cine fátima – monografia de ângela dos santos meira – out

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cine fátima – monografia de ângela dos santos meira – out
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB/CAMPUS VI
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH
COLEGIADO DE HISTÓRIA
ÂNGELA DOS SANTOS MEIRA
O CINEMA DE BRUMADO ENQUANTO ESPAÇO DE LAZER E
SOCIALIZAÇÃO: O CINE TEATRO FÁTIMA
Caetité, BA,
2014
ÂNGELA DOS SANTOS MEIRA
O CINEMA DE BRUMADO ENQUANTO ESPAÇO DE LAZER E
SOCIALIZAÇÃO: O CINE TEATRO FÁTIMA
Monografia apresentada ao curso de História, na
disciplina Pesquisa Histórica IV, como Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) e requisito parcial para a
obtenção do título de Licenciada em História.
Orientação: Prof.
Nascimento.
Caetité, BA,
2014
Me.
Jairo
Carvalho
do
MEIRA, Ângela dos Santos.
O cinema de Brumado enquanto espaço de lazer e socialização: o Cine Teatro Fátima
– Caetité, 2014.
60 p.
Orientador: Profº. Mestre Jairo Carvalho do Nascimento.
Monografia de conclusão de graduação em História – Universidade do Estado da Bahia –
Campus VI, 2014.
1. O cinema de Brumado enquanto espaço de lazer e socialização: o Cine Teatro
Fátima. I. Universidade do Estado da Bahia. II. MEIRA, Ângela dos Santos. III. Título.
ÂNGELA DOS SANTOS MEIRA
O CINEMA DE BRUMADO ENQUANTO ESPAÇO DE LAZER E SOCIALIZAÇÃO:
O CINE TEATRO FÁTIMA
Monografia apresentada ao curso de História, na
disciplina Pesquisa Histórica IV, como Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) e requisito básico para a
obtenção do título de Licenciada em História.
Aprovada em 14 de Agosto de 2014.
________________________________________________
Prof. Me. Jairo Carvalho do Nascimento (orientador)
Doutorando em História Social. (UFBA)
________________________________________________
Prof. Me. Alex dos Santos Guimarães.
Mestre em Teoria Literária e Critica da Cultura. (UFSJ)
________________________________________________
Prof. Me. Joslan Santos Sampaio.
Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade. (UESB)
Caetité, BA,
2014
Dedico
a
todos
brumadenses,
meus
conterrâneos, sobretudo ao Sr. José de Souza
Ribeiro, proprietário do Cine Teatro Fátima.
AGRADECIMENTOS
É chegada a hora de agradecer a todos aqueles que colaboraram de alguma forma para
a realização dessa pesquisa, para a escrita desta monografia. Agradeço, primeiramente, à
Deus, pela força e benção. Em seguida, a minha família, por se orgulharem de mim, em
especial a minha avó paterna Durvalina (in memoriam), aos meus pais, que apesar da
distância, estiveram sempre ao meu lado e nunca mediram esforços para me ajudar,
acompanhando-me em todas as barreiras, independente dos obstáculos enfrentados; aos meus
irmãos, Daiane, Darlan e Dalvan, que me influenciaram a prosseguir com meus estudos.
Ao Sr. José de Souza Ribeiro (Zuzu), proprietário do Cine Teatro Fátima, aos seus
filhos pelo apoio e confiança nesta pesquisa, e aos frequentadores desse cinema, Joaquim,
Josafá, Julita Cardoso e José Maria, pois eles me concederam grandes entrevistas,
depoimentos importantes que contribuíram para a finalização dessa pesquisa.
À todos os colegas que me acompanharam durante essa jornada, e aos professores do
Departamento de Ciências Humanas da UNEB/Campus VI, sobretudo os docentes do curso
de Licenciatura em História, em especial a Marcos Profeta e Lielva Aguiar, por terem feito a
diferença, em suas disciplinas, na produção do conhecimento durante a minha pesquisa, aos
quais tenho grande admiração e respeito. Ao meu orientador, Prof. Jairo Carvalho do
Nascimento, pelas observações atentas e cuidadosas, pela paciência e dedicação ao contribuir
com seus conhecimentos durante as orientações, pois, mesmo licenciado para o Doutorado,
sempre permaneceu presente e demonstrou interesse por essa pesquisa.
Ao meu amigo Tarciso Cunha, grande exemplo de ser humano, pessoa a quem tenho
muita admiração e carinho, pois foi um dos que me influenciaram a ingressar numa
Universidade, incentivando-me a realizar o vestibular da UNEB em 2010.
À Universidade do Estado da Bahia, por tudo, pelos eventos realizados no momento
de minha graduação, atividades importantes para a minha formação, e por me conceder, a
partir do meu curso, o título de Licenciada em História, de me tornar uma profissional em
História, apta para atuar no ensino e na pesquisa, como professora/historiadora ou
historiadora/professora.
“Ir ao cinema é uma prática codificada e
datada. Não apenas traduz um hábito, mas
revela formas de frequentação e distinção
social, fruição estética, imaginações sobre a
diversão e a cultura. Sua organização, ainda
que tenha por base modelos estrangeiros, toma
em cada local aspectos próprios que revelam
amálgamas culturais e sociais”.
Sheila Schvarzman, historiadora (RBH, n. 49,
p. 154).
RESUMO
Este trabalho monográfico, resultado de pesquisa de TCC, pretende apresentar a memória do
Cine Teatro Fátima entre as décadas de 1960 e 1980 na cidade de Brumado (BA), levando em
consideração os aspectos de socialização e lazer que esta sala de cinema proporcionava. Para
atingir tal objetivo, analisaremos os seguintes pontos: a trajetória de seu fundador e
proprietário, José de Souza Ribeiro, os gêneros de filmes mais exibidos, a sala de cinema
como um espaço de lazer e socialização e o perfil de seus frequentadores, dentre outros temas.
Entre os documentos identificados para a pesquisa e coletados destaca-se dados do IBGE
referente ao município de Brumado, a fonte oral, com depoimentos de frequentadores da sala
e, em especial, do senhor José de Souza Ribeiro, fotografias, imagens de Brumado e de
atividades culturais realizadas no interior da sala de cinema, e filmes exibidos durante seu
período de funcionamento.
Palavras-chave: História de Brumado – Cinema – Socialização-Memoria.
ABSTRACT
This monograph paper is the result of TCC research, it intends to present the history of the
Cine Teatro Fátima between the 1960s and 1980s in the city of Brumado (BA), taking into
consideration the aspects of socialization and recreation that cinema provided. To achieve this
goal, we will analyze the following points: the history of its founder and owner, José Souza
Ribeiro, the genres of films most shown, movie theater as a place of leisure and socialization
and their regular audiences, among other topics. Among the documents identified and
collected for research highlights the oral source, with testimonials from attendees of the room
and, in particular, of Mr. José de Souza Ribeiro, pictures of Brumado and cultural activities
displayed in the theater, movies shown during the period of operation of the same and some
IBGE data regarding the city of Brumado.
Keywords: History of Brumado - Cinema – Socialization – Memory.
LISTA DE TABELAS, QUADROS E ILUSTRAÇÕES
As fotografias foram coletadas e reproduzidas de acervos pessoais de algumas famílias
de Brumado.
Tabela 01 – Censo agrícola de 1960 ................................................................................... p. 17
Quadro 01 – Expansão das salas de cinema ........................................................................ p. 25
Figura 01 – Fachada do Cine Teatro Fátima ....................................................................... p. 30
Figura 02 – Fachada do Cine Teatro Regina ....................................................................... p. 30
Figura 03 – Cartaz do Cine Teatro Fátima .......................................................................... p. 32
Figura 04 – Show de Wanderley Cardoso no interior do Cine Teatro Fátima .................... p. 39
Figura 05 – Show de calouros em comemoração ao dia das mães ...................................... p. 43
Figura 06 – Colação de Grau do 3º magistério ................................................................... p. 44
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. p. 11
1. BRUMADO: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE SUA HISTÓRIA ................. p. 16
2. CINEMA E HISTÓRIA: A CHEGADA DA ARTE CINEMATOGRÁFICA EM
BRUMADO ........................................................................................................................ p. 21
2.1. As primeiras salas de cinema no Brasil ............................................................................... p. 20
2.2. O Cine Teatro Fátima em Brumado ............................................................................. p. 26
2.2.1 José de Souza Ribeiro e a fundação do Cine Teatro Fátima ................................... p. 26
2.2.2 Estrutura: recursos materiais e competência na mão de obra .................................. p. 29
3. O CINEMA COMO SINÔNIMO DE MODERNIDADE EM BRUMADO ............ p. 34
3.1 Ambiente de lazer e socialização: quem, o cinema?! ...................................................p. 34
3.2 Namorar na escuridão da cidade ou no escurinho do cinema? .................................... p. 38
3.3 Festas e risos no Cine Teatro Fátima ........................................................................... p. 39
3.4 Sala e exibição: um mergulho nas sessões de filmes .................................................. p. 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... p. 48
FONTES E BIBLIOGRAFIAS ........................................................................................ p. 50
ANEXO .............................................................................................................................. p. 54
INTRODUÇÃO
A princípio, é importante ressaltar nossa trajetória durante a realização desse trabalho
de pesquisa. Inicialmente, o objeto de investigação seria outro, pesquisar algo sobre as
relações de poder da Família Meira na cidade de Brumado-BA, uma das primeiras a
povoarem essa região, conhecida no século XVII como Bom Jesus dos Meira.
Por conta da não localização de fontes sobre esse primeiro tema, surgiu a necessidade
de pensar em algo que pudesse ser pesquisado. E foi a partir de uma visita ao Arquivo
Histórico Municipal de Brumado (AHMB) que apareceu a oportunidade de encontrar um
outro tema, que despertou nossa veemência: foi o momento em que nos deparamos com um
projetor de um cinema existente na cidade de Brumado-BA, o Cine Teatro Fátima. Em
seguida, descobrimos também que existia um arquivo particular do proprietário dessa sala de
cinema, do Sr. José de Souza Ribeiro (Zuzu). Essa descoberta nos estingaram a trilhar esse
caminho, pesquisar essa sala de cinema.
Essa trajetória em busca de um tema resultou agora nesta monografia, intitulada O
cinema de Brumado enquanto espaço de lazer e socialização: o Cine Teatro Fátima, primeiro
estudo acerca desse tema. Almejamos apresentar a história do Cine Teatro Fátima entre as
décadas de 1960 e 1980 na cidade de Brumado (BA), levando em consideração os aspectos de
socialização e lazer que esta sala de cinema proporcionava para a população brumadense. Foi
uma das primeiras opções de lazer existente nessa cidade do Sudoeste baiano.
Para atingir tal objetivo, e organizar didaticamente o texto, dividimos a monografia em
3 capítulos que, por sua vez, estão organizados em tópicos.
O primeiro capítulo, Brumado: breves considerações sobre sua história, tem por
objetivo expor de forma breve os aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais da cidade
para compreender como se encontrava este município antes da fundação do Cine Teatro
Fátima.
O segundo capítulo, Cinema e história: a chegada da arte cinematográfica em
Brumado, é composto por 2 tópicos. O primeiro faz uma rápida apresentação sobre as
primeiras salas de cinema no Brasil, os cinemas das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo,
por serem as primeiras capitais a receberem esse lazer, e a seguir situa-se em alguns cinemas
do Estado da Bahia, em especial nas cidades de Salvador, Caetité, Guanambi e, por fim,
Brumado. No segundo tópico, analisaremos o Cine Teatro Fátima, sua fundação, o papel
11
social do seu proprietário, José de Souza Ribeiro (Zuzu), a sua estrutura física e as formas de
sua administração.
Nas linhas do terceiro e último capítulo, O cinema como sinônimo de modernidade em
Brumado, há tópicos que, a partir de algumas inquietações, interpreta o Cine Teatro Fátima
como algo inovador durante sua existência no que concerne ao lazer e a socialização na
cidade de Brumado, já que ele foi um ambiente de memória. O cinema passou a ter também a
preferência dos jovens, que namoravam no escurinho do cinema, porque até então, na cidade,
não havia fácil acesso à energia elétrica, fator que talvez tenha dificultado o acesso e
relacionamento das pessoas em outros lugares, sendo o cinema, a melhor das opções. Neste
capítulo ainda há um amplo estudo sobre as atividades sociais e culturais que ocorriam no
interior do cinema, desde as noites de música com shows de cantores renomados, às manhãs
com apresentações de calouros e festas comemorativas, até ao mergulho nas sessões de filmes
que aconteciam em dois turnos, uma à tarde, horário de matinê para o público infantil, e a
segunda à noite, destinada para adultos.
Deste modo, é importante compreender como o cinema tem se tornado objeto de
pesquisa dos historiadores, já que na época de seu surgimento ele não era objeto de interesse
desses profissionais, era considerado apenas um divertimento, ou seja, um simples ambiente
de lazer. Não possuía o estatuto de documento histórico, ou nas palavras de Marc Ferro,
quando refere-se que o cinema “era considerado como uma espécie de atração de quermesse,
o Direito nem sequer lhe reconhecia (...) O historiador não poderia se apoiar em estudos dessa
natureza” (1992, p. 83).
No entanto, esse panorama começaria a mudar na França, em 1929, com a criação da
Escola dos Annales, fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch, que rompeu completamente
com a historiografia tradicional e inaugurou uma nova compreensão de história, que trouxe
considerações enriquecedoras sobre as fontes. Diferente dos historiadores positivistas, que
limitavam suas pesquisas à história acontecimental, uso apenas dos documentos oficiais como
fonte de pesquisa e preocupação com os grandes acontecimentos políticos, a Escola dos
Annales buscava uma compreensão mais abrangente, profunda e totalizante do Homem, o que
o levou a adicionar novos objetos, métodos e abordagens ao ofício do historiador (BURKE,
1991).
O principal responsável dessa renovação para o objeto desta pesquisa foi o historiador
Marc Ferro que, a partir da década de 1960, introduz o estudo do cinema como um novo
campo da pesquisa histórica, a relação Cinema/História, que faz parte de uma área maior, a
chamada História cultural. (FERRO, 1992). Essa sua inovação ampliou os estudos históricos:
12
A partir dessa aproximação e por conta de mudanças nos estudos históricos e nos
estudos cinematográficos, e a partir dos anos 1970/80, estudiosos de cinema buscam
métodos históricos de análise, e historiadores voltam-se para a atividade
cinematográfica como objeto de interesse (SCHVARZMAN, 2007, p. 15).
