David de Prado Díez

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David de Prado Díez
Revista RecreArte 11
DIC09
Revista RecreArte 11 > III - Creatividad en las Artes: Expresividad Vivificadora
David de Prado Díez
“Uma ação retrospectiva: Da terra aos céus, um vôo solitário...”
Autor: Norberto Stori
Professor Dr. Titular: Centro de Comunicação e Letras e do Programa de Pós
Graduação em Educação, Arte e História da Cultura do da Universidade
Presbiteriana Mackenzie/SP.
Resumo: Este trabalho apresenta uma ação retrospectiva das minhas pesquisas
pictóricas no processo da pintura em aquarela das décadas de 1970 até os dias
de hoje. Da década de 1970 a 1980, as pinturas receberam os títulos de séries
como: “Cabanha do Portão”,“Caminhos”, “Paisagens Interiores” e “New Age” e
durante e após 1990, as séries “Sírius”,“Noturnos” e “Crepúsculos”. Nas duas
primeiras séries foram utilizados como arquivos de imagens, cadernos de
anotações e fotografias. Houve a vivência e a observação direta da paisagem
brasileira, do campo e do litoral, em busca das luzes, cores e formas. Nas demais
séries, os estímulos foram observados, vistos e arquivados na memória. O ver
está associado ao sentir, onde o resultado derivado desta experiência de
observação permite o salto para a interpretação.
Palavras-chave: Ação retrospectiva. Pinturas em aquarela. Paisagens.
Abstract: In this work, it is presented a retrospective action of my pictorial
research on watercolor painting process in the decades from 1970 to the current
days. In the 1970s and 1980s, titles of series named paintings such as: ¨Cabanha
do Portão¨, ¨Caminhos¨, ¨Paisagens Interiores¨ and ¨New Age¨; during and after
1990, the series were: ¨Sírius¨, ¨Noturnos¨ and ¨Crepúsculos¨. In the two first
series, images archives were used as record notebooks and pictures. They are the
result of experience and direct observation of Brazilian landscape, countryside and
seaside, in search of the light, colors and forms. In other series, the stimuli were
observed, seen and memorized. Thus, ¨to see¨ is associated with ¨to feel¨ and the
result of this observation experience permits the interpretation.
Key words: retrospective action. Watercolor paintings. Landscapes.
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Os textos e as imagens que seguem, apresentam uma ação retrospectiva
das minhas buscas pictóricas com fatos que ainda se encontram arquivados em
cadernos de anotações, fotografias e na memória. Relata a experiência prática,
visual e direta durante mais de três décadas do meu fazer artístico com várias
fases ou séries dos trabalhos nos processos pictóricos da aquarela.
A partir das décadas de 1970 a 1980, as pinturas receberam os títulos de
séries como: “Apocalipse da Paisagem”, “Cabanha do Portão”, “Caminhos”,
“Paisagens Interiores” e “New Age” e durante e após 1990 as séries “Sírius”,
“Noturnos” e “Crepúsculos”. Os elementos da natureza são os atores principais,
elementos naturais, não criados pelo homem, mas há o seu rastro.
Quantos aos elementos naturais CLARK, critico e historiador de arte, em
seu livro “A Paisagem na Arte” (1956), observa que estamos rodeados por coisas
que não foram feitas por nós e que têm uma vida e uma estrutura diferente da
nossa: árvores, flores, relva, rios, colinas e nuvens e que desde há séculos que
nos inspiram curiosidade e respeito, e têm sido objetos do nosso prazer.
A série “Apocalipse da Paisagem” iniciada em 1972, teve como estímulo
primeiro a paisagem urbana da metrópole – São Paulo. Depois, a esta se juntou a
paisagem
natural,
dando
origem
a
desenhos
representando
paisagens
simbolicamente criadas onde foram criados símbolos para representar os
elementos das duas paisagens, de alguma forma relacionados à sua aparência
real.
Ciente de que a arte é também, até certo ponto, um simulacro, partia dos
estímulos da paisagem artificial - construída pelo homem e dos estímulos da
paisagem natural. Da paisagem urbana havia a representação dos perfis de
prédios, das estruturas geométricas retangulares, irregulares, da verticalidade, e
elementos sugerindo sucatas industriais.
Queria representar a destruição da paisagem, uma preocupação ecológica.
O meu olhar de observador dos elementos da natureza era de indignação, e a
simbologia criada era de protesto, de inconformismo com o desrespeito e a
destruição da criação do Divino pelo seu filho homem. Tudo isso me levou a exilar
a figura humana dos trabalhos. O homem como elemento causador dessa
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destruição não deveria participar das paisagens, mesmo quando como passivo
espectador.
A representação da paisagem natural percorrendo espaços soltos no papel,
acabara ficando presa, cercada pelo geometrismo dos elementos verticais e
horizontais, misturados a outros elementos que lembravam prédios, tocos de
madeira, cercas; estes, também para representar o caos, eram desenhados de
cabeça para baixo, sugerindo representações de cidades subterrâneas, sem vida,
sem ar, sem luz.
