Uso de produto probiótico no controle de diarreia em Katarinas

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Uso de produto probiótico no controle de diarreia em Katarinas
TÍTULO:
Uso de produto probiótico no controle de diarreia em Katarinas (Bolborhynchus lineola)
Lilian V. Ceolin1, Isadora M. de O. Corrêa2, Larissa Q. Pereira2, Mauro Felin2,
Maristela Lovato3
INTRODUÇÃO:
A mucosa intestinal é uma eficiente barreira de defesa contra micro-organismos
patogênicos adquiridos de alimentos contaminados ou presentes no lúmen intestinal. O
uso de produtos probióticos contribui para o estabelecimento de uma flora bacteriana
benéfica ao hospedeiro, a qual dificultará a colonização da mucosa do intestino por
patógenos. Também tem a capacidade de produzir substâncias antibacterianas, como
bacteriocinas e colicinas, que incrementam a resposta do sistema imunológico e
competem por receptores do epitélio intestinal (NAVA et al. 2005).
Infecções bacterianas por enterobactérias são consideradas uma importante
causa de distúrbios gastrintestinais em aves de cativeiro, principalmente psitacídeos. A
contaminação do alimento e ambiente, dietas mal formuladas e fatores estressantes
contribuem para um possível quadro de infecção (HARRISON; McDONALD, 2006).
Uma das enterobactérias mais comumente isoladas do fígado de psitacídeos em
infecções sistêmicas é Escherichia coli (SCHMIDT et al., 2003). Apesar de ser
identificada com frequência na cultura de fezes da maioria das espécies animais, pois é
um micro-organismo habitual do trato intestinal, em aves consideradas saudáveis é
recuperada em apenas uma pequena porcentagem de indivíduos
(GYLES;
FAIRBROTHER, 2010). A infecção por E. coli em aves é geralmente extra intestinal
com início no epitélio da traqueia, em contraste com a maioria dos casos de doença em
humanos e outros mamíferos nos quais a bactéria inicialmente coloniza o epitélio
intestinal ou urinário (VIDOTTO et al., 1997).
O uso indiscriminado de antimicrobianos contribui para o mecanismo de
resistência adquirido por muitas cepas bacterianas. Os probióticos surgem como uma
alternativa para a prevenção de infecções e em alguns casos pode-se obter sucesso
terapêutico quando ministrados de maneira correta e com acompanhamento clínico.
OBJETIVOS:
1
Apresentadora
Co-autores
3
Orientadora
2
Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia do uso de produto probiótico
para tratamento de infecção bacteriana por enterobactérias, em um grupo de aves que
apresentava quadro clínico de diarreia.
METODOLOGIA:
As amostras foram coletadas em um grupo de 40 aves Katarinas (Bolborhynchus
lineola) com prévio histórico de diarreia e confirmação, por exame bacteriológico, de
infecção por enterobactérias, tendo como E. coli a bactéria predominante nos isolados.
As aves estavam alojadas em gaiolas em pares ou individuais e para a coleta foram
mantidas em um único compartimento da gaiola por meio de separação por grade. As
amostras foram colhidas aleatoriamente de 10 aves do grupo que foram utilizadas como
testemunhas do tratamento.
As fezes foram coletadas utilizando uma folha de papel pardo esterilizada,
colocada no fundo da gaiola e retirada após a defecação. As amostras foram
acondicionadas em embalagens plásticas individuais, identificadas e mantidas em caixa
térmica refrigerada até o processamento no laboratório. A coleta foi realizada um dia
antes do início de tratamento e um dia após o término.
O tratamento realizado consistiu da diluição do probiótico misto de
Lactobacillus spp.
4
diluído em 2000 mL água limpa, não clorada na concentração
inicial esperada de 1,3X108CFU, informada pelo fabricante. Por recomendação do
mesmo, o produto depois de diluído foi mantido em refrigeração durante três dias e
descartado, sendo que uma nova diluição foi realizada e também mantida por três dias.
Destas diluições, refrigeradas, 500 mL eram adicionados em 9500 mL de água limpa e
não clorada. Esta preparação foi oferecida para as aves ad libitum, diariamente durante
seis dias. A concentração final do produto foi realizada em ágar Lactobacilli MRS até a
diluição -10 sempre no terceiro dia após a diluição para verificar a viabilidade do
produto. Todas as aves alojadas receberam o tratamento.
O isolamento das amostras consistiu nas seguintes etapas: enriquecimento das
fezes em caldo BHI (Brain Heart Infusion) e após 24 horas de incubação a 37ºC foram
semeadas em placas de Ágar MacConkey e mantidas na estufa bacteriológica a 37°C
durante 24 horas. As placas que apresentaram crescimento bacteriano foram submetidas
à caracterização bioquímica para identificação das colônias isoladas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
4
Floramax B11- Vetanco
Das dez amostras analisadas bacteriologicamente, oito foram positivas para
enterobactérias antes do início do tratamento, sendo identificadas cinco amostras
positivas para E. coli, duas com crescimento de Edwardsiella spp. e uma amostra com
crescimento de Providencia spp. Após o tratamento quatro amostras, de um total de oito
positivas, não apresentaram crescimento de enterobactérias e as outras quatro amostras
continuaram positivas para as mesmas bactérias encontradas no início, sendo estas: duas
amostras de E. coli, uma de Providencia spp. e uma de Edwardsiella spp. Estes
resultados são descritos na Tabela 1 e Tabela 2. Com o acompanhamento clínico das
aves constatou-se melhora significativa no quadro de diarreia que elas apresentavam
antes do tratamento com o produto probiótico.
