METODOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DO TESTE DE

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METODOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DO TESTE DE
METODOLOGIA PARA A CONDUÇÃO DO TESTE DE GERMINAÇÃO
EM SEMENTES DE (Jatropha curcas L.)
Cristiane Alves Fogaça, PGCAF/UFRRJ, [email protected]
Luany Leal da Silva, IF/UFRRJ, [email protected]
José Carlos Polidoro, EMBRAPA/CNPS, [email protected]
Tiago Böer Breier, IF/UFRRJ, [email protected]
Paulo Sérgio dos Santos Leles, IF/UFRRJ, [email protected]
RESUMO: O pinhão-manso (Jatropha curcas L.) é uma espécie que apresenta
frequentemente problemas relacionados às sementes, apresentando germinação irregular e
perda do poder germinativo após alguns meses de armazenamento. Dessa forma, o presente
trabalho teve como objetivo determinar as condições mais adequadas para expressar o
potencial germinativo das sementes, permitindo desta forma, estabelecer um padrão para os
testes de germinação de (Jatropha curcas L.). Para tanto, o teste de germinação foi realizado
com dois lotes de sementes (colheitas de 2006 e 2007), provenientes do município de Janaúba
(MG), utilizando-se quatro tipos de substrato (rolo de papel, entre papel filtro, sobre areia e
sobre vermiculita) sob diferentes regimes de temperatura (25, 30 e 35ºC, com luz constante e
alternada de 20-30ºC, com fotoperíodo de 8 horas). As avaliações foram feitas diariamente e
os resultados foram expressos em porcentagem de germinação e primeira contagem. Pelos
resultados obtidos, concluiu-se que as condições mais adequadas para expressar o potencial
germinativo das sementes de (Jatropha curcas L.), foram as que condicionaram as sementes
sobre areia à temperatura alternada de 20-30ºC, com 8 horas de fotoperíodo,
vermiculita ou em rolo de papel à temperatura de 30ºC, com luz constante.
Palavras-Chave: Pinhão-manso, viabilidade, substrato, temperatura.
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e sobre
1 INTRODUÇÃO
O pinhão-manso (Jatropha curcas L.), pertencente a família Euphorbiaceae, vem sendo
estudado como alternativa para produção de óleo como matéria-prima com vistas à fabricação
de biodiesel no Brasil e em diversos outros países. Sua propagação pode ser feita através de
estacas ou sementes, sendo o plantio por sementes o mais recomendado em virtude de
permitir melhor formação do sistema radicular (SEVERINO et al., 2006). Esta espécie
oleaginosa ainda não está totalmente domesticada e tem sido freqüente a ocorrência de
problemas relacionados às sementes que apresentam germinação irregular e perda do poder
germinativo após alguns meses de armazenamento.
O processo de germinação é afetado por uma série de condições intrínsecas e
extrínsecas, dentre as quais umidade, substrato, temperatura, luz e oxigênio. Entretanto, o
conjunto é essencial para que o processo se realize normalmente, e a ausência de uma delas
impede a germinação da semente (POPINIGIS, 1985; CARVALHO e NAKAGAWA, 2000).
Dentre estas condições, o substrato e a temperatura são dois importantes fatores que afetam o
comportamento germinativo das sementes durante o teste de germinação (CARVALHO e
NAKAGAWA, 2000).
As sementes apresentam comportamento variável em diferentes temperaturas, não
havendo uma temperatura ótima e uniforme de germinação para todas as espécies. A
temperatura ótima propicia uma porcentagem de germinação máxima em menor espaço de
tempo (MAYER e POLJAKOFF-MAYBER, 1989). As temperaturas máximas aumentam a
velocidade de germinação, entretanto apenas as sementes mais vigorosas conseguem
germinar, o que determina redução na porcentagem final de germinação. Por outro lado,
temperaturas mínimas reduzem a velocidade de germinação e alteram a uniformidade de
emergência, talvez ocasionado pela incidência de patógenos e pelo maior tempo de ação
desses sobre a semente (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000). Segundo BORGES e RENA
(1993) e ANDRADE et al. (2000), a faixa de 20 a 30ºC mostra-se adequada para a
germinação de grande número de espécies subtropicais e tropicais, uma vez que estas são
temperaturas encontradas em suas regiões de origem, na época propícia para a germinação
natural.
