Biodiversidade dos Açores

Transcrição

Biodiversidade dos Açores
A BIODIVERSIDADE
NOS AÇORES
Miguel Mendes
Pedro Moura
Ricardo Fernandes
Tiago Oliveira
Este trabalho pretende dar a conhecer parte do que se conhece
sobre a biodiversidade dos Açores.
O conceito de Biodiversidade inclui a variabilidade entre os organismos vivos, incluindo os
ecossistemas, e ainda a diversidade dentro de cada espécie, bem como a diversidade genética
e alélica.
Em Julho de 2008, estavam classificados nos Açores 23 SIC (sítios de importância
comunitária) e 15 ZPE (zonas de protecção especial). A Crista Média-Atlântica (CMA) atravessa
o arquipélago entre as ilhas do Grupo Central e do Grupo Ocidental. As ilhas Graciosa, das
Flores e do Corvo foram classificadas pela UNESCO como Reserva da Biosfera.
BIODIVERSIDADE TERRESTRE
No arquipélago ocorrem cerca de 227 espécies de aves, 33 das quais
nidificam anualmente nas ilhas, sendo um terço aves endémicas. Das
espécies de avifauna mais importantes destaca-se o priolo (Pyrrhula
murina), uma ave terrestre rara, endémica dos Açores em perigo de
extinção, cujo habitat se confina à Floresta Laurissilva existente no
nordeste da Ilha de São Miguel. Esta espécie foi muito abundante no
século XX, chegando a ser uma praga para a fruticultura. O painho-dastempestades-de-monteiro (Oceanodroma monteiroi) é uma ave marinha
endémica presente no Ilhéu da Praia e no Ilhéu de Baixo, na Ilha
Graciosa.
O Priolo, uma pequena ave que outrora se julgou estar extinta, foi
redescoberta no seu habitat natural dos Açores, a Serra da Tronqueira, em
São Miguel, e é hoje uma das espécies mais arduamente protegidas.
Entre as espécies de aves que se conseguiram adaptar bem ao
arquipélago contam-se também o Milhafre, o Corvo, o Canário-da-terra, o
Pombo-da-rocha, o Pombo-torcaz ...
Canário-da-terra
Priolo
Assume particular importância o cagarro (Calonectris diomedea
borealis), em que 65% da população mundial se reproduz nos Açores e
o garajau-rosado (Sterna Dougallii), em que cerca de 59% da população
europeia escolhe as ilhas para nidificar. A águia-de-asa-redonda (Buteo
buteo ssp. rothschildi) é única ave rapina presente em todo o
arquipélago, com excepção das ilhas do Grupo Ocidental. É vulgarmente
chamada de milhafre dos Açores. Em rigor, não é um milhafre (Milvus
migrans) ou um açor (Accipiter gentilis). Na Ilha Terceira, é chamada de
"Queimado".
O morcego-dos-açores (Nyctalus azoreum) é o único mamífero
terrestre endémico dos Açores.
Outras espécies das ilhas que mesmo não sendo endémicas
estão presentes de forma constante: águia de asa-redonda (Buteo buteo
rothschildi), garajau-comum (Sterna hirundo), tentilhão (Fringilla coelebs
moreletti).
Águia-de-asa-redonda
Cagarro
Garajau-rosado
Painho-de-Monteiro
Morcego dos Açores
Pombo das rochas
Pombo torcaz dos Açores
Estando situadas numa posição óptima nos cursos migratórios de muitas aves que voam
de norte a sul, de este a oeste do globo, atravessando o Atlântico, as ilhas dos Açores
ganham importância relevante para estas aves que nelas encontram um ponto seguro de
descanso, nidificação e reprodução. Muitas nidificam nas falésias junto ao mar, nos
ilhéus, junto às lagoas ou até nas zonas mais remotas do interior das ilhas.
Tentilhão-comum
Alvéola-cinzenta
Gaivota-de-pernas-amarelas
Estrelinha-de-poupa
Toutinegra-de-barrete-negro
Estorninho-malhado
A Doninha-anã, o Furão, o Ouriço-cacheiro e o Coelho selvagem são, por seu turno
espécies de mamíferos bastante comuns, sendo este último considerado inclusive
uma espécie de caça desportiva.
Coelho selvagem
Furão
Doninha-anã
Ouriço-cacheiro
BIODIVERSIDADE MARINHA
Os mares em redor dos Açores são dos mais ricos em vida marítima do
Oceano Atlântico. Aqui pode encontrar-se o Peixe-espada, o tubarão (em diversas
espécies), o atum, o bonito, a enguia, moreia e o chicharro. É também frequente ver
peixe-voador “voando” sobre a superfície da água, a tentar escapar aos seus
predadores.
