Breve História dos Episcopais Reformados

Transcrição

Breve História dos Episcopais Reformados
BREVE
HISTÓRIA DOS
EPISCOPAIS
REFORMADOS
1
PREFÁCIO
Como tudo o que sabemos da história chega a nós por
meio de livros e testemunhos, esta presente livreto tem
seguido um estudo a partir da pesquisa, com muito
cuidado, os autores mais conceituados, considerando-os
confiáveis. O autor desconhecido desta obra foi um
presbítero da Igreja Episcopal Reformada dos USA, e a
tradução fui feita quinze anos atrás por vários irmãos
brasileiros. A todos eles estamos profundamente
agradecidos.
Este livreto tem em vista, neste livro, mais do que a mera
história. Tem sido o desejo conectá-la a Cristo, de modo
que o leitor possa receber a verdade por meio da graça. O
leitor deverá observar que o livro começa com o propósito
revelado pelo Senhor referente à Sua Igreja. Isto, é claro,
de uma forma muito geral, uma vez que o desejo é dar ao
leitor a visão mais ampla da história eclesiástica quanto
possível, de forma consistente com o plano geral e a
brevidade da própria obra.
Somente, cabe ressaltar ao leitor que me pareceu a bem
adicionar um breve capítulo para apresentar muito
brevemente a história da Igreja Livre da Inglaterra e, como
a mesma, chegou ao Brasil através da Igreja Anglicana
Reformada do Brasil.
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A história da família Episcopal Reformada, dos seus
inícios até hoje muita coisa mudou, mas aquela vontade de
servir e amar ao Senhor parece que não tem abandonado a
Igreja. O desejo ainda continua sendo apenas um grande
sonho. Um sonho? Mas afinal, não é disso que
precisamos?
Que as bênçãos do Senhor possam acompanhar o livreto
que agora é lançado.
Bispo Josep M. Rossello Ferrer
Comissário da Igreja Livre da Inglaterra para o Brasil
Pindamonhangaba, 9 de maio de 2016.
3
SOBRE O INÍCIO DA IGREJA
CRISTÃ
Dez dias depois de o Senhor Jesus ter subido ao céu —
aquele pequenino grupo de discípulos e crentes se
reuniram, para orar novamente no quarto superior em
Jerusalém e para aguardarem o Consolador Prometido.
Durante dez dias, eles haviam se reunido — dez longos
dias de completa comunhão e oração — e, no entanto,
parece que nada ia acontecer. Com toda certeza, podemos
garantir que por inúmeras vezes ao se ajoelharem em
oração, vinham-lhes à memória aquelas cenas do Calvário.
Eles haviam visto morrer em grande agonia Aquele em
quem tinham colocado toda sua esperança. Viram-nO ser
sepultado quando uma enorme pedra foi colocada na
entrada do túmulo. Certamente garanto que ainda podiam
ouvir os passos dos guardas romanos marchando naquela
vigília incansável enquanto guardavam próxima da
sepultura onde Jesus havia sido sepultado. Mas aquilo não
era o fim. Na manhã do terceiro dia, a sepultara ficou
VAZIA. As mulheres que foram verificar o túmulo foram
informadas de que "Ele não estava mais lá; havia
ressuscitado." Ele havia sido visto pelos discípulos, por
Maria Madalena, e por muitos outros. Ele vencera a morte.
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Quarenta dias depois, eles presenciam Sua ascensão à
direita do Pai em Glória, seu lugar de direito.
Agora eles teriam de esperar; esperar pelo Consolador
quem Jesus havia prometido que haveria de vir. Não seria
motivo para estarem desanimados? Claro que não, pois
eles criam nEle de todo coração. Tudo que Ele tinha
prometido, haveria de cumprir. De repente, surge um
barulho vindo do céu, como se fora um vento impetuoso, e
a casa onde estavam reunidos ficou tomada daquele fogo.
Cheios de espanto e expectativa, os discípulos olhavam e
ouviam. Línguas repartidas como se fossem de fogo
apareceram no meio deles, pousando sobre suas cabeça.
Era a chegado do Espírito Santo, tomando poderosamente
todos os que se encontravam ali esperando. Naquele
momento, cumpriu-se uma outra promessa, a do batismo
com o Espírito, pois não tinha João Batista profetizado que
"Ele te batizará com o Espírito Santo e com fogo?"
Os discípulos começaram a falar e descobriram que,
independentemente da pessoa com quem eles falavam,
sem se importar a nacionalidade ou língua da pessoa, suas
palavras podiam muito bem ser entendidas. Reuniu-se
então uma grande multidão para ouvir esses que podiam
falar a língua de todos os presentes em Jerusalém naquela
ocasião. Pedro então se coloca de pé e prega um grande
sermão, anunciando Cristo crucificado e ressuscitado
dentre os mor-tos para nossa justificação. Quase três mil
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pessoas foram salvas naquele dia e acrescentadas àquele
pequeno grupo; nascia assim a Igreja Cristã!
Essa Igreja principiante não buscou edificar grandes
templos ou catedrais; os crentes primitivos não se
preocupavam com corais profissionais, roupas suntuosas
ou janelas douradas. Reuniam-se nos lares, nos quintais,
nas cavernas ou debaixo das árvores sempre onde um
grupo de pessoas que amavam o Senhor Jesus pudesse se
encontrar ou manter comunhão. Cantavam, oravam e
ouviam a Palavra. A marca registrada deles era sua
devoção a Jesus, o amor que nutriam um pelo outro, a
pureza de vida que levavam, a ousadia que demonstravam
diante da perseguição à fidelidade em falar para as pessoas
sobre o Caminho, nome que o Cristianismo tinham no
início. O Apóstolo Felipe levou as Boas Novas para
África, enquanto o Missionário Paulo o trouxe até a
Europa. Onde quer que o Evangelho fosse levado, seguiase grande perseguição da parte dos judeus e dos gentios
pagãos. Porém, a despeito de tudo isso, a Igreja crescia em
número e em força, e era verdadeiramente a luz num
mundo cheio de trevas e pecado.
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A CORRUPÇÃO DA IGREJA
CRISTÃ
A Igreja sempre enfrentou desafios na sua história. As
próprias cartas do apóstolo Paulo nos lembram deste fato.
A Igreja é chamada a ser uma a geração eleita, o
sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para
anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 1:9). Infelizmente,
nem sempre tem sido assim. Existe um período da Igreja
que é conhecido como a Idade Média onde a Igreja
permitiu com o tempo muitas práticas, doutrinas e crenças
contrárias aos ensinos de Cristo e a vida da igreja
primitiva. Infelizmente, o formalismo e o tradicionalismo
foram aos poucos sendo incorporados na vida da Igreja.
Isto não aconteceu de um dia para outro. De fato, a
história da Igreja nos mostra que sempre enfrentou o povo
de Deus grandes desafios dentro e fora dela
No início do século quarto, Constantino, o Grande, tornouse o líder máximo do Império Romano. O monarca teria
visto num sonho ou visão, uma cruz em chamas no meio
do céu com as palavras inscritas nela, "Conquiste com este
símbolo." Em conseqüência desta experiência ele tornouse Cristão. A partir desta decisão as perseguições contra a
Igreja terminam.
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Nos séculos seguintes, a influencia do Estado sobre a seria
cada dia mais presente. A pompa e o luxo passam mais e
mais a fazer parte do Cristianismo.
No século décimo primeiro, a primeira divisão aconteceria
na Igreja de Cristo. A Igreja Católica de Oriente se dividiu,
se chamando a partir daquele tempo como a Igreja
Ortodoxa, e, por outro lado, a Igreja Ocidental passaria a
ser conhecida como a Igreja Católica Romana.
A partir daí, a Igreja Romana parece ter perdido de vista a
pureza da verdade da Igreja Primitiva. Construções
suntuosas, rituais, ostentação, a oferta da missa, que é em
si um sacrilégio. Isto porque durante o sacrifício da missa,
de acordo com a Igreja Católica, Cristo é sacrificado de
novo todas as vezes que ela é realizada. Isto está em
completo desacordo com o ensino bíblico que ensina que
Cristo foi oferecido como propiciação pelos nossos
pecados uma vez para sempre. Há também o ensino das
penitências através do qual a pessoa paga para ter os seus
pecados perdoados. Há o ensino sobre o purgatório,
contrário às escrituras. Conforme nos ensina o Apóstolo
Paulo, seu desejo ao morrer era estar "Ausente do corpo
para estar presente com o Senhor." Tudo foi arquitetado
para camuflar o ensino genuíno da Palavra de Deus. Em
conseqüência disto, a Bíblia jamais foi entregue ao povo.
O culto transformou-se num ritual de mistérios
centralizado no sacrifício da missa. Não era mais
necessário uma vida cristã autêntica, pois o perdão podia
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ser comprado com dinheiro. Isto ficou evidenciado na vida
até mesmo dos Papas cujas biografias estão repletas de
falcatruas e imoralidade.
