Construindo Jardins Entre o Efêmero e o Eterno

Transcrição

Construindo Jardins Entre o Efêmero e o Eterno
Construindo Jardins entre o efêmero e o eterno
Vera Lúcia Pereira
[email protected]
Prefeitura Municipal de Uberlândia
Relato de experiência
TERRA, NOSSO LAR
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução.
A Terra, nosso lar, é viva como uma comunidade de vida incomparável.
As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou
as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade de vida
e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus
sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo.
O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todos os povos.
A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.
Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico,
ético e espiritual da humanidade.(CARTA DA TERRA Disponível em:
<http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/text.html>. Acesso em: 7 jun 2011).
Resumo
O projeto propõe a sensibilização sobre as questões relacionadas entre o homem e o meio ambiente,
através do re-despertar do olhar, da audição, do tato, na reaproximação com a natureza levando à
criação de paisagens sonoras e visuais. Para tanto, trabalhamos com o conceito de arte efêmera,
apresentando vários artistas e obras significativas. Na sequencia os alunos concretizaram a criação das
próprias produções artísticas, utilizando elementos da natureza, finalizamos com uma exposição
coletiva dos trabalhos.
Este projeto contemplou alunos do último bimestre do ano letivo de 2013 do Ensino
Fundamental I na Escola de Educação Básica - ESEBA. Foi inspirado no projeto sobre
Poluição sonora, desenvolvido pela professora Lucielle Arantes na disciplina Educação
Musical, onde ela trabalhou a questão da poluição sonora na escola, conscientizando os
alunos da importância de “diminuir o volume” e os ruídos desnecessários na escola, visando
um ambiente de estudo de melhor qualidade assim como noções de respeito e limites dentro
do espaço escolar. Para tanto seu método de trabalho se baseou na construção de paisagens
sonoras imaginarias utilizando peças de Ludwig van Beethoven1. O projeto me despertou
1
Ludwig van Beethoven (Bonn, bat. 17 de dezembro de 1770 — Viena, 26 de março de 1827) foi
um compositor alemão, do período de transição entre o Classicismo (século XVIII) e o Romantismo (século
XIX). É considerado um dos pilares da música ocidental, pelo incontestável desenvolvimento, tanto da
linguagem como do conteúdo musical demonstrado nas suas obras, permanecendo como um dos compositores
interesse, fiquei motivada pela possibilidade da interação com as artes visuais, transformando
em imagens concretas as paisagens imaginarias.
“Mais do que nunca a natureza não pode ser separada da cultura e
precisamos aprender a pensar “transversalmente” as interações entre
ecossistemas (...)”(GUATTARI, p.7, 1990).
Então, partindo do link da disciplina Educação Musical com o projeto Poluição
sonora, e das reflexões de Félix Guattari em sua obra As três ecologias, ampliei o trabalho
formatando um projeto na área das Artes Visuais com o título Construindo jardins entre o
efêmero e o eterno.
O objetivo do projeto foi a abordagem transversal através da arte sobre questões
relativas às diversas poluições geradas no nosso cotidiano (entre elas a sonora, visual,
ambiental e a social) tendo como linha condutora o pensamento e a produção poética de
artistas que trabalham com questões ambientais e sociais. Enfim a proposta seria vivenciar
com os alunos uma experiência estética, a arte aguçando nossos sentidos, nos despertando
para olhar com outros olhos o nosso entorno, os espaços que habitamos e, como, habitamos o
nosso cotidiano, para Ana Mae Barbosa,
A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que
não podem ser transmitidos por meio de nenhum outro tipo de linguagem, tal
como a discursiva ou a científica. Dentre as artes, as visuais, tendo a imagem
como matéria-prima, tornam possível a visualização de quem somos, de
onde estamos e de como sentimos. (BARBOSA, p.99, 2005).