Infecções por Providencia spp. não são comumente descritas em aves, apesar de
estar associada a quadro de nefrite devido a ascensão da bactéria a partir da cloaca
(LUMEIJ, 1994). Segundo Holt et al. (1994) esta bactéria tem o potencial de ser
enteropatogênica e é descrita em infecções nosocomiais. A persistência desta bactéria
após o tratamento e o seu isolamento em apenas uma das amostras avaliadas pode não
ter significância clínica para o quadro geral que as aves apresentavam.
Mesmo após o uso do probiótico uma amostra de Edwardsiella spp. prosseguiu
positiva e em outra não houve crescimento de enterobactérias. Segundo Segabinazi et al.
(2005) a patogenicidade desta bactéria para aves não está estabelecida.
Com o resultado do exame bacteriológico podemos constatar que a infecção
bacteriana por E. coli foi reduzida em 60%, sendo considerado um resultado satisfatório
visto que este micro-organismo apresenta potencial de causar infecções sistêmicas, que
podem culminar com a morte das aves por septicemia, principalmente tratando-se de
psitacídeos. A administração de micro-organismos vivos, na forma de produto
probiótico, em doses adequadas confere ao hospedeiro inúmeros benefícios, entre eles
podemos citar a modulação do sistema imunológico e a competição com bactérias
patogênicas pelos sítios de ligação na mucosa intestinal e por nutrientes (TELLEZ et al.,
2012). Outro benefício dos probióticos é a capacidade de reduzir a diarreia idiopática
em ninhadas de perus (HIGGINS et al. 2005).
Tabela 1. Resultados dos isolamentos de E. coli de amostras de fezes de aves Katarinas
(Bolborhynchus lineola) obtidos antes (T1) e após o tratamento (T2) com produto
probiótico.
AMOSTRA
T1
T2
1
E. coli
Negativo
2
E. coli
Negativo
3
E. coli
Negativo
4
E. coli
E. coli
5
E. coli
E. coli
Tabela 2. Resultados dos isolamentos das demais enterobactérias, não incluindo E. coli,
obtidos antes (T1) e após o tratamento (T2) com produto probiótico.
AMOSTRA
T1
T2
6
Edwardsiella spp.
Edwardsiella spp.
7
Edwardsiella spp.
Negativo
8
Providencia spp.
Providencia spp.
9
Negativo
Negativo
10
Negativo
Negativo
CONCLUSÕES:
Embora a administração de produtos probióticos como forma preventiva de infecções
por patógenos entéricos seja a mais indicada, nossos resultados demonstraram sua
atuação no tratamento da infecção já estabelecida comprovados pela diminuição das
amostras positivas e melhora clínica. Sugerem-se pesquisas adicionais sobre dose e
tempo de tratamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GYLES, C. L.; FAIRBROTHER, J. M. Escherichia coli. In: GYLES, C. L.;
PRESCOTT, J. F.; SONGER, J. G.; THOEN, C. O. (Org.) Pathogenesis of bacterial
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HARRISON, G. J ; McDONALD, D. Nutritional considerations: Section II Nutritional
disorders. In: HARRISON, G. J; LIGHTFOOT, T. (Org.) Clinical Avian Medicine.
Palm Beach: Spix Publishing, 2006. p. 108-140.
HIGGINS, S. E. et al. Evaluation of intervention strategies for idiopathic diarrhea in
commercial turkey brooding houses. Journal of Applied Poultry Research, v.14,
p.345–348, 2005.
HOLT, J. G. et al. Bergey’s Manual of Determinative Bacteriology. 9 ed. Baltimore:
Williams & Wilkins, 1994. p.787.
LUMEIJ J. T. Nephrology. In: RITCHIE, B. W.; HARRISON, G. J.; HARRISON, L. R.
(Org.) Avian medicine: principles and application. Lake Worth: Wingers Publishing,
1994. p. 538-555.
NAVA, G. M. et al. Probiotic alternatives to reduce gastrointestinal infections: the
poultry experience. Animal Health Research Reviews, v. 6, n. 1, p.105–118, 2005.
SCHMIDT, R. E.; REAVILL, D. R.; PHALEN, D. N. Pathology of Pet and Aviary
Birds. Ames: Blackwell Publishing, 2003. p. 67-93.
SEGABINAZI, S. D. et al. Bactérias da família Enterobacteriaceae em Alphitobius
diaperinus oriundos de granjas avícolas dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, Brasil. Acta Scientiae Veterinariae, v. 33, p. 51-55, 2005.
TELLEZ, G. et al. Probiotics/direct fed microbials for Salmonella control in poultry.
Food Research International, v.45, p.628–633, 2012.
VIDOTTO, M. C.; NAVARRO, H. R.; GAZIRI, L. C. J. Adherence pili of pathogenic
strains of avian Escherichia coli. Veterinary Microbiology, v. 59, p. 79-87, 1997.