Como resultado desta suposta regra cristã, o mundo
passou por aquele período conhecido na história como
Idade Média, mais pitorescamente conhecido de "A Idade
das Trevas."
Seria isto o fim daquela Igreja bíblica e pura, fundada no
dia de Pentecostes? Não, claro que não, pois aqui e ali,
através dos séculos, sempre existiram aqueles que
estudaram criteriosamente a Palavra de Deus e guardaram
esses ensinamentos em seus corações. Finalmente no
tempo certo de Deus, Ele chamou para Si soldados
corajosos da cruz a fim de anunciarem a verdade das
Escrituras Sagradas através do continente europeu.
Chegamos assim a Reforma.
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DEUS LEVANTA HOMENS
PARA RESTAURAR A
VERDADE
A Igreja Romana seguiu crescendo assustadoramente com
os Papas ganhando cada vez mais poder, sempre exigindo
mais e maiores penitências do povo. Uma vez que a Bíblia
era acessível somente na língua latina, e podendo ser lida
apenas pelos sacerdotes, as Escrituras Sagradas tornaramse um livro fechado para o cidadão comum.
Louvado seja Deus, pois em meio a tudo isso Ele levantou
homens piedosos entre os sacerdotes que de fato
estudavam a Bíblia, e começaram a questionar os métodos
e ensinamentos da Igreja. Lá pelo século XIV, apareceram
eruditos pelos países da Europa que começaram a
murmurar e a rejeitar os erros da Igreja e a imoralidade de
seus lideres, defendendo o retorno ao cristianismo
genuíno. Entre estes reformadores primitivos há um sobre
quem deveríamos voltar nossa atenção. Seu nome era John
Wycliffe. Ele nasceu na Inglaterra no ano de 1324. Foi
educado na Universidade de Oxford, sendo um aluno
exemplar. Logo após sua formatura, teve uma grande
oportunidade de mostrar um pouco das suas tendências
protestantes. O rei da Inglaterra não gostava lá muito da
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influência do Papa sobre a Inglaterra. Wycliffe protestou
com veemência contra o pagamento de tributo pelo
governo inglês ao Papa. Por causa da sua lealdade à
Coroa, o rei Eduardo III o recompensou, concedendo-lhe o
titulo de doutor e uma cadeira na Universidade de Oxford.
Posteriormente ele foi enviado a Holanda para encontrarse com os enviados do Papa a fim deliberarem sobre suas
diferenças. Este encontro acabou por acirrar seus ânimos
em oposição pública e aberta contra o Papa, a quem ele
chamou de "anti-Cristo." O Papa Gregório XI o condenou,
mas a corte inglesa o protegeu.
Sob a influência de Wycliffe, formaram-se sociedades
religiosas que começaram a formar pregadores do
Evangelho por toda a Inglaterra. A oposição foi ferrenha,
mesmo assim continuaram.
Agora Wycliffe estava pronto para iniciar seu trabalho
mais importante: a tradução da Vulgata (a Bíblia em latim)
para a língua inglesa. Essa Bíblia pode ser vista ainda hoje
exibida no Museu Britânico, e na sua capa pode-se ver que
ela pertenceu a Thomas, o filho mais novo de Eduardo III.
A este reformador primitivo, que viveu quase duzentos
anos antes da Reforma mas que é chamado por muitos de
o primeiro Protestante, a comunidade inglesa tem uma
profunda dívida, pois foi ele o responsável em colocar pela
primeira vez a Bíblia na língua inglesa.
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Claro que nos anos que se seguiram Bíblias foram
confiscadas, queimadas ou destruídas; entretanto, Deus
nunca permitiu que Elas fossem totalmente banidas, e sua
influência pôde ser sentida por toda a Europa.
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DEUS CHAMA UM LÍDER
PARA INICIAR A REFORMA
Lá pelo final do século XV, coincidindo com a invenção da
imprensa, surgiu um intenso interesse pelas letras. Muitos
dos estudiosos passaram a se interessar pela leitura das
Escrituras e sua tradução. Havia muita coisa escrita sobre
as mazelas dentro da Igreja de Roma. Todos estes fatores
contribuíram para pre-parar o caminho de uma reforma
religiosa que estava preste a irromper.
Além desse despertar na literatura e arte, Colombo, com o
auxílio da bússola, havia erguido o véu que escondia os
horizontes do Ocidente, descobrindo pro povo europeu um
outro hemisfério. Vasco da Gama contornou o Cabo da
Boa Esperança, abrindo assim uma nova rota para o
comércio das Companhias das Índias.
E assim chegamos a Reforma, e o herói dela foi Martinho
Lutero. Filho de mineiro, nasceu em Eisleben em 10 de
novembro de 1483. Sua família era pobre mas gozava de
respeito da comunidade. Recebeu treinamento em assuntos
religiosos. Enquanto ainda na faculdade, teve acesso a
uma cópia das Escrituras que mexeu tremendamente com
sua alma. Dois anos depois ele abandonou o estudo de
advocacia e entrou pro convento. Estudava arduamente
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porém a condição da salvação de sua alma o inquietava
profundamente. Através dos ensinamentos da Igreja,
Lutero descobriu Jesus como o Doador da Lei, aquele que
"no último dia vai pedir explicação de como resolvemos o
problema da expiação pela culpa e acerca das boas obras
que efetuamos enquanto aqui na terra." A despeito de toda
sua tentativa de efetuar boas obras, ele não achava paz pro
seu coração. Finalmente, movido pela sugestão de um de
seus superiores, começou a ler avidamente a Palavra de
Deus. Quando chegou em Romanos 1:16,17 - "Porque eu
não me envergonho do Evangelho de Cristo – pois ele é o
poder de Deus para salvação para todo aquele que crer;
primeiro ao judeu e depois também para os gregos. Por
esta razão ele é a justiça de Deus revelada de fé em fé,
como está escrito, 'O justo viverá pela fé". A luz brilhou
em seu coração e alma, "O justo viverá pela fé." Mas fé
em quem? Fé no Senhor Jesus Cristo! Cristo não se
apresentava como um austero Legislador, mas seu
Salvador, que o amava e havia se entregado por ele.
Justificação não estava presa às obras, mas era o produto
da graça de Deus. Romanos e Gálatas passaram a ser seus
livros prediletos e os lia assiduamente até que sua alma
encontrou paz verdadeira.
Nesta ocasião ele não encontrava qualquer coisa errada
com a Igreja. Entretanto um dia, em 1517, chegou nos
arredores da cidade de Wittenburgo um monge de nome
João Tetzel, vendendo indulgências para a Igreja de Roma.
A venda de indulgências tornou-se numa prática
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corriqueira. Através delas, as pessoas pagavam aos
sacerdotes uma certa quantia em dinheiro que seria usado
para apagar a penalidade de seus pecados. Os sacerdotes
descobriram nisso uma forma fácil para arrecadar fundos.
Tetzel estava tentando ajuntar dinheiro para a reconstrução
da Catedral de São Pedro. Ele dizia para pessoas que tão
logo a moeda soava no fundo do cesto, as almas de seus
entes queridos deixavam o purgatório, e iam direto pro
céu. Quando Lutero ouviu isto, ficou enfurecido. Pregou
um sermão contra essa prática em 31 de outubro de 1517,
pregando na porta da igreja da cidade aquilo que ficou
conhecido como suas 95 teses onde ele explicava a
diferença entre o verdadeiro arrependimento e a simples
penitência pelos pecados. Afirmava que o Papa podia
perdoar apenas as penalidades impostas pela sua própria
lei; mas Deus, e somente Ele, podia remover a culpa pelo
pecado. Cópias destas teses passaram imediatamente a
circular por toda a Alemanha, e os monges, sacerdotes e a
burguesia logo começaram a escolher de que lado teriam
de ficar. Ao ouvir isto, o Papa não acreditou muito e
pensou se tratar apenas de uma briga entre os monges, mas
à medida que a divisão ia se agigantando, agiu
imediatamente e exigiu que Lutero se apresentasse e se
retratasse daquelas teses. Mas Lutero se recusava a fazêlo, a menos que se provasse, com base nas Escrituras, que
ele estivesse errado. O Papa remeteu uma declaração de
que nada havia de errado nas indulgências, e enviou uma
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Bula de Condenação e Excomungou Lutero e seus
seguidores.
O imperador Carlos V não atendeu de imediato o pedido
do Papa mas deu a Lutero uma outra oportunidade para se
retratar. Lutero de novo se recusou. "A menos que me
convençam, pelo testemunho das Escrituras, pois não
confio nem no Papa nem em concílios, já que é sabido de
todos que eles sempre erraram e se contradisseram muitas
vezes, mantenho firme minha posição baseada na Palavra
de Deus, e minha consciência está comprometida pelas
Escrituras. Não posso, nem devo fazer nada, uma vez que
não seria seguro nem correto agir contra minha
consciência. Que Deus tenha misericórdia de mim,
amém." Ao deixar a corte, o guarda do Imperador
exclamou, "Fogueira para ele!" Lutero e seus amigos no
entanto ergueram suas mãos no estilo antigo germânico de
celebrar a vitória e disseram, "Pra mim, é o fim", bradaram
em voz de júbilo.