Uma experiência, convidando-nos a perceber, em que medida, podemos criar,
transformar, compartilhar nossa pratica de habitar espaços compartilhados. Pois, acreditamos
que o aluno através da arte, incluindo-se como um possível produtor de arte, possa se
sensibilizar pelas questões transversais postas, se colocando como um agente transformador,
crítico, criativo ao exercer seu papel de cidadão do mundo, alias qual é mesmo o mundo que
desejamos viver hoje? Segundo Félix Guattari:
O planeta Terra vive um período de intensas transformações técnicocientificas, em contrapartida das quais engendram-se fenômenos de
desequilíbrios ecológicos que, se não forem remediados, no limite, ameaçam
a implantação da vida em superfície. Paralelamente a tais perturbações, os
modos de vida humanos individuais e coletivos evoluem no sentido de uma
progressiva deterioração. (...) ao passo que só uma articulação ético-político
– a que chamo ecosofia – entre os três registros ecológicos (o do meio
mais
respeitados
e
mais
influentes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_van_Beethoven
de
todos
os
tempos.
Fonte:
ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana ) é que poderia
esclarecer conveniente tais questões. (GUATTARI, p.1, 1990)
Nesse contexto de desequilíbrios ecológicos ameaçadores da vida em superfície, temos
na arte, na experiência estética, uma possibilidade de sensibilização, de afetação de interação,
gerando conhecimento, transformação. Esta experiência ocorre quando o homem,
(...) se coloca diante do objeto artístico em um momento de fruição, que
solicita todos os seus sentidos para observar, ver, perceber e sentir como um
todo do ser, tendo em vista, que a arte apresenta ao homem uma
possibilidade e modos de estar no mundo. (Diretrizes Curriculares do Ensino
de Artes do Município de Uberlândia-MG, p.200)
Porem, acreditamos na possibilidade transformadora da arte, mas não como uma
formula mágica, e sim como uma ação propositora de novas possibilidades de modos de ver,
de sentir e agir, como bem nos coloca Fischer:
A função essencial da arte para uma classe destinada a transformar o mundo
não é a de fazer mágica e sim de esclarecer e incitar à ação; mas é
igualmente verdade que um regime mágico na arte não pode ser inteiramente
eliminado, de vez que sem esse resíduo provindo de sua natureza original a
arte deixa de ser arte. (FISCHER, p.20, 1987).
Embasados nessas reflexões, demos inicio no projeto. Em sala de aula com os alunos,
sentados em roda, retomamos os conceitos das aulas de música com o tema poluição sonora,
assim como as diversas formas de se poluir os lugares de convívio no nosso cotidiano, sejam
elas formas visíveis e ou invisíveis. Durante a conversa fizemos um levantamento com os
alunos de exemplos de situações de poluições ora presenciadas, e ora provocadas, por eles,
além de descrever a situação, solicitamos que os alunos relatassem o que sentiram durante
essas situações de poluição. Varias questões individuais e sociais foram levantadas com os
exemplos.
Após a discussão um convite: continuar a aula no belíssimo gramado externo da
escola. Estávamos em plena época da primavera, com belas tardes azuis ensolaradas, e o
gramado externo na verdade era um oásis no coração administrativo da cidade. Oasis? Sim,
dentro da escola uma imensa área gramada com árvores antigas frondosas, morada de
inúmeros pássaros, borboletas, insetos, etc. Um lugar mágico, onde até o barulho dos carros é
amenizado pela vegetação, é possível escutar a sinfonia dos pássaros e das cigarras.
Já no gramado a primeira parte da proposta foi simplesmente desfrutar o local,
perceber, o espaço, o céu, os bichinhos, a vegetação, o vento, as cores, a quietude e a
harmonia da natureza. Para isso foi sugerido que todos ficassem em estado de quietude ao
caminhar, deitar na grama, relaxar, respirar e aguçar a observação. Na segunda parte da
atividade foi entregue para as duplas de alunos, um vasilhame para coletar o que a natureza já
havia descartado (sementes, folhas, flores, gravetos, cascas, bichinhos mortos, pedras, terra de
cores diferentes, etc.), os alunos poderiam explorar livremente o espaço para observação e
seleção do material, até o bater de palmas da professora.