Nesse sentido, Guarinello diz que a História Cultural tem apontado para o fato
cinematográfico, porque o cinema traduz práticas sociais e revela momentos do cotidiano,
visto que ele é o lugar da aferição de sensibilidades e de representações:
Dentre a grande diversidade dos estudos que podem ser classificados como de
História Cultural, aqueles dedicados à chamada História da Vida Privada ou História
do Cotidiano apresentam uma característica particularmente relevante para
avaliarmos os impasses da historiografia contemporânea. (GUARINELLO, 2004, p.
21)
Realizar estudos a respeito de Cinema/História, necessita também ir além, e não
abranger apenas a história das práticas de projeção de imagens, mas também a história das
salas de cinema.
Esta pesquisa segue os passos abertos por outros trabalhos que elegeram as salas de
cinema, a experiência e a prática social de ir ao cinema como objetos de estudos. Dentre esses
estudos, citamos, a título de exemplo, os seguintes trabalhos: Salas de cinema em São Paulo
(1990), de Inimá Simões; Pequena história das salas de cinema na cidade de São Paulo
(1992), de José Inácio de Melo Souza; Palácios e poeiras: 100 anos de cinema no Rio de
Janeiro (1996), de Alice Gonzaga; Ir ao cinema em São Paulo nos anos 20 (2005), de Sheila
Schvarzman; A segunda Cinelândia carioca: cinemas, sociabilidade e memória na Tijuca
(2009), de Talitha Ferraz; Fazendo fita: cinematógrafos, cotidiano e imaginário em Salvador
(1897-1930) (2002), de Raimundo Nonato da Silva Fonseca; e Ei, broto, vamos ao cinema?: o
Cine-teatro Irapuã e a sociabilidade em Itororó-BA nas décadas de 60 e 70 (2009), de
Clédson Luciano Miranda dos Santos.
Do ponto de vista teórico, essa pesquisa procura se fundamentar em alguns campos da
História e áreas afins. Por um lado, aproxima-se das discussões que fundamentam o território
da História Cultural e dos Estudos Culturais, uma vez que a pesquisa trabalha com temas
relacionados às práticas sociais (formas de sociabilidade e cotidiano) e as fontes imagéticas,
como filmes e fotografias (filmes exibidos no Cine Teatro Fátima, fotografias de atividades
sociais). Nesse sentido, ganha destaque o estudo do pesquisador australiano, especialista em
Estudos Culturais, Graeme Turner, autor do livro Cinema como prática social (1997), em que
13
aborda o “cinema como entretenimento, narrativa e evento cultural” (p. 11). Utilizaremos este
livro nessa perspectiva de entender a experiência de ir ao cinema em Brumado.
No campo da relação Cinema/História, buscaremos subsídios gerais para entendermos
a relação filmes e espectadores, filmes exibidos e a recepção dos moradores de Brumado.
Basearemos nossas leituras nas contribuições de Marc Ferro (1992) e Michèle Lagny (2009).
Em uma perspectiva sociológica, procuraremos nos aproximar do campo da Sociologia do
Lazer, para analisar as motivações e práticas sociais dos brumadenses desenvolvidas nesse
lazer de ir ao cinema, de participar de outras atividades sociais no espaço do Cine Teatro
Fátima. Para isso, utilizaremos o livro de Gilles Pronovost, Introdução à sociologia do lazer
(2011), autor que estuda as diversas formas de entretenimento e lazer dos indivíduos em
sociedade.
Em relação as fontes, são de três tipos principais, que compõem o corpus documental
da monografia: a de ordem imagética, fotografias, as mais significativas para a elaboração do
texto, a de ordem escrita, livros e artigos sobre cinema, e a de ordem oral, depoimentos de
sujeitos importantes que fizeram a história cultural da cidade de Brumado. A fonte oral teve
um peso importante para a pesquisa. Notamos essa prática em outros estudos desse tipo, como
na dissertação de André Malverdes, O fechamento das salas de cinema na cidade de Vitória e
a política da Embrafilme para a produção do cinema nacional, na qual ele reforça a
importância dos depoimentos para a sua pesquisa:
Muitas vezes estão nos detalhes as maiores riquezas do depoimento. Essas memórias
são a matéria da história e podem vir à tona através de estímulos diretos, que
geralmente denominamos de memória voluntária. Por isso, durante as entrevistas
sempre apresentamos fotografias, e informações a fim de avivar as lembranças dos
entrevistados. (2007, p.1)
Seguramente a fonte oral, fruto da técnica da História Oral, dá a palavra aos
esquecidos, excluídos, homens e mulheres “comuns”. Essas vozes contribuem como fonte
documental importante para a pesquisa histórica:
O uso de fontes orais nos permite (...), por um lado, um aprofundamento na história
de grupos sociais que, por razões diversas, estiveram marginalizados ou quase
ausentes das fontes documentais escritas; de outro lado, nos permite penetrar na
percepção do processo histórico feita por indivíduos ou grupos concretos.
(ALCAZAR i GARRIDO, 2003, p. 43).
Do ponto de vista metodológico, trabalharemos essas fontes problematizando-as cada
uma a seu modo e, depois, realizaremos o cruzamento crítico desses documentos com o
14
objetivo de reconstruir parcialmente o contexto cultural que rodeava o Cine Teatro Fátima em
Brumado. Em relação ao marco temporal que delimita o nosso objeto, informamos que ele se
situa entre os anos de 1964, ano de fundação do cinema, e o ano de 1988, ano do fechamento
regular de suas atividades. Segundo depoimentos de seu proprietário e de seus filhos, nos anos
seguintes, excepcionalmente, o cinema exibia alguns filmes de forma esporádica. Veio a
fechar totalmente no início da década de 1990.
Esta monografia, por fim, trata da história de uma sala de cinema fundada em 1964 no
interior da Bahia, na cidade de Brumado, o Cine Teatro Fátima, e da rede de sociabilidades
que ele construiu. Partiremos de algumas interrogações: O que levou o seu proprietário, José
de Souza Ribeiro, a fundá-lo? Que motivos levavam as pessoas a frequentá-lo? Que práticas
sociais se estabeleciam em torno desse cinema? O Cine Teatro Fátima foi uma opção de lazer
para a sociedade de Brumado? São diversas as inquietações a respeito desses pontos. A nossa
pretensão, de modo geral, é ver a importância desse cinema para a vida cultural da cidade de
Brumado.
15
1. BRUMADO: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE SUA HISTÓRIA
De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (1950), Brumado, município
baiano, situava-se em terras que pertenceram à Fazenda do Campo Seco, a qual o padre André
Antunes da Maia herdou de seu pai, João Antunes Moreira, e a vendeu em 30 de junho de 1749
a José de Souza Meira. Com o decorrer dos anos, criou-se uma pequena povoação que adotou o
nome de Bom Jesus dos Meiras, que seria mais tarde a sede do município de Brumado. Em 11
de junho de 1877, pela Lei Provincial n. 1.756, o povoado foi elevado à categoria de Vila e
criado o município desmembrado de Caetité. A instalação administrativa do município ocorreu
em 11 de fevereiro de 1878. O nome de Brumado ocorreu na década de 1930: “Por força dos
Decretos estaduais n° 7455, de 23 de junho de 1931, e 7.479, de 8 de julho do mesmo ano, o
município passou a denominar-se Brumado, figurando na divisão administrativa do Brasil (...)”
(Enciclopédia dos Municípios Brasileiros,1958, p. 90-91). Por não conseguirmos encontrar e
ter acesso as fontes que versassem sobre a família Meira em Brumado, primeiros habitantes a
povoarem essa região e intitulá-la como Bom Jesus dos Meiras (Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros, 1958, p. 92), foi impossível discorrer com maiores informações sobre a sua
participação na história do município, o que seria importante para a compreensão da história
política de Brumado. Este ponto, não sendo prioritário para os objetivos da pesquisa, fica para
outro momento.
Geograficamente, o município de Brumado está situado na região Sudoeste da Bahia,
numa área conhecida como Zona Fisiográfica da Serra Geral. Atualmente, Brumado tem
fronteiras com nove municípios, dentre eles Caetité, Rio de Contas e Tanhaçu. Em relação a
sua população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
1950 Brumado contava com um total de 36.631 habitantes. Para 1957, a estimativa girava em
torno de 45.000 habitantes (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1958, p. 92). Atualmente,
segundo o IBGE, de acordo com o Censo Populacional de 2013, Brumado conta com uma
população aproximada de 68.776 habitantes1.
Com relação as atividades econômicas, pelo o que consta no recenseamento de 1960, as
atividades econômicas eram a agricultura, a pecuária e a tecelagem. Nesse município havia
também a produção industrial extrativa de mineral na empresa Magnesita, a produção de
aguardente de cana, couros, peles e tijolos, pois, a população desenvolvia a agricultura, a
1
Nas coletamos os dados populacionais da década 1960. Em 1964, ano de inauguração do Cine Teatro Fátima, a
população deveria estar situada, provavelmente, em torno de 50.000 pessoas. Conferir Censo Populacional de
2013 no site do IBGE: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=290460&search=bahia.
16
pecuária e também a tecelagem. Sobre a empresa implantada na cidade, um de seus moradores,
José Maria, recorda em entrevista que “a Magnesita foi muito importante, gerou muito emprego
(...)”2.
Tabela 01- Censo Agrícola de 1960 - Zona da Serra Geral na Bahia
10 Propriedades de
terra.
Estabelecimentos e área, segundo a propriedade das terras, inclusive os
estabelecimentos sem declaração de propriedade.
Zonas fisiográficas
e municípios
Total
Condomínio e sociedade de
pessoas
Individual
Estabeleci Área (ha)
mentos
Estabelecimentos
Zona da Serra
Geral
35.555
1.038.875
33.817
Brumado
2.996
153.340
2.953
Área
(ha)
Estabelecimentos Área (ha)
992.993
1.639
149.785
43.313
33
1.831
Estabelecimentos e área, segundo a propriedade das terras, inclusive os estabelecimentos sem declaração
de propriedade.
Sociedade anônima
Sociedade Limitada e
cooperativa
Estabelecimentos
Instituição religiosa.
Área
(ha)
Estabelecimentos
Área
(ha)
Zona da
Serra Geral
12
1798
1
60
Brumado
9
1714
-
-
Entidade pública
Estabelecimentos
86
1
Área (ha)
711
10
Fonte: APMC - Arquivo Público Municipal de Caetité. (IBGE, 1960, p. 20)3
2
Depoimento de José Maria Viana Machado. Cidadão de 92 anos, nascido na cidade de Brumado, atualmente
reside sozinho no mesmo endereço onde viveu com a família, (pais e irmãs), no Centro da cidade, na Pça.
Armindo Azevedo, localizada nas proximidades da Igreja Matriz desta cidade.
3
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estabelecimentos e área, segundo a
propriedade das terras, inclusive os estabelecimentos sem declaração de propriedade. Censo Agrícola de 1960Bahia. VII Recenseamento Geral do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1960, p. 20
17
Com isso, desejamos ressaltar as informações referentes a questão econômica local, em
especial a agricultura, realidade a qual podemos observar nos quadros acima. Sobre isso, o
censo aponta com base nas propriedades de terra, o número de estabelecimentos e qual o total
de cada área nesse período. Os dados podem ser considerados satisfatórios para a percepção de
parte das atividades econômicas desenvolvidas no município de Brumado em 1960.
No campo político, o prefeito de Brumado na época da inauguração da sala de cinema
Cine Teatro Fátima, era o Sr. Armindo dos Santos Azevedo. Era comerciante e pecuarista. Sua
gestão foi de 1963 a 1967. Antes, havia exercido dois mandatos, e foi o primeiro prefeito eleito
pelo voto direto no município, no ano de 1947, pela UDN: de 1948 a 1951; e de 1955 a1959.
Em suas gestões, realizou ações no abastecimento de energia elétrica e água para a cidade de
Brumado, além de pavimentar ruas e praças. Na década de 1980, momento da crise do Cine
Teatro Fátima, o prefeito era o médico Juracy Pires Gomes, entre os anos de 1983 a 1989. Era
seu segundo mandato. Entrou na política na década 1960, pelas mãos do Sr. Armindo dos
Santos Azevedo, ocasião em que elegeu-se prefeito para o mandato de 1967 a 1971. Realizou
obras como a construção da prefeitura nova, da Biblioteca Municipal, do novo mercado
municipal, construção da barragem do Rio do Antônio, etc. Foram dois nomes de destaque na
história política do município de Brumado, contemporâneos do cinema de Seu Zuzu4.
No campo cultural, surgiu em Brumado, por volta de 1950, o Cine Cairu, o primeiro
cinema da cidade, “com lotação de 203 cadeiras (...)” (Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros,1958, p. 94). Localizava-se no centro da cidade, na Av. Coronel Tibério Meira.
Realizava-se pequenas exibições de filmes. Sobre isso, relembra o projetista brumadense, José
Maria: “O primeiro cinema foi o Cine Cairu, na década de 1950. Eufrásio Torres que era o
proprietário; o nome era uma homenagem a praça Cairu, em Salvador, era de 16 mm”5. Porém,
algumas pessoas não consideraram-no enquanto tal, por vê-lo de menor porte, se comparado
aos outros existentes nessa época, em outras cidades. Observemos a seguinte explicação:
No Cine Cairu a bitola da fita era 16 mm, [...] e naquela época, no Brasil já surgiu
uma bitola de 70 mm, uma bitola diferente, e aqui não existia...Em Salvador, Feira de
4
Fontes: “Brumado: Juracy Pires – Ação e trabalho”. Revista Panorama da Bahia, Feira de Santana, ano 6, n.
110, 25 out.1988. Outras informações no seguinte site: http://www.brumadonoticias.com.br/antigo/tag/armindodos-santos-azevedo/; mais um link p/ pesquisa:
http://www.brumadoagora.com.br/noticias/3078-2013/04/21/biografia-armindo-azevedo-.
Acesso
em
01/08/2014.
5
Depoimento de José Maria Viana Machado.
18
Santana e Vitória da Conquista, já existia o cinema com a projeção de 70 mm,
estereofônico, estéreo, com um som estéreo, de qualidade.6
Portanto, sabemos que era algo muito comum ver as primeiras exibições de filmes se
iniciarem em ambientes menores, através das projeções curtas em películas de 16 mm, e, não
tão atrativas. Esses foram fatores que levaram muitas pessoas a chegarem a conclusão de que
espaços como esses não deveriam ser considerados como cinema, por entender que neles não
aconteciam outras atrações à não ser as simples projeções de filmes.
