Notações
Transcrição
Notações
Chiara Banfi Notações 27/01/2016 – 12/03/2016 Notações Em Notações, Chiara Banfi mostra leituras visuais do som através do desuso de instrumentos, partituras e outros equipamentos ligados à produção e reprodução de música. A corporeidade do som permeia a pesquisa de Banfi desde o inicio de sua produção em desenhos, colagens, pinturas e performances e, na individual que a artista apresenta agora, o silêncio é a tônica da investigação. Não se trata, no entanto, de um silêncio desprovido de sonoridade, mas de uma investigação sobre vibrações e oscilações não percebidas pelo ouvido humano, seja por questões relacionadas a diferentes frequências, ou por falta de atenção às pausas, tão importantes quanto notas na composição musical. Em Lin Melódica, de 2016, treze pedras fixadas em linha na parede são interligadas por cabos RCA, que criam diferentes sequencias entre as peças, como em sintetizadores antigos que utilizavam “patch cords” – os cabos que criavam diferentes conexões entre os módulos de som. O uso de cristais e pedras na obra de Chiara começou durante uma pesquisa entorno de equipamentos de som. Investigando aparelhos toca-discos, Banfi descobriu que junto a agulha que faz a leitura dos microssulcos do vinil havia um pedaço de quartzo. O cristal é um equalizador natural e atua junto à agulha para uniformizar a leitura da musica gravada nos discos. O material é hoje sintetizado industrialmente, já que é imprescindível em equipamentos que dependem de ritmo e frequência, como os já citados toca-discos e relógios de precisão, por exemplo. Pedras em geral tem em si a capacidade de transmitir vibrações e frequências. Na obra de Chiara elas aparecem em diferentes articulações. Em Pauta, 2016, turmalinas naturalmente incrustadas em cristais de quartzo e organizadas em cinco linhas, formam uma espécie de partitura rítmica. Nas peças denominadas chiara banfi Confluência, pedras e rochas de diferentes origens – e que nunca são encontradas próximas na natureza -, são conectadas pelo mesmo cabo RCA de Lin Melódica, sugerindo combinações de diferentes sons. Já em Semi-Breve, 2016, uma obsidiana, um tipo de vidro vulcânico, lapidada como um retângulo cubico é encimada por uma linha horizontal de arame tensionado como em instrumentos de corda. A imagem reproduz a figura rítmica (homônima) de maior duração usada atualmente na notação musical padrão. A semibreve deve ser lida como pausa por quem interpreta uma partitura. De modo similar, em Pausa de Mínima, uma pedra de calcita encima o mesmo tipo de linha tensionada. A pausa mínima aponta para um silêncio com metade da duração da semi-breve. Sinais da mesma família são evidenciados em Pausa de Bach, 2016. Na instalação que ocupa a sala principal da galeria, 12 livros com diferentes partituras de Bach tiveram suas notações sublimadas quase que por completo pela a artista com tinta nanquim, deixando aparente apenas os símbolos de pausa e silêncio. Johann Sebastian Bach criou uma escala musical onde passou a haver uma regra lógica para a construção da frequência das notas que é amplamente utilizada até hoje pela música ocidental, que se organiza em 12 semitons (ou notas). As partituras aparecem também na série Turmalinas Negras, 2015. Em diversos cadernos pautados para estudos de música, Chiara incrustou pedras de Turmalina Negra em formatos retangulares. A presença das Turmalinas remete ao grafismo das semi-breves e, como sua organização aparentemente aleatória por sobre as páginas não parece apontar para uma construção musical regida por notas, podemos ler sua presença como marcas de silêncio. Esse silêncio, mais uma vez, é rítmico, dado a profusão com que o minério aparece sobre as páginas dos cadernos. De modo similar, as peças chamadas AMP, e as peças da série Mutantes, trazem o mesmo tipo de raciocínio abstrato. Em AMP, 2015-2016, a artista trabalha a partir de quatro modelos de amplificadores de linha da marca Marshall, mantendo apenas suas características estéticas: acabamentos, cores e materiais, criando campos pictóricos abstratos, assim como em Mutantes, aonde um baixo feito especialmente para Liminha, baixista da banda Mutantes e produtor musical, é recriado de maneira sintética, preservando apenas características plásticas inerentes ao instrumento. Os instrumentos criados por Cláudio César Dias Baptista eram, em grande parte, responsáveis pela originalidade sonora da banda. O instrumento é aqui, no entanto, celebrado não por suas particularidades sonoras, mas por suas qualidades