Após algum tempo nos reunimos em baixo de uma majestosa árvore que nos
presenteou com sua sombra fresca. Perguntei como estavam se sentindo, e quais eram as
percepções sobre o ambiente. Na sequência solicitei para as duplas que mostrassem e
comentassem o material coletado, e o que? com esse material, que agora seria nossa matéria
prima, e muita imaginação, poderíamos criar. As ideias foram bastante criativas, pedi para
continuarem a pensar sobre as possibilidades de criação com o material, e anotar no caderno
de artes, assim como todas as etapas do projeto, construindo assim um histórico (escrito e
ilustrado) do nosso processo de criação.
Fim do horário era preciso retornamos à sala de aula para organizarmos e guardar
cuidadosamente o material coletado.
Na aula seguinte2, organizei a sala de aula para recepcionar os alunos com a luz
apagada e musica baixa com sons de natureza. Solicitei que sentassem em silêncio, de forma
confortável e fechassem os olhos, recordando a aula anterior. Silêncio, apenas o som do
áudio. Após alguns minutos, acendemos a luz e desligamos o som. Foi o momento de expor
para os alunos a proposta de trabalho, o tema a ser investigado – Arte Efêmera; a palavra
efêmero segundo o dicionário: EFÊMERO– adj. Passageiro, transitório3. Já no campo da arte
o conceito de arte efêmera se difere do conceito de arte permanente (aquela que expressa e
registra o interior humano e seu universo histórico e que permanece intacta preservada, no
decorrer dos anos), a arte efêmera4 é composta por obras que existem por um curto período de
tempo e depois desaparecem, e como recurso para registrar sua existência como trabalho
visual os artistas utilizam meios como por exemplo: a fotografia, o vídeo.
2
(as aulas acontecem semanalmente com a duração de 100min - dois horários)
3 BUENO, Francisco de Oliveira. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, 11 ed. Rio de Janeiro: FAE, 1984,
p. 389.
4
(...) é um acontecimento, uma experiência que coloca em xeque o próprio conceito de obra de arte. A arte
efêmera não pode ser pendurada na parede de um museu, exatamente porque o que nela importa são os seus
processos de constituição e o conceito que elabora. (http://www.itaucultural.org.br/efemera/arte.html acessado
em 20/11/2014)
Portanto para desenvolver nosso projeto apresentei diversas obras relacionadas com
arte efêmera dos artistas: Vik Muniz5, Frans Krajcberg6, Andy Goldsworthy7. Assim como: um fragmento do filme Lixo Extraordinário8 direção de Lucy Walker - entrevista com o
polonês Frans Krajcberg gravada na abertura da exposição: Frans Krajcberg- o homem e a
natureza, no Museu Afro Brasil no Parque do Ibirapuera9 - e o vídeo10 sobre a obra de Andy
Goldsworthy. Solicitei aos alunos para continuarem a investigação sobre arte efêmera em
5
Vik Muniz (1961) é artista plástico brasileiro, conhecido, por usar lixo e componentes como açúcar e chocolate
em suas obras. É radicado em Nova York. A partir de 1988, começou a desenvolver trabalhos que faziam uso da
percepção e representação de imagens a partir de materiais como o açúcar, chocolate, catchup e outros como o
gel para cabelo e lixo. Naquele mesmo ano, Vik Muniz criou desenhos de fotos que memorizou através da
revista americana Life. Muniz fotografou os desenhos e a partir de então, pintou-as para conferir um ar de
realidade original. A série de desenhos chamados The Best of Life. Vik Muniz fez trabalhos inusitados, como a
cópia da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, usando manteiga de amendoim e geleia como matéria prima. Com
calda de chocolate, pintou o retrato do pai da psicanálise, Sigmund Freud. Muniz também recriou muitos
trabalhos do pintor francês Monet.