Estes desenhos de paisagens não representavam o belo subjetivo, o belo
da Natureza, o belo do “Pittoresco”, que para ARGAN (1991), a paisagem da
pintura “pittoresca” não seria a paisagem urbana, uniforme, artificial, privada de
grandes espaços e de perspectiva aberta e variada e que, a paisagem urbana,
sob certos aspectos, carece de uma tradição pictórica, diversamente da
“pittoresca” paisagem campestre, na qual as qualidades da Natureza se revelam
com todos os caracteres pregnantes e sedutores.
Envolvia a paisagem em um profundo sentimento de dor. Não usava a cor
para não sugerir sedução e, para conferir maior dramaticidade, usava somente
tinta nanquim preta, o carvão litográfico preto e lavis em tons de cinza, derivados
do nanquim. O preto e o cinza simbolizavam o luto, o lúgubre, a poluição, a falta
de vida. Após muitos desenhos da série “Apocalipse da Paisagem”, as cores
começaram a participar, inicialmente o sépia e o verde, depois, as demais cores.
Fig. 1-Apocalípse da Paisagem, 1974
Têmper/nanqui/bico de pena
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Esta série “Apocalipse da Paisagem”, subdividi-se em duas outras, que se
interligavam: “Pasárgada” e “Águas de Março”. “Pasárgada”, 1973, teve como
título e estímulo o poema de Manuel Bandeira. Os desenhos sugeriam um mundo
novo, idealizado através de paisagens simbólicas representadas numa linguagem
fantástica. Era um sonho e, nesse sonho, eu ia embora para “Pasárgada”, porque
lá eu também poderia ser amigo do rei. Lá estaria protegido da destruição deste
nosso mundo, poderia ajudar a protegê-lo ou a criar um mundo novo.
Nos desenhos, surgem formas circulares dentro da terra ou nascendo dela;
a terra era o útero, representando um ovo ou ovos que se iam transformando em
óvulo ou óvulos, também como fase de mórula, que se apresentavam com partes
abertas, mostrando grafismos orgânicos e sugerindo novos elementos de vida.
Em alguns desenhos apareciam linhas retas verticais e horizontais,
referências ao geometrismo da cidade grande. Era uma proposta para um novo
mundo e melhor. Um começar de novo para uma nova vida. Uma nova gênese.
Fig. 2 -Série “Pasárgada”, 1975
Desenho bico de pena/aquarelnanquim (70 x 100
A música “Águas de Março” do poeta e compositor Tom Jobim, tanto foi o
estímulo para o título como para uma nova série de desenhos em 1974. Música
cheia de substâncias da Natureza, de substantivos que nomeiam os elementos
que nos rodeiam tanto na paisagem natural como na urbana.
Os desenhos continuaram a ser interpretações das duas realidades – da
urbana e da natural e em ambas estavam contidas reminiscências do passado.
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Saudade e vontade de ver um céu azul e a luz natural. Do cheiro de terra
molhada, cheiro da flor do manacá, dos caminhos de terra com os pés descalços,
o vento soprando no rosto, a poeira, a paisagem rural. E eu, na metrópole,
lembrando e substanciando um mundo vivido com os elementos da minha
infância e adolescência, com os substantivos de “Águas de Março”: Pau, pedra,
fim, caminho, resto, toco, caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol, peroba,
campo, nó, madeira, garrafa, cana, caingá, candeia, matita pereira, vento, tombo,
ribanceira, mistério.
O caos urbano e a paisagem fria e insensível, construída com substâncias
do mundo industrial resultando em elementos negativos que levam à má
qualidade de vida, a correria, a falta de tempo e o medo..
Na série “Águas de Março” os desenhos representavam um universo onde
havia o confronto do homem com ele mesmo, com o moderno, com o industrial,
com a rigidez da fria arquitetura de seus prédios contemporâneos, com seus
elementos industrializados e os ângulos retos. Nos desenhos, as cores
começaram a participar sem censura; em alguns deles há a gestualidade e os
grafismos nervosos, agressivos, em outros eles tornam-se menos agressivos,
ganhando um toque mais lírico. O branco do papel continua a fazer parte da
composição.
Fig. 3 – Série “Águas de Março”. 1974
Desenho bico de pena/nanquim/têmpera guache (50 x 70cm)
A série “Cabanha do Portão” aconteceu ao entrar em contato com outra
realidade – a paisagem dos pampas gaúchos quando da permanência na fazenda
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“Cabanha do Portão”, município de Bagé – RS, junto a outros artistas que
também foram convidados para o I Encontro Nacional de Artistas Plásticos, em
janeiro de 1976. O encontro foi criado para reunir os quatro artistas plásticos,
consagrados nacionalmente, oriundos de Bagé: Carlos Scliar (1920-2001),
Danúbio Gonçalves (1925), Glênio Bianchetti (1929) e Glauco Rodrigues (1929),
onde desenhavam e pintavam juntos quando jovens nas fazendas da região.
Com a vivência direta no campo, tive a descoberta profunda e sincera de
uma paisagem naturalmente organizada em sua amplidão, e os estímulos
externos que cresciam a meus olhos, deram-me elementos novos para afirmar
uma personalidade artística futura.
