a eficiência energética como ferramenta para a
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a eficiência energética como ferramenta para a
A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA COMO FERRAMENTA PARA A SUSTENTABILIDADE DOS PEQUENOS SISTEMAS DE ELETRIFICAÇÃO ISOLADOS Alfredo Augusto Vieira Barros1, João Tavares Pinho2, Cláudio Luciano da Rocha Conde3 1. Agência de Regulação e Controle de Serviços Públicos do Estado do Pará – ARCONPA; [email protected] 2. GEDAE/UFPA – Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas da Universidade Federal do Pará; [email protected] 3. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ciência e Tecnologia – SEDECT– PA; [email protected] Abstract: Currently the financial support of tariffs for electricity supply in isolated systems in the Northern Region of Brazil is the benefit of the Account of Consumption of Fossil Fuels – CCC (Portuguese abbreviation), which subsidizes as a whole or in great part the fossil fuel used for the production of energy in those systems, allowing the utilities and independent producers of energy to maintain the values of production rates within acceptable limits for the consumer market. As established by the Law 10438/02, these mechanisms of subsidy will be over in 2022, and according to that law, until the extinction of these subsidies mechanisms that lead to economic and energetic efficiency, to environment preservation, and to the use of local energy resources should be developed, to achieve the economic sustainability of the electric energy generation in these systems. In this way, this paper presents a proposal for the implementation of a pilot project in an isolated system in the Amazon Region, in which measures of efficiency and rational use of energy, and the introduction of renewable energy sources for electricity generation will be applyed. The monitoring and the analysis of the results achieved will contribute to the development of models for small isolated systems, energetically sustainable, which can support decisions and sector policies related to this type of systems for the Northern Region of Brazil. Keywords: Isolated systems, Account of Consumption of Fossil Fuels – CCC, Sustainability of isolated systems, Efficient operation of thermal-electric generation, Renewable energy. Resumo: Atualmente a sustentação financeira das tarifas de fornecimento de energia elétrica nos sistemas isolados da Região Norte do Brasil reside no benefício da Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis – CCC, que subsidia de forma total ou em grande parte, o combustível fóssil utilizado na produção de energia elétrica nesses sistemas, permitindo às concessionárias e produtores independentes de energia a manutenção dos valores de tarifas de produção dentro de limites aceitáveis para o mercado consumidor. Ocorre que, conforme estabelecido na Lei 10.438/02, esses mecanismos de subsídio tem sua extinção prevista para 2022 e, conforme essa lei, até a extinção destes subsídios, deverão ser desenvolvidos “mecanismos que induzam à eficiência econômica e energética, à valorização do meio ambiente e à utilização de recursos energéticos locais, visando atingir a sustentabilidade econômica da geração de energia elétrica nestes sistemas, ao término do prazo estabelecido.” Nesse sentido, o presente trabalho apresenta a proposta de implantação de um projeto piloto, em um sistema isolado da Amazônia, no qual serão aplicadas medidas de eficiência e uso racional da energia elétrica, além de buscar alternativas energéticas para sua produção. O monitoramento e a análise dos resultados alcançados, irão contribuir para o desenvolvimento de modelos de sistemas isolados de pequeno porte, energeticamente sustentáveis, que poderão subsidiar decisões e políticas setoriais relacionadas a esse tipo de sistema para a Região Norte. Palavras Chaves: Sistemas Isolados, Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis – CCC, Sustentabilidade dos sistemas isolados, Operação eficiente da geração termoelétrica, Energias renováveis. 1 INTRODUÇÃO O subsídio proporcionado pela Conta de Consumo de Cobustíveis Fósseis – CCC permite o equacionamento financeiro das tarifas de energia elétrica nos sistemas isolados da Região Norte, sem o qual estes ficariam sujeitos a tarifas exorbitantes. Porém, o ônus desse subsídio para os consumidores de energia elétrica de outras regiões atendidas pelo Sistema Interligado Nacional – SIN tornou-se uma preocupação para o Governo Federal, que estabeleceu sua extinção em 2022, conforme artigo 18, parágrafo 3º da Lei 10.438/2002. A referida Lei, também, estabelece que até essa extinção, deverão ser desenvolvidos “mecanismos que induzam à eficiência econômica e energética, à valorização do meio ambiente e à utilização de recursos energéticos locais, visando atingir a sustentabilidade econômica da geração de