Farmacêuticos - Ordem dos Farmacêuticos de Angola

Transcrição

Farmacêuticos - Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Ordem dos
Farmacêuticos
ANGOLA
REVISTA da
de
Trimestral | Ano 2
Número 8
OUT-DEZ 2015
Director:
Boaventura
Moura
2ª Semana
da Farmácia
ultrapassa
expectativas
Meio milhar de participantes. Cerca de 98 %
considerou os temas debatidos “interessantes” ou “muito interessantes”. Mais de 97%
admitiu que os objectivos de participação
foram “todos” ou “quase todos” atingidos.
Evento internacionaliza-se com a presença
oficial da Coreia. |Págs. 6 a 14
Anti-inflamatórios não
esteróides: efeitos
cardiovasculares,
cerebrovasculares e renais
Reacções adversas
a antimicrobianos
nos serviços de medicina
e ortopedia
Os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) encontram-se entre os medicamentos mais prescritos. Nos últimos anos,
tem sido questionada a segurança do uso
dos AINEs na prática clínica, particularmente dos inibidores selectivos da COX2. Conheça a sua farmacologia, mecanismos de acção e efeitos. | Págs.15 a 18
A aparição de reacções adversas a medicamentos (RAM) nos serviços de medicina e
ortopedia é considerável. Entre os antibacterianos destacam-se as cefalosporinas. O
orgão mais afectado foi a pele. Estas são algumas das conclusões do estudo realizado
junto a 206 doentes internados no Hospital Josina Machel. Saiba mais. |Págs. 19 a 22
Carreira
de farmácia do SNS
Conheça o Decreto que aprovou o regime e a estruturação da carreira de
farmácia do Serviço Nacional de Saúde. O enquadramento profissional, as
competências do farmacêutico, o seu
ingresso na carreira, as categorias de
farmacêutico e de técnico médio de
farmácia, concursos, as modalidades
de regime de trabalho, e o que está
previsto para a sua formação e aperfeiçoamento profissional. | Págs. 28 e 29
2
| Revista da Ordem
dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro
2015
Revista da Ordem dos FarmacêuticosJaneiro/Março
de Angola2014
|3
Editorial
Índice
Índice
Boaventura Moura
Bastonário e Presidente do Conselho Nacional
Actualidade
OFA celebra 2º aniversário
OFA - Dois anos se passaram!
E
Este projecto, que nos foi incumbido, é de
muito trabalho e exige dedicação e empenho
de toda a classe. Fazendo uma autocrítica,
diremos que, realmente, poderíamos ter feito muito mais. Mas, ainda assim, temos um
website funcional e activo, desde a data da
proclamação, editamos trimestralmente a
Revista OFA – que tem aumentado o número de páginas –, realizámos a 2ª Assembleiageral de farmacêuticos, em 2015, na ETPSL,
actualizámos os Estatutos – que se apresentaram ao Ministério da Justiça e Direitos Humanos –, tivemos uma representação condigna no XI Congresso Mundial da Associação dos Farmacêuticos dos Países de Língua
Portuguesa (AFPLP), realizado em Maputo,
Moçambique – onde, aliás, a OFA foi eleita
Vice-presidente desta organização, realizámos duas Semanas Nacionais da Farmácia
Angolana e duas edições da Expo Farma Angola, lançámos e fechámos o concurso de
ideias para o novo logótipo da OFA, do qual
resultou a actual imagem,... Enfim, consideramos que se procurou fazer o que nos pareceu possível.
Carecemos, contudo, da dedicação, empenho e colaboração de todos. De facto, até
hoje, nenhum membro pagou as quotas, alguns, pouquíssimos, pagaram a joia anual
em 2015, e, neste novo ano, ainda ninguém
se lembrou do pagamento de, pelo menos, a
joia anual, que é só de dez mil Kwanzas! Enfim..., vamos todos reflectir!
Apesar disto, o nosso muito obrigado a
todos os colegas farmacêuticos pelo vosso
prestigioso apoio e colaboração em 2015 –
um ano infeliz pelo passamento físico do
nosso então Presidente de Mesa da Assembleia-geral. E que outros aspectos negativos
constituam uma aprendizagem para o futuro e não se repitam.
2016 Um ano com muito
brilho, saúde, paz, realizações
de sucesso e prosperidade
O 2º aniversário da Ordem dos Farmacêuticos de Angola (OFA) foi celebrado com muita alegria pelos farmacêuticos e demais convidados presentes na cerimónia. | Pág. 4
Eventos
2ª Semana da Farmácia Angolana e Expo Farma
A 2ª Semana da Farmácia Angolana que decorreu em Luanda, em Outubro último, saldou-se por um êxito expressivo: cerca de meio milhar de
participantes debateram, com interesse e entusiasmo, 19 temas da maior
pertinência e actualidade farmacêutica. A presença da Coreia como país
convidado de honra deu um cunho internacional ao evento que contou
ainda com a participação de 27 empresas expositoras, as quais não tiveram mãos a medir durante a Expo Farma simultânea. | Págs. 6 a 14
Folha Farmacoterapêutica
No novo ano de 2016 vamos todos, de
mãos dadas, empenharmo-nos em fazer
melhor, com muita camaradagem e amizade genuína, que, de certa forma, julgamos
ser-nos já familiar! Desejamos a todos e todas um ano novo com muito brilho, cheio do
melhor para a OFA e para todos os farmacêuticos. Muitas realizações exitosas e de sucesso, em prol da nossa classe, da OFA e das
populações angolanas. E, sempre, com muita saúde, paz, harmonia e prosperidade!
Por fim, um apelo a todos os colegas para
que apareçam sempre na sede da OFA, sita
no segundo andar do Laboratório Farmacotécnico, na Rua NKwame Nkrumah, 52/53
na Maianga, em Luanda.
Bem hajam os Farmacêuticos Angolanos e
viva a OFA!
Dr. João Lelessa - Presente no passado, hoje e sempre!
É com enorme sentimento de pesar que deixamos registado nestas páginas, da sua e nossa ROFA, a triste notícia da perda do nosso ilustre colega, Dr. João Lelessa, falecido em Lisboa, Portugal, a 7 de Novembro de
2015, vítima de doença. O nosso mais velho, Presidente, amigo e camarada deixou-nos, mas a memória do seu carácter, simplicidade e sorriso estarão sempre connosco. A melhor homenagem à sua memória deve ser
continuarmos a trabalhar todos juntos para o engrandecimento da OFA
e prestígio da classe, quer ao nível nacional, como internacional. Honremos todos a sua memória e os seus ensinamentos, com esta frase, sempre por ele usada nas nossas dificuldades: "TODOS NÃO SOMOS DEMAIS! TODOS SOMOS PRECISOS! EU ACREDITO!” (Fim de citação). O
Dr. Lelessa está e estará sempre presente. Bem-haja a sua força, simplicidade e, também, o seu sorriso.
VIVA A OFA!
Os anti-inflamatórios não esteroides: efeitos
cardiovasculares, cerebrovasculares, renais e outros
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) encontram-se entre os medicamentos mais prescritos em todo o mundo. Nos últimos anos, tem sido questionada a segurança do uso dos AINEs na prática clínica, particularmente dos inibidores selectivos da COX-2. Conheça a sua farmacologia, mecanismos de acção e efeitos. | Págs. 15 a 18
Investigação
Reacções adversas a antimicrobianos nos serviços
de medicina e ortopedia
A aparição de reacções adversas a medicamentos (RAM) nos serviços de
medicina e ortopedia é considerável. O orgão mais afectado foi a pele. Estas são algumas das conclusões do estudo realizado por Mateus Fernandes, Héctor Fernández e Vladimir Moreira junto a uma amostra de 206
doentes internados no Hospital Josina Machel, 21 dos quais afectados por
RAM. Saiba mais. | Págs. 19 a 22
Formação
Hipertensão Arterial – uma realidade
cada vez mais presente em Angola
A hipertensão arterial é uma doença cardiovascular que constitui hoje
um problema de saúde que afecta grande porção da população mundial,
provocando complicações em diferentes sistemas do organismo e até a
morte em casos mais graves. | Págs. 23 e 24
Espaço Regulamentar
As bases gerais da política nacional farmacêutica
As bases gerais da política nacional farmacêutica foram definidas pelo
Decreto Presidencial n.º 180/10, de 18 de Agosto. A Revista OFA termina
neste número a publicação integral do diploma. | Págs. 25 a 27
Carreira de farmácia do SNS
Conheça o Decreto que aprovou o regime e a estruturação da carreira de
farmácia do Serviço Nacional de Saúde. | Págs. 28 e 29
Ficha Técnica
Propriedade:Ordem dos Farmacêuticos de Angola | Director:Boaventura Moura | Conselho editorial: João
Novo, Helena Vilhena, Pedro Zangulo e Santos Nicolau | Endereço: Rua Kwame Nkrumah, nº 52 / 53, Maianga,
Luanda, Angola. Tel.: (+244) 935 333 709 / 912 847 892 | E-mails: [email protected] [email protected]
| Web site:www.ordemfarmaceuticosangola.org | Editor: Rui Moreira de Sá - Marketing ForYou, Lda - www.marketingforyou.co.ao | Redacção: Cláudia Pinto; Francisco Cosme; Magda Cunha Viana | Marketing e publicidade:
Eileen Barreto Tel.: (+244) 945046312 / 928013347 e-mail: [email protected] | Periodicidade:trimestral | Design e maquetização: Fernando Almeida | Impressão e acabamento:EAL - Edições
de Angola | Tiragem:3.000 exemplares
Institucional
A história do logótipo da OFA
Sabe qual a razão do logotipo da OFA ser oval? E ter as cores ouro, roxo,
verde e cinzento? E quanto à serpente, taça e cicadófica, ainda se recorda
das lendas que estão na base desta simbologia? Não deixe de ler.
| Págs. 30 e 31
4 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Actualidade
Motivo de orgulho do farmacêutico angolano
OFA celebra 2º aniversário
O 2º aniversário da Ordem dos Farmacêuticos de Angola (OFA) foi celebrado com muita alegria pelos farmacêuticos presentes na cerimónia e demais convidados. Foi há dois anos atrás, precisamente a 25 de Outubro de 2013,
que proclamámos, com orgulho, a sua constituição. Durante este período, com muita determinação, procurámos
dar passos decisivos com vista ao reforço organizativo. Entre diversas realizações, destaca-se a Semana da Farmácia Angolana que já se internacionalizou e consolidou como o grande evento do sector e da profissão, cujo balanço da última edição encontra neste número da sua revista. Leia também, na página 30, a história do logótipo da
OFA e o simbolismo dos seus elementos.
Durante a cerimónia de celebração do aniversário da OFA foram homenageados os patrocinadores da 2ª
Semana da Farmácia Angolana, designadamente a Socifarma e Farwell (patrocinadores platina) África
Pharmacy (Shalina) (ouro) e Mosel (Prata)
6 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
2ª Semana da Farmácia Angolana
Êxito total
A 2ª Semana da Farmácia Angolana que decorreu em Luanda,
em Outubro último, saldou-se por um êxito expressivo: mais
de 400 participantes debateram, com interesse e entusiasmo,
numa sala sempre repleta, 19 temas da maior pertinência e actualidade farmacêutica, agrupados em três painéis, duas mesas-redondas e diversos temas livres. A presença da Coreia como país convidado de honra foi a cereja em cima do bolo ao
dar um cunho internacional ao evento que contou ainda com
a participação de 27 empresas expositoras, as quais não tiveram mãos a medir durante a Expo Farma simultânea. Acresce
que cerca de 98 por cento dos farmacêuticos consideraram os
temas debatidos “interessantes” e “muito interessantes”, de
acordo com os resultados do inquérito realizado no final.
O papel do farmacêutico na promoção da saúde, prevenção
da doença e adesão à terapêutica, a farmacotécnica e a manipulação de medicamentos, a farmacoeconomia, o combate à
contrafacção de medicamentos, a regulação e regulamentação do mercado, as perspectivas da farmácia hospitalar, a qualidade e credibilidade dos medicamentos genéricos, a garantia da qualidade dos produtos farmacêuticos, a sua produção
em Angola e o investimento na formação pré, contínua e pós
graduada, foram alguns dos temas apresentados. O programa
visou actualizar os conhecimentos dos farmacêuticos, partilhar experiências e debater as grandes questões que se colocam ao sector farmacêutico, à farmácia angolana, à profissão
farmacêutica e à saúde em geral, reforçando o compromisso
do farmacêutico angolano para com a excelência na prestação
de cuidados e serviços de saúde ao utente e à população no
seu todo.
A sessão de abertura foi presidida pelo Secretário de Estado da
Saúde, Carlos Aberto Masseca, em representação do Ministro
da Saúde, José Van-Dúnem, acompanhado pela deputada da
7ª Comissão, Mariana Afonso, o Embaixador da Coreia, Kion Yul
Lee, o bastonário da Ordem dos Médicos, Pinto de Sousa, e da
Ordem dos Farmacêuticos, Boaventura Moura. De destacar
também a presença do Secretário de Estado da Saúde recentemente nomeado, Luís Gomes Sambo, do deputado da 7ª Comissão, e ex-director da DNME, José Diogo Ventura, e o bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Paulo Luvualo. A sessão de
encerramento foi presidida pela directora nacional de formação graduada, Carmen Van-Dúnem, em representação Ministro do Ensino Superior, Adão do Nascimento. De sublinhar, finalmente, a presença da representante do Ministério da Saúde
da Coreia, Nam Jeomsoon, e do bastonário da Ordem dos Farmacêuticos de Portugal, Maurício Barbosa.
A Semana integrou ainda um ciclo de cursos de formação
pré e pós conferência.
Outubro/Dezembro 2015
Outubro/Dezembro 2015
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 7
8 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
2ª Semana da Farmácia Angolana
A medida do sucesso
Resultados do inquérito aos participantes
p
(congressistas)
(c
ongressisstas) da 2ª Semana
a da
Farmácia
F
armácia Angolana
A
Inclui visitantes
visitantes da Expo Farma
Farm
ma 2015
Principais objectivos da sua participação
(A pergunta admitia respostas múltiplas)
80%
52%
20%
Reforçar a Ordem
dos Farmacêuticos
de Angola
35
5%
44%
Identificar novos
fornecedores
na Expo Farma
Participar na
Conferência
C
26%
Conviver com
Contactar
os colegas fornecedores habituais
na Expo Farma
Objectivos atingid
atingidos
dos
Não
Actualização
profissional
O que achou dos temas
mas debatidos?
1%
2%
Quase
nenhuns
Muito
interessantes
Pouco
interessantes
2%
41%
Sim
57%
Quase
todos
47%
50%
Interessantes
Organização
O
ga ação
Previsão
Pr
evisão
e
são de pa
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participação
cipação
c
pação na
a pr
p
próxima
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edição
dição
d
ção em
e 2016?