Nos “diários de campo” foram registradas reflexões, impressões, reações e
desenhos de anotações, tudo que se via e sentia nessa paisagem onde os efeitos
e os elementos naturais apresentavam ousados espetáculos de luzes e cores.
O horizonte e o infinito... O infinito sempre infinito demais. Um céu sem fim
onde nuvens corriam e se transformavam incessantemente ou se desmanchavam.
Na imensidão infinita, céu e terra misturando-se criando paisagens irreais,
miragens que aconteciam no horizonte, como por exemplo: marinhas. O céu
morrendo na terra, ou a terra se elevando ao céu.
Após dias de desenhos de anotação nos “diários de campo”, a aquarela
começou a correr em aguadas sobre o branco do papel era a paisagem nascendo.
O grafismo dos trabalhos anteriores permaneceu definindo formas: árvores, capim,
pássaros, animais à distância, sobre as cores das manchas de aquarela em
aguadas
O céu cada vez mais observado e estudado, ocupando grande parte do
papel tornando-se o elemento principal das pinturas de paisagens. É sabido que
ele é um dos elementos mais significativos da paisagem, e que inspirou os
pintores holandeses que primeiro fizeram da paisagem o principal tema da pintura.
Com relação a isto CLARK (1956) observa que a tentativa de Brunelleschi de
reduzir a natureza a termos de medidas foi derrotada pelo céu; e foi o céu que
inspirou os pintores holandeses que primeiro fizeram da paisagem o tema
principal de pintura.
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A paisagem de interpretação das séries anteriores deu lugar à paisagem
de observação, com todos os seus contrastes cromáticos, movimentos e luzes,
sem preocupação acadêmica, de verossimelhança, o grafismo foi sumindo e a
aquarela tornou-se o principal processo de expressão com suas manchas amplas
e cores. O céu e a terra foram representados passionalmente, com emoção nas
aguadas da aquarela. Era a representação de paisagens panorâmicas,
imensuráveis.
As anotações foram transformadas em aquarelas como expressão final,
que me fizeram iniciar uma série de viagens pelo Brasil para estudar as nossas
paisagens. Sentia a necessidade de pintar in loco, de fazer anotações e fotografar,
para depois, desenvolver os trabalhos. Foi o início da série “Caminhos”
Quanto aos trabalhos desta série, FERRAZ, crítico de arte escreveu o texto
que segue no Jornal “A Tribuna”. Santos/SP. 30 de abril de 1976:
“Implica a visualidade de Norberto Stori, profundamente, uma recordação de
Supervielle, mencionado por Bachelard em seu estudo de A poética do espaço, assinalar
o encontro do poeta com o pampa. Escreverá Supervielle: “Por causa de um excesso de
andar a cavalo e de ter liberdade, e por este horizonte imutável, a despeito de nossos
galopes desesperados, o pampa me parecia uma prisão maior que as outras”. É a
tentativa de Stori de uma descrição de espaço. Descrição abrangente, pois o que parece
ao olhar desavisado uma direta exteriorização, o problema no pintor das paisagens do
pampa é mais íntimo, e precisamente trata-se de um desabrochar da interiorização.
“Espaço demais nos sufoca – declara sem restrições o poeta de Gravitations -,
muito mais do que se não houvesse bastante”. É a síntese do tema na exposição da
Galeria de Arte da Aliança Francesa.
Dispôs-se Stori a dominar o quadro que enfrenta com a sua “imensidão interior”,
no plano de uma focalização multiplicada: por toda a parte o espaço, sempre o espaço, e
olhar que o percorre sente-se, no espaço demais”, prisioneiro do ilimitado.
A complexidade da aproximação entre o pintor e o poeta, através de releitura dos
exemplos de Bachelard, o mestre fabuloso do imaginário, oferece-se, aos que se
habituaram à fenomenologia da imaginação, como válida expressão, direta e evidente.
Estas paisagens é uma só paisagem, o pampa, e sobre ele a solidão. “Esta
solidão da América!”, revelou-nos, assombrado Carlos Drummond de Andrade, em
poema pouco lido e pouco citado. A solidão desses céus que prendem e dilaceram as
coisas tornadas tão pequenas, na planície, árvores e caminhos, cercas e rebanhos.
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Irrecusavelmente, Stori percebeu o “espaço demais” e sentiu-se levado a
enfrentá-lo em pintura: uma proposta arriscada sob esses imensos céus tão claros –
parece-nos que só a aquarela 17 traz o céu de tempestade. Noutros céus explende uma
luminosidade de encantamento, a retomada do impulso vital que clama a sua
potencialidade, artisticamente, configurada. Um ilustração do Espaço?...
... Desejaríamos mais longamente falar desta proposta, mas nossa mensagem,
furtivamente, empresta-nos uma imagem fugaz, rememorativa da poética do espaço.
Pois, este artista se aproxima bem do registro pretendido”.
Fig. 4 – “Cabanha do Portão”.
Desenho a bico de pena/nanquim. 1976
Fig. 5 – Série “Cabanha do Portão” - Bagé, 1976
Aquarela papel (70 x 50 cm
As viagens de estudos, de desenhos de anotações e de fotografias,
serviram para maior aproximação das várias realidades e melhor envolvimento
com as paisagens e seus elementos.