Com relação ao substrato, este influencia diretamente a germinação, em função de sua
estrutura, aeração, capacidade de retenção de água, grau de infestação de patógenos, dentre
outros, podendo favorecer ou prejudicar a germinação das sementes. Constitui o suporte físico
no qual a semente é colocada e tem a função de manter as condições adequadas para a
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germinação e o desenvolvimento das plântulas (FIGLIOLIA et al., 1993; ALBUQUERQUE
et al., 1998; NOGUEIRA et al., 2003). O bom substrato deve manter a proporção adequada
entre a disponibilidade de água e aeração, não devendo ser umedecido em excesso para evitar
que a película de água envolva completamente a semente, restringindo a entrada e absorção de
oxigênio (VILLAGOMEZ et al., 1979). Sendo assim, a escolha do tipo de substrato deve ser
feita em função das exigências da semente em relação ao seu tamanho e formato (BRASIL,
1992).
Diante do exposto e em virtude da escassez de informações na literatura, o objetivo
deste trabalho foi determinar as condições mais adequadas para expressar o potencial
germinativo das sementes, permitindo desta forma, estabelecer um padrão para os testes de
germinação de (Jatropha curcas L.).
2 MATERIAL E MÉTODOS
As sementes de (Jatropha curcas L.) utilizadas neste trabalho foram provenientes de
dois lotes, colhidos em diferentes épocas, em 2006 (lote 1) e 2007 (lote 2), no município de
Janaúba, MG. Após a colheita, as sementes foram removidas dos frutos, secas à sombra e
armazenadas, em sacos plásticos, em câmara com controle de temperatura e umidade (9-11ºC;
75%UR) até o momento da utilização. O trabalho foi conduzido no Laboratório de Análise de
Sementes, do Instituto de Florestas, Departamento de Silvicultura da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ.
Primeiramente, realizou-se a caracterização dos lotes a partir do peso de mil sementes e
da determinação do teor de água das sementes, segundo prescrições das Regras para Análise
de Sementes (Brasil, 1992).
As sementes foram colocadas para germinar em rolos de papel e em caixas plásticas
transparentes (gerbox), nos substratos entre papel filtro, sobre areia e sobre vermiculita, e
submetidas às temperaturas constantes de 25, 30 e 35º C, com luz constante, e à temperatura
alternada de 20-30ºC, sob fotoperíodo de 8 horas. Foram utilizadas quatro repetições de 20
sementes para cada tratamento. O papel foi umedecido com água destilada na quantidade
equivalente a 2,5 vezes o peso seco do papel e os substratos areia e vermiculita até a
saturação.
As contagens de germinação foram realizadas diariamente, iniciando no quarto dia e se
prolongando até o décimo oitavo dia após a implantação. O critério adotado para avaliação do
teste considerou como germinadas, as sementes que originaram plântulas normais.
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Os resultados foram expressos em porcentagem de germinação e porcentagem de
primeira contagem, onde se computou o número de sementes germinadas no primeiro dia de
contagem.
O experimento foi instalado no delineamento inteiramente casualizado, em esquema
fatorial 2 x 4 x 4 (2 lotes, 4 substratos e 4 temperaturas), com 4 repetições; os dados de
germinação, em porcentagem, foram transformados em arco seno √x/100. As médias dos
tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A umidade dos lotes 1 e 2 foram de 9,2 e 7,6%, respectivamente. E o peso de mil de
sementes foi de aproximadamente 721,5g para o lote 1 e 657,6g lote 2.
Na Figura 1 estão ilustrados os padrões estabelecidos para a avaliação do teste de
germinação, considerando como plântulas normais, com todas as estruturas essenciais,
demonstrando aptidão para produzirem plantas normais sob condições favoráveis de campo.
Plântulas anormais
Plântulas normais
Figura 1 - Padrões estabelecidos para avaliação do teste de germinação de sementes de
(Jatropha curcas L.).