Devemos compreender que a chegada do cinema se deu por meio de etapas, já que nada
surge de forma acelerada e simples, mas sim através de processos devidamente lentos e
complexos. Para se chegar ao que conhecemos hoje enquanto cinema, foi necessário que
houvesse várias etapas, ou seja, um passo por vez. E em Brumado, o Cine Cairu é um exemplo
dessas etapas, já que o mesmo também exerceu papel fundamental no advento da arte
cinematográfica neste município, que posteriormente avançou com a chegada do Cine Teatro
Fátima.
Infelizmente, o Cine Cairu permaneceu por pouco tempo, o que acabou por restar apenas
as praças como os espaços de lazer da população brumadense. Outra atividade de lazer, a
funcionar no centro da cidade, foi a divulgadora, que tinha um quadro chamado “Programa a
Voz de Brumado” (PRVB). Era uma rádio local, que divulgava notícias de interesse da
comunidade. Mas anunciava também recadinhos de amor, cartas de amor e oferecimento de
músicas. Sobre essa “forma” de entretenimento, aos quais homens e mulheres percorriam a
praça próxima ao local da rádio, um dos responsáveis pela divulgadora, Seu Zé Maria,
informou: “(...) tinha também em Brumado, a divulgadora, era a PRVB (...) o pessoal passeava
no jardim. ‘Fulano ofereceu à fulana prova de amor... Essa música é oferecida de alguém para
alguém’ (...)”7. Era uma atividade do cotidiano, de um dos motivos de ir a praça, reportado por
Zé Maria.
A cidade, de modo geral, era carente de diversões. O PRVB era um meio de distração da
população brumadense: um simples anúncio que envolvia as pessoas, uma oportunidade de
manifestarem seus sentimentos e se “relacionarem”, uma vez que na cidade, até meados da
década 1960, os meios de lazer e socialização acontecia somente em datas festivas, como festas
religiosas e o carnaval.
6
Depoimento de Josafá Ferreira Pessoa. Natural da cidade de Brumado, ele já trabalhou em vários cinemas da
Bahia, locais onde o mesmo exerceu algumas atividades, entre elas, projetista, divulgador de filmes e pintor de
cartazes, inclusive no Cine Teatro Pax em Caetité.
7
Depoimento de José Maria Viana Machado. Locutor da PRVB Programa a voz de Brumado. Primeiro locutor de
Brumado.
19
A partir da segunda metade da década de 1960, com o advento do Cine Teatro Fátima, o
cenário cultural para divertimento e lazer mudaria para melhor. É essa história que veremos nos
próximos capítulos.
20
2. CINEMA E HISTÓRIA: A CHEGADA DA ARTE CINEMATOGRÁFICA EM
BRUMADO
2.1. As primeiras salas de cinema no Brasil
O início do século XX ver surgir o expansionismo das salas de cinema pelo mundo. A
invenção dos Irmãos Lumière, responsáveis pela primeira exibição pública de cinema da
história, em 1895, tornava-se um sinônimo de modernidade.
No Brasil, o cinematógrafo fez sucesso e logo surgiriam salas de cinema. O crescimento
das salas de cinema no Brasil estava associado a ideia de modernidade e urbanização, cuja
influência era europeia. O cinema tornou-se um elemento chave para as representações dos
modos de vida, formas de sociabilidades e diferentes tipos de apropriação do espaço urbano
(FERREIRA, 2012).
Há muitos estudos sobre a história do cinema no Brasil, os quais abordam as novidades
técnicas trazidas aos primeiros e maiores cinemas desse país, sendo a cidade do Rio de Janeiro
um dos pioneiros na primeira exibição pública. Talitha Ferraz, em Entre arquiteturas e imagens
em movimento: cinemas, corporeidades e espectação cinematográfica na Tijuca, introduz seu
trabalho com informações sobre o período de surgimento das primeiras salas de cinema em um
dos bairros dessa cidade, a Tijuca:
[...] Desde a chegada do cinema ao Brasil, no início do século XX, o bairro se mostrou
atento ao fenômeno da imagem em movimento. A primeira sala de cinema do lugar
surgiu em 1907: o Pathé Cinematográfico, de vida curta, com quase um ano de
funcionamento. [...] ( 2010, p. 44)
Compreende-se que o Pathé Cinematográfico é um dos diversos cinemas que surgiram
no Rio de Janeiro durante o início do século XX, no ano de 1907. Isso se torna um exemplo de
que neste período a cidade, como em outras localidades do Brasil, em especial, São Paulo,
construíram muitos espaços destinados à exibição de filmes e outras atividades, uma acelerada
inauguração de cinemas conhecida como a Bela Época do Cinema Brasileiro (MARTINS,
2013).
No entanto, a primeira sala fixa de cinema, que ofereceu “sessões contínuas por um
superior a dois meses”, apareceu também no Rio de Janeiro, em 31 de julho de 1897, o Salão
de Novidades Paris no Rio, de José Roberto Cunha Sales e Paschoal Segreto (MIRANDA &
RAMOS, 2004, p. 481).
21
Em São Paulo, a primeira sala de cinema, segundo José Inácio de Melo Souza, chegou no
ano de 1907, mencionando que “no dia 16 de novembro, o cinema adotou definitivamente a
cidade abrindo o Bijou-Théatre no local do antigo Éden, na rua de São João, atual Av. São
João, junto ao vale do Anhangabaú” (SOUZA, 1992, p. 2).
A pesquisadora Heloísa Almeida, em Quando o Metro era um palácio: salas de cinema e
modernização em São Paulo (1996), discute alguns aspectos sobre as décadas de 1940 e 1950
em São Paulo, trazendo entrevistas dos espectadores do cinema da época, que comentavam
sobre a importância das salas de cinema, as características das principais salas, os espaços mais
luxuosos e modernos, dentre outros assuntos.
As salas de cinema, a partir das primeiras décadas do século XX, espalharam-se por
centenas de cidades, nas capitais e algumas cidades do interior. Foi um crescimento
significativo, que acompanhava o desenvolvimento urbano e industrial das cidades brasileiras.
Assim como no Rio de Janeiro e em São Paulo, Salvador também foi privilegiada com as
instalações de alguns cinemas durante essa fase de grande prestígio da arte cinematográfica. E
quem desenvolveu um excelente estudo sobre isso foi o jornalista baiano Silio Boccanera
Júnior, ilustríssimo autor que realizou diversas atividades culturais nesse Estado. Em 1919,
publicou o livro Os cinemas da Bahia:1897-1918, em que narra a trajetória histórica de cada
cinema que funcionou durante esse período de 21 anos (período de sua pesquisa). Inicia as suas
abordagens sobre o primeiro deles, o Teatro Polytheama; posteriormente, refere-se ao Cinema
Lumière, fundado pelo italiano Nicola Parente; em seguida, escreve sobre o terceiro, o Cinema
Edison, e assim procede suas abordagens sobre os cinemas que vieram a existir até o ano de
1918 (BOCCANERA JR., 2007).
Ressaltamos que o Teatro Polytheama não pode ser considerado o primeiro cinema da
Bahia. Ele só funcionou na estreia. Foi uma única sessão. Não agradou ao público.
Provavelmente, problemas com o aparelho ou falta de capacidade técnica do operador. Em
Salvador, a primeira sala de cinema a ter uma duração mais constante foi o Cinema Lumière,
situado na Rua Carlos Gomes, de propriedade do italiano Nicola Parente. Surgiu em meados de
1898. Durou três meses. Tinha duzentas cadeiras. Por conta dessa breve regularidade, é
considerado o primeiro cinema da Bahia (BOCCANERA JR., 2007).
Nessas primeiras três décadas, uma das principais salas de cinema foi o Cine Jandaia,
localizado na Baixa dos Sapateiros (Rua J. J. Seabra). Foi o mais regular, com uma duração de
vários anos. Foi inaugurado em 1910, com 450 cadeiras. Em 1919, foi ampliado para 1.500
cadeiras. (BOCCANERA JR., 2007).
22
Na Enciclopédia do Cinema Brasileiro, organizada por Luís Felipe Miranda e Fernão
Ramos, encontra-se um tópico intitulado Cinema Baiano onde é possível notar as semelhanças
de informações a respeito da primeira projeção na Bahia, na qual aborda que “A primeira
projeção de que tem notícia na cidade de Salvador é a que aconteceu em 1897, no amplo salão
do Teatro Polytheama, quase dois anos da exibição dos Lumière em Paris” (2004, p. 135).
Além disso, também dão destaque aos pioneiros na exibição de filmes:
Além de Da Costa, Rubem Pinheiro Guimarães e Nicola Parente podem ser
considerados os pioneiros da área de exibição. O cinema baiano deve o início do
registro cinematográfico a Diomedes Gramacho e José Dias da Costa, que, com as
lições apreendidas na arte de fotografar de um alemão chamado Lindemann, aventuramse a uma incipiente produção cinematográfica. (MIRANDA & RAMOS, 2004, p. 135)
É informado que o exibidor Dionísio da Costa conseguiu trazer do exterior fitas de
pequena duração, as quais eram exibidas à uma plateia curiosa, e conseguia provocar com isso,
o entusiasmo pela novidade. A princípio não havia um local fixo para as exibições, pois foi
somente apenas a partir de 1909 que o ramo cinematográfico se ateve em salas permanentes
(MIRANDA & RAMOS, 2004).
Na Enciclopédia também é mencionado sobre os filmes precursores e quais foram os
seus destinos:
Exibidos com grande sucesso, em 1910, Segunda-feira do Bonfim e Regatas da Bahia,
documentários na tradição Lumieriana, são apontados como filmes precursores. Os
celuloides, por demais inflamáveis, provocam incêndios sucessivos, destruindo boa
parte da obra de Gramacho, que, desesperado joga os restos de suas produções nas
águas da Baia de Todos os Santos, desaparecendo, com isso, qualquer registro sobre a
fase inicial do cinema baiano. (MIRANDA & RAMOS, 2004, p. 135)
Nesse trecho, nota-se quais foram os destinos de algumas produções fílmicas; isso
evidencia um dos motivos pelos quais há poucos registros sobre os primórdios do cinema
baiano.
O historiador Raimundo Nonato da Silva Fonseca, no livro Fazendo fita: cinematógrafos,
cotidiano e imaginário em Salvador (1897-1930), originalmente dissertação de Mestrado em
História defendida na UFBA, analisou o surgimento do lazer na Bahia nas primeiras décadas do
século XX, na qual apresenta o cinema como ‘um local de divertimento que crescia junto à
sociedade. Amparado em fontes jornalísticas da época, analisou o hábito de ir ao cinema, o
ideário modernizador que o cinema trazia, a influência dos filmes no comportamento dos
baianos, e apresentou o cotidiano de algumas salas de cinema importantes da capital, como o
Cinema da Bahia, o Cinema Ideal e o Cinema Guarany (FONSECA, 2002).
23
Na primeira metade do século XX, as salas de cinema se expandiram para cidades do
interior da Bahia. Na região Sudoeste do Estado, em municípios próximos a Brumado, cidades
com bom desenvolvimento urbano tiveram salas de cinema nas primeiras décadas do século
XX. Salas que serviram de espaço cultual importante para a diversão e lazer das pessoas.
Guanambi, município emancipado em 1919, por exemplo, contou, ao longo de sua
história, com algumas salas de cinema. Na década de 1930, existia o Cinema das Casas Bahia,
cujo proprietário era o senhor Gildásio Cardoso. Posteriormente, surgiu o Cine Guanambi que,
igual ao anterior, funcionava em uma sala improvisada. Em 1945, o Cine Guanambi
transformou-se no Cine Tupi, de propriedade do senhor Gasparino Pereira Donato. Em 1954,
surgiria o Cine São Jorge, fundado pelo Padre Celestino, pároco recém chegado à cidade de
Guanambi. Esta sala, localizada no centro da cidade, funcionou até o ano de 1962, quando foi
vendido para a família Boa Sorte, que o rebatizou de Cine Guarany (OLIVEIRA, 2009).
Caetité, outro território importante da região, um dos mais antigos, emancipado em 1810,
foi também uma cidade que ofereceu uma vida cultural relacionada ao cinema na primeira
metade do século XX. Entre as décadas de 1940 e 1960, funcionou o Cine Vitória, sala criada
pelo empresário Guilherme Brandão de Castro, no antigo espaço do Teatro Centenário. Em
1957, surgiu outra sala de cinema, o Cine Caetité, que durou até o início da década de 1960.
Essas salas serviram como os principais locais de lazer da cidade (ALMEIDA, 2013).
A cidade de Brumado, por sua vez, tem seu lugar na história das primeiras salas de
cinema do Estado da Bahia, como o Cine Cairu, na década de 1950. Na década de 1960, surge
seu segundo cinema, o Cine Teatro Fátima.
Depois dessa exposição da fase inicial dos primeiros cinemas instalados no Brasil e na
Bahia, passaremos a ressaltar o histórico do Cine Teatro Fátima, sala de cinema situada no
Sudoeste baiano, na cidade de Brumado, localizada na Rua Marechal Deodoro, n° 318, cuja
inauguração aconteceu em 23 de dezembro de 1964, data do aniversário de seu proprietário, o
senhor José de Souza Ribeiro, conhecido popularmente como seu Zuzu8.
8
Seu José de Souza Ribeiro ainda reside na cidade de Brumado. Está com 86 anos de idade. Ao longo do texto, a
partir desse momento, vamos nos referir a ele como o Sr. Zuzu, como ele é carinhosamente chamado.
24
Quadro 01 – Expansão das salas de cinema
Fonte: Montagem da autora.
De modo geral, nas capitais e grandes cidades, os melhores cinemas estavam
localizados no centro da cidade. Haviam aqueles que eram considerados os melhores, pelo
conforto, como também pela qualidade dos filmes, como o Cine Marabá, em São Paulo, por
exemplo. Com o crescimento urbano, foram surgindo salas nos bairros (SOUZA, 1992). Nos
pequenos municípios do interior, como Guanambi, Caetité e Brumado, as salas se localizavam
em áreas do centro da cidade. Mas com um tempo, particularmente na década de 1980, essas
salas (capital e interior) foram sendo fechadas devido à falta de frequência de espectadores, por
conta do surgimento da televisão nos lares e do preço do ingresso que subia aceleradamente,
devido as taxações governamentais e aos novos processos técnicos de exibição que continha
um custo alto (SOUZA, 1992). Os shopping centers, também, passaram a atrair e concentrar as
salas de cinema em suas dependências. Nas grandes e pequenas cidades, seja no centro ou em
bairros, as salas foram pouco a pouco fechando suas portas.