energia elétrica nestes sistemas, ao término do prazo estabelecido.” O elenco de obras de expansão dos sistemas de transmissão, inseridas no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, do Governo Federal, tais como a interligação Tucuruí-Manaus, a interligação JauruVilhena e, a nível estadual no Pará, a interligação da Ilha do Marajó, possibilitarão a desativação dos grandes sistemas isolados, que atendem as capitais: Manaus, Porto Velho, Rio Branco e Macapá, assim como a totalidade das sedes municipais da Ilha do Marajó, desse modo abrangendo diversos sistemas isolados ao longo das áreas de influência dos trajetos das linhas de transmissão. Essas cargas respondem por aproximadamente 75% do valor da CCC, que em 2008 chegou a um valor da ordem de R$3,5 bilhões. Porém, as características geográficas da Região Norte exigem que diversos pequenos sistemas isolados permaneçam em operação, como também, em decorrência dos programas de universalização de energia elétrica, outros sistemas isolados ainda serão implantados em períodos posteriores à extinção do subsídio da CCC. Dessa forma, constistui-se num desafio para o setor elétrico nacional a busca pela sustentabilidade desses sistemas, conforme previsto na legislação. Figura 1 – Área de influência dos sistemas de trnasmissão planejados e em implantação na região Norte. (Fonte: ELETROBRÁS 2005 e CELPA 2008) Figura 2 – Área de influência dos sistemas de transmissão planejados e em implantação no Estado do Pará. (Fonte: ELETROBRÁS 2008 e CELPA 2008) A Figura 1 apresenta uma visão geral da área de influência dos projetos de expansão dos sistemas de transmissão na Região Norte, destacando os sistemas isolados que apresentam potencial para interligação, por estarem localizados nessas áreas de influência dos sistemas de transmissão. A Figura 2 mostra, no caso particular do Estado do Pará, a possível redução de sistemas isolados decorrente das obras de expansão dos sitemas de transmissão. 2 OBJETIVO O presente trabalho visa demonstrar, por meio de um projeto piloto a ser implantado em um dos pequenos sistemas isolados, já em operação na Região Norte, a importância da eficiência energética para dotar de sustentabilidade esse tipo de sistema, que, por impossibilidades técnico-econômicas, não serão integrados ao Sistema Interligado Nacional. Primeiramente, serão implantadas medidas de eficientização nos segmentos de geração, distribuição e comercialização de energia elétrica, com seus impactos devidamente monitorados e analisados, até a posterior implantação de outras medidas, no sentido de avaliar a sustentabilidade desses sistemas sem o subsídio da CCC. 3 Para formação de uma consciência de uso racional e eficiente da energia elétrica, devem ser implementadas as seguintes ações: ABORDAGEM DO PROBLEMA a) promoção de cursos e treinamentos para formação e capacitação de pessoal para formulação de campanhas educativas voltadas para orientação da população sobre o uso eficiente da energia elétrica, b) capacitação técnica e conscientização do corpo técnico dos agentes envolvidos, no sentido de consolidar a consciência da eficiência energética na operação e manutenção dos sistemas. A sustentabilidade dos pequenos sistemas isolados deve, necessariamente, passar por 3 (três) eixos de ações principais: • aumento da eficiência, para a redução e/ou eliminação dos desperdícios na produção, distribuição e comercialização da energia elétrica; • redução da dependência do uso de combustíveis fósseis; • formação de uma consciência de uso racional e eficiente da energia elétrica. O objetivo final é a transformação da matriz energética do sistema isolado, saindo da situação de produção de energia unicamente com base em combustível fóssil subsidiado pela CCC, para uma matriz diversificada e eficientemente consumida, conforme mostra a Figura 3. EVOLUÇÃO DA MATRIZ EMERGÉTICA TERMICA CONVENCIONAL CCC As medidas a serem adotadas em cada eixo de ações são relacionadas a seguir: Para aumento da eficiência • Na produção de energia serão implementadas as seguintes ações: a) Otimização da modulação das unidades geradoras convencionais; b) Otimização dos despachos das unidades geradoras nas usinas; c) Adoção de equipamentos de geração mais eficientes; d) Incentivo à utilização de autoprodução a nível micro (domiciliar) e de geração distribuída; e) Incentivo aos sistemas de co-geração. • Na distribuição e comercialização de energia devem ser implementadas as seguintes ações: a) Redimensionamento das redes de distribuição; b) Compensação reativa das redes; c) Utilização de tecnologia de redes compactas isoladas ou protegidas; d) Redução das perdas não técnicas e dos custos operacionais na comercialização da energia elétrica; e) Incentivo à eficiência pelo lado da demanda. Para redução da dependência de combustíveis fósseis, devem ser implementadas as seguintes ações: introdução, sempre que possível, do uso de biocombustível, na geração térmica convencional; b) introdução de outras fontes, preferencialmente renováveis, formando um mix de geração (sistemas híbridos), adequado às características de cada sistema. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ENERGIA RENOVÁVEL 100% TÉRMICA CONVENCIONAL CCC BIOCOMBUSTÍVEIS GERAÇÃO DISTRIBUÍDA OUTROS TÉRMICA CONVENCIONAL Figura 3 – Proposta de transfomação da matriz energética do Sistema Isolado. 4 PLANO PARA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO PILOTO O projeto será implantado de forma escalonada, consistindo das seguintes etapas: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. coleta de dados (conhecimento do sistema); elaboração de diagnósticos; definição das soluções a serem adotadas; implantação das medidas e tecnologias definidas; acompanhamento do desempenho; análise dos resultados; implementação de medidas corretivas. a) A implantação das soluções a serem adotadas deverá ser efetuada por grau crescente de dificuldade, ou seja, primeiramente serão implantadas as soluções com maior facilidade de implementação, sob os aspectos técnicos e financeiros. Portanto, deverá ser definido uma lista de prioridades de soluções. A implantação do projeto piloto deve obedecer as seguintes etapas, com respectivas composições: a) Planejamento • Coleta de dados; • Elaboração de diagnósticos; • Definição das medidas a serem implantadas. b) Implantação das medidas estudadas: • Definição da aplicação; • Instalação dos equipamentos e/ou sistemas. c) instalada menor que 1.000 kW e ter menos de 2.500 consumidores). O sistema isolado, em operação que melhor atende aos requisitos definidos é o de Aveiro, que pertence à mesorregião Sudoeste Paraense e à microrregião Itaituba. A sua localização geográfica é mostrada na Figura 5. A usina, localizada na sede municipal de Aveiro, apresenta uma potência instalada de 624 kW, atendendo 1.454 consumidores. Monitoramentos: • Obtenção dos dados relacionados às medidas implantadas; • Análises de resultados. d) Medidas corretivas: • Avaliação do desempenho e definição de possíveis medidas corretivas. A forma de implantação das etapas deverá obedecer a sistemática de melhoria contínua, adotada em processos de qualidade, denominada PDCA(sigla dos termos em inglês: Plan, Do, Check, Act), onde cada medida passa pelas etapas acima descritas, tendo as respectivas análises de desempenho efetuadas para verificação da eficácia e efetividade das medidas implantadas, conforme mostrado na Figura 4. Figura 5 – Localização geográfica do sistema isolado de Aveiro. 6 RESULTADOS ESPERADOS IMPLANTAÇÃO DAS MEDIDAS ESTUDADAS MONITORAMENTOS MEDIDAS CORRETIVAS PLANEJAMENTO Figura 4 – Etapas de implantação do projeto piloto de avaliação da sustentabilidade dos sistemas isolados. 5 LOCAL DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO PILOTO Na seleção do local para implantação do projeto piloto foram adotadas as seguintes premissas: estar localizado no estado do Pará, receber combustível subsidiado pela CCC (objetivo principal do estudo da sustentabilidade), não apresentar perspectivas de interligação em médio prazo por meio de sistemas de distribuição ou transmissão, e ser de pequeno porte (com potência Com a implantação do projeto piloto conforme proposto no presente trabalho, espera-se a obtenção de dados e informações técnicas precisas e consistentes sobre as peculiaridades dos sistemas isolados de pequeno porte, assim como a possibilidade de coletar dados que possibilitem uma adequada avaliação dos impactos decorrentes da introdução de cada uma das medidas definidas, para prover de sustentabilidade os referidos sistemas. A relação a seguir apresenta a síntese dos resultados esperados com a implantação do projeto piloto objeto deste trabalho: 1. Conhecimento das características gerais e peculiaridades dos pequenos sistemas isolados; 2. Análise dos dados para definição das medidas a serem implementadas para promoção da sustentabilidade; 7 3. Obtenção de dados precisos sobre desempenho de cada medida implantada; o 4. Avaliação das alternativas mais viáveis para dotar sistemas de mesma natureza de sustentabilidade, após a extinção dos benefícios da CCC; 5. Estudos para análise do potencial de replicação das medidas mais bem sucedidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL Lei 9.648, de 27 de maio de 1998. BRASIL Lei 10.438, de 26 de abril de 2002. BRASÍLIA ANEEL Resolução nº. 163, de 1º de agosto de 2005. RIO DE JANEIRO ELETROBRAS, GTON Plano Anual de Combustíveis - Sistemas Isolados 2009. RIO DE JANEIRO ELETROBRAS, GTON Web Site, áreas de atuação, geração, sistemas isolados, mapas eletrogeográficos 2005 e 2008. BELÉM PARÁ, Conde, Claudio L. da Rocha. Análise de Dados e Indicadores Para a Regulação de Usinas Termelétricas do Sistema Isolado, UFPA, Tese de Doutorado em Engenharia Elétrica. 2006