O Cachalote é o mais frequente dos cetáceos que se pode observar nestas
águas. Dos odontocetos (baleias com dentes) também se observam a baleia bico-degarrafa boreal, a baleia-piloto, a orca e a baleia-de-bico-de-Sowerby. Os Golfinhos
também se avistam regularmente nos mares dos Açores. Destes, o comum, o bicode-garafa do Atlântico Norte, o de risso, o pintado e o riscado são os mais avistados.
Peixe-voador
Chicharro
Cachalote
Existem 4 espécies de cetáceos nos Açores, que não estavam incluídas na lista de
espécies oficiais. São a Baleia de Bryde (Balaenoptera edeni), a Baleia piloto de
barbatanas compridas (Globicephala melaena), a Baleia de bico de Blainville
(Mesoplodon densirostris) e o Golfinho de Fraser (Lagenodelphis hosei). No dia 5 de
janeiro de 2009, é observada uma Baleia-franca boreal (Eubalaena glacialis). Este é o
primeiro registo confirmado nos Açores desde 1888, ano em que o último exemplar
desta espécie foi capturado. Durante 121 anos decorridos entre estas duas
ocorrências, existem apenas três observações não confirmadas da espécie, todas elas
na primeira metade do século XX.
BALEIA DE BRYDE
A Baleia de Bryde é a menos conhecida das grandes baleias. O tamanho
máximo deste animal pode atingir 15 metros. As fêmeas são maiores que os
machos. À nascença a cria mede 4 metros e pesa cerca de 650 Kg. Os indivíduos
adultos apresentam um peso médio de 12 toneladas. Estima-se que a esperança
de vida desta espécie seja de quarenta anos. Alimentam-se principalmente de
pequenos peixes gregários, e por vezes de krill.
BALEIA DE BICO DE BLAINVILLE
É uma espécie que apresenta um corpo robusto, lateralmente comprimido na região
caudal. A sua coloração é escura na zona dorsal e flancos e cinzento-clara na zona
ventral. Tem uma barbatana dorsal pequena e triangular, posicionada a dois terços
da parte final do corpo. Tem um bico moderadamente longo. Os machos adultos
apresentam o maxilar inferior bastante arqueado e com dentes visíveis.
É uma espécie que pode atingir os 4.5m e pelo que se sabe ocorre globalmente em
águas temperadas e tropicais
BALEIA-PILOTO
A denominação "Baleia-piloto" inclui duas espécies que são muito
semelhantes e bastante difíceis de distinguir no mar, nas áreas
onde as duas espécies ocorrem em simultâneo (como poderá ser o
caso dos Açores). A característica externa mais distintiva é o
comprimento das barbatanas dorsais, que é muito maior no caso de
Globicephala melaena, mas este critério só pode ser utilizado em
condições muito especiais, quando a visibilidade da água é bastante
boa e os animais aproximam-se da embarcação, quando os animais
são avistados debaixo d'água ou no caso de alguns animais
saltarem o suficiente for da água para que seja possível ver as
barbatanas.
GOLFINHO DE FRASER
O Golfinho de Fraser adulto mede em média 2,30 m de comprimento
mas pode atingir 2,70 m, com um peso variável entre 120 e 200 kg.
A morfologia deste animal é definida por um corpo fusiforme, robusto,
um bico muito curto, e barbatanas peitorais e caudais relativamente
pequenas. Contam-se de 38 a 44 pares de dentes em cada maxilar.
Geralmente apresentam uma coloração cinzenta sobre as costas
enquanto que o ventre é creme com uma ligeira pigmentação rosa. As
barbatanas peitorais são pretas. Existe uma diferença morfológica entre os
machos e as fêmeas: a barbatana dorsal dos primeiros é direita e triangular,
enquanto nas fêmeas é falciforme. Nota-se nos adultos uma banda preta da
boca ao ânus (atenção não o confundir com golfinho riscado).
De entre as espéceis marinhas costeiras consideradas perigosas, temos a caravela
portuguesa (Physalia physalis) e peixe-aranha (Echiichthys vipera).
Investigadores do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade
dos Açores (UAç) identificaram e capturaram três exemplares do abadejo-cometa
(Benthocometes robustus) que, até agora, não estava referenciada no arquipélago. A
sua presença nunca tinha sido confirmada nos mares dos Açores, embora alguns
estudos efetuados em 1993 e 1997 tivessem assinalado como duvidosa a sua
presença.