estéticas. Finalmente, nas obras da série Doze Estudos de Debussy, Banfi cobre e apaga notas de partituras de Claude Debussy, criando uma nova construção com as composições, modificando o uso das notações do compositor. Da mesma maneira, no vídeo Fita, 2016, um rolo de fita de gravação despenca de um pedestal de percussão, gerando uma nova sonoridade. É aquilo que é feito para registrar o som sendo usado para produzir música. Notações [Notations] In Notações [Notations], Chiara Banfi presents visual readings of sound through the altered use of instruments, musical scores and other equipment linked to the production and reproduction of music. The corporeality of sound has pervaded Banfi’s research ever since the outset of her production in drawings, collages, paintings and performances, and in this solo show, the keynote of her investigation is silence. The idea is not, however, silence in the absence of sound, but rather an investigation into the vibrations and oscillations that go unperceived by the human ear, either due to questions of frequency, or to an unawareness of pauses, which are as important as the notes in a musical composition. In Lin Melódica [Melodic Lin], 2016, thirteen stones attached to the wall are arranged in a horizontal line and interconnected by RCA cords, thus creating different sequences among the pieces, like the old synthesizers that used “patch cords” to create different connections between the sound modules. The use of crystals and stones in Chiara’s work began during some research into audio equipment. Investigating record players, Banfi discovered that part of the stylus that reads the groove in the vinyl record consists of a piece of quartz. The crystal is a natural equalizer and works together with the stylus to uniformize the reading of the music recorded on the albums. Today, these quartz crystals are industrially synthesized, since they are so crucial in equipment that depends on rhythm and frequency, such as the above-mentioned record players as well as ultraprecise timepieces, for example. Stones in general have an intrinsic capacity to transmit vibrations and frequencies. In Chiara’s work they appear in different articulations. In Pauta [Staff], 2016, quartz crystals containing naturally embedded chunks of tourmaline are organized in five horizontal Chiara banfi lines, forming a sort of rhythmic musical score. In the pieces entitled Confluência [Confluence] stones and rocks from different origins – and which are never found next to each other in nature – are connected by the same RCA cables as in Lin Melódica, suggesting combinations of different sounds. For its part, Semi-Breve [Semibreve], 2016, consists of a piece of obsidian, a sort of volcanic glass, cut into the form of a rectangular solid, positioned below and adjacent to a horizontal line of tensioned wire as in string instruments. The image reproduces the symbol of the same name used in musical scores, representing a long pause, equal to the length of a whole note. Similarly, in Pausa de Mínima [Minim Pause], a calcite stone tops the same type of tensioned line. The minim points to a break with half the length of the semibreve. Symbols of the same family are also seen in Pausa de Bach [Pause by Bach], 2016. In the installation that occupies the gallery’s main room, twelve books with different musical scores by Bach had their notations nearly completely blotted out by the artist with black ink, leaving only the symbols for pause and silence. Johann Sebastian Bach created a musical scale with a compositional logic that has been widely used until today in Western music, organized into twelve semi-tones (or notes). Musical scores also appear in the series Turmalinas Negras [Black Tourmalines], 2015. In various notebooks printed with blank musical staves, Chiara embedded stones of black tourmaline in rectangular formats. The tourmalines allude to semibreve symbols, and, since their apparently random arrangement on the pages does not seem to indicate a musical construction with notes, we can read their presence as marks of silence. This silence, once again, is rhythmic, in light of the profusion of the mineral pieces scattered on the pages of the notebooks. Likewise, the pieces entitled AMP, and the pieces of the Mutantes [Mutants] series present the same sort of abstract reasoning. In AMP, 2015–2016, the artist works on the basis of four models of amplifiers of the Marshall line, preserving only their aesthetic characteristics (finishings, colors and materials), creating