O artista também se dedicou a fazer trabalhos de maior porte. Alguns deles foram a série Imagens das Nuvens, a
partir da fumaça de um avião, e outras feitas na terra, a partir de lixo. (fonte:
http://www.infoescola.com/pintura/a-obra-de-vik-muniz/)
6
Frans Krajcberg nasceu em 12 de abril de 1921 em Kozienice, cidade do sudeste da Polônia. Vivia em
Częstochowa, cidade ao sul de sua terra natal, quando começou a Segunda Guerra Mundial. Por ser judeu, sofreu
preconceitos e perseguições perpetradas pelos nazistas. Toda sua família foi morta no Holocausto.
Em 1948 imigrou para o Brasil aos 27 anos. Mudou-se para o Paraná, e lá trabalhou como engenheiro numa
indústria de papel. Contudo, abandonou o emprego para se isolar nas matas para pintar. Disse Krajcberg na
entrevista de 2003:
"Detestava os homens. Fugia deles. Levei anos para entrar em casa de alguma pessoa. Isolava-me
completamente. A natureza deu-me a força, devolveu-me o prazer de sentir, de pensar e de trabalhar. De
sobreviver. Quando estou na natureza, eu penso a verdade, eu falo a verdade, eu me exijo verdadeiro. Um dia
convidaram-me para ir ao norte do Paraná. As árvores eram como homens calcinados pela guerra. Não suportei.
Troquei minha casa por uma passagem de avião para o Rio."
Ali no interior do Paraná Krajcberg testemunhou desmatamentos e queimadas nas florestas. Disse numa
entrevista recente de janeiro de 2007 para o Planeta Sustentável da Abril:
"Cresci neste mundo chamado natureza, mas foi no Brasil que ela me provocou um grande impacto. Eu a
compreendi e tomei consciência de que sou parte dela."
Apontando para uma madeira queimada, afirmou na entrevista de 2007:
"Desde então, o que faço é denunciar a violência contra a vida. Esta casca de árvore queimada sou eu."
A partir daí sua obra de arte nunca mais se separou de seu engajamento em prol da natureza e de sua
conservação sustentável. (Fonte: http://krajcberg.blogspot.com.br/)
7
Andy Goldsworthy- Nascido em 1956, Andy Goldsworthy é hoje um dos maiores escultores e artistas plásticos
no campo naturalista e ambientalista. Sempre aliados a um excelente registo fotográfico, que os imortalizam,
todos os seus trabalhos são feitos tão delicadamente como os materiais utilizados (pedras, folhas, neve..), numa
tentativa (conseguida) de desenhar/mostrar a efemeridade do ambiente que os rodeia, raramente usando
máquinas ou grandes utensílios nos seus projectos. Por sua vez, rompe com a noção de que a arte deve ser
exposta e preservada. Goldsworthy cria belas composições com elementos orgânicos encontrados em seus
passeios pela natureza: galhos, folhas amareladas do outono, pedras, neve. Constrói com eles desenhos,
estruturas geométricas, espirais, labirintos. Como tais criações são efêmeras – pois são destruídas pelo vento,
pelas chuvas, pelo mar e pelo tempo.(Fonte: http://pinvicto.blogspot.com.br/2006/11/andy-goldsworthy.html)
8 Lixo Extraordinário - Filmado ao longo de dois anos (agosto de 2007 a maio de 2009), Lixo Extraordinário
acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim
Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro. Lá, ele fotografa um grupo de catadores de materiais recicláveis, com
o objetivo inicial de retratá-los. No entanto, o trabalho com esses personagens revela a dignidade e o desespero
que enfrentam quando sugeridos a reimaginar suas vidas fora daquele ambiente. A equipe tem acesso a todo o
processo e, no final, revela o poder transformador da arte e da alquimia do espírito humano
9
Frans Krajcberg - O homem e a natureza -acesso pelo link http://www.youtube.com/watch?v=M1aVoUmKfSo
10
http://www.youtube.com/watch?v=iTEB3bEGprY&feature=related
casa, focando a vida e a produção poética visual desses artistas, usando como recurso a
internet e livros de arte, assim como algumas sugestões de perguntas para a pesquisa sobre os
artistas, do tipo: - O que é arte para este artista? - Como ele faz arte? - Por que ele faz arte
assim? - O que é ser artista nessa perspectiva? - Qual o papel da arte para ele? - Para que
serve esse tipo de arte? - O que você achou do trabalho desse artista?