Mas agora, no próximo tópico, começaremos a abordar, especificamente, a trajetória de
Seu Zuzu e da sala de cinema Cine Teatro Fátima.
25
2.2. O Cine Teatro Fátima em Brumado
2.2.1. José de Souza Ribeiro e a fundação do Cine Teatro Fátima
Nesse momento, esse estudo direciona-se na trajetória de um sujeito responsável pela
existência de um dos espaços que tem importância significativa na história da modernidade na
cidade de Brumado. E essa compreensão é fundamental para se entender a vida social e cultural
da cidade no início da segunda metade do século XX. Nesse sentido, abordaremos aqui o perfil
do fundador do cinema, partindo de um mapeamento de sua vida, sobretudo profissional.
A ideia de se construir um cinema na cidade de Brumado veio do senhor José de Souza
Ribeiro (Seu Zuzu), proprietário e fundador do Cine Teatro Fátima, que mais tarde denominouse Cine Teatro Regina. Natural da cidade de Barra da Estiva (BA), o Sr. Zuzu mudou-se para
Brumado ainda criança, com apenas 12 anos de idade. Foi morar em casa de parentes. Quando
rapaz, começou a trabalhar em obras da construção civil, com a função de encarregado;
trabalhou também na construção da linha férrea em Brumado.
Anos mais tarde, aos 33 anos, casou-se com a professora de francês Edilce Prates
Ribeiro9, com quem teve 4 filhos, sendo eles, Maria de Fátima, Célia Regina, Carlos Alberto e
José Carlos. A constituição da família foi um fator que o fez sentir a necessidade de conquistar
maior autonomia em seu meio de subsistência, ou seja, em aumentar sua renda mensal. Isso foi
uma das causas que o levou a abrir um negócio rentável no município de Brumado.
Entre as diversas possibilidades, optou pela construção de um cinema, o Cine Teatro
Fátima. A estabilidade e autonomia no negócio próprio fez com que Seu Zuzu construísse uma
pequena oficina de móveis denominada Marcenaria Senhor do Bonfim. Sobre isso, ele diz:
Eu era carpinteiro, mas trabalhava para os outros, eu era encarregado de construções
de obras ferroviárias, mas depois que abri o meu cinema, consegui construir uma
pequena fábrica de móveis aqui em Brumado, que também fazia entregas de móveis
em algumas cidades da região10.
E os motivos que o levaram para o ramo do cinema foi que ele não estava satisfeito com a
situação da cidade, no que diz respeito a espaços de lazer, e também a paixão que nutria pelos
cinemas das grandes cidades, como os de Goiânia e de São Paulo, locais onde já havia morado
e frequentado muito as salas dessas cidades. Duas razões fundamentais: empreendedorismo
comercial e paixão.
9
Primeira esposa do Sr. Zuzu. Atualmente ele convive com outra companheira, com a Sr. Maria de Lurdes,
relação que já se perdura por mais de 20 anos.
10
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
26
O Sr. Zuzu é um grande exemplo dessa experiência, que uniu aqueles dois pontos
motivadores, de alguém que saiu, “conheceu o mundo”, e voltou trazendo novidades. Sobre o
seu gosto pelo cinema ele revela: “Eu gostava muito de cinema, eu morava em Goiânia, São
Paulo, por aí tudo. Gostava muito de cinema, aí me despertou interesse, eu já tinha paixão...”11.
Esse gosto mudou seu rumo e o da cidade de Brumado. Um cinema significa progresso,
modernidade.
Porém, esse objetivo de fundar um cinema foi cercado de dificuldades, já que custear a
construção de um negócio desse tipo demandava investimento; mas isso não foi empecilho para
o Sr. Zuzu, que desfez de um bem para viabilizar o projeto: “Como naquela época tudo era
mais difícil, eu tive que vender uma propriedade minha”12. Além disso, com as economias
adquiridas com o trabalho de marceneiro, ergueu o Cine Teatro Fátima, comprou
equipamentos, um projetor de filmes de 35mm, organizou toda a sua estrutura.
O seu gosto pela sétima arte contribuiu, também, anos depois, para fundar salas de
cinema em outras cidades da região. Depois de Brumado, ele fundou cinemas em Livramento,
Paramirim, Barra da Estiva, Tanhaçu, Igaporã e Vitória da Conquista. E essas salas levaram o
nome de suas respectivas cidades13.
Em relação ao Cine Teatro Fátima, cabe ressaltar que o mesmo durou pouco mais de 20
anos. Foi inaugurado no dia 23 de dezembro de 1964, com a exibição do filme Ursus na Terra
do fogo (1963), obra produzida na Itália sob a direção de Giorgio Simonelli. Assim rememora o
proprietário:
(...) nesse dia foi exibido o filme Ursus; estiveram muitas pessoas presentes, foi muito
bem divulgado (...) e ai começou a funcionar o cinema... Na inauguração havia uma
base de 500 pessoas, em pé... nas poltronas...14
A construção desse cinema foi importante, e teve uma questão simbólica para o Sr. Zuzu,
uma vez que ele escolheu a data de seu aniversário para a sua inauguração, e também para a sua
denominação escolheu o nome de um dos filhos, a filha mais velha, Fátima. Em meados da
década de 1980, substituiu o nome para Cine Teatro Regina, homenageando a filha mais nova,
Regina.
11
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
13
Depoimento de José de Souza Ribeiro. Por conta da delimitação da monografia, deixaremos as informações
sobre essas salas para outro momento, quem sabe levantá-las em uma nova pesquisa em um programa de pósgraduação.
14
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
12
27
Dessa forma, o objetivo do Sr. Zuzu foi homenagear todos os filhos, para não parecer que
apenas um seria especial. Começou pelas mulheres. Os dois rapazes também foram
privilegiados, uma vez que eles podiam intervir no trabalho administrativo do cinema, sendo
para ambos uma oportunidade significativa no que diz respeito ao aprendizado e a experiência
no ramo. Entretanto, não foram motivos para eles deixaram de prosseguir nos estudos. Neste
caso, todos tiveram a oportunidade de ingressarem em faculdades.
Por volta de 1988, aproximadamente, o cinema do Sr. Zuzu, já denominado Cine Teatro
Regina, vai fechando paulatinamente suas portas, período em que a televisão disparava como
produto de consumo nas regiões interioranas do Brasil. O setor de imagem e som (TV, rádio e
videocassete) estava em franca expansão nesse período. Na Copa do Mundo de 1986, por
exemplo, houve um crescimento de 23% desse setor de eletrônicos, uma alta de vendas de
televisores significativa15. A concorrência com a televisão, além da inflação e do custo alto e
elevado em manter o cinema, provocaram o declínio do cinema em Brumado. O cinema, a
partir de 1988, segundo depoimentos de Seu Zuzu e filhos, funcionava excepcionalmente. Em
meados da década de 1990, é que ele seria fechado definitivamente.
Nessa fase, o Sr. Zuzu, para sobreviver, passou a realizar locações de filmes em VHS,
organizando uma pequena locadora nas dependêcias do cinema. Era uma alternativa para se
manter no mercado.
Outros proprietários de cinemas também justificaram que a TV foi a principal
responsável pelo falta de público nas sessões de filmes, e essa realidade é bem salientada na
dissertação de Mestrado de André Malverdes, nos depoimentos que ele coletou de exproprietários de salas de cinemas do Espírito Santo. Um dos citados nesse trabalho é José
Carlos Gomes, do Cine Santa Luzia, na cidade de Pancas, que afirmou que a televisão afastava
o público das salas de cinema, provocava comodidade nas pessoas, e que a TV exibia filmes
que deveriam passar apenas nos cinemas. Um segundo depoente, proprietário do Cine
Marilane, da cidade de Aracruz, Josino Moro, disse que a Embrafilme chegou a liberar filmes
para TV antes de seu certificado de exibição estar vencido. Um exemplo bem relembrado por
ele foi, em certa ocasião, quando seu cinema estava preste a exibir um filme dos Trapalhões, e
acabou por ter um exurberante prejuízo com a fita, visto que na véspera o mesmo filme foi
exibido na televisão (MALVERDES, 2007).
15
“Copa aumenta em 23% venda de rádios e televisores”. O Globo, Rio de Janeiro, 03 jun. 1986. Economia, p. 20.
28
Essa realidade do cinema de Brumado não foi muito diferente dos cinemas localizados
nas capitais brasileiras, tal como salienta André Malverdes sobre as causas que levaram ao
abandono do público nas salas nas grandes cidades:
(...) algumas razões para o abandono do cinema, entre elas as dificuldades de
transporte, de estacionamento, além das vantagens de se permanecer em casa:
conforto, ausência de filas, possibilidades de se escolher os programas distribuídos por
cinco canais em funcionamento, a cervejinha, a geladeira. (2007, p. 109-110)
O Cine Teatro Fátima existiu, regularmente, durante 24 anos. Atravessou todo o período
do Regime Militar no país. Apesar desse detalhe, o Regime Militar nunca foi empecilho para o
funcionamento do Cinema. “Com relação à Ditadura Militar, era muito tranquilo, aqui era
sossegado”.16
Assim se seguiram os anos de todos esses cinemas, que pela mesma razão não
conseguiram ter condições de permanecerem em funcionamento em fins da década de 1980. O
fechamento do Cine Teatro Fátima, nessa época já com o nome de Regina, provocou um vazio
cultural na sociedade brumadense.
2.2.2 Estrutura: recursos materiais e competência na mão de obra
No quesito aparência física, o cinema sofreu algumas mudanças entre o fim da década de
1960 e início de 1970: a entrada principal (fachada), originalmente, localizava-se na Rua
Marechal Deodoro, n.° 318, Centro; posteriormente, na metade dos anos 70, passou a ser na rua
ao fundo, na Henrique Dias, n.º 09. O cinema continuou no mesmo prédio, porém sofreu
mudanças em sua denominação e entrada principal, já que a primeira fachada denominada Cine
Teatro Fátima deixa de ser a entrada principal, e a rua ao fundo incide como novo endereço e
recebe outra fachada e nome, passando a denominar-se Cine Teatro Regina (no final da década
de 1980).
A seguir, fotografias da fachada do cinema em períodos diferentes, com seus respectivos
nomes.
16
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
29
Figura 01 – Fachada do Cine Teatro Fátima durante a década de 1960 (fotografia original). Autor
da foto: desconhecido.
Figura 02 – Fachada do Cine Teatro Regina no final da década de 198017. Autor da foto:
desconhecido.
No Cine Teatro Fátima não chegou a ter nenhum espaço destinado a venda de alimentos
em seu interior. Todavia, sempre contou com a atuação de alguns vendedores ambulantes
17
Época da decadência do cinema, final da década de 1980.
30
naquela localidade, sobretudo pipoqueiros, responsáveis por aguçar o paladar dos
telespectadores com um produto tão significante em uma sessão de cinema.
Entretanto, tempos depois, na fase do Regina, houve a instalação de um bar ao lado da
porta de entrada do cinema, detalhe que podemos observar na figura 02, ambiente que por um
longo período de tempo a administração do cinema optou por vender refrigerantes e doces
(bombons, pirulitos e balas).
Para que essa sala de cinema preenchesse suas poltronas de espectadores durante as
sessões de filmes, era anteriormente necessário que seu proprietário, através de um
procedimento lento, arriscasse nos aluguéis das produções que desejaria exibir. O Sr. Zuzu
relata bem isso, quando recorda: “Eu ia na firma em Salvador, e lá escolhia os filmes, e
marcava pra um mês, dois meses; fazia o telefonema em Conquista. [...] Era muito atrasado
naquela época, então tinha que ir em Conquista. Brumado ainda não tinha telefone (...)”.
Com relação ao transporte dos filmes à Brumado, acontecia em grande parte por trem ou
ônibus, que tinha uma linha nessa região. O Sr, Zuzu pagava valores em cruzeiros para esses
custos, mas o aumento da tarifa desses transportes levara-o a aproveitar os filmes que eram
alugados por outros cinemas da região. Prática tomada a fim de conseguir manter
financeiramente os custos do aluguel dos filmes (transporte dos volumes, manutenção e
projeção das cópias, dentre outros).
Nesse sentido, podemos ter a cidade de Caetité como um bom exemplo, pois, sobre o
transporte dos filmes até essa cidade, Doriedson Almeida escreve: “(...) os filmes passam a
chegar por trem até Brumado, transportado para Caetité por caminhões de carga ou de ônibus
(...)” (2013, p. 16). Assim, filmes que iriam para Caetité, seriam também exibidos em
Brumado, com os donos dos cinemas dividindo as despesas.
Os filmes eram divulgados através de dois importantes recursos, os cartazes (visual),
caixas de som e carros volantes (áudio), ambos utilizados para realizar os anúncios nas ruas de
Brumado, sobretudo em frente ao cinema, como podemos observar nas figuras 01 e 02. Sobre
um desses meios de divulgação, também relembra o Sr. José Maria: “Os cartazes, essas coisas
ficavam nas esquinas, nos pontos estratégicos, para o pessoal ver. Ultimamente eram em carros
de som”18.
O Sr. Josafá, um dos entrevistados, era o cidadão que, muitas vezes, foi o responsável
pela divulgação dos filmes, shows de calouros e demais eventos que aconteciam no cinema. Ele
revela os métodos adotados para a exposições dos cartazes ao informar que “os cartazes eram
18
Depoimento de José Maria.
31
colocados em pontos estratégicos da cidade, nas praças, nos lugares principais. Duas, três
pessoas que colocavam os cartazes, principalmente eu, as vezes eram até 7 e 8 tabuleiras
daquela, (...) e a noite eram trazidas”.19
Figura 03 – Cartaz do Cine Teatro Fátima (1970). Autor da foto: desconhecido.
Na imagem é possível observar a exibição de um cartaz confeccionado por Josafá, e notase que ele foi exposto na entrada da cidade, na Av. Coronel Santos, uma das principais de
Brumado. Conforme Josafá Ferreira informou na entrevista, os cartazes eram colocados nos
pontos estratégicos da cidade. Um fator importante a notar na Figura 03 é a garota de nome
Zalete ao lado do cartaz, posicionada nesse local com o objetivo de ser fotografada em frente a
uma placa também posta nesta rua, com a frase Seja Bem-vindo à Brumado. Isso reforça a ideia
de que o cartaz do cinema foi estabelecido propositalmente nesse local, levando-nos a inferir
que certamente seria o local mais propício à visibilidade dos visitantes da cidade.