Em 4 de maio, ele foi levado a cavalo para Wartburgo
onde seus amigos o acolheram num castelo, temendo que
lhe acontecesse algum mal. Enquanto permanecia ali até
1522, Lutero produziu o que talvez tenha sido seu melhor
trabalho, a tradução do Novo Testamento e finalmente de
toda Bíblia para língua do cidadão comum do seu tempo.
À medida que desenvolvia seu trabalho, continuava
orando para que de alguma maneira os profetas e
apóstolos pudessem falar o idioma alemão. Suas orações
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foram respondidas já que sua tradução estava tão cheia de
vitalidade que o povo ficou ansioso para lê-la. Também
escreveu uma série de sermões para instruir o povo e
foram muitos os que receberam sua influência.
Escreveu também panfletos de grande valia, entre os quais
podemos destacar a Defesa da Vida Conjugal – destinado
ao clero. Em 1525, seguindo seu próprio conselho, casouse com Catarina von Bora que havia sido freira. Ela foi de
grande importância pro seu ministério proporcionando-lhe
um lar sereno e feliz. Tiveram três filhos e duas filhas, a
quem Lutero amava muito. Nunca deixava escapar uma
noite tranquila no lar com sua família. Muitos dos hinos
que seus filhos cantavam, que foram incluídos nos hinários
foram escritos e cantados pelos seus próprios filhos.
"Away in a Manger", por exemplo é um deles.
Durante os últimos dez anos de sua vida Lutero ficou com
sua saúde muito debilitada. Apesar de toda essa limitação,
continuou escrevendo e pregando – propagando os ideais
da Reforma. Seu maior presente para a realização da
Reforma foi sem dúvida nenhuma, a tradução da Bíblia
para o idioma alemão que atingiu 377 edições antes de sua
morte. Porém uma outra contribuição de extrema
relevância sua foi o hinário – o primeiros livros de
cânticos jamais utilizado em uma congregação. Também
seus livros ou comentários explicando porções da Bíblia
ainda são valiosos hoje. Quando chegou aos 63 anos de
idade, ele foi visitar outra vez sua terra natal, Eislebem.
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Ali ficou seriamente doente e morreu numa manhã
tranquila do dia 18 de Fevereiro. Sua última palavra foi
um enfático "SIM" quando perguntado se permanecia
ainda firme nas doutrinas que ensinava. Quatro dias depois
foi sepultado na igreja do Castelo de Wittenberg, no ano
de 1546, onde trabalhou ardorosamente pela causa de
Cristo.
O mundo protestante de todas as épocas tem para com
Lutero uma dívida tremenda de gratidão pelo zelo que esse
gigante da Reforma teve em atacar os erros da Igreja
Romana, e por ele ter lutado no sentido de levar as pessoas
de volta ao antigo caminho da Igreja Primitiva ao enfatizar
o fato de que a Bíblia é a única regra de fé e prática para o
cristão, tendo em vista seu ensino corajoso e desafiador
sobre a doutrina da justificação pela fé.
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A REFORMA É ACESA NA
INGLATERRA
Aproximadamente seis anos depois do nascimento de
Lutero, nascia na Inglaterra, na cidade de Aslockton, em
1489, um menino filho de Thomas e Anne Cranmer,
batizado com o nome do pai que estaria destinado a seguir
os passos de Lutero. Foi o segundo filho e foi educado de
forma cruel e muito rígida. Seu pai morreu quando ele
ainda era uma criança. Em 1501, aos 14 anos de idade, sua
mãe o enviou para Cambridge. Ali foi ordenado sacerdote
em 1523 e lecionou divindade na sua própria faculdade e
também na universidade.
Em agosto de 1529, uma terrível doença conhecida como
mal do suor varreu aquela parte do país. Cranmer tomou
dois de seus alunos, seus parentes, até a casa dos pais
deles em Essex tentando fugir da praga. O rei da
Inglaterra, Henrique VIII, estava de visita naquela cidade.
O rei possuía uma personalidade muito esquisita pois se
num dia estava de bem com os católicos, já no outro,
encorajava os Reformadores. Não tinha nenhuma
convicção, mas se mostrava simpático com o grupo que o
ajudava num determinado momento. E neste instante em
particular, ele buscava um favor especial. Desejava se
livrar de sua esposa, Catarina de Aragão, uma católica
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piedosa – que tinha sido a esposa de seu irmão Artur.
Henrique casara-se com ela e tiveram uma filha, Maria.
Porém agora ele havia se apaixonado por uma outra
mulher cujo nome era Ana Oleyn. Queria se divorciar de
Catarina mas abominava a idéia de ter que pedir ajuda pro
Papa. Parecia uma boa idéia que Thomas Cranmer e os
dois conselheiros do rei, que também eram sacerdotes, e se
encontravam de visita naquela região onde Cranmer era
um convidado, discutissem a possibilidade do divórcio.
Cranmer disse que se as autoridades eclesiásticas e as
universidades da Inglaterra decidissem que seria ilegal o
homem casar-se com a viúva do seu irmão, tal casamento
poderia ser anulado por um tribunal comum sem ter a
necessidade de se apelar pro Papa. Claro que isso chegou
aos ouvidos do rei que imediatamente se interessou em
conhecer Thomas Cranmer. Não temos tempo para
entrarmos nos detalhes aqui, mas é claro que em
conseqüência disso, Cranmer recebeu uma incumbência
honrosa, o rei recebeu o divórcio e casou-se com Ana.
Algum tempo depois, Cranmer, agora arcebispo, foi
convidado para ser padrinho da filha deles, Elizabete.
Nesse meio tempo, ele visitou a Alemanha e encontrou-se
com Martinho Lutero e outros reformadores. Descobriu
que eles esposavam idéias semelhantes às suas, ou seja,
todos eles entendiam que a velha ordem de coisas deveria
mudar. Não há dúvida de que estes encontros
influenciaram o pensamento de Cranmer. Enquanto de
visita por lá, casou-se com a sobrinha de um reformador
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alemão. Ainda na Alemanha foi chamado de volta a
Inglaterra em março de 1532 para ser arcebispo.
Em 1538 ele conseguiu convencer o rei Henrique VII de
que a Bíblia poderia ser traduzida para linguagem do
povão, e que uma cópia dela deveria ser colocada em local
estratégico em cada igreja de maneira que as pessoas
pudessem lê-la. Também estava trabalhando numa Litania
para ser usada na igreja que ainda hoje é usada na Igreja
Episcopal, e o nosso tradicional Livro de Oração Comum.
Quando o rei Henrique III morreu, Thomas Cranmer
esteve ao lado do seu leito no ano de 1547 e oficializou a
coroação do jovem rei Eduardo VI. Durante o reinado de
Eduardo, Cranmer pôde viver sem ser molestado por causa
de suas idéias reformadoras. Traduziu o catecismo alemão,
e em 1548 concluiu o primeiro Livro de Oração de
Eduardo VI que foi o precursor do nosso Livro de Oração
Comum que usamos ainda hoje.
O reinado do jovem Eduardo foi de curta duração. O
arcebispo Cranmer esteve ao seu lado no leito de
enfermidade e o viu morrer em 1553. ajudou a coroar a
Senhora Jane Grey – que também era uma reformadora, e
permaneceu seu único conselheiro nos nove dias que
durou seu reinado. No nono dia – Maria, filha de Catarina,
a divorciada, foi aclamada rainha. Era católica fanática e
odiava Cranmer basicamente por causa de três coisas: (1)
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seu relacionamento com a mãe divorciada; (2) suas
tendências reformistas e (3) sua lealdade a Senhora Jane.
Foi enviado para o Conselho e confinado a ficar no seu
palácio até que a vontade da Rainha fosse conhecida. Se
recusou a fugir para o continente europeu como sugeriam
seus amigos. Em 14 de setembro de 1553 foi enviado para
Torre onde se encontravam presos outros reformadores.
Em novembro, a Senhora Jane, seu esposo e ele foram
condenados por crime de traição. Cranmer foi condenado
por um comitê papal, supostamente por causa de um artigo
que ele teria escrito contra a missa. Foi excomungado e
destituído de seu ofício como arcebispo numa cerimônia
humilhante na Igreja de Cristo. O catolicismo passou
novamente a ser a fé nacional e os líderes achavam que se
pudessem obrigar Cranmer a se retratar ou assumir tudo
que ele havia falado contra a Igreja, seria um golpe
sinistro contra o Protestantismo. Por isto fizeram tanta
pressão assim. Finalmente ele se curvou diante da
influência poderosa da igreja e assumiu tudo que havia
dito. Os oficiais da Igreja se deleitaram. Agora tudo que
eles tinham que fazer era trazer aquele infeliz homem
diante da multidão e obrigá-lo a repetir publicamente sua
retratação, e a causa da Reforma estaria comprometida.