06
1%
Não
Excelente
9%
13%
Sofrivel
Muito
boa
Talvez
10%
Sim
29%
29%
70%
Razoável
Má 0%
39%
Boa
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 9
Outubro/Dezembro 2015
Cerca de 98 % dos farmacêuticos participantes consideraram
os temas debatidos “interessantes” ou “muito interessantes”
Os números não enganam. A 2ª Semana da Farmácia Angolana foi um sucesso. Na realidade, os resultados do inquérito realizado
junto aos farmacêuticos participantes, no final dos trabalhos, revelam que cerca de 57% consideraram os temas debatidos “muito
interessantes” e cerca de 41% “interessantes”. A actualização profissional foi o principal objectivo de participação. Por outro lado,
cerca de 89% dos expositores da Expo Farma revelaram ter atingido todos, ou quase todos, os seus objectivos. Confira.
Resultados do inquérito aos expositores
e
expositor
es
patrocinadores
2015
e patr
ocina
adores da EXPO FARMA
FARMA
A
Principais objectivos
da sua participação
(A pergunta admitia
respostas múltiplas)
81%
78%
67%
44%
Identificar novos clientes
Promover a imagem
da empresa/marca
41%
Receber
encomendas
Receber clientes
habituais
Outras
razões
Objectivos atingid
atingidos
dos
Não
11%
Quase todos
56%
Sim
33%
Previsão
Previsão
de participação
na próxima
edição
em 2016?
Organização
Orga
ganização
ç
Não
Excelente
4%
4% 8%
Má
4%
Talvez
42%
Sofrivel
30%
27% Muito
Razoável
Sim
boa
54%
27%
Boa
10 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Expo Farma 2015
Voz aos expositores
Francisco Cosme dos Santos
Filipe Cigarro
SOCIFARMA
“A Socifarma é uma empresa de distribuição farmacêutica de direito angolano
que opera no país há 19 anos. Teve o seu
início na rede de farmácias Mecofarma.
Trabalha maioritariamente com medicamentos e produtos de consumo humano,
veterinário, equipamentos oftalmológicos, diálise e de imagiologia. Fornece farmácias, clínicas e hospitais públicos e
privados, a nível nacional.
Destaco a inovação introduzida recentemente que permite aos clientes,
através do site da empresa na Internet,
consultar preços, stocks e proceder a encomendas.
Na Expo Farma, a Socifarma apresentou como novidade produtos de dois laboratórios internacionais na área cardio-
vascular, disfunção eréctil e diabetes.
Trata-se de um evento de grande dimensão farmacêutica no país. É importante
pois facilita-nos o contacto com os profissionais do ramo, com a realidade da
saúde e a evolução do mercado, quer a nível das farmácias, quer de outras áreas
farmacêuticas.
No futuro, pode-se esperar da Socifarma o reforço do seu posicionamento como um parceiro na saúde, para o sector
privado e público, que primará sempre
na compra e venda de medicamentos
credíveis de origem reconhecida e trará
para Angola produtos de terapêutica
mais recente com reconhecimento mundial”.
Jalaludin Rehemtula
FARWELL
“A Farwell é uma empresa de distribuição
de medicamentos com actividade no
mercado angolano há mais de dez anos.
Disponibiliza medicamentos, equipamentos e materiais gastáveis para qualquer hospital, farmácia e clínica do país,
quer público, quer privado.
A Expo Farma é um evento de extrema
importância porque possibilita-nos conhecer os nossos parceiros directos,
além de constituir um instrumento catalisador que contribui para nos afirmarmos como empresa, garantir uma maior
abertura no mercado angolano e alargar
as nossas linhas de acção relacionadas
com a comercialização dos medicamentos e equipamentos.
Permite-nos ainda estabelecer gran-
des parcerias, receber orientações relacionadas com a saúde em geral, o que nos
garante uma maior interacção com as diversas entidades do sector para alcançarmos, em conjunto, os grandes desafios
do crescimento do sector farmacêutico
traçados pelo Ministério da Saúde.
No futuro, esperamos fazer da Farwell
uma empresa cada vez mais eficiente
com um crescimento consentâneo no
contexto que o país atravessa”.
12 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Expo Farma 2015
João de Barros
ÁFRICA PHARMACY
“A África Pharmacy é a representante em
Angola da multinacional farmacêutica
Shalina Healthcare, empresa que possui laboratórios de medicamentos na Índia, China e que cobrem várias áreas terapêuticas.
Presente em Angola há mais de catorze
anos, notabiliza-se por apresentar uma gama de produtos farmacêuticos de fabrico
próprio de elevada qualidade que suprem
as necessidades para o tratamento de
doenças agudas e crónicas presente em
África no geral e em Angola, em particular.
Consideramos que a Expo Farma constitui um evento muito importante. Tratase do maior certame farmacêutico a nível
nacional que oferece a possibilidade aos
expositores de interagirem com os profissionais da saúde, e com as entidades da tutela farmacêutica no país. Permite-nos
mostrar os nossos produtos e serviços, trocar experiências e estabelecer parcerias.
Nesta edição apresentámos como novidades, na área dos dispositivos médicos, os
testes rápidos, e ainda produtos pediátricos e gastáveis, entre outros.
A população angolana pode esperar da
África Pharmacy a garantia e o compromisso de disponibilizar produtos de qualidade que assegurem uma melhor saúde
para todos”.
“A Mosel S.A. é uma empresa de direito angolano, de comércio geral e prestação de
serviços, com 18 anos de actividade e a representação exclusiva para o mercado da
nossa região da empresa ALTER, detentora
da marca Nutribén, especialista em produtos para alimentação infantil. Para além
destes, também distribui medicamentos
genéricos, material gastável, equipamento
médico, mobiliário para hospitais, farmácias e clínicas.
A Expo Farma é um evento que auxilia a
promoção dos nossos produtos e permite
ter um contacto directo com os clientes e
outros expositores do ramo farmacêutico.
A Mosel apresentou como novidades, na
edição deste ano, medicamentos genéricos
da marca Bluepharma, produtos de geriatria com a representação para o mercado
dos produtos INDAS e também a nova representação de produtos de higiene oral da
marca KIN.
Futuramente, espera-se da Mosel muito
trabalho de forma a alcançar o crescimento que tanto se pretende para melhor servir
os clientes.
Aproveito a oportunidade para pedir aos
clientes que continuem fiéis, porque também receberão do nosso lado toda a fidelidade e lealdade, com base na simplicidade
e eficiência dos nossos serviços que temos
demonstrado em prol da saúde de todos
angolanos”.
Edisson Faria
MOSEL
COMUNICADO FINAL
A 2ª Semana da Farmácia Angolana,
que decorreu em Luanda, sob o lema“Acesso a farmacêuticos é acesso
a medicamentos eficazes, seguros e
com qualidade”, constituiu um ponto de encontro de todos os farmacêuticos angolanos e outros profissionais, quer nacionais, quer estrangeiros, ligados ao medicamento.
Contou-se com a prestigiosa presença de Sua Excelência Senhor Secretário de Estado da Saúde, Dr. Carlos Aberto Masseca, em representação do Senhor Ministro da Saúde, Dr.
José Vieira Dias Van-Dúnem, a deputada da 7ª Comissão, Dra. Mariana
Afonso, membros do governo e re-
presentantes de entidades oficiais.
Queremos ainda enaltecer a presença ao mais alto nível do país convidado de honra, a República da Coreia, nomeadamente o Senhor Embaixador Kion Yul Lee e Senhora
Nam Jeomsoon, em representação
do Ministério da Saúde.
Gostaríamos de agradecer também a presença de todos os colegas
neste grandioso evento e também
aos expositores e patrocinadores,
sendo estes últimos a Socifarma, Farwell, Shalina e Mosel que abrilhantaram este evento.
Aos prelectores pela sua ilustre
presença e excelentes apresenta-
ções dos temas propostos que constam do programa.
Um agradecimento especial a toda a OFA, ao Bastonário da Ordem
dos Farmacêuticos de Portugal, Prof.
Dr. Maurício Barbosa que desde a
primeira hora esteve ao lado da OFA.
Não podemos deixar de agradecer também a presença de Sua Excelência Senhor Secretário de Estado
da Saúde recentemente nomeado
Dr. Luís Gomes Sambo e da Senhora
Dra. Carmen Van-Dúnem, directora
nacional de formação graduada, em
representação do Senhor Ministro
do Ensino Superior, Dr. Adão do Nascimento, dos bastonários da Ordem
dos Médicos, Prof. Pinto de Sousa e
dos Enfermeiros, Paulo Luvualo.
O evento contou com um total
de 431 participantes e 27 expositores.
Na formação da pré conferência
participaram 27 formandos no dia 5
de Outubro. Estiveram representadas 11 províncias e tivemos o apoio
de todos os meios de comunicação.
Caros colegas, a OFA continua de
parabéns! Todos não somos de mais
no engrandecimento da nossa Ordem e do nosso País. Estamos consigo! Bem hajam!
Luanda, 7 de Outubro de 2015
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 13
Outubro/Dezembro 2015
País convidado de honra
Desenvolvimento e cuidados de saúde
Os três segredos do milagre
económico e social da Coreia
Kion Yul Lee
Embaixador da Coreia em Angola
De país mais pobre do mundo
nos anos 60, sem
recursos minerais,
tornou-se, em
menos de uma
geração, num
país doador. E
com serviços de
saúde e uma indústria farmacêutica muito avançada.
A Coreia ocupa o 13º lugar no
mundo em termos económicos.
E é o número 1 em muitas áreas.
Pertencemos ao clube 30-50, o
qual engloba os países com uma
população superior a 50 milhões
de habitantes com um rendimento “per capita” anual de mais
de 30 mil dólares. Existem apenas sete nações que cumprem simultaneamente estes dois critérios.
A Coreia era o país mais pobre
do mundo nos anos 60 do século
passado. Subsistíamos apenas
com ajuda externa. Ao contrário
de Angola, não tínhamos nada. A
Coreia é uma terra pequena, sem
recursos no subsolo. Dispúnhamos apenas dos nossos corpos
fortes, espíritos saudáveis e a
convicção de que "Nós podemos". Em menos de uma geração, a Coreia tornou-se um país
doador. O mundo considerou
um milagre. Qual foi o segredo
deste milagre? Simplesmente
"trabalhando arduamente" não
é suficiente para o rápido sucesso económico. Então qual foi o
segredo?
Os três segredos
O segredo foram os investimentos. Para ser mais exacto, a
Coreia fez três grandes investimentos para o desenvolvimento
económico. O primeiro foi na
construção de uma economia de
mercado, com as devidas regras
e infraestruturas. Investimos em
peso! E continuamos a investir
para melhorar a economia. É um
processo contínuo, uma condição sine qua non.
O segundo investimento foi
na educação. Os nossos pais e
mães fizeram poupanças do
pouco que tinham. E fizeram
poupanças para quê? Pouparam
para a educação de seus filhos. E
“A Coreia tem uma indústria farmacêutica
avançada. Concebemos
e lançámos cerca de 30
medicamentos inovadores, 300 biológicos e um
número incalculável de
genéricos”
o governo fez o mesmo: investiu
na educação pública. Este foi o
facto mais importante para o desenvolvimento. Um desenvolvimento sustentável não é possível
sem cidadãos educados.
O terceiro investimento foi na
saúde pública. Começámos com
campanhas públicas de prevenção sanitária. Construímos centros de saúde locais e instituições
médicas públicas. A partir de
meados dos anos 70 a Coreia fez
mais um grande investimento na
saúde das pessoas: introduziu
um seguro nacional.
Actualmente, a Coreia é um
dos países líderes no desenvolvimento de tecnologia e serviços
de saúde. Como referi atrás, não
há desenvolvimento económico
sustentável sem pessoas educadas. Da mesma forma, não há
prosperidade económica sustentável sem que haja pessoas saudáveis.
Em síntese, dos três grandes
investimentos da Coreia, dois foram nos recursos humanos: sem
pessoas inteligentes e saudáveis,
nenhuma economia é viável!
Sem pessoas inteligentes e saudáveis o país não pode existir por
muito tempo. Esta foi a forma
que conduziu a Coreia ao que é
agora.
Diplomacia do bem-estar
Denominamos a política coreana de cooperação internacional da saúde de "diplomacia do
bem-estar", conforme declarou
o ministro da Saúde da Coreia na
assembleia anual da OMS, em
2013.
A "diplomacia do bem-estar"
da Coreia é um sistema duplo,
com duas vertentes: uma pública e outra privada. Em poucas
palavras, uma é de ajuda pública
ao desenvolvimento e a outra comercial. Porém, a base é a mesma, dado que compartilhamos
especialidades da nossa competência nos cuidados de saúde. E
quais são então as componentes
que fazem parte das nossas especialidades?
O melhor sistema
de seguro de saúde
do mundo
Em primeiro lugar, nós temos
o melhor sistema de seguro de
saúde no mundo. Ninguém está
fora da cobertura. O sistema de
seguro de saúde é gerido por
uma instituição pública e está totalmente informatizado. Muitos
países em desenvolvimento vêm
à Coreia conhecê-lo e aprender
com a nossa experiência. Outros,
estão interessados na utilização
da aplicação informática.
Em segundo lugar, somos
muito bons em tratamento médico para doenças não transmissíveis como o cancro, diabetes,
doenças cardiovasculares, entre
outras. Prestamos serviços de alta qualidade a baixo custo. Observa-se, aliás, um número crescente de pacientes estrangeiros
que vêm tratar-se à Coreia: 250
mil, desde 2014.
14 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
País convidado de honra
Indústria
farmacêutica avançada
Em terceiro lugar, a Coreia
tem uma indústria farmacêutica
avançada. Concebemos e lançámos cerca de 30 medicamentos
inovadores, 300 biológicos e um
número incalculável de genéricos. O nosso objectivo é posicionarmo-nos em 7º lugar no ranking dos líderes mundiais da indústria farmacêutica até 2020.
Em quarto lugar, os hospitais
coreanos atingiram o topo em
gestão, a nível mundial. Totalmente informatizados. A maioria
dos hospitais, de diferentes níveis, estão ligados em rede uns
aos outros. E ainda às farmácias
e ao sistema nacional de seguro
de saúde. Com tudo isto, os pacientes beneficiam de um tempo
mais curto para iniciarem o seu
tratamento. Os seus serviços médicos são supervisionados e as
suas despesas médicas controladas automaticamente.
Finalmente, dispomos de
“Os dois países iniciaram
este ano um importante
programa de cooperação a nível médico. A
primeira consulta política bilateral no domínio
da saúde realizou-se a 2
de Fevereiro, em Luanda. Nessa ocasião, altos
funcionários dos respectivos Ministérios encontraram-se e discutiram
formas e meios para promover a cooperação. “
uma excelente educação médica.
Todos os anos, mais de três mil
médicos qualificados são licenciados em mais de 40 faculdades
de medicina. Profissionais es-
trangeiros são igualmente treinados. Na área da ajuda pública ao
desenvolvimento, através do programa "Lee Jong-Wook Fellowship" são convidados todos os
anos cerca de 100 médicos especialistas estrangeiros para frequentar estágios de formação
com a duração de um ou dois
anos.
Cooperação Angola-Coreia
Os nossos dois países iniciaram este ano um importante programa de cooperação a nível médico. A primeira consulta política
bilateral no domínio da saúde
realizou-se a 2 de Fevereiro, em
Luanda. Nessa ocasião, altos funcionários dos nossos dois Ministérios encontraram-se e discutiram formas e meios para promover a cooperação. Esta conferência é um dos resultados desta
consulta. Um Memorando de Entendimento (MoU) também está
a caminho. Este documento irá
preparar a via para programas
mais concretos no âmbito da
nossa colaboração.