A aula seguinte foi extremamente rica, os alunos trouxeram um vasto material,
imagens, reportagens, e a pesquisa sobre os artistas, na discussão ressaltamos que arte é uma
questão de percepção, do olhar sobre as coisas, e é justamente por isso que o que é
considerado arte para um, pode não ser para outro, e também o espírito da efemeridade desse
tipo de obra de arte, em oposição à busca dos temas clássicos e à eternidade de outras escolas
artísticas. Todos apresentaram os trabalhos. No segundo momento da aula, lancei o grande
desafio: - A criação de uma produção artística efêmera, utilizando materiais não
convencionais, se possível apenas com materiais de descarte. Nossa matéria prima principal
seria o material coletado pelas duplas no pátio (galhos, folhas, flores, sementes, cascas de
arvore, as pedras, as terras colorida etc.).
O problema maior foi a definição do suporte para as obras, já que a intenção seria
utilizar um material que também teria sido descartado, todos ficaram incumbidos de pensar,
perguntar e procurar. Como houve um envolvimento grande, dentro e fora, do ambiente
escolar, a questão foi solucionada por uma funcionária da escola, que localizou muitos
cartazes, sobras de um evento ocorrido no ano anterior, destinados a ir para o lixo.
Verificamos que o material era de excelente qualidade, um papel de gramatura densa e de
tamanho excelente (100x80cm), e algumas folhas de papel colorido, já usadas, porem com o
verso limpo. Ufa! Estava resolvido mais um problema. E a cola? A proposta era fazer grude
com farinha de trigo ou polvilho descartado (por estar fora do prazo de validade). Mas
infelizmente nosso tempo para encontrar tal material não foi suficiente, partimos para o uso
da cola convencional mesmo.
Após as pesquisas, as aulas teóricas com mostra e leitura de obras no campo da arte
efêmera, as várias rodas de conversa abordando questões sobre as diferentes formas de
poluição, partindo da conduta diária individual e coletiva no nosso cotidiano, assim como as
ações transformadoras para melhora, finalmente partimos para a elaboração do projeto. No
primeiro momento a elaboração foi individual utilizando o material coletado na natureza
(cada aluno separou o material desejado para realizar o seu projeto). Já o segundo momento
da produção foi coletivo. Este deveria ser compartilhado, criado e discutido em grupo (cada
sala foi dividida em dois grupos, a critério dos alunos). Para tanto, elegemos algumas regras,
pois deveríamos ter noção da divisão do espaço da sala, do material, e da quietude do
ambiente para não interferir no espaço do outro, assim como no processo de concentração e
criação (retomamos as questões da poluição sonora, do espaço compartilhado, etc).
Ufa! Muito trabalho, muito envolvimento e dedicação de todos, inclusive do pessoal
da limpeza que colaborou e compreendeu nosso processo de criação. Até o cheiro do mato,
das flores em decomposição foi motivo de rodas de conversa, e a importância da colaboração
de todos para que nosso ambiente compartilhado fosse de harmonia.
Bom, a próxima etapa também foi outro desafio: - montarmos uma exposição num local de
passagem, interferindo diretamente no espaço utilizado por todos na escola, contaminando
com nossa experiência estética e aguçando os sentidos dos passantes com as questões sobre
poluições geradas no nosso cotidiano (sonora, visual, ambiental e a social).
Decidimos expor os trabalhos no chão dos corredores principais e em algumas
paredes. Portanto, para a apreciação seria necessário o cuidado de não pisar nas obras, logo
não poderia ter mais correria no corredor, e esperámos que com o impacto visual das obras os
passantes naturalmente diminuíssem o tom de voz focando seus sentidos na apreciação dos
trabalhos, e na escuta dos sons da natureza emitidos por uma pequena caixa de som
escondida.