Registaram-se 34 espécies de tubarões confirmadas nos mares dos Açores. A
diversidade entre estas espécies é extrema, variando desde o pequeno Tubarão-anão
até ao Tubarão-baleia. De um modo geral, podemos dividir os tubarões dos Açores
em dois grandes grupos: espécies pelágicas e de profundidade.
Caravela-Portuguesa
Peixe-Aranha
Abadejo-Cometa
Grande-tubarão-branco (Carcharodon carcharias) Tubarão-mako ou Rinquim (Isurus
oxyrhinchus) Tubarão-tigre (Galeocerdo cuvieri) Tubarão-touro (Carcharhinus leucas)
Tubarão-de-pontas-brancas-oceânico (Carcharhinus longimanus) Tubarão-azul ou
Tintureira (Prionace glauca)
Outras espécies das ilhas que mesmo não sendo endémicas estão presentes de
forma constante: águia de asa-redonda (Buteo buteo rothschildi), garajau-comum
(Sterna hirundo), tentilhão (Fringilla coelebs moreletti).
Ao nível das espécies foi realçada a ocorrência da toninha-brava (Tursiops truncatus)
e da tartaruga-careta (Caretta caretta).
Tubarão-anão
Tubarão-baleia
Tubarão-mako
Grande-tubarão-branco
Tubarão-tigre
Tubarão-de-pontas-brancas-oceânico
Tubarão-azul
Realça-se a ocorrência da toninha-brava (Tursiops truncatus) e da tartaruga-careta
(Caretta caretta).
Já na água doce, em ribeiras e lagoas é normal encontrar-se algumas espécies de
trutas desde a Truta-comum à Truta-arco-íris, Percas, Carpas e Lúcios. São espécies que não
só entram nos roteiros de pesca desportiva como nos roteiros gastronómicos.
Truta-arco-íris,
Carpa
Perca
Lúcios
ALFORRECAS E MEDUSAS
Pelagia noctiluca
Physalia physalis
CORAIS E ANÉMONAS
Alicia mirabilis
Anemona nocturna
MOLUSCOS - GASTROPODES
Pattella ulyssiponensis aspera
Tambja ceutae
MOLUSCOS: BIVALVES
Crassadoma multistriata
Cardita calyculata
Ervilia castanea
MOLUSCOS: CEFALÓPODES
Tremoctopus violaceus
Octopus vulgaris
Argonauta argo
Sepia officinalis
CRUSTÁCEOS: CIRRÍPEDES
Megabalanus azoricus
Dosima fascicularis
Tesseropora atlanticum
Chthamalus stellatus
CRUSTÁCEOS:DECÁPODES
Scyllarides latus
Albunea carabus
Acanthonyx lunulatus
Calappa granulata
Cancer bellianus
EQUINODERMES: ESTRELAS DO MAR
Ophidiaster ophidianus
Charonia lampas preda Ophidiaster ophidianos
EQUINODERMES: OURIÇOS DO MAR
Sphaerechinus granularis
HOLOTÚRIAS OU PEPINOS-DO-MAR
ACÍDIAS TUNICADOS
Clavelina lepadiformis
Distaplia corola
Tendo sido casa de inúmeras espécies que vieram importadas das
diversas regiões de onde provinham os povos que as colonizaram, as ilhas
dos Açores, elas próprias na sua condição de grande isolamento em
relação a “terra firme” e com um clima bastante particular e favorável ao
desenvolvimento das mais variadas formas de vida, as ilhas dos Açores,
retomando, foram palco do nascimento de algumas subespécies que
derivavam das originais ao adaptarem-se às condições particulares que
lhes ofereciam as ilhas.
Actualmente, são conhecidas três espécies de térmitas nos Açores: a térmita de madeira
húmida (Kalotermes flavicollis), a térmita de madeira seca (Cryptotermes brevis) e a térmita
subterrânea (Reticulitermes grassei). A térmita de madeira seca constitui actualmente a praga
urbana mais preocupante nos Açores, com impactos económicos e patrimoniais. Na cidade da
Horta, poderá encontrar térmitas subterrâneas. As térmitas devoram todos os tipos de madeira, mas
as menos afectadas são as madeiras mais duras. Têm suscitado uma preocupação considerável
junto dos cidadãos e da comunidade científica.
Kalotermes flavicollis
Cryptotermes brevis
Reticulitermes grassei
Foi encontrado um percevejo californiano (Belonochilus numenius Say) na zona
do Monte Brasil, na Ilha Terceira.
Uma espécie que merece um destaque especial entre as que se adaptaram
optimamente às condições particulares dos Açores é precisamente o Cão-de-fila,
que é hoje uma raça de cão de vigia reconhecida nacional e internacionalmente.