Na minha qualidade de Embaixador da Coreia do Sul para
Angola, espero trabalhar em conjunto para identificar e implementar muitos projectos bilaterais. Acredito fortemente que temos uma enorme potencialidade
para gerar benefícios mútuos.
Como mencionei anteriormente,
a Coreia está disposta e determinada a compartilhar os seus conhecimentos e experiência em
áreas como o seguro de saúde,
produtos farmacêuticos, gestão
hospitalar e desenvolvimento de
recursos humanos. É também
meu desejo que conheceis as fábricas de produção de medicamentos coreanos, a par do meu
interesse em conhecer as instituições médicas em Angola.
Comunicação apresentada na sessão de
abertura da 2ª Semana da Farmácia Angolana, em Luanda, a 6 de Outubro de
2015.
Outubro/Dezembro 2015
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 15
Folha Farmacoterapêutica
Órgão informativo
REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA SAÚDE
DIRECÇÃO NACIONAL
DE MEDICAMENTOS E EQUIPAMENTOS
CINFARMA– Centro de Informação Farmacêutica no
Departamento de Farmacovigilância
DNME/MINSA
ANO 2 Nº 8 Outubro a Dezembro de 2015
MENSAGEM
DE ABERTURA
Todo o nosso esforço tem
um único objectivo: proporcionar-lhe, a si e à sua família,
melhores dias. Com o seu
apoio e amizade atingimos
grandes metas, e outras nos
esperam. Sentimo-nos realizados com a sua alegria, prosperidade e felicidade, bem como
com a valorização da nossa
profissão.
Nós acreditamos que
é preciso acreditar.
Nós acreditamos que
só acreditando é possível
construir.
Nós acreditamos que
só construindo conseguiremos vencer.
Nós acreditamos na
nossa profissão. Em si.
Por isso, apresentamos-lhe
mais um feito farmacêutico
que gostaríamos que fizesse
parte do seu quotidiano laboral, para a sua actualização
profissional. Pedimos-lhe
que contribua para a
sua melhoria.
Esta Folha Farmacoterapêutica estará sempre presente
nesta sua Revista da OFA.
Abrace esta causa.
O Director Nacional
Boaventura Moura
OS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTERÓIDES:
EFEITOS CARDIOVASCULARES,
CÉREBROVASCULARES, RENAIS E OUTROS
Introdução
Os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) encontram-se entre
os medicamentos mais prescritos em todo o mundo. Essa classe
heterogénea de fármacos inclui a aspirina e vários outros agentes
inibidores da ciclo-oxigenase (COX), selectivos ou não. Os AINEs
não selectivos são os mais antigos e designados como tradicionais
ou convencionais. Os AINEs selectivos para a COX-2 são designados COXIBEs. Nos últimos anos, tem sido questionada a segurança do uso dos AINEs na prática clínica, particularmente dos inibidores selectivos da COX-2. As evidências sobre o aumento do
risco cardiovascular com o uso de AINEs são ainda incompletas,
pela ausência de ensaios randomizados e controlados com poder
para avaliar desfechos cardiovasculares relevantes.
No entanto, os AINEs também podem induzir uma variedade de
alterações prejudiciais à função renal, especialmente naqueles
pacientes que já têm a perfusão sanguínea renal diminuída e nos
que fazem uso prolongado dessas drogas, 4,5,6 tornando o rim o segundo órgão mais afectado pelos efeitos adversos desses fármacos.6
O comprometimento renal constitui um dos principais responsáveis pelo alto índice de morbimortalidade associada ao uso indiscriminado dos AINEs.
O grupo de risco para as alterações renais causadas por AINEs inclui os pacientes com queda da taxa de filtração glomerular, por
hipovolémia, insuficiência cardíaca congestiva, cirrose (principalmente quando há ascite) ou nefróticos com altos níveis de proteinúria.7 Situação análoga ocorre em pacientes com nefrite lúpica, assim como nos hipertensos, nos diabéticos e naqueles que
fazem uso concomitante de AINEs e diuréticos ou que fazem uso
abusivo de analgésicos4,6
Nos últimos anos, tem sido questionada a segurança do uso dos
AINEs na prática clínica, particularmente dos inibidores selectivos da COX-2 em presença de determinadas condições e doenças,
o que levou à retirada de alguns desses fármacos do mercado. Os
AINEs tradicionais podem apresentar padrão de selectividade
COX-2 similar ao dos COXIBEs, como é o caso do diclofenaco
comparado com o celecoxibe ou serem inibidores mais activos
da COX-1, como naproxeno e ibuprofeno.
FARMACOLOGIA
As diferenças nos efeitos biológicos dos inibidores da COX resultam do grau de selectividade para as duas isoenzimas, das variações teciduais específicas em sua distribuição e das enzimas que
convertem a PGH2 em prostanoides específicos.
Os AINEs não selectivos da COX inibem a produção de prostaglandinas na mucosa gastrointestinal, podendo causar gastroduadinite, úlcera gástrica e sangramento digestivo. Esses AINEs,
como a aspirina, reduzem a produção plaquetária de TXA2 , devido ao bloqueio da COX-1, e previnem a trombose arterial. Recentemente, tem sido postulado que os inibidores selectivos da
COX-2 aumentam o risco cardiovascular. Esses agentes não blo-
queiam a formação de TXA2, nem exercem acção antiplaquetária, devido à inibição mínima da COX-1, porém, reduzem a produção de prostaciclina19. O aumento do risco cardiovascular poderia resultar da não oposição às acções do TXA2 e da propensão
à trombose. Além disso, vários modelos experimentais têm mostrado o efeito cardioprotector da COX-2, que poderia ser bloqueado pelos inibidores dessa isoforma. A COX-2 expressa-se em níveis baixos pelas células endoteliais em condições estáticas. Porém, é induzida pelo estresse de cisalhamento18. Esses achados
sugerem que a redução da produção de prostaciclina, secundária
ao decréscimo da COX-2, pode aumentar o risco de aterogênese
focal em locais de bifurcação vascular.
A partir da década de 1960, muitos AINEs não selectivos foram
introduzidos na prática clínica. Esses AINEs, tradicionais ou convencionais, apresentam efeitos inibitórios variados em relação à
COX-1 e COX-2, bem como aos efeitos colaterais no tubo digestivo. A aspirina é aproximadamente 166 vezes mais potente como
inibidor da COX-1 em relação à COX-220. A aspirina acetila e inibe
irreversivelmente a isoenzima COX-1, o que leva à inibição plaquetária completa, pelo tempo de vida das plaquetas21. Outros
AINEs não selectivos, como naproxeno, ibuprofeno e piroxicam,
causam inibição variável da COX-1 e COX-2 e provocam inibição
plaquetária reversível.
MECANISMO DE ACÇÃO DOS AINES
O principal mecanismo de acção dos AINEs é a inibição das ciclooxigenases, impedindo, assim, a síntese de prostaglandinas.
Inibindo as ciclooxigenases, os AINEs provocam uma série de efeitos colaterais, abaixo detalhados:
• Impedem o efeito vasodilatador das prostaglandinas, causando
vasoconstrição renal e redução na taxa de filtração glomerular,
podendo evoluir para necrose tubular aguda.
• Impedem o efeito inibitório das prostaglandinas sobre os linfócitos T, permitindo a activação dessas células, com consequente
liberação de citocinas pró-inflamatórias;
• Deslocam o ácido araquidónico para a via das lipoxigenases, aumentando a síntese de leucotrienos pró- inflamatórios;
• A lipoxigenase induz um aumento da permeabilidade capilar,
podendo contribuir para a proteinúria, por alterar a barreira de
filtração glomerular.
Os anti-inflamatórios selectivos afectam menos os indivíduos
com função renal normal e afectam de modo semelhante os pacientes com alterações renais prévias. Nestes, a gravidade do quadro é directamente proporcional ao tempo de terapia.
Estudos clínicos recentes mostram que o papel funcional da COX2 nos rins está principalmente associado à manutenção da homeostase hidroelectrolítica, enquanto a COX-1 parece estar mais
relacionada à manutenção da filtração glomerular normal.
Como tanto a COX-1 como a COX-2 estão presentes nos rins, todas as classes de AINEs podem causar, em maior ou menor grau,
lesão nesse órgão. Até há pouco tempo, acreditava-se que a toxi-
16 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Folha Farmacoterapêutica
cidade renal estava associada apenas aos inibidores da
COX- 1 devido à maior quantidade dessa enzima nos rins.
Entretanto, recentemente, foram descritos casos de toxicidade renal associada aos inibidores selectivos da COX-2,
como o rofecoxibe e o celecoxib.
A expressão constitutiva da COX-2 em tecidos renais levanta a possibilidade de que os seus inibidores específicos, como rofecoxib e celecoxib, sejam capazes de causar os mesmos efeitos adversos renais que os AINEs não-selectivos.2
Todavia, os efeitos hemodinâmicos renais, os quais podem
ser mediados pela acção da COX-1, podem constituir uma
excepção, pelo menos em adultos saudáveis em condições
fisiológicas.
Os efeitos dos inibidores selectivos da COX-2 sobre a função
renal ainda não foram completamente esclarecidos e os riscos de usá-los cronicamente ainda não estão bem estabelecidos. Um estudo realizado por Vogt et al., com pacientes
que apresentavam proteinúria de aproximadamente
4,4g/24h devido a glomerulopatias, mostrou que o uso de
rofecoxib 50mg levou a um aumento reversível da creatinina sérica, devido a uma redução da taxa de filtração glomerular.
ALGUNS NÃO ESTERÓIDES (AINES) PODEM
REDUZIR A FERTILIDADE FEMININA
Segundo especialistas, alguns medicamentos podem reduzir a fertilidade feminina. Alguns investigadores descobriram que um grupo de medicamentos conhecidos como fármacos anti-inflamatórios, “inibem de forma significativa
a ovulação”. Estes produtos estão entre as drogas mais usadas em todo o mundo, sendo tomadas por dezenas de milhões de pessoas todos os dias. Disponíveis sem receita médica, são amplamente utilizados para o tratamento de dores, inflamação e febre, todas as características comuns de
condições que envolvem a dor articular e muscular. São
exemplo os populares naproxenos, diclofenaco, ibuprofeno
e ácido acetilsalicílico.
Os pesquisadores analisaram os efeitos de três AINEs: diclofenaco, naproxeno e etoricoxib e a sua relação com a fertilidade.
Apenas 6% a 27% das mulheres que tomavam os medicamentos, ovularam normalmente, dependendo do tipo de
medicamento utilizado. Os médicos confirmaram que o
risco de redução da fertilidade relacionado com as drogas
devem ser comunicados às mulheres que tomam regularmente esta medicação.
Os pesquisadores sugerem que as drogas também podem
ser pesquisadas como um contraceptivo potencial. “Depois
de apenas dez dias de tratamento, vimos uma diminuição
significativa da progesterona, uma hormona essencial para
a ovulação, em todos os grupos de tratamento, bem como
cistos funcionais em um terço das pacientes”, demonstrou
o investigador do estudo, professor da Universidade de Bagdá, no Iraque, Sami Salman.
“Estes resultados mostram que, mesmo o uso a curto prazo
destes populares medicamentos, poderiam ter um impacto
significativo sobre a capacidade das mulheres de ter filhos.
Esta realidade precisa ser melhor comunicada aos pacientes com doenças reumáticas, que podem tomar esses medicamentos em uma base regular, com pouca consciência
do impacto.
EFEITOS DOS AINES NA HIPERTENSÃO
ARTERIAL
Duas grandes meta-análises14,15, englobando mais de 90 ensaios clínicos, demonstraram que os AINEs podem elevar
a pressão arterial. Em ambas, a elevação ocorreu em maior
magnitude nos pacientes hipertensos. Na análise de Pope
e cols.14, indometacina e naproxeno elevaram a pressão arterial média em 3,59 mmHg e 3,74 mmHg, respectivamente.
O piroxicam exerceu aumento negligível (0,49 mmHg) da
pressão arterial média.
Na meta-análise de Jonhson e cols.15, os dados mostraram
que os AINEs aumentaram a pressão arterial supina média
em cerca de 5,0 mmHg. O piroxicam induziu o aumento
mais elevado (6,2 mmHg). Aspirina, sulindac e flubiprofeno
apresentaram a menor elevação da pressão arterial; indometacina e ibuprofeno exerceram efeitos intermediários.
O conjunto de dados também mostrou que os AINEs interferem com os efeitos anti-hipertensivos das diversas classes
desses agentes, especialmente daquelas cujo mecanismo
de acção envolve também a síntese das prostaglandinas vasodilatadoras, como diuréticos, inibidores da enzima de
conversão da angiotensina e betabloqueadores. Bloqueadores dos canais de cálcio e antagonistas dos receptores de
angiotensina II sofreram menor interferência dos AINEs
em seus efeitos16,17
O aumento da pressão arterial provocado pelos AINEs associou-se ao declínio significante das concentrações de
prostaglandinas e renina.
EVENTOS CEREBROVASCULARES DOS AINES
Recentemente, Haag e cols.13 avaliaram 7.636 indivíduos
com idade média de 70,2 anos, dos quais 61,3% eram mu-
Tabela 12 -Resumo dos efeitos dos AINE’s na função renal
Síndrome Renal
Mecanismos
Factores de risco
Prevenção/Tratamento
Retenção de sódio
e edema
↓Prostaglandina
Terapia com AINE’s
(efeito adverso mais
comum)
Interromper o uso do AINE
Hipercalemia
↓Prostaglandina,
↓secreção de potássio
para túbulo distal e
↓aldosterona/
reninaangiotensina
Doença renal,
Interromper o uso do AINE,
insuficiência cardíaca, evitar indometacina
diabetes, mieloma
em pacientes de alto risco
múltiplo, terapia com
diurético poupador
de potássio
Insuficiência Renal
Aguda
↓Prostaglandina
e queda do balanço
hemodinámico
Doença hepática,
Interromper o uso do AINE
doença renal,
evitar o uso em pacientes
insuficiência cardíaca, de alto risco
desidratação, idosos
Síndrome nefrótica
com nefrite
intersticial aguda
↓Recrutamento e activação Fenoprofeno
dos linfócitos
Necrose Papilar
Toxicidade directa
Interromper o uso do AINE,
dialisar e fazer uso
de esteróides (?)
se necessário
Abuso de fenacetina,
Interromper o uso de AINE,
combinação de aspirina evitar uso crónico
e acetaminofeno
de analgésico
lheres, sem manifestação de isquemia cerebral prévia
(1991-1993), para incidência de acidente vascular cerebral
(AVC) até Setembro de 2004. Em 70.063 pessoas/ano de seguimento (média = 9,2 anos), 807 indivíduos desenvolveram AVC (460 isquémicos, 74 hemorrágicos e 237 não especificados). Os usuários habituais de AINEs não selectivos
(HR 1,72; IC 95%; 1,22 a 2,44) e de inibidores selectivos da
COX-2 (HR 2,75; IC 1,28 a 5,95) tiveram maior risco de AVC,
porém não os que tomaram inibidores selectivos da COX1 (HR 1,1; IC 0,41 a 2,97). O autor concluiu que, na população
geral, o risco de AVC foi maior com o uso corrente de AINEs
selectivos, porém não limitado a estes, pois ocorre também
com os AINEs não selectivos.