Trouxeram-no. Mui debilmente ele caminhou até a
entrada. Ergueu a cabeça com dignidade serena e disse
num tom firme, "O que fiz recentemente me tem
molestado profundamente mais do que qualquer outra
coisa que disse ou fiz em toda a minha vida. Quando
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escrevi afirmando que me retratava de tudo que disse
contra os erros da Igreja, eu o fiz com minha mão, o que é
um ato que não condiz com a verdade do meu coração.
Porque minha mão direita me fez pecar, ela devera ser
queimada primeiro quando eu for atirado no fogo." Seu
rosto foi tomado por uma paz tremenda. Os que ali se
encontravam ficaram boquiabertos. Jamais se ouviu uma
coisa assim.
Alegre e serenamente, ele caminhou até a estaca pra ser
queimado vivo. Quando o fogo foi aceso, o que faria dele
um mártir da Reforma, fiel ao que havia dito, ergueu sua
mão direita, expondo-a corajosamente às chamas até ser
consumida. Desta forma, publicamente ele demonstrou o
verdadeiro arrependimento pela sua fraqueza e a chama de
sua morte manteve aceso o ideal da Reforma
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DOIS GUERREIROS DA CRUZ
- LATIMER E RIDLEY
Quando Cranmer apareceu no cenário o rei Henrique VIII
não tinha nenhuma convicção religiosa. Na sua conturbada
vida pública, ele teve seis esposas em épocas diferentes.
Se a sua esposa fosse crente nas verdades bíblicas, então
as coisas iam bem para os reformadores. No entanto se
acontecesse de sua esposa ser católica piedosa, haveria por
certo perseguição e prisão. Assim aconteceu com a sua
última mulher Catarina Parr que foi uma protestante
corajosa. Durante sua vida e também no reinado de
Eduardo VI, filho de Henrique VIII, os reformadores
puderam viver sem impedimento. Foi durante este tempo
que Cranmer teve condição de revisar O Livro de Oração e
levar avante muitos dos seus ideais da reforma.
Mas este tempo foi muito breve. Eduardo VI viveu muito
pouco e na ocasião da sua morte, em 1553, Maria, a filha
de Henrique VIII e sua primeira esposa católica, foi
coroada rainha. Tão logo foi coroada, lançou na prisão
todos os reformadores. Milhares deles conseguiram
escapar para a França e Alemanha. Os que ela conseguiu
pegar, tiveram morte atroz. Ela é conhecida na história
como "Maria, a Sanguinária." Cranmer foi uma de suas
vítimas. Duas dessas vítimas nos chamam atenção
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especial. Os bispos Latimer e Ridley. Ambos estudaram
em Cambridge; ambos exerceram capelania a serviço de
Henrique VIII, em épocas diferentes; ambos conheceram
ao Senhor Jesus de forma pessoal, e consideravam a Bíblia
como a única fonte de sabedoria; ambos tiveram vida
cristã exemplar. O bispo Latimer pregou veementemente
contra a estupidez de se usar o latim nas orações durante
os cultos e também foi um oponente contumaz contra a
política na Igreja de afastar a Bíblia do povo. Pregou
poderosos sermões contra o purgatório, Virgem Imaculada,
e adoração de imagens.
Quando a rainha Maria subiu ao trono, Latimer e Ridley
estavam entre os primeiros que ela lançou na Torre de
Londres. Aqui eles encontraram-se com Cranmer. Que
comunhão maravilhosa os três tiveram no Salvador Jesus,
ao compartilharem entre si textos das Escrituras, ao
orarem pelos irmãos amados pra que Deus restaurasse a
luz do Evangelho à nação inglesa! Que gozo devem ter
sentido em permanecerem fieis à Fé dos santos e também
ao oraram para que a Senhora Elizabete pudesse um dia
ser a rainha!
Depois de algum tempo, os três foram separados. Latimer
foi levado para ficar na casa dum tal senhor Irlandês que
passou a ser seu carcereiro. Enquanto isso. Cranmer e
Ridley permaneceram presos na Torre porém em locais
diferentes. O confinamento durou dois anos. Finalmente
chegou o dia 16 de outubro de 1555, destinado para
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execução de Ridley e Latimer. O Dr. Ridley fez a barba e
se vestiu de lindo vestido preto de pele. Disse pra senhora
irlandesa, esposa do homem que o mantinha preso, "Ainda
que meu café da manhã seja magro, com certeza meu
jantar será agradável; um verdadeiro banquete de noivo!"
Caminhou em direção a estaca na parte norte da cidade,
pro lugar da execução. Viu seu amigo Latimer em vestes
longas. Se abraçaram com entusiasmo e se despediram
fervorosamente. Ajoelharam-se ao pé da estaca e oraram
com fervor em favor de seu país e pelo avanço do
Evangelho. Conversaram em voz baixa por algum tempo.
Um líder católico pregou então um breve sermão contra os
mártires. Depois de concluir, Dr Ridley distribuiu alguns
presentes aos amigos ali reunidos. Latimer não tinha nada
para dar aos seus amigos senão o brilho do seu exemplo de
fé. Tiraram-lhes as roupas externas e colocaram pesadas
correntes de ferro ao redor da cintura. Um feixe de lenha
foi colocado nos pés de Ridley. Ao ver as chamas de fogo,
Latimer exclamou, "Tenha bom ânimo, Ridley e seja
corajoso como um varão valoroso! Hoje, pela graça de
Deus, acenderemos uma chama para propagação do
Evangelho na Inglaterra; e eu creio que essa chama jamais
será apagada." Ao ver as chamas subindo, Dr. Ridley orou,
"Em tuas mãos, ó Senhor entrego meu espírito." Latimer
gritou, "Oh, Pai Celestial, receba minha alma." E à medida
que as chamas o envolviam, ele banhava suas mãos nelas e
logo entrou no reino de glória. O Bispo Ridley teve morte
mais lenta. O que estavam ali presenciando, choraram
26
muito ao verem estes dois guerreiros da fé sofrendo com
alegria por amor a Jesus.
Digno de nota é destacar que o bispo Gardner que foi
basicamente o responsável pela terrível perseguição,
retornou para seu lar naquela tarde se alegrando por ter
removido de cena esses dois homens. Sentou-se com sua
família e celebrou em grande estilo com um pomposo
jantar. Mal tinha começado a comer, ficou seriamente
doente. Ficou de cama duas semanas em terrível
sofrimento e morreu de morte atroz. Maria, a Sanguinária,
viveu apenas três anos e morreu de ataque de coração e
hidropisia. Assim Deus respondeu as orações de Ridley e
Latimer. A Senhora Elizabete foi coroada Rainha da
Inglaterra. Ela foi criada na fé protestante. Durante seu
reinado, qualquer aliança com o Papa foi definitivamente
revogada. O Livro de Oração Comum foi revisado, e
desde aquele dia até hoje, a Inglaterra tem sido um país
protestante. A luz que foi acesa na estaca de fogo para
queimar esses dois mártires naquele 16 de outubro
certamente jamais foi apagada.
27
A IGREJA PROTESTANTE
CHEGA A AMÉRICA
Durante o século XVI sob o reinado da rainha Elizabete, o
protestantismo foi firmemente consolidado na Grã
Bretanha. A Igreja do Estado foi chamada então de a Igreja
da Inglaterra.
Porém nem tudo foi mar de rosas. Agora que o povo podia
ler a Palavra de Deus sem a interferência das autoridades,
surgiram diferentes grupos de protestantes que tinham
idéias diferenciadas sobre o governo da igreja e dos cultos
que não eram exatamente aquelas defendidas pela Igreja
da Inglaterra. Infelizmente devemos dizer que nem todos
exerceram tolerância uns para com outros. Isso fez com
que alguns grupos que estavam sendo perseguidos
deixassem sua terra natal a fim de conquistarem liberdade
religiosa e poderem praticar o culto a Deus de acordo com
o que a Bíblia prescreve. Entre estes grupos estavam os
Puritanos e os Peregrinos, que já em no início do século
XVII emigraram para a América. Sabemos pela história
que eles se estabilizaram em Massachusetts. Eram
excelentes colonizadores cujo estilo de vida baseava-se
exclusivamente na Bíblia. Foram eles que lançaram os
fundamentos que auxiliaram aquela grande nação a se
28
desenvolver sob a direção de Deus, e O louvamos por suas
crenças cristãs e a coragem que tiveram de defendê-las.