A exposição dos cartazes também se dava no interior do cinema, especificamente na
parede central do palco onde os cantores e calouros faziam suas apresentações. E esse material
tinha a mesma finalidade, divulgar os filmes que seriam apresentados naquela sala de cinema.
Enquanto ao porteiro, tínhamos o Sr. Raimundo, que exerceu uma função mais que
necessária, controlar a entrada de pessoas através da quantidade de ingressos, além de vigiar
também o interior do cinema após o início das exibições dos filmes.
19
Depoimento de Josafá Ferreira Pessoa.
32
O responsável pela projeção de filmes era o projecionista Laurêncio Ventura de Oliveira,
que operava um projetor de 35mm20, aparelho considerado por seu proprietário de boa
qualidade.
Ele, Laurêncio, era avaliado como um profissional de grande competência no Cine Teatro
Fátima, pois projetar filmes não era uma tarefa para qualquer pessoa, ou seja, não era fácil
como muitos devem pensar, por se tratar de uma atividade que demandava competência e
dedicação. Quanto ao trabalho do operador Laurêncio, ele é bem recordado por Josafá, um dos
voluntários do Cine Teatro Fátima, quando o mesmo diz que aprendeu a operar filmes com
aquele profissional.
Durante o período que eu trabalhava eu até que assistia, mas quando eu passei a operar
o filme mesmo, quando eu aprendi a profissão, ai ficava mais difícil, porque tinha que
dar atenção ao aparelho. E quem me ensinou a operar foi o finado Laurêncio. 21
O Sr. Zuzu também reconhece a importância e capacidade daquele projetista, ao relatar:
“Laurêncio trabalhava na projeção do filme; quem concertava era eu e ele; ele já tinha mais
prática que eu, já havia trabalhado em um cinema em Conquista”22.
Os filmes eram armazenados em suas respectivas embalagens fílmicas, e um único filme,
necessitava de no mínimo 3 volumes dessas embalagens, ao contrário de um simples triller que
necessitava apenas de uma pequena embalagem para compor o espaço de sua película. Uma das
distribuidoras que mais forneceram filmes ao Sr. Zuzu foram: Embrafilme, Mercúrio filmes,
Horizontes filmes, Fama filmes, Paris Filmes23. E é válido ressaltar que elas abasteceram esse
cinema com filmes de grande sucesso de bilheteria.
Diante disso, podemos dimensionar o quanto essa inovação proporcionou lazer à
população brumadense. Se pararmos para refletir, concluiremos que a iniciativa da instalação
do Cine Teatro Fátima foi essencial para a cidade e região, cujo funcionamento permaneceu de
1964 a 1988, desenvolvendo um papel importante na formação da vida cultural dessa cidade.
Por fim, esperamos até aqui ter contribuído com informações sobre a trajetória do Sr.
Zuzu e a estrutura do Cine Teatro Fátima. No próximo capítulo, abordaremos este cinema como
sinônimo de modernidade e espaço de lazer da cidade de Brumado-BA.
20
Aparelho utilizado para exibição de filmes em uma tela de sala de cinema. E a maior parte desse produto no
Cine Teatro Fátima foram produzidos pela empresa: Indústria Cinematográfica Arcor limitada- Belo horizonte.
21
Depoimento de Josafá Ferreira Pessoa.
22
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
23
As informações acerca das distribuidoras de filmes são limitadas, devido as fontes serem insuficientes para a
realização de uma análise mais abrangente. Porém, foi possível levantar alguns dados visíveis nas fontes materiais
analisadas, sobretudo nos projetores e embalagens fílmicas do cinema disponibilizados no Acervo particular de
José de Souza Ribeiro.
33
3. O CINEMA COMO SINÔNIMO DE MODERNIDADE EM BRUMADO
Neste capítulo, apresentaremos algumas mudanças ocorridas nas relações sociais da
sociedade de Brumado após a existência de uma sala de cinema, e mostrar como a modernidade
e o lazer foram significativas para novos comportamentos, novas formas de sociabilidades e de
lazer. A população de Brumado, a partir de 1964, passou a viver novos momentos de lazer ao
frequentar esse novo espaço, o Cine Teatro Fátima, um passo importante para a época, tendo em
vista que além de exibir filmes, cinema também serviu para a realização de outras atividades.
Entretanto, essa é uma questão que será aprofundada no decorrer desse capítulo, pois sabe-se que
“definir o lazer, contudo, não é uma tarefa fácil para quem ousa aventurar-se nesse campo”.
(PRONOVOST, 2011, p.16).
3.1 Ambiente de lazer e socialização: quem, o cinema?!
Este trabalho de pesquisa leva-nos a compreender as variedades de acontecimentos
provocados pelo cinema, e uma dessas questões dizem respeito ao lazer. E para recorrer a nossa
investigação e escrever esse tópico, foi necessário fazer estudos sobre o lazer, já que é um
complemento importante para a produção deste trabalho.
Nesse sentido, destacamos as abordagens de um estudioso interessado na análise do lazer,
Gilles Pronovost, atualmente um dos estudiosos mais influentes no campo da Sociologia do
Lazer. Ele é autor do livro Introdução à Sociologia do Lazer. O livro traz questões sobre o
conceito de lazer, os valores sociais do lazer e as práticas culturais dos jovens, temas que
discutimos em nossas pesquisas. Diante disso, devemos entender como esse assunto é salientado
em sua obra.
Os estudos do lazer moderno são caracterizados por uma tradição importante de
pesquisa, que tem agora perto de cem anos. Várias correntes de pensamento e várias
disciplinas integradoras mudaram ao longo do tempo. Ainda se subestima demais a
diversidade das tradições de pesquisa nas ciências do lazer, a pluralidade das
abordagens disciplinares, a internacionalidade de seu desenvolvimento. (2011, p.16)
O estudo do lazer foi por algum tempo considerado um campo de investigação simples,
pois isso não era visto como objeto de importância significativa, sobretudo, por parte dos
sociólogos. No entanto, com o avanço das pesquisas, os críticos tradicionais praticamente se
34
calaram, talvez, devido ao reconhecimento da pertinência desse campo de especialidade, ou,
simplesmente porque o lazer foi estudado sob diversas facetas, por meio de várias dimensões que
lhe são aproximadamente ligadas, como por exemplo a vida cotidiana, os tempos sociais e as
políticas culturais (PRONOVOST, 2011).
Sobre a realidade desse campo de estudo, continua Gilles Pronovost:
“(...) tomando-se tão somente como base uma história dos estudos do lazer e a natureza
de algumas publicações atuais, o lazer é um campo de estudos das sociedades modernas
que já demonstrou maturidade e, além do mais, em vários planos: os modelos teóricos, o
do investimento das grandes tradições disciplinares e o do acumulo de conhecimentos
empíricos. (2011, p.16)
No campo da sociabilidade, tentaremos compreender o cinema como um espaço de lazer e
socialização, já que ele poderia ser um lugar para descanso, diversão, distração ou
entretenimento para a sociedade da cidade de Brumado. E para abraçarmos essa discussão,
devemos antes de mais nada, compreender a estrutura social envolta com o advento do cinema,
uma vez que precisaremos problematizá-lo com a sociedade da época, ou seja, com suas
necessidades e vontades. “Segundo Ben Singer, as mudanças na cidade proporcionam,
sobretudo, novas formas de adaptação e interação entre os indivíduos que convivem naquele
espaço” (SINGER apud PASSOS AUN, 2012, p. 5).
Pretendemos entender aqui como a sociedade brumadense teve acesso a modernidade
através da chegada do cinema, ou seja, dialogar sobre as transformações ocorridas nesta
sociedade, mostrando a interferência do cinema em seu cotidiano. Não se esquecendo que para a
época a modernidade era sinônimo de progresso, realidade tanto em Brumado quanto em outras
cidades, tal como salienta esse autor em um trecho do objetivo geral de seu trabalho:
Assim queremos dialogar aqui as mudanças do cinema, como este interferiu na
modificação dos costumes fazendo surgir novas formas de sensibilidades e
sociabilidades e como experiência da modernidade entendida pelo discurso do progresso
se insere naquele momento. (PASSOS AUN, 2012, p. 06)
Sobre as sensibilidades, entende-se que elas “são as formas pelas quais indivíduos e
grupos se dão a perceber, comparecendo como um reduto de representação da realidade através
das emoções e dos sentidos” (PESAVENTO apud PASSOS AUN, 2012, p. 06).
Os primeiros anos da existência do cinema revelaram logo que, também no terreno
cultural, Brumado abriu perspectivas regionais inteiramente novas, que de tal modo se processou
enquanto uma unidade progressiva. Avaliar o que foi exibido nesses primeiros anos é perceber
um ponto muito relevante da vida cultural e social da cidade nesse período.
35
Diante disso, é válido ressaltar o entusiasmo geral da população com a existência do
cinema nesta cidade, ao reconhecê-lo como um espaço importante, visto que muitos
entrevistados relembraram as festas que aconteciam em seu interior após as exibições de filmes,
motivo suficiente para que este espaço fosse entendido como um centro fixo, tanto para a
cinematografia quanto para a realização das únicas festas ocorridas na cidade (formaturas, shows
de cantores e calouros, dentre outras). Enfim, tudo leva a crer que em Brumado se criou um
centro cultural que girava unicamente em um espaço de lazer, em uma cidade ainda pequena e
com pouca estrutura urbana:
A cidade de Brumado era calma, poucas casas, poucas ruas calçadas, poucas ruas
iluminadas, mas era uma cidade tranquila, pouco movimento; tinha várias ruas, mas
calçadas mesmo só era a principal, no centro, a avenida Exupério Pinheiro Cangussu e a
Praça da Matriz, que era calçada com aquelas pedronas e em volta nascia carrapicho;
tinha um bocado de casa, aquelas antigas que tem até hoje, a maioria tá lá, que é como
patrimônio histórico. 24
Brumado carecia sobremaneira de infraestrutura, pois, com o relato acima, percebemos que
o estado o qual se encontrava o município neste momento não era dos melhores. No entanto, os
frequentadores desta sala de cinema sentiam-se satisfeitos com a sua existência, pois,
provavelmente ela conseguiu atender as expectativas da maioria da população.
Eu tenho boas lembranças do cinema, porque o cinema foi para mim uma coisa... para
mim muito importante, porque o cinema naquele tempo existia... exercia, melhor
dizendo, várias funções, existia o teatro, era apresentado no cinema, o programa de
calouro era apresentado no cinema, e era bonito, era uma coisa que movimentava o
comercio, era uma coisa que... Enfim...E hoje o cinema acabou, não existe mais cinema.
25
Com essa simples informação, tem-se a dimensão da importância da sala de cinema para
essa cidade, ainda em construção. Mesmo ainda sem as necessidades básicas para o seu
funcionamento, como telefone, energia e segurança, houve a iniciativa de uma simples pessoa
que se interessou pelo progresso local. A partir desse momento, passaremos para a análise das
consequências geradas por esse espaço, partindo, sobretudo, do comportamento de sua
população.
O cinema foi um local onde as pessoas se relacionavam e tinham oportunidades para
conhecer novos e reencontrar velhos amigos, o qual foi para muitos um ponto de encontro,
principalmente para os jovens, já que tratava-se de um local em que as pessoas se divertiam e
24
25
Depoimento de Julita Alves Cardoso
Depoimento de Josafá Ferreira Pessoa.
36
dançavam. “A gente ia direto, porque Brumado não tinha outra coisa, só o jardim e o cinema... só
a praça (...)”26
O lazer pode igualmente servir de mediador da sociabilidade, em particular entre os
jovens (assim como nos meios populares). A importância dos grupos de iguais é tão
grande quanto a própria atividade. No caso da sociabilidade associada à prática do lazer,
podem-se distinguir duas subcategorias: uma ligada à família e parentes e outra ligada
aos grupos de amigos ou pares. (PRONOVOST, 2011, p. 35).
O cinema era frequentado por todas as classes sociais. A procura da população por esse
ambiente aumentou de maneira significativa, uma vez que a classe pobre tinha a possibilidade de
comprar ingressos por serem considerados baratos, motivados pela curiosidade e oportunidade
de conhecer a recente e nova opção de lazer, deslumbrando, com isso, as camadas menos
favorecidas. Realidade diferente de muitas casas de projeção espalhadas pelo Brasil, a exemplo
de Campina Grande- PB, que durante o século XX foi composta de um vasto número de cinemas
com públicos separáveis.
Os cinemas também era um espaço que acontecia a separação de classe social. Os que
se localizava no centro da cidade, mas precisamente o Capitólio e Babilônia foram
construídos enormes e sua elegância era cobrada nos preços dos ingressos, o que
acabava afastando a camada popular desses cinemas “sofisticados”. (MACEDO, 2011,
p.51)
Enquanto que em Brumado o cinema foi um espaço popular, um local onde todas as
pessoas eram recebidas, independente da condição social, cor e credo. “O cinema era para todo
mundo, as pessoas conseguiam pagar, porque lá era um só preço para todo mundo, ricos e pobres
(...)”27.
No depoimento, nota-se a visível satisfação dos espectadores do cinema, pois eles tinhamno como uma das saídas para alguns “problemas”, como o sedentarismo gerado pela falta de
lazer, ou seja, a ausência de espaços propícios para realização de eventos. Enfim, a solução e
opção para mudar esses costumes monótonos.
E, para concluir esse tópico, encerro com um trecho sobre o significado que o cinema
exerce para as sociabilidades, que diz o seguinte:
(...) ele compõe em torno de si uma variedade de experiências e comportamentos, ora
forjando estilos, ora servindo de espaço de convivência para diversas manifestações
culturais. Congrega uma diversidade de valores e costumes que vão se modificando com
26
27
Depoimento de Julita Alves Cardoso
Depoimento de Julita Alves Cardoso.