EVENTOS CARDIOVASCULARES DOS AINES
Recentemente, Garcia Rodriguez e cols.1 avaliaram a associação entre a frequência, dose e duração do uso de diferentes AINEs e o risco de enfarte do miocárdio na população
geral. Verificaram também se o grau de inibição da COX-2
no sangue total poderia ser um preditor bioquímico “substituto” para o risco de enfarte do miocárdio associado aos
AINEs. Foram identificados 8.852 casos de enfarte não fatal
em pacientes com 50 a 80 anos, entre 2000 e 2005, e realizada a análise de casos-controlo. Correlacionou-se o risco de
enfarte com o grau de inibição da COX-1 plaquetária e da
COX-2 monocítica in vitro pela concentração terapêutica
média de cada AINE.
O risco de enfarte do miocárdio aumentou com o uso habitual de AINEs
O grau de inibição da actividade da COX-1 e COX-2 no sangue total, in vitro, induzido pelos AINEs individualmente,
mostrou que, com excepção do naproxeno e ibuprofeno,
todos os outros inibiram a COX-2 mais intensamente que
a COX-1, em concentrações terapêuticas.
A inibição da prostaciclina dependente da COX-2 pode representar o factor principal para o risco aumentado de enfarte do miocárdio entre os AINEs, com supressão não funcional da COX-1. Essa propriedade é compartilhada pela
maioria dos AINEs tradicionais e COXIBEs, e a determinação da concentração da COX-2 no sangue total pode representar um desfecho substituto para predizer o risco cardiovascular desses fármacos.
A separação dos AINEs em inibidores selectivos ou não da
COX-2 representa apenas parcialmente a predição do risco
cardiovascular dos AINEs. Esses resultados são consistentes com os de estudos casos-controlo e ensaios clínicos randomizados8,9, porém só parcialmente, com a visão actual
de que a selectividade para a COX-2 é um atributo necessário para o risco cardiovascular. Em verdade, demonstrouse que a acção prolongada e doses altas do composto activo
associam-se ao risco aumentado para qualquer AINE. Esses
achados sugerem que o grau de inibição da COX por níveis
terapêuticos de AINEs deve ser considerado o maior determinante do risco cardiovascular.5,11,12
A adição de um AINE ao esquema terapêutico de paciente
em uso de diurético para controlo de doença cardiovascular, associada à retenção de sódio e água, aumenta a probabilidade de desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
Num estudo que envolveu cerca de 10.000 indivíduos, com
55 anos ou mais, o uso concomitante de diuréticos e AINEs
associou-se ao aumento de duas vezes na taxa de hospitalização por insuficiência cardíaca3. Pacientes com história
prévia de insuficiência cardíaca congestiva apresentaram
maior risco3.
ALTAS DOSES DE IBUPROFENO ASSOCIADAS
A RISCO CARDÍACO 10
Alerta sobre o anti-inflamatório é feito pelo Comité de
Avaliação do Risco em Farmacovigilância (PRAC) da
Agência Europeia do Medicamento (EMA).
O anti-inflamatório ibuprofeno, quando tomado de
forma diária e em doses muito elevadas, aumenta o risco dos doentes sofrerem um AVC ou um enfarte agudo
do miocárdio.
A informação diz respeito a tomas diárias do medicamento
superiores a 2400 mg, esclarece um comunicado da EMA.
Outubro/Dezembro 2015
As conclusões do PRAC vão ser remetidas para o Comité de
Medicamentos de Uso Humano, também pertencente à
mesma agência, e a quem cabe a palavra final sobre o tema.
O medicamento está disponível em embalagens de 200, 400
ou 600 mg. O número de comprimidos que se tomam por
dia varia de acordo com a doença, mas em todos os casos,
a bula do fármaco nas suas várias apresentações, frisa sempre que “em qualquer caso, a dose diária não deverá exceder
2400 mg de ibuprofeno”
As conclusões da revisão de informação feita pelo PRAC
“confirmam um pequeno aumento do risco de problemas
cardiovasculares” nos doentes que “tomam doses altas de
ibuprofeno”. “A revisão clarifica que o risco de elevadas doses de ibuprofeno é semelhante ao encontrado noutros anti-inflamatórios não esteróides”, explica a nota, onde se refere como exemplo o diclofenaco, conhecido pelo nome de
marca Voltaren e que, no passado, levou a alertas semelhantes, e os chamados inibidores selectivos da COX-2.
Em todos os casos, o PRAC defende que os benefícios deste
anti-inflamatório (campeão de vendas a nível mundial) ainda são superiores aos riscos, sendo apenas necessário actualizar os alertas relacionados com os perigos relacionados sobretudo para quem ultrapassa os limites de dosagem
diária.
As conclusões tiveram como base a análise de vários trabalhos publicados nos últimos anos sobre os efeitos deste medicamento, num estudo que começou em Junho de 2014, a
pedido do regulador do medicamento do Reino Unido. O
organismo defende que deve haver um cuidado especial
com os doentes que já apresentam doença cardíaca, como
historial de problemas circulatórios, AVC ou ataque cardíaco, assim como todos os casos em que se prevê um uso
prolongado do ibuprofeno. A EMA dá ainda exemplos de
alguns factores de risco, como por exemplo, o tabaco, a hipertensão, a diabetes e o colesterol.
Alguns dados do PRAC apontam ainda para que o ibuprofeno possa interagir com medicamentos como a aspirina,
que muitas vezes é tomada como forma de prevenir AVCs.
No entanto, no uso esporádico, o organismo considera que
não existem problemas sérios. As recomendações aplicamse também a um anti-inflamatório semelhante ao ibuprofeno, mas menos utilizado – o dexibuprofeno.
DOSAGENS RELACIONADAS AO USO DE AINES NA
INTERACÇÃO DAS PROSTAGLANDINAS
E A FUNÇÃO RENAL 2
Dada a variedade de tipos celulares nos rins e as suas diferentes funções, a tamanha complexidade da interacção entre as prostaglandinas e a função renal já é esperada. As
prostaglandinas estão envolvidas na liberação de renina,
na homeostase de sódio e água, no tónus vascular local, na
circulação regional e no balanço de potássio. As prostaglandinas actuam em conjunto com uma variedade de outros
mediadores, que mesmo na ausência das mesmas, podem
preservar a homeostase. Assim, a inibição da função das
prostaglandinas pelos AINEs é mais passível de causar
complicações em pacientes de risco com queda da perfusão renal do que em pacientes normais. As desordens renais relacionadas ao uso de AINEs são, por ordem decrescente de frequência, distúrbios hidroeletrolíticos, insuficiência renal aguda, síndrome nefrótica (com nefrite intersticial), necrose papilar e outras.
AINES E DISTÚBRIO HIDROELETROLÍTICO
A retenção hídrica induzida pelos AINEs é tipicamente benigna, sendo reversível com a descontinuação da medicação. A retenção de sódio ocorre em cerca de 25% dos pacientes que usam AINEs. A redução na excreção de sódio e,
em consequência, de água, leva a uma expansão volémica
e à hipertensão. Esse aumento da pressão arterial é mais
importante em pacientes previamente hipertensos. Indivíduos tratados com diuréticos ou β-bloqueadores são
mais vulneráveis do que aqueles que fazem uso de bloqueadores de canal de cálcio, vasodilatadores directos ou clonidina. Outros distúrbios electrolíticos também são induzidos por AINEs, sendo o mais importante, a retenção de po-
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 17
tássio, com consequente desenvolvimento de hipercalemia.
A retenção hidrossalina é a complicação mais frequente relacionada ao uso de AINEs e está presente em quase todos
os indivíduos expostos a essas drogas mas o edema passível
de ser detectado clinicamente ocorre em menos de 5% dos
pacientes e é reversível com a interrupção do tratamento.
Os AINEs podem diminuir em cerca de 20% a resposta aos
diuréticos, principalmente os diuréticos de alça. Esse efeito
pode estar ainda mais pronunciado naqueles pacientes
propensos a reter sódio, como por exemplo, os portadores
de insuficiência cardíaca congestiva.
A incidência de edema é provavelmente maior em pacientes com uso crónico dessas drogas. O início da retenção hídrica ocorre por noma no início da terapia e pode chegar a
números impressionantes, como no caso do aumento de
15kg, em uma paciente de 70 anos que fez uso de ibuprofeno por apenas 17 dias.
Os múltiplos mecanismos pelos quais os AINEs interferem
na regulação do sódio e da água pelos rins podem explicar
a incidência dessa complicação. Como mencionado previamente, essas drogas tem o potencial de interferir na diurese e na natriurese através das suas acções sobre o transporte de cloreto de sódio, de hormona antidiurética e da
transmissão do fluxo sanguíneo mediado pelas prostaglandinas. A patogénese da síndrome nefrótica também está
incluída nessas hipóteses. A hiponatremia associada à actividade física tem sido relatada com frequência sendo o
uso de AINEs um factor de risco para esta complicação. Os
AINEs têm o potencial de alterar os efeitos da arginina vasopressina através da inibição da síntese renal de prostaglandinas, além de reduzir a taxa de filtração glomerular,
efeitos que reduzem a capacidade renal de diluição da urina, levando ao desenvolvimento de hiponatremia.
A hipercalemia é uma complicação menos frequente, provavelmente pela multiplicidade de factores capazes de
manter o balanço de potássio, mesmo na ausência de prostaglandinas. A hipercalemia ocorre mais em pacientes de
risco como os portadores de insuficiência cardíaca, diabetes, mieloma múltiplo ou em pacientes que receberam suplementação de potássio ou se encontram em uso de inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA). A
indometacina parece ser o AINE mais associado a esse tipo
de complicação e causou hipercalemia em pacientes sem
factores de risco aparentes2.
AINES E INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (IRA)
Os AINEs, juntamente com os aminoglicosídeos e os contrastes radiológicos, são responsáveis por mais de 90% das
insuficiências renais agudas causadas por drogas. Um estudo, realizado por Lafrance e Miller, mostrou que alguns
AINEs, como naproxeno, piroxicam, ketorolac, etodolac,
indometacina, sulindac, ibuprofeno e doses altas de aspirina, estão associados a alto risco de IRA, enquanto rofecoxib, celecoxib, meloxicam e diclofenaco não estão associados à IRA significante. Os AINEs podem levar a duas diferentes formas de IRA: a hemodinamicamente-mediada e a
nefrite intersticial aguda (que pode ou não estar acompanhada da síndrome nefrótica). As duas provavelmente estão associadas à redução na síntese de prostaglandinas pelos AINEs2
IRA HEMODINAMICAMENTE MEDIADA
Do ponto de vista clínico, o efeito renal mais importante induzido por AINEs é a insuficiência renal aguda hemodinamicamente mediada, que ocorre em indivíduos de risco, ou
seja, aqueles com uma redução da perfusão renal preexistente. Normalmente, os rins desses pacientes produzem
prostaglandinas localmente, o que, através da vasodilatação e outros efeitos glomerulares, ajudam a manter a perfusão renal, que se encontra deficiente e a função normal
em casos de diminuição da perfusão. Já em pacientes hígidos não ocorre essa libertação local para aumentar a perfusão.
Apesar de os AINEs não interferirem na taxa de filtração
glomerular em pessoas com função renal normal, pode
ocorrer uma descompensação aguda em pacientes de risco
com várias doenças renais ou extra-renais que podem levar
a um decréscimo da filtração glomerular. A disfunção renal
nesse caso pode ser atribuída à interrupção do delicado balanço entre os mecanismos pressóricos mediados por hormonas e os efeitos vasodilatadores relacionados às prostaglandinas. Em pacientes de risco, a contracção de volume
estimula uma resposta pressórica pelos sistemas adrenérgicos e renina-anigiotensina. Em contraposição a essa vasoconstricção, as prostaglandinas liberadas localmente
promovem uma vasodilatação renal. O uso de AINEs aumenta o risco de azotemia e de danos isquémicos nos rins
por retirar esse efeito protector das prostaglandinas, permitindo a vasoconstrição.
Assim, a inibição da síntese de prostaglandinas pelos AINEs
pode ocasionar isquemia renal reversível, declínio da pressão hidrostática glomerular (a principal força envolvida no
processo de filtração glomerular), necrose tubular aguda e
IRA.
A necrose tubular aguda (NTA) pode ser definida como um
dano às células tubulares, causando IRA, na ausência de
uma patologia vascular ou glomerular significante. A NTA
tem sido relacionada com o uso de fenoprofeno, ibuprofeno
e fenilbutazona.
Inicialmente, a síndrome renal induzida pelos AINEs apresenta-se com níveis sépticos elevados de ureia, creatinina
e potássio e com uma produção de urina reduzida (oligúria). O aumento nos níveis sépticos de creatinina é visto nos
primeiros três a sete dias de uso dos AINEs, tempo esse necessário para que a droga atinja seus níveis máximos e, portanto, uma máxima inibição da síntese de prostaglandinas.
Se o tratamento com AINEs for interrompido, os sintomas
costumam ser reversíveis em até 24 horas. Caso a terapia
seja mantida, o paciente pode evoluir para uma disfunção
renal progressiva e desenvolver uma necrose tubular aguda
necessitando de diálise.
Qualquer AINE pode ocasionar IRA. Sendo assim, não só
os AINEs inibidores não-selectivos (como se pensava antigamente), mas também os inibidores selectivos da COX-2
podem ser nefrotóxicos.
Tem-se discutido recentemente a nefrotoxicidade do analgésico parenteral. Estudos sugerem que o ketorolac apresenta um maior potencial nefrotóxico que outros AINE,
uma vez que reduz a taxa de filtração glomerular de alguns
pacientes, e aumenta o risco desses desenvolverem uma insuficiência renal aguda. Um estudo retrospectivo de 1997
realizado em 35 hospitais da Filadélfia, Estados Unidos,
mostrou que pacientes que foram tratados com ketorolac
por mais de cinco dias apresentaram uma taxa elevada de
insuficiência renal aguda, quando comparados a pacientes
que foram tratados apenas com analgésicos opióides (que
não apresentam poder nefrotóxico).
Há evidências que sugerem que alguns AINEs não selectivos possuem um poder nefrotóxico menor que outros. A
aspirina, por exemplo, inibe apenas parcialmente as ciclooxigenases renais, em contraste à sua acção irreversível nas
plaquetas. Sendo assim, baixas doses de aspirina (até 40mg
ao dia) parecem ser mais seguras em relação a outros AINEs não selectivos, no que diz respeito aos riscos de insuficiência renal aguda. Contudo, em pacientes idosos, mesmo
a aspirina em baixas doses, ou a aspirina associada a outros
AINEs, pode levar a um declínio na função renal.
O ibuprofeno, por sua vez, em baixas doses, parece ser pouco nefrotóxico para a maioria das pessoas. Entretanto, mesmo as doses baixas do ibuprofeno podem reduzir a função
renal de pacientes que já possuem uma perfusão renal comprometida.
O mecanismo pelo qual o sulindac poupa a síntese de prostaglandinas renais ainda não é totalmente compreendido.
Sendo assim, a segurança no uso do sulindac não é totalmente garantida, sendo necessária monitorização cuidadosa do paciente durante o tratamento.
