`Amor é grande`, diz mulher que dedica a vida a cuidar de

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`Amor é grande`, diz mulher que dedica a vida a cuidar de
10/05/2016
G1 ­ 'Amor é grande', diz mulher que dedica a vida a cuidar de pessoas carentes ­ notícias em Ribeirão e Franca
'Amor é grande', diz mulher que dedica a vida a cuidar de pessoas
carentes
Aos 74 anos, dona Marta diz ter atendido 10 mil pessoas em cinco décadas. ONG em Ribeirão Preto atende crianças, mulheres e pessoas com HIV.
Gabriela CastilhoDo G1 Ribeirão e Franca
Dona Marta Irides dedica mais de 50 anos ao
voluntariado em Ribeirão Preto (Foto: Gabriela Castilho/G1)
A rotina da pedagoga aposentada Marta Irides de Oliveira, de 74 anos, começa cedo em Ribeirão Preto (SP). Às 6h está de pé para iniciar mais
um dia de trabalho ao lado de 66 colegas. O dia só termina por volta das 21h depois de atender 240 pessoas. Dona Marta não passa suas horas
atrás de um balcão, tampouco em um escritório. Ela dedica sua vida a cuidar do outro, isso há pelo menos 57 anos.
Por seus cuidados estima que já tenham passado 10 mil pessoas, gente que ela considera como seus filhos. “Forma­se uma verdadeira família. O
vínculo amoroso é muito grande”, diz.
Presidente e fundadora da ONG Corassol em Ribeirão Preto, Marta conta que o desejo de ajudar ao próximo surgiu ainda na adolescência,
quanto tinha 17 anos. Nos finais de semana se reunia com um grupo em Franca (SP), sua terra natal, para arrecadar roupas e alimentos para
pessoas de baixa renda.
“Eu sou pedagoga e sempre participei de atividades como essas e isso me faz muito bem. Acho que os maiores beneficiados somos nós. A gente
não beneficia ninguém, eles que nos ajudam. A gente aprende muito com eles”, afirma.
Como tudo começou O desejo de ajudar o próximo se tornou mais presente na vida dela após o casamento, no início da década de 1970. Marta conheceu o capitão do
Exército Osny de Oliveira, ainda em Franca, e foi ele quem a ajudou a expandir o sonho de melhorar a vida de pessoas desamparadas.
Após o casamento, Marta e Osny se mudaram para Ribeirão Preto, mas continuaram encarando a estrada até Franca para ajudar a comunidade.
As viagens semanais, no entanto, cessaram quando o casal soube de um lugar no Jardim Jandaia, na zona norte de Ribeirão, onde as famílias
viviam em barracos sem saneamento básico e com estrutura precária.
http://g1.globo.com/sp/ribeirao­preto­franca/noticia/2016/05/amor­e­grande­diz­mulher­que­dedica­vida­cuidar­de­pessoas­carentes.html
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Foto registra família ajudada por dona
Marta nos anos 1970 em Ribeirão (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
O que inicialmente era um pequeno gesto para arrecadar roupas e alimentos para famílias marginalizadas, aos poucos se tornou um abrigo para
receber todo tipo de gente, até pessoas com HIV, na época pouco ajudadas pela sociedade. Depois se transformou em um projeto que oferece
desde moradia gratuita para pessoas com deficiência até aulas para crianças de baixa renda.
A área conhecida como Favela do Jandaia passou a ser visitada pelo grupo montado inicialmente por Marta, o marido e um amigo também
capitão do exército. Segundo ela, logo chegaram médicos, professores, psicólogos e jovens alistados que passavam de barraco em barraco
anotando as necessidades e marcando as famílias com maior situação de risco.
Ao acompanhar as dificuldades dessas pessoas e vê­las sorrindo, sempre manifestando fé e acreditando que dias melhores virão, a gente aprende
com eles."