37
os referenciais que existiam. As estruturas e simbologias criadas em torno do cinema
sofrem interferências direta desses referenciais e se transformam a partir do processo de
construção de novos significados deste espaço. (PASSOS AUN, 2012, p. 04-05)
3.2 Namorar na escuridão da cidade ou no escurinho do cinema?
Este tópico trata especificamente sobre as relações afetivas que ocorreram através da
frequência ao cinema. Traremos aqui informações a respeito do relacionamento entre casais, que,
em sua maioria, tiveram como consequência romances extremamente sérios, ou seja, casamentos
gerados de afinidades iniciadas no cinema. Assim como bem lembrou o brumadense Josafá: “As
pessoas iam pro cinema com namorado, algumas iam com as amigas, iam com os namorados,
algumas arrumavam namorado. Enfim, era uma sociedade muito bem comportada naquele
período.”28
Nesse sentido, temos a experiência da Sra. Julita, como um exemplo dessas relações
amorosas. Pois nesse contexto, a mesma relembra a seguinte fase da sua juventude: “A gente ia
para namorar também, era a oportunidade que a gente tinha para escapulir (risos), aí foi quando
eu conheci esse homem hoje que é meu marido, aí comecei namorar com ele (...).”29
O cinema foi importante, pois proporcionou para muitas pessoas a mais fácil oportunidade
para se relacionarem, de se conhecerem, paquerarem, e com certeza namorarem, já que Brumado
não oferecia espaços de lazer e socialização, a não ser a restrita praça do centro da cidade, como
já vimos no primeiro capítulo desta pesquisa. Enfim, a cidade pouco usufruía de energia elétrica
nesse momento. “A energia de Brumado só funcionava até 21:30h e o cinema tinha luz própria,
era o motor, tinha o motor próprio, funcionava a qualquer hora que precisasse; a energia era
particular”30. A situação melhoria com a chegada da energia elétrica definitiva, nos anos de
1970.
Realidade ainda muito comum na região, a exemplo do município de Caetité, uma cidade
que também não disponibilizava de energia elétrica, porém tinha o Cine Vitória que funcionava
com energia própria, em seus primeiros anos de existência (ALMEIDA, 2013).
Refletimos a partir disso as probabilidades que remontam ao cinema como a melhor das
opções oferecidas aos sujeitos que desejavam namorar, já que se trata de uma época com poucas
alternativas. Uma delas seriam as praças, nos escuros da cidade, e a outra, sem dúvida, o
28
Depoimento de Josafá Ferreira Pessoa.
Depoimento de Julita Alves Cardoso.
30
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
29
38
escurinho do cinema, que as vezes eram interrompidos pela luz de uma lanterna utilizada por
algum funcionário que tinha essa função, na maioria das vezes pelo porteiro Raimundo, pessoa
que tanto observava quem entrava e quem saía do cinema. Os lanterninhas seriam encarregados
em impor a ordem, a moral e os bons costumes.
Esse espaço tornou-se útil às diversas atividades culturais, ambas fundamentais para a
sociabilidade e relações afetivas de sua comunidade.
3.3 Festas e risos no Cine Teatro Fátima
Nas próximas linhas apresentaremos um estudo sobre os eventos ocorridos no Cine Teatro
Fátima. Portanto faremos aqui uma análise geral dos festejos que o mesmo abrigou e, dentre eles,
serão destacados: shows de cantores renomados, shows de calouros e festas de formaturas para
obtenção de grau.
No cinema, a partir de 1965, e ao longo da existência dessa sala, também foram realizados
shows de diversos cantores brasileiros, sobretudo dos renomados que estavam no auge do
sucesso, entre esses cantores destacaram-se Jerry Adriani, Sérgio Reis, Wanderlei Cardoso,
Agnaldo Timóteo, Nélson Gonçalves, e sobretudo de Waldick Soriano (1933-2006), filho ilustre
de Caetité. Enfim, inúmeros artistas31 se apresentaram no interior dessa sala.
Figura 04- Show de Wanderley Cardoso no interior do Cine Teatro
Fátima. Data da fotografia: anos 1970. Autor: desconhecido.
31
Além dos cantores /compositores citados, destaca-se também a presença de outros artistas nacionais, a exemplo do
grupo Trio Nordestino.
39
Foram ocasiões importantes, muito bem recordadas pelo Sr. Zé Maria, quando o próprio
diz: “As pessoas ficavam sentada aplaudindo, era tanto artista... Waldick era tão tradicional...
Grande ídolo e compositor também, um dos maiores compositores. E Luiz Gonzaga também já
cantou aqui”32.
O cantor Waldick Soriano quase seria padrinho de batismo de um dos filhos do Sr. Zuzu,
mas acabou por não acontecer. Apesar disso, eles se consideravam enquanto compadres e
amigos, uma vez que havia uma intensa relação de amizade entre ambos. A seguir, um pequeno
exemplo da afetividade em meio a esses dois sujeitos:
Waldick tomava suas pingas, mas estava no batente na hora certa. No dia que o carro
quebrou na estrada, eu fui buscar ele na Rural e ele disse que viria na bicicleta; as
pessoas criticavam ele, mas eram os primeiros a entrarem no cinema para ver Soriano,
ele era o homem mais querido naquela época e dava muita gente. 33
Algumas vezes, atrações previstas não poderiam acontecer por problemas com o transporte
utilizados para os cantores se locomoverem de uma cidade para outra, como é o caso de uma
programação que deixou algumas pessoas insatisfeitas, sobretudo o Sr. Zuzu, foi o atraso de uma
apresentação do cantor Waldick Soriano.
Este cantor e compositor foi um grande renome da MPB (Música Popular Brasileira), e um
dos cantores apreciados pelo público e que levou os maiores fluxos de pessoas no Cine Teatro
Fátima, e de muitos cinemas brasileiros, em especial aos localizados na Bahia. Um exemplo foi o
Cine Vitória em Caetité. Doriedson Almeida destacou a importância das programações festivas
realizadas nas dependências do cinema.
O cinema passou a ter boa frequência, e o cineteatro, quando fosse necessário usá-lo
para shows (...). Os espetáculos eram apresentados (...). E muitos foram os shows no
cineteatro com cantores famosos daquela época, como: Waldick Soriano, Zé Roberto,
Agnaldo Timóteo. “(...) já assistir um Show desses três cantores no mesmo dia, aí no
centenário, foi uma coisa de “louco”, muito bom”.34 ( 2013, p.08)
Na análise de tais depoimentos, são percebidas as relações de afinidade entre o proprietário
com demais artistas contratados, tornando-se talvez causa de prestígio para a sociedade de
Brumado, posto que isso gerava benefícios a esse público. Nesse sentido, entendemos que a
32
Depoimento de José Maria Viana Machado.
Depoimento de José de Souza Ribeiro
34
Depoimento do Sr. Raimundo Vinicius, ex-frequentador do Cine Vitória em Caetité- Ba. Ele foi entrevistado e
citado no trabalho de Doriedson de Brito Almeida, TCC intitulado O cinema em Caetité nas décadas de 1940 a
1960: o Cine Vitória, defendido em 2013 na UNEB/campus VI- Caetité.
33
40
oportunidade de assistir shows de grandes cantores naquela época surgiu da iniciativa do Sr.
Zuzu, que mesmo enfrentando dificuldades, a exemplo da locomoção desses artistas para
Brumado, conseguia atender as necessidades de seu público, satisfação esta, visível nos sujeitos
que frequentaram essas festas. Questões bem expressas em depoimentos de vários
frequentadores do cinema.
Seu Zuzu era uma pessoa maravilhosa, teve essa ideia fantástica de promover essa
diversão pra gente em Brumado, criando o cinema, que depois se tornou quase um
teatro, a gente ficou muito feliz né!, porque a gente não tinha opção de ir, depois foi que
surgiu a união operária, que as vezes a gente também ia, mas era aquele preconceito lá
da classe, classe média para baixo, clube social pros ricos, tinha aquela. O cinema era
pra todo mundo, as pessoas conseguiam pagar, porque lá era um só pra todo mundo, ia
ricos e pobres (...).35
De modo geral, a música ao vivo permaneceu no cinema durante longo tempo, um espaço
que, aceleradamente, veio oferecer a sociedade de Brumado e região oportunidades para
prestigiarem apresentações de nomes consagrados da música popular, a exemplo do cantor Luís
Gonzaga (1912-1989).
Essas iniciativas foram de grande relevância para o cotidiano das pessoas, e ouvir uma boa
música proporcionava bem estar aos indivíduos, neste caso aos frequentadores do cinema. O
Cine Teatro Fátima, durante sua existência, conseguiu, através da contratação de cantores
renomados, desfrutar a arte musical. E essa especificidade é retratada por Heloísa de A. Duarte
Valente, em seu artigo intitulado Paisagens sonoras, trilhas musicais: retratos sonoros do
Brasil, quando ela traz a importância do som na vida cotidiana.
(...) sob a modalidade “canção”, parece onipresente nas linguagens audiovisuais, quer
como trilha sonora, quer como música de fundo (jingles publicitários, tema de abertura
de peças de teledramaturgia, noticiários, leitmotiven de personagens nas telenovelas
etc.); na vida comezinha, a música “infiltra-se” no território da vida íntima e pessoal
(ou, mesmo o “invade”) (...). Essa existência se verifica tanto no ambiente doméstico,
quanto nos espaços públicos e institucionais. Posto isso, não parece exagerado afirmar
que os signos musicais representam e testemunham o seu tempo e o tempo ao qual
fazem referência. (2013, p. 240)
Prosseguindo nessa questão sonora, o Cine Teatro Fátima tinha também como objetivo
promover eventos na cidade. Os primeiros shows aconteceram com a apresentação de vários
artistas renomados. Entretanto, teve seu palco destinado especialmente ao cantor Waldick
Soriano, assim como revela o Sr. Zuzu:
35
Depoimento de Julita Alves Cardoso.
41
Só não Roberto Carlos, mas Aguinaldo Timóteo, Nelson Gonçalo, esses artistas todo,
Wanderley Cardoso, Jerry Adriano, esse pessoal todo da época cantou aí... Luís
Gonzaga, Trio Nordestino... Waldick Soriano tocou uma base de quarenta e tantas
vezes, umas 50 por aí. Tem uma história muito grande de Waldick; ele marcou um
derradeiro show no Juá, ele fez um festival de shows, ele deu um “trabalhozinho” nesse
dia.36
Nesses momentos, o ânimo coletivo parecia estar explícito, e podemos notá-lo nos
comportamentos das pessoas interessadas pelas atrações. Assim como salientado pela Sra. Julita,
quando descreve algumas ações comuns nessas datas de shows, e sobre isso ela diz: “a gente
conhecia o cantor no hotel, porque a gente ia no hotel e pegava o autografo no Hotel Livramento,
eu peguei de Waldick Soriano porque eu gostava demais na época e ele me deu uma foto e
autografou”.
Tudo leva a crer que em Brumado havia o prazer da diversão, proporcionado por essas
festas, por se tratarem de ocasiões exclusivas nessa cidade. Verdadeiramente, esse foi um
destaque para a cultura local, e podemos retomar a ideia dos festejos enquanto elementos comuns
em qualquer cultura. O cinema, além de receber diversos cantores brasileiros em shows
memoráveis, foi utilizado também, para outros espetáculos musicais ou teatrais37. Destacamos
iniciativas tidas como importantes, pois seus objetivos eram satisfazer a todos. Primeiro, pelo o
fato de ser cinema, que através das sessões diárias conseguiu exibir grandes variedades de
documentários e filmes. Além do mais, podemos ainda cogitá-lo como o “clube” do município
de Brumado durante essa época. Um dos frequentadores descreveu a satisfação que tinha pela
variedade na programação: “O cinema era um local que servia tanto para passar filmes, quanto
para shows, teatro, programa de calouro... e eu já fui muito, muito, quase todos dias aqui eu ia;
domingo pela manhã o programa de Zé Maria era sagrado.”38
36
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
Esse aspecto não será destacado nessa pesquisa, devido a não localização de fontes.
38
Depoimento de Joaquim Pereira Dias.
37
42
Figura 05 – Show de calouros em comemoração ao dia das mães. 1970. Autor da
fotografia: desconhecido.
A figura acima descreve muito bem o contexto desta sociedade, e nota-se nela que a
pretensão do evento foi comemorar o dia das mães que, ao mesmo tempo, oportunizava a
realização dos sonhos de muitas pessoas, pois o fato de subirem ao palco, permitiam-nas,
demonstrarem talentos através das canções as quais apresentavam. Este evento denominava-se
Show de Calouros.
Os participantes dessas apresentações tinham consciência de que a performance era
avaliada. Isso ocorria através das colocações de 1º, 2º, e se necessário, 3º lugar, e o público era
quem avaliava e julgava através de aplausos os resultados das apresentações. Além disso,
algumas pessoas da arquibancada também ganhavam prêmios. Nesse aspecto, é importante
destacar uma fala do apresentador do programa: “Eu fazia pergunta, programava pergunta. Nos
programas de calouros, por exemplo, tinha uns que iam para ganhar prêmios ali (...)”39.
O público que prestigiava esse evento, que ocorria aos domingos pela manhã, era composto de
uma quantidade elevada de espectadores. O número de pessoas presentes nessas ocasiões traduz o
quanto tal evento conseguia atrair público para esse ambiente.
Ocorreu também em seu interior festas de formaturas, em sua maioria colações de grau
para professoras e técnicos de contabilidade, conforme pontua a Sra. Julita:
Antigamente a profissão de professor era muito bem vista, era apreciada, quando
formava uma menina, era uma festa, era uma coisa, era o mesmo que formar na
medicina hoje né. Era bem visto, porque eram poucos que tinham oportunidade, porque
tudo era pago, colégio era pago. A maioria das professoras estudaram em Caetité, e as
39
Depoimento de José Maria Viana Machado
43
que podiam iam para Salvador, nem em Conquista não tinha, e estudavam lá,
formavam, e voltavam para ensinar em Brumado.40
Notamos e reconhecemos a importância do Cine Teatro Fátima enquanto um espaço para
as comemorações dessas conquistas, ao longo das décadas de 1970 e meados de 1980,
especialmente quando Brumado já contava com um colégio estadual.
Sobre as mesmas, um
morador informa: “Lá no cinema tinha formatura de professor, contabilista... Era lá que faziam a
cerimônia. Elas estudavam no Colégio Estadual de Brumado (...). No cinema, só colação de grau,
e depois todos iam embora”41.
Figura 06- Colação de grau do 3º magistério. Data da fotografia: anos 1970.
Autor: desconhecido.
Certamente, o magistério e a contabilidade foram cursos de grande prestígio e de mais fácil
acesso para essa região. Enfim, foi possível dimensionar até aqui a variedade de eventos que
foram realizados na sala de cinema, como também perceber como se dava o cotidiano desta
população a partir da existência deste espaço.
40
41
Depoimento de Julita Alves Cardoso.
Depoimento de José Maria Viana Machado.