A deterioração aguda da função renal ocorre em 0,5 a 1%
dos pacientes em uso crónico de AINEs e até em 13% dos
pacientes mais frágeis, como os idosos. Aproximadamente
1 em 200 pacientes com mais de 65 anos irá desenvolver in-
18 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Folha Farmacoterapêutica
suficiência renal aguda dentro de 45 dias após o início da
terapia com os AINEs.
Existe uma série de razões pelas quais os pacientes idosos
são mais susceptíveis à nefrotoxicidade por AINEs. Eles geralmente têm baixos níveis de albumina, resultando no aumento dos níveis de droga livre.
Pacientes idosos também apresentam um nível de água
corporal reduzido, o que proporciona maiores concentrações dos AINEs, além de possuírem o metabolismo hepático mais lento, o que pode levar a um aumento da concentração sanguínea dos fármacos. Assim, ter mais de 80 anos
é considerado um factor de risco independente da própria
fisiologia. Ocorre queda de 50% da função renal em cerca
de 50% da população nessa faixa etária, primariamente como resultado da progressão da arteriolonefroesclerose.
Pacientes renais crónicos têm um maior risco de desenvolver insuficiência renal aguda induzida por AINEs devido à deficiente produção renal de prostaglandinas. A excreção urinária de Prostaglandina E2 é quantitativamente
maior em pacientes que desenvolveram insuficiência renal induzida por AINEs do que naqueles que não desenvolveram e o ibuprofeno provou ser mais nefrotóxico do
que o piroxican ou o sulindac.
A contracção polémica causada por terapia diurética ou
por doenças intercorrentes que causem desidratação também representa um importante factor de risco para o desenvolvimento de insuficiência renal aguda induzida por
AINEs2.
SÍNDROME NEFRÓTICA E NEFRITE
INTERSTICIAL AGUDA
Os AINEs podem ainda causar outro tipo de disfunção renal que está associada a vários níveis de dano e é caracterizada por síndrome nefrótica com nefrite intersticial aguda. As características clínicas, a ausência de factores de risco e a fisiopatologia podem distingui-la de outras síndromes renais induzidas por AINEs e da clássica nefrite alérgica intersticial induzida por drogas.
O início da síndrome nefrótica causada por AINEs normalmente é tardio, cerca de quatro ou cinco meses após o início da terapia e tem a duração de duas semanas a 18 meses.
Pode ser reversível após um mês a um ano da interrupção
do tratamento. Durante a recuperação, alguns pacientes
podem precisar de diálise. Essa síndrome tem sido mais
comummente relatada após o uso de fenoprofen (aproximadamente dois terços dos casos) do que com outros AINEs.
O uso contínuo de AINE pode produzir proteinúria maciça
e síndrome nefrótica, associada a lesões glomerulares
idênticas àquelas encontradas na doença de lesão mínima
em crianças. A inibição das ciclooxigenases pelos AINEs
provoca um deslocamento do ácido araquidónico para a
síntese de leucotrienos, que são responsáveis pela activa-
ção de células T.
Relatos de casos de doença de lesão mínima, associada à
síndrome nefrótica, causada pelo uso de AINEs, são bastante raros. Um interessante caso foi publicado em 2008,
na Croácia: uma paciente do sexo feminino, de 53 anos, desenvolveu doença de lesão mínima associada à síndrome
nefrótica e necrose tubular aguda, devido ao uso crónico
de diclofenaco para dores musculares e artropatias, não
havendo outra causa aparente para o desenvolvimento do
quadro, a não ser o uso do AINE.
O quadro de nefrite intersticial aguda associada à síndrome nefrótica ocorre mais frequentemente com o fenoprofeno21, mas provavelmente pode acontecer com qualquer
outro AINEs. Há, inclusive, casos relatados de AINEs inibidores selectivos da COX-2 associados com esse padrão de
NIA e síndrome nefrótica2.
no. Ambas as drogas ficam altamente concentradas na
medula2.
O que é clinicamente notável é que a exposição crónica (10
a 20 anos) do rim a altas doses de analgésicos combinados,
assim como salicilatos e acetaminofeno, muitas vezes com
adição de cafeína, podem produzir uma necrose papilar
crónica progressiva. A pigmentação escura encontrada na
necrose papilar associada ao uso de fenacetina está ausente nos pacientes em uso de aspirina ou outros AINEs. Essa
pigmentação escura pode ser causada por um subproduto
do metabolismo de fenacetina. O uso de fenacetina, inclusive, parece estar relacionado com um maior risco de morte por doenças e neoplasias renais ou urológicas, e o seu
uso foi temporariamente banido, sendo hoje a sua venda
particularmente restrita. Em 1948, foi descoberto que o paracetamol constitui o maior metabólito de fenacetina2.
NEFROPATIA MEMBRANOSA
Apresenta-se clinicamente como síndrome nefrótica (em
muitos casos também como proteinúria não nefrótica),
podendo, em alguns casos, vir associada à microhematúria, hipertensão e insuficiência renal moderada. A maioria
dos pacientes com síndrome nefrótica causada por AINEs,
que vão à biópsia renal, entretanto, apresenta doença de
lesão mínima.
Muitos dos pacientes que desenvolveram nefropatia
membranosa fizeram uso de um AINE específico: o diclofenaco. Entretanto, qualquer AINE pode estar envolvido
com esse tipo de glomerulopatia. Deve-se levar em consideração que a fisiopatologia da nefropatia membranosa
causada por AINEs não é conhecida, e nenhum antígeno
depositado foi eluído e mostrado ter relação com os AINEs,
apenas sugere-se uma relação causa-efeito2.
AINES E INSUFICIÊNCIA RENAL CRÓNICA
Alguns estudos sugerem que o uso diário de AINEs por um
período maior que um ano pode estar associado a um aumento no risco de insuficiência renal crónica (IRC).
O IRC ocorre mais frequentemente em pacientes que desenvolveram nefrite intersticial aguda. Parece que a função
renal não consegue retornar ao normal após um episódio
de NIA e a fibrose intersticial pode progredir para IRC se o
uso do AINE não for interrompido.
AINES E NECROSE DE PAPILA RENAL
De acordo com informações dos respectivos produtores,
a administração crónica de quase todos os AINEs causa
necrose papilar em experimentos laboratoriais em animais, e alguns relatos clínicos de casos podem ser encontrados na literatura médica actual. A necrose papilar parece ser a única forma irreversível de toxicidade renal.
Grande parte das anormalidades renais encontradas como resultado do uso de AINEs pode ser atribuídas ao efeito
dessas drogas sobre as prostaglandinas.
Os AINEs parecem estar associados a casos de necrose da
papila renal principalmente em pacientes com doença renal latente pré-existente. Há geralmente história de ingestão excessiva de AINEs durante um período de severa desidratação.
A ingestão excessiva de AINEs causa isquemia e posterior
necrose das papilas renais.
Alguns AINEs podem ter efeito directo na papila renal,
principalmente combinações de aspirina e acetaminofe-
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
- A prescrição dessa classe farmacêutica deve ser criteriosa,
especialmente para os pacientes considerados de alto risco
para desenvolver lesão renal, como idosos, hipertensos,
diabéticos.
O risco de enfarte do miocárdio aumentou com o uso habitual de AINEs
- Uso prolongado de AINEs pode causar elevação da pressão arterial média, principalmente em hipertensos, e interferir com os efeitos anti-hipertensivos.
- A nefrotoxicidade dos anti-inflamatórios não esteróides
é relatada em diversos estudos e está relacionada principalmente à sua acção inibitória na síntese de prostaglandinas.
- O comprometimento renal constitui um dos principais
responsáveis pelo alto índice de morbimortalidade associada ao uso indiscriminado dos AINEs.
- A nefrotoxicidade dos anti-inflamatórios não esteróides
é relatada em diversos estudos e está relacionada principalmente com a sua acção inibitória na síntese de prostaglandinas. Essa toxicidade ocorre tanto com os inibidores
selectivos quanto com os não-selectivos das ciclooxigenases, ao contrário do que se pensava antigamente, podendo
ocasionar desde distúrbios hidroeletrolíticos até insuficiência renal crónica.
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Direcção Técnica Dr. Boaventura Moura -Director Nacional de Medicamentos e Equipamentos
Conselho Redactorial Dra. Isabel Margareth Malungue - Chefe de Departamento Nacional de Farmacovigilância e Remédios Tradicionais;
Dr. José Chocolate Lelo Zinga - Chefe do Centro de Informação Farmacêutica.
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Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 19
Investigação
HOSPITAL JOSINA MACHEL
Reacções adversas a antimicrobianos
nos serviços de medicina e ortopedia
Mateus Sebastião João Fernandes
Licenciado em Ciências Farmacêuticas, mestrando de Farmacoepidemiologia, director
do CECOMA
Héctor Lara Fernández
Especialista de primeiro grau em Higiene e Epidemiologia, mestre em Farmacoepidemiologia, Doutor em Ciências Médicas, MINSA
Vladimir Calzadilla Moreira
Especialista de segundo grau em Ortopedia e Traumatologia, Doutor em Ciências Médicas, Hospital Josina Machel
Realizou-se um estudo descritivo, prospectivo, para caracterizar a incidência e tipo de reacções adversas a medicamentos (RAM) antimicrobianos em doentes internados nos serviços de ortopedia e de medicina do Hospital Central Josina Machel, em Luanda, no período de
Janeiro a Fevereiro de 2014. A ocorrência de RAM foi
avaliada através da revisão diária da história clínica dos
doentes, com pesquisa activa de efeitos adversos potencialmente associados aos medicamentos antimicrobianos prescritos.
Do total de 206 doentes internados, 21 foram afetados
por RAM, correspondendo a uma taxa de incidência de
10,2 por cento. A incidência foi significativamente mais
elevada no serviço de medicina, tendo ocorrido em 11,7
por cento dos 137 doentes internados, enquanto no
serviço de ortopedia foi de 7,2 por cento (5/69). A maior
incidência de RAM registou-se nos doentes de idade entre os 30 e os 39 anos, com dez doentes (4,9 por cento), e
no género feminino, com 7,8 por cento.
As manifestações clínicas das RAM mais frequentes foram o rash cutâneo, em 17,2 por cento dos afetados, seguido de cefaleias, prurido e náuseas e vómitos (13,8
por cento).
Os antimicrobianos mais frequentemente associados à
ocorrência de RAM foram os antipalúdicos, imputados a
mais de metade dos casos. Entre os antibacterianos destacam-se as cefalosporinas, associadas a cinco casos de
RAM (23,8 por cento).
A maioria das RAM foi classificada, quanto à severidade,
como moderada (52,4 por cento) e, como prováveis
(57,1 por cento), relativamente à imputação de causalidade. Face ao impacto crescente da ocorrência de RAM
recomendamos prosseguir esta investigação, para poder aprofundar mais esta problemática.
Palavras-chave: Reação adversa a medicamentos, serviços de medicina e ortopedia.
Introdução
Conhece-se os elementos farmacológicos e toxicológicos de
um fármaco quando se comercializa. Mas isto não significa que
a sua administração esteja isenta
de riscos, uma vez que se desconhece o amplo perfil de reacções
adversas que pode produzir a
curto, médio ou longo prazo1. Os
estudos de pré-registo e comercialização realizam-se em poucas
pessoas, em populações selecionadas (que tendem a excluir os
mais velhos e os muito jovens) e
durante períodos de tempo muito curtos, em condições fisiológicas definidas, que não são todas
as que realmente caracterizarão
o universo de doentes que virão a
utilizar o medicamento2,3.
As reacções adversas a medicamentos (RAM) são o resultado
de uma interação entre o medicamento administrado e algumas
características inerentes, ou adquiridas, do doente e que determinam o padrão individual de
resposta. Deste modo, algumas
reacções são determinadas principalmente pelo medicamento
(características físicas e químicas, farmacocinéticas, associação a outro fármaco, formulação,
dose, frequência e via de administração), outras pelas características do indivíduo (idade, sexo, estado imunológico, predisposição
genética e hábitos tóxicos) e outras por ambas as variáveis, em
doentes e em medicamentos4-6.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as RAM definem-se como qualquer efeito
prejudicial, não desejado, que se
apresenta depois da administração de um fármaco, em doses utilizadas habitualmente para prevenir, diagnosticar, tratar uma
doença ou para modificar qualquer função biológica7.
Para conhecer o impacto sanitário das suspeitas de RAM pode
ser útil examinar a sua gravidade
e a sua frequência. Embora, em
geral, as suspeitas de RAM são de
carácter leve ou moderado, não
devemos esquecer que também
podem produzir a morte ou ser
responsáveis por lesões irreversíveis8,9.
A informação obtida em diversos estudos mostra que, em
hospitais, as RAM constituem na
atualidade uma patologia emergente, com uma elevada repercussão assistencial e económica10,12. Resultados publicados pela
revista JAMA, sobre uma compilação de 39 estudos prospetivos
realizados nos Estados Unidos
durante um período de 32 anos
em hospitais, mostram que as
RAM chegam a 15 por cento das
admissões hospitalares, sendo
que, dessas, cerca de 6,7 por cento são graves e 0,32 por cento são
mortais13. Dados recentes indicam que 100 mil americanos
morrem todos os anos devido a
RAM, sendo uma das seis primeiras causas de morte nos Estados
Unidos da América, e que 1,5 milhões são hospitalizados14. Outros estudos estimam que as
RAM causem entre 0,86 e 3,9 por
cento das visitas aos serviços de
urgência e sejam responsáveis
por 0,5 a 0,9 por cento da mortalidade em doentes hospitalizados15.
Em Angola, as enfermidades
transmissíveis são o principal
problema de saúde e primeira
causa de morbilidade e mortalidade. Estudos internacionais demonstram a incorreta utilização
dos medicamentos anti-infecciosos e antipalúdicos e a sua desfavorável repercussão nos sistemas
de saúde. No país, não existem estudos sobre o tema, em especial
20 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Investigação
na atenção hospitalar12-15. Desconhece-se o impacto das RAM para a morbilidade e mortalidade
hospitalar. O conhecimento da
frequência de ocorrência e gravidade desta complicação ressalta
a sua importância e a necessidade de seu estudo. É por essa razão
que se realizou este estudo, com o
objetivo de caracterizar as RAM
em doentes atendidos nos serviços de medicina e ortopedia do
Hospital Central Josina Machel,
durante o período de Janeiro a Fevereiro de 2014.
Método
Realizou-se um estudo observacional descritivo, de Janeiro
a Fevereiro de 2014, no Hospital
Central Josina Machel, em Luanda. O universo foi constituído por
todos os doentes que deram entrada nas salas de medicina e ortopedia no referido período. Procurou-se activamente doentes
com RAM, em função da sua monitorização diária, o que com-
preendia a recolha de dados do
registo de entrada nas salas e da
história clínica, tendo em conta
os antecedentes patológicos pessoais, antecedentes de alergia a
medicamentos, impressão diagnóstica, evolução médica, evolução de enfermagem e indicações
médicas. Fez-se a anamnese farmacológica do doente, tendo em
consideração medicamentos ingeridos e as reacções adversas
contidas segundo os fármacos.