Fiz estudos de obras de artistas na prática, mas, com consciência plena de
pesquisa, como tantos o fizeram, para uma maior familiaridade. GOMBRICH, em
sua obra “Arte e Ilusão” (1986), observa a importância dos esquemas familiares
ao artista na formação do vocabulário utilizado e na articulação de seus termos
numa linguagem, ressalta como o artista vale-se da arte que ele vê como modelo
para observar, classificar e descrever a realidade à sua volta.
Os estudos de autores de paisagens abriram espaços para que a
criatividade e a liberdade pictórica surgissem sem medo. Sentia-me livre para
pintar, entregue sem barreiras aos pudores estéticos, visual, sensitivo. Verifiquei
que os venezianos tiveram um dos maiores pintores do seu tempo – Giovanni
Bellini (1430-1516), que ao que parece, nascera com uma reação emocional à luz,
motivo principal da sua pintura, o mais importante dos dons dos pintores de
paisagens.
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A necessidade de observar e estudar cada vez mais a cor e a luz da nossa
Natureza me fez viajar pelo norte, nordeste, leste e oeste do Brasil. Nasceram
paisagens em aquarela com manchas mais soltas e amplas, que fizeram parte da
série “Caminhos”, cujos estímulos foram os elementos observados, fotografados,
desenhados e vivenciados em sua matéria, como os rios: Negro, Solimões,
Tapajós, Amazonas. Dunas, coqueirais e praias do nordeste. Paisagens do
interior, praias, dunas e lagoas catarinenses e gaúchas. Nestas aquarelas estava
presente a imensidão dos rios e das costas litorâneas.
Com relação à importância do desenho, o crítico de arte e poeta GULLAR
(1993), destaca que o desenho é que permite ao artista penetrar na intimidade do
real, tocar-lhe o cerne, estripá-lo, reestruturá-lo, transformá-lo. E, quanto ao saber
desenhar observa que é um modo de possuir a realidade, de poder inclusive
inventar-lhe sucedâneos e, que o desenho estabelece a ligação entre a realidade
e o sonho, entre o universo individual e o universo social.
Muitos desenhos de anotação dos canteiros a beira mar com flores e
árvores, foram feitos, com o intuito de estudar e captar as transformações durante
as estações do ano.
Quanto a estas obras, o crítico de arte PEREZ, escreveu o seguinte texto
para o convite da exposição no CADES-Galeria de Arte. Santos/SP:
“E, de repente, o desenho! Novamente o desenho, mas não o mesmo,
transformado, recriado, porém inconfundivelmente o Norberto Stori de sempre. Quem não
tornou a passar pelos velhos caminhos? Quem ainda não teve o prazer do reencontro,
com aquela certeza de trazer experiências outras que nos fazem ter também outros olhos
para os mesmos detalhes? É essa surpresa que NORBERTO STORI nos reserva agora,
no prazer que se permite de reencontrar o mesmo desenho, que dominava seu trabalho
há três ou quatro anos, para retomá-lo e seguir adiante. E, muito mais do que esse prazer,
o despudor, a simplicidade e o despojamento de deter um pouco da natureza no tema,
por ela mesma e também para falar através dela.
[...] E é justamente a sensibilidade que está agora nesses desenhos livres,
gestuais, soltos, líricos e ternos em alguns momentos, sombrios e intempestivos em
outros. Uma “soltura” que lhe trouxe a aquarela (quando suplantou o grafismo) presente
também neste conjunto que mostra o artista na liberdade e explosão do criar”.
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Percebi que havia muito a fazer com os processos pictóricos da aquarela
sem ficar preso aos cânones tradicionais, como o branco do papel usado sempre
como luz e/ou como cor, utilizar cores não muito vibrantes, veladuras com o
máximo de transparências, intimismo e pequenos formatos. Questionava tudo
isso e estudava cada vez mais a história da aquarela, os processos pictóricos que
ela poderia oferecer e os grandes aquarelistas.
Já havia tido a descoberta em 1973, da expressão máxima do Romantismo
inglês e fonte de referência do Impressionismo, também a minha luz guia –
Joseph Mallord William Turner (1775-1851). Depois veio o encontro com as
aquarelas do expressionista Emil Nolde (1867-1956), que tornaram-se referências
para o meu trabalho, tanto na técnica como na linguagem.
Quando foram expostos trabalhos desta série na exposição individual para
a inauguração da Galeria de Arte do Clube do Comércio em Porto Alegre - RS,
em 29 de agosto de 1979, WEBSTER, escreveu o seguinte texto de apresentação
para o convite:
“As primeiras lições de viver... Ao nos defrontarmos com a obra de Norberto Stori,
encontramos dois caminhos que se completam, constituindo um todo. Um, o seu domínio
técnico que lhe permite utilizar os elementos plásticos em toda a sua essência. Outro,
sua sensibilidade de enxergar o mundo que o rodeia. Esses dois caminhos estão
presentes, apresentando uma pessoa que, ao olhar um filho da natureza, permite-se
emocionar, sentir, admirar, captando toda a sua beleza e transpondo-a para o papel. Ato
tão sincero e franco, que, automaticamente, Norberto o submete à crítica, apresentandoa para todos. Norberto é na sua vida esta mostra leal, despojada e autêntica.