44
3.4 Sala e exibição: um mergulho nas sessões de filmes
Precisamente, serão pontuados neste momento, alguns gêneros de filmes exibidos no Cine
Teatro Fátima entre (1964-1988) e a densidade de sucesso gerado pelos mesmos. De acordo com
informações adquiridas em algumas fontes matérias42, e em depoimentos de frequentadores e do
proprietário dessa sala de projeção, exibia-se alguns filmes mudos e também legendados na
língua portuguesa, e os gêneros faroeste, ação e comédia foram os de maiores destaques nesse
período.
Tratando desse assunto, seu proprietário afirmou: “Os filmes que fizeram mais sucesso
naquela época foram Candelabro Italiano, A noviça rebelde, Tarzan, e aqueles cowboys
italianos. A vida de cristo, eram cinco, seis sessões nos dias de sexta-feira santa... vinha gente de
todo lugar”43. Então, esses foram um dos filmes que alcançaram mais espectadores nesta sala, a
exemplo também de Mestre do kung fu e O grande dragão branco.
O filme A vida de Cristo era o mais esperado pelos espectadores do Cine Teatro Fátima,
visto que tratava-se de uma produção que versava sobre um assunto de interesse das pessoas, a
vida de Jesus Cristo, em uma comunidade marcada pela presença do catolicismo. A Semana
Santa era a data mais propícia para a exibição desse filme. Isso justifica a obtenção do alto índice
de espectadores no cinema do Sr. Zuzu.
Todos os dias eram exibidos filmes no cinema, durante a semana ocorria duas sessões de
filmes, apenas no horário noturno às 19:00 h e posteriormente às 21:00 h, e nos finais de semana
também tinham duas, primeiro as matinês ás 16:00 h, e depois uma sessão à noite, às 19:00 h,
essa considerada para os jovens e adultos. A sessão noturna ocorria diariamente, destinada para o
público apaixonado por esses gêneros, e até para aqueles que iam à procura de outros objetivos,
simplesmente paquerar e namorar.
As projeções eram acompanhadas pelas traduções gravadas em uma caixa de som, visto
que os filmes exibidos nesse momento eram mudos e legendados, e o objetivo do áudio era
valorizar ainda mais a imagem em movimento. Segundo o proprietário:
(...) as pessoas só queriam ver a figura, já ficava satisfeito, então você colocava um
disco que relatava a história, você colocava o disco e saia na tela, mas quando falava
uma coisa, na tela já saia outro, mas as pessoas já entendiam, só queriam mesmo ver a
42
43
Embalagens fílmicas disponibilizadas no Acervo particular de José de Souza Ribeiro.
Depoimento de José de Souza Ribeiro. Consultar no Anexo a ficha técnica dos filmes citados.
45
imagem de Cristo, do sofrimento dele, era o filme que dava mais dinheiro naquela época
era “A vida de Cristo”, “Tarzan”, “Os trapalhões”.44
Mesmo a sincronização dos projetores com o som não sendo tão perfeita, as pessoas
valorizavam a inovação da imagem em movimento, não considerando algo estranho.
A matinê, era uma sessão especial ocorrida aos domingos à tarde. Eram apresentações com
produções selecionadas especialmente para um público infantil-juvenil, pois os gêneros exibidos
tinham classificação livre. O fato é que os organizadores conseguiram naturalmente conquistar a
confiança dos espectadores, que merecidamente resultava na frequência ativa da população local.
Uma sessão espetacular foi a exibição do filme Trapalhões na guerra dos planetas (1978), filme
de grande sucesso nesse e em diversos cinemas que atendiam esse público. Os ingressos
cobrados nessa sessão eram considerados baratos; o valor cobrado para crianças era menor, seria
a metade do preço dos ingressos cobrados aos adultos. E é válido mencionar ainda que muitas
crianças entravam sem a apresentação de ingresso no portão, por não terem condições financeiras
para pagarem. Assim confirma o proprietário: “o ingresso era baratinho, muito baratinho,
qualquer um poderia entrar; eu fazia questão de funcionar, de passar os filmes mais baratos, (...)
e até colocar a garotada para dentro sem precisar pagar”.45
Muitos
filmes
acabavam
propondo padrões culturais nos sujeitos, valores e questões morais. O filme, de algum modo,
conseguia interferir no comportamento das pessoas, especificamente dos espectadores mais
fascinados pela sétima arte. O que o filme propagava, o sujeito poderia aceitar e reproduzir
(FERRO, 1992).
E em Caetité isto também ocorria:
O cinema muito contribuiu para ditar à moda e outros comportamentos (...) e aquele
ideário de felicidade através do consumismo, mostrado nos filmes. A sociedade formada
por muitos jovens aventureiros que frequentavam o cinema encaixa perfeitamente nesse
cenário. Ela também, inicialmente, vai propagar a felicidade pelo consumo, e logo
começa imitar as modas lançadas pelo do cinema. (...) Os filmes exerciam uma grande
influência na vestimenta e comportamento dos frequentadores no período pesquisado; o
cinema era a principal porta de entrada das tendências e novidades, pois não existiam
fontes como a televisão dos dias de hoje, e as revistas ainda eram raridade. Eles, ao se
sentirem fascinados com o que viam nos filmes, buscavam se vestir e agir como seus
ídolos, encontrando no cinema uma janela para uma viagem ao mundo exterior.
(ALMEIDA, 2013, p.26-27)
44
45
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
Depoimento de José de Souza Ribeiro.
46
O cinema, tanto quanto em Caetité como em Brumado, contribuiu para influenciar as
pessoas no que diz respeito a certos padrões de comportamento, como o uso de roupas e cortes
de cabelo, por exemplo. Serviu de espaço de lazer, para diversos fins.
47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade hoje é que vivemos a emergência do atual e, para que períodos relevantes da
história não sejam esquecidos, nós historiadores somos convidados a preservá-los. Nesse sentido,
procuramos construir parte da história do Cine Teatro Fátima, mostrando sua trajetória, sua
importância para a vida cultural e social de Brumado; ela foi, talvez, durante mais de duas
décadas (1964/1985), o principal espaço cultural da cidade, local de encontros de moradores, de
atividades sociais (festas e bailes) e educacionais (formaturas). Ir ao cinema parecia ser uma
prática social importante dentro da cultura local de Brumado.
Para realizar tal estudo, fizemos bastante uso da fonte oral, por dois motivos: primeiro pela
escassez de fontes e, em segundo lugar, por acreditarmos na importância da história oral
enquanto técnica de pesquisa, visto que esta forma metodológica de investigação é muito usada
na atualidade por parte dos historiadores para analisar o processo histórico, a história de vida, as
biografias (AMADO; FERREIRA, 1998). As fontes orais foram importantes para conhecermos,
parcialmente, a história de vida de Seu Zuzu46 e dos frequentadores de sua sala de cinema. Essas
lembranças coletadas nas entrevistas que realizamos contribuíram para nos mostrar o panorama
cultural que se estabeleceu em torno do Cine Teatro Fátima, as formas de lazer, experiências e
sociabilidades desenvolvidas pelos seus frequentadores.
A memória evocada por nossos entrevistados, em seus depoimentos, traz lembranças
significativas de momentos importantes de suas experiências sociais no tempo em que
frequentavam a sala de cinema. Essas recordações de memórias individuais contribuem para
conhecermos a própria história cultural da cidade de Brumado. A memória e a História se
alimentam mutualmente; ambas procuram preservar fragmentos do passado para as novas
gerações, para que no presente a história do Cine Teatro Fátima, por exemplo, não seja olvidada
(LE GOFF, 1990). Podemos dizer que o Cine Teatro Fátima foi, seguindo as concepções de
Pierre Nora e Jacques Le Goff, um lugar de memória (LE GOFF, 1990; NORA, 1993).
Esta pesquisa monográfica, na medida em que aponta temas como lazer, sociabilidades,
experiências individuais e coletivas, procurou também apontar caminhos e direções para o
campo de estudo da História Cultural e da História Social do Cinema. Foi um ponto de partida
46
No dia 21 de maio de 2008, o Sr. Zuzu recebeu através da Prefeitura Municipal de Brumado uma homenagem da
Secretaria Municipal de Educação e Cultura, pela iniciativa cultural, esforço e dedicação em instalar um cinema
nessa cidade durante a década de 1960. Essa homenagem aconteceu no antigo Fórum da cidade, onde esteve
presente o Prefeito Eduardo Vasconcelos e a Secretária Acácia Gondim Ribeiro.
48
que tentamos abordar. Pretendemos melhorar e ampliar essas discussões em uma nova pesquisa,
em um curso de pós-graduação.
Esperamos, satisfatoriamente, que esta pesquisa contribua para a ampliação da História
Regional do Alto Sertão da Bahia, sobretudo para o conhecimento histórico da vida social e
cultural do município de Brumado, uma vez que, como sabemos, ainda não há uma produção
bibliográfica consistente que se dedique ao estudo de suas salas de cinema.
49
FONTES E BIBLIOGRAFIA
Arquivos e Bibliotecas
Arquivo Histórico Municipal de Brumado
Arquivo Pessoal do Sr. José de Souza Ribeiro
Arquivo Público Municipal de Caetité- APMC
Biblioteca Belma Gumes – UNEB/Campus VI
Sites
www.imdb.com
www.cinemateca.gov.br
FONTES
Depoimentos
Joaquim Pereira Dias. 56 anos. Comerciante. Local da entrevista: Brumado/Residência. Data
da entrevista: 09/06/2013. Duração: 00:11:08.
Josafá Ferreira Pessoa. 62 anos. Pintor da construção civil. Local da entrevista:
Brumado/Residência. Data da entrevista: 24/06/2013. Duração: 00:35:10.
José de Souza Ribeiro. 85 anos. Aposentado. Local da entrevista: Brumado/Residência. Data
da Entrevista: 01/07/2013. Duração: 00:32:00.
José Maria Viana Machado. 78 anos. Aposentado e divulgador de notícias. Local da
entrevista: Brumado/Residência. Data da entrevista: 09/06/2013. Duração: 00:25:09.
Julita Alves Cardoso. 68 anos. Dona de casa. Local da entrevista: Caçulé/Residência. Data da
Entrevista: 06/06/2013. Duração: 00:18:18.
Vídeos
Documentário: Entrevista com Zuzu do Cinema. Produção de José Carlos Prates Ribeiro.
Brumado-Ba, 2013. Duração: 00:20:51. [Fonte consultada].
Jornal
O Globo (Rio de Janeiro)
BIBLIOGRAFIA
50
Artigos
ALCAZAR i GARRIDO, Joan del. As fontes orais na pesquisa histórica: uma contribuição ao
debate. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 13, n. 25/26, p. 33-54, set./2002 –
ago.2003.
ALMEIDA, Heloísa Buarque de. Quando o Metrô era um palácio: salas de cinema e
modernização em São Paulo. Cadernos de Campo (USP), São Paulo, v. 5/6, p. 156-195, 1996.
FERRAZ, Talitha. Entre arquiteturas e imagens em movimento: cinemas, corporeidades e
espectação cinematográfica na Tijuca. Logos: Comunicação e Audiovisual, Rio de Janeiro,
ano 17, n. 1, p. 43- 55, 2010.
FERREIRA, Lucivânia Mendes. Sociabilidade nas salas de cinema em Rondonópolis. In:
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA CULTURAL, 6, 2012, Teresina/PI. Anais
Eletrônicos do VI Simpósio Nacional de História Cultural. Teresina/PI: UFPI, 2012. p 1-11.
GUARINELLO, Norberto Luiz. História científica, história contemporânea e história
cotidiana. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 48, p. 13-38, 2004.
MACEDO, José Emerson Tavares. O Cine São José como espaço de lazer, diversão e
sociabilidade. TARAIRIÚ: Revista Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia
da UEPB, Campina Grande/PB, ano 2, v. 1, n. 2, p. 47-65, mar. 2011.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São
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PASSUS AUN, Ana Carolina. Sensibilidade e sociabilidade nas salas de cinema da Cidade de
Goiás (1909-1937). In: ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH/MG, 18, 2012, Mariana/MG.
Anais Eletrônicos do XVIII Encontro Regional da ANPUH/MG. Mariana/MG: ANPUH/MG,
2012. p. 01-10.
SCHVARZMAN, Sheila. Ir ao cinema em São Paulo nos anos 20. Revista Brasileira de
História, São Paulo, v. 25, n. 49, p. 153-174, jan. 2005.
_______. História e historiografia do cinema brasileiro: objeto do historiador. Cadernos de
Ciências Humanas – Especiarias, Ilhéus, v. 10, n. 17, p. 15-40, jan./jun. 2007.
VALENTE, Heloisa de A. Duarte. Paisagens sonoras, trilhas musicais: retratos sonoros do
Brasil. Per Musi: Revista Acadêmica de Música, Belo Horizonte, n. 28, p. 239-249, dez.
2013.
Enciclopédias
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Enciclopédia dos
Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1958. vol. XX.
51
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estabelecimentos
e área, segundo a propriedade das terras, inclusive os estabelecimentos sem declaração de
propriedade. Censo Agrícola de 1960- Bahia. VII Recenseamento Geral do Brasil. Rio de
Janeiro: IBGE, 1960, p. 20.
MIRANDA, Luís Felipe; RAMOS, Fernão (orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. 2 ed.
São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004.
SILVA NETO, Antônio Leão da. Dicionário de filmes brasileiros. São Paulo: Fundação
Biblioteca Nacional, 2002.
Trabalhos acadêmicos: monografias, dissertações e teses
ALMEIDA, Doriedson de Brito. O cinema em Caetité nas décadas de 1940 a 1960: o Cine
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MALVERDES, André. O fechamento das salas de cinema na cidade de Vitória e a política
da Embrafilme para a produção do cinema nacional: projetando a própria crise!. Vitória/ES,
2007, 167. Dissertação (Mestrado em História Social das Relações Políticas), Universidade
Federal do Espirito Santo.
MARTINS, Daniela Marinho. Os filmes da minha vida: exibição e salas de cinema em
Brasília de 1960 a 1965. Brasília, 2013, 247 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação
Social), Universidade de Brasília.
OLIVEIRA, Karolyne Gilberta Silva. Cine São Jorge (1954-1962): reflexos da sétima arte
nas sociabilidades guanambienses. Caetité, 2009, 11 p. Trabalho de Conclusão de
Curso/Artigo monográfico (Graduação em História), Universidade do Estado da Bahia
(UNEB/Campus VI).