Uma vez detectado o doente com
RAM, procedeu-se ao preenchimento do modelo de notificação
e, posteriormente, aplicou-se o algoritmo em conjunto com o investigador principal. Participouse nos passes de visita junto do
pessoal médico e comunicou-se
ao pessoal médico do serviço o
resultado do mesmo,
para a tomada de decisões e a
monitorização contínua do
doente, até à sua saída do hospital. Para a imputabilidade das
RAM utilizou-se o algoritmo de
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 21
Outubro/Dezembro 2015
Karch e Lasagna, adotado pelos
países-membros do programa de
farmacovigilância da OMS.
A informação foi processada
de forma computadorizada. Como medidas de resumo, utilizaram-se, para as variáveis qualitativas, a percentagem e a razão. Para uma melhor compreensão, a
informação foi apresentada na
forma de tabelas e gráficos.
Na investigação tiveram-se em
conta os princípios básicos da éti-
ca médica, fazendo-se uso da beneficência na manipulação e na
divulgação dos dados.
Resultados
Realizou-se uma monitorização intensiva de 206 doentes; destes, 21 apresentaram RAM, com
uma taxa de incidência de 10,2
por cento. Dos 21 doentes com
RAM, seis apresentaram duas ou
mais RAM. A média do evento adverso foi de 1,4 RAM por doente.
Todas as RAM encontradas na investigação correspondem às descritas no formulário de medicamento do país. No serviço de medicina, a incidência foi de 11,7 por
cento, com 16 doentes afetados,
e nos serviços de ortopedia foi de
7,2 por cento, com cinco doentes
(Tabela 1).
Pode-se verificar que o grupo
de 30-39 anos foi o de maior incidência, com 10 doentes, que representam 4,9 por cento do total,
enquanto o grupo de <20 anos,
com quatro doentes reportados
(1,9 por cento), é o de menor número de casos. Analisando o sexo
como fator de predisposição de
ocorrência de RAM, observou-se
um predomínio do sexo feminino,
com uma incidência de 7,8 por
cento (Tabela 1).
As manifestações clínicas
mais frequentes foram o rash cutâneo (17,2 por cento), a cefaleia,
o prurido e as náuseas e vómitos,
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Investigação
com 13,8 por cento de aparição,
seguidas da reacção de hipersensibilidade com 10,3 por cento
(Gráfico 1).
Ao observar a distribuição de
doentes com RAM por grupos
farmacológicos no Gráfico 2, verificamos que os antimaláricos
são os membros do subgrupo de
medicamentos de mais casos reportados, com 11 doentes, o que
equivale à 52,4 por cento. Seguelhe em ordem descendente o grupo das cefalosporinas, com cinco
RAM (23,8 por cento). Em ordem
de frequência, o quinino foi o medicamento que mais RAM produziu, com quatro doentes afetados
(19,0 por cento), seguido do artemether e a ceftriaxona, com três
doentes cada um (14,3 por cento)
(Gráfico 3).
No Gráfico 4 pode observar-se
que existe um predomínio das
manifestações da pele, com 12
observações (41,4 por cento), acima das seis reportadas no sistema gastrointestinal e das cinco
do sistema nervoso central e periférico (20,7 e 17,2 por cento, respectivamente). Como se pode verificar no Gráfico 5, as reacções
adversas de severidade moderada, com 52,4 por cento do total,
foram as predominantes. É de assinalar que, no período estudado,
não ocorreram reacções adversas com desenlaces fatais. Ao
analisar a relação de medicamentos suspeitos de RAM (Gráfico 6) podemos ver que a reac-
ção adversa provável, com 12
suspeitas (57,1 por cento), prevaleceu devido ao facto de que na
maioria dos casos não houve readministração do fármaco que
causou a reacção, nem quantificação em fluidos biológicos do
mesmo.
Discussão
O comportamento do surgimento de reacções adversas no
hospital resulta similar ao reportado pela literatura internacional, que assinala cifras entre 0,9 e
35 por cento para o meio hospitalar. Numa meta-análise realizada em França, na qual se incluíam 69 estudos com dados
avaliáveis de 412 mil doentes,
chegou-se a uma proporção global de 4,9 por cento. Outros estudos realizados mostram resulta-
Conclusões
A aparição de RAM nos
serviços de medicina e ortopedia é considerável. Os antimicrobianos que contribuíram com a maior percentagem de RAM foram os
antimaláricos. O sistema de
órgãos mais afetado foi a pele
e as RAM moderadas apresentaram-se com maior frequência, com um predomínio das avaliadas como
prováveis.
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dos entre 3,6 e 25 por cento.9,12,15,16.
A distribuição das suspeitas de
reacções adversas no estudo
coincide com as dez primeiras
causas de suspeitas de RAM mais
reportadas no mundo. Segundo
dados da OMS de 2013, as reacções adversas mais frequentes
foram o rash, os vómitos, a cefaleia, a febre, os enjoos, a dispneia,
a tosse e as náuseas, coincidindo
em grande parte com o observado nas salas17, 14. Diversos autores
mostram que a idade altera a farmacocinética e as propriedades
dos fármacos.
Os idosos, de forma particular, são mais susceptíveis do que
o adulto jovem, por alteração na
absorção, distribuição, função
renal diminuída e capacidade
metabolizante diminuída. Estudos realizados em Inglaterra, ao
examinar a relação da idade com
a suspeita de RAM, referem percentagens em maiores de 60
anos de até 50 por cento16,18.
Diversos estudos internacionais atribuem às mulheres uma
maior probabilidade de sofrer
RAM, o que se deve a uma maior
tendência à exposição a fármacos, a uma menor massa corporal e, além disso, a apresentar diferenças hormonais em relação
aos homens19,22. Estudos internacionais referem que os antimicrobianos são responsáveis por
cerca de 30 por cento de todas as
RAM. Uma meta-análise de 22
estudos concluiu que os antimi-
crobianos e os analgésicos, os antipiréticos e os anti-inflamatórios aparecem citados em 15 estudos como os de maior contribuição para as RAM15,27. Estudos
internacionais reportam também que preponderaram as
RAM na pele, no sistema gastrointestinal e no sistema nervoso central e periférico19,20.
No estudo realizado, a severidade esteve em relação com os
serviços vigiados no meio hospitalar, as características fisiopatológicas dos doentes que deram
entrada nestes serviços, as características físico-químicas dos
medicamentos e as suas apresentações farmacêuticas, os esquemas terapêuticos utilizados
em relação à via de administração dos fármacos, a dose e os intervalos de administração, além
da associação de outros fármacos, o que pode produzir, para alguns autores, uma ampla gama
de reacções adversas21,24.
As RAM prováveis foram as
que preponderaram, já que na
maioria dos casos não houve readministração do fármaco que
causou a reacção, nem quantificação em fluidos biológicos do
mesmo. Em segundo lugar estiveram as RAM possíveis. No relatório de 2013 da Unidade de Farmacovigilância em Cuba prevaleceram também as RAM
prováveis, mas em 76,9 por cento, seguidas das RAM possíveis,
com 16,5 por cento18.
umc.org/graphisc/6906.pdf.
12.Aranaz JM, Aíbar C, Gea MT, León MT. Los efectos adversos en la atención hospitalaria. Una revisión crítica. Med Clin Barc. 2008;123:21-5.
13.Lazarou J, Pomerans BH. Incidence of adverse drug reaction in hospitalised patients. A meta-analysis
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reporting system for adverse drug reactions. J Clin Epidemiol. 2006;55:945-55.
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potential drug events. Implications for prevention. JAMA. 1995;274:29-34.
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drug reactions in elderly patients presenting to the emergency department. Ann Emerg Med.
2001;38:666-71.
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 23
Outubro/Dezembro 2015
Formação
Hipertensão Arterial – uma
realidade cada vez mais
presente em Angola
Nádia Noronha
Farmacêutica e Consultora Farmacêutica
da Tecnosaúde Angola
A hipertensão arterial é uma doença
cardiovascular que
constitui hoje um
problema de saúde
que afecta grande
porção da população mundial, provocando complicações em diferentes
sistemas do organismo e até a morte em
casos mais graves. A
esta problemática
soma-se o custo
económico para a
família e para o país,
onde Angola não é
excepção.
Nos últimos anos, as doenças infecciosas e não infecciosas, bem
como os acidentes de viação,
têm provocado um forte impacto do ponto de vista epidemiológico, económico e social em África, devido ao seu aumento significativo. É verdade que o
controlo das doenças infecciosas
ou transmissíveis constitui um
enorme desafio aos profissionais
de saúde competentes, todavia
as doenças cardiovasculares e as
suas complicações já constituem
nos dias que correm uma epidemia muito expressiva.
Esta é uma problemática que
requer atenção, dado que as
doenças cardiovasculares, consideradas enfermidades não
transmissíveis ou não infecciosas, são responsáveis pelo elevado número de mortes em inúmeros países, expondo um elevado
custo médico-social. Presentemente, a hipertensão arterial é
uma destas patologias, sendo
responsável por uma série de
complicações que podem ou não
comprometer órgãos deveras
importantes tais como o cérebro, o coração e rins, conhecidos
como órgãos alvo.
Assim, a hipertensão arterial
considera-se uma doença crónica determinada por elevados níveis de pressão sanguínea nas artérias, o que faz com que o coração tenha que exercer um
esforço maior do que o normal
para fazer circular o sangue através dos vasos sanguíneos.
A pressão arterial é a pressão
que o sangue exerce sobre a superfície interna das artérias do
organismo, quando nele circula
em consequência da acção de
bombeamento que o coração
efectua por pulsação. Por conseguinte, por cada vez que o coração se contrai (sístole), o sangue
é expelido através da artéria aorta, pelo que a pressão máxima
atingida durante a expulsão do
sangue é denominada pressão
sistólica (pressão máxima). Seguidamente, a pressão no interior das artérias vai diminuindo
à medida que o coração relaxa. A
pressão mais baixa atingida é designada por pressão diastólica
(pressão mínima).
Aquando da elevação da pressão arterial a níveis iguais ou superiores a 140 mmHg de pressão
sistólica e/ou 90 mmHg de diastólica — em pelo menos três medições subsequentes — obtidas
em dias diferentes, ou em condições de repouso e ambiente tranquilo, considera-se um síndrome
clínico de hipertensão arterial.
“Em Angola encontramse hoje disponíveis várias classes terapêuticas,
nomeadamente os diuréticos (ex. Hidroclorotiazida, Furosemida, Indapamida), os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ex.
Captopril, Lisinopril), os
antagonistas dos receptores de angiotensina
(ex. Candesartan, Irbesartan), os bloqueadores dos canais de cálcio
(ex. Diltiazem, Amlodipina, Nifedipina) e os βbloqueadores (ex. Atenolol, Propanolol)”
Causas e sintomas
A hipertensão arterial pode
ser classificada em hipertensão
primária ou secundária mediante a sua etiologia. A hipertensão
primária é devida a uma combinação de factores hereditários,
ambientais e de erros no estilo de
vida, tais como o excesso de consumo de sal, excesso de álcool,
excesso de peso corporal, sedentarismo e tabaco. Por outro lado,
a hipertensão secundária advém
de uma causa identificável, como por exemplo:
•Doenças renais – sobretudo
doenças do parênquima renal;
•Doenças endócrinas – hiperaldosteronismo primário, o feocromocitoma ou mesmo a síndrome de Cushing;
•Doenças iatrogénicas – resultante da toma de corticosteroides, álcool, anfetaminas, estrogénios, contraceptivos orais, ciclosporina, eritropoetina, AINEs,
inibidores COX-2 e venlafaxina.
A hipertensão arterial evolui
sem sintomas, isto é, os danos
vão-se instalando de forma silenciosa em órgãos como o coração,
os rins, os olhos, os pulmões e o
cérebro, pelo que é frequentemente responsável pela ocorrência de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC’s), cardiopatia isquémica, incluindo angina de
peito, enfarte do miocárdio e
morte súbita, insuficiência cardíaca, aneurisma dissecante da
aorta, retinopatias e insuficiência renal.
Apesar da maioria dos utentes ser assintomática, eventualmente podem surgir alguns sintomas como dores de cabeça,
tonturas, zumbidos, distúrbios
na visão, desmaios e náuseas/vó-
24 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Formação
mitos, que estão associados a
longos períodos de tempo de
pressão arterial elevada.
Tratamento
Em relação ao tratamento,
normalmente a instituição de
medidas não farmacológicas
traz só por si enormes benefícios
ao doente, não só em termos de
descida da pressão arterial, como também pela correcção de
outros factores de risco cardiovascular, como a obesidade, hiperlipidémia, diabetes, tabagismo, sedentarismo, erros alimentares, alcoolismo, etc.
Deste modo, a alteração de
certos estilos de vida é uma regra
de ouro para prevenir e controlar
a hipertensão, pelo que se sugere
o seguinte:
• Reduzir a ingestão de sal, bebi-
das alcoólicas e cafeína;
• Praticar exercício físico de forma regular;
• Baixar o peso até atingir o peso
ideal;
• Não fumar;
• Alimentação rica em fruta e vegetais e pobre em gorduras.
Relativamente ao tratamento
farmacológico, actualmente, a
maioria das Guidelines recomenda a instituição de regime
terapêutico para valores de
140/90 mmHg em hipertensos
de risco baixo a moderado e para
130/80 mmHg em hipertensos
de alto risco (com diabetes,
doença cerebrovascular, cardiovascular ou renal).
Em Angola encontram-se hoje disponíveis várias classes terapêuticas, nomeadamente os Diuréticos (ex. Hidroclorotiazida, Fu-
rosemida, Indapamida), os Inibidores da Enzima de Conversão
da Angiotensina (ex. Captopril,
Lisinopril), os Antagonistas dos
Receptores de Angiotensina (ex.
Candesartan, Irbesartan), os Bloqueadores dos Canais de Cálcio
(ex. Diltiazem,Amlodipina, Nifedipina) e os β-Bloqueadores (ex.
Atenolol, Propanolol).
Para o controlo da pressão arterial é fundamental realizar
uma monitorização da mesma,
de forma a prevenir e atrasar as
complicações associadas à hipertensão arterial, bem como
para determinar se a terapêutica
está ou não a ser efectiva.
O papel do farmacêutico
Assim, o profissional de farmácia assume um papel preponderante nesta problemática de
saúde, pois deve estar habilitado
não só à dispensa do receituário,
como à realização das medições,
permitindo ao utente acessibilidade, rapidez, fiabilidade e aconselhamento profissional. Por outro lado, a realização de medições de pressão arterial nas
farmácias permite uma diferenciação na qualidade do serviço,
maior proximidade com a população e uma fonte de rendimento
(directa ou indirecta).
Formação
A pensar nos profissionais de
farmácia de Angola, a Tecnosaúde apresenta um leque de formações dirigido à capacitação nesta área de intervenção como, por
exemplo, formação específica na
área da hipertensão arterial e
serviços farmacêuticos.
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 25
Outubro/Dezembro 2015
Política Nacional Farmacêutica
As bases gerais da política
nacional farmacêutica
A política nacional farmacêutica é a ex-
Uso Racional
de Medicamentos
pressão do compromisso e do engaja-
(CAPITULO VII)
mento do Executivo em matéria de assis-
Uso racional de medicamentos
tência farmacêutica em todo o território
O Ministério da Saúde deve criar e desenvolver
um quadro favorável e promotor do uso racional de medicamentos, tanto ao nível nacional,
como aos diversos escalões de prestação de cuidados assistenciais.
nacional. Visa garantir o abastecimento do
país com medicamentos seguros, eficazes
e de qualidade, bem como assegurar a
permanente disponibilidade e acessibili-
(ARTIGO 25º)
Formação de quadros
(ARTIGO 26º)
seu uso racional.