No que diz respeito a nossa história, a Igreja Reformada,
devemos voltar nossa atenção para o estado de Virgínia
que foi o primeiro a ser estabelecido aproximadamente na
mesma ocasião. Foi para esta colônia que emigraram
membros da Igreja da Inglaterra. Não chegaram ali por
causa de qualquer perseguição, pois a Igreja da Inglaterra
estava no controle. Mas quando eles aportaram ali,
trouxeram consigo suas Bíblias e o Livro de Oração. Cada
grupo construiu sua própria igreja, e os pastores vinham da
Inglaterra para assumirem o púlpito. O início foi
esplêndido porém com o passar do tempo, os
colonizadores do estado de Virginia passaram a se
interessar mais pelo seu testemunho na sociedade do que
no crescimento da igreja. Parece que os pastores,
chamados também de reitores, se engraçaram muito com a
sociedade e a igreja ficou quase morta. Entretanto porque
o movimento havia sido fundado pelo próprio Deus, claro
que Ele não o deixaria morrer. Em 1763, Ele enviou um
jovem cujo nome era Devereux Jarratt para reacender a
chama da fé que estava definhando. Jarratt nasceu em
Virgínia. Nunca teve lá muito treinamento cristão quando
criança. Foi somente quando ele começou a ensinar na
escola que se deu conta de que era pecador que carecia de
um Salvador. A proprietária da casa onde morava tinha um
livro de sermões (de Flavel) e ela lia para ele todas as
noites. À medida que ouvia isso, foi aumentando seu
29
interesse pelas coisas de Deus. Cresceu nele uma enorme
vontade de conhecer mais sobre Deus e a salvação de seus
pecados. Passou a ler tudo que podia e aos poucos brilhou
nele a luz do Evangelho. Agora passou a buscar
oportunidades de ensinar nas igrejas e esporadicamente
pregava quando o pastor saia de viagem. Foi a partir daí
que lhe ocorreu a idéia de se envolver no ministério da
palavra.
Em 1762 quando tinha apenas 15 anos de idade, vendeu
sua propriedade de 300 acres que seu pai havia deixado de
herança. Com este dinheiro, pagou sua viagem até a
Inglaterra para estudar pro ministério. Por causa de sua
educação anterior, não demorou muito concluir seu curso.
Enquanto estudava na Inglaterra teve contato com João
Wesley e Whitefield. Em 30 de abril de 1763 retornou para
Virgínia, agora ministro ordenado.
Ao chegar ali, encontrou uma igreja vivendo numa miséria
espiritual terrível. Numa carta sua daquela época, ele
expressou nestes termos a situação, "O que se vê em todos
os níveis e escalões é uma falta de reverência, ignorância
das coisas de Deus e um mundanismo tremendo que me
levam a duvidar se de fato restou alguma espécie de
piedade nas famílias das populosas paróquias." Começou
logo a pregar contra o pecado, sobre a necessidade de um
Salvador, da graça gratuita de Deus. Sua pregação foi
recebida com espanto e por vezes fúria também. Percebeu
que o cidadão comum vinha para igreja e quase sempre
30
chorava. Então aconteceu algo mui tremendo em 1765. O
poder de Deus caiu. As pessoas começaram a perguntar,
"O que devemos fazer para nos salvar?" A igreja de
Butterwood duplicou os membros e não havia mais espaço
para acomodar as pessoas que vinham de todos os lados.
Encorajado por este avivamento Jarratt percorria a noite as
casas, reunindo o povo para oração, louvor, pregação e
comunhão entre os irmãos. Muitos dentro do clero o
taxaram de fanático, um entusiasta, ou até mesmo louco.
Mas ele não deu a mínima, e continuou. As pessoas que
visitavam sua igreja levavam consigo as boas novas para
suas paróquias. Recebeu convite para pregar noutros
lugares. Logo, todo o estado de Virgínia foi reavivado no
Evangelho.
Entre os ensinamentos que ele enfatizava estava o de que o
povo de Deus deveria participar da Mesa do Senhor.
Quando iniciou seu ministério, talvez não mais que uma
meia dúzia de pessoas participava da mesa do Senhor.
Porém à medida que os olhos das pessoas foram sendo
abertos para necessidade do Salvador, foram percebendo
então o que Cristo havia feito por elas no Calvário e
ficaram desejosas de trazerem aos seus corações o amor
sacrifical dEle por elas.
Deus usou Jarratt para trazer Virgínia de volta para Ele.
Muitos se opuseram aos seus ensinamentos até mesmo a
ponto de magoá-lo. Mas ele vivia bem próximo do Senhor.
Foi acometido de um câncer no rosto que afetou também
31
suas vistas e reduziu sua capacidade de leitura e não pode
mais escrever como anteriormente. Alguns dias antes de
comemorar seu 68 aniversário, o Senhor o chamou para
glória. Assim morreu o primeiro grande estandarte da
Igreja Evangélica na América, a primeira luz no altar de
Deus. Esta enfraqueceu, mas jamais se apagou. Uma
geração posterior haveria de reacendê-la novamente.
32
A MANEIRA
REVOLUCIONÁRIA E A
IGREJA
Chegamos então ao tempo da Guerra Revolucionária
Americana. Conforme você deve conhecer dos livros de
história, foi a guerra que travamos para nos libertar da
Inglaterra. No fim da guerra, a Igreja da Inglaterra na
América se viu diante de uma situação inusitada. Como
poderiam eles, uma Igreja da América, continuar sendo a
Igreja da Inglaterra? Uma outra interrogação os
incomodava bastante, muitos dos seus pastores haviam
sido enviados pela Coroa inglesa e foram afastados por
causa da guerra. Agora temos aqui uma Igreja sem
liderança, sem pastores. Como conseqüência lógica disto,
não havia culto em nenhuma igreja.
Contudo algo espetacular acontecia. Nos lares havia um
tal Livro de Oração Comum, e em muitos casos, cada
membro da família possuía um. As mães reuniam a
família, e dia após dia, liam o Saltério e oravam. Quando
alguém morria, o pai lia o culto de funeral. Quando
acontecia uma data especial, eles buscavam alguma coisa
no Livro de Oração que fosse apropriado para aquela
ocasião. Assim aconteceu que toda uma geração cresceu
33
conhecendo o Senhor tão somente através do Livro de
Oração, e que memorizavam enormes porções do Saltério
através das constantes leituras.
Entretanto eles esperavam com ansiedade pelas reuniões
públicas de adoração. O primeiro passo nessa direção
parecia então ser o de ter Bispos. O estado de Connecticut
recebeu Samuel Seabury consagrado bispo pelos bispos da
Escócia em 1784. Três anos depois foi a vez de William
White na Pensilvânia e Samuel Provost, em Nova Iorque,
receberem consagração em Londres, o que aconteceu
também com Madison para Virgínia em 1790. Estes
quatros foram os primeiros Bispos da América. Agora a
Igreja poderia ser reorganizada. O primeiro trabalho era
então editar o Livro de Oração da América.
Foi somente depois de 1811 que a Igreja passou a se
desenvolver naquilo que conhecemos hoje como Igreja
Protestante Episcopal. Foram consagrados então dois
bispos verdadeiramente evangélicos, os bispos Griswald e
Pilmore. Novamente aconteceu outro re-avivamento. A
partir daí surgiram dois grupos distintos dentro da Igreja,
os evangélicos, ou conhecidos também como Igreja baixa,
termo que eles mesmos usaram, e Igreja Alta.
Curiosamente quando Patrick Henry e George Washington
(o primeiro presidente americano) freqüentavam os cultos
da Igreja Episcopal, esses cultos eram o que costumamos
denominar hoje de "baixa igreja." Ali, não havia altares,
nem cruzes, ou velas acesas. Quando você visita estas
34
igrejas antigas hoje, vai perceber a simplicidade tanto nos
cultos quanto nas construções.
Lá pelo ano de 1811 haviam dois grupos diferenciados
dentro da Igreja Protestante Episcopal dos USA. Os
Evangélicos dizendo que fazia qualquer sentido com o
ensinamento das Escrituras se referirem à Mesa da
Comunhão de altar; ou dizer que a Ceia do Senhor era um
sacrifício; que o batismo poderia salvar uma criança da
mesma forma que salva um adulto, ou que o ministro
deveria ser chamado de sacerdote. Os partidários da Alta
Igreja por sua vez usavam cruzes e velas acesas na Mesa
da Comunhão, ensinando também que todas as vezes que a
Comunhão era ministrada, Cristo era outra vez oferecido
como sacrifício em nosso lugar, e que o batismo era
instrumento de regeneração e que o ministro era um
sacerdote que se interpunha entre Deus e os homens.
Em 1814, um grupo de Evangélicos em Baltimore deixou
a Igreja e iniciou outro grupo chamado de Igreja Episcopal
Evangélica. No entanto aquele não era o tempo de Deus, e
o grupo não sobreviveu.
O grupo Evangélico foi organizado dentro da Igreja e
publicou seu próprio jornalzinho chamado de Episcopal
Recorder (Registro Episcopal).
A Igreja Alta continuava insistindo em não admitir que o
pastor de uma outra denominação pudesse pregar no
púlpito da Igreja Episcopal Protestante dos USA, e que
35
nenhum ministro dela deveria pregar em um outro púlpito.
Isto acabou causando uma grande divisão, uma vez que os
Evangélicos criam que um crente pertencente a Igreja
Episcopal Protestante poderia, e deveria manter comunhão
com outros crentes que amavam o Senhor.