SANTOS, Clédson Luciano Miranda dos. Ei, broto, vamos ao cinema?: o Cine-teatro Irapuã
e a sociabilidade em Itororó-BA nas décadas de 60 e 70. São Paulo, 2009, 190 p. Dissertação
(Mestrado em Ciências Sociais), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Livros
BURKE, Peter. A revolução francesa na historiografia: a Escola dos Annales, 1929-1989.
Tradução de Nilo Odália. 2 ed. São Paulo: Editora Unesp, 1991.
AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). Usos & abusos da história oral. 2
ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998.
BOCCANERA JR, Silio. Os cinemas da Bahia:1897-1918. Salvador: Edufba; Eduneb, 2007.
[Publicado originalmente em1919]
52
FERRAZ, Talitha. A segunda Cinelândia carioca: cinemas, sociabilidade e memória na
Tijuca. Rio de Janeiro: Multifoco, 2009.
FERRO, Marc. Cinema e história. Tradução de Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1992.
FONSECA, Raimundo Nonato da Silva. Fazendo fita: cinematógrafos, cotidiano e imaginário
em Salvador (1897-1930). Salvador: Centro de Estudos Baianos/UFBA, 2002.
GONZAGA, Alice. Palácios e poeiras: 100 anos de cinema no Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Ministério da Cultura/Funarte/Record, 1996.
LAGNY, Michèle. O cinema como fonte da história. In: FEIGELSON, Kristian; FRESSATO,
Soleni B.; NÓVOA, Jorge (orgs.). Cinematógrafo: um olhar sobre a história. Salvador:
Edufba; São Paulo: Editora da Unesp, 2009. p. 99-131.
LE GOFF, Jacques. Memória. In: História e memória. Campinas, SP: Editora da Unicamp,
1990.
PRONOVOST, Gilles. Introdução à sociologia do lazer. Tradução Marcelo Gomes. São
Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.
SIMÕES, Inimá. Salas de cinema em São Paulo. São Paulo: PW, 1990.
SOUZA, José Inácio de Melo. Pequena história das salas de cinema na cidade de São Paulo.
São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1992. p. 1-8 (Caderno paulista, 42; História em
movimento).
TURNER, Graeme. Cinema como prática social. Tradução de Mauro Silva. São Paulo:
Summus, 1997.
53
ANEXO
Modelo do Termo de Consentimento:
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Programa de Pós-Graduação Latu Sensu em Leituras:
Memórias, Linguagens e formação Docente
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a), de uma pesquisa.
Meu nome é Ângela dos Santos Meira, sou pesquisadora e aluna regular do curso de
Licenciatura plena em História da Universidade do Estado da Bahia, Campus VI em Caetité. O título
da minha pesquisa é “O Cinema de Brumado enquanto espaço de lazer e socialização: o Cine Teatro
Fátima”. O objetivo principal da investigação é apresentar a história, memoria e aspectos culturais do
Cine Teatro Fátima entre as décadas de 1960 e 1980 na cidade de Brumado (BA), analisando-o
enquanto espaço de lazer e socialização.
Até o momento não há um trabalho desenvolvido sobre esse tema, se tornando assim, um fator
de grande importância para população brumadense, visto que, ela terá a oportunidade de entender
como a existência do Cine Teatro Fátima foi relevante para o âmbito de lazer da sua sociedade.
Entre as fontes identificadas para a pesquisa, destaca-se a oralidade, depoimentos de
frequentadores da sala de cinema, em especial, do senhor José de Souza Ribeiro, fotografias, imagens
de Brumado e de atividades culturais realizadas no interior do cinema, filmes exibidos durante o
período de funcionamento do mesmo e alguns dados do IBGE referente ao município de Brumado.
Diante disso, vale entender que sua participação é de suma importância para o levantamento e
investigação das informações coletadas nas entrevistas realizadas. Você tem a garantia expressa de se
recusar a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização
alguma. O sigilo das informações prestadas será garantido, assegurando a sua privacidade. No entanto,
esclarece-se que não haverá nenhum tipo de pagamento ou gratificação financeira pela sua
participação.
Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do
estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é a sua e a outra é a do
pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma. Você
poderá se recusar a participar da pesquisa ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da
pesquisa, sem penalização e sem prejuízo.
Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato, a qualquer momento, com a
pesquisadora responsável, ÂNGELA DOS SANTOS MEIRA nos telefones (77) 9131-4022 (Tim),
54
(77) 99276420 (Vivo), podendo efetuar chamadas a cobrar caso necessite de maiores esclarecimentos.
Em caso de dúvidas sobre os seus direitos como participante nesta pesquisa, você poderá entrar em
contato com o comitê de Ética em Pesquisa, no Núcleo de Pesquisa e Extensão da Universidade do
Estado da Bahia Campus VI/ Caetité no telefone: (77) 3454-2021 Ramal 226 / 228.
_____________________________________________________________
Ângela dos Santos Meira
(Pesquisadora Responsável)
55
COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO DA PESQUISA
Eu, ______________________________, RG:____________________, abaixo assinado, concordo
em participar como colaborador(a) do estudo: “O Cinema de Brumado enquanto espaço de
lazer e socialização: o Cine Teatro Fátima”. Fui devidamente informado (a) e esclarecido(a)
pela pesquisadora Ângela dos Santos Meira sobre a referida pesquisa, os procedimentos nela
envolvidos, assim como possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me
garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer
penalidade (ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento, se for o caso).
Por ser esta a expressão da minha vontade, declaro que autorizo o uso acima descrito e assino o
presente consentimento em 02 vias de igual teor e forma.
Brumado, ____ de __________de_________.
Nome e assinatura de (Nome da pessoa entrevistada).
______________________________________________________________
(Assinatura da pessoa entrevistada)
56
COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO DA PESQUISA
Eu, José de Souza Ribeiro, RG:____________________, abaixo assinado, concordo em participar
como colaborador(a) do estudo: O Cinema de Brumado enquanto espaço de lazer e
socialização: o Cine Teatro Fátima. Fui devidamente informado(a) e esclarecido(a) pela
pesquisadora Ângela dos Santos Meira sobre a referida pesquisa, os procedimentos nela envolvidos,
assim como possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que
posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade (ou
interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento, se for o caso).
Por ser esta a expressão da minha vontade, declaro que autorizo o uso acima descrito e assino o
presente consentimento em 02 vias de igual teor e forma.
Brumado, ____ de __________de 2013
Nome e assinatura de (nome da pessoa entrevistada).
________________________________________________________________
(Assinatura da pessoa entrevistada)
57
LISTA PARCIAL DE FILMES EXIBIDOS NO CINE TEATRO FÁTIMA47
(por ordem cronológica de produção)
E o vento levou (Gone with the wind). Direção: Victor
Fleming e George Cukor. Roteiro: Margaret Mitchell.
Estados Unidos: Selznick International Pictures e MGM,
1939. 238 min. Color. Gênero: Drama/Romance.
Os dez mandamentos (The ten commandments). Direção:
Cecil B. de Mille. Roteiro: Dorothy Clarke Wilson e J. H.
Ingraham. Estados Unidos: Paramount Pictures e Motion
Picture Associates, 1956. 220 min. Color. Gênero:
Aventura/Drama.
Rastros de ódio. (The Searchers). Diretor: John Ford.
Roteiro: Frank S. Nugent. Estados Unidos: Warner Bros.
Pictures e C.V. Whitney Pictures, 1956. 119 min. Color.
Gênero: Aventura/Drama.
BEN-HUR. Direção: William Wyler. Roteiro: Lew
Wallace e Karl Tunberg. Estados Unidos: MGM, 1959.
212 min. Color. Gênero: Aventura/Drama.
47
Lista de filmes oferecida pelo filho do Sr. Zuzu, José Carlos Prates Ribeiro. Ademais, esta lista foi ampliada
também pelo levantamento que realizamos no acervo de Seu Zuzu, em seu arquivo pessoal, e de informações
contidas no Documentário: Entrevista com Zuzu do Cinema (ver Fontes e Bibliografia).
58
The guns de Navarone. Diretor: J. Lee Thompson.
Roteiro: Carl Foreman. Estados Unidos: Columbia
Pictures Corporation e Highroad Productions, 1961. 158
min. P & B. Gênero: Ação/Aventura/Drama.
O pagador de promessas. Diretor: Anselmo Duarte.
Roteiro: Anselmo Duarte. Brasil: Cinidistri - Companhia
Produtora e Distribuidora de Filmes Nacionais,1962. 96
min. P & B. Gênero: Drama.
Candelabro italiano (Rome adventure). Direção: Delmer
Daves. Roteiro: Irving Fineman. Estados Unidos: Warner
Bros,1962. 119 min. Color. Gênero: Drama/Romance.
Ursus na terra do fogo (Ursus nella terra di fuoco).
Direção: Giorgio Simonelli. Roteiro: Marcello
Ciorciolini. Itália: Cine-Italia Film/Splendor Film, 1963.
87 min. Color. Gênero: Ação/Aventura/Drama.
Lampião, o rei do Cangaço. Diretor: Carlos Coimbra.
Roteiro: Carlos Coimbra. Brasil: Cinedistri/Oswaldo
Massaini, 1963. 110 min. Color. Gênero: Aventura.
59
Os três desafios de Tarzan (Tarzan's three challenges).
Diretor: Robert Day Roteiro: Edgar Rice Burroughs.
Estados Unidos: Banner Productions e MGM, 1963. 92
min. Color. Gênero: Ação/Aventura.
Zulu. Diretor: Cy Endfield. Roteiro: John Prebble e Cy
Endfield. Estados Unidos: Diamond Films, 1964. 138
min. Color. Gênero: Drama/História.
SEM IMAGEM
A vida de Jesus Cristo. Diretor: José Regattieri. Roteiro:
José Regattieri e William Cobbett. Brasil: William
Cobbett Produções Cinematográficas, 1964. 165 min.
Color. Gênero: Biografia
A noviça rebelde (The sound of music). Direção: Robert
Wise. Roteiro: George Hurdalek. Brasil: Robert Wise
Productions,
1965.
174min.
Color.
Gênero:
Biografia/Drama.
Doutor Jivago (Doctor Zhivago) Direção: David Lean.
Roteiro: Robert Bolt. Estados Unidos: MGM e Carlo
Ponti Production, 1965. 197 min. Color. Gênero:
Drama/História/Romance.
60
Três homens em conflito (Il buono, il brutto, il cattivo).
Diretor: Sergio Leone. Roteiro: Luciano Vincenzoni e
Sergio Leone. Itália/Espanha/Alemanha: PEA, Arturo
González
Producciones
Cinematográficas,
S.A,
Constantin Film Produktion 1966, 161 min. Color.
Gênero: Western.
Tarzan no Grande Rio (Tarzan and the great river).
Diretor: Robert Day. Roteiro: Bob Barbash. Estados
Unidos: Allfin A.G., Banner Productions, Paramount
Pictures, 1967. 88 min. Color. Gênero: Ação/Aventura.
Os doze condenados (The dirty dozen). Diretor: Robert
Aldrich. Roteiro: Nunnally Johnson e Lukas Heller.
Estados Unidos: MGM, 1967. 150 min. Color. Gênero:
Ação/Aventura/Guerra.
O calhambeque mágico (Chitty chitty, bang bang).
Direção: Ken Hughes. Roteiro: Roald Dahl. Estados
Unidos: Warfield Productions, 1968. 144 min. Color.
Gênero: Aventura/Comédia/Família.
Romeu e Julieta (Romeo and Juliet). Diretor: Franco
Zeffirelli. Roteiro: Franco Brusati. Estados Unidos: BHE
Films, Verona Produzione e Dino de Laurentiis
Cinematografica, 1968. 138 min. Color. Gênero:
Drama/Romance.
61
Bravura indômita (True grit). Direção: Henry Hathaway.
Roteiro: Marguerite Roberts. Estados Unidos: Paramount
Pictures e Hal Wallis Productions, 1969. 128 min. Color.
Gênero: Western.
História de amor (Love story). Diretor: Arthur Hiller.
Roteiro: Erich Segal. Estados Unidos: Paramount Pictures,
1970. 99 min. Color. Gênero: Drama/Romance.
Chamam-me Trinity (Lo chiamavano Trinità). Diretor:
Enzo Barboni. Roteiro:Enzo Barboni. Itália: West
Film,1970. 113 min. Color. Gênero: Western/Comédia.
Inferno na torre (The towering inferno). Diretor: John
Guillermin. Roteiro: Thomas N. Scortia. Estados Unidos:
Warner Bros, Twentieth Century Fox Film Corporation e
Irwin Allen Production, 1974. 165 min. Color. Gênero:
Ação/Drama/Suspense.
Tubarão (Jaws). Diretor: Steven Spielberg. Roteiro: Peter
Benchley e Carl Gottlieb. Estados Unidos: Zanuck/Brown
Productions, Universal Pictures, 1975. 124 min. Color.
Gênero: Aventura/Suspense.
62
Lúcio Flávio, o passageiro da agonia. Diretor: Hector
Babenco. Roteiro: José Louzeiro, Jorge Duran e Hector
Babenco. Brasil: HB Filmes e Embrafilme, 1976. 125
min. Color. Gênero: Policial/Biografia.
Keoma. Diretor: Enzo G. Castellari. Roteiro: Enzo G.
Castellari e Nico Ducci. Itália: Uranos Cinematografica,
1976. 105 min. Color. Gênero: Western.
Os Trapalhões na guerra dos planetas. Diretor:
Adriano Stuart. Roteiro: Renato Aragão. Brasil: Renato
Aragão Produções Artísticas e TV Globo Ltda., 1978.
98 min. Color. Gênero: Comédia/Aventura/Infantil.
A dama do lotação. Diretor: Neville D’Almeida.
Roteiro: Neville D’Almeida e Nelson Rodrigues. Brasil:
Regina Filmes Ltda e Embrafilmes, 1978. 105 min.
Color. Gênero: Drama.
O jovem mestre do kung fu (Shi di chu ma). Direção:
Jackie Chan. Roteiro: Jackie Chan e Tin-Chi La. Hong
Kong: Golden Harvest Company/ Leonard Ho
Productions, 1980. 101 min. Color. Gênero:
Ação/Comédia.
63
O grande dragão branco (Bloodsport). Diretor: Newt
Arnold. Roteiro: Sheldon Lettich. Estados Unidos: Cannon
International,
1988.
92
min.
Color.
Gênero:
Ação/Biografia/Drama.
64
Senhor José de Souza Ribeiro.
Sr. Zuzu em sua atual residência localizada no
Centro de Brumado-Ba.
65