A política de recursos humanos deve assegurar
que os técnicos envolvidos nas actividades
de diagnóstico, prescrição e dispensa de fármacos a todos os níveis recebam conhecimentos teóricopráticos adequados que os habilitem a um exercício profissional eficiente.
As bases gerais da política nacional farma-
Informação Farmacêutica
dade de medicamentos a toda a população, aos melhores preços, promovendo o
cêutica foram definidas pelo Decreto presidencial n.º 180/10, de 18 de Agosto. Pela
sua magna importância, a Revista OFA entendeu publicá-lo na íntegra para que,
quer os farmacêuticos, quer os estudantes
de ciências farmacêuticas, quer outros
profissionais de saúde interessados, tenham aqui o acesso facilitado ao documento que baliza e orienta toda a actividade farmacêutica em Angola.
Terminamos nesta edição a reprodução
do diploma que, dada a sua extensão, havíamos iniciado no número 5 da revista.
(ARTIGO 27º)
1. O Centro Nacional de Informação Farmacêutica tem como objectivo garantir aos trabalhadores do sector da saúde e ao público
em geral o acesso à informação prática e imparcial sobre o correcto manuseamento e uso
racional dos medicamentos.
2. Um sistema de monitorização das reacções
adversas aos medicamentos deve ser implantado com vista a definir o perfil de segurança
dos medicamentos comercializados no País
e preservar a saúde da população.
3. A informação adequada e suficiente ao utilizador final de cada medicamento, através
da obrigatoriedade de todos os produtos adquiridos deve fazerse acompanhar do prospecto correspondente em língua portuguesa,
contendo dados, em linguagem comum, relativos ao medicamento, sendo da competência
do centro nacional de informação farmacêutica esclarecer as dúvidas relativas a esta área,
originárias dos profissionais de saúde, dos
meios de comunicação e do público em geral.
O conteúdo e formato deste prospecto, bem
como os dados obrigatoriamente constantes
do acondicionamento do medicamento, são
objecto de regulamentação própria, sendo o
seu texto aprovado para cada medicamento
aquando do seu registo.
4. Uma análise de todos os documentos e informação utilizada na promoção e publicidade relativa a produtos farmacêuticos deve ser
feita respeitando a legislação em vigor, competindo a sua verificação à Autoridade Reguladora do Sector Farmacêutico.
5. A divulgação e informação dos produtos
farmacêuticos junto dos profissionais de saúde deve ser garantida com vista a controlar as
acções de promoção e publicidade, feita em
publicações especializadas, ou em suporte
próprio, destinandose estas exclusivamente
aos profissionais de saúde, utilizando obrigatoriamente como suporte técnico o resumo
das características do medicamento aprovado.
6. O Ministério da Saúde deve promover o respeito pela legislação em vigor e os critérios éticos definidos pela Organização Mundial da
Saúde que sejam aplicáveis ou adaptáveis ao
contexto nacional, em todas as acções de
promoção e publicidade de produtos farmacêuticos.
7. Programas de informação e educação da
população devem ser realizadas, utilizando
meios de comunicação e técnicas apropriadas,
com o objectivo de tomar a automedicação
consciente e responsável e promover o uso adequado dos medicarncntos.
Prescrição e dispensa
de medicamentos (ARTIGO 28º)
Para garantir o uso racional de medicamentos o Ministério da Saúde deve promover:
a) A utilização da designação comum internacional (nome genérico) na prescrição
de medicamentos a todos os níveis da cadeia de assistência sanitária;
b) A substituição de medicamentos sob
nome comercial por equivalentes genéricos mais baratos, nos estabelecimentos
farmacêuticos, com os pertinentes esclarecimentos e consentimento do consumidor;
c) A avaliação contínua com o recurso a indicadores, a supervisão do trabalho a todos
os níveis assistenciais e a realização de acções formativas, as quais constituem ins-
26 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Política Nacional Farmacêutica
trumentos chave na promoção do uso racional de medicamentos, os quais devem
tornar-se práticas de rotina:
d)Um quadro favorável ao uso racional de
medica mentos, tanto ao nível nacional, como nos diversos escalões de prestação de
cuidados assistenciais, através da criação e
da aplicação ou do funcionamento de alguns instrumentos fundamentais
como:
i. Formulário nacional de medicamentos, que deve ser regularmente revisto
e actualizado em intervalos não superiores a cinco anos;
ii. Formulários hospitalares;
iii. Normas orientadoras e manuais de
diagnóstico e tratamento das doenças
correntes;
iv. Comissões de farmacoterapia;
v. Indicadores de avaliação do uso racional de medicamentos;
vi. Auditorias regulares ao trabalho assistencial a todos os níveis,
e) A formação adequada e progressiva em
prescrição de medicamentos para técnicos
a nível dos cuidados primários de saúde,
nomeadamente nos centros e postos de
saúde, com vista a qualificá-los como prescritores.
Estratégias Económicas
para a Disponibilidade
e Acessibilidade de
Medicamentos (CAPÍTULO VIII)
Financiamento
de medicamentos (ARTIGO 29º)
1. O Orçamento do Estado para a compra de
medicamentos deve ter por referência a estimativa das necessidades feitas, tão acuradamente
quanto possível, e também o valor «per capita»
determinado em função de indicadores internacionais recomendáveis para os países com
níveis de desenvolvimento e condições comparáveis ao nosso.
2. A adopção de procedimentos de compra
transparentes e racionais, bem como a melhoria da gestão e uso dos medicamentos constituem os alicerces de uma estratégia conducente
a optimizar o uso dos recursos e a capitalizar
a credibilidade do Ministério da Saúde, com
repercussões muito positivas no financiamento
dos medicamentos.
3. O Ministério da Saúde trabalha em estreita
colaboração com outros sectores do Executivo,
nomeadamente os Ministérios do Planeamento, das Finanças (incluindo as Alfândegas) e do
Comércio de forma a darse prioridade e respeito
pelo cumprimento dos prazos legais aos processos de aquisição e importação de produtos farmacêuticos para o País, evitandose roturas de
estoque que comportariam a eventualidade do
recurso a compras de emergência.
4. A adopção de qualquer mecanismo de financiamento é precedida de uma préavaliação sob os
pontos de vista de equidade, eficiência, operacionalidade, impacto, sustentabilidade, exequibilidade e viabilidade.
5. Deve ser assegurado que uma
parte dos fundos resultantes do financiamento directo das unidades sanitárias
pela população seja directamente gerida por
estas.
6. As verbas referidas no ponto precedente são
complementares ao orçamento que o Estado
deve disponibilizar para estas unidades.
7. O Ministério da Saúde toma as disposições
necessárias, incluindo as definições de mecanismos legais, para garantir que todas as entidades envolvidas na compra e/ou no abastecimento de medicamentos em Angola forneçam
com regularidade e actualidade necessárias os
dados considerados pertinentes.
Regulação dos preços
dos medicamentos (ARTIGO 30º)
1. A legislação sobre a regulação dos preços dos
medicamentos deve ser periodicamente revista, atualizada e integralmente aplicada,
competindo aos inspectores farmacêuticos velar pelo seu cabal cumprimento
2. É exigida total transparência na definição dos
preços dos medicamentos nas unidades de produção e comércio de medicamentos, bem como nas que prestam serviços de assistência
farmacêutica, quer sejam estatais, mistas ou
privadas.
3. Uma comissão de regulação de preços para
os produtos farmacêuticos é constituída, integrando representantes dos seguintes órgãos e
instituições:
a) Ministério das Finanças;
b) Ministério do Comércio;
c) Ministério da Economia;
d) Ministério da Geologia e Minas e
da Indústria;
e) Autoridade Reguladora do Sector
Farmacêutico:
f) Comissão Nacional de Compras;
g) Representante dos Importadores;
h) Órgão de Defesa dos Consumidores;
i) Representante das Farmácias Privadas;
j) Representante da Indústria
Farmacêutica.
4. A Comissão de Regulação de Preços tem como objectivo propor a criação/alteração da legislação relativa à fixação dos preços dos produtos farmacêuticos, nomeadamente no estabelecimento das regras e fórmulas a aplicar para
o cálculo dos preços a serem praticados e na
atualização dos mesmos relativamente a produtos farmacêuticos já comercializados.
Formação
e Desenvolvimento
dos Recursos
Humanos (CAPITULO IX)
Formação e desenvolvimento
dos recursos humanos (ARTIGO 31º)
1. A formação permanente e contínua a todos
os níveis e nas mais diversas áreas das ciências
de saúde permite garantir profissionais, técnica
e cientificamente preparados para a implementação da Política Nacional Farmacêutica, permitindo promover o conceito de medicamentos
essenciais e de uso racional dos medicamentos.
2. O Ministério da Saúde deve implementar um
plano de desenvolvimento de recursos huma-
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 27
Outubro/Dezembro 2015
Medicamentos
Tradicionais
(CAPÍTULO X)
Medicamentos
tradicionais
(ARTIGO 32º)
l. A Política Nacional Farmacêutica promove a integração e a utilização dos medicamentos tradicionais
que se revelem seguros, eficazes e com
qualidade.
2. Para que a regulamentação dos remédios tradicionais possa ser realizada, a Autoridade Reguladora do Sector Farmacêutico deve ser dotada de recursos financeiros, materiais e humanos suficientes e apropriados para a
prossecução deste objectivo.
3. Progressivamente é feito um levantamento e
enquadramento da lista de medicamentos tradicionais em uso, e desta forma promover a elaboração de uma farmacopeia angolana de remédios tradicionais.
4. A cooperação com outros países que usam
idênticos medicamentos tradicionais deve ser
incentivada e apoiada para uma troca mútua de
experiências.
5. As boas práticas de dispensa de medicamentos, com as devidas adaptações, devem ser observadas pelas ervanárias.
6. Com vista a preservar o meio ambiente, a produção de produtos fitoterapêuticos não deve
constituir-se como factor de destruição da riqueza vegetal do País, mas antes como incentivo à sua preservação e racional exploração.
Controlo da
Implementação
da Política
Nacional Farmacêutica
(CAPÍTULO XII)
Supervisão, monitorização e avaliação da Política Nacional Farmacêutica (ARTIGO 34º)
1. A supervisão e monitorização da implementação da Política Nacional Farmacêutica é um
trabalho contínuo, em que todos os protagonistas que intervêm no domínio farmacêutico têm
um papel a desempenhar.
2. A Comissão Nacional de Monitorização e
Avaliação da Política Nacional Farmacêutica
supervisiona todas as actividades de implementação da Política Nacional Farmacêutica.
3.Ao nível provincial, a actividade da Comissão
Nacional de Monitorização e Avaliação da Política Nacional Farmaceutica é representada pelas Comissões Provinciais de Implementação
da Política Nacional Farmacêutica.
Instrumentos de supervisão
(ARTIGO 35º)
A Comissão Nacional de Monitorização e Avaliação da Política Nacional Farmacêutica funciona com os termos de referência determinados pela Comissão Técnica Nacional de Medicamentos.
Disposições Finais
e Transitórias (CAPÍTULO XIII)
Implementação (ARTIGO 36º)
Investigação Científica
(CAPÍTULO XI)
Desenvolvimento da investigação
no sector farmacêutico (ARTIGO 33º)
nos qualificados de forma a cobrir paulatinamente as necessidades das áreaschave para a
execução da Política Nacional Farmacêutica.
3. Para garantir a formação dos recursos humanos o Executivo deve aproveitar as capacidades
nacionais e estrangeiras disponíveis, utilizando todas as oportunidades oferecidas pelas
agências de cooperação e demais instituições
internacionais.
4. O Ministério da Saúde deve fazer uma gestão
racional dos recursos técnicos disponíveis da área
de farmácia, e em particular dos farmacêuticos.
5. Nos programas de formação dos profissionais
de saúde é activamente promovida a integração dos conceitos de
medicamentos essenciais e de uso racional
dos medicamentos nas diferentes disciplinas
leccionadas.
1. O Ministério da Saúde deve estimular as actividades científicas do sector farmacêutico. As
actividades de investigação devem privilegiar:
a) O impacto da Política Nacional Farmacêutica e os seus principais componentes;
b) Os comportamentos de prescrição e dispensa aos diferentes níveis do sistema sanitário;
c) Os conhecimentos, atitudes e práticas, relacionados com o uso dos medicamentos pela população;
d) Os aspectos económicos do abastecimento e utilização dos medicamentos;
e) A utilidade de novos medicamentos no
contexto nacional;
f) Os produtos naturais de origem animal,
vegetal e mineral eficazes e seguros, e sua utilização para as doenças mais frequentes no
país.
O Ministério da Saúde e os demais órgãos da
administração do Estado devem garantir a sua
implementação com vista à melhoria da assistência farmacêutica no país.
Dúvidas e omissões (ARTIGO 37º)
As dúvidas e omissões suscitadas da aplicação
e interpretação do presente Decreto Presidencial são resolvidas pelo Presidente da República.
Entrada cm vigor (ARTIGO 38º)
O presente Decreto Presidencial entra em vigor
na data da sua publicação.
Apreciado em Conselho de Ministros, em Luanda, aos 30 de Junho de 2010.
Publiquese
Luanda, aos 13 de Agosto de 2010.
O Presidente da República,
José Eduardo dos Santos
2 | Revista
28
| Revistada
daOrdem
Ordemdos
dosFarmacêuticos
Farmacêuticosde
deAngola
Angola
Outubro/Dezembro
Janeiro/Março 2015
2014
Editorial
Espaço
regulamentar
A carreira de farmácia
no Serviço Nacional de Saúde
O Decreto que aprovou o regime e a estruturação da
carreira de farmácia no Serviço Nacional de Saúde constitui um documento que convém conhecer bem e ter
sempre à mão. Em particular, para os jovens que saem
agora das faculdades e institutos. Por esta razão, iniciamos neste número a sua reprodução integral. O enquadramento profissional, as competências do farmacêutico, o seu ingresso na carreira, as categorias de farmacêutico e de técnico médio de farmácia, concursos, as
modalidades de regime de trabalho, e o que está previsto para a sua formação e aperfeiçoamento profissional,
são alguns dos aspectos que o diploma contempla.
CONSELHO DE MINISTROS
Decreto nº 28/97 de 10 de Abril
A medida legislativa ao institucionalizar a carreira de técnico de farmácia é ditada pela necessidade
de reconverter o sistema de carreira do Serviço Nacional de Saúde,
de adoptar um modelo mais dinâmico e de adequar a uma forma
de perspectivar e conceber a organização e funcionamento dos estabelecimentos de saúde.
Considera-se, por outro lado,
que a nível de formação profissional de especialização e as
áreas profissionais previstas na
legislação regulamentadora permitem que se salvaguarde, na
justa medida, a indispensável especialidade que reveste o trabalho desenvolvido no campo da
farmácia.