A montagem da exposição foi realizada com o ajuda dos alunos, e alguns funcionários
da escola. Os professores regentes agendaram horários para levar seus alunos para apreciação
da exposição. E na sequencia vários professores motivados pelo tema da exposição,
ampliaram as questões em sala de aula de acordo com o conteúdo de suas disciplinas.
A avaliação aconteceu de forma contínua, pois durante o desenvolvimento do projeto
o processo de aprendizagem e criação, exigiu dos alunos ações e reflexões durante todo o seu
fazer.
Na aula conclusiva que ocorreu após a montagem e a apreciação da exposição,
discutimos nosso processo de criação, cada aluno relatou um pouco sobre seu processo, sobre
os conceitos que foram aprendidos, e as atitudes do seu cotidiano que foram repensadas em
função dos conceitos. Para finalizar fizemos uma lista com palavras sínteses, que mais foram
usadas durante as falas dos relatos sobre o processo, são elas:
Quietude, acalmar, respirar, relaxar, contemplar, apreciar, escutar, sentir, imaginar,
criar,
pintar, prazer, desenhar, improvisar, observar, pesquisar, silenciar, deliciar, apreciar,
escrever, riscar, reciclar, fazer, colar, recortar, recuperar, doar, quebrar, descolar, repintar,
colorir, apagar, rasgar, lixar, trocar, entregar-se, compartilhar, suar... Solucionar.
Este foi o nosso processo de criação!
E principalmente: ... O que podemos fazer para que algo dessa atividade "perdure";
para que a experiência da visualização/reflexão/criação/fazer/exposição não se dilua
fugazmente, mas que conquiste a mente penetrando a memória pelo encantamento, se
transformando em questionamentos sobre valores fundamentais da vida, como o respeito ao
espaço do outro, respeito com o meio ambiente. Uma prática estética apoiada no
desenvolvimento dos sentidos que segundo Ana Mae é “ a única concepção de sensibilidade
que interessa ao ensino de arte”(Barbosa, p.99, 2005), ora individual ora coletiva a
cooperação e o compartilhamento, gerando conhecimento. Finalizo com o pensamento de
Jorge Larrosa,
(...) a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos
toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca.”(Bondia,
p.21,2002).
Fig.1eFig.2–Trabalho coletivo dos alunos em sala de aula, com material coletado de descarte da natureza Turma 4 ᴼ ano 2013
Fig. 3 e Fig. 4 – Detalhe do trabalho coletivo dos alunos – Turma 3 ᴼ ano - 2013
Fig. 5 e Fig. 6 - Detalhe do trabalho coletivo dos alunos – Turma 4ᴼ ano - 2013
Fig. 7 e Fig. 8 – Trabalho coletivo dos alunos em sala de aula, com material coletado de descarte da natureza Turma 3ᴼ ano 2013
]
Fig. 9 – Trabalho coletivo dos alunos em sala de aula, com material coletado de descarte da natureza - Turma
2ᴼ ano 2013
Fig. 10 e Fig. 11 – Detalhe do trabalho coletivo dos alunos – Turma 3 ᴼ ano - 2013
Fig. 12 e Fig.13 – Exposição coletiva dos alunos do Ensino Fundamental I da Escola de Educação Básica:
Construindo Jardins entre o efêmero e o eterno – ano 2013
Referências:
BARBOSA, Ana. Mae.(org). Arte/Educação contemporânea: consonâncias
internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista
Brasileira de Educação. [online]. 2002, Jan/Fev/Mar/Abr, nᴼ 19, p.20-28. ISSN 1809-449X.
Disponível em: <http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE19/RBDE10_04
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
GUATARRI, Félix. As três ecologias. Tradução Maria Cristina F. Bittencourt: Papirus, 1990.

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