A aquarela, que lhe permite transpor todo o mundo empírico da campanha
bageense, em 1976, permitiu-lhe as marinhas e mais, a liberdade de hoje colocar em
qualquer técnica que deseje, utilizando o espontâneo do momento em que vive [...]”.
Foram diversos os temas da série “Caminhos”: paisagens, marinhas,
natureza morta, pássaros em revoada sobre figos na paisagem, desenhos de
vasos com rosas secas, flores, etc.
Curiosamente, nesta mesma época, quando a aquarela parecia ser o meu
maior meio de expressão, que o desenho começou a aparecer e impor-se outra
vez, como um caminho a ser percorrido novamente. ANDRADE, crítico de arte
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escreve para o convite da exposição na Galeria Funarte Macunaíma. Rio de
Janeiro, janeiro de 1980:
“[...] Trata-se, pois, de uma artista antes de tudo fiel a si próprio, como criador,
com o qual podemos ou não concordar com os pontos de vista, nunca, porém, duvidar da
sinceridade de sua proposta, que é sempre a de um desenhista em permanente estado
de exaltação. Não no mau sentido da palavra. Porque Stori exalta a natureza em sua
plenitude e na sua grandeza imponente, seja as marinhas do litoral paulista, em particular
os arredores de São Sebastião – seja os pampas rio-grandenses ou as costas
nordestinas. Um artista irrequieto em suas andanças? Nem tanto. Stori viaja muito, sim,
mas em busca de cor local, sempre com aquela louvável preocupação de captar o que
mais lhe fascina e o que mais lhe atrai como desenhista nato que é [...].
Após tantas andanças e trabalhos realizados, veio a crise e comecei a
questionar-me como artista com relação à minha contemporaneidade e ao meu
trabalho. A partir de 1983, queria o gesto e as cores vibrando em liberdade,
criando paisagens visionárias, libertas das formas e das cores referenciais,
tornando-se uma expressão apaixonada da Natureza.
Objetivava representar nuvens soltas e em movimentos pelos céus. Não
queria céus estáticos, porque, através da observação fui percebendo que a
Natureza não é estática, é movimento. Buscava uma paisagem com as nossas
luzes e com as nossas cores. Basta viajar pelo Brasil para depararmos com a
ousadia das aves e pássaros, com suas cores e criativas alegorias compostas
com suas penas. É o roxo ao lado do amarelo ao lado do verde - contrastes da
Natureza.
Para estudar céus, estudei Constable (1776-1837), em vez de somente
admirá-lo. Com relação ao céu, Constable chamou-o de “órgão principal de
sentimento”, pois a melhor lição que recebera sobre arte era que sempre deveria
se lembrar de que as nuvens e as sombras nunca estão paradas. Paisagens
foram nascendo elaboradas com o sentimento comandando a mão e criando
realidades sugestivas através da observação dos elementos da Natureza.
Naquele momento nasceram as séries “Pampas” e “Caminhos de Santa
Catarina” que fazem parte de “Caminhos”. Não me preocupava mais em
demonstrar conhecimentos técnicos, utilizava-os como elementos expressivos,
transgredindo-os na maioria das vezes.
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Com relação a trabalhos desta série, o crítico AMARAL NETO escreve o
texto que segue para o catálogo da exposição individual na Cambona Centro de
Arte. Porto Alegre /RS. Junho de 1982:
“Com a suas paisagens, Norberto Stori retoma a antiga tradição da ‘crônica sobre
a terra’ que nos vem de aquarelistas como Debret, Ender e Landseer. Entretanto, pouco
tem em comum com esses autores. Sua obra é marcada por um estilo fortemente
pessoal e apresenta uma visão particular da realidade.
São cenas campestres da região sul que ele nos apresenta nesta exposição.
Campos, lagoas, algumas árvores e céu, muito céu, com nuvens altas que espalham a
luz do sol. Contudo, o campo de Stori não é o campo das lides, da foice e do suor do
lavrador, trata-se antes de uma paisagem que revela uma dimensão bem mais interior do
artista. A forte horizontalidade destas cenas coloca-se, desde logo, diante de nós, como
uma contestação à verticalidade com que estão habituados nossos olhos de seres
urbanos. Em vez das linhas ascensionais dos edifícios que aprisionam nosso olhar na
geometria miúda de ruas, portas e janelas, a liberdade do horizonte perdido na
profundidade da paisagem. Abre-se, então, uma outra dimensão, bem mais ampla, de
tempo e espaço onde a natureza aparece com uma grandeza que nos ultrapassa.(...)
(...) Além da composição horizontal, as linhas amplas, sem limites, obtidas pelo
jogo de áreas de cor, a luminosidade tênue, reflexa, habilmente espalhada por toda a
superfície e a harmonia das cores complementares passam-nos a idéia de imensidão e
paz. Entretanto, contidos neste contexto, estão também elementos provocadores de
tensão, como as manchas revoltas e intensas com que algumas vezes é distribuída a cor,
e as pinceladas fortes, ligeiras que chegam a traçar todo um grafismo dentro da
paisagem. O resultado é o clima fortemente emotivo que a obra nos transmite. Norberto
Stori, mais do que a crônica da região, propõe-nos a emoção de conviver com uma
dimensão quase esquecida no burburinho das grandes cidades”.