Nos termos das disposições
conjugadas da alínea h) do artigo
110º e do artigo 113º, ambos da
Lei Constitucional, o Governo
decreta o seguinte:
CAPÍTULO I
Objecto e Âmbito de Aplicação
Artigo 1º
(Objecto)
O presente decreto aprova o regime e estruturação de carreira
de farmácia do Serviço Nacional
de Saúde.
Artigo 2º
(Âmbito de Aplicação)
1. Ficam inscritos na carreira de
farmácia os profissionais actualmente providos em lugares correspondentes às áreas profissionais previstos no presente decreto.
2. As disposições do presente decreto e seus anexos podem ser
tornados extensivos aos profissionais que em idênticas circunstâncias exerçam cargos do
mesmo conteúdo funcional noutros departamentos governamentais mediante decreto ministerial.
CAPITULO II
Regime de Carreira
de Farmácia
Artigo 3º
(Natureza da carreira)
1.A carreira de pessoal de farmácia pode ser exercida, tanto em
estabelecimentos e serviços dependentes do Ministério da Saúde, como em outros organismos
do Estado e privados.
2. A carreira de farmácia integra
funções de natureza técnica,
científica e administrativa.
Artigo 4º
(Estruturação da carreira)
1. São reconhecidos os seguintes
grupos de pessoal da carreira de
farmácia:
a) Farmacêutico
b) Técnico médio de farmácia
c) Técnico auxiliar de farmácia
2. Os grupos de pessoal definidos no nº 1 constam em mapa no
anexo que é parte integrante do
presente diploma.
Artigo 5º
(Enquadramento
profissional)
1. É considerado farmacêutico,
todo aquele que ao longo dos
cinco anos de formação superior
ou universitária tenha absorvido
conhecimentos técnico-científicos no ramo e obtido o diploma
comprovativo da formação.
2. É considerado técnico médio
de farmácia, todo aquele que
concluiu o curso de formação
técnico-profissional do ensino
médio de farmácia e possui diploma comprovativo.
3. É considerado técnico auxiliar
de farmácia todo aquele que
concluiu o curso de formação
técnico-profissional do ensino
básico e possui o diploma comprovativo.
Artigo 6º
(Competências)
1. Ao farmacêutico compete:
a) Preparar, acondicionar,
conservar e gerir produtos
farmacêuticos, alopáticos e
homeopáticos naturais ou
químicos para uso humano e
veterinário, para fins profiláticos, diagnósticos, terapêuticos e cosméticos;
b) Manipular, conservar, gerir
outros produtos químicos para uso agrícola ou industrial,
matérias, equipamentos e
acessórios médico-cirúrgicos
de laboratórios e farmacêuticos, artigos de óptica, acústica e de prótese, de acordo
com as normas em vigor;
c) Orientar, controlar a conservação e gestão das substâncias venenosas (tóxicas,
estupefacientes e psicotrópicos) em conformidade com
as disposições legais e normas internacionais vigentes;
d) Proceder às análises físicas
e químicas, bacteriológicas,
toxicológicas, bromatológicas, farmacológicas e clínicas
em laboratórios apropriados;
e) Participar na elaboração e
actualização da legislação do
regulamento do exercício farmacêutico, na política nacional de saúde, inspecção, do-
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 29
Outubro/Dezembro 2015
cência e investigação;
f) Participar na política de
produção de matérias primas
de origem natural e sintética
para fins laboratoriais e medicamentosos.
2. Ao técnico médio de farmácia
compete:
a) Preparar, acondicionar,
conservar e gerir produtos
farmacêuticos para fins de
diagnósticos, preventivos,
correctivos e curativos;
b) Manipular, gerir produtos
dietéticos, higiénicos e cosméticos, materiais médico-cirúrgicos e laboratoriais;
c) Transmitir correctamente
a informação terapêutica;
d) Participar na formação do
técnico auxiliar de farmácia e
na docência do ensino médio
de farmácia;
3. Ao técnico auxiliar de farmácia compete:
a) Conservar, gerir produtos
farmacêuticos essenciais para fins diagnósticos, preventivos, correctivos, curativos, higiénicos, cosméticos, materiais médico-cirúrgicos e de
laboratórios básicos;
b)Executar preparações galénicas conforme formulários oficiais autorizados e acondicionar segundo normas em vigor;
c) Transmitir correctamente
a informação terapêutica.
Artigo 7º
(Ingresso e forma de acesso)
1. O ingresso em qualquer dos
grupos de pessoal de carreira de
farmácia efectua-se na categoria
mais baixa, observando os requisitos estabelecidos em matéria
de recrutamento e selecção, mediante concurso documental.
2. O acesso a cada grupo de pessoal, faz-se por progressão ou
promoção e depende da existência de vaga, da observância dos
períodos mínimos de permanência na categoria imediatamente inferior e obedece às demais disposições legais sobre o
concurso de acesso.
3. A promoção e progressão em
cada grupo de pessoal de carreira ficam sujeitas à atribuição de
classificação de serviço graduado em bom ou muito bom, durante o tempo de permanência
nas categorias imediatamente
inferiores.
4. A atribuição da classificação
de serviço graduado em muito
bom, durante quatro anos consecutivos determinará a redução
de um ano no tempo de permanência nas categorias inferiores.
Artigo 8º
(Categorias do farmacêutico)
O grupo de farmacêuticos integra a seguintes categorias:
a) Farmacêutico assessor principal
b) Farmacêutico primeiro assessor
c) Farmacêutico assessor
d) Farmacêutico principal
e) Farmacêutico de 1ª classe
f) Farmacêutico de 2ª classe
Estrutura da carreira a que se refere o Artigo 4º
Grupo de pessoal farmacêutico
Categorias
Farmacêutico
Farmacêutico assessor principal
Primeiro assessor
Assessor principal
de 1ª classe
de 2ª classe
Técnico médio (assistente)
de farmácia
Técnico especialista principal
Especialista principal
de 1ª classe
de 2ª classe
Técnico auxiliar de farmácia
Auxiliar de 1ª classe
de 2ª classe
de 3ª classe
Artigo 9º
(Recrutamento
para farmacêutico)
1.O recrutamento para as categorias de farmacêutico obedece às
seguintes regras:
a) Para a categoria de farmacêutico assessor principal: de
entre os farmacêuticos com
mais de 12 anos de licenciatura
e com um mínimo de 18 anos
de serviço efectivo na função
pública;
b) Para a categoria de farmacêutico primeiro assessor: de
entre os farmacêuticos que
possuam um mínimo de 9 anos
e um máximo de 12 anos de licenciatura e com um mínimo
de 15 anos de serviço efectivo
na função pública;
c) Para a categoria de farmacêutico assessor: de entre os
farmacêuticos que possuam
um mínimo de 6 anos de serviço e um máximo de 9 anos de licenciatura e com um mínimo
de 12 anos de serviço efectivo
na função pública;
d) Para a categoria de farmacêutico principal: de entre os
farmacêuticos que possuam
um mínimo de 4 anos e um máximo de 6 anos de licenciatura
e com um mínimo de 9 anos de
serviço efectivo na função pública;
e) Para a categoria de farmacêutico de 1ª classe: de entre os
farmacêuticos que possuam
um mínimo de 4 anos de licenciatura e com um máximo de 6
anos de serviço efectivo na função pública;
f) Para a categoria de farmacêutico de 2ª classe: de entre os
farmacêuticos habilitados com
o grau de licenciatura e com 3
anos de serviço efectivo na função pública.
2.Aos indivíduos que não possuam os requisitos para ingresso
na carreira é vedada a promoção.
Conclui na próxima edição
30 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola
Outubro/Dezembro 2015
Institucional
A história do logótipo da OFA
João Pedro Matos
Farmacêutico consultor
iD CONSULTING®
Foi desde o primeiro momento
que este projecto nos mereceu o
nosso maior cuidado e atenção,
tendo em conta a importância
de conciliar elementos e símbolos que distingam a Ordem dos
Farmacêuticos de Angola de outras ordens profissionais existentes em Angola e no mundo
(atendendo ao contexto de globalização em que vivemos actualmente); distinguisse a Ordem dos Farmacêuticos de Angola das outras Ordens dos Farmacêuticos e suas correspondentes a nível mundial; que permitisse, por via de símbolos e
elementos conjugados, conferir
características únicas que aliassem a história da profissão farmacêutica ao seu enquadramento no contexto actual em
matéria do papel do farmacêutico angolano e seu contributo
para a Saúde e suas prioridades
a nível nacional.
Com base nestas premissas,
partimos para a construção do
logótipo OFA: uma assinatura
institucional, a representação
gráfica de uma marca – a vossa
marca e da que todos devem orgulhar-se (a primeira Ordem dos
Farmacêuticos criada nos países africanos de língua oficial
portuguesa), respeitar e levar
convosco para o vosso contexto
laboral diário através da vossa
conduta e profissionalismo –
permitindo que a mesma seja
reconhecida entre todos e pelos
demais (profissionais de saúde,
outras classes profissionais,
população e pacientes), sinónimo e expoente máximo na
afirmação dos seus desígnios e
razões pelas quais a mesma
existe e foi proclamada em
2013: a casa do farmacêutico e
o órgão máximo que defende e
regula a profissão e o acto farmacêutico em Angola.
Explicativo global
do logótipo OFA
São componentes da assinatura principal do logótipo da
Ordem dos Farmacêuticos Angola a ilustração, o símbolo e o
lettering referentes a esta entidade e apresentados agregados de
uma forma imutável. Como tal,
devem ser utilizados como um
todo, independentemente da
aplicação ou dimensões impostas. A elaboração do logótipo
deu-se a partir da composição de
vários elementos caracterizantes da ideologia farmacêutica,
tais como a Serpente, a Taça da
Sabedoria e a Cicadófita. As cores
utilizadas tiveram em conta os
tons que definem a Saúde e as
Ciências Farmacêuticas enquanto profissão e ciência, assim como o recurso a cores que
elevam as características distintivas de Angola pela sua riqueza
em recursos e o facto de ter sido
a primeira Ordem dos Farmacêuticos criada nos países africanos de língua oficial portuguesa,
e de que é exemplo o dourado utilizado.
Relativamente aos elementos de lettering, a sua assinatura
todos eles destacam a Ordem
dos Farmacêuticos de Angola e
o ano da sua proclamação:
2013.
de proclamação da OFA (2013),
com a antiguidade da profissão
farmacêutica e sua história, conseguido através do seu serifado:
pequenos traços ou linhas a rematar as extremidades.
São componentes da
assinatura principal do
logótipo da Ordem dos
Farmacêuticos Angola a
ilustração, o símbolo e
o lettering referentes a
esta entidade e apresentados agregados de uma
forma imutável.
“À cor ouro estão associados conceitos como
riqueza, grandiosidade,
prestígio: ligados à
riqueza em recursos que
caracteriza Angola e que
pretende transpor-se
para o sector farmacêutico angolano e seus
profissionais, pela sua
ética profissional e conduta laboral diária”
Significado
detalhado de cada um
dos símbolos à luz
da história da farmácia
A. Forma
Forma oval acompanhada de
uma linha descontínua em torno
de todo o logótipo.
Significado
Pretende transmitir-se um carácter de universalidade pela forma
circular, aliada à linha descontínua, que denota a existência de
uma identidade e rumo próprios
OFA, mas ao mesmo tempo permeabilidade, abertura, interac-
ção e participação com o exterior
(Ordens profissionais nacionais
e internacionais, dos farmacêuticos e outras), tendo em conta o
contexto de globalização em que
vivemos e as prioridades actuais
e futuras do sector farmacêutico
angolano e seus profissionais.
B. Lettering | tipo
de letra
O tipo de letra utilizado, moderno e atual, conjuga o momento
Fazem parte dos elementos
comunicados:
1. “Ordem dos Farmacêuticos de
Angola” – “OFA”
2. “2013” – ano de proclamação
da OFA
A destacar o posicionamento
circular do texto a acompanhar a
forma global do logótipo, reforçando o objetivo da forma e o posicionamento de “2013”.
C. Cores
Fazem parte das cores do logótipo: ouro, roxo, verde e cinzento
Ouro
Conjugada com a identificação
de “Ordem dosFarmacêuticos de
Angola”, “OFA”, à qual estão associados conceitos como riqueza,
grandiosidade, prestígio: ligados
à riqueza em recursos que caracteriza Angola e que pretende
transpor-se para o sector farmacêutico angolano e seus
profissionais, pela sua ética
profissional e conduta laboral
diária.
Roxo
Cor muito ligada à magia, símbolo de purificação mental e material do corpo, sendo também a
cor que simboliza a transformação: transformação de matérias
primas em medicamentos.
Verde
Ligada à esperança, liberdade,
saúde e vitalidade. A destacar a
cor verde mais clara e aberta
(verde mais amarelo), adaptada
ao contexto africano e seus
profissionais: mais abertos, bem
dispostos e coloridos. Cores ligadas, respectivamente, às Ciên-
Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 31
Outubro/Dezembro 2015
cias Farmacêuticas enquanto
ciência e profissão.
Cinzento
Associada a neutralidade, significa compostura, solidez e estabilidade. Quando utilizada correctamente comunica também
elegância e sofisticação.
No logótipo, vem associada ao
lettering “Ordem dos Farmacêuticos de Angola”, “OFA” e à palmeira/cicadófita também presente em marca de água: o objectivo principal é o de reforçar a
imagem e posicionamento da
OFA com uma instituição de todos os profissionais farmacêuticos angolanos.
C. Símbolos
utilizados
Serpente
Destaque para a cor verde mais
aberta (verde mais amarelado), o
formato e cor do olho que lhe conferem um aspecto mais elegante e
sedutor, bem como a forma em
curvas e de diâmetro variável.
Taça | Cálice
Forma concêntrica com pé fino
afunilado no meio, contribuindo
para a elegância e sofisticação, assim como a base e topo largos,
transmitindo robustez e consistência, mas também abundância.
Cicadótica
De tronco mais grosso e folhas
mais espessas, contribui para o
reforço dos benefícios dos elementos anteriores, sendo também caracterizante da rica e vasta flora africana.
Fonte: Professor Doutor João Rui Pita |
Departamento de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra | Especialista em
História e Sociologia da Farmácia, com
diversas publicações e livros na área
As lendas…
Asclépio, figura mitológica da antiguidade grega, teria sido fulminado por um raio que foi lançado pelo deus Zeus.
O lançamento deste raio teve a ver com o facto de Asclépio ter
ressuscitado dos mortos através de plantas medicinais.
Depois da morte de Asclépio, a serpente que estava enrolada no
seu bastão e que simbolizava o poder sobre as doenças, foi adoptada pela sua filha Higia ou Higeia (deusa da higiene) que assim
passou a assumir a responsabilidade
sobre as doenças. A serpente enrolou- “…A serpente enrolouse ao cálice que simse ao cálice que simbolizava o poder
bolizava o poder sobre
sobre a doença e a sua cura.
Outra explicação refere que a serpente a doença e a sua cura…”
enrolou-se no bastão de Hipócrates.
Quando esta estava para mordê-lo e
envenená-lo, Hipócrates disse à serpente que ela não o podia envenenar porque ele tinha o antídoto
contra o seu veneno. Hipócrates,
pensando que a serpente teria
fome, pegou numa taça onde misturava as plantas medicinais,
colocando leite que a serpente bebeu.