Os resultados apresentados na Tabela 1, referentes à porcentagem de sementes
germinadas no primeiro dia de contagem, de dois lotes de sementes de pinhão-manso, revelam
que, com relação ao tipo de substrato, para ambos lotes, independente da temperatura o
substrato entre papel filtro apresentou os piores resultados. O lote 1, a partir da interação
substrato x temperatura, apresentou maiores resultados, quando as sementes foram semeadas
sobre areia e mantidas em câmara de germinação a 20-30ºC, com 8 horas de fotoperíodo e, em
vermiculita a temperaturas de 25 e 30ºC, com luz constante. Para o lote 2, resultados
semelhantes foram observados quando se empregou o tratamento entre papel. O valor de
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primeira contagem mais significativo foi obtido quando as sementes foram semeadas em rolo
de papel, e mantidas em câmara de germinação com temperatura de 30ºC, com luz constante.
Tabela 1 - Resultados médios (%) de primeira contagem de germinação de dois lotes de
sementes de pinhão-manso semeadas em diferentes substratos e temperaturas
TºC
Lote 1
Lote 2
SA(1)
SV
EP
RP
AS
SV
EP
RP
25
14 Bb
23 Aa
5 Cb
14 Bab
1 Ba
5 Ba
0 Ba
15 Ab
30
11 Bb
19 Aab
4 Cb
19 Aa
4 Ba
6 Ba
0 Ba
36 Aa
35
23 Aa
14 Bab
2 Cb
18 ABa
4 Aa
0 Aa
0 Aa
0 Ac
20-
23 Aa
5 Bc
9 Ba
9 Bb
6 Aa
4 Aa
0 Aa
0 Ac
30
(1) Médias seguidas pela mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, dentro de cada lote, não
diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. SA – sobre areia; SV – sobre vermiculita; EP –
entre papel filtro; RP – rolo de papel
Pelos resultados da porcentagem de germinação dos dois lotes de sementes de pinhãomanso, apresentados na Tabela 2, demonstraram para o lote 1, dentro do substrato areia, que
as temperaturas constante de 35ºC e a alternada de 20-30ºC, os valores de germinação foram
maiores, o mesmo foi observado no lote 2, com exceção da temperatura constante de 35ºC.
Utilizando o substrato vermiculita, houveram diferenças entre os resultados de cada lote,
observando que no lote 1, as temperaturas de 30ºC e a de 20-30ºC, foram as que obtiveram
melhores resultados. No lote 2, neste mesmo substrato, a temperatura mais baixa (25ºC)
apresentou resultados melhores juntamente com a temperatura alternada de 20-30ºC. Em rolo
de papel também foi observado diferença entre os dois lotes, no lote 1 a melhor temperatura
foi a de 25ºC e no lote 2 a de 30ºC.
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Tabela 2 - Resultados médios (%) de germinação de dois lotes de sementes de pinhão-manso
semeadas em diferentes substratos e temperaturas.
TºC
Lote 1
Lote 2
SA(1)
SV
EP
RP
AS
SV
EP
RP
25
31 Ba
35 Ba
22 Cb
51 Aa
53 ABb
70 Aa
25 Cb
56 ABb
30
25 Ba
39 Aa
15 Cb
25 Bb
54 ABb
48 ABb
44 ABa
68 Aa
35
41 Aa
30 Ba
39 ABa
39
39 ABb
53 Ab
14 Cb
49 Ab
73 Aa
66
43 Ca
65 ABa
ABab
20-
45 Aa
38 Aa
22 Bb
26 Bb
30
ABab
(1) Médias seguidas pela mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, dentro de cada lote, não
diferem
entre
si,
pelo
teste
de
Tukey,
a
5%
de
probabilidade.
SA – sobre areia; SV – sobre vermiculita; EP – entre papel filtro; RP – rolo de papel.
Dentro de cada lote de sementes, foram observadas variações na porcentagem de
primeira contagem e germinação, isto pode possivelmente ser devido a heterogeneidade do
lote e até mesmo a presença de germinação irregular na espécie estudada.
4 CONCLUSÃO
As condições mais adequadas para expressar o potencial germinativo das sementes de
Jatropha curcas, foram as que condicionaram as sementes sobre areia à temperatura alternada
de 20-30ºC, com 8 horas de fotoperíodo;
e sobre vermiculita ou em rolo de papel à
temperatura de 30ºC, com luz constante.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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