abstract pictorial fields, as she also does in Mutantes, where a bass guitar made especially for Liminha, the bass guitar player of the Mutantes band and a musical producer, is re-created synthetically, preserving only the instrument’s visual characteristics. The instruments created by Cláudio César Dias Batista were largely responsible for the band’s original sound; here, however, the instrument is celebrated not for its unique acoustic properties, but for its aesthetic qualities. Finally, in the works of the series Doze Estudos de Debussy [Twelve Studies by Debussy], Banfi covers and erases notes on musical scores by Claude Debussy, creating a new construction with the compositions, modifying the use of the composer’s notations. Likewise, in the video Fita [Tape], 2016, a roll of recording tape falls from a percussion pedestal, generating a new sort of sound: an object made to record sound is used to produce music. Sem título 4 - da série Turmalinas negras 2015 28 x 21 cm turmalinas negras sobre cadernos de pauta black tourmalines on musical score notebooks Pauta 2014-2016 85 x 110 cm 55 pedras de quartzo branco com turmalina negra 55 white quartz stones with black tourmaline Sem título 6 - da série Turmalinas negras 2015 28 x 21 cm (cada parte de 3) (each part of 3) turmalinas negras sobre cadernos de pauta black tourmalines on musical score notebooks Lin melódica Crs 37 - da série Afluentes 2015 210 x 480 cm 13 pedras obsidianas e cabos RCA 13 obsidian stones and RCA cables Pausas de Bach 12 2014-2016 variáveis/ variable livro de partituras de Bach, pintado com nanquim sobre pedestal Bach’s musical scores, painted with China ink, on pedestal Pausas de Bach 11 2014-2016 variáveis/ variable livro de partituras de Bach, pintado com nanquim sobre pedestal Bach’s musical scores, painted with China ink, on pedestal Pausas de Bach 10 2014-2016 variáveis/ variable livro de partituras de Bach, pintado com nanquim sobre pedestal Bach’s musical scores, painted with China ink, on pedestal Pausas de Bach 9 2014-2016 variáveis/ variable livro de partituras de Bach, pintado com nanquim sobre pedestal Bach’s musical scores, painted with China ink, on pedestal Cabinet code 412 - 1 - da série Amplificadores 2016 134 x 90 x 10 cm madeira, tela ortofônica Marshall e couro sintético preto wood, orthophonic Marshall screen and black synthetic leather Cabinet code 412 - 2 - da série Amplificadores 2016 134 x 90 x 10 cm madeira, tela ortofônica Marshall e couro sintético preto wood, orthophonic Marshall screen and black synthetic leather Semi-breve 2016 150 x 340 cm pedra obsidiana, arame e tarraxa de contra baixo obsidian stone, wire and contrabass pegs Pausa de mínima 2016 150 x 340 cm pedra de calcita, arame e tarraxa de contra baixo calcite stone, wire and contrabass pegs Confluência 5 - da série Vale e lava 2015 variáveis/ variable jaspe vermelho, obsidiana e cabo RCA red jasper, obsidian and rca cable Confluência 7 - da série Platô e lava 2015 variáveis/ variable quartzo rosa, obsidiana e cabo RCA pink quartz, obsidian and rca cable Bluesbreaker 1962 - da série Amplificadores 2016 134 x 90 x10 cm madeira, couro sintético preto e tela ortofônica Marshall wood, black synthetic leather and orthophonic Marshall screen Bluesbreaker JTM - da série Amplificadores 2016 Bluesbreaker JTM - da série Amplificadores madeira, couro sintético branco e tela ortofônica Marshall wood, white synthetic leather and orthophonic Marshall screen fita 2012 / 2015 3’10” - loop video Confluência 4 - da série Pico e lava 2015 variáveis/ variable quartzo branco, obsidiana e cabo RCA white quartz, obsidian and rca cable Mutantes 1 - imbuia 2014 160 x 110 x 7 cm MDF revestido com lâminas de imbuia e parafusos aparentes MDF laminated with walnut and apparent screws Mutantes 2 - louro faia 2014 160 x 110 x 7 cm MDF revestido com lâminas de imbuia e parafusos aparentes MDF laminated with cedar-beech and apparent screws Mutantes 3 - louro preto 2014 160,5 x 110 x 7,5 cm MDF revestido com lâminas de louro preto e parafusos aparentes MDF laminated with black stinkwood and apparent screws Estudo 1 - da série Estudos de Debussy 2016 41 x 33,5 x 4 cm (2 peças/ 2 parts) e 41 x 57 x 4 cm (1 peça/ 1 part) nanquim sobre partitura China ink on music sheet Estudo 2 - da série Estudos de Debussy 2016 41 x 33,5 x 4 cm (cada parte/ each part) nanquim sobre partitura China ink on music sheet Estudo 3 - da série Estudos de Debussy 2016 41 x 33,5 x 4 cm& 41 x 57 x 4 cm nanquim sobre partitura China ink on music sheet