Em 1867, o Rev. Estevão Tyng, Jr., trocou de púlpito com
um pregador Metodista na cidade de Nova Brunswick, no
estado de Nova Jersey. Foi levado a julgamento e
advertido publicamente. Como conseqüência disto, os
Evangélicos se reuniram em Filadélfia. O Dr. Charles
Edward Cheney de Chicago clamou por liberdade e trégua
nesse tipo de questiúncula. Porém a maioria dos
Evangélicos sentia que eles deveriam lutar contra esse tipo
de mal a partir de dentro. Onze bispos (de um total de
cinqüenta) se reuniram e assinaram um documento e o
enviou à Câmara dos Bispos pedindo liberdade para
aqueles irmãos.
Em 1869, o Dr. Cheney, que havia solicitado trégua, foi
levado a julgamento por ele ter omitido a palavra
"regeneração" quando ministrou o batismo de criança. No
julgamento veio à tona que muitos ministros dentro do
clero estavam fazendo exatamente a mesma coisa, no
entanto coube a Cheney ser o único Bispo com a coragem
de defender o rigor da lei. Em fevereiro de 1871, ele foi
condenado e suspenderam seu ministério até que estivesse
de fato arrependido do seu erro. Em junho, seu ministério
lhe foi retirado pelo Bispo Whitehead de Chicago.
36
Posteriormente os tribunais consideraram inválido este
ato.
Três dias depois disto, Estevão Tynh foi convidado a
pregar na Igreja de Cristo (aquela que pertencia ao Dr.
Cheney). O que ele aceitou e imediatamente pediu ao
pastor deposto para auxiliá-lo na Santa Ceia. A aceitação
foi unânime. Com toda certeza havia chegado a hora de
agir.
37
GEORGE DAVID CUMMINS –
O HOMEM DE DEUS PARA O
MOMENTO CERTO
Agora vamos retornar no tempo alguns anos e
examinarmos a vida de um homem no seio da Igreja
Episcopal Protestante. Homem que Deus escolheu pra ser
o Seu pioneiro, George David Cummins. Ele nasceu numa
cidade pequena do estado de Delaware em 11 de dezembro
de 1822. Pais descendentes de escoceses e ingleses,
pertenciam a Igreja Episcopal Protestante. Quando seu pai
morreu ele tinha apenas quatro anos de idade. Aos dez
anos, foi para uma escola em Newark onde ensinava um
ministro presbiteriano, e depois foi para Dickinson, uma
faculdade metodista. Durante o tempo que passou ali,
entregou seu coração pra Jesus numa campanha
evangelística que acontecia naquela região. Passou a
freqüentar a Igreja Episcopal Metodista e chegou por
alguns anos a pregar o evangelho num pequeno trecho do
estado de Maryland.
Aos 23 anos de idade, decidiu que deveria pregar na Igreja
Episcopal Protestante dos USA, a igreja de sua infância.
Começou então seu ministério nesta denominação na
cidadezinha de Norfolk. Depois foi requisitado para
38
Richmond e posteriormente para Washington, Baltimore e
Chicago. Em cada uma destas cidades, pregou o evangelho
de forma destemida e o Senhor abençoou muito seu
ministério. Foi em Chicago que ele e o Dr. Cheney fizeram
amizade sólida e começaram a trabalhar juntos.
O Dr. Cummins casou-se e tinha duas filhas e um filho.
Sua esposa tinha saúde debilitada, por isso passava a
maior parte do tempo de cama. Na primavera de 1866, ele
levou sua família para Europa pois o médico aconselhou
que aquilo seria bom tanto para ele quanto para sua
esposa. Em Paris, recebeu a notícia de que havia sido
escolhido como bispo assistente pro estado de Kentucky.
Não apreciou muito a idéia de deixar a paróquia que
amava tanto em Chicago, porém, como era seu hábito,
orou ao Senhor pois sempre quis agir dentro do que Deus
queria para sua vida. Após algumas semanas de oração em
conjunto com sua família e amigos, sentiu que
definitivamente Deus tinha uma obra pra ele em Kentucky.
Em 15 de novembro de 1866, aos quarenta anos de idade,
foi consagrado Bispo na cidade de Louisville, em
Kentucky. Aquele era um estado de trabalho muito árduo,
porém o bispo Cummins pregava a Palavra, Deus honrava
seu ministério e igrejas foram sendo edificadas enquanto
outras iam surgindo.
Até este momento, o Bispo Cummins que era da igreja
baixa na REC, não tinha encontrado nada de errado no
Livro de Oração ou outras coisas que incomodavam os
39
partidários da baixa igreja. Apesar de o Livro de Oração
falar em regeneração pelo batismo, da "presença real" de
Cristo na Comunhão e da existência de altar na igreja,
aquilo particularmente parecia não o incomodar uma vez
que nem ele mesmo acreditava naquelas coisas, já que os
bispos da igreja baixa tinham explicado de forma
satisfatória o significado daqueles sacramentos. No
entanto, porque muitos jovens ministros se achavam
perturbados com estes termos, e alguns sentiam que
deveriam abandonar a Igreja, caso o Livro de Oração não
fosse revisto, Cummins instou com a Câmara dos Bispos
que reconsiderassem utilizar o Livro de Oração editado em
1785, que foi o primeiro da Inglaterra, mas que nunca
havia sido oficialmente utilizado pela PECUSA. A
propósito este foi o Livro de Oração que ainda hoje
usamos na Igreja Episcopal Reformada – com algumas
poucas alterações.
A Câmara dos Bispos se recusou a fazer isto, o que acabou
por desapontar muito Cummins, porém ele sentiu que
deveria permanecer na Igreja. Ele a amava de coração e
sentia que deveria fazer algo mais para Deus, não de fora,
mas de dentro da própria Igreja. Porém algo aconteceu em
duas de suas igrejas que importaram ensinamento
equivocado da PECUSA. Um dia pela manhã ele foi fazer
uma visita e confirmação. Pro seu espanto, aquilo que
tinha sido uma simplesmente uma mesa de Comunhão, era
agora um altar com cruz e velas douradas. Seu coração se
desfalecia por dentro ao ver o pastor e as pessoas se
40
ajoelhando no genuflexório diante do altar tantas vezes
durante o culto. Depois quando foi conversar com o jovem
ministro que se autodenominava sacerdote exatamente da
maneira permitida pelo Livro de Oração, esse lhe disse
que uma vez que ele era um sacerdote, como tal, um
sacerdote deveria oferecer sacrifício e ter um altar, e que
aquilo ali era então o resultado. Quando o Bispo Cummins
descobriu que uma outra igreja entrou com outro pedido
de julgamento na corte, ele percebeu o que estava
acontecendo em decorrência de se estar utilizando o Livro
de Oração.
Aconteceu então a farsa do falso julgamento de seu amigo,
o Dr. Cheney em Chicago por esse não ter usado a palavra
"regeneração" no batismo. Mais ou menos naquela mesma
época, o Bispo Whitehead, pertencente a Igreja Alta exigiu
que o Bispo Cummins saísse de Chicago, ainda que tivesse
sido convidado a pregar na cidade de Nova Iorque, em
outubro de 1873. A Aliança Evangélica estava tendo sua
conferência. Num domingo iria acontecer uma grande
cerimônia de Comunhão com os pregadores vindo da
Alemanha, Inglaterra e da América. Na plataforma,
estavam o Bispo Cummins, Dr. Arnot de Edingurgo,
Professor Dainer de Berlin. Na semana anterior havia
acontecido um culto semelhante no qual participou o Deão
de Canterbury. No próximo dia, um clérigo inglês o
criticou severamente por participar num Culto de
Comunhão com aquelas pessoas que não eram da
PECUSA. O bispo Cummins respondeu, em carta, dizendo
41
que ele também se achava culpado do mesmo pecado, mas
já que no Céu todos os cristãos vão estar reunidos a volta
da mesa do Senhor, seria uma boa idéia os irmãos se
reunirem aqui em torno da mesa dEle em amor e unidade,
preparando-se pra aquele grande dia.
Cummins percebeu que com isso que havia angariado
muitos inimigos. Alguns membros abastados de sua
paróquia, que haviam prometido ajudá-lo financeiramente,
saíram. Em conseqüência disso, ele ficou sem condições
de arcar com as despesas e foi obrigado a deixar o prédio.
Porém encontrou outros amigos verdadeiros que estavam
prontos para irem com ele até onde fosse preciso.
Entretanto, ao orar e ponderar sobre toda a questão e ao
perceber quão distante a PECUSA havia se distanciado da
Igreja genuína dos fundadores, se envolvendo em falsos
ensinamentos do catolicismo romano, sentiu que não
poderia mais continuar naquela Igreja e permanecer fiel a
Cristo. Pois se fizesse isso, teria que estar continuamente
em desobediência às ordens da Igreja, e isso seria um
péssimo exemplo do que se espera de um bispo. Em 10 de
novembro de 1873, escreveu sua carta de afastamento
depois de vinte e oito anos de serviço fiel àquela Igreja.
