizonte.
c. Pe. Wilson Alzate Garcia, CM, para o ofício de vigário paroquial na
Paróquia Pai Misericordioso, no Paulo VI, Belo Horizonte.
2. A Dom José Valmor César Teixeira:
a. Pe. Deoclides Magalhães Rodrigues, CM, para o ofício de pároco na
Paróquia São José Operário, em Serra do Ramalho (BA).
275