Marta Irides de Oliveira
Naquele tempo, pelo fato de Osny ser chefe do Tiro de Guerra, as reuniões ocorriam no batalhão e jovens alistados passaram a ajudar nas
arrecadações, além de participar das visitas e higienização dos barracos. Com a demanda, Marta diz que surgiu a necessidade de centralizar o
atendimento à comunidade em um único local e, através de doações, em 1991, foi criada a sede do Corassol.
“Eu sempre digo que o trabalho só é realizado graças à comunidade, ao apoio que recebemos de todos desde o começo. Sozinhos a gente não faz
nada. A gente vive de doações, colaborações, e assim mantemos o atendimento à comunidade”, afirma a fundadora.
Durante a construção da sede, a equipe de voluntários liderada por Marta e o marido já realizava atividades educacionais voltada às crianças da
comunidade. As ações passaram a ocorrer todos os sábados com alfabetização dos menores e orientação para gestantes e pessoas doentes. No
local, todos tomavam sopa e podiam levar uma marmita para casa.
Amparo substitui preconceito Na década de 1990 quando se aposentou, Marta passou a dedicar 100% do seu tempo a crianças, adolescentes, gestantes e pessoas com
deficiência, além de crianças e adultos HIV positivo.
Em 1994, a pedagoga conta que foi necessário criar um abrigo para crianças com HIV, devido aos casos que começavam a aparecer na cidade.
Por se tratar de uma área onde os moradores viviam sem saneamento básico e sem acesso à informação, o grupo fazia parte das pessoas mais
afetadas pela Aids.
Marta relata que as crianças cujos pais morriam pela doença eram mandadas para Tabuão da Serra (SP), já que em Ribeirão não havia um lugar
que abrigasse esses órfãos. Apesar das dificuldades, a aposentada e seus parceiros alugaram um imóvel abandonado na Rua Piauí, no Ipiranga.
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Aos 74 anos, dona Marta estima ter acolhido
mais de dez mil pessoas em Ribeirão (Foto: Gabriela Castilho/G1)
Com o apoio do Hospital das Clínicas, o Corassol começou a abrigar 35 crianças sem pais e vítimas do HIV. "Era impossível não se envolver
com as histórias e, a cada morte que presenciávamos, parecia que um pedacinho de nós ia embora também", recorda.
Para atender adolescentes e adultos diagnosticados, a entidade abriu ainda mais os braços e fundou, na mesma época, a Casa Lauro. No entanto,
mais um problema surgiu. "Às vezes a mãe falecia, mas a criança não tinha HIV. No ano seguinte, inauguramos a casa Renascer que recebia
essas crianças vítimas da Aids, mas que eram sadias", conta.
Muito trabalho pela frente Hoje, o Corassol atende 260 pessoas por mês, conta com dois voluntários e 64 funcionários registrados. A entidade tem quatro núcleos na cidade,
sendo que um é moradia gratuita para pessoas com deficiência, e cinco projetos voltados à educação de crianças e adolescentes, orientação para
gestantes.
“Ao acompanhar as dificuldades dessas pessoas e vê­las sorrindo, sempre manifestando fé e acreditando que dias melhores virão, a gente
aprende com eles. A gente não pode nem reclamar da vida que a gente tem, quando vê cada situação de grandes necessidades e a pessoa
sobrevivendo animada e grata pelo que tem”, diz.
Os números não assustam a idosa que sabe cada agulha que entra e conhece pelo nome cada funcionário e pessoa atendida. Tendo dedicado 57
anos ao trabalho voluntário, ela diz que não pensa em parar tão cedo.
“O gratificante é ver os testemunhos, é cada um que a gente fica emocionada. Eu estou com 74 e falo que quero viver até os 100, eu brinco com
o pessoal ‘vocês vão ter que me aguentar’”.
Crianças de baixa renda assistidas pela ONG
participam de aula de artes (Foto: Gabriela Castilho/G1)
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