Seguiu-se uma
criticaram sem
com sua causa
incentivando-o
completamente
avalanche dentro da Igreja. Muitos o
piedade. Outros porém se simpatizaram
e o encorajaram a seguir seu caminho,
a iniciar uma nova Igreja Episcopal,
reformada no que diz a doutrina e
42
adoração, e que utilizasse aquele Livro de oração Comum
que havia sido desconsiderado em 1785. Assim fez.
Enviou uma carta convidando pastores e leigos e todos
que estivessem interessados, para que viessem se
encontrar na Associação Cristã de Moços (Y.M.C.A) da
cidade de Nova Iorque, no dia 2 de dezembro de 1873.
Eles se encontraram, um total de oito clérigos e
aproximadamente vinte leigos, e formaram assim a Igreja
Episcopal Reformada (REC), tendo o Bispo Cummins na
presidência porém sem nenhuma congregação. O Dr.
Cheney foi designado Bispo para a região Nordeste. Logo,
as igrejas foram sendo formadas em Nova Iorque,
Filadélfia, Baltimore, no Canadá e na Carolina do Sul. Em
1875, dois anos depois de acontecer o Terceiro Concílio
Geral, já havia 52 clérigos e 50 congregações. Assim o
Senhor abençoou a obra e ela cresceu.
O trabalho entre os libertinos da Carolina do Sul teve
início em 1873 com o Rev. Pedro F. Stevens no comando.
Em junho de 1875, o Bispo Cummins ficou seriamente
doente. Seu genro esteve do seu lado prestando-lhe
socorro dia e noite em Luterville, no estado de Maryland.
Entretanto não se viu nenhuma melhora. Nem mesmo
especialistas de Baltimore puderam fazer qualquer coisa.
Depois de seis dias de sofrimento, Cummins perguntou se
havia alguma esperança de sua recuperação. O médico
respondeu que eles haviam feito o que sabiam, ao que o
Bispo respondeu, "Então me deixem morrer", pedindo que
43
não lhe dessem mais medicamentos. Virando-se para sua
esposa, disse, "Querida, tivemos uma vida tão feliz, e
lamento tê-la de deixar. Gostaria muito de ter podido
continuar trabalhando pela Igreja, mas Deus sabe de todas
coisas." Impetrou sua última benção aos filhos e seus dois
netos. Depois, pediu que todas as janelas fossem abertas.
Um de seus filhos perguntou se ele tinha alguma
mensagem especial para Igreja. "Diga-lhe que avance e
faça uma obra grandiosa."
Sua esposa perguntou, "Você sabe quem eu sou?" "Claro
que sim." Ela tornou a perguntar, "E você conhece Jesus?"
Seu rosto brilhou de alegria, "Oh, claro. É claro que O
conheço."
Repetiu distintamente a primeira frase do hino, "Jesus, o
Amor da Minha Alma." Todas as estrofes foram
sussurradas por causa da fraca voz menos aquela frase que
fala da história do amor de Jesus pelo homem. A voz foi
perdendo aos pouco a força e por fim, sussurrou, "Senhor
Jesus, recebe meu espírito." Fez-se um grande silêncio. As
pessoas presentes ali pensaram que ele havia morrido por
seus olhos estarem fechados. De repente perceberam seus
olhos abrirem e viram um brilho divino tomar seu
semblante. Sua face parecia estar sendo glorificada e
recebia um gozo tremendo quando exclamou, "Jesus,
Precioso Salvador." É claro que ele estava vendo seu
Salvador ali com ele.
44
Esta foi a história do nosso primeiro Bispo que sacrificou
tudo, até mesmo sua vida pra que nossa Igreja pudesse vir
à existência. Que ao permanecermos fiéis aos princípios de
nossos fundadores, busquemos estar unidos numa só
mente e num só coração. Assim, a Igreja Episcopal
Reformada será para muitos um refúgio de paz, enquanto
para os nós, os seguidores de Cristo, continue sendo uma
luz que alcance bem longe, constituindo-se numa herança
de bênção que legaremos aos nossos descendentes.
45
TESTEMUNHO DE HOJE
Já se passaram mais de cem e trinta anos desde aquele dia
de dezembro de 1873 quando a Igreja Episcopal
Reformada foi fundada. Vamos fazer aqui uma pausa e
refletirmos sobre aquilo que o Senhor já fez em nosso
meio.
Existem hoje na igreja três divisões, o sínodo de Nova
Iorque e Filadélfia, o sínodo de Chicago e a Jurisdição do
Sul, cada uma delas com seu próprio bispo. O sínodo de
Nova Iorque e Filadélfia possuem 28 igrejas na região
destas duas cidades, o que inclui também Nova Jersey, e
descendo um pouco mais até Baltimore, Maryland, sob a
supervisão do bispo Howard D. Higgins, que é o pastor
atual. A área de Chicago possui quatro igrejas e é
supervisionadas pelo bispo William Culbertson que
também acumula o cargo de presidente do Instituto
Bíblico Moody de Chicago. A Jurisdição do Sul possui
trinta e quatro paróquias espalhadas pela Carolina do Sul.
O bispo William H.S. Jerdan é o Diretor de Campo do
grande empreendimento missionário. Temos igrejas na
Inglaterra, Canadá, Índia e recentemente no Brasil.
No relatório estatístico de 1960 descobrimos que nos
Estados Unidos chegamos a um total de membros em
torno de oitenta mil, seis mil na Escola Dominical e
46
sessenta e seis igrejas. Parece, olhando assim a primeira
vista, que não tem havido muito crescimento; ou até
mesmo podemos concluir que não temos visto coisas
grandes acontecerem. Porém a obra de Deus nunca deveria
ser medida meramente em termos numéricos. Durante
todo este tempo Deus tem mantido esta porção do Seu
rebanho unida na verdade das doutrinas das Escrituras. A
mensagem do Evangelho é anunciada todos os domingos
de cada púlpito. Homens de Deus, fiéis, têm assumido
posições de liderança no episcopado, supervisionando o
trabalho das paróquias, confirmando novos membros e
encorajando os pastores. Devemos mencionar também os
nomes desses homens fiéis. Primeiro, naturalmente, é o
nome de George David Cummins, nosso estimado
fundador, vindo logo em seguida seu fiel amigo, Charles
Edward Cheney. William R. Nicholson conseguiu
encontrar tempo para escrever livros e artigos que são
usados pelos alunos seminarista hoje. Depois, tivemos os
bispos James Latane, Samuel Fallows e Thomas W.
Campbell. Alguns de nós ainda se lembram de Robert L.
Rudolph cuja mera presença já era em si uma bênção;
Robert Westly Peach que foi uma autoridade no arranjo
dos hinos da Igreja, e Frank V.C. Cloak que sempre nos
fez lembrar a famosa frase, "devemos tirar o chapéu para o
passado, e o paletó para o futuro." Atualmente temos o
Bispo Jose E. Kearney que se aposentou em 1958 depois
de trinta e seis anos de dedicados serviços como
Superintendente da Jurisdição do Sul e que serviu o
47
Senhor em muitas áreas da Carolina do Sul; Bispo William
Culbertson que já mencionamos anteriormente como líder
daquele honrosa casa de treinamento, o Instituto Bíblico
Moody; e o bispo Howard D. Higgins, que por muitos
anos atuou como pastor da Primeira Igreja, em Nova
Iorque, e agora Bispo do Sínodo de Nova Iorque e
Filadélfia e nosso amado líder da denominação. Deus
manteve o registro do serviço fiel de todos estes homens e
algum dia será recompensado publicamente.
A Igreja Episcopal Reformada fundou dois lindos
seminários. Um em Filadélfia que tem treinado muitos
homens não apenas para o serviço pastoral de nossa
denominação mas também para outras igrejas. Ele possui
uma reputação pelo país afora de ser um dos poucos
seminários que permanece fiel à Palavra de Deus e
proporciona rico aprendizado e treinamento em grego e
hebraico. O outro seminário é o de Summerville, que fica
na Carolina do Sul, e executa uma tarefa importantíssima
no treinamento de líderes para nossas igrejas no Sul.
Já enviamos missionários para os trabalhos na Índia,
África e Alemanha. Atualmente temos quatorze
missionários servindo nossa denominação nestes campos.
Há muitos outros jovens missionários servindo o Senhor
em outros locais que tem sido enviado por nossos vários
projetos missionários.
48
As mulheres da denominação por sua parte servem com
fidelidade em muitos ramos de atividades. Devemos
prestar tributo especial às senhoras Kearney e Higgins que
não somente trabalharam incansavelmente ao lado de seus
esposos, os bispos, mas também fizeram um excelente
trabalho com a senhora Stanley de Cranton a fim de
organizarem e unirem todos os grupos de senhoras por
intermédio das Comissões no Trabalho Feminino. Um
programa mensal está sendo publicado sob a supervisão
destas mulheres. Muitas de nossas mulheres estão dando
suas contribuições valiosas através do Auxílio ao Comitê
de Missões Estrangeiras, Missões Nacionais e para o
Seminário. O Dia das Mulheres, juntamente com alguns
projetos missionários e a Conferência de Liderança de dois
dias realizada durante o verão já constituem partes
essenciais do programa feminino.