O infinito continuava sempre presente nas pinturas, o longe, o inacessível,
o desconhecido. Não havia obstáculos, tudo convidava a um vôo livre. E, nesse
convite ao vôo livre, sentia-me cada vez mais livre com relação às técnicas da
aquarela e ao tamanho do papel como suporte.
Para representar uma maior amplidão da paisagem, passei a pintar em
papéis de formatos maiores do que o usual para a aquarela, como por exemplo:
de setenta centímetros por um metro.
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Com o passar do tempo, percebi que não mais fotografava a paisagem
para depois trabalhar através da fotografia, talvez por chegar à conclusão de que
a fotografia como estímulo prendia-me um pouco aos elementos da paisagem, e
isso eu não queria mais, e que as anotações, por mais rápidas que fossem, ou a
pura observação era melhor para soltar-me pictoricamente, para uma maior
participação na obra, uma melhor liberdade criadora. Sentia cada vez mais a
aquarela como processo de pintura, usando-a às vezes saturada, às vezes não
deixando o branco do papel. Comecei a trabalhar em papéis de pequenos e
grandes formatos.
As mudanças não foram fáceis, foi um processo difícil, sofrido, angustiado,
sabia que seria necessário deixar morrer o que vinha fazendo para poder nascer
o novo. É medo e insegurança. Temos que deixar o conhecido, o seguro, para
irmos para a aventura ao desconhecido.
Com relação a essas paisagens o crítico de arte SACRAMENTO escreveu
no jornal “Diário do Grande ABC” em junho de 1982:
“Um dos temas mais constantes de Stori é a paisagem, que ele recria dentro de
uma visualidade particular e sensível. O sistema de entradas é sempre alimentado pelo
real, contemplado no momento ou retido na memória. Estas imagens reais – paisagens
marinhas, campos sulinos – penetram através dos olhos e são conduzidas a uma central
de processamento nada convencional. Seus meios bytes são ilimitados e intercambiáveis.
Incorporam sua ancestralidade, sua experiência passada e recente. O processamento da
informação visual é, ao mesmo tempo, lógico e emotivo. Por isso, o output é um relato
visual que tanto tem da paisagem de referência como do sentimento do artista. Stori
costuma afirmar que expressa sua verdade através do que sente e não do que vê ou
sabe”.
Cada vez mais tentando alçar novos vôos e mais altos, as cores dos
trabalhos começaram a se soltar, permitindo maior interpretação. Começaram a
participar com maior vibração e às vezes, com agressividade, tornando a
paisagem mais viva, procurando fugir das características convencionais da
aquarela.
Caminhos continuaram a serem desbravados. Interiores cada vez mais
vivenciados. Terras percorridas e céus observados.
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O crítico de arte BELL escreve o seguinte texto para o convite da
exposição individual na Anunciatta Galeria de Arte, em Chapecó /SC.:
“NORBERTO STORI, A Paisagem Além do Horizonte”
Uma aproximação espiritual e corporal entre os homens, pode ser uma legítima
proposta do artista hoje. Independente de técnicas (aquarela e pintura), Norberto Stori,
em suas paisagens, inventa espaços onde as afinidades plásticas evocam esta afinidade
necessária e urgente entre as pessoas.
Capaz de transformar a banalidade aparente das paisagens do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina (região de Chapecó e Palmitos) em signos prováveis de beleza, o que
se estabelece e surpreende, é uma dignidade nova, quase metafísica, na amplidão e na
luz serena. Não há arbitrariedade nem impulsos desnecessários. Vale uma geografia de
solidão, um elo, cordão umbilical, suficientemente forte para romper os próprios limites e
buscar novas possibilidades de comunicação.
Aqui estamos diante da paisagem transfigurada, assentada sobre técnicas
conhecidas; aqui existe o ritmo de um tempo criador sem pressa, mas profundo; aqui
valem os valores intrínsecos de uma estética visual, capazes de conduzir à beleza e à
meditação.”
Paisagens e mais paisagens... Céus e mais céus... Vegetação e mais
vegetação. Cores e mais cores... Luzes e mais luzes foram estudas.
A descoberta da possibilidade de mais descobertas técnicas e estéticas. A
pintura fluindo com a necessária segurança. As manchas cada vez mais
sugerindo formas. As manchas com as suas expressividades máximas e não mais
servindo somente para a elaboração de uma pintura.
Estudos levaram-me a observar que a gênese da arte de Joseph Mallord
William Turner reside exatamente na percepção, no primeiro contato com o real,
que tem demonstrado ser não uma forma inferior de conhecimento, mas o próprio
conhecimento, capaz de fazer surpreender em plenos valores da forma. A
percepção como conhecimento, pode ser educada e acrescentada, mediante o
exercício contínuo.
