Vírus da varíola na mira

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Vírus da varíola na mira
Disciplina - Ciências -
Vírus da varíola na mira
Ciências
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Postado em:11/02/2011
Volta a ser discutido o destino dos dois últimos estoques do vírus da varíola, doença que matou 500
milhões de pessoas somente no século 20. Depois de vinte anos de adiamento, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) deve fazer uma assembleia em maio para decidir se vai ou não marcar
uma nova data para a destruição das amostras, que estão sob seu controle em laboratórios nos
Estados Unidos e Rússia. A varíola foi erradicada em 1980. Na ocasião, representantes de diversos
países se pronunciaram a favor de exterminar todos os vírus Orthopoxvirus variolae vivos em
laboratórios. Apenas dois estoques foram preservados: um no centro russo de pesquisa Vector
Institute e outro no Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América.
Representantes dos dois países alegaram que as amostras deviam ser preservadas para pesquisas
de novas vacinas e medicamentos. Em 2007, a OMS iniciou uma revisão das pesquisas feitas com o
vírus in vitro desde 1999. Os resultados preliminares, apresentados em outubro do ano passado,
apontam muitos avanços, como o sequenciamento de 48 cadeias de genes do vírus e o
desenvolvimento de novas vacinas e métodos de diagnóstico. Por outro lado, o relatório oficial,
apresentado em janeiro, indica que estão atrasadas as pesquisas sobre o modelo de infecção da
chamada varíola do macaco, variante mais branda da doença que, apesar do nome, é transmitida
por roedores. Segundo o virologista estadunidense Jack Woodall, professor aposentado do Instituto
de Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, esta não seria uma razão para se manter
os estoques de O. variolae. “O vírus utilizado nas vacinas atuais de varíola, o Vaccinia, também
protege os humanos contra a varíola do macaco”, explica. Para o pesquisador, a destruição dos
estoques é uma questão de segurança pública. “Os perigos são maiores do que os benefícios de
continuar com as pesquisas”, diz ele. “Os laboratórios que ainda estão trabalhando com o vírus
podem ser de alta biossegurança, mas nada evita que um pesquisador se contamine lá dentro e
leve a doença para casa, iniciando uma epidemia.” Woodal destaca que essa situação não é apenas
hipotética e já aconteceu em 1977. Arma biológica A varíola também poderia ser usada como arma
biológica de grande impacto, pois hoje a vacinação em massa não é mais feita e poucas pessoas
estão imunizadas. “A varíola tem um tempo de disseminação muito adequado para ataques
terroristas”, explica o historiador especializado em saúde Gilberto Hochman, da Fundação Oswaldo
Cruz. “Assim como pode haver um homem-bomba, pode existir um homem-varíola. Basta uma
pessoa se inocular com o vírus e entrar em um aeroporto que o vírus já começa a ser transmitido.”
Segundo Hochman, além do uso por terroristas, a varíola corre o risco de ser utilizada como arma
militar. Um dado que corrobora essa possibilidade é o fato de os soldados estadunidenses ainda
serem vacinados contra a doença. Além disso, a OMS e outras instituições de pesquisa têm
simulações de ataques biológicos com varíola, o que mostra que esse não é um cenário improvável.
A ameaça de um ataque biológico foi um dos argumentos usados para o adiamento da destruição
dos estoques do vírus em 2002. Pesquisadores que compunham o quadro da OMS alegavam que
as amostras seriam úteis para o desenvolvimento de novos remédios caso fosse preciso combater
uma epidemia surpresa de varíola. Fonte de pesquisas Hoje a posição da OMS parece ser favorável
à destruição. No entanto, a epidemiologista Erna Kroon, coordenadora do Laboratório de Vírus da
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Universidade Federal de Minas Gerais, acredita que os estoques do vírus não devem ser destruídos
por constituírem fonte de muitas pesquisas. A pesquisadora argumenta que, se os estoques estão
bem guardados, não há risco em mantê-los. E ressalta que a destruição não exclui a possibilidade
de existirem outras amostras ilegais pelo mundo e, até mesmo, de o vírus ainda resistir na natureza.
“Destruir os estoques não impede que alguém isole o vírus de um cadáver congelado ou que
pesquisas com genes sintéticos sejam feitas”, alega. Até hoje, apenas alguns genes do vírus da
varíola foram identificados. Em 2005, a sintetização do DNA completo do O. variolae foi proibida
pela OMS. Mas, para Kroon, nada garante que essa resolução seja cumprida. Já Woodall defende
que a possibilidade de o vírus voltar a circular devido ao terrorismo ou a causas naturais é muito
remota. “As últimas vítimas de varíola foram enterradas em países tropicais e até hoje não houve
novas ocorrências da doença”, conta. O pesquisador lembra ainda que, para sintetizar a primeira
bactéria em laboratório, feito anunciado em maio do ano passado, foi preciso uma equipe de mais
de 20 pesquisadores e tecnologia de ponta, estrutura a que terroristas não teriam acesso. Ecologia
e ética A extinção proposital de uma espécie, mesmo que de um vírus, suscita ainda questões éticas
e ecológicas. Kroon acredita que a eliminação da varíola não teria, a princípio, impactos negativos
para o equilíbrio ecológico. Já Woodall é mais veemente em afirmar que não há problemas éticos ou
ecológicos na destruição do vírus. “Se a falta do vírus na natureza causasse algum impacto
negativo, ele já teria se manifestado há tempos”, comenta. E finaliza: “Na minha opinião, a raça
humana tem todo o direito de eliminar qualquer ameaça a sua sobrevivência – é uma lei natural e é
nosso dever em relação às gerações futuras.” Esta notícia foi acessada em 09/02/2011 no sítio do
Instituto Ciência Hoje. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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