Foi adquirida recentemente (na década de 60) pela nossa
Igreja uma linda propriedade no condado de Busck, no
estado da Pensilvânia, com o nome de Four Brroks
(Quatro Rios) que desempenha três tipos de atividades:
servir de sitio de conferência missionária e encontros de
jovens, servir de hospedagem para missionários de férias,
e para estabelecer uma comunidade para nossos irmãos da
terceira idade. Já tivemos vários eventos da Conferência
dos Jovens, que acontecem anualmente. Devemos ser
gratos ao Conselho Diretor e ao Rev. Robert McIntyre e
sua esposa pelos seus incansáveis esforços e constantes
planejamentos no sentido de conseguirem o projeto
49
avançar. Através de sua liderança, homens, mulheres e
jovens das igrejas têm contribuído generosamente com seu
tempo, habilidades, dinheiro e know-how a fim de que os
planos sejam realizados.
Parafraseando as palavras de Hebreus 11:32, onde o
escritor listou os fiéis testemunhos dos tempos passados e
conclui dizendo, "E o que mais poderia dizer? Pois o
tempo não seria suficiente para dizer" de todos os pastores,
suas esposas, leigos e leigas que, movidos por sua fé e
amor pelo seu Senhor e Salvador, serviram em muitos
lugares e de inúmeras maneiras para que nossa amada
Igreja pudesse manter-se firme na Palavra da Vida, e
mostrar o caminho da vida eterna. Nem é preciso
mencionar que seus nomes estão inscritos no Livro da
Vida do Cordeiro e que Ele guarda fielmente seus nomes
ali, e que com certeza um dia irá revelá-los e compensálos a Seu próprio tempo.
Devemos mencionar, embora de passagem, o Episcopal
Recorder (Boletim Episcopal) uma revista de publicação
mensal que trata dos interesses da REC. Ela é editada
fielmente desde a fundação da Igreja, pois tem sido o
instrumento através do qual a igreja baixa no seio da Igreja
pode se auto-expressar e já se tornou uma parte de nossa
herança. Ela traz notícias de várias igrejas, tópicos
oportunos e de cunho devocional; traz informação sobre os
missionários, o programa para as Mulheres da Igreja, além
de muitos outros artigos interessantes. Na sua capa, pode50
se divisar nosso slogan, "Nos Essenciais, Unidade;nos Não
Essenciais, Liberdade; e em tudo, o Amor."
Devemos ter orgulho de nossa herança e do que já
conquistamos, porém não podemos aposentar nossas
ferramentas. Há ainda muito que fazer e "a noite vai
chegar quando ninguém mais pode trabalhar." Enquanto
houver almas ao nosso redor que precisam ser salvas,
vagando como ovelhas que não têm pastor, temos uma
missão a concretizar. Devemos nos lançar ao trabalho, não
apenas aqueles que se encontram dentro dos limites de
nossa vizinhança, mas devemos constantemente procurar
estender nossos horizontes a fim de levar o Evangelho aos
outros que nunca ouviram a mensagem de salvação. Nas
palavras de nosso amador fundador, "Vão em frente, e
façam um grande trabalho.”
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A FREE CHURCH OF
ENGLAND
A Igreja Livre da Inglaterra (FCE), à qual pertence a Igreja
Anglicana Reformada do Brasil (IARB), começou em
1844 como uma reação ao Movimento Ritualista, ou
Movimento de Oxford, surgido naquele tempo dentro da
Igreja da Inglaterra. Tal movimento quis e esforçou-se
para eliminar qualquer vestígio da herança e da doutrina
protestante e reformada da Tradição Anglicana. Isso
chegou a causar perseguição contra vários ministros
evangélicos, que eram intimados a mudar o culto em suas
paróquias.
A reação dos ministros comprometidos com o
Anglicanismo clássico se fez ouvir. Uma de suas vozes
mais poderosas foi a do Bispo J. C. Ryle, um dos
fundadores da hoje chamada Church Society, entidade
dedicada a defender e fomentar o anglicanismo clássico.
Outras vozes também se ergueriam, como quando em
1844 se formou a Free Church of England, que somente
em 1863 seria registrada como uma entidade legal perante
o Governo Inglês. Nos documentos de sua fundação se lê:
“comprometidos com as Doutrinas da Igreja da Inglaterra,
como apresentadas nos 39 Artigos de Religião, e aos
princípios e práticas associadas com os princípios da
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Igreja Estabelecida na Inglaterra” (Fonte: Vaughan A
History of the Free Church of England otherwise called
the Reformed Episcopal Church).
Deste modo, a Igreja foi organizada por clérigos e leigos
evangélicos da Igreja da Inglaterra, os quais desejavam
preservar a prática histórica e a fé reformada da Igreja. No
entanto, ainda que a primeira Capela a usar o nome da
Free Church of England date de 1844, essa Igreja tem suas
origens a muito mais tempo, desde as capelas evangélicas
estabelecidas através da pregação de George Whitefield,
calvinista e um dos pais do Metodismo, e do Avivamento
Evangélico. Algumas dessas Igrejas terminaram se
organizando sob o nome de “Conexão da Condessa
Huntingdon” – entidade que fomentava várias igrejas
livres pelo Reino. Igualmente, as primeiras comunidades
da Free Church Of England foram associadas à Conexão,
uma vez que as mesmas eram também uma conexão de
capelas evangélicas independentes, e que tinham uma
clara identidade anglicana. Por este motivo, ainda hoje a
Igreja Livre da Inglaterra considera a “Conexão da
Condessa Huntingdon” como uma Igreja mãe.
As duas igrejas tomaram caminhos distintos quando a
Conexão da Condessa Huntingdon decidiu adotar
definitivamente o sistema de governo congregacional. Em
1876, o Rev Benjamin Price foi consagrado Bispo pelo
Revmo. Edward Cridge, bispo da Igreja Episcopal
Reformada no Canadá.
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As duas Igrejas tomaram caminhos distintos quando a
“Conexão da Condessa Huntingdon” decidiu adotar,
definitivamente, o sistema congregacional de governo. Em
1876, o Rev. Benjamin Price foi consagrado Bispo pelo
Revmo. Edward Cridge, bispo da Igreja Episcopal
Reformada no Canadá, conferindo à nova denominação a
validade episcopal e a Sucessão Histórica.
Em 1927, a Igreja Livre da Inglaterra se uniria à missão
inglesa da Igreja Episcopal Reformada dos USA. A IER
organizada em 1873 nos USA pelo Revmo. Dr. George
David Cummins, formalmente bispo auxiliar de Kentucky
na Igreja Episcopal Protestante dos USA (PECUSA).
Bispo Cummins desejava compartilhar a Palavra e
Sacramento com outras igrejas não-episcopais, um fato
que era proibido cada vez mais pela hierarquia da Igreja da
Inglaterra e de PECUSA.
Em 1927, a Igreja Livre da Inglaterra se uniria à missão
inglesa da Igreja Episcopal Reformada dos Estados
Unidos. Esta Igreja, por sua vez, fora organizada em 1873
nos Estados Unidos pelo Revmo. Dr. George David
Cummins, na época bispo auxiliar de Kentucky, na Igreja
Episcopal Protestante dos Estados Unidos (PECUSA). Na
época, Bispo Cummins desejava compartilhar a Palavra e
o Sacramento com outras igrejas, não-episcopais, algo que
era cada vez mais proibido pela hierarquia da Inglaterra,
seguida pela liderança da PECUSA.
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A partir de 1927, a nova Igreja inglesa passou a adotar,
oficialmente, o extenso nome de “Igreja Livre da
Inglaterra, também chamada a Igreja Episcopal Reformada
no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte”, e
desde então tem mantido a prática, a tradição e a fé
reformada da Igreja da Inglaterra. Seu trabalho e validade
foram oficialmente reconhecidos pela Igreja da Inglaterra
em anos recentes. Em dezembro de 2012, o Arcebispo de
Cantuária e York reconheceu as Ordens da Igreja Livre da
Inglaterra, em conformidade com a Medida ‘Supervisão e
Outro Clero (Ministério e Ordenação)’ de 1967.
Tal reconhecimento aconteceu após um processo de
diálogo de três anos entre os bispos da Igreja Livre da
Inglaterra, o Concílio pela Unidade dos Cristãos e a
Comissão de Fé e Ordem, que recomendaram
unanimemente que as Ordens da Igreja Livre da Inglaterra
fossem reconhecidas. Tal recomendação foi, na sequência,
aprovada pelo Conselho Permanente da Casa dos Bispos
da Igreja da Inglaterra.
Em 2014, a Igreja Livre da Inglaterra recebeu as primeiras
congregações locais da Igreja Anglicana Reformada do
Brasil. Bispo Josep Rosselló foi nomeado pelo Bispo
Primaz como o Comissário para o Brasil.
Na atualidade, a Igreja Livre da Inglaterra tem igrejas na
Inglaterra, França, Rússia, Austrália, Brasil e Venezuela.
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