Verifiquei que pelo século XIX, passou uma significativa quantidade de
pintores naturalistas, de Constable (1776-1837) a Pissarro (1830-1903), que a
pintura de paisagem não ficou estagnada como pode nos parecer, porque dois
grandes artistas geniais: William Turner, no princípio e Van Gogh (1853-1890),
depois, mostraram que a paisagem era ainda um meio de expressão válido.
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Ambos de países nórdicos foram em busca de estímulos nas paisagens
dos países mediterrâneos, onde poderiam encontrar a luz vibrante, delirante, que
lhes libertava as emoções.
Com relação às pinturas desta série, o artista plástico MORAES escreve o
texto que segue para o convite da exposição no Kraft Escritório de Arte:
“A REINVENÇÃO DA PAISAGEM”
A paisagem fascina Norberto Stori e no decorrer de sua obra ainda jovem, essa
paisagem é elemento obsessivo e permanente já há longo tempo.
Aliás, a paisagem, como a figura humana, provocou sempre a curiosidade criativa
dos pintores, tanto do ocidente quanto do oriente e como são instigantes as pinturas
japonesas e chinesas onde a paisagem se desenha de forma natural na economia do
traço e na simbologia do gesto.
Sobretudo os aquarelistas têm sido grandes paisagistas. A aquarela é irmã da
paisagem e Norberto Stori é um senhor aquarelista.
Nesta mostra, o artista apresenta uma série de trabalhos onde a paisagem
continua o único motivo. No entanto nesses trabalhos Stori dá um novo tratamento à
paisagem, abandonando um anterior formalismo mais rígido libera o gesto e a cor e
reinventa a paisagem. Agora a placidez se transforma em dramática turbulência e o pintor
corajosamente trava uma luta pictórica onde a densidade da cor, transparência após
transparência, se transforma em luminosa claridade que por vezes explode em luz.
A solidão metafísica continua presente mas a sensualidade, antes implícita,
envolve total e explicitamente seu trabalho atual e contagia o espectador.
Norberto Stori, que domina a aquarela e consegue dessa difícil técnica resultados
surpreendentes apresenta também nesta mostra, telas onde o pintor revela o mesmo
cuidado e chega ao mesmo resultado do aquarelista.
A visão da obra de um artista por outro artista é feito de forma peculiar e portanto
diferente da do crítico ou do espectador. Há toda uma carga emocional na compreensão
da angústia solitária e cotidiana do trabalho de criação e em cada gesto ou pincelada o
artista identifica não apenas o resultado mas, sobretudo, a intenção. Daí o prazer
emocional que tenho ao comentar esta mostra de Norberto Stori. Senti seus trabalhos e
gostei muito. É uma exposição que deve ser vista”.
Observava a Natureza não para imitá-la, pois estava sempre lembrando o
conselho de Leonardo Da Vinci (1452-1519): “Aos pintores lhes digo que não
deve ninguém imitar a maneira dos outros, pois se converteriam, então, com
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relação à arte, em sobrinhos e não em filhos da Natureza”. (Da Vinci, 1964: 309),
continuei as minhas buscas pictóricas.
Fig.6 - Fotografia: Dunas.Itapuã. Salvador. Bahia.
Fig. 7- Série “Caminhos” - Dunas Itapuã/Salvador. 1978
Aquarela s/papel (70 x 59 cm)
1978
Não fazia mais anotações em cadernos de desenho e nem fotografava
durante as viagens. Assim iniciou-se a série “As Paisagens Interiores” em 1983,
que nasciam do meu interior, tendo como estímulo todos os interiores e litorais
que percorri na busca anterior. Foram paisagens criadas passionalmente com
cores jorrando sobre o papel. Continuando o meu vôo solitário fui voando céus e
terras. As paisagens, com seus elementos, foram se tornando, cada vez mais, um
estímulo para criar novas paisagens.
Nos trabalhos desta série, aventurei-me cada vez mais à soltura da
mancha, da cor e do gesto. È a realização do sonho, e, tenho a oportunidade
magnífica de ser o criador de um mundo. Do meu mundo! Na construção desse
mundo, surgiram paisagens mais calmas, etéreas, conotação com certa
transcendência, espiritualidade, dando origem à série “New Age”, no final da
década de 1980.
Fig. 8 - Fotografia.
Fig.9 - Série “Paisagens Interiores”, 1985
Aquarela s/papel (100 x 70 cm)
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Fig. 10 - Série “New Age”, 1990 - Aquarela s/papel (76 x 56cm
Na série “New Age”, não havia a gestualidade nervosa ao elaborar as
manchas. Manchas surgidas com movimentos suaves, dégradés elaborados com
gestos contínuos e calmos. Introspecção, paz, calmaria.
A partir do início da década de 1990, com a utilização do papel colorido
como suporte, surge a série “Sirius”, onde os grafismos soltos e nervosos feitos a
pincel fino, e não mais a bico-de-pena como da série “Apocalipse da Paisagem”
dos anos 70, apareceram participando das aquarelas dessa série, lembrando
luzes e reflexos que arrematam a composição. São paisagens criadas que
sugerem
vistas
ao
longe
com
movimentos
luminosos,
verticalidade,
horizontalidade, pontes, vilas e cidades à beira-mar, luzes e reflexos, lagos ou rios;
viadutos iluminados e pontes.