É um cão extremamente inteligente, leal, resistente e trabalhador, cuja função
principal tem sido tradicionalmente manter a vigia e a guarda do gado das ilhas.
MOLUSCOS TERRESTRES
Acanthinula azorica Pilsbry
Leiostyla fuscidula
Oxychilus ornatus
Plutonia laxata
Plutonia brevispira
Plutonia finitima
ARTRÓPODES TERRESTRES
Escaravelho
Gorgulho
Carocho
Traça da urze
Aranha caçadora das Flores
Estão presentes três espécies de roedores - vulgarmente designados de ratos:
ratazana preta ou rato de quinta (Rattus rattus), ratazana castanha ou rato de
esgoto (Rattus norvegicus) e murganho ou rato doméstico (Mus musculus). A sua
presença causa importantes prejuizos na produtividade agricola e pecuária e são
uma ameaça à avifauna. Estima-se que mas de 50% dos ratos das ilhas de São
Miguel e Terceira são portadores da bactéria Leptospirose. Esta infecção, por
vezes fatal, afecta os profissionais do sector agro-pecuário.
Ratazana preta
Ratazana castanha
Murganho
FLORA
No arquipélago podem encontrar-se cerca de 60 espécies endémicas de
plantas, arbustos e árvores. As condições particulares que lá se podem encontrar
proporcionaram que tais espécies ou derivações de espécies fossem lá exclusivas.
Nestas incluem-se o Louro, o Queiró, a Urze e o Cedro. Para mais, cerca de
700 espécies foram sendo introduzidas nas ilhas com o passar dos séculos, quer
com fins comerciais, quer com fins decorativos/estéticos. O clima particularmente
ameno das ilhas significa que muitas destas espécies, que teriam enorme
dificuldade de sobrevivência noutras regiões, aqui se desenvolvem com um vigor
pouco habitual.
Solanum mauritianum
Angélica
Vidalia
Margaridas
A acrescentar um encanto especial às ilhas estão algumas flores, como
as Hortênsias, as Camélias ou as Azáleas que são usadas como divisões naturais
de propriedades, como quebra-ventos ou simplesmente a fazer a bordadura das
estradas. Mesmo nas zonas mais remotas a vegetação desta parte da
Macaronésia empresta à sua paisagem uma beleza única. O Mogno, o Louro, o
Sanguinho entre outros fazem parte deste rico lote de vegetação.
Camélias
Hortênsias
Azáleas
ESPÉCIES INFESTANTES
As espécies invasoras provocam grandes danos nos ecossistemas e
meios urbanos e são já a segunda maior causa de extinção de espécies a nível
mundial a seguir à perda de habitat
Pittosporum undulatum Vent.
Hydrangea macrophylla
Os briófitos são pequenas plantas, essencialmente terrestres,
caracterizadas pela ausência de tecidos vasculares (sem raízes, caules ou
folhas) e pela dominância da geração gametófita em relação à geração
esporófita.
O número total de espécies presente nos Açores (439 espécies e
subespécies de briófitos: 285 musgos, 149 hepáticas e cinco antocerotas.
Os briófitos, apesar de terem taxas de crescimento relativamente baixas e
demorarem muitas décadas a desenvolver uma boa cobertura dos
substratos, são plantas cuja área de ocupação, diversidade e vitalidade
são extraordinárias nos Açores, provavelmente devido à diversidade de
substratos disponíveis e às condições ambientais (humidade, luz e
temperatura) favoráveis ao seu desenvolvimento.
Bazzania azorica
Echinodium renauldii
Tylimanthus azoricus
O Cedro, que em tantos sítios por esse mundo fora mais não é que um arbusto,
nos Açores tornam-se árvores de maior porte e inclusive de madeira comercializável. Outras
como a Acácia ou a Criptoméria, introduzida no arquipélago há pouco mais de um século
ganharam também elas importância comercial de relevo (inclusive como produto de
exportação).
PLANTAS VASCULARES
Agrostis botelhoI
Arceuthobium azoricum
Ammi trifoliatum
Carex pilulifera
Chaerophyllum azoricum Trel
Euphrasia azorica
Agrostis congestiflora
Festuca jubata
CONCLUSÃO
Se quisermos continuar a desfrutar de toda a beleza que acabamos de ver temos
de
PRESERVAR A BIODIVERSIDADE
A conservação da biodiversidade deverá constituir um objectivo
fundamental de todos nós, devido, não só, ao seu valor intrínseco (a
natureza está na base de numerosas actividades recreativas, turísticas e
culturais) como também, aos serviços ecossistémicos que presta (a
natureza fornece-nos os elementos necessários à nossa vida e ao nosso
bem-estar alimentos; medicamentos, água, ar, etc.).
FIM