Fig.11 - Série “Sírius”, 1997
Aquarela s/ papel (103 x 76 cm
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Há referências de um lugar já visto que ficaram em nossas memórias. Não
há um referencial de identificação, de algo real, só sugestões. União da série
“Paisagens Interiores” com a série “Apocalipse da Paisagem”. Surgem trabalhos
escuros, o lusco-fusco do entardecer e sugestões noturnas, intitulados “Noturnos”.
Uso a cor-intuição e não a cor-razão, pois a mola propulsora do meu
trabalho é o sentimento aliado ao conhecimento, a cor como expressão. As
aquarelas, caracterizando-se por serem ao mesmo tempo escuras e luminosas,
radicalizam o processo pictórico ao buscar retratar as noites com seus mistérios,
suas luzes e reflexos.
Os “Noturnos” são trabalhos escuros que lembram as noites com seus
mistérios e suas luzes e reflexos. São como os da série anterior, sugestões e
referências vividas e observadas sem objetividade e nem elementos de
identificação.
Fig. 12 - Série “Noturnos”, 2001
Aquarela s/papel colorido (70 x 50 cm)
Os “Noturnos” são lugares que já se esteve ou que já se vivenciou. São
vistas ao longe. O infinito sempre presente e a paisagem urbana sugerida pelos
seus pontos de luzes, reflexos e mistérios noturnos. Uma outra realidade da
realidade vivida cotidianamente. Um vôo livre pela noite, imaginando e
expressando lugares ou sonhos ou memórias.
Toda essa busca e vivência, aliada à exploração da cor e da luz da
paisagem brasileira fez com que elas ocupassem no trabalho um espaço especial.
A luz que se transforma em cor. A cor revela a luz. Nenhuma cor é literal
ou descritiva em um sentido imitativo; ela responde à emoção e na maioria das
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vezes chega a ser arbitrária. Não sigo regras, as cores devem ter a expressão
máxima contribuindo com o propósito do trabalho.
A cor existe, tem seu espaço e sua expressão própria sem preocupação
com a realidade e nem com o significado. Às vezes acontecem relações com o
real, mas não de uma maneira objetivada. Surge um mundo mágico e misterioso
com paisagens imaginárias exibindo naturezas re-elaboradas por mim onde não é
refletida a realidade objetiva, mas sugerida.
Na série intitulada “Crepúsculos”, as sugestões de lugares são vistas em
um vôo livre panorâmico, criadas com manchas em aguadas e pontos sugerindo
luzes e reflexos, no lusco-fusco do entardecer ou amanhecer. Mantêm-se em
evidência, o pesquisador, sempre buscando e investigando novas possibilidades,
modos e propondo-se novas dificuldades.
Um processo ininterrupto onde a interpretação da paisagem caracteriza-se
basicamente pela intensa subjetividade, pelo grafismo acentuado com a ponta
cortante de um estilete, que ao agredir o papel abre pontos e grafismos brancos.
É uma paisagem, na qual o ver está intrinsecamente associado ao sentir,
uma construção de caráter retórico que enfatiza tanto a busca de uma linguagem
pessoal quanto a busca de um eixo temático afinado com a sensibilidade. Há a
busca da imersão total no sensorial. Olho, observo e registro, tudo o que todos
podem ver mas, principalmente, o que só eu posso ver: a profundidade e a
intensidade dos estados de alma. Nessa minha busca sem fim, encontro barreiras
a serem derrubadas, e caminhos a serem descobertos e representados.
Fig. 13- Série “Crepúsculos”. 2005
Aquarela s/papel (0,57x0,77cm)
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Bibliografia:
ARGAN, Giulio Carlo. 1992. Arte Moderna. Trad. Denise Bottmann e Frederico
Carotti. Companhia das Letras. São Paulo..
BACHELARD, G. 1998. A poética do Espaço. Martins Fontes. São Paulo.
CONBOY,J. (1997). A transmissão de valores através da cultura organizacional.
In M. F. Patrício (Org.). A escola cultural e os valores (pp. 457 – 462). Porto: Porto
Editora.
CLARK, Kenneth. 1956. Paisagem na Arte. Ulisseia.Lisboa.
GOMBRICH, E.H. 1999. A História da Arte. LTC.London.
GULLAR, Ferreira. 1993. Argumentação contra a morte da arte. Revan. Rio de
Janeiro.
ABRIL, M. 1964. Leonardo da Vinci – Tratado de La Pintura. Trad. Aguilar. S.A. de
Ediciones. Madrid, p. 309
Súmula curricular: Prof Dr. Pós-Grad. Educ., Arte e Hist. da Cultura/CCL da
U.P.Mackenzie/SP. Formação: Desenho e Plástica/Fund. Armando Álvares
Penteado/FAAP/SP. Livre Docente/Arte Visuais I.A.-UNESP/SP. Mestre/DoutorU.P.Mackenzie/SP. Participação em atividades acadêmicas nacionais e internacionais. Exposições Individuais/Coletivas, Bienais Nacionais e Internacionais.
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Revista RecreArte 11
DEC09
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